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Gênero e Performance: problematizando as experiências Kelly Cristina Teixeira 1 Resumo O artigo em questão visa problematizar questões sobre corpo, poder e performance a partir das leituras de Foucault e Judith Butler feitas durante a disciplina Gênero e Sexualidade, aliando-se á experiência da gestação durante o período do Doutorado. Para tanto, parto de um relato etnográfico feito por mim do dia o qual vivi a experiência de passar mal, resultando na mobilização de professores e colegas para me auxiliarem. Algumas questões se fazem presentes: até onde a teoria nos influencia para as performances cotidianas? Como lidar com frustrações que ultrapassam nosso poder de veto, como por exemplo, a falência momentânea do corpo? Qual o significado da gravidez durante o doutorado? Palavras chave: Corpo Poder Performance Doutorado Inicio este artigo com um breve trecho do relato etnográfico que fiz sobre o dia que deixei de sentir poder sobre meu corpo durante a aula ministrada em 11 de novembro de 2014 pelas Profas Dras. Miriam Grossi, Teresa Kleba e Luciana Zucco 2 . Discutiríamos a Unidade V: Gênero e Artes Cênicas, com debate sobre o tema: “Teatro Feminista, Teatro de Mulheres” com as Profas. Dras. Marisa Naspolini e Daniela Novelli. Fazia minhas anotações e quando chegou na historiografia do teatro durante o século XIX, me interessei ainda mais. Comecei a sentir um calor, certa falta de ar, um desconforto e quando olhei para a Profa ela brilhava parecia cercada de estrelinhas. Algo estava errado, pedi para a Isabela que sentava ao meu lado chamar Ana Maria, uma colega de sala colombiana, que faz parte até onde sei do Programa Mais Médicos. Olhei novamente para a professora e ela foi ficando escura e não me lembro de demais nada. Me disseram que saí 1 Artigo de conclusão da disciplina Gênero e Sexualidade, ministrada pelas Professoras Dras. Miriam Grossi, Teresa Kleba e Luciana Zucco 2 Neste dia a Profa. Dra. Luciana Zucco não estava presente.

Gênero e Performance

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O artigo em questão visa problematizar questões sobre corpo, poder e performance a partir das leituras de Foucault e Judith Butler feitas durante a disciplina Gênero e Sexualidade, aliando-se á experiência da gestação durante o período do Doutorado. Para tanto, parto de um relato etnográfico feito por mim do dia o qual vivi a experiência de passar mal, resultando na mobilização de professores e colegas para me auxiliarem. Algumas questões se fazem presentes: até onde a teoria nos influencia para as performances cotidianas? Como lidar com frustrações que ultrapassam nosso poder de veto, como por exemplo, a falência momentânea do corpo? Qual o significado da gravidez durante o doutorado? Palavras chave: Corpo – Poder – Performance –Doutorado

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Gnero e Performance: problematizando as experincias Kelly Cristina Teixeira1 Resumo Oartigoemquestovisaproblematizarquestessobrecorpo,podere performance a partir das leituras de Foucault e Judith Butlerfeitas durante a disciplina GneroeSexualidade,aliando-seexperinciadagestaoduranteoperododo Doutorado. Para tanto, parto de um relato etnogrfico feito por mim do dia o qual vivi a experincia de passar mal, resultando na mobilizao de professores e colegas para me auxiliarem.Algumasquestessefazempresentes:atondeateorianosinfluenciaparaas performancescotidianas?Comolidarcomfrustraesqueultrapassamnossopoderde veto,comoporexemplo,afalnciamomentneadocorpo?Qualosignificadoda gravidez durante o doutorado? Palavras chave: Corpo Poder Performance Doutorado Inicio este artigo com um breve trecho do relato etnogrfico que fiz sobre o dia quedeixeidesentirpodersobremeucorpoduranteaaulaministradaem11de novembrode2014pelasProfasDras.MiriamGrossi,TeresaKlebaeLucianaZucco2. Discutiramos a Unidade V: Gnero e Artes Cnicas, com debate sobre o tema: Teatro Feminista,TeatrodeMulherescomasProfas.Dras.MarisaNaspolinieDaniela Novelli.Faziaminhasanotaesequandochegouna historiografiadoteatroduranteosculoXIX,meinteressei aindamais.Comeceiasentirumcalor,certafaltadear,um desconfortoequandoolheiparaaProfaelabrilhavaparecia cercadadeestrelinhas.Algoestavaerrado,pediparaaIsabela quesentavaaomeuladochamarAnaMaria,umacolegade salacolombiana,quefazparteatondeseidoProgramaMais Mdicos.Olheinovamenteparaaprofessoraeelafoificando escuraenomelembrodedemaisnada.Medisseramquesa

1ArtigodeconclusodadisciplinaGneroeSexualidade,ministradapelasProfessorasDras.Miriam Grossi, Teresa Kleba e Luciana Zucco 2 Neste dia a Profa. Dra. Luciana Zucco no estava presente. rapidamentedasalaecambaleeinocorredorsegurandoa parede e deslizandode lado, devagar e que a Profa. Miriam me amparou antes que eu chegasse ao cho, vindo junto Ana Maria. AcordeideitadanochodocorredorcomaProf Miriam segurando a minha mo, a Prof Daniele de certa forma segurando minhas pernas que estavam dobradas e semiabertas e Ana Maria com a mo em meu pulso e cabea. Escutei a Profa. Teresa chamando o SAMU. Olhei em volta e vi alguns colegas. Queria cavar um buraco no cho e me enterrar, no me lembro daltimavezquemesentidestejeito.Erameuatestadode fraqueza no passei mal a gestao inteira e me vangloriava por isto 3. Orelatoestrepletodequestesqueserotrabalhadasnodecorrerdestebreve artigo.Ocorpootrilhonoqualpercorremaperformance,ofundacionalismo biolgico,permeadaspelanoodepoder.Compartilhamosoentendimentoque Foucault nos oferece de corpo, no qual o mesmo : (...) superfcie de inscrio dos acontecimentos (enquanto que a linguagemosmarcaeasideiasosdissolvem),lugarde dissoluodoEu(quesupeaquimeradeumaunidade substancial),volumeemperptuapulverizao.Agenealogia (...)est,portantonopontodearticulaodocorpocoma histria.Eladevemostrarocorpointeiramentemarcadode histria e a histria arruinando o corpo4. Desta forma, podemos compreender o corpo como uma arena de foras diversas, que se encontram,masaomesmotemposedistanciamoriginandoumcampodelutas.Assim sendo, Foucault continua a nos indicar sua lgica:(...)sobreocorposeencontraoestigmadosacontecimentos passadosdomesmomodoquedelenascemosdesejos,os desfalecimentoseoserros;neletambmelesseatamederepentese exprimem,mas neletambmse desatam eentram em luta,se apagam uns aos outros e continuam seu insupervel conflito5 . Seocorpoamatriavivadosembatescotidianoseconsigotrazsuascicatrizes, conclumos que sob asmarcas das batalhas travadas pesam a noo de poder. E neste sentido,novamenterecorremosaFoucaultparanosapontarseuentendimentosobreo

3 Fragmento dorelato etnogrfico. O mesmo est no anexo ao artigo. 4 FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p. 22 5 Idem, p. 22 conceitodepoderecomoomesmointervmsobreocorpo.Entretanto,necessrio salientar que o autor no desenvolveu uma teoria global sobre o poder e seu intuito no era buscar uma origem do poder.Para ele:Opodernoexiste.Querodizeroseguinte:aideiadeque existe,emumdeterminadolugar,ouemanandodeum determinado ponto, algo que um poder, me parece baseada em uma anlise enganosa e que, em todo caso, no da conta de um nmero considervel de fenmenos. Na realidade, o poder um feixederelaes,maisoumenosorganizado,maisoumenos piramidalizado,maisoumenoscoordenado.Portanto,o problemanodeconstruirumateoriadocoordenado. Portanto,oproblemanodeconstruirumateoriadopoder (...)6. O poder para Foucault uma prtica social, portanto deve ser compreendido como uma relaoenocomoalgounilateral,detalmodo,ondehpoderhtambmocontra poder. Ou seja:Opoderdestaformaintervmatingindoarealidademais concretadosindivduos-oseucorpo-equesesituaaonvel doprpriocorposocial,enoacimadele,penetrandonavida cotidianaeporissopodendosercaracterizadocomomicro-poder ou sub-poder7. ParaFoucaultopoderexercidosobreocorpodasmaisdiferentesformas, como por exemplo: os suplcios, as disciplinas, os mtodos de autoexame e de controle, os mecanismos panpticos de vigilncia, os atos e as prticas confessionais, a confeco delaudospericiaisepsicolgicos,osexamesmdicos,etc.Ocorpoumaconfeco moldada pelo podere pelosaber, no qual a vtima ao mesmo tempo no qual incorpora esta avalanche, mas tambm em algum momento resiste a ela. Porconseguinte,sobremeucorpodiversospoderesagiram,nosomentena ocasioemquepasseimal,antesomesmojcarregavaascicatrizesinclusivedas sanessociais.Mas,nossaanlisesedetmnodia11denovembrode2014, entretanto,nopodemosdeixardemencionarossinaisdeixadossobreomesmoem momentos anteriores.

6 FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Ed. Graal, p. 248 7 Idem, p 20. Antes de desmaiar busquei ajuda ao pedir que chamasse Ana Maria quedetm um saber cientfico sobre o corpo ao se formar em medicina. E pelo fato do meu estgio avanado de gravidez buscaram ajuda no SAMU que tambm atravs de exames rpidos eautilizaodesoromedicarammeucorpoutilizandoseussaberescientficos.H tambm os saberes populares que agiram de uma forma ou de outra em algum momento daquele dia atravs de suposies, como por exemplo, a temperatura muito alta, a falta dearcondicionadoeagravidezavanadaexerceraminflunciasobreafalncia momentneadestecorpoqueestimersonaproduodeoutrocorpo. ConsequentementeaoutilizaranoodepoderemFoucaultindicoqueaomesmo tempoemqueincorporeiospoderes/saberestambmresistiquandocontrariandoas orientaes de repousoem casa retornei para asala de aula. AfrasedeBeauvoirnosenascemulher,torna-semulhermefezrefletir sobre uma mistura de emoes ambguas que tomaram conta de mim desde o incio da gestao, mas em especial este dia.Aps aoesgotamentode meu corpo qual postura deveriatomar:afrgilgrvidaouseuinverso?Resistiraospoderes/saberessobremeu corpoouno?Outraquestoveiotona,oquetodosesperavamdemimaovoltardo desmaio?Serqueesperavamalgooumeualteregocobravadeterminadasposturas? Afinal, a maternidade traz tona sentimentos de acolhimento e s vezes piedade. Mas, tambm de espanto, afinal gravidez e doutorado parece algo incompatvel.Estavaimersaemleiturasfeministas,LindaNicholson8,JoanScott9,Judith Butler10 e a disciplina me fez refletir sobre minha condio mulher- grvida- acadmica.Percebiquelutavapelaigualdade,pormaindaeraingnuamesubmetiaauma identidadehumanagenrica,nolevandoemcontaasdiferenas.Aoadotarapenasa tica da igualdade diante em especial das colegas de classedeixava de fora tambm as diferenas que existiam entre categoria mulheres. Era uma mulher grvida e apesar de serativacomaprticadeexerccios,meucorpoementejnorespondiammaisda mesmaforma,pormaisqueeumeesforasse.Porm,apartirdesuafalncia momentnea pude repensar este desejo de por me tornar uma super mulher. Mas, qual araizdestapostura?MaisumavezretomoBeauvoir,nosenascemulher,torna-se

8NICHOLSON, Linda. "Interpretando o gnero". Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 2, p. 9-41, 2000.9SCOTT,JoanW."Gnero:umacategoriatildeanlisehistrica".EducaoeRealidade,Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, 1990. 10BUTLER,Judith.Problemasdegnero:feminismoesubversodaidentidade.RiodeJaneiro: Civilizao Brasileira, 2003.mulhereeraassimquemeucorpomoldadopelofundacionalismobiolgiconoqual explicitaraNicholsonfoimodelado.EmseuartigoInterpretandoognero,Linda Nicholsonfazumadistinoentreodeterminismobiolgicoeofundacionalismo biolgico. O primeiro sempre recebeu crticas de grupos feministas. Mas, como elucida aautora,arejeioaodeterminismobiolgiconosignificaaausnciadobiolgico para se pensar o social. Segundo Linda Nicholson, "aqui o biolgico foi assumido como abasesobreaqualossignificadosculturaissoconstitudos.Assim,nomomento mesmoemqueainflunciadobiolgicoestsendominada,estsendotambm invocada"11.29AessaabordagemNicholsondonomedefundacionalismobiolgico. Paraela,arelaoentrebiologiaesocializaotornapossveloquepodeserdescrito como uma espcie de noo 'porta casacos' da identidade: o corpo visto como um tipo decabidedepnoqualsojogadosdiferentesartefatosculturais,especificamenteos relativos a personalidade e comportamento. Essa juno de relacionamento entre corpo, personalidade e comportamentoNicholson define defundacionalismo biolgico12. Nicholson destaca que essa compreenso no implica que o corpo seja eliminado dateoriafeminista.Aquestoentoomodocomoseentendeocorpo,tomando-o comomaisumavariveldoquecomoumaconstante.Portanto,seocorpouma construomeusgestos,falas,enfimtudoquemeucorpoexternavadesdeainfncia reproduzia signos em uma performance compelida pela sano social.Al estava a raiz. E, naquele dia em especial no momento em que: sa rapidamente da sala e cambaleei nocorredorsegurandoaparedeedeslizandodelado,devagar(...)tambmera performtico.SegundoButleraperformanceseassemelha-seadramascoletivos,em seuaspectodeaopblicaaqualconstituiaencenaodesignificadosnormatizados em uma sociedade. Deste modo, por meio da performance degnero o corpo imerso numacomposiodegestos,estiloscorporaisemovimentososquaisvogeraruma nooilusriadeumcontnuonotempo13.Nestecasoemquesto,afragilidadeda gravidez, e por conseguinte a fragilidade de gnero.Ao acordar me senti dentro de um caleidoscpio uma priso de vidro sob os olhares emocionados e preocupados.

11 NICHOLSON, Linda. Interpretando o gnero. Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 2, p. 9- 41, 2000.p. 11. 12 Idem. p. 12. 13BUTLER, Judith. Problemas de gnero: feminismo e subverso da identidade. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.Pordespertardeterminadasemoescomojcitei,amaternidadepodeser instrumentalizada no que Luc Capdevila14 chamou de jogos de gnero, ou seja, os jogos degnerodevemserpercebidoscomoinstrumentosnosquaisosatorespolticos recorremafimdeintervirnoespaopblico.Oeternofemininoeoeterno masculinosoempregadosedistoresultaumatensonaencenaoentreoque verdadeiroeoquepercebidopeloadversrio.Osjogosdegneroapresentam-se, portanto,comomscarasemumateatralidade,ouseja,umaperformancedegnero. Mas,apesardoseuusoserestratgicoemmomentosdecriseemuitobem instrumentalizadocomo,porexemplo,pelasMesdaPraadeMaioouporminha personagemdepesquisaHelenaGreco,estanoeraminhainteno.Noobjetivava atravs de uma performance posterior ao desmaio reforar os j tradicionais padres de comportamento, para me proteger ou esquivar de uma situao.De acordo com Cristina Scheibe Wolff em seu artigo Eu s queria embalar meu filho, as Mes da Praa de Maio foram a organizao que mais mobilizou este discurso emocional,oqueemminhainterpretaogeraumaperformancedegnero.Como smbolo de sua luta estas mes usavam a fralda branca exigindo o aparecimento de seus filhos com vida ou punio dos responsveis pelo seu assassinato na Argentina. A fralda passa a se constituir em um instrumento simblico que remete ao cuidado da me para comofilhoeseuusopodeserinterpretadocomoestratgico,poisantesdeserem guerrilheiros, terroristas os jovens de esquerda eram filhos e filhas. Minha personagem depesquisaHelenaGrecotambmseutilizoudestaperformance.Naimagemabaixo nousaafraldanacabeacomoasMesdaPraadeMaio,noteveseusfilhos agredidospelarepresso,maspossuioutroscdigosbemprximosaessasduasmes retratadasabaixo:aidadeeoscabelosbrancosquepossuemamarcadotempo,da experincia,dasalegriasedastristezasquecontememseubojoumvaloreapelo emocional, ou seja materializa, atravs de seu corpo uma performance.

14CAPDEVILA,Luc.Rsistencecivileetjeuxdegenre:France-Allemagne-BolivieArgentine. Deuxime Guerre mondiale anns 1970-1980. Annales de Bretagne et Pays des lOuest. Tome 108, n.2, 2001. Rennes: Press Universitaire de Rennes. Encontro entre Helena Greco e Mes da Praa de Maio nos anos 80 em Belo Horizonte/MG. Fonte: Instituto Helena Greco Passemos a ltima questo proposta por este breve artigo: qual o significado da gravidez durante o doutorado? Medotalvezsejaumadefiniotrgica,entretantopossvel.Medodaquedada produtividade,medodojulgamento,medodedecepcionarnossosprpriossonhos.E por fim medo dos sentimentos que podem a vir despertar. NosimpsiodaAcademiaBrasileiradeCiencias(ABC)em2014sobreo fortalecimentodapresenadamulhernacinciabrasileiraoacadmicoLuiz Bevilacqua,destacouqueaprodutividadedaspesquisadorasbrasileirasapresentauma quedaconsidervelduranteamaternidade,principalmentenoperodode amamentao15. Yraima Cordeiro, fala sobre a insegurana da mulher ao deixar o filho sobre os cuidados de outrem para se dedicar a vida acadmica. Aqui transcrevo alguns trechos da reportagem: essainseguranatalvezsejaresultadodeumacultura fortementepautadapelospreceitoscristos.Professora daFaculdadedeFarmciadaUniversidadeFederaldo Rio de Janeiro (UFRJ), ela opina: "Apesar do Estado ser laico, vivemos em uma sociedade extremamente crist e muitasvezesareligionoscolocanaquelepapelde suporte e apoio famlia."E a entra a noo de culpa judaico-crist,chamadadesndromedeinadimplncia por Nilca Freire. Segundo a pesquisadora, as mulheres estosemprecomaangustiantesensaodeestarem "devendoalgumacoisa",sejaumartigoforadoprazo ou o Natal que chega e elas ainda no tiveram tempo de

15 Disponvel em: http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=3186comprarsequerumalfinete."Paramim,essasndrome decorredoprincipaldesafioquenstemos:encontrar umaformadeequilibrarastarefasdaproduoeda reproduo do viver", afirma.Mas, para a Acadmica Elisa Reis, essa questo deveserrelativizada.Deacordocomela,existecerto consensodequeasnoesbsicasdeigualdadee individualismovmexatamentedaculturajudaico-crist;daideiadequetodomundotemalma.Embora nosejareligiosa,aprofessoratitulardaUFRJ argumentou que esse sentimento no vem s da tradio religiosa."Ofreudianismo,porexemplo,temuma responsabilidadeenormeemnosincutiressanoode culpa. Sempre dizemos que mudar difcil, mas manter tambmo.Ascoisasnosemantmiguaispor inrcia;elascontinuamassimporquehinteressesque reproduzem determinadas prticas", alerta.RepresentantedoCNPqnoencontro,Betina Limatambmcreditouaquedadeproduodas mulheresduranteamaternidadeafatoresexternos religio. Para ela, necessrio "no s que as mulheres estejam socializadas para querer mais na vida pblica e profissional, mas que os homens tambm queiram mais daditavida privada epessoal". E isso, em sua viso, muitodifcilsemumalicenapaternidadeumpouco mais longa16. Assim conclui-se que mulher /me possui dificuldade de congregar o ritmo dos demais acadmicosdevidoanodedicaoexclusivaaacademia.Porm,hqueselevarem consideraoadicotomiaprodutividadeversusculpapornodeixardeladoas responsabilidadesvinculadasaosfilhos,poisosimblicodamaternidadebaseadonoser cuidadorainfluenciaassuasescolhasenousodotempo.SilvanaMariaBitencourtemseu artigoMaternidadeeProdutividade:quandosemenodoutorado17,analisouesta dicotomia maternidade versus produtividade atravs de uma pesquisa de campo com 15 estudantesdedoutoradoregularmentematriculadasentreelas:sem-filhos,gestantese com filhos. Segundo a autora entre as doutorandas sem filhos:

16 Idem 17BITENCOURT,SilvanaMaria.MaternidadeeProdutividade:quandosemenodoutorado Disponvel em: http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1307553680_ARQUIVO_Maternidadeeprodutividade1.pdfAcessoem:15/04/2015.Paramaioresinformaesconsultar:Bitencourt,SilvanaMaria Candidatascincia:acompreensodamaternidadenafasedodoutorado.Tese(doutorado)- Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Cincias Humanas. Programa de Ps-GraduaoemSociologiaPoltica.Florianpolis,SC,2011.Disponvelem: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/95888/290511.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acrticadasdoutorandasdestapesquisasobrea mulherqueescolhecuidardacasaedosfilhosreafirma comoestasestoinfluenciadaspelomovimentofeminista desegundafase,quepostulavaqueopapeldeesposae melimitavaasmulheresaconseguiremuma emancipaoefetivanaesferapblica,poisseriaomodo hierrquicoquesedavasrelaesfamiliaresamaior causa de sua dominao18. J sobre as gestantes, a autora ressalta: Entre as doutorandas gestantes a gravidez pode possibilitar osoutrosquestionaremporqueadoutorandadecidiu poralgoquecomprometerdiretamenteasua produtividade, devido fase de amamentao do beb e de restabelecimentodoseucorpofsico.Agravidezno planejadarompeaideiadeconstruodecarreiraemum plano linear. Para as estudantes gestantes, a maternidade, primeira vista compreendida por meio de um sentimento demedo,medodoestranho,dodesconhecido(...) Diantedestanovasituao,oorientadorvistocomo algumtemido,mastambmalgumquemereceser comunicadorapidamente,poisexisteumarelaode interdependncia com ele nesta fase19. Comungo em parte sua anlise neste perodo, entretanto, a cobrana da prpria gestante (pelomenosestefoimeucaso)maiordoquedeseuspares.Otemidomedodo orientadorrealmentealgoassustador.Recordo-medecontarparaminhaorientadora antes de qualquer familiar e iniciei me desculpando.SobreasdoutorandascomfilhosBitencourtobservaqueasdoutorandasmes enfatizam que sofrem desvantagens em suas qualidades de vida, pois precisam dividir o tempo entre maternidade e Doutorado20.Nodecorrerdotextociteiqueaoengravidarestavaimersaemleituras feministas, entretanto, atualmente percebo que entre as prticas cotidianas vinculadas maternidadeeasteoriasestudadashumaespciedevcuo,oqualaindabusco compreender.Amaternidadevistaporsuanegatividadepelofeminismosalientando queamulher/mefoioprincipalalvoparaadominaomasculina.Aacademia representaaemancipaoparaamulhereagravideznesteperododepesquisase

18 Idem. p. 7 19 Idem.p. 8 20 Idem, p.10. dedicao,juntamentecomacoerosocialsimblicadoconjuntodeatributosdoser me levam a mulher/doutoranda/gravida/me a um conflito subjetivo. Este temporrio, porm tambm deixa seus sinais.ParaFannyTabakcitadaporBitencourtasmulheresquetmfilhosno necessariamenteproduzemmenos.Amaternidadepoderepresentarumperodode baixanaproduoacadmicadurantealgumtempo,masistonodeterminaquea maternidade pode tornar a mulher improdutiva, por isso a maternidade no pode ser um motivo de abandono ao projeto de carreira profissional21. Concluoquese,asrelaesdepodersobreocorpoeasperformances engendradaspelamaternidadesoagudasestassoaindamaispercebidasquandoa mulher se insere no contexto cientfico. Isto se torna claro, por este espao ainda conter demandas de gnero.De tal modo, se ser me padecer no paraso, ser grvida ou me no doutorado pairar no limbo da intelectualidade. Entretanto, se a maternidade uma opo, permanecer no limbo tambm o , ainda que seja transitoriamente.

21 Idem p. 11 Bibliografia BITENCOURT, Silvana Maria. Maternidade e Produtividade: quando se me no doutorado. Disponvel em: http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1307553680_ARQUIVO_Maternidadeeprodutividade1.pdf BUTLER, Judith. Problemas de gnero: feminismo e subverso da identidade. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.CAPDEVILA,Luc.Rsistencecivileetjeuxdegenre:France-Allemagne-BolivieArgentine.DeuximeGuerremondialeanns1970-1980.Annalesde BretagneetPaysdeslOuest.Tome108,n.2,2001.Rennes:PressUniversitairede Rennes. SCHEIBE WOLFF, Cristina. .Eu s queria embalar meu filho. Gnero e maternidade no discursodosmovimentosderesistnciacontraasditadurasnoConeSul,Amricado Sul. Aedos: Revista do Corpo Discente do Programa de Ps-Graduao em Histria da UFRGS, v. 5, p. 117-131, 2013. FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. NICHOLSON,Linda.Interpretando ognero. Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 2, p. 9-41, 2000. SCOTT,JoanW.Gnero:umacategoriatildeanlisehistrica.Educaoe Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, 1990. .