Gerenciamento de Crises Envolvendo Suicidas e Atentados Terroristas

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Bombeiros de Sao paulo

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  • Coletnea de Manuais Tcnicos de Bombeiros

    GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    35

  • COLETNEA DE MANUAISTCNICOS DE BOMBEIROS

    MGCESAT

    MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS

    TERRORISTAS

    1 Edio2006

    Volume 35

    PMESP CCB

    ii

    Os direitos autorais da presente obra pertencem ao Corpo de Bombeiros da Polcia Militar do Estado de So Paulo. Permitida a reproduo parcial ou total desde que citada a fonte.

  • COMISSO

    Comandante do Corpo de Bombeiros

    Cel PM Antonio dos Santos Antonio

    Subcomandante do Corpo de Bombeiros

    Cel PM Manoel Antnio da Silva Arajo

    Chefe do Departamento de Operaes

    Ten Cel PM Marcos Monteiro de Farias

    Comisso coordenadora dos Manuais Tcnicos de Bombeiros

    Ten Cel Res PM Silvio Bento da Silva

    Ten Cel PM Marcos Monteiro de Farias

    Maj PM Omar Lima Leal

    Cap PM Jos Luiz Ferreira Borges

    1 Ten PM Marco Antonio Basso

    Comisso de elaborao do Manual

    Cap Fem PM Ana Rita do Amaral Souza Streinfinger

    Cap PM Edivaldo de Medeiros Quirino

    2 Ten PM Edson Luiz de Moraes

    Sten PM Josemar Soares de Almeida

    Sd PM Srgio Ricardo da Silva Santos

    Comisso de Reviso de Portugus

    1 Ten PM Fauzi Salim Katibe

    1 Sgt PM Nelson Nascimento Filho

    2 Sgt PM Davi Cndido Borja e Silva

    Cb PM Fbio Roberto Bueno

    Cb PM Carlos Alberto Oliveira

    Sd PM Vitanei Jesus dos Santos

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

  • APRESENTAO

    O Presente Manual Tcnico de Bombeiros (MTB-35), trata do Gerenciamento de Crises

    Envolvendo Suicdios e Atentados Terroristas. Seu objetivo fornecer conhecimento acerca

    destas duas modalidades de crises, abordando sinteticamente o atendimento operacional

    por parte das guarnies do Corpo de Bombeiros.

    Est organizado em 7 Captulos, conforme segue:

    Captulo 1 Introduo

    Captulo 2 Crise

    Captulo 3 Suicdio

    Captulo 4 Atendimento a Crise de Tentativa de Suicdio

    Captulo 5 Atentado Terroristas

    Captulo 6 Atendimento a Crise de Atentado Terrorista

    Captulo 7 Referncias Bibliogrficas

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    SUMRIO

    APRESENTAO.............................................................................................. iii1. INTRODUO................................................................................................ 22. CRISE............................................................................................................. 42.1. Histrico de gerenciamento de crises na PMESP....................................... 42.2. Conceito de crise......................................................................................... 52.3. Dimenses do problema.............................................................................. 62.4. Graus de risco ou ameaa: elementos essenciais de informao e nveis .de

    resposta....

    7

    3. SUICDIO........................................................................................................ 93.1. Conceito de suicdio..................................................................................... 93.2. Causas de suicdio....................................................................................... 93.2.1. Perspectiva biolgica................................................................................ 103.2.2. Teorias psicolgicas................................................................................. 103.2.3. Sentido sociolgico................................................................................... 103.3. Transtornos mentais.................................................................................... 123.4. Doenas fsicas............................................................................................ 143.5. Suicdio e fatores scio-demogrficos e ambientais.................................... 143.6. Fatores que potencializam a consumao do suicdio................................ 143.7. Mtodos suicidas e anlise de risco............................................................ 154. ATENDIMENTO A CRISE DE TENTATIVA DE SUICDIO............................. 194.1. Como identificar uma pessoa sob risco de suicdio..................................... 194.2. Abordagem operacional............................................................................... 194.2.1. Orientaes gerais.................................................................................... 204.2.2. Conduta ao lidar com tentativa de suicdio............................................... 214.3. Como abordar a vtima................................................................................ 224.4. O que deve ser feito em uma abordagem psicolgica................................. 224.4.1. Tentar formar vnculo com a vtima.......................................................... 224.4.2. Manter canal de comunicao aberto....................................................... 234.4.3. Olhar para a vtima................................................................................... 234.4.4. Ouvir atentamente.................................................................................... 234.4.5. Respeitar pausas silenciosas................................................................... 234.4.6. No completar frases para a vtima.......................................................... 244.4.7. Repetir, resumir e relacionar idias.......................................................... 244.4.8. Ajudar a encontrar solues..................................................................... 244.4.9. Espao para a vtima perguntar................................................................ 254.5. O que evitar em uma abordagem psicolgica............................................. 254.5.1. Mentir, prometer ou seduzir...................................................................... 254.5.2. Chamar por nomes jocosos...................................................................... 264.5.3. Ser agressivo ou rspido........................................................................... 264.5.4. Ameaar a vtima...................................................................................... 264.5.5. Desafiar a vtima....................................................................................... 264.5.6. Julgar, dar opinio pessoal e aconselhar................................................. 274.6. Fases da abordagem psicolgica................................................................ 274.6.1. Aproximao............................................................................................. 274.6.2. Silncio..................................................................................................... 274.6.3. Apresentao............................................................................................ 274.6.4. Parfrase resumida................................................................................... 274.6.5. Perguntas simples.................................................................................... 28

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    4.6.6. Perguntas complexas............................................................................... 284.6.7. Ajudar a vtima a encontrar soluo......................................................... 284.6.8. Mostrar que normal a pessoa perder o controle em situaes difceis.. 284.7. Cenrios mais comuns de tentativas de suicdio......................................... 294.7.1. Torres de transmisso de energia eltrica................................................ 294.7.1.1. Posio e distncia do bombeiro em relao vtima........................... 304.7.1.2. Estacionamento de viaturas e isolamento do local................................ 314.7.1.3. Riscos potencialmente presentes.......................................................... 324.7.1.4. Equipamentos que o bombeiro deve portar na abordagem psicolgica 334.7.1.5. rgos a serem acionados.................................................................... 334.7.1.6. Informaes relevantes.......................................................................... 334.7.2. Local elevado (Prdios, pontes ou viadutos)............................................ 344.7.2.1. Posio e distncia do bombeiro em relao vtima........................... 344.7.2.2. Estacionamento de viaturas e isolamento do local................................ 354.7.2.3. Riscos potencialmente presentes.......................................................... 364.7.2.4. Equipamentos que o bombeiro deve portar na abordagem psicolgica 364.7.2.5. rgos a serem acionados.................................................................... 37

    4.7.2.6. Informaes relevantes.......................................................................... 374.8. Outros cenrios de tentativa de suicdio...................................................... 385. ATENTADO TERRORISTA............................................................................ 405.1. O terrorismo e seu contexto histrico.......................................................... 405.2. Conceito de terrorismo................................................................................. 415.2.1. Elementos caractersticos do terrorismo................................................... 425.3. Os principais grupos terroristas da atualidade............................................. 425.4. Novas formas de terrorismo...................................................................... 435.4.1. Terrorismo ciberntico.............................................................................. 445.4.2. Terrorismo ecolgico................................................................................ 445.4.3. Terrorismo catastrfico............................................................................. 455.5. Motivos do terrorismo.................................................................................. 455.5.1. Motivao racional.................................................................................... 455.5.2. Motivao psicolgica............................................................................... 465.5.3. Motivao cultural..................................................................................... 476. ATENDIMENTO A CRISE DE ATENTADO TERRORISTA............................ 496.1. Procedimentos operacionais em ocorrncias com artefato explosivo......... 506.1.1. Classificao de ocorrncias com bombas............................................... 506.1.1.1. Ameaa de bomba................................................................................. 506.1.1.2. Localizao de bomba........................................................................... 516.1.1.3. Exploso de bomba............................................................................... 516.2. Procedimentos operacionais em casos de ameaas de bombas................ 516.3. Procedimentos operacionais em casos de localizao de bombas............. 536.4. Procedimentos operacionais em caso de exploses de bombas................ 546.5. Tcnicas de busca e localizao de bombas.............................................. 556.5.1. Regras bsicas de busca.......................................................................... 556.5.2. Seqncia de varredura............................................................................ 566.5.3. Mdulos de varreduras............................................................................. 576.5.4. Simbolismo de cores padronizadas.......................................................... 576.5.5. Identificao de objetos suspeitos............................................................ 587. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................... 59

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  • 1INTRODUO

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    1. INTRODUO

    A expresso gerenciamento de crises parece ser contraditria pois a crise

    emerge do nada e desafia nosso conceito do que normal e bem administrado. O

    termo empregado freqentemente caracterizado por confuso, ou mesmo pnico

    e, ocasionalmente pode induzir os indivduos racionais a recuar ou desistir,

    dependendo do grau de complexidade, gravidade e extenso dos desdobramentos

    oriundos dela, parecendo improvvel e em alguns casos impossvel gerar

    adequadamente os recursos disponveis para solucionar ou minimizar aqueles

    resultados.

    Nos ltimos anos o termo crise sofreu um processo de banalizao sendo

    empregado indistintamente em nosso dia a dia. Na Polcia Militar do Estado de So

    Paulo, o emprego do termo para atendimento operacional e estratgico deu-se em

    1977 atravs da Nota de Instruo n 3EM/PM 003/32 que fazia a distino clara

    entre o acionamento de vrios tipos de policiamento e de servios de bombeiros.

    Dessa poca at hoje passamos por transformaes no cenrio poltico, social,

    cultural, financeiro e religioso acarretando mudanas tambm no modus-operandi

    da Corporao.

    Com esse trabalho pretende-se apresentar a fundamentao bsica para que o

    bombeiro possa gerenciar adequadamente as ocorrncias envolvendo suicdios e

    atentados terroristas buscando primordialmente preservar sua segurana e o

    sucesso do atendimento. Devido a complexidade do tema, v-se que para a

    manuteno da integridade fsica e psicolgica do bombeiro, h necessidade de

    conhecer o manual ora apresentado e ser detentor de qualidades importantes tais

    como raciocnio estratgico e rpido, fluncia verbal com capacidade de negociador,

    controle emocional e timo preparo psico-fsico tendo em vista que algumas crises

    podem perdurar por horas, ser exmio observador de detalhes j que estes so

    indicativos determinantes em circunstncias especiais.

    A crise no deve ser vista como algo apenas negativo. Todo momento de

    crise traz embutida a oportunidade de crescer, a oportunidade de rever conceitos e

    mtodos. No gerenciamento de crises, este lado positivo do fenmeno, muitas

    vezes, o que perdurar da ao institucional do Corpo de Bombeiros. Em suma, h

    que se estar atento para as oportunidades e no deixar de buscar entrever que

    toda crise no fenmeno to somente negativo.

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    2

  • 2CRISE

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    2. CRISE

    2.1. Histrico de gerenciamento de crises na Polcia Militar do Estado de So Paulo

    1977 primeira notcia que se tem na Corporao a respeito de regular o emprego da Polcia Militar em ocorrncias que, como diz a NOTA DE

    INSTRUO N 3EM/PM-003/32 de 25 de agosto de 1977, tinham

    propores anormais, exigindo, portanto, o emprego de vrios tipos de

    policiamento e de servios de bombeiros, seja em recintos ou reas pblicas

    de jurisdio federal, estadual ou municipal. Cita tambm esta NI: ... fatos

    cuja ao principal do policiamento (tumultos, concentraes

    reivindicatrias, passeatas, greves e outros)..., alm de:...fatos cuja ao

    principal do servio de bombeiros (incndios, desabamentos, inundaes,

    desastres ferrovirios e outros)...;

    1988 a NOTA DE INSTRUO N PM3 002/1/88, referente DIRETRIZ N PM 001/1/87 (RPP), tem por finalidade criar a partir de 01 de maro de

    1988, a ttulo experimental, uma Companhia PM integrada por Grupos de

    Aes Tticas Especiais, subordinada ao Comandante do 3 BPChq. Teve em

    sua organizao bsica e destinao de um Capito QOPM e quatro

    Tenentes QOPM. Ficou responsvel por misses especficas, ou seja,

    atendimento de ocorrncias incomuns que exigiam mobilidade, instruo,

    adestramento e preparo logstico especficos, atuando em ocorrncias com

    refns, ocorrncias onde existissem criminosos armados entrincheirados em

    locais de difcil acesso, participao nas aes por ocasio de motins e

    combate ao fogo em estabelecimentos penais para atuar na libertao de

    pessoas apresadas como refns, apoio em fora ao Corpo de Bombeiros em

    caso de incndio com distrbio ou quaisquer circunstncias especiais que

    implicasse em sua atuao;

    1989 a ORDEM COMPLEMENTAR N PM3 001/1/89, referente NI de 1988, altera a subordinao da Cia GATE, passando a ser subordinada

    operacionalmente ao Cmt do CPChq e administrativamente ao Cmt do 3

    BPChq, dando a faculdade ao Cmt do CPChq de propor, dependendo da

    anlise das necessidades e do desenvolvimento operacional do GATE, a

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    criao de pessoal fixo encarregado de observao, reconhecimento e

    negociao nos locais de ocorrncias, onde se enquadrasse o trabalho de

    Policiais Militares masculinos e femininos paisana e psiclogos;

    1989 a DIRETRIZ DE OPERAES N PM3 004/2/89, procura baixar normas e disciplinar o emprego da Cia GATE em aes isoladas ou em

    conjunto com as demais OPM, destacando a atuao em ocorrncias

    incomuns que exigissem mobilidade, instruo, adestramento e preparo

    logstico especficos para emprego em todo o Estado.

    1990 a RESOLUO SSP 22, de 11 de abril de 1990, vem para disciplinar as atividades do Grupo Especial de Resgate da Polcia Civil e do GATE, no

    atendimento de ocorrncias com refns determinando que o GATE

    providencie o isolamento da rea de operaes, e ao GER a direo das

    negociaes, passando a Polcia Militar, atravs do GATE, a assumir a

    ocorrncia, alm da atribuio do isolamento, em caso da negociao ser

    infrutfera, atuando como polcia ostensiva e de preservao de ordem

    pblica, passando a comandar a totalidade da operao, podendo decidir

    quanto oportunidade, convenincia, forma e procedimentos operacionais;

    1996 a NOTA DE INSTRUO N PM3 001/02/96 fixa normas para atuao da Corporao em ocorrncias em que haja emprego conjugado de

    meios e/ou naquelas de grande vulto ou passveis de repercusso,

    principalmente com refns localizados. Busca, portanto, consolidar o tema

    Gerenciamento de Crises em bases doutrinrias.

    2.2 Conceito de crise

    Segundo publicao do Ministrio da Justia na Revista A FORA POLICIAL

    em sua 10 edio, uma crise pode surgir de uma emergncia grave e pode

    manifestar-se de diferentes formas: incndios, inundaes, terremotos, acidentes

    comerciais ou industriais (desastres de aviao, desabamento de minas e derrames

    de petrleo), epidemias, violncia trabalhista, extorso criminosa, levantes polticos,

    insurreies, motins em presdios, ocupao ilegal de terra, etc, bem como

    terrorismo. H vrios conceitos de crise. O primeiro, um conceito geral que

    considera como crise ... uma situao que:

    Ameace metas de alta prioridade do nvel decisrio...

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    Restrinja a quantidade de tempo de resposta disponvel antes da tomada de

    uma deciso e...

    Sua ocorrncia surpreenda os membros do nvel decisrio.

    Um incidente ou situao que envolva a um pas, seus territrios, cidados,

    foras de segurana e possesses ou interesses vitais, que se desenvolva

    rapidamente e gere condies de importncia diplomtica, econmica, poltica ou de

    segurana nacional de tal grau que exija a considerao do compromisso de foras

    militares, foras de segurana interna e recursos nacionais para realizar objetivos

    nacionais.

    A Academia Nacional do FBI (Federal Bureau of Investigation) define crise

    como: Um evento ou situao crucial, que exige uma resposta especial da Polcia, a

    fim de assegurar uma soluo aceitvel.

    Segundo o Gabinete de Segurana Institucional da Repblica Federativa do

    Brasil o conceito de gerenciamento de crises vem da etimologia da palavra que nos

    proporciona uma curiosa pista sobre o seu significado atual. O termo crise, que

    possui variaes mnimas em muitos idiomas, origina-se do grego krimein, que

    quer dizer decidir ou, mais apropriadamente a capacidade de bem julgar. A

    primeira e muito apropriada, aplicao do termo ocorreu na medicina. Cumpre

    guardar essa noo, vlida tanto para Hipcrates, Pai da medicina, na Grcia

    Antiga, quanto para ns nos dias de hoje. Na essncia do termo crise h uma

    qualidade, mais arte do que cincia, definida como a capacidade de bem julgar.

    2.3 Dimenso do problema

    Quando se configura uma crise, seja ela de qualquer origem e em especial as

    envolvendo suicidas e atentados terroristas, temos por misso gerenci-la para que

    seja solucionada a bom termo. A articulao das aes necessrias tem origem no

    COBOM, na triagem da ocorrncia, levantando informaes importantes para a

    definio da abordagem operacional a ser adotada.

    O Comandante da operao dever inteirar-se do maior nmero de

    informaes e analisar os efeitos e seus desdobramentos, a fim de minimizar

    possveis potenciais de risco, adotando primeiramente medidas de segurana no

    local para a equipe de servio e para terceiros.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    Da anlise criteriosa da situao pode-se definir a dimenso do problema, que

    poder ser resolvida por uma nica guarnio do CB ou at mesmo envolver uma

    srie de organismos do Governo Federal, Estadual e Municipal, bem como

    entidades civis. O acionamento rpido e o gerenciamento desses rgos exigem

    uma coordenao centralizada.

    2.4 Graus de risco ou ameaa: elementos essenciais de informao e nveis de resposta

    A otimizao de recurso humano e material est intimamente vinculada com o

    grau de risco do evento crtico.

    No super dimensione, nem sub dimensione o grau de risco do evento, procure

    identific-lo perfeita e precisamente.

    Tabela 1: Graus de risco (FBI).

    CLASSIFICAO TIPO EXEMPLOS

    1 GRAU ALTO RISCOAssaltos a banco por um ou dois

    elementos armados de revlver

    sem refns.

    2 GRAU ALTSSIMO RISCO

    Assalto a banco por dois

    elementos armados de

    metralhadora, mantendo trs ou

    quatro refns.

    3 GRAU AMEAA EXTRAORDINRIA

    Terroristas armados com

    metralhadoras ou outras armas

    automticas, mantendo refns a

    bordo de uma aeronave.

    4 GRAU AMEAA EXGENA

    Um indivduo de posse de um

    recipiente, afirmando que o

    contedo radioativo e de alto

    poder destrutivo ou letal, por

    qualquer motivo, ameaa uma

    populao.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    7

  • 3SUICDIO

    MGCESAT

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    3. SUICDIO

    3.1. Conceito

    Existem inmeras conceituaes para suicdio, denotando as mltiplas

    pesquisas, dos mais variados autores, sobre o tema.

    O termo suicdio provavelmente foi utilizado pela primeira vez, em lngua

    francesa, pelo abade DESFONTAINES em 1734 ou 1737, para significar "o

    assassinato ou morte de si mesmo", com o seguinte significado etimolgico:

    Sui = si mesmo;

    Caedes = ao de matar.

    Em peas jurdicas, comum observar-se o uso do termo "autocdio" como

    sinnimo de suicdio, j tendo estes termos passados a constar do lxico.

    Durkheim, conceitua suicdio como sendo todo caso de morte que resulte direta

    ou indiretamente de um ato positivo ou negativo, praticado pela prpria vtima,

    sabedora de que devia produzir esse resultado. A tentativa o ato assim definido,

    mas interrompido antes de resultar em morte.

    Por sua vez Shneidman utiliza o seguinte conceito: o ato humano de cessao

    auto-infligida, intencional" e que pode ser mais bem compreendido como um

    fenmeno multidimensional, num indivduo carente, que define uma questo, para a

    qual o suicdio percebido como a melhor soluo."

    O suicdio resulta de um ato deliberado, iniciado e levado a cabo por uma

    pessoa com pleno conhecimento ou expectativa de um resultado fatal. O suicdio

    constitui hoje um grande problema de sade pblica. Tomada como mdia para 53

    pases, dos quais h dados completos disponveis, a taxa agregada e padronizada

    de suicdio em 1996 foi de 15,1 por 100.000 habitantes. A taxa de suicdio quase

    universalmente mais alta entre homens em comparao com mulheres, por um

    coeficiente agregado de 3,5 homens para cada mulher.

    3.2. Causas

    Segundo GREGRIO, as causas do suicdio so numerosas e complexas. Elas

    so geralmente analisadas sob trs aspectos:

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    3.2.1. Perspectiva biolgica

    Pesquisas indicam que o comportamento suicida acontece em famlias,

    sugerindo que fatores biolgicos e genticos desempenham papel de risco. Algumas

    pessoas nascem com certas desordens psiquitricas tal como a esquizofrenia e o

    alcoolismo, o que aumenta o risco de suicdio.

    3.2.2. Teorias psicolgicas

    Em princpio, o suicdio comparado por muitos psiclogos com os casos de

    neurose.

    Os determinantes do suicdio patolgico esto nas perturbaes mentais,

    depresses graves, melancolias, desequilbrios emocionais, obsesses e delrios

    crnicos.

    O psiquiatra americano Karl Menninger elaborou sua teoria baseando-se nas

    idias de Freud. Ele sugeriu que todos os suicidas tm trs dimenses inconscientes

    e interrelacionadas: vingana/dio (desejo de matar); depresso/desespero (desejo

    de morrer); culpa/pecado (desejo de ser morto).

    3.2.3. Sentido sociolgico

    Socialmente o suicdio um ato que se produz no marco de situaes

    anmicas (desorganizadas) em que os indivduos se vem forados a tirar a prpria

    vida para evitar conflitos ou tenses inter-humanas, para eles insuportveis. Para

    mile Durkheim, a causa do suicdio s pode ser sociolgica. Em seu estudo

    caracterizou trs tipos de suicidas:

    suicida egosta. A pessoa se mata para no sofrer mais;

    suicida altrusta. A pessoa se mata para no dar trabalho aos outros (geralmente pessoas de idade);

    suicida anmico. A pessoa se mata por causa dos desequilbrios de ordem econmica e social. Exemplo: a Revoluo Industrial, tirando empregos de

    algumas pessoas, estimulou-lhes o suicdio. (Enciclopdia Encarta)

    De acordo com os estudos de Gregrio (1996), o suicdio um mal individual-

    social que tanto choca e traumatiza, e que aumenta sobremodo nas situaes de

    crise. Devido a isso, aumentou muito o nmero de suicdios ao mesmo tempo em

    que surgem ou se intensificam crises econmicas. S em Braslia, em 1996, chegou

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    ao assustador nmero de 30 os casos ocorridos, s no comeo do ano, incluindo os

    cometidos em circunstncias espetaculares, com a visvel inteno de chocar, como

    um ltimo, desesperado e nem sempre to eficiente brado contra as dificuldades ou

    dores que os seus protagonistas experimentam.

    Nestas circunstncias, as causas do suicdio so:

    Runas financeiras;

    Vergonha e desonra;

    Desiluses amorosas;

    Doenas surgidas, do corpo e da mente;

    Depresso, solido;

    Medo do futuro, de fatos sabidos ou imaginados.

    Mas, analisando em maior profundidade essas principais razes do tresloucado

    gesto, veremos tambm, sem dificuldade, que no so fatos e ocorrncias, em si,

    que devem ser responsabilizados pela consumao do suicdio, sim a repercusso

    deles na pessoa. O que leva ao desespero no o fato desditoso, mas a maneira

    como a pessoa o elabora. Prova disso que inmeras pessoas esto, por toda

    parte, suportando fardos bem mais pesados que os que levam tantos ao suicdio e

    nem se crem to infelizes assim. Na verdade, correspondendo aos itens acima, que

    desencadeiam os atos extremos, dentre os quais o crime e o suicdio. Poderamos

    listar outros que se referem no aos acontecimentos externos, mas s reaes

    subjetivas perante eles:

    Orgulho pessoal, que se recusa a admitir o fracasso e a repentina ou gradual

    mudana do padro de vida;

    Amor prprio exacerbado, que faz acreditar que sua imagem no possa sofrer

    nenhum arranho ou ferimento, que o tempo e o esforo no possam

    recompor;

    Excessivo apego matria e esquecimento dos "exerccios da alma", expondo-

    se sensao de derrocada, do "tudo acabado", quando um mal fsico ou

    perda emocional cega a pessoa para os caminhos da reabilitao, ainda

    quando trabalhosos e longos.

    Em suma, a verdadeira causa do suicdio no est nas ocorrncias infelizes,

    mas na maneira como a pessoa capitula diante delas, por uma simples questo de

    livre arbtrio mal dirigido.

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    11

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    3.3. Transtornos mentais

    Segundo Amaral, [...] transtornos mentais so alteraes do funcionamento da

    mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, na vida social, na

    vida pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreenso de si e dos outros, na

    possibilidade de autocrtica, na tolerncia aos problemas e na possibilidade de ter

    prazer na vida em geral. Donde se pode concluir que no deixam nenhum aspecto

    da condio humana sem causar dano.

    O termo transtorno mental significa a existncia de uma sintomatologia psquica

    ou de alteraes no comportamento que, em geral, esto associados a sofrimento

    psicolgico e prejuzos no desempenho social e ocupacional da pessoa.

    Os transtornos mentais podem ser classificados de acordo com uma causa

    preponderante, idade de aparecimento ou por caractersticas sintomatolgicas

    comuns. Assim, pode-se citar:

    Transtornos mentais orgnicos (a demncia arterioesclertica dos idosos e a

    Doena de Alzheimer).

    Transtornos mentais e de comportamento devidos ao uso de lcool e outras

    drogas (como a cocana).

    Esquizofrenia.

    Transtornos do humor (como a depresso e o transtorno bipolar).

    Transtornos ansiosos (como as fobias, o pnico, o transtorno obsessivo-

    compulsivo, a hipocondria e as somatizaes).

    Transtornos alimentares (como a anorexia e a bulimia).

    Transtornos do sono (como a insnia e o sonambulismo).

    Transtornos sexuais.

    Transtornos da personalidade.

    Deficincia mental.

    outros transtornos prprios da infncia (como o autismo e o dficit de ateno).

    Os transtornos mentais so bastante comuns e podem ocorrer em pessoas de

    qualquer sexo, idade e classe social. Ainda que os transtornos mentais possam

    ocasionalmente levar uma pessoa ao suicdio, sua importncia em termos de sade

    pblica no est relacionada somente com uma alta mortalidade mas sim com

    incapacidade para o trabalho, retraimento social e maior predisposio a

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    desenvolver doenas fsicas.

    Depresso o diagnstico mais comum em suicdios consumados. Todos

    sentem-se deprimidos, tristes, solitrios e instveis de tempos em tempos, mas

    marcadamente esses sentimentos assim. Contudo, quando os sentimentos so

    persistentes e interferem na vida normal, usual da pessoa, eles tornam-se

    sentimentos depressivos e levam a um de transtorno depressivo.

    Alguns dos sintomas comuns de depresso so:

    Sentir-se triste durante a maior parte do dia, diariamente;

    Perder o interesse em atividades rotineiras;

    Perder peso (quando no em dieta) ou ganhar peso;

    Dormir demais ou de menos ou acordar muito cedo;

    Sentir-se cansado e fraco o tempo todo;

    Sentir-se intil, culpado e sem esperana;

    Sentir-se irritado e cansado o tempo todo;

    Sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decises ou lembrar-se das

    coisas;

    Ter pensamentos freqentes de morte e suicdio.

    Apesar de uma grande variedade de tratamentos estarem disponveis para a

    depresso, existem muitas razes para que esta doena seja freqentemente no

    diagnosticada:

    As pessoas freqentemente ficam constrangidas em admitir que esto

    deprimidas, porque vem os sintomas como um sinal de fraqueza.

    As pessoas esto familiarizadas com os sentimentos associados depresso

    e, ento, no so capazes de reconhec-los como doena.

    A depresso mais difcil de diagnosticar quando as pessoas tm outra

    doena fsica.

    Pacientes com depresso podem apresentar-se com uma ampla variedade

    de dores e queixas vagas.

    Abuso de substncias qumicas tem sido encontrado cada vez mais em

    adolescentes que comeam a ter comportamentos suicidas. Pessoas dependentes

    do lcool que cometem suicdio no s comeam a beber em idade precoce e

    bebem intensamente, como tambm vm de famlias de alcolatras.

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    A presena conjunta de alcoolismo e depresso em um indivduo aumenta

    enormemente o risco de suicdio.

    3.4. Doenas fsicas

    As doenas fsicas se constituem em uma importante motivao para a prtica do suicdio. um fator significativo em cerca de 25% dos suicdios, aumentando em conjunto com o fator idade: cerca de 50% dos suicdios em pacientes com mais de 50 anos e 70% dos suicdios em maiores de 70 anos esto relacionados com o sofrimento por doenas fsicas (Hendin, 1999).

    As condies clnicas associadas a altas taxas de suicdio incluem o cncer, a

    AIDS, a lcera pptica, o traumatismo craniano, a insuficincia renal e a leso da

    medula espinhal.

    3.5. Suicdio e fatores scio-demogrficos e ambientais

    SEXO: Homens cometem mais suicdio que mulheres, mas mais mulheres

    tentam suicdio.

    IDADE A taxa de suicdio tem dois picos: em jovens (15 35 anos) e em

    idosos (acima de 75 anos).

    ESTADO CIVIL: A maioria dos que cometem suicdio passaram por

    acontecimentos estressantes nos trs meses anteriores ao suicdio, como:

    Problemas interpessoais como discusses com esposas, famlia, amigos,

    namorados e rejeio (separao da famlia e amigos).

    FACILIDADE DE ACESSO: O imediato acesso a um mtodo para cometer

    suicdio um importante fator determinante para um indivduo cometer ou no

    suicdio. Reduzir o acesso a mtodos de cometer suicdio uma estratgia

    efetiva de preveno.

    EXPOSIO AO SUICDIO: Uma pequena parcela dos suicdios consiste em

    adolescentes vulnerveis que so expostos ao suicdio na vida real, ou

    atravs dos meios de comunicao, e podem ser influenciados a se envolver

    em comportamento suicida.

    3.6. Fatores que potencializam a consumao de suicdio

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    considerada tentativa de suicdio qualquer ato no fatal de automutilao ou

    de auto-envenenamento. A inteno da morte no deve ser includa nesta definio,

    pois nem sempre manifestada. Por razes no completamente esclarecidas, as

    mulheres cometem trs vezes mais tentativas de suicdio que os homens, no

    entanto, os homens so mais eficazes. Isto porque o sexo feminino recorre aos

    mtodos mais brandos como o envenenamento enquanto os homens usam armas

    de fogo, tendem ao afogamento, enforcamento ou saltando de grandes altitudes. A

    gravidade da tentativa deve relacionar-se com a "potencialidade autodestrutiva" do

    mtodo utilizado.

    Toda abordagem psicolgica deve ser conduzida com o mximo de cuidado e

    ateno, assim como toda vtima deve ser considerada um suicida em potencial,

    porm, a Tabela 1 nos indica alguns fatores que, isoladamente ou relacionados

    entre si, potencializam a consumao do suicdio durante uma negociao.

    Tabela 2: Fatores que potencializam a consumao do suicdio

    ITEM MAIOR PROBABILIDADE X MENOR PROBABILIDADESEXO MASCULINO X FEMININOIDADE MAIOR DE 50 ANOS X MENOR DE 50 ANOSMTODO CRUEL, DOLOROSO X RPIDOSADE DOENA GRAVE X SAUDVELSADE MENTAL PROBLEMAS MENTAIS X SAUDVELOUTRAS TENTATIVAS TENTATIVAS ANTERIORES X PRIMEIRA VEZ

    SOBRIEDADE SOB EFEITO DE DROGAS E ALCOOL X SBRIACASOS NA FAMLIA SIM X NO

    3.7. Mtodos suicidas e anlise de risco

    muito importante a rpida identificao do mtodo escolhido pela vtima para

    a consumao do suicdio, quer seja solicitando maiores informaes ao COBOM

    durante o caminho para a ocorrncia, quer seja atravs de rpida anlise e

    levantamento de informaes no prprio local da ocorrncia.

    Atravs destas informaes o comandante da emergncia poder traar seu

    plano de ao, adotar medidas de segurana no local para a equipe de servio e

    para terceiros e minimizar os riscos.

    Alguns mtodos de suicdio mais freqentes:

    Ferimento com arma de fogo.

    Ferimento com arma branca.

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    Precipitao.

    Envenenamento.

    Atropelamento.

    Exploso.

    Asfixia.

    Queimadura.

    Enforcamento.

    Choque eltrico.

    Cada ambiente de emergncia de tentativa de suicdio, assim como o mtodo

    suicida escolhido ou disponvel para a vtima, deve ser tratado cuidadosamente pela

    equipe de emergncia, visando garantir segurana equipe, vtima e a outras

    pessoas envolvidas. Assim, uma vtima que encharca o corpo de combustvel e

    ameaa atear fogo nas vestes requer proteo total contra incndio por parte dos

    bombeiros no local, requer tambm a montagem de um esquema ttico de combate

    a incndio, isolamento e desocupao do local e uma linha de proteo para o

    negociador. J uma vtima que ameaa se jogar de um viaduto requer uma

    ancoragem para o negociador e para cada bombeiro envolvido, requer o isolamento

    do local, controle do trnsito, afastamento de curiosos e o posicionamento das

    guarnies de suporte bsico e avanado estrategicamente prximas ao local onde

    a vtima possa cair.

    Outras providncias, evidentemente para riscos especficos, que devem ser

    adotadas para segurana aps a anlise da situao:

    Isolar o local.

    Afastar curiosos, familiares e imprensa.

    Posicionamento das equipes no local.

    Utilizar equipamento de proteo individual adequado situao.

    Afastar objetos que possam ser utilizados pela vtima como armas.

    Posicionar um barco no rio prximo ao local onde a vtima possa se jogar.

    Solicitar policiamento para controlar o trnsito local.

    Preparar esquema ttico para interveno rpida que ser utilizada em ltimo

    caso quando a ocorrncia no pode mais ser resolvida atravs da

    negociao.

    Levantar o maior nmero de informaes possveis sobre a vtima.

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  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    Desligar a energia eltrica.

    Cortar o fornecimento de gs.

    Ventilar o local.

    Contatar com a concessionria de energia eltrica para o corte da energia e

    aterramento da torre de alta tenso.

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  • 4ATENDIMENTO A CRISE DE TENTATIVA DE SUICDIO

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    4. ATENDIMENTO A CRISE DE TENTATIVA DE SUICDIO

    4.1. Como identificar uma pessoa sob risco de suicdio

    Nem sempre fcil diagnosticar uma tentativa de suicdio. Para identificar

    esses casos importante estar atento a alguns fatores de risco, tais como:

    Tentativas anteriores de suicdio.

    Ideao de suicdio verbalizada.

    Histria familiar de suicdio ou tentativa de suicdio.

    Conhecimento de casos recentes de suicdio.

    Morte recente de algum prximo.

    Fim de relacionamento afetivo.

    Conflitos familiares.

    Histria de violncia domstica.

    Histria de violncia sexual.

    Depresso e doena psiquitrica.

    Mudana nas condies de sade ou de estado fsico.

    Alcoolismo e uso de drogas.

    Isolamento social.

    Problemas econmicos e de desemprego.

    4.2. Abordagem operacional

    De acordo com o mtodo suicida adotado pela vtima, relevante adotar todas

    as medidas cabveis no sentido de garantir a segurana da cena, no que se refere

    aos profissionais de bombeiros, mesmo que encarregado da abordagem psicolgica,

    conforme demonstra a Figura 1, instalaes e equipamentos envolvidos, outras

    pessoas e tambm vtima, conforme mostra a Figura 2, que tem por finalidade

    minimizar possibilidades de leso grave, no caso de queda da vtima, quer

    intencional ou acidental.

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    Figura 1 Segurana do bombeiro durante a abordagem psicolgica

    Figura 2 Colcho armado no possvel local de queda da vtima

    Os exemplos de segurana das Figuras 1 e 2 aplicam-se a casos de tentativa

    de suicdio no qual a vtima ameaa saltar de local elevado, entretanto devem ser

    adotados os procedimentos conforme Procedimento Operacional Padro especfico,

    de acordo com o mtodo de suicdio escolhido pela vtima, alm de atentar para:

    4.2.1. Orientaes gerais

    Ao chegar prximo ao local da ocorrncia desligue a sirene, quanto mais

    discreta for aproximao, maior ser a chance de se relacionar com a vtima

    de maneira positiva.

    Estabelecer relao com a vtima apresentando-se.

    Chamar a vtima pelo nome.

    Manter concentrao na conversao com a vtima.

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    Utilizar linguagem compreensvel, falar pausadamente e no utilizar termos

    tcnicos.

    Evitar conversas paralelas entre os membros da equipe de resgate na frente

    da vtima.

    Ter uma postura impecvel, calma, gestos confiantes e no ameaadores, ser

    profissional e transmitir segurana.

    Evitar gritar ou mesmo usar fora fsica com a vtima.

    Deixar a vtima falar, deixando-a o mais confortvel possvel.

    Nunca deixar a vtima sozinha at o trmino de seu resgate.

    Antecipar reaes para sua maior segurana.

    Questionar familiares e/ou testemunhas sobre histrico e/ou motivos

    geradores do comportamento atual.

    4.2.2. Conduta ao lidar com tentativa de suicdio

    Chegar ao local da ocorrncia de forma discreta, com sirenes desligadas e

    sem criar tumultos.

    Estudar inicialmente o local, verificando riscos potenciais para a equipe de

    resgate e para a vtima, neutralizando-os ou minimizando-os.

    Isolar o local, impedindo aproximao de curiosos.

    Verificar necessidade de apoio material e/ou pessoal e comunicar a Central

    de Operaes.

    O contato com a vtima dever ser efetuado por apenas um integrante da

    equipe, a fim de estabelecer uma relao de confiana. Os outros

    permanecem distncia sem interferir no dilogo.

    Manter imediatamente dilogo com a vtima, mostrando-se calmo e seguro,

    procurando conquistar sua confiana.

    Manter observao constante da vtima e no deix-la sozinha por nenhum

    instante at o trmino do atendimento.

    Conversar com a vtima de forma pausada, firme, clara, e num tom de voz

    adequado situao.

    Jamais assumir qualquer atitude hostil para com a vtima.

    Procurar descobrir qual o principal motivo de sua atitude.

    Procurar obter informaes sobre seus antecedentes.

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    Aps ter conquistado sua confiana, iniciar o trabalho no sentido de dissuadi-

    la, sempre oferecendo segurana e proteo.

    Aps ter conseguido dominar a vtima, continuar tratando-a com respeito e

    considerao, conduzindo-a para o hospital.

    4.3. Como abordar a vtima

    A observao e a comunicao so duas aes das mais importantes para se

    ajudar ao paciente com comprometimento psquico ou no. Deve-se observar as

    aes do paciente para que possa ter uma leitura de seu estado e poder atravs de

    aes teraputicas, principalmente a inter-relao atravs da comunicao, trazer

    alvio e melhora de seu sofrimento.

    A comunicao pode ser feita atravs da mensagem verbal, como a fala e a

    escrita, como pode ser extraverbal que aquela realizada atravs da expresso

    corporal (postura corporal e mmica facial).

    Nesse sentido, muitas vezes o que expresso por meio da fala, se contrapem

    com o que o corpo ou mmica do rosto expressa. Por exemplo, pode-se dizer adorar

    uma pessoa ao mesmo tempo em que seu rosto expressa dio, raiva e o tom de voz

    se torna elevado, demonstrando ira tambm.

    Faz-se necessrio ento que seja observada a linguagem extraverbal dos

    indivduos que foram atendidos, porque do informaes valiosas para dar-lhes uma

    assistncia, assim como, tentar controlar a prpria comunicao extraverbal,

    passando informaes vtima que pode utiliz-las de uma maneira adequada.

    4.4. O que deve ser feito em uma abordagem psicolgica

    4.4.1. Tentar formar vnculo com a vtima

    O vnculo passa a existir de forma adequada e teraputica quando o

    profissional passa a ter atitudes adequadas para com a vtima e esta por sua vez

    passa a ter segurana e confiana no profissional. Isto deve estar presente desde

    os primeiros momentos do contato.

    O profissional deve dar ateno, saber ouvir, saber compreender e aceitar os

    atos da vtima, orientando-a sobre seu estado e o que dever ser feito, deve se

    identificar de maneira formal (nome, trabalho, funo, por que est ali), o mesmo

    deve ser feito com familiares e/ou acompanhantes; se tornar receptivo vtima,

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    abord-la de forma respeitosa e gentil; sentir-se mobilizado para o seu sofrimento e

    demonstrar que est ali para tentar ajudar.

    Essas questes so de grande ajuda para a formao do vnculo, mas deve-se

    ter em mente que a vtima quem escolhe a quem, quando e como se vincular a

    cada indivduo; uma vez formado esse vnculo deve-se preserv-lo, pois de

    intensa utilidade para se conseguir atitudes e abordagens teraputicas.

    O vnculo facilmente se quebra se a vtima perceber que foi usada, que

    usaram de mentiras, que a ameaam ou desafiam, e, atitudes as mais variadas

    possveis podem ser tomadas, se sentir que o profissional no confivel.

    4.4.2. Manter canal de comunicao aberto

    Quando a vtima estiver desorientada, falando muito, a todo o momento

    mudando de assunto, deve-se colocar limites (fixar assunto, todo vez que sair, fazer

    o retorno, se fazer ouvir).

    4.4.3. Olhar para a vtima

    Devemos olhar a vtima durante o atendimento devido a uma questo de

    respeito, demonstrar ateno, perceber comunicao extraverbal, e, at como

    proteo para o profissional j que se estiver disperso e a vtima tentar uma

    agresso, a capacidade de reao com movimentos ser diminuda e o fator

    surpresa ser fator decisivo.

    4.4.4. Ouvir atentamente

    Tambm para demonstrar ateno, educao e respeito vtima deve-se

    ouvir o que tem a dizer e se possvel manter dilogo, pois momentos de desabafos

    podem trazer alvio de tenso e fazer com que o vnculo se estreite caso haja

    demonstrao de interesse por quem ouve. No caso da vtima estar confusa e

    mudando vrias vezes de assunto, no falar coisas compreensveis, no se deve em

    momento algum demonstrar rejeio, rispidez, ameaa moral/fsica, desafiar e

    corrigir.

    4.4.5. Respeitar pausas silenciosas

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    H pessoas que ao relatar seus conflitos e problemas podem ter um aumento

    de seu sofrimento e por vezes necessitam de uma paralisao, uma pausa para

    poderem reequilibrar-se, ordenar o pensamento, aliviarem as presses.

    Quando ocorrerem essas pausas o profissional deve por alguns instantes

    mant-las e em seguida estimular a vtima a voltar a falar, caso esta no queira no

    se deve insistir e sim respeit-la, orient-la que quando quiser voltar a falar poder

    procur-lo.

    Por outro lado, no se deve deixar por muito tempo em silncio.

    4.4.6. No completar frases para a vtima

    H vtimas que tem o pensamento de forma mais lenta e por isso tem

    dificuldades para se expressar, com isso no conseguem por vezes completar

    frases, falar fluentemente, terminar um assunto. O profissional deve estimul-la a

    concluir a frase, o assunto com suas prprias palavras na tentativa de melhorar o

    curso desse pensamento (estmulo ao normal).

    No caso de estar com fuga de idias (mudar de assunto vrias vezes) deve se

    tentar fixar um assunto e toda vez que ela sair do mesmo, tentar retornar.

    No caso da vtima no conseguir falar de maneira compreensvel, o

    profissional deve orient-la quanto dificuldade de manter a comunicao e se

    mostrar disponvel quando necessrio.

    4.4.7. Repetir, resumir e relacionar idias

    Quando a vtima mantm um dilogo e fornece vrias informaes importantes,

    se faz necessrio que ao final ou ao tempo que achar adequado o profissional repita

    as idias aps um pequeno resumo das mesmas e verifique a repercusso que isto

    promove.

    O profissional ao desenvolver essas idias deve observar a comunicao

    extraverbal assim como as colocaes verbais que venham a ser feitas pela vtima.

    4.4.8. Ajudar a encontrar solues

    Pode-se ajudar a vtima na tentativa de resoluo de seus problemas, mas

    sempre tendo em vista que no devemos dar opinio pessoal, conselho, ver a

    situao como se estivesse vivenciando.

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    A vtima quem deve decidir as coisas por si, deve-se ajud-la fazendo uma

    orientao, relacionando idias, mostrando pontos ou situaes que a mesma no

    v, resumindo seu relato.

    No se deve passar vtima que se quer que ela faa e sim que a mesma

    chegue a uma definio e venha agir em funo da mesma. No devemos dar a

    soluo pronta e sim estimular a vtima na busca da mesma.

    4.4.9. Espao para a vtima perguntar

    Deve-se sempre deixar um espao para que possa se sinta vontade de se

    expressar, assim como no caso que o mesmo tenha necessidade de fazer

    perguntas, tirar dvidas, repetir assuntos, pedir orientao.

    O respeito ao seu sofrimento e as suas necessidades devem sempre estar em

    um primeiro plano para que se possa ser teraputicos na assistncia.

    4.5. O que evitar em uma abordagem psicolgica

    4.5.1. Mentir, prometer ou seduzir.

    Em nenhuma ocasio mentir para passar, pois ao descobrir a verdade sentir-

    se- enganado e o vnculo que possa existir ser perdido.

    Deve-se prometer somente aquilo que atende a resoluo para suas carncias

    emocionais, se apega ou se distancia afetivamente. A vtima pede s vezes carinho,

    proteo, ajuda ou apenas ateno, s vezes pede coisas materiais (bolacha,

    revista, cigarro, etc). Usando de bom-senso, frente a um pedido da mesma, somente

    prometer algo, sempre que isto estiver dentro das possibilidades e de uma atuao

    adequada.

    A vtima de caso psiquitrico de posse das informaes, frente situao em

    que se encontra pode em vrias ocasies fazer tentativas de testes para perceber

    pontos fracos.

    Um dos testes mais comuns quando pede algo e ameaa com agresso se

    no for satisfeita sua vontade.

    Nestes casos nunca devemos ameaar, desafiar ou satisfazer a vontade da

    vtima, de maneira educada orientar sobre o que pode ser feito, assim como lhe

    mostrar a ajuda que pode ser proporcionada.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    Deve-se deixar claro que o profissional do Corpo de Bombeiros no est ali

    para ser ameaado ou agredido.

    Devemos perceber a tentativa da vtima em tirar proveito de uma situao e

    no cair nessa armadilha, para no satisfazer sua vontade caso ela seja

    inadequada ou no teraputica.

    No enganar a vtima dizendo, por exemplo, que ao chegar na unidade vamos

    lhe dar o que pede.Tambm comum acontecer de o profissional frente a essa

    situao e ao se sentir inseguro e/ou com medo satisfaa a vontade da vtima, mas

    lembrar sempre que a vtima pode vir a pedir cada vez mais ao ser atendido na

    primeira e chegar a uma situao insustentvel.

    Por isso, na primeira tentativa de teste j limitar a ao da vtima.

    4.5.2. Chamar por nomes jocosos

    Chamar a vtima pelo seu nome e nunca colocar apelidos, ou, mesmo que de

    forma carinhosa e respeito nunca chamar de irmo, tia, av, mano, etc. No se

    deve fazer comentrios negativos sobre a vtima entre a equipe, com os familiares

    ou acompanhantes.

    4.5.3. Ser agressivo ou rspido

    Em nenhum momento ser agressivos verbal ou fisicamente com a vtima, nos

    casos de agressividade usar da ao fsica somente para se proteger, mas de forma

    alguma para agredir.

    Adotar a tcnica de conteno fsica quando necessrio, procurando no

    agredir a vtima para cont-la.

    Tambm se deve atuar de forma educada e firme, demonstrando ateno, sem

    ser grosseiros, mal-educados, rspidos ou agressivos verbalmente.

    4.5.4. Ameaar a vtima

    Para obtermos uma postura adequada da vtima, em situao nenhuma

    amea-la com presses morais, fsicas ou de tratamento.

    4.5.5. Desafiar a vtima

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    26

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    H vtimas que ameaam o profissional frente a uma situao, mas deve-se

    lidar no com a ameaa e sim com a necessidade da vtima.

    Frente a um desafio mostrar a nossa funo de ajuda, as complicaes que o

    ato ir causar e a postura que ter que adotar em seguida.

    4.5.6. Julgar, dar opinio pessoal e aconselhar.

    Mesmo que a vtima ou familiar pea, no emitir opinio pessoal ou julgar a

    vtima, atos que tenha feito ou que queria fazer, direcionar de maneira enganosa o

    que desejvel que ela faa.

    O mesmo no deve ocorrer quanto a dar conselhos, pois isso pode piorar em

    muito o estado da pessoa.

    comum a equipe que atende a uma tentativa de suicdio, em que considera a

    forma suave ou leve (a pessoa quis chamar a ateno), emitir julgamentos ou

    opinies, dar conselhos do tipo: j que quer morrer por que no d um tiro na

    cabea, se matar pecado, Deus no quer (sic).

    4.6. Fases da abordagem psicolgica

    4.6.1. Aproximao

    A aproximao dever ser calma e silenciosa e com o consentimento da vtima.

    4.6.2. Silncio

    Alguns segundos de silncio so recomendados para a vtima acostumar-se

    com a presena do bombeiro.

    4.6.3. Apresentao

    O bombeiro deve se identificar de maneira formal dizendo seu nome, trabalho,

    funo e por que est ali.

    4.6.4. Parfrase resumida

    Este recurso pode ser utilizado tanto no incio, como em qualquer momento da

    negociao onde, de forma resumida, o negociador diz vtima o que percebe

    diante da situao (do que ouviu da vtima ou do que esta vendo).

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    27

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    O efeito desejado que a vtima sinta que o negociador a entende e percebe

    sua aflio o que poder aumentar o vnculo entre ambos.

    Ex: Eu estou vendo que o senhor est realmente muito nervoso ou Eu estou

    vendo que o senhor est realmente abalado com este fato.

    4.6.5. Perguntas simples

    As perguntas simples tm como resposta o SIM e o NO e tem o objetivo de

    colher informaes da prpria vtima verificando assuntos que a comovem e a

    emocionam, ajudando o negociador a encontrar o motivo principal da sua aflio.

    4.6.6. Perguntas complexas

    A partir do que foi apurado com as perguntas simples e descoberto o motivo da

    aflio da vtima, o negociador dever fixar limites e no divagar para outros

    assuntos.

    4.6.7. Ajudar a vtima a encontrar a soluo

    Em momento algum o negociador dever dizer vtima o que fazer, dever sim

    ajudar a vtima a encontrar a soluo. Ex - Este fato j aconteceu outras vezes?

    Ento vejo que o senhor soube lidar com esta situao!

    A vtima pode falar e fazer coisas no compatveis com a realidade em que est

    inserido, enquanto h outras que se portam como milionrios quando sabido que

    so pobres, que falam serem artistas famosos, que dizem ver monstros, ouvirem a

    voz de Deus, etc. Estas vtimas tm um comportamento que as fazem ficar fora do

    contexto real.

    Em hiptese nenhuma o profissional que atende deve estimular a vtima a se

    manter fora da realidade ou fazer brincadeiras com a situao, por exemplo: ao ver

    uma vtima bater com o chinelo na parede e referir estar matando aranhas no dizer

    que vamos ajud-la ou que tambm est vendo.

    Quando a vtima estiver fora do contexto real deve-se ajud-la dando

    informaes sobre o real, o que verdadeiro, tranqilizar, mostrando segurana.

    4.6.8. Mostrar que normal a pessoa perder o controle em situaes difceis

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    28

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    Tentar de forma singela enquadrar o nervosismo e a aflio da vtima pelo

    assunto em questo como normal. Ex: perfeitamente normal que uma pessoa se

    desespere com a perda de um familiar.

    TODA GUARNIO DEVE ESTAR CONSCIENTE QUE MESMO REALIZANDO TODOS OS PROCEDIMENTOS RECOMENDADOS, A VTIMA PODER CONSUMAR O SUICDIO, E SE ISSO ACONTECER, A GUARNIO NO TER CULPA NENHUMA SOBRE O FATO.

    4.7. Cenrios mais comuns de tentativas de suicdio

    4.7.1. Torres de transmisso de energia eltrica

    Em muitas situaes vtimas de tentativa de suicdio utilizam torres de

    transmisso de energia eltrica, nas quais sobem at onde podem ou consideram

    suficientes para obter xito em seu intento.

    Esta situao normalmente atendida pelo Corpo de Bombeiros e os

    profissionais devem atentar para inmeros quesitos de segurana para os

    bombeiros, para a vtima e para terceiros, alm de atentar para a estratgia

    adequada de atendimento, visando sucesso na operao. Os cuidados necessrios

    esto relacionados a:

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    29

  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    Figura 3 - Exemplo de torre de transmisso de energia eltrica

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    30

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    4.7.1.1. Posio e distncia do bombeiro em relao vtima

    Para efetuar o atendimento desta modalidade de crise dever ser escolhido um

    bombeiro que preencha os requisitos necessrios para a realizao da abordagem

    psicolgica e, este dever, depois de desligada a energia do lado onde a vtima se

    encontra e realizado o aterramento da torre, subir imediatamente, procurando se

    posicionar conforme indicado na figura 4, com o objetivo de no permitir que a vtima

    se desloque para o outro lado da torre.

    Figura 4 Posicionamento para abordagem psicolgica

    Solicitar o imediato desligamento da energia eltrica da linha que passa no lado

    em que a vtima se encontra, momento em que o bombeiro j estar iniciando a

    abordagem psicolgica.

    A posio do bombeiro em relao a vtima dever ser escolhida, na medida

    do possvel, procurando se posicionar estrategicamente, conforme abaixo segue:

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    31

    Distncia = 2 a 3 m

    bombeiro

    vtima

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    A uma distncia que possa ser visto claramente pela vtima, o que facilitar a

    conquista da confiana daquela, durante a abordagem;

    A uma distncia que permita conversar com a vtima sem que haja

    necessidade de gritar ou fazer que a vtima grite;

    A uma distncia que no permita vtima se agarrar ao bombeiro, colocando-

    o em situao de risco;

    importante lembrar que o fato da vtima estar posicionada em determinado

    ponto da torre e no ter sofrido qualquer descarga eltrica, no significa que o

    bombeiro poder seguramente chegar prximo com a linha energizada, pois,

    diversos fatores interferem na distncia de segurana, tais como: umidade do

    ambiente, transpirao, equipamentos metlicos, massa corporal, etc.

    A Tabela 3 apresenta a distncia mnima necessria, de um ponto energizado,

    para que uma pessoa possa se movimentar, inclusive manipulando equipamentos

    ou ferramentas no isolantes, sem o risco de abertura de arco eltrico em relao ao

    seu corpo.

    Tabela 3 Distncias mnimas de segurana.

    CLASSE DE TENSO (KV) DISTNCIA MNIMA (m)13,8 1,1020 1,15

    34,5 1,2069 1,3588 1,45

    138 1,60230 2,20345 3,00440 3,30500 3,80

    Fonte: Apostila da Companhia de Transmisso de Energia Eltrica Paulista - CTEEP

    4.7.1.2. Estacionamento de viaturas e isolamento do local

    Quando da chegada ao local o comandante da operao dever dispensar uma

    ateno especial determinao do local para estacionamento e providncias

    quanto ao isolamento do local, buscando uma condio tal que:

    As viaturas fiquem estacionadas em local que no chame a ateno da

    vtima, a fim de que esta presena no influencie negativamente no resultado

    desejado da operao.

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    32

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    As pessoas, que geralmente esto assistindo o atendimento, fiquem fora do

    campo visual da vtima e no interfiram e, conseqentemente, no dificultem

    a abordagem psicolgica, desviando a ateno da vtima, que neste caso

    conveniente que seu nico contato seja com o profissional de bombeiros que

    executa a abordagem.

    Caso ocorra de populares instigarem a vtima a consumar o suicdio, o

    policiamento dever tomar as providncias para evitar tal situao.

    Figura 5 - Posicionamento de viatura e local para pessoas no envolvidas

    4.7.1.3. Riscos potencialmente presentes

    Existem alguns riscos potenciais que devem ser considerados todo o tempo,

    com o objetivo de garantir proteo para os bombeiros, vtima, demais pessoas

    presente ou prximo e viaturas e equipamentos empregados. Tais riscos se

    constituem de:

    Choque eltrico a vtima, por deciso de consumar o suicdio, poder tocar

    ou lanar-se sobre os cabos eltricos, ou ser atingido pela corrente que

    poder ter o circuito fechado atravs do ar atmosfrico (arco voltaico).

    Queda pessoal (bombeiro ou vtima) durante o atendimento poder ocorrer

    queda do bombeiro ou da vtima, no caso do primeiro, dever estar o tempo

    todo ancorado na estrutura e, no caso da vtima, a queda poder ser acidental

    o proposital.

    Queda de equipamento de bombeiro durante o manuseio dos equipamentos

    poder ocorrer queda de materiais, pondo em risco as pessoas que esto no

    nvel do solo, portanto, alm das atitudes de segurana como posicionamento

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    33

    Frente da vtima

    Estacionamento de viaturase

    Local para terceiros e transeuntes

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    e ateno, os bombeiros que permanecerem embaixo devero utilizar

    equipamentos de proteo individual.

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    34

  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    4.7.1.4. Equipamentos que o bombeiro deve portar na abordagem psicolgica

    Durante a abordagem psicolgica, que ser realizada por um dos bombeiros

    presentes na ocorrncia, em especial quele que preencher o requisitos necessrios

    para a criao de vnculo, este dever subir na torre para se aproximar da vtima e

    iniciar os contatos e, para tanto, dever portar os seguintes materiais e

    equipamentos de proteo individual:

    Capacete de salvamento em altura ou galet;

    Luvas;

    HT;

    Cadeira de salvamento para si prprio;

    Cadeira de salvamento para a vtima;

    Fitas tubulares (para a confeco e instalao rpida de uma cadeira);

    Tringulo de salvamento;

    Folha de papel e caneta (para o caso da vtima preferir comunicao escrita; e

    Cordas, Pea oito e mosquetes;

    Os equipamentos de salvamento em altura (cordas, cadeiras e outros

    materiais) destinar-se-o a manter o bombeiro ancorado durante toda a abordagem

    psicolgica e auxiliar na descida segura da vtima, assim que esta abandonar a idia

    de se suicidar.

    4.7.1.5. rgos a serem acionados

    Neste caso especfico, a Companhia responsvel pelo gerenciamento de

    distribuio ou transmisso de energia eltrica dever ser acionada, esclarecendo-

    se os motivos para que comparea ao local uma ou mais equipes contendo pessoal

    habilitado a efetuar manobras de desligamento total ou parcial da rede, de acordo

    com a necessidade especfica.

    Dever tambm ser acionada viatura de policiamento que auxiliar no

    isolamento e eventualidades ligadas tentativa de suicdio.

    4.7.1.6. Informaes relevantes

    Durante todo o tempo de atendimento, iniciando-se a partir do acionamento da

    viatura e deslocamento para o local, devero ser transmitidas informaes que

    permitam ao Comandante da operao concluir as caractersticas abaixo, que se

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    constituem condies importantes para subsidiar a interveno e levar ao sucesso

    da ocorrncia:

    Possveis causas da tentativa do suicdio, levando o Comandante da Operao

    a concluir quanto a perspectiva biolgica, psicolgica e sentido sociolgico da vtima;

    Situao de sade fsica e mental da vtima;

    Fatores scios demogrficos e ambientais associados ao caso concreto;

    Fatores que potencializam a consumao e eventualmente se encontram

    presentes no caso concreto; e

    Mtodo suicida adotado com seus detalhamentos especficos.

    As informaes devero ser obtidas pelo COBOM e pela guarnio no local,

    atravs de entrevista a familiares, vizinhos e amigos, durante todo o tempo do

    atendimento crise, em especial durante a fase da abordagem psicolgica.

    4.7.2. Local elevado (Prdios e pontes)

    Em muitas outras situaes as vtimas de tentativa de suicdio costumam se

    colocar em fachadas de prdios elevados ou pontes e viadutos, de onde ameaam

    saltar para obter xito em seu intento.

    Esta situao normalmente atendida pelo Corpo de Bombeiros e os

    profissionais devem atentar para inmeros quesitos de segurana para os

    bombeiros, para a vtima e para terceiros, alm de atentar para a estratgia

    adequada de atendimento, visando sucesso na operao. Os cuidados necessrios

    esto relacionados a:

    4.7.2.1. Posio e distncia do bombeiro em relao vtima

    Para efetuar o atendimento desta modalidade de crise dever ser escolhido um

    bombeiro que preencha os requisitos necessrios para a realizao da abordagem

    psicolgica e, este dever posicionar-se em local prximo da vtima, quer seja na

    fachada ou abertura na parede, procurando uma posio estratgica, conforme

    abaixo segue:

    A uma distncia que possa ser visto claramente pela vtima, o que facilitar a

    conquista da confiana daquela, durante a abordagem;

    A uma distncia que permita conversar com a vtima sem que haja

    necessidade de gritar ou fazer que a vtima grite;

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    A uma distncia que no permita vtima se agarrar ao bombeiro, colocando-

    o em situao de risco;

    A uma distncia que permita ao bombeiro segurar a vtima em caso desta se

    atirar.

    A figura 6 exemplifica um situao e mostra a distncia que atendeu, naquele

    caso as exigncias anteriormente especificadas.

    Figura 6 - Posio do bombeiro durante a abordagem psicolgica

    4.7.2.2. Estacionamento de viaturas e isolamento do local

    As viaturas que faro o atendimento ocorrncia de tentativa de suicdio, alm

    da chegada silenciosa ao local, importante que sejam estacionadas em local onde

    no permita a visualizao pela vtima, o que poder, em casos especficos, exercer

    um efeito incmodo para a mesma e, eventualmente, levar o resultado final da

    ocorrncia a termos no desejados pela equipe de bombeiros. O mesmo tratamento

    dever ser dispensado a viaturas de policiamento e pessoas que estejam assistindo

    o atendimento, sendo esta ltima situao resolvida por meio de um isolamento bem

    planejado.

    Em caso de tentativa de suicdio em pontes e viadutos, o trnsito dever ser

    interrompido.

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  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    As guarnies de USA e UR devero permanecer o tempo todo no solo, para o

    caso da abordagem no obter xito e, se a vtima saltar, o atendimento seja de

    imediato.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    38

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    4.7.2.3. Riscos potencialmente presentes

    Durante este atendimento, existem alguns riscos potenciais que devem ser

    considerados todo o tempo, com o objetivo de garantir proteo para os bombeiros,

    vtima, demais pessoas presente ou prximo e viaturas e equipamentos

    empregados. Tais riscos se constituem de:

    Queda pessoal (bombeiro ou vtima) durante o atendimento poder ocorrer

    queda do bombeiro ou da vtima, no caso do primeiro, dever estar o tempo

    todo ancorado em estrutura suficientemente resistente para reter possvel

    queda do bombeiro, vtima ou ambos e, no caso da vtima, a queda poder

    ser acidental ou proposital.

    Queda de equipamento de bombeiro durante o manuseio dos equipamentos

    poder ocorrer queda de materiais, pondo em risco as pessoas que esto no

    nvel do solo, portanto, alm das atitudes de segurana como

    posicionamento, isolamento com fitas e ateno, os bombeiros que

    permanecerem embaixo devero utilizar equipamentos de proteo individual.

    4.7.2.4. Equipamentos que o bombeiro deve portar na abordagem psicolgica

    Durante a abordagem psicolgica, que ser realizada por um dos bombeiros

    presentes na ocorrncia, em especial aquele que preencher o requisitos necessrios

    para um negociador, este dever aproximar-se da vtima e iniciar os contatos e, para

    tanto, dever portar os seguintes materiais e equipamentos de proteo individual:

    Capacete de salvamento em altura ou galet;

    HT;

    Luvas;

    Fitas tubulares;

    Cadeira de alpinista; e

    Cordas, Pea oito e mosquetes;

    Os equipamentos de salvamento em altura (cordas, cadeiras e outros

    materiais) destinar-se-o a manter o bombeiro ancorado durante toda a abordagem

    psicolgica e auxiliar na retirada da vtima para um local seguro, assim que esta

    abandonar a idia de se suicidar.

    A comunicao com o uso de HT entre o bombeiro responsvel pela

    abordagem psicolgica e os outros membros da guarnio dever ser estabelecida

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    atravs de cdigo estabelecido previamente, a fim de que no interfira

    negativamente no vnculo que est sendo estabelecido.

    Os demais bombeiros que estiverem prximos, sem participar da abordagem,

    tambm devero estar ancorados e prontos para ajudar em caso de conteno

    rpida.

    No caso de vtima em sacada de prdio, sempre dever ser montado um 2

    esquema de segurana (abordagem ttica atravs de rapel de impacto). Caso a

    vtima esteja na cobertura de prdio, pontes ou viadutos, o mesmo procedimento

    dever ser adotado, para execuo do salto de abordagem do suicida.

    4.7.2.5. rgos a serem acionados

    Dever tambm ser acionada viatura de policiamento que auxiliar no

    isolamento e eventualidades ligadas tentativa de suicdio.

    4.7.2.6. Informaes relevantes

    Durante todo o tempo de atendimento, iniciando-se a partir do acionamento da

    viatura e deslocamento para o local, devero ser transmitidas informaes que

    permitam ao Comandante da operao concluir as caractersticas abaixo, que se

    constituem condies importantes para subsidiar a interveno e levar ao sucesso

    da ocorrncia:

    Possveis causas da tentativa do suicdio, levando o Comandante da

    Operao a concluir quanto a perspectiva biolgica, psicolgica e sentido

    sociolgico da vtima;

    Situao de sade fsica e mental da vtima;

    Fatores scios demogrficos e ambientais associados ao caso concreto;

    Fatores que potencializam a consumao e eventualmente se encontram

    presentes no caso concreto; e

    Mtodo suicida adotado com seus detalhamentos especficos.

    Caso a vtima esteja posicionada em sacada de prdio, importante saber

    qual o andar, para selecionar a melhor estratgia para montagem de

    equipamentos para uma eventual abordagem ttica, de acordo com os

    Procedimentos Operacionais Padro de salvamento em altura em casos de

    tentativa de suicdio.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    40

  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    4.8. Outros cenrios de tentativa de suicdio

    Diversos outros mtodos de tentativa de suicdio podem ser utilizados,

    conforme exemplos apresentados a seguir, cada um determinando um cenrio com

    especificidades importantes para ser estudado pelo Corpo de Bombeiros, a fim de

    estabelecer a melhor estratgia e melhor ttica para prestar um atendimento com

    bons resultados:

    Uso de lquidos inflamveis no corpo;

    Uso de arma de fogo;

    Exploso de ambiente com uso de vazamento de GLP e GN;

    Uso de arma branca;

    Pulo em rios;

    Enforcamento.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    41

  • 5ATENTADO TERRORISTA

    MGCESAT

  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    5. ATENTADO TERRORISTA

    5.1. O terrorismo e o seu contexto histrico

    O termo terrorismo passou a ser usado no mundo moderno depois que a

    Academia Francesa classificou de perodo do terror o regime poltico existente na

    Frana, entre setembro de 1793 e julho de 1794. Durante este perodo, mais de

    300.000 suspeitos foram presos e 17.000 pessoas foram oficialmente executadas.

    A concepo moderna do emprego do terrorismo como instrumento poltico

    coube ao alemo Karl Heinzen (1809-1880), autor de Das Mord (O assassnio), livro

    que sugere o uso de bombas, veneno e msseis, bem como a aliana dos

    revolucionrios com o submundo da delinqncia e o uso de fanticos decididos a

    sacrificar-se pela causa.

    A filosofia poltica de destruio e violncia inspirou inmeros atos de

    terrorismo praticados por grupos anarquistas no final do sculo XIX e incio do

    sculo XX. O mais importante e conhecido desses grupos, o Narodnaya Volya, foi

    responsvel pelo assassinato do Czar Alexandre II.

    Segue a onda de terror. Em 1878, o rei Guilherme I, da Alemanha, o rei

    Afonso XII, da Espanha, e o rei Humberto da Itlia sofrem atentados bomba, mas

    sobrevivem. Em 1879, o czar Alexandre II escapa de dois atentados. Em 1881,

    porm, em outro atentado, acaba falecendo. No mesmo ano, o presidente

    americano, Garfield, tambm morto em um atentado bomba. Em 1882, quem

    escapa de um atentado a rainha Vitria da Inglaterra. Em 1894, o presidente da

    Frana, Sadi Carnot, morto em mais um atentado. Em 1898, a imperatriz da

    ustria assassinada. Em 1901, o rei Guilherme II, da Alemanha, e o presidente

    americano McKinley sofrem atentados. Guilherme II sobrevive e o presidente

    americano acaba morrendo. Em 1908, o rei de Portugal Carlos I assassinado,

    sorte igual de Vtor Emanuel III da Itlia, em 1912.

    O terrorismo de esquerda ganhou fora no incio dos anos 70, principalmente

    na Europa. Diversos grupos foram considerados terroristas; entre os principais esto

    o ETA, na Espanha; o grupo Baader-Meinhof, na Alemanha; as Brigadas Vermelhas

    e a Primeira Linha, na Itlia; o IRA, na Irlanda do Norte; o Exrcito Vermelho

    Japons, o Hamas, o Al-Fatah e outros grupos terroristas do Oriente.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    40

  • MGCESAT MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS

    O terrorismo das dcadas de 70 e 80, em geral, revelou um alto grau de

    continuidade e de eficincia organizativa. Eram profissionais. As suas principais

    aes foram seqestros de polticos importantes, exploses, seqestro de avies e

    atentados suicidas. Os grupos terroristas dispunham de complexos sistemas

    tcnicos, como armas e meios de comunicao.

    5.2. Conceito de terrorismo.

    uma bomba que explode em um avio em pleno vo, matando 234 pessoas,

    um atentado terrorista? Pode o assassinato de um Chefe de Estado que discursava

    em pblico ser considerado um ato de terrorismo? o lanamento de gs txico no

    metr de uma cidade populosa terrorismo? uma bomba que explode em pleno

    mercado pblico de uma cidade, matando 15 pessoas, um ato terrorista? a tortura

    de presos, comuns ou polticos, em uma delegacia de polcia, um ato terrorista?

    Uma invaso, com blindados, de um assentamento de palestinos por tropas

    israelenses? Caracteriza terrorismo a priso arbitrria e violenta de um indivduo

    acusado de roubo?

    Os pesquisadores do terrorismo reconhecem a dificuldade em conceituar

    terrorismo. Essa dificuldade explica-se, em parte, pela negatividade intrnseca ao

    termo e por ser utilizado para caracterizar pejorativamente a violncia praticada por

    indivduos ou grupos. A indefinio sobre o real significado do termo terrorismo

    tamanha que qualquer ato que empregue a violncia, praticado por indivduos ou

    grupos, pode ser considerado ato terrorista. Em geral, os atentados terroristas

    noticiados pelos rgos de informao descrevem situaes em que vrias pessoas

    foram mortas, nas quais h um grande nmero de feridos e, quase sempre, que

    tenham sido provocadas por exploses de bombas. Todavia, h casos em que

    apenas um homicdio considerado ato de terrorismo.

    O rtulo de terrorista depende de quem pratica e de quem sofre a violncia.

    Para a grande maioria dos israelenses, e principalmente para o Estado de Israel,

    todos os rabes so potencialmente terroristas. Para os povos rabes, que vive nos

    territrios ocupados, o Estado de Israel terrorista. Todavia, a Doutrina

    convencionou denominar de terrorismo a violncia tida como ilegtima, praticada por

    grupos contrrios ao regime poltico vigente.

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    Dessa forma, o terrorismo pode ser entendido como a violncia de grupos ou

    de indivduos praticada contra alvos civis ou militares com o objetivo especfico de

    lutar por uma determinada causa, gerando medo para determinada sociedade.

    Neste sentido ento, so grupos terroristas: o IRA, que luta pela independncia da

    Irlanda do Norte; o Hamas, que luta pela criao de um Estado palestino; o ETA,

    que luta pela independncia do Pas Basco, etc.

    Assim sendo podemos conceituar Terrorismo como o uso de violncia, fsica ou

    psicolgica, por indivduos, ou grupos polticos, contra a ordem estabelecida.

    Entende-se, no entanto, que uma dada ordem pblica tambm possa ser terrorista

    na medida em que faa uso dos mesmos meios, a violncia, para atingir seus fins.

    5.2.1. Elementos caractersticos do terrorismo

    Em razo da dificuldade de encontrar uma definio coerente para terrorismo,

    muitos autores identificam os atos terroristas em seus elementos mais

    caractersticos, comuns a todo ato terrorista. A primeira o fato de causar dano

    considervel a pessoas e a coisas; a segunda a criao real ou potencial de terror

    ou intimidao generalizada, e por fim, a presena de uma finalidade poltico-social

    no ato.

    Os grupos terroristas tambm apresentam algumas caractersticas

    fundamentais:

    A organizao: o terrorismo, que no pode consistir em um ou mais atos

    isolados, a estratgia escolhida por um grupo ideologicamente homogneo.

    manipulao do povo: desenvolve sua luta clandestinamente entre o povo

    para convenc-lo a recorrer a aes demonstrativas que tm, em primeiro

    lugar, o papel de vingar as vtimas do terror exercido pela autoridade e, em

    segundo lugar, de aterrorizar esta ltima, mostrando como a capacidade de

    atingir o centro do poder o resultado de uma organizao slida; e

    de uma ampla possibilidade de ao, atravs de um nmero cada vez maior

    de atentados.

    5.3. Os principais grupos terroristas da atualidade

    Atualmente, o governo norte-americano identifica, aproximadamente, 30 grupos

    espalhados pelo mundo como sendo organizaes terroristas. Muitos deles existem

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

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    h mais de 30 anos e outros foram formados recentemente. Para ser enquadrado

    como terrorista, o grupo deve lanar mo da violncia contra civis e estar em

    atuao, ou seja, praticando atentados. Isto porque existem alguns grupos que ainda

    so considerados terroristas, mas que esto livres de sanes. o caso do IRA, que

    desde 1997 mantm um cessar-fogo com o governo Britnico.

    No Oriente Mdio, destacam-se os grupos: Organizao ABU NIDAL,

    HIZBOLLAH (Partido de Deus), JIHAD ISLMICA DA PALESTINA, HAMAS

    (Movimento de Resistncia Islmica), Frente de Libertao da Palestina e o AL-

    FATAH. Todos lutam, basicamente, pela formao de um Estado palestino

    independente. Provocam atentados lanando mo basicamente de bombas,

    metralhadoras e os temidos homens-bomba - pessoas que sacrificam suas vidas,

    utilizando seus corpos para denotar grande quantidade de explosivos em locais

    pblicos.

    Na Europa, o principal grupo terrorista em plena atividade o ETA (Ptria

    Basca e Liberdade). Atua basicamente na Espanha e na Frana e defende desde

    1959 a criao de um Estado basco no norte da Espanha. Os seus principais alvos

    so militares, polticos e juzes espanhis.

    Na Amrica Latina destacam-se, na Colmbia, as FARC (Foras Armadas

    Revolucionrias da Colmbia) e o ELN (Exrcito de Libertao Nacional); no Peru, o

    grupo Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionrio TUPAC AMARU.

    Outros grupos espalhados pelo mundo e citados pelo Departamento de Defesa

    dos EUA so: Grupo ABU SAYYAF, Filipinas e Malsia; Exrcito Vermelho Japons

    e Ensinamento da Verdade Suprema, Japo; o Movimento Islmico do Uzbequisto,

    Uzbequisto e Tadjquisto, entre outros.

    O mais temido, todavia, o grupo terrorista de OSAMA BIN LADEN, a AL

    QAEDA, que significa a base. O grupo foi formado no final dos anos 80 com o

    objetivo inicial de reunir rabes para expulsar os soviticos do Afeganisto. No ano

    de 1989, quando finalmente os soviticos se haviam retirado do territrio afego, Bin

    Laden teria iniciado a sua guerra santa contra o mundo o