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Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.6, n.1, p. 1-6, dez. 2004 www.ccs.uel.br/espacoparasaude 1 PROPOSTAS PARA O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE LÂMPADAS FLUORESCENTES PROPOSES FOR THE MANAGEMENT OF RESIDUES OF FLUORESCENTS BULBS Roberto Naime e Ana Cristina Garcia 1 Doutor em Engenharia Ambiental. Docente do Departamento de Engenharia Civil - FENG – PUCRS e Curso de Engenharia Industrial, Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas, ICET/FEEVALE. Endereço para Correspondência: Curso de Engenharia Industrial, Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas, Centro Universitário FEEVALE. Rodovia RS 239, nº 2755, CEP 93352 000 – Novo Hamburgo, RS. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Engenharia Ambiental. Docente do Curso de Engenharia Industrial, ICET/FEEVALE. E mail [email protected] Resumo _________________________________________________________________________________ As lâmpadas de mercúrio de baixa pressão, também conhecidas como lâmpadas fluorescentes, constituem-se objetos de consumo de extrema utilidade e elevada capacidade de produzir impactos ambientais. O vapor de mercúrio pode contaminar a atmosfera, sendo inalado por usuários desinformados, ou pode produzir a contaminação de solos e águas pelo metal pesado mercúrio. Os grandes usuários industriais e comerciais, instados pela legislação ambiental e por práticas de normatização e qualificação, já dispõe de políticas próprias eficientes de gerenciamento dos resíduos de lâmpadas fluorescentes. O objetivo deste trabalho é a discussão do gerenciamento de resíduos de lâmpadas nos pequenos usuários. Porque embora sendo o volume menor de usuários, representam hoje os riscos maiores. Por estarem espalhados e por não serem assistidos por uma política eficiente de informação e de gestão deste tipo de resíduo. Pelos mesmos motivos, associa-se a este grupo, as pequenas e médias indústrias e o comércio, disseminados pelo país. A base da proposta parte do princípio de que os importadores são poucas empresas, de grande capacidade econômica, capazes de sustentar a formação de um cadastro de comercialização autorizada e gerenciar um sistema de recebimento de lâmpadas usadas na aquisição de lâmpadas novas. Este sistema poderá evoluir no futuro para um banco de dados de usuários residenciais em apoio ao sistema de gerenciamento de resíduos de lâmpadas fluorescentes, gerenciado pela ABILUX. Palavras-chave: Resíduos; Perigos ao meio ambiente; Racionalização de recursos. Abstract _________________________________________________________________________________ The bulbs of mercury of low pressure, all kneed as fluorescents bulbs, are very useful and have higher capacity to produce environmental impacts. The steam of mercury can contaminate the atmosphere, and can be aspired or can produce contamination of water and soils. The biggest industrial and commercial users have policies to management the residues of the fluorescent bulbs. The object of this work is to discuss the management of the residues of fluorescent bulbs for the little users. The little users present the major risks. Because they are widespread and don’t have any efficient policy of information and management of the residues. By the same, little industry and commercial activity have the problem. The base of the proposition is that importation enterprises are little and have economic capacity for to maintenance a cadastre of authorized commercials of fluorescent bulbs, and then to management a system of reception of used bulbs when people acquired new bulbs. This system cans evolutes in the future for a residential user’s data banking, that auxiliate the management of residues of fluorescent bulbs by the ABILUX. Keywords: Waste products; Dangers on the environment; Rationalization of Resources.

Gerenciamento dos resíduos de lâmpadas fluorescentes

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PROPOSTAS PARA O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE LÂMPADAS FLUORESCENTES

PROPOSES FOR THE MANAGEMENT OF RESIDUES OF FLUORESCENTS BULBS

Roberto Naime e Ana Cristina Garcia

1 Doutor em Engenharia Ambiental. Docente do Departamento de Engenharia Civil - FENG – PUCRS e Curso de Engenharia Industrial, Instituto

de Ciências Exatas e Tecnológicas, ICET/FEEVALE. Endereço para Correspondência: Curso de Engenharia Industrial, Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas, Centro Universitário FEEVALE. Rodovia RS 239, nº 2755, CEP 93352 000 – Novo Hamburgo, RS. E-mail:

[email protected] 2 Mestre em Engenharia Ambiental. Docente do Curso de Engenharia Industrial, ICET/FEEVALE. E mail [email protected]

Resumo _________________________________________________________________________________ As lâmpadas de mercúrio de baixa pressão, também conhecidas como lâmpadas fluorescentes, constituem-se objetos de consumo de extrema utilidade e elevada capacidade de produzir impactos ambientais. O vapor de mercúrio pode contaminar a atmosfera, sendo inalado por usuários desinformados, ou pode produzir a contaminação de solos e águas pelo metal pesado mercúrio. Os grandes usuários industriais e comerciais, instados pela legislação ambiental e por práticas de normatização e qualificação, já dispõe de políticas próprias eficientes de gerenciamento dos resíduos de lâmpadas fluorescentes. O objetivo deste trabalho é a discussão do gerenciamento de resíduos de lâmpadas nos pequenos usuários. Porque embora sendo o volume menor de usuários, representam hoje os riscos maiores. Por estarem espalhados e por não serem assistidos por uma política eficiente de informação e de gestão deste tipo de resíduo. Pelos mesmos motivos, associa-se a este grupo, as pequenas e médias indústrias e o comércio, disseminados pelo país. A base da proposta parte do princípio de que os importadores são poucas empresas, de grande capacidade econômica, capazes de sustentar a formação de um cadastro de comercialização autorizada e gerenciar um sistema de recebimento de lâmpadas usadas na aquisição de lâmpadas novas. Este sistema poderá evoluir no futuro para um banco de dados de usuários residenciais em apoio ao sistema de gerenciamento de resíduos de lâmpadas fluorescentes, gerenciado pela ABILUX. Palavras-chave: Resíduos; Perigos ao meio ambiente; Racionalização de recursos.

Abstract _________________________________________________________________________________ The bulbs of mercury of low pressure, all kneed as fluorescents bulbs, are very useful and have higher capacity to produce environmental impacts. The steam of mercury can contaminate the atmosphere, and can be aspired or can produce contamination of water and soils. The biggest industrial and commercial users have policies to management the residues of the fluorescent bulbs. The object of this work is to discuss the management of the residues of fluorescent bulbs for the little users. The little users present the major risks. Because they are widespread and don’t have any efficient policy of information and management of the residues. By the same, little industry and commercial activity have the problem. The base of the proposition is that importation enterprises are little and have economic capacity for to maintenance a cadastre of authorized commercials of fluorescent bulbs, and then to management a system of reception of used bulbs when people acquired new bulbs. This system cans evolutes in the future for a residential user’s data banking, that auxiliate the management of residues of fluorescent bulbs by the ABILUX. Keywords: Waste products; Dangers on the environment; Rationalization of Resources.

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Introdução A poluição do meio-ambiente,

decorrente de um rápido crescimento econômico associado à exploração dos recursos naturais, vem aumentando cada vez mais.

As estratégias de sustentabilidade

ambiental buscam compatibilizar as intervenções antrópicas com as características dos meios físico, biológico e sócio-econômico, minimizando os impactos ambientais.

A própria Constituição Federal em seu

artigo 174 prevê que o Estado seja o regulador das atividades econômicas, promovendo o desenvolvimento equilibrado entre produção e conservação ambiental1.

As lâmpadas fluorescentes são um

resíduo das sociedades industriais que merecem uma abordagem própria quanto ao gerenciamento.

A presença de Mercúrio gera

contaminação nos meios físico, biológico e antrópico, em diversos níveis.

A questão das lâmpadas fluorescentes

tem singularidades muito próprias. As empresas, instadas por legislação ambiental rigorosa tem se adequado rapidamente, e atualmente depositam temporariamente as lâmpadas, remetendo as mesmas para empresas habilitadas a realizar reciclagens.

Já o uso residencial não tem qualquer

política pública voltada para a questão do gerenciamento e por desconhecimento ou desinformação, a população prossegue quebrando as lâmpadas sem quaisquer cuidados, ou misturando as lâmpadas com os demais resíduos não-inertes. Este procedimento é inadequado, pois acaba tornando resíduos perigosos todos os demais itens constituintes do descarte, devido à contaminação de todos.

Por isso, este trabalho propõe uma

série de alternativas de gerenciamento, visando contribuir na formulação de uma política nacional eficiente no setor.

Revisão bibliográfica

A lâmpada fluorescente, inventada em 1938, cujo nome técnico é lâmpada de mercúrio de baixa pressão, é responsável por 70% da luz artificial hoje presente no mundo.

As lâmpadas fluorescentes no Brasil são provenientes de importadores associados da ABILUX (Associação Brasileira da Indústria de Iluminação) ou independentes. Entre os associados estão Dynacom, Fujilux, General Electric, Osram, Philips, Sadokin e Sylvania2.

Embora a maior parte dos usuários de

lâmpadas fluorescentes tubulares sejam dos setores industrial e de serviços, o foco deste artigo são os usuários residenciais, porque embora sendo o volume menor de usuários, representam hoje os riscos maiores por estarem espalhados e por não serem assistidos por uma política eficiente de informação e de gestão deste tipo de resíduo. A este grupo associam-se as pequenas e médias indústrias e comércio disseminados pelo país, e pelos mesmos motivos.

Os grandes usuários industriais e

comerciais, instados pela legislação ambiental e por práticas de normatização e qualificação, já dispõem de políticas próprias eficientes de gerenciamento dos resíduos de lâmpadas fluorescentes.

As lâmpadas contendo Mercúrio tem

eficiência luminosa de 3 a 6 vezes superior às outras lâmpadas e possuem vida útil de 4 a 15 vezes mais longa. Devido a estes fatores, segundo a ABILUX, contribuem para a minimização da geração de resíduos e para a redução do consumo de recursos naturais. No entanto, tem alto potencial poluidor e necessitam de políticas eficientes de gerenciamento de resíduos.

A vida útil de uma lâmpada de

Mercúrio é de 3 a 5 anos, com um tempo de operação de aproximadamente 20.000 horas. As lâmpadas fluorescentes funcionam segundo o princípio de descarga de mercúrio de baixa pressão em uma quantidade mínima de Mercúrio em estado líquido. Os elétrons se chocam com os átomos de Mercúrio, liberando uma radiação que é convertida em luz visível, pelo revestimento de pó fluorescente que recobre o bulbo internamente2.

Mais especificamente, a lâmpada

fluorescente é uma fonte de descarga elétrica. A corrente elétrica provoca uma descarga no gás do interior do tubo, levando os elétrons do gás a colidir com os átomos de Mercúrio.

Assim, a energia ultravioleta, gerada

pelo vapor de mercúrio em um gás inerte à baixa pressão, ativa uma camada de material fluorescente, constituída por fósforo, colocada

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na parede interna do tubo de vidro, que converte a radiação ultravioleta em luz visível.

Uma lâmpada fluorescente é

composta por um tubo selado de vidro, preenchido com gás argônio à baixa pressão e vapor de mercúrio, também à baixa pressão. O interior do tubo é revestido por uma poeira fosforosa constituída por vários elementos, destacando-se Alumínio, Antimônio, Cádmio, Bário, Chumbo, Cromo, Manganês, Níquel e Mercúrio, dentre outros3.

A questão de destinação das

lâmpadas fluorescentes ainda não foi regulamentada pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio-Ambiente). Devido às peculiaridades dos resíduos, as lâmpadas fluorescentes deverão ter regulamentação própria. A legislação do Estado do Rio Grande do Sul já proíbe o descarte comercial de resíduos que contenham metais pesados (incluindo baterias de celular) junto ao lixo doméstico.

A dimensão real que deve ser

abordada, é que legislação e normas não operam eficientemente se não forem precedidas de estudos práticos para tornarem operacionais as regras. O presente trabalho propõe uma discussão de como tornar factíveis políticas de preservação ambiental envolvendo lâmpadas fluorescentes, sem no entanto recair num cipoal burocrático de custos inviáveis.

Desenvolvimento

A ênfase da abordagem são os usuários residenciais e as pequenas e médias atividades industrial e comercial, onde geralmente não existem normatizações internas ou demandas de adequação à legislação ambiental que sejam eficazes, por desinformação ou ausência de fiscalização. Também são comentadas práticas das questões vinculadas ao gerenciamento destes resíduos.

No Brasil já existem empresas como a

Apliquim (Paulínea, SP) Mega Reciclagem (Curitiba, PR), Brasil Recicle (Indaial, SC) e Sílex que atuam na reciclagem de lâmpadas fluorescentes.

Impactos Ambientais causados pelas Lâmpadas Fluorescentes

Enquanto estiver intacta, a lâmpada não oferece qualquer risco ambiental aos

meios físico, biológico e antrópico. No entanto, ao ser rompida, vai inicialmente liberar vapor de mercúrio que será inalado por quem manuseia o resíduo. Neste caso, a contaminação do organismo ocorre através dos pulmões. Quando uma lâmpada é quebrada, o Mercúrio existente em seu interior (aproximadamente 20 mg) se libera sob a forma de vapor. O período de tempo do processo varia em função da temperatura, podendo atingir semanas.

Quando lançadas sobre o solo, os

resíduos das lâmpadas, contaminam o solo e as águas, atingindo as cadeias alimentares.

O impacto gerado sobre o meio-

ambiente decorrente de uma única lâmpada poderia ser considerado desprezível. No entanto, o descarte anual de cerca de 50 milhões de lâmpadas, apenas no Brasil representa um sério problema.

A principal via de intoxicação dos

seres humanos, quando a contaminação atinge a cadeia alimentar, ocorre através do consumo de peixes contaminados. O fenômeno ficou evidente após os estudos desenvolvidos desde 1955, quando foi registrado o acidente ecológico de Minamata no Japão. Neste, alguns milhares de pessoas ingeriram peixes contaminados com Mercúrio e desenvolveram doenças neurológicas graves, com seqüelas por várias gerações, como danos irreversíveis no organismo e doenças teratogênicas.

Deve ser destacado que as lâmpadas

não constituem a única fonte de mercúrio. Indústrias metalúrgicas, de tintas, de cloro, e de plástico (PVC), entre outras, utilizam Mercúrio e diversos outros metais em suas linhas de produção e podem ser fontes de contaminação e impactos ambientais, se os efluentes líquidos não forem corretamente tratados e os resíduos sólidos adequadamente dispostos.

O Mercúrio é um metal que não ocorre

de forma natural em nenhum organismo. E não desempenha qualquer função nutricional ou bioquímica em animais ou plantas. Sua presença apenas gera impacto na sanidade dos seres vivos, com uma série de disfunções metabólicas encontradas em compêndios ecotoxicológicos4.

Formas usuais de destinação final para lâmpadas fluorescentes Reciclagem

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A reciclagem implica a separação dos diferentes componentes da lâmpada: o vidro, o Mercúrio e o Alumínio. Os elementos constituintes das lâmpadas devem ser mantidos separados para seu reaproveitamento. A alternativa de reciclagem com a recuperação do mercúrio é a melhor solução para as lâmpadas fluorescentes, pois já existem tecnologias comprovadamente eficientes para recuperação do Mercúrio.

As principais empresas de reciclagem

encontram-se nos Estados Unidos, enquanto os principais fabricantes se encontram na Suécia e Alemanha.

A reciclagem envolve duas fases:

esmagamento e destilação de Mercúrio. O esmagamento permite que os diversos constituintes da lâmpada possam ser separados por peneiramento, separação eletrostática e ciclonagem, em 6 classes: terminais de alumínio, pinos de latão, componentes ferro-metálicos, vidro, poeira fosforosa rica em Mercúrio e isolamentos baquelíticos. Na fase de destilação é recuperado o Mercúrio contido na poeira fosforosa. A recuperação é obtida pelo processo de reportagem, onde o material é aquecido até a vaporização do mercúrio (temperaturas acima do ponto de ebulição do mercúrio, de 357o C). O material vaporizado é condensado e coletado em decantadores. Emissões fugidias de mercúrio podem ser evitadas operando em pressões negativas.

São reutilizados o vidro, o Alumínio e

o Mercúrio.

Incineração

A incineração é um procedimento aplicado para destinação final de resíduos, contemplado pela Lei Estadual 9.921/93 e regulamentada pelo Decreto 38.356/985,6.

Considerando a periculosidade do

Mercúrio, a utilização de incineradores para destinação de resíduos com geração de energia dependerá de processos que garantam a preservação ambiental dentro do procedimento.

Nos processos mais avançados de

tratamento de gases nas plantas de incineração, o mercúrio é parcialmente removido e incorporado às cinzas e escórias.

Disposição em aterros

A maior parte das lâmpadas de uso residencial no Brasil são descartadas no lixo comum. Resulta disto que são enviadas para depósitos em aterros ou mesmo lixões, quando propiciam elevada contaminação ambiental pela falta de cuidados sanitários dos lixões.

Nos aterros, onde são instaladas

mantas de impermeabilização de fundo e efetuados controles sanitários e adequados monitoramentos ambientais, os efeitos da mistura das lâmpadas ficam restritos às contaminações que o mercúrio causa nos demais resíduos.

Discussão de propostas para um sistema de gerenciamento de resíduos de lâmpadas fluorescentes

Conforme já discutido, o grande problema para o gerenciamento ambiental adequado das lâmpadas fluorescentes é o consumo residencial. Os consumidores industriais e comerciais, em sua maioria, premidos pelas demandas da legislação ambiental, e dos programas de normatização e qualificação, tem buscado resolver adequadamente esta questão, estocando as lâmpadas, armazenando adequadamente e remetendo e pagando aos recicladores. Desta forma não ocorrem quaisquer impactos ambientais decorrentes da composição das lâmpadas.

Já os consumidores residenciais,

desconhecem os impactos produzidos pelas lâmpadas e tampouco são informados das possibilidades de reciclagem, desconhecendo as empresas recicladoras e os custos da reciclagem.

Discutir propostas para estimular as

ações de reciclagem pode parecer pretensioso ou de difícil execução. Mas é necessário fixar metas para caminhar em direção a elas, lembrando o velho ditado do estóico Sêneca, tutor do imperador romano Marco Aurélio, de que não existem bons ventos para quem não sabe a que porto se dirige.

A idéia é que a campanha avance em

direção a uma meta que estimule a entrega da lâmpada usada na compra de uma nova. O gerenciamento global do sistema deveria ficar sob a coordenação da ABILUX.

A rede de distribuição formada por

supermercados, ferragens e lojas, sempre que vendesse uma lâmpada, exigiria como

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contrapartida a entrega de uma lâmpada fluorescente usada, que em tese seria a lâmpada que está sendo substituída.

Inicialmente seria realizado um

cadastro, junto aos fabricantes, que ao contrário dos consumidores, são poucos e com capacidade econômica para sustentar a iniciativa, mesmo com o repasse dos custos aos produtos, que no caso é o mal menor.

Assim facilitariam a tarefas

posteriores. Este cadastro junto aos fabricantes criaria um sistema de comercialização autorizado.

A partir deste cadastro de

comercialização autorizada, a ABILUX poderia montar um cadastro nacional de consumidores de lâmpadas fluorescentes residenciais.

Com os modernos sistemas de

informática, este cadastro digitalizado poderia ser acessado pelos sistemas dos supermercados e lojas autorizadas à comercialização de lâmpadas.

A partir destes procedimentos, seria

incluído o preço da reciclagem ao valor da lâmpada nova, com o fabricante repassando o valor ao reciclador de sua preferência, juntamente com a lâmpada recebida pelo comercializador e remetida ao fabricante, que posteriormente enviaria ao reciclador, juntamente com o valor de reciclagem já recolhido no preço de venda da lâmpada nova.

Caso o usuário não entregue a

lâmpada usada, ou no caso de novas lâmpadas, o usuário ficaria obrigado a recolher previamente um valor como multa pela não entrega da lâmpada usada, ou ação de educação ambiental, para que passe a armazenar e trocar suas lâmpadas fluorescentes usadas, auxiliando no manejo ambiental do produto.

Este sistema aparentemente complexo

é muito simples. Apenas justificativas de má vontade em solucionar a questão podem criar empecilhos para o começo de sua operacionalização.

Evidentemente que não se imagina

que o sistema possa ser criado e operacionalizado adequadamente em curto espaço de tempo, pois o tamanho do mercado brasileiro, a extensão geográfica, a diversidade cultural e os fatores econômicos precisam ser considerados.

Mas sem dúvida alguma ação precisa ser iniciada, para que num médio espaço de tempo apresente resultados positivos.

E não seria necessário que se

esperasse apenas legislação específica ou regras do CONAMA. Os próprios fabricantes, porque são poucos, e porque são empresas de grande porte, com capacidade econômica, poderiam buscar uma auto-regulamentação, favorecendo a melhoria da qualidade ambiental e da qualidade de vida de todos.

Evidentemente tais proposições

devem ser tomadas apenas como sugestões para uma agenda positiva, que contribua para uma tomada de posição por parte dos responsáveis públicos e privados pela questão das lâmpadas fluorescentes.

Estas sugestões podem e devem

passar por ampla discussão de todos os setores interessados, podendo ser agregadas novas idéias e mesmo ser totalmente substituída a proposta por mecanismos de melhor viabilidade e visibilidade.

Então serão atingidos todos os

objetivos do presente trabalho, sustentando uma proposta inovadora que contribua para as discussões visando a solução do problema.

Conclusões

As lâmpadas de mercúrio de baixa pressão, também conhecidas como lâmpadas fluorescentes são artefatos de uso variado, doméstico, comercial ou industrial. São de extrema utilidade na vida moderna, sendo cada vez mais estimulada pelo baixo consumo de energia que apresentam.

No entanto, estas lâmpadas possuem

alta capacidade de impactar os meios físico, biológico e antrópico, com vapor de mercúrio na atmosfera, ou contaminação de solos e aqüíferos pelo metal pesado.

Os grandes consumidores,

responsáveis pela maior parte da utilização de lâmpadas fluorescentes, caminham em direção a um adequado gerenciamento destes resíduos, quando a lâmpada cessa seu tempo de vida útil.

Isto porque grandes empresas e

instituições são cada vez mais influenciadas por legislações ambientais restritivas e preservacionistas e incluem práticas

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adequadas de manejo em seus programas de normatização e qualificação.

O mesmo não ocorre com os

pequenos usuários, domésticos ou mesmo comerciais e industriais, que por desconhecimento ou desinformação não tem práticas ambientalmente sustentáveis.

São apresentadas várias idéias a

serem implementadas para um incremento real na qualificação do gerenciamento dos resíduos de lâmpadas fluorescentes.

Na medida em que os importadores

são um reduzido número de empresas, com suporte econômico capaz de subsidiar uma adequada estrutura administrativa, torna-se relativamente fácil a montagem de um cadastro de comercializadores.

A partir desta base pode ser

gerenciado um sistema que torne obrigatória a entrega das lâmpadas usadas na aquisição de novas, sendo o custo da reciclagem incluído no preço da lâmpada nova e gerenciado pelo fornecedor de lâmpadas.

Na aquisição de lâmpadas sem

entrega das usadas, o consumidor arca com o ônus de uma multa de pequeno valor, que pode ser revertida para fundos de preservação ambiental, ou na compra de uma primeira lâmpada, arca com um valor inicial de custo de

reciclagem, que opera como uma ação educativa que estimule a troca de lâmpadas no futuro e que também reverta para um fundo de preservação ambiental que a própria ABILUX opere, subsidiando suas demais ações. Referências 1. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal; 1998. 2. Associação Brasileira da Indústria da Iluminação ABILUX. [Acesso em 10 julho 2003]. Disponível em http://www.abilux.com.br 3. Mercury Recovery Technology. Site MRT. [Acesso em 12 de março de 2000]. Disponível em http://www.mrtsystem.com/tc.htm. 4. Larini L. Toxicologia. São Paulo: Manole; 1997. 5. Lei no 9291. Dispõe sobre a gestão de resíduos sólidos nos termos do § 3º do artigo 247 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Diário Oficial do Rio Grande do Sul (27 de junho de 1993). 6. Decreto no 38356/98. Regulamenta a Lei Estadual 9291/93 e dispõe sobre a gestão de resíduos sólidos. Porto Alegre: Diário Oficial do Rio Grande do Sul (2 de abril de 1998).

Recebido em 18/10/2004 Aprovado em 22/11/2004