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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
Departamento de Gesto e Economia
Gesto do Conhecimento nas Organizaes: O Caso do Departamento de Informtica da UBI
Joel Jos Puga Coelho Rodrigues
Dissertao submetida Universidade da Beira Interior como requisito parcial para a obteno do grau de
Mestre em Gesto
Covilh
2001
ii
Dissertao realizada sob a orientao da
Professora Doutora Maria Joaquina Barrulas,
Investigadora do Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial e
Professora Convidada da Universidade da Beira Interior.
iii
Para a Celina e a Catarina.
iv
Agradecimentos
Ao concluir esta dissertao no posso deixar de expressar uma palavra de
agradecimento a todos aqueles que, ou com o seu incentivo amigo, ou com teis
sugestes e observaes contriburam para a sua realizao.
Em primeiro lugar, quero agradecer minha orientadora, Professora Doutora Maria Joaquina Barrulas, pela sua grande disponibilidade, orientaes e crticas construtivas e pelo empenho e estmulo demonstrados durante a elaborao desta investigao. Admiro o profissionalismo com que acompanhou as vrias etapas da sua execuo.
Aos meus colegas, docentes do Departamento de Informtica da Universidade da Beira Interior, pela sua colaborao no preenchimento dos questionrios e pelo interesse demonstrado no estudo. Em particular, quero agradecer ao Professor Doutor Mrio Marques Freire, pelo seu apoio e parecer relativos s tecnologias de apoio gesto do conhecimento e ao Sistema de Gesto do Conhecimento proposto.
No poderia tambm deixar de expressar a minha gratido instituio Universidade da Beira Interior por me ter facultado a frequncia deste Curso de Mestrado do Departamento de Gesto e Economia, bem como aos mestrandos, pelo esprito de entreajuda, pelo excelente ambiente criado nas aulas, para o qual contribuiu tambm o perfil humano e cientfico dos professores nas diversas disciplinas.
Ao meu amigo, Dr. Pedro das Neves, da Global Change Consultores Internacionais Associados, pelo seu apoio e colaborao na obteno de documentao.
Aos meus amigos, pelo seu apoio e amizade, em particular Dr. Pilar Villoria e ao Dr. Jess Gonzlez pela sua colaborao na realizao da encadernao do documento, ao Dr. Rui Faria pela traduo do resumo em lngua alem, e ao Dr. Paulo Pinheiro e ao Dr. Ricardo Rodrigues pelas sugestes oportunas.
Aos amigos da CVX-P, pelo seu estmulo e amizade, em especial, Dr. Isabel Fael pelas suas sugestes e observaes relativas redaco do texto.
Uma ltima palavra para os que me so mais prximos. Quero agradecer minha famlia, de um modo especial minha esposa, pelo seu apoio, carinho e compreenso pelas muitas horas que esta investigao tambm lhe retirou, sem os quais este trabalho no teria sido possvel.
v
Resumo
Nesta dissertao estuda-se o tema gesto do conhecimento nas organizaes e
abordam-se as tecnologias de suporte, apresentando-se sistemas que ilustram a sua
aplicao.
A presente investigao estuda o processo de gerao, transmisso e partilha de
conhecimento no contexto do Departamento de Informtica da Universidade da Beira
Interior. Em paralelo, prope-se um Modelo de Gesto do Conhecimento que facilite a
interaco entre as pessoas, armazene e favorea a partilha de informao e
conhecimento no Departamento.
No modelo proposto, consideram-se dois nveis: o nvel organizacional e o nvel
aplicacional/tecnolgico. Ao nvel organizacional so abordados os aspectos que devem
ser considerados para implementar um processo de gesto do conhecimento no
Departamento. Ao nvel aplicacional desenvolvido um Sistema de Gesto do
Conhecimento integrado na intranet do Departamento, suportado em tecnologias que
facilitam o armazenamento e a partilha de informao e conhecimento e que inclui,
nomeadamente, documentao cientfica e administrativa, fora de discusso e
melhores prticas. O sistema serve de suporte ao modelo em termos organizacionais.
Como abordagem metodolgica adequada para o desenvolvimento deste
trabalho, foi escolhido um estudo de caso explicativo e interpretativo, recorrendo-se
triangulao de mtodos, atravs da administrao de um questionrio, da observao
participante e da anlise documental, para caracterizar os docentes e o prprio
Departamento.
vi
Abstract
In this dissertation, the theme knowledge management in organizations is
studied and supporting technologies are discussed along with the presentation of
systems that illustrate their application.
The research carried out studies the process of generation, transmittal and
sharing of knowledge in the context of the Department of Computer Science of the
University of Beira Interior. In parallel, a model of knowledge management is proposed,
that will facilitate interaction between people, store and promote information and
knowledge sharing in the department.
In the proposed model, two levels are considered: the organizational level and
the application/technological level. At the organizational level, are studied the aspects
that should be considered to implement a knowledge management processes in the
Department. At the application level, a Knowledge Management System is developed
that is integrated in the departments intranet and supported by technologies that
facilitate the storage and sharing of information and knowledge that include scientific
and administrative documentation, discussion fora and best practice. The system
serves as a support for the model in terms of organization.
As an adequate methodological approach for the development of this work, a
study of an explicative and interpretative case was chosen, resorting to the triangulation
of methods, through the use of a questionnaire, participating observation and
documental analysis, in order to characterize the teaching staff and the department itself.
vii
Resumen
En este estudio se desarrolla el tema Gestin del Conocimiento en las
Organizaciones y se abordan las tecnologias de soporte, presentandose sistemas que
ilustran su aplicacin.
La presente investigacin estudia el proceso de generacin, transmisin y puesta
en comn del conocimiento en el Departamento de Informtica de la Universidad de la
Beira Interior. Al mismo tiempo, se propone un modelo de gestin del conocimiento
que facilite la interaccin entre las personas, almacene y favorezca la participacin de la
informacin y del conocimiento en el Departamento.
En el modelo propuesto, se consideran dos niveles: el nivel organizativo y el
nivel tecnolgico-aplicado. En el nivel organizativo se abordan los aspectos que deben
ser considerados para implementar un proceso de gestin en el Departamento. En el
nivel tecnolgico-aplicado se desarrolla un sistema de gestin del conocimiento
integrado en la intranet del Departamento, basado en tecnologias que facilitan el
almacenamiento y la puesta en comn de la informacion y del conocimiento, que
incluye documentacin cientifica y administrativa, forum de discusin y sesiones
prcticas mejoradas. El sistema sirve de soporte al modelo desde el punto de vista
organizativo.
Como abordage metodolgico apropiado para el desarrollo de este trabajo, se
escoge el estudio de un caso explicativo e interpretativo, utilizando la triangulacin de
mtodos, a travs de la elaboracin de un cuestionario, de la observacin participativa y
del anlisis documental, para caracterizar los docentes y el propio Departamento.
viii
Rsum
Dans cette dissertation on tudie le thme la gestion de la connaissance dans les
organisations et on y aborde les technologies de support, en prsentant des systmes qui
illustrent leur application.
La prsente investigation tudie le procd de gnration, transmission et
partage de la connaissance dans le contexte du Dpartement dInformatique de
lUniversit de la Beira Interior. Paralllement, on propose un Modle de Gestion de la
Connaissance qui facilite linteraction entre les personnes, stocke et favorise le partage
de linformation et de la connaissance dans le Dpartement.
Dans le modle propos, on considre deux niveaux: le niveau organisationel et
le niveau applicationnel/technologique. Au niveau organisationnel on aborde les aspects
qui doivent tre considrs pour implmenter un procd de gestion de la connaissence
dans le Dpartement. Au niveau applicationnel, on dveloppe un Systme de Gestion de
la Connaissance intgr dans lintranet du Dpartement, support par des technologies
qui facilitent le stockage et le partage dinformation et de connaissance et qui inclut,
notamment, de la documentation scientifique et administrative, des fora de discussion et
de meilleures pratiques. Le systme sert de support au modle en termes
organisationnels.
Comme approche methodologique adquate au dveloppement de ce travail, on
a choisi une tude de cas explicative et interprtative, en recourant la triangulation des
mthodes, travers ladministration dun questionnaire, de lobservation participante et
de lanalyse documentale, pour caractriser les professeurs aussi bien que le
Dpartement.
ix
Zusammenfassung
In dieser Doktorarbeit ergrnde ich das Thema Wissensmanagment in
Organisationen und die untersttzenden Techniken (Technologien), aufzeigend an
Systemen, an denen man die Verwendung betrachten kann.
Die derzeitige Untersuchung behandelt die Entwicklung des Entstehens, der
Vermittlung und der Verteilung von Wissen im Rahmen des Fachbereichs der
Informatik der Universitt Beira Interior. Gleichzeitig wird ein Modell des
Wissenmanagments vorgeschlagen, welches die interpersonelle Interaktion erleichtert,
in dem Wissen und Information bereitgestellt und die Verteilung dieser vereinfacht
wird.
Im vorgeschlagen Modell werden zwei Phasen betrachtet: Die Phase der
Organisation und die Phase der Anwendung. In der Phase der Organisation werden die
Aspekte angesprochen, die fr die Implementation eines solchen Wissenmanagments im
Fachbereich, relevant sind. In der Phase der Anwendung wird ein System des
Wissensmanagment entwickelt, welches im Intranet des Fachbereichs integriert wird,
und durch Technologien untersttzt wird, die die Bereitstellung, Verteilung und
Aufnahme vereinfachen. Zustzlich enthlt dieses System wissenschaftliche und
administrative Dokumentationen, Diskussionsforen und Methoden, die zur
Beschleunigung von Arbeitsprozessen beisteuern. Das System funktioniert nach den
Prinzipien dieses Modells auf der Ebene der Organisation.
Um eine angepasste methodische Betrachtungsweise ber die Entwicklung
dieser Arbeit zu erhalten, wurde ein verdeutlichendes und interpretierbares Fallbeispiel
gewhlt, welches auf die folgenden drei miteinander verbundenen Methoden
zurckgreift, Verteilung von Fragebgen, Betrachtung mit gleichzeitiger Teilnahme und
die Dokumenten-Analyse, welche eine Charakterisierung der Dozenten und damit des
eigentlichen Fachbereich mglich macht.
x
ndice de Quadros
Quadro I Evoluo das Funes de Gesto de Recursos..............................................11
Quadro II Tipos de Conhecimento ...............................................................................15
Quadro III Dois Tipos de Conhecimento .....................................................................16
Quadro IV Exemplos de Repositrios de Conhecimento.............................................46
Quadro V Situaes Relevantes para Diferentes Estratgias de Investigao .............71
Quadro VI Distribuio dos Docentes por Categoria...................................................85
Quadro VII N. de Docentes por Grau Acadmico ......................................................86
Quadro VIII Disciplinas Leccionadas pelos Docentes .................................................87
Quadro IX Sntese de Conhecimento ...........................................................................95
xi
ndice de Figuras
Figura 1 Palavra Chave Knowledge Management na Base de Dados
ABI/INFORM, 1988-1998 ..............................................................................2
Figura 2 Hierarquia do Conhecimento ...........................................................................7
Figura 3 Estgios de Desenvolvimento do Conceito de Gesto da Informao.............9
Figura 4 Quatro Modos de Converso do Conhecimento ............................................17
Figura 5 Espiral de Conhecimento ...............................................................................19
Figura 6 Categorias do Capital Intelectual ...................................................................25
Figura 7 Modelo de Capital Intelectual ........................................................................26
Figura 8 Nveis de Participao nas Comunidades de Prtica .....................................30
Figura 9 Ciclo dos Processos do Conhecimento ..........................................................36
Figura 10 Tecnologia na Cadeia de Valor do Conhecimento.......................................38
Figura 11 Tecnologias de Apoio Gesto do Conhecimento .......................................40
Figura 12 Capital Intelectual do DI ..........................................................................94
Figura 13 Proposta de Modelo de Gesto do Conhecimento .......................................96
Figura 14 Arquitectura dum Modelo de Gesto do Conhecimento............................102
Figura 15 Arquitectura do Sistema de Gesto do Conhecimento para o DI/UBI.......103
Figura 16 Diagrama de Blocos do SGC .....................................................................108
Figura 17 Estrutura do Sistema ..................................................................................111
Figura 18 Sistema de Segurana da Intranet ..............................................................121
xii
ndice Geral
RESUMO......................................................................................................................... v
NDICE DE QUADROS ................................................................................................ x
NDICE DE FIGURAS ................................................................................................. xi
NDICE GERAL .......................................................................................................... xii
SIGLAS UTILIZADAS............................................................................................... xiv
1. INTRODUO ...................................................................................................... 1
1.1 OBJECTIVO DA INVESTIGAO .......................................................................... 4
1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAO .......................................................................... 4
2. REVISO DA LITERATURA ............................................................................. 6
2.1 INTRODUO..................................................................................................... 6
2.2 GESTO DA INFORMAO ................................................................................. 8
2.3 GESTO DO CONHECIMENTO ........................................................................... 13
2.3.1 Conhecimento ......................................................................................... 13
2.3.2 Tipos de Conhecimento .......................................................................... 14
2.3.3 O Conhecimento como Recurso das Organizaes................................ 20
2.3.4 Capital Intelectual .................................................................................. 24
2.3.5 Comunidades de Prtica ........................................................................ 27
3. TECNOLOGIAS DE APOIO GESTO DO CONHECIMENTO.............. 33
3.1 FERRAMENTAS DE SUPORTE AO PROCESSO GC ............................................... 33
3.1.1 Criar Conhecimento ............................................................................... 39
3.1.2 Descobrir Conhecimento........................................................................ 42
3.1.3 Armazenar Conhecimento ...................................................................... 45
3.1.4 Recuperar Informao............................................................................ 51
3.1.5 Aplicar/Utilizar o Conhecimento ........................................................... 54
3.2 TECNOLOGIAS DE TRABALHO COOPERATIVO .................................................. 55
3.3 SEGURANA .................................................................................................... 64
xiii
4. METODOLOGIA................................................................................................. 69
4.1 INTRODUO................................................................................................... 69
4.2 DESENHO DO ESTUDO...................................................................................... 72
4.2.1 Protocolo do Estudo de Caso ................................................................. 73
4.3 RECOLHA DE DADOS ....................................................................................... 74
4.3.1 Administrao de Questionrio aos Docentes ....................................... 76
4.3.2 Observao e Anlise Documental......................................................... 77
5. APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS ................................................ 79
5.1 DESCRIO DO CASO ...................................................................................... 79
5.1.1 Estruturas de Apoio ao Ensino............................................................... 81
5.1.2 Infra-estrutura Tecnolgica do DI ......................................................... 83
5.1.3 Circulao da Informao no DI ........................................................... 84
5.2 CARACTERIZAO DOS DOCENTES.................................................................. 85
5.2.1 Apresentao e Anlise dos Dados do Questionrio ............................. 85
5.2.2 Dados recolhidos atravs da Observao e Anlise Documental ......... 92
6. MODELO DE GESTO DO CONHECIMENTO PARA O DI/UBI.............. 93
6.1 INTRODUO................................................................................................... 93
6.2 NVEL ORGANIZACIONAL ................................................................................ 97
6.2.1 Gerir a Informao................................................................................. 97
6.2.2 Criar um Ambiente Favorvel Partilha de Conhecimento................ 100
6.3 NVEL TECNOLGICO/APLICACIONAL ........................................................... 101
6.3.1 Arquitectura do Sistema de Gesto do Conhecimento ......................... 102
6.3.2 Ferramentas de Suporte ao SGC.......................................................... 105
6.3.3 Estrutura do SGC ................................................................................. 108
7. CONCLUSES................................................................................................... 123
7.1 SUGESTES PARA TRABALHO FUTURO .......................................................... 124
REFERNCIAS ......................................................................................................... 126
ANEXOS ..................................................................................................................... 139
xiv
Siglas utilizadas
CI Capital Intelectual
DI Departamento de Informtica
GC Gesto do Conhecimento
HW Hardware
IA Inteligncia Artificial
I&D Investigao e Desenvolvimento
SGC Sistema de Gesto do Conhecimento
s.d. sem data
SW Software
UBI Universidade da Beira Interior
USA (United States of America) Estados Unidos da Amrica
WEB Abreviatura de WWW World Wide Web
Introduo 1
1. Introduo
A Gesto do Conhecimento tem vindo a impor-se como rea de estudo em
vrios domnios e a ganhar o seu espao, particularmente na ltima dcada, surgindo da
tomada de conscincia da necessidade de valorizar os recursos intangveis das
organizaes. Como dizia Drucker, j em 1993, hoje vive-se na sociedade do
conhecimento. j abundante a literatura sobre o tema, incluindo teses de Mestrado e
Doutoramento de vrias universidades, como a University of Wisconsin Madison
(Olscheske, 1999), a Walden University (Thompsen, 1999), a University of Southern
California (Kalman, 1999) e a University of Western Ontario (Bontis, 1999), por
exemplo, o que atesta a sua relevncia e interesse do tpico para estudantes e
investigadores.
Tambm no ensino so ministrados cursos de ps-graduao ligados gesto do
conhecimento, nomeadamente, em universidades americanas, inglesas e australianas,
como so exemplo, a California State University Dominguez Hills (Shaw, 1999), a
George Washington University (George Washington University, 2001), a University of
Notthingham (University of Notthingham, 2001), a University of Luton (University of
Luton, 2001), University of Central England in Birmingham (UCE, 2001) e a University
of Technology Sydney (UTS, 2001).
A abundante referncia ao tpico por parte de empresas de interveno nas
organizaes (sobretudo, empresas de consultoria), atesta a importncia que elas
conferem a este tema, como factor de competitividade para as empresas.
Reflectindo sobre a sociedade do conhecimento, Amidon (1995), aponta como
fundamento para o sucesso das organizaes o potencial humano que constituir o
verdadeiro diferencial competitivo, numa sociedade tecnologicamente muito evoluda
e que, necessariamente, ter de apostar em redes de contacto cooperativo.
Em termos empresariais, Skyrme e Amidon (1997) defendem que hoje, o
enfoque no conhecimento tem iluminado a importncia de ver os intangveis como
activos que podem ser desenvolvidos e usados para criar valor empresarial.
Numa economia onde a nica certeza a incerteza, a nica fonte segura da
vantagem competitiva1 durvel conhecimento (Nonaka, 1991, p. 96). Nesta linha de 1 Vantagem competitiva um dos quatro componentes em que Ansoff (1965) considera que assenta a
estratgia de uma empresa (a par do conjunto de produtos e mercado, vector de crescimento e sinergia).
Introduo 2
pensamento, considera-se que o grande bem a cuidar, a valorizar e no qual sero
efectuados avultados investimentos e concentradas energias por parte das organizaes,
no sculo XXI, ser, necessariamente, o conhecimento.
O aumento do grau de importncia da gesto do conhecimento advm da
convergncia e evoluo natural de diversos factores (Wiig, 2000). Para este autor, a
gesto do conhecimento no , hoje, uma alternativa ou um luxo, mas advm da
necessidade conduzida pelas foras competitivas, procura do mercado, novos
operadores e prticas de gesto, e a possibilidade de utilizao de abordagens de gesto
do conhecimento e tecnologias de informao.
Na dcada de noventa, verificou-se uma exploso pelo interesse do tema Gesto
do Conhecimento. Como indicador, pode observar-se o levantamento do nmero de
artigos publicados na base de dados ABI/INFORM efectuado por Despres e Chauvel em
1999, com a chave de pesquisa knowledge management, apresentado na figura
seguinte.
Figura 1 Palavra Chave Knowledge Management na Base de Dados ABI/INFORM, 1988-1998
273
3 6 2 3 2028 4422
107
698
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Fonte: Despres e Chauvel (citados em Despres e Chauvel, 2000). A Thematic Analisys of the Thinking in Knowledge Management. Knowledge Horizons: the present and the promise of Knowledge
Management/editado por Despres e Chauvel, Butterworth-Heinemann, USA; p. 56 Segundo este autor, a vantagem competitiva faz parte de um trio de elementos (conjunto de produtos e
mercados, vector de crescimento e vantagem competitiva) que descreve a trajectria da empresa em
termos de produtos e mercados no seu ambiente externo (p. 93). Tem como objectivo identificar
propriedades especficas e combinaes individuais de produtos e mercados (p. 93) que do empresa
uma posio competitiva forte.
Introduo 3
Segundo Amidon (1995), a gesto do conhecimento um movimento que surgiu
dentro da indstria, desligado dos meios acadmicos e das empresas ligadas
consultoria.
Dentro da gesto do conhecimento, esto a emergir comunidades de prtica2 que
transcendem qualquer funo, sector, indstria ou geografia (Amidon, 1995). O autor
refere indica que, nestas comunidades, participam pessoas ligadas a diversas reas, tais
como: sistemas de educao/aprendizagem, economia/finanas, qualidade/
benchmarking, recursos humanos, tecnologias de informao/Internet, e estratgia de
investigao e desenvolvimento (I&D)/inovao, entre outras.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Kelleher (2001), considera que neste
sculo os estrategas ver-se-o cada vez mais como arquitectos de organizaes que
aprendem e como orquestradores de sistemas de gesto do conhecimento, servindo-se
desta auto-criadora, auto-desmultiplicadora e inesgotvel fonte de energia.
Por outro lado, os sistemas e as tecnologias de informao3 tambm tm
desempenhado um papel extremamente importante em torno desta temtica. Com a
reduo dos preos destas tecnologias e das comunicaes, a transferncia electrnica
de dados aumentou exponencialmente a nvel mundial, sobretudo atravs da Internet.
Esta evoluo tecnolgica traduziu-se no desenvolvimento de ferramentas4 que
permitiram o alargamento das tcnicas para captura e disseminao de contedos
(Denning, 2000).
O tema Gesto do Conhecimento reconhecidamente relevante para a sociedade
e para as empresas em particular, mas tambm o para uma universidade. Uma
instituio como a Universidade, em si mesma uma organizao que gera e difunde
conhecimento.
De referir que a literatura consultada se debrua, fundamentalmente, sobre
empresas. Neste contexto, uma vez que uma universidade ou um instituto de
investigao dever estar voltado para as empresas, o seu desenvolvimento e o
2 Do ingls: Communities of Practice (sero abordadas no captulo 2).
3 Segundo Daniels (1997) um sistema de informao um meio de transmitir informao de uma pessoa
para outra. As tecnologias de informao so o dispositivo tcnico que permite a execuo desta
operao.
4 Estas ferramentas electrnicas podem ser: bases de dados, gravaes de udio e vdeo, ferramentas
interactivas e apresentaes multimdia.
Introduo 4
desenvolvimento de uma regio ou de um pas, coloca-se a questo de analisar a Gesto
do Conhecimento no seio da instituio. Por outro lado, nas empresas, nomeadamente
nas que se dedicam s tecnologias da informao, este tema cada vez mais abordado.
Logo, numa Universidade e, particularmente, num Departamento que trabalha em
sistemas e tecnologias de informao, o tema tambm deve ser equacionado e estudado.
1.1 Objectivo da Investigao
O objectivo deste trabalho estudar o processo de gerao e transmisso de
conhecimento no contexto do Departamento de Informtica da Universidade da Beira
Interior. Analisar o tipo de conhecimento que partilhado e identificar tipologias de
conhecimento que so partilhveis (nomeadamente entre os docentes do Departamento).
Propor um Modelo de Gesto do Conhecimento, que facilite a interaco entre as
pessoas e armazene e favorea a partilha de informao/conhecimento no
Departamento.
1.2 Estrutura da Dissertao
Esta dissertao encontra-se organizada em sete captulos, encontrando-se as
referncias listadas a seguir ao ltimo captulo, ordenadas alfabeticamente segundo o
apelido dos autores.
No presente captulo, o primeiro, apresenta-se um enquadramento do tema da
dissertao, enumeram-se os seus principais objectivos e a organizao da dissertao.
Este captulo salienta a relevncia do tema Gesto do Conhecimento e a sua crescente
importncia verificada nos ltimos anos.
No segundo captulo efectua-se uma reviso da literatura sobre a evoluo
histrica das funes de gesto de recursos, sobretudo desde o incio do sculo XX,
dando especial nfase aos recursos valorizados nos ltimos anos, a saber, a informao
e o conhecimento, referindo-se tambm ao uso, por vezes, abusivo e desajustado destas
terminologias. Abordam-se, em particular, os aspectos relacionados com a gesto do
conhecimento, dando um destaque especial s comunidades de prtica, onde se inclui a
partilha de melhores prticas.
Introduo 5
No terceiro captulo, efectuado um levantamento exaustivo das principais
tecnologias de apoio gesto do conhecimento, apresentando-as em funo do ciclo dos
processos do conhecimento. Em cada tipo de tecnologia so apresentados exemplos de
sistemas que incorporam essa tecnologia. Na parte final deste captulo, so abordados os
aspectos relacionados com a segurana.
O captulo quatro dedicado metodologia de investigao utilizada para a
elaborao deste estudo. Como abordagem metodolgica adequada para o
desenvolvimento deste trabalho foi escolhido um estudo de caso nico (o Departamento
de Informtica da UBI), com recurso triangulao de mtodos (administrao de um
questionrio, observao participante e anlise documental).
No quinto captulo, apresentam-se os dados recolhidos que caracterizam os
docentes e o prprio Departamento de Informtica.
O sexto captulo sistematiza o Modelo de Gesto do Conhecimento proposto
para o Departamento de Informtica da UBI. Neste modelo, consideram-se dois nveis:
o nvel organizacional e o nvel aplicacional/tecnolgico. Ao nvel organizacional, so
abordados os aspectos que devem ser considerados, para implementar um processo de
gesto do conhecimento no Departamento. Ao nvel aplicacional, desenvolvido um
Sistema de Gesto do Conhecimento, integrado na intranet do Departamento, que serve
de suporte ao modelo proposto em termos organizativos. A descrio do Sistema de
Gesto do Conhecimento abrange a apresentao da sua arquitectura, das ferramentas de
suporte e da estrutura, que inclui a descrio pormenorizada das suas principais
funcionalidades.
As concluses do trabalho apresentado neste documento encontram-se
resumidas no captulo sete, onde so referidas algumas limitaes do estudo. Na
sequncia do trabalho de investigao desenvolvido, so tambm apresentadas, nesse
captulo, sugestes para trabalho futuro.
Reviso da Literatura 6
2. Reviso da Literatura
2.1 Introduo
Ao iniciar este estudo, que se debrua sobre a gesto do conhecimento, importa
analisar e fazer a distino entre o que se entende por dados, informao e
conhecimento, a partir de uma reviso da literatura existente sobre o tema.
Autores como Berl e outros, Davenport e Prusak, Eliasson e Meadows, citados
em Olscheske (1999), distinguem dados informao e conhecimento, segundo uma
pirmide que j se tornou clssica (ver figura 2). Nela, os dados representam smbolos
ou factos fora de contexto e, deste modo, no so directamente nem imediatamente
significativos. Os dados interpretados num contexto adquirem significado e valor como
informao. Assim, pode-se definir informao como um conjunto de dados que foram
organizados e classificados em contextos definidos.
Conhecimento informao que tem significados e valores extensivos anexados
a ele, tanto pelo grupo ou unidade social, como pelos indivduos que dele fazem parte, e
que utilizado e partilhado dentro de um contexto.
Por sua vez, Ackoff (citado em Skyrme e Amidon, 1997), descreve a hierarquia
dos dados at sabedoria da seguinte forma:
A sabedoria est situada no topo da hierarquia dos tipos, tipos de
contedos da mente humana. Descendo a partir da sabedoria, esto a
compreenso, o conhecimento, a informao, e na base, os dados.
Cada um destes inclui as categorias que esto abaixo deles por
exemplo, no pode haver sabedoria sem compreenso e no pode
haver compreenso sem conhecimento. (p. 28)
Reviso da Literatura 7
Figura 2 Hierarquia do Conhecimento
Sabedoria
Dados
Conhecimento
Informao
A aplicao e usoprodutivo da informao.
Dados organizados dentro de padres com significado.
Dados desorganizados (nmeros, sons, imagens).
Sabedoria
Dados
Conhecimento
Informao
A aplicao e usoprodutivo da informao.
Dados organizados dentro de padres com significado.
Dados desorganizados (nmeros, sons, imagens).
Fonte: Skyrme e Amidon (1997). Creating the Knowledge-Based Business: key lessons from an
internacional study of best practice. Business Intelligence, London, p. 29 (adaptado)
Na hierarquia do conhecimento, Amidon (1997) considera que dados so
elementos de anlise (factos e figuras). Informao so dados com contexto.
Conhecimento informao com significado. Sabedoria conhecimento mais
discernimento.
Curiosamente, Drucker (1988) afirma que necessrio conhecimento para
converter dados em informao, sendo este conhecimento, por definio, especializado.
Com o objectivo de tornar mais compreensvel a hierarquia do conhecimento, Skyrme
(1999) apresenta os seguintes exemplos para cada um dos elementos da pirmide:
- Dados 03772 41565 83385 10157.
- Informao Estao meteorolgica de Heathrow; visibilidade 15 Km, cu
completamente nublado; direco do vento norte-oeste, velocidade 85 ns;
temperatura 15.7 C.
- Conhecimento A minha experincia indica que este clima causar grandes
atrasos nos voos.
- Sabedoria Eu farei uma reserva num comboio que vai atravs do tnel do
Canal da Mancha antes dos outros passageiros descobrirem esta alternativa mais
segura.
Reviso da Literatura 8
2.2 Gesto da Informao
A informao, sobretudo a partir da dcada de setenta, comea a ser considerada
pelos gestores como um recurso com caractersticas e propriedades prprias, devido
sua intangibilidade, e cujo valor econmico , pelo menos, to importante como os
demais recursos materiais e humanos de uma organizao.
Neste ponto, considera-se necessrio clarificar alguns conceitos. Neste sentido,
Prusak (2000) distingue claramente o que entende por: gesto de tecnologia, gesto da
informao e gesto do conhecimento. Em termos tecnolgicos, considera que todos os
colaboradores de uma organizao, que esteja sensvel s questes ligadas gesto do
conhecimento, devem ter um computador e, se possvel, com uma cmara web, para
poderem estar todos em contacto uns com os outros de uma forma rpida e fcil, com a
vantagem de que as suas trocas de informao ficam guardadas nos seus equipamentos.
Naturalmente, considera-se que estes equipamentos devero estar sempre em ptimas
condies de operacionalidade e isto consegue-se graas a uma boa gesto da
tecnologia.
Com a contribuio da tecnologia, fundamentalmente ligada informtica e s
telecomunicaes, pode ser efectuada a troca/partilha de informao, assim como o seu
armazenamento em bases de dados, gesto documental, etc.
Em meados dos anos setenta, surgiram nos EUA os conceitos de gesto da
informao e gesto de recursos de informao, como resultado de um relatrio
elaborado pela National Commission on Federal Paperwork, com o objectivo de reduzir
os custos com a burocracia federal. No entanto, Barrulas e Correia (1997) consideram
que apesar destes conceitos se associarem ao tratamento automtico e s tecnologias,
eles esto relacionados com todas as iniciativas que visam melhorar a eficincia e a
qualidade e capacidade de resposta de uma organizao. Nesta perspectiva, Wilson
(citado em Silva e Alves, 2001) refere que a gesto da informao assenta numa gesto
eficaz de todos os recursos de informao importantes para a organizao, quer em
relao aos recursos criados internamente quer aos produzidos no exterior.
Marchand e Horton (citados em Burk e Horton, 1988 e em Barrulas e Correia,
1997) sintetizam a evoluo histrica da gesto da informao, ao longo dos ltimos
cem anos, desde as organizaes da poca da revoluo industrial, considerando cinco
estgios distintos. A figura seguinte apresenta a evoluo desde a preocupao com a
Reviso da Literatura 9
eficincia at preocupao com o desempenho global da actividade empresarial e
desde o desempenho de funes de apoio operacional at funo de gesto estratgica.
Figura 3 Estgios de Desenvolvimento do Conceito de Gesto da Informao
EficinciaFuno deApoio Operacional
Funo deGesto Estratgica
Estgio UmGesto de documentaoburocrtica
Estgio DoisGesto de tecnologias automatizadas
Estgio TrsGesto dos recursos de informao da organizao
Estgio QuatroAnlise de informaosobre a concorrncia
Estgio CincoGesto da informaoestratgica
Desempenho Global daActividade Empresarial
EficinciaFuno deApoio Operacional
Funo deGesto Estratgica
Estgio UmGesto de documentaoburocrtica
Estgio DoisGesto de tecnologias automatizadas
Estgio TrsGesto dos recursos de informao da organizao
Estgio QuatroAnlise de informaosobre a concorrncia
Estgio CincoGesto da informaoestratgica
Desempenho Global daActividade Empresarial
EficinciaFuno deApoio Operacional
Funo deGesto Estratgica
Estgio UmGesto de documentaoburocrtica
Estgio DoisGesto de tecnologias automatizadas
Estgio TrsGesto dos recursos de informao da organizao
Estgio QuatroAnlise de informaosobre a concorrncia
Estgio CincoGesto da informaoestratgica
Desempenho Global daActividade Empresarial
Fonte: Marchand e Horton (citado em Burk e Horton, 1988. InfoMap: A Complete Guide to Discovering
Corporate Information Resources. Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, p. 6 - adaptado)
Caracteriza-se, em seguida, cada um dos estgios reconhecidos, apresentados
por estes autores:
Gesto de documentao burocrtica Comeou em finais do sculo XIX e
durou at dcada de cinquenta. A gesto da informao foi efectuada recorrendo
burocracia e gesto de documentos fsicos (em papel).
Gesto de tecnologias automatizadas Este estgio caracteriza-se pelo
aparecimento das novas tecnologias e a gesto da informao corresponde,
essencialmente, gesto de tecnologias de informao. A eficincia tcnica o
principal objectivo de negcio.
Gesto dos recursos de informao da organizao Neste estgio, verifica-se
uma mudana de enfoque em termos de gesto: primeiro, comea a assumir-se a
informao como um recurso da organizao, atribuindo-lhe valor econmico
semelhante, ou mesmo superior, aos restantes recursos humanos e materiais e, segundo,
Reviso da Literatura 10
o realce atribudo procura da melhor relao custo-benefcio, relativamente
utilizao das tecnologias de informao, considerando tanto a informao manual
como a automatizada.
Anlise de informao sobre a concorrncia Neste estgio, a funo gesto da
informao orientada para os objectivos do negcio e assenta, essencialmente, na
recolha e anlise de informao relativa ao ambiente envolvente. Em funo desta
informao, so identificadas as vantagens competitivas e definida a estratgia da
organizao.
Gesto da informao estratgica Este ltimo estgio considerado como
aquele que coincide com a funo de gesto estratgica de toda a organizao, a partir
da qual se estabelece a ligao entre as outras estratgias funcionais de negcio, como
por exemplo, a financeira, a de produo e a de I&D.
A partir da anlise deste modelo de Marchand e Horton, Barrulas e Correia
(1997) concluem que este continua a ser uma boa ferramenta para compreender a
evoluo da gesto da informao, apesar do desenvolvimento tecnolgico e da
globalizao da sociedade e da economia verificados nos ltimos anos. Consideram que
os vrios estgios do modelo podem coexistir no espao e no tempo, em funo das
organizaes e das prprias sociedades em que se inserem.
Um outro aspecto importante, prende-se com a importncia que os gestores tm
atribudo a determinados recursos, ao longo dos ltimos cem anos, em particular aos
recursos de informao e de conhecimento. Um recurso, neste contexto, pode ser
entendido como uma fonte ou um reservatrio de algo importante em determinada
circunstncia. Para Burk e Horton (1988), um recurso alguma coisa fundamental para
atingir sucesso e para a qual existe uma carncia real, potencial ou perceptvel (p. 14).
No quadro da pgina seguinte, estes autores sintetizam a evoluo da funo de
gesto de recursos, apontando as causas para cada uma delas, assim como a dcada em
que se considera o incio de cada funo.
Reviso da Literatura 11
Quadro I Evoluo das Funes de Gesto de Recursos
Recurso Funo Incio Causas
Dinheiro/capital Gesto Financeira 1920s Conscincia de investimento elevado, da escassez de capital e depresso
Pessoa Gesto de pessoal 1930s Avanos nas cincias do comportamento e nas foras sociais (sindicatos, condies laborais)
Equipamento e abastecimento; matrias-primas
Gesto de material 1940s II Guerra Mundial; previses de escassez extrema para armazenamentos estratgicos
Terra e construes Gesto do espao e da propriedade
1940s Necessidade do uso prudente de espao nos escritrios/fbricas/laboratrios
Energia Gesto dos recursos energticos
1970s Embargo da OPEC; declnio das reservas de gs e petrleo; novas fontes alternativas
Informao Gesto dos recursos de informao
1970s Computadores; exploso de informao; sobrecarga de trabalho burocrtico para os contribuintes
Conhecimento Gesto do conhecimento
1980s Sistemas inteligentes; inteligncia artificial5; valor econmico e cultural do conhecimento
Fonte: Modificado de Horton (citado em Burk e Hortan, 1988. InfoMap: A Complete Guide to Discovering Corporate Information Resources. Prentice Hall, Englewood Cliffs,
New Jersey, p. 15 - adaptado) Tendo em conta o mbito deste estudo, apenas se analisam as funes de gesto
dos recursos de informao e do conhecimento.
Da anlise do quadro, verifica-se que, a partir dos anos setenta, coincidindo com
a crise das reservas energticas de gs e do petrleo e a exploso dos computadores e da
informao, a funo de gesto de recursos de informao torna-se preponderante. A
partir deste perodo, os meios de acesso e distribuio de informao, bem como a
5 Inteligncia Artificial A Inteligncia Artificial (IA) pode ser representada sob a forma da seguinte
equao: IA = Conhecimento + Raciocnio; na qual conhecimento corresponde forma de representar o
conhecimento utilizando as tecnologias de informao e raciocnio corresponde, em termos
tecnolgicos, s regras de inferncia utilizadas para resolver um problema.
Reviso da Literatura 12
prpria informao em si, comeam a constituir os recursos de informao de uma
organizao.
Com a evoluo dos sistemas e das tecnologias de informao, na dcada de
oitenta, o novo recurso valorizado pelos gestores comea a ser o conhecimento. Neste
perodo, o valor econmico e cultural do conhecimento realado. A valorizao
crescente dos recursos informao e conhecimento, tambm se deve divulgao e
utilizao do computador, bem como sua crescente evoluo tecnolgica associada,
verificada at aos dias de hoje (nomeadamente, as redes de computadores, das quais, a
Internet o melhor exemplo).
Como exemplos de recursos de informao, podem-se considerar os seguintes:
dados (gerados e recolhidos pelas organizaes), fichas (conjuntos de dados agrupados
em fichas de eventos, objectos e pessoas), texto (documentos existentes tanto em
formato electrnico como em formato papel), multimedia (bases de dados e
CD-ROMs multimedia, bem como as tecnologias web) e as tecnologias de informao
(computadores, telecomunicaes e software). Estes ltimos apoiam a organizao,
transmisso, armazenamento e utilizao de conhecimento, podendo ser considerados,
tambm, como recursos de conhecimento.
Skyrme (1999) reala que a funo de gesto de recursos de informao
fundamental para a gesto do conhecimento explcito.
Em termos de gesto do conhecimento, Prusak (2000) considera que esta funo
no pode ser realizada, dando um grau de importncia demasiado elevado tecnologia.
Refere, inclusivamente, que a terminologia gesto do conhecimento para tarefas
designadas, at h relativamente pouco tempo, por gesto da informao, abusiva e
desapropriada, pois apenas se verifica uma alterao terminolgica. O autor entende que
o conhecimento partilhado atravs do contacto pessoal, quando existe uma relao de
confiana entre as pessoas. Este aspecto, algo a que a tecnologia ainda no consegue
responder, apesar de aproximar as pessoas a um nvel jamais atingido, desde que elas
no se encontrem fisicamente no mesmo local.
Fahey e Prusak (1998) reflectiram sobre a definio do conceito de
conhecimento em si, e as suas diferenas relativamente ao que se entende por dados e
informao, e referem uma srie de erros que so cometidos em termos da gesto do
conhecimento. Todos estes erros so consequncia das implicaes que a ausncia desta
distino provoca, falha que os autores classificam como um erro crtico.
Reviso da Literatura 13
2.3 Gesto do Conhecimento
Desde as civilizaes antigas que o conhecimento ocupa um espao fundamental
na vida das pessoas, pois foi atravs da utilizao, criao e evoluo do saber que as
comunidades se foram desenvolvendo ao longo dos tempos.
Neste ponto, abordam-se as diversas vertentes da temtica gesto do
conhecimento.
2.3.1 Conhecimento
A filosofia, desde o perodo da Grcia antiga, com Plato e Aristteles, pode ser
vista como a procura de respostas para a questo: o que o conhecimento?.
Actualmente, existem inmeros autores, como os que so citados ao longo deste
captulo, que estudam a importncia do conhecimento e dos activos intangveis para as
empresas e para as organizaes em geral.
Neste sentido, Davenport e Prusak (1998) definem conhecimento como uma
mistura fluida de experincia entrelaada, valores, informao contextual e
discernimento especializado que providencia uma grelha para avaliar e incorporar novas
experincias e informao (p. 5). O conhecimento tem origem e aplicado nas mentes
dos conhecedores. Nas organizaes, ele torna-se frequentemente implantado, no s
em documentos ou repositrios, mas tambm em rotinas organizacionais, processos,
prticas e normas (p. 5).
Por outro lado, Skyrme (1999) sintetiza os aspectos chave do conhecimento, a
partir do seu estudo acerca do papel do conhecimento na criao de valor e dos seus
benefcios para o negcio, nos seguintes pontos:
- Conhecimento universal e estratgico;
- O conhecimento vital, mais importante das organizaes (sobretudo, das
empresas), geralmente o conhecimento do cliente;
- O maior conhecimento das organizaes conhecimento tcito na cabea
das pessoas; deste modo, qualquer iniciativa de conhecimento tem que
motivar e reter os trabalhadores do conhecimento;
- Partilhar conhecimento, enquanto desafio cultural, ajuda a aumentar a
performance global;
Reviso da Literatura 14
- Aplicar conhecimento na inovao provvel que venha a criar benefcios
maiores a longo prazo;
- Existem benefcios de negcio demonstrados;
- Pessoas em rede sustentam o sucesso das maiores iniciativas de
conhecimento; perceber as redes de conhecimento6 e o modo de educar
comunidades de prtica , deste modo, fundamental (p. 68).
Estes aspectos revelam-se de grande importncia, pelo que devem ser
considerados em qualquer iniciativa relacionada com o conhecimento.
2.3.2 Tipos de Conhecimento
Quando se pensa em tipos de conhecimento, muitas teorias tm surgido,
sobretudo, relativamente sua classificao. Por exemplo, Wiig (citado em Skyrme e
Amidon, 1997), classifica o conhecimento em quatro tipos, que considera como
principais e que so os seguintes:
1. Factual factos, dados, observaes;
2. Conceptual conceitos, intuio, discernimentos;
3. Expectante julgamento, hipteses;
4. Metodolgico conhecimento procedimental (p. 25).
Savage (citado em Skyrme e Amidon, 1997 e referido em Skyrme, 1999),
apresenta em seis questes muito simples, seis tipos de conhecimento, que so
sistematizados no quadro da pgina seguinte.
6 Do ingls: knowledge networking. Segundo Maurer e Regli (2000) as redes de conhcimento so redes
de pessoas e sistemas de computadores que trabalham em cooperao, desenvolvendo tarefas que
envolvem conhecimento intensivo numa empresa distribuda, muitas vezes virtual.
Reviso da Literatura 15
Quadro II Tipos de Conhecimento
Tipo Descrio/exemplo
Saber - porqu O contexto amplo e a viso. Este conhecimento de contexto permite s pessoas realizar tarefas no estruturadas da forma mais apropriada. Um exemplo, fazer o que correcto por um cliente em vez de seguir, de uma forma servil, um procedimento.
Saber - o qu O sentido bsico de conhecer. Representa a experincia. Uma pessoa habilitada, por exemplo, instintivamente sabe qual a causa provvel do problema. Os profissionais podem, imediatamente, resolver situaes muito mais rapidamente do que muitas anlises baseadas em computador.
Saber - como Este o conhecimento de como ter as coisas feitas. Algum deste conhecimento tornado explcito nos procedimentos da organizao. Na prtica, muito deste conhecimento "tcito" e est dentro da cabea das pessoas. Novos modos de encadear processos emergem da prtica, mais rapidamente do que so escritos no manual de procedimentos. A aquisio de saber- -como depende das aptides e da prtica, requerendo tempo para se desenvolver e refinar.
Saber - quem Saber quem pode ajudar. Isto depende, at certo ponto, do juzo, tendo em conta a capacidade para apreciar as aptides e foras de outras pessoas.
Saber - quando Um sentido do timing. Os bons operadores do mercado de aces parecem ter a percia de comprar quando toda a gente est a vender. Algumas empresas notabilizaram-se por causa de escolherem o melhor timing para a sua estratgia de entrada no mercado.
Saber - onde Saber onde as coisas so feitas melhor. As alavancas de mudana so, muitas vezes, reforadas ou atingem massa crtica em localidades onde pessoas com aptides especializadas se congregam lugares como Silicon Valley para a alta tecnologia, ou a City de Londres ou Nova York para a finana internacional.
Fonte: Skyrme e Amidon (1997). Creating the Knowledge-based Business. Business Intelligence, London, p. 27 (adaptado)
Nonaka e Konno (1998) introduziram o conceito Japons de Ba na teoria
organizacional. Ba (equivalente a lugar em Portugus) um lugar de partilha
destinado promoo de relacionamentos, podendo mesmo ser um espao fsico (ex.:
escritrio ou sala de reunies), virtual (ex.: correio electrnico ou forum de discusso),
mental (ex.: partilha de experincias, ideias ou ideais) ou a combinao deles. O
Reviso da Literatura 16
conceito ba foi proposto pela primeira vez pelo filsofo Japons Kitaro Nishida e foi
mais tarde desenvolvido por Shimizu. Estes autores adaptaram este conceito com o
objectivo de elaborar o seu prprio modelo de criao de conhecimento.
Segundo Nonaka e Konno (1998), o conhecimento, em contraste com a
informao, no pode ser separado do seu contexto, ou seja, est embebido no ba. Se
o conhecimento for separado do ba (do seu contexto), torna-se informao e, assim,
pode ser comunicado independentemente do ba. Para estes autores, a informao
reside nos media e em redes de computadores e tangvel, ao passo que o conhecimento
reside no ba e intangvel. Para apoiar o processo de gerao de conhecimento,
necessrio um apoio no ba, ou seja, os espaos de partilha.
O primeiro autor a considerar duas dimenses para o conhecimento
conhecimento tcito e conhecimento explcito foi Michael Polanyi, nos anos sessenta,
quando afirmou que ns sabemos mais do que somos capazes de dizer, tal como
referido por Nonaka (1991), Nonaka e Takeuchi (1995), Skyrme e Amidon (1997),
Skyrme (1999) e Denning (2001), entre outros.
Para Nonaka (1991), o conhecimento tcito altamente pessoal. difcil de
formalizar e, por consequncia, difcil de comunicar aos outros. O conhecimento tcito
tambm est profundamente enraizado na aco e na obrigao individual para um
contexto especfico habilidade ou profisso. Por outro lado, o conhecimento explcito
formal e sistemtico. Por esta razo, ele pode ser facilmente comunicado e partilhado,
nas especificaes de um produto, numa frmula cientfica ou num programa de
computador.
Nonaka e Takeuchi (1995), sintetizam os dois tipos de conhecimento no quadro
seguinte:
Quadro III Dois Tipos de Conhecimento
Conhecimento Tcito (Subjectivo)
Conhecimento Explcito (Objectivo)
Conhecimento de experincia (Corpo)
Conhecimento simultneo (Aqui e agora)
Conhecimento analgico (prtica)
Conhecimento racional (Mente)
Conhecimento sequencial (Alm e ento)
Conhecimento digital (Teoria)
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1995). The Knowledge-Creating Company: how Japanese companies create the dynamics of innovation. Oxford University Press, New York, p.61 (adaptado)
Reviso da Literatura 17
Na perspectiva de Nonaka e Takeuchi (1995), conhecimento tcito e explcito
no so totalmente separados, mas podem ser entendidos como entidades mutuamente
complementares.
Nonaka (1991) afirma que quando os conhecimentos tcitos e explcitos
interagem, algo de poderoso acontece, ou seja, precisamente nesta troca entre
conhecimento tcito e explcito que as empresas japonesas so boas especialistas em
desenvolvimento.
O modelo dinmico de criao de conhecimento apresentado por Nonaka e
Takeuchi (1995) est apoiado na assuno crtica que o conhecimento humano criado
e expandido atravs de interaces sociais entre conhecimento tcito e conhecimento
explcito. Estes autores chamam a esta interaco converso de conhecimento. Na
figura 4, esto esquematizados os quatro modos de converso de conhecimento
apresentados por Nonaka (1991) e Nonaka e Takeuchi (1995). Os autores designaram
estes quatro degraus, no processo de gerao de conhecimento, como Modelo SECI
Socializao, Exteriorizao, Combinao e Interiorizao.
Figura 4 Quatro Modos de Converso do Conhecimento
Socializao Exteriorizao
Interiorizao Combinao
Conhecimento tcito Conhecimento explcito
Conhecimentotcito
Conhecimentoexplcito
De
A
Socializao Exteriorizao
Interiorizao Combinao
Conhecimento tcito Conhecimento explcito
Conhecimentotcito
Conhecimentoexplcito
De
A
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1995). The Knowledge-Creating Company: how Japanese companies create the dynamics of innovation. Oxford University Press, New York, p. 62 (adaptado)
1. Socializao: converso de conhecimento tcito em conhecimento tcito.
Socializao o processo de partilha de experincias, tal como a partilha de
modelos mentais e habilidades tcnicas. A chave para adquirir conhecimento
tcito a experincia. Por exemplo, um indivduo partilha o seu conhecimento
tcito com outro. Nesse momento, eles socializam o conhecimento, mas apenas
Reviso da Literatura 18
entre eles os dois, o que faz com que a socializao seja uma forma bastante
limitada de criao do conhecimento. Neste caso, o conhecimento nunca se torna
explcito, logo no pode ser facilmente apoiado pela organizao como um todo.
2. Exteriorizao: converso de conhecimento tcito em conhecimento explcito.
Exteriorizao o processo de articulao de conhecimento tcito em conceitos
explcitos. Esta a chamada quinta-essncia7 do processo de criao de
conhecimento, em que o conhecimento tcito se torna explcito, tomando as
formas de metforas, analogias, conceitos, hipteses ou modelos.
3. Combinao: converso de conhecimento explcito em conhecimento explcito.
Combinao o processo de sistematizao de conceitos dentro do sistema de
conhecimento. Este modo de converso de conhecimento combina diferentes
corpos de conhecimento explcito. Os indivduos trocam e combinam
conhecimento atravs de diversos meios, tais como, documentos, reunies,
conversas telefnicas ou redes de computadores. Esta combinao no estende a
base de conhecimento existente na organizao.
4. Interiorizao: converso de conhecimento explcito em conhecimento tcito.
Interiorizao o processo de incorporar o conhecimento explcito em
conhecimento tcito. Est intimamente relacionado com o aprender fazendo.
Para o conhecimento explcito se tornar tcito, til que o conhecimento seja
verbalizado ou esquematizado em documentos, manuais ou relatos orais. A
documentao ajuda as pessoas a interiorizar o que experimentaram,
enriquecendo assim o seu conhecimento tcito.
De acordo com Nonaka e Konno (1998), existem quatro tipos de ba, que
correspondem s quatro fases do modelo SECI. Assim, apresentam-se a seguir os quatro
tipos de ba com as respectivas caractersticas:
- Criar o ba o primeiro ba pelo qual comea o processo de criao de
conhecimento e corresponde fase de socializao. Experincias face a face
so a chave para a converso e transferncia de conhecimento tcito.
- ba de interaco o lugar onde o conhecimento tcito se transforma em
explcito, representando o processo de exteriorizao. O dilogo a chave
para estas converses.
7 A quinta-essncia o extracto do mximo apuramento; o que h de melhor e mais subtil numa coisa
(Costa e Melo, 1999).
Reviso da Literatura 19
- Cyber ba o lugar de interaco no mundo virtual em vez de ser no espao
e no tempo reais; representa a fase de combinao.
- Exercitar o ba apoia a fase de interiorizao e facilita a converso de
conhecimento explcito em tcito.
Nonaka e Takeuchi (1995) consideram que a chave para a criao de
conhecimento reside na mobilizao e na converso do conhecimento tcito. A
interaco contnua e dinmica entre conhecimento tcito e conhecimento explcito vai
sendo construda atravs de mudanas entre os diferentes modos de converso de
conhecimento. Aqueles autores chamaram a este processo a espiral de conhecimento
(ver figura 5):
A criao de conhecimento organizacional um processo em espiral,
comeando no nvel individual e movendo-se para cima atravs da
expanso de comunidades interactivas, que cruzam sectores,
departamentos, divises e os limites da organizao (p. 72).
Figura 5 Espiral de Conhecimento
Explcito Implcito
Individual
Equipa
Organizacional
Inter-organizacional
Explcito ImplcitoExplcito Implcito
Individual
Equipa
Organizacional
Inter-organizacional
Fonte: Nonaka e Takeuchi (citados em Skyrme e Amidon, 1997. Creating the Knowledge-Based
Business: key lessons from an internacional study of best practice. Business Intelligence, London, p. 199 - adaptado)
Reviso da Literatura 20
2.3.3 O Conhecimento como Recurso das Organizaes
O conhecimento, entendido como um recurso para a organizao, algo que
pode ser gerido. Segundo Lawton (2001), Peter Drucker foi o primeiro a utilizar o termo
gesto do conhecimento, em meados dos anos oitenta. Contudo, nos anos noventa
que se assiste a uma exploso de literatura sobre gesto em que a gesto do
conhecimento tpico recorrente. Vrios autores retomam os conceitos de Nonaka e
desenvolvem modelos e programas que visam gerir o conhecimento das organizaes
e tirar vantagens dos seus activos intangveis. Skyrme (1997) considera que gesto do
conhecimento a gesto explcita e sistemtica do conhecimento vital, assim como os
seus processos associados de criao, organizao, difuso, utilizao e explorao. Este
autor considera que o sucesso de um programa de gesto do conhecimento, depende de
ser:
- Explcito assunes superficiais; codificando aquilo que conhecido;
- Sistemtico deixando as coisas como esto, no se vo alcanar os
benefcios;
- Vital necessrio um enfoque; no se tm recursos ilimitados;
- Processual a gesto do conhecimento um conjunto de actividades com as
suas prprias ferramentas e tcnicas.
Embora muitos programas comecem por rever de que forma o conhecimento
existente pode ser partilhado, este autor afirma que a sua experincia indica que a
criao de novo conhecimento e o processo de inovao que do os melhores lucros a
longo prazo.
Segundo Sveiby (1999), gesto do conhecimento a arte de criar valor a partir
dos activos intangveis de uma organizao.
No sentido de implementar uma filosofia de gesto do conhecimento, Davenport
(1996), apresenta dez princpios orientadores, juntamente com o sentido das suas
implicaes no mundo real:
1. A gesto do conhecimento dispendiosa Empresas com conhecimento
intensivo podem gastar entre 5 e 10% das suas receitas a desenvolver e gerir o
conhecimento.
2. A gesto eficaz do conhecimento requer solues hbridas, envolvendo tanto
pessoas como tecnologias enquanto os computadores e os sistemas de
Reviso da Literatura 21
comunicao so bons para a captura, transformao e distribuio de
conhecimento, altamente estruturado, as pessoas tm a capacidade de interpretar
e sintetizar conhecimento dspar tornando-o til para a tomada de decises.
3. A gesto do conhecimento altamente poltica o adgio "conhecimento
poder" preponderante. Se no existem polticas em andamento, ento a
organizao no se apercebe do valor da gesto do conhecimento.
4. A gesto do conhecimento requer gestores do conhecimento este no ser bem
gerido, se no houver um gestor a quem dada responsabilidade pela gesto do
conhecimento (tal como feito noutros sectores como o financeiro e os recursos
humanos).
5. A gesto do conhecimento beneficia mais de mapas do que de modelos, mais de
mercados do que de hierarquias aqui o argumento no para uma base de
dados compreensiva ou um dicionrio de fontes de conhecimento (testemunhas
da falncia de empresas de larga escala modeladoras de dados), mas mapas
simples de conhecimento que o mercado (consumidores) do conhecimento
considera teis.
6. A partilha e o uso do conhecimento so frequentemente actos no naturais
tem que se encorajar as pessoas para a partilha do conhecimento.
7. A gesto do conhecimento significa a melhoria do conhecimento dos processos
de trabalho os melhoramentos devem ser feitos para aqueles processos que
envolvem a criao, o uso e a partilha de conhecimento.
8. O acesso ao conhecimento apenas o comeo os utilizadores do
conhecimento devem-se envolver mais activamente em redescrever o
conhecimento em contextos relevantes e em transmiti-lo em formatos teis.
9. A gesto do conhecimento nunca termina ela no uma iniciativa definitiva,
uma tarefa de gesto em execuo constante como a gesto financeira ou de
recursos humanos.
10. A gesto do conhecimento requer um contrato de conhecimento com muito
conhecimento na cabea dos empregados e a mobilidade crescente, as empresas
devem esclarecer quem possui e quem tem direito ao conhecimento dos
empregados.
Reviso da Literatura 22
Dentro da mesma linha de pensamento, Skyrme e Amidon (1997) sugerem
quatro estratgias distintas, mas no necessariamente exclusivas, para a gesto do
conhecimento, depois de estudarem diversas empresas que implementaram programas
de gesto do conhecimento:
1. Gerir o conhecimento como o activo nuclear o conhecimento um activo
da organizao e, como tal, deve ser apoiado e protegido. Isto aplica-se a
organizaes que dependem de uma elevada capacidade intelectual, como
o exemplo da indstria farmacutica.
2. Gerir o conhecimento para realar a capacidade dos produtos ou servios
neste caso, o conhecimento acrescenta valor aos produtos, tornando-os mais
"refinados". Empresas de alta tecnologia, como a automvel, computadores e
aeroespacial so exemplos da aplicao deste tipo de estratgia.
3. Gerir o conhecimento como um negcio praticado, por exemplo, pelas
empresas de consultoria e de pesquisa de mercado.
4. Gerir o conhecimento para realar os processos de negcio e de gesto
identificar bem e tornar o conhecimento acessvel, sempre que seja
necessrio. Isto pode melhorar a eficincia e a eficcia de um processo numa
organizao, sobretudo em ambientes competitivos, complexos e em
constante mudana. Como exemplo, apresentam-se os servios financeiros,
as indstrias de processos e as manufacturas em geral.
Aps a apresentao dos aspectos mais importantes a ter em conta na
implementao de uma filosofia de gesto assente nos princpios da gesto do
conhecimento, Elliot e ODell (1999) apresentam quatro elementos chave, facilitadores
para a gesto do conhecimento, em que cada um deles essencial mas,
simultaneamente, insuficientes uns sem os outros. Estes elementos so: cultura,
tecnologia, infra-estrutura e medio.
Cultura cultura a combinao da histria, expectativas, regras no escritas e
contexto social que afecta todo o comportamento dos colaboradores.
Tecnologia a tecnologia a ferramenta que possibilitou o grande
desenvolvimento das telecomunicaes e das tecnologias de informao. O uso de
Reviso da Literatura 23
tecnologias Groupware8 e Internet/Intranet9/Extranet10 tem uma grande importncia
para a partilha efectiva do conhecimento e das melhores prticas. Segundo estes
autores, no coincidncia o facto de tanto o florescimento das tecnologias de
informao como o reconhecimento de que o conhecimento o activo mais valioso das
organizaes, terem surgido ao mesmo tempo.
Infra-estrutura a infra-estrutura inclui mecanismos de transferncia, como
tecnologia, processos de trabalho e redes de pessoas, alm da estrutura organizacional e
das regras de suporte aos processos da organizao. As pessoas necessitam de ajuda,
percebendo e transferindo conhecimento e as melhores prticas.
Medio como quase todas as iniciativas no mundo dos negcios, esta medida
tem como objectivos avaliar o investimento e o respectivo rendimento para a
organizao, em intervalos de tempo regulares. Uma vez que extremamente difcil
medir algo que no se v, a melhor forma de medir o impacto dos esforos de gesto do
conhecimento e partilha das melhores prticas, atravs dos seus efeitos na
performance da organizao.
8 Tecnologias Groupware caracterizam-se por aplicaes de trabalho em grupo ou entre grupos (trabalho
cooperativo). Existe uma vasta literatura sobre este tema e, geralmente, tambm se usa a designao de
CSCW Computer Supported Colaborative Work , como sinnimo de groupware. Segundo Barrulas e
Correia (1997), a designao CSCW sublinha a dimenso trabalho como a componente fundamental
destas tecnologias, enquanto que a designao groupware reala a dimenso de comunicao e criao
de esprito de equipa, que tambm est directamente relacionada com o trabalho.
9 Intranet Aplicao das tecnologias, produtos e conceitos da Internet s redes privadas das
organizaes (Coelho, 2001).
10 Extranet Liga partes seleccionadas da intranet de uma organizao ao mundo exterior, utilizando as
tecnologias, produtos e conceitos da Internet. Usam firewalls que apenas permitem o acesso a utilizadores
autorizados, como por exemplo, clientes ou parceiros de negcio. Os firewalls sero abordados no
ponto 3.3.
Reviso da Literatura 24
2.3.4 Capital Intelectual
Um conceito que aparece frequentemente associado Gesto do Conhecimento
e que inspira dificuldades o Capital Intelectual.
O capital intelectual, a par da informao e do conhecimento, tambm
considerado como um activo intangvel das organizaes. Segundo Sveiby (1998), o
primeiro uso do termo Capital Intelectual foi atribudo a John Galbraith, em 1969.
Prusak (citado em Sveiby, 1998), caracteriza capital intelectual como o material
intelectual que foi formalizado, captado e elevado para produzir um activo de maior
valor.
Noutra perspectiva, Stewart (1999) apresenta a seguinte definio de capital
intelectual:
"O capital intelectual material intelectual conhecimento, informao,
propriedade intelectual, experincia que pode ser usado para criar
riqueza" (p. 14).
Wagner e outros (2000), definem capital intelectual como a proporo de valor
acrescentado de todos os recursos intangveis da empresa. Particularmente, contm o
conhecimento crucial da empresa que necessrio para obter vantagem competitiva.
Estes autores dividem o capital intelectual em quatro categorias: capital humano, capital
organizacional, capital mercado e capital inovao, como se pode observar na figura da
pgina seguinte.
Reviso da Literatura 25
Figura 6 Categorias do Capital Intelectual
Fonte: Wagner e outros (2000). Measurement System for the evaluation of Intellectual Capital.
http://www.profactor.at/magic/english/frame_d.html.
Segundo estes autores:
- Capital Humano compreende competncias como a habilidade, a percia e o
talento, assim como atitudes ligadas liderana e gesto. Refere-se ao
potencial bsico da organizao.
- Capital Organizacional refere-se aos processos, infra-estruturas, cultura e
relaes e assuntos de gesto. Assim, est relacionado com a habilidade em
transferir este potencial para os produtos e servios.
- Capital do Mercado contm todas as competncias relacionadas com o
mercado, os clientes, os fornecedores e de relacionamento. Refere-se
competncia para gerir e integrar os interfaces externos com os parceiros da
organizao, respectivamente, clientes e fornecedores.
- Capital Inovao refere-se capacidade de uma organizao gerar valor no
futuro, de uma forma contnua. Ele contm todos os componentes no
desenvolvimento de processos, produtos e servios, juntamente com a
tecnologia e a gesto.
Os lderes de algumas grandes empresas, como Amrstrong, Edvinsson,
Saint-Onge e Petrash (citados em Skyrme, 1998), desenvolveram modelos para melhor
identificar o capital intelectual das suas empresas e assim poderem criar mecanismos de
http://ww.profactor.at/magic/english/frame_d.ht
Reviso da Literatura 26
controlo e gesto adequada do mesmo. Edvinson e Malone (1997), distinguem trs
categorias distintas no capital intelectual de uma organizao:
- Capital humano o conhecimento e as aptides das pessoas. "Capital
humano no pertence empresa. S l est por aluguer."
- Capital estrutural "Aquilo que fica quando os empregados vo para casa
noite" - os processos da organizao, as bases de dados, as marcas
registadas, etc.
- Capital de clientes a largura e a profundidade de relaes com os clientes;
bem como tambm as patentes, marcas e outros activos intangveis que tm
valor no mercado (Skyrme, 1998, p. 59).
Figura 7 Modelo de Capital Intelectual
CICapital
Humano
Capitalde Clientes
CapitalEstrutural
CICapital
Humano
Capitalde Clientes
CapitalEstrutural
Fonte: Armstrong e outros, citados em Skyrme (1998). Measuring the Value of Knowledge. Business Intelligence, London, p. 59 (adaptado)
Verifica-se que, no modelo proposto por estes autores, existe uma interaco
entre as trs categorias de capital intelectual apresentadas. Neste modelo, o capital
intelectual de uma organizao resulta da interseco das reas correspondentes a cada
um dos tipos de capital mencionados.
A importncia que os gestores atribuem ao capital intelectual das suas empresas
est patente no interesse tambm crescente de implementar processos que visam
identificar e quantificar esse capital que difcil definir mas que se sabe existir.
Reviso da Literatura 27
2.3.5 Comunidades de Prtica
So cada vez em maior nmero os projectos sobre gesto do conhecimento
descritos na literatura. No entanto, como afirma Prusak (2000), alguns projectos tm
falhado, mas no necessariamente devido a alguma falha tecnolgica.
Defende Prusak que um componente facilitador para o sucesso dos projectos, a
aposta na conectividade entre as pessoas atravs de diferentes modos, com a maior
largura de banda possvel a nvel global, o que leva construo de comunidades.
Atravs destas facilidades de ligao, as pessoas vo-se organizando em grupos, em
comunidades, em redes informais de contactos e nestas comunidades que reside o
conhecimento das organizaes.
O conhecimento no pode ser separado das comunidades que o criam, usam e
transformam (Allee, 2000). De facto, as pessoas partilham as suas experincias
profissionais e os seus conhecimentos, grande parte das vezes de uma forma informal,
atravs do dilogo e do contacto pessoal. Wenger (1998a), considera que faz sentido
chamar a este tipo de comunidades comunidades de prtica, em que esta aprendizagem
colectiva resulta de prticas que reflectem tanto o trabalho que cada um desenvolve,
como as suas relaes sociais actuais. Este autor refere vrias vezes que as comunidades
de prtica no so nada de novo e esto em toda a parte (Wenger, 1998a; Wenger,
1998b; Wenger, 2000). O termo Comunidade de Prtica surgiu durante o trabalho de
gesto do conhecimento desenvolvido no Xerox Parc, na transio da dcada de oitenta
para a dcada de noventa (Skyrme, 1999).
As comunidades de prtica so formadas por pessoas que partilham a sua
experincia prtica, percia especializada e conhecimento intuitivo em torno de
interesses comuns, em que cada grupo desenvolve o seu prprio repertrio cognitivo e
social, governando as suas aces e interpretaes. O processo de troca de
conhecimento tem lugar numa base informal e os membros de cada comunidade
desenvolvem uma identidade prpria partilhando valores e conhecimento na
resoluo de problemas comuns, assim como se envolvem mutuamente no seu trabalho
e partilham as suas preocupaes dirias (Wenger, 1998a; Wenger, 1998b; Enkel e
outros, 2000; Dove, 1999; Horibe, 1999; Allee, 2000).
Davenport e Prusak (1998) acrescentam que os gestores deveriam olhar para
estas comunidades como activos das organizaes e para o modo de as preservar,
alertando para o interesse em fortalecer estas redes informais de conhecimento.
Reviso da Literatura 28
Afirmam, ainda, que os gestores no devem subestimar o valor da conversa entre as
pessoas, pois nestes grupos informais que o conhecimento (sobretudo tcito) do
trabalho partilhado. Horibe (1999) refora esta ideia, salientando a importncia da
aprendizagem para uma organizao e, particularmente, o facto dela se revestir de uma
dimenso social. Para este autor, os dois aspectos devem ser encorajados.
Segundo Wenger (1998b), Lesser e Prusak (1999) e Allee (2000) h importantes
diferenas entre grupos de trabalho, equipas, comunidades de prtica e redes de
conhecimento. Para Lesser e Prusak (1999), os grupos de trabalho e as equipas tm uma
orientao para a tarefa; so, muitas vezes, criados para um determinado propsito e
tm requisitos formais para os seus membros. As equipas tm objectivos, podem ser
criadas ou dissolvidas pela gesto e reportam-se a algum, ao passo que as comunidades
de prtica incluem, muitas vezes, pessoas externas organizao (Horibe, 1999). Em
relao s comunidades de prtica, Wenger (1998a) descreve trs dimenses
importantes, como so o domnio, a comunidade e a prtica, tambm referenciadas por
Allee (2000).
As pessoas organizam-se em torno de um domnio de conhecimento que as
congrega e proporciona aos seus membros um sentido de empresa comum. Os membros
identificam-se com este domnio de conhecimento (Wenger, 1998a).
Em termos de comunidade, este autor afirma que as pessoas funcionam como
tal, atravs de relaes de compromisso mtuo que ligam os membros entre si de forma
a constituir uma entidade social. Interagem regularmente e comprometem-se em
actividades conjuntas que promovem o relacionamento e a confiana interpessoais.
Na sua prtica, considera que as pessoas constrem capacidades, desenvolvendo
um repertrio partilhado e recursos tais como ferramentas, documentos, rotinas,
vocabulrio, smbolos, etc., que incorporam o conhecimento acumulado da comunidade.
Este repertrio partilhado serve de base para a aprendizagem futura.
As comunidades de prtica, segundo Allee (2000), trazem benefcios para o
negcio, para a comunidade em si e para as pessoas que dela fazem parte. Assim,
apresenta as suas vantagens, sintetizadas nos seguintes pontos:
- Para o negcio
o Ajuda a implementar a estratgia o Sustenta a rpida resoluo de problemas, tanto localmente como em
toda a organizao
o Auxilia no desenvolvimento, recrutamento e reteno de talentos o Constri o ncleo das capacidades e competncias em conhecimento
Reviso da Literatura 29
o Difunde mais rapidamente as prticas para a excelncia operacional o Possibilita o cruzamento frtil de ideias e o incremento de
oportunidades para a inovao.
- Para a comunidade
o Ajuda a construir uma linguagem comum, mtodos e modelos acerca de competncias especficas
o Firma conhecimento e percias numa populao mais alargada o Apoia a reteno de conhecimento quando os empregados deixam a
organizao
o Incrementa o acesso ao conhecimento dos peritos na organizao o Providencia meios para partilhar poder e influncia com as partes
formais da organizao.
- Para o indivduo
o Ajuda as pessoas nos seus trabalhos o Promove um sentido de comunidade estvel com outros colegas e
com a organizao
o Encoraja um sentido de identidade focado na aprendizagem o Ajuda ao desenvolvimento das habilidades e competncias
individuais
o Auxilia um trabalhador do conhecimento11 a estar actualizado o Possibilita o aparecimento de desafios e oportunidades para
contribuir para o trabalho comum.
Verifica-se que o conjunto destas vantagens produz, certamente, uma melhoria
nos processos de uma organizao, uma melhoria das competncias e maior satisfao
dos seus colaboradores, conduzindo, como consequncia a uma melhoria da sua
performance global.
As comunidades de prtica envolvem diferentes tipos de participao por parte
dos seus membros. As categorias dos membros e a sua participao nestas
comunidades, segundo Wenger (2000), incluem os seguintes nveis (ver figura 8):
- Grupo nuclear um pequeno grupo de pessoas cujo grande entusiasmo e
compromisso estimula a comunidade;
11 Do ingls: knowledge worker.
Reviso da Literatura 30
- Membros plenos membros que so reconhecidos como praticantes e
definem a comunidade;
- Membros perifricos pessoas que pertencem comunidade mas com
menor compromisso e autoridade, ou porque so recm-chegados ou
porque no tm tanto compromisso pessoal com a prtica;
- Participao transaccional pessoas que no pertencem comunidade
mas interagem com ela ocasionalmente para dar ou receber algum servio;
- Acesso passivo uma grande variedade de pessoas que tem acesso aos
artefactos produzidos pela comunidade, tais como as suas publicaes, o
seu stio na web ou as suas ferramentas.
Figura 8 Nveis de Participao nas Comunidades de Prtica
Acessopassivo
Participaotransaccional
Membrosperifricos
Membrosplenos
Gruponuclear
Acessopassivo
Participaotransaccional
Membrosperifricos
Membrosplenos
Gruponuclear
Fonte: Wenger (2000). Comunities of Practice: The Structure of Knowledge Stewarding. Knowledge
Horizons: the present and the promise of Knowledge Management/editado por Despres e Chuvel. Butterworth-Heinemann, USA, p. 219 (adaptado)
Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2000) desenvolveram um conceito similar ao das
comunidades de prtica, que designaram por contexto facilitador (enabling context),
mas com diferenas importantes entre os dois. Consideram que o contexto facilitador
um espao de partilha que encoraja o surgimento de relaes interpessoais. Um dos
aspectos que distingue este conceito das comunidades de prtica prende-se com o facto
do contexto ser determinado pelos participantes e estes poderem ser mudados
facilmente. Ao passo que uma comunidade de prtica tem um nmero de elementos
razoavelmente estvel, os membros de um contexto facilitador vo e vm. Os autores
afirmam que um contexto facilitador tem uma qualidade aqui e agora, sendo esta
qualidade a que pode desencadear inovaes reais.
Stamps (1997) serviu-se do projecto Xeroxs Integrated Customer Service, como
um exemplo de como grupos de pessoas, com um conjunto de interesses e percias
Reviso da Literatura 31
comuns, podem ser usadas para se educar mutuamente, em tempo real. O autor
desenhou o projecto da Xerox para considerar de que forma que um modo comum de
pensamento e aprendizagem, resulta da compreenso da comunidade acerca da sua
prpria relao de simbiose com a organizao mais vasta. No centro deste pensamento
est a premissa de que o trabalho e a aprendizagem so actividades sociais, onde a
aprendizagem se processa fazendo e existe um sentido comum do que necessrio para
cumprir a tarefa. Embora tal pensamento, frequentemente, exija uma mudana de
atitudes entre os gestores e os departamentos de formao, o aumento da produtividade
e a inovao podem estar entre os benefcios alcanados pelo desenvolvimento e
execuo de uma estratgia de aprendizagem mais do que uma estratgia de treino
(formao).
Persaud, Kumar e Kumar (2001) efectuaram um estudo em que investigaram os
mecanismos de gesto do conhecimento usados para gerir o conhecimento numa rede
global de I&D e concluram que, para alm do conhecimento tcito ser melhor
capturado utilizando suportes tecnolgicos, a exteriorizao e a interiorizao12 so
melhor alcanadas atravs de comunidades de prtica informais.
Uma iniciativa de gesto do conhecimento s tem sucesso se assentar em
comunidades de prtica, tendo em conta a sua importncia e as suas caractersticas
apresentadas (Adams e Freeman, 2000). Estes autores sustentam que nas comunidades
de prtica, o conhecimento gerado autonomamente e eternamente, e a transferncia
como um aspecto intrnseco ao seu funcionamento. Para esta criao de conhecimento,
as pessoas necessitam de tempo para o dilogo e para a reciprocidade. Acrescentam que
este relacionamento interpessoal leva formao de grupos de aprendizagem,
constitudos por pessoas que se vo aproximando e aprendendo umas com as outras, de
acordo com os seus interesses comuns.
Por outro lado, a transferncia (partilha) de conhecimento considerada como
um aspecto intrnseco ao funcionamento destas comunidades (Adams e Freeman, 2000).
Allee (2001) acrescenta que, alm das comunidades de prtica, as redes de
conhecimento tambm so considerados aspectos chave para o sucesso da gesto do
conhecimento.
Outro aspecto relacionado e com interesse para as comunidades de prtica, so
as chamadas melhores prticas (best practices). Grant (2000) afirma que o grande
12 Exteriorizao: converso de conhecimento tcito em conhecimento explcito;
Interiorizao: converso de conhecimento explcito em conhecimento tcito (Nonaka e Takeuchi, 1995).
Reviso da Literatura 32
interesse na transferncia de melhores prticas no se deve apenas importncia deste
tipo de partilha, mas tambm, s questes que a sua aplicabilidade suscita. Estas
dificuldades vo desde a prpria natureza do conhecimento (as melhores prticas
envolvem, muitas vezes, rotinas da organizao que esto dependentes do conhecimento
tcito dos membros da equipa e do relacionamento interpessoal) at aos impedimentos
da estrutura organizacional, sistemas e procedimentos.
Uma outra dificuldade, levantada por Malhotra (1997), est ligada dificuldade
em se assegurar uma nica interpretao de melhores prticas, para a maioria das
situaes mal