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Fundamentos Da Integracao Regional - O Mercosul

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Suporte técnico

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de aprendizagem e orientações para a utilização dos recursos e ferramentas de EaD.

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Objetivos

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Sugestões para um bom estudo:

As atitudes do estudante a distância, traduzidas em hábitos de estudo, são fatores que ajudam o alunoa persistir e permanecer no curso, determinando o sucesso final. Nossas sugestões para que vocêtenha um bom aproveitamento são as seguintes:

você é responsável pelos seus estudos, manter a autodisciplina e automotivação é fundamental parainiciar e concluir o curso com êxito.

administre bem seu tempo - assegure-se de que terá, pelo menos, 50 minutos diários para sededicar aos estudos;execute as atividades propostas em sequência de módulos/unidades. Sempre que concluir aleitura da unidade, acesse "Avaliações" (lateral esquerda da página) e responda as questões daautoavaliação que corresponde à unidade, assim, você irá fixar o conteúdo e ficará maispreparado para a Avaliação Final do curso; ao concluir o estudo do último módulo e antes de responder as questões da Avaliação Final, quevai determinar sua aprovação ou não, se você se sentir inseguro, refaça as autoavaliações dasunidades para se preparar melhor.

Apresentação

Olá, aluno e cidadão do Mercosul!

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Neste momento, você está iniciando um curso que analisa emprofundidade e extensão a trajetória histórica de criação do MercadoComum do Sul, sua estrutura, atuação e desafios futuros. Tambémconhecerá as modalidades e etapas de integração e algumas informaçõessobre outros blocos econômicos.

Concebido por alguns dos maiores estudiosos e participantes da criação edesenvolvimento do Mercosul, desenvolvido por equipe especializada emEducação a Distância, este curso foi cuidadosamente criado parapossibilitar a você amplo material e diversificados recursos para consulta e análise. No campo de"Apoio" (lateral esquerda da página), em "Links relacionados", por exemplo, você encontravasta informação sobre o Mercosul.

O conteúdo está dividido em 4 módulos desdobrados em 9 unidades. Após a leitura de cada unidade,você deve responder as questões dos exercícios de autoavaliação para fixar o conteúdo e, ao términodo último módulo, a avaliação final do curso que, após aberta, deve ser respondida imediatamente esalva ao final. Esta avaliação não pode ser refeita e suas questõesl somam um total de 100pontos. Com uma pontuação de 70, no mínimo, você estará aprovado e com direito a certificação.

As indicações dos sites, vídeos e de leituras destinadas a aprofundamento, não estão computadas nacarga horária do curso (20 horas).

Seja bem-vindo a uma comunidade em que você já está naturalmente inserido, e da qual será cadavez mais chamado a participar.

Assista a aula inauguralIndicação de leituras complementares

(clique aqui)

Módulo I - Contextualizando a Integração

Módulo I - Contextualizando a integração

Temas do Módulo

Nesse módulo, estudaremos o contexto internacional que veio a dar origem aos fenômenos daconformação de blocos econômicos, como o Mercosul e a União Européia, e do multilateralismo

comercial, que se traduz na criação da Organização Mundial do Comércio. Examinaremos, ademais,a teoria da integração regional, tanto do ponto de vista econômico como político, e discorreremos,

finalmente, sobre os dois modelos de integração existentes hoje no cenário internacional: ointergovernamental e o supranacional

Objetivos de Aprendizagem

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Ao término do módulo você estará apto a:

Identificar, com base na análise do contexto internacional, como se deu a formação dos BlocosEconômicos e a criação da Organização Mundial do Comércio;Discutir a teoria da integração regional;Dintinguir os dois modelos de integração existentes no cenário internacional.

Unidade 1 - Aspectos introdutórios; Regionalismo e multilateralismo; Os blocos econômicos.

Módulo I

Unidade 1 - Aspectos Introdutórios

a) Regionalismo e multilateralismo

O cenário internacional contemporâneo, caracterizado pelo fenômeno da globalização, apresenta duastendências paralelas no que tange às negociações comerciais: por um lado, a regionalista, que tende àformação de blocos econômicos, e por outro, a multilateralista, que prefere levar a cabo essasnegociações em âmbito mais amplo e se expressa, sobretudo, no foro da Organização Mundial doComércio (OMC). Ambas tendências despontam como resultado de certas condições que vieram aprevalecer no mundo a partir de meados do século XX. Algumas delas são condições de naturezapolítica, outras referem-se a recentes avanços tecnológicos

Entre as primeiras, o fim da Guerra Fria, e a queda da chamada "Cortina de Ferro", constitui aprincipal. O mundo, antes dividido em blocos antagônicos, passa a ser percebido e a funcionar comoum todo. Com o consenso prevalecendo entre as superpotências, as relações internacionais fazem dastrocas e dos investimentos o seu grande objetivo. Conseqüentemente, intensificam-se de formaexponencial os fluxos do comércio no mundo.

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Por outro lado, os recentes avanços no campo da tecnologia, coma descoberta de novos produtos e de novas técnicas de produção,a partir das vertiginosas transformações verificadas nos meios decomunicação, implicaram uma verdadeira "reestruturação daeconomia mundial", com base nas duas tendências a que já nosreferimos acima: a multilateralização das relações decomércio, que convive com a sua regionalização.

Em outros termos, notamos que todos esses fenômenos vêmocorrendo contra um cenário de crescente globalização, a qual,vista de um prisma puramente econômico, consiste nainternacionalização da produção, sendo que tanto aregionalização quanto a multilateralização são respostasencontradas pelos países para fazerem face à nova realidadeinternacional.

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O binômio "pesquisa e desenvolvimento" (P&D) passou a constituir-se em fundamental componentenos custos de produção, superando mesmo, em importância, fatores mais tradicionais, comomão-de-obra e matéria-prima.

Assim, a regionalização, além de viabilizar investimentos cada vez maiores em P&D, para a obtençãode produtos mais baratos e de melhor qualidade, permite os ganhos em escala, o que também barateiaa produção, favorecendo a colocação dos produtos no mercado.

A integração econômica, portanto, não é um fim em si mesma, constituindo-se em instrumento parauma melhor inserção dos países do bloco no mercado internacional.

Precursores da Integração:

Abade de Saint-Pierre

Saiba mais

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b) Os Blocos Econômicos

A formação de blocos econômicos é tendência representativa de um modelo de integração regionalpróprio do mundo globalizado, apresentando-se sob a forma de agrupamento de vários países de umaregião com vinculação econômica e entendimento-base orientados para o desenvolvimento, aintegração econômica e a liberalização econômica.

Uma das principais características deum bloco econômico é a buscaincessante de fórmulas ágeis dediscussão e acordo entre seusparceiros, que lhes permitamnegociar, entre si ou com outrosmecanismos multilaterais ou países, adefesa de seus interesses econômicos,bem como a obtenção de vantagenscomerciais que facilitem e fortaleçama promoção integrada de seudesenvolvimento.

Destacaremos, nas linhas seguintes,alguns blocos econômicos do cenárioglobalizado. Cuidaremos apenas de poucos exemplos, com destaque para a formação da UniãoEuropéia, bloco em estágio mais avançado de integração. Ademais, por ora, nos absteremos dediscorrer sobre o Mercosul, tendo em vista que os módulos seguintes a ele se dedicarão de formadetalhada.

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ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE (NAFTA)

O Acordo de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA (North America FreeTrade Agreement), foi planejado para ser um instrumento de integração daseconomias dos EUA, do Canadá e do México.

Iniciou em 1988, entre norte-americanos e canadenses, e por meio do Acordode Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamentocomercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992, o bloco recebeu a adesãodos mexicanos, tendo entrado em vigor em janeiro de 1994.

Consolidou o intenso comércio regional no hemisfério norte do continente americano, beneficiandograndemente a economia mexicana, ao mesmo tempo em que aparece como concorrente ao blocoeconômico europeu e à fortíssima economia japonesa.

Este bloco não constitui uma organização internacional de cooperação econômica nos moldes clássicos.A meta essencial de seu acordo constitutivo é construir, em prazo específico, uma zona de livrecomércio com ampla abrangência, se possível, atraindo outros países das Américas, regulando osinvestimentos, a propriedade intelectual e o comércio de bens e serviços nos Países Membros do bloco.Maiores informações no site www.nafta-sec-alena.org/ .

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COMUNIDADE ANDINA (CAN)

Em 26 de maio de 1969, pelo Acordo de Cartagena, foi criado o Pacto Andino, que recebeu depois onome de Grupo Andino, mais tarde Comunidade Andina de Nações, e, enfim, Comunidade Andina. Erainicialmente formado pelos seguintes países: Colômbia, Peru, Venezuela,Equador, Bolívia e Chile. Criou-se, assim, uma União Aduaneira e Econômicapara fazer restrições à entrada de capital estrangeiro, com base em estudos daComissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão da ONU. Com asubida ao poder do General Augusto Pinochet, em 1973, o Chile retirou-se doPacto, abrindo sua economia ao mercado externo, principalmente ao norte-americano.

A Venezuela desligou-se da Comunidade Andina para aderir ao Mercosul. Hoje, o grupo de países remanescentesobjetiva criar um mercado comum, em função do processo de globalização econômica que exige a formação embloco para melhor defesa de seus interesses e promoção integrada do seu desenvolvimento.

A Comunidade Andina reúne uma população de 96,87 milhões de habitantes, que gera um PIB de US$338,371bilhões, com exportações alcançando os US$76,222 bilhões e importações no valor de US$70,086 bilhões. aíses Membros da CAN: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.

São Países Membros da CAN: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.

Sitio da Comunidade Andina

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UNIÃO EUROPÉIA (UE)

A União Europeia representa o estágio mais avançado do processo deformação de blocos econômicos no contexto da globalização.

Originada da Comunidade Econômica Europeia (CEE), fundada em

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1957 pelo Tratado de Roma, a União Europeia é o segundo maior blocoeconômico do mundo em termos de PIB: 8 trilhões de dólares.

Até 2003 a União Europeia era formada por 15 países da Europa Ocidental, e sua população estimadaem 374 milhões de habitantes. Hoje, após a incorporação de mais 12 países do Leste Europeu, passoua contar com 27 Países Membros.

A União Europeia negociou a adesão dos seguintes países ao bloco, quais sejam: Chipre, Eslováquia,Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia e República Tcheca, já consideradosaptos para adesão desde o início de 2003 com ingresso definitivo em 1º de maio de 2004. O décimo-primeiro país seria a Turquia, que, no entanto, ainda não preenche os critérios mínimos estabelecidospela União Europeia para início das negociações com vistas à sua aceitação como país membro.

A Bulgária e a Romênia concretizaram sua entrada na União Européia a partir de 2007.

O órgão máximo da União Europeia é o Conselho Europeu. Agrupa os Chefes de Estado ou de Governo,além do Presidente da Comissão Europeia, sendo responsável pela definição das grandes orientaçõespolíticas e cabendo-lhe a responsabilidade de abordar os problemas da atualidade no âmbitointernacional. O Conselho Europeu reúne-se, em princípio, quatro vezes por ano, ou seja, duas vezespor semestre. Em circunstâncias excepcionais, o Conselho Europeu pode reunir-se em sessãoextraordinária.

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Outras instituições existem para que a União Europeia possa cumprir seus objetivos de integração.

O Conselho de Ministros (Conselho da União Europeia, ou simplesmente Conselho) é o órgão quedispõe de poder de decisão, assumindo a coordenação geral das atividades da União. O Conselho,juntamente com o Parlamento Europeu, fixa a legislação da União Europeia, inicialmente proposta pelaComissão Europeia.

O Parlamento Europeu, atualmente composto por 785 delegados eleitos, atendidos por umsecretariado formado por mais de quatro mil funcionários, possuí três tipos de poder: o orçamentário,o de controle da Comissão Europeia, e o legislativo. Este último é exercido diferentemente segundo anatureza da matéria em questão, indo de instância de consulta à co-decisão, quando divide o poderdecisório com o Conselho. Uma das mais importantes funções do Parlamento Europeu consiste emaprovar e autorizar a indicação de projetos que consomem cerca de 45% do orçamento oficial daUnião Europeia. A contribuição de cada cidadão da União Europeia corresponde a 1,5 Euros por ano,significando apenas um por cento do montante total do orçamento comunitário.

O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, na França, para sessões plenárias, é formado porparlamentares eleitos pelas populações dos Países Membros da União Europeia. Em Luxemburgo,funciona a Secretaria Administrativa, e em Bruxelas, na Bélgica, realizam-se reuniões das ComissõesTemáticas. Lá se reúnem também o Conselho de Ministros da União Europeia e seu braço executivo, aComissão Europeia.

A Comissão Europeia, é o órgão executivo e tem como função a iniciativa na elaboração da legislaçãoem comum, controlando sua aplicação e coordenando a administração das políticas comuns. Alémdisso, conduz as negociações da União Europeia no plano das relações exteriores.

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As principais instituições da União Europeia são:

1. Tribunal de Justiça; 2. Tribunal de Contas; 3. Comitê Econômico e Social; 4. Comitê das Regiões; 5. Provedor de Justiça Europeu; 6. Banco Central Europeu (BCE); e

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7. Banco Europeu de Investimento (BEI).

O sistema é completado por uma série de organismos.

Em 1992 é consolidado o Mercado Comum Europeu, com a eliminação das últimas barreirasalfandegárias entre os países-membros. Pelo Tratado de Maastricht (cidade da Holanda), a UniãoEuropeia entra em funcionamento a partir de 1º de novembro de 1993.

Três outros tratados complementam o Tratado de Maastricht: os Tratados de Amsterdam(1996),Nice(2001) e Lisboa(2007).

O Euro é a moeda única criada pela União Europeia, sendo utilizada, desde 1º de janeiro de 2002, emsubstituição às demais moedas da maioria dos Países Membros, circulando em cédulas e moedas nacomunidade financeira internacional, já se consolidou e se afirma, a cada dia, como alternativa aodólar norte-americano nas transações comerciais.

Por temer as consequências da perda da sua soberania, três países ainda resistem ao fim da emissãode sua própria moeda: Reino Unido, Suécia e Dinamarca.

Embora a crise econômica mundial, deflagrada no ano de 2009, tenha causado sérios impactos àestabilidade da Zona do Euro, não podemos negar a força desta moeda, lastreada em economiaspoderosas, que passa a competir com o dólar norte-americano em condições de igual aceitação nomercado internacional.

Para admissão à União Econômica e Monetária o país membro da União Européia deve atender aosseguintes pré-requisitos:

a. déficit público máximo de 3% do PIB; b. inflação baixa e controlada; c. dívida pública de no máximo 60% do PIB; d. moeda estável, dentro da banda de flutuação do Mecanismo Europeu de Câmbio; e, por último, e. taxa de juros de longo prazo controlada.

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ACONTECIMENTOS MARCANTES

1. Em 1º de julho de 2001, a União Europeia deu início a negociações sobre livre comércio com oMercosul, estando previstos inúmeros acordos de intercâmbio comercial entre a UE e o BlocoEconômico do Mercado Comum do Sul, embora se tenha presente as dificuldades nas negociações queenvolvam o setor agrícola, pois a União Europeia não admite abrir mão dos muitos instrumentoscriados para proteger o agricultor europeu.

2. Adoção do Programa Indicativo Regional (RIP) para o Mercosul 2002/2006. A Comissão Europeiaadotou o RIP, programa que conta com significativos recursos provenientes da União e que se destinaa ajudar na conclusão do Mercado Interno do Mercosul, a seu fortalecimento institucional e à efetivaparticipação da sociedade civil no processo de integração interna do Mercosul e birregional com aUnião Europeia. Projeto para a continuidade do programa foi aprovado para o período 2007/2013.

Dados de 2007 da União Européia.

População: 494,37 milhões de habitantes

PIB: US$14.546,541 trilhões de Euros

Exportações: US$1.697,746 trilhões de Euros

Importações: 1.952,001 trilhões de Euros

São Países Membros da UE: Alemanha, Áustria, Bélgica,Bulgária, Dinamarca, Espanha,Finlândia, França, Grécia, Holanda (Países Baixos), Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal,

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Reino Unido, Suécia, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia,Lituânia, Malta, Polônia, Romênia e República Tcheca.

Sítio da União Européia

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Não é intenção deste trabalho – e nem poderia ser – esgotar o estudo sobre os blocoseconômicos existentes. Assim, apenas a título de curiosidade, citamos outros blocos,tais como Mercado Comum Centro-Americano (MCCA), Mercado Comum e Comunidadedo Caribe (CARICOM), Comunidade dos Estados Independentes (CEI), AssociaçãoEuropeia de Livre Comércio (EFTA), Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (APEC),Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Acordo Comercial sobre RelaçõesEconômicas entre Austrália e Nova Zelândia (ANZCERTA), Comunidade para oDesenvolvimento da África Austral (SADC).

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c) A Organização Mundial do Comércio (OMC): a participação do Brasil no contencioso

comercial da OMC

Criada em 1º de janeiro de 1995, a Organização Mundial do Comércio tem por objetivogeral formular as regras de comércio no mundo globalizado. A Organização foi criadapara cumprir as seguintes metas:

Contribuir para a liberalização gradual do comércio multilateral, mediante rodadas denegociações;

desencorajar a discriminação no comércio, evitando cláusulas como a da "nação maisfavorecida";

estabelecer um órgão para a solução de conflitos comerciais.

A OMC é sucessora do GATT - o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio -, criado em 1948, logo após aSegunda Grande Guerra. Ao longo do período entre 1948 e 1994, foram as regras do comérciomultilateral estabelecidas no âmbito do Acordo, uma vez que a Carta de Havana, que criava umaOrganização Internacional do Comércio, jamais logrou ser ratificada pelos Estados Partes.

Nos primeiros anos de existência do GATT, suas rodadas de negociações buscaram basicamente aredução de tarifas comerciais. A Rodada Kennedy, realizada de 1964 a 1967, produziu um Acordo

Anti-Dumping e a Rodada Tóquio, que se estendeu de 1973 a 1979, constituiu-se na mais importantetentativa já encetada para lograr a eliminação das barreiras não-tarifárias. Da Rodada Uruguai,

iniciada em 1986, e que alcançou o seu final em 1994, nasceria a Organização Mundial do Comércio.

Sua especificidade em relação ao GATT reside no fato de que, enquanto o GATT debruçava-se apenassobre o comércio de bens, a OMC inclui em sua agenda, entre outros temas, serviços, compras

governamentais, propriedade intelectual e meio ambiente. Também não se pode deixar de lembrar queum diferencial relevante entre o antigo GATT e a OMC, se refere ao fato de esta última contar com um

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Países membros da OMC (2005)

mecanismo de solução de controvérsias sensivelmente mais efetivo que aquele com que contava oantigo GATT.

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A OMC realizou duas grandes reuniões ministeriais: em Cingapura, em 1996, e em Genebra, em 1998.A terceira, que marcou o início da "Rodada do Milênio", foi realizada em Seattle, nos Estados Unidos,entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro de 1999. Posteriormente, em 2001, foi lançada a“Agenda de Doha para o Desenvolvimento”, conhecida como Rodada de Doha, cujas negociações aindaestão em curso.

Para os 153 países membros da OMC, as tarifas que aplicarão às suas importações, registradas noâmbito da Organização, revestem-se de efeito vinculante e não podem ser desrespeitadas. Caso umdos membros se sinta prejudicado em virtude de iniciativa tomada por outro Estado Parte no Acordo, aele caberá acionar o sistema de solução de controvérsias da OMC.

O Brasil, ativo cliente do sistema de solução de controvérsias daorganização, tende a ampliar sua litigiosidade, seja pelo que tem adefender, seja pelo que tem a conquistar. Embora não cheguemos aparticipar em 1% do comércio mundial, já somos autores ou réus emcerca de 8% dos famosos "panels" genebrinos, atualmente tãocitados quanto desconhecidos.

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Nas vitais relações comerciais entre Estados, a consolidação da OMC representa importante momentode sobreposição do poder jurídico sobre o poder político. Adotando um inusitado aparato jurídico, játestado e comprovado em sua efetividade, o organismo internacional aplica a um modelo racional desolução de controvérsias, mediante sugestão de sanções - ou seja, sem ser impositivo - sob medidapara as peculiaridades de conflitos entre Estados soberanos. Fomenta, ademais, um pluralismo jurídicoordenado, com os Estados comprometendo-se a abster-se de medidas unilaterais de retaliações emedidas abruptas indesejáveis ao equilíbrio e harmonia internacionais.

Fruto da experiência obtida no direito do comércio internacional, somada aos melindres e limites dodireito internacional público, o "panel" propõe uma original forma de decisão vinculante, em queinexistindo a pacificação do conflito pelos meios político-diplomáticos, profere-se, ao fim de umsumário processo de conhecimento, relatório com prescrições elaboradas por juristas a serviço daOMC. O relatório final do "panel" comina sanções compensatórias a quem violou as regras do comérciointernacional, causando prejuízo a outrem, expressas em valores monetários. De natureza impositivasob condição, já que podem ser negociadas interpartes, em busca da construção do consenso, sempredeclaratórias e eventualmente constitutivas, tais decisões conformam algo inusitado no direito tantointerno como internacional, não se tratando de laudo arbitral e tampouco de simulacro de sentençajudicial.

Sujeitos ainda a uma cautela política francamente assumida pela OMC, os relatórios finais dos "panels"não serão implementados se vetados pelo querer de todos os Estados Partes, na dialética forma doconsenso invertido, o que não constitui novidade no direito internacional, haja vista, por exemplo, opoder de veto do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na prática, contudo, o consenso invertidoé extremamente difícil de ser alcançado, o que facilita a aprovação dos relatórios finais.

Há que se ter presente que a âncora contratualista da relação entre Estados - pacta sunt servanda -permanece incólume, com o consentimento sendo determinante para que se integre e permaneça naOMC, submetendo-se ao seu sistema de solução de controvérsias. E mais: só os Estados, blocoseconômicos (atualmente apenas a Comunidade Europeia) e territórios aduaneiros com autonomia paraconduzir relações comerciais externas têm legitimidade ad causam, embora saibamos que no mais dasvezes são as empresas que conflitam (Bombardier x Embraer, Kodak x Fuji), sendo representadaspelos Estados, blocos econômicos ou os citados territórios aduaneiros, através das fórmulas ordináriasdo direito internacional público.

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Com uma legislação específica - o "Dispute Settlement Understanding", DSU, aprovado no bojo daRodada Uruguai, em sua manifestação jurídica por excelência, o Encontro de Marraquesh, no primeirosemestre de 1994 -, a OMC tende a transformar-se no grande fórum mundial, onde se estima serempacificados os macroconflitos comerciais internacionais, agravados pelas duras contendas demanutenção e acesso a mercados.

O Órgão de Solução de Controvérsias, sempre que provocado, passará a buscar solução consensual,observando um calendário rígido, sem procrastinações unilaterais. Passando pela fase de conhecimentoe do contraditório, em que os Estados expressam livremente suas razões, formando a prova na formaordinária do due process of law, chega-se ao relatório final, que indica condutas e comina sançõescomerciais na forma de direitos a serem ou não exercidos pela parte vencedora, aqui bem ao sabor dasrelações flexíveis do direito internacional.

O exercício facultativo dos direitos concedidos à parte vencedora é, de fato, prática de difícilpercepção, senão àqueles habituados à realidade do direito do comércio internacional. Nele, emespecial no contencioso comercial, ganhar não significa simplesmente aplicar-se a decisão. Há, emverdade, toda uma gama de circunstâncias que condicionam o que se fará. Está-se claramente em umoutro espectro de prestação jurídica, onde a coação continua essencial ao direito, conquantoempregando meios muito mais sofisticados.

De toda sorte, e em que pese seu breve período de vigência, não há mais como duvidar da eficácia eefetividade do sistema de solução de controvérsias da OMC, como se aufere do grande respaldointernacional que vem recebendo. Considerados os vinte e sete países signatários do GATT, em 1947,primeira tentativa de ordenar-se o comércio internacional, aos atuais cento e cinquenta etrês membros da OMC, e com especial significado para a adesão da China, não há mais espaço paraqualquer tipo de ceticismo.

Unidade 2 - Teoria de Referência; Teoria da Integração Regional; Etapas da integração.

Antes de iniciar a Unidade II desse Módulo, vá até "Avaliações" (lado esquerdo da página),clique em Autoavaliação da unidade I do Módulo I e teste seu conhecimento.

Boa sorte!

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Módulo I

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Unidade 2 - Teoria de referência

a) Teoria da Integração Regional

Além das considerações de ordem econômica, faz-se necessária também uma discussão do papel dosfatores políticos, não apenas no que concerne aos processos decisórios que levam certos países a optarpor um processo integracionista, como também no que diz respeito à continuidade e aprofundamentodessa integração. O caso da Europa é paradigmático para a ilustração de processos de integraçãodeterminados por motivos de caráter político. Entre estes, cabe lembrar a necessidade de se evitarfuturas guerras no continente europeu e a criação de uma terceira força na política mundial medianteo fortalecimento da Europa Ocidental, em um quadro, então, de polarização entre a União Soviética eos Estados Unidos.

Nesse cenário, ressurge o Movimento Federalista Europeu após o final da I Guerra Mundial, que sebaseava nas ideias de precursores como o abade de Saint-Pierre (1658-1743), Immanuel Kant(1724-1804) e Victor Hugo (1802-1885), entre outros. Porém, os federalistas do século XX sãoimpulsionados pelos horrores sofridos pelo continente europeu por força das duas guerras mundiaisque o assolaram no intervalo de apenas 25 anos. Vários políticos posicionam-se a favor da criação dos"Estados Unidos da Europa", postura fortalecida pelo apoio dos Estados Unidos e pela pressão dascrescentes ameaças de Moscou. Foi o temor de uma terceira guerra mundial, decorrente doexpansionismo soviético, que levou Winston Churchill a proferir memorável discurso em Zurique, em1946, quando apresenta o projeto de "Recriar a família europeia em uma estrutura regional tal quevenha a chamar-se Estados Unidos da Europa". Sem dúvida alguma, as ideias federalistas permearamtoda a trajetória da integração europeia, muitas vezes por meio de figuras políticas presentes noParlamento Europeu, como Altiero Spinelli, autor do famoso Manifesto de Ventotene (1941), quedefendia a união dos países da Europa em uma Federação Europeia.

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Victor Hugo

Immanuel Kant

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Outra vertente da teoria da integração deve-se ao cientista político David Mitrany, formulador dateoria funcionalista. Embora Mitrany tenha formulado a sua teoria com vistas à unidade mundial, enão apenas Europeia, suas ideias influenciaram fortemente os primeiros militantes pela união daEuropa e teóricos da integração, dando origem, mais tarde, à teoria neofuncionalista. A "alternativafuncional" de Mitrany vislumbra uma ampla teia de agências internacionais, onde tecnocratas depaíses diversos se dedicariam, em conjunto, de maneira racional, pragmática e flexível, aodesenvolvimento de atividades vinculadas a vários setores voltados ao bem-estar público. A soberaniados Países Membros de tais agências seria, gradualmente, transferida para tais reuniõesintergovernamentais. Exemplo paradigmático desse sistema é o Tratado de Paris (1951), que cria aComunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e uma Alta Autoridade destinada a administrar a suaprodução e comercialização nos Estados Partes. A soberania passa a ser então compartilhada paradeterminadas decisões, por um ato de vontade dos próprios Estados envolvidos.

Mais tarde, Ernst Haas elabora a teoria neofuncionalista, que enfatiza o aprendizado, pelas elites de

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um país, dos benefícios da integração. Esta se estenderia a outros setores, em consequência de umapercepção favorável dos seus resultados. É o célebre efeito spill over, identificado por Haas como oprincipal propulsor de um projeto integracionista. O Mercosul oferece interessantes exemplos de spillover, na medida em que foi incorporando novos setores ao processo de integração que antes seencontravam alijados do mesmo, como relações trabalhistas, turismo e meio ambiente.

Em sua análise da integração do ponto de vista político, afirma Karl Deutsch, por sua vez, que aintegração é um processo pelo qual se obtém determinado tipo de relacionamento entre as partescomponentes, capaz de alterar o comportamento destas relativamente ao que este seria, se essaspartes componentes não estivessem integradas.

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b) Etapas da integração

Antes de mais nada, caberia definirmos alguns termos relacionadosà formação de blocos econômicos. Segundo Bela Balassa, aintegração econômica é um processo que implica medidasdestinadas à abolição de discriminações em uma determinada área.

Asim, de início, um processo de integração econômica caracteriza-se por um conjunto de medidas quetêm por objetivo promover a aproximação e a união entre as economias de dois ou mais países.

O grau de profundidade dos vínculos que se criam entre as economias dos países envolvidos em umprocesso de integração econômica permite que se visualize, ou determine, as fases ou etapas do seudesenvolvimento.

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A teoria do comércio internacional registra a classificação de cinco tipos de associação entre países quedecidem integrar suas economias:

1) A Zona de Preferência Tarifária é o mais elementar dos processos de integração, apenasassegurando níveis tarifários preferenciais para o grupo de países que conformam a Zona. Assim, umaZPT estabelece que as tarifas incidentes sobre o comércio entre os Países Membros do grupo sãoinferiores às tarifas cobradas de países não membros.

A ALALC, por exemplo, procurou estabelecer preferências tarifárias entre seus onze membros, ou seja,entre todos os Estados da América do Sul que aderiram à tentativa de integração comercial, excluídosapenas a Guiana e o Suriname, e incluindo-se ainda o México.

2) A Zona de Livre Comércio (ZLC), uma segunda modalidade, consiste na eliminação das barreirastarifárias e não-tarifárias que incidem sobre o comércio entre os países que constituem a ZLC.

O NAFTA (North America Free Trade Area), ou Acordo de Livre Comércio da América do Norte, firmadoentre os Estados Unidos, o México e o Canadá, é um exemplo de ZLC.

3) A União Aduaneira é uma Zona de Livre Comércio que adota também uma Tarifa Externa Comum(TEC). Nessa fase do processo de integração, um conjunto de países aplica uma tarifa para suasimportações provenientes de países não pertencentes ao grupo, qualquer que seja o produto, e, porfim, prevê a livre circulação de bens entre si com tarifa zero.

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O exemplo mais conhecido desse tipo de integração foi a Zollverein (União Aduaneira, em alemão),idealizada e impulsionada por Otto von Bismarck, o grande líder responsável pela unificação política daAlemanha, em 1850. A Zollverein foi criada em 1835 e dissolvida em 1866.

4) O Mercado Comum, quarto estágio de integração econômica, difere fundamentalmente da UniãoAduaneira porque, além da livre circulação de mercadorias, requer a circulação de serviços e fatoresde produção, ou seja, de capitais e pessoas.

Porém, deve-se ressaltar que, além da livre circulação de bens, serviços e fatores de produção, todosos Países Membros de um Mercado Comum devem seguir os mesmos parâmetros para fixar a políticamonetária (fixação de taxas de juros), a política cambial (taxa de câmbio da moeda nacional) e apolítica fiscal (tributação e controle de gastos pelo Estado), ou seja, os Países Membros devemconcordar com o avanço integrado da coordenação das suas políticas macroeconômicas.

A União Europeia, até 1992, foi um exemplo acabado de integração pela via do Mercado Comum,quando, então, prosseguiu para o estágio mais avançado, passando a se constituir em uma UniãoEconômica e Monetária.

5) A União Econômica Monetária é a etapa mais avançada dos processos de integração econômica,até agora alcançada apenas pela União Europeia.

A União Econômica e Monetária ocorre quando existe uma moeda comum e uma política monetáriacom metas unificadas e reguladas por um Banco Central comunitário. Desde 2003, a União Europeiatem como moeda corrente o Euro, cuja emissão, controle e fiscalização dependem do Banco CentralEuropeu.

De acordo com a classificação exposta nos parágrafos anteriores, o Mercosul é, desde 1º de janeiro de1995, uma União Aduaneira, mas o objetivo dos países que o integram, e que está consubstanciado noprimeiro artigo do Tratado de Assunção, é a construção de um Mercado Comum.

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Assim, de modo resumido, pode-se afirmar que o Mercosul é o projeto de construção de um MercadoComum, cuja execução encontra-se na fase de União Aduaneira imperfeita.

Além das cinco etapas de integração, entendemos que uma sexta fase deve ser acrescentada à teoriasobre a qual nos apoiamos, que será a União Política.

6) A União Política poderá ser a etapa conclusiva de um processo de integração regional. Aoalcançá-la, o modelo intergovernamental, típico instrumento de cooperação internacional sempreliderado pelo Executivo, terá sido substituído pelo chamado modelo supranacional, que implica aexistência de órgãos, no seio da estrutura institucional da integração,independentes dos Estados Membros e encarregados de zelar pelosinteresses da região em sua totalidade. A união política poderá tomar afeição de uma federação, assentada sobre um pacto federativo, isto é,sobre uma constituição. A União Europeia assinou, em 29 de outubro de2004, o Tratado da Constituição Europeia, que, no entanto, ainda nãologrou a sua aprovação em todos os Estados Membros, tendo sido rejeitadopelo voto popular por ocasião de referendos realizados na França (29 demaio de 2005) e na Holanda (1º de junho de 2005). Ressalte-se,entretanto, que até o presente momento 15 Países Membros já ratificaramo Tratado: Áustria, Bélgica, Chipre, Estônia, Alemanha, Grécia, Hungria,Itália, Letônia,Lituânia, Luxemburgo, Malta, Eslováquia, Eslovênia e Espanha.

Após a tentativa fracassada do Tratado da Constituição Europeia, foi assinado, em 2007, o Tratado deLisboa, que pretendia, com algumas alterações, reviver o primeiro tratado. A população irlandesa, noentanto, rejeitou o Tratado de Lisboa e pôs em dúvida o modelo de expansão institucional e normativada União Europeia. Parece certo que novas formas precisam surgir para que o projeto integracionista

europeu não se estagne.

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c) Modelo supranacional x intergovernamental

Segundo a visão intergovernamentalista, os Estados soberanos, principais atores no cenáriointernacional, lançam-se à integração a partir do reconhecimento de que as vantagens da cooperaçãoe da identificação de interesses comuns superam os custos da situação de conflito. Mas em linhasgerais, na perspectiva intergovernamental os Estados devem esforçar-se por fazer valer, acima davisão regional, o interesse nacional. Desta noção decorre, naturalmente, o raciocínio segundo o qual apreservação da soberania nacional constitui um princípio essencial a ser observado ao longo dasnegociações da integração. O modelo intergovernamental constitui, portanto, típico instrumento decooperação internacional, pautando-se pelos princípios do direito internacional clássico, tais como aigualdade dos Estados e o direito de veto.

Cabe assinalar a pronunciada importância conferida pelos países da América Latina ao conceito dasoberania nacional absoluta, que emerge indissoluvelmente ligado às suas raízes históricas e que atéhoje permanece como princípio basilar de sua cultura política.

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O modelo supranacional implica a inclusão de um ou mais órgãos, no seio da estrutura institucionalda integração, independentes dos Estados Partes e encarregados de zelar pelos interesses da regiãoem seu conjunto. No caso da União Europeia, o órgão supranacional por excelência é a ComissãoEuropeia (chamada pelo Tratado de Paris, que criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, de"Alta Autoridade"), apresentando também o Parlamento e o Tribunal de Justiça (bem como o Tribunalde Primeira Instância) aspectos de supranacionalidade. A Comissão tem o poder de emitir "Diretivas" e"Resoluções", sendo que estas últimas se sobrepõem ao ordenamento jurídico interno dos EstadosPartes, nos quais têm aplicação direta e imediata.

Contudo, é inegável a centralidade dos Estados nacionais nas formulações que determinam os destinosda integração. As negociações que conduzem às revisões dos tratados ocorrem em âmbitointergovernamental, e as entidades supranacionais são criadas pelos próprios governos, que lhesdelimitam as competências.

Paulo Roberto de Almeida, em artigo escrito em 1994, aponta os seguintes aspectos desupranacionalidade no modelo comunitário europeu:

presença de instituições independentes dos Estados Membros (Comissão, Parlamento, Tribunal deJustiça);métodos decisórios supranacionais (possibilidade de votação no Conselho segundo o princípiomajoritário, superando eventuais oposições de Estados individuais);sistema próprio de recursos e transferência de certas competências à Comunidade;normas que vinculam diretamente os indivíduos, agentes econômicos e empresas.

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Como mencionamos, o referido artigo data de 1994, momento em que o Mercosul preparava aarquitetura institucional que figuraria no Protocolo de Ouro Preto, firmado em 17 de dezembro de1994, e que acompanharia a implantação da união aduaneira. Segundo o autor, não se poderiaimpulsionar no Mercosul, sem consideráveis riscos políticos, inclusive e principalmente de perda decredibilidade internacional, um processo de definição supranacional de instituições e métodos como osanteriormente enumerados.

Assim, o Protocolo de Ouro Preto veio a reiterar a natureza intergovernamental do Mercosul e a

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metodologia do consenso para os seus processos decisórios.

Sintetizando

Neste Módulo, estudamos os movimentos paralelos em curso no cenário mundial, demultilateralização do comércio e de formação de blocos econômicos. No que se refere aomultilateralismo, examinamos a Organização Mundial do Comércio e seu inédito mecanismo

de solução de controvérsias, com destaque para a participação do Brasil nos contenciosos.

Estudaremos, em seguida, a teoria da integração e suas diversas correntes, as etapas da integraçãoe os modelos de que se podem revestir os blocos econômicos.

Autoavaliação da Unidade II

Antes de passarmos para o próximo módulo, vamos fazer a autoavaliação daUnidade II do Módulo I? Clique em "Avaliações" ( lado esquerdo da página ) e

"Autoavaliação da Unidade II do Módulo I" . Boa sorte!

Módulo II - O Mercosul

Módulo II - O Mercosul

Temas do Módulo

Nesse Módulo, estudaremos o Mercosul (Mercado Comum do Sul) detendo-nos em seusantecedentes históricos e tratados fundadores. Em seguida, analisaremos a estruturainstitucional adotada pelos negociadores do bloco para impulsionar o processo deintegração. Também será objeto de nosso estudo o sistema de solução de controvérsiasadotado pelo Mercosul.

Objetivos de Aprendizagem

Ao término do módulo você estará apto a:

Identificar os antecedentes históricos e os tratados fundadores do Mercado Comum do Sul;analisar o processo de integração do Mercosul.

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Unidade 1 - Antecedentes; Cronologia da integração no Cone Sul; A ALALC e a ALADI.

Módulo II

Unidade 1 - Antecedentes

A Operação Pan-Americana (OPA), a Aliança para oProgresso, a ALALC e a ALADI

As raízes do pan-americanismo podem ser identificadas napré-história política do continente, com mais precisão no Tratadode Madri de 1750, firmado entre Portugal e Espanha, por força dacomum origem ibérica dos colonizadores de quase todo o seuterritório. A concretização dos vagos ideais, apenas esboçados nostrês primeiros séculos de vassalagem às potências europeias,começa com as guerras da independência que o sacudiram de umextremo a outro, durante cerca de vinte anos, a partir de 1810.

Assim, no primeiro quartel do século XIX a América Latina setornou independente das metrópoles europeias. ToussaintL`Ouverture no Haiti, Francisco de Miranda na Venezuela,Joaquim José da Silva Xavier (o Tiradentes) no Brasil, foram osiniciadores do movimento de emancipação, logo seguidos por Bolívar, Sucre, O'Higgins, Rivadavia, SanMartín, Artigas, Delgado, Francia, Hidalgo, Morelos, e vários outros líderes.

Sem dúvida foi Simón Bolívar o mais representativo deles, não só pela ação guerreira como pelas suassingulares virtudes de estadista, expressando, admiravelmente, sentimentos existentes de longa datae que eram patrimônio comum de grande número de americanos, como Thomas Jefferson,representante da América do Norte.

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Com o decorrer do tempo, a doutrina defendida por Bolívar, que contou entre seus auxiliares diretoscom um general brasileiro, José Ignácio de Abreu e Lima, filho do revolucionário Padre Roma, ficouconsagrada sob a designação de "ideais bolivarianos".

Vale destacar que Simón Bolívar é a grande figura do pan-americanismo. Não foi apenas um fundadorde nações, um Libertador, pois defendeu o ideal de formar, reunindo os países sul-americanos, uma sónação, um Novo Mundo.

A primeira reunião pan-americanista, convocada por Bolívar, foi realizada em dezembro de 1826, noCongresso de Panamá, que reuniu apenas representantes do México, América Central, Colômbia ePeru.

Daí em diante, apesar de tantos esforços e inúmeras retomadas, o projeto do pan-americanismo ficouapenas no plano dos ideais de alguns líderes, sem nunca avançar para uma consolidação, chegando-se,assim, à IX Conferência Pan-americana, em Bogotá, Colômbia, em 1948.

A X Conferência Pan-Americana aconteceu em 1954, em Caracas, na Venezuela, e além desta, outrasconferências econômicas se sucederam sem se alcançar resultados concretos.

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Memorial Juscelino Kubitscheck (Brasília)

Até que a roda da história no espaço geográfico sul-americano aproxima dois acontecimentos quepermitiram o surgimento de iniciativa política destinada aacelerar o projeto pan-americanista pela via dodesenvolvimento econômico: o primeiro deles, a eleição dopresidente brasileiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, quetomou posse em 1956; o outro, a visita do vice-presidentenorte-americano Richard Nixon, em maio de 1958, a paísessul-americanos, após 21 dias de visitas no Continente Africano.

Em Lima, no Peru, e em Caracas, na Venezuela, ovice-presidente norte-americano foi agredido, e, contra suapessoa, os manifestantes repudiaram a omissão do governo dosEUA em relação a investimentos para o desenvolvimento noterritório sul-americano, ao mesmo tempo em que aquele paísdeclarava prioridade para a África, após implantar o PlanoMarshall de recuperação da Europa devastada pela SegundaGrande Guerra.

O presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira envia carta, em 28 de maio de 1958, ao presidenteDwight D. Einsenhower, expressando solidariedade ao vice-presidente Richard Nixon, masaproveitando para vincular as referidas manifestações a prejuízos causados perante a opinião públicamundial, à ideia da unidade pan-americana, que, segundo sua interpretação, somente podia serresgatada se algo de relevância fosse feito para recompor a face da unidade continental.

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Nessa carta, o presidente Juscelino Kubitschek revelou não ter "plano detalhado para esse objetivo" derecomposição da unidade continental, de criação de "algo mais profundo e duradouro em prol de nossodestino comum".

O presidente Einsenhower respondeu ao presidente brasileiro, em 6 de julho de 1958, entendendo serde fundamental importância a "adoção imediata de medidas que determinem, através de todo ocontinente, uma reafirmação do devotamento ao Pan-Americanismo e um melhor planejamento napromoção dos interesses comuns e do bem-estar de nossos diferentes países".

O presidente brasileiro aproveitou então a oportunidade dadeclaração norte-americana para, em missivas a chefes de Estado,conferências, discursos e declaração à imprensa, a partir da carta de28 de maio de 1958, provocar um movimento continentaldenominado, por ele mesmo, de "Operação Pan-Americana" (OPA),que, rapidamente, alcançou ressonância mundial porque "seusobjetivos correspondem às aspirações e às necessidades de todos ospovos" (Embaixador Negrão de Lima, perante a Assembléia dasNações Unidas, em 18/09/1958).

Os resultados da Doutrina Kubitschek começaram a surgir quando, em 1959, o Banco Mundial e oFundo Monetário Internacional, com a aprovação do governo de Einsenhower, criaram em 1° denovembro do ano em referência a Associação Internacional de Desenvolvimento (AIF), com o endossode 63 Países Membros daquelas entidades, com um capital de US$ 1 bilhão, com a finalidade deauxiliar as nações subdesenvolvidas no mundo inteiro.

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Em grande parte a reboque do movimento iniciado pelo presidente brasileiro, mais resultados seapresentaram, tais como a oficialização do Banco Interamericano de Desenvolvimento e a criação daAssociação Latino-Americana de Livre Comércio, a ALALC, surgida graças ao Tratado de Montevidéu,

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de 18 de fevereiro de 1960, seguindo a orientação da Comissão Econômica para a América Latina(CEPAL), que, desde 1955, elaborou trabalhos técnicos e manteve reuniões com os governos dosprincipais países da região, com o objetivo de adotar mecanismos de planejamento para vencer oprocesso de subdesenvolvimento que caracterizava o espaço geográfico latino-americano.

Para a CEPAL, os projetos de integração regional deviam enfatizar duas questões relevantes que,segundo ela, qualquer iniciativa desenvolvimentista na região seria obrigada a observar:

- a industrialização, como condição indispensável para o desenvolvimento dos países latino-americanos, teria que dispor de mercados mais amplos que os nacionais, uma exigência básica parauma maior eficiência do processo de industrialização, desde que se lograsse, inicialmente, incrementaro comércio intrazona mediante acordos preferenciais; e

- solução para a situação geral de intransferibilidade das moedas destes países, por causa dasdificuldades para efetivar os pagamentos intrarregionais que incidiam negativamente sobre asiniciativas de comércio recíproco.

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No entanto, a Operação Pan-Americana não seconsolidou, e, em seu lugar, surgiu um programa decooperação multilateral, criado em agosto de 1961pelos signatários da Carta de Punta del Este, com oobjetivo de incrementar o desenvolvimentoeconômico-social da América Latina. A ideia daAliança para o Progresso foi lançada pelo sucessorde Einsenhover, o presidente John Kennedy, emmarço de 1961, já como uma resposta aosacontecimentos revolucionários em Cuba, com a

tomada do poder pelo grupo liderado por Fidel Castro, e também pelaspressões de setores políticos e governamentais latino-americanos preocupados com a situaçãoeconômica e social da região.

Como veremos, pode-se afirmar que o Mercosul é o resultado de pelo menos três décadas detentativas de integração regional sob a forma de associações de livre comércio congregando todos ospaíses da América do Sul, tais como a ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio) e aALADI (Associação Latino-Americana de Integração), tendo a segunda destas organizações surgido datransformação ou refundação da primeira delas. Aliás, o Mercosul tem vínculos com a ALADI na formade um Acordo de Complementação Econômica (ACE n° 18) entre Brasil, Argentina, Paraguai eUruguai, datado de 29 de novembro de 1991.

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Em 18 de fevereiro de 1960, na cidade deMontevidéu, foi firmado o ato constitutivo de criaçãoda Associação Latino-Americana de Livre Comércio, aALALC, uma organização para a cooperaçãoeconômica inspirada nas sugestões oriundas daComissão Econômica para a América Latina (CEPAL),

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Cartagena (Venezuela)

que tinha a liderança do grande economistaargentino Raul Prebisch, assessorado diretamentepor outro reconhecido economista sul-americano, obrasileiro Celso Furtado.

A ALALC perseguia um objetivo muito claro, pelo menos na sua definição: diminuir as tarifasalfandegárias entre os parceiros e criar uma área de livre comércio.

Contudo, dois fatores obstaculizaram o progresso da ALALC, uma associação que durou de 1960 a1980:

1. A rigidez dos mecanismos estabelecidos para a liberalização comercial; e

2. a instabilidade política vivida pela região sul-americana, sempre alimentada pelos ventos daGuerra Fria entre os blocos políticos liderados pelos Estados Unidos e pela ex-União das RepúblicasSocialistas Soviéticas, a URSS.

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Em resumo, para além da questão da instabilidade política alimentada pela bipolaridade ideológica emilitar EUA versus URSS, no período de vigência da ALALC os Países Membros só estavam dispostos aengajar-se na proposta de abertura comercial até um certo ponto: todos os associados queriam abrir omercado dos demais países para os seus produtos, mas nenhum queria abrir o seu próprio mercado.

Assim, impossibilitados de cumprir com o acordado em 1960, os Países Membros decidiram, vinte anosdepois, extinguir a organização e substituí-la pela Associação Latino-Americana de Integração, aALADI.

Nesse contexto, cumpre lembrar que, antes da decisão de substituição da ALALC pela ALADI, frente àsdificuldades encontradas pela ALALC para consolidar seus objetivos fundamentais, no final da décadade 60 alguns Países Membros se convenceram da necessidade de constituir blocos sub-regionais deintegração. Assim, em 20 de maio de 1969 cinco países andinos firmaram o Acordo de Cartagena, queficou conhecido como "Pacto Andino", com o objetivo de "promover o desenvolvimento equilibrado eharmônico dos Países Membros, acelerar seu crescimento mediante a integração econômica, facilitarsua participação no processo de integração previsto no Tratado de Montevidéu, e estabelecer condiçõesfavoráveis para conversão da ALALC em um mercado comum" (art. 10 do Acordo de Cartagena).

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Os países signatários do ato constitutivo do Acordo de Cartagena, ou Pacto Andino, são, Bolívia, Chile,Colômbia, Equador e Peru. Em 1973, a Venezuela aderiu ao acordo, retirando-se em 2006 paraingressar no Mercosul. O Chile, em 1976, retirou-se do grupo.

A nova organização, a ALADI, aproveitou os ensinamentos da anterior,a ALALC, e propôs uma pauta modesta, porém objetiva e pragmática.

A ALADI tinha a intenção de ser tão somente uma associação entreEstados soberanos, e de transformar-se em zona de livre comércio, jáque os signatários tinham "como objetivo de longo prazo oestabelecimento, em forma gradual e progressiva, de um mercadocomum latino-americano" (art. 10 do ato de criação da ALADI).

A ALADI, inaugurada em 12 de agosto de 1980, tinha por objetivo, atotal liberalização do comércio entre os onze Países Membros. Paratanto, adotou um mecanismo geral flexível: os acordos sub-regionais,isto é, acordos de liberalização comercial firmados apenas entre um grupo de Países Membros, e nãoentre os onze, embora respeitando-se princípios e conceitos comuns.

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Além da flexibilidade proporcionada pelo mecanismo dos acordos sub-regionais, que gerou, porexemplo, o Protocolo de Expansão do Comércio (PEC) entre o Brasil e o Uruguai, e o ConvênioArgentino-Uruguaio de Complementação Econômica (CAUCE), dois fatores novos contribuíram, nadécada dos anos 80, para criar um ambiente mais propício a propostas de integração regional:

1. O processo de redemocratização, que arrebatou o continente num curto espaço de tempo; e

2. a crescente diversificação da produção industrial daqueles países que, na região, souberamaproveitar o modelo da substituição de importações, com destaque para Brasil, Argentina e México.

Assim, a redemocratização regional, ao gerar ambiente propício para a estabilidade com legitimidade,levou os governos locais à busca de melhor relacionamento, como vizinhos, e não mais como peçassecundárias no tabuleiro internacional do xadrez geopolítico engendrado pelo confronto EUA versusURSS. As nações sul-americanas passaram a enxergar que têm problemas e objetivos dedesenvolvimento que se assemelham.

A diversificação industrial, por sua vez, significava que era possível, sim, propor-se uma maiorcomplementaridade das economias entre os países sul-americanos, visando o desenvolvimentoregional integrado, e, para tanto, a ideia da redução de barreiras tarifárias poderia produzir aumentoefetivo de comércio, como ensinavam os resultados dos acordos sub-regionais propostos no âmbito daALADI.

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Brasil e Argentina iniciaram, nessa década de 80, anegociação de preferências comerciais, ou seja, dereduções tarifárias recíprocas. Deve-se destacar que,em 1986, os governos Raúl Alfonsín e José Sarneydecidiram que a aproximação das economiasbrasileira e argentina devia constituir um dos pilaresde suas políticas externas e firmaram o Tratado deCooperação Econômica, que se mostrou muitoeficiente no incremento e diversificação do comércio

bilateral entre os dois países, em especial nos setores-chave de bens de capital, trigo e automóveis.

O êxito alcançado por esse acordo sub-regional, sob o amparo do sistema jurídico da ALADI,proporcionou os fundamentos para a ampliação do Tratado de Integração brasileiro-argentino,projetando-se, assim, a formação de um Mercado Comum entre os dois países, o Mercosul, sobre oqual nos deteremos mais adiante.

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Por fim, para concluir o elenco de informações sobre a ALALC e a ALADI, listaremos os instrumentosconstruídos para liberalizar o comércio na região sob o amparo dos tratados constitutivos das referidas

associações

Segundo o Tratado de Montevidéu de 1960 (ALALC):

Listas nacionais de produtos, com alcance multilateral, o que significava estabelecer umsistema de preferência regional;

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Lista comum, formada com produtos comuns resultantes das listas nacionais;

Listas de vantagens não extensivas, que deveriam beneficiar os chamados países de menordesenvolvimento relativo (PMDR), incluindo a Bolívia, o Equador, o Paraguai e o Uruguai;

Acordos de complementação, que podiam ser firmados por pares de países, cujas preferênciasse agregavam às listas nacionais dos Países Membros participantes, buscando-se assim amultilateralização.

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Conforme o Tratado de Montevidéu de 1980 (ALADI):

Acordos de Preferência Aduaneira Regional, assim denominados por estabelecerem aspreferências outorgadas reciprocamente por todos os Países Membros, ainda que emporcentagens diferentes, para atender a três categorias classificatórias de graus dedesenvolvimento: Países de Menor Desenvolvimento Relativo (PMDR), o que incluía Bolívia,Equador e Paraguai; Países de Desenvolvimento Médio (PDM5), que englobava Colômbia, Chile,Peru, Uruguai e Venezuela; e Países em Desenvolvimento (PDs), categoria formada porArgentina, Brasil e México;Acordos de Alcance Regional, que, de acordo com o Tratado, são aqueles em que participamtodos os Estados Membros, como no acordo de alcance parcial, e podem ser comerciais, decomplementação econômica, agropecuários, de promoção do comércio, de cooperação científica etecnológica, de promoção do turismo e de preservação do meio ambiente, entre outros.Acordos de Alcance Parcial, que deram inicio à obrigação de se prever meios para agilizar amultilateralização destes acordos e buscar sua convergência para alcançar a finalidade deintegrar as economias de todos os participantes da ALADI. Assim, os Acordos de Alcance Parcialpodem ser: de renegociacão do patrimônio histórico, que abarcam os preferências já outorgadasna ALALC e que são renegociados na ALADI; comerciais, cujo único objetivo é aumentar ocomércio e o âmbito de aplicação de cada acordo se limita a um setor produtivo, a respeito decujos produtos se concedem as preferências; de complementacão econômica, para aumentar ocomércio, mas também promover a complementação das economias; de preferências para paísesnão membros, previstos no art. 25 do Tratado de Montevidéu de 1980, para conceder tratamentopreferencial a países latino-americanos; agropecuários, para regular o comércio desse setor, massem incluir preferências, podendo referir-se a produtos específicos ou a setores agropecuários;de promoção do comércio, voltados para temas não alfandegários, podem compreendercooperação aduaneira, facilitação do transporte de mercadorias, conduta comercial, normassanitárias e fitosanitárias, e outras; sobre outras matérias, previstos no art. 14 do TM 1980,podem referir-se a cooperação científica e tecnológica, promoção do turismo, preservação domeio ambiente e demais assuntos não abrangidos pelos acordos citados anteriormente.

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Deve ser ressaltado que os Acordos de Complementação Econômica se transformaram no instrumentomais utilizado na ALADI, e a partir da década de 90 produziu-se uma mudança substantiva, com oinicio da assinatura de convênios que têm por objetivo a constituição de zonas de livre comércio(ZLCS). Exemplo desses "acordos de nova geração" é o ACE 18 (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,que conformaram o Mercosul em seu início);

A ALADI congrega os Países Membros da antiga ALALC, ou seja, Argentina, Bolívia, Brasil,Colômbia, Chile, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

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A integração bilateral Brasil-Argentina

Superada em 1979 a questão Itaipu-Corpus, que mantivera em camposopostos o Brasil e a Argentina, desenhou-se gradualmente a parceriaentre esses dois países, com base em crescente convergência das suaspolíticas interna e externa.

No campo interno, tratava-se de restaurar plenamente a vigência dademocracia e dos direitos humanos fundamentais.

No plano externo, buscava-se superar as desconfianças geradas pela orientação autárquica imprimidaaos dois países pelos governos militares, recuperar credibilidade nos foros multilaterais e agilizar ainterlocução com os países industrializados.

Para colocar em prática esse novo modelo de inserção internacional, privilegiou-se uma parceriabrasileiro-argentina construída, inicialmente, mediante propostas e ações no plano da segurança,notadamente na área da energia nuclear, "fomentando um clima de confiança mútua crescente e queensejou, em seguida, o desmantelamento das hipóteses de conflito entre os dois países". Nessesentido, houve nítido esforço da parte dos governos de José Sarney (1985-1990) e Raúl Alfonsín(1983-1989) no sentido de conferir prioridade à América Latina em sua atuação político-diplomática.

Impulsionada primeiramente pela Ata de Iguaçu, firmada em 30 de novembro de 1985, a integraçãobilateral traduziu-se, primeiramente, em protocolos bilaterais de natureza setorial (trigo, bens decapital, segurança alimentar e outros), desembocando posteriormente, em 1988, no Tratado deIntegração, Cooperação e Desenvolvimento. Refletindo o objetivo da promoção do desenvolvimentoconjunto, esse instrumento internacional lançava as bases de uma integração a ser construída pormeio do enlace dos setores produtivos dos dois países e de iniciativas conjuntas - por exemplo, noplano da energia, do transporte e das telecomunicações. O grande desafio com que se confrontavamBrasil e Argentina à época era representado pela alta inflação e pelo endividamento externo.

Leia mais sobre a questão Itaipu-Corpus.

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Com a chegada ao poder de Carlos Menem na Argentina (1989) e de Fernando Collor de Mello (1990)no Brasil, introduziram-se novos paradigmas no processo de integração, obedecendo à orientaçãoneoliberal dos novos mandatários. Assim, privilegiou-se a orientação adotada pelo chamado "Consensode Washington", no sentido da abertura comercial, desregulamentação econômica e privatização.

O objetivo de estabelecer um mercado comum entre o Brasil e a Argentinasurge na Ata de Buenos Aires, firmada em 6 de julho de 1990, por ocasião davisita do Presidente Fernando Collor à capital da Argentina. Nessa ocasião, aabertura econômica e a desregulamentação dos mercados já balizavam a novaorientação imprimida à integração.

Um ano mais tarde, os instrumentos consagrados pelo Tratado de Assunção,que criou o Mercosul, já com a participação do Uruguai e do Paraguai,refletiriam esse redirecionamento do processo de integração.

Deve-se, ainda, ressaltar que esse bloco ergue-se sobre três bases:

a base jurídica está vinculada à ALADI, sob a forma de um Acordo de Complementação Econômicaentre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, obedecendo a todos os princípios e normas daquelaAssociação;

a base política sustenta-se na cláusula democrática, acordada pelos seus altos mandatários desde o

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Tratado de Assunção e consolidada pelo Protocolo de Ushuaia, de 24 de julho de 1998, sobrecompromisso democrático no Mercosul - com a qual também concordaram Bolívia e Chile, países quedetêm a condição de associados ao bloco, e no compromisso de criar e estimular um processo deintegração regional sul-americana;

a base econômica configura-se na crescente diversidade e capacidade produtiva das quatroeconomias e no grande incremento das trocas comerciais entre seus Países Membros nos quatorzeanos de sua vigência.

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Cronologia da integração no Cone Sul

Em três anos e nove meses de existência, ou seja, de 26 de março de1991 a 31 de dezembro de 1994, o Mercosul saiu da projeção empapel - o Tratado de Assunção - para se transformar, na prática docotidiano das relações entre os Estados Partes, em um complexo edinâmico processo de integração regional.

Assim, do final do governo José Sarney (1985-1989), passando pelode Fernando Collor de Mello (1990-1992), atravessando os doisperíodos do governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e de Luis Inácio Lula da Silva(2003-2006), o Mercosul pode ser visualizado em seis fases distintas, cujas principais característicasdetalham-se a seguir.

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Primeira fase (do Tratado de Assunção ao Cronograma de Las Leñas - março de 1991 a julho de1992)

Na sua primeira fase de vigência, o Tratado de Assunção expôs uma demanda histórica das sociedadesque compõem o conjunto dos Estados Partes do Mercosul: a imperiosa necessidade de integraçãoregional dos países sul-americanos, ideia lançada pelos pais fundadores das Repúblicas no continentesul-americano.

Na galeria seguinte, você pode visualizar esses pioneiros, cuja biografia e importância no processo deintegração você poderá conhecer clicando sobre o respectivo nome.

GALERIA DOS PRECURSORES DA INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA (clique nos nomes para sabermais)

Simón Bolívar (Venezuela)

San Martin (Argentina)

José Marti (Cuba)

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José Gervasio Artigas (Uruguai)

Francisco Miranda (Venezuela)

Bernardo O'Higgins (Chile)

José Ignácio de Abreu e Lima (Brasil)

Hipólito José da Costa (Brasil)

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Assim, a partir de julho de 1992, o programa automático de liberalização comercial ou desgravaçãotarifária progressiva, isto é, as reduções de tarifas sobre produtos negociados entre as economias dospaíses do bloco, ocorria inapelavelmente sem que fosse necessário qualquer tipo de renegociação entreos Estados Partes, respeitando-se apenas as exceções listadas de produtos/mercadorias inscritos pelospaíses. Vale ressaltar que, mesmo com a vigência desse Programa de Liberalização Comercial, Anexo Ido Tratado de Assunção (março de 1991), pelo ACE nº18, de 29 de novembro de 1991, os paísesfundadores do Mercosul obedeceriam a um programa de desgravação progressivo, linear e automático,que se estenderia de 30 de junho de 1991 a 31 de dezembro de 1994, e que seria iniciado com umaredução mínima de 47%, sobre as tarifas já existentes, por mercadoria, até alcançar o limite máximode 100%, ou seja, tarifa zero.

Foram excluídos do cronograma de desgravação os produtos compreendidos nas chamadas Listas deExceções apresentadas individualmente pelos países signatários, segundo suas apreciações nacionaisde bens ou produtos que necessitam de um tratamento diferenciado. De acordo com a NALADI(Nomenclatura ALADI, lista de produtos que cobre todo o universo de bens que podem sercomercializados e torna possível a cobrança de direitos de importação), os países apresentaram osseguintes quantitativos em suas Listas de Exceções:

República Argentina, 394 itens;

República Federativa do Brasil, 324 itens;

República do Paraguai, 439 itens; e

República Oriental do Uruguai, 960 itens.

Os produtos que forem sendo retirados das Listas de Exceções se beneficiam automaticamente das

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Las Leñas (Argentina)

preferências que resultam do Programa de Desgravação com, pelo menos, o percentual de desgravaçãomínimo previsto para a data em que se operar sua retirada das mencionadas listas.

A partir da adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) a lista de exceções à área de livre comércio passoua chamar-se "lista de adequação".

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Segunda fase (do Cronograma de Las Leñas à Reunião de Colônia - julho de 1992 a janeiro de 1994)

Na segunda fase do processo de construção do Mercosul começarama surgir as primeiras dificuldades para o avanço da integraçãoeconômica, pois os setores produtivos que se sentiam ameaçadosno curto prazo puseram-se a pressionar seus governos por umadesaceleração das negociações e do programa de desgravaçãotarifária ou liberalização comercial, meta fundamental do projetode integração regional.

Assim, tanto o setor industrial brasileiro quanto o argentinoofereceram resistências ao processo de integração: os argentinospor se sentirem ameaçados pela concorrência da indústriabrasileira, porque vinham sofrendo um processo dedesindustrialização desde a gestão de Martínez de Hoz durante operíodo militar; os brasileiros, não por se sentirem ameaçados pelaconcorrência dos outros três parceiros, mas porque lhespreocupava o limite que seria negociado como nível máximo para a Tarifa Externa Comum, a TEC, queviria a substituir as tarifas nacionais cobradas sobre as importações provenientes de paísesnão-membros.

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Ressalte-se que o setor agrícola brasileiro apresentou resistência ao ver-se exposto à concorrência deprodutos agropecuários mais competitivos, sobretudo de produtos argentinos, porém o Mercosul foi umestímulo para a reconversão desse setor.

A tendência de cada país membro do Mercosul nas negociações para a fixação do nível máximo daTarifa Externa Comum era, naturalmente, a de defender uma TEC o mais próxima possível de suatarifa nacional, pois quanto menores as diferenças entre ambas, menores seriam os custos do ajustequando da entrada em vigor dessa tarifa comum.

As negociações para a fixação de uma Tarifa Externa Comum levaram à compreensão de que a TECdeveria ser pensada para atender a uma nova estrutura tarifária, ou seja, uma estrutura de proteçãodotada de coerência interna e adaptada às condições da economia dos quatro países consideradoscomo um todo.

Desse modo, substitui-se a lógica individual, defensora dos interesses tarifários de cada parceiro, emfavor de uma lógica coletiva da construção fundada no princípio da racionalidade econômica.

Enfim, quando os Países Membros fundadores do Mercosul entenderam ser possível criar uma TEC comracionalidade econômica, em fins de 1993, tornou-se possível defini-la para a maioria dos produtosque conformavam as matrizes econômicas de cada parceiro, ainda que os estudos para fixá-la só secompletassem no final de 1994.

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Nas negociações para criar uma TEC, o Governo brasileiro sempre sustentou que a adoção desse tipode tarifa era imprescindível e necessária à continuidade do projeto do Mercosul, pois seus

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Colônia de Sacramento (Uruguai)

representantes técnicos argumentavam que somente uma TEC garantiria:

a) a eqüidade de condições de concorrência no espaço geográfico do Mercosul;

b) a existência de uma margem de preferência regional;

c) o impulso político necessário para a preservação das conquistas alcançadas e para a continuação doprocesso de integração;

d) unidade dos Países Membros em suas relações comerciais com outros países e grupos de países.

Assim, apesar da grande complexidade do processo de criação da Tarifa Externa Comum, asnegociações nessa segunda fase do período de transição para a construção do Mercosul permitiram,entre julho de 1992 e janeiro de 1994, que se mantivesse o programa de liberalização comercial, quese superasse o problema de desequilíbrios da balança comercial e o das discrepânciasmacroeconômicas, e que se lançasse, por fim, as bases de uma TEC, obedecendo a uma lógica deintegração e superando a lógica de confrontação, preservando-se, desta forma, os objetivos centrais doTratado de Assunção.

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Terceira fase (da Reunião de Colônia à entrada em vigor da União Aduaneira - janeiro de 1994 ajaneiro de 1995)

Na terceira fase, os negociadores buscaram detalhar os temascentrais que deveriam ser solucionados até dezembro de2004, o que permitiria fazer funcionar o Mercosul já comoUnião Aduaneira e dentro dos prazos previstos.

Assim, resolvidas as questões de base pertinentes àeliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias e à adoçãode uma Tarifa Externa Comum, passou-se, nessa nova etapa,à concentração das discussões específicas sobre o níveltarifário dos bens de capital, sobre o número de exceçõespermitido na Tarifa Externa Comum, sobre a questão dasZonas Francas e seus impactos sobre o mercado ampliado, e,finalmente, sobre quais critérios balizariam o Regime deOrigem, além de se definir e aprovar a nova estruturainstitucional do Mercosul, que passaria a vigorar a partir de 1º de janeiro de 1995, conforme foraestabelecido pelo Protocolo de Ouro Preto, de 17 dezembro de 1994.

Em respeito ao consenso internacional sobre comércio, o Regime de Origem do Mercosul obedece àseguinte regra básica: é considerado originário da região, portanto com direito à tarifa zero, qualquerproduto que tenha pelo menos 60% de valor agregado regional.

Por último, mas não menos importante, deve-se ressaltar que o Regime de Origem só é necessárioquando o produto em questão está contido em alguma das listas de exceções à Tarifa Externa Comum.

Na Reunião de Colônia não se discutiram os demais temas que constituem o elenco de objetivos queconsolidarão o projeto do Mercosul, quais sejam, a coordenação das políticas macroeconômicas, o livrecomércio de serviços, e a livre circulação de pessoas e de capitais.

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Quarta fase (do Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul até a Reunião deOlivos - julho de 1998 a fevereiro de 2002)

Os governantes dos Países Membros do Mercosul assinaram aDeclaração Presidencial de Las Leñas, em julho de 1992, quedeclara o imperativo da plena vigência das instituições

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Ushuaia (Argentina)

Olivos (Argentina)

democráticas como condição indispensável para a existência eo desenvolvimento do Mercosul, tendo a Bolívia e o Chile,países associados ao bloco, aderido a esse fundamental compromisso democrático.

Assumido pelos integrantes do projeto Mercosul, esse compromisso contraria a secular tradição deruptura da ordem democrática nos países do Cone Sul, como revela a história política das sociedadesbrasileira, argentina, paraguaia e uruguaia e dos demais países no continente sul-americano.

Desse modo, o Protocolo de Ushuaia, de julho de 1998, exige que as sociedades mercosulinasrespeitem a vigência das instituições democráticas como condição imprescindível ao plenodesenvolvimento dos processos de integração regional, ao mesmo tempo em que sinaliza, para osparceiros associados e para aqueles em potencial, que o bloco dispõe-se a suspender os direitos eobrigações de todo aquele sócio que venha a desrespeitar o princípio democrático, essencial para oreconhecimento pela sociedade do Mercosul de um verdadeiro Estado de Direito.

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Portanto, qualquer ruptura da ordem democrática em um dos Estados Partes do Mercosul implicará naaplicação de procedimentos, sob a tutela dos demais parceiros, que levem à imediata recomposição eretomada do modelo democrático de governo (como já aconteceu, por exemplo, quando da crisepolítica paraguaia, no ano de 1999, em decorrência do assassinato do vice-presidente eleito daqueleEstado membro). Caso o país não proceda à retomada da democracia, sofrerá sanções diversas noâmbito regional, podendo, inclusive, chegar a perder sua condição de membro do bloco.

É importante destacar que, no exemplo citado, o presidente paraguaio, julgado politicamente pelasinstituições de seu país, obteve imediato asilo político no Brasil, o que demonstra que o compromissodemocrático, firmado pelo Protocolo de Ushuaia, respeita a democrática instituição do asilo político,consagrada pelo direito internacional, para qualquer cidadão envolvido com questões de divergênciaideológica ou de natureza política decorrentes de conflitos em seu país de origem.

Da mesma forma, a Cláusula do Compromisso Democrático ajudou no desfecho da crise argentinadecorrente da renúncia do presidente eleito em 1999, Fernando De La Rúa, cuja sucessão teve maistrês empossados, sendo o último Eduardo Duhalde, até a posse do Presidente Néstor Kirchner.

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Quinta fase (do Protocolo de Olivos, sobre o sistema de solução de controvérsias e segurança jurídicano Mercosul, até as propostas de refundação do Mercosul - de fevereiro de 2002 a 2003)

A evolução do processo de integração no cenário do Mercosulexige como ponto de partida para sua consolidação legal, acriação de um direito comunitário capaz de ser automaticamenterecepcionado pelos respectivos ordenamentos jurídicos dos seusEstados Partes.

O Protocolo de Olivos, de 18 de fevereiro de 2002, sucessor doProtocolo de Brasília para a Solução de Controvérsias, criou umaestrutura jurídica para decidir sobre controvérsias entre EstadosPartes, empresas ou indivíduos, no ambiente do Mercosul,composta por Tribunais Arbitrais Ad Hoc e um Tribunal ArbitralPermanente de Revisão, cuja sede definitiva foi inaugurada em13 de agosto de 2004 em Assunção, no Paraguai.

Assim, o Grupo Mercado Comum, agente integrante da estrutura institucional do Mercosul, conforme oProtocolo de Ouro Preto, que coordena grupos de trabalho encarregados de formular políticaseconômicas e setoriais, gera linhas de ação para que os segmentos econômicos interessados ponhamem movimento as relações comerciais e de negócios entre os Estados Partes.

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De outro lado, em paralelo ao trabalho do Grupo Mercado Comum, que emite Resoluções, existem asDecisões do Conselho do Mercado Comum e as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul,fontes jurídicas derivadas do Mercosul, que podem gerar controvérsias sobre sua interpretação,aplicação ou o não cumprimento do que estabelecem o Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Pretoou outras normas celebradas no marco do Tratado de Assunção, fontes jurídicas básicas do bloco.

Ao longo dos primeiros doze anos de existência do Mercosul, acumularam-se resoluções, decisões ediretrizes com potencial de controvérsias, criando-se, então, para além dos foros como a OrganizaçãoMundial do Comércio e outros, um foro específico para a solução de controvérsias entre os EstadosPartes, empresas e cidadãos no âmbito do Mercosul.

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Sexta fase ( do Programa de Trabalho do Mercosul 2004-2006, agenda que retoma e aprofunda oprocesso de integração regional, até a aprovação do acordo político sobre a Representação Cidadã, em2010)

Em dezembro de 2003, o Conselho do Mercado Comum, por meio da Decisão nº26, de 2003, aprovouum Programa de Trabalho do Mercosul para o triênio 2004-2006, que se fundamentou em umdiagnóstico geral do processo de integração e apontou a necessidade de resgatar o debate de inúmerasquestões para as quais ainda não se encontrou uma solução e que impedem a evolução do processo deintegração.

O programa destinou-se a instruir as várias instâncias operacionais do Mercosul a inserir em seusrespectivos programas de trabalho as linhas de ação destacadas como prioritárias.

A estrutura da Agenda do Mercosul para 2004-2006, trouxe três grandes capítulos: MercosulEconômico e Comercial, Mercosul Social e Mercosul Institucional.

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No Mercosul Econômico e Comercial, destacam-se entre outros temas, a necessidade de seeliminar a dupla cobrança da TEC e se resolver a questão da repartição da renda aduaneira, de seidentificar os aspectos conseituais básicos do Código Aduaneiro do Mercosul a serem definidos noâmbito do Grupo Mercado Comum, bem como de promoção dos fundos estruturais a fim de elevar acompetitividade dos membros e regiões menos desenvolvidas.

O Mercosul Social, por sua vez, ressaltou a importância em se ampliar aparticipação da sociedade civil no processo de integração. Também entreoutras questões, foi apontada a necessidade de elaboração de propostaspara se promover os direitos dos trabalhadores no Mercosul, bem como dese buscar a vigência dos Acordos sobre Residência de Nacionais do Mercosule Regularização Migratória para cidadãos do Mercosul.

No âmbito do Mercosul Institucional, constou como prioridade a aprovaçãoda proposta de criação do Parlamento do Mercosul, assim como a conclusãodos trabalhos de Regulamentação do Protocolo de Olivos e a dotação deinfraestrutura e recursos necesssários para o adequado exercício de suastarefas. Vislumbrou-se, ainda, a ampliação da agenda de integração, por exemplo, por meio deprograma de cooperação em ciência e tecnologia e, no marco da Iniciativa da Infraestrutura RegionalSul-Americana (IIRSA), priorizar os projetos de interesse dos Estados partes do bloco.

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Nesta sexta fase, vale destacar os seguintes avanços alcançados pelo bloco:

1) Aprovação do Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul, cuja sessão inaugural teve lugarnas dependências do Congresso Nacional brasileiro em dezembro de 2006 (Decisão n° 23/05, doCMC);

2) criação do Observatório da Democracia do Mercosul (Decisão n° 5/07, do CMC);

3) criação do sistema de pagamentos em moeda local para o comércio realizado entre os EstadosPartes do MERCOSUL (Decisão n° 25/07, do CMC);

4) aprovação das diretrizes para a implementação da eliminaçãoda dupla cobraça da TEC (decisão nº10/01, do CMC;

5) aprovação do Código Aduaneiro do Mercosul (decisão nº10/10, do CMC);

6) aprovação, pelo CMC, por meio da Decisão nº28/10, do critério de Representação Cidadã, com basena recomendação do Parlamento do Mercosul, tema que será retomado quando de nosso estudo sobreo Parlamento;

7) aprovação do programa de Consolidação da União Aduaneira (decisão nº56/10, do CMC), com oobjetivo de promover acões nos seguintes campos:

I – Coordenação Macroeconômica; II – Política Automotiva Comum; III – Incentivos; IV – DefesaComercial; V – Integração Produtiva; VI – Regimes Comuns Especiais de Importação; VII – RegimesNacionais de Admissão Temporária e “Draw-Back”; VIII – Regimes Nacionais Especiais de Importaçãonão contemplados nas Seções VI e VII; IX – Eliminação da Dupla Cobrança da Tarifa Externa Comum ea Distribuição da Renda Aduaneira;.X – Simplificação e Harmonização dos Procedimentos Aduaneiros Intrazona; XI – RevisãoIntegral da Consistência, Dispersão e Estrutura da Tarifa Externa Comum; XII – Bens de Capital eBens de Informática e Telecomunicações; XIII – Listas Nacionais de Exceção à Tarifa Externa Comum;XIV – Ações Pontuais no Âmbito Tarifário; XV – Regulamentos Técnicos, Procedimentos de Avaliaçãoda Conformidade e Medidas Sanitárias e Fitossanitárias; XVI – Livre comércio intrazona; XVII –Coordenação sobre Medidas de Transparência; XVIII – Coordenação em Matéria Sanitária eFitossanitária; XIX – Zonas Francas, Zonas de Processamento de Exportações e Áreas AduaneirasEspeciais; XX - Negociação de Acordos Comerciais com Terceiros Países e Regiões; XXI -Fortalecimento dos Mecanismos para a Superação das Assimetrias

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Apresentada essa cronologia, ressaltamos que o Mercosul consitui bloco regional que foi inicialmenteformado por quatro Países Membros, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, na região denominadaCone Sul do Continente Americano. Posteriormente, a ele se associaram Bolívia, Chile, Peru, Colômbiae Equador.

A Venezuela, por sua vez, é Membro Associado do Mercosul desde 2004 e, emdezembro de 2005, passou à condição de membro pleno, em processo de adesão, ouseja, com direito de participar de todas as reuniões do Mercosul, mas só ganhará aprerrogativa do voto quando preencher todos os requisitos para integrar o projetode União Aduaneira. Assim, a Venezuela terá de adaptar sua economia à TarifaExterna Comum (TEC) e seguir as regras do Mercosul. Acrescente-se que o protocolo de adesão daVenezuela ao Mercosul já foi aprovado pelos parlamentos da Argentina, Uruguai e, em dezembro de2009, pelo Congresso Nacional Brasileiro. Resta, porém, o aval do parlamento paraguaio para que oprotocolo venha a produzir efeitos.

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Unidade 2 - Análise dos marcos jurídicos constitutivos do Mercosul.

Autoavaliação da Unidade I do Módulo II

Vamos fazer a autoavaliação da Unidade I do Módulo II? Clique em "Avaliações" (lado esquerdo da página ) e "Autoavaliação da Unidade I do Módulo II" . Boa

sorte!

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Módulo II

Unidade 2 - Análise dos marcos jurídicos constitutivos do Mercosul

a) O Tratado de Assunção

A assinatura desse tratado inicia uma fase que se chama, no "jargãomercosulino", de fase de transição. É a etapa em que são estabelecidos osinstrumentos para a conformação de um espaço econômico integrado.

O Tratado de Assunção estabeleceu os instrumentos para a constituição deuma área de livre comércio e de uma união aduaneira, passos iniciais narota de um mercado comum. Os meios de implementação do projetointegracionista incluem alguns instrumentos:

Um programa de liberalização comercial, consistindo de reduçõestarifárias progressivas, lineares e automáticas com o objetivo dechegar-se à tarifa zero em 31/12/94, e eliminação das restrições não-tarifárias ou de quaisquermedidas de efeito equivalente. Foram previstas listas de exceções para os chamados produtossensíveis, as quais deveriam ser reduzidas anualmente em 20% até 31/12/94. As listas deexceções referem-se a produtos que os países determinam manter fora da área de livrecomércio, sobre eles permanecendo, portanto, certos direitos aduaneiros. Tal medida atendia àspressões de representantes, em cada país, daqueles setores produtivos mais sensíveis àconcorrência externa. Essas pressões vêm-se constituindo, aliás, no grande obstáculo àconformação de áreas de livre comércio na América Latina, visto que certos setores buscamsempre se proteger da concorrência externa.

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Vista de Assunção, capital paraguaia.

O Tratado de Assunção estipulou também a coordenação de políticas macroeconômicas esetoriais. Existem vários foros técnicos de negociação para a coordenação destas políticas, entreos quais cabe mencionar os subgrupos de trabalho para as políticas agrícola, industrial etrabalhista.

O tratado determinou, ainda, a adoção de uma tarifa externa comum para terceiros países(TEC).

Finalmente, o Tratado de Assunção impôs a adoção de acordos setoriais, com o fim de otimizar autilização e mobilidade dos fatores de produção e alcançar escalas operativas eficientes.

Infelizmente, este último instrumento, que poderia elevar a escalada produção e tornar os produtos da região mais competitivos nomercado internacional, não vem sendo utilizado pelos agenteseconômicos.

De acordo com as etapas de integração que vimos anteriormente. oMercosul se configura, no momento, como uma união aduaneiraimperfeita, ou parcial, visto que há vários produtos fora da tarifaexterna comum, os quais entram no espaço econômico integradopagando tarifas diferenciadas segundo o país. Ainda há mais de milítens nas listas nacionais de exceção à TEC (decisão nº58/10). Osetor de bens de capital, por exemplo, encontra-se excluído datarifa externa comum (TEC). Nesse ponto, é importante novamente registrar a aprovação do Programade Consolidação da União Aduaneira, por meio da decisão nº56/10, do CMC.

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b) O Protocolo de Ouro Preto

O Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994, inauguraria a chamada fase de consolidação doMercosul. Confere uma estrutura institucional mais aperfeiçoada à integração, lançando, assim, as bases para oestabelecimento de uma união aduaneira que será, neste primeiro momento, apenas parcial.

Em verdade, representa um novo patamar jurídico para o Mercosul aoconferir-lhe personalidade jurídica de Direito Internacional, o que lhepermitiu, daí em diante, celebrar acordos e tratados com outros Estados,agrupamentos de paises e organismos internacionais.

O protocolo estreita os contatos entre os chefes de estado do Mercosul aodeterminar que o conselho poderá reunir-se quantas vezes estimar oportuno,mas que pelo menos uma vez por semestre o fará com a participação dospresidentes da república dos estados partes do Mercosul. Além disso, incluiua Comissão Parlamentar Conjunta na estrutura orgânica do Mercosul. São definidas a sua composição,atribuições e competências. Assim, do ponto de vista do papel do Congresso Nacional no processo de integração, oProtocolo de Ouro Preto representa importante marco jurídico.

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O Protocolo de Ouro Preto criou, ainda, uma Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM), sediada emMontevidéu, como órgão de apoio operacional. Mais tarde foi criado, no âmbito da SAM, um Setor deAssistência Técnica (SAT), com quatro consultores admitidos por concurso público, um por país, sendodois para a área econômica e dois para a área jurídica.

A Decisão nº 22/94, do Conselho do Mercado Comum (CMC), criou em dezembro de 2004 a TarifaExterna Comum (TEC). Os negociadores decidiram, contudo, permitir que os Estados Partes adotassemlistas nacionais de exceções à TEC e listas setoriais. As listas nacionais obedecem definição de cada

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país, e cabe ao Mercosul regular a sua extensão.

As listas de exceções setoriais prevêem que os países não estão comprometidos a aplicar a TEC comrelação a certos grupos de produtos. De maneira geral, trata-se de bens não produzidos por alguns dosEstados Partes, a quem interessa importá-los de terceiros países, que são capazes de comercializá-losa preço mais baixo do que se fossem importados de Estados Membros do Mercosul. São eles os bens decapital e de informática e telecomunicações. Note-se que o Brasil produz esses bens, interessando-lhe,portanto, a proteção de suas indústrias por meio da TEC.

Desde o inicio da negociação da TEC, a política automotiva foi abordada separadamente pelos EstadosPartes. Até o ano 2000, estava previsto que o comércio do setor seria determinado por meio deacordos bilaterais. O primeiro acordo conjunto, estabelecido pela Decisão nº 70/00, ficou conhecidocomo Política Automotiva do Mercosul. A Decisão nº 04/01 incorporou o Paraguai ao Acordo. Contudo,essas normas nunca entraram em funcionamento, e a política automotiva no Mercosul permaneceregulamentada por acordos bilaterais.

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Cumpre, porém, registrar que o Brasil apresentou o Projeto de Adensamento e ComplementaçãoAutomotiva no âmbito do Mercosul, que foi aprovado pelo CMC por meio da decisão nº 09/10, a serfinanciado com recursos brasileiros e do FOCEM. O outro setor inicialmente excluído do regime deconvergência à tarifa externa comum é o setor açucareiro, também excluído da área de livre comércio.As Decisões do CMC nº 19/94 e 16/96 regulamentam sua situação.

O fluxo de produtos provenientes de terceiros países dentro da área de livre comércio do Mercosuldeveria dispensar o pagamento de direitos aduaneiros, o que efetivamente não vem acontecendo. Poresse motivo, o Conselho do Mercado Comum aprovou Decisão determinando que se busque aeliminação da dupla cobrança da TEC no espaço econômico integrado (Decisão Nº 54/04). E,finalmente, por meio da Decisão nº 10/10, foram aprovadas as diretrizes para que tal objetivo fossealcançado. Aeliminação deve ocorrer em três etapas, sendo janeiro de 2012, janeiro de 2014 e janeirode 2019, os prazos finais para a implementação das diretrizes previstas em cada etapa.

A seguir, resumiremos os objetivos do Mercosul, conforme determinados pelos tratados fundadores.

O Mercosul é um processo de integração econômica regional que objetiva a construção de um MercadoComum, e as suas metas básicas, que constam do artigo 1º do Tratado de Assunção, podem ser assimalinhadas:

- eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os Países Membros;

- adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC);

- coordenação de políticas macroeconômicas;

- livre comércio de serviços;

- livre circulação de mão-de-obra; e

- livre circulação de capitais.

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A partir do quarto ano de sua existência, ou seja, em 1994, o Mercosul alcançou a condição de UniãoAduaneira, pois criou uma Tarifa Externa Comum (TEC) após haver eliminado grande parte das tarifase das restrições não-tarifárias de cerca de 80% dos bens comercializados entre os Estados Partes.

Em resumo, no estágio de União Aduaneira, os Países Membros estabelecem tarifas zero para ocomércio intrazona e tarifas iguais para o intercâmbio comercial com terceiros países.

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Yin & Yang

Em geral, os acordos de livre comércio prevêem a perspectiva de exclusão de certos produtos ougrupos de produtos, ao menos em suas fases iniciais, e os estudos efetivados pelo GATT (GeneralAgreement on Tariffs and Trade), organização hoje transformada na OMC (Organização Mundial doComércio), consideravam que uma Zona de Livre Comércio devia abarcar pelo menos 80% dosprodutos comercializados entre os seus Países Membros.

Assim, o Mercosul cumpriu, até agora, os seus dois primeiros objetivos, ainda que de forma parcial:

- eliminar as barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio intrazona; e

- adotar uma Tarifa Externa Comum (TEC), o que caracteriza a condição de União Aduaneira.

No entanto, para alcançar o estágio de Mercado Comum, o Mercosul ainda terá que concretizar quatroobjetivos de grande envergadura, quais sejam: a coordenação de políticas macroeconômicas, aliberalização do comércio de serviços, e a livre circulação de mão-de-obra e a de capitais. Delastrataremos um pouco mais detalhadamente a seguir.

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Da necessidade de coordenação de políticas macroeconômicas

A teoria econômica ensina que a política macroeconômica de um país se divideem três esferas principais:

política cambial, que cuida da taxa de câmbio da moeda nacional emrelação ao dólar ou a outros padrões de referência externos;

política monetária, que fixa a taxa de juros e a quantidade de moeda a seremitida (e que regula, portanto, em grande medida, a política creditícia); e

política fiscal, que determina os níveis e alcances da tributação e exerce ocontrole dos recursos a serem arrecadados e gastos pelo Estado.

Assim, quanto mais se avança no processo de integração no Mercosul e tanto mais se consolida ainterdependência entre as economias dos Países Membros, mais necessária e fundamental se torna aconvergência de políticas macroeconômicas coordenadas entre os Estados Partes do bloco econômico.

Essa coordenação de políticas macroeconômicas é de fundamental importância no contexto do processode integração regional do Mercosul, pois decorre do seu sucesso o equilíbrio dos efeitos comerciaisentre as economias que conformam o espaço geográfico do bloco, bem como o direcionamento dosfluxos de investimento e as condições de concorrência entre os produtores locais versus potenciaisprodutores dos outros Países Membros.

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A vantagem de uma coordenação das políticas macroeconômicas dos Países Membros do Mercosul vemsendo protelada ao longo dos quatorze anos de existência do projeto mercosulino, em decorrência dasua dependência externa construída por compromissos assumidos perante organismos e agentesfinanceiros internacionais.

Por todo o século XX, os países que assumiram o compromisso de construir o Mercosul foram seenredando em processos de endividamento externo dos quais não conseguiram se desvencilhar,sempre atropelados por ciclos repetitivos de crises financeiras mundiais, o que, sem sombra de dúvida,vem se constituindo em formidável obstáculo para que se projete uma coordenação conjunta de suaspolíticas macroeconômicas e a obtenção de uma margem maior de autonomia para planejar e executarpolíticas soberanas de desenvolvimento regional e de mercados internos ampliados.

Enfim, ainda que se caracterize como um lento processo, a coordenação das políticas macroeconômicasdos Países Membros do Mercosul constitui pilar básico do processo de integração regionalsul-americano, pois sem ela não será possível a criação de uma moeda comum regional, como o Euro

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da União Europeia.

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Da liberalização do comércio de serviços

Liberar o comércio de serviços no cenário do Mercosul implica, necessariamente, a eliminação de leis,normas e regulamentações nacionais que discriminam o fornecedor estrangeiro e protegem ofornecedor nacional de determinado serviço, bem como a elaboração de uma política integrada.

O medo da perda da autonomia nacional faz com que existam legislações, pelo mundo todo, quesimplesmente proíbem a presença de fornecedores estrangeiros de serviços no território nacional,sendo, portanto, a resistência à liberalização do comércio de serviços um obstáculo a ser resolvido pelaagenda do Mercosul, para que se possa construir um verdadeiro Mercado Comum.

Hoje, para além da Organização Mundial do Comércio (OMC), o tema da liberalização do comércio deserviços, no plano internacional, é tão importante que a legislação comercial norte-americana, pormeio da pouco divulgada Seção 301, instrumento de legislação comercial daquele país, autoriza oPresidente dos EUA, em decisão unilateral, quanto a serviços, a "restringi-los na forma que julgarapropriada ou, mesmo, negar autorização para seu acesso ao mercado norte-americano". A Seção 301foi criada em 1974 pelos EUA, país que prega o livre comércio há duzentos anos.

Convém destacar que os serviços correspondem a mais da metade do PIB dos países do Mercosul, eque, acreditando nos princípios do livre comércio, o Brasil abriu seu comércio de serviços detelecomunicações para empresas de capital estrangeiro, as quais, hoje, competem nesse campo comempresas nacionais.

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Da livre circulação de trabalhadores

No mundo globalizado, acredita-se que os trabalhadores possam circular livremente na busca deocupação que lhes permita lutar pela sobrevivência cotidiana.

Assim, espera-se que o trabalhador mercosulino possa deslocar-se de seu país para aproveitar osfrutos da integração na sua totalidade, ou seja, se não encontra emprego na economia do seu país deorigem, ou se as oportunidades de trabalho não resultam atraentes (não só por motivos deremuneração, mas também por razões de condições de vida), que seja livre para buscá-lo naseconomias dos demais Estados Partes do Mercosul.

Os negociadores do Mercosul terão que continuar, portanto, o esforço para dar continuidade aotrabalho de harmonização das legislações trabalhista e previdenciária dos Estados Membros, além doreconhecimento mútuo de diplomas e títulos profissionais, o que garantirá o exercício pleno daprofissão nos territórios nacionais do bloco. Para isso contam, na estrutura institucional do bloco, coma existência do Foro Consultivo Econômico e Social, que opera no sentido de pressionar pelo crescentedesenvolvimento de ações facilitadoras da circulação de mão-de-obra no espaço geográfico queconforma a região de integração.

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Da livre circulação de capitais

A globalização representa o auge da livre circulação de capitais, que, a sua vez, tem gerado muitomais especulação financeira que produção de bens e serviços e distribuição de benefícios; ou seja,muito mais crises financeiras causadoras de estagnação econômica com impacto mundial do que odesenvolvimento progressivo e organizado das economias nacionais dos países com potencial para ocrescimento, países que têm urgência em melhorar a qualidade de vida da maioria dos cidadãos

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excluídos pela pobreza e miséria, além do respeito pelos bens não renováveis à sua disposição no meioambiente.

Os investimentos dos países do Mercosul já contam com certas facilidades e garantias para suasaplicações no mercado dos parceiros, mas os Países Membros do bloco precisam estruturar umaliberalização bastante qualificada, no sentido de exercer um maior controle dos movimentos decapitais especulativos, paralelamente a uma estrutura facilitadora dos fluxos de capitais destinados àprodução de bens e serviços, em especial de infra-estrutura, que permitirá sua inclusão sustentada nocontexto da competição globalizada entre nações, ao lado da imperiosa necessidade de melhoria daqualidade de vida dos cidadãos mercosulinos.

Autoavaliação da Unidade II do Módulo II

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Unidade 3 - Estrutura institucional do Mercosul; Solução de Controvérsias

Módulo II

Unidade 3 - Estrutura institucional do Mercosul

O Tratado de Assunção definiu as instituições que deveriam conduzir o processo de integração doMercosul durante o período inicial de transição, e o Protocolo de Ouro Preto (1994) estabeleceu asinstituições básicas definitivas para prosseguir-se na implantação do bloco, além de dotá-lo depersonalidade jurídica internacional.

Assim, a estrutura institucional do Mercosul está constituída pelos seguintes órgãos:

a) Conselho do Mercado Comum

O Conselho do Mercado Comum (CMC) é o órgão superior responsável pela condução política doprocesso de integração e composto pelos Ministros das Relações Exteriores e de Economia ou Fazendados Países Membros. O CMC se reúne duas vezes por ano e se manifesta por meio de Decisões. É oórgão responsável pela condução política do processo de integração, inclusive habilitado para firmaracordos com outros países ou grupo de países em nome do Mercosul, assumindo a condição depersonalidade jurídica internacional, portanto, de representante do bloco, ainda que na obrigação desempre decidir por consenso.

O Conselho do Mercado Comum encarrega-se de traçar as grandes linhas do processo de integraçãopara garantir o impulso político que sustenta o seu fortalecimento e aprofundamento.

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Os Presidentes dos Estados Partes não integram o Conselho do Mercado Comum, mas estão presentesem pelo menos uma das duas reuniões anuais desse órgão. As cúpulas do Mercosul constituem,evidentemente, a instância máxima do processo político de integração mercosulina.

Ao Conselho do Mercado Comum estão subordinados:

a) Grupo Mercado Comum (GMC): órgão executivo, integrado por representantes dos Ministérios dasRelações Exteriores, de Economia e dos Bancos Centrais dos quatro países. O GMC reúne-se,normalmente, quatro vezes por ano e se manifesta por meio de Resoluções;

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b) Foro de Consulta e Concertação Política (FCCP): órgão auxiliar do CMC, com o objetivo de ampliar esistematizar a cooperação política entre os Estados Partes; e

c) Reuniões de Ministros de todos os setores governamentais dos Países Membros.

b) Grupo Mercado Comum

Órgão executivo do Mercosul, composto por representantes dos Ministérios mais diretamenteenvolvidos nos temas da integração e dos Bancos Centrais, em cujo âmbito se discutem os principaistemas do processo de integração.

Ao Grupo Mercado Comum compete implementar os objetivos do Mercosul e supervisionar o seufuncionamento, inclusive examinando as questões, mesmo aquelas de grande complexidade, que lhesão encaminhadas em maior nível de detalhe que o Conselho do Mercado Comum.

Ao Grupo Mercado Comum estão subordinados:

a) Secretaria do Mercosul (SM): órgão, com sede em Montevidéu, que presta apoio técnico eadministrativo aos trabalhos do Mercosul e é responsável pela tradução e guarda de documentosoficiais do bloco;

b) Foro Consultivo Econômico e Social (FCES): órgão de caráter consultivo, representante dos setoreseconômicos e sociais dos quatro Estados Partes;

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c) Reuniões Especializadas: Autoridades de Aplicação em Matéria de Drogas (RED); Ciência eTecnologia (RECYT); Comunicação Social (RECS); Cooperativas (REC); Infra-Estrutura da Integração(REII); Municípios e Intendências do Mercosul (REM I); Mulher (REM); Promoção Comercial (REPC); eTurismo (RET);

d) Comitês: Automotivo (CAM); Cooperação Técnica (CCT); Diretores de Aduanas (CDA); e SanidadeAnimal e Vegetal (CSAV);

e) Reunião Técnica sobre Incorporação da Normativa Mercosul;

f) Comissão de Comércio (CCM): órgão assessor do GMC, com a tarefa de velar pela aplicação dosinstrumentos de política comercial acordados pelos Estados Partes. Reúne-se mensalmente emanifesta-se por Diretrizes. À CCM estão subordinados os Comitês Técnicos: (CT-1) Tarifas,Nomenclatura e Classificação de Mercadorias; (CT-2) Assuntos Aduaneiros; (CT-3) Normas eDisciplinas Comerciais; (CT-4) Políticas Públicas que Distorcem a Competitividade; (CT-5) Defesa daConcorrência; (CT-6) Comitê de Defesa Comercial e Salvaguardas; e (CT-7) Defesa do Consumidor;

g) Subgrupos de Trabalho: (SGT-1) Comunicações; (SGT-2) Aspectos Institucionais; (SGT-3)Regulamentos Técnicos e Avaliação da Conformidade; (SGT-4) Assuntos Financeiros; (SGT-5)Transportes; (SGT-6) Meio Ambiente; (SGT-7) Indústria; (SGT-8) Agricultura; (SGT-9) Energia emineração; (SGT-10) Assuntos Trabalhistas, Emprego e Seguridade Social; (SGT-11) Saúde; (SGT-12)Investimentos; (SGT-13) Comércio Eletrônico; e (SGT-14) Acompanhamento da ConjunturaEconômica e Comercial;

h) Grupo de Serviços (GS);

i) Grupos Ad-Hoc: Comércio de Cigarros (GAHCC); Compras Governamentais (GAHCG); Concessões(GAHCON); Integração Fronteiriça (GAHIF); Relacionamento Externo (GAHRE); Setor Açucareiro(GAHSA); Grupo de Alto Nível para o Aperfeiçoamento do Sistema de Solução de Controvérsias(GANPSSC); e Grupo de Alto Nível para Examinar a Consistência e Dispersão da TEC (GANTEC);

j) Comissão Sócio-Laboral (CSLM);

k) Área Financeira pelo lado brasileiro: O Banco Central do Brasil é membro do Grupo MercadoComum (GMC) e da Reunião de Ministros de Economia e Presidentes de Bancos Centrais do Mercosul(RMEPBC), coordena o Subgrupo de Trabalho nº 4 - Assuntos Financeiros (SGT-4), participa e

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acompanha o Grupo de Serviços (GS), o Subgrupo de Trabalho nº 12 - Investimentos (SGT-12), oSubgrupo de Trabalho nº 13 - Comércio Eletrônico (SGT-13), o Subgrupo de Trabalho nº 14 -Acompanhamento da Conjuntura Econômica e Comercial (SGT-14) e o Grupo de MonitoramentoMacroeconômico (GMM).

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c) Secretaria do Mercosul

A Secretaria do Mercosul, com sede em Montevidéu, no Uruguai, é a unidade de apoio operacional e administrativoresponsável pela prestação de serviços aos demais órgãos do Mercosul.

Entre outras funções cabe à Secretaria do Mercosul cuidar do arquivo oficial da documentação do Mercosul, publicare difundir as decisões, resoluções e diretrizes adotadas no âmbito do bloco, além de organizar, auxiliada pelasSecretarias das Representações Nacionais, o apoio logístico necessário para a realização das reuniões doConselho Mercado Comum, do Grupo Mercado Comum e da Comissão de Comércio do Mercosul.

A Secretaria é administrada por um diretor, com mandato rotativo de dois anos, e cuja escolha é procedidapelo Conselho do Mercado Comum em conjunto com o Grupo Mercado Comum, após consulta aos Países Membrosdo bloco.

d) Comissão de Comércio do Mercosul

A Comissão de Comércio é o principal órgão técnico encarregado de administrar os instrumentos depolítica comercial comum, verificando sua correta aplicação, propondo ajustes e examinando pleitosnacionais relacionados a casos comerciais específicos.

A Comissão de Comércio do Mercosul é assessorada por dez Comitês Técnicos, dedicados a áreastemáticas determinadas, tais como assuntos aduaneiros, defesa do consumidor, defesa daconcorrência, setor automobilístico e setor têxtil.

e) Parlamento do Mercosul

Em 2004 foi aprovada pelo Conselho do Mercado Comum, Decisão nº 49/04, que investiu a CPC dacondição de Comissão Preparatória de um Parlamento do Mercosul.Este, instalado em dezembro de2006, tem como modelo de partida a estrutura da Comissão Parlamenta Conjunta do Mercosul, jáexperimentada nas lides do processo legislativo nos Congressos Nacionais dos quatro paísesfundadores.

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f) Foro Consultivo Econômico-Social

Congregando representantes dos setores empresariais, sindicatos e entidades sociais da sociedade civilpara discussão de temas vinculados ao Mercosul e formulação de propostas específicas de cada umdesses segmentos, o Foro Consultivo Econômico-Social tem, como o nome expressa, função consultivae manifesta-se mediante Recomendações ao Grupo Mercado Comum.

De maneira geral, o Foro Consultivo Econômico-Social questiona o hermetismo que caracteriza osistema de decisões no bloco, e reivindica o direito de se pronunciar como órgão decisório do Mercosul,em especial em questões sociais.

g) Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul

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De início, o Tratado de Assunção previu a criação de um sistema de solução de controvérsias, que seconsubstanciou no Protocolo de Brasília para a Solução de Controvérsias no Mercosul, firmado emdezembro de 1991.

A necessidade de aperfeiçoamento do sistema de solução de controvérsias, decorrente da evolução doprocesso de integração, levou à assinatura do Protocolo de Olivos, em 18 de fevereiro de 2002. Esteinstrumento cria foros próprios para cuidarem das controvérsias surgidas entre os Estados Partes sobrea interpretação, a aplicação ou o não cumprimento do Tratado de Assunção, do Protocolo de OuroPreto, dos protocolos e acordos celebrados no marco do Tratado de Assunção, das Decisões doConselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum e das Diretrizes da Comissãode Comércio do Mercosul.

Assim, foram incorporados à estrutura institucional do Mercosul o Tribunal Arbitral Ad Hoc e o TribunalPermanente de Revisão do Mercosul.

O Tribunal Arbitral Ad Hoc, desde que acionado pelas Partes interessadas em um litígio, pode reunir-seem qualquer dos Países Membros do Mercosul, enquanto o Tribunal Permanente de Revisão, instaladoem 13 de agosto de 2004, tem sua sede em Assunção, no Paraguai.

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O Tribunal Permanente de Revisão pode servir como última instância, tendo competência para revisaro que é decidido em primeira instância, por meio de arbitragem, em especial de controvérsiascomerciais entre os Estados Partes, suas empresas ou cidadãos.

Contudo, o Tribunal Permanente de Revisão, foro especializado para dirimir questões litigiosas doMercosul, não impede que as partes em conflito, se o desejarem, encaminhem suas questões paraoutros foros, como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Tribunal Permanente emite um laudo definitivo sobre as controvérsias que lhe são encaminhadas,que pode confirmar, modificar ou revogar a fundamentação jurídica e as decisões dos TribunaisArbitrais Ad Hoc.

h) Tribunal Administrativo-Trabalhista do Mercosul

Em quatorze anos de existência, a estrutura organizacional do Mercosul passou a enfrentarreclamações de natureza administrativa trabalhista, oriundas das relações de sua SecretariaAdministrativa com os funcionários à sua disposição, inclusive terceirizados.

O Direito Internacional permite que o Grupo Mercado Comum crie e regule uma instânciaadministrativa para atender às reclamações de natureza administrativo-trabalhista de funcionários daSecretaria Mercosul, com fundamento nas normas internacionais para Acordos de Sede (Decisão CMCnº 04/96).

Assim, foi criado o Tribunal Administrativo-Trabalhista (TAL), com a finalidade de resolver tais tipos deconflitos, sempre com base nas normas Mercosul aplicáveis ao pessoal da Secretaria do Mercosul e nasInstruções de Serviço ditadas pelo Diretor dessa Secretaria, além de amparado por um Acordo de Sedeque garante ao Grupo Mercado Comum o direito de contratar pessoal.

O Tribunal Administrativo-Trabalhista rege-se por Estatuto próprio, conforme as Decisões nºs. 4/96 e30/02 do Conselho do Mercado Comum, e as Resoluções nºs 42/97 e 01/03 do Grupo MercadoComum.

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i) Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do

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Mercosul

A complexidade do processo de integração regional mercosulino, em sua vertente política, fez surgir oForo Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos - unidades territoriaisespecíficas de cada Estado Parte do Mercosul -, cuja finalidade é abrigar e estimular o diálogo e acooperação entre as autoridades de nível municipal, estadual, provincial e departamental dos EstadosMembros do bloco.

O Foro Consultivo pode propor medidas destinadas à coordenação de políticas para promover obem-estar e melhorar a qualidade de vida dos habitantes dos Municípios, Estados Federados,Províncias e Departamentos da região do Cone Sul, bem como formular recomendações por intermédiodo Grupo Mercado Comum.

O Foro Consultivo é formado, conforme a Decisão nº 41/04, por um Comitê dos Municípios e umComitê dos Estados Federados, Províncias e Departamentos, as unidades territoriais nos diferentesEstados Partes do Mercosul. Previu-se seu Regimento Interno, que foi aprovado pela resoluçãonº26/07, do Grupo Mercado Comum.

O Mercosul possui uma estrutura orgânica intergovernamental (não há órgãos supranacionais),havendo, contudo, uma Presidência Pro Tempore, exercida por sistema de rodízio semestral. As

decisões do Mercosul são sempre tomadas por consenso.

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Reuniões Periódicas

Eis a listagem das reuniões periódicas previstas no âmbito do bloco:

Reuniões de Cúpula dos Presidentes dos Estados Partes doMercosul e associados (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru),realizadas a cada seis meses no país que tem a Presidência ProTempore do Mercosul, cujo rodízio obedece a uma cronologiaalfabética, ou seja, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e aVenezuela.

Reuniões Ordinárias do Conselho do Mercado Comum, emparalelo às Reuniões de Presidentes dos Estados Membros.

Reuniões de Ministros de Economia e Presidentes dos Bancos Centrais do Mercosul e associados,semestralmente ou quando convocadas em caráter extraordinário.

Reuniões Ordinárias e Extraordinárias do Grupo Mercado Comum, semestrais e sempre queconvocadas.

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Solução de controvérsias

Interessante destacar que o Protocolo de Ouro Preto não enumera, dentre os seus órgãos, umespecífico para dirimir as controvérsias. O art. 44 daquela norma apenas refere a criação de sistemapermanente de solução de controvérsias quando se consolide a união aduaneira.

Assim é que foi criado o sistema provisório, instituído no Protocolo de Brasília, de17 de dezembro de 1991. O iter-arbitral, precedido pela negociação direta e pelaconciliação, foi a forma escolhida para compor os diferendos no Mercosul, conformeo Anexo III, inciso 3, do Tratado de Assunção. Para tanto, foi designado um grupode trabalho com vistas a elaborar o Sistema de Solução de Controvérsias entre ospaíses contratantes. O Protocolo de Brasília para Soluções de Controvérsias (PB),

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publicado no Diário Oficial da União em 8 de janeiro de 1992, passou a viger em22 de abril de 1993.

Sem inovar, utilizando a forma tradicional do direito internacional público, esse protocolo estabelecetrês fases para a solução de controvérsias. A primeira delas é a negociação direta, sendo a conciliaçãoa subsequente, e, no caso de insucesso das etapas anteriores, propõe-se a arbitragem. O Protocolo deBrasília prevê a possibilidade de reclamações advindas de particulares, pessoas físicas ou jurídicas,estabelecendo, no entanto, freios políticos para a sua utilização.

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O capítulo I determina o espectro de aplicação do PB, destinando-se a atuar nas controvérsias entre osEstados Partes que versem sobre a interpretação, a aplicação ou o descumprimento das disposiçõesprevistas nos tratados institutivos e demais acordos supervenientes, bem como nas normasprovenientes de seus órgãos, por decisões, resoluções e diretrizes emanadas pelo Conselho doMercado Comum (CMC), pelo Grupo Mercado Comum (GMC) e pela Comissão de Comércio do Mercosul(CCM).

As controvérsias entre os Estados Partes serão, inicialmente, resolvidas mediante negociações diretas,sem forma ou rito definido, sendo seus resultados comunicados ao GMC por intermédio da SecretariaAdministrativa do Mercosul (SAM), não podendo exceder o prazo de quinze dias a contar da data emque a controvérsia tiver sido levantada por um dos Estados Partes, nos termos dos arts. 2º e 3º doProtocolo de Brasília.

Não há dúvida de que a fórmula mais adequada para que se alcance uma interpretação uniforme dasnormas que compõem um sistema tão complexo, como um mercado comum, é a de outorgar a umórgão arbitral permanente ou a um órgão judicial essa função.

Porém, sabe-se pela experiência de outros blocos regionais da enorme dificuldade em se atingir talsofisticação, seja pela parcela de soberania que os estados terão que delegar a tais órgãos, seja peloseu caráter dispendioso, o que não se coaduna com blocos regionais criados entre Estados emdesenvolvimento, como é o caso do Mercosul.

O Protocolo de Olivos (PO), de 18 de fevereiro de 2002, em vigor desde 2004, substituiu o Protocolode Brasilia (PB), trazendo algumas inovações.

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A etapa conciliatória, obrigatória no PB, passa a ser facultativa no PO; esgotados os caminhos danegociação e conciliação, os Estados Partes poderão recorrer ao procedimento arbitral. O Protocolo deOlivos inova ao permitir às partes a escolha por outro foro de solução de conflitos. Em seu art. 1º-2:"As controvérsias compreendidas no âmbito de aplicação do presente Protocolo que possam também sersubmetidas ao sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio ou de outrosesquemas preferenciais de comércio de que sejam parte individualmente os Estados Partes do Mercosul,poderão submeter-se a um ou outro foro, à escolha da parte demandante. Sem prejuízo disso, aspartes na controvérsia poderão, de comum acordo, definir o foro. Uma vez iniciado um procedimento desolução de controvérsias de acordo com o parágrafo anterior, nenhuma das partes poderá recorrer amecanismos de solução de controvérsias estabelecidos nos outros foros com relação a um mesmoobjeto, definido nos termos do art. 14 deste Protocolo".

A composição do Tribunal Arbitral ad hoc se dará por três árbitros: dois indicados pelos Estados Partes,provenientes de uma lista previamente depositada na Secretaria Administrativa do Mercosul, e umterceiro, neutro, escolhido por ambas as partes, que o presidirá, sendo vedado a este último provir dosEstados envolvidos na controvérsia.

A decisão do Tribunal Arbitral dar-se-á por laudos que, de acordo com o art. 21 do PB, são inapeláveise obrigatórios para os Estados Partes a partir do recebimento da respectiva notificação; terão força decoisa julgada, devendo ser cumpridos no prazo de quinze dias, a menos que o Tribunal Arbitral tenha

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fixado outro prazo. Entretanto, a decisão da primeira instância arbitral deixa de ser inapelável, hajavista a criação de um Tribunal Permanente de Revisão, no PO.

A criação desta Corte revisora pretende, de forma paliativa, trazer maior segurança jurídica àconstrução de uma união aduaneira, prevendo, para o futuro, uma revisão do atual sistema com vistasà adoção do Sistema Permanente de Solução de Controvérsias, segundo o disposto no art. 53: "Antesde finalizar o processo de convergência da tarifa externa comum, os Estados Partes efetuarão umarevisão do atual sistema de solução de controvérsias, a fim de adotar o Sistema Permanente de Soluçãode Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere o número 3 do Anexo III do Tratado deAssunção".

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A Corte Revisora será composta por cinco árbitros. Cada um dos sócios indicará um árbitro e um suplente peloperíodo de dois anos renováveis. Já o quinto árbitro será designado de comum acordo pelos Estados Partes peloperíodo de três anos não renováveis, devendo ser nacional de um dos Estados (art. 18).

Os árbitros indicados pelos Estados, tanto os titulares quanto os suplentes, deverão estarpermanentemente disponíveis para atuar nos julgamentos, quando convocados (art. 19),concluindo-se não se tratar de um órgão permanente stricto sensu, mas instaurado à medida que oscasos vão sendo interpostos para julgamento.

Conforme antiga reivindicação paraguaia, a sede do Tribunal Permanente de Revisão é em Assunção,podendo, caso seja necessário, ser transferida para outro local. Já os tribunais arbitrais ad hoc poderãoreunir-se em quaisquer das cidades dos Estados sócios.

Sintetizando

Neste Módulo, vimos que a integração do Cone Sul teve início em torno do núcleoBrasil-Argentina, que evoluiria para o Tratado de Assunção, em 1991, já contemplando aparticipação do Paraguai e do Uruguai. O Protocolo de Ouro Preto (1994) estabeleceria aestrutura institucional adequada à união aduaneira. Estudamos, finalmente, o Protocolo deBrasília (1991) e o Protocolo de Olivos (2002), instrumentos pelos quais foi criado umsistema para a solução das controvérsias que viessem a ocorrer ao longo do processo deintegração.

Autoavaliação da Unidade III do Módulo II

Vamos fazer a autoavaliação da Unidade III do Módulo II? Clique em "Avaliações"( lado esquerdo da página ) e "Autoavaliação da Unidade III do Módulo II" . Teste

seu conhecimento!

Módulo III - A Dimensão Parlamentar do Mercosul

Módulo III - A Dimensão Parlamentar do Mercosul

Temas do Módulo

Neste módulo, estudaremos a Dimensão Parlamentar doMercosul, que se expressava, inicialmente na Comissão

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Parlamentar Conjunta (CPC). Criada pelo Tratado deAssunção em 1991, o braço parlamentar da integração foiincluído na estrutura institucional do bloco pelo Protocolode Ouro Preto em dezembro de 1994, passando a integraro processo de internalização de normas nos ordenamentosjurídicos dos Países Membros e balizando o caminho paraa criação do Parlamento do Mercosul.

Assim, veremos também o processo de produção da normativa Mercosul, emanada dosórgãos que compõem a estrutura institucional do bloco, e, de fundamental importânciapara a consolidação do processo de integração regional, sua implementação, que se faz emfunção da legislação interna dos Estados Partes, para que, recepcionada pelos respectivosordenamentos jurídicos, entre em vigência e garanta a segurança jurídica exigida pelosnegócios empreendidos por cidadãos, empresas e representações governamentais noterritório mercosulino.

Por fim, estudaremos as razões que levaram à criação do Parlamento do Mercosul, bemcomo do mecanismo da consulta parlamentar, destinado a agilizar o processo deinternalização das normas produzidas pelos órgãos institucionais do Mercosul.

Objetivos de Aprendizagem

Ao término do módulo você estará apto a:

Descrever a dimensão parlamentar do Mercosul;Discutir as razões da criação do Parlamento Mercosul;Refletir sobre a necessidade de ajustes nas Constituições dos Estados Partes do Mercosul.

Unidade 1 - A norma Mercosul; Procedimentos de produção da norma Mercosul.

Módulo III

Unidade 1 - A Norma Mercosul

a) Procedimento de produção da norma Mercosul

A harmonização das legislações "nas áreas pertinentes" é um dos importantes instrumentos previstospelo Tratado de Assunção para a integração (art. 1º). O Protocolo de Ouro Preto confere caráterobrigatório às Decisões do Conselho, às Resoluções do Grupo Mercado Comum e às Diretrizes daComissão de Comércio, mas estabelece também que a sua implementação se fará de acordo com alegislação interna dos Estados Partes.

As limitações evidenciadas pelas Constituições dos Estados Partes no que se refere à integração,exigem uma série de ajustes coordenados para evitar que elas operem como um freio ao processointegracionista.

Tudo indica que compromissos mais fortes no processo de integração exigirão que a dimensãoMercosul seja tratada de maneira equivalente nos ordenamentos jurídicos internos dos sócios do bloco.

As limitações constitucionais operam impedindo a instauração de um regime adequado, balizador docaminho para surgir e desenvolver-se um direito comunitário. Também se tornam obstáculos para acriação de mecanismo ágil e transparente que permita incorporar as normas Mercosul e torná-las

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operativas, além de impedir um sistema que garanta a hierarquia superior destas normas sobre asnacionais.

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Nesse sentido, a Constituição da Argentina, por exemplo, é a mais avançada dentre aquelas dosEstados Partes, pois outorga aos tratados internacionais uma hierarquia superior às leis nacionais eautoriza a celebração de tratados de integração que deleguem competências a organizações supra-estatais. (arts. 75 incisos 22 e 24)[N6].

Artigo 75: Corresponde al Congreso (...)

Inciso 22: Aprobar o desechar tratados concluidos con las demás naciones y con lasorganizaciones internacionales y los concordatos con la Santa Sede. Los tratados yconcordatos tienen jerarquía superior a las leyes.

Inciso 24: Aprobar tratados de integración que deleguen competencias y jurisdición aorganizaciones supraestatales em condiciones de reciprocidad e igualdad, y que respetenal ordem democrático y los derechos humanos. Las normas dictadas em su consecuenciatienen jeraquía superior a las leyes.

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No caso do Paraguai, sua Carta Magna, de 1992, também outorga supremacia aos tratadosinternacionais e estabelece genericamente a admissão de uma ordem jurídica supranacional:(arts.

137,141 e 145)[N7]

Artigo 137. De la Supremacia de la Constitución

La ley suprema de la República es la Constitución. Ésta, los tratados, convenios y acuerdosinternacionales aprobados y ratificados, las leyes dictadas por el Congreso y otrasdisposiciones jurídicas de inferior jerarquía, sancionadas en consecuencia, integran elderecho positivo nacional en el orden de prelación enunciado.

Artígo 141. De los tratados Internacionales

Los tratados intenacionales validamente celebrados, aprobados por ley del Congreso, ycuyos instrumentos de ratificación fueran canjeados o depositados, forman parte delordenamiento legal interno com la jerarquía que determina el Artículo 137.

Artigo 145. Del Orden Jurídico Supranacional

La República del Paraguay, en condiciones de igualdad con otros Estados, admite un ordenjurídico supranacional que garantice la vigencia de los derechos humanos, de la paz, de lajusticia, de la cooperación y del desarrollo, en lo político, económico, social y cultural.

Dichas decisiones sólo podrán adoptarse por mayoría absoluta de cada Cámara delCongreso.

A Constituição da Venezuela determina que a preferência de acordos regionais sobre a legislaçãointerna (arts. 153 a 155)[N8].

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Sección Quinta: De las Relaciones Internacionales

Artículo 153. La República promoverá y favorecerá la integración latinoamericana ycaribeña, en aras de avanzar hacia la creación de una comunidad de naciones, defendiendolos intereses económicos, sociales, culturales, políticos y ambientales de la región. LaRepública podrá suscribir tratados internacionales que conjuguen y coordinen esfuerzospara promover el desarrollo común de nuestras naciones, y que garanticen el bienestar delos pueblos y la seguridad colectiva de sus habitantes. Para estos fines, la República podráatribuir a organizaciones supranacionales, mediante tratados, el ejercicio de lascompetencias necesarias para llevar a cabo estos procesos de integración. Dentro de laspolíticas de integración y unión con Latinoamérica y el Caribe, la República privilegiarárelaciones con Iberoamérica, procurando sea una política común de toda nuestra AméricaLatina. Las normas que se adopten en el marco de los acuerdos de integración seránconsideradas parte integrante del ordenamiento legal vigente y de aplicación directa ypreferente a la legislación interna.

Artículo 154. Los tratados celebrados por la República deben ser aprobados por laAsamblea Nacional antes de su ratificación por el Presidente o Presidenta de la República,a excepción de aquellos mediante los cuales se trate de ejecutar o perfeccionarobligaciones preexistentes de la República, aplicar principios expresamente reconocidospor ella, ejecutar actos ordinarios en las relaciones internacionales o ejercer facultadesque la ley atribuya expresamente al Ejecutivo Nacional.

Artículo 155. En los tratados, convenios y acuerdos internacionales que la Repúblicacelebre, se insertará una cláusula por la cual las partes se obliguen a resolver por las víaspacíficas reconocidas en el derecho internacional o previamente convenidas por ellas, sital fuere el caso, las controversias que pudieren suscitarse entre las mismas con motivo desu interpretación o ejecución si no fuere improcedente y así lo permita el procedimientoque deba seguirse para su celebración.

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O Uruguai e o Brasil, por sua vez, não contam com previsão constitucional que conceda hierarquiasuperior dos tratados internacionais sobre as leis nacionais, o que significa que as Cartas Magnasbrasileira e uruguaia não aportam solução para potenciais conflitos entre uma norma internacional euma norma interna, o que produz uma trava jurídica ao avanço do processo de integração. Há porém,que se fazer ressalva, o caso brasileiro, aos tratados de direitos humanos, os quais aprovados naforma do § 3º do art. 5º da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45, de2004, equiparam-se a emendas constitucionais. Desse modo, apenas eventuais acordos de integraçãoque versem sobre direitos humanos poderão ter status superior à legislação ordinária.

Em verdade, tanto no caso brasileiro quanto no uruguaio, existe apenas uma referência programática,em suas Constituições, relacionada com a integração latino-americana (parágrafo único do art. 4º daConstituição Federal brasileira e inciso 2 do art. 6º da Constituição uruguaia)[N9].

Artigo 4º da Constituição brasileira, parágrafo único:

A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e culturaldos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana denações.

Artigo 6, inciso 2, da Constituição Uruguaia:

La República procurará la integración social y económica de los Estados Latinoamericanos,especialmente em lo que se refiere a la defensa común de sus productos y materiasprimas. Asimismo, propenderá a la efectiva complementación de sus servicios públicos.

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O direito brasileiro não dispõe, pois, de instrumentos que confiram especificidade às normas emanadasdos órgãos da integração, ao contrário do que acontece com a Constituição argentina. Tentativa nestesentido foi rechaçada quando da revisão constitucional de 1993.

A Constituição de 1988 atribui ao Poder Executivo competência privativa para manter relações comEstados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos, bem como celebrar tratados,convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (art. 84, incisos VII eVIII).

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Ao Parlamento cabe aprovar os atos internacionais firmados pelo Presidente da República ou seuPlenipotenciário, cabendo-lhe também autorizar o Presidente da República a declarar guerra e celebrara paz, conforme segue:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos oucompromissos gravosos ao patrimônio nacional;

II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forçasestrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados oscasos previstos em lei complementar; (...)

No que tange à aprovação de tratados e demais atos internacionais, o procedimento parlamentar,como regra, tem-se limitado à sua aprovação ou rejeição in totum.

A doutrina diverge no que diz respeito à possibilidade de alteração do tratado quando de suatramitação no Congresso Nacional.

Isto porque, tendo em vista óbvias razões de ordem prática, não seria possível a um país, segundoalguns juristas, aprovar emendas a um tratado internacional negociado em âmbito multilateral.Sustentam eles que tal prática, se adotada por todos os Estados contratantes, haveria de gerar umcompleto caos na convivência internacional, tornando impossível, do ponto de vista prático, qualquerprevisibilidade quanto à ratificação ou modificação de textos acordados ao longo de inúmeras reuniõese, muitas vezes, difíceis negociações.

Contudo, outra corrente sustenta que, caso o tratado admita reservas, poderá o Congresso Nacionalaprová-lo com restrições, as quais o Poder Executivo traduzirá em reservas no momento daratificação. Do mesmo modo, poderá aprová-lo com declaração de desabono às reservas acaso feitasna assinatura, e que deixarão de ser confirmadas, portanto, na ratificação. Foi neste sentido o parecerde 1962 do eminente jurista Haroldo Valladão, quando consultor jurídico do Itamaraty.

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Assim, terminada a negociação de um tratado, tem o Presidente da República, que a iniciou, afaculdade de dar ou não prosseguimento ao processo de sua incorporação ao ordenamento jurídicointerno. Com exceção das convenções internacionais do trabalho, que por sua natureza obrigam a suasubmissão à aprovação do Parlamento, nos demais casos tanto pode o chefe do PoderExecutivo mandar arquivar o produto, se o julgar insatisfatório, de uma negociação bilateral oucoletiva, quanto determinar estudos mais aprofundados na área do Executivo, e submeter o texto,quando melhor lhe pareça, à aprovação congressual.

Se por um lado em nenhum caso pode o Presidente da República manifestar o consentimento definitivoem relação ao tratado sem a aprovação do Congresso Nacional, por outro, tal aprovação não o obriga àratificação.

A decisão do Congresso Nacional é formalizada por meio de um decreto legislativo, promulgado pelo

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Presidente do Senado Federal e publicado no Diário Oficial da União. O decreto legislativo não rejeita enem altera o tratado. Exemplos de rejeição são raríssimos, mas neste caso caberia apenas umacomunicação, mediante mensagem, ao Presidente da República. Entre os raros casos de rejeiçãopode-se destacar, a título de exemplo, o tratado argentino-brasileiro de 25 de janeiro de 1890, sobre afronteira das Missões, rejeitado pelo plenário do Congresso em 18 de agosto de 1891, por 142 votoscontra 5.

No Brasil adotou-se o procedimento de se estipular, por meio de um parágrafo único no decretolegislativo que aprova o tratado internacional, que são sujeitos à aprovação do Congresso Nacionalquaisquer atos que possam resultar em revisão do ato internacional em questão, assim comoquaisquer atos complementares que, nos termos do art. 49, I, da Constituição Federal, acarretemencargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Os tratados, salvo os de direitos humanos aprovodaos na forma do citado § 3º do art. 5º daConstituição Federal, uma vez inseridos no direito brasileiro, passam a ter força de lei ordinária e aexercer efeitos sobre as demais leis, podendo, inclusive, revogá-las, uma vez que lei posterior revogaum tratado internacional se suas disposições conflitam. Desse modo, os tratados estão em nívelhierárquico inferior ao da Constituição, e, portanto, sujeitos ao controle de constitucionalidade.

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b) Incorporação das normas Mercosul ao ordenamento jurídico interno dosEstados Partes

Os recentes esquemas de integração regional, como o Mercosul, representam, entretanto, casosespecialíssimos, uma vez que seus instrumentos jurídicos emergem de um Acordo-Quadro anterior,como é o Tratado de Assunção, o qual proclama a intenção inequívoca dos Estados Membros deprocederem a um processo de integração, para o qual se faz necessária a celebração de váriosprotocolos adicionais ao Acordo inicial. Assim, a presunção é a de que interessa aos Estados signatáriosa célere aprovação congressual dos atos internacionais firmados no âmbito do processo integracionista.

Na prática, entretanto, isso nem sempre ocorre. Por vezes, o instrumento negociado acaba por sofrerrestrições de setores interessados, e os Governos optam por sustar a sua tramitação no CongressoNacional. Exemplo disto é o Código Aduaneiro do Mercosul, que, aprovado pela Câmara dos Deputados,aguardou por alguns anos o seu exame pela Comissão de Relações Exteriores do Senado. O Governoacabou por retirar a mensagem que o encaminhava, aguardando a renegociação de certos detalhestécnicos.

As normas Mercosul serão ou não submetidas ao crivo do Congresso Nacional de acordo com suanatureza. As que tratam de matéria com natureza de lei serão introduzidas após os trâmites previstosno direito interno; já as de natureza meramente regulamentar, incluídas nas competências do PoderExecutivo, são introduzidas na normativa brasileira pela via de decretos e portarias.

Ao contrário da Constituição argentina, que como vimos, confere hierarquia superior à das leis àsnormas incorporadas como consequência dos tratados de integração, o direito derivado do Mercosulnão desfruta de posição hierárquica superior às leis ordinárias, recebendo tratamento idêntico àqueleoutorgado aos demais tratados internacionais. A única especificidade que distingue a normativaMercosul quando dos procedimentos para a sua incorporação ao direito brasileiro provém da Resoluçãodo Congresso Nacional nº 1 de 1996, que, em cumprimento ao Protocolo de Ouro Preto, veio a inserir,no seio do Parlamento, a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Nos termos de seu art. 2º,deverá a Representação Brasileira na Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul emitir parecerpreliminar sobre toda matéria de interesse para o bloco e que venha a tramitar no CongressoNacional.

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Pretendeu-se com este dispositivo, atender o art. 25 do Protocolo de Ouro Preto, segundo o qual "AComissão Parlamentar Conjunta procurará acelerar os procedimentos internos correspondentes nosEstados Partes para a pronta entrada em vigor das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstosno Artigo 2 deste Protocolo". Embora impedida de atuar no sentido propriamente de acelerar osprocedimentos de aprovação das normas Mercosul pelo Congresso Nacional, como quer o Protocolo, oque equivaleria a transformá-la em um grupo de pressão no seio do Parlamento, a Comissão busca,mediante o seu parecer preliminar, fornecer subsídios às demais Comissões temáticas quanto àimportância e aos impactos, sobre o processo de integração, da normativa em exame.

Mais uma vez faz-se necessário distinguir, neste contexto, os atos internacionais advindos do processode integração e os atos de outra natureza. Concordam os teóricos da integração quanto ao statusespecialíssimo que assumem os Estados participantes de tal processo, em relação a terceiros países.

Vários estudiosos vêm chamando a atenção para o fato de que, no processo de negociações doMercosul, vem ocorrendo um curioso fato no que diz respeito a determinadas matérias de âmbitointerno: decisões vêm sendo tomadas pelos negociadores do Mercosul em nível quadripartite, einternalizadas por via de portarias ministeriais, de tal forma que o centro de decisões é transferido,por vezes, para um foro intergovernamental, com prejuízo da competência legislativa do CongressoNacional, que sequer tem a possibilidade de acompanhar todos estes processos decisórios que sedesenrolam nos múltiplos foros negociadores do Mercosul. Trata-se aqui de uma situação sui generis,porém própria dos processos de integração. É interessante ressaltar, nesse cenário, que a existênciade uma Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul no seio do Congresso Nacional, prevista pelosTratados de Assunção e pelo Protocolo de Ouro Preto, nunca chegou a sanar esta falha, uma vez que aCPC não dispunha de real poder de controle sobre o processo negociador.

A criação do Parlamento do Mercosul, constituído em 14 de dezembro de 2006, poderá contribuirdecisivamente para maior transparência e visibilidade do processo de integração regional. Cumpre,nesse ponto, esclarecer que a citada Resolução nº1, de 1996, do Congresso Nacional, foi revogadapela resolução nº 1 de 2007, que dispõe sobre a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosule cujo art.4º prevê procedimento preferencial às matérias emanadas dos órgãos decisóriosmercosulinos, desde que a norma tenha sido adotada de acordo com os termos do parecer doParlamento do Mercosul. Com isso, tais normas após a apreciação da Representação quanto aosaspectos da constitucionalidade, juridicidade, adequação financeira e orçamentária e, ainda, quanto aomérito, serão remetidas aos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado, salvo se aRepresentação julgar necessário, em razão da especificidade e complexidade da matéria, opronunciamento de outras Comissões.

Nota-se, portanto, que a Resolução de 2007 veio atender o disposto no inciso 12 do art. 4º doProtocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul, que estabeleçe o seguinte: "os Parlamentosnacionais, segundo os procedimentos internos correspondentes, deverão adotar as medidasnecessárias para a instrumentalização ou criação de um procedimento preferencial para a consideraçãodas normas do Mercosul que tenham sido adotadas de acordo com os termos do parecer doParlamento".

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c) A Consulta Parlamentar

Desde a assinatura do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, verifica-seque a maior debilidade do bloco reside no déficit de incorporação das normas,acordadas pelos seus órgãos decisórios, aos ordenamentos jurídicos internosdos Estados Partes. Essa deficiência vem debilitando a credibilidade do bloco,tanto frente a terceiros países e agrupamentos de países, como em face dosagentes econômicos privados. Ao traduzir um modelo de integração muitomais orientado por realidades de poder do que por normas jurídicaslivremente acordadas pelos Estados Partes no foro regional, o Mercosulrevela-se ao agente econômico como um espaço pouco atraente para seus investimentos,caracterizado pela insegurança jurídica e pela falta de previsibilidade e de efetividade

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normativa.

Com efeito, a experiência europeia demonstrou, ao longo do tempo, a importância de que se reveste aatitude de respeito às normas da integração, manifestada pelos Estados Partes. Esse respeito,refletindo o grau de compromisso político dos Países Membros para com o processo integracionista,muito contribuiu para o fortalecimento do bloco europeu.

A Secretaria da então Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, sediada em Montevidéu, realizoulevantamento sistemático do estado da incorporação das normas do Mercosul já negociadas eassinadas e que exigem aprovação congressual para a sua incorporação ao direito interno dos EstadosPartes e verificou que um alto percentual jamais ingressou nos respectivos Parlamentos.

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Não se imaginava, efetivamente, que alguns instrumentos ficassem retidos por tanto tempo antes deserem enviados aos respectivos Parlamentos nacionais.

Esse fato, logicamente, também contribui para a fragilidade institucional do Mercosul e para ainsegurança jurídica existente no momento.

Em outubro de 2003, firmou-se o primeiro acordo interinstitucional entre dois órgãos do Mercosul: oConselho do Mercado Comum e a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Essas duas entidadescelebraram acordo, com apenas dois artigos, de grande significado no que diz respeito àdemocratização do processo decisório do Mercosul.

O art. 1º diz basicamente que o Conselho se compromete a enviar à consulta da ComissãoParlamentar Conjunta do Mercosul, no momento da sua negociação, todas as normas que requeiramaprovação congressual.

Já o art. 2º contém a contrapartida da Comissão: ela se compromete a dar uma tramitação mais ágil emais rápida a toda a matéria que tenha merecido o seu parecer favorável.

Em outras palavras, todo instrumento Mercosul que, no momento de sua negociação, houvesse ido àComissão e recebido o seu parecer favorável, quando firmado pelos Estados Partes e enviado àaprovação congressual, receberia tratamento legislativo mais rápido.

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Esse engenhoso mecanismo, vislumbrado no acordo interinstitucional e mais comumente chamado de"consulta parlamentar", seria, posteriormente, incluído entre as competências do Parlamento doMercosul. Como vimos, o Congresso Nacional brasileiro já aprovou dispositivo destinado àimplementação da consulta parlamentar por meio da edição da citada Resolução n° 1, de 2007, à qualainda recorreremos ao tratarmos das competências do Parlamento do Mercosul.

Autoavaliação da Unidade I do Módulo III

Chegou o momento de fazer a autoavaliação da Unidade I do Módulo III. Cliqueem "Avaliações" ( lado esquerdo da página ) e "Autoavaliação da Unidade I do MóduloIII" .

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Unidade 2 - O Parlamento do Mercosul; Definição.

Módulo III

Unidade 2 - O Parlamento do Mercosul

a) Definição e razões para a criação de um Parlamento do Mercosul

Em 15 e 16 de dezembro de 2003, em Montevidéu, o Conselho doMercado Comum aprovava o "Programa de Trabalho Mercosul2004-2006", cujo ponto 3.1 solicita à Comissão Parlamentar Conjuntaa elaboração de uma proposta concernente à criação do Parlamento doMercosul, que deveria ser submetida ao Conselho do Mercado Comumem 2004. O Programa de Trabalho determinava que a proposta deveriaconsiderar, como uma primeira etapa, o mecanismo de consultaestabelecido pelo Acordo Interinstitucional, subscrito pelo Conselho epela Comissão Parlamentar Conjunta.

Em dezembro de 2004, em Belo Horizonte, o Conselho do Mercado Comum aprova a Decisão 49/04,que confere à Comissão Parlamentar Conjunta a condição de Comissão Preparatória do Parlamento doMercosul, e estabelece a data limite de 31 de dezembro de 2006 para a instalação do novo órgão.

A Comissão atendeu a esse mandato, e produziu um Projeto de Protocolo Constitutivo do Mercosul,que seria aprovado pelo Conselho do Mercado Comum por meio da Decisão n° 23/05, em Montevidéu,em 9 de dezembro de 2005.

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Unidade 2 - O Parlamento do Mercosul

O Protocolo estabelece que o Parlamento do Mercosul substituirá a Comissão Parlamentar Conjuntacomo órgão integrante da estrutura institucional do Mercosul.

Seu art. 2 elenca os propósitos do Parlamento, entre os quais cabe mencionar:

- a representação dos povos do Mercosul, respeitando sua pluralidade ideológica e política;

- a promoção e a defesa da democracia, da liberdade, da paz e do desenvolvimento sustentável, comjustiça social;

- o estímulo à participação dos atores da sociedade civil no processo de integração e à formação deuma consciência integracionista na região;

- a consolidação da integração latino-americana mediante o aprofundamento e consolidação doMercosul;

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O mecanismo da consulta parlamentar é reproduzido no art. 4, inciso 12 do Protocolo, e, ademais,estabelece o prazo máximo de 180 dias corridos para que os Congressos Nacionais dos Estados Partes

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do Mercosul se manifestem sobre aquelas normas que tenham sido adotadas pelo Conselho do MercadoComum consoante o parecer emitido pelo Parlamento regional no momento de sua negociação. Omesmo inciso ressalva que se dentro do prazo desse procedimento preferencial o Parlamento doEstado Parte não aprovar a norma, esta deverá ser reenviada ao Poder Executivo, que a encaminharáà reconsideração do órgão correspondente do Mercosul.

Por sua vez, os Parlamentos nacionais deverão adotar as medidas necessárias para ainstrumentalização desse procedimento, em conformidade com as suas respectivas normasregimentais. Nesse sentido, nunca é demais ressaltar a edição da Resolução Nº 1, de 2007, doCongresso Nacional, que prevê tramitação mais ágil e simplificada para aquelas normas Mercosul quetenham sido adotadas pelo órgão decisório do bloco de acordo com o parecer emitido pelo Parlamentoregional, dando, assim, cumprimento ao disposto no art. 4, inciso 12 do Protocolo.

Por meio da consulta parlamentar, o Parlamento do Mercosul poderá contribuir para solucionar a gravefragilidade de que padece o bloco, que se traduz no baixo índece de normas da integraçãoefetivamente incorporada aos ordenamentos jurídicos nacionais. O Parlamento poderá, além disso,contribuir para melhorar a qualidade técnica das normas do Mercosul, cuja debilidade já foiamplamente identificada por técnicos e acadêmicos. A falta de consulta e debate com os setores sociaisafetados e com outras instâncias governamentais interessadas, precisamente pela falta de um espaçodesignado para esse déficit de qualidade normativa no Mercosul.

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Nesse contexto, vale lembrar que o Parlamento constituirá o espaço público, por excelência, ondedeverão ocorrer os debates concernentes às normas em negociação. A visibilidade e a transparênciaque a existência de um Parlamento, como lócus de debate político, conferirá ao Mercosul, contribuirá,de inúmeras maneiras, para o aperfeiçoamento e consolidação do bloco.

Também no tocante à falta de efetividade normativa que atinge o bloco, em virtude do nãoencaminhamento à aprovação legislativa, pelos Executivos, dos instrumentos jurídicos firmados, oParlamento conta, entre suas competências, com a possibilidade de solicitar relatórios dos órgãosdecisórios do Mercosul (art. 4, inciso 4) e de convidar representantes dos órgãos do Mercosul parainformar sobre determinados aspectos da integração (art. 4, inciso 5).

No que diz respeito ao processo de adoção de decisões, o Parlamento representa substancial avançoem relação à Comissão Parlamentar Conjunta, na medida em que delibera por meio do voto individualdos membros das delegações, enquanto que a Comissão decidia por consenso, como se fosse uma"assembléia de Estados", fator que não permitia a expressão da pluralidade ideológica característica deum órgão de representação popular.

À época da negociação do Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul, decidiu-se adotar duasfases para a implementação do Parlamento. Isso traduz a dificuldade com que se defrontaram osnegociadores em razão das enormes assimetrias existentes entre os Países Membros do Mercosul emtermos de população, extensão geográfica e PIB.

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Segundo o Protocolo, até 31 de dezembro de 2010, a composição do Parlamento seria paritária, com18 representantes por país, designados pelos respectivos Congressos Nacionais. A partir daí, passaria avigorar o critério da "representação cidadã", a ser determinado mediante Decisão do Conselho doMercado Comum, por proposta do Parlamento, devendo o Parlamento ser integrado por representanteseleitos pelo voto universal, direto e secreto, de acordo com a legislação eleitoral de cada Estado Parte.

Apesar de esforços para que, juntamente com as eleições presidenciais do ano de 2010, pudéssemostambém escolher os representantes brasileiros no Parlamento do Mercosul, houve inúmeras pressões,especialmente por parte da Argentina e do Uruguai, quanto aos termos do Acordo Político queestabeleceria as regras da representação cidadã. Com a perspectiva de elevação do número deparlamentares brasileiros, os representantes dos demais Estados membros passaram, por exemplo, a

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condicionar a implementação do critério de representação cidadã à mitigação da regra da maioriaprevista no Regimento Interno do Parlamento.

Assim, o Acordo Político em torno da adoção do critério da representação cidadã no Parlamento doMercosul somente teve seus termos definidos no final de 2010 (Decisão n° 28/10, do CMC), sendoque, já a partir de 2011, o Brasil deverá contar com 37 representantes, a Argentina com 26, e oUruguai e o Paraguai, cada um, com 18. Evidentemente, não houve tempo hábil para que o Projeto deLei n° 5.279, de 2009, de autoria do Deputado Carlos Zarattini – que define as regras para as eleiçõesde parlamentares brasileiros no Parlamento do Mercosul – fosse apreciado, uma vez que o art. 16 daConstituição Federal determina que a lei que alterar o processo eleitoral não será aplicada às eleiçõesque ocorrerem até um ano da data da sua vigência.

Assim, a depender da tramitação do referido projeto de lei, as eleições, no Brasil, poderão ocorrer jáem 2012, simultaneamente com as eleições municipais, ou apenas em 2014, com as eleições paracargos federais e estaduais. Cabe lembrar, porém, que a determinação de que o número deparlamentares brasileiros seja ampliado já em 2011 – mesmo anteriormente às eleições diretas –implica a necessidade de alterações na Resolução n° 1, de 2007, do Congresso Nacional.

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Como sabemos a delegação paraguaia do Parlamento do Mercosul já é formada por representanteseleitos direta e exclusivamente para o exercício de mandato no órgão de integração regional. OUruguai ainda não tem previsão de quando realizará suas eleições. A Argentina, por sua vez, jáanunciou que deverá eleger seus representantes diretos no Parlamento do Mercosul juntamente comas eleições presidências de 2011.

Espera-se que o Parlamento do Mercosul venha a ser, sobretudo, um espaço paradebates, seminários e audiências públicas sobre os temas da integração. E, ainda, quesirva de "caixa de ressonância" para os anseios e preocupações dos diversos setores dasociedade civil, e ao mesmo tempo constituirá o canal de comunicação entre aspopulações e as instâncias negociadoras da integração. A participação da sociedade civilassegurará a transparência do processo de construção do bloco e contribuirá para que asnormas do Mercosul passem por amplo debate, antes de sua adoção pelo órgão decisório,o que ensejará o seu aperfeiçoamento e facilitará a sua posterior incorporação aosordenamentos jurídicos internos dos Estados Partes.

b) Da estrutura intergovernamental inicial ao Parlamento do Mercosul em funcionamento

A estrutura institucional do Mercosul teve como modelo inspirador o paradigma da união aduaneiraeuropeia, iniciada nos primórdios dos anos cinquenta, e que transformou-se, ao longo do tempo, nobem-sucedido bloco regional da União Europeia.

Conduzido, pelo lado brasileiro, pelo experiente corpo diplomático do Ministério das RelaçõesExteriores, o Itamaraty, associado à sua contraparte Argentina desde o Programa de Integração entreo Brasil e a Argentina, de 1985, o processo de integração do Cone Sul buscou desafiar algunsprincípios de organização e de tomada de decisões adotado pelos europeus para a construção de umbloco regional, adaptando-os às condições políticas e características próprias de uma associação inéditaentre países considerados em desenvolvimento, tanto em seus objetivos quanto nas ambiçõespostuladas inicialmente.

Assim, desde o inicio do processo de integração, a configuração institucional do bloco do Mercosul sedesenhou segundo um modelo de caráter intergovernamental, em que os negociadores e os que seenfrentavam nas mesas de negociação eram os Estados, enquanto os representantes dos interessesparticulares e da sociedade civil em geral tinham uma função marginal.

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O modelo se desenvolveu gradualista, ou seja, com tendência a criar novos organismos, a partir deuma base mínima que lhe daria a institucionalidade inicial, de acordo com as exigências que oprocesso em movimento demandasse.

Pretendia-se, assim, garantir que os primeiros acordos pudessem ser levados à prática de imediato, emcada um dos espaços geográficos dos sócios, ao mesmo tempo em seapresentava o processo de integração regional a cada uma das respectivasadministrações governamentais em seus mais variados setores, o que, a suavez, contribuiria para facilitar a tarefa de consolidar a regionalização junto aosquadros funcionais dos Estados Partes do Mercosul.

O próprio Tratado de Assunção, em seu art. 9º, estabeleceu que a administraçãoe execução do projeto pelo Conselho do Mercado Comum e Grupo MercadoComum, teriam um "período de transição", e, mais tarde, o Protocolo de OuroPreto, em seu texto de abertura, confirmou o caráter de transitoriedadeplanejado pelos idealizadores do Mercosul, e deixou transparente a afirmação daconsciência dos responsáveis políticos pela proposta de integração, certos de que, para fugir dosmodelos adotados por outros esquemas de integração latino-americanos, nessa fase preliminar não eraadequado pensar-se em esquemas institucionais do tipo supranacional, que poderiam comprometer osobjetivos nacionais de estabilização macroeconômica ou mesmo alterar o equilíbrio entre ascompetências nacionais e as atribuições decisórias que deveriam ser tomadas coletivamente.

O esquema intergovernamental adotado pelos formuladores do Mercosul emergiu como o maisapropriado, apoiado em fatores de natureza histórica e estrutural que permearam, nos últimos quatroséculos, o relacionamento entre os países que conformam o bloco, em especial no chamado espaçogeográfico do Cone Sul, e que podem explicar, de alguma forma, as dificuldades do bloco para avançarem um maior grau de institucionalização.

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Nesse sentido, podemos destacar alguns fatores. Primeiro, a própria história da formação da Regiãodo Cone Sul, cujas riquezas minerais eram disputadas pelos colonizadores europeus, com destaquepara portugueses e espanhóis.

Em segundo lugar, a história das relações políticas e econômicas entre Brasil e Argentina. Comovimos, somente a partir de 1985, com o Programa de Integração entre os dois países, nos governos deRaul Alfonsín e de José Sarney, rompeu-se o antagonismo histórico e avançou-se na busca de novasformas de cooperação política e estratégica bilateral para a região.

Em terceiro, identificamos a assimetria de tamanho entre as diferentes economias que constituem obloco, o que gerou, ao longo do tempo, visões estruturalmente diferentes no que diz respeito ao graude institucionalização exigido pelo projeto de integração, e também quanto à conveniência de se criarórgãos supranacionais.

A posição brasileira, nos primeiros quatorze anos de existência do Mercosul, privilegiava a manutençãode um esquema de negociação entre governos, sobrepondo-se mesmo à vigência formal da adotadaregra de consenso.

Os países menores, Uruguai e Paraguai, sempre defenderam a idéia de se diminuir esse grau dediscricionaridade dos sócios maiores (Brasil e Argentina) nas negociações internas do bloco, o que lhesoferece uma pequena margem de ação unilateral efetiva. Daí haverem setores das sociedadesuruguaia e paraguaia, nos dias de hoje, desejosos de firmarem acordos bilaterais, fora do marcomercosulino, com os Estados Unidos da América.

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A Argentina, por sua vez, situa-se num meio termo, defendendo a criação de instituições

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intergovernamentais e comunitárias, tendo sugerido a criação de um tribunal permanente como opçãopara iniciar-se o caminho em direção à supranacionalidade, em especial levando-se em consideração asucessão de conflitos setoriais e outros tipos de tensões ocasionadas em suas relações com o Brasil.

Em quarto lugar, as experiências de integração regional - ALALC, ALADI e Grupo Andino - apenasconfirmaram que a existência de uma organização institucional forte não poderia substituir a falta devontade política dos países participantes para avançar em uma ampla abertura comercial e outrasfrentes do processo.

Já a nova experiência de integração latino-americana, que começou com o Programa de IntegraçãoArgentina-Brasil e ampliou-se com o Mercosul, vem dando forma a um modo de integração maispragmático e realista, no sentido de se enfrentar os cenários internos e externos que se lheapresentam, negociando e avançando com o objetivo de ampliar, fortalecer e consolidar o bloco nosplanos regional e internacional.

Acrescente-se a este rol de fatores que podem dificultar o processo de integração a adesão daVenezuela, que, embora ainda sem direito a voto, poderá trazer outro tipo de discussão ao plenáriodas reuniões do Mercosul, com marcado viés ideológico, ou seja, o da luta contra o imperialismocapitalista norte-americano, pois este é, declaradamente, o principal argumento de política externadefendido pelo Presidente Hugo Chávez.

Desse modo, a criação do Parlamento do Mercosul, com sua constituição em 14 de dezembro de 2006,na presença dos representantes de Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela, no plenário doCongresso Nacional brasileiro, atendendo ao que determinava a Decisão nº49/04, do CMC, será defundamental importância para o aprofundamento das discussões em torno das mais graves questõesque impedem o avanço do processo de integração do Mercosul.

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Passados quinze anos da assinatura do Tratado de Assunção, a criação do Parlamento do Mercosulapresenta um significativo avanço político e institucional, marco definitivo de um modelo de integraçãodemocrático, representativo e estratégico, verdadeira concepção de uma nova visão política regional.

O processo de conformação definitiva do Parlamento do Mercosul representa um desafio de proporçõeshistóricas, que dará forma e conteúdo ao Mercosul no século XXI.

A construção do espaço político regional será um elemento de fundamental importância para fortalecere melhorar a qualidade das democracias nos países do bloco, em especial no que se refere ao princípioda representatividade e legitimidade democráticas, componente imprescindível do processo de coesãosocial. Será centro de decisões políticas por meio da participação responsável, decidida e sustentáveldos partidos políticos e seus atores, depositários fieis do poder e da soberania que emanam de seusmais legítimos possuidores, os cidadãos.

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Com o mecanismo institucional eficaz, o Parlamento do Mercosul deverá se converter em promotor depolíticas regionais que possibilitem uma integração fronteiriça sem barreiras, a livre circulação depessoas, bens e serviços, e um desenvolvimento integral, complementar e solidário das suas variadasregiões, num esforço que permita a correção gradual das assimetrias, que objetive a parceria naspolíticas públicas em saúde, educação, agropecuária, trabalho, cultura e outros campos que levem emconta o cidadão na sua condição de sujeito final de todas as ações do processo integracionista.

A criação do Parlamento do Mercosul consagra e reafirma os seguintes princípios estratégicos doprojeto Mercosul:

Em primeiro lugar, define com clareza a vontade regional deintegração política, superando o projeto restritivo de uma

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integração fundamentalmente comercial. O Parlamento materializaa vontade da integração como projeto político estratégico, comperspectiva histórica e com modelo de desenvolvimento integral,acima das necessidades conjunturais dos atores da integração.

Define um modelo de integração no qual alcançar um mercadocomum é um componente fundamental do processo, porém estanão é condição suficiente para que a integração aconteça. O perfilda integração no século XXI inclui uma verdadeira integraçãoeconômica, complementar e solidária, o aprofundamento daintegração social e cultural e a adoção em áreas estratégicas de diretrizes políticas comuns numcenário internacional complexo e assimétrico.

Estabelece um espaço de análise e reelaboração do conceito de soberania, não no sentido desubtraí-la aos Estados, mas sim de introduzir um novo plano de soberania compartilhada que,atuando num só bloco, coopere para influenciar com maior peso nos centros de poderinternacional.

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Retoma e dá conteúdo concreto ao componente democrático no Mercosul, dando legitimidade etransparência aos atos públicos regionais de maneira a aperfeiçoar e dar maior clareza às regrasdo jogo do bloco.

Consolida o princípio da representatividade e participação cidadã no processo de integração,componente fundamental na construção de uma identidade e consciência regionais. O feitosubstancialmente democrático de que o Parlamento expressa o pluralismo social, político eeconômico das nações nele representadas, a diversidade de etnias e regiões, como também umaadequada participação por gênero, o converterá em uma verdadeira "caixa de ressonância" doscidadãos do Mercosul.

Conforma um espaço permanente da política e da cidadania na estrutura institucional doMercosul, dotando-a do necessário equilíbrio que todo sistema democrático requer epossibilitando a incorporação da vasta pluralidade ideológica dos países.

Aperfeiçoa o sistema de tomada de decisões e o processo normativo do Mercosul, ao converter-seem promotor e arquiteto da vontade normativa regional e da harmonização das legislaçõesnacionais, elementos essenciais de segurança jurídica do espaço integrado, tanto para odesenvolvimento intrazona como frente a outros blocos regionais ou internacionais.

Autoavaliação da Unidade I do Módulo III

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Sintetizando

Neste módulo, estudamos a dimensão parlamentar do Mercosul, começando pelo art.24 do Tratado de Assunção, que estabeleceu a Comissão Parlamentar Conjunta doMercosul, e, na seqüência, o Protocolo de Ouro Preto, nos arts. 22 a 27, bem como o

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Regimento Interno da Comissão, que define as suas funções, competências e atuação interna eexterna, além do processo de produção da normativa Mercosul e os mecanismos para seuaperfeiçoamento. Vimos também o sistema de incorporação das normas Mercosul pelo aparatojurídico dos Estados Partes, e, em especial, as limitações constitucionais que travam sua vigênciaimediata.

Por último, estudamos a estrutura intergovernamental que dinamizou o processo integracionista dobloco, bem como os primeiros passos da criação e constituição do Parlamento do Mercosul.

Módulo IV - Análise da trajetória e perspectivas para o Mercosul

Módulo IV - Análise da trajetória e perspectivas para o Mercosul

Temas do Módulo

Neste último módulo, faremos uma revisão analítica do processo de integraçãomercosulino, considerando quais itens avançaram e quais os pontos fracos detectados.Também se lançará um olhar para o horizonte que se apresenta ao Mercosul.

Objetivos de Aprendizagem

Ao término do módulo você estará apto a:

Analisar o processo de integração do Mercosul;Refletir sobre o futuro funcionamento do Parlamento do Mercosul.

Unidade 1 - Sucessos e debilidades.

Módulo IV

Unidade 1 – Sucessos e debilidades Segundo as palavras do cientista político Gerardo Caetano, professor da Universidade de la República, Uruguai, as

instituições criadas pelo

Tratado de Assunção para o Mercosul "serviam a um modelofuncional que não era ingênuo".

Com efeito, a ideia de uma estrutura institucional minimalistabaseava-se na convicção, que tinham os negociadores, de quenovos órgãos deveriam ser criados apenas se e quandonecessários para responder aos avanços do bloco. Procurava-se

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escapar, assim, da proliferação de instituições e da pesadaburocracia que minavam a credibilidade de outros processos deintegração latino-americanos.

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É importante registrar que, ao seu início, a integração tinha como eixo e fio condutor a ideia dacelebração de acordos setoriais entre os Estados Partes, que aproveitariam as "vantagenscomparativas" de cada uma das estruturas produtivas para baratear o produto final, levando, assim, auma inserção mais competitiva da sub-região no mercado internacional. Em seu art. 5º, o Tratado deAssunção inclui, entre os instrumentos para a constituição de um mercado comum, os acordos setoriais"com o fim de otimizar a utilização e mobilidade dos fatores de produção e alcançar escalas operativaseficientes". A mudança na orientação política resultante da chegada ao poder, na Argentina e noBrasil, de Menem e Collor, respectivamente, repercutiria também no processo de integração que entãose iniciava. Decidiu-se, por conseguinte, pelo deslocamento do eixo de implementação do Mercosulpara a adoção de um cronograma de desgravação tarifária bastante acelerado, e se deixou de ladooutros aspectos da integração, como as possibilidades de ganho oferecidas pela complementaridade desetores das economias e a integração macroeconômica.

A ênfase recaiu no comércio intrabloco, ocasionando aumento exponencial das trocas, que subiram deaproximadamente 4 bilhões de dólares em 1991 para em torno de 20 bilhões de dólares, em 1998.Esse notável dinamismo projetaria imagem positiva do Mercosul no cenário internacional. A chamada"marca Mercosul" já começava a chamar a atenção de compradores de terceiros países. Também sefalava no "patrimônio do Mercosul", consubstanciado na grande quantidade de normas adotadas, noperíodo, pelos órgãos decisórios do bloco.

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A assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em 1994, que estabeleceu uma estrutura institucional para obloco e, por seu art. 34, dotou-o de personalidade jurídica de direito internacional, consistiu emimportante avanço para o Mercosul, pois permitiu que este negociasse em conjunto com terceirospaíses ou agrupamentos de países.

A grave crise econômica que assolou os "tigres asiáticos" em 1997 reduziu, de maneira repentina, osfluxos de investimento destinados aos países em desenvolvimento. Os países membros do Mercosul,cujas economias dependem fortemente de capitais estrangeiros, foram profundamente atingidos. Em1999, o Brasil, altamente dependente da moeda norte-americana, que financiava o déficit de suabalança de pagamentos, é forçado a desvalorizar o real. Este perde valor em relação ao dólar e àsmoedas dos seus parceiros no Mercosul. A iniciativa brasileira gera fortes desequilíbrios no queconcerne à competitividade dos produtos comercializados no mercado intrabloco. Têm início grandescontrovérsias comerciais e iniciativas protecionistas unilaterais por parte dos governos dos paísesmembros, pressionados por setores cujos produtos haviam perdido competitividade no interior dobloco. Em 1997, o fluxo de produtos argentinos exportados para o Brasil atinge a cifra de US$8,133,016, caindo para US$ 5,689,511 em 1999.

Pouco depois, eclode a crise argentina, e o país é obrigado a desatrelar o peso, sua moeda, do dólar,acabando com a paridade e com a conversibilidade. A situação precária das duas maiores economias doMercosul afetaria também, infalivelmente, os países menores do bloco, Paraguai e Uruguai. Ao finaldos anos noventa, o comércio intrabloco havia regredido aos níveis de 1991, e o Mercosul entrara emestagnação.

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Os primeiros anos do século XXI trouxeram ainda grandes dificuldades, como a renúncia do Presidenteargentino Fernando De la Rúa em 2001, na esteira da crise econômica argentina. Os percalços,contudo, não impediram avanços no que tange a aspectos institucionais do Mercosul, como aassinatura, em 2002, do Protocolo de Olivos, que criou o Tribunal Permanente de Revisão.

Ao mesmo tempo, iniciava-se o processo de transformação da Secretaria do Mercosul, que até entãocumprira papel unicamente administrativo e burocrático, em Secretaria Técnica, cujas funções são deavaliar continuamente o desenvolvimento da integração, de prestar apoio técnico e de contribuir paraa construção de uma visão comum efetiva do Mercosul. Outro passo à frente foi a criação, em 2003, daComissão de Representantes Permanentes do Mercosul, composta por Embaixadores dos EstadosPartes e cujo primeiro Presidente foi o ex-Presidente Eduardo Duhalde, da Argentina, importantefigura política da região.

Até o final dos anos noventa houve, em suma, um processo de acumulação de mudanças maisquantitativas, que se concentraram na esfera do comércio. Porém, de 2003 em diante, passada a criseeconômica que assolou a Argentina, deu-se início a um novo processo, voltado para o aperfeiçoamentodas instituições do bloco. Naquele ano, realizaram-se seminários e reuniões de discussõespreparatórias, visando a revisão do Protocolo de Ouro Preto, que completaria dez anos de suaassinatura no ano seguinte, em dezembro de 2004.

Na opinião de especialistas, a revisão do Protocolo de Ouro Preto era importante, pois se o Mercosulnão pudesse contar com instituições fortes, acabaria por perder a confiabilidade nas negociações comoutros blocos e países. Dava-se, portanto, naquele momento histórico, uma "combinação favorávelde necessidade e densidade de oportunidades", nas palavras de Félix Pena, que justificaria plenamentea revisão da estrutura institucional do Mercosul.

Outro aspecto a impulsionar uma possível reforma orgânica do Mercosul naquele momento era a buscade legitimidade democrática para as decisões tomadas por seus órgãos decisórios. Identificou-se queexiste pouco compromisso com as decisões tomadas no âmbito institucional do Mercosul por parte deatores governamentais e não-governamentais, que encontram dificuldades para aplicar normas arespeito das quais não foram consultados.

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A ausência de legitimidade democrática afeta, como se vê, a própria eficácia do processo deintegração. Nesse sentido, o "Programa de Trabalho do Mercosul 2004-2006", adotado pelo Conselhodo Mercado Comum por meio da Decisão nº 26 de 2003, prevê uma série de ações vinculadas àlegitimidade democrática no bloco. Entre elas, a ampliação da participação da sociedade civil, avisibilidade cultural por meio da promoção de eventos de amplo alcance nos meios de comunicação,inclusive na área esportiva, que promovam a ideia do Mercosul nos Estados Partes e permitam maiorconhecimento mútuo de suas sociedades; promoção do Mercosul cidadão, por meio do fortalecimentodo Foro de Consulta e Concertação Política (FCCP), para adaptá-lo aos requerimentos de uma agendapolítica; criação do Centro Mercosul de Promoção do Estado de Direito; fortalecimento da participaçãodo setor privado no processo de integração e no sistema de solução de controvérsias; e finalmente, oestabelecimento do Parlamento do Mercosul.

Nota-se, em suma, da leitura de recentes Decisões do Conselho do Mercado Comum, às quais seagregam percepções expressadaspelos próprios agentes governamentais daintegração, claro movimento em direção a umnovo patamar institucional para o bloco.

Ao apagar das luzes de seu governo, oPresidente Fernando Henrique Cardoso lançaa ideia, que recebeu o apoio do Conselho doMercado Comum, de se constituir um "Grupode Reflexão Prospectiva sobre o Mercosul",com a participação de representantes do meioacadêmico, governamental e empresarial dosquatro países membros do Mercosul, quedeveriam apresentar a sua visão pessoalsobre a situação do Mercosul e sobre o seu

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futuro.

Entre as principais preocupações do grupofigurou, no tocante à esfera jurídico-institucional do bloco, a questão do déficit de incorporação das normas do Mercosul aos ordenamentosjurídicos internos, pela insegurança jurídica que gera, particularmente entre os operadoreseconômicos. Nesse sentido, assinalou-se que a Comissão Parlamentar Conjunta "tem que assumirmaiores responsabilidades no processo de formulação e incorporação de normas".

O Mercosul sofre de um problema de insuficiência metodológica e institucional. Ao mesmo tempo emque os compromissos assumidos pelos países membros não tiveram alcance suficiente para atenuar ouevitar os impactos da crise, iniciada em 1998, sobre suas economias, tampouco havia flexibilidadebastante para permitir a adaptação acordada e previsível de instrumentos de política comercial aocenário resultante dessa crise.

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Félix Peña identifica quatro falhas básicas na metodologia de integração utilizada pelo Mercosul:

acumulação de regras não incorporadas aos ordenamentos jurídicos internos, o que acarreta ahipertrofia normativa;

1.

deficiência dos métodos empregados para preparar e adotar decisões;2.

utilização da diplomacia presidencial para a administração dos conflitos de interesses entre ossócios e mecanismos demasiado débeis, destinados à solução de controvérsias;

3.

falta de transparência do processo decisório e, nele, pouca participação da sociedade civil.4.

Esse tipo de integração é muito distante do modelo europeu, que podemos chamar de rules oriented(orientado por regras, ou normas), onde os sócios reconhecem que, ao assumir compromissos, aceitamlimitar sua capacidade de agir unilateralmente. Significa renunciar às relações de poder para aceitarregras de jogo com forte potencial de efetividade.

No Mercosul, ao contrário, os países vêm assumindo comportamentos unilaterais fundados, porexemplo, em razões de emergência econômica. Tais comportamentos contribuem para debilitar aeficácia das regras, com efeito negativo nas decisões concernentes a possíveis investimentos e emestratégias empresariais voltadas para a região.

Também a falta de instituições mais permanentes, isto é, de uma "contraparte" com endereço certopara o diálogo, enfraquece o Mercosul aos olhos de nossos parceiros externos. Na percepção deles, obloco está sempre refém de fatores conjunturais, não podendo contar com um lastro de permanência.

Como a revisão do Protocolo de Ouro Preto acabou por não se concretizar, falhou também a tentativade se proceder ao aprofundamento institucional do Mercosul, que continua reclamado pelosespecialistas.

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Do ponto de vista econômico-comercial, a grande falha apresentada pelo Mercosul consiste na suaincapacidade de se constituir efetivamente como um território aduaneiro único. Esse implicaria oreconhecimento da livre circulação, em todo o espaço econômico integrado, de bens comprados deterceiros países, não importando o ponto de ingresso no território. Evidentemente, a livre circulaçãoestá condicionada à existência de um regime único de importação. O Mercosul, entretanto, continuacomposto por quatro territórios aduaneiros distintos e separados, ainda que sejam iguais as tarifasaplicadas aos bens provenientes de terceiros países. Isso porque, como vimos, somente no segundosemestre de 2010, foram aprovadas pelo CMC as diretrizes para a eliminação da dupla cobrança daTEC, que deverá ocorrer em três etapas a partir de janeiro de 2012, bem como o Código Aduaneiro doMercosul (Decisões nos 10 e 27, respectivamente). É importante ressaltar que a recente retomada dasnegociações do Código Aduaneiro do Mercosul e de mecanismos que evitem a dupla cobrança da TEC

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deve-se à insistência da Comissão Europeia nesse sentido, no contexto das negociações de uma áreade livre comércio birregional com o Mercosul. Os negociadores europeus vêm exigindo que asexportações da União Européia possam ter livre acesso ao mercado do Mercosul em seu conjunto,assim como os produtos do Mercosul desfrutam de acesso a todo o mercado comunitário.

No que diz respeito à inconclusa união aduaneira, parece haver opiniões convergentes entre osanalistas, que estimam que o Mercosul vem demonstrando pouca capacidade para ajustar osparâmetros, inicialmente estabelecidos para a integração, a conjunturas inesperadas e difíceis.Segundo esses analistas, deveriam os negociadores ter previsto a possibilidade de ocorrência de taiscircunstâncias ao longo do processo de integração e estabelecido mecanismo regional de adaptação,evitando que esta se fizesse pela via da violação de normas em vigor e, por conseguinte, colocando-asem descrédito.

Unidade 2 - O futuro do Mercosul.

Autoavaliação da Unidade I do Módulo IV

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Teste seu conhecimento!

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Módulo IV

Unidade 2 - O futuro do Mercosul

Como vimos, o Mercosul é hoje uma união aduaneira imperfeita, em processo de consolidação. Cabeaperfeiçoá-la para que se possa alcançar o mercado comum, conforme prevê o Tratado de Assunção.

No que concerne à Tarifa Externa Comum (TEC), há que se aperfeiçoar adisciplina tarifária, porém respeitando as assimetrias existentes entre ossócios, que impõem diferentes ritmos e velocidades. O cronograma dereduções tarifárias mantém exceções, como os regimes para bens decapital e para bens de informática e telecomunicações; permanecemtambém as exceções nacionais que foram acordadas quando começou avigorar o Protocolo de Ouro Preto. Existem, ainda, os regimes especiais:de um lado, a política automotriz, que promove um comércio administrado, não apenas paraautomóveis, mas também para caminhões, tratores, máquinas agrícolas e outros produtos do setor. Deoutro, há os regimes especiais para as zonas francas e para o açúcar.

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No "Programa de Trabalho Mercosul 2004-2006", adotado em dezembro de 2003 em Montevidéu,figuram vários itens que buscam precisamente o aperfeiçoamento da união aduaneira. Por exemplo,como várias vezes destacamos, é fundamental estancar a dupla cobrança da TEC e começar a setrabalhar com o conceito de renda aduaneira, e discutir os critérios a serem adotados para a suadistribuição entre os países membros. A aprovação das diretrizes para a implementação dessasmedidas, conforme já anotamos, somente ocorreu no segundo semestre de 2010, por meio da Decisãonº10/10 do CMC. A livre circulação de produtos pressupõe, como é óbvio, não só o fim da cobrançadupla da TEC para produtos extrazona, como também o fim da cobrança de tarifas para bensoriginários da própria zona, desde que hajam cumprido com as regras de origem.

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O reconhecimento da existência de assimetrias entre os Estados Partes veio, formalmente, com aDecisão nº 18/05 do Conselho do Mercado Comum, que criou o Fundo para a Convergência Estruturale Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM). Trata-se de marco histórico no processo deintegração, porquanto representa iniciativa concreta, há muito reclamada pelas economias menores dobloco, no sentido de diminuir as assimetrias entre seus Estados Partes. Já em seu Preâmbulo, oProtocolo de Ouro Preto, firmado em 1994, mencionava "a necessidade de uma consideração especialpara países e regiões menos desenvolvidos do Mercosul".

No caso do Mercosul, bloco em que as assimetrias entre os Estados Partes afiguram-se sumamentemarcantes, os Fundos Estruturais destinam-se a corrigir os desequilíbrios por meio do financiamentode programas para promover a convergência estrutural, desenvolver a competitividade e promover acoesão social, em particular das economias menores e regiões menos desenvolvidas do bloco, além deapoiar o fortalecimento de sua estrutura institucional e do processo de integração.

Para uma correção de rumos no Mercosul seria preciso reformular percepções eparadigmas. Ressurge a ideia de integração das cadeias produtivas do bloco, oque poderá transformar o Mercosul, de simples mecanismo de liberalização demercados, em um vigoroso instrumento para a implantação de políticas públicasvoltadas para o desenvolvimento dos países membros. Para tanto, poder-se-iautilizar os acordos setoriais, um dos instrumentos previstos no art. 5º doTratado de Assunção. A celebração de acordos setoriais para a integração das cadeias produtivas daregião poderá não produzir resultados imediatos, mas certamente contribuirá, no médio e no longoprazo, para a atração de investimentos produtivos e para o fortalecimento das economias da região,tornando-as menos suscetíveis aos ventos adversos da globalização. Nesse contexto, a integração dainfra-estrutura, representada por energia, transportes e telecomunicações, representa poderosíssimoinstrumento para a promoção do desenvolvimento da região em seu conjunto, garantindo expressivosbenefícios no plano social, entre eles a geração de empregos.

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Nesse processo, o papel da mídia reveste-se de inegável importância, pois somente ela detéminstrumentos - a imprensa escrita, falada e televisada - capazes de construir uma consciência, naregião, favorável ao Mercosul, que entenda que em um processo de integração é possível haver umacomunhão de interesses e unidade de visão entre os países membros. Em um cenário internacionalcaracterizado pela interdependência, o interesse nacional somente poderá ser plenamente atendido seprojetos de desenvolvimento forem vislumbrados no marco do processo de integração, e se os seusfrutos forem capazes de trazer benefícios a todos os países do bloco mediante a adoção, na medida dopossível, de políticas públicas comuns e integradas.

A inexplicável lentidão com que vem se processando a incorporação da normativaemanada dos órgãos da integração ao ordenamento jurídico dos distintos países dobloco em nada contribui para outorgar alguma segurança jurídica aos agenteseconômicos que operam no Mercosul.

Até meados de 2006, apenas 30% desses atos haviam sido internalizadossimultaneamente pelos quatro países membros. Esse baixo índice de internalizaçãosimultânea contribui para a falta de previsibilidade no bloco, uma das principais

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queixas do setor privado, o qual deseja ver assegurada a devida uniformidade econsistência jurídica à aplicação das normas do Mercosul nos diferentes Estados Partes.A par de um estreito acompanhamento realizado pelos órgãos de coordenação nacionaldo Mercosul - os Ministérios de Relações Exteriores dos distintos países -, seria também necessárioadaptar os respectivos ordenamentos jurídicos dos Estados Membros para uma pronta recepção danormativa Mercosul. Ao contrário da Constituição argentina, cujo art. 75 confere hierarquia superioràs normas aprovadas como consequência dos tratados de integração, desde que observada a condiçãode reciprocidade, no ordenamento jurídico brasileiro, as decisões acordadas no Mercosul não desfrutamde posição hierárquica superior às leis ordinárias, recebendo tratamento idêntico àquele outorgado aosdemais tratados internacionais. Como se sabe, no ordenamento jurídico brasileiro os tratadosinternacionais equiparam-se à lei ordinária, podendo ser revogados por lei posterior.

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Duas iniciativas poderiam ser úteis, no caso do Brasil, ambas na forma de projetos de emenda àConstituição.

Em primeiro lugar, cumpriria introduzir a normativa Mercosul entre a tipologia legal conformeenumerada no art. 59 da Constituição Federal, de forma a distinguir tais normas dos tratadosinternacionais firmados fora do processo de integração, impedindo a sua derrogação pela via de umalei ordinária subsequente.

Uma segunda iniciativa seria uma emenda ao art. 49, inciso I, da Constituição Federal, que regula aaprovação dos tratados internacionais pelo Congresso Nacional, de modo a outorgar um tratamentodiferenciado e mais ágil às normas emanadas dos órgãos do Mercosul e submetidas à aprovaçãocongressual. A própria Carta Magna brasileira, à luz do parágrafo único de seu art. 4º, fornece oprincípio programático para que se procedam as mudanças aqui sugeridas, quando, como já visto nestecurso, estabelece que o Brasil "buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos daAmérica Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações".

Caberia também mencionar a grande contradição contida no próprio projeto da integração: o Tratadode Assunção, que criou o Mercosul, faz referência a um pretendido "mercado comum". Como se sabe,um mercado comum pressupõe o livre trânsito de mercadorias e pessoas pelo espaço econômicointegrado. Deveria envolver, ademais, a criação de alguma instituição incumbida de zelar pelosinteresses da região em seu conjunto. Essa percepção, se existisse de forma clara, muito contribuiriapara o fortalecimento da coesão entre os países membros, particularmente quando de suasnegociações com outros países ou blocos de países. Há necessidade, assim, de instituições fortes,capazes de gerar bens regionais comuns.

A consolidação institucional deve vir acompanhada de postura de verdadeiro respeito às regraspactuadas por parte dos atores governamentais, sem a qual o Mercosul tenderá a ser percebido comouma "integração ficção", onde os esquemas de poder predominam sobre as normas.

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A criação do Parlamento do Mercosul constitui, sem dúvida alguma, o grande salto do bloco em direçãoao futuro. O Protocolo que o criou, elaborado pela Comissão Parlamentar Conjunta, contou com oapoio decidido de organizações não-governamentais, como a Fundação Friedrich Ebert e a FundaçãoKonrad Adenauer, e dos Parlamentos nacionais, o que o legitima como real conquista da cidadania.

Ao Parlamento caberá, sobretudo a partir do momento em que selogre instituir em seu seio partidos políticos em âmbito transnacional(as chamadas "famílias políticas"), construir uma visão regional daintegração, que transcenda os interesses meramente nacionais.

Juntamente ao Tribunal Permanente de Revisão, instituído peloProtocolo de Olivos, espera-se que o Parlamento do Mercosul venhaa conferir o necessário equilíbrio aos órgãos da integração, por meiodo exercício do controle democrático.

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Contudo, para que o Parlamento funcione é preciso que os movimentos sociais, os diferentes setoresda sociedade civil e as organizações governamentais o percebam como espaço de demanda e dedebate.

O espaço parlamentar poderá também, por meio da política, antecipar eventuais conflitos em formaçãoentre os países membros (ou setores destes) e solucioná-los antes que alcancem os mais altos níveishierárquicos, desencadeando a chamada "diplomacia presidencial", que vem fracassando e desgastandoa credibilidade do Mercosul. A esse respeito, é eloquente o exemplo do recente conflito entre Uruguaie Argentina sobre a construção de fábricas de celulose na fronteira entre os dois países. A consolidaçãoinstitucional, com o fortalecimento do Parlamento e do Tribunal, será o único caminho viável para quea construção do Mercosul prospere.

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O Parlamento do Mercosul representa avanço substancial em relação à Comissão ParlamentarConjunta, criada pelo Tratado de Assunção. Em primeiro lugar, porque seu Protocolo Constitutivoatribui um voto a cada parlamentar (art. 18, inciso 2), e não a cada delegação nacional, rompendoassim com a lógica nacional presente no processo decisório dos demais órgãos da estruturainstitucional do Mercosul. Esse modelo favorece a formação das famílias políticas transnacionais, aexemplo do que encontramos no Parlamento Europeu.

Há, também, dispositivo prevendo a eleição direta dos representantes dos países membros (art. 1º).Ademais, como vimos, a composição igualitária, com dezoito membros por Estado Parte, cederá lugar àrepresentação proporcional (art. 5º), ainda que se trate de proporcionalidade atenuada, com umnúmero mínimo de representantes para o Estado Parte com menor população (Uruguai) e um teto parao Estado Parte mais populoso (Brasil), também nos moldes do Parlamento Europeu. A partir de 2011,como já esclarecemos, o Brasil contará com 37 parlamentares e, no segundo período daemplementação da representação proporcional cidadã, terá 75 parlamentares, nos termos do acordopolítico proposto pelo Parlamento do Mercosul e adotado pelo CMC, por meio de sua decisãonº28/2010, em atendimento ao comando do Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul.

Cabe recordar que o Grupo Técnico de Alto Nível (GTAN), composto por técnicos e consultores dosParlamentos Nacionais, funcionários e consultores da Secretaria do Mercosul e da SecretariaAdministrativa Parlamentar Permanente (SAPP) e por acadêmicos dos Estados Partes, encarregado daredação do projeto do Protocolo, preocupou-se, antes mesmo de dar início ao trabalho, em definir autilidade de um Parlamento para o Mercosul. "Para que serve um Parlamento do Mercosul?",perguntaram-se.

A resposta encontrada mostrou que o Parlamento viria, na verdade, a sanar duas grandes debilidadesdo bloco:

1º) permitiria o debate prévio das normas do Mercosul, dando ensejo ao seu aperfeiçoamento, pormeio das sugestões provenientes dos setores envolvidos da sociedade civil;

2º) por se tratar de uma instância de representação direta dos povos do Mercosul, o Parlamentocontribuiria para legitimar as normas adotadas pelos órgãos decisórios do Mercosul, conferindo-lhestambém a segurança jurídica e a previsibilidade necessárias.

Esses fatores contribuem, por sua vez, para agilizar a incorporação dessas normas ao ordenamentojurídico dos respectivos Estados Partes.

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Temas da maior relevância, ora em discussão no Mercosul, como o Estatuto das Cooperativas doMercosul, a Estratégia Mercosul para o Crescimento do Emprego, as condições e formas de gestão emonitoramento do Aquífero Guarani, a harmonização das legislações dos países membros do Mercosulno que tange ao trabalho infantil, com base nas normas da Organização Internacional do Trabalho(OIT), passarão ao debate público no Parlamento e contarão com a participação da cidadania. A criaçãode um Parlamento do Mercosul visa a fazer com que as decisões tomadas pelos órgãos da integração

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reflitam não apenas a vontade dos governos, mas também a vontade da cidadania.

Além disso, o Parlamento confere coerência interna ao Mercosul, pois ao receber o Presidente ProTempore quando assume, para que esse apresente o seu programa, e também quando sai, para querelate ao Parlamento os resultados de sua gestão (art. 4º, incisos 6 e 7 do Protocolo Constitutivo doParlamento do Mercosul), o Parlamento permitirá ao público interessado uma visão de continuidadedas iniciativas tomadas e ações realizadas no âmbito do bloco. O Parlamento servirá, portanto, devínculo entre as Presidências Pro Tempore que se sucedem e contribuirá para dar maior efetividade aoMercosul.

O Parlamento deverá trabalhar em estreita articulação com foros e reuniões especializadas, muitasdelas criadas recentemente por Decisão do Conselho do Mercado Comum, que têm forte capilaridade,em alguns casos, e interface com a sociedade civil, em outros. Entre esses, o Foro ConsultivoEconômico-Social; o Foro Consultivo de Municípios, Estados federados, Províncias e Departamentos doMercosul; a Reunião Especializada da Mulher; a Reunião Especializada de Cooperativas; o ProjetoSomos Mercosul.

Outro ponto de importância para que a integração prospere é a adequada abordagem da questão dasassimetrias entre os Estados Partes, que obteve expressivo avanço com a Decisão nº 18/05 doConselho do Mercado Comum, que criou o Fundo para a Convergência Estrutural e FortalecimentoInstitucional do Mercosul (FOCEM).

Ao longo de sua existência, o Mercosul, imerso nos louros de seu sucesso comercial, parece ter perdidode vista a própria lógica que inspirara a sua criação. Essa estava muito mais voltada para a busca desinergias entre as estruturas produtivas dos países membros e para as eventuais parcerias e aliançasde interesses, com vistas a uma inserção mais vantajosa dos produtos da região no mercadointernacional, do que para a visão concorrencial que finalmente prevaleceu. Essa visão, de viéscompetitivo, que objetivava apenas as trocas comerciais dentro da região, impediu uma utilização maisousada daquele que tem sido um patrimônio já conquistado pelo bloco: a marca Mercosul, objeto dointeresse e das atenções de países e blocos no cenário internacional.

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Por esse motivo, afigura-se extremamente promissora a iniciativa do Conselho do Mercado Comum,que, pela Decisão nº 23 de 2002, criou o Programa de Foros de Competitividade, que busca aproveitaras vantagens comparativas dos Estados Partes do Mercosul por meio da integração de suas cadeiasprodutivas, com o objetivo de melhorar a competitividade dos produtos do bloco no mercado global e

de ampliar as suas exportações a terceiros países. Essa iniciativa já está em marcha no setor demadeiras e móveis.

Outro ponto interessante a ser desenvolvido é a realização de iniciativas de promoção comercialconjunta. Já foram criadas missões do Mercosul para promover conjuntamente, em países como Áfricado Sul, México, Alemanha e China, bens produzidos na região.

Outros temas que certamente devem ser levados em conta emqualquer reflexão sobre o futuro do Mercosul são: a adesão daVenezuela e, possivelmente, também a da Bolívia ao bloco; asconseqüências que já vêm se fazendo sentir no interior doMercosul, e que comprometem a sua coesão, advindas deeventuais conflitos como aqueles em torno da construção defábricas de celulose na fronteira entre Uruguai e Argentina e dasreiteradas declarações de membros do governo do Uruguai arespeito de possível assinatura, por aquele país, de um Tratado deLivre Comércio (TLC) com os Estados Unidos da América, em desrespeito a regras vigentes no bloco.

Se, por um lado, o "alargamento" do Mercosul para abrigar outros países da América do Sul,reveste-se de incontestável importância geopolítica e estratégica, por outro é preciso que as novasadesões sirvam também para a consolidação do Mercosul, e não para a destruição de sua identidade,já construída junto à comunidade internacional.

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No que tange aos conflitos e possíveis defecções, os primeiros refletem a ingente necessidade deaperfeiçoamento do mecanismo de solução de controvérsias do Mercosul. Os segundos, por sua vez, aocolocar em relevo o descontentamento dos sócios menores com os poucos ganhos que julgam haverobtido como membros do bloco, podem estar apontando para a necessidade de se adotar instrumentosque permitam, nas palavras de Félix Pena, "institucionalizar a flexibilidade", por meio da utilização deinstrumentos de geometria variável e de múltiplas velocidades.

Outro desafio para os países membros do Mercosul é fazer com que o processo de integração penetreem profundidade nos planos político, social e cultural de cada nação, transcendendo a simplesdimensão econômico-comercial. Nesse sentido, cabe às lideranças nacionais ter em vista que aintegração deve estar unida não apenas à agenda do desenvolvimento, mas também à agendalegislativa.

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Com efeito, os processos de integração implicam, no plano interno, a modificação de instituições e delegislações nacionais. Veja-se, por exemplo, que os países membros da União Europeia alteraram asrespectivas Constituições e adotaram novas leis para possibilitar a sua participação no processo deintegração. Da mesma forma, os Parlamentos Nacionais criaram Comissões, antes inexistentes,destinadas ao acompanhamento dos temas europeus, a exemplo do Parlamento da Espanha("Comissão Mista para a União Europeia"), do Parlamento Britânico (European Scrutiny Committee, daCasa dos Comuns), e do Parlamento Italiano ("Comissão para Políticas da União Europeia", da Câmarados Deputados). Outro aspecto que não pode ser desprezado, e que também exigirá diversas reformasé a integração dos poderes judiciários.

Em todos os estados membros do Mercosul, os judiciários vêm assumindo um papel de relevo nadefinição de políticas públicas, inversamente , a sua atuação como participes ativos no processo deintegração é ainda insignificante. É preciso levar em consideração que a integração regional, de umamaneira ou de outra, passará pelos juizes. Ainda que os Parlamentos promovam medidas para agilizara internalização dos atos do Mercosul nos respectivos direitos internos, caso os judiciários sejamrefratários à inserção de tais normas, o processo de integração pode sofrer profundos reveses.

Nesse sentido, é importante que a integração também chegue ao nível dos poderes judiciários. Umpasso importante foi dado pelo Protocolo de Olivos e pelo Conselho Mercado Comum. Permitiram queas mais altas cortes dos Estados Membros solicitem opiniões consultivas ao Tribunal Permanente deRevisão, sobre matérias que digam respeito à aplicação das normas do Mercosul. No Brasil, essa tarefaficou a cargo do Supremo Tribunal Federal, que deve brevemente regulamentar a solicitação dessasopiniões consultivas.

Iniciativas como essa, porém, não surtirão qualquer efeito se ocorrerem de maneira isolada. É precisoque outras medidas sejam tomadas, como o incentivo aos encontros de juizes do Mercosul, aparticipação do judiciário na elaboração de tratados sobre integração e o estímulo a medidas quepromovam a educação e atualização dos juizes no que concerne à normativa do Mercosul - afinal osjuizes somente podem aplicar bem o direito do Mercosul se o conhecerem profundamente.

Tais reformas exigem, obviamente, o comprometimento de atores políticos e sociais. São, no entanto,sumamente necessárias, porquanto contribuirão para a segurança jurídica e a transparência doprocesso.

Concluimos o Módulo IV, agora vamos fazer a avaliação final - Clique

em "Avaliações" ( lado esquerdo da página ) e "Avaliação final". Boa sorte!

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Conclusão

Parabéns!

Você chegou ao final do curso.

Esperamos que, após responder as questões da avaliação final, você estejaapto à certificação.

De todo modo, é já importante que, com mais informações sobre osprocessos de integração regional em geral, e sobre o MERCOSUL emparticular, você possua mais elementos para formar juízo crítico.

Assim, certamente poderá exercer com maior plenitude sua cidadania nacional e também comocidadão do MERCOSUL.

Indicação de Leituras Complementares

Créditos

Créditos

ConteudistasMaria Cláudia DrummondJosé Everaldo Ramalho

CoordenaçãoWilliam Robespierre Nunes Athanazio

Núcleo pedagógicoClaudia Pohl

Jenifer de FreitasLucas MachadoMarcelo LarroyedPolliana Alves

Simone DouradoTatiana Beust

Valéria Maia e SouzaVinícius Henrique

William Robespierre Athanazio

Núcleo webAlessandra BrandãoBruno CarvalhoCarlos InocenteFrancisco WenkeÍtalo FernandesRenerson IanSônia Mendes

Núcleo administrativoLuciano Marques

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Maxlano Cardoso