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2011 GESTÃO FINANCEIRA Prof. Gonter Bartel

Gestão Financeira - UNIASSELVI

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Page 1: Gestão Financeira - UNIASSELVI

2011

Gestão Financeira

Prof. Gonter Bartel

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Copyright © UNIASSELVI 2011

Elaboração:

Prof. Gonter Bartel

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

658.15 B283g Bartel, Gonter Gestão financeira / Gonter Bartel. 2ª ed. Indaial : Uniasselvi, 2011. 181 p. il.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-454-6

1. Gestão financeira I. Centro Universitário Leonardo da Vinci

Impresso por:

Page 3: Gestão Financeira - UNIASSELVI

III

apresentação

Caro(a) acadêmico(a)!

Ao finalizar este caderno você terá conhecido o que envolve o ambiente da Gestão Financeira, as decisões de curto e longo prazo. A compreensão da Gestão Financeira nos possibilitará obter melhores resultados.

Na primeira unidade serão abordados os aspectos introdutórios da disciplina: os aspectos que compõem o ambiente da Gestão Financeira, mercado, tributação, demonstrações, índices de análise para tomada de decisão, fluxos de caixa e variáveis que alteram os resultados.

Os investimentos e financiamentos serão abordados na segunda unidade, nos quais é preciso identificar os fluxos relevantes, conhecer algumas técnicas e avaliar os riscos na decisão de financiamentos, investimentos. É fundamental que o gestor financeiro consiga lidar com os financiamentos, a fim de conseguir a alavancagem de capital.

No fechamento deste caderno, a gestão é abordada baseada em valor, algumas decisões de curto prazo, pertinentes, principalmente, ao capital de giro. O não dimensionamento do capital de giro tem comprometido muitas empresas, levando-as, muitas vezes, a uma situação de falência. Também conheceremos um pouco sobre o sistema financeiro nacional e alguns aspectos internacionais.

Ao estudar este caderno, procure refletir sobre estes conteúdos na sua própria gestão financeira. Cada um de nós precisa gerir os seus recursos financeiros.

Este Caderno de Estudos foi cuidadosamente elaborado com a intenção de facilitar sua caminhada e ajudá-lo(a) nos primeiros passos para se tornar um administrador.

Prof. Gonter Bartel

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

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VII

UNIDADE 1 – GESTÃO FINANCEIRA .......................................................................................... 1

TÓPICO 1 – AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA ............................................................... 31 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 32 TRIBUTAÇÃO DE EMPRESAS ..................................................................................................... 53 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS .......................................................................................... 9

3.1 DRE – DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS DO EXERCÍCIO ...................................... 103.2 BALANÇO PATRIMONIAL ..................................................................................................... 12

4 ÍNDICES FINANCEIROS ............................................................................................................... 164.1 ÍNDICES DE LIQUIDEZ ............................................................................................................ 17

4.1.1 Índice de liquidez corrente ............................................................................................... 174.1.2 Índice de liquidez seca ...................................................................................................... 18

4.2 ÍNDICES DE ATIVIDADE ......................................................................................................... 194.2.1 Giro de estoques ................................................................................................................. 194.2.2 Prazo médio de recebimento ............................................................................................ 204.2.3 Prazo médio de pagamento .............................................................................................. 214.2.4 Giro do ativo total .............................................................................................................. 21

4.3 ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO ............................................................................................ 224.3.1 Índice de endividamento geral ......................................................................................... 224.3.2 Índice de cobertura de juros ............................................................................................. 23

4.4 ÍNDICES DE RENTABILIDADE ............................................................................................... 234.4.1 Margem de lucro bruto ..................................................................................................... 234.4.2 Margem de lucro operacional .......................................................................................... 244.4.3 Margem de lucro líquido .................................................................................................. 254.4.4 Retorno do ativo total ........................................................................................................ 254.4.5 Retorno do capital próprio ............................................................................................... 264.4.6 Análise completa ................................................................................................................ 26

RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 29AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 – FLUXOS E PLANEJAMENTO .................................................................................... 331 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 332 FLUXOS DE CAIXA ......................................................................................................................... 333 ORÇAMENTOS DE CAIXA ........................................................................................................... 384 DEMONSTRAÇÕES E BALANÇOS PROJETADOS ................................................................ 43LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 47RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 52AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 53

TÓPICO 3 – VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA .............................................................. 571 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 572 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO .......................................................................................... 573 RISCO E RETORNO ........................................................................................................................ 614 TAXAS DE JUROS ............................................................................................................................ 63

sumário

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VIII

5 AÇÕES ................................................................................................................................................ 65LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 67RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 70AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 71

UNIDADE 2 – INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS ....................................................... 73

TÓPICO 1 – INVESTIMENTOS ....................................................................................................... 751 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 752 ORÇAMENTO DE CAPITAL ......................................................................................................... 75

2.1 PROJETOS INDEPENDENTES ................................................................................................ 782.2 PROJETOS MUTUAMENTE EXCLUDENTES ....................................................................... 79

3 FLUXOS RELEVANTES .................................................................................................................. 79LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 82RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 86AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 87

TÓPICO 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS ............ 891 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 892 PAYBACK ............................................................................................................................................ 89

2.1 PAYBACK SIMPLES ................................................................................................................... 902.2 PAYBACK DESCONTADO ....................................................................................................... 93

3 VPL ....................................................................................................................................................... 954 TIR ....................................................................................................................................................... 985 VPL x TIR ........................................................................................................................................... 1016 TIR/ANÁLISE INCREMENTAL .................................................................................................... 1027 RISCOS ............................................................................................................................................... 102LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 106RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 108AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 109

TÓPICO 3 – FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL .................................... 1111 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1112 ESTRUTURA DE CAPITAL ............................................................................................................ 1113 CUSTO DE CAPITAL E FINANCIAMENTOS ........................................................................... 114

3.1 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC) ....................................................... 1164 ALAVANCAGEM ............................................................................................................................. 119LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 124RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 127AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 128

UNIDADE 3 – CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS ........................................................... 129

TÓPICO 1 – GESTÃO BASEADA EM VALOR ............................................................................. 1311 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1312 CRIAÇÃO DE VALOR E CUSTO DE OPORTUNIDADE ....................................................... 1313 RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR ..................................................................... 1334 EVA ...................................................................................................................................................... 1345 CÁLCULO DO EVA ......................................................................................................................... 1366 RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO .......................................................... 140

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IX

LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 141RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 144AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 145

TÓPICO 2 – CAPITAL DE GIRO ...................................................................................................... 1471 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1472 ATIVOS CIRCULANTES ................................................................................................................ 1473 PASSIVOS CIRCULANTES ........................................................................................................... 1504 NECESSIDADES DE CAPITAL DE GIRO .................................................................................. 151LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 156RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 159AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 160

TÓPICO 3 – INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS .......................................................................... 1611 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1612 ARRENDAMENTOS ....................................................................................................................... 1613 FUSÕES E AQUISIÇÕES ................................................................................................................ 1624 FALÊNCIA DE EMPRESAS ............................................................................................................ 164RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 166AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 167

TÓPICO 4 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL ....................................................................................................... 169

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1692 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ........................................................................................ 1693 GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL ............................................................................. 171

3.1 RISCOS .......................................................................................................................................... 172LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 174RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 177AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 178

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 179

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1

UNIDADE 1

GESTÃO FINANCEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• apresentar o ambiente da Gestão Financeira;

• demonstrar a tributação nos resultados financeiros;

• explicar as demonstrações financeiras;

• compreender e calcular os diferentes índices financeiros;

• demonstrar a importância dos fluxos de caixa;

• analisar as variáveis da Gestão Financeira.

Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que em cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão na compreensão dos conteúdos apresentados. Os três tópicos desta primeira unidade permitem conhecer elementos básicos da gestão financeira.

TÓPICO 1 – AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

TÓPICO 2 – FLUXOS E PLANEJAMENTO

TÓPICO 3 – VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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TÓPICO 1UNIDADE 1

AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

1 INTRODUÇÃO

Introduzimos os estudos da Gestão Financeira com a seguinte citação: “Podemos definir finanças como a arte e a ciência da gestão do dinheiro” (GITMANN, 2004, p. 4). Pelas mãos das pessoas e das empresas circula o dinheiro, onde recebemos, pagamos e investimos.

A Gestão Financeira é uma atividade dinâmica, que deve começar por você. Cada um precisa saber gerenciar o seu dinheiro, fazê-lo render. Além deste autogerenciamento, obviamente, o seu campo de atuação estende-se para as empresas públicas e privadas, todas precisam também fazer render o dinheiro.

Juridicamente, as empresas podem se organizar em:

• Firmas individuais: a própria expressão já revela que nesta modalidade a empresa pertence ao indivíduo. Nesta modalidade, todo o patrimônio do indivíduo – único dono da empresa – pode ser utilizado para saldar as dívidas e sua responsabilidade é ilimitada. Esta é uma modalidade comum para pessoas com pequenos estabelecimentos. A tributação sobre os seus ganhos ocorre na sua declaração de rendimentos de pessoa física do proprietário.

• Sociedade por cotas: nesta modalidade, a própria expressão revela a situação de uma sociedade, a qual se caracteriza pela existência de dois ou mais sócios. Cada um dos sócios tem a sua responsabilidade limitada às suas cotas de participação na sociedade. A tributação é diferente da firma individual e distingue-se entre as diferentes atividades industriais, comerciais e de serviços.

• Sociedade por ações: é formada pelos seus acionistas, que compram e detêm quantidades de ações ordinárias ou preferenciais, limitando a sua responsabilidade. Os acionistas podem comprar mais ações, serem acionistas de outras empresas, negociarem suas ações a fim de maximizar os seus resultados. As ações são negociadas nas bolsas de valores, através de seus corretores.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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Independente do regime jurídico das organizações, as pessoas das mais diferentes áreas precisam atuar de forma integrada; onde, de uma forma ou de outra, acabam interagindo com as finanças.

Vamos exemplificar com o departamento de compras de uma empresa, no qual os fornecedores apresentam valores diferentes e as mais diferentes condições de pagamento. O comprador não poderá decidir, isoladamente, sem conhecer as possibilidades financeiras de a empresa realizar este pagamento. No pagamento à vista pode-se obter um desconto, mas se não há disponibilidade, precisamos buscar um empréstimo e, então, é necessário avaliar o que custa mais e o que custa menos.

Da mesma forma, o departamento comercial também precisa estar integrado com o financeiro, para poder estabelecer a sua política comercial de prazos, acréscimos e descontos. Aqui também é necessário conhecer o mercado.

“Não basta saber, é preciso saber fazer”, por isso, a partir do que acabamos de relatar, se você trabalha em alguma empresa ou conhece quem trabalha, procure descobrir como funciona a relação do setor financeiro com os demais setores da empresa. Leve suas contribuições para discutir com seus colegas de turma.

AUTOATIVIDADE

A Gestão Financeira tem uma relação direta com a teoria econômica e com a contabilidade. Em relação à teoria econômica, é preciso compreender e estar atento aos diferentes níveis de atividades econômicas, às mudanças políticas, à análise da oferta e da demanda, à teoria da formação de preços etc.

Nesse tema, a Gestão Financeira tem que estar bem informada sobre o mercado de capitais, os custos dos juros, as perspectivas da inflação (para enxergar tendências no incremento dos insumos e preços a serem repassados aos clientes) e as perspectivas de crescimento e decrescimento do mercado onde atua a empresa.

Já com a contabilidade, a Gestão Financeira também tem uma relação direta, pois é desta movimentação financeira que ocorrem os registros contábeis. Isto vai auxiliar você a conhecer o seu fluxo de caixa e a tomar decisões. Mais adiante serão aprofundados os conhecimentos sobre fluxo de caixa.

É preciso fazer render o dinheiro. Este fazer render o dinheiro é interpretado por muitos, na gestão financeira, como a maximização dos lucros. Esta maximização de lucro deve considerar o tempo, os fluxos de caixa e o risco; sendo que esta interpretação difere entre as empresas por cotas e por ações.

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TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

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IMPORTANTE

Você é responsável por controlar o seu dinheiro e fazê-lo render. Na empresa, a sua Gestão Financeira também objetiva o controle do dinheiro, o seu rendimento, alinhado às expectativas dos sócios ou acionistas.

2 TRIBUTAÇÃO DE EMPRESAS

Os trabalhadores compõem o seu montante de dinheiro para pagar as suas contas e realizar os investimentos a partir do seu trabalho, prestado a uma ou mais empresas. As empresas compõem este montante de dinheiro a partir do resultado dos produtos e/ou serviços comercializados para as pessoas, outras empresas ou mesmo para o governo.

Os governos: municipais, estaduais e nacionais compõem parte da estrutura pública que necessita de recursos financeiros para sua manutenção. Além das receitas aferidas pelas empresas do governo (estatais), nós (pessoas físicas) e as empresas (pessoas jurídicas) precisamos contribuir financeiramente com estes governos por meio de impostos, taxas e tributos.

Ao adquirir algo, um bem móvel ou imóvel, estamos contribuindo com o pagamento de algum imposto embutido ou não no preço. Por exemplo: no preço dos alimentos que adquirimos no supermercado estão incluídos: os custos, o lucro e os impostos que este supermercado deve pagar ao governo. Da mesma forma, ao comprar um veículo, boa parte do valor corresponde aos impostos devidos pela montadora e concessionária ao governo.

Cada vez mais os veículos de comunicação têm divulgado a parte que corresponde aos impostos, do valor que é pago pelos produtos e/ou serviços. Para compreender, segue um exemplo: imagine que o imposto sobre os medicamentos seja de 50%. Neste caso, ao adquirir um medicamento qualquer por R$ 50,00, você está pagando R$ 25,00 pelo medicamento e R$ 25,00 de impostos. Sem o imposto, você poderia comprar dois medicamentos ou pagar a metade.

Discute-se muito, no Brasil, a chamada “carga tributária” sobre os produtos e/ou serviços. Há itens em que a tributação é muito alta, dificultando o acesso à população aos mesmos.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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Anualmente, a grande maioria das pessoas precisa realizar a sua declaração de Imposto de Renda. Nesta declaração constam os dados pessoais, os bens, pagamentos realizados e, principalmente, os rendimentos obtidos. A partir de uma tabela do governo federal, o sistema realiza um cálculo para determinar o quanto é possível restituir do imposto já deduzido mensalmente, na folha de pagamento. Há casos em que, além do imposto já deduzido, mensalmente, a pessoa ainda deve ao governo um pouco mais de Imposto de Renda, geralmente, nos casos de mais de um emprego ou de ter outros rendimentos.

IMPORTANTE

Para maiores detalhes sobre o Imposto de Renda de Pessoa Física, consulte na internet o site da Receita Federal do Brasil.

Bem, até aqui é tudo muito simples. Agora, vamos falar das empresas. Sua natureza é pessoa jurídica. Ao constituir a empresa é preciso definir o seu objeto social, ou seja, estabelecer o que ela vai fazer, qual a sua atuação.

Pode-se constituir uma indústria madeireira, metal-mecânica, alimentícia, têxtil, entre outras. Também é possível constituir um estabelecimento comercial atacadista e/ou varejista; ou ainda, uma prestadora de serviços. A empresa não precisa se caracterizar, individualmente, por uma das modalidades acima, pode incorporar as três, pois pode produzir, comercializar e ainda prestar serviços aos clientes.

Em cada uma destas situações encontramos uma legislação específica de impostos e alíquotas, em todas as esferas: municipal, estadual e federal. Por exemplo, uma prestadora de serviços precisa recolher um imposto ao município onde está instalada, denominado de ISS (Imposto Sobre Serviço). Alguns municípios têm alíquota única, independente do serviço, enquanto outros têm alíquotas diferenciadas, dependendo do serviço.

ATENCAO

Imaginando escolas de idiomas de três municípios, pode-se ter o município “A” cobrando 2% de ISS, o município “B” cobrando 3% de ISS, enquanto que o município “C” pode isentar a escola do ISS durante um período, com o intuito de desenvolver a cidade, dando-lhe este incentivo fiscal.

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TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

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Assim como variam os impostos entre os municípios, também vamos constatar a variação dos impostos estaduais e federais. Além dos impostos serem diferentes nas esferas municipais, estaduais e federal, também dependem da atividade e do porte da empresa.

IMPORTANTE

Ao decidir onde instalar a empresa ou sua unidade de negócios, avalia-se, além de outros fatores, também a carga tributária.

O município e/ou o Estado podem conceder incentivo fiscal com o propósito de atrair empresas para a sua região, fomentando emprego, renda e desenvolvimento. Da mesma forma, a nação pode dar benefícios para que empresas internacionais se instalem no Brasil.

Obviamente, que as empresas não avaliam apenas a carga tributária, sendo necessário avaliar outros aspectos, tais como: mão de obra qualificada, disponibilidade de matéria-prima, recursos tecnológicos, infraestrutura (seja rodoviária, aeroviária, ferroviária ou portuária), dentre outros. São realizados muitos cálculos, considerando o conjunto de todas as variáveis, simulando diferentes cenários, para que se possa decidir pelo mais favorável.

Neste cenário empresarial, o contador é o profissional que auxilia na constituição de uma empresa, bem como: na correta identificação do regime de tributação da empresa, de seus produtos e/ou serviços. Geralmente, na maioria das micro, pequenas e médias empresas, este profissional é representado por um escritório de contabilidade – prestador de serviços. Há casos em que o contador é um funcionário da empresa. Independente de ser funcionário ou prestador de serviços, o contador realiza todos os registros contábeis fiscais, apurando todos os impostos a serem pagos.

Este conhecimento tributário não deve ser apenas do contador, mas também do gestor financeiro. Você deve conhecer o regime de tributação de sua empresa e de cada um dos seus produtos, para garantir que a receita das vendas assegure o pagamento dos impostos, dos fornecedores, de todas as despesas administrativas e de pessoal, garantindo o resultado positivo (lucro) no final do período (exercício). O conhecimento de toda esta denominada “carga tributária” pode ser obtido em cada um dos órgãos competentes: município, estado e nação.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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ATENCAO

Procure manter-se sempre atualizado quanto à tributação da sua empresa, pois a legislação sofre mudanças constantes. Se neste período você tributa sobre uma alíquota, pode no próximo período ter uma alíquota maior, menor ou, ainda, estar isento do seu pagamento.

Para melhor compreensão de cálculos básicos do preço de venda, impacto de impostos, custos e lucros, vamos ao exemplo a seguir:

Exemplo: você comercializa camisetas brancas, compra-as ao preço de R$ 7,00 e deseja trabalhar com uma margem de lucro de 30%. Vamos supor que os impostos representam 10%. Como ocorrem os resultados a partir de duas interpretações:

Preço de venda é: (R$ 7,00 + 30%, ou seja, R$ 7,00 + R$ 2,10). R$ 9,10Dedução dos 10% de impostos (R$ 9,10 – 10%). - R$ 0,91Valor já deduzidos os impostos (R$ 9,10 – R$ 0,91). R$ 8,19Pagamento ao fornecedor (custo da mercadoria). R$ 7,00Deste lucro, você precisa ainda pagar suas despesas administrativas e de pessoal. R$ 1,19

Situação B: se do seu preço de venda vai obter 30% para chegar ao custo, terá:

Situação A: se a partir do preço de compra você acrescentar 30%, terá:

Seu preço de venda é: (R$ 7,00 / (1-30%), ou seja, (R$ 7,00 / 70%). R$ 10,00Dedução dos 10% de impostos (R$ 10,00 – 10%). R$ 1,00Valor já deduzidos os impostos (R$ 10,00 – R$ 1,00). R$ 9,00Pagamento ao fornecedor (custo da mercadoria). R$ 7,00Deste lucro, você precisa ainda pagar suas despesas administrativas e de pessoal. R$ 2,00

NOTA

A maioria dos impostos tem como base de cálculo o faturamento (valor das vendas), e a partir daí deduz-se os impostos. Observe ainda que o exemplo anterior considera 30% de lucro de duas formas – interpretações.

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TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

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Do exemplo anterior, a situação B apresenta um lucro superior à situação A. Agora, se você tiver uma baixa despesa administrativa e de pessoal e vender bastante (alto giro), poderá lucrar mais na situação A. Se você tiver uma despesa administrativa e de pessoal dentro da média, mas o seu giro (vendas) não for significativo, mesmo que pratique a situação B, poderá não ter lucro.

Além do custo, dos impostos, da despesa administrativa e de pessoal, também precisamos considerar o volume de vendas (giro) mensal. Há produtos com os quais conseguimos trabalhar com margens maiores, e com outros precisamos trabalhar com margens menores para conseguir vender.

ESTUDOS FUTUROS

As demonstrações do exemplo anterior não consideram a forma nem a condição de pagamento do cliente, bem como ao fornecedor. Veremos variáveis exploradas mais adiante.

3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Ao receber dinheiro e efetuar os pagamentos, a empresa está tendo a sua movimentação financeira, e toda esta movimentação precisa ser registrada e demonstrada.

As demonstrações, como a própria palavra diz, vão demonstrar tudo o que aconteceu ou está por acontecer com os recursos financeiros da empresa: as entradas, as saídas e os resultados.

Dentre as formas de demonstrações, este tópico abordará: o DRE – Demonstração dos Resultados do Exercício e o Balanço Patrimonial.

Os demonstrativos podem ser gerados por competência ou por caixa. Um demonstrativo por competência ou regime de competência é uma análise econômica, que expressa as receitas, despesas e o resultado do período, sem considerar o momento temporal em que ocorrem os pagamentos ou recebimentos.

Já o demonstrativo por caixa ou regime de caixa expressa o momento temporal em que ocorrem os pagamentos e recebimentos. Sabe-se, exatamente, o momento em que o dinheiro entrou ou saiu, podendo ser de outras competências diferentes do período apresentado.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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3.1 DRE – DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS DO EXERCÍCIO

O DRE é uma forma resumida de apresentar os resultados operacionais da empresa dentro de um determinado período, geralmente anual ou mensal. O DRE anual apresenta os resultados que a empresa obteve dentro do seu chamado ciclo ou exercício fiscal, enquanto que os DRE´s mensais auxiliam nas decisões de curto prazo, para que os objetivos anuais sejam alcançados.

Esta demonstração parte do “faturamento”, tecnicamente denominado de ROB (Receita Operacional Bruta). A partir daí, apresenta-se a demonstração das movimentações, até encontrarmos o Lucro ou Prejuízo Líquido da empresa no período de apuração.

O quadro a seguir apresenta uma estrutura básica e resumida de um DRE:

QUADRO 1 – ESTRUTURA DO DRE

(=) ROB / faturamento Total da Receita Operacional Bruta, Faturamento, Vendas.

(-) Impostos Impostos que incidem sobre a Receita Operacional Bruta (ROB).

(=) ROL Receita Operacional Líquida (ROB menos os impostos).

(-) CMV CMV - Custo das Mercadorias Vendidas.

(=) Lucro bruto

O lucro bruto é o que sobra da ROB, menos impostos e CMV. É a partir desta margem bruta que vamos descontar as demais despesas da empresa. Este lucro bruto também é conhecido como margem de contribuição.

(-) Despesas administrativas Total das despesas administrativas (aluguel, água, energia elétrica, telefonia etc.), descontadas do lucro bruto.

(-) Despesas de pessoal

O total das despesas com pessoal, incluindo os encargos sociais e trabalhistas. Na indústria, as despesas com pessoal da produção podem ser adicionadas ao CMV (matéria-prima e pessoal da produção).

(=) Lucro operacional (antes das despesas e receitas financeiras)

O lucro operacional é o resultado, já descontadas as despesas administrativas e de pessoal.

(-) Despesas financeiras Despesas com capital de terceiros.

(+) Receitas financeiras Receitas de aplicações e ganhos financeiros.

(=) Lucro/prejuízo líquido Agora encontramos o lucro ou prejuízo líquido do período.

FONTE: O autor

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TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

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IMPORTANTE

As demonstrações podem ser por regime de competência ou de caixa.

Partindo da estrutura de um DRE, apresentada no quadro 1, vamos visualizar, no quadro a seguir, o exemplo de um DRE com os números anuais. Vamos imaginar que seja o DRE do nosso exemplo da camisaria e vamos visualizar os resultados de dois anos consecutivos (2009 e 2010), onde cada camiseta foi vendida ao valor de R$ 10,00.

QUADRO 2 – EXEMPLO DO DRE

DRE 2010 2009

(=) ROB / faturamento R$ 120.000,00 R$ 114.000,00

(-) Impostos (10% sobre a ROB) R$ 12.000,00 R$ 11.400,00

(=) ROL (ROB – impostos) R$ 108.000,00 R$ 102.600,00

(-) CMV R$ 84.000,00 R$ 79.800,00

(=) Lucro bruto R$ 24.000,00 R$ 22.800,00

(-) Despesas administrativas R$ 6.000,00 R$ 5.000,00

(-) Despesas de pessoal R$ 15.600,00 R$ 16.100,00

(=) Lucro operacional R$ 2.400,00 R$ 1.700,00

(-) Despesas financeiras R$ 250,00 R$ 200,00

(+) Receitas financeiras R$ 25,00 R$ 10,00

(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 2.175,00 R$ 1.510,00

FONTE: O autor

O DRE do quadro 2 considera o regime de competência, ou seja, os fatos ocorreram em cada um dos anos. Não considera quando pagamos os fornecedores, nem mesmo o recebimento das vendas dos clientes.

Este DRE já nos permite realizar algumas análises para a tomada de decisão:

Sabendo-se que em 2009 cada camiseta foi vendida a R$ 10,00, a ROB (Receita Operacional Bruta) considera um total de 11.400 camisetas vendidas.

Mantendo-se o mesmo preço de venda de 2009, em 2010 foram vendidas 12 mil camisetas, ou seja, 5,26% a mais que no ano anterior. Como não houve aumento no preço de venda, nem mudança na carga tributária (impostos) e também não houve aumento do CMV, o aumento do lucro bruto foi proporcional às vendas (5,26%).

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O lucro líquido final teve um aumento de 44,04%, de R$ 1.510,00 em 2009, para R$ 2.175,00 em 2010, que, além do aumento das vendas, também teve a contribuição das despesas administrativas e das despesas com pessoal.

Ao aumentar ou reduzir o valor de qualquer um dos itens do DRE acima, tem-se um reflexo imediato no lucro/prejuízo líquido.

Ao aumentar apenas o preço de venda, o montante dos impostos aumentará na proporção das vendas. Lembre-se de que um aumento de preços pode diminuir a quantidade a ser vendida, bem como: a redução do preço pode aumentar as vendas – vai depender muito do produto e do mercado.

Se houver apenas aumento da alíquota dos impostos (sem preço de venda e quantidade vendida), você irá pagar mais impostos e, consequentemente, os lucros brutos (operacional e líquido) vão ser menores, talvez até revelando prejuízo.

Agora, imagine se apenas o fornecedor aumentar o custo da camiseta e você não conseguir repassar este aumento aos seus clientes. Isto também afetará o lucro bruto, operacional e líquido.

Bem, também se pode imaginar que ocorram mudanças apenas nas despesas administrativas e/ou de pessoal. Os resultados também serão afetados.

O gestor financeiro precisa estar atento a todas as mudanças da empresa, com o objetivo de garantir que os resultados estabelecidos pelos sócios sejam alcançados.

3.2 BALANÇO PATRIMONIAL

O balanço patrimonial traz elementos da contabilidade e apresenta um resumo da posição financeira da empresa numa determinada data. Tratando-se de elementos contábeis, vale lembrar que as contas do:

• Ativo: representam os direitos e bens, agrupados em contas que estão ordenadas pela sua liquidez. Começa com as de maior liquidez (caixa) até as de menor liquidez. O Ativo ainda está dividido em dois grandes grupos: as contas de recebimento de curto prazo (Ativo Circulante) e de longo prazo (Realizável de Longo Prazo).

• Passivo: representam os deveres e as obrigações, que também estão ordenados pelo seu prazo: do curto ao longo prazo de pagamento. O Passivo também está dividido no curto prazo (Passivo Circulante) e no longo prazo (Exigível de longo prazo).

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UNI

O gestor financeiro necessita ter noções básicas da contabilidade.

O quadro a seguir apresenta algumas contas do ativo, com sua explicação:

QUADRO 3 – CONTAS DO ATIVO

CONTA EXPLICAÇÃO

Caixa/bancos Disponibilidades de dinheiro em caixa/bancos.

Aplicações financeiras Valores aplicados, que, se necessário, pode-se resgatar.

Contas a receber Parte da ROB (Receita Operacional Bruta) não é recebida à vista, e sim nos prazos negociados. Todo o montante a receber consta nesta conta.

Estoque

Totaliza o valor do estoque de mercadorias e/ou de matéria-prima. O estoque de mercadorias ou produtos acabados representa o valor destes produtos para comercialização. Já o estoque de matéria-prima representa o que temos para produzir.

ImobilizaçõesRepresentam o ativo permanente da empresa, compreendido pelos terrenos e edificações, máquinas e equipamentos, móveis e utensílios, veículos etc.

FONTE: O autor

Observe no quadro 3 que as contas estão ordenadas de maior liquidez (Caixa), até as de menor liquidez (Imobilizações). Ao necessitar efetuar pagamentos imediatamente, o dinheiro pode estar disponível no caixa, bancos ou, ainda, em aplicações financeiras, e prontamente os pagamentos podem ser feitos.

Já se não houver recursos nestas contas, mas a empresa tiver contas a receber, poderá efetuar os pagamentos assim que receber de seus clientes. Para antecipar estes recebimentos (fazer caixa), poderá conceder descontos aos clientes ou, ainda, antecipar o desconto dos cheques e duplicatas em bancos.

Agora, se também não houver contas a receber, os estoques precisam ser convertidos em vendas, gerar contas a receber e receber os valores para poder ter caixa e realizar os pagamentos.

Se também não houver estoque de mercadorias, a situação fica ainda mais crítica. Neste caso, a empresa necessita realizar algum empréstimo, ou os donos precisam injetar dinheiro, ou ainda, a empresa precisa vender parte do seu patrimônio para ter recursos financeiros para realizar os pagamentos.

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IMPORTANTE

É fundamental o equilíbrio das contas do ativo, para não afetar a liquidez. Mais adiante veremos alguns indicadores que permitem avaliar a liquidez.

O quadro 4 apresenta, de forma geral, algumas contas do passivo, para que possamos compreender as demonstrações seguintes deste caderno:

QUADRO 4 – CONTAS DO PASSIVO

CONTA EXPLICAÇÃO

Contas a pagar Representam as compras realizadas a prazo.

Títulos a pagar Representam empréstimos de curto prazo.

Despesas a pagar Representam despesas com empréstimos, salários etc.

Patrimônio líquido

Expressa o capital investido pelos sócios no início do período, incluindo lucros ou prejuízos acumulados.

FONTE: O autor

Retomando o exemplo da camisaria, o quadro 5 ilustra um balanço patrimonial, com dados de dois períodos (2009 e 2010).

QUADRO 5 – EXEMPLO DE BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVOS 2010 2009Ativos CirculantesCaixa 232,00 202,00Aplicações financeiras 1.050,00 980,00Contas a receber 7.500,00 5.500,00Estoques 9.800,00 12.500,00Total dos ativos circulantes 18.582,00 19.182,00Ativos permanentes (ao custo)Terrenos e edificações 25.200,00 23.000,00Máquinas e equipamentos 3.950,00 3.470,00Móveis e utensílios 1.890,00 1.420,00Veículos 0,00 0,00Total dos ativos permanentes 31.040,00 27.890,00Depreciação acumulada 10.010,00 9.760,00Ativos permanentes líquidos 21.030,00 18.130,00

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TOTAL DOS ATIVOS 39.612,00 37.312,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDOPassivo CirculanteContas a pagar 8.359,00 7.297,00Títulos a pagar 3.340,00 2.980,00Despesas a pagar 4.160,00 3.915,00Total dos passivos circulantes 15.859,00 14.192,00Exigível de longo prazo 3.503,00 3.240,00Total dos passivos 19.362,00 17.432,00Patrimônio líquidoCapital social 20.250,00 19.880,00TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00 37.312,00

FONTE: O autor

Algumas considerações do balanço patrimonial do quadro 5.

A disponibilidade em caixa e em aplicações financeiras aumentou em 2010.

Em 2010 as contas a receber são maiores, podendo ser resultado da concessão de maior prazo de pagamento aos clientes.

A quantidade de mercadorias em estoque diminui. Lembre-se de que neste exemplo não houve aumento, nem redução nos custos das camisetas. Se houvesse uma redução nos custos, pode-se ter o mesmo volume de peças, mas um custo menor.

O ativo aumentou pelos investimentos no imobilizado.

Em 2010, o passivo circulante aumentou, enquanto que o ativo circulante diminuiu. Ou seja, as dívidas de curto prazo aumentaram, enquanto que as disponibilidades de curto prazo diminuíram.

ATENCAO

O balanço patrimonial e o DRE de uma empresa apresentam-se mais detalhados do que nos exemplos deste item.

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4 ÍNDICES FINANCEIROS

Qual foi o rendimento da poupança neste mês? E no mês passado? Qual será o aumento dos combustíveis? Da passagem de ônibus? Do aluguel? Estas e outras perguntas passam a ser respondidas a partir de índices.

No ambiente empresarial, “a análise de índices envolve métodos de cálculo e interpretações de índices financeiros visando analisar e acompanhar o desempenho da empresa” (GITMAN, 2004, p. 42), e funcionam como termômetros.

Fundamentalmente, os índices procuram avaliar a liquidez, a atividade, o endividamento e a rentabilidade de uma empresa.

Estes índices precisam ser calculados e atualizados para que se possa tomar decisões para a manutenção ou aumento dos resultados, bem como ajudar a identificar fatores que levaram ao desempenho ruim.

UNI

Se na semana passada a temperatura média foi de 27ºC e nesta semana está sendo de 30ºC, o que isto pode significar? Será efeito do aquecimento global? É normal para a época do ano? Ou é anormal?

A partir das demonstrações, encontramos elementos que nos permitem calcular alguns índices, que vão avaliar o desempenho operacional e auxiliar na tomada de decisão. Não é meramente o resultado do cálculo de um índice que permitirá uma interpretação do seu valor, mas a partir de comparações.

Através dos índices pode-se realizar comparações pelos seguintes métodos:

• Análise Vertical (Cross-Sectional): consiste numa forma de comparar os índices da sua empresa com a concorrência ou com o índice médio do mercado. Nesta comparação pode-se descobrir o quanto estamos melhores ou piores em cada um dos índices em relação ao mercado e identificar as ações que possam corrigir o valor destes índices.

• Análise Temporal ou de Série Temporal: consiste numa análise dos índices da empresa ao longo do tempo, de um passado até o momento presente, com a finalidade de avaliar o desempenho no período. A análise temporal permite ainda estabelecer uma tendência futura de desempenho.

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• Análise Combinada: combina a análise vertical e a temporal, trazendo a possibilidade de comparar o desempenho da empresa com o mercado no decorrer do tempo.

Estas análises vão orientar o gestor financeiro nas suas tomadas de decisão, e ao compartilhar estes resultados com os demais setores, você sensibiliza mais pessoas aos resultados propostos.

Os índices apresentados a seguir estão agrupados em quatro categorias básicas: liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade. Os três primeiros grupos: liquidez, atividade e endividamento medem, principalmente, o risco, enquanto que os índices de rentabilidade medem o retorno do empreendimento.

ATENCAO

Todos os índices a seguir serão calculados com base nas demonstrações dos quadros 2 e 5, abordados anteriormente. Na exemplificação da fórmula de cada um dos índices, teremos como base os dados de 2010.

4.1 ÍNDICES DE LIQUIDEZ

“A liquidez de uma empresa é medida por sua capacidade de cumprir as obrigações de curto prazo à medida que vencem” (GITMAN, 2004, p. 46), indicando a capacidade de pagar as contas que vencem no curto prazo.

Ao encontrar um índice de liquidez menor que 1, temos a informação de que a empresa poderá ter dificuldades de realizar os seus pagamentos e sinaliza dificuldades de fluxo de caixa. Já um índice de liquidez maior que 1 sinaliza que a empresa tem condições de realizar os pagamentos. A seguir, vamos explicar o índice de liquidez corrente e seca.

4.1.1 Índice de liquidez corrente

O índice de liquidez corrente é muito utilizado, pois mede a capacidade da empresa de saldar suas contas de curto prazo, e tudo que é curto prazo está relacionado ao Ativo Circulante e Passivo Circulante.

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QUADRO 6 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE

Fórmula de Cálculo Resultado

Índice de Liquidez Corrente =Ativo Circulante 18.582,00

= 1,17Passivo Circulante 15.859,00

FONTE: O autor

O quadro acima apresenta que em 2010 a Liquidez Corrente foi de 1,17. Ao calcular este índice para 2009, obtém-se a liquidez de 1,35 (19.182 / 14.192). Observa-se que em 2009 a liquidez corrente foi melhor que em 2010, demonstrando uma queda de 13,33%. Em 2009 havia melhores condições para o pagamento das dívidas de curto prazo.

Em 2009, o Ativo Circulante estava 35% acima do Passivo Circulante, já em 2010 apenas 17%. Mesmo com esta queda de 2009 para 2010, a empresa apresenta liquidez. Para a manutenção desta liquidez faz-se necessário manter o Ativo Circulante acima do Passivo Circulante.

4.1.2 Índice de liquidez seca

O Índice de liquidez seca também mede a capacidade da empresa de saldar as suas contas de curto prazo, mas desconsidera os estoques.

Para a atividade de algumas empresas, o estoque é considerado de baixa liquidez, podendo ser matéria-prima que ainda precisa gerar produto acabado, ou ainda, na maioria dos casos, as vendas do estoque ocorrem a prazo e uma pequena parte vem para o caixa e o restante é contas a receber.

QUADRO 7 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA

Fórmula de Cálculo Resultado

Índice de Liquidez Seca =Ativo Circulante – Estoque 8.782,00

= 0,55Passivo Circulante 15.859,00

FONTE: O autor

Neste caso, a liquidez seca de 2010 (0,55) é superior à de 2009, que foi de 0,47 (6.682/14.192). Houve uma melhora de 16,82% de 2009 para 2010, atribuído a uma redução dos estoques.

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Analise o balanço patrimonial de sua empresa, e procure conhecer a liquidez corrente e seca.

AUTOATIVIDADE

4.2 ÍNDICES DE ATIVIDADE

Segundo Lemes (2005, p. 75), “os índices de atividade medem a velocidade com que várias contas se transformam em vendas ou caixa”. As mercadorias não podem ficar paradas no estoque, precisam resultar em vendas, que, por consequência, são a receita da empresa.

Quanto maior o giro das mercadorias, melhor será o resultado dos índices de atividade: o giro de estoques, o prazo médio de recebimento, o prazo médio de pagamento e o giro do ativo total.

4.2.1 Giro de estoques

O giro de estoques mede a liquidez do estoque. Quanto maior este índice, significa que mais rápido as vendas ocorrem, bem como: quanto menor, pode indicar que os produtos ficam muito tempo parados no estoque.

Para avaliar o giro é necessário ter índices de diferentes períodos para comparar. Há empresas que apresentam um giro com poucas oscilações mensais, enquanto que outras podem apresentar um giro muito alto em alguns meses do ano e praticamente nulo noutros.

QUADRO 8 – CÁLCULO DO GIRO DE ESTOQUES

Fórmula de Cálculo Resultado

Giro de Estoques =Custo dos produtos vendidos 84.000,00

= 8,57Estoque 9.800,00

FONTE: O autor

Em 2010, obteve-se um giro de 8,57, superior ao de 2009, que foi de 6,38 (79.800/12.500). O crescimento no giro de um ano para o outro foi de 34,24%. Como avaliado, anteriormente, em 2010 foram vendidas mais peças e o ano de 2010 terminou com menos peças no estoque, o resultado disto é um maior giro de estoques.

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UNI

Foi demonstrado o giro dos estoques de uma forma geral, mas há empresas que conhecem o giro de estoque de cada um de seus produtos.

4.2.2 Prazo médio de recebimento

Todas as vendas realizadas geram recebimentos dos clientes, em diferentes prazos: há vendas em que o recebimento ocorre no ato da venda, consideradas “à vista”, outras em que parte do valor total é recebida como entrada e o saldo é parcelado num período futuro, outras nem entrada têm – o valor total está parcelado em datas futuras.

É fundamental conhecer o prazo médio de recebimento, para saber em quanto tempo estamos recebendo o dinheiro das vendas, para avaliar as políticas de crédito e cobrança.

QUADRO 9 – CÁLCULO DO PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO

Fórmula de Cálculo Resultado

Prazo Médio de Recebimento =Contas a receber 7.500,00

= 22.50Vendas ÷ 360 120.000,00 ÷ 360

FONTE: O autor

O prazo médio de recebimento passou a ser de 22,50 dias em 2010, enquanto que em 2009 foi de 17,37 dias. Isto revela uma política de que a loja passou a conceder mais prazo aos seus clientes. Havendo disponibilidades financeiras, ou ainda, conseguindo repassar ao preço do produto o custo do dinheiro neste prazo, consegue-se manter os resultados financeiros da empresa.

UNI

Nos últimos anos, no Brasil, vivenciamos uma política de crédito muito forte. Os brasileiros puderam adquirir seus bens móveis e imóveis pagando em diversos meses e/ou anos.A partir de 2011, o governo vem aplicando medidas para frear um pouco o consumo, elevando algumas taxas de juros e impostos para conter a inflação.

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4.2.3 Prazo médio de pagamento

Da mesma forma que recebemos dos clientes pela vendas efetuadas, também é necessário realizar o pagamento aos fornecedores pelos estoques que formamos. Neste caso, é fundamental saber em quanto tempo ocorrem os pagamentos aos fornecedores, ou seja, o prazo médio de pagamento. Também há fornecedores que recebem tudo à vista, outros parcelam com e/ou sem entrada.

QUADRO 10 – CÁLCULO DO PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO

Fórmula de Cálculo Resultado

Prazo Médio de Pagamento =Contas a pagar 8.359,00

= 35,82Compras (CMV) ÷ 360 84.000,00 ÷ 360

FONTE: O autor

Em 2010, os pagamentos aos fornecedores são realizados num prazo médio de 35,82 dias, enquanto que em 2009 havia um prazo de 32,92 dias. Entende-se que em 2010 a empresa passou a ter mais prazo para o pagamento.

Considerando os resultados destes dois últimos índices: Prazo Médio de Recebimento (PMR) e Prazo Médio de Pagamento (PMP), analisa-se que se o PMR é de 22,50 e o PMP é de 35,82 dias, significa que primeiro recebemos as vendas dos clientes para depois pagar os fornecedores. Isto é verdadeiro, se tudo ocorrer num mesmo momento inicial, ou seja, comprar as mercadorias, colocar no estoque e vender. Agora, se você vendeu apenas 10 dias depois da compra, estará recebendo por volta do 32º dia, sendo que no 35º estará pagando o fornecedor. Esta análise é válida para o exemplo em questão, tendo que ser ajustada a outros casos.

4.2.4 Giro do ativo total

O giro do ativo total indica a eficiência com que a empresa usa seus ativos para gerar vendas. Para que este índice apresente bons resultados é fundamental o crescimento das vendas e/ou a manutenção do ativo total.

QUADRO 11 – CÁLCULO DO GIRO DO ATIVO TOTAL

Fórmula de Cálculo Resultado

Giro do Ativo Total =Vendas 120.000,00

= 3,03Ativo Total 39.612,00

FONTE: O autor

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O giro do ativo total de 3,03 em 2010 apresentou-se menor que em 2009 (3,06). Ao avaliar o quadro 5, percebe-se que em 2010 a loja aumentou o seu ativo imobilizado, acima do crescimento das vendas. Desta forma, o giro do ativo total em 2009 era de 3,06, melhor que em 2010 (3,03). As imobilizações comprometeram este índice.

4.3 ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO

A palavra endividamento expressa o quanto temos de dívidas. Ao possuir dívidas, estamos utilizando um dinheiro que não é nosso; daí a expressão “capital de terceiros”. Geralmente, a empresa apresentará algum grau de endividamento, pois o capital de terceiros pode apresentar um custo inferior ao custo estabelecido pelo dono do negócio, que pretende retirar lucros.

Segundo Gitman (2004, p. 49), “os índices de endividamento indicam o volume de dinheiro de terceiros que usamos para gerar lucros”.

ESTUDOS FUTUROS

De uma forma ou de outra, as empresas apresentarão algum endividamento, o que, dependendo das condições, não significa nenhuma situação ruim. Mais adiante aprofundaremos esta análise.

4.3.1 Índice de endividamento geral

O índice de endividamento geral mede a proporção dos ativos totais que são financiados por terceiros. Quanto maior este índice, maior a quantidade de dinheiro que a empresa tem emprestado.

QUADRO 12 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE ENDIVIDAMENTO GERAL, ANO 2010

Fórmula de Cálculo Resultado

Índice de Endividamento Geral:

Total dos Passivos 19.362,00

= 0,49 * 100 = 48,88% Ativo Total 39.612,00

FONTE: O autor

O endividamento geral de 2010 (48,88%) é superior a 2009 (46,72%), apontando que a empresa passou a contar com mais capital de terceiros. O aumento desse endividamento foi de 2,16% de um ano para outro.

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4.3.2 Índice de cobertura de juros

Ao utilizar capital de terceiros, ter empréstimos, a empresa precisa devolver o capital tomado acrescido dos juros cobrados pelo terceiro.

O índice de cobertura de juros mede a capacidade da empresa de pagar os juros dos empréstimos, e, quanto maior, melhor a capacidade de pagar os juros sobre o capital de terceiros.

QUADRO 13 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE COBERTURA DE JUROS

Fórmula de Cálculo Resultado

Índice de Cobertura de Juros =Lucro Operacional 2.400,00

= 9,60Juros 250,00

FONTE: O autor

A capacidade de pagar os juros em 2010 foi de 9,60, superior à de 2009, de 8,50. Tanto para quem empresta o dinheiro, bem como para quem toma o dinheiro emprestado em 2010, constata que a empresa apresenta melhores condições de cobrir os juros.

4.4 ÍNDICES DE RENTABILIDADE

A palavra rentabilidade lembra o quão rentável algo é, ou seja, os resultados que estão sendo apurados. Quando você tem alguma disponibilidade de dinheiro, procura aplicar numa modalidade que num primeiro momento apresenta melhor rentabilidade, ou seja, aufere melhores ganhos.

Este ganho – a rentabilidade de uma empresa – pode ser analisado conhecendo a margem de lucro bruto, a margem de lucro operacional, a margem de lucro líquido, o retorno do ativo total e o retorno do capital próprio.

4.4.1 Margem de lucro bruto

A margem de lucro bruto é a diferença do preço de venda de nossos produtos, descontados os impostos e custos destes produtos (quadro 2). Quanto maior a margem, maiores são as disponibilidades para as despesas administrativas, de pessoal e financeiras.

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QUADRO 14 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO BRUTO

Fórmula de Cálculo Resultado

Margem de Lucro Bruto =Lucro Bruto 24.000,00

= 0,20 * 100 = 20,00%Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

Em ambos os períodos, 2009 e 2010, obteve-se os mesmos 20% de margem de lucro bruto. O volume de vendas cresceu, mas com a manutenção do preço de venda, do CMV e da carga tributária, a margem de lucro bruto manteve-se a mesma.

As ações que permitem aumentar esta margem são:

• aumentar o preço de venda e/ou;• reduzir os custos do produto, ou ainda;• aumentar o giro com a redução do preço de venda e/ou aumento dos prazos de

recebimento.

4.4.2 Margem de lucro operacional

A margem de lucro operacional é a diferença do preço de venda dos produtos, descontados todos os impostos, custos das mercadorias vendidas, despesas administrativas e de pessoal. Apenas não são consideradas as despesas ou receitas financeiras.

QUADRO 15 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL

Fórmula de Cálculo Resultado

Marge de Lucro Operacional =Lucro Operacional 2.400,00

= 0,02 * 100 = 2%Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

A margem de lucro operacional de 2009 foi de 1,49%, que aumentou para 2,00% em 2010. As ações que contribuem para melhorar a margem de lucro bruto também contribuem para melhorar a margem de lucro operacional.

Na melhora da margem de lucro operacional devem ser observadas as despesas administrativas e de pessoal.

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4.4.3 Margem de lucro líquido

A margem de lucro líquido é a diferença do preço de venda dos produtos, descontados todos os impostos, custos, despesas administrativas, de pessoal e financeiras. Agora são consideradas as despesas ou receitas financeiras.

QUADRO 16 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO LÍQUIDO

Fórmula de Cálculo Resultado

Marge de Lucro Líquido =Lucro Líquido 2.175,00

= 0,0181*100 = 1,81%Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

A elevação das despesas financeiras de 2009 para 2010 não impediu que a margem de lucro líquido fosse elevada de 1,32% para 1,81% em 2010. O aumento das vendas, a manutenção dos custos das mercadorias vendidas, o controle das despesas administrativas e financeiras e as despesas financeiras contribuíram para a elevação da margem de lucro líquido.

As ações desenvolvidas para a melhora da margem de lucro bruto e operacional também afetam a margem de lucro líquido, influenciada principalmente pelas despesas e receitas financeiras.

4.4.4 Retorno do ativo total

O retorno do ativo total, também conhecido por retorno do investimento, mede a eficácia geral da empresa em obter lucros com os seus ativos. Quanto maior, melhor o retorno.

QUADRO 17 – CÁLCULO DO RETORNO DO ATIVO TOTAL

Fórmula de Cálculo Resultado

Retorno do Ativo Total =Lucro Líquido 2.175,00

= 0,05 * 100 = 5,49%Ativo Total 39.612,00

FONTE: O autor

Em 2010, o retorno do ativo total foi de 5,49%, enquanto que em 2009 foi de 4,05%. Para que seja melhorado o retorno do ativo total, a empresa precisa aumentar o seu lucro líquido nas operações, evitando aumento do ativo total.

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4.4.5 Retorno do capital próprio

O capital próprio representa o montante de recursos investidos pelo sócio ao negócio. O dono do capital analisa as diferentes oportunidades no mercado para investir o seu dinheiro e deste espera o retorno. O retorno do capital próprio é o índice que mede o retorno que os donos têm sobre o seu capital investido no empreendimento.

Compara-se este retorno com outras oportunidades disponíveis no mercado, a fim de direcionar os investimentos ao que apresentar maior retorno.

QUADRO 18 – CÁLCULO DO RETORNO DO CAPITAL PRÓPRIO

Fórmula de Cálculo Resultado

Retorno do Capital Próprio =Lucro Líquido 2.175,00

= 0,11 * 100 =10,74%Capital Social 20.250,00

FONTE: O autor

O retorno do capital próprio também aumentou em relação a 2009, onde tínhamos 7,60% e agora em 2010 este retorno é de 10,74%. Numa situação real, possivelmente, o retorno de 2009 é inexpressivo, já em 2010 apresenta-se um pouco superior à aplicação do dinheiro na poupança.

Nestes casos, você, dono do capital, passa a exigir um retorno mais alto. Nestes percentuais apresentados, é mais conveniente procurar uma aplicação financeira para fazer render o seu dinheiro, ao invés de se arriscar numa atividade empresarial.

DICAS

Elabore uma planilha eletrônica com os principais dados do DRE e do balanço patrimonial de uma empresa, elabore as fórmulas para calcular os índices e faça as análises e simulações.

4.4.6 Análise completa

Não se pode realizar uma análise por meio de um único índice, pois este pode apresentar uma imagem falsa. Nenhum índice, por si só, é adequado para avaliar os aspectos relativos à situação financeira da empresa.

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TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

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Uma análise completa da situação financeira da empresa poderá ser feita por:

• Análise Geral: de vários índices, para reunir todos os aspectos das atividades da empresa, identificando as principais necessidades ou áreas de responsabilidade. Para se chegar a este resultado é necessário realizar uma análise dos quatro grupos, isoladamente, avaliando: liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade. Na sequência, avaliar o risco (liquidez, atividade e endividamento) com as possibilidades de retorno (rentabilidade).

• Análise DuPont: visa identificar as principais áreas responsáveis pelo retorno do patrimônio líquido, ou seja, pelo desempenho financeiro; a partir do desdobramento do: lucro sobre as vendas, eficiência na utilização do ativo e uso da alavancagem.

IMPORTANTE

Na análise, o gestor financeiro precisa considerar o conjunto destes indicadores.

A figura a seguir ilustra o Sistema de Análise DuPont, aplicado ao exemplo da camisaria deste Caderno de Estudos:

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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FIGURA 1 – SISTEMA DE ANÁLISE DUPONT

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 126)

Os elementos da figura acima foram extraídos do exemplo da camisaria, tomando como base o ano de 2010, e alguns índices já foram calculados anteriormente.

o

(=) ROB: R$ 120.000,00

(-) Imposto: R$ 12.000,00

(-) CMV: R$ 84.000,00 (=) Lucro Líquido

(=) Ativo Circulante

(=) Exigível Total

(=) Pat. Líquido, R$ 20.250,00

(=) Pat. Líquido, R$ 20.250,00

(=) Passivo e PL, R$ 39.612,00

(=) Multiplicador de Alavancagem Financeira 1,96

(=) Taxa de Retorno sobre o Patrimônio

Líquido 10,72%

(=) Giro do Ativo Total 3,03

(=) Retorno sobre o Ativo Total 5,48%

(=) ROB

(=) ROB

dividido por

dividido por

dividido por

menos

menos

menos

menos

menos

mais

mais

mais

multiplicado por

multiplicado por

mais

(=) Margem Líquida 1,81%(-) D. Adm: R$ 6.000,00

(-) Pessoal: R$ 15.000,00

(-) D. Financ: R$ 250,00

(+) R. Financ: R$ 25,00

(+) Ativo Circulante

(+) Passivo Circulante

(+) Exigível a Longo Prazo

(+) Ativo Permanente Líquido: R$ 21.030,00

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Neste primeiro tópico desta unidade aprendemos um pouco sobre:

•A gestão financeira é a gestão do dinheiro. Para isso é necessário saber como recebemos, pagamos, investimos e, principalmente, fazer este dinheiro render.

•As empresas podem ser firmas individuais, sociedade por cotas ou ainda sociedade por ações. Independentemente da sua forma, todas precisam realizar a gestão financeira.

•Todas as pessoas e empresas estão sujeitas a um enquadramento e regime de tributação, nas suas esferas municipal, estadual e federal.

•Na gestão financeira precisamos contar com demonstrações dos fatos. Conhecemos o DRE (Demonstração do Resultado do Exercício e o Balanço Patrimonial).

•As demonstrações são elaboradas em Regime de Competência ou Regime de Caixa.

•O regime de competência representa uma análise econômica que expressa as receitas, despesas e resultados, sem considerar o momento temporal em que ocorrem os pagamentos ou recebimentos.

•O regime de caixa expressa o momento temporal em que os pagamentos e recebimentos ocorrem.

•Os índices são termômetros para as empresas, e em cada uma de suas classificações, têm finalidades específicas de medição.

•Os índices vão apontar algumas situações, para que possamos tomar decisões, a fim de garantir os resultados.

•Apresentamos índices de liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade. Todos vão permitir avaliar a situação da empresa, comparando-a com períodos anteriores, projetando períodos futuros e, ainda, com outras empresas do mesmo setor.

•O risco é avaliado a partir dos índices de liquidez, atividade e endividamento. Os índices de rentabilidade evidenciam o retorno do negócio.

•A análise financeira de uma empresa não pode ocorrer com os índices isolados. Deve-se considerar o conjunto de índices. O sistema de análise DuPont permite uma análise completa.

•A análise de índices pode ser vertical, temporal ou combinada.

RESUMO DO TÓPICO 1

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AUTOATIVIDADE

Vamos agora fixar o que aprendemos, respondendo algumas questões:

1 Complete a sentença a seguir: A Gestão Financeira é uma atividade __________, que pode ser definida

como ______ e _______ da gestão do __________.

2 Por que a Gestão Financeira tem relação direta com a teoria econômica e com a contabilidade?

3 Quais são as três esferas governamentais de tributação, nas quais as empresas podem estar inseridas?

4 Diferencie as demonstrações: DRE e balanço patrimonial.

5 Qual a estrutura básica de um DRE?

6 Como são organizadas as contas do ativo e do passivo?

7 O que é descoberto com os índices de liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade?

8 Monte o DRE e o balanço patrimonial, considerando os seguintes dados de uma empresa que comercializou calças em 2010.

a) Vendeu 13.000 calças ao preço de R$ 20,00, sendo que cada uma custa R$ 10,00.b) 15% de impostos sobre as vendas.c) O terreno da empresa representa R$ 40.000,00, as máquinas e equipamentos

R$ 7.000,00 e os móveis e utensílios R$ 3.500,00. A depreciação acumulada representa o total de R$ 13.000,00.

d) As despesas de pessoal são de R$ 30.000,00 e as administrativas de R$ 12.000,00.e) As contas a pagar representam R$ 9.000,00, os títulos a pagar R$ 5.000,00 e

as despesas a pagar R$ 8.000,00.f) Os estoques totalizam R$ 20.000,00 e o contas a receber é de R$ 13.000,00.g) O caixa é de R$ 1.000,00 e as aplicações financeiras totalizam R$ 10.000,00.h) O capital social investido pelos sócios representa R$ 34.000,00.i) As dívidas de longo prazo somam a importância de R$ 25.500,00.

9 A partir do DRE e balanço patrimonial a seguir, calcule os índices:

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ATIVOS 2010Ativos CirculantesCaixa 2.320,00Aplicações financeiras 6.050,00Contas a receber 15.500,00Estoques 19.800,00Total dos ativos circulantes 43.670,00Ativos permanentes (ao custo)Terrenos e edificações 20.200,00Máquinas e equipamentos 9.950,00Móveis e utensílios 4.890,00Veículos 0,00Total dos ativos permanentes 35.040,00Depreciação acumulada 7.010,00Ativos permanentes líquidos 28.030,00TOTAL DOS ATIVOS 71.700,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDOPassivo CirculanteContas a pagar 12.359,00Títulos a pagar 11.340,00Despesas a pagar 8.498,00Total dos passivos circulantes 32.197,00Exigível de longo prazo 13.503,00Total dos passivos 45.700,00Patrimônio líquidoCapital social 26.000,00TOTAL DOS PASSIVOS E PL 71.700,00

DRE 2010(=) ROB / faturamento R$ 250.000,00(-) Impostos (20% sobre a ROB) R$ 50.000,00(=) ROL (ROB – impostos) R$ 200.000,00(-) CMV R$ 80.000,00 (=) Lucro bruto R$ 120.000,00(-) Despesas administrativas R$ 60.000,00(-) Despesas de pessoal R$ 45.000,00(=) Lucro operacional R$ 15.000,00(-) Despesas financeiras R$ 5.000,00(+) Receitas financeiras R$ 0,00(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 10.000,00

Liquidez CorrenteLiquidez SecaGiro de EstoquesPrazo Médio de Recebimento (PMR)Prazo Médio de Pagamento (PMP)Giro do Ativo TotalEndividamento Geral

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Cobertura de JurosMargem de Lucro BrutoMargem de Lucro OperacionalMargem de Lucro LíquidoRetorno do Ativo TotalRetorno do Capital Próprio

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TÓPICO 2

FLUXOS E PLANEJAMENTO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Na Gestão Financeira, os fluxos expressam os recebimentos e os pagamentos, ou seja, as entradas e as saídas de dinheiro do caixa. Estes fluxos, geralmente, não apresentam equilíbrio, ou seja, a mesma quantidade que recebemos não é a que pagamos, e vice-versa.

Conhecer este fluxo da empresa é fundamental para o gestor financeiro saber lidar com os picos: será que vou ter dinheiro para realizar estes pagamentos? O que fazer com todo este dinheiro? E como lidar com a necessidade de novos investimentos?

Estas dúvidas passam a ser sanadas a partir do momento em que temos todos os dados que nos dão uma noção certa das coisas. O planejamento é indispensável, pois, ao planejar você estará criando um cenário futuro do que poderá acontecer. Neste momento, você também pode avaliar a possibilidade de novos investimentos ou, ainda, tomar decisões para enfrentar uma crise.

Ao final desta unidade iremos projetar as demonstrações e os balanços para auxiliar a cuidar do dinheiro ao longo do tempo.

2 FLUXOS DE CAIXA

Antes de falarmos sobre os fluxos de caixa, precisamos relembrar o regime de competência e o regime de caixa, explicado no tópico anterior. Um demonstrativo por competência ou regime de competência é uma análise econômica, que pretende expressar as receitas, despesas e o resultado do período, não importando o momento temporal em que ocorrem os pagamentos ou recebimentos. Aqui não sabemos exatamente o momento em que o dinheiro entra ou sai.

Já o demonstrativo por caixa, ou regime de caixa, expressa o momento temporal em que ocorrem os pagamentos e recebimentos. Sabemos exatamente o momento em que o dinheiro entrou ou saiu, podendo ser de outras competências diferentes do período apresentado.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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O fluxo de caixa apresenta as entradas e saídas, bem como as necessidades diárias ou de um período. Nos fluxos de caixa também aparecem os investimentos e sua depreciação – desvalorização que ocorre em função da idade e do uso do bem.

Ao elaborar a demonstração do fluxo de caixa, consideramos:

• Fluxos operacionais: consideram todas as entradas e saídas diretamente relacionadas à produção e comercialização dos produtos e/ou serviços.

• Fluxos de investimentos: expressam as aquisições de imobilizado (terrenos, edificações, máquinas, equipamentos, móveis, utensílios e veículos) e participações societárias.

• Fluxos de financiamentos: demonstram os recebimentos e pagamentos de capital próprio (dinheiro dos sócios) e ainda do capital de terceiros (dinheiro emprestado de não sócios).

FIGURA 2 – FLUXOS DE CAIXA

FONTE: Gitman (2004, p. 87)

Da figura acima é preciso conhecer cada um dos detalhes dos fluxos: operacionais, de investimento e de financiamentos; pois destes detalhes chegamos aos resultados, revelando lucro ou prejuízo do período.

O quadro a seguir ilustra os fluxos operacionais, de investimentos e financiamentos para o ano de 2010 do exemplo da camisaria. Para melhor compreensão, utilize também os quadros 2 e 5 do Tópico 1 desta unidade.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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QUADRO 19 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

Fluxo de caixa das atividades operacionais Cálculo Fluxo

Lucro líquido 2.175,00

Depreciação (e outras despesas não

desembolsáveis)10010,00 – 9760,00 250,00

Contas a receber (aumentou) 7500,00 – 5500,00 -(2.000,00)

Estoques (diminuiu) 9800,00 – 12500,00 2.700,00

Contas a pagar 8359,00 – 7297,00 1.062,00

Outras despesas a pagar 4160,00 – 3915,00 245,00

Caixa gerado pelas atividades operacionais 4.432,00

Fluxo de caixa das atividades de investimento

Ativo Permanente (aumentou) 31040,00 – 27890,00 -(3.150,00)

Variações em participações societárias 0,00 – 0,00 0,00

Caixa aplicado em atividades de investimentos -(3.150,00)

Fluxo de caixa das atividades de financiamento

Títulos a pagar (aumentou) 3340,00 – 2980,00 360,00

Exigível de longo prazo (aumentou) 3503,00 – 3240,00 263,00

Variações no patrimônio líquido (aumentou) 20250,00 – 19880,00 370,00

Caixa gerado pelas atividades de financiamento 993,00

Aumento Líquido em caixa e títulos negociáveis 4432 + (-3150) + 993 2.275,00

FONTE: O autor

Algumas explicações do quadro acima:

A depreciação deve ser tratada com valor positivo, pois não ocorreu a saída de caixa.

A diferença no contas a receber é de R$ 2.000,00. Como ocorreu um aumento, este valor é representado no fluxo como negativo; já se tivesse ocorrido uma redução, então o valor seria positivo.

O valor do estoque diminuiu, representando a diferença de R$ 2.700,00 como uma disponibilidade, por isso o valor no fluxo é positivo. Caso houvesse um aumento nos estoques, este valor no fluxo seria negativo.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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Contas a pagar aumentou, então a diferença é positiva no fluxo. Se tivesse diminuído, a diferença representaria uma redução no fluxo (negativo).

Outras despesas a pagar têm a mesma interpretação de contas a pagar.

Somados os fluxos operacionais, encontra-se o resultado de caixa gerado pelas atividades operacionais.

O ativo permanente aumentou, representando que a diferença diminui o fluxo.

Títulos a pagar também aumentou, significando que a diferença é positiva no fluxo; agora, se tivéssemos reduzido os títulos a pagar, teríamos uma disponibilidade menor no fluxo (negativa).

Da mesma forma, temos a interpretação para o exigível de longo prazo e a variação do Patrimônio Líquido.

Ao final, somados os fluxos operacionais, de investimentos e financiamentos, é obtido o aumento líquido em caixa e títulos negociáveis de R$ 2.275,00. Caso o fluxo retornasse um valor negativo, teríamos sinais de problemas na empresa.

UNI

O fluxo de caixa deve ser elaborado com muita atenção, pois qualquer lançamento ou interpretação errada trará um resultado final errado.

Um gestor financeiro não vai se limitar apenas aos resultados apresentados, mas irá realizar o planejamento financeiro, considerando as ações de:

• Longo Prazo: geralmente, as decisões tomadas pelos dirigentes estratégicos em cada uma das áreas da empresa. Podemos exemplificar como: construção de uma nova fábrica, expansão para novos mercados, criação de uma nova linha de produtos, novos investimentos na produção, ou até mesmo a redução de quaisquer itens.

• Curto Prazo: são as providências operacionais do dia a dia, conforme ilustradas na Figura 1 – nos fluxos operacionais.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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O Quadro 19 apresentou a demonstração do fluxo de caixa anual, incluindo os fluxos operacionais, de investimentos e financiamentos. No dia a dia das empresas, o fluxo de caixa é controlado em detalhes, identificando todas as receitas e despesas, apontando, ao final de cada dia, a disponibilidade ou necessidade de dinheiro. Uma demonstração deste fluxo está representada no quadro a seguir:

QUADRO 20 – FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL DIÁRIO

Movimento / Data 04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-ano 07-mês-ano ... 15-mês-ano(=) Saldo inicial 2.000,00 2.200,00 600,00 1.025,00 480,00(+) Vendas 300,00 350,00 500,00 450,00 200,00(-) Impostos 0,00 1.000,00 0,00 0,00 0,00(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(-) Despesas administrativas 100,00 50,00 0,00 300,00 0,00

(-) Despesa pessoal 0,00 900,00 0,00 400,00 0,00

(-)Despesas financeiras 0,00 0,00 75,00 0,00 0,00

(+)Receitas financeiras 0,00 0,00 0,00 25,00 0,00

(=) Saldo final 2.200,00 600,00 1.025,00 800,00 680,00

FONTE: O autor

O quadro acima revela:

O saldo final de cada período é o saldo inicial do período seguinte.

Não podemos nos iludir com o saldo de R$ 2.200,00 do dia 4, pois nas datas futuras é preciso efetuar o pagamento dos impostos, das despesas com pessoal e dos fornecedores – estes não foram demonstrados no quadro acima.

As despesas de pessoal ocorreram em duas datas, possivelmente no dia 5 foi o pagamento aos funcionários e no dia 7 o pagamento dos encargos sociais.

O pagamento dos impostos e das despesas com pessoal costuma estar concentrado em poucas datas no mês.

Espera-se que as vendas e o seu recebimento sejam diários, mas a cada dia o montante é diferente, apresentando oscilações. No exemplo acima, possivelmente, nos dias 6 e 7 o volume de vendas foi maior, por ser próximo à data em que as pessoas recebem o seu pagamento e podem ir às compras.

O saldo ao final do dia 8 representa ser 1/3 do saldo final do dia 4. Existem períodos no mês em que as saídas são maiores que as entradas, e vice-versa.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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É preciso lembrar-se da necessidade de recompor o saldo para pagar os fornecedores.

Assim que o fluxo revelar um saldo negativo, estará representando falta de dinheiro para pagar as contas. Neste caso, o gestor financeiro precisa aumentar ou antecipar recebimentos, e ainda, negociar os pagamentos para uma data futura.

3 ORÇAMENTOS DE CAIXA

Segundo Gitman (2004, p. 94):

O orçamento de caixa é uma demonstração que apresenta as entradas e as saídas de caixa planejadas da empresa, que a utiliza para estimar suas necessidades de caixa no curto prazo, com especial atenção para o planejamento do uso de superávits e a cobertura de déficits.

Os orçamentos de caixa procuram projetar em torno de um ano.

O departamento comercial da empresa é o nosso ponto de partida. A partir do momento em que conhecemos as previsões de vendas mensais e anuais, podemos nos programar com a compra de estoques (matérias-primas ou produtos acabados) e a alocação dos demais recursos para que ocorra a produção necessária para atender à demanda prevista, nos casos das indústrias; ou ainda, que se tenha um controle dos estoques de produtos acabados para a sua comercialização.

A atividade de prever as vendas deve considerar as capacidades internas de produção da empresa, para que não se venda mais do que efetivamente é possível produzir ou entregar. Ainda mais importante é observar o mercado, com a finalidade de compreendermos se nosso produto terá aceitação, verificar a existência de produtos substitutos ou, ainda, a concorrência. Em tempos de turbulência, não é uma tarefa fácil.

UNI

Como está o seu orçamento para o próximo mês? Sabe quanto vai receber e gastar? Sabe o que fazer para sobrar, ou sobrar um pouco mais? Verifique como pode aumentar a sua renda e diminuir os seus gastos.

O orçamento pode ser realizado estimando-se os fluxos diários, que podem, ao final, projetar o orçamento mensal e anual. O quadro a seguir ilustra um orçamento.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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QUADRO 21 – ORÇAMENTO DE CAIXA OPERACIONAL DIÁRIO

Movimento / data 04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-ano 07-mês-ano ... 15-mês-ano

(=) Saldo inicial 2.500,00 2.880,00 1.340,00 1.667,00 480,00

(+) Vendas 500,00 500,00 400,00 400,00 200,00

(-) Impostos 0,00 1.100,00 0,00 0,00 0,00

(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(-) Despesas administrativas

120,00 40,00 0,00 200,00 0,00

(-) Despesa pessoal 0,00 900,00 0,00 400,00 0,00

(-) Despesas financeiras 0,00 0,00 73,00 0,00 0,00

(+) Receitas financeiras 0,00 0,00 0,00 25,00 0,00

(=) Saldo final 2.880,00 1.340,00 1.667,00 1.492,00 680,00

FONTE: O autor

NOTA

Este Quadro 21 segue a mesma estrutura do Quadro 20. Será que estou andando em círculos? Preciso avançar neste caderno. Calma, vamos explicar...

No Quadro 21 estamos orçando os acontecimentos, estamos realizando uma previsão. O quadro 20 apresentou os fluxos ocorridos. Vamos ao próximo quadro, para comparar o orçado com o realizado.

QUADRO 22 – VALORES ORÇADOS

Movimento / data

04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-anoOrçado Realizado Diferença Orçado Realizado Diferença Orçado Realizado Diferença

(=) Saldo Inicial 2.500,00 2.000,00 -(500,00) 2.880,00 2.200,00 -(680,00) 1.340,00 600,00 -(740,00)(+) Vendas 500,00 300,00 -(200,00) 500,00 350,00 -(150,00) 400,00 500,00 100,00(-) Impostos 0,00 0,00 0,00 1.100,00 1.000,00 100,00 0,00 0,00 0,00(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00(-) Despesas administrativas

120,00 100,00 20,00 40,00 50,00 -(10,00) 0,00 0,00 0,00

(-) Despesa pessoal

0,00 0,00 0,00 900,00 900,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(-) Despesas financeiras

0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 73,00 75,00 -(2,00)

(+) Receitas financeiras

0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(=) Saldo final 2.880,00 2.200,00 -(680,00) 1.340,00 600,00 -(740,00) 1.667,00 1.025,00 -(642,00)

FONTE: O autor

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

40

O Quadro 22 confronta os valores orçados com o efetivamente realizado, apontando as diferenças:

• O recebimento das vendas ficou abaixo do orçado nos dias 4 (40%) e 5 (30%), superando apenas no dia 6 (25%).

• O valor pago de impostos ficou abaixo do previsto, possivelmente, pelas baixas vendas do mês anterior.

• As despesas administrativas apresentaram uma pequena variação.

• As despesas de pessoal não apresentaram variações, pois este é um custo previsível para a maioria das atividades. Sabe-se o salário e todos os encargos sociais, bem como as datas mensais para os seus pagamentos.

• O realizado das despesas financeiras ficou um pouco maior do que o orçado. Talvez as baixas vendas do período anterior fizeram com que a empresa tivesse que recorrer a mais capital de terceiros e, consequentemente, aumentar sua despesa financeira.

Deste orçamento diário (quadros 21 e 22) vai derivar o orçamento de caixa mensal, ilustrado no quadro a seguir, num formato geral de orçamento de caixa.

QUADRO 23 – ORÇAMENTO DE CAIXA

Janeiro Fevereiro ... Dezembro(=) Recebimentos R$ 2.500,00 R$ 5.000,00 R$ 10.000,00(-) Pagamentos R$ 3.500,00 R$ 7.000,00 R$ 7.000,00(=) Fluxo líquido de caixa (-R$ 1.000,00) (-R$ 2.000,00) R$ 3.000,00(+) Saldo inicial R$ 0,00 (-R$ 1.000,00) R$ 21.500,00(=) Saldo final (-R$ 1.000,00) (-R$ 3.000,00) R$ 24.500,00(-) Saldo mínimo de caixa R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00(=) Financiamento total exigido R$ 2.000,00 R$ 4.000,00 R$ 0,00(=) Saldo excedente R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 23.500,00

FONTE: Adaptado de Gitman (2004)

O quadro acima pode ilustrar o orçamento do exemplo que nos acompanha neste caderno – a camisaria. Para o faturamento de 12 mil camisetas em 2010, teríamos vendido 10 mil camisetas/mês, mas elas não ocorrem igualmente em cada um dos meses. Há meses em que vendemos mais e, noutros, menos.

Se tivéssemos realizado o orçamento do quadro 23 para o ano de 2010, no ano anterior, estaríamos prevendo alguma dificuldade de recebimento nos primeiros meses do ano, com a necessidade de algum financiamento. Já o aquecimento das vendas nos meses seguintes projeta um saldo excedente ao final do ano (Dezembro/2010).

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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NOTA

Lembre-se de que não vendemos todos os meses exatamente a mesma quantidade e ao mesmo preço. As quantidades podem variar mês a mês, por uma série de variáveis. Assim como os recebimentos, as despesas também oscilam.

Que saldo fantástico que obtivemos em um ano: R$ 23.500,00! Não se iluda, no orçamento de caixa do quadro anterior consideramos apenas o preço de venda e preço de compra. As vendas incluem as vendas previstas, as vendas à vista, os recebimentos das contas a receber e outros recebimentos. Já os pagamentos são muitos.

O orçamento de caixa revelará a evolução dos números no decorrer do ano, mês a mês. Através dele também pode-se tomar algumas decisões para que os resultados finais sejam alcançados, realizando ajustes no decorrer dos meses. Pode-se ainda constatar determinado mês com uma falta muito grande de dinheiro, mas em alguns meses poderá haver o excedente (superávit).

Para evitar surpresas, um orçamento mais provável também deve considerar um cenário pessimista e outro otimista. As atividades de planejamento precisam levar sempre em consideração as três condições:

• Pessimista: onde muitas coisas podem dar errado, poucas vendas, inadimplência alta e muitos pagamentos a serem realizados.

• Mais provável: geralmente é reproduzido dentro daquilo que vem ocorrendo nos últimos períodos.

• Otimista: geralmente consideramos altas vendas, além do pagamento de todos os compromissos.

Também é possível combinar as condições citadas acima no decorrer do ano.

Um bom gestor financeiro dá os seus primeiros passos controlando o seu dinheiro, procurando aumentar os seus ganhos, diminuir as despesas e acumulando alguma riqueza. O quadro a seguir apresenta um orçamento familiar.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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QUADRO 24 – ORÇAMENTO DOMÉSTICO

OrçamentoJan Fev Mar

Valor % Valor % Valor %

Recebimento de salários e outros auxílios. 1.635,00 100% 2.175,00 100% 1.635,00 100%

Despesas.

Alimentação (supermercado, lanchonete, restaurante, padaria, entre outros).

400,00 24,5% 390,00 21,7% 400,00 25,4%

Comunicação (telefone fixo, móvel, internet, entre outros). 65,00 3,9% 65,00 3,6% 65,00 4,1%

Educação (mensalidade, material escolar, uniforme etc.). 200,00 12,4% 300,00 16,7% 200,00 12,7%

Impostos (Imposto de Renda, IPTU, IPVA, Seguro Obrigatório, ente outros).

30,00 1,8% 30,00 1,7% 20,00 1,3%

Lazer (cinema, livros, revistas, cd´s, viagens, entre outros). 50,00 3,0% 80,00 4,4% 30,00 1,9%

Moradia (aluguel, condomínio, manutenção, água, energia, gás etc.).

400,00 24,5% 400,00 22,3% 420,00 26,7%

Saúde (plano de saúde, remédios, médicos, dentista, academia etc.) 80,00 4,9% 60,00 3,4% 40,00 2,5%

Seguros (carro, casa, vida, previdência, residência etc.). 50,00 3,0% 50,00 2,8% 50,00 3,2%

Transporte (ônibus/metrô, combustível, seguros, manutenção, entre outros).

300,00 18,4% 340,00 19,0% 310,00 19,7%

Vestuário (roupas e calçados). 60,00 3,6% 80,00 4,4% 40,00 2,5%

Total das despesas 1.635,00 100% 1.795,00 100% 1.575,00 100%

Saldo 0,00 0% 380,00 17,5% 60,00 3,6%

FONTE: O autor

Deste orçamento (modelo Quadro 23), algumas considerações:

Os ganhos são da média de R$ 1.635,00. Em janeiro não sobrou nem faltou dinheiro.

No mês de fevereiro o ganho foi maior, proveniente do adicional de férias. As despesas também aumentaram um pouco, mas com controle, pois fez sobrar R$ 380,00, ou seja, 17,5% dos ganhos do mês.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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No mês de março os recebimentos voltaram à normalidade, mas agora com uma sobra de R$ 60,00, ou seja, 3,6% dos ganhos.

As grandes contas neste primeiro trimestre são: moradia, alimentação e transporte.

A educação teve no mês de fevereiro um adicional de R$ 100,00, proveniente de despesas com material e uniforme escolar de seu filho. A sua despesa com educação permanece estável. A educação é considerada um investimento, pois o conhecimento permitirá melhor desempenho e trará oportunidades de ascensão.

As demais despesas não somam tanto quanto moradia, alimentação, transporte e educação; mas necessitam de controle, pois afetam o saldo final do mês.

A coluna do percentual (%) em cada um dos meses expressa o quanto da despesa total é atribuído a cada uma das despesas.

O quadro 23 pode expressar o orçamento, projetando os resultados, sendo uma previsão para o trimestre, semestre ou ano.

Vale a pena repetir o quadro, agora considerando o que efetivamente aconteceu. Será que houve empate, sobra ou falta de dinheiro?

DICAS

Torne-se um bom gestor financeiro, dando os primeiros passos ao cuidar das suas finanças. Você pode encontrar na internet uma série de planilhas que permitem elaborar orçamentos domésticos mais detalhados.

4 DEMONSTRAÇÕES E BALANÇOS PROJETADOS

No Tópico 1 desta unidade apresentamos o DRE - Demonstração de Resultados do Exercício e as estruturas do Balanço Patrimonial. Estas estruturas são muito utilizadas pelos administradores e gestores, para análise dos indicadores de desempenho e outras providências.

É fundamental que no planejamento financeiro possamos projetar as demonstrações e os balanços. Com estas projeções conseguimos, inclusive, avançar na análise dos índices. Geralmente, tem-se como base os dados do exercício anterior e incorporam-se às previsões para o período ou exercício seguinte.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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O DRE a seguir, projetado para 2011, projeta um aumento geral de 9% nos custos e demais despesas e um incremento nas vendas de 10%. O aumento de 9% no custo das camisetas será repassado ao preço de venda.

A camiseta que custava R$ 7,00, com o aumento de 9%, passará a custar R$ 7,63. Mantendo a margem de 30%, esta camiseta será vendida por (7,63 / (1-30%)) R$ 10,90 em 2011.

Como se projeta um incremento de 10% nas vendas em relação ao ano anterior, em 2011 estima-se a venda de 13.200 camisetas ao preço de R$ 10,90, que resulta numa ROB ou faturamento de R$ 143.880,00. A partir daí, podemos concluir o DRE projetado, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 25 – PROJEÇÃO DO DRE

2011 2010(=) ROB / faturamento R$ 143.880,00 R$ 120.000,00(-) Impostos (10% sobre a ROB) R$ 14.388,00 R$ 12.000,00(=) ROL (ROB – impostos) R$ 129.492,00 R$ 108.000,00(-) CMV (R$ 7,00 + 9% = R$ 7,63 / camiseta) R$ 100.716,00 R$ 84.000,00 (=) Lucro bruto R$ 28.776,00 R$ 24.000,00(-) Despesas administrativas R$ 6.540,00 R$ 6.000,00(-) Despesas de pessoal R$ 17.004,00 R$ 15.600,00(=) Lucro operacional (antes das despesas e receitas financeiras) R$ 5.232,00 R$ 2.400,00(-) Despesas financeiras R$ 272,50 R$ 250,00(+) Receitas financeiras R$ 28,00 R$ 25,00(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 4.987,50 R$ 2.175,00

FONTE: O autor

Da projeção de venda de 13.200 camisetas para 2011, sabe-se que não irá ocorrer a venda média de exatamente 1.100 camisetas/mês. Alguns fatores farão com que em determinados meses as vendas estejam abaixo desta média, enquanto outros na média e, ainda, alguns acima da média. O planejamento, projetando as vendas mensais, deve considerar esta variação mensal nas vendas, a fim de projetar os resultados próximos da sua realização.

O Quadro 25 apresenta a projeção do DRE para o ano de 2011, considerando o realizado em 2010. É fundamental que esta projeção anual esteja diluída em períodos menores: meses ou dias.

As surpresas do dia a dia podem acarretar em dificuldades financeiras do mês. Repetindo-se estas surpresas nos meses seguintes, a empresa pode ter dificuldades de fechar mais um ano (exercício). Quanto mais detalhada for esta projeção, melhor pode-se acompanhar o realizado, revendo algumas decisões a fim de alcançar os resultados projetados.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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ATENCAO

Para que micro e pequenas empresas cresçam, é necessário projetar os seus resultados. Muitas desconhecem os seus fluxos e não apresentam orçamentos, da mesma forma que um barco vai para a direção em que sopra o vento.

Assim como se projetou um DRE, o quadro a seguir projeta o balanço patrimonial para 2011.

QUADRO 26 – PROJEÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVOS 2011 2010Ativos circulantesCaixa 1.232,00 232,00Aplicações financeiras 2.050,00 1.050,00Contas a receber 8.000,00 7.500,00Estoques 8.800,00 9.800,00Total dos ativos circulantes 20.082,00 18.582,00Ativos permanentes (ao custo)Terrenos e edificações 25.200,00 25.200,00Máquinas e equipamentos 5.850,00 3.950,00Móveis e utensílios 2.190,00 1.890,00Veículos 0,00 0,00Total dos ativos permanentes 33.240,00 31.040,00Depreciação acumulada 12.140,00 10.010,00Ativos permanentes líquidos 21.100,00 21.030,00TOTAL DOS ATIVOS 41.182,00 39.612,00PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDOPassivo CirculanteContas a pagar 8.392,00 8.359,00Títulos a pagar 2.040,00 3.340,00Despesas a pagar 3.970,00 4.160,00Total dos passivos circulantes 14.402,00 15.859,00Exigível de longo prazo 6.530,00 3.503,00Total dos passivos 20.932,00 19.362,00Patrimônio líquidoCapital social 20.250,00 20.250,00TOTAL DOS PASSIVOS E PL 41.182,00 39.612,00

FONTE: O autor

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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É importante lembrar que durante o ano podem ocorrer situações que impliquem no ajuste do planejamento. Da projeção do balanço acima, evidenciamos:

• Mais dinheiro no caixa e nas aplicações financeiras.

• Uma redução dos níveis de estoque. Compram-se menos mercadorias ou as vendas aumentam para as quantidades que sempre eram compradas.

• Algum investimento em máquinas e equipamentos.

• Redução do Passivo Circulante, mas aumento do Exigível de longo prazo. Projeta-se a realização de algum financiamento de longo prazo.

A partir destas projeções do DRE (Quadro 25) e do balanço patrimonial (Quadro 26), é possível recalcular todos os índices que você aprendeu no Tópico 1 desta unidade, para verificar o que melhora e o que piora. O quadro a seguir sintetiza os índices numa série temporal de 2009 e 2010, incluindo a projeção de 2011.

QUADRO 27 – SÉRIE TEMPORAL DOS ÍNDICES REALIZADOS E PROJETADOS

Índice 2009 2010 2011Índices de liquidezLiquidez corrente 1,35 1,17 1,39Liquidez seca 0,47 0,55 0,78Índices de atividadeGiro do estoque 6,38 8,57 11,45Prazo médio de recebimento 17,37 22,50 20,02Prazo médio de pagamento 32,92 35,82 30,00Giro do ativo total 3,06 3,03 3,49Índices de endividamentoEndividamento geral 8,68% 8,84% 15,86%Cobertura de juros 8,50 9,60 19,20Índices de rentabilidadeMargem de lucro bruto 20,00% 20,00% 20,00%Margem de lucro operacional 1,49% 2,00% 3,64%Margem de lucro líquido 1,32% 1,81% 3,47%Retorno do ativo total 4,05% 5,49% 12,11%Retorno do capital próprio 7,60% 10,74% 24,63%

FONTE: O autor

Se for confirmada a projeção para 2011, os índices do Quadro 27 estarão corretos e as análises a seguir poderão ser consideradas verdadeiras numa análise dos três últimos anos:

• A liquidez corrente apresentou recuperação pela diminuição das contas a receber (os prazos de recebimento foram reduzidos), pelos menores níveis de estoque e pela redução do passivo circulante.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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• A liquidez seca demonstra uma melhor gestão dos estoques: menores quantidades e, consequentemente, maior giro.

• Os prazos médios de recebimento são reduzidos, bem como o de pagamento. Este ao menor nível.

• O giro total do ativo aumentou, decorrente do aumento das vendas e da manutenção do ativo total.

• O endividamento geral da empresa aumentou bastante, mas a sua cobertura de juros também aumentou.

• Quanto à rentabilidade, observa-se que a margem de lucro bruto vem sendo mantida, a margem de lucro operacional aumenta em função da manutenção das despesas administrativas e de pessoal, enquanto que o lucro líquido também aumenta, mas fica inferior ao lucro operacional, em função das despesas financeiras com o capital de terceiros, comprovado pelo aumento do endividamento geral.

● O retorno do ativo total e do capital próprio também tem reflexos significativos em 2011.

IMPORTANTE

Tudo o que foi mencionado acima não passa de uma projeção para 2011, mas se for confirmada a sua projeção, aí sim, as considerações são válidas.

LEITURA COMPLEMENTAR

A CPMF DOS MALES NÃO É O MENOR

A economia não é, definitivamente, a ciência dos cenários ideais, mas sim, a dos melhores cenários possíveis dentro de determinadas circunstâncias, que nem sempre são as mais favoráveis sob a ótica de promoção do crescimento do PIB. Como é bem sabido, fazer crescer a economia é o graal que move nove entre dez economistas. No dia a dia, porém, os arranjos político-institucionais levam a escolhas que nem sempre correspondem ao que o economista mediano consideraria como as melhores opções, já que, muitas vezes, a busca do crescimento econômico não é o objetivo almejado.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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No caso do brasileiro, o aumento de carga tributária desde a década de 1990 distribuiu benesses estatais e pode ter contribuído para reduzir a desigualdade nacional. O problema, porém, é que o crescente peso dos tributos tem sido um freio ao crescimento potencial do país.

Para os economistas, nem de longe são diferentes as questões de equidade, e provavelmente, a maioria deles gostaria de manter ou expandir os programas sociais mais eficientes e baratos, como o “Bolsa Família”. Por outro lado, eles tendem a ser menos favoráveis à política dos últimos anos, de aumentos reais do salário mínimo, cuja reconhecida eficácia distributiva depende de enormes gastos fiscais. A ideia é que, com a política social mais focada e afiada, utilizando-se programas de melhor relação custo-benefício, seria possível aumentar o crescimento potencial sem prejudicar a guerra à desigualdade e à pobreza.

Esse último roteiro, porém, simplesmente não faz parte do cardápio que, no atual momento histórico, é oferecido à sociedade brasileira pelas forças políticas mais relevantes. Sempre é útil bater na tecla de que acelerar o crescimento, com equidade e sem aumento na carga tributária, é tecnicamente possível. Uma vez bem estabelecido este ponto, porém, é hora de virar a página e analisar qual é o melhor caminho dentro das alternativas politicamente viáveis de gestão econômica.

CUSTO

A confirmação de que está mantida a regra de reajuste real do salário mínimo acordada no governo anterior indica que, em 2012, haverá um custo adicional para o Tesouro de R$ 22 bilhões. Para frustração de muitos economistas, há indicações de que a sociedade aprova esse curso de ação.

Em recente livro, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida sugere que 93,7% da população é favorável ao aumento do salário mínimo. Quando perguntados se manteriam essa opinião mesmo que o aumento acarretasse ampliação da carga tributária, 56% dos que apoiaram a alta do mínimo confirmaram essa posição, e 39% mudaram de ideia, ficando contra.

Refazendo-se o cálculo, para incluir os que inicialmente se declaravam contrários à elevação do mínimo, chega-se a 52% favoráveis a essa política, mesmo que vinculada à carga tributária, e 43% contra. Fica claro, portanto, que a disputa entre os principais partidos políticos pela bandeira de “campeão” dos aumentos reais do salário mínimo, em que pese os tons demagógicos frequentemente apresentados, encontra eco na maioria do eleitorado, mesmo quando ligada à noção naturalmente popular da alta dos impostos.

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É verdade, por outro lado, que a sólida minoria de 43% que é contra o aumento do mínimo, pelo menos quando este é vinculado ao aumento da carga tributária, indica que os políticos poderiam trabalhar melhor a bandeira da manutenção ou da redução de impostos. No momento, porém, dado o apoio majoritário da população à elevação do salário mínimo, parece improvável que o Executivo banque um ajuste fiscal à custa dessa política altamente simbólica.

Por outro lado, na seara macroeconômica, o processo de redução da taxa de juros está longe de concluído, e ainda vai exigir anos de superávits primários elevados. Por conta disso, uma nova rodada de elevação da carga tributária é provavelmente a solução a ser adotada para se manter o equilíbrio macroeconômico.

A outra saída, uma desaceleração consistente e prolongada do ritmo de crescimento da despesa pública, exigiria a revisão da política de aumento real do salário mínimo. E, como fica evidente tanto na dinâmica política do Legislativo quanto na dinâmica social da opinião pública, a saída pelo aumento dos impostos é mais palatável do que a de conter decisivamente o mínimo (ou romper a sua vinculação ao do piso de diversos benefícios sociais ou previdenciários, outro anátema político atual).

Uma vez constatado que a sociedade move-se inexoravelmente em uma determinada direção, a melhor contribuição que a ciência econômica pode dar é a de indicar quais são os custos e os benefícios das diferentes maneiras de trilhar o caminho escolhido. No caso do tema desta Carta, isso significa saber qual a melhor maneira (ou a menos prejudicial) de se aumentar a carga tributária para viabilizar o salto de gastos que se vislumbra no horizonte a curto e médio prazo.

A CPMF tem sido uma das ações mais discutidas para proporcionar o necessário aumento de carga tributária (sempre na suposição de que é “carta fora do baralho” a descontinuação da atual política de aumentos reais do gasto público corrente). É interessante, portanto, avaliar as qualidades e desvantagens do chamado “imposto do cheque”.

CASCATA

O grande problema de impostos sobre transações financeiras (ITF), como a CPMF, é que eles incidem sobre o faturamento das empresas – funcionam, portanto, como um tributo em cascata ao longo de toda a cadeia de produção. Os ITFs também podem levar à desintermediação financeira, embora tenham efeito benéfico de atingir o setor informal, contribuindo para equalizar o ônus tributário entre os agentes econômicos.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

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A partir de fevereiro de 2002, a receita da CPMF estabilizou-se em 1,4% do PIB, permanecendo nesse nível até o fim, em 2008. Não houve, portanto, contínua deterioração da base de tributação. Naturalmente, por ter uma base de incidência específica, a arrecadação por meio da CPMF gera distorções na economia. Segundo estudo de 2001 dos economistas Sérgio Koyama e Márcio Nakane, do Banco Central, o uso do tributo reduz a utilização de cheques e desloca aplicações de depósito a prazo para fundos financeiros. Além disso, a contribuição aumenta o spread bancário bruto, e reduz o líquido. Quanto a esta última característica, os autores observam que ela leva à perda de rentabilidade para as partes diretamente envolvidas – tomadores de empréstimo, aplicadores e intermediários financeiros.

Por outro lado, a CPMF estimula a demanda por moeda ao elevar a coleta de imposto inflacionário pelo governo. Em outras palavras, ao tentar fugir dessa contribuição, os contribuintes elevam outra forma de arrecadação. Evidentemente, ninguém defende a inflação como forma de tributação. Mas, uma vez que ela existe, a CPMF acaba sendo um tributo difícil de ser contornado – isto é, ao dele fugir, o contribuinte não impede que o governo arrecade.

EQUAÇÃO

Como fica claro, a CPMF não é o pior dos impostos, mas não há por que pressupor que seja o melhor e o mais adequado para resolver a equação fiscal que se projeta para 2012. Um detalhado estudo de Rodrigo Suescún, de 2004, busca avaliar os efeitos no crescimento e na produtividade dos diferentes tipos de tributo no Brasil.

O autor afere, a partir de simulações em um modelo calibrado para reproduzir as principais características da economia brasileira, quais seriam os impactos no crescimento de aumentos de arrecadação de 2% do PIB obtidos com a majoração isolada de diferentes tipos de impostos.

A sua conclusão é que a opção menos custosa, em termos de crescimento, é aumentar os impostos sobre o consumo. Na sequência, viriam tributação sobre o trabalho e sobre transações financeiras (neste último caso, com a CPMF). A pior opção seria aumentar o Imposto de Renda das empresas.

Os resultados dos exercícios de Suescún estão em linha com o que prevê a teoria econômica, já que a taxação ao consumo é considerada a menos prejudicial à eficiência da economia, e os impostos sobre a renda das empresas, que oneram os investimentos, a pior. Como o trabalho não considera a existência de um setor informal, e como uma das vantagens da CPMF é justamente a de atingir os agentes fora da formalidade, provavelmente o “imposto do cheque” é superior aos tributos sobre o trabalho – por render o bônus (em comparação com estes últimos) da tributação do setor informal. Por outro lado, com a substituição tributária, a capacidade do setor informal de sonegar tributos diminuiu.

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TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

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Assim, se o Brasil está mesmo na iminência de um novo salto na carga tributária, a CPMF não é, provavelmente, a melhor opção disponível. O governo deveria considerar a possibilidade de, em seu lugar, utilizar o instrumento dos tributos indiretos. Como discutido na Carta do IBRE de abril, a taxação do consumo no Brasil tem uma fama, provavelmente, injusta de regressividade. Desse modo, diante da aparente falta de apetite da sociedade brasileira para enfrentar a questão fiscal pelo lado da despesa, uma cuidadosa e bem pensada elevação de algumas alíquotas de impostos indiretos sobre o consumo talvez seja, dos males, o menor.

FONTE: Conjuntura Econômica. Maio-2011, v. 65 – n. 05. Disponível em: <www.fgvpr.br/novo3/carta/maio_2011.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2011.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• O fluxo representa todas as entradas e saídas de dinheiro, onde o gestor financeiro precisa conhecer os momentos em que o saldo é positivo e negativo.

• A projeção destes fluxos ao futuro representa o orçamento de caixa – atividade que integra o planejamento da empresa. O orçamento poderá auxiliar numa visão futura de resultados, auxiliando a tomada de decisão para corrigir algumas ações que possam prejudicar estes resultados.

• Os fluxos representam uma análise econômica que expressa as receitas, despesas e o resultado do período. Fluxos de caixa também são elaborados para se conhecer investimentos realizados, com seus pagamentos, receitas e depreciação.

• A depreciação é a desvalorização de um bem durante um período, que precisa ser considerado no caixa para fazer a sua reposição.

• Na elaboração das demonstrações do fluxo de caixa são considerados os fluxos operacionais, de investimentos e de financiamentos; de curto e longo prazo. Os fluxos operacionais consideram todas as entradas e saídas diretamente relacionadas à produção e comercialização de nossos produtos e/ou serviços. Aqui encontramos muitos itens e lançamentos.

• Enquanto os fluxos de investimentos expressam as aquisições de imobilizado e participações em outras empresas, os fluxos de financiamentos expressam os fluxos do dinheiro dos sócios e do dinheiro emprestado de outros que não sejam os sócios.

• Além de considerar um ambiente natural ou normal, o orçamento de caixa também deve prever um cenário pessimista e otimista.

• A projeção dos resultados permite avançar na análise dos índices, simulando o resultado futuro.

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Vamos responder às questões a seguir para fixar o aprendizado:

1 O que são os fluxos?

2 Como posso projetar os fluxos?

3 O que é o orçamento de caixa?

4 Assinale com “X” os elementos que compõem os fluxos operacionais:

( ) Vendas.( ) Patrimônio.( ) Salários.( ) Matéria-prima.( ) Despesas gerais.( ) Ativo fixo.( ) Empréstimos.( ) Produto em processo e produto acabado.( ) Exigível de curto e longo prazo.( ) Contas a pagar.

5 Da Figura 2 (p. 34), quais elementos compõem os fluxos de investimentos e de financiamentos?

6 Diferencie um orçamento pessimista de um otimista.

7 A partir do balanço patrimonial e do DRE a seguir, preencha o quadro da demonstração dos fluxos de caixa.

AUTOATIVIDADE

DRE 2010 2009(=) ROB / faturamento R$ 250.000,00 R$ 200.000,00(-) Impostos (20% sobre a ROB) R$ 50.000,00 R$ 40.000,00(=) ROL (ROB – impostos) R$ 200.000,00 R$ 160.000,00(-) CMV R$ 80.000,00 R$ 70.000,00(=) Lucro bruto R$ 120.000,00 R$ 90.000,00(-) Despesas administrativas R$ 60.000,00 R$ 45.000,00(-) Despesas de pessoal R$ 45.000,00 R$ 35.000,00(=) Lucro operacional R$ 15.000,00 R$ 10.000,00(-) Despesas financeiras R$ 5.000,00 R$ 3.000,00(+) Receitas financeiras R$ 0,00 R$ 0,00(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 10.000,00 R$ 7.000,00

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ATIVOS 2010 2009Ativos CirculantesCaixa 2.320,00 1.300,00Aplicações financeiras 6.050,00 4.000,00Contas a receber 15.500,00 10.000,00Estoques 19.800,00 25.000,00Total dos ativos circulantes 43.670,00 40.300,00Ativos Permanentes (ao custo)Terrenos e edificações 20.200,00 20.200,00Máquinas e equipamentos 9.950,00 7.500,00Móveis e utensílios 4.890,00 4.500,00Veículos 0,00 0,00Total dos ativos permanentes 35.040,00 32.200,00Depreciação acumulada 7.010,00 6.500,00Ativos permanentes líquidos 28.030,00 25.700,00TOTAL DOS ATIVOS 71.700,00 66.000,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDOPassivo CirculanteContas a pagar 12.359,00 9.500,00Títulos a pagar 11.340,00 9.000,00Despesas a pagar 8.498,00 8.000,00Total dos passivos circulantes 32.197,00 26.500,00Exigível de longo prazo 13.503,00 13.500,00Total dos passivos 45.700,00 40.000,00Patrimônio líquidoCapital social 26.000,00 26.000,00TOTAL DOS PASSIVOS E PL 71.700,00 66.000,00

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXAFluxo de Caixa das Atividades Operacionais Cálculo FluxoLucro líquidoDepreciação (e outras despesas não desembolsáveis)Contas a receber (aumentou)Estoques (diminuiu)Contas a pagarOutras despesas a pagarCaixa gerado pelas atividades operacionais

Fluxo de caixa das atividades de investimentoAtivo permanente (aumentou)Variações em participações societáriasCaixa aplicado em atividades de investimentosFluxo de caixa das atividades de financiamento

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Títulos a pagar (aumentou)Exigível de longo prazo (aumentou)Variações no patrimônio líquido (aumentou)Caixa gerado pelas atividades de financiamento

Aumento líquido em caixa e títulos negociáveis

8 A partir do DRE e do balanço patrimonial da questão anterior (questão 7), recalcule os índices de liquidez, atividade, endividamento e de rentabilidade, para os anos de 2009 e 2010, preenchendo o quadro a seguir numa série temporal.

Índice 2009 2010Índices de liquidezLiquidez correnteLiquidez secaÍndices de atividadeGiro do EstoquePrazo médio de recebimentoPrazo médio de pagamentoGiro do ativo totalÍndices de endividamentoEndividamento geralCobertura de jurosÍndices de rentabilidadeMargem de lucro brutoMargem de lucro operacionalMargem de lucro líquidoRetorno do ativo totalRetorno do capital próprio

9 A partir dos índices constantes no quadro da questão anterior (questão 8), faça uma análise individual de cada um deles na série temporal.

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TÓPICO 3

VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Até agora, a Gestão Financeira foi apresentada como se tudo transcorresse às mil maravilhas. Mas se sabe que as empresas lidam com uma série de dificuldades internas e externas, que se revelam nas surpresas do dia a dia.

Neste ambiente é preciso considerar que nem tudo acontecerá como fora planejado. Algumas variáveis precisam ser consideradas para que os resultados projetados sejam alcançados.

Este último tópico do caderno apresenta o valor do dinheiro no tempo, o risco, o retorno e as taxas de juros.

Então, vamos lá, estamos finalizando esta primeira unidade.

2 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO

Ao iniciar esta unidade de Gestão Financeira, as finanças são definidas como a gestão do dinheiro. É preciso desenvolver a habilidade de captar e empregar o dinheiro para que o seu valor aumente.

O dinheiro tem o seu valor ajustado no decorrer do tempo, ilustrado com a seguinte situação: relacione 10 itens que podem ser comprados hoje com R$ 500,00. Se você guardar este dinheiro em sua carteira durante um ano, com certeza daqui a um ano não poderá mais comprar estes itens pelo mesmo preço e com aquela cédula de R$ 500,00. Isto se deve ao fato de que o preço da maioria dos produtos e/ou serviços oscila com o decorrer do tempo. Alguns produtos podem ter o seu valor reduzido, noutros o valor se mantém, e ainda há aqueles em que o preço aumenta.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Este valor do dinheiro está associado ao tempo: dias, meses e anos; e este tempo torna-se a principal variável na gestão financeira. Do exemplo, os R$ 500,00 de hoje não serão os mesmos amanhã, nem os R$ 500,00 de amanhã representam o mesmo montante hoje.

Este hoje e amanhã nos remete ao presente e ao futuro distante por um intervalo de dias, meses ou anos, denominado de linha do tempo. Nesta linha do tempo, entre um valor presente e outro futuro, os montantes são corrigidos por uma taxa preestabelecida.

IMPORTANTE

As taxas podem ser expressas nos diferentes intervalos:ao dia (a.d.), ao mês (a.m.), ao ano (a.a.) etc.A Matemática Financeira ensina como converter as taxas de um período a outro.

As expressões a seguir são fundamentais para o gestor financeiro:

• Valor Presente (VP): corresponde ao montante de dinheiro que temos neste exato momento (valor presente) - hoje. Em algumas literaturas e calculadoras, também podemos encontrar, do inglês, a sigla PV (Present Value).

• Valor Futuro (VF): corresponde ao montante de dinheiro que teremos em data futura. Do inglês, temos a sigla FV (Future Value).

Para melhor compreensão, vamos utilizar o seguinte exemplo: imagine ter aplicado R$ 1.000,00 numa conta-poupança no dia 10 do mês passado. Neste mês, no dia 10, a sua aplicação completa um mês, e você terá direito ao rendimento destes últimos 30 dias.

Diariamente, o BACEN (Banco Central do Brasil) divulga a taxa de rendimento da poupança. Supondo que o rendimento, considerando juros e correção monetária, foi de 0,60% a.m. (ao mês), agora o saldo é de R$ 1.006,00, sendo que R$ 6,00 foi o rendimento. Para o próximo mês, a base de cálculo será o saldo de R$ 1.006,00 – tecnicamente a aplicação tem como base a capitalização composta (juros sobre juros).

Acompanhe a projeção do valor futuro da aplicação no quadro a seguir:

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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QUADRO 28 – PROJEÇÃO DE VALOR FUTURO ANUAL SEM DEPÓSITOS

Período Saldo Inicial Correção (0,60%) Saldo Final0 1.000,00 0,00 1.000,001 1.000,00 6,00 1.006,002 1.006,00 6,04 1.012,043 1.012,04 6,07 1.018,114 1.018,11 6,11 1.024,225 1.024,22 6,15 1.030,366 1.030,36 6,18 1.036,547 1.036,54 6,22 1.042,768 1.042,76 6,26 1.049,029 1.049,02 6,29 1.055,3110 1.055,31 6,33 1.061,6511 1.061,65 6,37 1.068,0212 1.068,02 6,41 1.074,42TOTAL 74,42

FONTE: O autor

UNI

Tente refazer os cálculos do quadro anterior, mas agora considerando um rendimento de 0,70% a.m. Você terá ao final de um ano o montante de R$ 1.087,31. Terá obtido um rendimento de R$ 87,31 em um ano.

UNI

Agora imagine que você consiga ter aplicação de R$ 100.000,00 com esta rentabilidade de 0,70% a.m. O seu rendimento anual será de R$ 8.731,00.

Do exemplo anterior (Quadro 28), vamos supor que este dinheiro foi aplicado há um ano e que em cada um dos meses o rendimento da poupança foi de 0,60% a.m. No término deste primeiro ano de aplicação, o montante total da aplicação é de R$ 1.074,42, e neste caso a taxa de correção foi de 7,44% a.a. (ao ano). Apenas com o depósito inicial de R$ 1.000,00, com uma correção fixa de 0,60% a.m., obtivemos durante um ano o rendimento de R$ 74,42, ou seja, 7,44% a.a.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Agora vamos considerar que, além de um depósito inicial de R$ 1.000,00, sejam aplicados mais R$ 100,00 em cada um dos meses subsequentes, e ainda a uma taxa de 0,70% a.m. Qual será o nosso saldo daqui a um ano?

QUADRO 29 – EXEMPLO DE POUPANÇA ANUAL COM DEPÓSITOS

Período Saldo Inicial Correção (0,70%) Saldo Parcial Depósito Saldo Final0 1.000,00 0,00 1.000,00 0,00 1.000,001 1.000,00 7,00 1.007,00 100,00 1.107,002 1.107,00 7,75 1.114,75 100,00 1.214.753 1.214,75 8,50 1.223,25 100,00 1.323,254 1.323,25 9,26 1.332,52 100,00 1.432,525 1.432,51 10,03 1.442,54 100,00 1.542,546 1.542,54 10,80 1.553,34 100,00 1.653,347 1.653,34 11,57 1.664,91 100,00 1.764,918 1.764,91 12,35 1.777,27 100,00 1.877,279 1.877,27 13,14 1.890,41 100,00 1.990,4110 1.990,41 13,93 2.004,34 100,00 2.104,3411 2.104,34 14,73 2.119,07 100,00 2.219,0712 2.219,07 15,53 2.234,61 100,00 2.334,61TOTAL 134,61 1.200,00

FONTE: O autor

Algumas considerações:

Sabemos da dificuldade de muitas pessoas em conseguir acumular R$ 1.000,00 para depositar numa conta-poupança. O orçamento e fluxo de caixa podem auxiliar.

O rendimento de R$ 134,61 resultou da taxa de 0,70% a.m. e dos depósitos mensais de R$ 100,00. Estes depósitos mensais somaram a importância de R$ 1.200,00 no ano.

Muitas vezes, assumimos financiamentos (dívidas) com parcelas em torno de R$ 100,00 durante um período de pelo menos 12 meses. Imagine se você tivesse assumido este compromisso consigo, ao final deste ano poderia adquirir aquele bem pretendido, negociado um desconto, pago à vista e talvez sobrado dinheiro.

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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ATENCAO

A explosão de produtos eletroeletrônicos dos últimos anos evidencia o rápido avanço tecnológico. Geralmente, em um ano encontramos estes produtos tecnologicamente superiores pelo mesmo preço.

Geralmente, o rendimento das aplicações financeiras costuma ser inferior à taxa de juros paga nos empréstimos. No ambiente empresarial, o gestor financeiro lida, constantemente, com estas variáveis: valor presente e valor futuro, tanto nas atividades operacionais, de investimento e de financiamento.

Ao realizar o orçamento, prever resultados futuros, o gestor financeiro precisa projetar uma taxa de juros para corrigir o valor presente num valor futuro. A projeção feita da camisaria, no tópico anterior deste caderno, para o ano de 2011, considerou um aumento de 9% nos custos e despesas.

UNI

Procure analisar alguns produtos, analisando o seu valor à vista e as demais condições de pagamentos oferecidas pela empresa. Verifique o quanto é pago de juros.

3 RISCO E RETORNO

Na Gestão Financeira, o risco está presente em diferentes níveis: há situações de maior e outras de menor risco. Segundo Gitman (2004, p.184), “fundamentalmente, o risco é a possibilidade de perda financeira”, e em nossas ações não queremos perder dinheiro.

Ainda, segundo Lemes (2005, p. 123), “risco é a possibilidade de prejuízo financeiro, ou, mais formalmente, a variabilidade de retorno associado a determinado ativo”. Entende-se esta perda financeira não apenas como a perda do dinheiro em espécie, mas como todo o ativo.

Os recursos financeiros estão expostos a algum risco. Estes riscos devem ser conhecidos, a fim de se manter o retorno esperado. “Retorno é o total de ganhos ou de perdas de um proprietário ou aplicador sobre investimentos realizados” (LEMES, 2005, p. 123).

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Obviamente que não queremos ter uma perda ao aplicar os recursos financeiros. Almejamos a obtenção de ganhos, e para isto precisamos lidar com a incerteza, a insegurança, ou seja, as possibilidades de ocorrência de situações positivas ou negativas em nossas ações. O quadro a seguir relaciona algumas fontes tradicionais de risco para os gestores financeiros:

QUADRO 30 – FONTES TRADICIONAIS DE RISCO

Fonte de risco DescriçãoRiscosespecíficosdaempresaRisco operacional A possibilidade de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos de

operação. Seu nível é determinado pela estabilidade das receitas da empresa (fixos) e pela estrutura de seus custos operacionais (variáveis).

Risco financeiro A possibilidade de que a empresa não seja capaz de saldar suas obrigações financeiras. Seu nível é determinado pela previsibilidade dos fluxos de caixa operacionais da empresa e suas obrigações financeiras com encargos fixos.

RiscosespecíficosdosacionistasRisco de taxa de juros

A possibilidade de que as variações das taxas de juros afetem negativamente o valor de um investimento. A maioria dos investimentos perde valor quando a taxa de juros sobe, e ganha valor quando ela cai.

Risco de liquidez A possibilidade de que um ativo não possa ser liquidado com facilidade a um preço razoável. A liquidez é significativamente afetada pelo porte e pela profundidade do mercado no qual o ativo é costumeiramente negociado.

Risco de mercado A possibilidade de que o valor de um ativo caia por causa de fatores de mercado independentes do ativo (como eventos econômicos, políticos e sociais). Em geral, quanto mais o valor do ativo reage ao comportamento do mercado, maior é seu risco; quanto menos reage, menor é seu risco.

Riscos para empresas e acionistasRisco de evento A possibilidade de que um evento totalmente inesperado exerça efeito

significativo sobre o valor da empresa ou um ativo específico. Esses eventos raros, como a decisão do governo de mandar recolher do mercado um medicamento popular, costumam afetar somente um pequeno grupo de empresas ou ativos.

Risco de câmbio A exposição dos fluxos de caixa esperados para o futuro, a flutuação das taxas de câmbio. Quanto maior a possibilidade de flutuações cambiais indesejáveis, maior o risco dos fluxos de caixa e, portanto, menor o valor da empresa ou do ativo.

Risco de poder aquisitivo

A possibilidade de que a variação dos níveis gerais de preços, causada por inflação ou deflação na economia afete, desfavoravelmente, os fluxos de caixa e o valor da empresa ou de um ativo. Normalmente, as empresas ou os ativos com fluxos de caixa que variam com os níveis gerais de preços apresentam risco mais baixo de variação de poder aquisitivo. Ao contrário, se os fluxos de caixa não variarem de acordo com os níveis gerais de preços, oferecem maior risco de poder aquisitivo.

Risco de tributação A possibilidade de que mudanças adversas na legislação tributária venham a ocorrer. Empresas e ativos cujos valores são sensíveis a essas mudanças implicam maior risco.

FONTE: Gitman (2004, p. 185)

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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Segundo Gitman (2004), as atitudes dos administradores diferem quanto ao risco:

• Indiferente ao risco: é uma atitude que não faz sentido em nenhuma situação empresarial. O administrador indiferente ao risco entende que o retorno não varia em relação ao risco – independente do risco, o retorno é o mesmo. Sabe-se que o risco afeta o retorno.

• Avesso ao risco: o administrador tem medo do risco e, por isso, quanto mais alto o risco, mais alto o retorno exigido. Geralmente, este administrador procura retorno em investimentos conservadores.

• Propenso ao risco: o administrador está disposto a abrir mão de algum retorno para assumir riscos maiores, onde este comportamento não beneficiaria a empresa. O retorno cai se o risco aumenta.

Algumas oportunidades típicas do dia a dia possibilitam investir dinheiro na poupança, ou no fundo de renda fixa, ou no mercado de câmbio, ou no mercado de ações, ou em qualquer outra oportunidade, como um negócio próprio. Cada uma destas apresenta uma perspectiva de retorno (alto ou baixo), que está associado a um risco (alto ou baixo).

UNI

O desafio consiste em encontrar uma oportunidade de alto retorno e baixo risco.

4 TAXAS DE JUROS

No cotidiano financeiro, as taxas de juros estão presentes e sempre estamos questionando: “Qual é a taxa?”. Nesta pergunta podemos encontrar duas situações: a taxa de juros cobrada por um empréstimo ou taxa esperada num determinado investimento. Segundo Gitman (2004, p. 226), “a taxa de juros ou retorno exigido representa o custo do dinheiro”.

Neste contexto, a inflação é outra variável a ser considerada com a taxa de juros. Em resumo, a inflação representa o aumento relativo dos preços quando o poder relativo da população cai. Aqui podemos encontrar as situações de:

Inflação: quando o nível geral de preços aumenta e o poder de compra do dinheiro precisa acompanhar este nível geral de preços.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Estabilidade: momento em que o nível geral de preços não tem variação ou está muito próximo de zero.

Deflação: momento em que há uma queda no nível geral de preços.

NOTA

Nos primeiros meses de 2011, o Brasil voltou a apresentar uma taxa de inflação um pouco mais elevada do que nos anos anteriores. Esta elevação também foi movida pelo poder de compra das pessoas.

Num momento econômico de estabilidade, sem inflação ou deflação, a taxa de juros seria estabelecida e mantida – denominada de taxa de juros real. A partir do momento em que esta estabilidade é rompida, a taxa precisa ser ajustada ao momento da inflação ou deflação – denominada de taxa de juros nominal ou corrente.

Por volta de 1990, a economia brasileira apresentava taxas de inflação entre 50% a 100% a.m. (ao mês). Imagine só: você recebia o salário de $ 1.000,00 e, se aplicado, em uma semana já estava corrigido em aproximadamente 15% ($ 1.150,00). Não vamos nos iludir, pois tudo era corrigido: aumentava o valor dos produtos das lojas, supermercados, combustíveis, remédios, mensalidades escolares etc.

A história brasileira revela momentos de altas taxas de inflação, e nos últimos anos estas taxas são baixas – o que nos remete a uma estabilidade da economia.

O cálculo ou ajuste da taxa de juros compreende um conjunto de variáveis que não vamos detalhar neste momento, mas é importante considerar em cada uma das situações em que são apresentadas taxas diferentes.

ATENCAO

A taxa de rendimento da aplicação do dinheiro é menor que o juro pago pelo uso do limite do cheque especial – que varia conforme a instituição financeira.

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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Ao aplicar os recursos da empresa, o gestor financeiro precisa obter a melhor taxa de rendimento, com o menor risco e, sempre que necessitar captar dinheiro, considerar as menores taxas.

5 AÇÕES

No primeiro tópico desta unidade conhecemos a natureza jurídica das empresas, sendo que uma delas é a sociedade por ações. A ação é a menor parte de uma empresa acionária. Então, quanto maior a quantidade de ações, maior será a participação acionária da pessoa na empresa.

Na sociedade por ações, quanto ao capital social, podem ser classificadas em:

• Capital Aberto: as ações são negociadas publicamente por corretores nas bolsas de valores, sem a necessidade de escrituração pública da propriedade. Uma parte ou, ainda, a totalidade das ações, podem estar nas mãos de pessoas muitas vezes desconhecidas. Por exemplo: eu posso comprar um lote de ações de uma determinada empresa hoje da qual me torno sócio e vendê-las amanhã; e, assim, a rotatividade de papéis de ações pode se tornar muito alta.

• Capital Fechado: quando as ações estão em poder de um grupo de pessoas distintas que as mantêm em seu meio. As negociações destas ações ocorrem entre os membros deste grupo e não na bolsa de valores, pois não possuem o registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Geralmente, as empresas de Capital Fechado representam casos familiares, onde um grupo da(s) família(s) detém e mantém estas ações.

O valor de uma ação é influenciado por uma série de variáveis, das quais destacamos: a empresa, a sua situação, o mercado em que está inserida, a conjuntura econômica e financeira da região ou ainda do mundo, e ainda, “a lei da oferta e da procura”. Esta lei da oferta e da procura aponta que quando a procura é grande, o valor das ações pode aumentar. Quando a procura é pequena, o valor das ações pode diminuir.

ATENCAO

Esta “lei da oferta e da procura” aplica-se em muitas situações, não apenas no mercado de ações.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

No mercado de ações você pode comprar ações de uma determinada empresa ao preço de R$ 10,00 e daqui a um intervalo de tempo pode valer apenas R$ 2,00; bem como, no dia seguinte, esta ação estar valendo R$ 30,00. A história de negociar ações tem revelado altos ganhos, bem como perdas.

As ações ainda estão classificadas em:

• ON – Ordinárias Nominativas: são ações que dão direito ao voto nas assembleias da empresa e proporcionam participação nos resultados econômicos. Os detentores destas ações não têm direito preferencial no recebimento dos dividendos, preferência dos detentores das ações nominativas (PN).

• PN – Preferenciais Nominativas: os detentores destas ações têm preferência no recebimento dos dividendos e/ou no reembolso de capital para os casos de dissolução da empresa. Estas ações não dão direito ao voto.

DICAS

O mercado de ações apresentou grande valorização no início deste século XXI e de 2008 para cá as perdas foram grandes. Você poderá conhecer e acompanhar um pouco desta história através da BM&F Bovespa (Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros). Disponível em: <http://www.bovespa.com.br>.

Uma empresa, ao tornar-se uma sociedade por ações, ou seja, fracionar o seu capital social em ações, também pode fazê-lo com o objetivo de aumentar o seu capital social.

Os acionistas são os verdadeiros donos de uma empresa desta natureza: sociedade por ações, e entendida na maioria das vezes como sociedade anônima, pelo fato dos detentores das ações muitas vezes serem desconhecidos.

Os detentores das ações ordinárias (ON) são os acionistas que elegem um Conselho de Administração – este conselho tem autoridade máxima para decidir os assuntos da sociedade e formular as suas políticas gerais.

O Conselho de Administração passa a escolher o presidente da empresa, o mais alto nível de administração deste tipo de organização. O presidente é responsável pela execução das políticas estabelecidas pelo Conselho de Administração.

As ações são classificadas, pela sua liquidez, como:

• Primeira Linha ou Blue Chips: caracterizam-se pelo grande volume negociado, bem como pelo grande volume de compradores e vendedores.

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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• Segunda Linha: são as ações menos negociadas.

As ações ainda podem ser classificadas pelo seu grau de capitalização: alta, média ou baixa capitalização.

LEITURA COMPLEMENTAR

A ECONOMIA TEM SALVAÇÃO? Jack e Suzy Welch

Não podemos censurar você pela pergunta. Vivemos dias mais do que difíceis. Não há precedentes para os tempos atuais — até mesmo para o Jack, que esteve à frente de uma empresa durante três recessões (1973-75, 1980-82 e 1990-91). Em cada uma delas, em qualquer dia que fosse de fevereiro, mesmo com a economia em queda, ainda era possível contabilizar antecipadamente em alguns pontos percentuais as vendas de abril. Hoje, é como se uma névoa espessa tivesse se estendido sobre o comércio: a visibilidade é praticamente nula. Não é de espantar que os gerentes estejam apavorados com a sobrevivência de suas empresas, fazendo das tripas coração para reduzir custos.

Mas, então, a economia não tem salvação? Claro que sim. Há muitas pessoas inteligentes e dedicadas tratando do assunto. O que realmente ninguém sabe é com que rapidez a economia vai começar a se recuperar, e com que rapidez ela vai se estabilizar a partir do momento em que a recuperação começar. Isso, em nossa opinião, depende da capacidade dos estrategistas de saber lidar com três fatos controversos, porém inexoráveis.

Fato número 1: de nada adianta se preocupar com os detalhes do pacote de estímulo à economia sem, antes, pôr em ordem o sistema.

Os bancos saudáveis são para a economia o que um coração saudável é para qualquer pessoa. O coração nos mantém vivo com o “sangue” do crédito. Neste momento, porém, em que o paciente está tendo um infarto, os estrategistas do governo estão ocupados tentando descobrir quanto devem gastar no terno que o paciente vai usar no ano que vem.

O programa de alívio para ativos problemáticos e outras iniciativas postas em prática bem cedo parecem ter estabilizado os mercados, mas só isso não basta, por mais intragáveis que tais medidas tenham se tornado para a população, já saturada dos pacotes de socorro do governo. A queda dos preços das casas continua a preocupar, e o governo ainda não pôs em prática nenhum programa sério de controle das execuções de hipotecas. É preciso também retirar os ativos tóxicos dos balanços patrimoniais que continuam contaminados por eles. Em 1989, a estratégia de “banco bom/banco ruim” da Resolution Trust Corporation funcionou muito bem, mas o socorro recente ao Citigroup mostrou que outra opção possível seria a garantia dos ativos pelo governo.

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UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Nossa intenção aqui, entretanto, não é nos demorarmos nos detalhes, e sim deixar claro que os estrategistas do governo estarão simplesmente desperdiçando seu capital político discutindo o pacote de estímulo se antes não investirem suas energias no resgate do sistema financeiro.

Fato número 2: o pacote de estímulo está se transformando em uma enorme barafunda opaca, de potencial questionável para criação de empregos.

O pacote passou pela Câmara dos Representantes na semana passada, mas isso não significa que a maior parte das pessoas confie nele ou acredite que ele possa representar o que de melhor o governo pode oferecer. Fazemos coro com aqueles que esperam que o debate no Senado contribua para a transparência e o bom senso do projeto de lei.

Todavia, acreditamos que isso só deva acontecer no momento em que os estrategistas do governo começarem a falar do pacote de estímulo à economia da maneira adequada, especificando o teor de três conjuntos distintos de propostas. O primeiro deles compreende todos os planos destinados a estimular o emprego, e cujos gastos devem remeter a projeções detalhadas do número e do tipo de empregos criados. O segundo conjunto deverá conter todas as propostas de gastos destinados a ajudar as pessoas prejudicadas pelo colapso econômico. O terceiro conjunto deverá conter todas as medidas propostas pelo pacote, já que os políticos lançarão mão delas na hora de distribuir favores e de prestar solidariedade ao partido.

Esse terceiro conjunto, naturalmente, é deplorável, mas política é isso. Seria ingênuo negar sua existência. Contudo, seria pior ainda para os estrategistas se o governo continuar a discutir o pacote como se fosse um bloco único de projetos. O pacote vai restituir a confiança tão necessária, portanto o debate em torno dele será muito mais produtivo se levar em conta o que realmente importa: criação de emprego e ajuda a quem o perdeu.

Fato número 3: o desejo de vingança é tentador, mas não é uma estratégia vitoriosa. A lista de pessoas que poderia ter evitado ou atenuado o desastre econômico é longa. Informações recentes sobre os bilhões em bônus pagos a funcionários da Merrill Lynch serviram apenas para reforçar ainda mais a ideia de que alguém deveria ser responsabilizado por esse desvario do capitalismo.

Contudo, os estrategistas do pacote precisam se dar conta de que hoje somos todos investidores (isto é, nós, contribuintes) em empresas às quais o governo está ajudando. Dentro de certos limites, devemos permitir que essas empresas façam o que tiverem de fazer para prosperar em um mundo competitivo de escala global, inclusive recompensando o bom desempenho e cortejando os clientes com liquidações. Caso contrário, nossos investimentos se reduzirão a carcaças sem valor.

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TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

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Não queremos minimizar o desafio que temos pela frente, e você deixou clara a magnitude dele na maneira como formulou sua pergunta. No entanto, se concordarmos que o sistema bancário deve ter prioridade, se estivermos de acordo em relação ao verdadeiro conteúdo do pacote, e se entendermos o custo autodestrutivo da vingança, encontraremos juntos uma saída.

Jack e Suzy Welch

FONTE: Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/gestaoepessoas/artigo-economia-tem-salvacao-425648.html>. Acesso em: 20 mar. 2009.

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RESUMO DO TÓPICO 3

No fechamento desta primeira unidade, neste terceiro tópico, aprendemos:

•Na Gestão Financeira há variáveis a serem consideradas na tomada de decisões: o valor do dinheiro no tempo, o risco, o retorno, a taxa de juros.

•O valor do dinheiro pode aumentar ou diminuir com o passar do tempo (intervalo entre o presente e o futuro). Esta variação está condicionada a uma taxa de juros (correção ou desconto).

•É necessário considerar o risco em cada uma das operações, pois o risco indica a variabilidade do retorno, ou seja, a possibilidade de uma perda financeira.

•Há riscos específicos da empresa, do acionista (dono do capital) e riscos comuns a ambos.

•Administradores podem ser indiferentes ao risco, avessos ao risco e propensos ao risco.

•Ao aplicar ou investir o dinheiro, há a expectativa de um retorno financeiro. Deseja-se o retorno de tudo aquilo que foi investido e mais um pouco – a correção.

•O dinheiro é corrigido por uma taxa que leva em consideração a situação econômica e financeira de estabilidade, inflação ou deflação.

•Numa relação financeira há dois personagens: quem tem o recurso e quem necessita de recurso financeiro. Ao necessitar de dinheiro é necessário avaliar o seu custo, pois dentre as instituições financeiras e suas diferentes modalidades de empréstimos, apresentam-se diferentes taxa de juros. Da mesma forma que oferece uma taxa de remuneração nas suas opções de aplicação.

•As empresas de sociedade de ações podem ter o seu capital aberto ou fechado de suas ações ordinárias e preferenciais.

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Vamos agora fixar o que aprendemos respondendo a algumas questões:

1 Na tomada de decisões que envolvem a gestão financeira é necessário considerar: o valor do dinheiro no _________, o ________, o retorno e a _______ de juros.

2 O que é um valor presente e um valor futuro? O que pode mudar este valor?

3 Defina risco.

4 O que é o retorno na Gestão Financeira?

5 Diferencie o comportamento do indiferente ao risco, do avesso ao risco e do propenso ao risco.

6 Como a estabilidade, a inflação ou ainda a deflação afetam a taxa?

7 Diferencie a inflação da deflação.

8 Ao aplicar R$ 10.000,00 com rendimento de 0,65% a.m., qual será o valor daqui a seis meses?

9 Aplicando-se R$ 5.000,00 com rendimento de 0,65% a.m. e depósitos mensais de R$ 500,00 nos meses subsequentes, qual será o valor daqui a seis meses?

10 Diferencie a sociedade de ações de capital aberto da de capital fechado.

11 Qual a diferença entre ações preferenciais e ações ordinárias?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Nessa unidade vamos:

• compreender os investimentos e seu impacto no orçamento de capital;

• diferenciar projetos independentes de mutuamente excludentes;

• conhecer métodos de avaliação de projetos de investimentos;

• avaliar os riscos dos investimentos;

• compreender a estrutura de capital e seus custos;

• analisar mecanismos de alavancagem.

Para que possamos alcançar os objetivos propostos, passaremos por três tó-picos nesta unidade, que visam ajudá-lo(a) a ter uma noção de investimentos e financiamentos.

TÓPICO 1 – INVESTIMENTOS

TÓPICO 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

TÓPICO 3 – FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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TÓPICO 1

INVESTIMENTOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

A entrada e a saída de dinheiro na Gestão Financeira ocorrem a todo instante, para os mais diferentes eventos. Todas as saídas de caixa que cobrem as despesas de produção, impostos, administrativas, pessoal, fornecedores etc., são classificadas como as despesas de curto prazo – denominadas de despesas ou gastos operacionais.

Todo o bem (móvel ou imóvel) em que houve algum investimento sofre a sua depreciação com o decorrer do tempo. Estes bens são: os terrenos, as edificações, as máquinas e equipamentos, e assim por diante. Todos são considerados investimentos e, contabilmente, representam o ativo imobilizado da empresa.

Todo e qualquer investimento precisa produzir riqueza para que se obtenha o retorno. O montante financeiro pode variar em relação a cada um dos investimentos, nos diferentes fluxos que apresentam.

Nesta segunda unidade iniciamos os estudos avaliando o orçamento de capital, projetos independentes e projetos mutuamente excludentes.

2 ORÇAMENTO DE CAPITAL

“O Orçamento de Capital é um processo que consiste em avaliar e selecionar investimentos em longo prazo, que sejam coerentes com o objetivo da empresa de maximizar a riqueza de seus proprietários” (GITMAN, 2004, p. 288).

Os investimentos da empresa devem ser cuidadosamente analisados, pelo montante do dinheiro que será comprometido no longo prazo dos pagamentos e expectativa de retorno deste investimento. Se o investimento de capital tem a expectativa de gerar benefícios após um ano, as saídas de caixa recebem a denominação de “Dispêndio de Capital”. Quando a expectativa de resultados é inferior a um ano (curto prazo), denomina-se de “Dispêndio Corrente”.

Alguns motivos levam a empresa a realizar um dispêndio de capital, tais como:

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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QUADRO 31 – MOTIVOS PRINCIPAIS DE INVESTIMENTOS

MOTIVO DESCRIÇÃOExpansão O aumento do nível de operações tem sido o motivo mais comum para as

empresas. A empresa em crescimento, muitas vezes, investe em ativos imobilizados rapidamente, como imóveis e instalações de produção.

Substituição Ao atingir um nível de maturidade, o crescimento da empresa sofre uma desaceleração. Neste momento, grande parte dos ativos imobilizados já está velha, obsoleta, desgastada, depreciada, fazendo-se necessária a sua substituição. Aqui se faz necessária uma análise criteriosa, a fim de avaliar o valor do conserto e o investimento para substituir o imobilizado.

Renovação As inovações tecnológicas são um dos motivos que fazem com que as empresas renovem seus ativos imobilizados por outros que produzam uma quantidade maior, num espaço de tempo menor e ampliando a qualidade. Há vezes em que a renovação permite ampliar a produção, através da sua capacidade produtiva, evitando outros investimentos de expansão.

Outros Podem ser considerados os investimentos que não refletem resultados imediatamente tangíveis e que envolvem algum resultado futuro. Pode-se destacar os investimentos em: publicidade e propaganda, programas sociais e ambientais, pesquisa e desenvolvimento, consultorias em gestão e novos produtos.

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 305)

Independente do motivo que possa levar à necessidade de investimento, o processo para o orçamento de capital consiste nas seguintes etapas inter-relacionadas (GITMAN, 2004):

• Geração de propostas: podem ser feitas por todas as pessoas da organização, nos seus diferentes níveis organizacionais, sempre revisadas pelos superiores.

• Avaliação e análise: consiste em assegurar que as propostas são apropriadas aos objetivos e planos da empresa, bem como uma avaliação da sua validade econômica. A série dos fluxos (receitas e despesas) vai aferir a possibilidade do investimento.

• Tomada de decisão: quanto maior o dispêndio de capital, maior e mais alto será o nível hierárquico que irá decidir quanto a investimento e proposta.

• Implementação: implementar a proposta aprovada.

• Acompanhamento: monitorar os resultados, comparando-os com os projetados. Quando há divergências entre o projetado e realizado, são necessárias medidas que visam diminuir as saídas e melhorar os resultados. Há casos em que o projeto deve ser suspenso.

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TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

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UNI

Procure encontrar um motivo de orçamento de capital para a sua empresa que esteja relacionado aos motivos de: expansão, substituição, renovação, entre outros.

A série de fluxos de caixa irá representar a(s) saída(s) de caixa e a(s) entrada(s) de caixa. Estes fluxos podem representar uma série de fluxos de caixa convencionais e não convencionais.

Uma série de fluxos de caixa convencionais é representada por uma saída de caixa inicial e entradas fixas no decorrer de um período.

Retomando o exemplo da camisa (primeira unidade), vamos imaginar a possibilidade de investir em uma máquina para empacotar as camisetas. A máquina custa R$ 12.000,00 e trará um retorno de R$ 1.500,00 anuais por 10 anos.

Veja no quadro a seguir a representação destes fluxos:

QUADRO 32 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA CONVENCIONAIS

Ano Saídas Entradas0 R$ 12.000,001 R$ 1.500,002 R$ 1.500,003 R$ 1.500,004 R$ 1.500,005 R$ 1.500,006 R$ 1.500,007 R$ 1.500,008 R$ 1.500,009 R$ 1.500,0010 R$ 1.500,00

FONTE: O autor

Uma série de fluxos de caixa não convencionais são os investimentos que requerem diferentes saídas de capital para a manutenção das entradas. Do exemplo anterior, a máquina para empacotar camisetas pode ser reformada e atualizada para continuar provendo as entradas de R$ 1.500,00; mas para isso é necessário que no sexto ano seja realizada esta manutenção, representando mais uma saída de R$ 4.000,00.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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QUADRO 33 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA NÃO CONVENCIONAIS

Ano Saídas Entradas0 R$ 12.000,001 R$ 1.500,002 R$ 1.500,003 R$ 1.500,004 R$ 1.500,005 R$ 1.500,006 R$ 4.000,00 R$ 1.500,007 R$ 1.500,008 R$ 1.500,009 R$ 1.500,0010 R$ 1.500,00

FONTE: O autor

Há ainda a série de fluxos mista, na qual as entradas são variadas. O quadro a seguir ilustra uma série mista para a proposta de investimento na máquina de empacotar:

QUADRO 34 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA MISTA

Ano Saídas Entradas0 R$ 12.000,001 R$ 500,002 R$ 500,003 R$ 1.000,004 R$ 1.000,005 R$ 1.500,006 R$ 1.500,007 R$ 2.000,008 R$ 2.500,009 R$ 3.000,0010 R$ 3.000,00

FONTE: O autor

Este fluxo de saída(s) e entradas dos investimentos é considerado no orçamento de capital.

2.1 PROJETOS INDEPENDENTES

Dentre os diferentes projetos que a empresa possui, há um grupo de projetos que são independentes entre si, ou seja, um não depende do outro. Nos projetos

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TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

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independentes, os fluxos de caixa não estão relacionados, não dependem um do outro e a aceitação de um dos projetos não exclui os demais (GITMAN, 2004).

Dos exemplos destacados neste Caderno de Estudos, a camisaria pode investir numa máquina para estampar as camisetas brancas e/ou numa máquina para empacotar. Os fluxos de caixa de um projeto não estão relacionados ao outro. Observe que se houver recursos para os projetos, ambos podem ser implementados, pois um não afetará o outro.

Nestes casos, as empresas se deparam com a decisão de investir numa nova unidade de negócios, aquisição de um fornecedor, modernização da fábrica, troca de um sistema de informática etc.

Na maioria dos casos, dentre os projetos independentes, a empresa precisa estabelecer prioridades nos investimentos, mas, havendo recursos, todos os projetos podem ser implementados simultaneamente.

2.2 PROJETOS MUTUAMENTE EXCLUDENTES

Ao contrário dos projetos independentes, os projetos mutuamente excludentes são os que apresentam a mesma função, portanto, competem entre si. Ao decidir por um dos projetos mutuamente excludentes, é eliminada a necessidade dos demais.

Do exemplo da camisaria: é necessário investir num mecanismo para lavar as camisetas com água quente. Dos projetos apresentados, cada um permite o aquecimento da água de diferentes formas: aquecimento elétrico, aquecimento solar, aquecimento a gás, aquecimento por caldeira a lenha etc. Cada um dos projetos tem seu fluxo distinto. Ao optar por um dos projetos, automaticamente, a necessidade pelos outros é eliminada.

A necessidade de aumentar a produção de uma empresa pode ser atendida com projetos de: aquisição de outra empresa, terceirização da produção, criação de mais um turno de trabalho ou, ainda, com a ampliação da fábrica. Todos os projetos são mutuamente excludentes.

3 FLUXOS RELEVANTES

Em orçamento de capital, os fluxos relevantes são:

• O investimento inicial: representa a saída de caixa inicial para o investimento. Além do investimento no ativo, também deve incluir os custos de instalação.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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• As entradas de caixa operacional: são resultantes do investimento realizado, expressando a recuperação do investimento inicial em cada um dos períodos. As entradas consideram as receitas geradas pelo ativo, menos as despesas. Deste resultado descontamos a depreciação, a alíquota do Imposto de Renda para reconsiderar a depreciação e encontrarmos as entradas operacionais de caixa. Embora a depreciação não gere um gasto que seja saída de dinheiro, tem que ser considerada, pois esse gasto gera um impacto no IR (Imposto da Renda), podendo diminuir a saída de caixa devido ao pagamento desse imposto.

• Ofluxodecaixaterminal: também é relevante, por demonstrar o fluxo de caixa ao final do investimento ou projeto. Nesta fase consideramos o valor recebido pela venda do ativo antigo.

Retornando aos quadros 32, 33 e 34, do item anterior (Orçamento de Capital), identificam-se os fluxos relevantes:

• Investimento inicial: (R$ 12.000,00).

• Entradas de caixa operacional: cada um dos quadros exemplos revelou estas entradas.

• Fluxo de caixa terminal: supondo que ao final de 10 anos a máquina possa ser vendida por R$ 3.000,00, este é o fluxo de caixa terminal. Lembre-se de que, contabilmente, a máquina já está depreciada – não vale absolutamente mais nada, mas economicamente ainda apresenta um valor residual.

Para saber o total das entradas de caixa até a efetiva entrada de caixa operacional são necessários alguns cálculos, melhor demonstrados com o auxílio da estrutura de Demonstrações dos Resultados.

UNI

Quais são os fluxos relevantes dos últimos investimentos realizados pela empresa onde trabalho?

Observe, no quadro a seguir, a interpretação quanto à nossa máquina para empacotar camisetas:

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TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

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QUADRO 35 – CÁLCULO DAS ENTRADAS DE CAIXA OPERACIONAIS

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(=) Receita 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00

(-) Despesas (sem depreciação)

3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00

(=) Resultado 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00

(-) Depreciação (10% a.a.)

1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00

(=) Lucro líquido antes do IR

300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00

(-) Imposto de Renda (25%)

75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00

(=) Lucro líquido depois IR

225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00

(+) Depreciação 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00

(=) Entradas operacionais Cx.

1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00

FONTE: O autor

UNI

O Quadro 35 não considera o valor do dinheiro no decorrer dos 10 anos?

O quadro acima (Quadro 35) considera a depreciação de 10% a.a. sobre o investimento (R$ 12.000,00), gerando parcelas anuais de R$ 1.200,00. Sabe-se que esta pode ser uma depreciação contábil, mas, na realidade, temos uma depreciação muito maior nos primeiros anos e menor nos anos finais, para a maioria dos bens. Esta oscilação da depreciação pode ser considerada no cálculo das entradas de caixa operacional (fluxo relevante).

Considerou-se a alíquota de 25% a.a. de Imposto de Renda, gerando parcelas anuais de R$ 75,00, pagos sobre os R$ 300,00 anuais de lucro líquido.

Para a substituição de ativos, os três componentes da figura a seguir consideram os elementos para determinar os fluxos relevantes:

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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FIGURA 3 – FLUXOS DE CAIXA RELEVANTES PARA DECISÕES DE SUBSTITUIÇÃO

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 309)

ESTUDOS FUTUROS

Para o investimento de um novo ativo, estes três componentes devem ser claramente identificados. Neste primeiro tópico desta unidade não consideramos o risco, que será abordado no tópico a seguir.

LEITURA COMPLEMENTAR

OS DONOS DO LIXO

O lixo – quem diria? – virou um grande negócio no Brasil.

Diante de um mercado de 20 bilhões de reais, empresários se unem a banqueiros para investir no setor.

Em uma entrevista recente gravada em vídeo pela revista americana de negócios Fortune, o executivo David Steiner soltou a seguinte previsão: daqui a dez anos será possível extrair tanta riqueza do lixo que as empresas do setor poderão fazer sua coleta de graça, sem que nenhum governo tenha de pagar pelo

Investimento Inicial

Entradas de caixa

operacionais

Fluxo de caixa final

Investimento inicial

necessário para adquirir o novo

ativo

Entradas de caixa

operacionais do novo ativo

Fluxo de caixa após o término do novo ativo

Entradas de caixa após a

liquidação do antigo ativo

Entradas de caixa

operacionais do antigo ativo

Fluxos de caixa após o término do antigo ativo

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TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

83

serviço. Ao ouvir a declaração, o interlocutor de Steiner esboçou um sorrisinho de deboche, mas não retrucou. David Steiner ainda está em posição de receber crédito por suas palavras, por mais que elas soem como delírio.

Há sete anos ele é presidente da Waste Management, a maior empresa de lixo dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. Sob sua gestão estão 273 aterros sanitários, 17 usinas de geração de energia por meio da incineração do lixo e 119 operações de conversão do gás metano dos aterros em energia. A Waste Management ainda opera 91 estações de reciclagem de lixo comum e 34 de processamento de lixo orgânico. Com isso, fatura cerca de 12 bilhões de dólares por ano. Hoje, não há nada no Brasil que se pareça com isso – nem em tamanho de receita nem em modelo. Mas, para alguns empresários e investidores, a Waste Management já é uma referência num negócio por muito tempo negligenciado. Segundo estimativas, o mercado de lixo, hoje tremendamente pulverizado, movimenta quase 20 bilhões de reais por ano no país.

Um dos que acompanham com entusiasmo o desempenho da Waste Management e sonham em fazer algo parecido é o paulista Wilson Quintella Júnior, de 54 anos – o homem à frente da Estre. A empresa nasceu há 11 anos com a construção de um aterro sanitário no município de Paulínia, no interior de São Paulo – na época, Quintella deixou um emprego na GP Investimentos para se dedicar ao novo negócio. De lá para cá, ampliou seus domínios e hoje opera dez aterros, que atendem centenas de clientes públicos e privados e estão localizados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, e em Bogotá, na Colômbia, e Buenos Aires, na Argentina. Outros dois deverão ser inaugurados nos próximos meses – na cidade paulista de Piratininga e em Aracaju. Em março deste ano, Quintella fez uma manobra ousada: com a ajuda do BTG Pactual, de André Esteves, atropelou um fundo de private equity que vinha já há algum tempo negociando a empresa de coleta de lixo urbano Cavo, do grupo Camargo Corrêa, e a comprou por 610 milhões de reais. A aquisição da Cavo fará com que o faturamento da Estre, previsto para alcançar 640 milhões de reais em 2011, dobre.

Com os negócios da Estre nessa toada, não é de admirar que, numa palestra recente dada em São Paulo para convidados do Bank of America Merrill Lynch, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha feito menção a Quintella, presente na plateia, dizendo que ele “está rindo de orelha a orelha com o lixo”. O que faz Quintella sorrir não é tanto o que ele já conseguiu construir, mas o potencial que vê pela frente. Ainda hoje a coleta atinge apenas 88% do lixo gerado no Brasil. E, desse volume, 42% ainda são destinados aos lixões. No ano passado, depois de quase 20 anos tramitando no Congresso Nacional, a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos foi finalmente aprovada.

Com ela, foi determinado que 2014 será a data-limite para que todos os municípios do país fechem seus lixões. As prefeituras também terão de estabelecer programas de gestão do lixo que permitem separar os resíduos – aquilo que pode ser reaproveitado – dos rejeitos – material que realmente merece ir para os aterros.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Além disso, a lei deixa claro que a indústria e os consumidores têm deveres a cumprir em relação aos resíduos que geram. Mas isso é o que está no papel. “Há ainda muitos questionamentos sobre como todas essas premissas vão funcionar na prática”, diz Fabrício Soler, advogado especializado em meio ambiente do escritório Felsberg e Associados, de São Paulo. E se vão funcionar.

CONSÓRCIO DE RESÍDUOS

No passado, muito dinheiro público foi distribuído a pequenos municípios para que eles construíssem aterros. O baixo volume de resíduos, associados ao custo e à complexidade de operação do empreendimento, fez com que a maioria se transformasse em lixões. O desafio agora está em fazer com que os municípios trabalhem juntos, de modo a criar uma espécie de “consórcio” para administrar seu lixo. Os diferentes setores da indústria também terão de se mexer e apresentar ao governo propostas sobre como vão fazer a Logística Reversa de seus produtos. Pela lei, as indústrias são responsáveis por dar uma destinação correta a seus produtos descartados pelo consumidor. Até agora, segundo especialistas, as discussões setoriais têm sido mais acaloradas do que produtivas. Independentemente desse cenário ainda nebuloso, muitas empresas ligadas ao negócio do lixo já estão se movendo para aproveitar as oportunidades de negócios decorrentes dessas mudanças. “Esse setor vai explodir no Brasil nesta década. Sobrarão os que estiverem muito preparados”, diz o grego Antonis Mavropoulos, diretor da Associação Internacional de Resíduos Sólidos.

Por enquanto, a Estre é vista como uma das candidatas a liderar essa consolidação. Sua maior concorrente nesse processo é a Haztec, com sede no Rio de Janeiro. Até ser comprada pelo paulista Paulo Tupinambá e mais dois sócios, em 2003, a Haztec era uma consultoria ambiental que faturava 7 milhões de reais por ano prestando serviços como o de descontaminação de solos. Desde então, a empresa cresceu um bocado. O fundo Infrabrasil – dos fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal), gerido pelo Santander – injetou 200 milhões de reais na empresa entre 2007 e 2010 e hoje tem uma participação de 50%.

Em 2008 foi a vez do fundo de private equity do Bradesco investir 160 milhões de reais para ficar com uma fatia de 28% da Haztec. Há um mês, a empresa recebeu grau de investimento – ou seja, representa baixo risco de calote para seus credores – pela agência de classificação de risco Fitch Ratings. A previsão é que a companhia encerre 2011 com faturamento de 700 milhões de reais, a maior parte desse dinheiro oriunda da gestão de quatro aterros sanitários públicos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Recentemente, a Haztec começou a operar sua quinta unidade, o aterro de Seropédica, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

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TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

85

O local é emblemático da mudança da administração dos negócios do lixo no país. Isso porque ele substituirá, até 2012, Jardim Gramacho – misto de aterro e de lixão que por décadas manchou a imagem do Rio de Janeiro e foi cenário de Lixo Extraordinário, documentário sobre o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores de material reciclável e que concorreu ao Oscar deste ano.

Além dos aterros, a empresa também ganha com outros negócios. Em janeiro, a Haztec comprou a Biogás, empresa que usa o metano resultante da decomposição do lixo de dois aterros para gerar algo como 40 megawatts de energia, suficientes para iluminar, por exemplo, uma cidade de 200 mil habitantes. A energia obtida é vendida no mercado livre.

Um dos desafios das empresas que atuam no mercado de lixo é descobrir novos nichos. Foi o que fez a paulista Ambitec, que prevê faturar neste ano algo como 400 milhões de reais – a maior parte dessa receita vem da gestão de resíduos de empresas de grande porte, como Johnson&Johnson, Embraer e International Paper.

Em abril, a Ambitec pagou 4,5 milhões de reais para adquirir 49% da Startup Descarte Certo. Fundada pelo ex-executivo Lucio Di Domenico há menos de três anos, a Descarte Certo oferece aos consumidores, por meio de seu próprio site ou nas lojas de varejistas como Carrefour e Cybelar, um serviço de coleta e de descarte ecologicamente correto de produtos.

Até agora, a empresa atuava apenas como intermediária entre consumidores e empresas de manufatura reversa. “Nos próximos meses faremos investimentos para que ela mesma execute todo o processo”, diz André Oda, professor de finanças da FEA-USP que há um ano foi chamado pela família Borlenghi, dona da Ambitec, para ajudá-la no processo de profissionalização e de preparação para um futuro IPO. “A hora desse mercado é agora, quem não se posicionar rapidamente perderá a oportunidade.”

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 157-161.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste primeiro tópico desta segunda unidade do caderno tivemos uma introdução aos investimentos, compreendendo:

•Investimentos representam uma saída de dinheiro do caixa que precisam gerar entradas. O gestor financeiro deve conhecer claramente estes fluxos.

•O orçamento de capital consiste em selecionar investimentos coerentes com o objetivo da empresa para maximizar o retorno dos proprietários. Os investimentos são motivados pela necessidade de expansão, substituição, renovação ou outros motivos.

•Um processo de orçamento de capital compreende a geração de propostas de investimentos, a avaliação e análise de cada uma das propostas, a decisão por uma das propostas ou a decisão de priorizar cada uma das propostas, a sua implementação e o acompanhamento.

•Dentre os principais motivos de investimento, temos a expansão, substituição e renovação.

•Os fluxos de caixa podem ser convencionais, não convencionais ou mistos.

•Os projetos de investimentos podem ser independentes ou mutuamente excludentes. Os independentes não apresentam qualquer dependência entre si e, havendo disponibilidade financeira, todos podem ser atendidos.

•Os projetos mutuamente excludentes são os que competem entre si, apresentando a mesma função. Assim que um projeto é escolhido, os demais são eliminados.

•Qualquer que seja o investimento, este apresenta uma depreciação – desvalorização que os bens sofrem pelo seu uso, desgaste, idade, inovação tecnológica etc.

•Os fluxos relevantes compreendem: o investimento inicial, as entradas de caixa operacional e o fluxo de caixa final.

•No próximo tópico estudaremos alguns métodos de avaliação de projetos de investimentos.

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AUTOATIVIDADE

As questões a seguir visam fixar o que aprendemos neste primeiro tópico:

1 O orçamento de __________ é um processo que consiste em _________ e __________ investimentos a ________ prazo. Estes investimentos precisam ser coerentes com os ____________ da empresa de maximizar a riqueza e seus _______________.

2 O que representa a depreciação de um investimento?

3 A sua empresa deseja investir num projeto de aquecimento de água e são apresentados dois projetos. Para as opções a seguir, represente o fluxo de caixa:

a) Aquecimento elétrico: investimento inicial de R$ 10.000,00 com cinco entradas anuais de R$ 3.000,00.

b) Aquecimento a gás: investimento inicial de R$ 8.000,00 e nova saída no ano 2 de R$ 4.000,00. As cinco entradas anuais são de R$ 3.100,00.

4 Da questão anterior (questão 3), elabore um demonstrativo das entradas operacionais de caixa, considerando para ambos os projetos uma depreciação de 20% a.a., Imposto de Renda de 25% a.a. e as seguintes receitas e despesas para os projetos:

a) Aquecimento elétrico: receita de R$ 8.000,00 e despesas de R$ 5.000,00 anuais.b) Aquecimento a gás: receita de R$ 7.500,00 e despesas de R$ 3.500,00 anuais.

5 Diferencie projetos independentes de projetos mutuamente excludentes.

6 Explique os três fluxos relevantes de um investimento.

7 O orçamento de capital pode ser motivado por uma necessidade de expansão, substituição e renovação. Explique-os.

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TÓPICO 2

MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE

INVESTIMENTOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

O tópico anterior apresentou os investimentos, a elaboração de orçamento de capital, a diferença entre projetos independentes e mutuamente excludentes, com a identificação dos fluxos relevantes.

Este segundo tópico apresenta alguns métodos de avaliação de projetos de investimentos para avaliar a aceitação ou não dos mesmos. A aceitação vai depender do retorno que este projeto trará para a empresa.

Há técnicas que consideram apenas as entradas de caixa operacional para abater as saídas, calculando o tempo de retorno em períodos. As técnicas mais avançadas consideram o valor do dinheiro ao longo do tempo, realizando a sua atualização a valores presentes líquidos, segundo uma taxa.

Aprimorando a análise do custo do dinheiro ao longo do tempo, esta unidade encerra com a análise do risco. O risco poderá influenciar positiva ou negativamente o projeto de investimento.

2 PAYBACK

Traduzindo-se a expressão Payback, temos pay = pagamento e back = voltar, retorno. Desta forma, fica fácil de iniciarmos a conceituação de Payback: é a quantidade de períodos necessários para recuperar o investimento realizado.

A técnica do Payback é muito usada pelas grandes empresas na análise de pequenos investimentos, em que é pequena a quantidade de períodos de retorno. Também é muito usada por pequenas empresas na análise da maioria de seus investimentos, muitas vezes, pela simplicidade do processo intuitivo.

O resultado do Payback expressa a quantidade de períodos necessários para a empresa recuperar o investimento inicial a partir das entradas de caixa.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Ao utilizar o Payback com critério para investir num determinado projeto, o gestor financeiro:

• Aceita: quando o Payback for menor que o número máximo de períodos aceitáveis.

• Rejeita: quando o Payback for superior ao número máximo de períodos aceitáveis.

O Payback apresenta-se com as técnicas do Payback simples e do Payback descontado.

2.1 PAYBACK SIMPLES

O Payback simples não considera o custo de capital da empresa no decorrer dos períodos, apenas a quantidade de períodos necessários para recuperar o investimento realizado a partir de seus fluxos de caixa.

Resgatando o exemplo da camisaria, a necessidade de adquirir uma máquina para estampar as camisetas. Inicialmente, apresentam-se duas propostas de investimento A e B: ambos os projetos apresentam as mesmas características quanto aos volumes de produção e qualidade, atendendo igualmente às necessidades da empresa.

O projeto A representa um investimento inicial de R$ 24.000,00, enquanto o projeto B, um investimento de R$ 20.000,00. O projeto B parece mais interessante, pois custa menos que o projeto A. Como já estudamos, é necessário avaliar as entradas de caixa previstas em cada um dos projetos no decorrer dos períodos futuros (anos).

A expectativa é de que o retorno do investimento seja de no máximo 10 anos, ou seja, em 10 anos os fluxos de entrada devem se igualar à saída (investimento inicial). Neste caso, são projetadas as entradas de caixa para os 10 anos (períodos).

O quadro a seguir demonstra os fluxos e seus respectivos saldos anuais:

QUADRO 36 – PAYBACK SIMPLES DOS PROJETOS A E B

Ano Investimento – Estamparia Projeto A Investimento - Estamparia Projeto BSaídas Entradas Saldo Saídas Entradas Saldo

0 (24.000,00) (24.000,00) (20.000,00) (20.000,00)1 6.000,00 (18.000,00) 5.500,00 (14.500,00)2 4.000,00 (14.000,00) 4.500,00 (10.000,00)

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

91

FONTE: O autor

Ao analisar o quadro acima, constata-se que o projeto A representa um investimento de R$ 24.000,00 e a partir das suas entradas, este investimento é recuperado no 7º ano, quando cobre o investimento realizado, ou seja, o saldo deixa de ser negativo. Já o projeto B representa um investimento de R$ 20.000,00 e o seu retorno ocorre no 6º ano, 1 (um) ano antes do modelo A.

Assim, dentre estes projetos, além do projeto B ter um investimento inicial menor, os fluxos de entradas dos períodos retornam este investimento inicial antes do projeto A, ou seja, apresenta um tempo de retorno menor.

Surge então outro projeto, revelando fluxos convencionais, com entradas anuais de R$ 5.000,00, diferente dos fluxos mistos apresentados no quadro 36. O investimento inicial é de R$ 22.000,00 e gera entradas iguais de R$ 5.000,00 durante cada um dos dez períodos. Anteriormente, o projeto B apresentava um Payback simples de seis anos. O quadro a seguir demonstra o Payback simples deste projeto C:

QUADRO 37 – PAYBACK SIMPLES DO PROJETO C – COM FLUXO CONVENCIONAL

Ano Investimento - Estamparia Projeto CSaídas Entradas Saldo

0 (22.000,00) (22.000,00)1 5.000,00 (17.000,00)2 5.000,00 (12.000,00)3 5.000,00 (7.000,00)4 5.000,00 (2.000,00)5 5.000,00 3.000,006 5.000,00 8.000,007 5.000,00 13.000,008 5.000,00 18.000,009 5.000,00 23.000,0010 5.000,00 28.000,00

3 4.000,00 (10.000,00) 3.000,00 (7.000,00)4 3.000,00 (7.000,00) 3.000,00 (4.000,00)5 2.500,00 (4.500,00) 2.000,00 (2.000,00)6 2.500,00 (2.000,00) 2.000,00 0,007 2.000,00 0,00 2.000,00 2.000,008 1.500,00 1.500,00 2.000,00 4.000,009 1.500,00 3.000,00 1.500,00 5.500,0010 1.500,00 4.500,00 1.000,00 6.500,00

FONTE: O autor

Page 102: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Este projeto C apresenta o resultado positivo de R$ 3.000,00 antes de finalizar o 5º ano, no qual já ocorre o Payback simples deste investimento. Para ser mais preciso, podemos calcular o Payback simples na fração de anos: (22000 / 5000) = 4,40 anos (pouco menos de quatro anos e meio).

Quando o período do Payback simples for usado para tomar decisão, aceitamos o projeto de investimento quando este período for menor que o número máximo de períodos aceitáveis; ou ainda, rejeitamos quando esta quantidade de períodos for maior que o número de períodos aceitáveis para recuperação do investimento.

Neste caso, todos os três projetos apresentam retorno num período inferior a 10 anos, mas é aceito o projeto C, por apresentar o menor Payback simples, dentre os três.

Durante os períodos de saídas e entradas de caixa do investimento, até que atinja o período de retorno, podem surgir fatores que desfavoreçam o investimento, denominados também de riscos. Quanto maior ou menor o número de períodos, maior ou menor também será o risco.

Os Paybacks simples entre os projetos A e B são muito próximos, com diferença de um ano apenas. Neste caso, uma análise de risco seria fundamental, pois qualquer risco que afetasse as entradas poderia alterar o payback destes projetos.

Já entre o projeto C (menor payback) e o projeto B (segundo menor payback), a diferença de 4,4 anos para 6(seis) anos (um pouco mais de 1 ano e meio) é maior do que entre os projetos A e B. Neste caso, também é necessário avaliar os riscos, mas possivelmente, as entradas não seriam tão afetadas nos primeiros anos quanto aos projetos A e B. O que talvez pudesse ocorrer no projeto C é que o Payback simples fosse um pouco maior.

À medida que aumenta a quantidade dos períodos e/ou riscos, a empresa deverá considerar o custo do dinheiro ao longo do tempo, variável que o Payback simples não considera, ou seja, receber R$ 5.000,00 hoje ou daqui a 10 anos representa o mesmo.

UNI

Você prefere receber R$ 5.000,00 hoje ou daqui a 10 anos, sem correção?

Page 103: Gestão Financeira - UNIASSELVI

TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

93

2.2 PAYBACK DESCONTADO

O Payback descontado difere do Payback simples, pois considera o custo do dinheiro no decorrer dos períodos de aceitação do retorno do investimento. Este custo pode ser representado através da acumulação do valor presente em cada período do projeto.

Vamos basear a análise do projeto C, apontado anteriormente como o melhor projeto, e calcular o Payback descontado. Vamos calcular cada uma das entradas de caixa anuais de R$ 5.000,00 ao seu valor presente, descontando-se 9% a.a. (custo do dinheiro). O quadro a seguir ilustra a composição do saldo a valor presente:

QUADRO 38 – PAYBACK DESCONTADO DO PROJETO C

Ano Investimento - Estamparia Projeto CSaídas Entradas Valor Presente Saldo Presente

0 (22.000,00) (22.000,00)1 5.000,00 4.587,16 (17.412,84)2 5.000,00 4.208,40 (13.204,44)3 5.000,00 3.860,92 (9.343,52)4 5.000,00 3.542,13 (5.801,39)5 5.000,00 3.249,66 (2.551,73)6 5.000,00 2.981,34 429,617 5.000,00 2.735,17 3.164,788 5.000,00 2.509,33 5.674,119 5.000,00 2.302,14 7976,2510 5.000,00 2.112,05 10.088,30

FONTE: O autor

No Payback simples, o retorno ocorria em 4,4 anos. Agora, considerando o custo do dinheiro, a taxa de 9% a.a., o Payback descontado revela o retorno do investimento ao final do 6º período.

NOTA

No Payback simples, o projeto B ocorria em seis anos. O projeto C tinha o Payback simples de 4,4 anos e agora, com Payback descontado, é de seis anos.

A fórmula matemática para calcular o valor presente é:VP FC0: FC1 + FC2 + FC3 + FC4 ++... + FCn(1+k)1 (1+k)2 (1+k)3 (1+k)4 (1+k)n

Page 104: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Vamos recorrer ao uso da calculadora HP12C para facilitar os cálculos do valor presente de cada um dos períodos:

QUADRO 39 – CÁLCULO DO PAYBACK DESCONTADO NA HP12C

Sequência de teclas Explicaçãof REG Limpar todos os registradores.5000 ENTER CHS FV Atribuir R$ 5.000,00, como Valor Futuro (FV).9 i Estabelecer a taxa de desconto de 9% a.a.1 n Informar que deve ser descontada a taxa para 1(um) período.PV Obter o Valor Presente (PV) de R$ 4.587,16 para o primeiro período.

FONTE: O autor

Para calcular para os demais períodos você pode repetir os passos acima (quadro 39), apenas alterando 1n para 2n, 3n e assim por diante, até o último período (10n).

Ao calcular o Payback descontado para os projetos A e B, observamos que as entradas de caixa variam de um ano para outro. Neste caso, é necessário atualizar cada entrada ao valor presente. O quadro a seguir apresenta o Payback descontado do projeto B, igualmente considerando a taxa de 9% a.a.:

QUADRO 40 – PAYBACK DESCONTADO DO PROJETO B

Ano Investimento - Estamparia Projeto BSaídas Entradas Valor Presente Saldo Presente

0 (20.000,00) (20.000,00)1 5.500,00 5.045,87 (14.954,13)2 4.500,00 3.787,56 (11.166,57)3 3.000,00 2.316,55 (8.850,02)4 3.000,00 2.125,28 (6.724,74)5 2.000,00 1.299,86 (5.424,88)6 2.000,00 1.192,53 (4.232,35)7 2.000,00 1.094,07 (3.138,28)8 2.000,00 1.003,73 (2.134,55)9 1.500,00 690,64 (1.443,91)10 1.000,00 422,41 (1.021,50)

FONTE: O autor

O projeto B deve ser rejeitado, pois em 10 anos não ocorre o Payback descontado. Ao final do 10º ano, seu saldo ainda é negativo (em R$ 1.021,50).

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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O valor do Payback descontado pode ser considerado como sendo o prazo de recuperação do investimento remunerado no valor da taxa de juros que representa o custo do capital, mas não considera todos os capitais do fluxo de caixa.

Na técnica do Payback descontado, a decisão continua centrada no número de períodos.

3 VPL

O VPL (Valor Presente Líquido) é uma das técnicas muito utilizadas ao realizar o orçamento de capital para avaliar os projetos de investimentos. O propósito é o de atualizar todas as entradas dos fluxos de caixa futuros para um valor presente, considerando o custo do dinheiro ao longo do tempo.

Ao atualizar os valores das entradas futuras, é preciso conhecer em que período consta cada entrada e, principalmente, qual é a taxa de desconto a ser aplicada. Esta taxa de desconto também pode ser denominada de taxa de retorno exigido, custo de oportunidade ou, ainda, custo de capital.

Vamos resgatar o exemplo do quadro 32, do primeiro tópico desta unidade. Neste quadro é demonstrado o investimento em uma máquina de empacotar camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00, que apresenta 10 entradas anuais de R$ 1.500,00. Cada uma das dez entradas está expressa em valor futuro e, para trazer ao valor presente, vamos considerar a taxa de 5% a.a. (ao ano).

Será calculada cada uma das entradas ao valor presente, descontando a taxa de 5% a.a., com o uso da calculadora HP12C.

A forma mais simples é operar com as funções de fluxos de caixa.

QUADRO 41 – VPL POR FUNÇÕES DE FLUXO DE CAIXA

Sequência de teclas Explicaçãof REG Limpar todos os registradores da calculadora.12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.5 i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.

FONTE: O autor

Obtivemos o resultado líquido de -(R$ 417,40), que retrata o prejuízo deste projeto. A taxa considerada neste exemplo é de apenas 5%, inferior ao rendimento anual da poupança.

Page 106: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

96

Outra possibilidade é trazer cada um dos valores futuros das entradas para valor presente e descontá-los do investimento inicial.

QUADRO 42 – VPL POR FUNÇÕES DE VALOR PRESENTE

Sequência de teclas Explicação Resultadog REG Limpar todos os registradores da calculadora.1500 CHS FV Atribuir a entrada como valor futuro.1 n Atribuir que esta entrada refere-se ao 1º ano.5 i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.PV Calcular o valor presente para o 1º ano. 1.428,572 n PV Entrada do 2º ano calculada a valor presente. 1.360,543 n PV Entrada do 3º ano calculada a valor presente. 1.295,764 n PV Entrada do 4º ano calculada a valor presente. 1.234,055 n PV Entrada do 5º ano calculada a valor presente. 1.175,296 n PV Entrada do 6º ano calculada a valor presente. 1.119,327 n PV Entrada do 7º ano calculada a valor presente. 1.066,028 n PV Entrada do 8º ano calculada a valor presente. 1.015,269 n PV Entrada do 9º ano calculada a valor presente. 966,9110 n PV Entrada do 10º ano calculada a valor presente. 920,88

Total das 10 entradas trazidas a valor presente. 11.582,60

FONTE: O autor

Do quadro acima, a última coluna apresenta o valor presente líquido de cada uma das anuidades. Ao descontar a soma destas entradas de caixa, o valor presente (R$ 11.582,60) do investimento inicial (R$ 12.000,00), o projeto resulta no mesmo prejuízo de -(R$ 417,40).

NOTA

A simplificação apresentada no quadro 41 é válida para projetos que apresentam as entradas de caixa anuais iguais.

Para continuar exercitando a técnica do VPL, vamos resgatar os três projetos da máquina de estampar: A, B e C. Destes três, o projeto C foi aceito por apresentar o menor Payback simples (4,4 anos) e o menor Payback descontado (6 anos).

Os demais projetos foram rejeitados por apresentarem um retorno superior ao projeto C (Payback simples) e por não apresentarem retorno em 10 anos (Payback descontado).

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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Vamos reavaliar estes três projetos com a técnica do VPL, sendo que o quadro a seguir analisa, inicialmente, os projetos A e B (rejeitados anteriormente).

QUADRO 43 – VPL DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS A E B

Ano Investimento - Estamparia Modelo A Investimento - Estamparia Modelo BFluxo Teclas Resultado Fluxo Teclas Resultado

0 (24.000,00) f REG24000 CHS g CFo

(20.000,00) f REG20000 CHS g CFo

1 6.000,00 6000 g CFj 5.500,00 5500 g CFj2 4.000,00 4000 g CFj 4.500,00 4500 g CFj3 4.000,00 4000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj4 3.000,00 3000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj5 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj6 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj7 2.000,00 2000 g CFj 2.000,00 2000 g CFj8 1.500,00 1500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj9 1.500,00 1500 g CFj 1.500,00 1500 g CFj10 1.500,00 1500 g CFj 1.000,00 1000 g CFj

9 if NPV

(-R$ 3.628,06) 9 if NPV

(-R$ 1.021,49)

FONTE: O autor

No quadro acima, ambos os projetos de investimentos foram calculados a valor presente líquido, apresentando VPL negativo: projeto A (-R$ 3.628,06) e projeto B (-R$ 1.021,49); assim, devem ser rejeitados – não apresentam resultado.

ATENCAO

Espera, estamos andando em círculos?Estes valores negativos já foram apresentados anteriormente aos projetos A e B.O que está acontecendo?

Ao analisar os projetos A e B com Payback descontado, houve a necessidade de trazer as entradas de caixa a valor presente. O cálculo do PayBack descontado e da VPL é o mesmo! A diferença está na análise: no payback vamos avaliar a quantidade de períodos necessários para o retorno e no VPL vamos encontrar o saldo dos fluxos em valor presente.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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IMPORTANTE

A diferença de R$ 0,01 do valor presente dos projetos A, B e C, calculados no Payback descontado e agora no VPL, são decorrentes do arredondamento dos valores em duas casas decimais. Esta diferença não ocorre ao considerar todas as casas decimais.

Desta forma, o valor presente líquido obtido no projeto C ao calcular o Payback descontado será o mesmo, desde que a taxa seja a mesma. Vamos aproveitar e exercitar mais um pouco, calculando o VPL do projeto C. Ao final do 10º ano, o VPL representa a importância de R$ 10.088,29.

Sequência de teclas Explicaçãof REG Limpar todos os registradores da calculadora.22000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).5000 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.9 i Estabelecer a taxa de desconto de 9% a.a.f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.

FONTE: O autor

Estes métodos Payback descontado e VPL são muito idênticos. Ou a mesma coisa? Na representação temos os mesmos elementos, mas a diferença consiste nas respostas:

• No Payback descontado temos a informação da quantidade de períodos.• No VPL temos o valor presente líquido ao final dos períodos.

As limitações do VPL consistem em conhecer a taxa de juros que mede o custo do capital futuro e ainda no resultado expresso em valor monetário, ao invés de uma porcentagem.

4 TIRA TIR (Taxa Interna de Retorno) é uma técnica avançada para se calcular o

orçamento de capital. É mais ampla do que o VPL, e muito utilizada na avaliação de alternativas de investimentos.

A TIR é definida como a taxa de desconto que iguala o valor presente das entradas de caixa ao investimento inicial de um projeto; ou seja, é a taxa que zera o VPL das entradas de caixa (GITMAN, 2004).

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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O gestor financeiro também precisa saber qual é a TMA (Taxa Mínima de Atratividade). A TMA é uma taxa de juros mínima que o dono do capital espera ao investir no projeto (custo de capital), ou ainda, para quem pega dinheiro emprestado, o máximo que está disposto a pagar pelo capital de terceiros.

Ao decidir por uma das alternativas de projetos a partir da TIR, o projeto pode ser:

• Aceito: quando a TIR for maior que o custo de capital.• Rejeitado: quando a TIR for menor que o custo de capital.

Vamos resgatar o exemplo do investimento na máquina de empacotar camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00, gerando entradas de caixa anuais de R$ 1.500,00 durante 10 anos.

Para calcular a TIR, seguimos os mesmos passos do quadro 41, mas, ao invés de finalizar a operação com as teclas f NPV, substituímos por f IRR (última linha do quadro a seguir):

QUADRO 44 – CÁLCULO DA TIR

Sequência de teclas Explicaçãof REG Limpar todos os registradores da calculadora.12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.5 i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.f IRR Para obter a TIR – Taxa Interna de Retorno.

FONTE: O autor

ATENCAO

TIR tem sua origem na sigla inglesa IRR (Internal Rate of Return).Nas planilhas eletrônicas e calculadoras financeiras podemos encontrar a função TIR ou, geralmente, IRR.

No investimento acima, a TIR é de 4,277497804%, particularmente, considerada baixa. Agora, é preciso compará-la com a TMA estabelecida pelo(s) dono(s) do capital. Se a TMA é de 10%, rejeitamos o projeto, pois obtivemos uma TIR menor. Já se a TMA é de 3%, aceitamos o projeto, pois a TIR foi superior.

Page 110: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

100

Se a TIR é a taxa de desconto que iguala o VPL das entradas de caixa ao investimento inicial, o resultado de uma operação de VPL com a TIR encontrada deve ser VPL=0.

Significa dizer que se procurarmos o VPL do projeto de investimento na máquina de empacotar camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00, gerando entradas de caixa anuais de R$ 1.500,00 durante 10 anos, o VPL deve ser 0 (zero). Para calcular VPL precisamos de uma taxa que, no nosso caso, será a taxa encontrada pela TIR=4,277497804%.

O quadro a seguir apresenta o cálculo:

QUADRO 45 – VPL POR FUNÇÕES DE FLUXO DE CAIXA

Sequência de teclas Explicaçãof REG Limpar todos os registradores da calculadora.12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.

4,277497804 i Estabelecer a taxa de desconto de 4,277497804% a.a. (TIR encontrada anteriormente).

f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.

FONTE: O autor

Agora o resultado do projeto revela o valor presente de R$ 0,00 (zero), ou seja, com a taxa de 4,277497804% o projeto tem seus fluxos zerados em 10 anos. Manteve-se a TIR expressa com 9 (nove) casas decimais, e as utilizamos da mesma forma, para evitar diferenças de centavos.

E qual a TIR dos projetos A, B e C, das máquinas de estampar camisetas? O quadro a seguir reúne o cálculo da TIR de cada um dos três projetos:

QUADRO 46 – TIR DE INVESTIMENTOS A, B e C

Investimento - Projeto A Investimento - Projeto B Investimento - Projeto CAno Fluxo Teclas Fluxo Teclas Fluxo Teclas

0 (24.000,00)

f REG

24000 CHS g

CFo

(20.000,00)

f REG

20000 CHS

g CFo

(22.000,00)

f REG

22000 CHS

g CFo1 6.000,00 6000 g CFj 5.500,00 5500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj2 4.000,00 4000 g CFj 4.500,00 4500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj3 4.000,00 4000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj4 3.000,00 3000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj5 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj6 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj

Page 111: Gestão Financeira - UNIASSELVI

TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

101

7 2.000,00 2000 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj8 1.500,00 1500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj9 1.500,00 1500 g CFj 1.500,00 1500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj10 1.500,00 1500 g CFj 1.000,00 1000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj

f IRR f IRR f IRRTIR = 4,33% TIR = 7,43% TIR = 18,60%

FONTE: O autor

Do quadro anterior, a maior TIR é encontrada no projeto C (18,60%). Se a TMA (Taxa Mínima de Atratividade) ou custo de capital estabelecido pelos donos de capital for de 20%, todos os três projetos serão rejeitados.

A maior vantagem da TIR é que o resultado é expresso na forma de porcentagem, ao invés de valor monetário (VPL).

5 VPL x TIR

O método VPL apresenta o valor monetário ao final de um determinado período, considerando os fluxos futuros em seu valor presente, conforme uma taxa de desconto estabelecida pelos donos do capital. O VPL está associado ao conceito de maximização da riqueza, ou seja, os ganhos absolutos que geram valor aos acionistas – donos do capital.

Já o método TIR expressa a taxa interna de retorno (%) – retornos relativos, que estão associados ao conceito de maximização da lucratividade.

Como já foi estudado nesta segunda unidade, o orçamento de capital pode avaliar projetos mutuamente excludentes – são aqueles dentre os quais é preciso optar por um deles e rejeitar os demais. Estes projetos apresentam diferentes VPL e TIR.

Neste caso, ao escolher o melhor projeto, devo me basear na VPL ou na TIR?

Para responder a esta pergunta, imagine que você tem duas alternativas de investimentos:

- Investimento A: TIR = 10% e VPL = R$ 100.000,00.- Investimento B: TIR = 20% e VPL = R$ 50.000,00.

Obviamente que você investiria no projeto A, pois ele o torna imediatamente R$ 100.000,00 mais rico. Na análise de projetos mutuamente excludentes, o método a ser considerado para realizar a escolha é o método do valor presente líquido (VPL).

Page 112: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

102

6 TIR/ANÁLISE INCREMENTAL

Para realizar a escolha entre projetos mutuamente excludentes com o método da TIR, obrigatoriamente devemos realizar a análise incremental entre o projeto desafiado em relação ao desafiante.

Vamos partir do seguinte exemplo: o custo de capital da empresa é de 15% e tem dois projetos para ampliar a sua capacidade de produção. Deverá permanecer com o projeto A (desafiante) ou optar pelo projeto B (desafiado)?

QUADRO 47 – TIR E ANÁLISE INCREMENTAL

AnosDesafiante Desafiado Desafiado – DesafianteProjeto A Projeto B Análise Incremental (B-A)

0 (290.000,00) (450.000,00) (160.000,00)1 125.000,00 90.000,00 (35.000,00)2 110.000,00 110.000,00 0,003 80.000,00 140.000,00 60.000,004 55.000,00 170.000,00 115.000,005 45.000,00 210.000,00 165.000,00TIR 16,46 % 15,41 % 14,52%VPL 8.292,14 5.094,11 (3.198,02)

FONTE: O autor

A análise incremental (quadro 47) mostra que o projeto A deve ser escolhido, porque o fluxo incremental é negativo e a TIR é menor de 15%.

A seguir, as condições que vão auxiliar na escolha do melhor projeto, entre desafiante e desafiado:

Se TIR (B-A) > custo de capital, então o projeto B é melhor; senão o projeto A é melhor.

Se VPL (B-A) > 0 (zero), então o projeto B é melhor; senão o projeto A é melhor.

7 RISCOS

No terceiro tópico da primeira unidade deste caderno conversamos um pouco sobre risco: a possibilidade de perda financeira, variabilidade de retorno ou, ainda, comprometimento do retorno previsto. Este risco pode aumentar ou diminuir, a partir de variáveis internas ou externas.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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Os fatores internos estão relacionados à empresa e geralmente podem ser controlados, assim temos maior controle dos riscos. Já os fatores externos estão relacionados aos aspectos fora da empresa: mercado, finanças, economia etc.; e, que não estão sob nosso controle e, muitas vezes, aparecem como “elementos-surpresa”, elevando o risco.

Ao abordarmos técnicas de orçamentos neste segundo tópico desta unidade, Payback, VPL e TIR, consideramos que o ambiente não apresenta incertezas, ou seja, o mesmo grau de risco. Isto é algo praticamente raro ou utópico. Precisamos compreender que cada um dos projetos de investimentos apresenta seus graus de riscos, que afetam o risco geral da empresa.

Vamos recordar um fato: as indústrias tinham máquinas e equipamentos que eram movidos pela queima de madeira ou energia elétrica. Com o advento do gás natural, algumas adotaram projetos de investimentos expressivos adotando este recurso, substituindo a madeira e a energia elétrica. O gás apresentava-se como um recurso natural de baixo custo, onde também muitos carros foram convertidos para gás.

Será que os reajustes que o gás natural sofreu estavam previstos nestes projetos? Com o aumento da demanda, algumas indústrias sofreram com a falta de gás, tendo que interromper a produção, pois já não tinham mais os recursos anteriores das caldeiras e da energia elétrica. Estes são alguns fatos que elevam o risco das empresas e afetam os seus resultados.

Ao realizar orçamentos de capital é necessário considerar o risco das entradas de capital, pois se elas não se realizarem, nosso Payback, VPL e TIR não serão os mesmos. O tempo de retorno poderá se prolongar, o valor presente líquido poderá ser menor ou, ainda, negativo; e a taxa interna de retorno poderá ser menor que a taxa mínima de atratividade (custo de capital).

Para reduzir os riscos é necessária uma análise de sensibilidade para avaliar a variabilidade do retorno, onde é preciso considerar estimativas pessimistas (o pior), estimativas prováveis (o esperado) e, ainda, estimativas otimistas (o melhor).

UNI

Encontramos gestores que no seu orçamento de capital são extremamente otimistas, no pior dos casos são prováveis. É preciso considerar também situações pessimistas.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Numa ação mais ampla, o gestor financeiro deve complementar sua análise de sensibilidade considerando uma análise de cenários onde o seu escopo é mais amplo por considerar, simultaneamente, um conjunto de variáveis integradas que afetam os resultados. Destacamos o poder aquisitivo das pessoas, a inflação, a demanda, a entrada de novos concorrentes, a entrada de novos produtos, a inovação tecnológica etc.

Para lidar com o risco, o gestor financeiro pode realizar simulações considerando todas as variáveis que afetam os resultados. No passado, estas simulações eram realizadas manualmente com lápis, papel e calculadora. Atualmente, encontramos uma série de simuladores empresariais fazendo uso do computador, que coletam os dados operacionais e permitem ao gestor simular os resultados futuros, tratando situações pessimistas, prováveis e otimistas.

DICAS

A cada instante surgem novos recursos que permitem realizar simulações antes das situações reais. Procurem sempre simular os resultados de ações.

Dos estudos que realizamos até o momento, para se tomar decisões de orçamento de capital, devemos (GITMAN, 2004):

• Estimar os fluxos de caixa relevantes.• Aplicar uma técnica de decisão apropriada com VPL ou TIR.• Medir o risco do projeto e ajustar a técnica de decisão em função deste risco.

UNI

Como está o orçamento de capital de sua empresa?

Dentre as opções estratégicas da empresa para viabilizar o seu valor presente líquido ou alcançar a sua taxa interna de retorno, a decisão pode ser de abandono, flexibilidade, crescimento ou oportunidade.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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QUADRO 48 – TIPOS BÁSICOS DE OPÇÕES REAIS

Opção Descrição

Abandono

A opção de abandonar ou terminar um projeto antes do final de sua duração planejada. Essa opção permite à administração evitar ou minimizar perdas com projetos malsucedidos. Reconhecer explicitamente a opção de abandono ao avaliar um projeto quase sempre aumenta seu VPL.

Flexibilidade

A opção de adicionar flexibilidade às operações da empresa, particularmente na área da produção. Em geral, inclui a oportunidade de projetar o processo de produção para a aceitação de insumos alternativos, o uso de tecnologia flexível de produção para criar uma variedade de saídas reconfigurando as mesmas instalações e os mesmos equipamentos, a compra e a manutenção da capacidade ociosa em indústria de capital intensivo suscetíveis de grandes variações de demanda e caracterizadas por longos prazos de construção da capacidade adicional. O reconhecimento dessa opção implícita em um gasto de capital tende a aumentar o VPL do projeto.

Crescimento

A opção de desenvolver projetos de extensão ou continuação, expandir mercados, expandir ou reconfigurar instalações de produção, entre outras, que não existiria sem a implantação do projeto em análise. Se um projeto que estiver sendo avaliado apresentar um potencial significativo de abertura de novas portas, em caso de êxito, o reconhecimento dos fluxos de caixa de tais oportunidades deve ser feito no processo de decisão inicial. As oportunidades de crescimento implícitas em um projeto geralmente aumentam seu VPL.

Oportunidade

A opção de determinar quando diversas iniciativas em relação a um projeto devem ser tomadas. Essa opção reconhece a oportunidade de adiar a aceitação de um projeto por um ou mais períodos, acelerar ou retardar o seu processo de implantação em decorrência do surgimento de novas informações, fechar um projeto temporariamente em resposta a mudança de condições no mercado do produto ou da concorrência. Assim como no caso dos outros tipos de opção, o reconhecimento explícito de opções de oportunidade pode aumentar o VPL de um projeto.

FONTE: Gitman (2004, p. 380)

Além das diferentes opções estratégicas apresentadas acima, a empresa poderá ter diferentes projetos para investir. Cada um deles apresenta-se com um investimento inicial que totaliza um montante superior ao seu orçamento de capital (risco), bem como calculamos sua respectiva TIR. Dada a limitação de capital, é preciso priorizar os que apresentam maior TIR, limitados ao orçamento.

O quadro a seguir resume cinco projetos (A, B, C, D e E) que totalizam o montante de R$ 66.000,00. Dada a limitação de R$ 35.000,00 para investimentos, faz-se necessário priorizar os que apresentam maior TIR.

QUADRO 49 – RISCO DE DIFERENTES PROJETOS COM LIMITE DE CAPITAL

Projeto Investimento Inicial TIRA R$ 12.000,00 3%B R$ 15.000,00 19%C R$ 10.000,00 21%D R$ 22.000,00 13%E R$ 7.000,00 16%TOTAL R$ 66.000,00

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

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Dada a limitação de R$ 35.000,00, são escolhidos os projetos C, B e E (nesta ordem, da maior à menor TIR), que juntos somam o investimento de R$ 32.000,00.

UNI

Aproveite para realizar as autoatividades deste tópico logo e revisar os métodos de avaliação de projetos de investimentos.

LEITURA COMPLEMENTAR

UM CASTELO DE CARTAS QUE DESABA? Stephen Kanitz Duas alegorias estão sendo associadas à crise de 2008. A primeira, a de

que se trata de um castelo de cartas que desabou, como o Muro de Berlim – só que agora é o muro de Wall Street –, o que significaria uma nova ordem mundial a ser construída, com Barack Obama no comando. Por isso tão poucos artigos foram escritos numa tentativa de impedir essa crise. Muito pelo contrário, a maioria dos intelectuais americanos noticiava, com certo prazer, cada detalhe desse desmoronamento. Quanto pior e mais rápido, melhor. O problema é que o castelo de cartas era americano, e não brasileiro, e quem vai pagar pelo pânico aqui gerado é nosso trabalhador, como sempre.

Uma pesquisa do Datafolha revela que 29% dos trabalhadores brasileiros acham que perderão o emprego em 2009, o que mostra a extensão do medo disseminado. Nem em 1929 o desemprego chegou a tanto. Pesquisa do Ibope indica que 50% dos brasileiros vão reduzir gastos.

Se não revertermos esse pânico, aí, sim, teremos uma recessão em 2009. Portanto, demos vários tiros no pé, poderíamos ter passado relativamente imunes, mas não agora, com esse pessimismo todo. Acreditar que reduzir juros resolve, como muitos estão sugerindo, é até infantil. Quem teme perder o emprego não compra a prazo nem com juro zero. Nem com redução de IPI.

A outra alegoria, a que eu prefiro, é a da cadeia de dominós que tombam um a um. É o setor imobiliário, que derruba o setor financeiro, que derruba o setor automobilístico, que derruba o de autopeças, e assim por diante. Não é um castelo de cartas que desaba, mas, sim, uma única peça que cai por alguma razão e arrasta as demais. Perguntas que aqueles que se dizem especialistas no assunto deveriam fazer, mas, infelizmente, não fazem, são: por que o segundo dominó não conseguiu aguentar o tranco do primeiro?

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TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

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Por que, quando um cliente seu não paga, você tem de atrasar seu fornecedor ou despedir seus funcionários? Quando uma empresa despede 2% dos funcionários, como fez a Vale do Rio Doce, o que ela está dizendo é o seguinte: "Vocês, trabalhadores, que sobrevivam usando as suas reservas financeiras pessoais. Não vamos ajudá-los usando as nossas reservas empresariais. Boa sorte e adeus!".

A solução para o futuro é fazer indagações como estas: por que as companhias não possuem as reservas que deveriam ter para aguentar o tranco do parceiro na frente, se ele tropeçar? Por que as empresas não constituem reservas nos tempos bons para usar nos tempos difíceis? Não é por ganância, mas por arrogância intelectual. Muitas companhias passaram a contratar especialistas em prever o cenário econômico, aqueles que previram que o dólar fecharia o ano a 1,67 real, lembram-se? Derrubaram a Sadia, a VCP e a Aracruz. "O futuro é previsível, senhores, o câmbio não passa de 1,80 real, portanto as reservas da sua empresa podem ser reduzidas." Ledo engano, como já alertei inúmeras vezes aqui. O futuro não é previsível, minha gente, e foi essa arrogância intelectual que fez o sistema todo ruir.

O Brasil, em outros tempos, já estaria pedindo socorro ou reservas financeiras ao FMI. O que ocorreu de diferente desta vez? O país tinha reservas de 200 bilhões de dólares, acumuladas sob críticas constantes de que eram desnecessárias. Existem inúmeras outras razões por que empresas não constituem reservas, desde a pressão de analistas, a tributação de reservas, o que é um absurdo, e otimismo demasiado com relação ao futuro. No Brasil, taxamos reservas na pessoa jurídica em 32% e na pessoa física em 20%, o que leva à distribuição imediata aos sócios. Outro absurdo.

Para que companhias se mantenham sólidas no futuro, temos de lidar com essas questões, e não com a redução de juros, mais gastos do governo, mais supervisão mundial. Portanto, preparem-se, porque em 2009 vamos ler um monte de bobagens, com prêmios Nobel sugerindo uma nova ordem mundial, e ninguém vai se lembrar do óbvio, de que países, empresas e famílias precisam de reservas financeiras adequadas, para aguentar as tempestades futuras e não demitir pessoal.

Stephen Kanitz é administrador pela Harvard Business School (www.kanitz.com.br)

FONTE: Revista Veja. Editora Abril, edição 2094, ano 42, nº 17 de janeiro de 2009, p. 14.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Este tópico foi pontual nos métodos de avaliação de projetos de investimentoseaofinalincluiavariáveldorisco.Ostópicosaseguirresumemos conteúdos:

•O payback é uma técnica que vai determinar a quantidade de períodos necessários para a empresa recuperar o investimento inicial a partir das suas entradas de caixa. O Payback simples não considera o custo do capital no decorrer dos períodos, enquanto que o Payback descontado considera este custo.

•A decisão de aceitar um projeto com a informação do payback está relacionada ao menor número de períodos para retorno do investimento, desde que este período esteja abaixo do máximo aceitável.

•A simplicidade no processo intuitivo leva as empresas a utilizarem o payback para tomada de decisão de investimento.

•O VPL é uma técnica avançada, pois considera o valor do dinheiro no decorrer do projeto. Todas as entradas projetadas são ajustadas para valor presente líquido, da qual é aplicada uma taxa de desconto, também conhecida como taxa de retorno exigido ou, ainda, custo do capital.

•A TIR é a mais avançada das técnicas, pois irá determinar a taxa que iguala os fluxos de entrada ao investimento. Igualar entradas de caixa e investimento significa obter um valor presente líquido nulo no período (VPL=0).

•A aceitação de projetos analisados pela TIR vai depender da TMA (Taxa Mínima de Atratividade). Esta TMA é estabelecida pelos donos do capital (dinheiro). Caso a TIR seja superior à TMA, o projeto pode ser aceito; caso contrário, rejeitado.

•Juntamente com estas técnicas de orçamento de capital, devemos adicionar o risco – a variabilidade do resultado. Para se tomar decisão em relação a um orçamento de capital é preciso: estimar os fluxos de caixa relevantes, aplicar uma técnica de decisão apropriada com VPL ou TIR e medir o risco do projeto e ajustar a técnica de decisão em função deste risco.

•Para a empresa alcançar a sua TIR ou viabilizar o seu VPL, poderá tomar decisões estratégicas de abandono, flexibilidade, crescimento ou oportunidade.

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AUTOATIVIDADE

Que maravilha! Vamos responder às questões para revisar os conteúdos:

1 Complete a sentença a seguir:

Payback representa ser uma técnica de _________de projetos, que vai calcular a ___________de ___________ necessários para recuperar o ___________ realizado.

2 O que diferencia o Payback simples do Payback descontado?

3 Complete a sentença a seguir:

Utilizando-se o método do payback na análise de investimento de um determinado projeto, o gestor financeiro ___________ o projeto quando o ______________ for menor que o número máximo de períodos aceitáveis e rejeita quando for superior ao ____________ de ________________ aceitáveis.

4 Demonstre o fluxo dos projetos a seguir, calcule o Payback simples de cada um dos projetos e apresente o melhor:

a) Projeto A: investimento Inicial de R$ 30.000,00 com entradas anuais de R$ 5.000,00 durante 10 anos.

b) Projeto B: investimento Inicial de R$ 27.000,00 com entrada de caixa de R$ 7.000,00 nos dois primeiros anos, R$ 6.000,00 nos próximos dois anos, R$ 4.000,00 nos próximos dois anos e R$ 3.000,00 nos quatro próximos anos.

5 Da questão anterior, demonstre o fluxo dos projetos A e B, calcule o Payback descontado e o VPL de cada um dos projetos, trazendo a indicação do melhor dentre eles. Considere a taxa de 5% a.a.

6 Quais são os elementos fundamentais para que possamos considerar o custo do capital ao longo do tempo, no cálculo do valor presente líquido?

7 O que é a TMA e o que representa?

8 Analisando projetos a partir da TIR, em que situação o projeto pode ser aceito ou deve ser rejeitado?

9 O que é o risco?

10 Por que considerar o risco nas técnicas de orçamento?

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11 Explique a decisão de abandono, flexibilidade, crescimento e oportunidade para se alcançar o VPL ou TIR da empresa.

12 Nossa camisaria necessita de um veículo para entrega dos produtos nos pontos de revenda. O projeto divide-se no investimento de um automóvel flex (gasolina e álcool) ou diesel. Ambos apresentam entradas anuais de 10 anos. Calcule o Payback descontado, VPL e TIR de cada uma das opções de investimento a seguir. Considere a taxa de 10% a.a. para o cálculo do Payback descontado e VPL:

a) Flex: investimento de R$ 40.000,00 e entradas de caixa de R$ 7.500,00 anuais.b) Diesel: investimento de R$ 55.000,00 e entradas de caixa de R$ 9.000,00 anuais.

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TÓPICO 3

FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

O capital (dinheiro) de uma empresa é formado pelo capital investido pelos sócios e por capital de terceiros. Cada um deles apresenta uma taxa de retorno, que compõe o custo do capital.

Ao decidir por saídas de longo prazo (investimentos) são encontradas opções de financiamentos para realizá-los. É fundamental avaliar o custo de cada uma das opções de financiamento (próprio e de terceiros) para que os resultados não sejam comprometidos.

Nesta aplicação do capital, as empresas buscam alavancar os seus resultados, sejam operacionais e/ou financeiros. O ponto de equilíbrio é uma das ferramentas indispensáveis para que se conheça o ponto de alavancagem.

Vamos lá e bons estudos.

2 ESTRUTURA DE CAPITAL

Ao montar uma empresa há a necessidade de dinheiro, ou seja, de capital, que pode ser:

• Capital próprio: representa os recursos dos sócios da empresa.• Capital de terceiros: são os recursos emprestados, financiados com os não sócios.

A decisão de compor a estrutura de capital da empresa entre capital próprio e capital de terceiros é uma atividade bastante complexa para o gestor financeiro.

Ao considerar os fluxos de caixa a valor presente líquido, considerando o valor/custo do dinheiro ao longo do tempo, uma decisão errada poderá gerar VPL´s menores, enquanto que as decisões acertadas vão gerar VPL´s maiores.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

O quadro a seguir destaca, de forma simplificada, as contas do passivo de um balanço patrimonial, para a identificação da composição da estrutura de capital total:

QUADRO 50 – BALANÇO PATRIMONIAL x ESTRUTURA DE CAPITAL

Balanço Patrimonial

AtivoPassivo circulanteExigível de longo prazo Capital de dívidas (emprestado de terceiros)Patrimônio líquido Capital próprio

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 445)

Apesar de algumas fontes divulgarem índices de endividamento por setor ou ramo de atividade, não há uma receita ou fórmula para a sua composição: o ponto de equilíbrio entre o capital próprio e o capital de terceiros.

Para evitar a falência da empresa, a estruturação do capital (próprio e de terceiros) considera:

• Risco econômico: a preocupação da empresa de não conseguir cobrir os seus custos operacionais.

• Risco financeiro: a preocupação de não conseguir cobrir suas obrigações financeiras.

• Custo de agency: também interpretado como a taxa imposta pelos investidores da empresa, os donos do capital. A imposição de altas taxas pode comprometer os resultados. É necessário considerar que se a empresa puder captar recursos de terceiros, poderá investir em novos projetos ou devolver o capital investido pelos donos. Ao arriscar na aplicação deste capital de terceiros em novos projetos, estes podem dar certo (aumenta a possibilidade de retorno aos investidores) ou errado (diminuir as chances de retorno).

Informação assimétrica: a preocupação com o desencontro das informações, onde algo positivo pode de fato ser julgado como bom ou não; e vice-versa. A condição deste desencontro de informações, de tempos em tempos, gera nas empresas a necessidade de não esgotarem o seu limite de capital de terceiros e capital próprio, para que possam usar estas reservas para aproveitar oportunidades de investimento.

O quadro a seguir sintetiza os fatores de algumas preocupações quanto à estruturação do capital:

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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QUADRO 51 – FATORES NA DECISÃO DE ESTRUTURA DE CAPITAL

Preocupação Fator Descrição

Risco Econômico

Estabilidade de receitas

Empresas com receitas estáveis e previstas podem adotar com maior segurança estruturas de capitais altamente alavancadas, ao contrário das com receitas de vendas voláteis. Empresas com vendas crescentes tendem a se beneficiar com o uso do capital de terceiros adicional, permitindo benefícios positivos da alavancagem financeira, a qual amplia o efeito do aumento das vendas

Fluxo de caixa

Numa nova estrutura de capital, a empresa deve concentrar sua atenção na sua capacidade de gerar os fluxos de caixa necessários para cobrir suas obrigações. Os fluxos de caixa projetados devem se mostrar capazes de fazer o serviço das dívidas, para que apoiem qualquer alteração da estrutura de capital.

Custos de agency

Obrigações contratuais

Empresas podem estar contratualmente limitadas quanto ao tipo de fundo que podem captar. Exemplo: pode estar proibida de obter capital de terceiros adicional, a não ser que os direitos dos fornecedores dos novos recursos fiquem subordinados aos dos titulares das dívidas já existentes. Também podem existir restrições contratuais à venda de novas ações, bem como à capacidade de pagamento de dividendos aos acionistas.

Preferências dos administradores

Ocasionalmente, a empresa imporá alguma restrição interna sobre o uso de capital de terceiros, para limitar sua exposição a risco a um nível considerado aceitável pela administração. Por força de aversão a risco, a administração limita a estrutura de capital a um nível considerado o verdadeiro ótimo ou não.

Controle

Em geral, somente em empresas fechadas ou ameaçadas por tentativas de aquisição o controle chega a ser uma questão importante na decisão a respeito da estrutura de capital.

Informação assimétrica

Avaliação externa de risco

A capacidade de obter fundos rapidamente e a taxas favoráveis depende das avaliações externas de risco por fornecedores de recursos e por agências de classificação de risco. Consequentemente, a empresa deve considerar o impacto das decisões relativas à estrutura de capital sobre o valor da ação e sobre demonstrações financeiras publicadas, com as quais os fornecedores de recursos e as agências de classificação avaliam o risco.

Oportunidade

Às vezes, quando o nível geral de taxas de juros é baixo, o financiamento com capital de terceiros pode ser mais atraente. Em algumas ocasiões, tanto capital de terceiros como capital próprio tornam-se indisponíveis em condições que seriam consideradas razoáveis. As condições econômicas gerais – em especial as do mercado de capitais – podem assim afetar significativamente as decisões relativas à estrutura de capital.

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 462)

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

ATENCAO

Não há uma fórmula para calcular uma estrutura ótima de capital, portanto, as empresas procuram operar numa faixa que lhes permite acreditar ser a estrutura ótima de capital. É fundamental aumentar o valor da empresa e manter ou reduzir os custos.

3 CUSTO DE CAPITAL E FINANCIAMENTOS

O gestor financeiro poderá conseguir capital através de diferentes fontes com diferentes custos, e este custo de capital é um fator importante a ser considerado na tomada das decisões financeiras, quanto à estrutura de capital.

São análises e decisões que circundam o gestor financeiro, pois em cada uma das situações terá que analisar o custo do capital. Neste tópico vamos tratar das fontes de capital de terceiros e do capital próprio – ambos podem alterar os resultados da empresa.

Nas fontes de capital de longo prazo temos os projetos de investimentos em ativos permanentes. Este investimento é financiado junto com as instituições financeiras (bancos), conhecido também por “financiamentos”. A taxa estabelecida pelo banco varia:

• de instituição para instituição;

• do montante captado;

• da quantidade de períodos para a devolução deste capital; e,

• principalmente da análise que o banco realiza sobre a nossa empresa: o seu tempo de mercado, ativo, liquidez, grau de endividamento etc.

Já o custo do capital próprio é estabelecido pelo dono do capital, sócios da empresa. É uma taxa esperada pelos sócios pela aplicação do seu dinheiro na empresa. Alguns denominam de taxa de oportunidade ou taxa mínima de atratividade (abordado anteriormente).

O custo do capital próprio investido na empresa deverá ser no mínimo igual à taxa livre de risco da economia. No Brasil, esta taxa livre de risco é a SELIC (Sistema Especial de Liquidação de Custódia), que reflete o custo do dinheiro para empréstimos bancários baseado na remuneração dos títulos públicos. Se o custo do capital próprio (taxa esperada) for menor que a SELIC, não vale a pena investir na empresa e sim aplicar no mercado financeiro, que seu retorno será maior.

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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“O custo do patrimônio líquido é a taxa de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa” (DAMODARAN, 1997, p. 59). Desta forma, o custo do capital próprio é dado pela expectativa de retorno sobre o patrimônio líquido - %RPL (abordado na primeira unidade deste caderno).

É importante saber que na busca de capital de terceiros, o montante emprestado é pago em diferentes modalidades. Nos primeiros períodos, podemos ter carência de juros e/ou valor emprestado, assim como as parcelas podem ser prefixadas (com juros embutidos) ou corrigidas por um índice.

Estes fatores afetam diretamente o orçamento de capital, principalmente na projeção dos resultados. Quando temos um período de carência, talvez pagando apenas os juros, as entradas líquidas de caixa podem ser mais expressivas. Num período começamos a pagar a dívida (amortizar o capital emprestado), além dos juros, o que pode representar entradas líquidas de caixa menor, ou de repente negativa.

O quadro a seguir ilustra um projeto de investimento inicial de R$ 40.000,00, gerando entradas anuais de R$ 18.000,00; no qual nos dois primeiros anos serão pagos apenas os juros e a partir do 3º ano, além dos juros também será amortizado o empréstimo nos quatro anos seguintes. Serão considerados os valores fixos, não atualizando a valor presente.

QUADRO 52 – ORÇAMENTO COM FINANCIAMENTO

Período Saídas Entradas Pagamento Entradas Líquidas0 (R$ 40.000,00) 0,00 0,00 0,001 0,00 18,000,00 4.000,00 14.000,002 0,00 18,000,00 4.000,00 14.000,003 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,004 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,005 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,006 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,00

FONTE: O autor

No exemplo acima verifica-se que durante os seis períodos as entradas foram iguais, nos dois primeiros períodos foram pagos juros e nos quatro anos seguintes foi paga a parcela mais os juros. As entradas líquidas iniciais foram altas, mas as finais baixas.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

NOTA

É necessário considerar o risco ao determinar o custo de capital próprio e de terceiros, pois, se mal estimado este custo, pode comprometer os resultados da empresa.

Outro fator muito importante a ser considerado no uso do capital de terceiros é que os terceiros não são tributados pelo IR ao resultado. No DRE, eles são descontados antes do IR (Imposto de Renda). O quadro a seguir simula os resultados com capital de terceiros e sem capital de terceiros:

QUADRO 53 – RESULTADO COM E SEM CAPITAL DE TERCEIROS x IR

DRE Com Capital de Terceiros Sem Capital de Terceiros(=) ROB R$ 1.200.000,00 R$ 1.200.000,00(-) Impostos (10%) R$ 120.000,00 R$ 120.000,00(=) ROL R$ 1.080.000,00 R$ 1.080.000,00(-) CMV R$ 740.000,00 R$ 740.000,00 (=) Lucro bruto R$ 340.000,00 R$ 340.000,00(-) Despesas administrativas R$ 80.000,00 R$ 80.000,00(-) Despesas de pessoal R$ 100.000,00 R$ 100.000,00(=) Lucro operacional (antes de juros e IR)

R$ 160.000,00 R$ 160.000,00

(-) Despesas financeiras R$ 100.000,00 R$ 0,00(=) Lucro antes do IR (LAIR) R$ 60.000,00 R$ 160.000,00(=) Imposto de Renda (30%) R$ 18.000,00 R$ 48.000,00(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 42.000,00 R$ 112.000,00

FONTE: O autor

3.1 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC)

O custo do capital de uma organização representa a taxa de juros necessária para satisfazer esta estrutura de capital próprio e de terceiros.

Para isso se faz necessário determinar o Custo Médio Ponderado do Capital (CMPC). É muito simples! Calculamos a média ponderada entre o custo do capital próprio e o custo do capital de terceiros, após o Imposto de Renda.

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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Vamos calcular o CMPC considerando a seguinte situação: Para você investir na camisaria, necessita de R$ 10.000,00, dos quais:

• Capital Próprio: dispõe de R$ 4.000,00 que estão aplicados na poupança, com rendimento de 9% a.a.

• Capital de Terceiros: o banco emprestará R$ 4.000,00 a uma taxa de 20% a.a.

Um amigo irá lhe emprestar os R$ 2.000,00 restantes, que para ele rendem 14% a.a. numa aplicação.

Ao final de um ano, você deverá devolver os valores tomados, acrescidos dos juros devidos:

- Você deverá resgatar os R$ 4.000,00, acrescidos dos 9% de juros, R$ 360,00.- Ao banco deverá pagar R$ 4.000,00, acrescidos dos 20% de juros, R$ 800,00.- Ao seu amigo deverá devolver R$ 2.000,00, acrescidos dos 14% de juros, R$ 280,00.

Resumidamente, ao final do ano a camisaria deverá, no mínimo, conseguir devolver os R$ 10.000,00 que você investiu, mais a soma dos juros no valor de R$ 1.440,00. Desta forma, a taxa mínima requerida para pagar os fornecedores do capital é de 14,40% (1.440,00/10.000,00).

Cada uma das fontes de capital: você, o banco e seu amigo, tem participações distintas na estruturação do capital, que é igual à média ponderada das taxas de juros de cada fonte, ou seja:

CMPC = (4000 * 0,09) + (4000 * 0,20) + (2000 * 0,14) = 14,40%.R$ 10.000,00.

Ao demonstrar esta composição num balanço patrimonial, teríamos o seguinte:

QUADRO 54 – COMPOSIÇÃO CAPITAL DO BALANÇO

ATIVO PASSIVOCirculante CirculanteCaixa 10.000,00 Empréstimos de terceiros 2.000,00

Empréstimos bancários 4.000,00Patrimônio líquido 4.000,00

Total do ativo 10.000,00 Total do passivo 10.000,00

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

Do balanço acima, observe que no passivo consta a composição do capital, o que integra o caixa e que representa o total do ativo. Neste exemplo não consideramos as demais contas do balanço, apenas para ilustrar a demonstração da estrutura do capital.

Agora vamos demonstrar esta estrutura de capital num DRE, conforme a ilustração a seguir:

QUADRO 55 – ESTRUTURA DE CAPITAL NO DRE

Modelo Tradicional Modelo Ajustado(=) ROB 120.000,00 (=) ROB 120.000,00(-) Impostos 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 108.000,00(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 84.000,00(=) Lucro bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 24.000,00(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00(-) Despesas financeiras 1.080,00 (=) Lucro operacional antes IR 2.400,00(=) Lucro operacional antes IR 1.320,00 (-) Provisão IR (30%) 720,00(-) Provisão IR (30%) 396,00 (=) Lucro operacional após IR 1.680,00

(-) Despesa financeira antes IR (1.080,00) – Economia do IR (720,00 – 396,00 = 324,00)

756,00

(=) Lucro líquido 924,00 (=) Lucro líquido 924,00

FONTE: O autor

Observe que as despesas financeiras totalizam a importância de R$ 1.080,00, proveniente de R$ 800,00 de juros devidos ao banco e de R$ 280,00 de juros devidos ao amigo.

A partir dos demonstrativos financeiros, podemos calcular o custo do capital de uma empresa:

- Custo do Capital Próprio = Lucro Líquido = 924,00 = 9,24%- Patrimônio Líquido 10.000,00- Custo do Capital de Terceiros = Despesas Financeiras = 1.080,00 = 18,00%- Total de Financiamentos 6.000,00

Observa-se que o custo do capital próprio obtido acima foi de 9,24%, um pouco acima dos 9% desejados pelo investidor.

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

119

Ambas as fórmulas a seguir permitem calcular o CMPC:

CMPC = (Capital Próprio/Total de Capitais) x Custo do Capital Próprio + (Capital de terceiros/Total de Capitais) x Custo do Capital de Terceiros (1 – Alíquota do Imposto de Renda.CMPC = (CP/TC) x CCP + (CT/TC) x CCT (1-Alíquota IR).CMPC = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio) + (Capital de Terceiros x Custo do Capital de Terceiros) x (1 – Alíquota do Imposto de Renda) / Total de CapitaisCMPC = (CP x CCP) + (CT x CCT) x (1 – Alíquota IR)Total de capitais

NOTA

Calcular o CMPC – Custo Médio Ponderado de Capital é como determinar a média ponderada, aplicando-se os devidos pesos a provas e trabalhos que compõem sua média final.

4 ALAVANCAGEM

Recorrendo ao dicionário, alavancagem é uma expressão usada para denominar um meio de ação para vencer qualquer resistência.

O gestor financeiro precisa lidar com a alavancagem da empresa, que pode ser:

● Operacional: quando o percentual aumento das operações é superior ao aumento de seus custos. Exemplo: a elevação da produção é percentualmente superior ao custo de produção; ou ainda, quando a elevação das vendas é percentualmente superior aos custos.

● Financeira: quando a empresa consegue usar os encargos financeiros fixos para aumentar o seu lucro (GITMAN, 2003).

● Combinada: a alavancagem é combinada entre operacional e financeira – é o efeito da variação percentual da receita operacional no lucro líquido.

O quadro a seguir ilustra a composição da alavancagem total:

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

QUADRO 56 – COMPOSIÇÃO DA ALAVANCAGEM TOTAL

Alavancagem Operacional

(=) Receita de vendas(-) CMV (Custo das mercadorias vendidas)(=) Lucro bruto(-) Despesas operacionais

(=) Lucro antes de despesas financeiras e IR

Alavancagem Financeira

(-) Despesas financeiras(=) Lucro líquido antes do IR(-) Imposto de Renda(=) Lucro líquido após IR

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 434)

Ao estudar alavancagem é necessário também conhecer o conceito de ponto de equilíbrio, do inglês break-even-point. O ponto de equilíbrio é o momento em que as receitas (entradas) pagam todas as despesas (saídas) e o resultado final é 0 (zero) (ASSAF, 2009).

Quando os resultados são inferiores ao ponto de equilíbrio, significa dizer que há prejuízo, faltam recursos para as contas. Já quando os resultados superam o ponto de equilíbrio, há resultado. O ponto de equilíbrio pode ser operacional e financeiro.

O ponto de equilíbrio operacional é obtido no momento em que as vendas cobrem as despesas operacionais, então temos o “Lucro antes de despesas financeiras e IR” = 0 (zero).

As empresas necessitam operar no ponto de equilíbrio operacional, para evitar prejuízos, e podem alavancar as operações através:

• Do aumento do preço de venda e/ou o aumento da quantidade vendida e/ou ainda o ajuste dos custos das mercadorias vendidas e das despesas.

• Ao lidar com o ponto de equilíbrio operacional, decidimos o preço. A teoria da demanda elástica e a teoria da elasticidade afetam o ponto de equilíbrio.

• A teoria da demanda elástica estabelece que: o aumento do preço pode gerar uma queda na demanda, a redução do preço pode gerar um aumento na demanda; desconsiderando qualquer ação de valor agregado.

• A teoria da elasticidade mostra que para conseguir reduzir os custos da mercadoria vendida, a empresa pode ter que aceitar condições de maior volume de compra e/ou menor prazo de pagamento aos fornecedores.

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

121

Vamos recorrer ao DRE da nossa camisaria, relembrando alguns elementos:

- O custo da camiseta é de R$ 7,00.- O preço de venda é de R$ 10,00.- Os impostos totalizam 10% sobre as vendas, ou seja, R$ 1,00 por camiseta.- Os custos fixos (despesas administrativas e de pessoal) totalizam R$ 21.600,00.

Agora, vamos encontrar o Ponto de Equilíbrio Operacional com a seguinte fórmula:

QUADRO 57 – CÁLCULO DO PONTO DE EQUILÍBRIO OPERACIONAL

Fórmula de Cálculo Resultado

Ponto de Equilíbrio Operacional (Qtde) =Custos Fixos 21.600,00

= 10.800Preço-CMV-Impostos 10 – 7 – 1

FONTE: O autor

Desta forma, com a venda de 10.800 camisetas, atingimos o ponto de equilíbrio, ou seja, as receitas cobrem as despesas.

O quadro a seguir apresenta uma simulação da alavancagem operacional, no qual se apresenta uma situação inicial para avaliar o impacto no lucro considerando uma redução e um aumento de 10% na receita operacional bruta - vendas:

QUADRO 58 – ALAVANCAGEM OPERACIONAL

Alavancagem OperacionalVariação % da receita operacional -10% Situação Inicial +10%(=) Receita operacional 90.000,00 100.000,00 110.000,00(-) Custos e despesas operacionais variáveis 45.000,00 50.000,00 55.000,00(-) Custos e despesas operacionais fixas 25.000,00 25.000,00 25.000,00(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 20.000,00 25.000,00 30.000,00Variação % do LAJIR -20% - +20%

FONTE: O autor

O exemplo acima apresenta uma variação, tanto positiva quanto negativa, da ordem de 20% no lucro, com uma variação de apenas 10% na receita operacional. Neste caso, é preciso considerar alguns pontos no dia a dia:

Ao comprarmos menos, pois as vendas são menores (10%), podemos nos deparar com preços mais altos. Da mesma forma que ao comprar uma quantidade maior (10%), podemos conseguir custos e despesas variáveis mais baixos.

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

Os custos e despesas operacionais fixas podem sofrer alterações, dependendo do volume de serviço: reduzindo as vendas pode-se ter pessoas ociosas, já para alcançar um volume de vendas maior, pode-se ter a necessidade de contratação de mais pessoas.

A partir destas informações podemos determinar o GAO (Grau de Alavancagem Operacional), que vai demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no lucro antes dos juros e IR (LAJIR) a cada variação de um ponto percentual na variação da receita operacional.

QUADRO 59 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL

GAO =Variação LAJIR 20%

= 2Variação da Receita Operacional 10%

FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar a receita da empresa, o lucro antes dos juros e IR (LAJIR) terá uma variação de dois pontos percentuais.

Agora, o quadro a seguir irá apresentar a alavancagem financeira, com o mesmo crescimento de 10% a.a.:

QUADRO 60 – ALAVANCAGEM FINANCEIRA

Alavancagem FinanceiraVariação % do LAJIR -20% Situação Inicial 20%(=) LAJIR (Lucro antes dos juros e IR) 20.000,00 25.000,00 30.000,00(-) Despesas financeiras 10.000,00 10.000,00 10.000,00(=) Lucro antes do IR 10.000,00 15.000,00 20.000,00(-) IR – Imposto de Renda (30%) 3.000,00 4.500,00 6.000,00(=) Resultado final 7.000,00 10.500,00 14.000,00Variação % do resultado -33% - 33%

FONTE: O autor

Novamente, precisamos compreender que as despesas financeiras estão fixas, ou seja, não está sendo considerada a variação das despesas financeiras, elas podem aumentar ou diminuir em função do volume de compras e/ou dos prazos concedidos aos clientes.

Vamos determinar o GAF (Grau de Alavancagem Financeira), que vai demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no Resultado a cada variação de um ponto percentual no lucro antes dos Juros e IR (LAJIR).

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TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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QUADRO 61 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA

GAF =Variação do Resultado 33,33 %

= 1,67Variação LAJIR 20%

FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar o lucro antes dos juros e IR (LAJIR), teremos uma variação de 1,67 pontos percentuais no resultado.

Agora vamos combinar a alavancagem operacional e a alavancagem financeira, no que se denomina de alavancagem combinada:

QUADRO 62 – ALAVANCAGEM COMBINADA

Alavancagem CombinadaVariação % da receita operacional -10% Situação Inicial +10%(=) Receita operacional 90.000,00 100.000,00 110.000,00(-) Custos e despesas operacionais variáveis 45.000,00 50.000,00 55.000,00(-) Custos e despesas operacionais fixas 25.000,00 25.000,00 25.000,00(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 20.000,00 25.000,00 30.000,00(-) Despesas financeiras 10.000,00 10.000,00 10.000,00(=) Lucro antes do IR 10.000,00 15.000,00 20.000,00(-) IR – Imposto de Renda (30%) 3.000,00 4.500,00 6.000,00(=) Resultado final 7.000,00 10.500,00 14.000,00Variação % do resultado -33,33% - +33,33%

FONTE: O autor

Vamos determinar o GAC (Grau de Alavancagem Combinada), que vai demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no resultado a cada variação de um ponto percentual na receita operacional.

DICAS

Outra maneira simples de calcularmos o GAC é: GAO x GAF, ou seja: GAC = 2 x 1,67 = 3,33.

GAC = Variação do Resultado 33,33 % = 3,33Variação da Receita 10%

QUADRO 63 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM COMBINADA

FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar a receita operacional, teremos uma variação de 3,33 pontos percentuais no resultado.

Page 134: Gestão Financeira - UNIASSELVI

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

LEITURA COMPLEMENTAR

EXPANSÃO ACELERADA

Mercado brasileiro de franquias movimentou 75,98 bilhões de reais em 2010 e completa mais de uma década de crescimento acima do PIB.

O ano de 2010 foi bastante positivo para a economia brasileira, que apresentou um crescimento de 7,5% em relação a 2009. O Brasil foi o terceiro país do mundo com maior crescimento, atrás apenas da China (10,3%) e da Índia (8,6%). Para alguns setores, porém, o ano foi ainda mais brilhante.

É o caso dos segmentos de franquias, que, desde 2005, cresce a taxas de dois dígitos e fechou o ano passado com crescimento de 20,4% em relação a 2009, movimentando 75,98 bilhões de reais, o equivalente a 2,1% do PIB brasileiro. O número de redes em operação no país avançou 12,9% na comparação anual, para 1.855 marcas, e a quantidade de lojas (próprias e franqueadas) chegou a 86.365, 8% mais que no ano anterior. Com essa expansão, o setor de franquias abriu mais de 57 mil vagas de trabalho, passando a empregar mais de 777 mil pessoas.

O desempenho do setor ficou acima das expectativas da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que projetava crescimento entre 14% e 19%. “O aumento do poder de compra da população, a expansão da oferta de crédito e a boa performance da economia como um todo impulsionaram as franquias, demonstrando o grande potencial do setor”, comenta Ricardo Camargo, diretor executivo da entidade.

Em faturamento, o setor com maior expansão foi o de alimentação, que fechou 2010 com um volume de negócios de 15,28 bilhões de reais, 39,9% mais que 2009, e total de 12.015 unidades, entre franqueadas e próprias. O crescimento do segmento, de 14% em números de lojas, reflete a forte expansão de todo o setor de alimentação fora do lar. É um segmento que, desde 2005, teve aumento de 88% em seu faturamento e movimentou mais de 180 bilhões de reais no ano passado, em mais de 140 mil estabelecimentos comerciais. “As franquias de alimentação ganham espaço em um momento de grande ebulição no mercado, pois o crescimento da renda da população faz com que mais pessoas possam consumir. O foodservice, hoje, corresponde a 31% das despesas com alimentos, mas se aproxima dos 40% nas grandes capitais do Sudeste, onde os consumidores desejam mais conveniências em suas refeições”, afirma Marco Gouvêa de Souza, consultor de varejo.

Outro segmento de franquias que se destacou em 2010 foi o de acessórios pessoais e calçados, com expansão de 29,9% no faturamento e de 27% em números de lojas (4.178 pontos de venda).

Nesse caso, várias indústrias optaram pelo desenvolvimento de seu próprio canal de vendas, como forma de expor todo o seu mix de produtos, apresentar seu posicionamento de mercado e escapar da comparação direta dos preços.

Page 135: Gestão Financeira - UNIASSELVI

TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

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“Aproveitando o momento de destaque do Brasil no cenário mundial, diversas redes têm, inclusive, aberto operações internacionais, levando a moda e o estilo nacionais para outros países”, comenta Ricardo Camargo. A expansão dos canais próprios da indústria também explica o crescimento de 29% do setor de vestuário, cujas franquias movimentaram 6,58 bilhões de reais no ano passado, com 220 redes e 5.073 lojas.

FIGURA 1 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – FATURAMENTO

FONTE: EXAME (2011)

FIGURA 2 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – REDES

FONTE: EXAME (2011)

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UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E

FIGURA 3 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – GERAÇÃO DE EMPREGOS

FONTE: EXAME (2011)

FIGURA 4 – DESEMPENHO DO FRANCHISING BRASILEIRO – UNIDADES

FONTE: EXAME (2011)

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 62-64.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Chegamosaofinaldestasegundaunidade,enesteúltimotópicoestudamos:

•O capital das empresas é composto por capital próprio, que representa os recursos dos donos investidores na empresa; e de capital de terceiros, obtido geralmente com instituições financeiras.

•O custo do capital próprio é estabelecido pelo dono do capital, que procura obter no mínimo a taxa SELIC.

•Ao realizarmos um investimento (financiamento), a instituição que nos empresta o capital pode conceder um período de carência do pagamento dos juros e/ou do empréstimo, e isto afeta as entradas líquidas.

•O capital de terceiros não sofre a tributação do IR (Imposto de Renda), assim as empresas com capital de terceiros pagam menos IR, pois ele é descontado antes da tributação.

•Para determinar o CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital), aplicam-se os custos de cada um como pesos ao montante de capital.

•O capital é composto pelo capital próprio e de terceiros, não existindo uma fórmula para determinar a sua composição ideal.

•Na estruturação do capital temos preocupações com o risco econômico, financeiro, custo de agency e informações assimétricas.

•Uma empresa pode buscar a sua alavancagem operacional, financeira e combinada. É fundamental determinar o grau de alavancagem de cada uma delas.

•O Ponto de Equilíbrio é o momento em que as receitas são suficientes para o pagamento de todas as despesas, e o resultado é zero (0). Não há lucro nem prejuízo.

•O GAO demonstra quantos pontos percentuais haverá de variação no lucro antes dos juros e IR (LAJIR) a cada variação de um ponto percentual na variação da receita operacional.

•O GAF demonstra quantos pontos percentuais haverá de variação no resultado a cada variação de um ponto percentual no lucro antes dos juros e IR (LAJIR).

•O GAC vai demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no resultado a cada variação de um ponto percentual na receita operacional.

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Que tal responder a algumas perguntas para fixar seu aprendizado?

1 Como está estruturado o capital de uma empresa?

2 Complete a sentença a seguir:

O capital _______________ representa os recursos dos donos da empresa, enquanto que o capital de _______________ representa os ______________ emprestados, financiados com ____ sócios.

3 Do capital total de R$ 1 milhão, você dispõe de 55% de capital próprio ao custo de 25%, e 45% de capital de terceiros ao custo de 35%. Determine o CMPC.

4 Represente a estrutura de capital da questão anterior, num balanço patrimonial.

5 Diferencie alavancagem operacional, financeira e combinada.

6 Para o DRE, determine o GAO, GAF e GAC, considerando uma variação (negativa e positiva) de 20% na receita operacional.

AUTOATIVIDADE

-20% Situação Inicial + 20%(=) Receita operacional 500.000,00(-) Custos e despesas operacionais variáveis 120.000,00(-) Custos e despesas operacionais fixas 180.000,00(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00Variação % do LAJIRGAO – Grau de Alavancagem Operacional(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00(-) Despesas financeiras 100.000,00(=) Lucro antes do IR 100.000,00(-) IR – Imposto de Renda (30%) 30.000,00(=) Resultado final 70.000,00Variação % do resultadoGAF – Grau de Alavancagem Financeira(=) Receita operacional 500.000,00(-) Custos e despesas operacionais variáveis 120.000,00(-) Custos e despesas operacionais fixas 180.000,00(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00(-) Despesas financeiras 100.000,00(=) Lucro antes do IR 100.000,00(-) IR – Imposto de Renda (30%) 30.000,00(=) Resultado final 70.000,00Variação % do resultadoGAC – Grau de Alavancagem Combinada

7 Na estrutura de capital, no que consiste a preocupação no risco econômico?

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UNIDADE 3

CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• estudar a gestão baseada em valor;

• conhecer o que vem a ser o capital de giro;

• verificar a estrutura do ativo e passivo circulante, sua influência no capital de giro;

• estabelecer a necessidade de capital de giro;

• conhecer algumas modalidades de incorporações, tais como arrendamen-to, fusões e aquisições;

• conhecer a história e estrutura do SFN – Sistema Financeiro Nacional;

• analisar os riscos, investimentos e financiamentos de curto prazo.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado, na compreen-são dos temas abordados.

TÓPICO 1 – GESTÃO BASEADA EM VALOR

TÓPICO 2 – CAPITAL DE GIRO

TÓPICO 3 – INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

TÓPICO 4 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

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TÓPICO 1

GESTÃO BASEADA EM VALOR

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Em diversos tópicos deste caderno estudamos que o dono do capital estabelece percentuais mínimos de retorno ao investir um montante de dinheiro numa empresa.

O gestor financeiro tem o papel fundamental de gerar valor e criar riqueza para a empresa, a fim de que os donos do capital obtenham, no mínimo, o retorno exigido. Ao superar esta taxa mínima, o gestor estará criando valor, enquanto que, ao não alcançar esta taxa, estará destruindo valor.

Para agregar valor é necessário avaliar a eficiência operacional, a eficiência financeira, o crescimento rentável e a racionalização do capital.

Este primeiro tópico ensina a calcular o valor econômico agregado (EVA), permitindo a análise da situação de agregação ou destruição de valor.

2 CRIAÇÃO DE VALOR E CUSTO DE OPORTUNIDADE

Na primeira unidade deste caderno estudamos que as empresas necessitam realizar o registro de todas as situações patrimoniais, financeiras e econômicas da empresa, adotando o Regime de Competência. Este trabalho do contador está baseado no que ocorreu (passado), limitando-o a projetar algumas tendências da empresa.

O administrador gestor financeiro tem um papel fundamental para gerar valor e riqueza para a organização, pois analisa o presente e futuro do fluxo de caixa, participando das previsões e decisões da organização, considerando o regime de caixa. Participa ativamente nas decisões que procuram maximizar o valor da organização.

Page 142: Gestão Financeira - UNIASSELVI

UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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Recorrendo ao exemplo da camisaria, apresenta-se um DRE por regime de competência e outro por regime de caixa, considerando algumas variáveis:

- Compra de camisetas: R$ 84.000,00, tendo pago 80% em 2010.- Venda de camisetas: R$ 120.000,00, tendo recebido 70% em 2010.

QUADRO 64 – DRE REGIME DE COMPETÊNCIA x REGIME DE CAIXA

Demonstração de ResultadosRegime de Competência Regime de Caixa(=) ROB 120.000,00 (=) Recebimento das vendas 84.000,00(-) Impostos (10%) 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 72.000,00(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 67.200,00(=) Lucro bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 4.800,00(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00(=) Lucro operacional 2.400,00 (=) Lucro operacional (16.800,00)

FONTE: O autor

O quadro anterior ilustra que contabilmente, ou seja, no regime de competência, demonstra-se o lucro operacional da organização; enquanto que ao gestor financeiro permanecem as necessidades de caixa para cobrir as despesas administrativas e com pessoal.

Observe que a empresa faturou R$ 120.000,00, mas recebeu apenas R$ 84.000,00 e não foi considerada a inadimplência neste exemplo. Os impostos continuam sendo calculados sobre o faturamento e pagos integralmente, independente do recebimento dos clientes. E por aí vão as diferenças.

ATENCAO

Lembre-se da diferença entre o regime de competência e o regime de caixa, para acertar nas suas decisões financeiras.

Geralmente o investidor – dono do capital – tem mais de uma alternativa para aplicar o seu dinheiro. Ao optar por uma, acaba renunciando ao lucro das demais de mesmo risco. Obviamente que nesta escolha é avaliado o custo de oportunidade, que precisa considerar os investimentos ou oportunidades que apresentam riscos semelhantes.

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TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

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Não se pode comparar a taxa de retorno de duas alternativas que apresentam o mesmo valor a ser investido, sendo uma com risco e outra sem risco. Obviamente,que se vai optar pela de menor risco.

Da mesma forma que o investidor decide por uma oportunidade dentre as alternativas apresentadas, também vive o conflito do valor da organização e do seu lucro:

- Imagine que a camisaria esteja avaliada em R$ 300.000,00 e apresenta um lucro operacional de R$ 30.000,00. Neste caso, o retorno é de 10% (30.000,00 / 300.000,00). O lucro operacional demonstrado é de R$ 30.000,00, mas o valor da empresa para mais de R$ 300.000,00 vai diminuir o percentual de retorno, assim como um valor menor da empresa com o mesmo lucro operacional vai aumentar o percentual de retorno.

- Se o valor da empresa for de R$ 330.000,00 com lucro operacional de R$ 30.000,00, o retorno é de 9,09% (30000,00 / 330000,00). Caso o valor da empresa seja de R$ 270.000,00, com o mesmo lucro operacional, o seu retorno representa 11,11% (30000,00 / 270000,00).

- Se para os investidores a rentabilidade exigida é de 15%, a empresa avaliada em R$ 300.000,00 deveria estar gerando um lucro operacional de R$ 45.000,00 (45000,00 / 300000,00). Como o lucro operacional é de R$ 30.000,00 e a rentabilidade exigida é de 15%, então a empresa poderia valer no máximo R$ 200.000,00 (200000,00 / 30000,00).

Há um conflito entre os lucros positivos e o valor de mercado.

3 RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR

Como estudamos na Unidade 1, a partir do lucro operacional é que deduzimos as despesas financeiras, que compreendem os juros sobre o passivo (empréstimos e financiamentos).

A legislação brasileira considera o lucro operacional após o desconto das despesas financeiras, ou seja, são consideradas despesas operacionais da empresa. O quadro a seguir compara as duas situações, no qual vamos avaliar os impactos sobre a remuneração aos donos do capital e o impacto sobre o Imposto de Renda (IR).

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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QUADRO 65 – RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR

Modelo Tradicional Modelo Ajustado(=) ROB 120.000,00 (=) ROB 120.000,00(-) Impostos 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 108.000,00(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 84.000,00(=) Lucro Bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 24.000,00(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00(-) Despesas financeiras 250,00 (=) Lucro operacional antes IR 2.400,00(=) Lucro operacional antes IR 2.150,00 (-) Provisão IR (30%) 720,00(-) Provisão IR (30%) 645,00 (=) Lucro operacional após IR 1.680,00

(-) Despesa financeira antes IR (250,00) – Economia do IR (720,00 – 645,00 = 75,00)

175,00

(=) Lucro líquido 1.505,00 (=) Lucro líquido 1.505,00

FONTE: O autor

Do quadro anterior, no modelo tradicional, a empresa conta com capital de terceiros, aferindo um lucro operacional menor, bem como uma provisão menor de IR.

IMPORTANTE

Sobre as despesas com capital de terceiros não há incidência de IR.

Já o modelo ajustado, que é apenas gerencial, revela o uso de capital próprio, sem capital de terceiros, impactando num lucro operacional maior, consequentemente, numa provisão de IR maior.

Se, do quadro anterior, no modelo tradicional, a empresa não tiver despesas financeiras, terá o lucro operacional de R$ 2.400,00 e, consequentemente, a sua provisão de IR será dos mesmos R$ 720,00.

O financiamento próprio não é considerado gasto, portanto, não tem redução de Imposto da Renda.

4 EVA

A sigla EVA, do inglês Economic Value Added – significa Valor Econômico Agregado: é uma metodologia de trabalho na qual a contabilidade

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TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

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financeira passou a reconhecer a rentabilidade sobre capitais próprios, a juros de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), de acordo com a Lei 9.249/95.

Ao utilizar a metodologia EVA, o gestor financeiro age como se fosse acionista, com o objetivo de obter mais retorno que o custo do capital. Como vimos nos exemplos anteriores, o custo do capital de terceiros é apresentado nas despesas financeiras, enquanto que o custo do capital próprio fica omitido.

Por se tratar de uma medida de desempenho, para mensurar o quanto de valor está sendo criado ou destruído pela empresa, a fórmula de cálculo parte do princípio de que o capital investido no negócio deve ser remunerado acima do seu custo. A implantação da metodologia EVA proporciona alguns benefícios para a empresa:

• Os objetivos da empresa são definidos de forma clara, objetiva, consistente e, principalmente, quantificável.

• Define uma taxa mínima de retorno a ser exigida nos atuais e em novos projetos.• Evidencia questões como estrutura de capital, custo de capital de terceiros,

custo de capital próprio, política de dividendos, custo de manutenção de ativos não operacionais.

Para elevar o valor econômico agregado (EVA) de uma empresa, quatro aspectos precisam ser considerados:

EficiênciaOperacional: reduzir os custos para aumentar o resultado operacional líquido, operar de modo mais eficiente para garantir um retorno maior sobre o capital investido pelos donos.

Eficiência Financeira: realizar investimentos nos quais o resultado líquido seja maior que o aumento de encargos de capital; ou seja, investir em projetos cujo valor presente seja positivo.

Crescimento Rentável: investir em ativos e atividades que estejam gerando retornos iguais ou maiores do que o custo do capital.

Racionalização do Capital: estruturar as finanças da empresa de forma que reduzam o custo do capital.

NOTA

EVA é o Lucro após o Imposto de Renda (IR), menos o custo total do capital.

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5 CÁLCULO DO EVA

Para determinar o EVA é necessário apurar o custo total do capital empregado, sendo que o capital de terceiros aparece nas demonstrações de resultado como despesas financeiras e o capital próprio não aparece nos resultados. O EVA pode ser calculado com base em resultados realizados, bem como pode ser projetado.

Para calcular o EVA com base no passado é necessário:

• Ajustar a estrutura patrimonial pelos ativos não operacionais.• Calcular o lucro operacional.• Calcular o CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital), estudado na Unidade 2.• Determinar o EVA (Lucro Operacional – Custo de Capital de Terceiros – Custo

do Capital Próprio).

Já para projetar o EVA projetado é necessário:

• Calcular o ativo operacional líquido, ou seja, o capital aplicado no investimento.• Calcular o CMPC.• Calcular o lucro operacional projetado.• Determinar o EVA (subtraindo do lucro operacional projetado o custo de

capital total).

Fórmula: EVA = Lucro Líquido – Custo do Capital (Terceiro e Próprio)

UNI

Vamos exemplificar: se os capitais aplicados num negócio são da ordem de R$ 100.000,00, com o custo destes capitais de 20%, espera-se um retorno de R$ 20.000,00. Se o lucro apurado for de R$ 25.000,00, seu EVA será de R$ 5.000,00, significando que foi agregado valor em mais R$ 5.000,00.

A estrutura básica de cálculo do EVA é apresentada no quadro a seguir:

QUADRO 66 – ESTRUTURA BÁSICA DE CÁLCULO DO EVA

(=) Lucro operacional após o IR R$ 0,00(-) CMPC (CMPC Investimento) R$ 0,00(=) EVA (Valor Econômico Agregado) R$ 0,00

FONTE: O autor

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TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

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O CMPC apura o custo de todos os capitais e seus dados podem ser extraídos a partir do balanço patrimonial, conforme é ilustrado a seguir:

QUADRO 67 – BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO PASSIVOAtivo operacional 10.000,00 Passivo operacional 2.000,00

Capitais de terceiros 4.000,00Capitais próprios 4.000,00

Total do ativo 10.000,00 Total do passivo 10.000,00

FONTE: O autor

O ativo operacional representa os investimentos necessários para que a empresa consiga gerar receitas: caixa, contas a receber, estoques, máquinas, equipamentos, veículos, construções, etc.

Já o passivo operacional representa os passivos não onerosos, ou seja, os de funcionamento. São aqueles que não provocam encargos financeiros, se liquidados nos prazos concedidos por: fornecedores, impostos a recolher, salários a pagar, encargos sociais a recolher etc.

O quadro a seguir acrescenta o ativo operacional líquido, que representa a diferença entre o ativo operacional e o passivo operacional.

QUADRO 68 – BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO PASSIVOAtivo operacional líquido 8.000,00 Capitais de terceiros 4.000,00

Capitais próprios 4.000,00Total do ativo 8.000,00 Total do passivo 8.000,00

FONTE: O autor

Do quadro anterior, o Ativo Operacional Líquido (AOL) é de R$ 8.000,00, sendo, R$ 4.000,00 com capitais de terceiros e R$ 4.000,00 de capitais próprios. Neste caso, o retorno obtido pelo AOL deverá ser pelo menos o CMPC. O CMPC serve para estabelecer o retorno mínimo a ser obtido pelo AOL.

CMPC Bruto = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio + Capital de Terceiros x Custo de Capital) / (Capital Total)CMPC Bruto = ((4.000*0,18)+(4.000*0,12))/8.000 = 15,00% 1200

CMPC Líquido = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio + Capital de Terceiros x Custo de Capital x (1-Alíquota do Imposto de Renda)) / (Capital Total)

CMPC Líquido = ((4.000*0,18)+(4.000*0,12)*(1-0,30))/8.000 = 13,20% 1056

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A diferença entre a taxa do CMPC Bruto e a taxa do CMPC Líquido é o Imposto de Renda (IR). Para o CMPC Bruto, o Lucro Operacional é de R$1.200,00 (8.000 x 15%) e para o CMPC Líquido, o Lucro Operacional após o IR é de R$ 1.056 1.200 – 144 144 = 4.000 x 0,12 = 480 480 x 30% (Imposto da Renda).

UNI

Na Unidade 2 deste caderno você já aprendeu a calcular o CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital).

Considerando o AOL de R$ 8.000,00 e com um CMPC líquido de 10,50%, precisamos ter um lucro líquido de R$ 840,00 para o nosso ponto de equilíbrio, ou seja, EVA zero reflete num Retorno sobre o Ativo Operacional Líquido (RAOL) de 10,50% (840/8000), contra um CMPC também de 10,50% (840/8000).

Este resultado de R$ 840,00 representa um limite, do qual: acima dos R$ 840,00 encontramos os gastos da operação: matéria-prima, energia elétrica, propaganda, folha de pagamento etc. Já abaixo do lucro de R$ 840,00 encontramos os gastos com a estrutura de capital de terceiros (R$ 336,00) e do capital próprio (R$ 504,00).

Para criar estratégias para a criação de valor, podemos elevar a receita e/ou reduzir gastos operacionais. A seguir, temos o cálculo da demonstração dos resultados em três cenários (A, B e C):

QUADRO 69 – DRE

A B C(=) Lucro operacional 1.440,00 1.200,00 960,00(-) Imposto de Renda (30%) 432,00 360,00 288,00(=) Lucro operacional após IR e antes dos juros 1.008,00 840,00 672,00(-) Juros / custo capital terceiros antes do IR (480 – 144 de economia do IR)

336,00 336,00 336,00

(=) Lucro líquido após o IR 672,00 504,00 336,00(-) Custo de capital próprio 504,00 504,00 504,00(=) EVA 168,00 0,00 (168,00)

FONTE: O autor

O cenário A revela um aumento no lucro operacional, resultante do aumento da receita e/ou redução dos custos, que, ao final, revela R$ 168,00 de valor econômico agregado (EVA). Enquanto que no cenário C temos uma redução no lucro operacional, consequentemente, uma destruição de R$ 168,00 do valor econômico agregado (EVA).

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Outra possibilidade para agregar valor está na redução dos custos com a estrutura de capital, que poderá seguir uma das estratégias a seguir:

• Redução dos custos com capitais de terceiros com a seleção de melhores fontes de financiamento que apresente maior prazo (longo prazo) e menores taxas de juros.

• Reduzir o custo do capital próprio a limites mais baixos de retorno.

• Trabalhar melhor a composição entre o capital de terceiros e capital próprio, captando mais recursos onde o custo é menor.

• Reduzir o ativo operacional para reduzir a necessidade de fontes de financiamento, a exemplo dos estoques.

UNI

O gestor financeiro precisa encontrar uma maneira de gerar valor econômico agregado (EVA).

Neste caso, vamos recompor a estrutura de capital, fazendo com que o capital de terceiros represente a importância de R$ 6.000,00 e o capital próprio a importância de R$ 2.000,00. O capital de terceiros custa menos que o capital próprio. No quadro a seguir, atualizamos as demonstrações:

QUADRO 70 – BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO PASSIVOAtivo operacional líquido 8.000,00 Capitais de terceiros 6.000,00

Capitais próprios 2.000,00Total do ativo 8.000,00 Total do passivo 8.000,00

FONTE: O autor

Vamos calcular um novo CMPC:

CMPC bruto = ((6000 * 0,12) + (2000 * 0,18)) / 8000 = 13,50%.CMPC líquido = (((6000 * (0,12 * (1 – 0,30))) + ((2000 * (0,18 * (1 – 0,30)))) / 8000 = 9,45%.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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QUADRO 71 – DRE

A B C(=) Lucro operacional 1.440,00 1.200,00 960,00(-) Imposto de Renda (30%) 432,00 360,00 288,00(=) Lucro operacional após IR e antes dos juros 1.008,00 840,00 672,00(-) Juros / custo capital terceiros antes do IR (720 – 216 de economia do IR)

504,00 504,00 504,00

(=) Lucro líquido após o IR 504,00 336,00 168,00(-) Custo de capital próprio 252,00 252,00 252,00(=) EVA 252,00 84,00 (84,00)

Da ilustração acima, apenas mudamos a estrutura de capital, que não interfere nas vendas, consequentemente não altera o lucro operacional. O custo do capital de terceiros de 12% não sofre alterações, evidentemente que o valor absoluto bruto passa de R$ 480,00 para R$ 720,00, pois se capta R$ 2.000,00 a mais com terceiros.

Da mesma forma, o custo do capital próprio também não sofre alteração dos seus 18%, mas o valor absoluto bruto diminui de R$ 720,00 para R$ 252,00; decorrente de comprometer menos capital próprio.

Antes o custo total bruto de capital somava a importância de R$ 1.200,00 e no caso acima representa a importância de R$ 972,00. Este último exemplo novamente demonstra que o capital tem custo: o capital de terceiros na forma de juros pagos pelos empréstimos e financiamentos, enquanto que o capital próprio, através de uma taxa de remuneração mínima esperada pelos donos deste capital.

FONTE: O autor

6 RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO

Para facilitar a análise dos resultados, as demonstrações podem ser resumidas da seguinte forma:

QUADRO 72 – RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO

A B C(=) LO (Lucro Operacional, depois do IR) 1.008,00 840,00 672,00(-) GEC (Gastos com Estrutura de Capital) 840,00 840,00 840,00(=) EVA 168,00 0,00 (168,00)Análise da situação Boa,

pois LO > GEC

Equilíbrio,

pois LO = GEC

Ruim,

pois LO < GEC

FONTE: O autor

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EVA é o valor que a empresa agrega após ter remunerado o capital de terceiros e o capital próprio, capitais estes que estão financiando a empresa, logo:

• EVA = 0: o dono do capital está obtendo o retorno mínimo do esperado.

Para calcular o EVA = 0, você tem que fazer os seguintes passos:

1 Encontrar a taxa do CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital) considerando o IR (Imposto da Renda)

2 Encontrar o Lucro Operacional Referencial para que o EVA seja igual a 0,00:

• EVA > 0: há criação de valor, o dono do capital está obtendo retorno acima do esperado.

• EVA < 0: há destruição de valor, o dono está obtendo retorno menor que o esperado ou não está obtendo retorno.

CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital)(1 - IR)

CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital)(1 - IR)

UNI

Para apurar o EVA considera-se o lucro operacional após o IR e antes dos juros de capital de terceiro e próprio e o CMPC líquido (depois de calculado o benefício fiscal).

LEITURA COMPLEMENTAR

A VEZ DA PERIFERIA Luciene Antunes

Agora é o Banco Mundial que prevê a ascensão dos emergentes até 2025 – mas, para o Brasil cumprir a sua parte da profecia, o governo terá de sair do imobilismo.

Desde a saída do francês Dominique Strauss-Kahn do FMI, esquentou a disputa sobre quem deve sucedê-lo. A regra que prevalece desde o final da Segunda Guerra Mundial – um americano no comando do Banco Mundial e um europeu no FMI – foi colocada em xeque. Para os países emergentes, esse é um arranjo que não traduz mais o mundo, um mundo em que a periferia tem mais força a cada dia. Não está claro ainda quem sentará na cadeira que foi de Strauss-Kahn, mas o certo é que os conceitos de centro e periferia nunca estiveram tão sobrepostos.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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O último a chancelar essa impressão foi – quanta ironia! - o próprio Banco Mundial. Em seu último relatório anual, batizado de Horizontes para o Desenvolvimento Global, Justin Yifu Lin, o economista-chefe do banco, é categórico ao prever que, em 2025, Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e Coreia do Sul – os países do Briick, na expressão em inglês – vão responder por mais de 50% do crescimento mundial. Juntos, os emergentes, numa versão estendida da já tradicional sigla, Briick, terão o mesmo peso dos países da zona do euro, moeda que, ao lado do iuane, fará frente ao dólar.

Adivinhação? Não exatamente. O que o Banco Mundial faz é apostar na manutenção da tendência atual. Em 1990, os países do Briick respondiam por 6,5% do PIB mundial. Duas décadas depois, com a ajuda do efeito devastador da última crise mundial nos países ricos, o percentual era de 18%. “Somos testemunhas oculares da mudança na distribuição de renda e riqueza entre os países”, diz o americano Kenneth J. Arrow, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1972. “Definitivamente, estamos assistindo a grandes transformações na economia global”, diz Tyler Cowen, professor de Economia na Universidade George Mason e, recentemente, eleito um dos economistas mais influentes dos Estados Unidos.

No relatório, o Banco Mundial parte do pressuposto de que as principais economias emergentes vão continuar avançando num ritmo anual mais elevado do que as desenvolvidas, o que faz sentido devido ao crescimento populacional e da classe média nesses países. Mas o relatório dá um passo mais ousado e estima o ritmo dessa expansão. Prevê, para os próximos 15 anos, um crescimento médio anual de 4,7% nos países do Briick, ante 2,3% nas nações mais desenvolvidas.

DESAFIOS

Para fazer jus à profecia, os países emergentes terão de galgar vários obstáculos, reconhece o próprio estudo. “As perspectivas são boas, mas, para manter o bom momento econômico e se consolidar como verdadeiros polos de desenvolvimento, as economias emergentes, como o Brasil, deverão realizar mudanças estruturais”, disse Justin Yifu Lin, autor de Horizontes para o Desenvolvimento Global, ao apresentá-lo em Washington em meados de maio. “Como boa parte do crescimento dos emergentes tem origem na demanda interna, é necessário seguir com políticas que fortaleçam a ascensão social e a educação do povo.”

Embora não mencione, Lin cita algumas das questões analisadas em 2022: Propostas para um Brasil Melhor no ano Bicentenário, livro recém-lançado pelos economistas Fabio Giambiagi e Claudio Porto. Na lista dos principais gargalos, além da baixa qualidade da educação, está a infraestrutura deficitária. “O Brasil está diante de uma janela de oportunidade histórica para alcançar padrões de países de Primeiro Mundo. Mas não basta se deixar levar ao sabor da maré”, diz Claudio Porto, presidente da consultoria de negócios Macroplan. O indiano Vinod Thomas, ex-número 1 do Banco Mundial no Brasil e atual diretor-geral do Grupo de Avaliação Independente, braço responsável pela avaliação de projetos

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TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

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da mesma entidade, analisou comparativamente as vantagens e os pontos fracos de cada um dos principais países emergentes. O pano de fundo de sua análise é a compreensão de que, embora sejam tratados como bloco, os países do Briick são também competidores entre si. Sua conclusão é que, no médio prazo, nenhum outro país reúne melhores condições para manter o ritmo atual de crescimento do que o Brasil. Temos vastas quantidades de terras cultiváveis e vamos muito bem nas questões relacionadas à sustentabilidade ambiental, que pautarão fortemente a agenda de desenvolvimento nos próximos anos.

Somos também uma democracia, o que pode ajudar na coesão social necessária ao desenvolvimento. Os asiáticos, por sua vez, estão melhores em termos de crescimento e, especialmente, investimento – uma área ainda crítica em nosso país. No geral, o Brasil se sai bem e surge como um potencial líder dos emergentes. O futuro, claro, está por ser construído, e projeções podem ou não se concretizar. Mas o fato é que nunca tivemos tantas chances de dar certo como agora.

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – n. 10 – 01/06/2011 – p. 54-56.

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Neste primeiro tópico da última unidade abordamos:

•É preciso compreender as diferenças na demonstração dos dados entre o regime de competência e o regime de caixa, para não tomar decisões erradas.

•Além de decidir por uma oportunidade, também é necessário avaliar o valor da organização e seu lucro. Há um conflito entre os lucros positivos e o valor de mercado.

•As despesas financeiras com capital de terceiros não têm impacto sobre o IR, pois são descontadas antes do lucro operacional.

•A sigla EVA, do inglês Economic Value Added – significa Valor Econômico Agregado: é uma metodologia de trabalho na qual a contabilidade financeira passou a reconhecer a rentabilidade sobre capitais próprios, a juros de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), de acordo com a Lei nº 9.249/95.

•Para elevar o EVA de uma empresa é necessário considerar: a eficiência operacional, a eficiência financeira, o crescimento rentável e a racionalização do capital.

•Para calcular o EVA com base no passado é necessário ajustar a estrutura patrimonial pelos ativos não operacionais, calcular o lucro operacional, calcular o CMPC.

•Para projetar o EVA é necessário calcular o ativo operacional líquido, calcular o CMPC, calcular o lucro operacional projetado.

•EVA=0 significa que o dono do capital está obtendo o retorno mínimo esperado.

•EVA>0 significa que há criação de valor, ou seja, o dono do capital está obtendo retorno acima do esperado.

•EVA<0 significa que não há criação de valor, ou seja, o dono do capital está obtendo retorno menor que o esperado ou não está obtendo retorno.

RESUMO DO TÓPICO 1

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Responda às questões a seguir para fixar os conhecimentos:

1 Qual a diferença entre as demonstrações no regime de competência e o regime de caixa?

2 Qual o retorno de uma empresa avaliada em R$ 30.000,00, que apresenta um lucro operacional de R$ 6.000,00?

3 Uma empresa que apresenta o lucro operacional de R$ 10.000,00 tem o seu valor em R$ 100.000,00. Qual seria o valor desta empresa mantendo o lucro operacional de R$ 10.000,00, considerando uma taxa de retorno de 16%?

4 Complete as sentenças a seguir:

a) A legislação brasileira considera o ____________ ____________ após o desconto das despesas financeiras, ou seja, são consideradas despesas operacionais da empresa e não tem a incidência do ____________ de ____________, sabendo-se que os juros já foram pagos.

b) EVA é uma ____________ de trabalho, na qual a ____________ ____________ passou a reconhecer a ____________ sobre capitais próprios, de acordo com a Lei 9.249/95.

c) EVA é uma ____________ de desempenho que vai mensurar o quanto de valor está sendo ____________ ou ____________ pela empresa.

5 Do quadro a seguir, preencha o modelo ajustado para fins de análise do impacto do IR.

AUTOATIVIDADE

Modelo Tradicional Modelo Ajustado(=) ROB 144.000,00 (=) ROB(-) Impostos (10%) 14.400,00 (-) Impostos (10%)(=) ROL 129.600,00 (=) ROL(-) CMV 94.000,00 (-) CMV(=) Lucro bruto 35.600,00 (=) Lucro bruto(-) Despesas administrativas 9.000,00 (-) Despesas administrativas(-) Despesas com pessoal 20.600,00 (-) Despesas com pessoal(-) Despesas financeiras 500,00 (=) Lucro operacional antes IR(=) Lucro operacional antes IR 5.500,00 (-) Provisão IR (30%)(-) Provisão IR (30%) 1.650,00 (=) Lucro operacional após IR

(-) Despesa financeira antes IR – Economia do IR

(=) Lucro líquido 3.850,00 (=) Lucro líquido

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6 Agora, suponhamos que a empresa não tenha despesas financeiras. Conclua o cálculo no modelo tradicional, no modelo ajustado e aponte as diferenças no lucro operacional, provisão de IR e lucro líquido.

Modelo Tradicional Modelo Ajustado(=) ROB 144.000,00 (=) ROB(-) Impostos (10%) 14.400,00 (-) Impostos (10%)(=) ROL 129.600,00 (=) ROL(-) CMV 94.000,00 (-) CMV(=) Lucro bruto 35.600,00 (=) Lucro bruto(-) Despesas administrativas 9.000,00 (-) Despesas administrativas(-) Despesas com pessoal 20.600,00 (-) Despesas com pessoal(-) Despesas financeiras 0,00 (=) Lucro operacional antes IR(=) Lucro operacional antes IR (-) Provisão IR (30%)(-) Provisão IR (30%) (=) Lucro operacional após IR

(-) Despesa financeira antes IR –

Economia do IR(=) Lucro líquido (=) Lucro líquido

7 Explique os quatro aspectos que precisam ser considerados para elevar o EVA de uma empresa.

8 Seguindo a estrutura da demonstração do Quadro 69, calcule EVA = 0, ou seja, o ponto de equilíbrio, considerando:

a) Ativo operacional líquido ou capital investido = R$ 30.000,00.b) Capital próprio ao custo de 20% a.a. = R$ 20.000,00.c) Capital de terceiros ao custo de 15% a.a. = R$ 20.000,00.d) Alíquota de IR (Imposto de Renda) = 30%.

9 Partindo dos resultados do quadro da questão anterior (questão 8), faça uma projeção do EVA, considerando um aumento nas receitas e/ou redução dos custos que representa uma variação positiva e negativa de 15% no lucro operacional. Veja qual foi a agregação e destruição de valor.

10 Outra possibilidade de agregar valor está na redução com os custos da estrutura de capital. Refaça as questões 8 e 9, mantendo o ativo operacional líquido, a alíquota de IR e o lucro operacional calculado. Apenas considere a nova estrutura de capital:

a) Capital próprio ao custo de 20% a.a. = R$ 8.000,00.b) Capital de terceiros ao custo de 16% a.a. = R$ 32.000,00.

11 Considerando o EVA, em que situação pode-se afirmar que o dono do capital está obtendo o retorno mínimo esperado? Em que situações há criação de valor e destruição de valor?

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TÓPICO 2

CAPITAL DE GIRO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Esta é uma das expressões bastante ouvidas na Gestão Financeira e muitas empresas desconhecem o seu “capital de giro”, que será abordado neste segundo tópico desta última unidade do caderno.

Os ativos e passivos circulantes estão diretamente relacionados ao capital de giro, contribuindo para estabelecer a sua necessidade de capital de giro.

Muitas vezes, as pessoas conseguem reunir o capital para iniciar um empreendimento e logo nos primeiros meses ou anos de atividade enfrentam dificuldades de mantê-lo, em função da necessidade de mais capital para o giro de suas atividades.

O mesmo também ocorre em empresas que já estão em atividade há algum tempo e algumas decisões tomadas podem levá-la a uma necessidade maior de capital de giro.

Então, vamos lá, conhecer um pouco sobre estas ações de curto prazo na Gestão Financeira.

2 ATIVOS CIRCULANTES

Ao revisar alguns elementos contábeis, na primeira unidade deste caderno demonstramos que a empresa possui os seus ativos, compreendendo os bens e direitos. A ordenação contábil das contas do ativo começa com as que apresentam maior liquidez até as de menor liquidez. O quadro a seguir relembra estas contas:

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

QUADRO 73 – CONTAS DO ATIVO

ATIVOSAtivos circulantesCaixa 232,00Aplicações financeiras 1.050,00Contas a receber 7.500,00Estoques 9.800,00Total dos ativos circulantes 18.582,00Ativos permanentes (ao custo)Terrenos e edificações 25.200,00Máquinas e equipamentos 3.950,00Móveis e utensílios 1.890,00Veículos 0,00Total dos ativos permanentes 31.040,00Depreciação acumulada 10.010,00Ativos permanentes líquidos 21.030,00TOTAL DOS ATIVOS 39.612,00

FONTE: O autor

Destas contas, vamos prestar atenção nas contas que compõem o ativo circulante. Elas são alimentadas pelos eventos de curto prazo e vão expressar a disponibilidade para o pagamento das contas de curto prazo.

Observe que temos R$ 232,00 em caixa e R$ 1.050,00 nas aplicações, totalizando R$ 1.282,00, que podemos resgatar para o pagamento de alguma conta. Qualquer conta superior a R$ 1.282,00 nos obrigará a recorrer às contas a receber.

• Destas contas a receber: os títulos, duplicatas, cheques com vencimento futuro (curto prazo) deverão ser descontados com alguma instituição financeira para que possamos ter dinheiro à vista para o pagamento das contas. Se os R$ 7.500,00 são recebíveis em 30 dias e a taxa cobrada pelo banco é de 3%, poderíamos contar com R$ 7.275,00 líquidos em caixa.

• Adicionando, agora, aos R$ 1.282,00 as contas a receber descontadas (R$ 7.275,00), temos o montante de R$ 8.557,00 para o pagamento das contas. Mas não para por aí, ainda temos um estoque de mercadorias que pode ser vendido, gerando contas a receber, e ao descontar também representa capital disponível à vista. Está ficando um pouco mais complexo, mas todas estas ações se resolvem no curto prazo (dentro de um ano). O total do ativo circulante demonstrado no quadro anterior não está expresso em valor presente líquido, mas sua variação é pequena.

• É necessário avaliar as variações dos ativos circulantes, e para isso vamos dividi-lo pelo total do ativo. Do quadro anterior temos o seguinte resultado: 18.582 / 39.612 = 0,4691 ou 46,91%. O quadro a seguir explica a variação deste quociente:

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TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

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QUADRO 74 - VARIAÇÃO DOS ATIVOS CIRCULANTES SOBRE LUCRO E RISCO

Quociente Variação do quociente Efeito sobre o lucro Efeito sobre o riscoAtivos circulantes Aumento Diminuição DiminuiçãoAtivos totais Diminuição Aumento Aumento

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 511)

Nos ativos circulantes avalia-se o ciclo de conversão de caixa, ou seja, o prazo desde o início do processo de produção ao recebimento de caixa. Calcula-se CCC (Ciclo de Conversão de Caixa) = IME (Idade Média dos Estoques) + PMR (Prazo Médio de Recebimento) – PMP (Prazo Médio de Pagamento). CCC = IME + PMR - PMP

UNI

Das suas finanças pessoais, como está a sua disponibilidade para o pagamento das contas de curto prazo? Qual o seu CCC (Ciclo de Conversão de Caixa)?

Segundo Gitman (2003, p. 515), as seguintes estratégias tendem a melhorar a gestão do ciclo de conversão de caixa:

Girar o estoque com maior velocidade possível, sem faltas que resultem em vendas perdidas. Assim conseguimos reduzir a IME (idade média dos estoques) e para isso temos que gerenciar os níveis de estoques a partir de algumas técnicas, como sistema ABC, modelo do lote econômico, sistema just-in-time (JIT) e sistema de planejamento de necessidades de materiais (MRP).

Cobrar as contas a receber com a maior rapidez possível, sem perder vendas resultantes do uso de técnicas de cobrança muito agressivas. A tendência de reduzir o PMR (prazo médio de recebimento), abrangendo a seleção e padrões de crédito, as condições de crédito e o monitoramento de crédito.

Gerir os tempos de correspondências, processamento e compensação para reduzi-los ao cobrar dos clientes e aumentá-los ao pagar fornecedores.Efetuar o pagamento das contas a pagar com maior lentidão possível, sem prejudicar a classificação de crédito da empresa.

O ativo circulante subdivide-se em:

• Ativocirculantefinanceiro: compreende as contas que representam dinheiro, como: caixa, bancos e aplicações financeiras.

• Ativo circulante operacional: compreende as contas que representam a operação, atividades: contas a receber, estoques, entre outras.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

3 PASSIVOS CIRCULANTES

Do mesmo modo que avaliamos anteriormente os ativos circulantes, vamos agora observar as contas do passivo, que expressam os nossos deveres e obrigações. As contas do passivo circulante destacam as obrigações que temos no curto prazo e necessitamos de capital para honrá-las, e, neste caso, totaliza R$ 15.859,00.

QUADRO 75 – CONTAS DO PASSIVO

TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Passivo circulante

Contas a pagar 8.359,00

Títulos a pagar 3.340,00

Despesas a pagar 4.160,00

Total dos passivos circulantes 15.859,00

Exigível de longo prazo 3.503,00

Total dos passivos 19.362,00

Patrimônio líquido

Capital social 20.250,00

TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00

FONTE: O autor

Do mesmo modo que avaliamos a variação do ativo circulante, também determinamos a variação do passivo circulante, dividindo o passivo circulante pelo ativo total, ilustrado no quadro a seguir que adiciona o efeito da variação deste quociente sobre o lucro e o risco.

QUADRO 76 - VARIAÇÃO DOS PASSIVOS CIRCULANTES SOBRE LUCRO E RISCO

Quociente Variação do quociente Efeito sobre o lucro Efeito sobre o risco

Passivos circulantes Aumento Aumento Aumento

Ativos totais Diminuição Diminuição Diminuição

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 511)

Considerando os dados dos quadros 73 e 75, conseguimos encontrar a porcentagem dos ativos totais que está sendo financiada por passivos circulantes de: 15859 / 39612 = 0,4004 ou 40,04%.

É preciso cumprir com o passivo circulante, ou seja, pagar as contas, mas é preciso decidir entre as fontes comuns de financiamento destas contas de curto prazo:

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TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

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• Contas a pagar: precisamos negociar com fornecedores de matéria-prima e mercadoria para prolongar os pagamentos, sem elevar o custo deste capital de terceiros; a não ser que o desconto oferecido para pagamento em prazo menor seja atrativo e não afete o fluxo de caixa.

• Despesas a pagar: as datas para pagamentos a funcionários e governos estão preestabelecidas e o não cumprimento nestas datas acarreta em multa e juros.

• Notas promissórias, linhas de crédito e acordos de crédito rotativo: normalmente são fontes de empréstimos sem garantia e todas apresentam uma taxa (custo do capital).

• Descontos e factoring: representam contas a receber como garantia.

• Alienação de estoques: também representa uma fonte de empréstimo de curto prazo com garantia.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), como está o controle das suas despesas pessoais? Há determinados compromissos que não conseguimos mudar o seu vencimento, mas é importante conhecer o custo dos encargos de cada um deles. É como analisar o CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital).

O passivo circulante também está subdividido em:

• Passivo circulante financeiro: compreende as contas relacionadas ao pagamento de juros: duplicatas descontadas, empréstimos bancários etc.

• Passivo circulante operacional: compreende as contas relacionadas ao pagamento das contas ligadas à atividade operacional da empresa: água, luz, telefone, impostos, fornecedores, funcionários, encargos, comissões, entre outras.

4 NECESSIDADES DE CAPITAL DE GIRO

A partir desta breve explanação de ativos e passivos circulantes, poderemos compreender o capital de giro. O capital que se move entre as contas do ativo circulante compreende o capital de giro da empresa (ASSAF, 2009).

Este capital de giro irá pagar os empréstimos de curto prazo expressos no passivo circulante. Alguns autores também classificam o capital de giro como sendo os recursos que farão a manutenção do ativo e passivo circulante.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Nesta situação do capital de giro pagar o passivo circulante, surge o capital de giro líquido, que representa a diferença entre ativo e passivo circulante. Se o ativo circulante supera o passivo circulante, temos a indicação de que a empresa possui capital de giro; caso contrário, tem necessidade de capital de giro.

O Capital de Giro (CDG) também pode ser denominado de Capital Circulante Líquido (CCL) e, para determiná-lo, subtraímos o passivo circulante do ativo circulante: CDG = AC – PC.

QUADRO 77 – EMPRESA COM CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO POSITIVO

Ativo CirculanteAC = R$ 18.582,00

Passivo CirculantePC = R$ 15.859,00

Exigível a longo prazoELP = R$ 3.503,00

Ativo permanenteAP = R$ 21.030,00 Patrimônio líquido

PL = R$ 20.250,00Total do ATIVO = R$ 39.612,00 Total do PASSIVO e PL = R$ 39.612,00

FONTE: Adaptado de: Assaf (2009, p. 17)

O quadro anterior demonstra o capital de giro líquido positivo da empresa (18.582,00 - 15.859,00) em R$ 2.723,00.

Poderíamos ter uma situação inversa, com capital de giro líquido negativo; ou seja, passivo circulante maior que o ativo circulante. Neste caso, a empresa está usando recursos passivos correntes para financiar seus investimentos permanentes.

Observe o quadro a seguir:

QUADRO 78 – EMPRESA COM CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO NEGATIVO

Ativo CirculanteAC = R$ 19.000,00 Passivo Circulante

PC = R$ 23.000,00

Ativo permanenteAP = R$ 29.000,00

Exigível a longo prazoELP = R$ 5.000,00

Patrimônio líquidoPL = R$ 20.000,00

Total do ATIVO = R$ 48.000,00 Total do PASSIVO e PL = R$ 48.000,00

FONTE: Adaptado de: Assaf (2009, p. 17)

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TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

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Do quadro anterior, o ativo circulante de R$ 19.000,00 e o passivo circulante de R$ 23.000,00 revelam o capital de giro líquido negativo de -(R$ 4.000,00). Com este resultado, o nosso ativo circulante não é suficiente para cobrir o passivo circulante e precisamos de mais capital para o giro, ou seja, aumenta a nossa NCG (Necessidade de Capital de Giro).

NOTA

Quando há necessidade de capital de giro, é importante avaliar o custo de cada uma das fontes de capital, reunindo o montante necessário com o menor CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital).

“Empresas com fluxos de caixa bastante previsíveis podem operar com capital circulante líquido baixo ou até mesmo negativo, como costuma ser o caso de companhias prestadoras de serviços públicos” (ASSAF, 2009, p. 18).

Para a grande maioria das empresas é necessário um valor de capital de giro líquido positivo, pois os pagamentos são geralmente previsíveis, enquanto que os recebimentos tornam-se imprevisíveis. A variação das vendas, da inadimplência, dos custos, das despesas financeiras, bem como a combinação de dois ou mais elementos citados, afetam a previsibilidade do capital de giro.

O capital de giro é dividido em Capital de Giro Permanente (CGP) e Capital de Giro Variável (CGV). O capital de giro permanente é um montante de dinheiro mínimo que necessitamos ter aplicado no ativo circulante para que a empresa possa honrar seus compromissos no passivo circulante.

Já o Capital de Giro Variável (CGV) é representado pelas necessidades adicionais e temporais de recursos, verificadas em determinados períodos e motivadas por:

• Prazos de recebimento: quanto maior em relação ao prazo de pagamento, maior a NCG para financiar a venda aos clientes e pagar os fornecedores.

• Prazos de pagamento: quanto maior em relação ao prazo de recebimento, menor a NCG, pois estamos financiando nossas compras com capital dos fornecedores e com o recebimento dos clientes.

• Aumento no volume de vendas: dependendo da relação dos prazos médios de recebimento e pagamento, poderá gerar um aumento na NCG. Muitas empresas que apresentam um crescimento rápido não conseguem captar todo o capital de giro necessário para acompanhar este crescimento e correm riscos.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

• Política de estoques altos: o dinheiro está investido no estoque e se o giro for baixo, se transforma numa maior NCG.

O quadro a seguir ilustra a variação da necessidade de capital de giro, em relação aos prazos anteriormente citados:

QUADRO 79 – VARIAÇÃO DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

NCG CondiçãoAumenta Maior PMP e/ou Menor PMRDiminui Menor PMP e/ou Maior PMR

FONTE: O autor

Imagine se a empresa conseguisse comprar as mercadorias para pagamento a prazo e receber de seus clientes todas as vendas à vista. Desta forma, não haveria necessidade de capital de giro. Dependendo da atividade, muitas vezes precisamos comprar, pagar, estocar, produzir, vender para depois receber.

Neste contexto, é necessário considerar o ciclo operacional, o ciclo financeiro e o ciclo econômico. A figura a seguir ilustra estes ciclos, tendo como base a indústria:

FIGURA 4 – CICLO OPERACIONAL DA INDÚSTRIA

FONTE: Adaptado de: Assaf (2009)

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TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

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Entre cada uma das fases temos um prazo médio. Compramos a matéria-prima, que é estocada na indústria até o início da fabricação. Muitas vezes, antes de iniciar a fabricação, a indústria precisa, primeiro, reunir todas as matérias-primas, das quais algumas são prontamente entregues, enquanto que outras demoram mais tempo. Neste intervalo, calculamos o prazo médio de estocagem das matérias-primas. E assim por diante, até o efetivo recebimento das vendas.

Quanto maior for o ciclo operacional, maior será a necessidade de capital de giro. Assim, a aplicação do sistema Just-in-Time pode reduzir os efeitos dos prazos médios, implicando menor necessidade de capital de giro, refletindo em menores custos e permitindo uma maior lucratividade. O sistema Just-in-Time prevê que o produto ou a matéria-prima chegue ao local de utilização somente no momento em que for necessário, bem como os produtos somente são produzidos ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.

Ciclo operacional é a denominação dada ao intervalo de tempo em que a empresa permanece sem a entrada de recursos dos seus clientes, necessitando de capital para financiar os seus custos, ou seja, necessita de capital de giro.

O ciclo financeiro avalia o período compreendido entre a primeira movimentação de caixa, seja pagamento e/ou recebimento, até o recebimento da venda do produto. Em resumo, o ciclo financeiro mede o intervalo de tempo que a indústria vai necessitar de recursos para a sua atividade.

Já o ciclo econômico considera o período da compra da matéria-prima até a venda do produto, não levando em conta os reflexos de caixa da operação, e sim, econômicos.

Segundo Assaf (2009, p. 22), os ciclos correspondem a:

Ciclo Operacional = PME (Mp) + PMF + PMV + PMC.Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMPF – PMDD.Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC.

Onde:PME (Mp): Prazo Médio de Estocagem de Matéria-prima.PMF: Prazo Médio de Fabricação.PMV: Prazo Médio de Venda, ou também, o prazo médio de estocagem dos produtos acabados.PMC: Prazo Médio de Cobrança, ou também, prazo médio de Recebimento.PMPF: Prazo Médio de Pagamento aos Fornecedores.PMDD: Prazo Médio de Desconto de Duplicatas.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Geralmente, a redução nas vendas desencadeia problemas financeiros, os quais podem elevar a necessidade de capital de giro. Mas o gerenciamento do capital de giro vai além dos aspectos financeiros. É necessário considerar aspectos estratégicos da organização, que apenas quer recuperar a sua lucratividade, restabelecendo o seu fluxo de caixa.

Isto pode resultar na reestruturação geral da organização, mudando o negócio como um todo. Pode haver o lançamento de novos produtos e/ou serviços, bem como a eliminação de alguns. Também pode haver mudanças nos processos de produção, nas matérias-primas e na própria estrutura de pessoal.

UNI

Empresas vêm se reestruturando a fim de manter a lucratividade.

Uma boa gestão, com a aplicação adequada das tecnologias, tem garantido sucesso a algumas empresas.

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPITAL DE GIRO DEVE SER USADO COM CUIDADO

Quantia deve equivaler a, no mínimo, um terço do valor do aporte inicial na empresa.

Para garantir crescimento sustentado, uma empresa precisa contemplar, em seu plano de negócios, percentual relativo ao capital de giro, o qual deve equivaler a, no mínimo, um terço do valor do investimento inicial. Mas não basta apenas separar esse recurso. É imprescindível que os empreendedores tenham sistema eficaz para gerenciar os compromissos financeiros da empresa.

"Não precisar operar com o capital de giro é resultado de plano de negócio bem desenvolvido. É necessário primeiro criar condições para entrada de recursos. O investimento em ativos, como reformas ou compra de novos equipamentos, só deve ser feito sob segurança financeira. É recomendada a administração do fluxo de caixa, para evitar a utilização do limite do cheque especial ou ter que se submeter a uma operação bancária, a qual, certamente, terá juros altos", aconselha Claudia Bittencourt, presidente do Grupo Bittencourt, consultoria especializada em expansão de redes.

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TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

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Observar o mercado, principalmente a concorrência, avaliar os serviços que estão sendo prestados, perceber se os clientes estão satisfeitos e montar sistema de avaliação de custos são outras ações importantes para garantir a lucratividade e, assim, evitar ter que mexer no fundo de reserva. Claudia alerta que os empresários não devem ceder às tentações ofertadas pelas instituições bancárias, pois podem prejudicar o negócio. "Utilizar esse recurso só com a certeza de que haverá cobertura das parcelas acordadas. Mas, se não houver outro caminho, não estender por muito tempo a dívida", ressalta a executiva.

EMERGÊNCIAS

Na Overboard, loja especializada em surf e streetwear, o capital de giro só é utilizado em situações emergenciais. O diretor-geral da marca, João Luiz Perez, explica que todas as transações comerciais e as expansões são feitas com recursos próprios, sem que haja necessidade de mexer na reserva. "Felizmente, temos tranquilidade financeira. Depois que acertamos o fluxo de capital e mantivemos reservas para realizar coleções futuras, conseguimos trabalhar com pagamento dos fornecedores à vista, o que também nos permite estender prazos para acerto de contas", destaca ele.

Com oito lojas espalhadas por São Paulo e 17 anos de mercado, a inauguração de novas unidades sempre envolve forte negociação do estoque, para garantia do pagamento à vista e não utilização do capital de giro disponível. "Negociamos prazos maiores de pagamento, o que é importante para se tomar fôlego. Não somos tomadores de empréstimos. Fazemos a programação de vários meses, antecipadamente. Assim, independentemente das condições do comércio, podemos negociar com fornecedor quanto à entrega de mercadorias, retardando o fornecimento ou diminuindo o estoque em caso de desaquecimento de vendas", revela o empresário.

EXPANSÃO

Cautela é a palavra-chave da XSITE, quando o assunto é capital de giro. Dessa forma, a estratégia de crescimento da empresa é baseada na resposta da clientela. Ricardo Nunes, diretor-geral da marca de moda feminina, explica que, à medida que a marca ganha mercado, as expansões vão acontecendo. "Nossa proposta é desenvolver expansão pausada, justamente para manter o equilíbrio e não precisar se valer do capital de giro. Evitamos ter que injetar dinheiro de mercado, pois este suga o dinheiro da empresa. Dessa forma, conseguimos expandir com capital próprio, de maneira sustentável, pois a própria operação alimenta a receita", observa ele.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Entendendo que utilizar o capital de giro permite lucratividade em médio prazo, Elvio Paladino ressalta que essa reserva é utilizada sempre que surgem boas oportunidades oferecidas pelos fornecedores. "Não trabalhamos com estoque, mas existe a possibilidade de comprarmos produtos que estejam com preços especiais ou com desconto. Assim, disponibilizamos o capital de giro para aproveitar a oferta", diz o franqueado da Portobello Shop, loja especializada em revestimentos cerâmicos, lembrando que para reinvestir em melhorias na loja também é feito o uso desse dinheiro.

RENTABILIDADE

Na opinião de Paladino, quanto mais uma loja vende, mais há necessidade de ter capital de giro. Isso porque, quando da encomenda feita por um cliente, essa pode ser paga à vista para o fornecedor, ainda que a venda seja paga em parcelas, utilizando-se o dinheiro extra. Outra situação apontada pelo franqueado é a de que o valor das vendas parceladas em cheques é recebido integralmente, via financeira, para quem são repassados os cheques. "Assim, conseguimos manter a margem de contribuição e garantir rentabilidade melhor, já que compras à vista proporcionam preços mais em conta", explica ele.

Para Fábio Ramos, diretor comercial da Sport Nutrition Center (SNC), o capital de giro é visto como margem de segurança. "A SNC, como qualquer outra franqueadora, exige que o investidor disponha do capital todo para abrir uma unidade e que tenha também 10% do valor total do investimento, que atuará como fundo de reserva. No início de qualquer negócio é necessário fazer uso desse capital, até tomar fôlego. É importante levar em consideração que, muitas vezes, os valores calculados em um plano de negócios podem não valer mais depois de certo tempo, uma vez que a entrada de novos lojistas do mesmo segmento pode baixar a lucratividade, por exemplo. Quando o negócio estiver se pagando, o dinheiro fica reservado para qualquer eventualidade", afirma o empresário.

FONTE: Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/newart/default.asp?materia=14658>. Acesso em: 22 maio 2009.

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Neste tópico da última unidade abordamos:

• As contas do ativo circulante e do passivo circulante estabelecerão a necessidade de capital de giro da empresa.

• O capital de giro da empresa representa o total dos ativos circulantes que devem pagar os passivos circulantes. Caso o AC não seja suficiente, a necessidade de capital de giro aumenta.

• O ativo representa os bens e direitos da empresa, onde, num primeiro grupo, encontramos o curto prazo, denominado de circulante e subdividido em financeiro e operacional.

• Da mesma forma, o passivo representa as obrigações e os deveres, onde aparecem os compromissos de curto prazo, também subdivididos em: financeiro e operacional.

• A variação do quociente dos ativos e passivos circulantes sobre os ativos totais gera efeitos sobre o lucro e o risco.

• No ativo circulante se faz necessário calcular o CCC (Ciclo de Conversão de Caixa). Aqui precisamos conhecer a idade média dos estoques, o prazo médio de recebimento e pagamento.

• A melhora do ativo circulante pode ocorrer a partir do aumento do giro dos estoques, da antecipação dos recebimentos e da ampliação dos prazos de pagamento.

• Para financiar o passivo circulante pode-se prolongar os pagamentos com os fornecedores (considerando o custo do capital), buscar linhas de crédito, realizar descontos das contas a receber etc.

• A necessidade de capital de giro está diretamente relacionada aos prazos médios de pagamento e recebimento, bem como ao aumento do volume das vendas e dos estoques.

• O ciclo operacional, financeiro e econômico é considerado na análise do capital de giro.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

Responda às questões a seguir para fixar os conhecimentos:

1 Analise o balanço a seguir:

ATIVO PASSIVOCaixa 4.640,00 Contas a pagar 17.050,00Aplicações financeiras 2.100,00 Títulos a pagar 17.120,00Contas a receber 13.000,00 Despesas a pagar 8.650,00Estoques 17.040,00 Exigível de longo prazo 15.960,00Ativos permanentes 62.000,00 Capital social 40.000,00

a) Separe o grupo de contas do ativo e passivo circulante.b) Destes, subdivida em circulante financeiro e operacional.c) Calcule o capital de giro.

2 Como a variação do quociente pode gerar efeitos nos lucros e risco?

3 O que representa o CCC (Ciclo de Conversão de Caixa)?

4 As necessidades extras do CG são motivadas por que fatores?

5 Qual a influência dos prazos médios de pagamento e recebimento sobre o capital de giro?

6 O que compreende o ciclo operacional de uma indústria na análise do capital de giro?

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TÓPICO 3

INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

As empresas não se desenvolvem de forma isolada, estão em interação com seus concorrentes e mercado. Neste ambiente, o gestor financeiro procura manter os resultados positivos, garantindo a sua liquidez e retorno de investimento aos donos do capital.

Neste esforço podem surgir oportunidades de arrendamento, fusões e aquisições, como alternativas para evitar situações mais complicadas, como a falência da empresa.

Neste tópico da última unidade vamos abordar um pouco sobre estes assuntos.

2 ARRENDAMENTOS

O arrendamento é uma modalidade onde você pode se apropriar de uma empresa por um determinado período. Por meio de um contrato, as partes pactuam todas as condições de arrendamento entre si: arrendador e arrendatário.

Para simplificar o entendimento, poderíamos dizer que é uma espécie de aluguel de uma empresa. Você pode alugá-la, usufruir de seus ativos, receita, responsabilizar-se por eles e ainda pagar o aluguel, uma importância financeira, para o proprietário (arrendador).

Com esta simplificação da expressão “aluguel”, cabe a decisão de arrendar ou comprar, ou seja: arrendar os ativos, tomar dinheiro emprestado para comprá-los ou, ainda, adquiri-los com recursos líquidos disponíveis. Esta decisão compreende as técnicas de orçamento de capital, onde identificamos os fluxos de caixa relevantes e aplicamos técnicas de valor presente líquido. Conforme Gitman (2003), para isso é necessário:

• Determinar as saídas de caixa depois do Imposto de Renda em cada ano da

opção de arrendamento, compreendendo o ajuste fiscal simples dos pagamentos anuais de aluguel e o custo do exercício de uma opção de compra no último ano do prazo de arrendamento.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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• Encontrar as saídas de caixa depois do Imposto de Renda em cada um dos anos da alternativa de compra. É necessário ajustar a soma dos pagamentos programados de acordo com a despesa de manutenção pelos benefícios fiscais resultantes das deduções permitidas por custos de manutenção, depreciação e juros.

• Calcular o valor presente das saídas de caixa associadas às alternativas de arrendamento e compra usando o custo de capital de terceiros depois do Imposto de Renda como taxa de desconto. Usa-se o custo de capital de terceiros depois do Imposto de Renda para avaliar a decisão entre arrendar e comprar. Isto envolve duas técnicas de financiamento: arrendamento e empréstimo.

• Optar pela alternativa de menor valor presente líquido de saídas de caixa, sendo esta a alternativa de financiamento mais barata.

3 FUSÕES E AQUISIÇÕES

As empresas buscam alternativas de fusões e de aquisições para encontrar alternativas de manutenção e expansão no mercado. Pode nascer de uma parceria entre as partes, seguindo na união de seus ativos (aquisição), através do qual procuram rentabilizar os seus ativos.

Na aquisição, a união das empresas resulta, principalmente, na manutenção da identidade de uma das empresas. Podemos ilustrar com a história do Grupo UNIASSELVI, que iniciou suas atividades em 22 de fevereiro de 1999 como faculdade. Cinco anos mais tarde, em 2004, foi elevado ao status de Centro Universitário. Durante estes primeiros anos de atividade, o GRUPO UNIASSELVI expandiu sua atividade no Ensino Superior com outros sócios, criando faculdades nos municípios vizinhos, como Blumenau, Rio do Sul, Brusque e Guaramirim. Em 2005, também recebeu a autorização do MEC para atuar com Ensino Superior na modalidade à distância em todo o território nacional.

A partir do ano de 2006, estas faculdades foram assediadas por outros grupos de Ensino Superior, que, por meio de aquisições e fusões, pretendiam ampliar seus negócios e atividades. No início de 2008, a família Tafner, por acreditar no seu modelo de educação, decidiu por não vender e nem fundir com outros grupos e, sim, criar o Grupo UNIASSELVI, hoje o maior grupo de Ensino Superior privado do Estado de Santa Catarina, e está dentre os maiores do país.

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TÓPICO 3 | INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

163

UNI

Toda esta história de uma faculdade que hoje é o Grupo UNIASSELVI emana sua filosofia na sua cor, no seu símbolo, no seu patrono “Leonardo da Vinci” e nos seus princípios norteadores.

As fusões e aquisições são movidas por uma série de motivos, dos quais se destacam:

• Crescimento ou diversificação.• Sinergia.• Captação de fundos.• Aquisição de capacidade gerencial ou tecnologia.• Considerações fiscais.• Aumento da liquidez para os proprietários.• Defesa contra aquisição hostil.

Asfusõespodemserclassificadasem:

• Fusão horizontal: quando duas empresas do mesmo ramo de atividade se unem.

• Fusão vertical: quando uma empresa adquire um fornecedor ou cliente.

• Fusão congenérica: quando é adquirida uma empresa do mesmo setor genérico, mas não do mesmo ramo específico.

• Formação de um conglomerado: combinação de empresas em ramos não relacionados.

Destas fusões e aquisições surgem as denominadas “holding´s”, uma sociedade de investimentos de capitais que teoricamente tem por objetivo a gestão de uma carteira de empresas.

Além dos motivos que podem levar a uma fusão ou aquisição, é fundamental uma análise minuciosa – uma avaliação detalhada da empresa que se pretende fundir ou adquirir. Muitas vezes, surge um passivo enorme após a fusão ou aquisição, oriundo de dívidas fiscais, trabalhistas etc.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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4 FALÊNCIA DE EMPRESAS

A data de constituição de uma empresa pode ser entendida como a data de nascimento da pessoa. Temos a data em que iniciamos as atividades, a nossa vida, mas não temos uma data final preestabelecida para o encerramento ou fechamento da empresa.

O fechamento ou a falência das empresas vai se delineando no decorrer de sua gestão, que pode estar motivado por:

• Resultados baixos: podem não expressar o retorno esperado pelos donos do capital, não alcançando a TMA (taxa mínima de atratividade) do negócio.

• Insolvência: tem dificuldade de liquidez, de transformar seus ativos em caixa. A partir deste momento, pode-se agravar a situação, partindo-se para resultados negativos.

• Resultados negativos: a empresa não tem como se manter ao longo do tempo com resultados negativos, vai aumentando o seu prejuízo e alcança níveis nos quais não tem mais credibilidade ou, ainda, seu ativo não cobre o passivo.

As causas de quebra das empresas, levando-as à situação de falência, podem ser movidas pela má administração, pelo nível de atividade econômica ou, ainda, pelo seu envelhecimento.

Inicialmente, tratando da má administração, percebemos que muitas fontes relatam que boa parte das empresas tem dificuldades e quebram pela má administração, falta de gestão. Na gestão da empresa, precisamos compreender que ela precisa ter uma perfeita integração interna e estar alinhada com o mercado.

UNI

O ser humano é um sistema complexo, onde todas as suas partes precisam estar perfeitamente integradas e em interação com o ambiente externo, enfrentando o relacionamento entre as pessoas, as mudanças climáticas etc.

Tratando da má administração, associamos a ela mais aos elementos de gestão interna da empresa, onde o seu gestor não consegue coordenar, integrar e sincronizar todas as ações externas, que levam a resultados baixos ou até negativos.

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TÓPICO 3 | INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

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O nível de atividade econômica está relacionado aos momentos de recessão que a economia historicamente enfrenta. As vendas caem drasticamente, ou os custos externos têm um aumento expressivo... Situações externas que surpreendem o gestor.

Aproveitando nossa analogia com o ser e corpo humanos, abordado anteriormente, na má administração também destacamos que envelhecemos com o decorrer do tempo: alguns mais rápido e outros de forma mais lenta. Enfrentamos os estágios de nascimento, crescimento, maturidade, declínio e quebra. As empresas precisam nascer a cada dia nos seus produtos, serviços, na sua prática de gestão, prorrogando ao máximo seu estágio de maturidade, ou de declínio.

Nos últimos anos estamos vivenciando uma crise econômica global. Países e blocos econômicos, que eram vistos como potências econômicas imbatíveis, hoje apresentam sinais claros de dificuldades financeiras. Os EUA vêm, ano após ano, elevando o seu nível de endividamento, pela sua dificuldade de pagar as dívidas externas. Nesta mesma situação também encontramos outros países da Europa com dificuldades financeiras.

ATENCAO

A Gestão Financeira precisa acontecer em nossa vida pessoal, familiar, social, nas empresas e no poder público.

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Neste terceiro tópico da última unidade descobrimos:

lAlgumas modalidades para que ocorram as incorporações são o arrendamento, as fusões e aquisições.

lO arrendamento é uma modalidade em que você se apropria de uma empresa por tempo determinado, através de contrato pactuado entre as partes: arrendador e arrendatário. Podemos simplificar, dizendo que é uma espécie de “aluguel” da empresa.

lAs fusões e aquisições são uma forma de junção das empresas, onde podem ser preservados os ativos e passivos de cada uma delas. Então pode surgir outra empresa, ou não.

lNuma aquisição, a união das empresas resulta principalmente na manutenção da identidade de uma das empresas.

lO crescimento ou diversificação, a sinergia, a captação de fundos, a aquisição da capacidade gerencial ou tecnológica, os aspectos fiscais, o aumento da liquidez para os proprietários e a defesa contra aquisição hostil são alguns motivos que levam a fusões e aquisições.

lUma fusão pode ser horizontal, vertical, congenérica ou, ainda, pela formação de conglomerado.

lRaras são as empresas que têm suas atividades fixadas por uma vigência preestabelecida. O administrador financeiro precisa avaliar as situações de falência da empresa, que podem ser motivadas por resultados baixos, insolvência ou, ainda, por resultados negativos.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

Vamos ver se você lembra o que aprendemos neste tópico?

1 O que é o arrendamento?

2 Por que o arrendamento pode ser definido como uma espécie de aluguel da empresa?

3 O que representam as fusões e aquisições?

4 Cite motivos que levam as empresas a situações de fusões ou aquisições.

5 Diferencie a fusão horizontal da vertical, da congenérica e da formação de conglomerado.

6 O que é uma falência?

7 O que pode motivar a falência?

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TÓPICO 4

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA

INTERNACIONAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Neste último tópico da última unidade deste Caderno de Estudos de Gestão Financeira, trazemos a você algumas informações sobre o mercado financeiro nacional, bem como a gestão financeira internacional.

O SFN (Sistema Financeiro Nacional brasileiro) é reconhecido ao redor do mundo, destacando-se entre os demais países. Vamos abordar um pouco sobre a sua história e origem.

Durante todo este Caderno de Estudos tratamos a Gestão Financeira sem tratar de aspectos internacionais. Finalizamos este tópico abordando alguns pontos importantes a serem considerados sobre a gestão financeira internacional, ligados aos aspectos individuais das relações que os países têm entre si e também dentro de seus blocos econômicos.

Bons estudos!

2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

A vinda de Dom João VI e da família real ao Brasil viabilizou o nascimento do primeiro Banco do Brasil, em 1808. A partir deste momento surgiram muitos outros bancos no Brasil, que iniciaram e encerraram suas atividades.

Destacamos a Inspetoria Geral dos Bancos (1920), a Câmara de Compensação do RJ (1921) e SP (1932), que, juntamente com os bancos e instituições financeiras, fortaleceram o sistema financeiro nacional. Internacionalmente, após a II Guerra Mundial, surge o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

A Superintendência da Moeda e do Crédito surgiu em 1945, que em 1964 deu origem ao Banco Central do Brasil, regulamentando o SFN com o surgimento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), do Banco Nacional da Habitação e do Conselho Monetário Nacional (BACEN, 2011).

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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A evolução de todo o sistema financeiro nacional brasileiro torna-se um dos mais eficientes e regulamentados do mundo, a partir da sua estruturação através da Constituição de 1988, que promove o desenvolvimento e equilíbrio do país buscando a estabilidade econômica. No quadro a seguir você pode observar a divisão do SFN:

QUADRO 80 – ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Órgãos normativos

Entidades supervisoras Operadores

Conselho Monetário Nacional (CMN)

Banco Central do Brasil (BACEN)

Instituições financeiras

captadoras de dinheiro à vista.

Demais instituições financeiras.

Outros intermediários financeiros e administradores

de recursos de terceiros.

Bancos de câmbio.

Comissão de Valores Mobiliários

(CVM)

Bolsas de Mercados e

Futuros.

Bolsas de valores

Conselho Nacional

de Seguros Privados (CNSP)

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP)

Resseguradores Sociedades seguradoras

Sociedades de

capitalização

Entidade abertas de

previdência complementar.

Conselho Nacional de Previdência

Complementar (CNPC)

Superintendência Nacional de Previdência

Complementar (SNPC)

Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão).

FONTE: Banco Central do Brasil (2011)

O SFN – Sistema Financeiro Nacional está dividido em três níveis:

• Órgãos normativos: responsáveis por criar todas as normas e regras a serem cumpridas.

• Entidades supervisoras: trabalham para verificar se as regras criadas pelos órgãos normativos são cumpridas.

• Operadores: são todos os agentes que realizam as operações financeiras no dia a dia.

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TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

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DICAS

Sugerimos que você acesse a página do Banco Central do Brasil, através do endereço eletrônico: <http://www.bacen.gov.br>, para conhecer mais sobre o Sistema Financeiro Nacional.

3 GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

Neste caderno abordamos muitos aspectos relacionados à Gestão Financeira de empresas, sem considerar questões específicas das empresas internacionais, pois cabe aí o conhecimento de aspectos principalmente tributários destas relações entre os países.

O crescimento, a expansão dos mercados e a evolução das tecnologias retratam um ambiente altamente globalizado, no qual podemos ter empresas instaladas em nossa cidade, em que parte do seu capital social pode ser externo ou totalmente internacional.

Uma parcela significativa destas empresas tem sua forma jurídica de Sociedades Anônimas (S.A.). Além desta modalidade, também destacamos as joint-ventures, uma parceria contratual entre as partes de investimentos, trocas e participação de resultados em determinados projetos, mantendo a independência das partes.

As empresas internacionais, além dos impostos, taxas e alíquotas locais, também assumem responsabilidades de tributação internacional. Há que se considerar no orçamento de capital destas empresas que, além do Imposto de Renda local, também há a incidência de imposto estrangeiro sobre as remessas.

Para melhorar a relação comercial entre os países e as empresas internacionais, os governos de determinados países se unem para criar e manter blocos econômicos, tais como: Nafta, União Europeia e Mercosul.

Além das demonstrações que estudamos, as empresas de caráter internacional também precisam ter as suas demonstrações financeiras, que, geralmente, envolvem questões de consolidação, tradução de contas individuais, unificação das moedas e divulgação de lucros internacionais.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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3.1 RISCOS

Não podemos descartar o risco das empresas internacionais, que do ponto de vista de alguns analistas financeiros, este risco torna-se mais amplo e complexo. Um dos riscos de maior destaque é o risco de câmbio, ou seja, a diferença de valor entre as moedas dos países. A sua variação poderá, em determinados momentos, favorecer a empresa estabelecida num dos países e, noutro momento, a outro. É necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre estas possíveis variações cambiais.

Para que possamos compreender um pouco sobre a variação cambial, voltamos ao exemplo da nossa camisaria. Vamos comprar uma máquina empacotadora que custa no mercado externo US$ 2.000,00. Hipoteticamente, vamos considerando que todos os impostos, taxas e alíquotas de importação representem 50% do seu valor; assim, esta máquina vai custar o total de US$ 3.000,00.

Como estamos no Brasil, precisamos pagar o investimento na nossa moeda corrente, o Real (R$); mas, quem está nos vendendo – de quem estamos importando, quer receber em sua moeda, onde vamos pressupor Dólares (US$). Para resolver este impasse, diariamente o Bacen tem o valor das moedas, e basta realizarmos a conversão. Supondo que US$ 1,00 esteja valendo R$ 1,55, basta calcular o valor devido em R$ - moeda nacional:

US$ 3.000,00 x R$ 1,55 = R$ 4.650,00.

Supondo que destes US$ 3.000,00 tenhamos dado um sinal de US$ 1.000,00 e o saldo para 30 dias, tivemos uma saída de capital de US$ 1.000,00 ou R$ 1.550,00. Ficamos devendo US$ 2.000,00 e a quantos reais (R$)? A resposta a esta pergunta vai depender da variação cambial.

• Aumento do câmbio: se aumentar o valor do US$ em relação ao R$, este saldo vai nos custar mais caro do que o previsto. Ex.: 1 US$ = R$ 1,70; logo US$ 2.000,00 x R$ 1,70 = R$ 3.400,00. Vamos refletir: o câmbio teve alta em 30 dias de 9,68%, pois passou de R$ 1,55 para R$ 1,70. Analisando sobre o saldo devedor de R$ 3.100,00 (4650-1550), agora estamos pagando R$ 3.400,00, ou seja, 9,68% – R$ 300,00 a mais.

• Manutenção do câmbio: se considerarmos que em 30 dias o câmbio manteve-se estável (1 US$ = R$ 1,55), vamos ter uma saída de caixa apenas do saldo de R$ 3.100,00 (4650-1550). Esta condição pode nos favorecer, pois poderíamos ter aplicado este saldo devedor numa opção do mercado.

• Baixa do câmbio: supondo que o dólar tenha tido uma queda e passou a valor R$ 1,40 ao final destes 30 dias, nosso valor devido passa a ser de R$ 2.800,00 (US$ 2.000,00 x R$ 1,40). Esta condição é ainda mais favorável para o resultado da empresa, pois do saldo devedor de R$ 3.100,00, agora precisamos pagar os mesmos US$ 2.000,00, mas em reais este valor representa uma queda de R$ 300,00.

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TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

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A variação cambial, além de fatores econômicos e políticos é, principalmente, afetada pelas diferentes taxas de inflação entre os países. Basta lembrar ou procurar a variação do câmbio de 1990 para cá: nos primeiros anos, US$ 1,00 valia centavos de reais. De repente, tivemos momentos da história brasileira em que o real foi se desvalorizando e chegou a patamares altos, onde US$ 1,00 valia quase R$ 4,00. Depois deste episódio, novamente o câmbio teve uma queda.

Analisando o impacto destas flutuações, podemos dizer que num momento em que a taxa de câmbio é baixa, estão favorecidas as importações (compra de outros países). À medida que esta taxa de câmbio se eleva, tornam-se favoráveis as exportações (venda para outros países).

UNI

A variação cambial foi um dos motivos para a falência das empresas. As empresas exportadoras fecharam contratos de venda dos produtos numa taxa elevada do dólar, as quais seriam beneficiadas com seus contratos pactuados para serem pagos em dólares. Com a queda do câmbio num momento seguinte, o que as empresas recebiam em US$ e convertido para R$ não cobria nem seus custos.

Analisamos o risco associado à variação cambial das moedas entre os países. Também é necessário compreender que os países, isoladamente ou no seu bloco econômico, desenvolvem políticas para proteger o seu mercado. Estas políticas incluem a permissão ou proibição de determinadas mercadorias, bem com a isenção ou a alta taxa de encargos de importação.

Ao permitir a importação com baixas taxas, o país pode estar permitindo o ingresso de determinados produtos que, possivelmente, não é capaz de produzir internamente. Da mesma forma que, ao proibir ou permitir com altas taxas de importação, o governo pode estar favorecendo a indústria interna para a produção destes mesmos produtos.

É importante ressaltar que estas políticas governamentais podem alterar o risco das operações das empresas nos diferentes países ou blocos econômicos, representando novas oportunidades ou ameaças.

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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LEITURA COMPLEMENTAR

UM ANO DE RECORDES

As 500 maiores empresas do Brasil venderam mais de 1,2 trilhão de dólares em 2010 e tiveram o maior lucro dos 38 anos de MELHORES e MAIORES, de EXAME.

A elite empresarial do país soube aproveitar bem o excepcional momento da economia em 2010, quando o PIB brasileiro cresceu 7,5%, maior expansão desde 1986. No ano passado, as 500 maiores empresas do Brasil faturaram mais de 1,2 trilhão de dólares e lucraram mais de 80 bilhões de dólares, de acordo com dados preliminares de MELHORES e MAIORES, edição especial de EXAME que chega às bancas em 7 de julho. O total de lucros foi o maior já registrado desde 1974, quando foi lançada a publicação. “Temos recordes em diversos indicadores, e isso é resultado da combinação de economia aquecida em 2010 com real valorizado”, diz Ariovaldo dos Santos, coordenador técnico da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), da Universidade de São Paulo, responsável pelas análises de MELHORES e MAIORES.

Um dos recordes que chamam a atenção é o do número de empresas com faturamento acima de 1 bilhão de dólares. São 50 a mais que no ano anterior. Ao todo, 291companhias atingiram a marca – 57 delas pela primeira vez. A maioria das novas bilionárias atua em setores que tiveram forte crescimento graças à ampliação da oferta de crédito e ao aumento da renda. Entre os setores mais beneficiados estão autoindústria, varejo, construção e serviço.

A gaúcha Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, figura entre as companhias que estrearam no grupo de bilionárias. A ascensão de uma nova classe média impulsionou o turismo rodoviário e incentivou as empresas de ônibus a renovar suas frotas. Em 2010, a Marcopolo produziu 27.500 ônibus, 42% mais que no ano anterior. Seu faturamento atingiu 1,5 bilhão de dólares, com crescimento real de 38%. “Foi o melhor desempenho que tivemos em nossa história de 62 anos”, diz José Rubens de la Rosa, diretor-geral da Marcopolo. As vendas no mercado brasileiro foram responsáveis por 65% do faturamento, invertendo a situação de sete anos atrás, quando as exportações chegaram a representar dois terços da receita. “Desde 2003, triplicamos nossa produção no exterior, mas é no Brasil que fabricamos os ônibus de maior valor”, afirma De la Rosa.

Num ano marcado pela força do mercado interno, o setor de varejo foi um dos mais vigorosos. A rede carioca Hermes, por exemplo, mudou de patamar. Atuando com vendas porta a porta e internet, faturou 1,2 bilhão de dólares, 73% mais do que ano anterior. Sua taxa de crescimento é uma das mais altas entre as empresas analisadas por MELHORES e MAIORES. O comércio eletrônico por

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TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

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meio da loja virtual Comprafácil representa 70% do faturamento da Hermes. “A popularização dos computadores e o aumento do acesso da população à rede são as principais alavancas de nosso crescimento”, afirma Gustavo Bach, executivo que assumiu a presidência da Hermes há dois anos.

Após estimular os consumidores a comprar mais em 2010, o governo começou no início do ano a puxar o freio, elevando a taxa básica de juro para conter a inflação. Na Hermes, surgiram os primeiros efeitos do aperto monetário, embora de forma ainda tênue. Em abril, seu faturamento caiu 10% em relação à média dos três primeiros meses do ano.

A queda, no entanto, ocorreu em comparação com uma base elevada: as vendas da Hermes no primeiro trimestre foram 60/% superiores às do mesmo período em 2010. Mesmo que a economia desacelere, Bach mantém o plano de aumentar o número de vendedores, de 600 mil para 700 mil no decorrer deste ano. “Nossa meta este ano é crescer 70%”, diz Bach. “Estamos confiantes de que vamos continuar a crescer”.

FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DAS EMPRESAS

FONTE: EXAME (2011)

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UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

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FIGURA 2 – FAIXA DE FATURAMENTO

FONTE: EXAME (2011)

QUADRO 1 – SETORES DA MELHORES E MAIORES

Setores QuantidadeServiços 10Varejo 9Autoindústria 6Energia 6Indústria da construção 5Atacado 3Bens de consumo 3Transportes 3Demais setores 12

FONTE: EXAME (2011)

As 291 empresas bilionárias, juntas, faturaram um total de US$ 1,1 trilhão, sendo que 12 empresas tiveram lucro líquido superior a US$ 1 bilhão em 2010.

FONTE: Revista EXAME, Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 52-53.

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Neste último tópico da terceira unidade estudamos e descobrimos:

lO SFN (Sistema Financeiro Nacional) veio se estruturando desde a vinda da família real ao Brasil. Muitos bancos surgiram e quebraram, contribuindo na estruturação do SFN, onde destacamos o Banco do Brasil S/A.

lAtualmente, o Sistema Financeiro Nacional brasileiro torna-se um dos mais eficientes e regulamentados do mundo. Isto ocorreu a partir da Constituição de 1988, que promoveu o desenvolvimento e equilíbrio do país, buscando a estabilidade econômica.

lO SFN está dividido em três órgãos normativos: o CMN (Conselho Monetário Nacional), o CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados) e o CGPC (Conselho de Gestão da Previdência Complementar).

lOs órgãos normativos são responsáveis por criar todas as normas e regras a serem cumpridas pelo SFN. As entidades supervisoras trabalham para verificar se estas regras criadas são cumpridas. Os operadores são todos os agentes que realizam as operações financeiras no dia a dia.

lCada um dos países tem o seu sistema financeiro, do qual as empresas precisam conhecer o sistema financeiro de cada um dos países onde estão inseridas, direta ou indiretamente.

lO crescimento, a expansão dos mercados e a evolução das tecnologias retratam um ambiente altamente globalizado, no qual podemos ter empresas instaladas em nossa cidade, em que parte do seu capital social pode ser externo ou totalmente internacional.

lO câmbio é um dos riscos evidentes para as empresas que, de alguma forma, estão presentes além de suas fronteiras nacionais. É preciso verificar os riscos frente ao aumento do câmbio, sua manutenção ou, ainda, a baixa do câmbio.

RESUMO DO TÓPICO 4

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AUTOATIVIDADE

Vamos ver se você lembra o que estudamos ao final deste caderno, respondendo às questões:

1 O que é o SFN (Sistema Financeiro Nacional)?

2 Explique o que vem a ser o CMN, CNSP e o CGPC.

3 O que fazem as entidades normativas, supervisoras e os operadores?

4 O que é a flutuação cambial?

5 Como o câmbio pode representar um risco para as empresas?

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REFERÊNCIAS

ASSAF Neto, Alexandre; SILVA, Augusto Tiburcio. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. BACEN. Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 14 maio 2011.

CAMPOS FILHO, Ademar. Demonstraçãodosfluxosdecaixa: uma ferramenta indispensável para administrar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1999.

DAMODARAN, Aswath. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para a determinação do valor de qualquer ativo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.

GITMAN, Lawrence J. Princípiosdaadministraçãofinanceira. 10. ed. São Paulo: Pearson/Addison Wesley, 2004.

LEMES Jr., Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administraçãofinanceira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Aplicações e casos nacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JORDAN, Bradford D. Jordan. Princípiosdeadministraçãofinanceira. São Paulo: Atlas, 2000.

SILVA, José Pereira da. Análisefinanceiradasempresas. São Paulo: Atlas, 2001.

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ANOTAÇÕES

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