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jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 09 | dezembro de 2006 CURITIBA EM QUADRINHOS CURITIBA EM QUADRINHOS CURITIBA EM QUADRINHOS Gibiteca mais antiga da América Latina traz para a cidade exposições inéditas

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jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpredição 09 | dezembro de 2006

Curitiba em QuadrinhosCuritiba em QuadrinhosCuritiba em Quadrinhos

Gibiteca mais antiga da América Latina traz para a cidade exposições inéditas

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Dezembro de 20062 Comunicação

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso.

EditorEs: AdministrAção – Ana Clarissa Hupfer, Ana Cristina Seciuk e Elen Canto. CiênCiA e teCnologiA – Célio Yano e Thayse Zomkowski.ComportAmento – Félix Calderaro e Paola de Orte.CulturA – Francine de Souza, Heitor Humberto e Marília Seeling.ensino – Elaine Santos, Jaqueline Bartzen e Juliana Hellvig.extensão/esportes – Manuela Sanches e Rodrigo Choinski. polítiCA – Carlos Alberto Debiasi, Fernanda Brun e Gabriele Alves.sAúde – Bruna Maestri, Rodolfo Colnaghi e Thalita Uba. CApA: Célio Yano. ChArge: Laís Brevilheri. projeto gráfiCo: Bruno Oliveira e Erike Feitosa. seCretáriA de redAção: Ana Bendlin. Chefe de redAção: Luciana Cristo. diAgrAmAção: Erike Feitosa e Renata Ortega. edição de fotogrAfiA: Giovana Ruaro.professor orientAdor: Luiz Paulo Maia (jornalista responsável-DRT / SC 716). endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR – (41) 3313-2005. Email: [email protected]. tirAgem: 2 mil exemplares. impressão: Gráfica O Estado do Paraná.

ExpEdiEntE

opinião

EditorialÉ um período especial. O Comunicação, jornal laboratório produzido pelos alunos

do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), segue uma nova linha editorial neste mês de dezembro. Após um longo ano de grande trabalho por parte da redação (muito bem feito, por sinal), os olhares agora se voltam para a Curitiba que vai além dos muros dos campi da UFPR.

E Curitiba também vive seu momento especial. Não pelo Natal ou pelas vacas malandras espalhadas pela cidade. Pode parecer coisa de criança, mas ao menos os qua-drinhófilos estão animados: a Gibiteca de Curitiba, primeira da América Latina, festeja seus 24 anos de fundação. Após uma série de eventos, as comemorações seguem até fevereiro de 2007, com mostras inéditas que trazem ao público trabalhos de artistas locais e até a obra do desenhista argentino Joaquín Salvador Lavado, o Quino, criador do universo infantil de Mafalda – que de infantil não tem nada.

Tanto para os viciados, quanto para quem não está acostumado com os desenhos em seqüência, enfeitados com balões de fala e onomatopéias, vale a pena dar uma con-ferida nas exposições. José Aguiar, artista daqui da cidade, mostra que talento para a arte quadrinhista pode nascer em qualquer lugar e a qualquer momento, mesmo que não haja mais Guerra Fria para temer e que se percam as esperanças de desejar a paz mundial.

A produção curitibana pode não ter ainda o reconhecimento que merece na pró-pria capital paranaense, mas há por aqui um grande trabalho que poderia ser melhor explorado por grandes editoras. Há certa discriminação com relação à arte seqüencial, porque a simplicidade dos traços e a pequena quantidade de texto, que dão identidade aos quadrinhos, muitas vezes é vista como uma produção voltada ao público infantil. Mas não é bem assim.

A nona arte, aliás, deve ser a mais democrática de todas. Há quadrinhos de todas as origens difundidos pelo mundo, desde os clássicos japoneses, americanos e ingleses, até os coreanos, belgas, argentinos e brasileiros, e eles versam sobre uma variedade de temas que beira o impensável.

Histórias em quadrinhos são literatura. E se o diminutivo na tradução para o por-tuguês dá a idéia de infantilidade aos cartuns, que seja. Voltemos todos a ser crianças.

Todomundofuraosinal,minhaamiga.Todomundofuraosinal. UmafraseditanotrânsitocaóticodeCuritiba,às18h,porummotoqueiroque,depoisdearrancaroespelhoretrovisordeumcarro,justificava-se,metrouxetantoalí-vioquantoépossívelimaginar.Todomundofuraosinal.Depoisdessaexplicação,todasas minhas culpas se esvaíram. Ou foramperdoadas.Oumelhor,seesvaíramporqueforamperdoadas.Depoisdessaexplicação,percebiqueaculpaéalgoquesóexistenoimaginárioindividual.Equeestáláapenasparaquepossamosextirpá-la. Mãe, fui eu quem, aos sete anos deidade,quebrouovidrodajaneladacozinha.Euatéteriaconfessadoantes,maseunãosabiaquetodomundofuraosinal.Euatépediriadesculpas,seontemeunãotivesseaprendido que todo mundo fura o sinal.Querido irmão, fui eu quem quebrou ovidrodajaneladacozinha.Euseiquevocêlevouaculpaefoipunidoporisso.Vocênãomereciaapunição.Nemeu.Porque todomundofuraosinal. Confesso abertamente que eu atra-vessoasruasforadafaixa.Confessoqueatravessoquandoosinalestáverde,ver-melhoouamarelo.Não importamesmo.Porquetodomundofuraosinal.Confessoquejogolixonaruaenemsemprelembrodesepararpapel,plástico,alumínioesubs-

tâncias orgânicas. Não economizo águadurante o racionamento e sempre tomobanhosdemoradíssimos.Ah,nãousoxam-pu,sabonete,sabãoempóoudetergenteecologicamentecorretos. Ontem mesmo colei numa prova. Epasseicolatambém.Aprendianobreartenaprimeirasérieesempreacheiqueosucessodacola residianadiscriçãoeno segredo.Masjáquetodomundofuraosinal,nãovejomaisporquesilenciar.Eucolo,tucolas,elecola.Nóscolamos,vóscolaiseelescolam.Todos nós já copiamos ou ainda vamoscopiaralgumtrabalhodaInternet.Etodomundofuraosinal. Nem sempre tenho paciência com aspessoas,me irrito fácile tenhomeusmo-mentosderebeldiasemcausa.Masnãohámotivosparavergonhaouarrependimento.Porquetodomundofuraosinal.Aliás,quese acabem todos os discursos moralistas,as regrasdeboaconvivênciaeosvaloresda vida social. Que se acabe o planeta eque vivamos todos voltados apenas paranós mesmos. Que o coletivo só exista naplenitudedaveracidadedequetodomundofura o sinal. E morte aos chatos que nãoconcordarem.Quesejam,preferencialmen-te, atropelados por um de todos nós quefuramososinal.

Jaqueline Bartzen

AlunA do 6º Período de JornAlismo dA uFPr

Todo mundo fura o sinal

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Comunicação � Dezembro de 2006

uma outra entrevista?Isso funciona com a energia que a gente tem. Através do olhar, passamos uma energia e aquilo que não existe passa a existir. Isso depende muito da percepção de cada um. E eu tenho muita facilidade. Nasci com esse dom. É como beber água para mim.

E o que você acha do cenário musical de Curitiba?Eu mudei para Curitiba há três anos e meio, por causa de Deus e de uma gaúcha que eu conheci em Londrina: Aline Morena. Estamos juntos há quatro anos no amor e no som! Recentemente fizemos um CD e um DVD chamado ‘Chimarrão com Rapadura’. É a primeira vez que formo um duo e estou muito feliz. Sempre toquei em Curitiba. O público aqui é como em todos os lugares, sempre maravilhoso! Porque a música universal não escolhe público, o público sim é que escolhe a música univer-sal! Estou querendo lançar esse último CD e DVD também em Curitiba. Já estivemos na Argentina, Uruguai, Equador, São Paulo, Rio... está faltando Curitiba!

em boa parte da América do Sul, ainda não foram lançados na capital paranaense. Nessa entrevista, feita por e-mail, Her-meto fala, entre outras coisas, de música universal, da cena curitibana, de sua parceria com Miles Daves e da vez em que levou porcos para um estúdio americano.

Comunicação: Você é considerado um gênio, um mago, um bruxo da música. Multiinstrumentista famoso por harmo-nizar qualquer coisa. Mas como é esse processo?Hermeto: São coisas da natureza e da intui-ção. Eu faço isso desde pequenininho. Sempre percebi o som de tudo. Quando alguém falava com a minha mãe, eu dizia: “Olha, ela está cantando!”. Enquanto conversavam, eu conse-guia perceber as alturas das falas das pessoas. Não sabia que eram notas! Meu avô era ferreiro e eu aproveitava todos os ferrinhos, restos de penicos, e tocava com eles, criando melodias a partir daqueles sons. Também tocava flautinhas de bambu, de talo e de mamona para os passarinhos.

E como é a história de levar porcos do Brasil para um estúdio nos Estados Unidos? É verdade que te barraram aqui por causa dos bichos?Isso é lenda! Pra quê eu iria levar porcos para os EUA, se lá já tem? Gravei sim com dois porquinhos do Texas, tão cheirosos e bem tratados que as crianças, que eram donas, ficaram com medo que eu fosse bater neles. Mas não, apenas extraí o som. É só pegar neles que eles já gritam!

Você gravou com Miles Davis (fa-moso trompetista de vanguarda do jazz, que morreu em 1991). Como foi isso? Reza a lenda que ele era seu fã.Foi um presente de Deus eu me encontrar com o músico e a pessoa maravilhosa que ele era. Uma vez, um radialista da França perguntou como ele gostaria de voltar pra Terra se pudesse escolher. E ele respondeu:

Música

O bruxo de CuritibaHermeto Pascoal, o músico que já levou porcos para gravar em

um estúdio, fala sobre música universal, sua parceria com Miles Davis e, é claro, Curitiba

Cabelos longos, barba espessa, ambos brancos. Um físico que não é lá muito atlé-tico e, para complementar o visual, óculos ao melhor estilo ‘fundo de garrafa’. Poderia ser a descrição do Papai Noel, mas não é. Também não é nenhum dos personagens da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’. Apesar disso, muitos o chamam de bruxo, mago, prodígio. Trata-se do multiinstrumentista Hermeto Pascoal, um alagoano conhecido internacionalmente, famoso por arrancar música de tudo: panelas, chaleiras, bacias d’água, máquinas de costura, patinhos de borracha e até mesmo porcos! O segredo? “A música está em tudo”, diz ele. “Você só tem que parar e ouvir. Porque a bichinha está ali, esperando que alguém a descubra”. Uma citação à la Keith Richards que, nesse caso, provavelmente não configura plágio, mas apenas uma coincidência. E é assim que Hermeto vem, há décadas, impressionando adeptos da música instru-mental. Sua mais nova investida é a parceria com a ‘patroa’ Aline Morena, uma musicista gaúcha de 26 anos que encontrou em um de seus muitos espetáculos e acabou ‘tomando por namorada’. Os dois mudaram há três anos e meio para Curitiba e fazem juntos a turnê ‘Chimarrão com Rapadura’ – uma referência às suas respectivas origens. A turnê é baseada em CD e DVD produzidos de forma indepen-dente e que, apesar de já serem conhecidos

““

Nasci com esse dom, de criar sobre o nada. Para mim, é como beber água.

Sandoval Poletto

“Eu gostaria de ser um músico como o albino brasileiro Hermeto Pascoal”. E eu só não divulguei isso antes para não dizerem que eu queria aparecer. Mas as pessoas me per-guntavam muito: “E então, Hermeto, você tocou com o Miles Davis?”. E eu respondia: “Sim, ele também tocou comigo!”.

Quais são os outros músicos de repercussão internacional com quem você já gravou? Gravei com Sérgio Mendes e Ron Carter. Convidei ambos para tocarem os meus

arranjos. O único que me convidou para gravar foi o Miles Davis.

No meio ‘cult’, você é considerado um dos maiores músi-cos da atualidade. Mas que música você ouve em casa?

Há preferência por algum estilo?Só ouço mesmo os sons naturais: motor de carro, ralo de torneira, passarinhos. Eu ouço muito mais a minha intuição. Mas sempre que os músicos me mandam seus discos, eu ouço algumas faixas para dar meu parecer, quando eles pedem.

E o que você acha que o leva a ter tanto sucesso, principalmente no exterior?É o respeito que eu tenho pelo público do mundo inteiro, fazendo música universal. Música sem preconceito e com várias ten-dências, aliadas ao bom gosto. Contemplo tudo o que é bom. Então, em qualquer lugar onde toco, as pessoas se identificam com esse som. E cada vez eu fico mais fascinado com o público de todos os lugares. O público é a razão de minha música!

Hermeto, você é um músico inovador, de vanguarda. Como encara aqueles que dizem que “em termos de música, o novo já nasce velho”?Quem diz isso nem nasceu. Ou morreu e esqueceu de deitar! Nós viemos para a Terra para criar, evoluir e percebemos isso cada vez mais. Cada dia é diferente! Cada ar, cada nuvem, cada pedra, cada dedo...

E como é “pegar uma coisa do nada e criar sobre o nada”, como você declarou em

Foto

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Hermeto e o Bule: solo de maçã com canela.

Hermeto e a escaleta: boa música não depende do instrumento.

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Dezembro de 2006� Comunicação Educação

UFPR investe em agroecologia e leva conhecimento a movimentos sociais

Parcerias com governos e com a Via Campesina permitem o funcionamento da Escola Latino Americana de Agroecologia

Apalavra‘latifúndio’,emgeralacom-panhadade‘terra’,encontraoutrocomple-mentonaspalavrasdeJoséMariaTardin,coordenadordaEscolaLatinoAmericanadeAgroecologia(Elaa).“Queremosenfrentarolatifúndiodoconhecimento”,afirma.Paraatingiresseobjetivo,oprojetopedagógicodaEscola,quejáfuncionahámaisdeumanonacidadedaLapa(lestedoParaná),prevêoensinodetécnicasagrícolasdiferenciadas,aliadasaoestudodepolíticaemovimentossociais. “Mostramosadimensãoecológicanumaperspectivarevolucionária,queeman-cipeculturalmente”,explicaTardin. AElaaéfrutodeumprotocolodeco-operação,relacionadoàagricultura,entreos governos da Venezuela e do Paraná, aUniversidade Federal do Paraná (UFPR),representadapelaEscolaTécnica(ET),eaViaCampesina,estaúltimaumaarticulaçãodemovimentosdecamponeses, indígenase pescadores, como o Movimento SemTerraeaComissãoPastoraldaTerra,porexemplo.Oprojetodesenvolvidoporessasinstituiçõesbuscaavalorizaçãodaculturacamponesaeautilizaçãodetécnicasagríco-

lasquenãoprejudiquemomeioambienteequecontribuamparaaqualidadedevida,comoanãoutilizaçãodeagrotóxicos. OensinonaEscolapriorizaumsistemadeagriculturaquedêmaisautonomiaparaoagricultor,ouseja,incentivaatrocadese-mentes,apesquisacamponesaeodesenvol-vimentoeutilizaçãodetecnologialocal.“As-sim,oagricultorsetornamaisindependentedaindústriaeficacommaislucros”,afirmaValterSchaffrath,coordenadordocursodeAgroecologia da ET. “O profissional queformamosestávoltadoparaahumanizaçãoenãoparaaeconomia”,completaTardin. OsestudantesdocursoTécnicoSupe-rioremAgroecologiadaElaasãoescolhidosdentro dos movimentos sociais dos quaisparticipam,ouseja,nãoprestamvestibular.“SãoselecionadosdeacordocomadisposiçãoemcontribuirparaacomunidadepormeiodaformaçãoqueadquiremnaEscola”,explicaVanessaPegoraro,alunadaElaa.Ocursodegraduaçãotemduraçãodetrêsanoseafor-maçãodosestudantesalternaapermanêncianaEscolacomaestadianacomunidade,quepodeseradeorigemdoestudanteouqualqueroutraindicadapelaElaa.Alémdasdisciplinasdocurrículo,osalunosaindafazemoficinasdeoratória,xadrez,violão,informática,dan-ça,guarani,triânguloepandeiro,artesanato,teatroebio-fossa.

Intercâmbio AUFPRé responsávelporoferecerosuporte pedagógico à Escola e estimula ointercâmbiocientíficoentrepesquisadores,professores,técnicosecamponeses,nasduas

unidadesdaElaa:aquefuncionanoAssenta-mentoContestado,naLapa,eatendealunosdepartedaAméricadoSul; ea instaladanaVenezuela,paraestudantesdonortedaAméricadoSuledoCaribe. NaEscoladaLapa,encontram-sealunosdeváriosestadosdoBrasiledeoutrospaíses,como Argentina e Paraguai. “Nós temosumatrocaculturalmuitograndeporcausadadiversidadedeestadosepaíses”, afirmaVanessa.“Asdificuldadesiniciaiscomalínguaforamsuperadas,porcausadaconvivênciaedeoficinasdeespanholeguarani”,conclui.

Instituto Contestado Paraorganizar a gestãopolítica e ad-ministrativa da Escola, foi regularizado,em novembro, o Instituto Contestado deAgroecologia. “Ele facilita a relaçãoentrea Escola e a UFPR, além de atuar comomediadorcomoutras instituições”,explicaTardin.Alémdisso,oInstitutodevebuscarfinanciamentoparasuasatividades,juntoaogovernoeoutrasorganizaçõescivis. SegundoSchaffrath,aexistênciadoIns-titutoéimportanteparaanegociaçãocomo

Priscila Guimarães

Na Via Campesina, acreditamos que existem dois tipos de latifúndios para enfrentar. Um deles é mais

explícito: o da propriedade da terra. O outro, não percebido com tanta clareza, é o do conhecimento.

José Maria Tardin,coordenador da escola latino americana de aGroecoloGia (elaa)

Existe uma troca cultural muito grande na Elaa devido à mistura de culturas de pessoas de outros países e de outros estados do Brasil.

Vanessa Pegoraro

aluna brasileira da elaa

governofederal,quecostumainvestirmuitomaisnoagronegóciodoquenaagriculturafamiliar.“NoúltimoPlanoSafra(2006-2007),foram liberados 50 bilhões de reais parafinanciamentodoagronegócioeapenasdezbilhõesparaaagriculturafamiliar”,afirma.OcoordenadordocursodeAgroecologiaaindaestabeleceacomparação:“NoBrasil,existememmédia500milpropriedadesvoltadasaoagronegócioequatromilhõesligadasàagri-culturafamiliar,sendoquegrandepartedelastrabalhacomaagroecologia”. Mesmo com a necessidade de maisinvestimentos e de conquista de espaçopúblico, segundo Schaffrath, instituiçõescomoaUFPRdão condições para a áreacrescer.“HaviacertaresistênciadentrodaUniversidadecomrelaçãoaessesistemadeagricultura,masissomudoucompletamen-te”, afirma Alípio Leal, diretor da EscolaTécnica.“AsaçõesdaUFPRnaáreaestãosemultiplicando.Jáexistem,alémdocursosuperior,ocursotécnicoeaespecializaçãoemAgroecologia”,conclui. Alémdedifundiro conhecimentonaárea, aElaaainda seconsolidacomoumaformadeaUniversidadeestaraserviçodapo-pulação.“AEscolagaranteespaçodentrodainstituiçãoparaaquelesmenosprivilegiadosetradicionalmenteexcluídos”,dizSchaffrath.

Escola Latino Americana de Agroecologia, na Lapa.

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Comunicação � Dezembro de 2006 Social

Seguranças recebem ordem de retirar mendigos que representem “ameaça”

Pedro Castro

De longe, já se sabe quem não pode

entrar. Não podemos prestar atenção em cada um que entra

para ver se ele é suspeito. Temos que barrar de antemão.

NiwtoN SoareS

segurança da Catedral

rança da Catedral há dois anos e meio. “Qualquer um pode entrar se estiver lúcido. Muitos vêm, rezam e saem. Mas quando estão bêbados, eles só entram na igreja para incomodar”, afirma Soares. “Tem de todo tipo de gente aqui, esfar-rapados e engomados. Não olhamos as roupas da pessoa. O que define nossa ação é o comportamento”, completa. Os seguranças contam casos que justificam sua atuação: pessoas que se descontrolam, gritam e brigam dentro da

Igreja barra a entrada de moradores de rua

igreja, e até quebram imagens. Mas logo se contradizem ao afirmar que “de longe, já se sabe quem não pode entrar. Não podemos prestar atenção em cada um que entra para ver se ele é suspeito. Temos que barrar de antemão”, diz Soares. O padre Pedro Alves de Souza Filho, pároco e administrador da Catedral há oito anos, reconhece a contradição, mas justifica: “Não podemos correr o risco de que alguém cometa uma violência aqui dentro”. Apesar da desaprovação de muitos fiéis, o padre explica que a maio-ria das igrejas do centro da cidade possui seguranças. “É por necessidade”. O pároco diz que não há orientação

Meu assunto aqui é com Deus. Eu venho conversar só com Deus, não com ele (o segurança).

JoSé CarloS Joly

CatóliCo de batismo, morador de rua, vendedor e usuário de CraCk

para conter as pessoas à força e que o procedimento é acomodá-las e chamar o Resgate Social da Prefeitura Municipal. Já os seguranças descrevem seu trabalho como bloqueio e retirada das pessoas vistas como ameaça. “Se tiver que usar a força, usamos”, diz o segurança Soares. O padre, no entanto, afirma que esse procedimento nunca foi necessário. “A gente pede com jeito para eles saírem e funciona. Lá fora, eles provocam, mas se você não compra a briga, eles desistem”.

Em um painel, ao lado da entrada principal da Catedral Metropolitana de Curitiba, está fixado um cartaz que diz: “Não dê esmola. Ajude quem precisa de verdade”. Contratado há dois anos pela paróquia, o segurança José Maria de Paula explica que a sua função e de seu colega é justamente impedir que pedintes abordem as pessoas para pedir esmolas. A igreja conta com esse serviço há 13 anos. O Novo Testamento diz que Jesus expulsou comerciantes do Templo de Jerusalém. Esses homens vendiam animais para serem sacrificados em agradecimento ou para pedir graças a Deus. Com o advento do catoli-cismo, tais práticas foram abolidas e as igrejas viraram pontos de men-dicância. Na Catedral de Curitiba, isso ocorreu livremente até a década de 70, época em que foi contratado, informalmente, o primeiro segurança da paróquia. O pedinte Marco Antônio, que já foi expulso algumas vezes de dentro da igreja, não concorda com a pre-sença dos seguranças. Em seu terno azul de corte antigo, ele explica que existe uma forma eficaz de abordar as pessoas. “Tem uns que entram bêba-dos para pedir. Ninguém dá esmola, daí. Mas se você é educado, todo mundo dá. Se me deixassem entrar, eu já estaria pedindo”, conta. “A embriaguez é um problema constante dos moradores de rua da região”, diz Niwton Soares, segu-

‘Rei Artur’ e Joly: barrados, “por necessidade”, na porta da igreja.

Pedr

o C

astr

o

Um homem, que se identificou como ‘Rei Artur’, ao lado de uma armação de algodão doce, que dizia ser sua ‘Excalibur’, acompanhou-me até a Catedral. Foi até a imagem de Nossa Senhora, rezou, chorou e saiu. Ao tentar entrar de novo, sem minha companhia, foi barrado. “Eu sou devoto de Nossa Senhora da Luz. Não sou pedinte nem ladrão, sou ambulante. Só quero rezar, mas fazer o quê?”, dizia o homem, visivelmente alcoolizado. Ao lado da Catedral, fica a rua José Bonifácio, conhecida como ponto de venda de drogas, principalmente de crack, segundo afirma Soares. “Isso contribui muito para os crimes aqui dentro”, diz ele.

“Os mais jovens não são mendigos, são viciados. Quando eles entram aqui, não é para pedir, é para roubar. Eles têm que ser barrados”, afirma. Os funcionários da igreja são ori-entados para chamar a polícia caso haja qualquer ocorrência, dentro ou fora do local. Mas isso raramente é feito. “Tanto os policiais militares, quanto a Guarda Municipal fazem vista grossa. Não adianta nada chamá-los. Eles prendem um ou outro, mas não resolvem o problema”, conta Soares. O morador de rua José Carlos Joly, que se diz vendedor e usuário de crack, afirma ser católico de batismo e, quando se refere ao segurança da igreja, desfia uma série de palavrões.

“Eu venho à igreja quando quero e ele não pode me impedir. Meu assunto aqui é com Deus. Eu venho conversar só com Deus, não com ele”, diz. O padre Souza explica que um pro-grama de ação social já foi realizado. Pessoas necessitadas eram recolhidas e en-caminhadas a hospitais, albergues ou para a cidade de origem. Eram ações filantrópicas sem planejamento, que não atendiam al-coólatras ou usuários de drogas - o maior problema para a Catedral. O programa foi abandonado há dois anos, mas o pároco pretende retomar e expandir o antigo pro-jeto para atender a região.

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Dezembro de 20066 Comunicação Quadrinhos

Gibiteca recebe visita ilustreComemoração dos 24 anos da biblioteca de gibis movimenta cenário de produção

de quadrinhos em Curitiba e traz exposição inédita de Quino

“Avidacomeçaaosquarenta”.Essaémaisumadasconstataçõesdeumagarotinhaquetementreseiseoitoanosdeidadeequefoieternizadapeloseuanticonformismocomahumanidade.Seunome?Mafalda.Seupai?O cartunista argentino Joaquín SalvadorLavado,oQuino.Elanãogostadesopa,dearmasnucleares,nemdasabsurdasconven-çõesdosadultos.Masamaademocracia,os

direitoshumanoseosBeatles.Écomoqual-quercriançadesuaidade,excetopelacríticavisãodemundo.Mafaldacompletou40anosem2004eQuino,50anosdecarreira.AgoraelesestãoemCuritibaparacomemoraros24anosdaGibitecadacidade,queéaprimeirabibliotecadegibisdaAméricaLatina. A exposição ‘Simplesmente Quino’reúne diversos trabalhos do cartunistaargentino e é o carro-chefe do ‘Festivalde Quadrinhos’, promovido pela Funda-çãoCulturaldeCuritiba(FCC).AlémdeQuino,osartistasgráficoscuritibanosJoséAguiareLuizAntônioSoldatambémtêmostrabalhosexpostosnacomemoração,repletade esquetes de histórias em quadrinhos.Trazeramostradocartunistaargentinofoiumainiciativaconjuntadacoordenadoriade artes visuais doCentroCulturalSolardoBarão,daGibitecaedaFCC.

Quinolândia OuniversodeQuinoestábemrepre-sentado na mostra, inédita em Curitiba.AlémdeMafalda,opúblicopodeverváriosoutroscartuns,personagens,ilustraçõesdearte,livroseditadosevídeosdeanimaçãoque revelam um pedaço do mundo do

cartunista.EmtodooprimeiroandardoSolar do Barão, estão 140 desenhos queprocuramsintetizar50anosdeumacar-reira muito sólida e, apesar de seguiremtemáticas distintas, têm o humor ácidocaracterístico do argentino. “Esta é umabelaoportunidadeparaconhecermosumartista de renome internacional. Já faziaalgum tempo que estávamos planejando

trazeroQuinoparacá”,contaMaristelaGarcia,coordenadoradaGibiteca. Aexposiçãoatraiumpúblicobastantevariado. A estudante de design CharleneRoverjáconheciaastirinhasdeQuinoefoi

atéamostraparaconferir todootrabalhomaisdeperto.“Eletemumavisãodiferentesobre as coisas, porqueconsegueperceberfatosinusitadosemsituaçõescotidianas”,co-mentaaestudante.SegundoavisitanteAdéliRoderjam,26anos,“acombinaçãodotraço

bemdesenhadoedaspalavrasutilizadasnamedidacerta,deumaformasutilecríticaaomesmotempo,fazodiferencialdeQuino”. Amostratambéméoportunidadeparaquecriançasconheçamotrabalhodocartu-nista,especialmenteaMafalda.AdesignerIsabelPortugallevouafilhaparaconhecer

osdesenhos:“adoreipoderapreciartantas tiras de fundopolítico eainda conheci o desenho ani-mado” (fazendo referência aosdesenhos animados da turmadaMafaldaedoQuinoscópio).Aanimaçãotambémfoioquemaischamouaatençãoda filhadeIsabel,Jade,oitoanos.Conhece-doradaMafaldapormeiodoslivrosdamãe,ameninanãodesgrudouosolhosdaTVnaqualpassavamosvídeosanimadosdospersonagensdeQuino.

Aguiar e Solda “Eventos como esse, que não seencontram em qualquer lugar, são umaótimainiciativaparapromoveraGibiteca”,diz o cartunista JoséAguiar, relembrandoocaráterdecentroculturaldabiblioteca.Paraele,o festivaléumaótimaoportuni-dade de expor uma arte tão rica como adashistóriasemquadrinhos.“Misturandoelementosvisuaiscomtexto,osquadrinhosestão ligados à construção do imaginário

moderno popular e possuem uma funçãoquevaialémdoentretenimento,servindoporvezescomoinstrumentodeeducaçãoe

“ “Eu vi em Quino que era possível passar para o papel tudo o que a gente pensava e contra o quê lutava, pois estávamos em plena ditadura.Luiz Antonio SoLdA

cartunista

Fernanda trisotto e renata ortega

alfabetização”,conclui. José Aguiar conheceu Quino pesso-almente e considera sua obra atemporal,pelacapacidadede transformarpequenosmomentosemdesenhosemblemáticos.“OQuinonunca joga idéias fora.Seelenãotemamaneiracertaparadesenhar,eleguar-daaidéiaparamaistarde”.Oartistagráficocuritibanotambémparticipadofestivalcomaexposição‘Quadrinhofilia’,queelemesmodefinecomoumneologismopróprioequereúneváriosestilosdetraçosehistórias. ParaotambémcartunistaLuizAntonioSolda,aGibitecacolocouCuritibanomapaculturaldoBrasil,mostrandoqueosquadri-nhos,ouosgibis,nãorepresentamameaçasàscrianças,comopensavamnossosavós.“AGibitecadeCuritibaéamaiordaAméricaLatina.Hojeemdia,asgibitecasexistemnomundointeiroetêmacervosincríveis.Acho

apenasqueelaprecisadecuidadomaior, porque a atual localizaçãonão ajuda muito na manutençãodoacervo”,comenta. Soldacontaque lheapresen-taramMafaldaeQuinonadécadade 70. “Eu vi em Quino que erapossívelpassarparaopapeltudooqueagentepensavaecontraoquêlutava, pois estávamos em plenaditadura”.Naexposição ‘SoldavêTV’, que esteve aberta até o dia26 de novembro, estiveram emexibiçãoostrabalhosdocartunistapublicadosnosanos80e90.“Tenteirepresentar as televisões antigas,cheiasdebotõeseantenas,exage-randonarepresentaçãográfica”.

Exposição de Quino atrai fãs da personagem Mafalda.

Fern

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Comunicação � Dezembro de 2006 Quadrinhos

Exposição “Simplesmente Quino”Museu da Gravura – Solar do Barão Até 25 de fevereiro de 2007

Exposição “Quadrinhofilia”, de José AguiarSala Índice – Solar do BarãoAté 25 de fevereiro de 2007

O Centro Cultural Solar do Barão (local onde funciona a Gibiteca) fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533.Telefone: (41) 3321-3334 e (41) 3321-3250 (Gibiteca). Horário de funciona-mento: 3a a 6a feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h. Sábados e domingos, das 12h às 18h.

Programação

Podenãoparecer,masafriaCuritibaé referência no mundo dos quadrinhos.O reconhecimento da capital parana-ense foi construído principalmente pelaGibiteca da cidade, primeira bibliotecaespecializadaemhistóriaemquadrinhos(HQ), inaugurada em 15 de outubrode1982.IdealizadapeloarquitetoKeyImaguireJúnior,elanasceucomolocaldeleitura,comumpequenoacervomontadoinicialmente com doações de editoras ecolecionadores.Comopassardotempo,aGibitecacomeçouadesenvolvertambémoutrasatividades,comoexposições,cursosdeHQseencontroscomautores. A biblioteca de gibis disponibilizaumacervodeleiturademaisde40mil títulos de todos os gêneros einfluencia,desdesuainauguração,grandepartedaproduçãolocaldequadrinhos. Luciano Lagare, quedesenha profissionalmente desde1988,dizquesuacarreiracomeçouem conversas de bar e nas mesas daGibiteca,ondeparticipoudevárioscur-sos.“Foiláquetivecontatocomcolegascartunistas, o que é muito importanteparacomeçar.Aprendiaproduzirparaopúblicoquerealmentevailer”,dizele. Lagare é um dos criadores do heróicuritibano‘OGralha’,quecomeçoucomotira no jornal Gazeta do Povo e já foiprotagonistadedoisfilmes.Asaventuras

Produção de quadrinhos deCuritiba é referência nacional

Mesmo com dificuldades para publicar, HQs curitibanas ganham espaço e prêmios

Dariane Cunha

O problema do quadrinho está no ‘inho’ do nome.

“ “

José AguiAr Cartunista Curitibano

do personagem parodiam as histórias deoutros super-heróiseutilizamelementosdo folclore do Paraná. O desenho tam-bém é de autoria de Antonio Eder, quejá desenvolveu revistas especializadasem quadrinhos, como a ‘Manticore’ e o‘AlmanaqueEntropya’. ‘OGralha’tambémherdoutraçosdeJosé Aguiar, o cartunista da cidade demais renome. Autor de tiras impressasem jornais desde 1991, Aguiar já teveseus trabalhos publicados na Folha deSãoPauloenositeOmelete.Paraele,osquadrinhosganharamumgrandeespaçoemCuritiba,influenciandotambémoutras

mídias.“Aqui,oquadrinhoinvadeoteatro,ocinema,aTV”,afirma. José Aguiar produziu recentementetrabalhos como ‘Quadrinhofilia’ e ‘Fo-lheteen’. A obra ‘Quadrinhofilia’ estásendoexibidanoFestivaldeQuadrinhosde Curitiba. A ‘Folheteen’, que tambémcomeçoucomoumatiradojornalGazetadoPovo,ganhouoConcursoInternacionaldeHQsdoServiçoSocialdoComérciodeSãoPaulo(Sesc-SP)em2005.Oprêmiogaranteapublicação,noBrasileemPor-tugal,deumacoletâneadosquadrinhos,quecontamahistóriadeumameninaeseusproblemasdeadolescente.

OutropassodocartunistanaEuropafoiorecentelançamentode‘ErnieAda-ms’,umasériedeaventura,emformatodeálbum,publicadonaFrança,pelaeditora‘Paquet’. Ernie é um ex-boxeador que,aliado ao ex-policial maneta Snedger,montaumaagênciadedetetives,lidandocomocrimenaépocadaLeiSeca.Osál-bunsnãoestãodisponíveisnoBrasilenãoháprevisãodequando serãopublicadosporaqui. Apesar do sucesso internacional, oartista não deixa de lado Curitiba. Eleé professor da Gibiteca e faz do lugarsuasegundacasa.Costumadizerque“oproblemadoquadrinhoestáno‘inho’donome”,equerformarleitorescríticosdeHQ,alémderevelartalentosevalorizaraprofissão. AHQ,geralmente, fazmais sucessoentreopúblicomasculino,nafaixade20a40anos.Apesardisso,asmulherestêmrepresentantes não só entre os leitores,mastambémentreoscartunistas.EsteéocasodePriscilaFagundes,queécartunistaháseisanos,mastrabalhacompublicidadeporfaltadeincentivoedeumaeditoraquepubliquesuasobras. Segundoela,émuitodifícilpublicar,apesardehaverleitoresnacidadeparaosquadrinhos.“Parecequenãoháinteressedas editoras nos trabalhos. Mas apenasnãovendemosporquenãochegamosaosolhosdopúblico”,afirmaacartunista.EmCuritiba,todasasobrasemquadrinhossãopublicadasdeformaindependente.Laga-re,alémdecartunista,édonodoestúdio‘Openthedoor’, que reúne quase toda aproduçãolocal. QuemseinteressaemsabermaissobreHQouquercomeçaradesenhar,encontracursos,oficinasepalestrasnaGibitecadeCuritiba.CuriososdeplantãoaindapodemacharinformaçõespelaInternet,emsitescomowww.gibitecadecuritiba.hpg.ig.com.br,www.joseaguiar.com.br,www.nonaarte.com.brewww.quino.com.ar.

Confira na íntegra a HQ do artista curitibano Antonio Eder, no site www.nonaarte.com.br.

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Dezembro de 2006� Comunicação Mídia

Lei regionaliza programação de TV e rádio

A lei que prevê a regionalizaçãoda programação em rádio e televisãoaguarda, atualmente, a aprovação dorelatorresponsável,senadorCésarBorges(PFL/BA). A proposta, de autoria dadeputada federal Jandira Feghali (PC-doB/RJ),obrigaasemissorasatransmitir40% de produção independente emsuas programações, o que, segundo adeputada,podetrazercrescimentoparadiversasáreas.“Asuniversidadesterãoumcampofantásticoparadesenvolverváriossegmentos, como músicas para trilhas,móveisdecenário,engenhariasparaossistemas,produçãoculturalejornalística

edemaisatividadestécnicas”,diz. De acordo com a deputada, o au-mento de produção local garante aindaidentidademaiordoqueoconteúdovei-culadohojeemdia.“Oespaçonosmeiosde comunicação acaba ficandobastantelimitadopelafaltadeumaprevisãolegalqueobrigueasemissorasaexibirconteúdoproduzido na região. A maior parte daprogramação de nossas emissoras nãoretratacomfidelidadetodaadiversidadeartísticaeculturaldopaís”. Desde a versão inicial, algumas mu-danças foram necessárias para garantir aviabilidadedoprojeto.Ohoráriodestinadoàprogramaçãolocaldeveriaserentreàs7heàs23h,napropostaoriginal.Noentanto,otextoatualestabeleceveiculaçãoentreàs5hemeia-noite.Onúmerodehorasparaaexibiçãodeprogramasregionaisvariadeacordocomonúmerodedomicíliosaten-

didospelaemissora.Paralugarescommaisde1,5milhãode casas comaparelhosdeTV,aemissoraterádeexibirprogramaçãoregionalpor22horassemanais;nasregiõescomnúmerodeaparelhosentre500mile1,5milhão,17horas;nasregiõescommenosde500mil,10horas. O esforço pela aprovação do projetovemdaconvicçãodequeaconcentraçãode poder na produção e exibição precisaserenfrentada.“Aregionalizaçãopodepro-porcionarmaiorpluralidade,diversificação,incrementoeconômicoemercadodetrabal-ho”,explicaadeputada.Elaressaltatambémque,nocasodaimplantaçãodaTVdigital,porexemplo,nãoépossívelpararapenasnodebatetécnico.“Semaregionalizaçãoeumdebateprofundosobreconteúdo,nãovamosdemocratizarnada,nemcomaentradadaTVdigital”,acredita. Oprojetodeleiregulamentaoinciso RodRigoh Bueno

III,doartigo221daConstituiçãoFed-eral e a primeira versão da propostafoiapresentadaem1991.TramitounaCâmara dos Deputados por 12 anose, somente em 2003, a matéria deuentradanoSenado.

“ “Não permitir o acesso a determinados sites, na hora do expediente, não é uma

exigência desumana.AnA LúciA cAvALcAnte

psicóloga

Sem legislação específica sobre o uso da rede no ambiente de trabalho, bloqueio de sites é comum e provoca polêmica

UmanovamodalidadedefrasesganhaespaçonaInternet,tantoempáginaspes-soas, como blogs, quanto em tópicos dediscussão.“SealguémsouberdealgumsitequeentrenoOrkutenoMSN,memande,porfavor”.“GostariamuitodesabercomofaçoparapoderacessaroMSNeoOrkutdomeutrabalho”.“Alguémtemumatalhoparamefornecer?”Atentativaésempreamesma:escapardossoftwaresdemonitora-mentoedebloqueiodesites,principalmentenoslocaisdetrabalho. AsopiniõessobrearestriçãodousodaInternetsãovariadas.“Háfuncionáriosdeempresaseservidorespúblicosqueperdemumtempopreciosoemprogramasdebate-papo,comooMSNMessenger,ouemsitesderelacionamento,comooOrkut,e deixam de cumprir suas tarefas”,afirmaoassessordeimprensa,JoaquimBarros.Opontocentral, segundoele,équenãoexistebomsensoporpartedemuitosempregados.Daíocontrole. O ambiente de trabalho, explica apsicólogaAnaLúciaCavalcante,temasuaordem,suadisciplinaeseuscritériosderes-ponsabilidade.Cadaempresaouinstituiçãotemsuaprópriacultura,quepodeserflexível G

iova

na R

uaro

Empregadores acabam com o livre acesso de funcionários à Internet

ourigorosa.“Nãopermitiroacessoadeter-minadossites,nahoradoexpediente,nãoéumaexigênciadesumana”,acrescenta. Cabe ao funcionário, portanto, seadequar à organização e não o contrário,comoargumentao advogado JoãoTorres.Desdequeocontratoentreoempregadoreoempregadosejarespeitado,alegislaçãovigentenãofaznenhumareferênciaaousodaInternetnotrabalho.Constitueminfra-çõesnaredesomenteascircunstânciasdeexcessos que venham a ofender os bonscostumes,aexemplodapedofilia.

Entre os que defendem o ponto devistadarestrição,encontra-seapromotorade eventos Tatiane Fonsaca. “Horário detrabalhoéhoráriodetrabalho.Horáriodelazeréhoráriodelazer”,diz.JáaassistentefinanceiraPaulaMangini, que temacessosomenteaossitesdasuaárea,comopáginasdebancosoudaassociaçãocomercial,dis-cordaejustifica.“AspessoasquesabemusaraInternetacabamprejudicadas.Nãoétodomundoquetemumcomputadoremcasa”. Exemplodequearestriçãopodeprejudi-

caroserviçoe,conseqüente-mente,oem-

MaRiana skRaBa e WilleRson BaRRos

pregador,éodochefesubstitutodoNúcleode Tecnologia da Informação da PolíciaFederal,MarceloStelmacki. “Trabalhoemumainstituiçãopolicialeobloqueiosempretraztranstornosnahoradefazerumainves-tigação”,afirma.Marceloexplicaaindaqueháumalegislaçãointernaqueinformaquaispáginassãoinacessíveis.Segundoele,omoni-toramentoéfeitoemBrasíliaearestriçãoapáginasatinge,inclusive,e-mailsejornais.

TendênciaSegundooanalistadesistemasMarcos

Bomm,atualmenteumnúmerocrescentede empresas tem procurado restringir anavegaçãonoespaçodetrabalho.“Atéasempresas pequenas estão limitando seussistemas”, afirma. O controle da entradae saída dos sites é feito por um software,previamenteprogramadoemumservidor.Casoofuncionáriotenteabrirumapáginarestrita,oservidoravisa,pormeiodeumamensageminstantânea,queositenãopodeser acessado. Porém, enganar o sistema éfácil. “Basta um pouco de conhecimentoemWeb”,concluiStelmacki.

Em trâmite no Senado, proposta defende espaço

para produções audiovisuais e radiofônicas independentes

A regionalização pode proporcionar

maior diversifica-ção, incremento

econômico e mer-cado de trabalho.JAndirA FeghALi deputada federal e autora da proposta

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Comunicação � Dezembro de 2006

O último dos moicanos

André Faria: “mas que história é essa do filme não passar até o fim?”.

Cinema

André Faria, diretor de um único filme, fala sobre sua vida e a história de uma geração revolucionária do cinema brasileiro

Daépocadocinemanovo,sãopoucososcineastasquesobreviveram.E,entreesses,sãomaisrarosaindaaquelesquemantêmomesmoespíritorevolucionáriodoperíodo.AndréFariaéumdeles.Eleviveuumdosmomentosmaisefervescentesdanossahistóriacinematográfica,participoudefilmesquemarcaramépocaeteveoúnicofilmequedi-rigiunavidainterditadopordezanospeladitadura.Mesmoassim,nãosearrependedeterficadotantotemponoostracismo.“Àsvezespensoqueécomoseeufosseoúltimodaminhaturma,daquelepovoquefaziacinemadecontestaçãodeantigamente.Comooúltimodosmoicanos”.ÉsobresuahistóriaeadocinemabrasileiroqueAndréFariafalanessaentrevistaaoComunicação.

Comunicação: Como surgiu o seu inter-esse pelo cinema?André Faria:Desdemuitojovem,sempretiveumapreocupaçãoemescreveretentardefiniralgunsproblemasqueeutinhaemmente.Eeuescreviamuito,escreviasem-pre.E,de repente,nessanecessidadedeprocurarsoluções,euacabeiencontrandoocinema.Em1965,fizocursodecinemadoMuseudeArteModerna,noRio,queeraministradoporJoséCarlosAvellar.Ocursoerapobreemrecursos,maso JoséCarlossabiatrazermuitascoisasinteres-santesdaartecinematográfica,tantoteóri-casquantopráticas.Efoiapartirdaíquedescobri que poderia falar muitas coisasquesentiaepensavaatravésdocinema.Eaíeucomeceicomoassistentedecâmera,e acabei tendoa sortede trabalhar comgrandesrealizadoresbrasileiros.

Com quem você trabalhou nessa época? Comeceicom‘GarotadeIpanema’,doLeonHirzmann,‘ODragãodaMaldade’,comoGlauberRocha,‘Umatoreumaatriz’,comMiguelFaria,entreoutros.

E como era fazer cinema nesse período tão efervescente do final dos anos 1960 e início dos anos 1970?Ocinemaautoraleraumacoisabempre-cária.Todasaslocaçõestinhamqueserdegraçaporqueninguémtinhacomopagar.Nofinaldascontas,quasetinhamaiscréditosde

agradecimentodoquefilmepropriamentedito(risos).Entãoeraumacoisaquetinhaquesebatalharprafazer.Masmesmoassim,foram realizados grandes filmes. Glauber,Leon,RuiGuerra,essepovotodosabiaquefazia um cinema revolucionário. E faziamquestãodeafirmarisso.Mas,mesmoassim,ninguémtinhaessaconsciênciadequees-tavavivendoummomentohistóricoúniconocinemabrasileiro.Naverdade,todasasartesviviamummomentoúnico.

André, você possui um único filme como realizador, que foi proibido de ser exibido no Brasil por mais de dez anos. É o ‘Prata Palomares’, de 1970, não é?Sim,exatamente.Ofilmeficouno‘IndexdaEmbrafilme’,queerapraondeiamosnomesdoscineastasmalditos,contráriosaoregime,pornoveanose11meses.Foiumdosúltimosfilmes a ser liberado pela ditadura para aexibiçãopública.Elesalegavamqueofilmeiacontraaboamoraleoscostumesdasocie-dade.DiziamqueacenanaqualsequebramossantoscriavaatritoscomaIgrejaCatólica.Oscensoresinventarammuitasrestriçõespara o ‘Prata Palomares’, justamente poressecarátercríticoqueeleapresentava,decriticarDeusetodomundo.

E como foi o processo de interdição do filme?LembroquequandoestávamosnoprocessodefinalizaçãonoRio,recebemosavisitadeumaemissáriafrancesa,quevinhaemnomedoFestivaldeCannesescolherfilmesparaamostraanualdosrealizadoresemParis.Elaviuofilmeeperguntouquandoeleestariaprontoparairparaamostra.Fiqueimuitofelizcomisso,masparaqueofilmepudesseirparaoexterior,eranecessárioumseloquecertificassequeaproduçãoerabrasileira.EquemexpediaesseseloeraoextintoInsti-tutoNacionaldeCinema(INC).Lembroquefinalizamosofilmerapidamenteeen-viamosparaoINCautorizar.Lá,dizemqueoscensoresviramdoisrolosepediramparapararaprojeção.E,quandoissoacontecia,

eracoisagrave.Lembroqueumamigoquetrabalhava lá ligou pra mim desesperado,pedindoqueeufugisseomaisdepressapos-sível,poiselestinhamligadoparaumtaldecoronelDamião,doServiçodeInteligênciaNacional (SNI). Quando soube disso, eupensei: ‘mas que história é essa do filmenãopassaratéofim?’.FuicorrendoatéoINC,chegueinaportariaepergunteipeloDamião.Quandoeuentreinasaladele,eupergunteiseeleconheciaumfilmechamado‘PrataPalomares’.Eledissequesimequeofilmeiaficarpresonasaladeleatésegundaordem.EntãoeucontrabandeeiofilmeparaCannes,ondeelefezbastantesucessoentreoscríticos.

E como o filme conseguiu ser exibido na França?Oficialmente, ele nunca foi exibido lá.Fizemosumaprojeçãoclandestinasomenteparaalgunscríticosqueforamproibidosdedivulgarassuasopiniões,poisdiziamqueeucorreriariscodevidaaovoltarparaoBrasilseissoacontecesse.Nodiamarcadoparaaexibição,acoordenaçãodofestivalfechouocinemaecolocoucartazesnaportadizendoqueogovernobrasileirohaviainterditadoofilmedeserexibidoali.

Você não realizou nenhum outro filme além de ‘Prata Palomares’. Por quê?

Àsvezespensoqueécomo seeu fosseoúltimodaminhaturma,daquelepovoquefaziacinemadecontestaçãodeantigamente.Eu simplesmentenãoquismevenderaosdesmandos da ditadura, não quis fazerfilmesnosmoldesdeles.Eufizumfilmeeluteibravamenteparaqueelefossedivul-gado.Econsegui,depoisdemuitotempo.Nãomeafasteidefinitivamentedocinemadepoisdisso.Atéhoje,estouemconstantecontato com a área, prestando auxílio arealizadores e estudantes de cinema quetambém procuram, como eu já procureinopassado,fazerdocinemaumaformadeexpressãoideológica.

Glauber, Leon, Rui Guerra, esse povo todo sabia que fazia um cinema revolucionário. E faziam questão de afirmar isso.

Carlos alberto Debiasi

Hoje presto auxílio a realizadores e

estudantes de cinema que também procuram,

como eu já procurei no passado, fazer do

cinema uma forma de expressão ideológica.

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Dezembro de 200610 Comunicação Cotidiano

As rotinas absurdas moram ao ladoViver em mais de uma cidade ou trabalhar em horários não convencionais é hábito comum

Uma professora, um estudante, umbombeiroeumgari.Algoemcomum?Asrotinas incomuns. Para os quatro, os diasvestemhoráriosapertados.Compassoscurtose rápidos, eles vencemgrandesdistânciasparatrabalhareestudar.Outrabalhamemhoráriosalternativosaocomercial.Mastêmtempoparaumademoradarefeição?Paraumaleituratranqüilaouumpasseionoparque? Pelo menos narotinadaprofessoraejornalistaMariaLú-ciaBecker,arespostaénão.Háquasedoisanoseladividease-manaentreafamíliaem Campinas (SP)e o trabalho comoprofessora em duasuniversidadesdeCu-ritiba. Todo sábadoembarca com destino a sua casa, mas naterçajáestádevoltaàsaulaseaoaparta-mentoalugado. Alémdeencolherassemanas,ascons-tantesviagensdaprofessoramudamavidafamiliar. “A relação perde em quantidadee,por isso, tendeaganharemqualidade”,afirma.“Sevocêconvivecomasuafamíliatodos os dias, tem mais atritos. Quandoconvivemenos,temasaudade”.MariaLúciatambémsentefaltadascaminhadas,dohábito

deescrever,de“tempoparaoócioetempoparapensarnoamanhã”.Elaencaraarotinacomo uma ‘fase necessária’ e admite queseriapiorficaremCampinassememprego.“Essa história de estar sempre na estradaacabamudandoumpoucoacabeçadagente.Acaboachandoqueéprovisório,depoisqueétemporário...”,dizaprofessora. Quem passou por uma experiên-

cia semelhante porcausadotrabalhofoio estudante RicardoPhilippi. Aprovadoem concurso públi-co, ganhou a vagade técnico bancárioem Morretes (cidadelitorâneanoParaná),que o fez rever seudia-a-dia. Escolheuconciliar o novo tra-

balhocomosestudoseavidafamiliaremCuritiba.“QuandosoubequeeuiatrabalharemMorretesmeupaifalou:‘não,nãovai’.Eurespondiqueiriatentar.Equaseme‘es-trepei’...”,lembracomhumoroestudante. Durante seis meses, Ricardo perdiapelomenos trêshoraspordianaestrada.Desegundaasexta,acordavacedo,desciaaestradadaGraciosae,duashorasdepois,entravanotrabalho.NofimdatardevoltavaaCuritibaeassistiaaumaououtraaula.

“Chegava de noite, iadiretoparafaculdade,malcomia. Foi um semestreperdido. Fiz duas maté-rias, reprovei em uma”,contaorapaz. Ricardoperdeuamigose anamorada, e teve atéprincípio de labirintite.Achaquefoiumalertaparavoltaràvidanormale,trêsmesesatrás,pôsfimàsitua-ção.Pediudemissãodoem-prego.Ochefe, solidário,conseguiutransferi-loparaumaagênciadobancoemCuritiba.

É complicado ter que mudar os costumes da gente. Sair do horário de dormir, do horário

de almoço, de tudo. Mas a gente se acostuma.

“ “Joaquim Teodoro de Lima

gari que trabalha das dez da noite às cinco da manhã

Chegava a noite e ia direto para faculdade. Foi um semestre perdido. Fiz duas maté-rias e ainda reprovei em uma.

“ “

ricardo PhiLiPPi

estudava em curitiba e trabalhava em morretes

Durante a madrugada Após23anosdavidacomobombeiro,16delesnoServiçoIntegradodeAtendi-mentoaoTraumaemEmergência(Siate),Rubens Schane de Lima encontrou umaformadelidarcomsuarotinaincomumdeummodomenostraumático.Suajornadaéemescalas:trabalhaumdiaefolgaoutrosdois.Eledizcomoseacostumouaatendera chamadas rápidas e aproveitar o curtotempolivreentreelas.“Atendoumaocor-rência, volto ao quartel, durmo um pou-quinho,atendooutra.Àsvezesnemchegoe jáatendooutra,daínodeslocamentoagenteconversa sobreoutrosassuntosquenãoaocorrência”,explica. Para Lima, o que desanima mais naprofissão são os alarmes que soam demadrugada.“Àsvezesagenteficameiosemvontadededeixaroquentinhodacama...masatendeochamado,porqueéonossotrabalho.Oheroísmocompensa”.

Apoucasquadrasdeondeobombeiroaguardaalgumchamado,estáalguémcomomesmosobrenomeeumajornadapare-cida.Enquantoamaioriadoscuritibanosdorme,olixeiroJoaquimTeodorodeLimadesce as ruas do centro e varre as viaspúblicasduranteamadrugadainteira. Embora na profissão de gari há dezanos,Limacomeçouatrabalharhámenosdeummêsnoturnodasdezhorasdanoiteàscincodamanhãecontacomotemsidoseadaptar.“Ébemcomplicado.Sairdoscostumes da gente. Sair do horário dedormir,dohoráriodealmoço,horárioderefeição,detudo,masagenteseacostu-ma”,dizogariotimista,queagoradormeduranteomeio-dia,horárioemqueantesalmoçava. Absurdasounão,essasquatrorotinasatualizamapoesiadeFernandoPessoa,quediz“navegarépreciso,vivernãoépreciso”.Viver é impreciso. Talvez até a sabedoriapopular, segundoaqual o tempovaledi-nheiro.Ououtrosábioconselho,dopoetaAscensoFerreira:“Horadecomer–comer!Horadedormir–dormir!Horadevadiar–vadiar!Horadetrabalhar?Pernasproarqueninguémédeferro!”.

Sinto falta do hábito de escrever, das caminhadas, de tempo para o ócio e para pensar no amanhã.

maria Lucia Becker

professora e jornalista

ivan luiz

Fotos: Ivan Luiz

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Comunicação 11 Dezembro de 2006 EsportEs

Vila Capanema de cara novaCom a revitalização do estádio, o Paraná Clube volta para casa

Nesteano,aVilaCapanema,comoémaisconhecidooestádioDurivalBrittoe Silva, voltou a ser palco dos jogos doParaná Clube. Desde 2002, quando aConfederaçãoBrasileiradeFutebol(CBF)passouaexigiracapacidademínimade15millugaresparaosestádiosondesãorea-lizadososjogosdoCampeonatoBrasileirodaSérieA,oTricolorParanaensetevequeabandonarasuacasaeirjogarnoestádiodaFederaçãoParanaensedeFutebol,oPi-nheirão.Omotivo:aVilapossuíaapenas12millugares,enquantooPinheirãotemespaçopara25milespectadores. Comodesejodevoltarparaoseues-tádio,adiretoriadoParanáClubelançounoanopassadoacampanha“Vila,tánaHora”, que por meio das contribuiçõesemdinheirodostorcedoresedacompradecamarotes,queseriamconstruídosnoestádio,edealgunsprodutosrelacionados,previa a ampliação da Vila Capanemaparamaisde15millugares,atendendoàdeterminaçãodaCBF.“Nossacampanhafoi um sucesso, conseguimos ampliar oestádioeaindaoadequamosaoEstatutodo Torcedor”, comemora o presidentedoclube, JoséCarlosdeMiranda. “Nãotínhamos dinheiro para as reformas e aobra,quechegouaosR$2,5milhões,foitodacusteadapelatorcida”,conta. Mais de quatro anos se passaram efinalmenteoParanáClubevoltouaatuarpelo Campeonato Brasileiro na Vila. Oestádio, totalmente remodelado, foi rei-naugurado no dia 20 de setembro desteano, na partida entre Paraná Clube eFortaleza,queacabouemvitóriaparaos

A Vila Capanema também abriga dois moradores ilustres. São dois cães que moram no estádio: a cadela Bolinha e o cachorro Bingo. Bolinha mora há dois anos no clube. Já Bingo é morador bem mais antigo: chegou ao estádio no ano de 1996, e, durante a reportagem, não foi possível convencê-lo a sair de sua casinha, que fica em um canto do muro do estádio, nem para tirar uma foto. “Ele já está naquela fase do come e dorme”. Quem conta é o porteiro do Durival Britto, Antonio Pedro Flores Amaral, de 70 anos, que cuida dos animais. Seu Antonio, que também é poeta e tem até livro publicado, diz que os cachorros chegaram ao estádio com sarna, quase sem pêlos e muito magros. “Cuidei deles, dei comida, água e abrigo. Agora eles ajudam a cuidar da Vila Capanema, principalmente à noite”, afirma.

Moradores Ilustres

Não tínhamos dinheiro para as reformas e a obra, que chegou aos R$ 2,5 milhões, foi toda custeada pela torcida.

José Carlos de Miranda

presidente do paraná Clube

donosdacasa.Desdeentãojáforamcincovitórias em seis jogos. Sobre a derrota,“coisasdofutebol”,afirma,comumsorrisoamarelado,opresidenteMiranda.

Histórias da Vila Inaugurado no dia 23 de janeiro de1947,oestádioDurivalBrittoeSilvafoiconstruídoporoperáriosdaRededeViaçãoParaná-SantaCatarina,quetrabalhavamemsuashorasdefolgaparalevantarasededo Clube Atlético Ferroviário. Graças àmodernaestruturaparaaépoca,doisjogosdaCopadoMundode1950aconteceram

naVilaCapane-ma: Paraguai eSuécia, e Espa-nha e EstadosUnidos. A Vila tam-bém pertenceuao Colorado eas duas equi-pes, FerroviárioeColorado,de-ram origem aoParaná Clube.Entre outros ,a l g u n s f a t o sque marcam ahistóriadocam-po são o episó-dio na final do

CampeonatoParanaensede1980,quan-doos jogadoresdoCascavel simularamcontusõesparaprovocaroencerramentodapartida(atitudeconhecidacomocai-cai),eogolsalvoemcimadalinhapelopreparador físicodoColorado,emumapartidacontraoToledo. MasnemsódehistóriasdefuteboléfeitaaVilaCapanema.ExemplodissoéoaposentadodaRededeViação,José Santos, ous i m p l e s m e n -te Seu Zé, 70anos.Eletraba-lha no estádiodesde 1958 e éo encarregado–hátodosessesanos – por darcorda no maiorpatrimônio his-tóricodaVila:orelógio. “ElepertenciaàantigaestaçãodetremdaRuaBarãodoRioBrancoefoimandadoparacáporqueaRedecomprouumnovorelógioautomático”,esclareceSeuZé. Em1984,quandoorelógiocompletou100anos,aRedetentoutomaropatrimô-niohistóricodoentãoColoradoparalevá-loaoMuseuFerroviário.“OpresidentedoColoradoeraoAzizDomingosequando alisson Castro

Fotos: Alisson Castro

Além do retorno à Vila Capanema, o Paraná Clube comemora a boa campanha no Campeonato Brasileiro.

O aposentado José Santos é o responsável pelo centenário relógio da Vila.

perguntaramsobreorelógio,eledissequenãotinhanadaavercomorelógioepediuparafalaremcomigo”,contaSeuZé.Osfuncionários da Rede tentaram, então,convencê-lodequetrariamoutrorelógio,maselenãoacreditouetentounegociar.“Quis trocar o relógio por um placareletrônico,masquandoviramopreçodoplacar,desistiram”,contaaliviado.

Opresidentedo Paraná Clubetambém tem boashistórias na Vila.“Na primeira vezque entrei no es-tádio, em 1952,tive que pular omuroqueficavaalinosfundosporquenãotinhadinheiropara o ingresso”,conta, apontandoemdireçãoànova

entradadoDurivalBritto.Nadécadade60,MirandafoijogadordoNovoMundo,umaequipedefutebolamadordeCuri-tiba. “Joguei somente uma vez aqui, naVila,erealizeiumsonho.ErafinaldeumCampeonatoAmador.Penaquefoiapiorpartidadaminhavida,resultadodeumanoiteregadaamuitovinho”,confessa.

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Dezembro de 200612 Comunicação Cultura

Museu Oscar Niemeyer traz novas exposições

Depoisdosmaisde60milvisitantesda mostra ‘Eternos Tesouros do Japão’,encerrada em 19 de novembro, o MuseuOscar Niemeyer traz, neste fim de ano,novasexposições.De6dedezembroa11defevereiro,interessadospodemconferiraexposição‘SeisséculosdeArtedaGravura’,com140trabalhosqueoferecemumavisãogeral da história da gravura ocidental. Amostraestáestruturadaapartirdaproduçãode grandesnomes, comoAlbrechtDurer,Rembrandt,FranciscodeGoya,Toulouse-Lautrec,PabloPicasso,JoanMiro,SalvadorDalieAndyWarhol. Já a exposição ‘João Urban: 40 anosdefotografia’ficarámaistempoabertaaosvisitantes.As197fotosdeumdosmaioresfotógrafosbrasileirosfazemumaretrospec-tivados40anosdeseutrabalhoeretratam,principalmente,oParanáeaspessoasque

ajudaramaconstruí-lo.Amostra ficaemcartazde7dedezembroa11demarço. Prazolongotambémparaosinteressadosna ‘Coleção Gilberto Chateaubriand: umséculodeartemoderna’.Serãoexibidas160peçasdasquase7mildoacervodocolecio-nadordeartebrasileira.Até4demarço,osvisitantespodemveraspeçasquepermitemconhecer e interpretar a artenacionaldoséculoXX.Tambémestáemcartazamostra‘Guido Viaro’, apresentando as obras doartistaparanaense,atéodia1deabril. Amantes da arte moderna já podemconferir as obrasdeTomieOhtake,LívioAbramo, Alfredo Volpi, Cândido Porti-nari,CíceroDias,IberêCamargoeMariaBonomi, na mostra ‘Arte Moderna emContexto’.Gravuras,pinturaseesculturas,contextualizadas por objetos decorativos,móveis, fotografias e publicidade, queindicamaépocadecadaobra,podemservisitadasaté25defevereiro.

Sucesso com ‘Eternos Tesouros do Japão’, o museu abre cinco

outras mostras

Mariana Cioffi

Divulgação

“Eternos Tesouros do Japão”: o Olho ficou puxado.

Grandes shows programados para o final de 2006

Cantores e bandas de renome fazem de Curitiba parada de sucesso

Depoisdeumatemporadaquenteem shows, com a vinda de BeastieBoys,JamieCullum,BlackEyedPeas,Los Hermanos, Kid Abelha, NaçãoZumbi,NandoReis,entreoutros,paraCuritiba,aindahámuitoporviratéofinaldoano. Logonocomeçodomês,dia5dedezembro, sobeaopalco,pelaúltimavez na capital paranaense, a lendado blues B.B. King. Aos 81 anos deidade, o Rei está fazendo uma turnêmundialparamarcarofimdasuacar-reiraartística.O show ‘TheFarewellWorldTour’éaconsagraçãodeumahistóriaqueseconfundecomaprópriahistóriadoBlues.Aapresentaçãoseráno Teatro Guaíra e quem quiser sedespedir deB.B.Kingprecisa ter, nomínimo,R$190reservados–valordameia-entradaparao segundobalcão.Ovalorintegralparaaplatéiaénadamais,nadamenosqueR$780,00.Maisdetalhes no endereço http://www.tguaira.pr.gov.br/.

O maranhense Zeca Baleiro e abaianaPittytambémseapresentamemCuritiba,noHellooch,nosdias8e9dedezembro,respectivamente.Paraouvira roqueira mais badalada do Brasil,R$30.ParaoshowdeZecaBaleiro,umpoucomais:R$35. Nodia12,outraatraçãoestrangei-raapareceporaqui.OgrupobritânicoThe Cult volta ao Brasil pela quartavez para uma única apresentação noCuritibaMasterHall.Abandalideradapor Ian Astbury também passará porSãoPauloeRiodeJaneiro,cantandosucessos como ‘She Seels Sanctuary’e ‘Heart of Soul’. Para estudantes, aentradacustaR$90. Oúltimograndeshowconfirmadodo ano é o da banda mineira JotaQuest.OsrapazesapresentamoshitsdoúltimoCD‘AtéOndeVai’,lançadonoanopassado.Norepertório,parce-riascomLuluSantos,NandoReiseFernandaMello.

Milena eMilião aline Castro

Festival traz a Curitiba filmese oficinas para crianças

Mostra de cinema infantil é opção cultural também para adultos

Atéodia10dedezembro,criançaseadultospodemparticipardoFestivalInternacional de Cinema Infantil, noCinemark do Shopping Mueller. OFestival apresenta filmes e animaçõesnacionaiseinternacionais,semrestriçãodefaixaetáriaeque,segundoLiliaLevy,coordenadora pedagógica do evento,garantemadiversãoparaespectadoresdetodasasidades. O Festival é itinerante e chegoua Curitiba no dia 1 de dezembro. Ohomenageado desta quarta edição éZiraldo, o criador do Menino Malu-quinho.“OFestivalcresceu,evoluiuesediversificou,masmanteveatradiçãode destacar alguém por sua ligaçãoe contribuição cultural ao universoinfantil”,dizLilia.O livrodeZiraldooriginoudoisfilmes,alémdoseriadodeTV ‘Um menino muito maluquinho’.Osfilmeseumepisódiodoseriadoserãoexibidosnaaberturadamostra. Alémdamostradefilmes,oeven-tocontaaindacomumaprogramação

paralela.‘Opequenojornalista’éumaoficina que propõe a vivência desteprofissional a crianças. Depois deassistirem a filmes da programaçãooficial,comainstruçãodejornalistas,elasproduzemumamatériaoucríticasobreoqueviram.Osmelhorestrab-alhos serãopublicadosemum jornaldacidade. Outraatividadeparalelaéa‘Telanasaladeaula’,umaprogramaçãoespecialparaasescolas.SegundoLilia,“oobje-tivodoprojetoéapresentarsugestõesdeatividadespedagógicasrelacionadasaoquefoivistonocinema,aproveitandoointeressedespertadopelos filmes”.Elaexplicaquea iniciativa sedestinaaosalunoseaosprofessoresinteressadosnautilizaçãodocinemacomoinstrumentodeapoioàeducação. Aprogramaçãocompletaemaisin-formaçõespodemserencontradasnositehttp://festcine2006.atelanasaladeaula.com.br/.