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GESTÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO FAMILIAR E SUAS INTERFACES CURITIBA, MARÇO DE 2004

gestão do sistema de produção agropecuário familiar e suas

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GESTÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO FAMILIAR E SUAS INTERFACES

CURITIBA, MARÇO DE 2004

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SUMÁRIO A GESTÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO FAMILIAR E SUAS INTERFACES .. 3 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 3 1. O AMBIENTE DA EMPRESA RURAL ............................................................................................... 4

1.1. Ambiente Geral........................................................................................................................................ 4 1.2- Ambiente Tarefa...................................................................................................................................... 4 1.3. Ambiente interno da empresa ............................................................................................................. 5

2. GESTÃO AGROPECUÁRIA............................................................................................................... 6 2.1. Elementos chaves do processo gestão ............................................................................................ 6 2.2.Variáveis que afetam o desempenho da propriedade rural .......................................................... 7 2.3. Desenvolvimento Sustentável ............................................................................................................. 7

3. SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO ................................................................................. 8 4. FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS OU GERENCIAIS........................................................................... 8

4.1. Planejamento da propriedade rural.................................................................................................... 9 4.1.1. Diagnóstico ....................................................................................................................................... 11 4.1.2. Objetivo do plano ............................................................................................................................. 11 4.1.3. Níveis de planejamento de uma empresa/propriedade rural .................................................... 12 4.1.4. Métodos de planejamento da propriedade rural ......................................................................... 13

4.2. Organização ........................................................................................................................................... 13 4.3. Direção: ................................................................................................................................................... 13

4.3.1. O processo decisório....................................................................................................................... 13 4.4. Controle gerencial........................................................................................................................ 14

4.4.1.Sistema de informações e auxílio às decisões empresariais..................................................... 15 4.4.2. Controle do desempenho do processo produtivo ....................................................................... 15 4.4.3. Durante a execução do processo produtivo ................................................................................ 16 4.4.4. Controlar e monitorar os fluxos e usos de serviços e materiais .............................................. 16 4.4.5. Controlar e monitorar os fluxos financeiros ................................................................................. 16 4.4.6. Controlar e monitorar resultados ................................................................................................... 18

5. MERCADO........................................................................................................................................ 16 6. PRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19 7. RECURSOS PRODUTIVOS ............................................................................................................. 19

7.1. Capital natural ....................................................................................................................................... 20 7.2. Capital físico .......................................................................................................................................... 20 7.3. Capital financeiro.................................................................................................................................. 20 7.4. Capital humano ..................................................................................................................................... 21 7.5. Informação.............................................................................................................................................. 21

8. CAPITAL SOCIAL ............................................................................................................................ 22 9. ESTRATÉGIA OPERACIONAL DE DIFUSÃO DE CONHECIMENTO ........................................ 23 10. Sugestões ...................................................................................................................................... 24 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................................................... 25

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A GESTÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO FAMILIAR E SUAS INTERFACES

Odilio Sepulcri

INTRODUÇÃO À medida que avançam os conhecimentos, aumentam os desafios para os

extensionistas orientarem os produtores rurais familiares, no planejamento de suas

propriedades, de forma a atenderem os requisitos do desenvolvimento sustentável.

Diante disso, o extensionista fica no seguinte dilema: qual é o espaço da pequena

agricultura familiar no contexto do desenvolvimento sustentável? Quais os fatores e

suas interfaces a serem considerados nesse planejamento? Como orientar os

agricultores de forma sistêmica?

O objetivo desse trabalho é, por um lado, analisar os fatores que devem ser

considerados no planejamento sustentável da agricultura familiar. Por outro lado,

discutir de forma suscinta, que componentes estão envolvidos no aperfeiçoamento

da extensão rural a esses produtores, numa visão de conjunto.

Para isso, o trabalho foi dividido nos seguintes itens: 1) O ambiente da empresa

rural, que enfoca a dinâmica das relações e interações da unidade produtiva com o

ambiente geral, ambiente tarefa e interno; 2) Gestão agropecuária, que define o que

se entende por gestão, relaciona seus elementos chaves e discute as variáveis que

afetam o desempenho econômico da propriedade rural; 3) Sistema de produção

agropecuário que conceitua o que se entende por sistema de produção; 4) Funções

administrativas e gerenciais, tratam das funções administrativas de planejamento,

organização, direção e controle, tentando caracterizar o papel de cada uma na

gerência da propriedade; 5) Mercado, mostra o papel deste e os cuidados que se

deve ter na gestão das propriedades familiares; 6) Produção, procura dar uma visão

de todos os campos a serem considerados ao se planejar. 7) Recursos produtivos

ou fatores de produção, quais são e como estão sendo tratados o capital natural, o

capital físico, o capital financeiro, o capital humano e a informação; 8) Capital social,

aborda de forma sintética o seu papel na potencialização dos resultados dos

produtores;

--------------------------- 1 Eng. Agrônomo -UFPEL, com especialização em Gestão da Qualidade -UFPR, Mestrando em Desenvolvimento Econômico-UFPR, Extensionista da EMATER-PR

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9) Estratégia operacional de difusão do conhecimento, enfoca o papel dos grupos de

troca de experiência na difusão do conhecimento e das referências geradas,

conforme seus interesses.

Esses itens, a nosso ver, se analisados no conjunto, cumprem os objetivos

propostos.

1. O AMBIENTE DA EMPRESA RURAL As empresas rurais estão inseridas em um ambiente onde influencia e é influenciada

por este. Tais influências afetam, direta e indiretamente, os resultados da empresa

rural.

O ambiente representa o universo que envolve externamente a empresa, (figura 1),

sendo constituído de outras empresas e organizações, grupos sociais, enfim toda a

sociedade. Segundo Jesus e Zambalde (1997), é no ambiente externo que a

empresa obtém a maioria dos recursos materiais, financeiros, humanos,

mercadológicos e informações para o seu funcionamento. Dessa forma, valorizaram-

se as interrelações propriedade rural e ambiente, desenvolvendo o conceito de que,

numa moderna empresa rural, cerca de 50% das decisões está fora de seus

domínios. Logo, o "ambiente", com suas organizações e instituições, interagindo

com as unidades de produção agrícola, é também objeto de estudo da

Administração rural.

Segundo Chiavenato (1982), o ambiente é dividido em ambiente geral e ambiente

tarefa.

1.1. Ambiente Geral O ambiente geral ou macroambiente é constituído de um conjunto de fatores

externos que envolve e influencia todas as empresas. É constituído das seguintes

variáveis: tecnológicas; políticas; econômicas; legais; sociais; demográficas e

ecológicas.

1.2- Ambiente Tarefa É o meio ambiente específico da empresa e corresponde ao segmento do ambiente

geral mais próximo e operacional da empresa. É constituído por empresas,

instituições, grupos e indivíduos que atuam no mesmo setor e que são relevantes

para a empresa poder estabelecer e alcançar os seus objetivos. Este ambiente é

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constituído de quatro setores principais: clientes da empresa; fornecedores;

concorrentes e grupos reguladores.

1.3. Ambiente interno da empresa O ambiente interno é constituído de seus recursos ou fatores de produção (capital

natural, físico, financeiro, humano), compondo a estrutura da empresa, o seu

funcionamento, desempenho e resultados.

No ambiente interno da empresa estão as ações controladas e de decisão exclusiva

dos agricultores, quais sejam:

- O que produzir;

- A escala de produção desejada;

- Qual a melhor forma de combinar os fatores de produção;

- Qual o nível tecnológico a adotar;

- Qual o melhor nível de produção que maximizará seus lucros.

Figura 1. A empresa, o ambiente geral e o ambiente tarefa (Chiavenato,1989) Observa-se, portanto, quanto ao controle gerencial, que os fatores externos à

empresa (ambiente) podem ser subdivididos em dois grupos: os fatores controlados

pelo governo, como a legislação, política agrícola, fiscal e cambial, etc. e os fatores

incontroláveis, regidos, principalmente, pelo mercado e sociedade. Os fatores

Empresa

AMBIENTEDE TAREFA

AMBIENTEGERAL

VariáveisPolíticas

VariáveisLegais

VariáveisDemográficas

VariáveisEcológicas

VariáveisSociais

VariáveisEconômicas

VariáveisTecnológicas

Cliente

Concorrentes

Fornecedores

Grupos

Reguladores

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internos à empresa rural, como vimos, são controlados pelo produtor, ou seja, estão

no seu âmbito decisório.

2. GESTÃO AGROPECUÁRIA Entende-se por gestão agropecuária um processo de tomada de decisão e ação,

focada no mercado, sobre a alocação, organização e a utilização dos recursos

produtivos e da informação, para a obtenção de determinados resultados que, por

sua vez, são esperados em função dos objetivos do agricultor e de sua família.

É a relação existente entre os resultados obtidos através do gerenciamento efetivo

dos fatores de produção, monitorando o seu uso, medindo, comparando resultados e

corrigindo seus rumos, quando necessário.

A gestão está voltada, fundamentalmente, para a tecnologia de processo, alterando

e melhorando a forma de produzir com a combinação de recursos e competências.

Alguns autores fazem diferenciação entre gestão e gerenciamento. Consideram que

gestão trata apenas da resolução de problemas atuais, imediatos, sem a perspectiva

de futuro, enquanto que o gerenciamento seria mais abrangente, tratando não só

das causas dos problemas presentes, como também da projeção dos caminhos a

serem seguidos no futuro próximo. Evidentemente, no presente trabalho está sendo

tratada a visão mais abrangente.

2.1. Elementos chaves do processo gestão Os elementos chaves, a seguir, deverão nortear o processo de gestão agropecuária:

- Foco no resultado;

- Liderança (focada no desenvolvimento das pessoas);

- Visão sistêmica;

- Flexibilidade (capacidade de se adaptar a situações adversas em momentos de

crise);

- Tomada de decisão baseada em fatos e dados;

- Maximizar os meios e recursos;

- Desenvolvimento sustentável (econômico, social e ecológica)

- Desenvolver a criatividade e apoiar a inovação;

- Satisfação do cliente (compromisso com a qualidade);

- Lucratividade (compromisso com o lucro).

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No planejamento das atividades ficar atento à análise desses elementos chaves.

2.2.Variáveis que afetam o desempenho da propriedade rural A agropecuária tem como característica um sistema de mercado em que os

produtores são tomadores de preços dos produtos e dos insumos, portanto seu

desempenho econômico depende dos fatores a seguir:

- Características estruturais da propriedade rural: edafoclimáticas (clima, solo e

sua capacidade de uso); disponibilidade e tamanho de área agrícola irá afetar

diretamente a escala e o volume de produção;

- Natureza e grau de intensificação da produção influenciando no rendimento das

culturas e criações;

- Maior eficiência do capital humano, com maior produtividade da mão-de-obra,

medida através da renda bruta produzida por equivalente homem, em um ano

agrícola;

- Nível de eficácia gerencial do sistema de produção que, focada no mercado,

com a melhor alocação dos fatores de produção, combinação e interação de

explorações, melhores compras, ampliação das receitas, menores custos, entre

outros, obterá melhores resultados econômicos para a empresa;

- Melhor eficácia no uso das máquinas, equipamentos e no acesso aos demais

meios de produção.

2.3. Desenvolvimento Sustentável O desenvolvimento sustentável é um processo multidimensional. Para JIMÉNEZ

(1997), o desenvolvimento sustentável considera cinco dimensões: econômica,

humana, ecológica, tecnológica e cultural.

- Econômica – possibilita a manutenção do sistema produtivo e o seu crescimento

no longo prazo;

- Humana – refere-se a um sólido avanço para a estabilidade da população,

distribuição e alcance de melhores condições na qualidade de vida;

- Ecológica – referente à necessidade de novas práticas agrícolas e de manejo de

recursos naturais que permitam manter a produção ao longo do tempo, de

maneira que não contaminem o ambiente, produzam alimentos saudáveis e

gerem interações positivas entre populações;

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- Tecnológica – refere-se às condições nas quais se aplica a tecnologia à indústria,

à agricultura, ao transporte e a outras atividades relevantes da vida da

comunidade;

- Cultural – inclui valores, crenças e formas de vida que se relacionam com um

sentido da natureza, seu ambiente e sua transcendência.

O extensionista ao discutir com os agricultores a melhoria do desempenho de sua

propriedade, deve buscar com o diálogo, o entendimento do significado do

desenvolvimento sustentável.

3. SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO Entende-se por sistema de produção – definições:

- Sistema é um conjunto de elementos interatuantes e interdependentes entre si,

dotados de no mínimo uma finalidade (Becht).

- Sistema é um objeto que dentro de um meio ambiente é dotado de uma

finalidade, exerce uma atividade e vê sua estrutura evoluir ao longo do tempo,

sem perder sua identidade única (Le Moigne, 1984).

- Sistema é um conjunto de elementos em interação dinâmica, organizados em

função de um objetivo (Rosney, 1975).

- Síntese: sistema de propriedade rural é um conjunto de elementos interatuantes

e interdependentes entre si, inseridos num meio ambiente sócio-econômico

caracterizado e em constante evolução e organizado para atender os objetivos

do agricultor e de sua família (IAPAR, 2002).

No presente trabalho, o enfoque será dado ao sistema de propriedade rural,

apresentado na síntese acima.

A figura 2 mostra a visão sistêmica das interfaces do processo de gestão sustentável

do sistema de produção da propriedade rural familiar.

4. FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS OU GERENCIAIS As funções do processo administrativo são: planejamento; organização; direção e

controle. Quando articuladas em conjunto, denominam-se processo administrativo

(figura 2).

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4.1. Planejamento da propriedade rural

“Não devemos planejar o futuro somente pelas lições do passado. Nossa

experiência humana é repetição e não sabedoria” (Edmund Burke 1729 -1797)

Planejar é procurar antecipar os acontecimentos do futuro, de uma forma lógica e

organizada. É traçar o melhor caminho, antes de caminhar, com a vantagem de

poder prever e eliminar os possíveis erros dessa caminhada, é organizar o mapa de

navegação, é o ato de pensar, comparar, refletir, tomar decisões e agir, organizar e

exercitar antecipadamente, com baixo custo, o que deverá ser feito para obter os

resultados esperados.

Ao planejar busca-se definir: O que produzir?, Quanto produzir?, Onde produzir?,

Quando produzir?, Como produzir?, Para quem produzir?, Quanto custa para

produzir?, Que resultados econômicos obter?

De posse dos conhecimentos obtidos da propriedade e com os conhecimentos das

demandas de mercado, o produtor está, relativamente, preparado para planejar o

seu negócio.

O planejamento é um processo permanente e contínuo, portanto não termina com a

montagem de um plano anual de trabalho. Toda ação deve ser planejada de forma

participativa (modo participativo de tratar o saber, de gestão do tempo e dos

recursos produtivos, de priorização dos problemas que gostariam de conhecer e

superar), de tal modo que o plano seja um compromisso de todos. É um processo

que potencializa o uso dos recursos produtivos disponíveis, na busca da

rentabilidade (competitividade, produtividade, qualidade e sustentabilidade),

produzindo resultados que atendam os objetivos do agricultor.

Benefícios de um bom planejamento:

- Organiza o melhor caminho para a atividade, com a vantagem de poder prever e

eliminar os possíveis erros dessa caminhada, organizando o trabalho, o qual

ajuda a pensar, comparar, refletir, tomar decisões e exercitar antecipadamente,

com baixo custo, o que deverá ser feito para obter os resultados e os objetivos

esperados;

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Figura 2. Visão das interfaces do processo de gestão sustentável do sistema de produção da propriedade rural familiar.

2003Autor: Odílio SepulcriArte: Edna Batistella

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ões

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Clima

FloraM

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Instalações

Equipamentos

Benfeitorias

Animais

Cult. Perenes

Cai

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dasPo

upan

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Cultura

Conhecimento

Motivação

Decisão

LiderançaInovação

Resp. SocialCooperativasAssociaçõesSindicatos

InstituiçõesONGCorporações

Legislação

Regulação

Conjuntura

Políticas

Referência

- Aumenta a capacidade de organização e de entender o funcionamento da

produção, de suas relações com fornecedores, clientes e demais elos da cadeia

produtiva e diminui as especulações inconsistentes sobre o que está

acontecendo;

- Contribui para a melhoria no processo de tomadas de decisões, tornando-as

mais técnicas, propiciando um conjunto de informações para análise e decisão;

- Aumenta as opções e a capacidade de respostas diante de situações adversas;

- Gera informações, antecipa medidas de correção de rumos e reduz a incerteza;

- Ao definir as fases do plano aumenta a capacidade de mobilização para alcançar

seus objetivos;

- Confirma algumas hipóteses e questionam outras que deverão ser modificadas

com o passar do tempo e a execução das atividades;

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- Ajuda a preservar recursos valiosos;

- Estimula o produtor a competir.

4.1.1. Diagnóstico

Conhecer o próprio negócio é a primeira regra para o sucesso.

Para um bom planejamento é necessário fazer um diagnóstico preciso. Um bom

diagnóstico representa cerca de 90% da solução do problema.

O diagnóstico é resultado de um sistema de informações internas e externas da

propriedade, que envolve a coleta ou levantamento, registros, ordenação, análise ou

interpretação e síntese de dados, fatos e informações, comparados a uma situação

desejada.

Há diferença de significado entre dado e informação. Pode-se dizer que dado é um

conjunto de fatos e valores (numéricos, alfabéticos, alfanuméricos ou gráficos), sem

significado próprio. Informação é o conjunto de dados organizados, definidos pelo

ser humano, com significado próprio, para uma aplicação específica, na solução de

um problema.

As qualidades do dado e da informação obtida garantem confiabilidade aos

resultados da análise. De nada adianta ter computadores sofisticados e métodos de

análise precisos, se os dados não têm consistência.

O diagnóstico interno da propriedade deverá ser organizado, resumidamente, em

pontos fortes e pontos a melhorar verificados durante o processo.

4.1.2. Objetivo do plano

Não existe vento favorável para quem não sabe para onde vai.

O plano tem como objetivo detalhar as atividades para atingir os objetivos e as

metas pretendidas pelo agricultor e sua família, dentro de suas potencialidades,

restrições e limites.

Os objetivos podem ser diferentes, de produtor para produtor, dependendo do seu

conhecimento, dos recursos produtivos disponíveis e de seus planos para o futuro.

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Para o empresário rural, que age dentro da racionalidade empresarial, seus objetivos

estão voltados para o lucro máximo e a produção orientada exclusivamente para o

mercado, considerando o risco da atividade inerente ao negócio.

Para a pequena produção familiar, os objetivos estão focados, de um modo geral,

em garantir a sobrevivência e a reprodução familiar, tendo a agricultura como modo

de vida. Portanto a atividade está voltada para o autoconsumo, com a venda de

excedentes, diminuição dos riscos, caracterizados, principalmente, pela

diversificação de atividades e de investimentos de pouco risco e a manutenção de

bens, como animais, por exemplo, como reserva de valor, para situações

emergenciais.

4.1.3. Níveis de planejamento de uma empresa/propriedade rural Os níveis de planejamento de uma propriedade são três:

- Nível estratégico;

- Nível gerencial;

- Nível operacional.

Nível estratégico – é o nível mais elevado da empresa, composto pelos seus

gestores, onde são estabelecidos seus objetivos gerais e estratégicos. Devem-se

considerar as condições ambientais, ou seja, as variáveis econômicas, sociais,

políticas, ecológicas, enfim, todas as variáveis ambientais. As estratégias definidas

neste patamar envolvem o longo prazo e possuem alto nível de incerteza, em função

das variáveis consideradas.

Nível gerencial – neste nível, também considerado intermediário, de curto e médio

prazo, define-se como fazer para alcançar os objetivos propostos no nível

estratégico.

Nível operacional – As estratégias operacionais são decompostas em planos de

ação, normas e diretrizes, que procuram reduzir as incertezas contidas no ambiente

empresarial. Compreende as operações, tarefas e procedimentos executados no

dia-a-dia da propriedade rural. São implementadas as tecnologias apropriadas a

cada atividade do processo de produção, bem como tomadas todas as medidas

gerenciais para atingir os resultados esperados.

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4.1.4. Métodos de planejamento da propriedade rural Os métodos tradicionais de planejamento são classificados, segundo alguns autores,

em:

- Métodos que permitem análise comparativa entre diferentes alternativas,

consideradas;

- Métodos que utilizam uma determinada solução técnica.

Maiores detalhes sobre métodos de planejamento poderão ser verificados no

documento Planejamento de Propriedade Rural (SEPULCRI, 2002).

4.2. Organização É a função administrativa que trata dos arranjos e estruturação dos recursos físicos

e humanos da empresa, no sentido que sejam alcançados seus objetivos.

Organização física: refere-se à organização das áreas de produção, envolvendo

benfeitorias, máquinas, equipamentos, insumos e outros materiais com objetivo de

melhorar a eficiência de seu funcionamento.

Organização de pessoal: ocupa-se basicamente com a estrutura dos cargos, salários

e tarefas das diversas pessoas que trabalham na empresa. O cargo e a tarefa

devem ser definidos, claramente, por escrito ou verbalmente, dependendo do

tamanho e complexidade da empresa.

4.3. Direção: Dirigir é tomar decisões, dar direção a, conduzir, governar e orientar

A direção se realiza com as pessoas (capital humano) e não sobre os recursos

físicos e financeiros.

São as pessoas que fazem a empresa/propriedade funcionar. A motivação, a

liderança e a comunicação são algumas habilidades que o empresário rural deve

utilizar para obter êxito em sua ação diretiva.

4.3.1. O processo decisório O funcionamento dos modelos mentais das pessoas, pela sua complexidade, torna-

se difícil entender como as pessoas tomam decisões, e como funcionam em sua

mente, essas forças movidas pelo interesse e pelas peculiaridades do momento.

Como os modelos mentais estão relacionados com as ações? De certa forma, as

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pessoas decidem conforme a experiência, a cultura ,o nível escolar, a idade, as

funções assumidas na sociedade, etc.

O produtor/administrador toma decisões constantemente. Se os problemas são

variados, assim serão, também, os modos de resolvê-los; se são complexos, exigem

ser resolvidos por partes.

O processo de tomada de decisão pode ser formalizado em uma série de passos

lógicos e ordenados. Importantes passos nesse processo são:

- Identificar e definir o problema que prejudica o resultado esperado;

- Coletar dados, fatos e informações do problema;

- Identificar soluções alternativas e analisá-las;

- Tomar a decisão frente à melhor alternativa;

- Executar a decisão;

- Avaliar e assumir responsabilidade pelos resultados.

4.4. Controle gerencial Em Deus eu acredito, os demais que me tragam fatos e dados.

Controle é a função gerencial que consiste na verificação de desvios das metas

previstas e na adoção de medidas corretivas” (Henry Fayol).

Controlar é verificar se tudo ocorre de acordo com o plano adotado e com as

instruções dadas.

O controle é efetuado através de referência ou indicadores de gestão que é a

métrica de uma variável de gestão. Variável de gestão é um aspecto controlável do

desempenho.

O indicador referência de gestão poderá ser utilizado para planejamento como

parâmetro de desempenho; pode ser utilizado em tempo real para avaliar o nível de

desempenho do processo produtivo; como indicador de resultado (saída) de

processo e poderá ser utilizado como valor médio histórico como padrão de

desempenho (tendência).

O controle procura:

- Identificar e corrigir falhas e erros, para impedir que se repitam;

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- Garantir os resultados, evitando que os objetivos e as metas alcançadas sejam

diferentes dos pretendidos.

Controle consiste em várias atividades:

- Medir e avaliar o desempenho real do processo;

- Comparar o desempenho real com as metas ou com a referência;

- Atuar na diferença.

A figura 3 apresenta o diagrama de Ishikawa com as etapas do controle gerencial

antes, durante e depois do processo produtivo e as ações a serem feitas em cada

etapa.

4.4.1.Sistema de informações e auxílio às decisões empresariais O objetivo é gerar informações gerenciais que permitam a tomada de decisão

consistente. A informação gerencial é a resultante do que na realidade ocorre no

empreendimento. Para tanto, necessita fazer medidas e registrar os dados, a fim de

verificar se as ações executadas e os resultados obtidos estão dentro do planejado.

É uma tarefa contínua que observa o desempenho de cada ação, ou de cada

subprocesso e permite as correções, se necessário for, no ato da ação. Este sistema

compreende:

4.4.2. Controle do desempenho do processo produtivo

Só é gerenciado o que pode ser medido e comparado.

Antes de implantar o processo produtivo, várias ações podem ser feitas para garantir

os resultados planejados:

- Elaborar orçamentos;

- Elaborar o custo meta: uso do preço de mercado para determinar o custo do

produto, frente ao lucro desejado (preço – lucro = custo unitário do produto);

- Calcular o ponto de equilíbrio operacional (PEO): consiste na quantidade mínima

a ser produzida e vendida, em um certo período, para que se possam cobrir os

custos operacionais (PEO = Custos fixos divididos pela margem bruta unitária).

- Identificar e relacionar os pontos críticos de sucesso do empreendimento que,

uma vez identificados, mapeados e monitorados garantem o sucesso do negócio

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na sua implementação. Esses pontos podem ser identificados analisando a

mesma atividade desenvolvida por outras empresas. Alguns pontos podem ser

antecipadamente relacionados como: conhecer o negócio; contar com pessoas

capacitadas e preparadas; possibilitar a geração de caixa positivo; possuir um

método de gestão eficiente; estruturar processos produtivos eficientes e ter uma

estratégia de mercado competitiva.

4.4.3. Durante a execução do processo produtivo Monitorar o desempenho do processo produtivo em tempo real (figura 3).

- Identificar os gargalos do processo produtivo, focando nos pontos chaves que

comprometem seus resultados, por exemplo: semeadura, adubação, aplicação

de agrotóxico, colheita, qualidade, etc.;

- Definir os pontos críticos de controle, exemplo: quantidade de adubo por metro

linear;

- Monitorar esses pontos (medir, comparar com a referência, avaliar e corrigir as

diferenças);

- Registrar os dados obtidos.

Na agricultura de precisão, o controle de desempenho do processo produtivo é feito

eletronicamente.

4.4.4. Controlar e monitorar os fluxos e usos de serviços e materiais - Fluxo de trabalho (mão-de-obra) e monitorar seu desempenho;

- Fluxo de insumos e monitorar seu uso;

- Fluxo de máquinas, equipamentos e monitorar desempenho;

4.4.5. Controlar e monitorar os fluxos financeiros - Fluxo de caixa (passado, presente e futuro);

- Custo de produção (produzir mais com menos);

Contabilidade agrícola.

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Figura 3 - DIAGRAMA GERENCIAL Monitoramento gerencial de desempenho

1 ENTRADA PROCESSAMENTO 2 SAÍDA

CAUSA

ANTES

DURANTE

DEPOIS

✓ Fornecedores ✓ Operações corretas ✓ Vendas ✓ Preços ✓ Monitorar gargalos ✓ Receitas ✓ Orçamento ✓ Monitorar custos ✓ Margens ✓ Negociação ✓ Medir, comparar, avaliar, corrigir ✓ Lucro ✓ Compras ✓ Registrar ✓ Retorno

Ações Gerenciais Medir, Comparar, Avaliar, Corrigir

Odilio Sepulcri (2003)

Arte: Cida Gebran

ProdutoOrgânico

Plantio

Manejo de doenças

Manejo de plantas daninhas

Adubação Manejo de pragas

Colheita

Insumos

EFEITO

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4.4.6. Controlar e monitorar resultados - Margem bruta (receitas menos custos variáveis);

- Lucro (receitas menos custos totais) ;

- Lucratividade (lucro divido por custos totais);

- Retorno sobre o capital (lucro dividido pelo capital total);

- Avaliação (comparar os resultados obtidos com o planejado).

As diversas fases do controle aqui apresentadas (itens 4.4. a 4.4.6.) tentam mostrar

que um bom processo de controle gerencial (antes, durante e após o processo

produtivo), agindo sobre as causas e não sobre os efeitos, como mostra a figura 3,

pode garantir o atingimento dos resultados programados, desde que se tenha

atenção na execução das etapas críticas do processo produtivo, controlando-as.

5. MERCADO

O empresário/produtor rural deve ter a preocupação de saber onde e como devem

ser colocados os seus produtos, a que preço e quais os melhores canais de

comercialização.

O mercado é constituído de um grupo de compradores e vendedores que, por meio

de suas interações efetivas ou potenciais, determinam o preço de um produto ou de

um conjunto de produtos (PINDYCK e RUBINFELD, 2002). Dessa interação, ou

pelas forças de oferta e demanda, se estabelecem os preços de troca.

Nos mercados totalmente competitivos, prevalece geralmente um único preço. Em

mercados que não sejam totalmente competitivos, diferentes preços podem ser

cobrados por diferentes vendedores. Neste caso, o preço de mercado será o preço

médio predominante.

Ao se analisar determinado mercado, deve-se dimensionar sua extensão, tanto em

termos de limites geográficos, como na gama de produtos que nele serão vendidos.

O ambiente do mercado é composto pelos públicos: fornecedores, clientes ou

consumidores e concorrentes. Nesse ambiente de trocas surgem as ameaças, as

oportunidades de negócio e as parcerias que são formalizadas pelos contratos

(figura 2).

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6. PRODUÇÃO Nenhum povo pode poupar, investir e consumir nada além do que consegue

produzir (David Ricardo, 1772 – 1823)

A gestão da produção pode ser entendida como sendo um processo empresarial

que administra o fluxo de recursos produtivos e informações, dentro de um sistema

pré definido, no qual os recursos são reunidos e transformados, de uma forma

controlada, a fim de agregar valor ao produto de acordo com os objetivos do

produtor. Envolve todos os setores ligados à produção, compreendendo (figura 2):

- Capacidade: dimensionamento da capacidade produtiva da propriedade, com os

recursos disponíveis, frente aos produtos selecionados;

- Ciclo biológico: o ciclo biológico das atividades selecionadas é determinante na

sua capacidade produtiva em função de sua durabilidade (tempo de produção);

- Processo produtivo: consiste no conjunto de etapas conjugando tecnologias e

operações, para o seu funcionamento sincronizado, obtendo alta produtividade

do mesmo;

- Tecnologia: a tecnologia deve ser considerada em função de seu retorno sócio,

econômico, ecológico;

- Diferenciação: competir no mercado com produtos diferenciados, procurando

fugir do produto caracterizado como commodity ;

- Qualidade: orientar a produção focada no cliente, buscando sua satisfação e

preferência;

- Flexibilidade: a produção deve ter certa flexibilidade para enfrentar as situações

de crise, não concentrando todo o investimento em uma só atividade, possuindo

renda alternativa para esses momentos;

- Restrições: compreende as limitações físicas da propriedade que não podem ser

mudadas, portanto o plano de produção deverá ser adequado a tais restrições,

7. RECURSOS PRODUTIVOS Os recursos produtivos ou fatores de produção constituem a base da economia, são

os meios utilizados pela sociedade para a produção de bens e serviços que irão

satisfazer às necessidades humanas (MENDES, 2004).

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Tais recursos possuem três características: escassos em sua quantidade; versáteis,

podem ser utilizados em diversos usos e combinados em proporções variáveis na

produção de bens e serviços (figura 2).

7.1. Capital natural

Compromisso com a vida e com as gerações futuras.

O capital pode ser renovável (chuva, vento, irradiação solar e produtos da

biodiversidade consumidos abaixo de sua capacidade de reposição natural) e não

renovável (solo, minerais e produtos da biodiversidade consumidos acima de sua

capacidade de reposição natural).

O capital natural compreende: solo e sua capacidade de uso, água, clima, ar, fauna

e flora. Na sua utilização deve-se ter sempre como princípio a conservação dos

recursos naturais (figura 2).

7.2. Capital físico Considera-se, neste item, a estrutura disponível para a produção: máquinas;

instalações; equipamentos; benfeitorias; animais; culturas perenes (figura 2).

7.3. Capital financeiro

Dinheiro é como o vento, só entra onde tem saída (Provérbio Árabe)

Entende-se como estoque de capital financeiro à disposição do produtor, o qual

poderá estar acumulado sob diversas formas (figura 2):

- Caixa: dinheiro disponível em caixa ou em conta bancária;

- Crédito: dinheiro a receber no curto prazo (menos de um ano);

- Poupança: dinheiro depositado em caderneta de poupança;

- Ações: recursos aplicados em ações;

- Títulos: dinheiro aplicado em títulos;

- Estoques: dinheiro aplicados em estoque de insumos e outros materiais;

- Dívidas: passivos existentes ou compromissos assumidos no curto prazo.

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7.4. Capital humano

O importante não é o capital de giro, mas as pessoas que fazem o capital girar.

Esta área trata dos cargos, funções, salários e tarefas de todas as pessoas que

trabalham na empresa/propriedade, inclusive os membros da família, para atingir os

objetivos da mesma (figura 2).

Considera-se aqui, também, o conhecimento estratégico (gestão do conhecimento),

que a empresa deve dominar para ser competitiva com seus produtos no mercado.

O estilo gerencial da liderança da empresa, que proporciona a participação dos

funcionários, o reconhecimento, a capacitação e a aprendizagem contínua, favorece

a obtenção dos resultados e de um clima organizacional agradável.

Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal

maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A

empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os

interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço,

fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir

incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas

de todos e não apenas dos proprietários ou acionistas.

Ao analisar o capital humano, deve-se considerar a sua cultura organizacional, o

conhecimento acumulado, a motivação das pessoas, a capacidade de liderança para

os objetivos propostos, a criatividade como capacidade de inovar os processos

produtivos, de gerar novos produtos e o seu processo decisório (já comentado no

item 4.3.1.).

7.5. Informação Toma a melhor decisão quem tem informações e melhor preparo.

Para alguns autores, cerca de metade das decisões são tomadas fora da empresa,

em seu ambiente. Isto reforça a necessidade de se organizar um sistema de

informações internas e externas, para apoiar o processo de tomada de decisão do

empreendedor, diminuindo, assim, os seus riscos (figura 2).

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- Legislação e regulação – o produtor rural deve conhecer toda a legislação e

regulamentos que envolvem o seu negócio, nas áreas: tributária, fiscal,

ambiental, sanitária, jurídica, trabalhista e previdenciária;

- Conjuntura – o empresário/agricultor deve estar informado de toda a situação

agropecuária que tem correlação com o seu negócio;

- Políticas – são procedimentos e regras de caráter geral, que apontam rumos e as

linhas de apoio de uma determinada ação ou programa. O produtor deve inteirar-

se das políticas de apoio ao seu negócio, para poder beneficiar-se;

- Referência – é um padrão de desempenho ou indicador (técnico, econômico,

financeiro, ecológico) com o qual o desempenho de uma atividade agropecuária

pode ser comparada. É um processo para medir com rigor o próprio

desempenho, comparando-o com os das melhores empresas. Os produtores

devem selecionar as suas referências, as quais servirão de “régua” de medida de

resultado de seu negócio (controle gerencial). Essas referências podem ser

geradas dentro de suas propriedades, ou fora dela, nos centros de pesquisas,

Universidades, etc.

8. CAPITAL SOCIAL O capital social é o produto da sociedade organizada. Atualmente torna-se quase

impossível o pequeno agricultor familiar permanecer na atividade individualmente

(figura 2).

O capital social é o produto da força coletiva da comunidade e do grupo, para

influenciar organizadamente, participando nas decisões políticas de seus interesses,

melhorando os ganhos sociais e apropriando-se dos benefícios públicos existentes.

O capital social funciona, também, como aglutinador de forças e de interesses para

os produtores beneficiarem-se do ganho em escala, reduzindo os custos nas

operações conjuntas de compras, vendas, na realização de investimentos para

prestação de serviços que exijam grandes investimentos tais como: mecanização,

transporte, beneficiamento, armazenagem, entre outros. Podem ser obtidos através

das organizações: Cooperativas; Associações; Sindicatos; Organizações não

governamentais (ONG’s) e Corporações.

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9. ESTRATÉGIA OPERACIONAL DE DIFUSÃO DE CONHECIMENTO A estratégia operacional de difusão do conhecimento e das referências geradas

dentro ou fora das propriedades familiares, será organizada com os grupos de

agricultores para troca de experiências, conforme seus interesses.

Essa estratégia operacional passa pelas seguintes etapas: organização do grupo de

troca de experiências, objetivo do grupo, geração da referência, funcionamento do

grupo e avaliação dos resultados do grupo, como segue:

- Organização do grupo - o grupo, que deve ter um número que justifique sua

organização (em torno de quinze seria ideal), se for de seu interesse, elabora um

Regimento Interno para facilitar e embasar o funcionamento, a troca de

experiências, o aprendizado entre seus membros, na busca do aperfeiçoamento

técnico e de gestão.

- Objetivo do grupo – também discutido e definido pelo grupo, o qual poderia ser:

aumentar a renda da propriedade com a incorporação de tecnologia

agropecuária, ecológica, social e competências específicas, de forma organizada,

com apoio do capital social.

- Geração da referência - um grupo base de agricultores, assessorado pelo

extensionista do processo econômico, gera ou busca no ambiente, as referências

técnicas, econômicas e ambientais de seu interesse, nas propriedades de

referência ou selecionadas para tal.

- Funcionamento do grupo - de posse dessas referências, o agricultor e o

extensionista reúnem o grupo que possua um ou mais interesses ou

necessidades comuns (mesma referência, mesmo produto ou mesma prática)

para solucionarem o seu problema ou para aperfeiçoarem os seus

conhecimentos. Mensalmente, ou a cada período negociado, acontece uma

Reunião Técnica do Grupo. A reunião é realizada na propriedade de um dos

membros do grupo, na forma de rodízio, coordenada pelo mesmo. O tema é

previamente planejado. O produtor anfitrião compartilha com os demais sua

experiência e como obteve os resultados que se destacaram. Quando o grupo

não reside na comunidade e sim no meio urbano, negocia-se antecipadamente

outro local para a reunião.

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Um técnico, que domine o tema em pauta, participa fazendo a análise técnico-

científica, complementando a experiência prática do produtor. Com isto tem-se o

aprendizado mais completo, aliando os dois conhecimentos, os saberes do

produtor e do técnico.

- Desenvolvimento do grupo - o aporte de novas tecnologias agropecuárias e de

gestão necessárias ao desenvolvimento do grupo vão sendo ofertadas mediante:

- As referências geradas pelo grupo base de agricultores;

- Pelas necessidades detectadas e demandadas pelo grupo;

- Pelas necessidades detectadas e ofertadas pelos técnicos

pesquisadores e consultores que atuam junto aos grupos;

- Outras formas de interesse comum.

Outras alternativas de capacitação podem ser programadas, como excursões,

aquisição de vídeos para debate, livros em conjunto, cursos, encontros, palestras,

seminários, congressos. exposições, etc. No final de cada evento define-se o tema

para a próxima reunião, data e local, ou elabora-se um plano para um determinado

período.

Progressivamente os agricultores e suas organizações devem assumir todo esse

processo, ampliando, assim, o seu capital social, demandando o extensionista

quando necessário.

- Avaliação dos resultados do grupo – deverá ser feita no final de cada safra, ou de

cada ano agrícola, conforme seus objetivos.

10. Sugestões Longe de querer esgotar o assunto, em função de sua complexidade, são

necessários estudos mais aprofundados dessas interfaces, com base na realidade

onde os sistemas de produção, em análise, estão inseridos.

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