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1 PROGRAMA DE MELHORIA DO PROCESSO DE SOFTWARE BRASILEIRO (MPS.BR): Um estudo de caso sobre a aplicação do nível G em uma empresa de desenvolvimento de software Cheila Graciela Gobbo Bombana 1 , Gema Luciane Agliardi 2 RESUMO Na realidade atual das micro, pequenas e médias empresas de desenvolvimento de software, qualidade é um fator diferencial para se ganhar vantagem competitiva, além de garantir o bom desempenho dos produtos de software comercializados. A necessidade urgente de melhorar a qualidade dos produtos e serviços de uma empresa de desenvolvimento para atingir suas metas de crescimento é o fator determinante que motivou esta pesquisa. Este trabalho apresenta uma análise bibliográfica introdutória baseada em Qualidade de Software e Modelos de Maturidade. Em seguida, descreve o diagnóstico, o plano de melhoria do processo de software e os primeiros resultados adquiridos com a implantação, utilizando o nível G (Parcialmente Gerenciado) do MPS.BR (Melhoria de Processo do Software Brasileiro) em uma empresa de desenvolvimento de software de pequeno porte. Os objetivos inicialmente propostos foram alcançados, através da análise dos processos de desenvolvimento de software da empresa, identificação das mudanças necessárias para se enquadrar ao padrão de desenvolvimento Parcialmente Gerenciado, e por fim, a avaliação dos custos e benefícios que a implantação do projeto de melhoria proporcionou a empresa. Palavras-Chaves: Processo de Software, Qualidade de Software, MPS.BR. ABSTRACT In the current reality of small and medium-sized company software development, quality is a distinguishing factor to get competitive advantage and ensure the proper performance of the software products market. The urgent need to improve the quality of products and services of a development company to achieve its goals of growth is the determining factor that motivated this research. This paper presents an introductory bibliography analysis based on Software Quality and Maturity Models. It then describes the diagnosis, a plan for improving the software process and the first results obtained with the implementation, using the standard G (Partially Managed) of MPS.BR (Process Improvement in Brazilian Software) in a development small company software. The initial goals were reached by analyzing the processes of software development company, identifying the changes necessary to fit the pattern of development Partly Managed, and finally, evaluation of the costs and benefits that the implementation of the improvement project provided the company. Key Words: Software Process, Software Quality, MPS.BR. 1 Especialista em Gestão e Desenvolvimento em Tecnologia da Informação Faculdade Anglicana de Erechim (FAE). E-mail: [email protected] 2 Mestre em Ciência da Computação Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]

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PROGRAMA DE MELHORIA DO PROCESSO DE SOFTWARE BRASILEIRO

(MPS.BR):

Um estudo de caso sobre a aplicação do nível G em uma empresa de

desenvolvimento de software

Cheila Graciela Gobbo Bombana

1, Gema Luciane Agliardi

2

RESUMO

Na realidade atual das micro, pequenas e médias empresas de desenvolvimento de software,

qualidade é um fator diferencial para se ganhar vantagem competitiva, além de garantir o bom

desempenho dos produtos de software comercializados. A necessidade urgente de melhorar a

qualidade dos produtos e serviços de uma empresa de desenvolvimento para atingir suas

metas de crescimento é o fator determinante que motivou esta pesquisa. Este trabalho

apresenta uma análise bibliográfica introdutória baseada em Qualidade de Software e

Modelos de Maturidade. Em seguida, descreve o diagnóstico, o plano de melhoria do

processo de software e os primeiros resultados adquiridos com a implantação, utilizando o

nível G (Parcialmente Gerenciado) do MPS.BR (Melhoria de Processo do Software

Brasileiro) em uma empresa de desenvolvimento de software de pequeno porte. Os objetivos

inicialmente propostos foram alcançados, através da análise dos processos de

desenvolvimento de software da empresa, identificação das mudanças necessárias para se

enquadrar ao padrão de desenvolvimento Parcialmente Gerenciado, e por fim, a avaliação dos

custos e benefícios que a implantação do projeto de melhoria proporcionou a empresa.

Palavras-Chaves: Processo de Software, Qualidade de Software, MPS.BR.

ABSTRACT

In the current reality of small and medium-sized company software development, quality is a

distinguishing factor to get competitive advantage and ensure the proper performance of the

software products market. The urgent need to improve the quality of products and services of

a development company to achieve its goals of growth is the determining factor that

motivated this research. This paper presents an introductory bibliography analysis based on

Software Quality and Maturity Models. It then describes the diagnosis, a plan for improving

the software process and the first results obtained with the implementation, using the standard

G (Partially Managed) of MPS.BR (Process Improvement in Brazilian Software) in a

development small company software. The initial goals were reached by analyzing the

processes of software development company, identifying the changes necessary to fit the

pattern of development Partly Managed, and finally, evaluation of the costs and benefits that

the implementation of the improvement project provided the company.

Key Words: Software Process, Software Quality, MPS.BR.

1 Especialista em Gestão e Desenvolvimento em Tecnologia da Informação – Faculdade Anglicana de Erechim

(FAE). E-mail: [email protected] 2 Mestre em Ciência da Computação – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

A informática nos apresenta um novo mundo, que quebra todas as barreiras de

comunicação e modifica a própria estrutura da indústria de consumo. O consumidor e a

indústria passaram a valorizar não somente o produto final, mas todas as fases do processo de

construção/elaboração, incluindo a fase de entrega. Então, começa uma maior preocupação

com a intelectualidade e comprometimento com a qualidade, que passa a ser fator de

competitividade.

O desenvolvimento de software tem exigido a aprendizagem e reciclagem constante

de seus profissionais, em busca de novos métodos para a transformação em resultados. O

desenvolvimento de sistemas de informação, com qualidade e capacidade de atender às reais

necessidades dos usuários exige a utilização de metodologias eficazes.

Alcançar competitividade pela qualidade, para as empresas de software, implica tanto

na melhoria da qualidade dos produtos de software e serviços relacionados, como dos

processos de produção e distribuição de software. Desta forma, assim como para outros

setores, qualidade é fator crítico de sucesso para a indústria de software.

O objetivo deste estudo é identificar a importância da implantação de um programa

de melhoria de processo de software para a qualidade final dos produtos e serviços oferecidos

por uma empresa de desenvolvimento de software. Toda empresa de desenvolvimento

necessita da definição e normatização de processos de desenvolvimento para apresentar um

software de qualidade, que atenda as expectativas dos clientes de forma satisfatória. O

MPS.BR ou Melhoria de Processos do Software Brasileiro, é um programa criado, mais

adequado a realidade das empresas nacionais, que oferece padrões a serem seguidos para

melhoria da qualidade de software.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Qualidade de Software

Qualidade de software é um conjunto de propriedades a serem satisfeitas de modo

que o software atenda as necessidades de seus usuários. (INTHURN; CÂNDIDA,

2001, p. 22)

A qualidade no desenvolvimento de software é um assunto amplo e ainda bastante

complexo, sendo que são vários os fatores que devem ser levados em consideração para

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definir se um software tem ou não qualidade. Como para qualquer produto, vale a afirmação

de que a qualidade está diretamente relacionada à satisfação do cliente, ou nesse caso, do

usuário.

As propriedades do software são definidas a partir das necessidades do usuário,

portanto, qualidade em desenvolvimento de sistemas significa: alinhamento total entre as

necessidades/expectativas dos usuários e as especificações geradas; alinhamento total entre as

especificações aprovadas e o produto construído e; produto final com a menor quantidade de

erros possível.

A construção de um sistema é algo bastante complexo, que envolve várias etapas,

desde a sua concepção até a implantação para o usuário final. O produto de software, nada

mais é, que o resultado dos processos de desenvolvimento, portanto, chegou-se a conclusão

que o caminho é focar na melhoria da qualidade dos processos para se obter um software de

qualidade.

Para entendermos o motivo das dificuldades em se obter um produto de software

qualificado é necessário conhecer alguns conceitos de Engenharia de Software. A criação de

um software passa por quatro etapas básicas desde sua concepção até o usuário final,

independente do modelo de desenvolvimento utilizado. São elas:

Análise de Requisitos: fase inicial, onde são identificadas as necessidades do cliente, nessa

fase é importante esclarecer e detalhar as idéias do cliente/usuário para definir as

funcionalidades do sistema de forma correta.

Projeto: é a fase que se encarrega de transformar os resultados da Análise de Requisitos em

um documento ou conjunto de documentos capazes de serem interpretados diretamente pelo

programador.

Codificação: também chamada de implementação, esta fase é uma simples questão de

tradução do projeto para um código.

Testes: o teste do software consiste na sua utilização para a identificação de defeitos, deve ser

avaliada a qualidade do sistema e a conformidade em relação aos requisitos inicialmente

levantados.

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Figura 1 - Etapas Desenvolvimento de Software

Em cada uma dessas fases existem ferramentas e principalmente pessoas envolvidas, o

que torna os processos suscetíveis a erros, conforme podemos observar na Figura 1. Ao longo

do desenvolvimento algumas distorções podem ocorrer com relação à idéia original e erros

vão sendo inseridos no produto, ocasionando a geração de um produto final bem diferente do

que era esperado, comprometendo a qualidade do software. Para minimizar esse problema,

evitando erros que afetam a credibilidade das empresas, é necessário trabalhar na qualidade

dos processos, usando padronizações, para se obter um produto final com a qualidade

esperada.

2.2 Processo de Software

“Processo de software é um conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas,

que transforma insumos (entradas) em produtos (saídas)”. (ISO 9000, 2000).

Podemos entender o processo de software como sendo um conjunto de atividades, que

envolvem métodos e práticas aplicadas na produção de um software. Os insumos (entradas)

são constituídos por requisitos, idéias e tempo, enquanto a saída é o produto de software e os

serviços relacionados a ele. O sistema pronto para ser utilizado pelo cliente/usuário é o

resultado dos processos utilizados no seu desenvolvimento.

As atividades que são realizadas ao longo do desenvolvimento de um sistema

envolvem impreterivelmente, pessoas, materiais, equipamentos e procedimentos, são esses

quatro itens que necessitam ser trabalhados constantemente para melhoria de um processo de

software.

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2.3 Qualidade do Processo X Modelos de Maturidade

Mesmo as melhores pessoas não conseguem trabalhar de forma eficiente se o

processo é problemático ou mal compreendido. O processo é a ponta do triângulo

que unifica os outros aspectos. Sem processos claros e eficientes, uma empresa não

é escalável. (RIBEIRO; ADRIELE, 2007)

A qualidade de um produto, qualquer que seja, está diretamente ligada a qualidade dos

processos utilizados para sua criação. Quando se fala em produtos de software não é

diferente, a qualidade dos processos de desenvolvimento é fundamental para se produzir um

software de qualidade. Investimentos em tecnologia sem um guia que defina como utilizá-la é

um desperdício de recursos, por isso o uso de modelos de maturidade baseados em

gerenciamento de projetos está cada vez mais sendo difundido entre as empresas de

desenvolvimento.

Figura 2 – Qualidade de Software X Modelo de Maturidade

O gerenciamento de projetos se preocupa em entregar o sistema de software no prazo

e de acordo com os requisitos estabelecidos, levando em conta sempre as limitações de

orçamento e tempo. A gerência de projetos de software se caracteriza por tratar sobre um

produto intangível, muito flexível e com processo de desenvolvimento com baixa

padronização.

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As atividades que envolvem o planejamento sofrem com dificuldades típicas de

desenvolvimento de software. A produtividade não é linear em relação ao tamanho da equipe

e o aumento de produtividade não é imediato devido aos custos de aprendizado de novos

membros. A diminuição de qualidade para acelerar o desenvolvimento constantemente

prejudica futuramente a produtividade. A estimativa de dificuldades e custos de

desenvolvimentos são muito difíceis, além do surgimento de problemas técnicos. Esses

fatores requerem uma análise de riscos cuidadosa.

Em meio a todas essas dificuldades, os modelos de maturidade são usados como

alternativa para organização e melhoraria constantemente dos processos. Um modelo de

maturidade tem como características principais: definir os requisitos a que os processos

devem atender, apresentando flexibilidade em relação a como atendê-los; permitir avaliações

dos processos de forma objetiva e a detecção de pontos fortes e fracos; especialmente os

estruturados por estágio, definir um caminho evolucionário para melhoria de processo; são

repositórios de melhores práticas que vêm sendo utilizadas ao longo de vários anos com

sucesso.

2.4 MPS.BR (Melhoria de Processo de Software Brasileiro)

A qualidade de um produto está diretamente relacionada à qualidade do processo de

desenvolvimento, desta forma, é comum que a busca por um software de maior qualidade

passe necessariamente por uma melhoria no processo de desenvolvimento.

O MPS.BR motiva para o foco no processo de software, visando à qualidade do

processo, e tendo como conseqüência prática: aumento da qualidade do produto; diminuição

do retrabalho; maior produtividade; redução do tempo para atender o mercado; maior

competitividade e; maior precisão nas estimativas.

É muito importante ressaltar que, o foco de um programa de melhoria de processos,

que define suas estratégias, políticas, atividades e responsabilidades, deve estar vinculado aos

objetivos de negócio da organização.

O programa mobilizador para Melhoria de Processo do Software Brasileiro (MPS.BR)

está em desenvolvimento desde dezembro de 2003. É coordenado pela Associação para a

Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX), com apoio do Ministério da

Ciência e Tecnologia (MCT), da Financiadora de Estudos e Projetos(FINEP) e Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A base técnica utilizada para a construção do MPS.BR é composta pelas normas NBR

ISO/IEC 12207 – Processo de Ciclo de Vida de Software e suas emendas 1 e 2 e a ISO/IEC

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15504 – Avaliação de Processo, portanto o modelo está totalmente aderente a essas normas. O

MPS.BR também cobre o conteúdo do CMMI-SE/SW, através da inclusão e resultados de

processos em relação aos processos da Norma NBR ISO/IEC12207, conforme Figura 3.

Figura 3 - Modelo MPS.BR

O MR-MPS define sete níveis de maturidade de processos para organizações que

produzem software: A (Em Otimização), B (Gerenciado Quantitativamente), C (Definido), D

(Largamente Definido), E (Parcialmente Definido), F (Gerenciado) e G (Parcialmente

Gerenciado). O nível G é o primeiro estágio de maturidade e o nível A é o mais maduro. Cada

um dos níveis de maturidade possui um conjunto de processos e atributos de processos que

indicam onde a unidade organizacional tem que colocar esforço para melhoria, de forma a

atender aos seus objetivos de negócio e ao MRMPS. Assim, os níveis de maturidade são

definidos em duas dimensões: a dimensão de capacidade de processos e a dimensão de

processos.

O processo de avaliação é estagiado. Isto é, podemos definir os níveis de maturidade

como estágios. Cada estágio possui seus processos e atributos necessários. Existe um nível de

maturidade associado à organização como um todo.

Cada nível tem uma distribuição de atributos como é mostrado no quadro a seguir. É

importante observar que os atributos dos processos são cumulativos em relação aos níveis.

Isto é, o nível F tem os atributos do nível G adicionado com AP 2.2, e assim sucessivamente.

Isso torna óbvio que para uma organização obter o nível F, necessita obter primeiro o G. Daí

por diante.

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Tabela 1 - Níveis de Maturidade

2.4.1 Nível G – Parcialmente Gerenciado (Processos)

O primeiro nível de maturidade é o G (Parcialmente Gerenciado), atuando na Gerência

de Requisitos e Gerência de Projetos. Este nível é composto pelos processos mais críticos de

gerência. De modo a melhorar o controle dos projetos, a organização deve implementar

processos de apoio para o desenvolvimento de software. Estes processos constituem o

próximo nível do MRMPS, o F (Gerenciado).

O foco do Nível G está em planejar, executar e controlar o processo de

desenvolvimento/manutenção de software, estabelecendo compromissos para a realização do

processo e mantendo a situação das atividades do processo visíveis para a gerência.

Gerência de Projetos (GPR) - O propósito do processo Gerência de Projetos é

identificar, estabelecer, coordenar e monitorar as atividades, tarefas e recursos que um projeto

necessita para produzir um produto e/ou serviço, bem como prover informações sobre o

andamento do projeto que permitam a realização de correções quando houver desvios no

desempenho do projeto.

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Gerência de Requisitos (GRE) - O propósito do processo Gerência de Requisitos é

gerenciar os requisitos dos produtos e componentes do produto do projeto e identificar

inconsistências entre esses requisitos e os planos e produtos de trabalho do projeto.

3 METODOLOGIA

O trabalho realizado classifica-se, quanto aos objetivos, como pesquisa exploratória, e

quanto aos procedimentos metodológicos como estudo de caso. A pesquisa têm como

objetivo a análise e melhoria dos processos de desenvolvimento da Empresa X. Portanto,

definimos como universo a ser pesquisado, o setor de desenvolvimento desta empresa de

software, incluindo metodologias, ferramentas e colaboradores.

Para realização do trabalho proposto foi feito um estudo do tema, através da pesquisa

bibliográfica, aprofundando-se no assunto específico a ser trabalhado, o nível de maturidade

G (Parcialmente Gerenciado), do Programa de Melhoria do Processo de Software Brasileiro.

Posteriormente, foi feita uma análise da metodologia de desenvolvimento de sistemas da

empresa X, estudando os processos de desenvolvimento praticados atualmente na empresa.

Baseado no referencial teórico, foi realizada uma análise comparativa da metodologia de

trabalho atual da empresa, com o modelo padrão para se adequar ao nível de maturidade G do

MPS.BR, identificando as mudanças necessárias a serem implementadas, bem como, as

melhorias e vantagens que essas mudanças proporcionarão a empresa.

Foram adquiridos dados reais da empresa, através de uma pesquisa de campo, tendo

como método de aquisição de dados: documentos relacionados ao método de

desenvolvimento dos sistemas e depoimentos das pessoas envolvidas no processo.

4 DESENVOVIMENTO DO ESTUDO

4.1 Situação da Empresa

A análise e implantação do MPS (Nível G) foi realizada em uma empresa de

desenvolvimento de sistemas, cujo nome não será divulgado. Vamos tratá-la como Empresa X

por motivo de sigilo. A Empresa X, localizada na região norte no estado do Rio Grande do

Sul, atua no ramo de desenvolvimento de software há aproximadamente 14 anos. Desde sua

fundação atua exclusivamente no desenvolvimento de soluções para o Agronegócio,

possuindo clientes nos diferentes setores da atividade agrícola em todo o Brasil.

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Da época de sua concepção até o momento atual a Empresa X teve um crescimento

significativo nesse segmento, aumentando consideravelmente o número de clientes e também

a complexidade dos projetos a serem desenvolvidos. A falta de definição de seus processos de

desenvolvimento de software, e também a falta de uso de uma padronização de documentação

e metodologia de controle, ocasionou um quadro considerado preocupante:

• Aumento na manutenção de projetos finalizados;

• Novos projetos entravam em produção sem nenhum controle do escopo;

• Dificuldade no cumprimento de contratos com os clientes;

• Dificuldade em realizar orçamento de novos projetos;

• Dificuldade na definição e cumprimento de cronogramas;

• Dificuldade em controlar versões de sistemas e manter versões estáveis;

• Solicitações de clientes sem detalhamento dos requisitos;

• Mudanças nos requisitos sem controle e gerenciamento;

• Falta de padronização e organização dos documentos.

Existe a necessidade de modelar um plano de melhoria de qualidade de processo de

desenvolvimento de software. Dentre os planos existentes, foi escolhido o MPS.BR por se

tratar de um modelo brasileiro, tem seu foco principal, embora não exclusivo, no grupo de

micro, pequenas, médias empresas e compatível com os padrões aceitos internacionalmente.

A análise realizada nos processos existentes na empresa, comparando com os padrões de

desenvolvimento propostos pelo Nível G (Parcialmente Gerenciado) do MPS.BR, poderá

contribuir para a tomada de decisão, no que diz respeito à implantação completa do projeto de

melhoria de processos de software na empresa.

4.2 Aplicação do MPS.BR nível G (Parcialmente Gerenciado)

Conforme podemos observar na Figura 4, após a definição da equipe de trabalho, foi

encaminhado um trabalho de autoavaliação, quando foram realizadas análises dos processos

de desenvolvimento da empresa. Não foram encontrados os indicativos diretos existentes na

empresa que satisfazem o nível G do MPS.BR, os procedimentos existentes eram iniciativas

isoladas que não tinham sido padronizadas e não serviam de base para melhorias.

Uma vez identificado e analisados os resultados, procedeu-se a definição das próximas

tarefas para definição do plano de ação a ser executado para satisfazer o nível G do MPS.BR.

Abaixo, as atividades seguintes: identificar as práticas existentes na empresa; comparar

práticas existentes com resultados esperados nos processos do nível G do MPS.BR;

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elaboração do plano de ação de melhorias; desenhar os processos; treinar os colaboradores;

implantar processos melhorados em projetos pilotos; fazer avaliações periódicas do uso do

processo, propondo melhorias.

Figura 4 – Fluxograma de Trabalho

A etapa inicial, e com certeza uma das mais importantes no desenvolvimento de

projetos, é o levantamento de requisitos, por isso, existe uma grande preocupação com essa

fase nos modelos de maturidade, a definição errada de um requisito pode levar todo o projeto

ao fracasso.

do projeto, acompanhamento das tarefas realizadas. Para atender a esse resultado foi

definida a utilização de uma ferramenta de planejamento, o Microsoft Project, que permite

definir cronograma, uso dos recursos e orçamento. O uso dessa ferramenta permite o

acompanhamento do cronograma comparando previsto e realizado, também permite verificar

o cumprimento de marcos do projeto. Os registros desses acompanhamentos devem ser

realizados, permitindo assim a detecção e correção de problemas.

O principal objetivo da fase de Elaboração é definir uma arquitetura que ofereça uma

base estável para Análise, Projeto e Implementação. A fase de elaboração foi dividida em

duas etapas, definidas como: Requisitos e Plano, conforme ilustra a Figura 5.

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Ao finalizar essa etapa do processo devemos ter uma descrição detalhada dos trabalhos

a serem realizados, incluindo cronograma e orçamento, ou seja, um plano detalhado para a

fase de Construção.

Figura 5 - Processo Desenvolvimento – Elaboração

A fase de Construção trata da implementação efetiva, que vai transformar o requisito

em um produto de software, que pode ser novo ou integrado a um sistema já existente.

Conforme podemos observar na Figura 6, o processo de Construção está dividido em três

etapas: Análise e Projeto, Construção e Testes e Implantação.

Na fase final, Teste e Implantação, é realizada a verificação dos códigos fontes, que

devem estar em conformidade com o DRE e com o Plano de Projeto, após essa verificação é

gerada a versão que é liberada para o teste global.

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Figura 6 - Processos Desenvolvimento – Construção

Após a elaboração dos documentos necessários e a definição do novo fluxograma do

processo de desenvolvimento, essa nova metodologia de trabalho passa a ser utilizada em

projetos pilotos. A gerência da empresa optou por uma implantação gradual da nova

metodologia, aplicando em projetos menores, por causar um grande impacto na cultura

organizacional da mesma e também exigir um tempo maior para dar resultado, sendo que,

resultados completamente satisfatórios serão alcançados apenas com a maturidade do projeto.

4.3 Avaliação dos Resultados

A implantação do programa de melhoria de processos proporcionou um maior controle

na geração das versões dos sistemas da empresa. As versões são geradas a partir de um

conjunto de Requisições (DRE) e os testes são realizados baseados no Plano de Testes (PT).

Essa metodologia de trabalho permite a geração de indicadores de eficiência do setor de

desenvolvimento.

Os projetos de software em que a nova metodologia de trabalho foi aplicada ainda não

tiveram a implantação concluída, mas parcialmente a empresa já pode identificar os seguintes

resultados: o cumprimento de cronogramas, com entregas dos projetos nos prazos

determinados; cliente muito mais satisfeito, pois está participando mais do projeto,

conseguindo ter maior visibilidade do que está sendo feito e como está sendo feito,

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acompanhando a evolução do mesmo; implantação de softwares com maior qualidade, que

atendem de maneira satisfatória as necessidades dos clientes; maior lucratividade da empresa

em relação a trabalhos anteriores, pois os projetos passam a ser melhor avaliados, o que

permite a definição de orçamentos mais precisos, facilitando a justificativa dos valores junto

aos clientes e; colaboradores da empresa mais motivados, pois estão trabalhando de forma

mais organizada e conseguindo alcançar resultados positivos, gerando maior perspectiva de

crescimento.

A reorganização dos processos da empresa, que foi realizada com a aplicação do

projeto de melhoria, possibilita um maior controle do que está sendo feito. Dessa forma, a

geração de indicadores de resultados que interessam a gerência e mantém a situação das

atividades visíveis, pode ser obtida de maneira mais fácil, rápida e precisa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo foi demonstrado a iniciativa da implantação do Programa de Melhoria do

Processo de Software Brasileiro (MPS.BR) em uma empresa de desenvolvimento de sistemas

e os primeiros resultados obtidos, demonstrando que mesmo em pequenas empresas é

necessário e possível basear-se em um modelo de melhoria de processos.

De posse dos resultados obtidos por este trabalho, podemos listar como uma de suas

principais contribuições a verificação de que o MPS.BR pode ser implementado em

organizações de pequeno porte com boa eficiência, sem que gere um grande excesso de

atividades. Trata-se de um modelo de processo que pode ser seguido, com equipes pequenas

visando a melhoraria constante da qualidade.

Podemos observar que a questão norteadora do trabalho foi respondida e seus

objetivos alcançados. A análise realizada na empresa permitiu montar um plano de melhorias,

que aplicado, trouxe resultados positivos, benefícios organizacionais e financeiros. Com o

amadurecimento do processo implantado, a empresa pode programar a evolução para o nível

F (Gerenciado) do MPS.BR, e assim sucessivamente até o mais alto nível de maturidade. É

um processo lento e gradativo, mas que proporcionará um processo de software maduro e um

produto de software qualificado.

A qualidade de software não é uma ciência exata, por isso, modelos de maturidade não

são garantia de sucesso absoluto para nenhuma empresa. Mas certamente servem muito bem

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como um guia de referência, um caminho a ser seguido por empresas que desejam melhorar

seu desempenho operacional de forma consistente ao longo do tempo.

Cabe salientar que, não se deve encarar o uso de um modelo de maturidade, a

exemplo do MPS.BR, como fim em si mesmo, ou seja, o importante é a melhoria dos

processos e das organizações de maneira geral. A implantação de um modelo vai alavancar a

evolução da empresa, mas não pode garantir o sucesso caso não haja envolvimento e

colaboração, todos devem estar interessados na melhoria da qualidade da empresa como um

todo.

REFERENCIAS

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