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    (*) Av. Antnio Carlos, 6627, Pampulha CEP 31270-901, Belo Horizonte, MG, BrasilTel: (+55 31) 3409-3415 Fax: (+55 31) 3409-5455 Email: [email protected]

    XXIII SNPTEESEMINRIO NACIONALDE PRODUO E

    TRANSMISSO DEENERGIA ELTRICA

    FI/GDS/1418 a 21de Outubro de 2015

    Foz do Iguau - PR

    GRUPO X

    GRUPO DE ESTUDO DE DESEMPENHO DE SISTEMAS ELTRICOS GDS

    AVALIAO DE DESEMPENHO DE LINHAS DE TRANSMISSO FRENTE S DESCARGAS ATMOSFRICAS:ANLISE DA QUALIDADE DOS RESULTADOS DAS METODOLOGIAS DE CLCULO

    Fernando H. Silveira(*) Silvrio Visacro Ronaldo E. de Souza FilhoLRC Lightning Research CenterUFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    RESUMO

    Este trabalho apresenta uma discusso relativa s metodologias tradicionais de clculo de desempenho de linhas detransmisso frente s descargas atmosfricas apresentadas pelo CIGR e pelo IEEE. Tais metodologias soamplamente utilizadas pelas empresas do setor eltrico. Os principais aspectos destas metodologias so discutidos,com destaque para as aproximaes adotadas no clculo da taxa de desligamentos de linhas por backflashover.Simulaes sistemticas foram realizadas considerando uma linha real de classe de tenso de 138 kV. Osresultados obtidos apontaram valores distintos de taxas de desligamento, sendo a metodologia do IEEE aquela queapresentou os menores valores. Alm disso, a comparao destes resultados com aqueles obtidos pela aplicao demetodologia mais avanada e consistente (HEM-DE) que considera o uso de modelo eletromagntico para clculodas sobretenses nos isoladores da linha e critrio mais elaborado para anlise da ruptura do isolamento dessesisoladores indicaram a significativa variao das taxas de desligamentos obtidas pelas metodologias tradicionais.Para as condies simuladas, as taxas calculadas pelas metodologias do CIGR e do IEEE foram aproximadamente60% maior e 40 % menor em comparao com a aplicao da metodologia HEM-DE.

    PALAVRAS-CHAVE

    Desempenho de linhas de transmisso frente a descargas atmosfricas, Metodologias de clculo de desempenho,Descargas Atmosfricas, Aterramentos eltricos, Critrio para avaliao de disrupo eltrica.

    1. INTRODUO

    As descargas atmosfricas se constituem na principal fonte de desligamentos no-programados das linhas detransmisso. Estes desligamentos se processam basicamente por trs mecanismos, sendo eles o Flashover, oBackflashovere a descarga a meio de vo. Nas condies de solo brasileiras, caracterizadas por valores elevadosde resistividade do solo, prevalece amplamente o mecanismo de backflashover(1,2).

    A avaliao do desempenho de linhas de transmisso frente s descargas realizada com base na taxa dedesligamentos da linha por 100 km por ano. O clculo desta taxa consiste em procedimento de extremacomplexidade no qual uma gama extensa de variveis capaz de afetar o resultado final. A correta especificaodessa taxa fundamental para determinao do tipo de prtica de proteo a ser implementada em linhas detransmisso j em operao ou ainda em fase de concesso.

    A literatura tcnica da rea apresenta diversas metodologias para estimar as taxas de desligamento de linhasfrente s descargas atmosfricas. Dentre elas destacam-se as metodologias que consideram um conjunto deformulaes analticas desenvolvidas pelo Conselho Internacional de Grandes Sistemas Eltricos (CIGR, dofrancs Conseil International des Grands Rseaux lectriques) e pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e

    Eletrnicos (IEEE, do ingls Institute of Electrical and Electronics Engineers). Estas duas metodologias de

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    avaliao de desempenho so amplamente utilizadas pelas empresas do setor eltrico em decorrncia dasimplicidade dos seus clculos e sua facilidade de aplicao.

    Tais metodologias adotam diversas aproximaes, nem sempre sendo comprovada a generalidade de suasaplicaes. Dentre as simplificaes adotadas, destacam-se a modelagem do transitrio eletromagntico em torrese condutores da linha, a modelagem do comportamento impulsivo dos aterramentos eltricos das torres(representados por resistncias), a representao da forma de onda da corrente de descarga (considerada comcrescimento linear e constante) e o critrio para aferio da disrupo eltrica ao longo das cadeias de isoladores

    das linhas (geralmente baseado apenas no valor de pico da sobretenso).Este conjunto de simplificaes e aproximaes tem potencial para interferir nos resultados apresentados por taismetodologias, modificando a taxa calculada de desligamentos por 100 km de linha ao ano. Como consequncia,tais simplificaes resultam em avaliao errneas de desempenho das linhas de alta tenso, influenciando natomada de deciso referente sua proteo.

    Neste contexto se insere o presente trabalho que tem como objetivo apresentar e discutir os principais aspectosdas metodologias do CIGR e IEEE para avaliao de desempenho de linhas de transmisso frente s descargasatmosfricas, em termos da ocorrncia de backflashovere avaliar o impacto de determinados parmetros no ndiceque mensura tal desempenho. Alm disso, pretende-se apontar as diferenas destas metodologias, comparandoseus resultados com aqueles obtidos pela aplicao de metodologia consistente e avanada baseada no uso deelaborado modelo computacional (HEM) para o clculo das sobretenses resultantes nas cadeias de isoladores delinhas reais e aplicao do mtodo da integrao (DE) para definio de ocorrncia de arco eltrico entre osisoladores da linha devido a essas sobretenses.

    Para suportar as anlises de sensibilidade apresentadas neste trabalho, simulaes computacionais foramdesenvolvidas considerando uma configurao real de linha de transmisso de nvel de tenso de 138 kV emoperao no Brasil.

    2. METODOLOGIAS TRADICIONAIS DE CLCULO DE DESEMPENHO DE LT'S

    2.1 Viso Geral

    As metodologias do CIGR e do IEEE para o clculo de desempenho de linhas de transmisso frente s descargasatmosfricas consideram desenvolvimentos analticos que buscam transcrever de forma simplificada ocomportamento transitrio das sobretenses resultantes pela incidncia direta de descargas na linha. Uma srie detrabalhos apresentados na literatura ao longo dos anos contribuiu para o desenvolvimento das formulaes esimplificaes adotadas. Os detalhes principais de cada uma dessas metodologias esto compilados em (3)(metodologia do CIGR) e em (4-6) (metodologia do IEEE). Maiores informaes podem ser obtidas em (7).

    De forma geral, componentes do sistema como torres, cabos para-raios e cabos fase so modelados porimpedncias de surto, enquanto os aterramentos eltricos so modelados por resistncias. Com base emformulaes analticas que consideram os efeitos de reflexes nos aterramentos das torres da linha, promove-se oclculo das sobretenses desenvolvidas nas cadeias de isoladores devido a incidncia direta de descarga na linha.A partir das sobretenses resultantes, realizada a avaliao da corrente crtica de descarga que resultaria emsobretenso capaz de provocar a ruptura do isolamento da linha. Finalmente, distribuies de probabilidadeacumulada das amplitudes de corrente de descargas so utilizadas para se estimar o nmero de desligamentos dalinha.

    importante destacar que os desenvolvimentos atuais das metodologias do CIGR e do IEEE consideram oclculo das taxas de desligamento por backflashover associados apenas incidncia de primeiras descargas

    negativas em linhas. Entretanto, alguns trabalhos recentes tm indicado a possibilidade de ocorrncia debackflashovertambm por descargas subsequentes (8,9).

    2.2 Modelagem e Principais Aproximaes Adotadas

    a) Componentes do sistema

    Ambas as metodologias representam a torre e os condutores da linha de transmisso por meio de suas respectivasimpedncias de surto. A metodologia do IEEE, especificamente, ainda permite que o efeito corona em torno doscondutores seja representado.

    O aterramento eltrico das torres modelado como uma resistncia de valor referente ao obtido por medio embaixa frequncia e para baixas amplitudes de corrente. Ambas metodologias permitem a representao do efeito deionizao do solo.

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    b) Representao das ondas de corrente e tenso

    As formulaes analticas de ambas as metodologias assumem o clculo das sobretenses ao longo das cadeiasde isoladores associado a ondas de corrente com crescimento linear e constante da frente de onda. No entanto,diferentes consideraes so utilizadas para determinao do tempo de frente desta corrente, conforme indicadoem (7).

    c) Critrios para determinao da ruptura de isolamento

    A metodologia do CIGR adota a denominada tenso crtica disruptiva para onda no-padronizada (CFO NS, doingls non-standard critical flashover overvoltage). Este valor de tenso obtido multiplicando o CFO da linha(tenso de 50%) por um fator que considera a tenso de servio da linha e a constante de tempo da onda detenso desenvolvida na cadeia de isoladores. Caso o valor de pico da sobretenso na cadeia de isoladores sejaigual ou superior ao CFONS, considera-se a ruptura do isolamento.

    O critrio recomendado pela metodologia do IEEE se baseia na denominada curva v-t que relaciona o valor desobretenso no qual ocorre a disrupo do isolamento da linha com o instante de tempo no qual ocorre estadisrupo. Caso a sobretenso desenvolvida na cadeia de isoladores ultrapasse algum valor de tenso que constena curva v-t associada, considera-se a ruptura do isolamento.

    d) Distribuio de probabilidade acumulada do valor de pico da corrente de descarga

    As metodologias do CIGR e IEEE adotam diferentes distribuies para determinao da taxa de desligamentos delinhas. A distribuio utilizada pelo CIGRE se baseia na integrao de uma funo densidade de probabilidade (3),enquanto a metodologia do IEEE utiliza uma equao simplificada (4). A Figura 1 apresenta a comparao entre ascurvas dessas distribuies.

    0102030405060708090

    100

    0 20 40 60 80 100

    P(I>Ic)(%)

    Corrente crtica (kA)

    CIGRE

    IEEE

    FIGURA 1 Distribuies de probabilidade acumulada do pico de corrente de primeira descarga utilizadas pelas

    metodologias do CIGR e IEEE.

    Conforme pode-se observar, na faixa entre 20 e 60 kA as distribuies so bastante semelhantes. Alm disso, adistribuio de correntes adotada pela CIGRE considera uma menor probabilidade de ocorrncia de correnteselevadas em relao distribuio do IEEE.

    e) Clculo da taxa de desligamentos por backflashover

    Ambas as metodologias consideram no clculo da taxa de desligamentos por backflashover (BFR, do inglsBackflashover Rate) apenas a incidncia de descargas na torre. Para que seja considerado o efeito das menoressobretenses associadas s descargas que incidem ao longo do vo, aplica-se um fator de correo ao resultado.CIGR e IEEE sugerem o valor 0,6 para esse fator.

    Sendo assim, a BFR determinada pela multiplicao da probabilidade da corrente crtica ser excedida pelonmero de descargas que incidem na linha e pelo fator 0,6.

    3. DESENVOLVIMENTOS

    As anlises apresentadas neste trabalho consideram a incidncia direta de descarga no topo da torre de uma linhade transmisso real de nvel de tenso 138 kV, com altura mdia de 30 m, conforme indicado na Figura 2(a). Ocomprimento mdio dos vos de 400 m. A tenso de 50% (CFO) da linha 650 kV. A Figura 2(b) apresenta osdetalhes da configurao da torre de 138 kV simulada.

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    2,9 m

    1,65 m

    23,2

    5m

    30m

    0,8 m

    3,03 m

    3,72 m1,86 m

    6,0 m

    (a) (b)FIGURA 2 Representao do evento simulado (a) e detalhes da configurao da torre da linha de 138 kV (b).

    As simulaes consideraram a corrente de descarga com frente de onda de crescimento linear, valor de pico de 31kA e tempo de frente de 3,8 s, conforme ilustrado na Figura 3. Esses valores correspondem aos valores medianosde pico e tempo de frente Td30 recomendados pelo CIGR (3). Os efeitos de ionizao do solo e corona em tornodos condutores da linha no foram considerados.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    0 5 10 15 20 25 30

    Corrente

    (kA)

    Tempo (s) FIGURA 3 Forma de onda de corrente considerada nas anlises.

    Como as metodologias do CIGR e IEEE adotam diferentes formulaes para determinao da taxa de incidnciade descargas que atingem a linha (NL), definiu-se um valor nico e fixo a ser considerado nos clculos. Este valorcorresponde incidncia de 30 descargas por 100 km de linha ao ano.

    A partir da configurao da linha e da corrente injetada, foram calculados os valores de pico das sobretensesresultantes nas cadeias de isoladores e os correspondentes valores de amplitude de corrente que resultariam em

    ruptura do isolamento da linha (corrente crtica). Com base na probabilidade de ocorrncia dessas correntes,determina-se a taxa de desligamento esperada para a linha de transmisso.

    4. RESULTADOS E ANLISES

    4.1 Caso simplificado Resistncia de aterramento (Rat): 20

    Os resultados apresentados neste item consideram um nico valor de resistncia de aterramento ao longo de todaa extenso da linha, sendo este igual a 20 .

    Os valores de pico das sobretenses resultantes nas cadeias de isoladores da linha de acordo com asmetodologias do CIGR e do IEEE so apresentados na Tabela 1.

    Tabela 1 - Valores de pico das sobretenses resultantes nas cadeias de isoladores superior, intermediria e inferiorcalculados utilizando a metodologia do CIGR e do IEEE. (Rat = 20 )Cadeia deisoladores Vpico (kV)

    CIGREVpico (kV)

    IEEE

    Variao emrelao a CIGRE

    (%)Superior 489,3 499,5 +2,1

    Intermediria 502,9 514,7 +2,3Inferior 516,5 526,8 +2,0

    Os resultados da Tabela 1 indicam valores de sobretenso muito prximos calculados pelas metodologias doCIGRE e do IEEE. Observa-se que as sobretenses referentes metodologia do IEEE so levemente superiores aproximadamente 2%. Alm disso, ambas as metodologias indicam a cadeia de isoladores inferior como aquelaque apresenta as sobretenses mais severas.

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    A Tabela 2 apresenta os valores de corrente crtica e a taxa de desligamentos por backflashovercalculadas pelasmetodologias do CIGR e IEEE com base no desempenho da cadeia de isoladores inferior. A anlise considera ataxa de incidncia de descargas por 100 km de linha ao ano (NL) igual a 30.

    Tabela 2 Corrente crtica e taxa de desligamentos por backflashover(BFR) - (Rat = 20 ).

    CIGRE IEEEDiferena em

    relao a CIGRE(%)

    Ic (kA) 41 64 +56,2BFR 6,6 2,4 -63,6

    Apesar dos valores das sobretenses calculados pelas metodologias serem muito prximos, conforme indicado naTabela 1, verifica-se que a corrente crtica determinada pela metodologia do IEEE aproximadamente 56% maiordo que aquela calculada pela metodologia do CIGR. Esta diferena tem impacto direto na determinao da taxade desligamentos da linha. Os resultados indicam a diferena significativa entre as taxas resultantes: 6,6 (CIGR)versus 2,4 (IEEE) desligamentos/100 km/ano, representando uma diferena superior a 60%. Tal variao na taxaresultante se deve aos distintos critrios para determinao da ocorrncia de disrupo do isolamento da linha e asdiferentes distribuies de probabilidade acumulada dos picos de corrente adotados pelas metodologias.

    Conforme apresentado na seo 2, a metodologia do CIGR utiliza a tenso crtica disruptiva para onda no-padronizada (CFONS) como parmetro para determinar a ruptura do isolamento da linha. De acordo com ascaractersticas da linha de 138 kV sob anlise e os parmetros de simulao utilizados, este valor de 683 kV e

    corresponde amplitude de corrente crtica de 41 kA, ou seja, correntes acima de 41 kA causariam ruptura doisolamento da linha. De acordo com a distribuio de probabilidade acumulada do CIGR, aproximadamente 36%das correntes excedem essa condio.

    J a metodologia do IEEE determina a tenso crtica para disrupo com base na curva v-t da cadeia deisoladores. De acordo com as caractersticas da linha sob anlise e os parmetros da simulao, este valor detenso equivale a 1088 kV, correspondendo a um valor de corrente crtica de 64 kA. A distribuio de probabilidadeacumulada do IEEE indica que aproximadamente 13% das correntes de primeira descarga excedem essacondio.

    4.2 Distribuio no-uniforme dos valores de resistncia de aterramento ao longo da linha

    Os resultados obtidos considerando um valor fixo de 20 para as resistncias de aterramento das torres da linhaindicaram a grande diferena nas taxas de desligamentos calculadas pelas metodologias do CIGR e do IEEE. Demodo a estender a avaliao para uma condio mais representativa, simulaes complementares foramrealizadas considerando a distribuio de resistncias de aterramento ao longo da linha indicada na Tabela 3.

    Tabela 3 Distribuio percentual dos valores de resistncia de aterramento das torres da linha de 138 kV.Raterramento() % de ocorrncia ao longo da linha

    10 414 616 820 2024 3028 1632 836 440 350 1

    As sobretenses resultantes na cadeia de isoladores inferior e os respectivos valores de corrente crtica foramcalculados para cada valor de resistncia de aterramento conforme as consideraes particulares de cadametodologia. As taxas de desligamento por backflashoveraferidas para cada valor de resistncia de aterramentoesto listadas na Tabela 4.

    De acordo com os resultados obtidos, a metodologia do IEEE responsvel pelas menores taxas dedesligamentos, independentemente do valor de resistncia de aterramento. A diferena em relao s taxasaferidas pela metodologia do CIGR varia entre 71% e 33%, sendo maior a diferena para os menores valores deresistncia de aterramento.

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    Tabela 4 Taxa de desligamentos por backflashover(BFR) para cada valor de resistncia de aterramento da linha.BFR

    Raterramento() CIGRE IEEEDiferena em

    relao aCIGRE(%)

    10 2,3 0,7 -70,9%

    14 4,0 1,2 -69,2%16 4,9 1,6 -67,8%20 6,6 2,4 -63,7%24 8,0 3,3 -59,3%28 9,3 4,2 -54,9%32 10,3 5,1 -50,3%36 11,2 6,0 -45,8%40 11,9 6,9 -41,8%50 13,2 8,9 -32,9%

    A taxa total de desligamentos da linha por backflashover obtida ponderando-se cada um dos valores obtidos naTabela 4 com a distribuio de resistncia de aterramento indicada na Tabela 3. O resultado final apresentado naTabela 5.

    Tabela 5 - Taxa de desligamentos por backflashover(BFR) da linha.

    CIGRE IEEEDiferena em

    relao a CIGRE(%)

    BFR 7,7 3,3 -57,1

    Para a distribuio de resistncias de aterramento considerada, a taxa de desligamentos relativa metodologia doIEEE aproximadamente 57% menor do que a taxa calculada pela metodologia do CIGR.

    4.3 Comparao com a metodologia HEM + DE

    Nesta seo avalia-se o impacto das simplificaes adotadas pelas metodologias do CIGR e do IEEE emcomparao com resultados gerados por metodologia avanada que considera a modelagem apurada dos

    elementos do sistema e o uso de critrio que considera a dinmica do comportamento da onda de sobretenso noprocesso de disrupo do isolamento da linha. Nesta metodologia, utiliza-se o modelo computacional HEM (HybridElectromagnetic Model) para clculo das sobretenses nas cadeias de isoladores (10) e o Mtodo da integrao -DE (11) como critrio para anlise da ruptura do isolamento da linha.

    a) Detalhes dos modelos aplicados

    Uma das variveis de maior relevncia no clculo do desempenho de linhas frente s descargas atmosfricasconsiste na sobretenso desenvolvida nas cadeias de isoladores da linha. As imprecises associadas ao clculodesta varivel podem promover erros considerveis nas estimativas das taxas de desligamento. Neste contexto, ouso de modelos eletromagnticos, apesar de implicar em maior tempo de processamento, possibilita gerarresultados mais precisos e de validade generalizada em relao aos obtidos por modelagens com abordagemanaltica ou de representao por elementos de circuitos. Alm disso, modelos eletromagnticos permitemrepresentar o sistema fsico diretamente a partir da geometria da torre e dos condutores envolvidos e dasconstantes dos meios onde estes esto imersos, contemplando automaticamente os complexos acoplamentoseletromagnticos e os efeitos de propagao no sistema. O modelo HEM um modelo eletromagnticoamplamente utilizado na literatura para o clculo da resposta de linhas de transmisso frente s descargasatmosfricas. Os detalhes deste modelo, bem como a sua validao com base em resultados experimentais, soapresentados em (10, 12-13).

    O mtodo da integrao - DE (11), consiste em critrio rigoroso para verificao da condio de ruptura deisolamento em linhas. Ao contrrio dos mtodos adotados nas metodologias do CIGR e IEEE que se baseiamapenas no valor de pico da onda de sobretenso, o mtodo DE considera o comportamento da forma de onda desobretenso no processo de disrupo do isolamento da cadeia de isoladores, podendo ser aplicado parasobretenses geradas por correntes representativas de descargas.

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    b) Comparao de resultados

    Os resultados relativos ao desempenho da linha de 138 kV obtidos anteriormente pela aplicao das metodologiasdo CIGR e do IEEE considerando o valor de 20 para as resistncias de aterramento so utilizados paracomparao.

    A Tabela 6 apresenta os valores de sobretenso calculados para as cadeias de isoladores superior, intermediria einferior.

    Tabela 6 - Valores de pico das sobretenses nas cadeias de isoladores da linha de 138 kV (Rat = 20 ).

    Cadeia deisoladores

    Vpico (kV)CIGRE

    Vpico (kV)IEEE

    Vpico (kV)HEM

    Diferena HEMem relao a

    CIGRE(%)

    Diferena HEMem relao a

    IEEE(%)Superior 489,3 499,5 527,6 +7,8 +5,6Intermediria 502,9 514,7 539,0 +7,2 +4,7Inferior 516,5 526,8 547,6 +6,0 +3,9

    Conforme pode-se observar, as sobretenses calculadas pelo modelo HEM so superiores em relao quelasdeterminadas pelas abordagens analticas do CIGR e do IEEE. As diferenas variam entre 6% e 8% e entre 4% e6%, respectivamente, sendo as maiores diferenas observadas para a cadeia de isoladores superior. Ademais,todas as metodologias apontaram a cadeia de isoladores inferior como aquela com as sobretenses mais severas.

    A Tabela 7 compara os valores de corrente crtica e taxa de desligamentos por backflashover calculados pelasmetodologias do CIGR e HEM-DE. Nesta anlise, a taxa de desligamentos da linha calculada por ambas asmetodologias considera a distribuio de probabilidade acumulada dos picos de corrente recomendada peloCIGR.

    Tabela 7 Comparao entre os valores de corrente crtica e taxa de desligamentos por backflashover(BFR)calculados pelas metodologias HEM-DE e CIGR (Rat = 20 ).

    HEM-DE CIGRDiferena em

    relao a HEM-DE(%)

    Ic (kA) 51,5 41 -20,4BFR 4,2 6,6 +57,1

    Os resultados obtidos indicam que a taxa de desligamentos da linha determinada pela metodologia do CIGR aproximadamente 57% maior do que a taxa calculada pela metodologia HEM-DE.

    Os valores de corrente crtica e taxa de desligamentos por backflashoverda linha calculados pelas metodologias doIEEE e HEM-DE esto indicados na Tabela 8. Neste caso, adota-se a distribuio de probabilidade acumulada dospicos de corrente recomendada pelo IEEE tambm no clculo da taxa de desligamento pela metodologia HEM-DE.

    Tabela 8 Comparao entre os valores de corrente crtica e taxa de desligamentos por backflashovercalculadospelas metodologias HEM-DE e IEEE (Rat = 20 ).

    HEM-DE IEEEDiferena em

    relao a HEM-DE(%)

    Ic (kA) 51,5 64 +24,3BFR 3,8 2,4 -36,8

    Os resultados obtidos indicam que a taxa de desligamentos da linha determinada pela metodologia do IEEE aproximadamente 37% menor do que a taxa calculada pela metodologia HEM-DE.

    A Figura 4 resume os resultados referentes s taxas de desligamentos aferidas pelas trs metodologias em anlise.

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    FIGURA 4 Taxas de desligamentos aferidas pelas metodologias. (Rat = 20 ).

    A anlise conjunta das taxas de desligamentos indica que a metodologia HEM-DE gera resultados intermediriosentre as taxas do CIGR (maior valor) e a taxa do IEEE (menor valor). Em relao aos resultados calculados pelametodologia HEM-DE, pode-se afirmar que as simplificaes e mtodos adotados pelas metodologias do CIGR eIEEE, superestimam e subestimam, respectivamente, as taxas de desligamentos em linhas.

    Alm disso, os resultados mostram o efeito das distribuies de probabilidade cumulativa de corrente nadeterminao da taxa de desligamentos, considerando uma mesma metodologia de clculo.

    Tomando como base a metodologia HEM-DE, observa-se que o uso da distribuio de probabilidade cumulativa do

    CIGR resulta em taxa de 4,2 desligamentos por 100 km/ano, enquanto a distribuio de probabilidade cumulativado IEEE leva a 3,8 desligamentos/100 km/ano, valor aproximadamente 10% menor.

    Este resultado sugere que a adoo da distribuio cumulativa do IEEE em anlises de desempenho de linhaspode resultar na obteno de menores taxas de desligamentos.

    5. CONCLUSES

    Este trabalho apresenta uma avaliao relativa qualidade dos resultados das metodologias tradicionais de clculode desempenho de linhas frente s descargas atmosfricas. Especificamente, abordou-se as metodologias doCIGR e do IEEE por serem as mais utilizadas pelo setor eltrico.

    Anlises relativas taxa de desligamentos por backflashoverde uma linha real de classe de tenso 138 kV foram

    realizadas. Os resultados obtidos foram comparados com os referentes aplicao de metodologia mais avanadabaseada no clculo das sobretenses nos isoladores por modelo eletromagntico e uso de critrio mais consistentepara anlise da ruptura do isolamento desses isoladores.

    Verificou-se a grande diferena entre as taxas de desligamento calculadas pelas metodologias em estudo, sendoas maiores e menores taxas associadas s metodologias do CIGR e do IEEE, respectivamente. Quanto menor ovalor da resistncia de aterramento da linha, maior a diferena entre as taxas de desligamentos aferidas poressas metodologias. Variaes entre 71% e 33% foram identificadas.

    A comparao com os resultados obtidos pela aplicao da metodologia HEM-DE indicou taxas de desligamentosintermedirias entre aquelas do CIGR e IEEE aproximadamente 36% menor e 58% maior, respectivamente.

    Este conjunto de resultados aponta a necessidade de evoluo das metodologias tradicionais de clculo dedesempenho, a fim de evitar que as simplificaes adotadas por tais metodologias resultem em avaliao errneas

    que influenciam na tomada de deciso referente proteo das linhas frente s descargas atmosfricas.

    6. AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo apoiofinanceiro concedido para a realizao da pesquisa apresentada neste artigo.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    (1) VISACRO, S., Direct Strokes to Transmission Lines: Considerations on the Mechanisms of OvervoltageFormation and their Influence on the Lightning Performance of Lines, J. Lightning, vol.1, pp. 60-68, 2007.(2) VISACRO, S., Descargas Atmosfricas: Uma Abordagem de Engenharia, Ed. ArtLiber, So Paulo, 2005.(3) CIGRE Guide to Procedures for estimating the lightning Performance of Transmission Lines, WG 01 (Lightning),Study Committee 33, 1991.

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    (4) ANDERSON, J. G., Lightning Performance of Transmission Lines. In: Transmission Line Reference Book 345kV and Above. 2. ed. California: Electric Power Research Institute EPRI, 1982. p. 545-597.(5) IEEE. Working Group on Lightning Performance of Transmission Lines. A Simplified Method for EstimatingLightning Performance of Transmission Lines, IEEE Trans. Power App. Syst, v. PAS-104, n. 4, abr. 1985.(6) IEEE. Guide for Improving the Lightning Performance of Transmission Lines. IEEE Std 1243. 1997.(7) SOUZA, R.E., Avaliao de metodologias para anlise de desempenho de linhas de transmisso frente sdescargas atmosfricas, Dissertao de mestrado, PPGEE-UFMG, Julho, 2013.(8) SILVEIRA, F.H., VISACRO, S., De Conti, A. Lightning Performance of 138-kV Transmission Lines: The

    Relevance of Subsequent Strokes, IEEE Trans. Electromagn. Compat., v. 55, p. 1195-1200, dez. 2013.(9) SILVEIRA, F. H.; VISACRO, S.; DE CONTI, A.; MESQUITA, C. R. Backflashovers of Transmission Lines Due toSubsequent Lightning Strokes. IEEE Trans. Electromagn. Compat, v. 54, n. 2, p. 316-322, abr. 2012.(10) VISACRO, S., SOARES, A., HEM: A Model for Simulation of Lightning-Related Engineering Problems. IEEETrans. Power Del., v. 20, n. 2, p. 1026-1028, abr. 2005.(11) HILEMAN, H., Insulation coordination for power systems. Boca Raton, FL: CRC, 1999, pp. 627640.(12) VISACRO, S., SILVEIRA, F.H., Evaluation of current distribution along the lightning discharge channel by ahybrid electromagnetic model, J.Electrostatics,vol.60/2-4,pp.111-120, 2004.(13) SOARES J., A., SCHROEDER, M.A.O., VISACRO, S. "Transient voltages in transmission lines caused bydirect lightning strikes", IEEE Trans. Power Del., vol. 20, pp. 1447-1452, Apr. 2005.

    8. DADOS BIOGRFICOS

    Fernando H. Silveira possui graduao (1999), mestrado (2001) e doutorado (2006) em

    Engenharia Eltrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente professor adjunto II, dedicao exclusiva, do Departamento de Engenharia Eltrica da UFMG epesquisador associado ao LRC (Lightning Research Center) da UFMG. Tem experincia narea de Engenharia Eltrica, com nfase em Sistemas de Energia Eltrica, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: desempenho de linhas de transmisso frente sdescargas atmosfricas, eletromagnetismo aplicado, descargas atmosfricas (modelagemfsica do fenmeno), tenses induzidas por descargas atmosfricas, efeitos causados em redesde energia eltrica e unidades consumidoras pela incidncia de descargas atmosfricas em

    estruturas elevadas e proteo de sistemas eltricos contra os efeitos associados s descargas. autor ou coautorde mais de 20 artigos em peridicos e 75 artigos em conferncias. membro do IEEE, sendo revisor regular doIEEE Transactions on Power Delivery e IEEE Transactions on Electromagnetic Compatibility. representantebrasileiro do WG C4.37 da CIGRE (Electromagnetic Computation Methods for Lightning Surge Studies withEmphasis on the FDTD Method) e membro do GT4 BR01 (Desempenho de Linhas de Transmisso frente aDescargas Atmosfricas) do CIGRE-Brasil.

    Silvrio Visacro nasceu em Belo Horizonte em 1956. Graduou-se (1979) e obteve o mestrado(1983) em Eng. Eltrica pela UFMG e doutorou-se na COPPE/UFRJ (1992). Professor Titularda UFMG na rea de Eng. Eltrica em Eletromagnetismo Aplicado, com nfase nas aplicaesassociadas s Descargas Atmosfricas e aos Aterramentos Eltricos. Em 2001, com o suporteda CEMIG constituiu o LRC - Lightning Research Center, avanado centro de pesquisa dosraios e seus efeitos, onde lidera equipe de 50 membros, dentre docentes, ps-doutorandos ealunos (doutorandos, mestrandos e de Iniciao Cientfica) na realizao de pesquisas de altonvel. autor de dois livros, respectivamente nos temas Aterramentos Eltricos e DescargasAtmosfricas, e de mais de 300 artigos (52 em peridicos), alm de 3 captulos de livrosinternacionais. um dos editores do Journal of Lightning Research e preside o GROUND &

    LPE: Intern. Conference on Grounding and Earthing & Lightning Physics and Effects. Atua no Comit Cientfico deoutros eventos internacionais da rea: SICEL e SIPDA e Coordena a Rede Brasileira de SobretensesAtmosfricas. Foi ou representante brasileiro em vrios grupos de trabalho do CIGRE, sendo inclusive o

    coordenador dos WG C4.406 e C4.33.

    Ronaldo E. de Souza Filho nasceu em Cachoeiro de Itapemirim em 1987. Possui graduao(2011) e mestrado (2013) em Engenharia Eltrica pela Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG). Atualmente aluno de doutorado da UFMG. Participa do grupo de pesquisa LRC(Lightning Research Center) Ncleo de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico emDescargas Atmosfricas. Tem experincia na rea de Engenharia Eltrica, com nfase emTransmisso e Distribuio da Energia Eltrica, atuando principalmente nos seguintes temas:Aterramentos Eltricos, Desempenho de Linhas de Transmisso Frente a DescargasAtmosfricas e Redes de Distribuio Compactas. associado ao CIGR-Brasil.