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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X GÊNERO E SAÚDE EM AMBIENTE AMAZÔNICO: O LUGAR DA ÁGUA NA TEIA DA VIDA DAS MULHERES DO PROJETO DE ASSENTAMENTO EQUADOR, RORAINÓPOLIS/RR Maria Aparecida Silva de Sousa 1 Resumo: Este trabalho aborda a situação de vivência de mulheres em um ambiente rural amazônico, destacando-se os reflexos cotidianos das construções de gênero e o conjunto de elementos que interferem nas condições de saúde. Em vista dessa análise, estudou-se a influência da utilização e gestão da água para consumo doméstico na saúde de mulheres moradoras do Projeto de Assentamento Equador (Rorainópolis/RR) e os condicionantes socioeconômicos, culturais e ambientais que interagem no contexto. A pesquisa envolveu 35 mulheres, entre 16 e 70 anos. O viés patriarcal aparece nas relações de gênero, especialmente na organização do trabalho, onde as mulheres assumem majoritariamente a responsabilidade pelo trabalho doméstico, com maior parcela de tempo dedicado ao abastecimento de água, ocorrendo manualmente em 60% das moradias pesquisadas, gerando problemas de saúde em algumas delas. Esta jornada é ampliada com as atividades produtivas (agricultura e extrativismo). Constatou-se que o contexto socioambiental; serviços públicos precários; a jornada ampliada; ausência de saneamento básico; a qualidade da água, o tempo e esforço físico dedicado com o suprimento doméstico, constituem uma rede de determinantes que influenciam diretamente na saúde das mulheres. Palavras-chave: Gênero. Mulheres rurais. Saúde. Amazônia. A iniciativa de construir a compreensão sobre a rede de relações que engendram os nós que ajudam a tecer o espaço de vivência das mulheres remete a um esforço de leitura dos contextos a partir de um olhar holístico, tendo alguns pontos de intercessão ou questões norteadoras como balizadores do panorama investigativo deste trabalho, dentre os quais: a questão de gênero, com ênfase na Amazônia e a situação das mulheres trabalhadoras rurais; a crítica ao projeto hegemônico socioeconômico implantado no País e a relação da água com o estabelecimento das condições de saúde destes sujeitos. A garantia às mulheres aos bens naturais, à soberania, segurança alimentar e nutricional e, especialmente, à saúde, relaciona-se diretamente com o acesso à água na qualidade (água potável) e na quantidade adequada. No presente estudo propôs-se como objetivo investigar a influência da utilização e gestão da água para consumo doméstico na saúde de mulheres moradoras no Projeto de Assentamento (PA) Equador, do município de Rorainópolis/RR, bem como os condicionantes socioeconômicos, culturais e ambientais que interagem neste processo. Com uma área de 225.116,1 Km², Roraima tem a maior parte de seu território no Hemisfério Norte e representa 4,4 % da Amazônia Legal Brasileira. Em 2000 a população do estado 1 Formação em Ciências Biológicas, Mestre em Recursos Naturais pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Boa Vista, Roraima, Brasil.

GÊNERO E SAÚDE EM AMBIENTE AMAZÔNICO: O ......Na Amazônia estão presentes as marcas da cultura patriarcal integrada ao projeto capitalista, implantado desde os tempos da colonização

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

GÊNERO E SAÚDE EM AMBIENTE AMAZÔNICO: O LUGAR DA ÁGUA NA TEIA DA

VIDA DAS MULHERES DO PROJETO DE ASSENTAMENTO EQUADOR,

RORAINÓPOLIS/RR

Maria Aparecida Silva de Sousa1

Resumo: Este trabalho aborda a situação de vivência de mulheres em um ambiente rural amazônico, destacando-se os

reflexos cotidianos das construções de gênero e o conjunto de elementos que interferem nas condições de saúde. Em

vista dessa análise, estudou-se a influência da utilização e gestão da água para consumo doméstico na saúde de

mulheres moradoras do Projeto de Assentamento Equador (Rorainópolis/RR) e os condicionantes socioeconômicos,

culturais e ambientais que interagem no contexto. A pesquisa envolveu 35 mulheres, entre 16 e 70 anos. O viés

patriarcal aparece nas relações de gênero, especialmente na organização do trabalho, onde as mulheres assumem

majoritariamente a responsabilidade pelo trabalho doméstico, com maior parcela de tempo dedicado ao abastecimento

de água, ocorrendo manualmente em 60% das moradias pesquisadas, gerando problemas de saúde em algumas delas.

Esta jornada é ampliada com as atividades produtivas (agricultura e extrativismo). Constatou-se que o contexto

socioambiental; serviços públicos precários; a jornada ampliada; ausência de saneamento básico; a qualidade da água, o

tempo e esforço físico dedicado com o suprimento doméstico, constituem uma rede de determinantes que influenciam

diretamente na saúde das mulheres.

Palavras-chave: Gênero. Mulheres rurais. Saúde. Amazônia.

A iniciativa de construir a compreensão sobre a rede de relações que engendram os nós que

ajudam a tecer o espaço de vivência das mulheres remete a um esforço de leitura dos contextos a

partir de um olhar holístico, tendo alguns pontos de intercessão ou questões norteadoras como

balizadores do panorama investigativo deste trabalho, dentre os quais: a questão de gênero, com

ênfase na Amazônia e a situação das mulheres trabalhadoras rurais; a crítica ao projeto hegemônico

socioeconômico implantado no País e a relação da água com o estabelecimento das condições de

saúde destes sujeitos.

A garantia às mulheres aos bens naturais, à soberania, segurança alimentar e nutricional e,

especialmente, à saúde, relaciona-se diretamente com o acesso à água na qualidade (água potável) e

na quantidade adequada. No presente estudo propôs-se como objetivo investigar a influência da

utilização e gestão da água para consumo doméstico na saúde de mulheres moradoras no Projeto de

Assentamento (PA) Equador, do município de Rorainópolis/RR, bem como os condicionantes

socioeconômicos, culturais e ambientais que interagem neste processo.

Com uma área de 225.116,1 Km², Roraima tem a maior parte de seu território no Hemisfério

Norte e representa 4,4 % da Amazônia Legal Brasileira. Em 2000 a população do estado

1 Formação em Ciências Biológicas, Mestre em Recursos Naturais pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Boa Vista, Roraima, Brasil.

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correspondia a 324.397 habitantes, com 247.016 em áreas urbanas e 77.381 residentes na área rural

(IBGE, 2001). Rorainópolis corresponde a um dos quinze municípios de Roraima, localizado na

região sul do estado, a 310 km da capital Boa Vista, tendo uma área de 33.745 km² e contando com

17.393 habitantes (9.190 homens e 8.203 mulheres), sendo que 7.185 residentes na área urbana e

10.208 na área rural (IBGE, 2001). Com rica diversidade étnica, nessa população encontra-se

marcadamente a presença dos povos indígenas, em seu território estão as terras indígenas Waimiri-

Atroari, Yanomami e Wai-Wai, além de uma parcela significativa de migrantes de várias regiões do

Brasil. Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH de Rorainópolis foi de 0,676,

considerada região de médio desenvolvimento humano (PNUD, 2000).

Gênero e a questão do desenvolvimento na Amazônia

Na segunda metade do século XX vislumbrou-se o avanço das mulheres emergindo como

sujeitos sociais, históricos e econômicos, aprofundando e acrescentando novas dimensões à

categoria de classe social proposta nas elaborações marxistas.

Marco referencial de reflexão teórica em torno da condição feminina, com sua obra Simone

de Beauvoir (1980) envereda pelo universo dos conhecimentos da biologia, apontou elementos sob

os pontos de vistas da psicanálise e do materialismo histórico e vai tecendo em torno da história da

humanidade e da situação das mulheres, sua compreensão sobre as possíveis razões da subordinação

destas frente aos homens. Nessa perspectiva, a autora defendeu que a existência humana é moldada

por construções históricas, tendo como base a valoração diferenciada para o masculino e o

feminino. Porém, isto não se configura em uma realidade pronta e acabada, não se trata de destino

e nem da natureza do ser feminino a condição de subordinação. Portanto, as relações podem ser

transformadas, podem ser igualitárias.

Os processos de vivência política e análises sobre a condição feminina firmaram as bases

para construções mais aprofundadas, a partir do início da década de 1980, em torno da categoria

gênero, sendo a princípio usada para questionar a discriminação da mulher em todos os níveis –

econômico, político, social, dentre outros. Segundo Scott (1996), gênero refere-se à criação social

de ideias sobre os papeis próprios aos homens e às mulheres. Trata-se das origens exclusivamente

sociais das identidades subjetivas masculinas e femininas, uma forma de indicar as construções

sociais sobre o ser homem e o ser mulher.

Butler (2003) propõe uma leitura elaborada mediante um ponto de vista contextual ou

relacional, discorrendo que a concepção universal da pessoa é influenciada pelos referenciais

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históricos ou antropológicos que traduzem o gênero como uma relação entre sujeitos socialmente

constituídos, conforme contextos específicos. Quanto à constituição da identidade dos sujeitos,

ressaltando que isto acontece mediado por relações de poder estabelecidas, portanto, a mesma

discorda de uma concepção singular de identidade e a noção binária de masculino/feminino, pois,

segundo sua análise, tais compreensões geralmente abordam o feminino de forma

descontextualizada, analítica e politicamente dissociada da constituição de classe, raça, etnia, dentre

outros eixos de relações de poder.

Na Amazônia estão presentes as marcas da cultura patriarcal integrada ao projeto capitalista,

implantado desde os tempos da colonização portuguesa e reforçado em vários outros processos de

ocupação, que são visíveis nas diversas manifestações de desigualdades de gênero, classe, raça e

etnia. Dentre os sinais deste contexto, registra-se a construção da representação de uma imagem

negativa das mulheres indígenas, construídos pelos colonizadores europeus (TORRES, 2005).

Dados históricos demonstram que as mulheres sempre integraram os processos e as

dinâmicas econômicas da região, embora sendo tal participação quase sempre invisibilizada e, em

situações diversas, geralmente relacionadas a situações de exploração, bem como exposição a

dificuldades extremas de trabalho. Como evidências dessa realidade, constam registros da segunda

metade do século XX, indicando as condições opressivas de trabalho das mulheres nas atividades

ligadas à produção da borracha nos seringais da Amazônia brasileira, além de muitas terem sido

vítimas de abusos sexuais e de crueldades por parte dos proprietários ou dos seus prepostos, muitas

transformadas em “mercadoria cobiçada”, inclusive integrando relação de bens solicitados pelos

seringueiros (SIMONIAN, 1995). Embora mediante a relevante importância das mulheres na

produção de alimento para autoconsumo, a desvalorização do trabalho feminino na agricultura

familiar também tem sido uma realidade geralmente identificada em comunidades rurais da Região

(D’INCAO; JUNIOR, 2001).

Na realidade das mulheres rurais da Amazônia, a sobrecarga resultante da acumulação das

jornadas de trabalho produtivo e na esfera reprodutiva, que inclui o trabalho doméstico constitui-se

em rotina constante. O trabalho doméstico, que é assumido majoritariamente pelas mulheres, é

constituído do conjunto de atividades de manutenção da casa, alimentação, cuidados com o

vestuário e os serviços para crianças, idosos(as) e doentes. Segundo Rodriguez (2006), o cálculo do

tempo gasto com atividades domésticas equivale a 12,76% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

A jornada acumulada retira das mulheres que o realiza o seu tempo para descanso, lazer, cuidado

consigo mesma e sua própria recuperação para o trabalho produtivo (ÁVILA, 2007; SILVA, 2007).

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Segundo Bruschini (2006), as mulheres dedicam 27,2 horas semanais, enquanto os homens

que o fazem usam 10,7 horas. As mulheres rurais gastam em torno de 1,2 horas a mais com afazeres

domésticos, acumulando em sua jornada 28,2 horas semanais com esse trabalho. Quanto aos

homens, o número de horas é o mesmo entre urbanos e rurais. Tais dados demonstram que o

trabalho doméstico na área rural é majoritariamente realizado pelas mulheres, assim também como

são elas que mais se dedicam à produção de autoconsumo. No ano de 2004, as mulheres

destacaram-se como as principais provedoras da alimentação familiar, visto que no âmbito da

produção para autoconsumo, portanto, trabalho não remunerado, elas assumiam 90,6% da criação

de aves e pequenos animais e 58,1% dos cultivos em horticultura/floricultura. Estes dados dão uma

amostra da dimensão da invisibilidade do trabalho feminino no campo (BRASIL, 2006).

Embora tendo alcançado diversas conquistas ao longo dos últimos anos, traduzidas em

políticas públicas para a categoria, as trabalhadoras rurais tem buscado aprimorar suas forças quanto

à incidência política, ampliando e intensificando seus processos organizativos, como é o caso da

realização da Marcha das Margarida que, em 2007 teve sua terceira edição (CONTAG, 2009).

Este movimento tem se pautado pela crítica contundente ao modo de produção baseado no

agronegócio e ao modelo de desenvolvimento capitalista, que tem aprofundado desigualdades

sociais no campo e na cidade, com forte impacto sobre as mulheres. Dentre os desafios estruturantes

desse modelo, registra-se a persistente desigualdade no acesso a terra, visto que mesmo as mulheres

tendo conquistado esse direito legalmente, 87% dos lotes dos assentamentos do Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), 93% do Banco da Terra e 92% das propriedades

familiares, têm homens como titulares (GOUVEIA, 2007).

A forma como estão estabelecidas as sociedades tem relevância crucial no que diz respeito

às condições determinantes em relação à qualidade de vida. Vale ressaltar a existência de desafios

históricos que têm estruturado desigualdades ainda profundamente arraigadas nos espaços de

vivência das populações amazônicas. Registra-se que a dinâmica da formação social da região foi

sendo estabelecida desde os primeiros processos de ocupação (1616), com momentos intensos de

mobilizações da população de outras regiões e intrarregional, demarcado desde o início da

constituição de seu território por surtos direcionados para produtos extrativos de exportação,

estratégias de controle do território e os modelos de ocupação implementados a partir do

planejamento governamental para a região. O fato é que seja no período colonial ou em tempos de

república, a ação do poder central na Amazônia seguiu sempre a lógica da integração direcionada a

suprir demandas de fora da Região, pouco se considerando as necessidades, os contextos e desafios

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estruturais vivenciados pelas populações locais (BECKER, 2007). Nessa lógica tem ocorrido a

implantação dos grandes empreendimentos (hidrelétricas, mineração, dentre outras), geradores de

sérios impactos negativos para a população e para o meio ambiente, com insipientes benefícios

locais.

Lugar de exuberante patrimônio natural, a Amazônia tem os olhares do mundo voltados para

si, dentre outros fatores, em razão da magnitude de sua importância como região provedora de água

doce disponível (REBOUÇAS, 2006). A água, sendo a substância mais necessária para manutenção

da vida e dos ecossistemas, deve ser garantida na qualidade e na quantidade adequada para tal

finalidade e em especial como direito às populações humanas, visto que a falta desse recurso ou a

sua disponibilidade de forma insalubre pode causar inúmeros problemas de saúde, relacionados às

doenças hídricas que atingem principalmente as populações mais pobres, sendo o Brasil um dos

países com esta realidade bastante presente (BRANCO; AZEVEDO; TUNDISI, 2006).

A abundância de água de que a Região dispõe, nem sempre se traduz em acesso a esse

recurso para todos. Na realidade das periferias de grandes cidades amazônicas, os problemas

decorrentes da falta de abastecimento público de água, do fornecimento irregular ou da qualidade

insalubre desse recurso, impõem sérios danos às mulheres, visto serem estas as principais

responsáveis pela gestão da água para consumo doméstico. Na escassez do abastecimento, podem

ocorrer problemas diretos e indiretos à saúde dessas mulheres, como no caso dos advindos dos

esforços por carregar pesados recipientes com água, além de patologias causadas pelo contato com

água de qualidade duvidosa, a si mesmas ou à saúde das crianças sob sua responsabilidade

(BERTARELLI, 2006).

Metodologia

A pesquisa foi realizada no Projeto de Assentamento da Reforma Agrária Equador (PA

Equador), localizado no município de Rorainópolis/RR. Com uma área atual 11.728,4914 ha, o PA

Equador, sob coordenação do INCRA, destinado a atender, com distribuição de lotes de terra e

infraestrutura adequada, famílias de agricultores familiares, tendo como localidades: Vicinal Trairi,

Arara Vermelha, Vila Equador, Vicinal 1, Vicinal 2, Médio Rio Trairi. Considerando todas as

etapas e atividades, a pesquisa ocorreu no período de 2008 a 2010.

O público envolvido diretamente correspondeu a 35 mulheres, entre 16 e 79 anos de idade,

moradoras na área de estudo, mães ou não, de estado civil diversificado. Para discussão das

condições socioeconômicas, ambientais, bem como para desenvolver a reflexão em torno da

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situação das mulheres, integrada à análise de suas condições de saúde, efetivou-se coleta de

informações através das seguintes atividades: Entrevistas com profissionais da área de saúde

integrantes da equipe do Posto de Saúde da Vila Equador; Coleta de informações sobre indicadores

de saúde, dados sobre a situação das mulheres, com ênfase nas trabalhadoras rurais, de políticas

públicas específicas, bem como sobre a constituição e evolução das comunidades locais, foram

obtidas em diversos órgãos públicos e organizações da sociedade civil organizada e; Aplicação de

questionário e entrevistas: foram selecionadas trinta e cinco mulheres moradoras das localidades

selecionadas, que responderam a questionário com questões fechadas e abertas, na forma de

entrevista rápida.

As informações dos questionários foram complementadas com a realização de entrevistas

orais, gravadas digitalmente e transcritas, com mulheres do grupo selecionadas de acordo com

características diferenciadoras, tais como: nível de dificuldade e condições de acesso à água; ter

citado problema de saúde relacionando-o à forma de acesso e à qualidade da água para consumo

doméstico, dentre outras.

Resultados e discussão

O lugar de vivência das mulheres participantes da pesquisa integra o município de

Rorainópolis, que se constitui na fronteira de Roraima com o estado do Amazonas e reflete em sua

história de criação a influência da execução de políticas do poder central para promover a

ampliação do povoamento nos estados da Amazônia, principalmente entre 1968 e 1974, período em

que, conforme Becker (2007), o Estado brasileiro implantou projetos de assentamento e redes de

integração regional, dentre as quais uma malha de circulação rodoviária. Nesse contexto, foram

criadas em Roraima as rodovias federais BR 174 e BR 210 (Perimetral Norte). O PA Equador

estende-se à margem da BR 174, tendo como localidades: Vila Equador, Vicinal Trairi, Vicinal 1,

Vicinal 2, Arara Vermelha e Médio Rio Trairi. Nesta área encontram-se assentadas 191 famílias

(INCRA-RR, 2010). A pesquisa foi realizada em quatro das referidas comunidades (Vila Equador,

Vicinal Trairi, Vicinal 1 e Arara Vermelha). O panorama ambiental é caracterizado pela

fitofisionomia de floresta, com nível de preservação diferenciado dos ecossistemas naturais entre

suas localidades.

As mulheres que aceitaram participar da presente pesquisa, são trabalhadoras rurais,

correspondem à faixa etária entre 16 e 79 anos de idade, sendo que a maior parte integra a faixa

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entre 20 a 30 anos. Em relação à identificação quanto à raça, cor e etnia, a maioria assumiu-se como

pardas, seguidas de negras e indígenas, tendo uma minoria identificando-se como brancas.

A influência da migração como um fator preponderante na formação das comunidades rurais

do estado, principalmente de agricultores(as) familiares, foi constatada na realidade do

assentamento investigado, visto que somente nove, dentre todas as integrantes da pesquisa,

afirmaram ter nascido em Roraima. A vivência no PA Equador proporcionou o encontro das

histórias das roraimenses com as de mulheres que as iniciaram no Maranhão, Amazonas, Pará, Acre

e Rondônia e de outros lugares.

Quanto à integração na produção familiar, embora aparentando uma participação em menor

grau que a masculina, as mulheres do assentamento demonstraram ter inserção em todas as

atividades, sendo a maioria naquelas que ocorrem dentro e nas proximidades da moradia, dentre as

quais cultivos de plantas, criação de animais, beneficiamento de frutos, dentre outros. Tal situação

reafirma estudos que apontam a mulher como a principal responsável pela produção de alimento

para a família na propriedade familiar rural (BRASIL, 2006).

Todavia, é no trabalho doméstico que as mulheres majoritariamente gastam grande parcela

de seu tempo, acumulando com outras funções desenvolvidas, resultados que reforçam o estudo de

Bruschini (2006) em torno da análise do tempo dedicado ao trabalho doméstico pelas mulheres.

Dentre as atividades inseridas no âmbito do trabalho doméstico constam: os cuidados internos da

casa, abastecimento de água, alimentação, roupas e utensílios, cuidar dos filhos e filhas, cuidar de

pessoas idosas, até as ações realizadas nas imediações da residência.

Embora não sendo registrada a ausência de água nas moradias visitadas, contatou-se como

fatores preponderantes a disponibilidade desse recurso para consumo humano, especialmente as

condições de acesso e a qualidade. As fontes de água utilizadas pelas(os) moradoras(es)

identificadas durante o estudo foram: poços domésticos (69%), rios e igarapés (14%), cacimbas

(11%), estas constituem-se de perfurações rasas no solo, em ambientes úmidos, geralmente em

áreas mais baixas do terreno da propriedade. Apenas 6% das moradias investigadas contavam com

acesso à rede pública de abastecimento de água (Vila Equador). Exceto na Vila Equador, que conta

com precário sistema público de abastecimento e em outras duas residências, em Trairi e Arara

Vermelha, cuja disponibilidade de energia possibilita o bombeamento para o interior das

residências, em todas as demais moradias pesquisadas a tarefa de manutenção diária da água para

consumo doméstico demanda um investimento de esforço físico e dedicação de tempo

consideravelmente maior, variando conforme o tipo de fonte, distância e situação de localização da

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mesma, além da quantidade consumida conforme os usos em cada moradia. Neste caso, algumas

das entrevistadas afirmaram utilizar também boa quantidade de água no processo de limpeza da

casa, neste caso, três formas de uso foram apontadas: jogar água no piso de chão batido para

“baixar” a poeira antes de varrer; lavar o piso assoalhado de madeira e limpeza do piso de cimento

liso.

Para as trabalhadoras rurais, a relação com a água extrapola o ambiente doméstico, trata-se

de um bem natural que, ao lado da terra, da floresta e dos demais recursos da natureza, fornece as

condições necessárias para a produção e reprodução da vivência. Como item essencial para o

desenvolvimento do processo produtivo na agricultura familiar, a água é utilizada em praticamente

todas as atividades, em quantidade variada conforme o tipo de cultura e o processo envolvido.

Dentre as atividades com maior consumo de água para sua realização, as moradoras citaram a

fabricação artesanal de farinha de mandioca, sendo também aquele que envolve a maioria dos

membros da família.

Com demanda tão considerável, é plausível compreender porque há casos em que se gasta

diariamente até cinco horas diárias só com abastecimento de água para o consumo doméstico. Em

relação ao número de horas gastas com esta tarefa, conforme a fala das mulheres, a faixa de tempo

utilizada está entre dez minutos até cinco horas por dia. Especialmente nas vicinais e em Vila

Bragança, a lida diária de manter a casa abastecida com água demanda um esforço físico maior para

quem o faz manualmente, forma mais usual nessas localidades, conforme respondido por 69% das

entrevistadas. Percebe-se que esse processo representa uma das atividades mais exaustivas,

portanto, podendo comprometer as condições de saúde de quem as executa. No contexto do PA

Equador, são as mulheres adultas e jovens que mais executam o transporte de água da fonte para a

residência, que juntas representam 60%, tendo os homens adultos e jovens 40% de participação

nesta atividade.

Conforme relatos das moradoras, as condições de acesso à água afetam a saúde das mulheres

que realizavam diariamente a atividade manual de abastecimento, como dores na coluna e na

cabeça. Em geral, para as mulheres integrantes da pesquisa, dentre as doenças relacionadas com

água que as mesmas conheciam constam: dores nas articulações e coluna, por conta das

dificuldades de acesso e esforço físico empreendido no abastecimento, além da malária, as diarreias

e as infecções do trato urinário.

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A dedicação ao trabalho doméstico não permite espaço para o lazer. Quando conseguem

organizar seu tempo, as entrevistadas afirmaram visitar parentes e amigos, sendo que a maioria

dedica à prática religiosa. No entanto, pouco tempo é dedicado a si mesmas.

No PA Equador, embora não se tratando de uma região totalmente isolada como tantas

outras comunidades do estado (indígenas e ribeirinhas), é distante e dependente de estradas que, em

geral, apresentam dificuldades de acesso, especialmente no período chuvoso. Por outro lado, a

existência de acessibilidade, mesmo precária, é pouco útil mediante a dificuldade de meios de

transporte, especialmente considerando circunstâncias emergenciais. Esta situação só amplia o

conjunto de dificuldades vivenciadas cotidianamente pelas mulheres desta área. Para muitas, ainda é

difícil o reconhecimento como trabalhadoras e não como ajudantes do companheiro. Embora reflita

muita dureza, esse fato leva a considerar que a realidade para muitas das trabalhadoras rurais ainda

se aproxima significativamente da reflexão de Beauvoir (1980):

Levanta-se de madrugada, dá comida às aves do galinheiro e aos animais domésticos, serve

a primeira refeição aos homens, cuida das crianças e vai trabalhar no campo, no bosque ou

na horta, vai buscar água na fonte, serve a segunda refeição, lava a louça, trabalha

novamente no campo até a hora do jantar; depois da última refeição aproveita a noite para

costurar, limpar, debulhar o milho, etc. Como não tem tempo para se ocupar da saúde,

mesmo durante a gravidez, deforma-se depressa, prematuramente enrugada e gasta,

corroída pelas doenças. As poucas compensações que o homem encontra de vez em quando

na vida social são-lhes recusadas: ele vai à cidade aos domingos e dias de feira, encontra-se

com outros homens, vai ao bar, bebe, joga cartas, caça, pesca. Ela fica em casa e não

conhece lazeres. (...) Mas, em geral, o trabalho rural reduz a mulher à qualidade de animal

de carga (BEAUVOIR, 1980, pp.173-174).

Na rede que entrelaça as dimensões do cotidiano das mulheres do PA Equador, articula-se

uma diversidade de elementos ambientais, socioeconômicos e culturais, que interagem produzindo

um conjunto de condicionantes que influenciam diretamente na qualidade de vida destes sujeitos.

No que se refere aos reflexos das construções culturais, considerando as leituras em torno de

gênero (SCOTT, 1996; BUTHLER, 2003), observou-se que em algumas moradias ocorrem

situações em que é possível perceber avanços no que diz respeito a condições mais igualitárias,

especialmente no que se refere à divisão do trabalho, aparecendo certo grau de compartilhamento na

realização do trabalho fora e no espaço da casa. Porém, ainda é marcante, em grande parte das

moradias, a prevalência de uma participação desigual dos espaços entre homens e mulheres, alguns

casos com demarcações ainda relativamente rígidas quanto à divisão sexual do trabalho (casa,

espaço doméstico: mulheres; trabalho na roça e caça: homens). Com baixo grau de

compartilhamento do trabalho doméstico e cuidado com os filhos, este contexto demonstra a

prevalência do viés patriarcal presente no cotidiano em várias moradias pesquisadas.

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Conclusões

O caminho percorrido por esta pesquisa, buscando-se compreender em que medida o

processo que envolve o conjunto de atividades para manutenção da água consumida no âmbito

doméstico pode influenciar na condição de saúde de mulheres moradoras no PA Equador

(Rorainópolis/RR), permitiu a chegada aos elementos conclusivos descritos adiante.

O cotidiano das mulheres do PA Equador, integrantes da pesquisa, é demarcado por uma

extensa jornada de trabalho. Sobre elas incide a maior responsabilidade com o trabalho doméstico e

com este dedicam a parcela maior de seu tempo que, por sua vez, é dividido nas atividades agrícola

e de extrativismo.

Na jornada do trabalho doméstico, o abastecimento de água onde não há rede pública ou

bombeamento, é a atividade que requer maior tempo e esforço físico rotineiro, cujo encargo recai

majoritariamente sobre os ombros femininos, o que tem gerado problemas de saúde para várias

mulheres, conforme depoimentos das participantes da pesquisa. A água conseguida com

significativo esforço físico diário nem sempre é adequada para consumo humano, visto a limitada

qualidade das fontes utilizadas para esta finalidade na área pesquisada.

Com níveis diferenciados de dificuldade, conforme a situação da fonte e do esforço físico

demandado, as mulheres que realizam este trabalho podem vir a sofrer problemas de saúde em

decorrência dessa rotina. Essa realidade se articula com as demais questões culturais e ambientais

que envolvem o espaço de vivência destes sujeitos, formando uma rede de inter-relações que podem

gerar condicionantes potenciais de saúde ou adoecimento. Portanto, conclui-se que são

condicionantes que podem ampliar os agravos e riscos sofridos pelas mulheres: o contexto

socioambiental local; ausência de serviços públicos; jornada ampliada pelo acúmulo do trabalho

reprodutivo (trabalho doméstico) e produtivo (agricultura, extrativismo); tempo e esforço físico

dedicado rotineiramente com a atividade de abastecimento de água para consumo doméstico;

ausência de saneamento básico e a qualidade da água consumida. Ressalta-se que tais

condicionantes, em geral, ocorrem de maneira interdependente, articulados pela rede de relações

socioambientais. Assim, para o aprofundamento de estudo sobre qualquer agravo detectado será

preciso considerar metodologias que contribuam para uma abordagem multidisciplinar.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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Gender and health in Amazon region: water's role in women's web of life within

Assentamento do Equador Project, Rorainopolis/RR

Abstract: This report approaches the living situation of women in amazonian rural environment,

highlighting daily consequences of gender constructions and all the elements that affect in their

health conditions. Considering this analysis, the report contemplates studies about the inffluence of

water for domestic consume manegement and use in the health of women that live in Assentamento

Equador project (Rorainópolis/RR) and the socioeconomic, cultural and environmental conditions

that interact in that context. The ressearch envolved 35 women, between 16 and 70 years old. The

patriarcal roots appears in gender relactions, mainly in the work organization, where women take

most of the responsability for the domestic chores, with bigger parcel of their time dedicated for the

water supply, which occurs manually in 60% of the houses in the ressearch, causing health

problems in some of them. This journey is enlarged with productive activities (agriculture and

extractivism). Therefore, it was concluded that the social and environmental context; the precarious

public services; the amplied journey of work; the absense of environmental sanitation; the water

quality, the time and the physical effort dedicated for domestical chores makes part of a couple of

determinants that influence directly in women's health.

Key-words: Gender, rural women, health, Amazon.