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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA (UNEC/MG) PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE Gestão Ambiental Pública no Município de Ipatinga - MG Luiz Adriano Silva CARATINGA - MG JULHO/2004

Gestão Ambiental Pública no Município de Ipatinga - MGbibliotecadigital.unec.edu.br/bdtdunec/tde_arquivos... · O trabalho nasceu da necessidade de fortalecimento e organização

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA (UNEC/MG) PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Gestão Ambiental Pública no Município de Ipatinga - MG

Luiz Adriano Silva

CARATINGA - MG JULHO/2004

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA (UNEC/MG) PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Luiz Cláudio Ribeiro Rodrigues Prof. Dr. Leopoldo Concepcíon Loreto Charmelo Prof. Dr. Antônio Pereira Magalhães Jr.

CARATINGA - MG JULHO/2004

ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS, À minha esposa Kellen, grande incentivadora e fonte de inspiração para a realização deste trabalho; Aos meus filhos Gabriel e Letícia, pela aceitação das ausências; Aos meus pais, que mesmo distante sempre acreditam e apoiam; Aos meus sogros, cunhadas e esposos, pelo apoio nos momentos de dificuldade; Aos meus irmãos, por compartilharem desta realização; Ao Centro Universitário de Caratinga, por permitir a minha formação; À Prefeitura Municipal de Ipatinga e seus servidores, por contribuirem para a formação profissional; Aos Professores do UNEC, pelos ensinamentos compartilhados; Ao Professor Luiz Cláudio, pela dedicação na orientação deste trabalho; Aos colegas mestrandos, pelas caronas e momentos alegres divididos; À todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a conclusão dessa jornada. A todos vocês, muito obrigado.

iii

Dedico este trabalho à minha esposa Kellen e aos meus filhos Gabriel e Letícia.

iv

RESUMO

O presente trabalho aborda o tema da Gestão Ambiental Pública e foi

desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e

Sustentabilidade, Curso de Mestrado Profissionalizante, do Centro Universitário de

Caratinga, em Caratinga, Estado de Minas Gerais. Apresenta-se uma evolução da

Gestão Ambiental Pública no Brasil, apontando fatos marcantes como a

promulgação de leis e a criação do Sistema Nacional de Meio Ambiente, bem como

uma abordagem do sistema Ambiental de Minas Gerais, como foi a sua criação e

como é a sua composição e atribuições. Discute-se também o processo de

descentralização da Gestão Ambiental para os municípios, apoiado no ordenamento

jurídico que abriu precedentes para que os municípios assumissem esta

competência. São abordadas, ainda, quais são as necessidades para que esta

atitude seja de fato assumida por parte dos governos municipais e quais são as

tendências deste processo no Estado de Minas Gerais. O município mineiro de

Ipatinga foi o palco de realização deste trabalho e foi abordado com um pequeno

histórico do município, a caracterização do Poder Executivo Local e os instrumentos

de Gestão Ambiental instituídos pela administração municipal. Também se

apresenta uma verificação da Gestão Ambiental Pública em Ipatinga. Como parte

final do trabalho são apresentados uma série de aspectos, com o objetivo de

contribuir com o Executivo Municipal no processo de gerenciamento do meio

ambiente local.

v

ABSTRACT

The present work approaches the theme of the Public Environmental

Administration and it was developed in the extent of the Program of Masters degree

in Environment and Sustainability, Course of Vocational Master's degree, of the

Academical Center of Caratinga, in Caratinga, State of Minas Gerais. It comes an

evolution of the Public Environmental Administration in Brazil, pointing outstanding

facts as the promulgation of laws and the creation of the National System of

Environment, as well as an approach of the Environmental system of Minas Gerais,

as it was their creation and as it is their composition and attributions. It is also

discussed the process of decentralization of the Environmental Administration for the

municipal districts, leaning in the juridical that opened precedents so that the

municipal districts assumed this competence. They are approached, still, which are

the needs for this attitude on the part of the municipal governments and which are

the tendencies of this process in the State of Minas Gerais. The mining municipal

district of Ipatinga was the stage of accomplishment of this work and it is approached

with a small report of the municipal district, the characterization of the Local

Executive Power and the instruments of Environmental Administration instituted by

the municipal administration. Also a verification of the Public Environmental

Administration is presented in Ipatinga. As final part of the work is presented a series

of aspects, with the objective of contributing with the Municipal Executive in the

process of administration of the local environment.

vi

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1

1.1 - APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................ 1 1.2 - OBJETIVOS .................................................................................................................................... 4 1.3 - METODOLOGIA .............................................................................................................................. 4

2. EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA .......................................................................... 7 2.1 – ASPECTOS RELEVANTES DA QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL ........................................................ 7 2.2 - GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA NO ESTADO DE MINAS GERAIS ........................................................ 13

3. MUNICIPALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA NO ESTADO DE MINAS GERAIS .. 24 3.1 – ESTRUTURANDO O MUNICÍPIO ..................................................................................................... 24 3.2 – TENDÊNCIAS DA DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA EM MINAS GERAIS ............ 28 3.3 – CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA A DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA ............ 36

4. GESTÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE IPATINGA .................................................................. 42 4.1 - HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE IPATINGA ......................................................................................... 42 4.2 - CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA AMBIENTAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE IPATINGA ..................... 45 4.3 – A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE IPATINGA E O ORDENAMENTO JURÍDICO AMBIENTAL ................... 51 4.4 – INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA PRATICADOS EM IPATINGA ................................. 55 4.5 - ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA EM IPATINGA ................................................................ 71

5. PROPOSIÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA A GESTÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE IPATINGA ............................................................................................................................................. 82

6. CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 88

7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 92

1

1. INTRODUÇÃO 1.1 - Apresentação

O presente trabalho de dissertação de Mestrado foi desenvolvido no âmbito

de um projeto de cooperação entre a Prefeitura Municipal de Ipatinga e o Programa

de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, Curso de Mestrado

Profissionalizante, do Centro Universitário de Caratinga, em Caratinga, Estado de

Minas Gerais.

O trabalho nasceu da necessidade de fortalecimento e organização dos

municípios para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental Pública, conforme a

legislação vigente. Esta legislação foi definida, principalmente, pela Política Nacional

de Meio Ambiente, instituída pela Lei 6.938, em 1981, e pela Constituição Federal,

em 1988, que delegou prerrogativas aos municípios para legislarem sobre as

questões ambientais e fomenta a participação dos três níveis de governo no trato

dos assuntos relacionados ao Meio Ambiente. Contudo, a municipalização das

ações é muito tímida, existindo uma distância entre a prática e a aplicação da

legislação. Esse trabalho pretendeu estudar este aspecto no sentido de contribuir

com o governo municipal para a apropriação dos instrumentos de gestão, servindo

de apoio aos governantes para a busca do desenvolvimento sustentável.

A escolha do Município de Ipatinga como área de estudo (Figura 1) deveu-se

ao fato da experiência vivenciada, pelo executor deste trabalho, na Seção de

Controle Ambiental da Prefeitura Municipal de Ipatinga, cidade localizada no Vale do

Aço mineiro. Ressalta-se que a região do Vale do Aço ocupa um lugar de destaque

no Estado de Minas Gerais pelo seu desenvolvimento econômico, formando um pólo

2

A

B Figura 1: Localização do município de Ipatinga.

A – Localização geográfica de Ipatinga em relação a outros grandes centros

urbanos. Fonte: IPATINGA (2004 b).

B – Encontro dos Rios Doce e Piracicaba (o braço mais estreito é o Rio

Piracicaba). Fonte: Benedito JR (1999).

3

de desenvolvimento constituído após a instalação e operação de importantes

empreendimentos que fomentaram o desenvolvimento regional, estadual e nacional.

Duas grandes siderúrgicas e uma fábrica de celulose, aliados a um conjunto urbano

(Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso) de cerca de 400 mil

habitantes, segundo IBGE (2001), em acelerado processo de expansão conferem ao

Vale do Aço um palco onde a aplicação das normas e diretrizes da política ambiental

são efetivamente necessárias.

Esse desenvolvimento industrial na região proporcionou o surgimento de um

considerável número de pequenos empreendimentos que servem de suporte às

grandes corporações do entorno. Na maioria das vezes, esses pequenos

empreendimentos surgem rapidamente sem, no entanto, passarem pelo processo

formal de legalização funcional perante o poder público local, gerando dificuldades

administrativas no campo ambiental, contábil e da saúde.

Consciente dessa informalidade, a administração pública de Ipatinga tem

tomado atitudes no sentido de melhor administrar a questão ambiental local, haja

vista a promulgação da Lei 1.475/96 e o Decreto 3.790/97, que trazem no seu

contexto aspectos para a proteção dos recursos naturais e para a gestão ambiental

no município. Todas essas ações legais vão de encontro à necessidade crescente

de proteção dos recursos naturais e ao meio ambiente.

O crescimento vertiginoso dos centros urbanos, como é o caso do município

de Ipatinga, acarreta uma série de desafios no trato das questões ambientais onde a

implantação dos instrumentos da gestão ambiental torna-se um compromisso

fundamental do poder público. Um outro desafio presente é a ocupação de áreas

apropriadas para a implantação de Unidades de Conservação, dadas as

4

características do relevo ondulado, no município e região. Percebe-se que estas

áreas são fortemente ocupadas com habitação, o que muitas vezes acarreta

problemas sociais para a administração pública.

1.2 - Objetivos

Como objetivo central deste trabalho apresenta-se a Identificação e

funcionamento do Sistema de Gestão Ambiental Pública no nível municipal, no que

se refere à descentralização do poder de gerenciamento, conforme assinala a

Resolução no 237/1997, do Conselho Nacional de Meio Ambiente.

Como objetivos secundários do presente trabalho apresenta-se:

1 – Levantamento da estrutura do Sistema Estadual de Meio Ambiente

(SISEMA) de Minas Gerais e a sua influência na municipalização da Gestão

Ambiental Pública no Estado;

2 - Identificação do Sistema de Gestão Ambiental Pública praticado no

município de Ipatinga e os instrumentos utilizados;

3 – Análise dos instrumentos de Gestão Ambiental Pública no Município de

Ipatinga;

4 - Sugestão de medidas auxiliares para a adequação e melhoria da Gestão

Ambiental Pública de Ipatinga.

1.3 - Metodologia

A metodologia utilizada para a execução do trabalho envolveu 4 etapas. A

Etapa 1 consistiu nos levantamentos bibliográficos referentes ao tema, buscando

5

assim a obtenção de informações existentes na literatura pertinente. Para o

entendimento do processo de municipalização da gestão ambiental, foi necessário

uma reflexão sobre a questão ambiental no Estado, enfocando sua implantação e o

funcionamento do sistema proposto, bem como as necessidades para a

consolidação de um sistema de gestão ambiental pública municipal. Foram

consultados arquivos do setor de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Ipatinga,

dos órgãos ambientais do Estado (Fundação Estadual de Meio Ambiente e Instituto

Estadual de Florestas) e bibliotecas de Instituições de Pesquisa e de Ensino

Superior, bem como a pesquisa no banco de teses e dissertações da CAPES. Nesta

etapa também foram realizadas entrevistas não estruturadas com servidores da

Prefeitura Municipal de Ipatinga, lotados no Departamento de Meio Ambiente, no

Departamento de Planejamento Urbano e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente

e Desenvolvimento Sustentável, como forma de aquisição de informações sem

registro formal.

Na Etapa 2 do trabalho buscou-se identificar o Sistema de Gestão

Ambiental Pública existente em Ipatinga e seus instrumentos, observando a

legislação municipal referente à temática ambiental, bem como os arquivos do

Departamento de Meio Ambiente, onde foram encontrados os registros de reuniões

do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (este é o nome do conselho de

meio ambiente do município), e ainda os registros de eventos ambientais realizados

pelo Departamento. Após a reunião de todo o material informativo, realizou-se uma

classificação dos instrumentos de gestão ambiental utilizados em Ipatinga, de acordo

com o descrito na literatura identificada na etapa anterior. Nesta segunda etapa

foram consultados outros setores da Prefeitura Municipal, como a Assessoria de

6

Comunicação Social, para a obtenção de material fotográfico, o Departamento de

Planejamento Urbano, para a obtenção de dados históricos e o setor de

Geoprocessamento, para a obtenção de mapas de localização do município.

Na Etapa 3 foi realizada a Análise dos instrumentos de Gestão, existentes

no município e a sistemática de sua utilização pela administração municipal,

adotando-se a classificação sugerida na literatura, e ordenando os instrumentos

utilizados em Ipatinga de acordo com a literatura. Após este ordenamento, foi

realizado um relato do que foi executado pela administração pública local com o

emprego do instrumento de gestão respectivo. Incluiu-se nesta verificação o

procedimento de licenciamento ambiental para os empreendimentos potencialmente

poluidores em atividade no município de Ipatinga, bem como a aplicação das normas

e deliberações das instituições ambientais estaduais e federais. A experiência do

autor deste trabalho foi decisiva para esta etapa do trabalho, uma vez que o mesmo

foi servidor da instituição.

A Etapa 4 consistiu de sugestões de medidas auxiliares tendo sido

realizada através da proposição de formulários, enumeração de ações a serem

implementadas pelo poder executivo local para a melhoria da Gestão Ambiental

Pública no município, baseadas na vivência prática do autor deste trabalho enquanto

funcionário da prefeitura de Ipatinga.

7

2. EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA

Este capítulo traz uma abordagem, sucinta, a respeito da gestão ambiental no

Brasil evidenciando-se acontecimentos importantes ocorridos nas últimas décadas e

que serviram de subsídios para melhorar o pensamento ambiental, principalmente,

do poder público.

Este fortalecimento no trato da questão ambiental favoreceu o aparecimento

de órgãos ambientais, promulgação de leis e normas que norteiam as ações em prol

da proteção aos recursos naturais, favorecendo a construção do conceito de

desenvolvimento sustentável.

Num segundo momento, analisam-se os efeitos decorrentes da

implementação da Gestão Ambiental no Estado de Minas Gerais, a criação das

entidades estaduais responsáveis pela aplicação e fiscalização da legislação para

auxiliar a gestão ambiental pública nos níveis federal, estadual e municipal.

2.1 – Aspectos Relevantes da Questão Ambiental no Brasil

A industrialização crescente foi importante para o desenvolvimento econômico

do Brasil durante as décadas de 60 e 70. Entretanto, esta atitude provocou graves

problemas ambientais evidenciados, inicialmente, nos grandes centros urbanos. Este

fato suscitou o conceito de gestão ambiental, que por sua vez, estruturou-se,

principalmente na adoção de medidas de controle da poluição, provocada pelo

processo de desenvolvimento vigente.

A institucionalização da Política Ambiental Brasileira teve impulso com os

acontecimentos ambientais mundiais, a partir da Conferência de Estocolmo,

8

resultando na criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), no ano de

1973, mesmo que a delegação brasileira presente no evento tenha se negado a

aceitar as medidas de controle recomendadas pelos países industrializados e em

vários aspectos discutidos houve discordância (FEAM, 1998 e Maglio 2000).

Algumas ações para a proteção do meio ambiente remontam à criação da

SEMA, como a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição as Águas e do Ar

(CIPAA), em 1960 no Estado de São Paulo, e o Instituto de Engenharia Sanitária

(IES) no Rio de Janeiro, em 1962. Estes organismos, mais tarde, foram convertidos

na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) e Fundação

Estadual de Engenharia e Meio Ambiente (FEEMA), criadas em 1973 e 1975, em

São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente (FEAM, 1998).

Sendo assim, com a criação de agências de proteção estaduais, a gestão

ambiental nacional passou a ser implantada de forma descentralizada, afirmando a

concepção de “comando e controle ambiental” das atividades econômicas

potencialmente poluidoras, levando, ainda, à criação gradual dos sistemas de

licenciamento ambiental nos Estados mais industrializados (Maglio, 2000).

De acordo com Maglio (2000), a Lei 6.938/81 estruturou a linha dorsal da

administração ambiental pública para o país, sendo concebida como um sistema de

gestão harmônico, descentralizador e articulador das ações governamentais na área

de meio ambiente.

Sabe-se que o ordenamento legal existente no Brasil, no que se refere ao

meio ambiente, foi derivado da Lei 6.938/81, porém, documentos anteriores já

mostravam a preocupação com os recursos naturais como é o caso do Código

Florestal, editado pela primeira vez em 1934 e reformulado posteriormente, o Código

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das Águas, editado em 1934, o Código da Pesca de 1938 e o Código das Minas, em

1940 (FEAM, 1998).

Contudo, hoje conta-se com a atuação de um sistema nacional para

gerenciamento do meio ambiente estruturado conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1 – Estrutura do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA.

ÓRGÃO (S) REPRESENTANTE I - Superior Conselho de Governo II – Consultivo e Deliberativo

Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA

III –Central Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal

IV –Executor Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

V – Seccionais Órgãos ou entidades estaduais VI –Locais Órgãos ou entidades municipais

Fonte: Marques (2001), modificado.

O Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA foi instituído pela Lei nº

6.938, de 31 de agosto de 1981. Este Sistema é constituído pelos órgãos e

entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas

Fundações instituídas pelo Poder Público, sendo responsáveis pela proteção e

melhoria da qualidade ambiental. A estrutura do SISNAMA é composta por: I - Órgão

Superior: O Conselho de Governo; II - Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho

Nacional do Meio Ambiente – CONAMA; III - Órgão Central: O Ministério do Meio

Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal – MMA; IV - Órgão Executor:

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –

IBAMA; V - Órgãos Seccionais: Os órgãos ou entidades da Administração Pública

10

Federal direta ou indireta; VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais

responsáveis pelo controle e fiscalização, nas suas respectivas jurisdições (BRASIL,

1981 e Marques, 2001).

A atuação do SISNAMA efetiva-se mediante articulação coordenada dos

Órgãos e entidades que o constituem. Para tal permite-se o acesso da opinião

pública às informações relativas as agressões ao meio ambiente e às ações de

proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA; a atuação dos Estados,

Distrito Federal e Municípios para a regionalização das medidas emanadas do

SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares.

A Lei 6.938/81, também criou o Conselho Nacional de Meio Ambiente

(CONAMA). O CONAMA, efetivamente iniciou as suas atividades a partir de 1984,

com a formulação de resoluções que regulamentaram e operacionalizaram os

instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente. Um ponto importante foi a

edição da Resolução 002/85, que determinou que as grandes barragens para

captação de água ou geração de energia passassem a ser objeto de licenciamento

ambiental através dos órgãos estaduais e consideradas como atividades

potencialmente poluidoras (Maglio, 2000 e FEAM, 1998).

Uma outra resolução importante do CONAMA foi a de n° 001/86, onde

regulamenta os procedimentos para a realização do Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Maglio (2000) comenta

que esta resolução colocou o Brasil em sintonia com os países mais avançados em

gestão ambiental.

11

Vale ressaltar que as normas e padrões promulgados pelos Estados, Distrito

Federal e Municípios, poderão fixar parâmetros de emissão, ejeção e emanação de

agentes poluidores, observando-se a legislação federal.

Na composição do SISNAMA, observa-se como parte constituinte, os órgãos

seccionais e locais. O Estado de Minas Gerais tem como Órgãos Seccionais do

SISNAMA, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável (SEMAD), a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), o Instituto

Estadual de Florestas (IEF) e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Os

Órgãos Locais, que são os órgãos municipais, podem ser considerados como os

principais membros integrantes do Sistema, pois os acontecimentos ambientais

ocorrem em seus domínios, as empresas ou atividades geradoras de poluição ou

degradação estão instaladas sob sua tutela. Ressalta-se que a partir da publicação

da Resolução CONAMA 237/97, os municípios ficaram mais fortalecidos para

assumirem o papel de gerenciadores e fiscalizadores do meio ambiente local.

Todas essas ocorrências demonstram um caminho positivo em relação à

proteção do meio ambiente. A regulamentação dessa política e a sua aplicação

fortalecem o sentimento de dever para a proteção dos recursos naturais. Trata-se de

um novo patamar de gestão ambiental pública para o Brasil, com mecanismo de

controle ambiental e o desenvolvimento de estruturas governamentais responsáveis

pela prática deste processo.

Observa-se que a legislação orienta para outras questões tais como

compatibilizar o desenvolvimento e a conservação ambiental, difundir tecnologias

para uso racional dos recursos naturais e imposição de obrigações de recuperação e

indenização de danos ambientais, por parte do causador do dano.

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De acordo com Maglio (2000), dentre os princípios e objetivos estabelecidos

na Política Nacional de Meio Ambiente, pode ser verificado como principal objetivo a

harmonização da proteção ao meio ambiente com o desenvolvimento econômico e a

promoção de orientações para a gestão ambiental como meio de garantir a

qualidade ambiental.

Todos estes fatos reforçaram o conhecimento sobre as questões ambientais.

FEAM (1998) cita que o Deputado Fábio Feldman liderou a formação da Frente

Verde, que constituiu-se de 50 representantes, defendendo a inclusão de um

capítulo sobre o meio ambiente na nova constituição. Houve também a assinatura da

Emenda Popular sobre a Proteção Ambiental, assinada por centenas de pessoas e

organizações.

Estas ações, portanto, influenciaram na redação do texto da Constituição de

1988 de tal forma que, a Carta Magna em vigor, impõe ao Poder Público e à todos, o

dever de defender e preservar o meio ambiente.

Cabe ressaltar que a legislação ambiental brasileira tem incentivado a

descentralização da gestão ambiental. A Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997,

(Crespo, 1998), cuja contribuição foi a instituição da Política Nacional dos Recursos

Hídricos, estabelece que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e

contar com a participação do Poder Público, dos Usuários e das Comunidades.

Nesta lei, está prevista a integração da gestão dos recursos hídricos com a gestão

ambiental, como diretriz geral de ação.

13

2.2 - Gestão Ambiental Pública no Estado de Minas Gerais

A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) no 237, de

dezembro de 1997, prevê que os municípios têm autonomia para licenciar os

empreendimentos de impacto local. No Estado de Minas Gerais o Conselho de

Política Ambiental (COPAM) editou a Deliberação Normativa 29/98 na qual

manifesta a formalização de um convênio entre o Estado e Município para o

Licenciamento Ambiental. Conforme informações obtidas junto à Secretaria Estadual

de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), dos mais de 850

municípios mineiros, apenas cinco firmaram tal convênio com o Estado,

evidenciando, assim, a necessidade de melhor esclarecimento sobre o assunto.

Entretanto, deve-se levar em conta as condições dos municípios que, na sua

grande maioria, não dispõem de recursos técnicos, humanos e materiais para a

efetiva implantação do modelo de gestão em desenvolvimento no Estado.

No Estado de Minas Gerais, o órgão responsável pela execução da política

ambiental, Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), vem fomentando o

processo de descentralização e como ponto de partida promoveu a seleção de

alguns municípios mineiros em condições de assumirem a responsabilidade para a

condução do processo. Os critérios observados pela FEAM foram técnicos,

econômicos e organizacionais (Marques, 2001).

A organização da estrutura voltada para gerenciar as questões ambientais em

Minas Gerais foi originada na Fundação João Pinheiro (FJP) com a criação da

Diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente (DTMA). Nessa época o Estado estava

exercendo uma política de fortalecimento do desenvolvimento industrial e em 1972

foi instituído o Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), com o objetivo de

14

desenvolver pesquisas com ênfase no setor de mineração, metalurgia, minerais não

metálicos e tecnologia de alimentos de origem animal. As pesquisas em tecnologia

básica eram desenvolvidas pelo Centro de Recursos Naturais (CRN) da FJP, para o

levantamento dos recursos naturais do Estado. Esse órgão posteriormente foi

integrado à DTMA. Objetivando controlar todo o sistema existente até então, foi

criada em 1976, a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECT), e uma das

deliberações dessa secretaria foi a transferência das atribuições da DTMA para o

CETEC, em 1977 (FEAM, 1998).

A primeira fase da institucionalização da política ambiental no Estado cobre o

período de 1977 a 1982 e como a questão ambiental estava ainda em fase

embrionária, o poder público sofria pressões por parte de ambientalistas e pelo setor

privado, fato que contribuiu para que a implantação da política ambiental fosse

atrasada. Dentro desse contexto, o Governo assumiu com os ambientalistas o

compromisso de criar, no âmbito da SECT, a Comissão de Política Ambiental

(COPAM), que foi instituída em 1977, composta das seguintes câmaras: Poluição

Industrial, Poluição por Adubos Químicos e Defensivos Agrícolas, Política Ambiental,

Defesa de Ecossistemas e Mineração e Bacias Hidrográficas. Com a promulgação

da Lei 7.772 em 1980, a COPAM passa a ser o órgão formulador da Política

Estadual de Meio Ambiente, sendo estabelecidos os instrumentos para a

fiscalização, controle, aplicação de multas e licenciamento de empreendimentos

(FEAM, 1998).

O surgimento da Superintendência de Meio Ambiente (SMA), formalizada pelo

Decreto 22.658, de janeiro de 1983, ligada à Comissão de Política Ambiental,

marcou uma nova fase no processo da política de meio ambiente no Estado. Nessa

15

época já haviam propostas que apontavam para uma estrutura executiva única com

capacitação técnica, jurídica e administrativa. Entretanto, as medidas ainda

enfrentavam uma certa resistência, pois alegava-se que um técnico não seria capaz

de aplicar multas porque teria uma visão unilateral dos aspectos relativos à geração

de passivos ambientais de determinada empresa. Diante do impasse levantado, a

idéia que prevaleceu foi o fortalecimento do aspecto de negociação com os demais

órgãos e instituições envolvidas. Aqui se delineava a idéia de transformação da

COPAM em Conselho de Política Ambiental (COPAM). Contudo, ainda existiam

impasses entre SMA e o CETEC, com um posicionamento mais político da SMA e

avaliação mais técnica do CETEC. Somando-se a isso, a falta de recursos humanos

e a precária capacitação das equipes, contribuíram para a realização de um estudo

para a reestruturação do sistema com o resultado apontando para a criação de uma

estrutura técnica e executiva específica, dotada de autonomia e flexibilidade

administrativa e financeira (FEAM, 1998).

A partir do resultado do estudo surgiu a figura da FEAM e a COPAM

transformou-se em Conselho de Política Ambiental. A implementação da FEAM deu-

se a partir do que já existia consolidado na antiga SMA e em 1995 foi criada a

Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) que

incorpora a FEAM, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Departamento de

Recursos Hídricos (DRH) que mais tarde passou a Instituto Mineiro de Gestão das

Águas (IGAM).

A criação da SEMAD teve seus primórdios coincidentes com a própria

formatação do Sistema Estadual de Meio Ambiente, pois com a criação da

Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia já se propunha a inclusão de uma

16

pasta de meio ambiente, em 1976. Foi um longo caminho percorrido, com

envolvimento de vários segmentos, sendo a primeira proposta efetiva para a criação

da SEMAD, surgida no governo Newton Cardoso, em 1990. A criação da Secretaria

não foi muito fácil, pois houve alteração significativa na estrutura do Executivo

Estadual, o que gerou descontentamento dos setores que perderam seus órgãos.

Posteriormente, através da Lei 11.903, em 1995, a Secretaria foi finalmente criada

(FEAM, 1998).

Após a criação da SEMAD o quadro do Sistema Estadual de Meio Ambiente

(SISEMA) foi definido conforme a Figura 2, onde: o COPAM e Conselho Estadual de

Recursos Hídricos (CERH) são órgãos subordinados colegiados; FEAM, IEF e IGAM

são órgãos vinculados; PMMG e Núcleos de Meio Ambiente são órgãos associados;

Prefeituras e CODEMAS são órgãos locais. Do modo como o SISEMA se estrutura

fica evidenciada a tendência da municipalização da gestão ambiental. Sendo assim,

os municípios, cedo ou tarde, terão que assumir o seu papel dentro do sistema e se

estruturarem para executarem a política ambiental.

17

Fonte : Adaptado de Ribeiro et al (1998).

Figura 2 : Organização do Sistema Estadual de Meio Ambiente.

Atribuições dos Órgãos do Sistema Estadual de Meio Ambiente em Minas Gerais

SECRETARIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (SEMAD)

Entre os anos de 1995 e 1997 foi discutida a estrutura da SEMAD, quando,

então, houve uma revisão nas atribuições dos órgãos que também participavam da

gestão ambiental (Marques, 2001).

A partir dessa época, devido às reorganizações impostas, as atribuições da

SEMAD passaram a tomar um rumo de planejamento, coordenação e articulação

das políticas de gestão dos recursos naturais (FEAM, 1998).

Nesta mesma linha a FEAM passa a se responsabilizar pela gestão da

Agenda Marrom, que cuida do controle da degradação ambiental provenientes de

SEMAD

COPAM CERH

FEAM IEF IGAM

Núcleos de Meio Ambiente nas Secretarias

PMMG

Núcleos Municipais (Secretarias/Departa

mentos) -

18

atividade poluidora, o IGAM cuida da gestão da Agenda Azul, significando os

recursos hídricos e o IEF cuida da gestão da Agenda Verde, ou seja, a formulação e

execução da política florestal (Marques, 2001).

Dentre as atribuições da SEMAD, Maglio (2000) destaca o desenvolvimento

do zoneamento ambiental, o desenvolvimento de pesquisas sobre recursos naturais,

o desenvolvimento de educação ambiental, a execução de planos de manejo de

Unidades de Conservação e a realização de ações conjuntas com as demais

agências do governo para a proteção ambiental.

CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL (COPAM)

O Conselho de Política Ambiental (COPAM) tem por finalidade deliberar sobre

diretrizes, políticas, normas regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de

caráter operacional, para proteção e conservação do meio ambiente e dos recursos

ambientais, bem como sobre a sua aplicação pela SEMAD, por meio das entidades

a ela vinculadas, dos demais órgãos seccionais e dos órgãos locais.

Sua estrutura, fundamentada em um sistema colegiado, consagrou a fórmula

do gerenciamento participativo, inovando a forma de organização de conselhos

governamentais e a própria elaboração de políticas públicas. Exercendo o papel de

órgão colegiado do sistema ambiental estadual é responsável pela deliberação e

normatização das políticas públicas formalizadas pelo Sistema Estadual de Meio

Ambiente - SISEMA (SEMAD, FEAM, IGAM e IEF) na área ambiental.

O COPAM, órgão normativo, colegiado, consultivo e deliberativo, subordinado

à SEMAD, foi reestruturado pela Lei no 12.585/97 e Decreto Estadual no 39.490/98

em sua organização, passando a ser constituído por uma Presidência, um Plenário,

19

uma Secretaria Executiva e 07 (sete) Câmaras especializadas: Câmara de Política

Ambiental; Câmara de Atividades Industriais; Câmara de Atividades Minerárias;

Câmara de Atividades de Infra-Estrutura; Câmara de Atividades Agrossilvopastoris;

Câmara de Proteção da Biodiversidade e Câmara de Recursos Hídricos. Através do

Decreto 43.278/03, o COPAM passou a ter em sua estrutura as unidades regionais

no total de sete. Este assunto será abordado mais adiante, de forma mais detalhada

(MINAS GERAIS, 2003).

As Câmaras Especializadas são instâncias deliberativas e normativas,

encarregadas de analisar e compatibilizar planos, projetos e atividades de proteção

ambiental com as normas que regem as questões ambientais a elas afetas. A

Secretaria Executiva, coordenada pelo Secretário Adjunto da SEMAD, é o órgão de

suporte da Presidência do COPAM, do Plenário e da Câmara de Política Ambiental.

O apoio e assessoramento às demais Câmaras Especializadas é prestado: pela

FEAM, às Câmaras de Atividades Industriais, Atividades Minerárias e Atividades de

Infra-Estrutura; pelo IEF, às Câmaras de Proteção da Biodiversidade e de Atividades

Agrossilvopastoris; e pelo IGAM, à Câmara de Recursos Hídricos.

Rotineiramente são adotados métodos de trabalho que permitem a

participação da FEAM através da apresentação de pareceres técnicos, jurídicos ou

com proposições normativas; a participação dos empreendedores e consultores;

participação da comunidade; apresentação de relatórios e pareceres dos

conselheiros para se fazerem cumprir a competência do conselho, imposta pela

legislação em vigor.

20

CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CERH)

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) foi criado pelo Decreto nº

26.961, de 28/04/87, pela necessidade de integração dos órgãos públicos e o setor

produtivo para um melhor controle dos recursos hídricos, no que se refere à

quantidade e qualidade da água. O seu objetivo é promover o aperfeiçoamento dos

mecanismos de planejamento, compatibilização, avaliação e controle dos Recursos

Hídricos do Estado. Este conselho é constituído por 30 membros representantes do

poder público estadual, poder público municipal e usuários e sociedade civil

organizada. (MINAS GERAIS, 1987).

Na conformidade do Decreto nº 41.578/2001, que regulamentou a Lei nº

13.199/99, mais conhecida como a "Lei da Água", compete ao CERH-MG, mediante

deliberação normativa: estabelecer os princípios e as diretrizes da Política Estadual

de Recursos Hídricos; aprovar Plano Estadual de Recursos Hídricos; decidir

conflitos; atuar como instância de recursos; deliberar sobre os projetos de

aproveitamento de recursos hídricos; conceder outorga; estabelecer cobrança pelo

uso de recursos hídricos; estabelecer os critérios e as normas gerais para a outorga

e direito de uso de recursos hídricos; aprovar a instituição de comitês de bacia

hidrográfica; reconhecer os consórcios ou as associações intermunicipais de bacia

hidrográfica; deliberar sobre o enquadramento dos corpos de água; exercer outras

ações, atividades e funções estabelecidas em lei ou regulamento. (MINAS GERAIS,

2001).

21

FUNDAÇÃO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE (FEAM)

A Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM) é responsável por propor e

executar a política de proteção, conservação e melhoria do meio ambiente no que

concerne à prevenção e à correção da poluição ou da degradação ambiental

provocada por atividade poluidora, fiscalizando o cumprimento da legislação,

aplicando sanções, quando necessário, bem como promover e realizar estudos e

pesquisas sobre a poluição, qualidade do ar, da água e do solo. Desenvolve,

também, atividades informativas e educativas, visando facilitar a compreensão dos

problemas ambientais e apoiar os municípios na implantação e desenvolvimento de

sistemas de gestão destinados a prevenir e corrigir a degradação ambiental local.

Como um dos órgãos de apoio do COPAM, atua nas questões relacionadas à

conservação e controle ambiental das atividades industriais, minerárias e de infra-

estrutura, com vistas à melhoria da qualidade ambiental no Estado.

Cabe à FEAM atuar diretamente junto aos empreendimentos de significativo

impacto ambiental de âmbito regional e contribuir para a capacitação das

administrações municipais na gestão ambiental de seu território.

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS (IEF)

O Instituto Estadual de Florestas (IEF) é responsável pela coordenação e

execução das Políticas Florestais (Lei 10.561, de 21/12/91) e de Pesca (Lei 12.265,

de 24/07/96). Atua na proteção da biodiversidade, no desenvolvimento florestal

sustentável, no monitoramento e controle da cobertura florestal e uso do solo, no

controle da pesca e aqüicultura, fiscalizando e controlando a exploração florestal e a

22

proteção dos recursos naturais renováveis do Estado.

Minas Gerais é um Estado de intensa vocação florestal, sendo assim, o IEF

atua de forma descentralizada nas diversas regiões mineiras, através de escritórios

regionais, em parceria com as prefeituras municipais na busca do uso sustentado

dos recursos naturais. O fomento florestal é uma das atividades de grande

importância para Minas, que sedia um grande parque siderúrgico e indústrias de

celulose. Nesse sentido, o Instituto tem relevante trabalho de educação, fiscalização

junto às empresas que consomem matéria-prima vegetal e aos produtores rurais,

buscando estimular o reflorestamento e a recomposição florestal.

Atuando junto às empresas que consomem matéria prima vegetal e aos

produtores rurais, o Instituto vem estimulando o reflorestamento e a recomposição

florestal, visando atender à demanda das indústrias e das propriedades rurais.

Através da extensão florestal, engenheiros e técnicos do IEF procuram informar e

conscientizar os proprietários rurais sobre as vantagens ecológicas e econômicas do

cultivo de florestas de produção e de proteção de solos e mananciais de água.

A estes pequenos e médios proprietários rurais, que se engajam no Projeto

de Reflorestamento, o IEF fornece mudas, assistência técnica, adubos e defensivos,

para que reflorestem em suas fazendas áreas ociosas ou degradadas pela erosão e

imprópria para a agricultura.

Com o inventário florestal e o mapeamento da cobertura vegetal do Estado de

Minas Gerais, realizados pelo IEF através de satélites, é possível obter mapas da

cobertura florestal, que orientam e facilitam o trabalho de controle das modificações

ocorridas na vegetação em todo o Estado. O Instituto realiza também fiscalização e

23

controle de plantios, desmatamentos, produção de carvão vegetal, queimadas e

incêndios florestais.

Além disso, o IEF administra diversas Unidades de Conservação (Parques

Estaduais, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas e Áreas de Proteção

Ambiental) em Minas Gerais, destinadas principalmente à conservação da fauna e

flora.

INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS (IGAM)

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) é o órgão responsável pela

gestão dos recursos hídricos em Minas Gerais. De acordo com os princípios

expressos na Lei 9.433, de 08/01/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos

Hídricos, a água é um bem finito, vulnerável e de valor econômico. (BRASIL, 1997).

Portanto, cabe ao IGAM prestar apoio operacional à Política Estadual de Recursos

Hídricos, promover e executar estudos e projetos de conservação da quantidade e

da qualidade das águas, apoiar e incentivar a mobilização social para a gestão

compartilhada das águas. O IGAM atua objetivando o uso racional dos recursos

hídricos por meio da outorga do uso da água e do incentivo e apoio à formação dos

Comitês de Bacias Hidrográficas.

Os Comitês de Bacias Hidrográficas, integrantes dos Sistemas Nacional e

Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, são instâncias colegiadas e

normativas, compostas pelo poder público, por usuários e por representantes da

sociedade civil organizada responsáveis por efetivar a gestão descentralizada e

participativa dos recursos hídricos.

24

3. MUNICIPALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Neste capítulo são apresentados os aspectos de como deve ser a

organização ideal do município para a gestão do meio ambiente, considerando as

diferentes fases, iniciando pelo planejamento, os fatores relacionados ao controle da

qualidade e educação ambiental, a capacitação técnica, tecnológica e operacional.

Aborda-se a tendência da descentralização da Gestão Ambiental no Estado

de Minas Gerais, como um processo instituído pelo Governo Estadual com a criação

de Unidades Regionais Colegiadas do órgão estadual de gerenciamento ambiental.

Por fim, são apresentadas algumas considerações reconhecidas como

necessárias para a pretendida descentralização, conforme evidencia a Constituição

Federal, a Lei 6.938/81 e a Resolução n0 237/97 do CONAMA.

3.1 – Estruturando o Município

A Constituição de 1988 reforçou o aspecto de que os municípios teriam

competência comum para legislar sobre a matéria ambiental e promover a gestão

ambiental em seus domínios (Maglio, 2000).

Ribeiro e Vargas (2001) sugerem que a inclusão de novos instrumentos como

a educação, a comunicação, o “marketing” e a negociação ambiental tem a

finalidade de aumentar a eficiência dos responsáveis pela gestão ambiental urbana,

utilizando-os de forma complementar e integrada aos instrumentos tradicionais,

como o licenciamento ambiental, que é considerado um instrumento preventivo.

A figura das licenças ambientais, que são instituídas pelo poder público em

favor de um empreendimento reconhecido potencialmente poluidor, apresenta-se

25

como instrumento mais comum na estrutura da gestão ambiental. Esse

procedimento permite que o poder público reconheça o potencial poluidor do

empreendimento e solicite a adoção de uma postura adequada em relação ao

ambiente e que a sua operação ocorra dentro dos limites aceitáveis de geração de

interferências ambientais compatíveis com a legislação vigente e o meio no qual está

inserido.

Como forma de garantir a implantação dos procedimentos relacionados à

gestão ambiental, a administração pública deve considerar às exigências de

conservação dos recursos ambientais, adotando ações que visam a melhoria nas

condições de saneamento, a implantação de áreas verdes, a conservação dos

recursos hídricos, a consolidação de uma estrutura de fiscalização e monitoramento

das atividades potencialmente poluidoras existentes na cidade.

Philippi Jr. e Zulauf (1999), em um trabalho clássico sobre gestão ambiental

municipal, sugerem que o Município deve atender um conjunto de exigências para

implementar o próprio sistema de gestão e ainda, ser dotado de uma estrutura do

executivo municipal composta de um Conselho Municipal de Meio Ambiente

(CODEMA) e estrutura executiva adequada, integrantes do Sistema Municipal de

Meio Ambiente (SISMUMA). Entre as exigências citadas por Philippi Jr. e Zulauf

(1999) para a estruturação do município devem ser considerados o planejamento

ambiental, o desenvolvimento de áreas verdes, o controle da qualidade e a

educação ambiental. O planejamento ambiental traduz-se pelo conjunto de análises

do território do município, objetivando o encaminhamento de planos, programas e

projetos para melhorar as condições ambientais de seu território. O desenvolvimento

de áreas verdes inclui a identificação de demandas por áreas, implantação de

26

praças, espaços e outros tipos de áreas, bem como cuidados com espaços urbanos

e proteção e conservação de parques e fundos de vale. O Controle da Qualidade

acompanha as atividades poluidoras, pois esse conhecimento permite avaliar a

influência dessas atividades sobre o meio ambiente e com isso, a indicação de

ações para controlá-las é facilitada. Por fim, a educação ambiental, deve ser tratada

de forma transversal, permeando todas as ações dos conjuntos anteriores e

formando parcerias para que a estrutura seja duradoura.

A Constituição de 1988 abriu nova fase no Direito Ambiental no momento em

que dita artigos que dotam os Municípios de poder para gerirem seus próprios

negócios.

Ribeiro et al (1998) cita que nas questões relativas à proteção ambiental, a

norma constitucional estabelece nos incisos VI e VII, do artigo 23, a igualdade e

responsabilidade entre União, Estados, Distrito Federal e Município.

O artigo 30 relata competências unicamente dos municípios, dos quais

destacam-se as possibilidades de legislar sobre assuntos de interesse local,

suplementar a legislação federal e estadual, no que couber e promover o adequado

ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, parcelamento e

ocupação do solo urbano (BRASIL, 1988).

Outro ponto importante é o artigo 225 que afirma ser direito de todos o

usufruto do meio ambiente ecologicamente equilibrado, considerado bem de uso

comum, essencial à sadia qualidade de vida, sendo responsabilidade de todos

cuidar pela sua proteção.

De acordo com Franco (1999), os municípios devem se estruturar e capacitar-

se técnica e gerencialmente para assumirem as políticas ambientais em nível local.

27

Segundo Ribeiro et al (1998) a participação municipal no Sistema de Gestão

Ambiental Pública exige que os governos locais se fortaleçam como instâncias de

decisão e planejamento, ajustando a sua estrutura administrativa, estrutura de poder

local, normas e processo de desenvolvimento.

Além de existir no município uma estrutura no Poder Executivo e um

Conselho Municipal de Meio Ambiente, integrantes do Sistema, conforme visto

anteriormente, é importante que o Sistema de Gestão Ambiental Pública local seja

consolidado. Esta consolidação pode ser conseguida por meio de capacitação

técnica, tecnológica e operacional, conforme relatado por Ribeiro et al (1998).

A capacitação técnica, segundo os autores, se refere aos recursos humanos,

que devem ser habilitados para responderem às necessidades da comunidade,

possuírem capacidade analítica e reflexiva que permitam interpretarem os problemas

e proporem soluções técnicas-administrativas adequadas.

A capacitação tecnológica exige a identificação de laboratórios habilitados

para a realização de exames e análises bem como a utilização de equipamentos e

materiais tecnologicamente confiáveis.

Por fim, a capacitação operacional deve ser dotada de parâmetros como

mobilidade, através de veículos apropriados e em número suficiente, serviço de

telefonia e informática, equipamentos e materiais com a devida manutenção, espaço

adequado para reuniões e audiências públicas, fornecimento de mudas e estrutura

logística para a realização de eventos.

28

3.2 – Tendências da Descentralização da Gestão Ambiental Pública em Minas Gerais

Em 1997 foi editada a Resolução do CONAMA n0 237, que estabelece, dentre

vários aspectos, a competência dos municípios para atuarem no licenciamento

ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e dos que

lhe forem delegados pelo Estado (CONAMA, 1997).

Em Minas Gerais a idéia de descentralização é anterior a estas ações legais,

pois, segundo Marques (2001), em 1979 o PRODEMAM – Programa de Cooperação

Técnica com os Municípios para a Defesa do Meio Ambiente, foi instituído pelo

governo com o objetivo de estabelecer com os municípios mineiros a cooperação

técnica necessária para a criação de um órgão de caráter comunitário local, que

viesse a participar do processo de defesa do meio ambiente.

Conforme Marques (2001), nesta época vários órgãos foram criados no

âmbito municipal sem, no entanto, possuírem uma estrutura adequada. Isto gerou

uma demanda por cursos de treinamento junto ao COPAM, nos anos de 1985 e

1986. A formação destes órgãos a serem constituídos por representantes da

comunidade, atuando em caráter consultivo e deliberativo, associado a um outro

órgão do executivo, passam a ganhar representatividade municipal.

A FEAM, responsável pela fiscalização dos empreendimentos potencialmente

poluidores no Estado oferece todo o apoio aos municípios quanto à gestão

ambiental. Esse apoio se processa através de atendimentos para esclarecimento de

dúvidas, auxílio na preparação da legislação municipal, palestras e cursos de

capacitação. Enfim, há um envolvimento efetivo da FEAM no fomento da

municipalização da gestão ambiental.

29

A municipalização da competência para gerir o meio ambiente apresenta

vantagens como aumentar a capacitação dos envolvidos, reduzir custos, melhorar o

atendimento e conscientização, favorece a produtividade, dinamiza o trabalho de

consultores, melhora o mercado de trabalho e beneficia a atividade de extensão e

educação ambiental.

De fato, o que se espera de uma atuação consciente dos órgãos envolvidos,

FEAM e Prefeitura, é que as vantagens acima apresentadas se comprovem. A partir

do momento em que as entidades atuam em conjunto a possibilidade do

aprendizado é fortalecida. Neste contexto, a implantação de programas de cunho

sócio-ambientais como a Agenda 21 Local também é estimulada, pois favorece uma

melhor conscientização da sociedade.

No trabalho de Marques (2001), alguns municípios foram avaliados em

relação à gestão ambiental local. Os resultados encontrados mostram que a

tendência aos erros e acertos está presente devido ao caráter pioneiro do processo.

Também ficou evidente que os municípios estudados encontram-se em diferentes

estágios de evolução para o gerenciamento ambiental. Esse resultado reforça a

crença que o movimento precisa ser mais discutido e divulgado.

Atentos a esta necessidade, o executivo estadual lançou em 2003 um

programa que prevê a desconcentração do COPAM, para garantir a agilidade e

melhoria no processo de licenciamento ambiental, inovação na organização de

conselhos estaduais e propiciar a discussão da política ambiental na área de

influência direta dos empreendimentos, como é o caso dos municípios.

Estas unidades regionais, chamadas Unidades Regionais Colegiadas (URC),

são órgãos deliberativos e normativos, encarregados de analisar e compatibilizar

30

planos, projetos e atividades de proteção ambiental com as normas que regem a

espécie, no âmbito de sua competência territorial (MINAS GERAIS, 2003).

A composição destes conselhos regionais é paritária com a participação de,

no mínimo, doze e, no máximo, vinte membros designados pelo Presidente do

COPAM, sendo: I - um representante da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável por unidade regional colegiada, que será seu

respectivo Presidente; II - representantes de órgãos ou entidades da administração

pública, de entidades civis representativas dos setores produtivos, de categorias

de profissionais liberais e de organizações não governamentais, sediadas nas

respectivas regiões (MINAS GERAIS, 2003).

O Decreto 43.278/03 define assim a competência destas URCs: propor

políticas de conservação para o meio ambiente, para os recursos naturais e para o

desenvolvimento sustentável; propor normas e padrões de proteção e conservação

do meio ambiente; decidir consulta formulada sobre matéria de sua competência;

submeter à apreciação do Plenário assuntos de política ambiental; julgar processo

por infração ambiental, aplicando a respectiva penalidade; receber e julgar pedido de

reconsideração de penalidade; decidir sobre os pedidos de concessão de Licença

Prévia, Licença de Instalação e de Licença de Operação, bem como de licenças

corretivas; requerer ao Plenário a aplicação das penalidades; exercer outras

competências previstas neste Regulamento (MINAS GERAIS, 2003).

As URCs estão sendo instaladas de acordo com a região (Figura 3), a saber:

Jequitinhonha, com sede em Diamantina; Alto São Francisco, com sede em

Divinópolis; Leste Mineiro, com sede em Governador Valadares; Norte de Minas,

com sede em Montes Claros; Sul de Minas, com sede em Varginha; Zona da Mata,

31

com sede em Ubá e Triângulo Mineiro, com sede em Uberlândia. O Quadro 2 abaixo

ilustra a nomenclatura, a área de abrangência e o município sede da unidade

regional do COPAM.

O Quadro 2 apresenta a área de abrangência territorial das 7 URC do

COPAM. Sendo assim, tem-se 8 URCs que cobrem todos os municípios mineiros,

com a seguinte distribuição: URC-Central – 88 municípios; URC-Jequitinhonha – 52

municípios; URC-Leste Mineiro – 135 municípios; URC-Norte de Minas – 107

municípios; URC-Sul de Minas – 177 municípios; URC-Zona da Mata – 162

municípios; URC-Triângulo Mineiro – 72 municípios e URC-Alto São Francisco – 60

municípios. Esta distribuição espacial dos municípios pode ser observada na Figura

03.

O procedimento de escolha dos membros para a composição da URC, além

do caráter paritário, contou com a participação das entidades existentes na região de

localização da URC. A SEMAD coordenou este processo através de resoluções e

editais específicos. Nesta dissertação optou-se por detalhar a URC Leste Mineiro por

ser a região onde se localiza o município de Ipatinga, objeto de estudo deste

trabalho.

A URC Leste Mineiro teve a sua composição definida através da Resolução

SEMAD no 200, de 05 de março de 2004 (SEMAD, 2004). Esta resolução definiu a

composição, paritária, entre o poder público e a sociedade civil tendo por

representantes as seguintes entidades: Representando o Poder Público, a SEMAD,

Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA); Secretaria

de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE); Procuradoria Geral de Justiça

32

Quadro 2: Área de Abrangência e Sede das Unidades Regionais Colegiadas do COPAM.

URC* CONSELHOS REGIONAIS

ÁREA DE ABRANGÊNCIA TERRITORIAL

SEDE

1 Triângulo Mineiro Bacia do Rio Paranaíba e bacia do Rio Grande à jusante da barragem de Furnas

Uberlândia

2 Norte de Minas

Bacia do Rio São Francisco à jusante da barragem de Três Marias exclusive sub-bacia do Rio Abaeté

Montes Claros

3 Leste Mineiro

Bacia do Rio Doce à jusante da confluência do Rio Matipó e bacias dos Rios Mucuri, São Mateus, Itanhém, Jucuruçu e Buranhém

Governador Valadares

4 Jequitinhonha Bacia do Rio Jequitinhonha e do Rio Pardo Diamantina

5 Zona da Mata Bacia do Rio Paraíba do Sul e bacia do Rio Doce à montante da confluência do Rio Matipó

Ubá

6 Alto São Francisco

Bacia do Rio São Francisco à montante da barragem de Três Marias, exclusive as sub-bacias dos Rios das Velhas e Paraopeba; e acrescida da sub-bacia do Rio Abaeté

Divinópolis

7 Sul de Minas

Bacia do Rio Grande à montante da barragem de Furnas e bacia do Rio Piracicaba

Varginha

Fonte: Elaborado a partir do Decreto Estadual 43.278, de 22 de abril de 2003.

* URC=Unidade Regional Colegiada

33

Varginha

Uberlândia

Montes Claros

Gov. Valadares

Diamantina

Divinópolis

Ubá

Belo Horizonte

Conselho Estadual

de Política Ambiental

COPAM

SEDE Divinopolis Diamantina Governador Valadares Montes Claros Varginha Uberlândia Uba Belo Horizonte

URC / COPAM Alto São Francisco Jequitinhonha Leste Mineiro Norte de Minas Sul de Minas Triângulo Mineiro Zona da Mata COPAM Central

ESTADO

DE

MINAS GERAIS

Unidades Regionais Colegiadas

N

URC/COPAM

NORTE DE MINAS

URC/COPAM

SUL DE MINAS

URC/COPAM

TRIÂNGULO MINEIRO

URC/COPAM

ALTO SÃO

FRANCISCO

URC/COPAM ZONA DA MATA

COPAM

CENTRAL

URC/COPAM LESTE MINEIRO

URC/COPAM

JEQUITINHONHA

Fonte: Rogério N. Rocha - SEMAD (2004) - modificadoFigura 3: Distribuição das Unidades Regionais Colegiadas do COPAM

Sem escala

34

(PGJ); Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG); 02 (duas) prefeituras das regiões do

Vale do Aço, da Vertente Ocidental do Caparão e do Médio Piracicaba; 01 (uma)

prefeitura das regiões da Bacia do Suaçui e do Alto Jequitinhonha; 01 (uma)

prefeitura da região do Médio Rio Doce e 01 (uma) prefeitura da região do Vale do

Mucuri.

Para representar a Sociedade Civil foram escolhidas as seguintes entidades e

segmentos: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG);

Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (FAEMG); Federação dos

Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG); Federação

das Associações Comerciais, Industriais, Agropecuárias e de Serviços do Estado de

Minas Gerais (FEDERAMINAS); Representante de entidades civis representativas

de categorias de profissionais liberais ligados à proteção do meio ambiente; 02 (dois)

representantes de organização não governamental; 02 (dois) representantes da

comunidade científica e 01 (um) representante não governamental dos CODEMA’s

(SEMAD, 2004).

A definição destes representantes ocorre de duas maneiras. Para as

instituições representativas do governo, exceto as prefeituras, o processo é por

indicação, bem como para as Federações. No caso das prefeituras e os outros

segmentos o processo de escolha é por eleição entre os respectivos segmentos, sob

a coordenação da SEMAD.

O que se percebe com essa atitude do Governo é a tentativa de

desburocratizar o Sistema. A Gestão Ambiental no Estado deve ser melhorada e as

medidas adotadas visam a elevação da qualidade ambiental em Minas Gerais. É um

passo importante no sentido de facilitar o acesso às informações sobre meio

35

ambiente. Contudo, não chega a haver uma municipalização do procedimento das

licenças ambientais, pois para isso os municípios teriam que executar, por seus

próprios meios, o processo de licenciar os empreendimentos inseridos em sua

unidade territorial. Portanto, ainda são necessárias muitas mudanças para que se

tenha uma eficiência satisfatória.

O COPAM, em janeiro de 2004, editou a Deliberação Normativa (DN) no 70

(COPAM, 2004). Esta DN estabelece diretrizes para adequação ambiental de

microempresas e empresas de pequeno porte cujo potencial poluidor seja pouco

significativo. Entretanto, o empreendedor deve enviar à FEAM um formulário com

informações a respeito da empresa bem como um documento que comprove a sua

condição de micro empresa ou empresa de pequeno porte, emitido pela Junta

Comercial do Estado de Minas Gerais (JUCEMG).

A DN 70/04 considera como empreendimento de potencial poluidor pouco

significativo aquele que, segundo Deliberação Normativa COPAM nº 01/90, tenha

sua atividade enquadrada como sendo de potencial poluidor/degradador geral “P” ou

“M” e cujo número total de empregados, incluindo os terceirizados, seja menor ou

igual àquele constante do Anexo Único desta Deliberação, exceto para a atividade

de resfriamento e distribuição de leite, que passa a ter o porte definido por

capacidade instalada.

Vale lembrar que os empreendimentos dispensados do Licenciamento

Ambiental pelo órgão competente, conforme dispõe a DN 70/04, ficam obrigados a

adotar ações de controle necessárias à proteção do meio ambiente. Frisa-se, ainda,

que expirada a validade desta Deliberação Normativa, os empreendimentos que por

ela tenham sido abrangidos e que porventura voltem a estar obrigados ao

36

licenciamento ambiental no âmbito do COPAM, face à Deliberação Normativa nº 01,

de 22 de março de 1990 ou à norma que sucedê-la, deverão submeter-se ao

licenciamento ambiental (COPAM, 2004).

Percebe-se com esta publicação que os municípios devem buscar a

estruturação necessária para realizarem o procedimento da emissão das licenças

ambientais, cumprindo com o seu papel como integrante do SISNAMA.

3.3 – Condições Necessárias Para a Descentralização da Gestão Ambiental Pública A formalização da Política Municipal de Meio Ambiente deve ter como um de

seus objetivos a promoção da melhoria da qualidade de vida da comunidade que

vive em seu território. Deve ser fundamentada na implantação de ações concretas

que possibilitem o uso dos bens naturais disponíveis e no gerenciamento das

relações humanas, principalmente nas regiões urbanas, onde os conflitos quase

sempre são mais evidentes.

O município, nessa visão, é responsável para gerenciar, formular, monitorar,

fiscalizar, executar e propor ações dentro de seu espaço territorial, abordando vários

aspectos relacionados ao convívio em sociedade, almejando a melhoria do padrão

de vida de sua população.

Os centros urbanos são potenciais geradores de conflitos no momento em

que a população fica exposta a alguns fatores como a poluição atmosférica, poluição

sonora, poluição hídrica, trânsito, entre outros. O cotidiano leva a percepção de que

a alteração dos atributos do meio interferem no modo de vida das pessoas. Sendo

assim, a Política Municipal de Meio Ambiente deve propor a integração de equipes

37

de diferentes setores da administração pública, pois, a gestão ambiental eficiente só

será possível com o esforço de todos os envolvidos nesta administração. A

sociedade civil também deve ter a sua participação incentivada e facilitada, como

forma de garantir um processo democrático e transparente.

Poder Executivo

O modelo de gestão ambiental preconizado pela Lei n0 6.938/81, democrático

e participativo, com ampla composição e poder deliberativo, endossado pela

Constituição Federal de 1988, é concebido como essencialmente descentralizador,

pois estabelece competências concorrentes aos órgãos estaduais e, em certa

extensão, aos órgãos municipais, estimulando a cooperação dos três níveis de

governo, para que sejam atingidos os seus objetivos. Conforme Milaré (1999), pela

nova ordem constitucional o município pode legislar sobre meio ambiente e instituir

secretarias, órgãos municipais ou Conselhos Municipais de Meio Ambiente para

deliberarem sobre assuntos de interesse local.

A composição de equipe técnica de uma prefeitura, para exercer as atividades

na área ambiental, deve ser estabelecida em Lei e deve considerar a criação de

cargos e a realização de concursos públicos para a admissão de técnicos de

diversas áreas de conhecimento, previamente identificadas, e de acordo com as

necessidades locais. Assim, um município que tenha problemas de poluição

causada por uso inadequado de agrotóxicos deverá agregar à sua equipe um

profissional da área de agronomia, enquanto um município minerador demandará

incorporar técnicos com formação em geologia e/ou engenharia de minas. O

trabalho da equipe técnica pode ser complementado por serviços de terceiros, para

38

demandas específicas.

Cabe ao executivo municipal coordenar a política municipal de meio

ambiente, implementando as ações previstas e fiscalizando o cumprimento da

legislação em vigor. O Poder Executivo tem como atribuições realizar o diagnóstico

ambiental do município, propor o Plano Diretor de Meio Ambiente e legislação

complementar, o zoneamento ambiental do município, garantindo a participação das

forças sociais no processo de gestão pública municipal. Deve também exercer o

controle, a fiscalização e encaminhar ao licenciamento, aquelas atividades de

impacto local subsidiando tecnicamente as decisões do CODEMA.

O órgão executivo municipal deve submeter à deliberação do CODEMA as

propostas de normatização, procedimentos e diretrizes para o gerenciamento

ambiental municipal, assim como os pareceres técnicos que subsidiarão o

licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente.

Conselho Municipal de Meio Ambiente

O texto apresentado abaixo foi baseado nas anotações sobre o curso

“Licenciamento e Fiscalização Ambiental” (FEAM, 2000), do qual o autor deste

trabalho participou.

O Conselho Municipal de Meio Ambiente - CODEMA é fundamental para

estimular a gestão participativa. Com a atuação do CODEMA, aprimora-se o sistema

de gerenciamento ambiental no município já que, através deste, a participação da

sociedade nas questões ambientais, em busca da melhoria da qualidade de vida e

da democratização do processo decisório é garantida. O CODEMA constitui

instância pedagógica de educação para a cidadania e para o aprendizado do

39

convívio harmônico entre partes com interesses distintos.

O CODEMA é um órgão colegiado, consultivo e de assessoramento ao

executivo municipal, sendo deliberativo no âmbito de sua competência. Sendo de

composição paritária, o órgão deve incluir representantes das secretarias municipais

envolvidas com as questões ambientais locais, da Câmara de Vereadores, da

sociedade civil organizada - sindicatos, associações ambientalistas, associações de

bairro, de profissionais liberais, entre outros - e da classe empresarial - associação

comercial ou industrial.

Desde que seja necessário estabelecer parâmetros de poluição ambiental

mais restritivos em determinado município, o CODEMA pode viabilizar a adequação

de leis, normas, padrões e diretrizes, federais e estaduais, de forma que tais

restrições impliquem na melhoria dos atributos ambientais já comprometidos no

âmbito do município. A atuação dos CODEMAS tem possibilitado progressos

significativos na política de meio ambiente, consolidando o princípio constitucional

da autonomia municipal. Uma vez que a questão ambiental envolve interesses

divergentes e conflitos potenciais, esse Conselho constitui o fórum adequado para a

discussão e o encaminhamento das ações político-administrativas necessárias para

a solução desses conflitos.

A Lei de criação do CODEMA deve ser elaborada pelo executivo municipal,

com a participação de representantes da comunidade. O texto deve explicitar os

objetivos, competências, atribuições e a composição do Conselho.

Aprovada a Lei pelo Legislativo Municipal, cabe ao executivo cuidar da

nomeação dos membros do CODEMA e seus respectivos suplentes, representantes

das entidades e órgãos que o compõem. Uma vez empossados, os membros

40

discutem e aprovam o Regimento Interno do órgão, que deve definir a estrutura

adequada ao seu funcionamento, visando cumprir as atribuições expressas na Lei

de criação do Conselho.

Como órgão superior de deliberação sobre a política municipal de meio

ambiente, o CODEMA deve atuar integralmente sobre os problemas ocasionados

pelo uso inadequado de recursos naturais, na avaliação dos projetos que possam

provocar impactos ambientais, na criação de unidades de conservação e seu plano

de manejo e outros.

O relacionamento do CODEMA com a Sociedade Civil visa promover a

participação da comunidade na definição de ações para a proteção ambiental,

conduzindo a discussão de problemas que afetem a população local. Para ampliar a

participação da comunidade, há que se implementar ações voltadas para a

mobilização da população que, tendo acesso às informações necessárias, saberá

dos seus direitos e deveres e será, portanto, agente responsável pela defesa e

controle ambiental.

O suporte técnico-administrativo fornecido pelo Executivo Municipal ao

CODEMA é dado por uma unidade que integra a estrutura organizacional da

Prefeitura. Esta estrutura pode ser a Secretaria Municipal de Meio Ambiente ou

mesmo uma Divisão ou Departamento que exerça atividades tais como a elaboração

de estudos ambientais, proposição de normas, fiscalização, orientação e análise do

licenciamento de empreendimentos potencialmente degradadores instalados ou que

venham a se instalar no município e ainda, que pratique ações para fomentar a

participação dos grupos sociais no processo decisório. O executivo municipal deve

promover a aplicação dos atos legislativos emitidos pelo Conselho. Cabe ao

41

Executivo Municipal fornecer a infra-estrutura necessária à instalação da Secretaria

Executiva do CODEMA, sendo esta, responsável pela organização administrativa do

órgão.

A gestão ambiental local deve ser viável financeiramente, colocando-se como

importante pré-requisito para o fortalecimento dessa política. Entre as várias fontes

de recursos, o estabelecimento de um Fundo Municipal de Meio Ambiente, criado

por lei específica, deve congregar recursos advindos do licenciamento ambiental, do

pagamento de multas, dentre outras, para serem aplicados em projetos e programas

ambientais.

42

4. GESTÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE IPATINGA

No presente capítulo apresenta-se um diagnóstico da Gestão Ambiental

Pública do Município de Ipatinga. O objetivo é demonstrar como está a estruturação

do Sistema de Gestão, os órgãos ambientais implementados, os instrumentos e

ações de gestão ambiental pública existentes no município. Por fim, elaborou-se

uma análise da gestão ambiental pública de Ipatinga.

4.1 - Histórico do Município de Ipatinga O histórico sobre o município de Ipatinga apresentado a seguir baseou-se na

publicação “Um Século de História - Vale do Aço 2000” de Benedito Jr. (1999).

O Município de Ipatinga está localizado na Bacia Hidrográfica do Rio Doce e

na sub-bacia do Rio Piracicaba. Está a 220 km da capital do Estado, Belo Horizonte

e faz divisa com as cidades de Santana do Paraíso (norte/leste), Coronel Fabriciano

(oeste) e Timóteo (sul).

O território de Ipatinga, antes de sua emancipação, pertencia aos municípios

de Antônio Dias e Coronel Fabriciano. Em 1922, iniciou-se a construção de uma

estação ferroviária no km 457 da Estrada de Ferro Vitória Minas – EFVM, na

confluência dos Rios Doce e Piracicaba que se constituiu no núcleo inicial do

município. Somente a partir de 1937, após a instalação da Belgo-Mineira no

município de João Monlevade e da Acesita, mais tarde em Timóteo, é que a linha

férrea passou a ser a principal atividade econômica para os lugarejos que se

formaram ao longo da mesma.

43

A implantação da USIMINAS (figura 4A) e a intensa luta política dos pioneiros

moradores de Ipatinga acabaram por levar o município à emancipação em 1963, no

governo de Magalhães Pinto. O primeiro administrador foi o Sr. Délio da Costa Baeta

Neto (1964-65) que transferiu o cargo para o Sr. Fernando dos Santos Coura (1965-

66), primeiro prefeito eleito de Ipatinga.

Naquela época os recursos financeiros eram restritos e a cidade não era

dotada de infraestrutura urbana adequada (Figura 4B, 4C e 4D). Este cenário

começou a ser transformado no governo do prefeito Jamil Selim de Salles, nos anos

de 1967 a 1969, com a pavimentação de ruas, construção de escolas e promoção

do saneamento básico. Em 1973, o Sr. Jamil, novamente no cargo de prefeito,

consolidou o desenvolvimento da cidade.

Em 1989, com o esgotamento do modelo administrativo tradicional, e com um

projeto consistente, a oposição através do Partido dos Trabalhadores, venceu as

eleições e o Sr. Francisco Carlos Chico Ferramenta Delfino assumiu a prefeitura.

Neste mandato as prioridades foram invertidas, passando a serem atendidos os

bairros mais carentes, aumentando-se os investimentos em saúde e educação.

Em 1993, o governo do PT é continuado através da eleição do Sr. João

Magno de Moura que durante o seu mandato realizou grandes mudanças como o

projeto do Novo Centro. O projeto consistiu na remoção da população ribeirinha

existente às margens do ribeirão Ipanema, no centro da cidade, que sofria com as

constantes enchentes. Dessa época até os dias atuais, o PT permanece à frente do

Poder Executivo com o prefeito Chico Ferramenta, reeleito nos anos de 1996 e

2000.

44

A

B

C

D

Figura 4: Momentos históricos de Ipatinga a partir de sua implantação na década de 60.

A – Lançamento da Pedra Fundamental da USIMINAS. Fonte: Benedito Jr (1999).

B – Antiga Rua do Comércio, atual Av. 28 de Abril. Fonte: Benedito Jr (1999).

C – Vista parcial da infra-estrutura do Bairro Bom Retiro. Fonte: Ipatinga (2004).

D – Antiga estrutura da Praça 1 de maio, no centro de Ipatinga. Fonte: Ipatinga (2004).

45

Essa continuidade do Partido dos Trabalhadores na administração de Ipatinga

proporcionou a execução e conclusão de importantes obras de infra-estrutura,

contribuindo para que o município alcançasse o desenvolvimento atual. Ipatinga

apresenta-se como um importante pólo educacional com a instalação de diferentes

instituições de ensino superior, hospital municipal e grandes obras de saneamento

básico concluídas, ampliando substancialmente a melhoria da qualidade de vida de

sua população.

4.2 - Caracterização do Sistema Ambiental da Prefeitura Municipal de Ipatinga

A estrutura do executivo municipal está descrita na Lei 1.345, de 22 de

setembro de 1994 (IPATINGA, 1994), sendo composta por 9 secretarias e 5 órgãos

com status equivalente a secretaria. A Figura 5 apresenta a estrutura organizacional

do executivo municipal em Ipatinga.

O Sistema Municipal de Meio Ambiente (IPATINGA, 1996) é formado pela

Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (SESUMA), pela

Conferência Municipal de Meio Ambiente e o Conselho Municipal de Defesa do Meio

Ambiente (CODEMA), assim denominado pela LEI 1.475/96. A figura 6 ilustra a

organização deste sistema. A Conferência Municipal de Meio Ambiente, bem como o

CODEMA serão abordados com mais detalhes no item 4.4, mais adiante.

A execução da Gestão Ambiental Pública do município é atribuição da

Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente – SESUMA, composta dos

departamentos de Meio Ambiente, Energia e Saneamento, Transporte e Trânsito,

Controle e Uso do Solo e Limpeza Urbana (Figura 7).

46

A Secretaria atua em estreita ligação com os órgãos colegiados Conselho

Municipal de Trânsito, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente e ainda

com o gabinete da Secretaria (IPATINGA, 1994 b).

47

Fonte: IPATINGA (1994).

Figura 5 : Estrutura Administrativa da Prefeitura Municipal de Ipatinga – MG.

48

Fonte: IPATINGA (1996). Figura 6 : Representação da Organização do Sistema Municipal de Meio Ambiente de Ipatinga – MG.

Dentro de sua responsabilidade executiva (FIGURA 7), a SESUMA está

designada para o cumprimento de ações e intervenções no município relativo a

proposição ao Prefeito de políticas municipais relacionadas com serviços urbanos e

meio ambiente; coordenação e fiscalização; implementação da política de controle

ambiental; execução dos serviços de limpeza urbana; aprovação de projetos de

obras e loteamentos; fiscalização de obras e posturas; administração do Viveiro

Municipal, do sistema de Abastecimento de Água Municipal, da Central de

Tratamento de Resíduos e da Central de Apreensão de Bens e Animais; realização

de projetos de paisagismo e conservação de praças, parques e jardins;

administração do funcionamento dos cemitérios; controle do sistema de iluminação

pública e promoção da proteção e defesa do consumidor (IPATINGA, 1994 b).

Secretaria Municipalde Serviços Urbanos

e Meio Ambiente

Conferência Municipalde Meio Ambiente

Conselho Municipalde Defesa do

Meio Ambiente

Sistema MunicipalMeio Ambiente

49

Fonte : IPATINGA (1994).

Figura 7 : Organograma da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Ipatinga - MG.

50

Uma outra atribuição da SESUMA é o controle de serviços públicos como

transporte, energia e saneamento. Em Ipatinga os serviços de água e esgoto,

iluminação e coleta de resíduos são realizados por concessionárias e, desta forma, a

SESUMA atua como fiscalizadora da prestação dos serviços.

O transporte público é atribuição de uma outra empresa concessionária que

atende a toda a malha urbana do município bem como a zona rural. O controle do

trânsito também é realizado pela secretaria. Existe uma Junta Administrativa de

Recursos e Infrações para deliberar sobre as multas aplicadas pela fiscalização,

uma vez que o controle do trânsito foi municipalizado.

Ipatinga, segundo informações fornecidas pelo Departamento de Meio

Ambiente, conta atualmente com um índice de 127 m2 de área verde por habitante e

todo o serviço necessário para a manutenção desta área é realizado pela SESUMA,

através da Seção de Parques e Jardins. Contribuindo com a melhoria ambiental do

município, a secretaria administra o viveiro municipal, realiza projetos de paisagismo

e a manutenção das praças e áreas verdes públicas. Todas as atribuições da

secretaria são reforçadas através de articulações junto aos outros setores do poder

executivo, buscando a melhoria da qualidade de vida dos munícipes.

Dentro da estrutura da SESUMA está o Departamento de Meio Ambiente

(DEMAM), com um diretor e uma secretária e a Seção de Controle Ambiental

(SECAM), (Figura 7), com 1 gerente e dois servidores, que atuam diretamente na

execução da Política Ambiental Municipal, articulando-se com outros departamentos,

seções e secretarias.

A Seção de Controle Ambiental, conforme estabelecido na legislação

municipal, possui a incumbência de sugerir a elaboração de normas ambientais,

51

promover o licenciamento ambiental das atividades poluidoras, além de fiscalizar as

mesmas. No bojo dessa atribuição, a SECAM deve avaliar e aprovar os projetos de

controle ambiental apresentados por empresas com empreendimentos

potencialmente poluidores, conforme definido em normas legais (CONAMA, 1997 –

COPAM, 1990) . Além disso, a Seção é responsável pelo apoio técnico ao Conselho

Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA).

Uma atribuição descrita na legislação municipal permite à SECAM firmar

acordos de adequação com as empresas porventura irregulares com a legislação.

Também é atribuição da Seção o atendimento ao Ministério Público e a manutenção

de contato com os órgãos federais e estaduais de meio ambiente.

Esta atribuição legal proporciona ao Poder Executivo de Ipatinga a

possibilidade de melhor organizar a cidade. Aliada a outras secretarias, a SESUMA

cumpre o papel de atendimento à população, uma vez que a expansão urbana está

diretamente relacionada com o aumento da demanda por serviços públicos como a

distribuição de água, coleta de esgoto e lixo, arborização, enfim, todos os serviços

necessários a uma sadia qualidade de vida.

4.3 – A Administração Municipal de Ipatinga e o Ordenamento Jurídico Ambiental

A Gestão Ambiental Pública do município de Ipatinga, como a dos demais

municípios mineiros, é parte integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente

(Quadro 1), e deve seguir a legislação ambiental vigente no Estado e no país. Sendo

assim, as ações relacionadas à conservação ambiental no município devem estar

condizentes com todo o ordenamento jurídico em vigor.

52

Conforme visto nos capítulos anteriores, a Constituição de 1988 (BRASIL,

1988) e posteriormente outras normas legais, deram prerrogativas aos municípios

para assumirem a proteção do meio ambiente local. Desta forma, é fundamental que

o município tenha sua própria legislação ambiental e adote medidas

complementares para um eficiente gerenciamento dos recursos ambientais,

conscientização da comunidade, bem como fiscalização e controle das atividades

desenvolvidas em seu território.

Dentre as normas jurídicas criadas pelo poder público de Ipatinga, que

abordam aspectos ambientais, destacam-se o Código de Polícia administrativa, a Lei

Orgânica, a Lei Ambiental, o Decreto Ambiental, o Decreto de Limpeza Urbana. A

seguir apresenta-se uma breve descrição dos seus fundamentos.

Código de Polícia Administrativa

O Código de Polícia Administrativa foi instituído pela Lei 375, promulgada em

02 de maio de 1972 (IPATINGA, 1972). Esta Lei aborda em seus artigos assuntos

referentes às penalidades e competências para a aplicação de autos de infração, da

higienização de terrenos baldios, da moralidade e sossego público, proteção às

árvores, exploração de pedreiras, cascalheiras, olarias e depósitos de areia e saibro,

de matadouros e abatedouros.

A Seção de Fiscalização de Obras e Posturas (SEFOP), vinculada ao

Departamento de Controle e Uso do Solo (DECS), da SESUMA, (Figura 7), tem

nessa Lei o principal documento norteador de suas ações, sendo objeto da

atribuição diária dos fiscais de posturas municipais, quando da autuação das

empresas.

53

Lei Orgânica

A lei orgânica do município está dividida em títulos, capítulos e seções,

totalizando 284 artigos. Especificamente relacionados ao meio ambiente, em

destaque têm-se os artigos 211 a 219, que tratam dentre outros aspectos, da

possibilidade de instituição de duas instâncias deliberativas: a Conferência de Meio

Ambiente e o Conselho Municipal de Meio Ambiente (CODEMA). A Lei estabelece

as atribuições do Poder Público para “assegurar a efetividade do direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado” e garante a existência de um setor na

estrutura administrativa para tratar das questões ambientais, atualmente

representado pelo DEMAM e a SECAM.

Há ainda, no capítulo II, outros aspectos relacionados às questões ambientais

como os programas de habitação popular, do plano diretor, que ainda não foi

aprovado oficialmente e saneamento básico. Este último aspecto compreende o

abastecimento de água, a coleta e disposição dos resíduos sólidos, do esgoto

sanitário e drenagem de águas pluviais.

Lei Ambiental 1.475/96

O município de Ipatinga editou, em 1996, a Lei 1.475 (IPATINGA, 1996), que

dispõe sobre a política de proteção, conservação e melhoria do meio ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação. Esse documento legal é importante,

pois inseriu em seus artigos a criação do CODEMA e da Conferência Municipal de

Meio Ambiente, previstas na Lei Orgânica.

54

Decreto Ambiental 3.790/97

Este Decreto 3.790, de 18 de setembro de 1997 (IPATINGA, 1997)

regulamenta a Lei Ambiental 1.475/96 e ainda dita as atribuições do CODEMA, além

de instituir o processo de licenciamento ambiental. O Decreto prevê a aplicação de

penalidades aos infratores da legislação municipal, tais como advertências, multas e

ainda a suspensão de atividades e cassação de alvarás.

Decreto de Limpeza Urbana 4.435/01

O Decreto 4.435, de 17 de abril de 2001, dispõe sobre a regulamentação dos

serviços de limpeza urbana no Município de Ipatinga. Este decreto insere em seus

artigos responsabilidades e previsão de multas no caso de descumprimento do

acondicionamento, da disposição em locais proibidos. Além disso, classifica-se o lixo

gerado no município em lixo domiciliar, lixo comercial, lixo público, lixo especial

público e lixo especial particular.

O lixo especial público é o “gerado por órgãos municipais ou por atividades da

limpeza urbana” e o lixo especial particular é o “produzido pelo gerador particular”.

Este lixo especial ainda é classificado em: I - patogênico ou suspeito de

contaminação: o proveniente de estabelecimentos hospitalares, laboratórios,

farmácias, drogarias, clínicas, maternidades, ambulatórios, casas ou postos de

saúde, necrotérios, pronto-socorros, consultórios e congêneres; II - tóxico: os

provenientes de postos de lubrificação ou lavagem de veículos e oficinas mecânicas;

os resíduos poluentes e corrosivos; os produtos químicos em geral; III - biológico:

assim considerados os restos de órgãos ou tecidos orgânicos, humanos ou de

55

animais, originados de hospitais, de matadouros, de entrepostos de alimentos, de

feiras livres, de mercados e supermercados, açougues e estabelecimentos

congêneres, de alimentos, animais mortos na via pública; IV - comum: os bens

móveis e semoventes inservíveis abandonados, inclusive veículos; material inerte

resultante de limpeza de terrenos não edificados; inertes provenientes de desaterro,

de terraplanagem, de escavações, de construções ou demolições; V - industrial: os

restos produzidos pela atividade industrial, e que não se enquadrem na definição de

lixo domiciliar e comercial; VI - semi-sólidos: os resíduos provenientes de limpeza ou

esvaziamento de fossas, limpezas de galerias.

4.4 – Instrumentos de Gestão Ambiental Pública praticados em Ipatinga

O Sistema de Gestão Ambiental pública municipal deve ser constituído de

instrumentos capazes de auxiliar o poder público local no gerenciamento do meio

ambiente. Os instrumentos de gestão, apontados por Ribeiro et al (1998) incluem a

avaliação de impacto ambiental, o licenciamento ambiental, a fiscalização ambiental,

o zoneamento ambiental, a educação, a extensão e comunicação ambiental e o

gerenciamento de bacias hidrográficas.

Philippi Jr. e Maglio (1999), sugerem diretrizes que podem ser discutidas e

implementadas traduzindo-se em instrumentos conceituais, legais, operacionais,

econômicos e de participação comunitária.

Os instrumentos conceituais, segundo Phillip Jr. e Maglio (1999), estão

relacionados à aceitação e compreensão, por parte do Prefeito, da implantação da

gestão e da política ambiental e à elaboração de um programa de “ecologização” da

56

administração pública, como primeira ação para a conscientização a respeito da

importância com que a questão ambiental deve ser tratada.

Os instrumentos legais referem-se à legislação ambiental local, que

minimizam as limitações do poder de polícia e abrem a possibilidade de

arrecadação, por aplicação de multas e taxas de licenciamento.

No que se refere aos instrumentos operacionais, Phillip Jr. e Maglio (1999)

sugerem a instituição de um órgão administrativo na estrutura da prefeitura,

abordando o planejamento, controle das atividades potencialmente poluidoras e

áreas verdes e parques e jardins. Sugerem ainda, como segundo instrumento

operacional, a utilização de convênios e contratos de prestação de serviços com

instituições científicas.

O instrumento econômico referenciado é a criação do Fundo Municipal de

Meio Ambiente para absorver toda a arrecadação obtida por aplicação de multas e

taxas, além de doações. Comenta-se que o ICMS-Ecológico é um outro fator

econômico recebido pelos municípios que adotam medidas de conservação

ambiental com a destinação correta do esgoto sanitário e criação de unidades de

conservação.

Por fim, como instrumento de participação comunitária é citado o Conselho

Municipal de Meio Ambiente, como um canal de ligação entre o poder público local e

a sociedade, uma vez que este conselho tem composição paritária.

No âmbito deste trabalho adotou-se os critérios postulados por Phillipi Jr e

Maglio (1999), incorporando nesta classificação os instrumentos definidos por

Ribeiro et al (1998). A seguir são descritos os Instrumentos de Gestão Ambiental

Pública praticados em Ipatinga.

57

Instrumentos Conceituais Os instrumentos conceituais são representados pelo comprometimento do

executivo municipal no trato das questões ambientais, mediante a delegação de

responsabilidades aos setores envolvidos na gestão ambiental. Quanto a um

programa de “ecologização” Ipatinga ainda não possui algo específico que possa ser

composto como tal.

A partir da experiência do autor deste trabalho, foi possível identificar que este

programa deve ser criado de forma conjunta entre os setores de Meio Ambiente e

Recursos Humanos, do executivo municipal. Acredita-se que possa ser formatado

um programa continuado, utilizando os espaços existentes como o viveiro municipal,

para abrigar tal atividade. Neste “treinamento” devem ser abordados aspectos

básicos sobre o meio ambiente. Os participantes devem ser escolhidos pelos

respectivos chefes de seção, de tal forma que todos os servidores lotados no setor

participem. Certamente não devem ser “treinados” todos de uma só vez, por isso o

programa deve ter um caráter continuado, para permitir que todos participem.

Instrumentos Legais

Em Ipatinga a legislação municipal é constituída por leis e decretos para

contribuição no gerenciamento ambiental, descritos no item 4.3. No que se refere ao

Plano Diretor, conforme apontado anteriormente, ainda não foi aprovado pela

Câmara Municipal. Ressalta-se que este documento é um instrumento básico de

planejamento do município adotado para a promoção do bem estar da comunidade,

estabelecendo os objetivos, diretrizes e orientações das ações do poder público,

ainda que não esteja oficialmente em vigor. Acredita-se que tal documento não foi

58

aprovado por falta de vontade política, à época de sua elaboração. Esta situação

contribuiu negativamente para a gestão ambiental do município, ao passo que as

suas diretrizes não poderiam ser implantadas pelo executivo, pois se tratava de um

documento não oficial. Entretanto, o que se percebe após as conversas com os

servidores do setor de planejamento, é que o Plano Diretor, mesmo não estando

aprovado, foi implantado de forma descontínua, ou seja, algumas diretrizes foram

observadas quando da elaboração de um planejamento para a estruturação

municipal. Esta situação transmite uma sensação de incerteza na condução do

planejamento municipal, sendo assim, acredita-se que o executivo municipal deva

promover a aprovação do Plano Diretor.

Instrumentos Operacionais

Dentro desta categoria de instrumentos cita-se como órgão administrativo de

gestão ambiental a Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente, onde se

inserem o Departamento de Meio Ambiente e a Seção de Controle Ambiental,

responsáveis pela execução da política municipal de meio ambiente (Figura 7).

O licenciamento ambiental, conforme já exposto anteriormente, foi definido

pelo Decreto Ambiental 3.790/97, para o controle da instalação e funcionamento de

empreendimentos no município, prevendo as modalidades de Licença Prévia,

Licença de Instalação, Licença de Operação e Licença Especial.

A Licença Prévia deve ser requerida pelo proponente do empreendimento ou

atividade, para verificação de adequação aos critérios do zoneamento ambiental ou

de compatibilidade da atividade com o atual e futuro uso e ocupação do solo, no

início do processo de licenciamento ambiental.

59

A Licença de Instalação permite o início de instalação, construção, ampliação,

alteração e reforma de equipamento ou atividade, possuindo prazo de validade de

02 (dois) anos.

Para ser concedida a Licença de Operação de fontes poluidoras, as

instalações deverão ser previamente vistoriadas, em particular no que diz respeito a

correta instalação do sistema de controle de poluição. A Licença de Operação

poderá ser cassada ou suspensa, se descumprida a legislação ambiental vigente,

bem como compromissos, acordos e condicionamentos de licenciamento. A Licença

de Operação também tem o prazo de validade de 02 (dois) anos.

A Licença Especial destina-se a permitir a ocorrência de eventos especiais.

Estes eventos podem ser, dentre outros: uso de explosivos na construção civil e

extração de minerais, propaganda sonorizada, realização de shows e colocação de

veículos de propaganda. Nestes casos concede-se a licença pelo período específico

da realização do evento.

Com relação a criação de áreas verdes e ao zoneamento ambiental pode ser

citada a Área de Proteção Ambiental (APA) Ipanema, que eleva o município à

posição de destaque regional e nacional, além de propiciar a participação no

incentivo do ICMS. A delimitação da área da APA Ipanema e a área urbana de

Ipatinga está mostrada na Figura 8. Esta Área de Proteção Ambiental foi criada pela

Lei 1.535/97 (IPATINGA, 1997 b) e abrange uma área física de 74 km2. A referida

Lei determina que seja instituído um Conselho de Gestão Colegiado, efetivado no

final do ano de 2003, envolvendo a participação dos seguintes segmentos sociais:

Poder Executivo (03 representantes); Conselho de Desenvolvimento do Meio

Ambiente (01 representante); Setor Econômico (01 representante); Sub-bacias (06,

60

sendo 01 representante de cada sub-bacia); Instituto Estadual de Florestas (01

representante); Comunidade Científica (01 representante).

Um fato importante descrito no documento legal, em seu artigo n0 6, é que

novos empreendimentos ou atividades que importem na alteração do uso do solo na

região da APA devem apresentar estudos ambientais que serão avaliadas pela

SESUMA objetivando a liberação da implantação do empreendimento ou atividade.

No quesito Educação Ambiental, o município executa ações educativas com

maior evidência em datas comemorativas, como o dia da água, o dia do meio

ambiente e o dia da árvore, e ainda, nos projetos municipais de cunho sócio-

estrutural. Além disso, o Departamento de Meio Ambiente realiza palestras em

escolas e entidades mediante a solicitação das mesmas. Da mesma forma, a

extensão e comunicação ambiental ocorrem nas datas comemorativas,

principalmente, através de distribuição de panfletos e veiculação de out-doors e

propaganda em rádio.

Dentre os instrumentos operacionais citados por Ribeiro et al (1998), Ipatinga

ainda carece de gerenciamento de bacias hidrográficas, a definição de

procedimentos de avaliação de impactos ambientais e uma estrutura de fiscais

ambientais.

61

A

B Figura 8: Detalhes da Área de Proteção Ambiental (APA) Ipanema.

A – Mapa ilustrativo da APA Ipanema. Fonte: Ipatinga (2004).

B - Nascente D’água na APA Ipanema. Fonte: Ipatinga (2004).

62

Ainda, como instrumento operacional, cita-se a utilização do Sistema de

Geoprocessamento, implantado em Ipatinga. Este sistema proporciona uma

facilidade para a gestão local pois possibilita o seu emprego em várias áreas como

saúde, educação, infra-estrutura, setor financeiro e meio ambiente. Além disso,

possibilita benefícios como:

• Base cartográfica municipal em meio digital

• Melhor acompanhamento do crescimento do município

• Planejamento de infra-estruturas e locais adequados para melhor recebê-

las

• Atualização periódica do cadastro imobiliário através de imagens de

satélite de alta resolução

• Inclusão/alteração de equipamentos urbanos na base digital (praças,

telefones públicos, postes, etc.)

• Maior interação entre as secretarias municipais

• Definição de áreas de abrangências das Unidades de Saúde

• Localização de ocorrências diversas por endereço

• Melhor dimensionamento da rede municipal de ensino

A utilização do sistema em Ipatinga está distribuída em várias secretarias do

executivo municipal, conforme segue abaixo:

Secretaria Municipal de Fazenda - Sistema tributário georeferenciado, com

consultas de:

- endereço

- lotes vagos por inscrição imobiliária, por quadra, por bairro

63

- Imóveis residenciais, comerciais, industriais, por inscrição imobiliária, por área

construída, por proprietário

- Débitos de imóveis no ano corrente e/ou em dívida ativa

- Atividade econômica por tipo de comércio ou prestação de serviço

- Planta de Valores Imobiliários

- Mapas temáticos identificando edificações imunes, isentas e com desconto de

aposentados, para os impostos municipais, separadas por bairro

Secretaria Municipal de Saúde

- Localização (geocodificação) de epidemias, doenças infecto-contagiosas e de

usuários da rede municipal de saúde

- Distribuição das equipes de saúde da família

- Estudo gráfico de territorialidade - área de abrangência das Unidades de

Saúde (U.S.), utilização de dados do censo 2000 para agrupar população por

setor censitário

- Estudo gráfico de acessibilidade – linhas de ônibus e barreiras naturais por

área de abrangência da U.S.

- Mapas temáticos dos programas em funcionamento em cada U.S. (ex. exame

do pezinho)

Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente

- Levantamento de áreas de praças e jardins

- Localização de pontos e linhas de ônibus

- Localização de equipamentos de trânsito (semáforos, barreiras eletrônicas,

radares)

64

- Pontos críticos de acidentes de trânsito e mapas temáticos por bairro

- Tipos de vegetação

- Hidrografia

- Utilização da base de dados gráfica (plantas de situação) para aprovação de

projetos

- Sobreposição da base gráfica com a imagem de satélite para identificação de

áreas de desmatamentos

Secretaria Municipal de Obras Públicas

- Plantas de situação

- Utilização da base de dados gráfica para definição de projetos

- Acompanhamento através de mapas temáticos das fases do projeto Fundos

de Vale e implantação de interceptores de esgoto

Secretaria Municipal de Planejamento

- Mapas temáticos de áreas de abrangência de projetos como Fundos de Vale

- Regionais Orçamentárias

- Localização de obras eleitas no COMPOR

- Mapas temáticos de intervenções propostas nas áreas de assentamentos

subnormais – aglomerado da regional VI para o programa HABITAR BRASIL

- Utilização da base de dados gráfica para estudos de viabilidade de projetos

Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer

- Localização de escolas municipais, estaduais, particulares e creches

65

- Distribuição de alunos da rede de ensino municipal

E ainda para outras aplicações como :

- Apresentação do Sistema Tributário Georreferenciado para BDMG, BNDS,

BID, Assembléia Legislativa de Minas Gerias e prefeituras diversas.

- Definição do limite do município em conjunto com o Instituto de Geociências

Aplicadas

- Correção/Inclusão de nome de logradouros do município. Cruzamento de

informações do Geoprocessamento/Selo (SESUMA)/Correios/Cemig

- Emissão do mapa do município (parte urbana e rural)

Instrumentos Econômicos

No município de Ipatinga o Fundo Municipal de Meio Ambiente não foi

instituído. O que se apresenta nesta categoria é a habilitação para a participação no

ICMS-Ecológico, já que Ipatinga possui uma Área de Proteção Ambiental e o

tratamento de esgoto sanitário e a destinação dos resíduos sólidos urbanos para

aterro sanitário.

Ainda quanto ao saneamento básico, evidencia-se que em Ipatinga o

abastecimento de água, a coleta e destinação de resíduos sólidos urbanos e a

coleta e destinação do esgoto sanitário, atualmente, encontram-se próximos de

atingir o atendimento de 100% da comunidade, inclusive a zona rural, contornando a

situação deficitária explicitada no diagnóstico do Plano Diretor de 1991. (Figura 9A,

9B, 9C e 9D).

66

Instrumentos de Participação Comunitária

O município possui como instrumentos de participação comunitária, o

Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA) e a Conferência

Municipal de Meio Ambiente.

O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA), foi criado

pela Lei Ambiental (IPATINGA, 1996), que o definiu como “órgão colegiado,

consultivo e normativo no âmbito de sua competência, instituído pelo artigo 212 da

Lei Orgânica do Município”.

67

A B

C

D

Figura 9: Instrumentos e Ações de Gestão Ambiental Pública do Município de Ipatinga.

A – Antiga situação dos córregos do município. Fonte: Ipatinga (2004).

B – Situação atual dos córregos do município. Fonte: Ipatinga (2004).

C – Vista aérea da Estação de Tratamento de Esgoto. Fonte: Ipatinga (2004).

D – Vista aérea do Aterro Sanitário. Fonte: Ipatinga (2004).

68

O Conselho (Figura 10) é composto por 18 (dezoito) membros e igual número

de suplentes, sendo: 06 (seis) conselheiros do Poder Público assim distribuídos : 03

(três) representantes do Poder Executivo; 01 (um) representante da Polícia Florestal

- PMMG; 01 (um) representante da Empresa de Assistência Técnica e Extensão

Rural de Minas Gerais - EMATER/MG; 01 (um) representante do Instituto Estadual

de Florestas - IEF/MG; 06 (seis) conselheiros das associações comunitárias, sendo

03 (três) conselheiros de entidades ambientalistas; 06 (seis) representantes de

entidades de classe, assim distribuídos: 02 (dois) representantes de entidades

empresariais; 03 (três) representantes de entidades de trabalhadores e 01 (um) de

entidade profissional liberal.

Fonte : Criado a partir do exposto na Lei Municipal1.475/96, de Ipatinga - MG.

Figura 10 : Representação da composição do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA) de Ipatinga – MG.

Poder Executivo

Polícia de MeioAmbiente deMinas Gerais

Empresa deAssistência Técnica

e Extensão RuralEMATER - MG

Instituto Estadualde Florestas - IEF

Poder Público

AssociaçõesComunitárias

EntidadesAmbientalistas

Sociedade CivilOrganizada

EntidadesEmpresariais

EntidadesTrabalhadores

EntidadesProfissional

Liberal

Setor Privado

Conselho MunicipalDefesa do Meio Ambiente

69

O Conselho reúne-se mensalmente, nas dependências da prefeitura. Estas

reuniões são abertas ao público e contam com a participação dos conselheiros e

convidados. Nos anos de 2002 e 2003 foram realizadas 22 reuniões no total, sendo

14 em 2002 e 08 em 2003. A pauta de reunião é preparada pelo presidente do órgão

e enviada aos conselheiros, antecipadamente, através da Secretaria Executiva do

Conselho. Este apoio é exercido por um servidor da prefeitura municipal, lotado no

Departamento de Meio Ambiente.

A Conferência Municipal de Meio Ambiente trata-se da realização de um

fórum convocado de dois em dois anos. Nesta Conferência são sugeridas as

diretrizes ambientais para o município e eleitos os membros do Conselho Municipal

de Defesa do Meio Ambiente, que atuarão nos próximos 02 anos.

O CODEMA é o responsável pela condução e organização da Conferência.

No período que antecede o fim do mandato do Conselho, o órgão convoca a

realização do fórum, que se traduz em algumas reuniões preparatórias (pré-

conferências) e a realização da própria conferência, envolvendo todo o município.

Nas reuniões preparatórias são debatidos os assuntos que serão tratados na

Conferência e como será o processo de realização da Conferência. O município de

Ipatinga foi dividido em 8 grupos distintos para comporem a Conferência Municipal

de Meio Ambiente (Quadro 3). Esta divisão foi escolhida de forma a permitir a

participação de todos os segmentos da sociedade, ou seja, o poder público, privado

e a sociedade civil organizada.

A participação no evento ocorre através de 144 delegados escolhidos pelos

respectivos segmentos da sociedade, sendo 72 efetivos e 72 suplentes. Os

delegados suplentes possuem direito a voz, podendo votar somente na ausência do

70

Quadro 3 – Composição da Conferência Municipal de Meio Ambiente de Ipatinga – MG.

Grupo Bairros Delegados

Grupo 1 Poder Público (Poder Executivo, Polícia de Meio Ambiente, EMATER/MG, IEF)

Efetivos: 24

Suplentes:24

Grupo 2 Entidades Ambientalistas

Efetivos: 12

Suplentes:12

Grupo 3 Assoc. comunitária dos bairros: Cariru, Castelo, Vila Ipanema, Bairro das Águas, Bela Vista, Bom Retiro, Imbaúbas, Areal, Horto, Santa Mônica.

Efetivos: 03

Suplentes:03

Grupo 4 Assoc. comunitária dos bairros: Centro, Veneza I, II, Parque da Águas, Planalto II, Jardim Panorama, Caçula, Caravelas, Novo Cruzeiro, Ideal, Ferroviários, Iguaçu, Cidade Nobre, Vila da Paz.

Efetivos: 03

Suplentes:03

Grupo 5 Assoc. comunitária dos bairros: Canaã, Canaãzinho, Vila Celeste, Vale do Sol, Vista Alegre, Forquilha, Chácara Oliveira, Granjas Vagalume, Bethânia, Alto Boa Vista, Tiradentes, Morro São Francisco, Vila Militar, Comunidade Nossa Senhora Esperança.

Efetivos: 03

Suplentes:03

Grupo 6 Assoc. comunitária dos bairros: Bom Jardim, Esperança, Nova Esperança, Serra Dourada, Mutirão 1º de Maio, Mutirão Novo Jardim, Mutirão Nova Conquista.

Efetivos: 02

Suplentes:02

Grupo 7 Assoc. comunitária dos bairros: Limoeiro, Barra Alegre, Pedra Branca, Tribuna, Ipaneminha, Chácara Madalena, Córrego Novo, Vila Formosa, Taúbas

Efetivos: 01

Suplentes:01

Grupo 8 Entidades de classe: empresariais, de trabalhadores, e de profissionais liberais.

Efetivos: 24

Suplentes:24

Fonte : IPATINGA (2003).

71

delegado efetivo. Estes delegados têm a função de representar seus pares opinando

na escolha das diretrizes ambientais a serem seguidas pela administração municipal

no período de 02 anos, subseqüentes à realização da Conferência. Vale ressaltar a

forte participação popular na Conferência, atuando na escolha de seus

representantes através de votação secreta, durante as reuniões preparatórias.

4.5 - Análise da Gestão Ambiental Pública em Ipatinga

Após a descrição da Estrutura Ambiental de Ipatinga, caracterizando o

Sistema Ambiental do município, discutindo o ordenamento jurídico ambiental

existente e os instrumentos de gestão ambiental praticados no município, apresenta-

se a seguir uma análise do funcionamento dos instrumentos apresentados

anteriormente.

Instrumentos Conceituais

Considerando-se os instrumentos conceituais, observou-se que em Ipatinga

ainda não existe um programa específico de “ecologização” da prefeitura, como

sugerido por Philippi Jr. e Maglio et al (1999). Ressalta-se que o Departamento de

Recursos Humanos vem realizando, anualmente, programas de participação dos

servidores onde os mesmos podem desenvolver habilidades artísticas e culturais,

além de formação de grupos de auto-ajuda. Nessa atividade tem sido inserida uma

atividade de cunho ambiental chamada “caminhada ecológica”, que se traduz em

uma caminhada de observação em fragmentos de reserva florestal nativa localizada

no CEPAI, e ainda visitas aos equipamentos urbanos como o aterro sanitário e obras

72

de saneamento de fundos de vale. Trata-se, portanto, de uma iniciativa que busca a

conscientização dos servidores municipais.

Instrumentos Legais

Com relação aos instrumentos legais, conforme exposto anteriormente,

Ipatinga possui algumas normas legais importantes para o direcionamento da gestão

ambiental local. Alguns documentos como o Decreto de Limpeza Urbana, foram

promulgados recentemente e estão atualizados, carecendo apenas de aplicação

adequada. Entretanto, alguns deles como o Código de Polícia Administrativa, são

antigos e por esta razão, necessitam de uma atualização, tanto na adequação da

redação em consonância com as normas estaduais e federais em vigor, corrigindo

distorções quanto ao estabelecimento de penalidades e procedimentos. No geral, se

pode afirmar que o município possui um quadro básico de legislação ambiental que

lhe permite executar a gestão ambiental, conforme preconizado pela legislação

federal.

Instrumentos Operacionais

Analisando-se os instrumentos operacionais, observa-se que Ipatinga possui

como órgão executivo a Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente, que

engloba o Departamento de Meio Ambiente e a Seção de Controle Ambiental, com a

missão de gerenciar o meio ambiente local.

Mas antes mesmo da instituição do órgão executivo (IPATINGA, 1994),

diversas ações foram desenvolvidas pelo Poder Público em Ipatinga.

A Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), realizou em 1990

um diagnóstico da poluição em Ipatinga, cujo resultado subsidiou a elaboração do

73

Plano Diretor em 1991. Este diagnóstico identificou problemas relacionados a

qualidade do ar, da água, disposição de resíduos sólidos e esgoto de forma

inapropriada. Como resultado o trabalho do CETEC apontou diretrizes para resolver

os problemas como a elaboração de um programa de controle de fontes de emissão

das indústrias existentes, implantação de redes de monitoramento do ar e água,

elaboração do plano diretor para a reformulação do sistema de esgoto e disposição

de resíduos sólidos (CETEC, 1990).

O Plano Diretor de 1991 detectou uma série de deficiências de caráter

ambiental anteriormente apontadas no diagnóstico do CETEC (1990), tais como

existência de bota-foras utilizados sem controle e em locais inadequados, esgoto

lançado “in natura” nos corpos d’água, em terrenos baldios e em fossas.

Com base nestes resultados, o Poder Público executou várias ações ao longo

dos anos para viabilizar a correção dos problemas detectados.

As emissões industriais foram substancialmente controladas e hoje se

observa, visualmente, a redução da poluição atmosférica quando comparado com o

período anterior ao início dos anos 90. Tal fato é confirmado verbalmente por

moradores e pelos próprios servidores municipais, que já atuavam na prefeitura.

Segundo o Departamento de Meio Ambiente, houve a celebração de um Termo de

Ajustamento de Conduta entre a Promotoria Pública e a usina siderúrgica instalada

em Ipatinga, tida como a principal responsável pelos índices de poluição. Este termo,

dentre outras condições, exigia que a empresa obtivesse as licenças ambientais

pertinentes junto ao órgão responsável.

Contudo, outras secretarias e departamentos devem estar associados a esta

tarefa, pois o gerenciamento ambiental implica em ações que muitas vezes

74

requerem a participação de profissionais de áreas distintas. A própria legislação

municipal, especificamente do Decreto 3.790/97, determina em um de seus artigos

que a Secretaria de Planejamento deve participar na análise de projetos de

loteamento. Apesar disto, o que se tem observado, é um envolvimento ainda

deficitário dos setores responsáveis por estas análises.

O Licenciamento Ambiental, tal como preconiza o decreto 3.790, com a

emissão das licenças prévia, de instalação, de operação e especial, não se encontra

devidamente implantado. Não há a emissão de licenças ambientais por parte do

poder público local. O funcionamento do Sistema Municipal de Meio Ambiente,

composto pela SESUMA, a Conferência Municipal de Meio Ambiente e o CODEMA,

tem funcionado sem fazer uso deste instrumento. O que se percebe é a elaboração

de pareceres técnicos sobre determinados projetos, por solicitação de cidadãos ou

de acordo com necessidades de execução de obras públicas, que são submetidos à

apreciação do CODEMA. Os conselheiros do CODEMA utilizam-se destes pareceres

técnicos para suas deliberações acatando ou não as recomendações expostas

quando da avaliação destes pareceres. Em casos mais polêmicos é criada uma

comissão pelo presidente do CODEMA designada para realizar uma visita in loco e

emitir um novo parecer a ser apreciado na plenária, quando então será definida a

situação. Mesmo nestes casos, não ocorre a emissão de uma “licença ambiental”.

Há que se ressaltar que os assuntos discutidos nas reuniões do CODEMA são

diversificados, sendo que poucos deles são referentes a atividades poluidoras.

O procedimento de licenciamento ambiental, conforme aplicado no Estado, e

determinado na legislação municipal não funciona, ainda, em Ipatinga. Não há

normas para a cobrança de taxa de licenciamento, não existem regulamentos

75

internos, não existem formulários de cadastramento, termos de referência e critérios

de avaliação. Aliado a isto, falta capacitação técnica no setor de meio ambiente.

Atualmente, o que se verifica em termos de avaliação ambiental por parte do

poder público, é a contemplação de uma análise da questão do meio ambiente nos

processos de solicitação de alvará, que é uma diretriz proposta no Plano Diretor

elaborado em 1991.

A atribuição da Fiscalização ambiental, cabe ao setor de meio ambiente,

notadamente à SECAM, de acordo com a legislação municipal. Entretanto, o setor

carece de mão-de-obra capacitada para exercer eficientemente esta tarefa. As

fiscalizações ambientais realizadas se baseiam nas vistorias para avaliação das

solicitações de alvarás, diretriz sugerida no Plano Diretor de 1991. No entanto, esta

avaliação se mostra deficitária, evidenciando uma falta de organização concreta do

sistema. Além disso, a fiscalização baseia-se também no atendimento de denúncias

da comunidade e atendimento ao Ministério Público e ao CODEMA. Não há a figura

do fiscal ambiental, existindo apenas fiscais de postura e servidores com formação

técnica em meio ambiente, além do gerente e diretor do departamento, que possuem

formação técnica mais qualificada. A equipe existente é pequena e incapacitada

para uma atuação mais eficiente. Segundo os servidores do setor, esta é uma

situação que já foi discutida internamente sem, no entanto, surtir um efeito positivo

de melhora. Trata-se de um ponto que deve ser avaliado pelo escalão superior da

Prefeitura, considerando a necessidade de adequação do sistema municipal de meio

ambiente, quanto à fiscalização e licenciamento ambiental. Reforça-se aqui, a

abertura surgida com a promulgação da Resolução 237/97 do CONAMA e a

76

Deliberação 70/04 do COPAM, em Minas Gerais, conforme exposto anteriormente

que permite a municipalização da gestão ambiental.

Ipatinga possui grandes áreas verdes, com um índice de 127 m2 de área

verde por habitante, com 85 praças, 01 área de reserva de mata nativa no Centro de

Produção Agropecuária de Ipatinga (CEPAI), localizado no Bairro Forquilha e 04

parques municipais: o Parque Samambaia, localizado no Bairro Bom Jardim, o

Parque da União, localizado no Bairro Planalto II, o Parque das Montanhas,

localizado no Bairro Bethânia, o Parque Ipanema, localizado no centro da cidade e A

iniciativa privada também contribui com esta área verde com a manutenção da área

da USIPA, localizada no Bairro Horto.

Os Parques Samambaia, das Montanhas e da União foram criados

recentemente pelo Poder Executivo com algumas particularidades. A criação do

Parque Samambaia veio atender a uma antiga reivindicação da comunidade local

por uma área de lazer próxima de suas residências. Este parque está situado em

uma antiga pedreira, onde se realizam vários eventos com a participação da

comunidade. Em sua parte alta a vegetação serve de abrigo para a fauna e para

proteção de nascentes existentes em seu interior.

O Parque da União possui duas lagoas artificiais e alguns equipamentos

como bancos e deck. Este parque faz divisa com outro município e apesar de todo o

esforço da prefeitura em sua manutenção, a área constantemente é danificada por

queimadas e vandalismo. No Bairro Bethânia o Parque das Montanhas foi criado no

ano de 2002 e ocupa toda a parte alta do bairro, ou seja, todos os “topos de morro”.

Este parque foi criado para a conservação da área, que sofria com a degradação

contínua devido à ocupação irregular do terreno. Esta ocupação gerava vários

77

transtornos para toda a comunidade e para o poder público que necessitava dispor

recursos para resolver os problemas de erosão, deposição de resíduos em locais

inadequados e desmatamento. A sua criação foi inserida em um grande projeto

envolvendo todo o bairro e a prefeitura executou obras de melhoria como

pavimentação de vias, de becos, contenção de encostas, construção de redes de

drenagem e o plantio de árvores.

O Parque Ipanema é um ponto privilegiado, pois está situado

estrategicamente, permitindo que toda a população de Ipatinga usufrua de suas

instalações. Este parque conta com vários equipamentos de recreação, culturais, de

entretenimento e de lazer. Em sua totalidade são 01 milhão de m2, segundo a

Prefeitura. Sua criação coincide com a reformulação do centro da cidade, com a

retirada da população ribeirinha sujeita a inundações.

No que se refere à Educação Ambiental, se pode dizer que o antigo aterro

sanitário, a ser discutido a seguir, pode ser utilizado como espaço para a prática de

atividades de Educação Ambiental, e já recebeu até 1.500 visitantes por mês, de

acordo com o responsável pela administração do local. As visitas são agendadas

previamente e os visitantes recebem todas as informações básicas sobre a antiga

forma de utilização do espaço, a formação do aterro, o processo de disposição do

lixo, o processo do tratamento do chorume.

Há que ressaltar que foi construída uma casa, instalada no viveiro municipal,

com o objetivo de funcionar como uma biblioteca especializada em assuntos

relacionados com o meio ambiente. Este espaço poderá ser utilizado por toda a

comunidade para a realização de pesquisas e aprimoramento do conhecimento a

respeito do meio ambiente.

78

Quanto à extensão e comunicação social, ressalta-se que a prefeitura, ano

a ano, vem realizando eventos ambientais envolvendo a comunidade local com

atividades lúdicas e plantios participativos, instalação de iluminação, sem atingir o

sucesso esperado.

Quanto ao uso do sistema de geoprocessamento, pode-se dizer que o

município ainda está em processo de aprimoramento deste uso. Várias aplicações já

são realizadas pelos técnicos, porém, no quesito de Meio Ambiente, este uso ainda

pode ser ampliado. Uma ampliação possível é a identificação das atividades

potencialmente poluidoras em atividade no município. Esta identificação ainda pode

ser detalhada englobando divisões por segmento de atuação, localização, tempo em

atividade. Esta aplicação se torna de grande valia pois possibilita o mapeamento

destas atividades e o cruzamento destas informações com os dados do setor de

meio ambiente da prefeitura, por exemplo, as reclamações da comunidade. Esta

integração favorece o planejamento de ações para solucionar o problema causado

por uma determinada empresa ou atividade.

Instrumentos Econômicos

Com relação aos Instrumentos econômicos, Ipatinga não possui um Fundo

Municipal de Meio Ambiente para recolher os valores originados por multas

referentes a infrações à legislação ambiental municipal. Há uma dificuldade na

aplicação de multas ambientais por razões como preenchimento incorreto dos autos

de infração, falta de capacitação dos servidores, dentre outras.

No que se refere ao saneamento básico, foram executadas ações como a

instalação de interceptores de esgoto, instalação de estação de tratamento de

79

esgoto, canalização de córregos e ainda a regularização do lixão e implantação de

aterro sanitário.

O Programa Água Limpa, implantado pela Administração Municipal, está

garantindo o tratamento de esgoto para todos os moradores e a recuperação dos

córregos e ribeirões que cortam a cidade. Os recursos para as intervenções somam

R$ 128 milhões e são oriundos de financiamento do Banco Mundial, BDMG (Banco

de Desenvolvimento de Minas Gerais, Governo Federal, Governo do Estado,

Usiminas e recursos próprios do município). Com a consolidação deste Programa a

cidade de Ipatinga apresenta-se como pioneira, considerando seu porte, na América

Latina, a buscar o tratamento de 100% de esgoto doméstico. A obra consiste na

canalização de 10 quilômetros dos córregos afluentes do ribeirão Ipanema e

urbanização de avenidas e margens desses cursos d'água.

Com a medida, todo o esgoto produzido na cidade deixou de ser lançado no

leito dos córregos e foi direcionado para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE),

localizada em terrenos lindeiros à confluência do Rio Doce com o ribeirão Ipanema,

nas margens da rodovia MG-458, e para as estações de tratamento dos bairros

Horto, Imbaúbas e Bela Vista. A estação pode ser vista na Figura 9.

Com relação à destinação dos resíduos sólidos a Prefeitura Municipal de

Ipatinga, a partir do ano de 1989, realizou a recuperação do antigo lixão,

promovendo a sua transformação em um Aterro Sanitário. Esse Aterro foi, mais

tarde, licenciado junto ao órgão ambiental do Estado, FEAM, sendo então obtida a

sua Licença de Operação. Vale ressaltar que todo o processo teve um aspecto

sócio-ambiental positivo, pois além de recuperar uma área de contaminação

80

ambiental, proporcionou a retirada de algumas pessoas que viviam do garimpo do

lixo, em meio a precárias condições de vida.

Entretanto, a capacidade desse aterro sanitário já se esgotou e, por

conseqüência, a Prefeitura realizou uma licitação objetivando a concessão do

serviço de limpeza urbana. A empresa vencedora da licitação, além de realizar toda

a coleta do lixo no município, disponibilizou um novo espaço para a sua correta

destinação. O novo aterro sanitário foi implantado em uma área de 144 ha, no

município de Santana do Paraíso, dos quais 44 ha são destinados à deposição dos

resíduos e o restante é destinado para reserva. Uma vantagem deste novo espaço é

que a Prefeitura poderá dispor os resíduos inertes (entulhos e outros materiais), o

que não ocorria no antigo aterro. Esta possibilidade garante um auxílio na gestão

ambiental municipal, uma vez que o mesmo não dispunha de espaço territorial

adequado para destinação destes resíduos, que eram dispostos irregularmente

próximos a córregos e em terrenos baldios. Ressalta-se que o novo aterro iniciou as

suas operações somente após ter recebido a devida licença ambiental.

Outra ação da Administração Municipal foi a elaboração de um programa para

a implantação da Coleta Seletiva em Ipatinga. Esta tarefa foi atribuída ao

Departamento de Energia e Saneamento e seu objetivo é, além de realizar a coleta

seletiva dos resíduos sólidos domésticos urbanos, promover a inclusão social dos

catadores de material reciclável que atuam em Ipatinga. Esta faceta social do

programa consta da construção de um espaço adequado para a correta triagem dos

materiais e seu armazenamento para posterior comercialização.

81

Instrumentos de Participação Comunitária

Analisando-se os Instrumentos de participação comunitária, percebe-se a

realização da Conferência Municipal de Meio Ambiente e a existência do Conselho

Municipal de Defeso do Meio Ambiente, em Ipatinga, demonstram um caminho

acertado, pois são instâncias que contam com uma forte participação popular. A

realização da Conferência, a partir da criação das Deliberações do CODEMA para a

regulamentação de sua execução, ficou mais fortalecida e democrática. O que se

observa é uma participação efetiva da comunidade, sem causar transtornos

habituais em processos que envolvem algum tipo de disputa eleitoral, como é o caso

em alguns segmentos da conferência.

A participação da comunidade no CODEMA, também ocorre de forma efetiva.

Há casos em que os conselheiros formam comissões e visitam os locais onde existe

algum tipo de demanda. Esta comissão visualiza o problema, discute, e encaminha a

sua conclusão para o plenário, que fará o deferimento ou não da mesma. Esta

atitude tem demonstrado uma transparência na ação do conselho. Portanto,

acredita-se que neste aspecto não sejam necessárias mudanças estruturais, pois a

dinâmica natural dos acontecimentos tem sido bem razoável.

82

5. PROPOSIÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA A GESTÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE IPATINGA

Após os levantamentos realizados e a análise da eficiência dos instrumentos

de gestão ambiental pública em Ipatinga observou-se que o município implantou

uma série de ações voltadas para a contribuir com a Gestão Ambiental Local.

Entretanto, no que se refere aos procedimentos de controle da qualidade, através do

licenciamento ambiental, vimos que o mesmo não é realizado de forma eficiente no

município. Ou seja, as atividades potencialmente poluidoras não são licenciadas

conforme a legislação vigente ou, quando o são, o procedimento ocorre junto ao

órgão estadual. Sendo assim, para que o município reverta este quadro é necessário

que algumas medidas sejam implementadas, além das sugeridas pelo Estado,

através da DN 029/98 COPAM (COPAM, 1998). Sugere-se, então, as seguintes

ações:

1. Instituição de programa específico como instrumento conceitual de gestão;

2. Realização de um cadastramento de atividades potencialmente poluidoras

em atividade no município de Ipatinga;

3. Criação de formulários padronizados para o cadastramento das empresas

e a elaboração de termos de referência para a preparação de Estudos de

Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), Planos

de Controle Ambiental (PCA), Relatório de Controle Ambiental (RCA)

voltados para licenciamento ambiental;

4. Criação de uma tabela de ressarcimento dos custos de análise dos

processos de licenciamento;

83

5. Realização de um fórum de debates com empresas, profissionais liberais,

sociedade civil, entidades públicas e privadas;

6. Instituição de um Fundo Municipal de Meio Ambiente, criado através de

Lei municipal e atualização das normas ambientais municipais;

7. Treinamento e Capacitação do Corpo Técnico, incluindo a criação de um

quadro específico de fiscalização ambiental.

Programa Conceitual de Gestão Ambiental

Conforme visto anteriormente o Departamento de Recursos Humanos realiza

algumas atividades envolvendo aspectos ambientais através da “caminhada

ecológica” e visitas ao aterro sanitário e obras de saneamento Como forma de

fortalecimento desta atividade, sugere-se que a prefeitura municipal de Ipatinga,

através do Departamento de Meio Ambiente e Departamento de Recursos Humanos,

formate um programa específico, com atividades sistemáticas e variadas, com

repetições periódicas estabelecidas em calendário anual de atividades,

proporcionando o início de formação ecológica dos funcionários da administração.

Cadastro das Atividades Potencialmente Poluidoras

Inúmeras atividades desenvolvidas em Ipatinga são consideradas poluidoras

pela legislação em vigor (Resolução 237 CONAMA, 1997, Deliberação COPAM

01/90, 1990). Desta forma, as mesmas são passíveis de regularização ambiental

pelo processo preventivo do licenciamento. O conhecimento prévio sobre estas

empresas torna-se importante, pois facilita o planejamento de ações por parte do

Poder Executivo em aspectos como melhoria ambiental, fiscalização de posturas e

controle e uso do solo.

84

Sugere-se que a Prefeitura realize um levantamento das fontes

potencialmente poluidoras em atividade no município, objetivando a obtenção de

dados para o fortalecimento do Sistema Municipal de Meio Ambiente e para apoio a

outros setores como o setor de ISS, IPTU e fiscalização de obras e posturas. É um

trabalho que deve ser realizado em conjunto com aqueles setores, e outros

interessados, de modo a otimizar o levantamento.

Formulários Padronizados e Termos de Referência

Por se tratar de um processo, o licenciamento ambiental é um instrumento

que requer uma organização para o seu correto funcionamento. As atividades a

serem licenciadas são diferentes em gênero e porte, e os profissionais envolvidos

também são diferentes, o que imprime uma heterogeneidade aos projetos e

relatórios ambientais acerca dos empreendimentos.

Para contornar essa situação, sugere-se que a Prefeitura elabore Termos de

Referência, formulários e material informativo sobre Licenciamento Ambiental,

objetivando padronizar as informações e agilizar a análise dos processos.

A utilização da informática no controle dos processos administrativos já é uma

realidade no Município de Ipatinga. Sendo assim, os setores responsáveis pela

gestão ambiental pública do município devem procurar conhecer e utilizar tal

ferramenta, no que diz respeito ao licenciamento ambiental.

Como forma de incrementar a eficiência desta utilização sugere-se que no

momento em que um determinado empreendedor procure a prefeitura para realizar o

cadastro de sua empresa, para requerer o alvará de funcionamento ou uma outra

solicitação, o Sistema Informatizado possa conferir se a empresa é potencialmente

poluidora e se já possui a licença ambiental.

85

Esta atitude permite que o empresário fique ciente da condição de sua

empresa antecipadamente, receba formulários padronizados para o cadastramento,

receba os termos de referência apropriados, enfim, tenha uma orientação mais

eficiente.

A utilização de formulários padronizados para o cadastro dos

empreendimentos e solicitações diversas por parte de seus proprietários facilita a

manipulação das informações, agilizando a prestação de serviços. Como ainda não

está completamente instituído o Sistema de Licenciamento no município é

interessante que os funcionários do setor de meio ambiente também tenham em

mãos instrumentos facilitadores para o trabalho diário. Uma proposta para tal

instrumento é a elaboração de um quadro onde estejam listadas as atividades e a

relação de documentos e sistemas de controle ambiental necessários para o

funcionamento daquela empresa. O Quadro 4 esboça uma sugestão para este fim.

Quadro 4: Proposta de Formulário para identificação de Documentação e Sistema de Controle para as atividades potencialmente poluidoras.

N Atividade Documentação Sistemas de Controle

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...

1 Atividade A X X

2 Atividade B X X X

3 Atividade C X X X

86

Tabela de Ressarcimento de Custos

Todo o processo de licenciamento ambiental gera um custo para a entidade

gestora, no caso a prefeitura. Este custo é relacionado à análises de materiais,

elementos fotográficos para a composição do processo, material de expediente,

dentre outros custos possíveis. Para que estes custos venham a ser quitados faz-se

necessário que o município implante uma tabela de valores para o ressarcimento

dos mesmos. Esta tabela pode ser criada a partir da tabela existente no Estado,

especificamente na Deliberação Normativa 01/90 do COPAM, onde mostra a

classificação das empresas pelo seu porte e potencial poluidor. Além disso, a

legislação municipal de Ipatinga já menciona esta deliberação. Contudo, sendo este

um assunto de difícil acordo, sugere-se que o mesmo seja discutido internamente

entre as Secretarias da Fazenda, Serviços Urbanos e Meio Ambiente, Procuradoria

e Planejamento.

Fórum de Discussão

A questão ambiental vem ganhando espaço dia após dia na opinião pública. A

conscientização das pessoas está mais favorecida devido aos veículos de

divulgação e à educação. Quanto aos regimentos legais pode-se dizer que também

estão evoluindo. Contudo, a sua prática ainda está deficitária, principalmente na

aplicação da prevenção. As argumentações são várias, desde o desconhecimento

até as altas cargas tributárias.

Uma forma de contribuir para a minimização destes problemas é a realização

de um Fórum de Discussão sobre licenciamento ambiental, de forma ampla, com a

participação de empresários, contabilistas, profissionais liberais, comunidade e

87

demais interessados no assunto. A prefeitura de Ipatinga, como sugestão, deve

fomentar a realização de tal evento.

Fundo Municipal de Meio Ambiente

A Administração Municipal de Ipatinga realiza anualmente o planejamento do

orçamento para o ano seguinte. Esta condição faz com que todas as secretarias, e

conseqüentemente os departamentos e seções, façam as previsões de gastos com

projetos, equipamentos, materiais, enfim, prevejam todas as necessidades para a

realização de suas atribuições. Após este preparo, é realizada uma adequação

deste orçamento e alguns projetos são eliminados em função da receita prevista.

Este corte no orçamento é um limitador das ações, no momento em que restringe as

possibilidades dos diversos setores. Contudo, é um planejamento coerente com a

legislação.

Na área ambiental, especificamente, há a necessidade de implementação de

programas de Extensão, Comunicação Social e Educação Ambiental como forma de

ampliar o conhecimento da comunidade a respeito dos temas ambientais. Esta

necessidade demanda recursos financeiros e humanos e, uma forma possível para

contornar essa dificuldade é a instituição de um Fundo Municipal de Meio Ambiente.

A aprovação de uma Lei Municipal de criação deste Fundo contribuirá com as

ações de proteção aos recursos naturais, para a conscientização das pessoas e o

desenvolvimento de projetos por parte do governo local. A este Fundo Municipal

devem ser direcionadas todas as receitas obtidas com o processo de regularização

ambiental, desde as taxas de requisição de certidões até as penalidades punidas

com multas. Trata-se de uma condição necessária para um bom funcionamento do

Sistema Municipal de Meio Ambiente.

88

6. CONCLUSÃO

O município de Ipatinga, como foi observado, possui alguns elementos

importantes que auxiliam o Poder Executivo Local na gestão do meio ambiente.

Enfocam-se os programas desenvolvidos, a política de participação popular e a

articulação junto a organismos financeiros, objetivando captar verbas para a

execução de obras e projetos municipais. Estes fatos são positivos e devem ser

perpetuados pelos governos subseqüentes.

A existência da Conferência Municipal de Meio Ambiente é um grande passo

rumo ao Desenvolvimento Ambiental com Qualidade de Vida, é um processo aberto,

democrático e vem se consolidando ao longo dos anos. O órgão colegiado,

CODEMA, tem se mostrado atuante e coerente, coordenando a realização da

Conferência e elaborando resoluções para que o Sistema Municipal de Meio

Ambiente fique fortalecido.

No entanto, a administração deve assumir a responsabilidade de implantar o

licenciamento ambiental, onde o CODEMA tem papel fundamental no processo para

a emissão das licenças. Observa-se que a SECAM não está totalmente preparada

para uma correta atuação e aplicação da legislação ambiental do município, e os

motivos são diversificados: falta de estrutura física, falta de equipamentos

apropriados, recursos humanos sem a capacitação adequada, inexistência de

procedimentos internos padronizados. Estas dificuldades devem ser equacionadas

de modo que o Poder Executivo usufrua de seu papel de destaque regional e

dissemine esta prática.

89

Há que se ressaltar que o quadro de funcionários da Prefeitura conta com

técnicos nas mais diferentes formações, porém, esses técnicos são lotados em

diversos setores e a articulação entre os mesmos ocorre de modo não

sistematizado. Apenas em assuntos de maior interesse e por delegação superior os

técnicos se reúnem para estudarem um determinado processo e avaliarem a

situação. A integração entre setores deve ser mais estimulada por parte dos

escalões superiores e a apropriação da padronização de cadastros é uma ação

positiva, pois possibilita identificar de imediato as atividades geradoras de poluição,

em potencial.

No que se refere aos recursos humanos, Ipatinga deve buscar meios de

investir em capacitação do atual quadro de servidores do DEMAM e da SECAM,

observando as suas atribuições e instituir o cargo de fiscal ambiental, lembrando que

a área de meio ambiente é multidisciplinar e estes fiscais devem possuir formação

diferenciada e conhecimentos técnicos.

Uma ação que pode contribuir com a Gestão Ambiental Pública em Ipatinga é

a identificação das fontes potencialmente poluidoras, pois possibilitará o aumento da

eficiência do controle ambiental praticado hoje. A ampliação do sistema de

geoprocessamento deve ser inserida no planejamento da poder executivo, como

forma de melhorar o atendimento à comunidade e para facilitar a gestão ambiental

municipal. Este instrumento oferece um grande potencial de aplicação e precisa ser

melhor aproveitado.

A legislação ambiental é um ponto a ser discutido. É preciso discutir a sua

revisão e atualização perante as normas federais e estaduais pertinentes, pois trata-

se de um importante instrumento de trabalho do gestor ambiental.

90

Por fim, sugere-se a observação das Deliberações Normativas do órgão

estadual de meio ambiente, bem como a tendência da municipalização da gestão

ambiental, fortalecida pela DN 70/04, para que o município se estruture da melhor

forma e assuma a responsabilidade ambiental em seus limites. Ao observar as

categorias de empreendimentos listadas na DN 70, percebe-se que algumas delas

são geradoras de problemas ambientais identificados pelo Departamento de Meio

Ambiente da Prefeitura de Ipatinga. Portanto, tem-se aí mais um indício de que o

controle, daquelas atividades, deve ser realizado pelo município.

Uma observação estabelecida pela Resolução 237/97 do CONAMA foi que os

municípios poderiam assumir o licenciamento ambiental das atividades de impacto

local e daquelas delegada pelo Estado por meio de convênio. A DN 029/98 do

COPAM, prevê a celebração deste convênio com os municípios mineiros, contudo,

sugere-se que formalização do convênio com o Estado somente aconteça após a

discussão dos pontos aqui comentados e a sua regularização. Espera-se que agindo

assim o Sistema Municipal de Meio Ambiente fique coeso e se torne mais um ponto

de referência para Ipatinga.

Observa-se que o município de Ipatinga possui bons exemplos práticos de

gestão ambiental. Necessita de melhorias, contudo, está mais desenvolvido que

muitos municípios brasileiros nesta questão. Entretanto, alguns procedimentos para

a melhoria da gestão ambiental local são penalizados, e por vezes não são

implantados, devido ao peso da vontade política. A articulação política se torna um

elemento dificultador para a implantação de um programa de gestão mais

abrangente e eficiente. Observa-se uma vontade de melhorar o atendimento, por

parte dos técnicos, que são levados a adotarem uma postura diferente daquela que

91

poderia ser a mais adequada para o caso em avaliação. Esta é uma dificuldade

presente e difícil de ser contornada, por isso mesmo, é que se reforça a sugestão

destas ações aqui descritas.

Este trabalho trouxe subsídios para a municipalização do licenciamento

ambiental não só para Ipatinga, mas também para os municípios vizinhos,

integrantes do Vale do Aço e do leste de Minas Gerais, na medida em que levantou

os principais aspectos relacionados à estruturação do Município para a implantação

de um Sistema de Gestão Ambiental Pública. Dentre estes aspectos, os

considerados fundamentais são a definição de uma Política Ambiental com

comprometimento do poder executivo, o diagnóstico das atividades existentes, o

treinamento e a capacitação do quadro de técnicos. A possibilidade de

desdobramento deste trabalho se deve ao fato de Ipatinga ser um pólo de

desenvolvimento regional, tido como disseminador de informações, tecnologia e

prestação de serviços.

92

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