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GNL em Moçambique: Estudo Macro-Económico 31 de Julho de 2014 Preparado por Standard Bank Em conjunto com Conningarth Economists

GNL em Moçambique: Estudo Macro-Económico · Cada destinatário das informações e dados contidos no ... qualquer garantia de que o Documento irá permanecer inalterado após a

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GNL em Moçambique:

Estudo Macro-Económico 31 de Julho de 2014

Preparado por Standard Bank

Em conjunto com

Conningarth Economists

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AVISO LEGAL Ao aceitar este documento GNL Moçambique: Estudo Macroeconómico (o “Documento”), o receptor concorda com os seguintes termos e condições e avisos legais. Este Documento contém informações fornecidas exclusivamente ao Standard Bank por parte da Anadarko Petroleum Corporation e está a ser distribuído pelo Standard Bank Moçambique (em conjunto, quando pertinente, com as suas afiliadas, directores, colaboradores empregados, agentes, parceiros e/ou consultores profissionais), exclusivamente para os fins descritos no Documento. O Standard Bank não verificou de forma independente e não irá verificar qualquer uma das informações e dados contidos no Documento e as mesmas estão incluídas apenas para fins informativos. O Documento poderá incluir determinadas declarações, estimativas ou pareceres que digam respeito ao desempenho ou ocorrências futuras previstas. Nenhuma representação ou garantia (explícita ou implícita) é assumida ou dada pelo Standard Bank quanto à exactidão de tais informações, declarações, estimativas ou pareceres, ou relativamente a quaisquer outros materiais incluídos ou referidos no Documento. O Standard Bank não aceita qualquer responsabilidade ou obrigação em relação à verdade, precisão, fiabilidade, razoabilidade, suficiência ou integridade do Documento ou de qualquer informação ou opiniões contidas no mesmo, ou por quaisquer erros ou omissões do material contido neste Documento ou em quaisquer outras comunicações escritas ou orais transmitidas ao receptor pelo Standard Bank. O Standard Bank não se responsabiliza por qualquer perda ou danos directos ou indirectos sofridos consequentemente por qualquer pessoa, em resultado da confiança no material contido neste Documento (ou por quaisquer omissões ou imprecisões de qualquer material) ou por quaisquer outras comunicações escritas ou orais transmitidas ao receptor pelo Standard Bank. As informações contidas no Documento não pretendem ser exaustivas ou conter todas as informações que um receptor possa desejar. Quaisquer resumos de documentos não pretendem ser abrangentes, não deverão ser vistos como fiáveis e deverá ser feita referência aos documentos completos. Tais resumos são qualificados na sua totalidade por referência a tais acordos. O Documento não se destina a ser a única base de qualquer investimento ou análise de crédito ou de outra avaliação e não deverá ser considerado como uma recomendação ou constituir um conselho de qualquer tipo por parte do Standard Bank. Cada destinatário das informações e dados contidos no documento deverá realizar a sua própria investigação, análise e avaliação independente da transacção, da forma que julgar relevante e sem dependência do Standard Bank. Tais informações e dados não são um substituto de uma investigação, avaliação e análise independente por parte do receptor. Este Documento apresenta informações explicitamente datadas. O Standard Bank reserva-se o direito de alterar ou substituir as informações contidas neste documento, mas o Standard Bank não se responsabiliza, expressa ou implicitamente, pela verificação, actualização, finalização ou correcção das informações contidas neste documento e a sua distribuição pelo Standard Bank não constitui uma representação de que tais dados serão actualizados a qualquer momento após a data do Documento. O Standard Bank não faz nenhuma representação ou oferece qualquer garantia de que o Documento irá permanecer inalterado após a data desta edição. O Standard Bank não está a agir em nome dos receptores deste Documento e a recepção deste Documento e de qualquer outra informação por parte de qualquer receptor não deverá ser vista como o Standard Bank estar a prestar consultoria de investimento a esse receptor, nem para constituir tal pessoa como um cliente do Standard Bank. Desta forma o Standard Bank não será responsável perante o receptor por fornecer protecções tais como as que são oferecidas aos seus clientes ou por aconselhar o receptor relativamente à potencial transacção. Ao aceitar este documento cada receptor reconhece que (a) o Standard Bank não está a prestar aconselhamento jurídico, fiscal ou contabilístico; e (b) poderão existir riscos legais, fiscais e contabilísticos associados às transacções aqui descritas, para os quais o receptor deverá procurar as competências adequadas para avaliar os riscos relevantes. Cada receptor deverá estar ciente de que o Standard Bank poderá ter outras informações ou conhecimentos que possam ser relevantes para qualquer receptor e que não estão contidos neste Documento. O Standard Bank não será obrigado a divulgar tais informações, ou o facto de que está na posse de tais informações, a qualquer receptor deste Documento. Sem limitação das afirmações supracitadas, o Standard Bank renuncia expressamente a toda e qualquer responsabilidade ou obrigação que se baseie nas opiniões, informações e declarações ou qualquer parte das mesmas contidas neste Documento. Este aviso legal e quaisquer obrigações extracontratuais decorrentes ou relativos ao mesmo serão regidos e interpretados de acordo com a lei Inglesa e, em benefício do Standard Bank, o receptor submete-se à jurisdição não-exclusiva dos tribunais Ingleses.

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Sumário Executivo

É com prazer que o Standard Bank apresenta este Estudo Macroeconómico, o qual examina os impactos na Economia Moçambicana, numa perspectiva alargada, de uma Fábrica de Gás Natural Liquefeito (GNL) localizada perto de Palma e as infra-estruturas costeiras e terrestres associadas (“O Projecto”). O Standard Bank acredita que a oportunidade que o Projecto apresenta é de carácter transformacional e representa uma opção única para Moçambique alcançar as suas metas de desenvolvimento através dos seus próprios recursos, notando contudo que existe um limite temporal para capturar os seus benefícios substanciais dadas as actuais condições do mercado de GNL.

Objectivos Chave do Relatório

Este Relatório contém vários objectivos chave. Primeiro, demonstrar os imensos benefícios à disposição do Governo e do povo Moçambicano caso o Projecto alcance todo o seu potencial e seja executado de acordo com princípios comerciais e de gestão sólidos dentro de um horizonte temporal óptimo. São também objectivos-chave deste relatório:

Compreender o Projecto no contexto dos anteriores megaprojectos em Moçambique e identificar as respectivas diferenças;

Explorar os impactos directos do Projecto a um nível macroeconómico bem como os seus efeitos indirectos e induzidos;

Identificar projectos-chave que possam beneficiar da utilização do gás disponibilizado no mercado doméstico a um preço que promova a industrialização e transformação económica e realize ligações empresariais downstream;

Demonstrar como é que os atrasos na implementação do projecto afectam a economia Moçambicana, pioram o desempenho económico do projecto e aumentam o risco;

Contribuir para, e fazer progredir, o debate em torno do Projecto junto de todos aqueles que poderão beneficiar do mesmo, na perspectiva de assegurar acordos comerciais vinculativos em 2014, tendo em vista o alcance da Decisão Final de Investimento(FID) em 2015.

Principais Conclusões

Primeiramente deve-se salientar que todas as conclusões neste Relatório referem-se à Área 1 e apenas a 45 Tcf

1 da Área 1 a produzir até 2044. Wood Mackenzie relata

reservas tecnicamente recuperáveis de 120 Tcf ao longo da Área 1 e da Área 4. Consequentemente, este relatório não incide sobre os vastos recursos de gás dentro e fora da Bacia do Rovuma, incluindo todas as descobertas futuras. Portanto é provável que os benefícios para Moçambique aqui apresentados sejam substancialmente superiores.

Deste relatório emanam diversas conclusões importantes:

Existem ganhos económicos vastos e sem precedentes para o Governo de Moçambique e o seu povo. Seis trains de LNG acrescentarão mais cerca de 39 mil

1 Tcf é a sigla na língua Inglesa de trillions of cubic feet, equivalente a um milhão de milhões de pés cúbicos ou 10^12.

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milhões de USD à economia de Moçambique até 2035 num cenário de crescimento base. Assim, o PIB per capita cresce de aproximadamente 650 USD em 2013 para 4500 USD em 2035, em termos reais.

Adicionalmente, verifica-se a criação de muitas oportunidades de emprego, num total de até 700 mil postos de trabalho até 2035 (no cenário de 6 trains e sem atrasos na construção). Apenas 15 mil postos de trabalho estão associados directamente com o Projecto, sendo os restantes postos de trabalho de carácter indirecto e induzido na economia. Isto leva a um superávite da conta corrente de cerca de 16 mil milhões de USD por ano.

Constatam-se também grandes ganhos financeiros para o Governo de Moçambique (“GdM”). Dependendo do número de trains construídos, as receitas para o Governo, não actualizadas para o presente, oscilam entre os 67 e os 212 mil milhões de USD ao longo da vida do Projecto, as quais se traduzem em receitas fiscais do Projecto de 62% a 65% ou de 84% a 88% numa base ajustada ao risco – valores elevados à luz de padrões globais. Os valores destes fluxos ultrapassarão as entradas da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (ODA) até 2023.

o Tais receitas são obtidas assumindo baixos riscos e com base em despesas de capital suportadas pelo Contratado, o qual numa operação com 2 trains consegue apenas obter uma Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) de 12%. Esta percentagem é superior à das obrigações do Estado de 2013 para a EMATUM em apenas 350 pontos percentuais, e é portanto modesta considerando a actual inexistência de uma indústria de GNL em Moçambique e os riscos substanciais do projecto. Esta TIR aumenta à medida que são construídos mais trains, mas continua a ser sempre múltiplas vezes inferior aos retornos obtidos por Moçambique;

o Estas condições são extremamente favoráveis a Moçambique, contrastando com todos os anteriores megaprojectos. O Projecto é em tamanho e em impacto maior do que todos os outros megaprojectos. Adicionalmente é materialmente diferente dos megaprojectos anteriores por diversas razões:

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As Receitas estão ligadas aos preços do gás no mercado global;

A Beneficiação ocorre dentro de Moçambique;

As vendas de gás a nível doméstico contribuem para o desenvolvimento industrial;

O Projecto contém concessões fiscais mínimas.

o A figura abaixo demonstra estes impactos no PIB em 2035. O cenário da Área 4 (não modelado mas apresentado a título comparativo) assume, de forma conservadora, 80% do impacto da Área 1, pressuposto assumido devido à falta de dados sobre a Área 4 e considerando possíveis deslizes nos prazos;

Existe um benefício adicional significativo que Moçambique poderá potencialmente obter por disponibilizar gás para consumo a nível nacional, a um preço definido a partir do custo de produção costeira e isolado dos preços mundiais do gás ou paridade de preços de exportação;

o Esta oportunidade de dinamizar a industrialização e promover o desenvolvimento da indústria nacional leva a que Moçambique alcance vantagens comparativas significativas com base nas quais poderá promover as suas metas de desenvolvimento e a criação de emprego;

Integração downstream – juntamente com a venda de GNL, o desenvolvimento da DGS tendo uma base segura de data, preço e volume, conferirá a Moçambique uma oportunidade sem precedentes de beneficiar gás natural (transformando-o em energia (GTP), fertilizantes (GTF), metanol (GTM), Petroquímicos (GTPET), combustíveis (GTL), etc) e desenvolver novas indústrias e as exportações

o A compra de gás pelo GdM aos Concessionários da Área 1 para o mercado doméstico será feita a um preço acordado contratualmente;

o Contudo, tal acontecerá apenas em paralelo com o desenvolvimento e expansão do Projecto;

As hipóteses de derivar benefícios máximos a partir dos fluxos de receitas e disponibilidade de gás doméstico estão directamente relacionadas com a capacidade de construir a maior quantidade de trains o mais depressa possível (assumindo a existência de compradores de GNL);

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PIB de 2014 2035 sem Projecto 2035 6 trains 2035 6 trains e VDG 2035 6 trains,VDG e Área 4

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PIB Base Área 1 - 6 trains Oportunidade de VDG Área 4 (pressuposto)

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o As pressões do mercado global apontam para o risco de haverem múltiplas unidades de GNL a nível global (p.e. Austrália, Canadá, EUA, Tanzânia e Moçambique) disputarem uma base limitada de procura.

o Dado o actual estatuto novato de Moçambique, existem ainda economias de escala significativas as quais resultam em trains adicionais após os trains 1 e 2, produzindo as mesmas receitas e com menos 40% de investimento em capital fixo;

o Atrasos na execução diminuirão ainda mais os possíveis benefícios;

o O Governo de Moçambique deverá facilitar desde já uma FID na Área 1 de modo a capturar o máximo potencial de benefício e maximizar as hipóteses de trains futuros.

Adicionalmente, apesar de o Projecto por si comportar uma grande contribuição, o mesmo não garante plenamente o possível desenvolvimento de Moçambique na sua extensão máxima. O crescimento económico, o desenvolvimento dos sectores industriais e financeiro e o alívio da pobreza requerem o foco de múltiplas áreas políticas juntamente com a oportunidade de grandes receitas e ligações empresariais as quais são oferecidas por um projecto tão grande como o debatido neste Relatório. De modo a alcançar isto deverão verificar-se vários factores importantes em conjunto com o Projecto:

o Sem um Estado forte e comprometido existirá a limitante de alcançar os outros benefícios económicos associados. É crítico que o Estado tenha as capacidades necessárias. Importa salientar que um Estado forte não é necessariamente um Estado grande;

o Instituições capazes e responsáveis de modo a guiar o desenvolvimento do sector, promover a concorrência e providenciar estabilidade macroeconómica e financeira;

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OfertaActual

IEA 2019 BG 2025 BP 2030 WoodMackenzie

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Operacional Construção Planeado Seleccao de Previsoes sobre a Procura Global

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o Decisões devidamente informadas sobre políticas para estimular o desenvolvimento social, incluindo a produção de uma força de trabalho formada que sirva de espinha dorsal a uma economia moderna;

o Mecanismos de apoio social que assistam as pessoas, a sociedade e uma economia que estão à beira de rápidas mudanças.

Deve notar-se que este relatório baseou-se na informação da Área 1 (sendo a análise da responsabilidade do Standard Bank). Consequentemente, todas as receitas e contribuições geradas pelos Concessionários da Área 4 acrescentam aos números e benefícios expostos no Relatório. Consequentemente, o Standard Bank acredita que este Relatório é conservador dado que o mesmo exclui todos os benefícios da Área 4 até 2045.

O Standard Bank também consultou várias fontes e opiniões externas sobre o Projecto, as quais foram citadas sempre que utilizadas. No que se refere ao Projecto, ILPI (2013) argumenta que “Se considera que a falta de comunicação alimenta as expectativas irrealistas do público sobre quando é que começarão as receitas provenientes das exportações de GNL”. À luz do exposto, o Standard Bank convida o leitor a apresentar os seus comentários sobre este Relatório.

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Índice

Sumário Executivo ........................................................................................ i

Principais Termos e Definições ................................................................... x

Lista de Figuras ......................................................................................... xiv

Lista de Tabelas ......................................................................................... xvi

1 Sumário e Introdução ........................................................................... 1

1.1 Sumário ................................................................................................................ 1 1.2 Introdução ............................................................................................................ 1

2 Revisão dos Megaprojectos em Moçambique ................................... 4

2.1 Mozal - Fundição de Alumínio ........................................................................... 4 2.2 Cadeia de Valor de Gás da Sasol ...................................................................... 8 2.3 Operação de Mineração de Carvão da Vale (Moatize) ................................... 15 2.4 Mina de Titânio da Kenmare em Moma........................................................... 20 2.5 Pontos de Discussão ........................................................................................ 26

3 Resumo do Projecto no Contexto Global e no Moçambicano ........ 29

3.1 Resumo do Projecto ......................................................................................... 29 3.2 Contexto Global de GNL................................................................................... 34 3.3 Contexto Moçambicano.................................................................................... 38

4 Análise Financeira .............................................................................. 49

4.1 Introdução .......................................................................................................... 49 4.2 Cenários de Modelação .................................................................................... 49 4.3 Prazos................................................................................................................. 50 4.4 Custos do Projecto ........................................................................................... 52 4.5 Operações do Projecto ..................................................................................... 54 4.6 Receitas do Governo de Moçambique com o Projecto ................................. 55 4.7 A ENH e a Área 1 ............................................................................................... 58 4.8 Pontos Chave de Discussão ............................................................................ 59 4.9 Análise Financeira de Domínio Público .......................................................... 64 4.10 Resumo das Conclusões ................................................................................. 69

5 Análise Comercial .............................................................................. 71

5.1 Introdução .......................................................................................................... 71 5.2 VDG e DFC ......................................................................................................... 74 5.3 Metodologia do Projecto Downstream ........................................................... 76 5.4 Gás para Electricidade (GTP) .......................................................................... 83 5.5 Gás para Fertilizante (GTF) .............................................................................. 84

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5.6 Gás para Metanol (GTM) ................................................................................... 85 5.7 Gás para Líquidos (GTL) .................................................................................. 86 5.8 Gás para Gasoduto (GTP) ................................................................................ 87 5.9 Exemplos de Gás de Consumo Nacional ....................................................... 88 5.10 Impacto do Projecto no Sector Bancário de Moçambique ........................... 92 5.11 Conteúdo Local do Projecto ............................................................................ 98 5.12 Regimes Especiais do Projecto ..................................................................... 100 5.13 Implicações para o Estado ............................................................................. 102

6 Análise Económica ........................................................................... 105

6.1 Âmbito e Metodologia ..................................................................................... 105 6.2 Impacto Económico do Projecto ................................................................... 111 6.3 Impacto do Projecto no Crescimento a Longo Prazo ................................. 119 6.4 Implementação do Projecto com Três Anos de Adiamento ....................... 123 6.5 Resumo e Conclusões.................................................................................... 124

7 Conclusão e Opções de Políticas ................................................... 127

7.1 Introdução ........................................................................................................ 127 7.2 Opções de Políticas ........................................................................................ 129

8 Recomendações ............................................................................... 134

9 Anexos .............................................................................................. 135

9.1 Matriz de Contabilidade Social ...................................................................... 135 9.2 Referências e Bibliografia .............................................................................. 143 9.3 Diagramas de Sankey de uma Selecção de Economias GNL .................... 146 9.4 Detalhes de Contacto ..................................................................................... 158

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Principais Termos e Definições

Sigla Definição

APC Anadarko Petroleum Corporation

AIE Agência Internacional de Energia (IEA)

Area 1 Concessionários liderados pela APC na Área 1 da Bacia do Rovuma

Area 4 Concessionários liderados pela ENI na Área 4 da Bacia do Rovuma

Bacia do Rovuma Bacia em alto-mar na boca do Rio Rovuma, contendo a Área 1 e a Área 4

Bbl Barris

Bcf Milhares de milhões de pés cúbicos

Bn Mil Milhões

BOE Equivalente a Barris de Petróleo

Bpd Barris por dia

BTU Unidade Térmica Britânica

CAGR Taxa de Crescimento Anual Composta

CCGT Turbina de Gás de Ciclo Combinado

CIP Centro de Integridade Pública

CMH Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos

Comprador Único (Single Buyer) Comprador de VDG para revenda/ distribuição pelos projectos downstream em Moçambique

Conningarth Conningarth Economists são consultores especializados em Modelação Económica que colaboraram na elaboração do Relatório

Custo em Terra Custo de colocar o gás na costa para consumo nacional, assegurando um retorno de investimento para o promotor (developer)

DFC Caso do Gás Doméstico

E&P Exploração e Produção

ECIC Corporação de Seguros de Crédito às Exportações

EDM Electridade de Moçambique

EIAS Estudo de Impacto Ambiental e Social

EMP Plano de Gestão Ambiental

ENDE Estratégia Nacional de Desenvolvimento

ENH Empresa Nacional de Hidrocarbonetos

EOI Expressão de Interesse

EPC Engenharia, Procurement e Construção

EPCC Contrato de Concessão de Exploração e Produção

ESMP Plano de Gestão Ambiental e Social

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Sigla Definição

EUR Euros

Factor-R Rácio de Receitas Acumuladas para Despesas Acumuladas (de acordo com o EPCC)

FC Fecho Financeiro (Financial Close)

FED Fundo de Estabilização Doméstica

FEED Front End Engineering and Design

FID Decisão Final de Investimento (Final Investment Decision)

FMI Fundo Monetário Internacional

FSR Fundo Soberano de Riqueza

GdM Governo de Moçambique

GFC Crise Financeira Internacional (Global Financial Crisis)

GIIP Gás Inicialmente Disponível (Gas Initially in Place)

GNL Gás Natural Liquefeito

GNLF GNL Flutuante

GPL Gás Petróleo Liquefeito

Greenfield Desenvolvimento de um projecto numa área onde não existem projectos

GSA Acordo de Fornecimento de Gás

GTF Gás para Fertilizantes

GTI Gás para a Indústria

GTL Gás para Líquidos

GTM Gás para Metanol

GTP Gás para Electricidade

GTPET Gás para Petroquímicos

GWh Horas de GigaWatt

GX Capacidade de Geração

HH Henry Hub

IDC Juros durante a Construção

IFD Instituições Financeiras de Desenvolvimento

IMV Imposto sobre as Mais Valias

INP Instituto Nacional de Petróleo

IOC Companhia Petrolífera Internacional

IPP Produtor Independente de Electricidade

IPP Imposto de Produção de Petróleo

ITIE Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas

JCC Japan Crude Cocktail

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Sigla Definição

MIREM Ministério dos Recursos Minerais

MM Milhões

MMBOE Milhões de Equivalente a Barris de Petróleo

MMBTU Milhões de Unidades Térmicas Britânicas

MMSCF Milhões de Pés Cúbicos Padrão

Mn Milhões

Mozal Fundação de Alumínio de Moçambique (Mozambique Aluminium Smelter)

Mozambique Inc. Governo de Moçambique e ENH (em conjunto)

MTO Metanol para Olefinas

MTPA Milhões de Toneladas por Ano

MWh Horas de MegaWatt

NGO Organização Não Governamental

NOC Empresa Nacional de Petróleo

NPK Nitrogénio, Fósforo e Potássio

O&G Gás e Petróleo

O&M Operações e Manutenção

OCGT Turbina a Gás de Ciclo Aberto

ODA Ajuda Oficial ao Desenvolvimento

OPEC Organização dos Países Exportadores de Petróle

Palantir Programa Informático de Modelação utilizado pela Área 1 no desenvolvimento do Projecto

PARP Plano de Acção de Redução da Pobreza

PDG Plano Director de Gás de Moçambique – versão esboço (draft)

PIB Produto Interno Bruto

PME Pequenas e Médias Empresas

POD Plano de Desenvolvimento

PPA Acordo de Compra de Energia; ou Acordo de Produção de Petróleo

PPP Parceria Público-Privada

Primeiro Gás (First Gas) Início da Produção de GNL no train 1

Project Fábrica de GNL localizada perto de Palma e as infra-estruturas associadas na costa e em alto-mar

PSA Acordo de Partilha de Produção

Regime Especial Lei Moçambicana dedicada à governação dos Projectos da Bacia do Rovuma

Relatório Este Estudo Macroeconómico, com a data de 31 de Julho de 2014

Reservas Provadas Quantidade de fontes de energia estimadas com um grau

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Sigla Definição

razoável de certeza, a partir da análise de dados geológicos e de engenharia, a ser recuperadas a partir de reservatórios bem estabelecidos ou conhecidos, com o equipamento existente e sob as condições actuais de operação e também denominadas de Reservas Provadas, Reservas Medidas e Reservas 1P

ROE Retorno sobre os Capitais Próprios

RSA República da África do Sul

SA África do Sul

SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

SAM Matriz de Contabilidade Social

SAPP Pool de Energia da África do Sul

SDI Iniciativa de Desenvolvimento Espacial

SOE Empresas/ Entidades detidas pelo Estado

SPA Acordo de Compra e Venda (SPA)

SPT Sasol Pande Temane

SPV Veículo com Proósito Especial (Special Purpose Vehicle)

SSA África Subsaariana

Standard Bank Standard Bank Moçambique juntamente com o Standard Bank África do Sul

STEM Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática

T&T Trinidad e Tobago

TCA Acordo de Cooperação Técnica

Tcf Bilião de Pés Cúbicos. Nota: Na língua Portuguesa, um bilião corresponde a um milhão de milhão, ou 10^12

TIR Taxa Interna de Rentabilidade

UA União Africana

UPC Unidade de Processamento Central

US EIA Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos da América

USD Dólares Americanos

VAL Valor Actual Líquido (NPV)

VDG Vendas Doméstica de Gás

ZAR Rand Sul-Africano

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xiv

Lista de Figuras

Figura 1: Fotografias e Localização da Fundição e do Porto da Mozal ........................... 4 Figura 2: A Mozal e a Cadeia de Valor do Alumínio ........................................................... 5 Figura 3: Mapa do Projecto de Gás Natural da Sasol ........................................................ 9 Figura 4: Produção de Gás Natural e de Condensado em Pande e Temane ................. 10 Figura 5: Estrutura Proprietária de Pande e Temane ....................................................... 10 Figura 6: Receitas: Projectadas e Reais ............................................................................ 14 Figura 7: Imagem da Operação de Mineração de Carvão da Vale em Moatize, Tete .... 16 Figura 8: Estrutura Accionista do Megaprojecto de Moatize .......................................... 17 Figura 9: Complexo da Mina de Areias Pesadas de Moma da Kenmare ....................... 20 Figura 10: Fluxo Simplificado Mina de Moma da Kenmare ............................................. 20 Figura 11: Marcos da Kenmare ........................................................................................... 21 Figura 12: Depósitos Actuais e Futuros da Mina de Moma ............................................. 22 Figura 13: Mapa da Bacia do Rovuma ............................................................................... 29 Figura 14: Proposta de Disposição do Complexo de GNL .............................................. 31 Figura 15: Desenvolvimento da Oferta Global de GNL por Região ................................ 34 Figura 16: Desenvolvimento da Oferta Global de GNL e Selecção de Previsões sobre a Procura .................................................................................................................................. 35 Figura 17: ODA em Moçambique ........................................................................................ 39 Figura 18: Entradas Financeiras em Moçambique ........................................................... 39 Figura 19: Pontos de Decisão Final de Investimento (FID) e Resultados Financeiros 50 Figura 20: Economias de Escala Associadas ao Projecto .............................................. 51 Figura 21: Ganhos Totais Líquidos do GdM em função do tamanho do Projecto ........ 57 Figura 22: Comparação da TIR da ENH e da Área 1 por Cenário ................................... 59 Figura 23: Riscos do Projecto e Prazos Associados ....................................................... 62 Figura 24: Saídas de Dinheiro e Riscos da Área 1 ........................................................... 62 Figura 25: Valor Actual Líquido (VAL) ajustado ao Risco ............................................... 63 Figura 26: Diagrama de Sankey de Moçambique ............................................................. 73 Figura 27: VDG da Área 1 e Consumo de Gás de Projecto ............................................. 80 Figura 28: Consumo Nacional de Energia em Economias de Gás Seleccionadas ....... 89 Figura 29: PIB real per Capita em Economias de Gás Seleccionadas ........................... 89 Figura 30: Crescimento do PIB real per Capita. Ano 2000=Base 100 ............................ 90 Figura 31: Crescimento do PIB Real. Ano 2000=Base 100 ............................................. 90 Figura 32: Quota de Mercado Bancário por Activos Totais ............................................ 93 Figura 33: Crescimento de Activos Totais por Banco Seleccionado ............................. 97 Figura 34: Impacto no PIB ................................................................................................. 112 Figura 35: Impacto de Cenários do Projecto sobre o PIB Total de Moçambique ....... 112 Figura 36: Emprego criado ............................................................................................... 113 Figura 37:Impacto Total do Emprego por Componente do Projecto ........................... 114 Figura 38: Fluxo circular de todas as transacções numa economia ............................ 137 Figura 39: Representação esquemática dos impactos directos, indirectos e induzidos ............................................................................................................................................. 139 Figura 40: Diagrama de Sankey de 2011: Omã ............................................................... 146 Figura 41: Diagrama de Sankey de 2006: Omã ............................................................... 147 Figura 42: Diagrama de Sankey de 2001: Omã ............................................................... 148 Figura 43: Diagrama de Sankey de 1996: Omã ............................................................... 149 Figura 44: Diagrama de Sankey de 2011: Qatar .............................................................. 150 Figura 45: Diagrama de Sankey de 2006: Qatar .............................................................. 151 Figura 46: Diagrama de Sankey de 2001: Qatar .............................................................. 152 Figura 47: Diagrama de Sankey de 1996: Qatar .............................................................. 153 Figura 48: Diagrama de Sankey de 2011: T&T ................................................................ 154 Figura 49: Diagrama de Sankey de 2006: T&T ................................................................ 155 Figura 50: Diagrama de Sankey de 2001: T&T ................................................................ 156 Figura 51: Diagrama de Sankey de 1996: T&T ................................................................ 157

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Credores do Projecto Mozal ................................................................................ 5 Tabela 2: CAPEX Projectado vs. Real das Instalações de Pande Temane e do Gasoduto (milhões de USD) ................................................................................................. 9 Tabela 3: Comparação entre um EPCC Genérico, os Termos da Lei e Pande-Temane 11 Tabela 4: Comparação entre os Regimes Fiscais Gerais para a Mineração e para o Petróleo (2007) ..................................................................................................................... 17 Tabela 5: Empréstimos da Kenmare (milhões de USD) ................................................... 23 Tabela 6: Tabela Resumo dos Megaprojectos .................................................................. 27 Tabela 7: Reservas Tecnica e Comercialmente Recuperáveis da Área 1 e da Área..... 30 Tabela 8: Estatísticas Seleccionadas ................................................................................ 38 Tabela 9: Custos do Projecto ............................................................................................. 52 Tabela 10: Dados Operacionais do Projecto ..................................................................... 54 Tabela 11: Dados Operacionais do Projecto: 2 trains...................................................... 54 Tabela 12: Dados Operacionais do Projecto: 6 trains...................................................... 55 Tabela 13: Alocações do Factor-R no Projecto ................................................................ 55 Tabela 14: Resumo dos Ganhos Fiscais do GdM com o Projecto ................................. 56 Tabela 15: Condições Fiscais da Venda Doméstica de Gás (VDG) ................................ 57 Tabela 16: Ganhos Fiscais de Moçambique com o Desenvolvimento de VDG ............. 57 Tabela 17: Fluxos de Caixa Líquidos e TIRs da ENH e da Área 1 em função do nº de Trains .................................................................................................................................... 58 Tabela 18: TIR da ENH e da Área 1 nos Cenários de Atraso na Construção de Trains 58 Tabela 19: Análise de Custos Total e Incremental ........................................................... 60 Tabela 20: Resumo das Receitas Fiscais do GdM provenientes do Projecto ............... 61 Tabela 21: Alocação de Benefícios à Área 1, ENH e GdM por número de Trains ......... 63 Tabela 22: CENÁRIOS DO PDG .......................................................................................... 77 Tabela 23: Resumo dos Megaprojectos Associados Nascidos a partir do Projecto .... 81 Tabela 24: Pressupostos de GTP ....................................................................................... 83 Tabela 25: Pressupostos do Gás para Fertilizante........................................................... 84 Tabela 26: Pressupostos do Gás para Metanol ................................................................ 85 Tabela 27: Pressupostos de GTL ....................................................................................... 86 Tabela 28: Pressupostos de Gasoduto ............................................................................. 87 Tabela 29: Consumo de Energia em Economias de Gás Seleccionadas. Petajoules . 88 Tabela 30: Selecção de Estatísticas de Crescimento Bancário em Moçambique. Milhões de USD .................................................................................................................... 92 Tabela 31: Selecção de Estatísticas de Crescimento Bancário no Qatar, Omã e T&T. Milhares de Milhões de USD ............................................................................................... 96 Tabela 32: Contribuições do Fluxo de Caixa para o Modelo Macroeconómico .......... 107 Tabela 33: Contribuições do Projecto do Mercado Interno de Gás para a Análise Macroeconómica ................................................................................................................ 108 Tabela 34: Pressupostos: Fábricas alternativas de Moçambique para os diferentes anos ..................................................................................................................................... 109 Tabela 35: Impacto Sectorial (mil milhões de USD, 2013) ............................................. 115 Tabela 36: Critérios de eficácia ........................................................................................ 116 Tabela 37: Impacto fiscal .................................................................................................. 118 Tabela 38: Indicadores socioeconómicos ....................................................................... 118 Tabela 39: Demografia de Moçambique .......................................................................... 119 Tabela 40: Projecções de procura final (2014 - 2035) .................................................... 121 Tabela 41: Impacto sobre o PIB e componentes de procura final ................................ 122 Tabela 42: Impacto Macroeconómico de 3 Anos de Adiamento sobre a Economia de Moçambique ....................................................................................................................... 123

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1 Sumário e Introdução

1.1 Sumário

Capítulo 1 – Faz um sumário e uma introdução do Relatório salientando o respectivo

âmbito e objectivos.

Capítulo 2 – Faz uma retrospectiva dos megaprojectos em Moçambique evidenciando os

seus impactos bem como as principais lições aprendidas. Salienta que o

Projecto é materialmente diferente dos megaprojectos anteriores em

praticamente todos os aspectos, comportando maiores benefícios e

implicando menos cedências por parte de Moçambique.

Capítulo 3 – Fornece um resumo dos últimos desenvolvimentos sobre Gás e Petróleo em

Moçambique, em particular na Bacia do Rovuma e sobre o Projecto em si.

Situa estes elementos no contexto global e Moçambicano e fornece um

resumo da bibliografia académica e legislativa sobre como gerir com

êxito as receitas de recursos, salientando as medidas chave ao nível

político para limitar eventuais impactos adversos.

Capítulo 4 – Apresenta a análise financeira dos fluxos de caixa associados a cada

cenário do Projecto. Demonstra que Moçambique beneficia grandemente

do Projecto, envolvendo um mínimo de capital inicial (apenas a ENH

com o POD de 2015) mas capturando a maior fatia dos retornos

financeiros, e que os lucros da Área 1 são modestos e situados dentro

de padrões globais

Capítulo 5 – Fornece uma análise das oportunidades comerciais que poderão surgir a

partir do Projecto. Centra-se em torno da indústria alimentada pelo gás

nacional e examina os requisitos de utilização de gás, custos associados e

tarifas necessárias para tornar esses projectos viáveis. Enfatiza que

Moçambique pode alavancar o Projecto para servir as suas próprias

metas de industrialização a um nível sem precedentes e com um

elevado impacto de desenvolvimento

Capítulo 6 – Detalha os impactos macroeconómicos com um foco específico nos

impactos de cada cenário no PIB e no emprego e que nascem directa e

indirectamente e de forma induzida como resultado do Projecto (e a venda

doméstica de gás associada). Também examina os impactos do sector e

expõe uma discussão detalhada sobre a extensão dos benefícios

disponíveis para Moçambique. Demonstra a vasta dimensão dos

impactos potenciais no PIB/ emprego/ investimentos relacionados,

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assumindo a construção de 6 trains, e exactamente quanto é que

Moçambique poderá receber

Capítulo 7 – Resume os pontos-chave dos capítulos anteriores e apresenta opções e

recomendações-chave para a elaboração de políticas

Capítulo 8 – Recomendações

Anexos - Matriz de Contabilidade Social

- Referências e Bibliografia

- Diagramas Sankey

- Contactos

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1.2 Introdução

Desde 2010 que as múltiplas descobertas de gás costeiro na Bacia do Rovuma no Norte de Moçambique projectaram o país como um potencial grande actor global nos hidrocarbonetos com um potencial específico para a exportação de GNL. Como tal, Moçambique provavelmente desempenhará um papel importante no fornecimento dos mercados globais e terá também a oportunidade de desenvolver a sua própria indústria doméstica de gás. Contudo, as descobertas, de forma isolada, não transformam um país. Tal alcança-se com o desenvolvimento estratégico e monetização os quais conferem a Moçambique o potencial para obter receitas fiscais significativas, desenvolver indústrias locais baseadas no gás e promover o desenvolvimento sócio-económico para o Povo de Moçambique.

Presentemente, nem Moçambique nem os seus vizinhos têm suficiente procura para fazer uso do gás descoberto, e como tal, Moçambique terá que exportar a maior parte do seu gás costeiro, na forma de GNL, muito provavelmente para mercados Asiáticos. Tal não significa que Moçambique não possa beneficiar grandemente do gás ou utilizá-lo para alcançar as suas metas de desenvolvimento através de parcerias com corporações petrolíferas internacionais. Este relatório examina os impactos económicos alargados decorrentes deste grande empreendimento, reconhecendo que existem benefícios enormes que poderão ser obtidos a partir do mesmo.

O objectivo geral deste relatório é aferir os ganhos à disposição para o Governo, empresas nacionais e para o povo de Moçambique. O mesmo salienta as oportunidades chave e apresenta uma discussão sobre várias opções de desenvolvimento que os políticos enfrentam, incluindo uma discussão sobre opções legislativas sem contudo dar conselhos rígidos. São também objectivos-chave deste relatório:

Compreender o Projecto no contexto dos anteriores megaprojectos em Moçambique, incluindo aqueles em que os benefícios oferecidos nem sempre se concretizaram (ou talvez não tenham sido compreendidos antes da execução do projecto);

Explorar os impactos directos do Projecto a um nível macroeconómico, envolvendo o desenvolvimento de múltiplos trains de GNL e o potencial associado da Venda Doméstica de Gás (VDG);

Demonstrar como é que os atrasos na implementação do projecto afectam a economia Moçambicana através de, entre outros aspectos, a inflação dos custos do Projecto e atrasos nos fluxos de recebimentos os quais por seu turno atrasam a independência fiscal de Moçambique bem como incrementos na prosperidade

Identificar sectores-chave que possam beneficiar da VDG e identificar as ligações downstream associadas e respectivos benefícios de desenvolvimento

Contribuir para o debate entre todos os interessados e partes afectadas em Moçambique sobre como é que o GNL poderá ser utilizado para promover o desenvolvimento de acordo com os objectivos do Governo e levar o país, num breve trecho, para um patamar de rendimentos-médios, à semelhança de antecessores no GNL tais como Omã, Qatar e Trinidad e Tobago (“T&T”)

Apresentar opções políticas disponíveis para o GdM, tendo em consideração a análise financeira e económica apresentada neste Relatório

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O Projecto ainda não assegurou financiamento, nem houve concordância entre a Área 1 e o GdM sobre algum referencial ou Regime Especial sob o qual o Projecto poderá operar. Além dos múltiplos riscos que o Projecto enfrenta, nós perspectivamos – dados os benefícios que este Relatório irá expor – que existe um risco de reputação substancial tanto para o GdM como para a Área 1 caso estes acordos não sejam alcançados de forma atempada e daí resulte um atraso indefinido e/ ou, no pior dos casos, o abandono do Projecto. Um tema recorrente deste Relatório é a necessidade de agir rapidamente de modo a assegurar os benefícios nele descritos, tendo em consideração as condições do mercado.

Este Relatório procura acrescentar valor ao debate político sobre o Projecto de uma forma que nenhum outro relatório ou comentário fez até à data por diversas razões:

1. O Standard Bank utiliza um modelo económico na forma de uma Matriz de Contabilidade Social (“SAM”) configurada de modo único para a economia Moçambicana, a qual nenhum estudo até à data fez acerca do Projecto. Frühauf (2014) afirma que o GdM não tem um modelo económico formal em si, enquanto que ILPI (2013) diz “haver uma escassez de estatísticas económicas para realizar uma análise macroeconómica”. Portanto o Relatório pretende trazer clareza à discussão em torno dos elementos económicos do Projecto

2. Como ingredientes deste modelo, o Standard Bank incluiu dados do Projecto e pressupostos obtidos directamente da Área 1, além de elementos fornecidos por outros líderes do sector nas áreas de energia alimentada a gás, fábricas de fertilizantes, gás-para-líquidos (“GTL”), gasodutos e petroquímicos (amplamente indicados para as condições de Moçambique). O Standard Bank entende que nenhum outro relatório fez isto

3. O Standard Bank faz uso da sua vasta experiência de funcionamento em Moçambique bem como do seu envolvimento directo em megaprojectos anteriores para extrair temas considerados de interesse na realização de uma avaliação comparativa do Projecto em relação a outros megaprojectos

4. Finalmente, o Standard Bank tem uma elevada compreensão dos desafios de desenvolvimento que Moçambique enfrenta e mantém contactos com especialistas em desenvolvimento internacionais sobre estes assuntos no contexto da preparação do Relatório, incluindo o debate dos efeitos e percepções relacionadas com os megaprojectos anteriores

Visto ser o maior banco de África e uma das maiores operações em Moçambique, o Standard Bank sente ser importante comentar sobre o que actualmente é o maior projecto na história de África e também da história de Moçambique. O Standard Bank confirma não ter qualquer participação directa no capital ou interesse financeiro directo no Projecto (para além dos honorários cobrados pela elaboração do Relatório). Este Relatório é motivado pelo interesse do Standard Bank no crescimento e prosperidade da Economia Moçambicana na qualidade de seu participante de longa data, em nome de todos os Moçambicanos, tanto actuais como futuros.

Na elaboração deste Relatório nós deparámo-nos com a analogia sobre as oportunidades de vida que uma criança Moçambicana nascida em 2015 (o ano da FID) terá em comparação com uma outra nascida em 1975. Todo o período escolar da criança poderá gradualmente tornar-se mais sofisticado devido aos benefícios das receitas do GNL – o ensino primário e secundário serão melhor financiados; a sua família terá acesso a melhores serviços e infra-estruturas sociais; caso tenha nascido pobre (caso de muitos Moçambicanos), o rendimento mínimo poderá dar uma segurança básica à família. À medida que a criança cresça, a economia Moçambicana tornar-se-á mais profunda e mais diversificada, oferecendo melhores oportunidades de trabalho e opções de carreira aos

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membros da família. Por último, até 2035 (o último ano de análise deste Relatório), esperamos que Moçambique tenha expandido em grande medida o seu actual sistema de educação terciária (financiado pelo GNL/ gás doméstico) de modo a que a criança possa ter melhores opções de educação superior em Moçambique, talvez concentrando-se em cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática e assim contribuir ainda mais para o desenvolvimento do País. A criança poderá ainda sonhar em ser um beneficiário de um programa de envio de Moçambicanos para especializações no estrangeiro, financiado pelo Governo Moçambicano. A criança descobrirá que até 2035 as infra-estruturas terão progredido ao longo dos anos até um nível no qual se torne eficiente atravessar este belo país. Acreditamos que esta analogia é uma visão válida para este Relatório.

Para finalizar, este Relatório não pretende fazer qualquer análise ou comentário sobre:

Estimativas de Recursos – No Standard Bank não somos geólogos nem Engenheiros Petrolíferos. Para efeitos deste Relatório, assume-se que no máximo se produzem 45 Tcf na Área 1 até 2045 para 6 trains de GNL, e a VDG associada feita numa base isolada, bastante dentro dos valores publicados pela APC de 50 a 70 Tcf. Importa clarificar que a Área 1 deseja desenvolver e produzir mais de 45 Tcf assumindo a existência de suficiente procura

Preços actuais ou futuros de GNL. O Relatório assume simplesmente um preço fixo de 12 USD por MMBTU FOB (Free on Board) durante a vida do Projecto (até 2044 – o final do período de Desenvolvimento e Produção, de 30 anos).

GNL Flutuante (GNLF) – O Relatório analisou 6 trains na costa e não considera nem comenta activamente a hipótese de GNLF, apesar do Standard Bank notar que a Área 1 não exclui a possibilidade de utilizar GNLF como uma opção de desenvolvimento

Esboço de Plano Director do Gás – este documento foi desenvolvido por outras organizações e o esboço de Sumário Executivo foi revisto pelo Standard Bank (apesar de ainda não ter sido vista a versão final). O Relatório é uma análise macroeconómica em nome da Área 1 a qual apesar de abordar projectos domésticos de gás, não procura servir de Plano Director de Gás.

O financiamento dos compromissos da ENH com o Projecto

Quaisquer outras opções de Moçambique relativamente a decisões futuras sobre projectos de energia e infra-estruturas que poderão ser afectadas pelo Relatório

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2 Revisão dos Megaprojectos em Moçambique

Este capítulo faz uma revisão dos principais megaprojectos na história de Moçambique, nomeadamente:

Mozal - Fundição de Alumínio;

Sasol - Cadeia de Valor de Gás Pande Temane / ROMPCO;

Vale - Operação de Carvão de Moatize; e

Kenmare - Mina de Titânio em Moma, Nampula

Na sequência desta análise são delineadas implicações-chave para o Projecto.

2.1 Mozal - Fundição de Alumínio

2.1.1 Contexto

A Mozal é um projecto conjunto de fundição de alumínio no Parque Industrial de Beluluane, Maputo, Moçambique. O projecto consiste numa fundição, que iniciou as suas actividades como produtora de alumínio exclusivamente para exportação. A fundição está localizada a 20 quilómetros a Oeste da cidade de Maputo, no Sul do país.

Figura 1: Fotografias e Localização da Fundição e do Porto da Mozal

Fonte: Mozal

O projecto iniciou a sua vida em 1998 como parte de um programa de recuperação liderado pelo desejo activo do Governo de Moçambique de obter Investimento Directo Estrangeiro (IDE), para ajudar a reconstruir o País após a guerra civil que terminou no início da década de 90. A fundição Mozal foi inaugurada oficialmente em Setembro de 2000 e foi o primeiro grande investimento estrangeiro em Moçambique. Originalmente programada para uma capacidade de 250 ktpa (250 mil toneladas por ano), a Mozal foi expandida (Mozal II) em 2003-04, e é actualmente a maior produtora de alumínio em Moçambique e a segunda maior em África, com uma produção anual total de cerca de 580.000 toneladas. No diagrama abaixo apresenta-se um resumo da cadeia de valor do alumínio, incluindo o posicionamento da Mozal.

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Figura 2: A Mozal e a Cadeia de Valor do Alumínio

Fonte: Mitsubishi

Corporation

Em Fevereiro de 2013 a Mozal assinou um acordo para fornecer 50.000 toneladas de alumínio à Midal, uma das maiores fabricantes mundiais de cabos de alumínio. A Midal está a instalar uma fábrica em Moçambique e usará lingotes de alumínio produzidos na fundição Mozal como matéria-prima. Esta é a primeira vez que o alumínio produzido pela Mozal será usado em Moçambique.

2.1.2 Participações Sociais e Empréstimos

A Mozal é um joint venture entre a BHP Billiton (47,1%), a Mitsubishi Corp. (25%), a Industrial Development Corp. of South Africa (24%) e o Governo de Moçambique (3,9%). O financiamento total (histórico) é de aproximadamente 2 mil milhões de USD, dos quais 1,1 mil milhões de USD representam financiamento de projecto non recourse, sindicado a nível internacional (ver tabela abaixo).

Tabela 1: Credores do Projecto Mozal

Credores Total Geral (milhões de USD)

Credor apoiado pelo MOZFUND CGIC/SAECA 445,3

Credores COFACE (agente BNP Paribas) 189,3

International Finance Corporation (IFC) 113,9

Development Bank of Southern Africa (DBSA) 82,5

Japan Bank for International Cooperation (JBIC) 60,2

Commonwealth Development Corporation (CDC) 52,1

BEI 32,9

Deutche Investitions und Entwickluingsgesellschaft (DEG)

30,7

PROPARCO 29,6

Export Development Corporation (EDC) 24,1

Total Geral 1060,6

Fonte: Mozal

Recursos Refinação de Alumina, Fundição de Alumínio Processamento, Logística e Vendas Gerar Procura Final

Mineração e

desenvolvime

nto de bauxita

Investimento

Refinarias de alumina

Alumina

Fundições de alumínio

Alumínio

Mozal e outros

Investimento

Investimento

Logística

Comercialização

Investimento

Produtores de

alumínio

reciclado

Produtores de

peças

Produtores de

rolos de

alumínio

Outros

Comercialização

Investimento

Logística

Produtores de automóveis

Produtores de latas

Produtores de materiais de

construção

Produtores de

electrodomésticos

Produtores de maquinaria

Construção naval

Restos metálicos

Fundos Financiamento

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2.1.3 Principais Condições Contratuais

O Decreto Nº. 45/97 criou legalmente a Zona Franca Industrial da Mozal (ZFIM), que cobre uma área de 138 ha, além dos 6,8 ha no Porto de Maputo. A ZFIM cria Regimes Especiais aduaneiros, fiscais, cambiais e relativos a questões de contratação de expatriados para um período fiscal de 50 anos, renovável. As principais características da ZFIM são apresentadas nas secções seguintes. De modo geral, os benefícios concedidos pelo GdM à Mozal são únicos em termos de escala e enquadramento. Por exemplo, não ser cobrado imposto sobre rendimentos durante 50 anos. Tais benefícios não são concedidos relativamente ao Projecto ou em relação ao EPCC. Este ponto é abordado no Capítulo 4.

Sobre os preços da Mozal, um relatório da Harvard Business School observa o seguinte: “Os patrocinadores concordaram em definir o preço da alumina em função do preço do alumínio na London Metal Exchange (LME), criando assim uma cobertura natural para o projecto. Quando os preços do output eram altos, os preços dos input seriam altos, e vice-versa”. Note-se que esta estrutura não foi replicada nos projectos da Sasol (por exemplo, a fixação do preço do gás de Moçambique em função dos preços do gás Sul-Africano), que são discutidos na próxima secção.

2.1.3.1 Regime Aduaneiro

O regime especial aduaneiro inclui os seguintes elementos:

Todos os bens utilizados na construção de infra-estruturas e na operação da Mozal

entram no país ao abrigo do regime de trânsito aduaneiro;

As importações da Mozal de máquinas, ferramentas, acessórios, peças, materiais e

matérias-primas, a serem utilizadas na construção e operação do projecto estão

isentas de quaisquer direitos aduaneiros e não carecem de inspecção pré-

embarque;

A Mozal poderá manter permanentemente 30 veículos ligeiros de serviço e de

representação isentos de quaisquer direitos aduaneiros;

Os bens produzidos pela Mozal são isentos de direitos de exportação

2.1.3.2 Regime Fiscal

O regime fiscal especial inclui os seguintes recursos:

A partir do início do seu segundo ano de operação a Mozal tem que pagar 1% da

sua receita bruta, numa base trimestral;

A Mozal é isenta de imposto sobre rendimentos (de realçar à luz de padrões

internacionais);

Os seus expatriados estarão isentos de imposto sobre rendimentos durante os

trabalhos preliminares e o período de construção; e beneficiam de uma redução de

40% desse imposto nos primeiros cinco anos após o início efectivo das operações

de fundição;

A Mozal tem direito a recuperar o custo de melhorias ou de construção de infra-

estruturas públicas existentes ou novas, até ao valor de 15 milhões de USD,

durante um período de oito anos;

Os fornecedores estrangeiros da Mozal estão isentos da retenção na fonte de 15%

em actividades relacionadas especificamente com a Mozal;

A Mozal está isenta de pagar imposto de selo pela sua constituição legal, bem como

pela constituição de hipotecas e de outras garantias;

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Todos os contratados e subcontratados da Mozal têm direito aos benefícios

descritos acima, excepção feita para os benefícios relativos a imposto sobre

rendimentos, durante o período de construção, até ao início das operações.

2.1.4 Regime Cambial

O regime cambial especial inclui os seguintes elementos:

A Mozal tem o direito de reter até 100% das suas receitas de exportação em moeda

livremente conversível;

A Mozal pode gerir livremente as suas contas bancárias em moeda estrangeira no

estrangeiro, para realizar transacções tais como o recebimento de receitas de

vendas, recebimento de créditos de seguros e pagamento de taxas de seguros,

recebimento de contribuições para o capital social, recebimento de empréstimos e

serviço de dívida no estrangeiro, outros pagamentos relacionados com despesas

em investimentos operacionais; e pagamento de dividendos;

A Mozal também pode transferir livremente moeda estrangeira no sistema bancário

nacional;

Os investidores estrangeiros na ZFIM têm direito a receber e declarar no

estrangeiro, em moeda estrangeira, até 100% dos seus dividendos.

No entanto, este elemento é relativamente comum em projectos de exportação em

mercados emergentes.

2.1.5 Regime de Contratação de Expatriados

O regime especial de contratação de expatriados inclui os seguintes elementos:

Durante o período de construção a Mozal está autorizada a contratar pessoal

estrangeiro especializado, de acordo com as suas necessidades;

Durante o período de construção, o número de horas de trabalho realizadas por

estrangeiros não deverá exceder 50% do total de horas de trabalho contratadas;

Durante os primeiros cinco anos de operação a Mozal tem direito a contratar até

15% de trabalhadores estrangeiros.

2.1.6 Impactos

À data da sua implementação o megaprojecto da Mozal tinha quase a mesma dimensão do PIB de Moçambique (cerca de 2 mil milhões de USD). Em 2003 foi efectuada uma avaliação do impacto actual e projectado da Mozal por uma equipa de economistas independentes, Castelo-Branco e Goldin. As principais conclusões sobre este projecto incluíam, à data:

Crescimento do PIB: uma quota de 3,2% no PIB e um ainda maior impacto directo

na indústria transformadora: 49% da produção bruta; 29% do Valor Acrescentado

Industrial; e quase dois terços das exportações de produtos industriais;

Comércio externo: um impacto líquido positivo muito significativo sobre o comércio

externo, de até 400 milhões de USD ao ano num estado estacionário, o que,

mantendo-se os restantes aspectos constantes, reduz o défice comercial de

Moçambique em até um terço;

Balança de Pagamentos: um impacto líquido positivo importante sobre a balança

total de pagamentos (cerca de 100 milhões de USD ao ano no estado estacionário),

embora muito menor do que sobre a balança comercial (devido aos custos de

investimento estrangeiro);

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Emprego: após estar totalmente operacional, a Mozal gerou cerca de 1.000 postos

de trabalho permanentes para Moçambicanos e cerca de 6.000 empregos directos

temporários, que foram gerados durante a construção. Além dos empregos directos

gerados, um grande número de postos de trabalho foram criados indirectamente,

dentro e fora das instalações, através de subcontratações e de mais 200 empregos

permanentes e 200 temporários no Mozal Community Development Trust;

Formação: Mais de 8.000 pessoas foram formadas em 37 especialidades, nas

seguintes categorias: engenheiros civis, electricidade, instrumentação, tubulação,

colocação de tijolos refractários, e aço estrutural. A formação foi realizada no

Instituto da Machava, em parceria com o Instituto Nacional de Emprego e Formação

Profissional (INEFP), com base em padrões da indústria Sul-Africana;

Efeito de demonstração: Na época os gestores de outros grandes projectos

mencionaram que a experiência da Mozal os tornou mais confiantes nas

possibilidades de sucesso de alguns tipos de investimento de grande dimensão, em

Moçambique. O facto de que a Mozal foi seguida por outros megaprojectos sugere

que teve um efeito de demonstração positivo;

Impacto insignificante sobre a receita pública (0,5% contra 3,2% da contribuição

da Mozal para o PIB, à data). Devido às disposições do estatuto de zona franca

industrial e do IPA, a Mozal beneficia de incentivos fiscais significativos. Em

resultado, a contribuição da Mozal para a receita pública, no estado estacionário, é

de apenas cerca de 0,5% da receita pública total. Este valor compara-se

desfavoravelmente com a contribuição da Mozal para o PIB (3,2% no estado

estacionário antes da Mozal 2).

O estudo também afirma que para a Mozal ajudar a induzir o crescimento em toda a economia teriam de ser cumpridas três condições: (1) Gerar mais dos escassos recursos que utiliza, em especial, moeda estrangeira e poupanças; (2) desenvolver as capacidades empresariais e redes de fornecedores nacionais, e possivelmente consumidores industriais de alumínio; e (3) para a economia ter uma estratégia para desenvolver significativamente a sua capacidade de absorção.

2.2 Cadeia de Valor de Gás da Sasol

2.2.1 Contexto

Os campos de gás de Pande e Temane, na província de Inhambane, operados pela empresa Sul-Africana de energia Sasol constituem actualmente o único projecto de gás natural a operar em Moçambique. As actividades abrangidas por este projecto incluem a exploração e desenvolvimento de campos de gás, a instalação de uma unidade de processamento central (UPC) em Temane, e a construção de um gasoduto transfronteiriço de 865 quilómetros (km) entre Temane, em Moçambique, e Secunda, na África do Sul. O projecto também implica a conversão da rede Sasol na África do Sul, a conversão da fábrica Sasolburg de forma a processar o gás como matéria-prima de hidrocarbonetos, e a conversão fábrica da Sasol de Secunda para processar o gás como matéria-prima adicional. Em suma, a Cadeia de Valor de Gás da Sasol é um empreendimento transfronteiriço complexo.

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Figura 3: Mapa do Projecto de Gás Natural da Sasol

Fonte: Sasol

O projecto foi formalmente aprovado em Setembro de 2001 e a construção começou em Julho de 2002. Foi concluído na data prevista, embora com custos extraordinários significativos (cerca de 66% a mais do que o orçamento original de 800 milhões de USD).

Tabela 2: CAPEX Projectado vs. Real das Instalações de Pande Temane e do Gasoduto (milhões de USD)

Projectado Real % Derrapagem

Custos a Montante 317 446,5 40%

Custos do Gasoduto

404 753,5 87%

Total 721 1.200 66%

Fonte: CIP, 2013 Em Fevereiro de 2004 começou a fluir gás dos campos na província de Inhambane para a central da Sasol em Secunda, na África do Sul. Desde então o projecto da Sasol tem operado conforme planeado e tem sido um sucesso a nível técnico.

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Figura 4: Produção de Gás Natural e de Condensado em Pande e Temane

Fonte: CIP

Em 2007 a Sasol propôs uma expansão do projecto de Pande e Temane, aumentando a capacidade de produção da central de processamento em 50%, dos originais 120 MGJ/ano para 183 MGJ/ano. A proposta foi aprovada em 2009 e o aumento da produção começou a entrar em operação em Maio de 2012. De acordo com o CIP, o custo total do projecto da segunda fase foi de 307 milhões de USD.

2.2.2 Estrutura Accionista

Os campos de gás de Pande e Temane e a UPC são propriedade de uma joint venture não registada. A estrutura accionista é ilustrada na figura a seguir.

Figura 5: Estrutura Proprietária de Pande e Temane

Campos de Gás e Unidade de Processamento Central de Gás

Fonte: CIP

A Sasol Petroleum Pande (SPT), uma subsidiária Moçambicana da Sasol Petroleum International da África do Sul, é dona de 70% dos campos de gás e da unidade de processamento central. De acordo com o CIP, a ENH tinha direito a uma participação de 30%. Como parte do acordo de financiamento, 5% foram transferidos para a Corporação Financeira Internacional (IFC). A participação da ENH é mantida pela subsidiária Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH), que foi criada especialmente para

Campos de gás (Pande e Temane) e Central de Processamento

Companhia Moçambicana de

Hidrocarbonetos (CMH)

25%

International Finance

Corporation

5%

Sasol Petroleum Pande

(Registada em Moçambique)

70%

Sasol Petroleum Pande

(África do Sul)

100%

Governo de

Moçambique

20%

Empresa Nacional de

Hidrocarbonetos (ENH)

70%

Investidores

Privados

10%

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realizar operações comerciais para Pande-Temane. A CMH era originalmente propriedade em 80% da ENH e 20% do Governo Moçambicano. Em 2008 foi disponibilizada uma participação de 10% a indivíduos e empresas Moçambicanas, resultando numa divisão actual de 70% para a ENH, 20% para o Governo e 10% para accionistas individuais.

2.2.3 Principais Condições Contratuais

Esta secção descreve os termos do projecto Pande-Temane em duas secções: a primeira diz respeito ao campo de gás e à central de processamento; e a segunda ao gasoduto.

2.2.3.1 Termos Relativos ao Campo de Gás e à Central de Processamento

Os termos do projecto de Pande-Temane não estão disponíveis para o público. A tabela seguinte, baseada num relatório do FMI de 2007, fornece uma comparação de termos entre um EPCC genérico, o que é afirmado na Lei do Petróleo e o projecto de Pande-Temane.

Tabela 3: Comparação entre um EPCC Genérico, os Termos da Lei e Pande-Temane

Regime Fiscal EPCC

Genérico Termos da

Lei Pande-Temane

IPP do petróleo 8% 10% 8%

IPP do gás natural 5% 6% 5%

Bónus de produção

Início da produção comercial (USD) 200.000 200.000 200.000

Quando a produção atingir uma média de 25.000 barris por dia (bpd), por mês (USD)

200.000 200.000 200.000

Quando a produção atingir uma parcela adicional de 25.000 bpd (USD)

200.000 200.000 200.000

Cláusula de desmantelamento Sim Sim Não

Limite de Petróleo para a recuperação de custos

65% -75% 65% -75% 65%

Imposto sobre rendimentos e reintegração / depreciação da recuperação de custos

Despesas com prospecção 100% 100% 100%

Despesas de capital com o desenvolvimento e produção

25% 25% 25%

Despesas operacionais 100% 100% 100%

Opção de adiar a reintegração e depreciação Sim Sim Sim

Partilha de produção

Dedução do imposto sobre rendimento com base no factor-R, passivo teórico ou efectivo

Efectivo Efectivo Teórico

1ª banda da participação (R-Factor <1) da ENH (GdM)

10%-15% 10%-15% 5%

2ª banda da participação (R-Factor <2) da ENH (GdM)

20%-25% 20%-25% 10%

3ª banda da participação (R-Factor <3) da ENH (GdM)

30%-50% 30%-50% 20%

4ª banda da participação (R-Factor <4) da ENH (GdM)

40%-60% 40%-60% 30%

5ª banda da participação (R-Factor <5) da ENH (GdM)

50% -70% 50% -70% 35%

Participação do estado (financiado durante a prospecção)

10% 10% 0%

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Regime Fiscal EPCC

Genérico Termos da

Lei Pande-Temane

Perímetro de Consolidação da recuperação de custos e imposto sobre rendimentos na área circundante

Sim Sim Sim

IRPC 32% 32% 35%

Declaração de prejuízos 6 anos 6 anos 8 anos

Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA)

Sobre Importações Isento Isento Isento

Sobre Exportações de Petróleo Isento Isento 0%

Direitos aduaneiros

Direitos sobre bens importados para uso na produção de Petróleo

Isento Isento Isento

Impostos sobre exportações de bens acima mencionados

Isento Isento Isento

Impostos sobre exportações de petróleo produzidas em Moçambique

Isento Isento Isento

Taxa de Retenção na Fonte

Sobre receitas dos subcontratados estrangeiros

10% 10% 5%

Sobre dividendos 20% 20% Isento

Sobre juros 20% 20% 20%

Fonte: Estimativas do FMI, 2007

Os termos do projecto de Pande-Temane incluem os seguintes aspectos:

IPP do gás natural: O Imposto sobre a Produção de Petróleo é de 5% do preço de venda de gás natural, após dedução dos custos de extracção, transporte e de processamento incorridos pelos produtores. O valor é medido no flange de entrada do gasoduto Moçambique-África do Sul. Os pagamentos de IPP são divididos entre os três proprietários, de acordo com a sua percentagem de participação;

Cláusula de desmantelamento: o projecto Pande-Temane não prevê um fundo de desmantelamento;

Factor-R: O PPA também considera uma quota de produção, com um limite de custo para o petróleo e, posteriormente, de acordo com uma escala Factor-R, partilha-se o lucro restante obtido a partir do petróleo, mas sem contribuição para o GdM. O Factor-R é menor para Pande-Temane do que para o EPCC genérico e o caso na lei;

Capital social: A percentagem de 30% da CMH é muito maior do que a obtida em EPCCs subsequentes. Foram incluídos outros direitos adicionais, tais como o direito de usar o gás do campo de Pande para um projecto de energia, antes da produção comercial arrancar totalmente em Pande, bem como o direito do GdM/ENH de transportar e processar livremente parte do gás recebido como pagamento em espécie do imposto de produção;

Custos de prospecção: A CMH não foi obrigada a pagar uma parte proporcional dos custos de prospecção incorridos pela Sasol. Esta última também se comprometeu a conceder um empréstimo à CMH para “produção e

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desenvolvimento”, de forma a ajudar a financiar a sua participação, caso fosse necessário (tal opção não foi utilizada). A CMH também tinha o direito de não participar inicialmente na unidade de processamento, mas manteve a opção de decidir sobre tal participação por um período de sete anos a contar da data de assinatura do contrato, mediante o pagamento de custos anteriores, acrescido de juros;

Imposto sobre rendimentos: o imposto sobre rendimentos pago pela SPT é de 17,5% durante 6 anos, a contar do início da produção comercial, e 35% após este período (ou o imposto geralmente aplicável à data). Embora a CMH seja maioritariamente propriedade do Governo, a mesma paga imposto sobre rendimentos colectivos como qualquer outra empresa, de acordo com os mesmos termos que a SPT. O IFC é uma organização internacional detida pelos seus estados membros e subsequentemente não paga imposto sobre rendimentos;

IVA: O IVA é aplicado às exportações de petróleo ao valor de zero. O PPA não contém nenhum mecanismo de partilha de produção ou de receita e não existe um mecanismo ou cláusula para um fundo de desmantelamento;

Imposto de retenção na fonte: Existe isenção de qualquer obrigação de retenção na fonte sobre o pagamento de dividendos e uma taxa inferior para o pagamento de subcontratados estrangeiros.

2.2.3.2 Acordos Relativos ao Gasoduto

O contrato do gasoduto de Pande-Temane foi celebrado antes do Código dos Benefícios Fiscais de 2002, e contém as mesmas isenções de EPCC. O contrato de transporte de gás estabelece uma tarifa fixa por GJ transportado, indexada a ZAR. As receitas e os custos são alocados às secções de Moçambique e África do Sul, com base numa fórmula vinculada a distância linear.

O contrato considera os direitos de acesso aos gasodutos por parte de terceiros para transporte de gás ao abrigo de condições comerciais razoáveis, mas a ROMPCO não é obrigada a fornecer acesso caso existam limitações de capacidade (se os contratos de gás existentes forem considerados) ou se o pedido acontecer nos primeiros 10 anos de operação e o gás de terceiros for para consumo Sul-Africano. Se o Governo Sul-Africano determinar o acesso a terceiros durante o período de 10 anos, a ROMPCO também o fará em Moçambique. O imposto sobre rendimentos colectivos sobre os ganhos que a ROMPCO receba a partir do gasoduto é colectado da seguinte forma:

Durante os primeiros 10 anos de operação é 27%, sendo que posteriormente

aumenta para 35% ou para o imposto aplicável à data;

As despesas de capital realizadas no âmbito do gasoduto permitem uma provisão

de investimento de 25% das despesas, para que o montante disponível para

depreciação seja 125% das despesas de capital incorridas (que é aplicável às

despesas de capital iniciais e para as realizadas durante os primeiros 10 anos de

operação);

A reintegração e depreciação são contabilizadas utilizando o método linear, por um

período de 10 anos;

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Poderão ser comunicados prejuízos por um período de 10 anos a partir da data de

início do arranque normal das operações comerciais do gasoduto, e durante mais

dois anos se a ROMPCO não declarar qualquer lucro nos primeiros 10 anos;

A única retenção de imposto sobre rendimento colectivo é um imposto tributário de

5% aplicado aos subcontratados estrangeiros. Os dividendos e pagamentos de

juros a não-residentes estão isentos.

2.2.1 Impactos

Os impactos do projecto Pande-Temane são assunto de grande debate. A figura a seguir compara as receitas do GdM projectadas face aos valores reais, de acordo com uma análise do CIP.

Figura 6: Receitas: Projectadas e Reais

Fonte: CIP

O CIP (2013) argumenta que, entre 2004 e 2012, as receitas para o GdM não excederam 37,3 milhões de USD, de acordo com a figura acima, uma pequena fracção das previsões do FMI e do MIREM (Ministério dos Recursos Minerais). Existiram três razões principais, conforme afirma o CIP, por trás do baixo desempenho: a remoção das disposições do tipo PSA para as áreas produtoras de gás de Pande-Temane; a fórmula de definição do preço para determinar o preço de venda do gás; e derrapagens significativas nos custos de capital.

Outro aspecto salientado pelo CIP foi, na sua opinião, o claro conflito de interesses a respeito da transacção: “Essencialmente, os contratos de Pande-Temane definem os termos para a venda de gás natural por parte da Sasol Petroleum Temane (a subsidiária moçambicana) à Sasol Petroleum International (a proprietária sul-africana da Sasol Petroleum Temane). Para o CIP a solução para este conflito claro de interesses era a CMH negociar em nome do “vendedor”, com a Sasol a negociar apenas como compradora. A assistência técnica externa não pareceu ajudar na questão. Os especialistas do Banco Mundial “examinaram se existiam quaisquer obrigações do GdM que fossem particularmente onerosas ou se existia algum desequilíbrio fundamental em qualquer um dos documentos dos quais o GdM é parte integrante. Concluiu-se que tal não era o caso”.”

De acordo com o CIP, “a Sasol não nega que exista uma diferença impressionante entre o preço de venda de gás em Moçambique (o preço sobre o qual o IPP é calculado) e o preço de venda do mesmo gás na África do Sul. Também não negam que esta grande diferença de preço irá permanecer em vigor após o tecto para os preços em Moçambique for

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levantada em 2014, devido aos enormes aumentos no preço de venda do gás de Moçambique na África do Sul, recentemente aprovados pelo National Energy Regulator of South Africa (NERSA). Além disso, o CIP defende que “o Governo recebeu receitas marginais de IPP sobre o gás em dinheiro ao longo dos primeiros dez anos do projecto devido a uma fórmula de definição do preço injusta” e que “a preocupação com a fórmula de definição do preço desvantajosa para o cálculo dos pagamentos do IPP em dinheiro é não só do CIP, mas também do FMI e de um estudo de 2009 realizado para o Ministério da Energia. O FMI adverte explicitamente que o Governo de Moçambique não deverá cometer o mesmo erro que foi cometido em Pande-Temane nas fórmulas de preços para o cálculo dos pagamentos de IPP em contratos para a Bacia do Rovuma.” Continua com a afirmação que “o estudo para o Ministério da Energia observa que a fórmula para o cálculo dos preços para efeitos do IPP é “muito estranha”, indica que o Governo “não está a extrair o valor total de mercado do IPP e está a deixar todos os benefícios do negócio mundial do petróleo para os produtores”, e sugere que o Governo mude a fórmula em contratos subsequentes. E conclui com a seguinte afirmação: “É amplamente aceite que a imposição de um IPP seja prover o Governo com uma receita inicial modesta obtida a partir de projectos do sector extractivo de capital intensivo que não poderão pagar impostos significativos com base em lucros nos primeiros anos. A fórmula de definição de preço nos contratos da Sasol garante que estes pagamentos são apenas uma fracção do valor real de 5% do gás produzido.” A Sasol respondeu à publicação do CIP indicando que se deu origem à criação de uma indústria nacional de gás como resultado de, desde o início do projecto, 50% de royalties serem pagos em espécie. A Sasol afirmou ainda que mais de 600 milhões de USD já foram pagos através de contribuições directas ao GdM. O Standard Bank não emite qualquer opinião sobre qualquer um dos factos controversos descritos acima, mas sejam quais forem os benefícios, continua a existir uma percepção dentro de Moçambique que alguns megaprojectos, embora benéficos para Moçambique, não têm sido tão benéficos quanto possível.

2.3 Operação de Mineração de Carvão da Vale (Moatize)

2.3.1 Contexto

A Vale foi fundada no Brasil em 1942 como uma empresa estatal. Desde então tornou-se uma das três maiores empresas de mineração do mundo, com uma capitalização de mercado de cerca de 70 mil milhões, a operar em 13 estados brasileiros e em vários continentes. Tem mais de 100.000 trabalhadores (funcionários e subcontratados) e está presente na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Nova Iorque (NYSE), Madrid (Latibel) e Hong Kong (China). A Vale entrou Moçambique em 2004, quando ganhou o concurso internacional para a concessão das minas de Moatize, lançado pelo GdM. Em Junho de 2007 o Governo assinou um contrato com a Vale para a exploração de carvão em Moatize, um distrito da província de Tete (norte de Moçambique). As reservas comprovadas e prováveis, de carvão metalúrgico e térmico, em Moatize somam cerca de 420 e 530 milhões de toneladas, respectivamente. O megaprojecto de Moatize recorre a uma tecnologia de mina a céu aberto e deve atingir a exaustão em 2046. Esta secção do relatório concentra-se

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exclusivamente na Vale, e não nas operações da Rio Tinto ou da Jindal, devido a informações limitadas.

Figura 7: Imagem da Operação de Mineração de Carvão da Vale em Moatize, Tete

O megaprojecto da Vale é dividido em três componentes: Moatize I: esta foi a primeira fase de investimento. As operações começaram em Agosto de 2011, com uma capacidade total de 11 Mt por ano (8,5 milhões de toneladas de carvão de coque, principalmente carvão metalúrgico de elevada qualidade e 2,5 Mt de carvão térmico) e deverá atingir plena capacidade em 2015. As despesas de capital totais de Moatize I somam 1,9 mil milhões de USD. A produção de carvão está a ser transportada pela ferrovia da Linha do Sena para o Porto da Beira. Estão em curso melhorias da linha férrea para aumentar a capacidade de transporte. Aproximadamente 7.000 a 8.000 funcionários encontram-se dedicados à fase I, dos quais mais de 85% são Moçambicanos. Moatize II: é a expansão do projecto da mina de carvão de Moatize, aprovado pela Conselho de Administração em 2011. O arranque está previsto para o segundo semestre de 2014. O projecto aumentará a capacidade total de Moatize para 22 Mt por ano, 15,4 Mt de carvão de coque e 6,6 Mt de carvão térmico. As despesas de capital totais de Moatize II somam 2,1 mil milhões de USD. A empresa afirmou que poderá aumentar o número de funcionários para 15.000 na segunda fase. Corredor de Nacala: este componente do megaprojecto da Vale visa a criação de uma nova infra-estrutura ferroviária e portuária, que liga as instalações de Moatize ao terminal marítimo de Nacala-a-Velha, localizado em Nacala, Moçambique. Esta componente deverá estar pronta até ao final deste ano. Tem uma capacidade estimada de 18 Mt por ano e o investimento de capital total está estimado em 4,4 mil milhões de USD à data de 30 de Setembro de 2012. Engloba a recuperação de 682 km de ferrovia existente no Maláui e Moçambique; a construção de um terminal marítimo; e 230 km de novas ferrovias, compostas por um troço de 201 km que liga Moatize a Nkaya, Maláui, e 29 km que ligam a ferrovia a Nacala-a-Velha. Desta forma, somando os três elementos em conjunto, as despesas de capital acumuladas somam 8.4 mil milhões de USD, um valor altamente significativo no actual contexto do PIB de Moçambique, de aproximadamente 15 mil milhões de USD.

2.3.2 Accionistas e Fontes de Financiamento

A Vale Moçambique é detida em 95% pela Vale, S.A. (dos quais 10% estão reservados para investidores nacionais), 5% pelo GdM, através da sua empresa para o sector da mineração, a EMEM (sigla para Empresa Moçambicana de Exploração Mineira).

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Figura 8: Estrutura Accionista do Megaprojecto de Moatize

Fonte: Standard Bank

Os principais financiadores da Vale em Moçambique são o IDC, a IFC e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

2.3.3 Principais Condições Contratuais

2.3.3.1 Regime Fiscal Geral

De acordo com uma publicação do CIP em 2013, as taxas de imposto para a indústria extractiva são baseadas actualmente em duas leis de 2007, a Nº. 11/2007 para a mineração e a Nº. 12/2007 para o petróleo. A mineração é tributada sobre a produção e sobre a área de superfície da concessão, enquanto que o petróleo é tributado apenas sobre a produção.

A legislação de 2007 aumentou o IPP sobre o gás de 5% para 8%, e para o petróleo de 6% para 10%. A legislação anterior concedia benefícios fiscais para a produção em águas profundas, mas a mesmo foi revogada em 2007, portanto, todo o gás é tributado da mesma forma. O actual regime fiscal consta na tabela abaixo.

Tabela 4: Comparação entre os Regimes Fiscais Gerais para a Mineração e para o Petróleo (2007)

Impostos Mineração Petróleo

IPP sobre a Produção

Entre 3% e 10% Carvão e outros produtos minerais: 3% Minerais básicos: 5% Pedras semipreciosas: 6% Ouro, prata, platina, diamantes e pedras preciosas; 10%

Petróleo: 10% Gás: 6%

Não existe distinção entre ser

na costa ou fora da costa

Áreas de superfície Varia entre 10 Mt/km

2 e 3.000

Mt/km2

Não aplicável

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC)

Concessionárias (com licença): 32% Subcontratados: 20%

Isenções especiais Impostos reduzidos sobre maquinaria importada

Fonte: CIP, 2013

Projecto de Carvão de Moatize

Vale Moçambique

100%

EMEM

5%

Vale Emirates

95%

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O IPP é oficialmente baseado num preço médio para um determinado mês, e baseia-se nos preços de venda declarados pela empresa. As existências detidas no final do mês são valorizadas ao preço da última venda, conforme declarado pela empresa. Somente quando não existem vendas durante o mês é que se recorre ao preço de mercado. Os volumes exportados são verificados pelos serviços aduaneiros.

O imposto sobre a superfície é uma forma de renda de terra, e é baseado em quatro factores: dimensão da licença em quilómetros quadrados, o tipo de mineral, se é apenas prospecção ou se já está em produção, e o período de concessão. Em 2009 a Vale pagou cerca de 68.000 USD, a Rio Tinto 32.000 USD e a Kenmare 47.000 USD.

Por último, a juntar aos impostos, o governo recebe dividendos dos projectos onde detém acções. Em 2009 o Estado recebeu 11.200.325 MZN (414.827 USD), de acordo com o relatório EITI.

2.3.3.2 Regime Fiscal da Vale

O regime fiscal da Vale foi aprovado antes de 2007. De acordo com uma equipa local de investigadores (Castel-Branco e Cavadias, 2009) as suas principais características incluem:

3% de IPP sobre a produção, aplicado à receita líquida trimestral da mina;

Redução em 15% do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC)

aplicado à operação da mina de carvão, durante os primeiros 10 anos (2011-2021)

e uma redução de 5% para a central de energia térmica também incluída no

projecto;

Redução em 50% do Imposto sobre Transacções Imobiliárias (SISA) na compra de

bens imóveis e uma isenção total na transmissão de propriedade estatal;

Isenção total de imposto de retenção na fonte, impostos aduaneiros, imposto de

selo, Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA);

Isenção total do Imposto sobre o Renda de Pessoas Singulares (IRPS) para

expatriados durante a fase de construção e de 40% durante os primeiros 5 anos de

operação;

Repatriação sem custos dos lucros e dividendos até 100%.

É especificamente de realçar que não existe um equivalente a um regime de Factor-R no âmbito do regime fiscal da Vale, portanto, difere substancialmente do regime fiscal do Projecto (tendo em consideração igualmente um período de desconto de investimento mais longo).

2.3.4 Impactos

Destacam-se os seguintes impactos com base na informação disponível sobre este megaprojecto:

Emprego: de acordo com a página web da Vale, os investimentos realizados na

operação de carvão e nos portos e ferrovia de Sena e Nacala geraram cerca de

13.000 postos de trabalho, um número importante considerando que Moçambique

tem menos de 1,5 milhões de empregos formais assalariados, numa população total

de 25 milhões;

Desenvolvimento de competências: A Vale investe anualmente milhões de USD

no desenvolvimento de competências da mão-de-obra local, para ultrapassar o

défice significativo de mão-de-obra qualificada, especialmente ao nível provincial

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(Nacala, Tete e Beira), em especialidades como operadores de equipamentos e de

locomotivas, mecânicos, electricistas e soldadores;

Aumento da procura por serviços: A Vale, juntamente com outros projectos na

região de Tete, criou uma enorme procura por variados serviços, tais como o

transporte aéreo, transporte de mercadorias, transporte local, banca, imobiliário,

hotelaria e outros. Um estudo de 2011 do CIP (Mosca e Selemane) mostra que:

o Agências bancárias: o número de agências bancárias em Tete passou de

4 em 2007 para 15 no primeiro semestre de 2011; e em Moatize de 1 para 3

no mesmo período;

o Transporte local de passageiros: um aumento no fluxo de passageiros

em Tete, de 540.000 em 2007 para 4,6 milhões em 2010 (e 2,8 milhões no

primeiro semestre de 2011);

o Mercadorias: o número de veículos de transporte de mercadoria aumentou

de 41 em 2007 para 240 em 2010 e as toneladas transportadas

aumentaram de 620.000 toneladas para 3,2 milhões de toneladas durante o

mesmo período (e 2 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2011);

o Hotelaria: os hotéis estão frequentemente totalmente ocupados, e até foi

construído um novo hotel de quatro estrelas de uma cadeia internacional.

Foram criados novos bares e restaurantes em Tete;

O entusiasmo pelo sector da mineração, desde que este estudo foi realizado, diminuiu grandemente devido aos constrangimentos logísticos nas ferrovias e portos, bem como devido à redução acentuada dos preços internacionais do carvão. No entanto, a conclusão da ferrovia de Nacala até ao final de 2014 irá provavelmente contribuir para níveis mais elevados de optimismo no sector. Mas o megaprojecto da Vale também tem sido criticado por alguns dos seus impactos:

Inflação local: a falta de oferta de quase todos os bens e serviços levou a uma taxa

de inflação muito alta na Cidade de Tete. Apesar da falta de números públicos,

Mosca e Selemane destacam aumentos em vários produtos alimentares entre 50%

e 300%.

Deslocalização de comunidades: cerca de 5.000 pessoas das comunidades

dentro da mina foram deslocalizadas, gerando um impacto negativo nos seus meios

de subsistência devido à alegada falta de fertilidade dos solos, a falta de sistemas

de irrigação, a má qualidade da habitação e a falta de soluções de transporte local.

Mosca e Selemane mencionam à data um investimento de cerca de 7 milhões de

USD neste processo.

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2.4 Mina de Titânio da Kenmare em Moma

2.4.1 Contexto

A Kenmare Resources plc é uma empresa de mineração localizada em Dublin. A sua actividade principal é a operação da Mina de Moma, que está localizada na costa Nordeste de Moçambique.

Figura 9: Complexo da Mina de Areias Pesadas de Moma da Kenmare

Fonte: Kenmare

A Mina de Moma produz minerais de titânio, ilmenita e rutilo, usados como matéria-prima para a produção de pigmento de dióxido de titânio e o mineral de silicato de zircónio de elevado valor, o zircão. A mina tem um dos maiores depósitos conhecidos de minerais de titânio do mundo, com um tempo de vida de mais de 100 anos a níveis de produção alargados.

Figura 10: Fluxo Simplificado Mina de Moma da Kenmare

Fonte: Kenmare

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A capacidade operacional actual da Kenmare em plena produção é de 800.000 toneladas por ano de ilmenite e 50.000 toneladas de co-produto de zircão e 14.000 toneladas de co-produto de rutilo. Possui actualmente 1.528 funcionários. O diagrama seguinte destaca os principais marcos da Kenmare.

Figura 11: Marcos da Kenmare

Fonte: Kenmare

A Kenmare entrou em Moçambique em 1986. Começou as actividades de exploração em 1987. De 1994 a 1999 operou a Mina de Grafite de Ancuabe, em Moçambique, e estabeleceu-se como um dos principais produtores mundiais de grafite natural tipo “floco” de elevada qualidade.

Os estudos de viabilidade da Mina de Moma foram concluídos em Fevereiro de 2001, que proporcionaram uma avaliação detalhada de todos os aspectos do desenvolvimento proposto e confirmaram a viabilidade técnica e comercial da Mina. A análise detalhada do mercado apresentou um mercado forte para os minerais produzidos. Esta informação permitiu à Kenmare abordar instituições de financiamento para financiar a mina de Moma e posteriormente nomear um empreiteiro para realizar a construção.

As operações iniciaram-se em 2007, mas a produção comercial só começou em 2009. Em 2013, a sua produção de ilmenite atingiu 720.000 toneladas, cerca de 8% da oferta mundial de matérias-primas de titânio

1987: Exploração

na África

continental (inc.

Moçambique) e

Filipinas

1992 – 1999:

Actividades

adicionais em

Moçambique inc.

Ouro no Niassa

1999: BHP sai da

indústria de TiO2

e a Kenmare

recupera 100%

da posse dos

activos de areias

minerais

2004-2010:

Construção e

preparação da

Mina

2004 – Uma análise

detalhada demonstrou

um grande mercado para

os produtos de Moma.

Tal permitiu que a

Kenmare se aproximasse

de financiadores para

financiarem a Mina e

designasse um

Empreiteiro EPC

2013 – Contratação

e preparação da

Fase II

2010 – Financiamento e

início do

desenvolvimento da

Fase II

1986– Arranque da

Kenmare

1992– Entrada no Joint

Venture de Areias

Minerais da BHP

2001 – Estudos de

viabilidade sobre a

Mina de Moma foram

finalizados em

Fevereiro de 2001

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Figura 12: Depósitos Actuais e Futuros da Mina de Moma

Fonte: Kenmare

Em 2010 a Kenmare iniciou um aumento de capacidade de 50%, aumentando a capacidade instalada de 800.000 toneladas para 1,2 milhões de toneladas de ilmenite, para além de co-produtos associados, ao ano (75 mil toneladas por ano de zircão e 21 ktpa de rutilo). A Kenmare está actualmente em fase de implementação desta expansão.

2.4.2 Accionistas e Fontes de Financiamento

2.4.2.1 Accionistas

A Kenmare Resources plc é membro do FTSE All-Share Index e tem uma cotação primária na London Stock Exchange (Segmento Premium) e uma cotação secundária na Irish Stock Exchange, com uma capitalização de mercado de 863 milhões de USD.

Detém duas subsidiárias nas Ilhas Maurícias: A Kenmare Moma Mining Limited e a Kenmare Moma Processing Limited. Estas são as duas empresas que realmente operam a mina em Moma. Como o nome sugere, uma dedica-se à mineração (Moma Mining) e a outra ao processamento e exportação (Moma Processing). As duas empresas operam como filiais em Moçambique e a Moma Processing exporta minerais para terceiros em todo o mundo.

A Kenmare Moma Processing Ltd está sediada numa zona franca industrial e está isenta de praticamente todos os impostos colectivos. A subsidiária tem que pagar um imposto sobre rendimentos de 1%, após seis anos de produção. A Kenmare afirma que também está permanentemente isenta de outros impostos colectivos, bem como IVA e direitos de importação e exportação.

As actividades de exploração e extracção não são aceites como actividades de Zonas Francas Industriais, Por conseguinte, embora possam existir outras razões para operar com duas entidades, o grupo Kenmare precisava de duas empresas separadas para aproveitar a zona franca: uma para actividades de mineração e outra para o processamento.

2.4.2.2 Fontes de Financiamento

Em 2004 foi efectuado um aumento de capital de 97 milhões de USD nas bolsas de valores de Londres e Dublin, juntamente com a contracção de dívida de longo prazo no valor de 189

Depósito Actual

20 anos de vida da

Mina

Depósito de Nataka

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milhões de USD perante um consórcio de credores oriundos de instituições financeiras de desenvolvimento (incluindo a EAIF) e um empréstimo comercial de 80 milhões de USD perante o ABSA, coberto por uma garantia da ECIC Export Credit Insurance Corporation of South Africa.

Este processo foi seguido por um acréscimo aos empréstimos e pequenos aumentos de capital no período de 2004 a 2008. Em 2010, foi efectuado um aumento de capital comercial puro, no valor de 270 milhões de USD, para financiar a expansão da mina. À data de 30 de Junho de 2012, um investimento total de 888 milhões de USD havia sido efectuado para a construção da mina e infra-estrutura associada.

Os detalhes das linhas de crédito do Grupo à data de 31 de Dezembro de 2013 são descritos abaixo.

Tabela 5: Empréstimos da Kenmare (milhões de USD)

Empréstimos Saldo de Empréstimos

em milhões de USD Maturidade

Empréstimos para o Projecto

Empréstimos Privilegiados (Senior Loans)

BAD 23,2 2018

ABSA (ECIC) 29,9 2015

EAIF 2.8 2018

BEI 11,8 2018

FMO 10 2016

KfW IPEX-Bank (Hermes) 8.4 2015

KfW IPEX-Bank (MIGA) 8,5 2018

Total de Empréstimos Privilegiados

94,6

Empréstimos Subordinados

BEI 151,7 2019

EAIF 50,9 2019

FMO 44,7 2019

Total de Empréstimos Subordinados

247,3

Total 341,9

Comissões de alteração de empréstimos para o projecto

-6,1 Amortizado ao longo do período de empréstimo

Total de Empréstimos ao Projecto

335,8

Financiamento empresarial do Absa

20 2015

Comissões sobre o financiamento empresarial do Absa

-0,6 Amortizado ao longo do período de empréstimo

Total de Financiamento empresarial do Absa

19,4

Total de Empréstimos Conjuntos

355,2

Fonte: Página Web da Kenmare

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Segundo a página web da Kenmare, “Em 2004 foi assinado um pacote de financiamento de dívida para financiar a construção da Mina com um grupo credor que engloba o Banco Europeu de Investimento (BEI), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), a FMO (instituição holandesa de financiamento do desenvolvimento), o KfW (banco alemão), o Emerging Africa Infrastructure Fund Limited (EAIF) e o ABSA (um banco comercial sul-africano). O seguro de risco político foi fornecido pela MIGA (membro do Grupo Banco Mundial) para a tranche do KfW (MIGA). A cobertura de seguro política e comercial foi fornecida pela Hermes para a tranche do KfW (Hermes) e pela Export Credit Insurance Corporation of South Africa (ECIC), a agência sul-africana de crédito à exportação, para o financiamento do Absa.

2.4.3 Principais Condições Contratuais

De acordo com um relatório de 2013 do CIP e do Eurodad sobre a Kenmare, o relatório anual da Kenmare enumera os seguintes benefícios fiscais.

2.4.3.1 Kenmare Moma Mining

“O regime fiscal aplicável à actividade mineira da Kenmare Moma Mining (Mauritius) Limited autoriza (2008-2018):

uma redução de 50% no imposto colectivo no período inicial de dez anos da produção, após o arranque (2008), e cobra um IPP de 3% com base no concentrado de minerais pesados vendidos à Kenmare Moma Processing (Mauritius) Limited;

isenção de impostos de importação e exportação e IVA;

são permitidas amortizações aceleradas;

embora seja cobrado imposto de retenção na fonte sobre determinados pagamentos a não-residentes, as empresas de mineração estão isentas de retenção na fonte sobre dividendos nos primeiros dez anos ou até que o investimento seja recuperado, o que ocorrer primeiro.”

É cobrado um imposto sobre rendimentos de 3% para as vendas (à Moma Processing).

Tal como acontece com a Vale, é de notar que não existe um equivalente dos cálculos Factor-R aplicável à Kenmare, diferindo novamente do Projecto e, mais uma vez, tendo em consideração os períodos de desconto mais longos.

2.4.3.2 Kenmare Moma Processing

“A Kenmare Moma Processing (Mauritius) Limited tem o estatuto de Zona Franca Industrial (ZFI). Como uma empresa de ZFI, está isenta de impostos de importação e exportação, IVA e outros impostos colectivos. Não está sujeita à taxa de retenção na fonte para dividendos ao abrigo do regime de ZFI.” A Kenmare também está protegida contra futuras mudanças no regime fiscal. É cobrado um imposto sobre rendimentos de 1% após seis anos de operação.

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2.4.4 Impactos

De acordo com o relatório de 2013 do CIP sobre a Kenmare, este megaprojecto tem como principais resultados positivos:

Postos de trabalho bem pagos para cerca de 815 Moçambicanos e um imposto sobre rendimentos de 960 funcionários, que contribuíram no total 35 milhões de MZN (7,8 milhões de USD) em imposto sobre rendimentos pessoais de 2009 a 2011;

Oportunidades de negócio para a indústria Moçambicana fornecedora de cimento e outros insumos para a mina, e oportunidades de trabalho oferecidas por estas empresas. Segundo a direcção da Kenmare, a empresa gastou 37,6 milhões de USD em aquisições a empresas moçambicanas em 2011; 22 por cento das receitas realizadas no mesmo ano. Os fornecimentos estrangeiros para a mina contribuíram entre 2009 e 2011 com 31,9 milhões de MZN (1,1 milhões de USD) em imposto sobre o rendimento, um imposto de retenção na fonte pago por empresas de prestação de serviços e canalizado através da Kenmare;

Contribuição positiva da infra-estrutura para o contexto local: O sistema de água da Kenmare é disponibilizado a cerca de 145 famílias e a Kenmare estima que a rede eléctrica que instalou para a mina beneficie cerca de 70.000 pessoas;

As contribuições fiscais são, potencialmente, a mais importante fonte de benefícios a surgirem da indústria extractiva em Moçambique e são o foco principal deste relatório. No total, a Kenmare contribuiu com 3,5 milhões de USD em pagamentos de impostos para Moçambique de 2008 a 2011;

Os impactos negativos incluem:

Impactos sobre os meios de subsistência das pessoas que residem em terras concessionadas à Kenmare. 145 famílias foram reassentadas por causa da mina e a empresa prevê que mais famílias serão forçadas a deixar as suas terras à medida que mina se for expandindo. Os cidadãos que vivem na comunidade reassentada e noutras aldeias vizinhas têm de passar actualmente por um portão com segurança ao entrar nas suas aldeias. Alguns entendem isto como uma inibição da sua liberdade de movimento e privacidade.

Impactos ambientais negativos da mina. A areia escavada quando inicialmente se construiu a mina ainda cria um monte de areia onde uma comunidade vizinha em tempos produzia a sua mandioca. A comunidade reassentada e os cidadãos que tiveram de encontrar novas terras foram compensados de acordo com as taxas de compensação do Governo.

É também de notar que a produção da Kenmare é exportada directamente de Moçambique e não é transformada num produto de maior valor

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2.5 Pontos de Discussão

2.5.1 Percepção das Contribuições Positivas dos Megaprojectos

De modo geral, os megaprojectos deram uma importante contribuição para o crescimento económico de Moçambique, especialmente tendo em consideração as taxas de crescimento de outros sectores tradicionais (por exemplo, a agricultura).

Os megaprojectos aparentam terem sido decisivos na criação de uma classe média pequena, mas crescente, com uma mentalidade global, capaz de efectuar investimentos de pequena e média dimensão, num país onde o número de empregos formais assalariados é baixo (um máximo de 15% da população activa).

Os megaprojectos deram uma importante contribuição para o desenvolvimento de competências num país que tem desafios educativos significativos, especialmente no desenvolvimento de competências técnicas e profissionais. Tal contribuição é importante para o crescimento económico e evolução dos projectos, num país com elevadas restrições à contratação de expatriados.

Os megaprojectos deram contribuições importantes (apesar de menos do que o esperado) para o desenvolvimento de conteúdo local e para a criação de emprego indirecto. Várias empresas industriais que teriam ido à falência devido à concorrência estrangeira têm nos megaprojectos uma procura importante alternativa para os seus bens e serviços.

A reputação do país como um lugar seguro para investimentos melhorou devido à Mozal, Sasol, Kenmare e Vale. Estes aspectos, em combinação com o potencial de recursos naturais, tem atraído novos investidores (como a Anadarko e a ENI) e continuará a atrair mais. A longo prazo isto irá levar a melhorias na infra-estrutura, aumento de postos de trabalho assalariado e melhoria de serviços como a educação, habitação, transporte, saúde e outros.

Finalmente, os megaprojectos contribuem de forma muito importante para a estabilidade cambial, dado que tendem a ser exportadores líquidos nas suas fases de operação.

2.5.2 Percepção da Limitações dos Megaprojectos

Até à data os megaprojectos deram contribuições menores para o fisco, que ainda permanece em grande parte dependente da ajuda externa para partes significativas da receita. A opinião pública/da sociedade civil é que os megaprojectos foram mal negociados e que o governo deveria rever os contratos.

Isto cria uma pressão adicional implícita para os megaprojectos futuros compensarem as decisões tomadas em megaprojectos anteriores. Tal tem obviamente consequências potencialmente perigosas, já que cada novo projecto é diferente em dimensão e âmbito e poderá exigir diferentes enquadramentos para o tornar viável e financiável.

Além disso, é claro que alguns megaprojectos não tinham controlo total sobre os seus próprios resultados e, como tal, têm impactos limitados para Moçambique (por exemplo, a Vale não controla a sua rota para o mercado, o transporte ferroviário, o que limitou as exportações).

Apesar de terem sido efectuados gastos consideráveis em programas sociais, alguns megaprojectos criaram conflitos com as respectivas comunidades. As comunidades em geral não beneficiaram dos megaprojectos, de uma forma sustentável e a longo prazo. As

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comunidades têm medo dos megaprojectos porque parecem isolá-las, removê-las dos seus meios de subsistência tradicionais e criar entraves ambientais.

A contribuição downstream dos megaprojectos para a economia ainda é limitada. No entanto, parecem existir algumas boas excepções, tais como a Matola Gas Company vender gás de Pande-Temane, a Gigawatt IPP também usar gás de Pande-Temane, a Midal Cables (que compra de alumínio da Mozal); e a futura central eléctrica da Vale (que irá comprar carvão térmico à Vale). Estes aspectos deverão ser tidos em consideração em megaprojectos futuros.

2.5.3 Diferenças entre o Projecto e outros Megaprojectos

Uma série de elementos sugerem que os benefícios do Projecto, se bem geridos, poderão oferecer contribuições significativas para Moçambique, potencialmente superiores a todos os megaprojectos anteriores. A tabela seguinte resume as principais características de cada megaprojecto descrito anteriormente, bem como o próprio Projecto.

Tabela 6: Tabela Resumo dos Megaprojectos

Item Mozal Sasol Vale Kenmare O Projecto

Província Maputo Inhambane Tete e

Nampula Nampula

Cabo Delgado

Dimensão do Investimento (milhões de USD)

2 000 1 500 8 400 888 56 000*

Participação do Governo (em % do capital social)

2% 30% 5% 0% 15%

Beneficiamento dos recursos locais

Não Não Não Não Sim

Inclui Factores-R N/A Sim Não Não Sim

Integração downstream

Fábrica de Cabos

de Alumínio (desde 2013)

Distribuição de gás em

Maputo

Central Termoeléctrica

(planeado) Nenhuma

Distribuição de gás, GTL,

Central Eléctrica a

Gás, fábrica de

fertilizantes, cimento

Geração de emprego (postos de trabalho)**

400 600 13 000 960 700 000

Despesa com projectos sociais (milhões de USD por ano)**

5 5 a 7,5 6,5 Menos de 1 A ser

anunciado

Valor de Exportação de 2013 (milhões de USD)

1 092 175 503 155 n/a

* Assumindo um cenário de 6 trains

** Mozal: Per-Åke Andersson; Sasol e Vale: Relatório EITI de 2011; Kenmare: CIP e EURODAD, 2013; o Projecto: estimativas para 2035

Dimensão do investimento: As despesas de capital do Projecto para os trains 1 e 2 é aproximadamente 12 vezes maior do que a Fase I da Vale e cerca de 19 vezes maior do que a Fase I da Cadeia de Valor da Sasol. Os seus benefícios são de magnitude maior e serão integralmente descritos nos Capítulos 4 a 6.

Participação do Governo: O GdM (através da ENH) detém uma participação de 15% na Área 1 e, portanto, está alinhado no que respeita aos interesses dos accionistas. Isto é mais

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do que com qualquer outro megaprojecto excepto a Sasol Pande Temane (através da CMH). No entanto, deve-se realçar que o rendimento gerado pela SPT é indiscutivelmente baixo devido à transferência de preço entre a SPT Moçambique e a SPT África do Sul, ou seja, o valor de tal participação é extremamente baixo quando comparado com a participação no Projecto. Sempre que os benefícios são recebidos directamente por uma empresa (por exemplo, a Área 1) o GdM tributa e detém uma participação na mesma.

Benefícios fiscais: Em contraste com outros megaprojectos, os benefícios fiscais são limitados (uma poupança de 25% no imposto sobre rendimentos durante 8 anos), com uma diferença notável devido à questão do cálculo do Factor-R incluído no EPCC, o que não está contido nos acordos de mineração. Especificamente, o Standard Bank acredita que os cálculos do Factor-R são uma forma de imposto sobre lucros extraordinários incluída em contratos que mais do que abordam os aspectos destacados por Colombia (2013). As conclusões do Capítulo 4 mostram claramente que os ganhos complementares são obtidos pelo GdM e não pela Área 1.

Receitas para o GdM: estima-se que as receitas obtidas pelo GdM oriundas do Projecto irão exceder várias vezes as receitas geradas pelos megaprojectos existentes.

Beneficiamento dos recursos locais: O Projecto é o único que procede ao beneficiamento de um recurso local, dado que transforma gás fora da costa em GNL de elevado valor, em Moçambique (GNL esse que é posteriormente vendido no exterior aos preços mundiais de gás). Isto significa que Moçambique colecta e tributa o elemento do beneficiamento, aumentando materialmente as receitas do GdM quando comparado com outros megaprojectos.

Integração downstream: Adicionalmente, devido à oportunidade da VDG, a Área 1 poderá também dar um contributo importante para Moçambique através do fornecimento de gás natural para clientes nacionais (descrito em maior detalhe no Capítulo 5). Em suma, isto poderá facilitar a produção de energia a gás, a produção de fertilizantes, o GTL, os petroquímicos e o transporte em gasodutos, entre outros.

Geração de emprego: os empregos permanentes directos, indirectos e induzidos criados pelo megaprojecto da Anadarko são estimados em cerca de 700.000 (de acordo com o Capítulo 6), o maior gerador de emprego quando comparado com os dados disponíveis sobre outros megaprojectos.

Gastos com projectos sociais: os megaprojectos existentes não investem mais de 7,5 milhões de USD por ano e, apesar de não estar ainda definido, prevê-se que os gastos sociais da Área 1 irão, no mínimo, corresponder a este montante. Também é interessante notar que o Projecto está localizado num local remoto e envolve um reassentamento e deslocalização limitados da comunidade.

Preços de Transferência: Em contraste com outros megaprojectos não existem complicações de preços de transferência dado que serão celebrados Acordos de Compra e Venda (ACVs) imparciais entre a Área 1 e os diferentes compradores e as despesas operacionais são pequenas em relação às receitas.

Moçambique tem uma sociedade civil em desenvolvimento, com certas organizações (por exemplo o CIP) já a analisar em detalhe os megaprojectos. Além disso, os Relatórios da EITI (embora com um atraso de 3 anos) promovem ainda mais a transparência. O Standard Bank recomenda que tais organismos analisem em detalhe o Projecto para garantir que os seus benefícios possam ser usufruídos por todos os Moçambicanos, actualmente e no futuro.

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3 Resumo do Projecto no Contexto Global e no Moçambicano

Este capítulo faz uma introdução ao projecto proposto e situa-o tanto num contexto global como no Moçambicano.

3.1 Resumo do Projecto

3.1.1 Gás em Moçambique

As perfurações em Moçambique começaram no início dos anos 50 com pouco sucesso, sendo a descoberta mais notável o campo de Pande, no início dos anos 60, o qual se tornou mais tarde no primeiro campo produtivo em Moçambique, em 2004, operado pela Sasol. Contudo, foi só recentemente em 2010 que Moçambique foi considerado como um grande actor nos hidrocarbonetos quando a Anadarko fez a descoberta significativa com o seu poço de alto-mar Windjammer no que mais tarde seria identificado como o Complexo Prosperidade, na Bacia do Rovuma. No seguimento deste sucesso, a Anadarko identificou adicionalmente outras estruturas na Área 1. A ENI, operador da Área 4, bloco a Este da Área 1, descobriu subsequentemente depósitos de gás maiores, deste modo reforçando o conceito de Moçambique como um potencial pólo global de gás. Foi mais tarde descoberto que o Complexo Mamba da ENI comunica com o Complexo Prosperidade da Anadarko, apontando para uma vasta estrutura que atravessa a Área 1 e a Área 4 (designada de Campo Mamba dentro da Área 4). Estas descobertas são expostas no mapa abaixo.

Figura 13: Mapa da Bacia do Rovuma

De acordo com a apresentação corporativa da APC de Maio de 2014, as estimativas de gás comercialmente recuperável, apenas na Área 1, são de 50 a 70 tcf, com reservas certificadas para o Complexo Prosperidade e com a certificação do Complexo Golfinho ainda pendente. Presentemente, a única produção de hidrocarbonetos em Moçambique ocorre no campo costeiro de Pande-Temane operado pela Sasol. A Área 4 também tem

Tanzânia

Moçambique

Área 1 Área 4

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progredido. De acordo com a apresentação corporativa da ENI de Fevereiro de 2014, a Área 4 tem 85 tcf de GIIP (de salientar que GIIP é uma medida de petróleo e gás (O&G) diferente da utilizada pela APC e portanto não é directamente comparável. Na mesma apresentação, a ENI defende o desenvolvimento de 1 train na costa e 3 trains de GNLF (dos quais um está exclusivamente na Área 4).

Tabela 7: Reservas Tecnica e Comercialmente Recuperáveis da Área 1 e da Área

Área 1 Condensado Gás Área 4 Condensa

do Gás

(milhões de bbl)

(bcf) (milhões de bbl)

(bcf)

Atum 24 6 773 Agulha 42 4 823

Espadarte 25 7 216 Coral 30 8 533

Golfinho 65 18 500 Mamba Norte 20 5 746

Lagosta 32 9 086 Mamba Nordeste 32 9 000

Orca 11 3 235 Mamba Sul 14 3 908

Tubarão 4 1 000 Mamba Nordeste 2 32 9 000

Barquentine (Comercial)

36 10 119 Mamba Sul (Comercial)

59 16 708

beCamarao (Comercial)

10 2 845

Windjammer (Comercial)

13 3 745

Total 220 62 519 229 57 718

Fonte: Wood Mackenzie, estimativas a 1 de Janeiro de 2014

Existem vários actores chave no sector de O&G em Moçambique. A Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) é a empresa petrolífera Estatal e tem o direito de participar em quaisquer actividades de O&G no país. O volume da participação não está pré-determinado e é negociado na altura da negociação e assinatura do EPCC. Este licenciamento é realizado pelo Instituto Nacional de Petróleo (INP) o qual reporta ao MIREM. O sector é regido pela Lei do Petróleo de 2001, cujo projecto de revisão está presentemente a ser debatido. O esboço de PDG evidencia as principais metas de políticas relacionadas com o desenvolvimento dos recursos de gás de Moçambique.

3.1.2 O Projecto

O principal meio de colocar as grandes descobertas de gás de Moçambique no mercado é um terminal de exportação de GNL. Embora não se tenha alcançado um acordo formal com o GdM, assumindo que o mesmo será alcançado em breve, o sistema da Área 1 será o primeiro a ser implementado dada a sua proximidade com a costa e trabalhos preliminares já finalizados: o acordo inicial sobre o local está assinado (DUAT) e quase a ser finalizado de modo a que a ENI e a APC tenham acesso equitativo para a construção de múltiplos trains; Os estudos de avaliação de impacto ambiental e social (EIAS) foram realizados e os planos de reassentamento estão quase prontos; e o trabalho de FEED chegou a uma fase avançada de concurso. O local proposto situa-se no Cabo Afungi, perto de Palma, na província de Cabo Delgado.

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Figura 14: Proposta de Disposição do Complexo de GNL

Fonte: APC Os poços em alto-mar ligar-se-ão a uma rede de gasodutos subaquática que transportará o gás natural até à costa. Após o processamento e limpeza, este gás passará através de um dos múltiplos trains que reduzem a temperatura até aproximadamente -160° centígrados. O gás é depois bombeado para transportadores especiais de GNL, os quais transportam o gás líquido para compradores estrangeiros. Os estudos iniciais indicam ser viável ter dois trains, com 5 MTPA por unidade de train, com a opção de adicionar mais trains à medida que o projecto evolui, com a possibilidade de colocar até 10 trains na costa e a possibilidade de no futuro adicionar trains de GNLF. Este Relatório estima que Moçambique poderá potencialmente apoiar até 30 MTPA de exportações (todas alimentadas pela Área 1) ao longo do período de desenvolvimento e produção de 30 anos abrangido pelo EPCC. Contudo, os planos mais abrangentes para a Área 1 e para a Área 4 apontam para até 50 MTPA de trains costeiros e a possibilidade de mais trains de GNLF. A título de uma comparação aproximada, é necessário 1 Tcf de gás para apoiar cada 1 MTPA de capacidade por 20 anos. Apesar de existir um mercado crescente para o GNL comercializado spot, o mesmo é relativamente pequeno (cerca de 25% do mercado global) sendo a maior parte do gás contratualizado e fornecido a clientes de longo prazo através de ACVs. Assegurar esses contratos é uma parte crucial do alcance do fecho financeiro de qualquer project finance associado à FID de um projecto de GNL. Bancos, agências de crédito a exportações e outros financiadores requerem contratos de longo prazo como garantia para os elevados montantes de fundos disponibilizados. Estima-se que o custo aproximado de uma instalação com dois trains seja, à data da FID, de 23 mil milhões de USD. O total de Capex para o desenvolvimento dos 6 trains e o cenário do campo doméstico (“DFC”) é de 54,6 mil milhões de USD, salientando-se que 2,8 mil milhões de USD foram já dispendidos, e 4,1 mil milhões serão gastos até ao final de 2014. A monetização da Área 4 através do GNL poderá ocorrer após o desenvolvimento inicial da Área 1, dada a sua distância da costa, e o cronograma actual da ENI desenvolve-se em associação ao da Área 1. A ENI também emitiu uma Manifestação de Interesse para os

Localização do Parque de GNL

Habitações permanentes

Tanques de Armazenamento de GNL

Campo de construção 1

Campo de construção 2

Área de Depósito

Área de Entrada de Gás

Legenda

Trains de Liquefacção

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desenhos iniciais de uma unidade de GNLF, a qual processaria e liquefaria gás para exportação exclusivamente em alto-mar (de acordo com o acima exposto, foram considerados 3 trains de GNLF). A ENI está também a investigar, juntamente com a SASOL, a viabilidade de uma fábrica de GTL usando gás da Bacia do Rovuma (a qual naturalmente requer acesso ao complexo na costa). Com o passar do tempo, a monetização e desenvolvimento da Área 4 poderá ocorrer através de mais fábricas costeiras em Afungi, através de acordos de utilização de gás do Complexo Prosperidade/ Mamba o qual se estende pela Área 1 e 4 (sob o qual cada Concessionário tem o direito de extrair gás suficiente para produzir 20 MTPA). Tal é provável que aconteça através do desenvolvimento posterior de trains para além da instalação de 2 trains de GNL na costa inicialmente propostos (devido ao desenvolvimento da Área 4 ser no alto-mar). Se por algum motivo não forem desenvolvidos mais trains, é possível que ocorra a exportação de gás do Campo Mamba através de uma operação de GNLF.

Foram escritos vários relatórios directamente focados no Projecto, sendo todos eles abordados pelo Standard Bank neste Relatório. Um dos relatórios mais detalhados é Frühauf (2014), o qual salienta os grandes impactos positivos que o Projecto poderá ter no desenvolvimento de Moçambique, referindo que as receitas da fábrica de GNL, assumindo o máximo de trains, representará a maior parte das receitas do Governo, citando relatórios do FMI sobre o país, e representarão cerca de 50% do total de exportações. Isto fará com que Moçambique passe da sua situação actual de dependência de ajuda para uma dependência de recursos e essa mudança requererá sistemas de gestão robustos de modo a absorver esses fluxos e utilizá-los para benefício de Moçambique.

No seu relatório, Frühauf (2014) expõe vários desafios-chave que o desenvolvimento do Projecto enfrenta, alguns dos quais são também mencionados em análises com o mesmo enfoque, embora menos detalhadas, por parte do Deutsche Bank (2012), Credit Suisse (2014) e a AIE (2014). Tais desafios incluem:

A elevada dimensão do Projecto inicial em relação ao tamanho actual da Economia (1,5 vezes). Este aspecto, juntamente com a sua natureza sem precedentes, resulta em prémios significativos na fase de assegurar endividamento junto dos mercados de capitais internacionais, bem como em requisitos de garantias dos investidores;

A falta de infra-estruturas em torno de Palma leva a custos adicionais e também aumenta grandemente as economias de escala associadas com o Projecto em comparação com outras fábricas de GNL no globo, e torna a construção do maior número de trains na opção óptima;

A actual capacidade institucional dentro do GdM para supervisionar e administrar o Projecto bem como a actual falta de Moçambicanos qualificados com suficiente experiência de O&G que possam contribuir para as fases iniciais do Projecto;

O ambiente fiscal e de políticas de Moçambique em evolução (um mercado com uma avaliação de crédito de um único B). Diversos financiadores e analistas assinalaram a importância de um regime fiscal que garanta a estabilidade das políticas;

O Risco político associado a economias de baixo poder de compra, o qual está relacionado com a capacidade institucional, apesar de Moçambique ter

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recentemente gozado de estabilidade e ter implementado diversas rondas de licenciamento consideradas transparentes e justas;

A licença social do Projecto e a obtenção da aceitação do Povo de Moçambique. Apesar de se oferecerem benefícios substanciais, é provável que os mesmos apenas se sintam de forma ampla quando a fábrica estiver totalmente operacional. Tal requer comunicação com todos os cidadãos dada a grande escala do Projecto, e especialmente com os que serão mais afectados pelo reassentamento necessário;

Alcançar um acordo com todas as partes interessadas dentro do período da estreita janela comercial do mercado de GNL que captura a maior parte do benefício disponibilizado.

Um trabalho do FMI (2014) analisa o Projecto em termos da capacidade de endividamento de Moçambique e dos requisitos de investimento público. Através de uma modelação formal, o mesmo prevê que as receitas do GdM provenientes do GNL representarão um terço do total de receitas do Governo. O mesmo sugere que o Governo será capaz de utilizar o período de construção para angariar fundos para projectos de investimento (dadas as necessidades prementes) antes de obter receitas – notando a implicação de que quanto maior for o número de trains envolvidos, maior a sua capacidade de envidamento. Contudo, o documento sugere cautela para não se aumentar a escala muito rapidamente, e promove uma abordagem gradual de aumento do investimento em função das receitas.

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3.2 Contexto Global de GNL

Dos diversos combustíveis fósseis, a procura por gás natural tem sido a que, demonstrou um crescimento mais rápido nos últimos anos (AIE, 2014) e espera-se que esta tendência continue – apesar de não remover o petróleo e o carvão das suas posições cimeiras. O crescimento da procura de gás é parcialmente guiado pelo florescimento recente do Xisto Betuminoso (Shale) da América do Norte, o crescimento económico da Ásia e preocupações ambientais ao nível local e global. Adicionalmente, o distanciamento do Japão relativamente à energia nuclear, por muito tempo dominante, no seguimento do terramoto de Tohoku e do consequente tsunami em 2011, também fomentaram este crescimento na procura de GNL a qual deverá manter-se forte no curto e médio prazo. Apesar da forte procura, o comércio de GNL entre 2012 e 2013 manteve-se grandemente estático pela primeira vez na última década, sobretudo como consequência de constrangimentos do lado da oferta.

Como resultado da forte procura, estão a ser colocadas no mercado diversas opções de fornecimento provenientes da América do Norte, Austrália e Rússia, concorrendo potencialmente com o GNL da África Oriental (Moçambique e Tanzânia), outro potencial núcleo de GNL identificado. Só nos E.U.A., as candidaturas para licenças de exportação excedem o crescimento projectado na procura global. O Canadá espera desenvolver a sua capacidade de exportação de GNL na sua costa Oeste, próxima aos mercados Asiáticos (dado o decréscimo das suas exportações para os E.U.A.)

Figura 15: Desenvolvimento da Oferta Global de GNL por Região

Fonte: AIE, 2014

Não será possível que todos os projectos de GNL planeados e/ ou a quantidade máxima de trains planeada em cada projecto sejam operacionalizados. Embora existam questões técnicas e autorizações que impedirão que algumas destas unidades planeadas entrem em funcionamento, a escassez de procura também inibirá o seu desenvolvimento dada a incapacidade destas fábricas obterem contratos de longo prazo, de modo a assegurarem financiamento. Os E.U.A. serão um novo exportador significativo de GNL dado presentemente estarem-se a converter terminais de importação de GNL em terminais de exportação, devido ao florescimento do Xisto Betuminoso. Além de explorar o diferencial no preço do gás entre a costa do Golfo dos E.U.A. e os mercados Asiáticos, os E.U.A. procuram aproveitar a oportunidade de alavancarem os seus próprios recursos energéticos por motivos estratégicos e geopolíticos em particular no apoio aos seus aliados na Europa e na Ásia. No seu olhar a médio prazo sobre o gás, a AIE prevê que os E.U.A. se tornem no terceiro maior exportador de GNL até 2019, apesar de não serem um dos 20 países que actualmente exportam GNL.

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Ásia Pacífico Médio Oriente Europa Rússia África exceptoÁfrica Oriental

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América Latina

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Em operação Em construção Planeada

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Figura 16: Desenvolvimento da Oferta Global de GNL e Selecção de Previsões sobre a Procura

Fonte: Análise do Standard Bank, AIE (2014), BG (2013), BP (2013), Wood Mackenzie (2014),

Exxon Mobil (2014)

A Figura 16 acima indica que a oferta potencial de GNL excede os principais cenários de procura, tanto de curto como de longo prazo. Até tão adiante no tempo quanto 2040, se o máximo número de trains de todos os projectos presentemente planeados forem concretizados os mesmos provavelmente não encontrarão suficientes compradores. Esta figura demonstra a necessidade de não entrar tarde no mercado.

As percepções sobre o mercado acima apresentadas têm levado à concorrência entre os promotores de GNL, os quais têm que salvaguardar contratos com a procura limitada (sobretudo na Ásia) antes de iniciarem o desenvolvimento. Espera-se que este aspecto, juntamente com os baixos preços de gás nos E.U.A. e o desejo dos compradores Asiáticos de se distanciarem da indexação dos contratos ao petróleo (p.e. JCC), irá forçar a uma descida ainda maior dos preços – uma tendência que deverá continuar. Isto resulta, potencialmente, na manifestação de duas forças contrárias. Primeiro, cada exportador de GNL subsequente poderá fixar preços do gás menores como resultado do excesso de oferta planeada. Segundo, à medida que o preço contratualizado de gás cai, as fábricas marginais deixam de ser lucrativas e são abandonadas – tal como aconteceu recentemente com a GNLF Bonaparte na Austrália – e à medida que o número de fábricas planeadas diminui, assumindo tudo o resto constante, os preços contratualizados do gás poderão subir. Contudo, se este cenário se manifestar, não está claro onde assentará o equilíbrio nem quantas das actuais fábricas de GNL planeadas terão de ser abandonadas para que o mercado alcance a estabilidade entre a procura e a oferta. Quanto mais os exportadores de GNL esperarem para alcançar o fecho financeiro, maior a incerteza e maior o risco de operarem com margens no ponto de equilíbrio e do projecto ser indefinidamente atrasado ou abandonado.

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Oferta Actual IEA 2019 BG 2025 BP 2030 Wood Mackenzie 2030 Exxon Mobil 2040

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Em operação Em construção Planeada Selecção de Previsões da Procura Global

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Uma característica favorável ao funcionamento num mercado como este é a flexibilidade derivada da habilidade de aumentar a produção (caso já exista uma fábrica de GNL em funcionamento). Neste caso, a capacidade de Moçambique desenvolver trains adicionais poderá permitir que beneficie de ambas forças entrando atempadamente para assegurar contratos iniciais, e desenvolvendo novos trains se houver uma mudança nas forças de mercado ou aumento adicional da procura. Tal como ilustrado no Capítulo 4 deste Relatório, os trains 3 e 4 e os trains 5 e 6 são de um menor custo do que os primeiros 2 trains e portanto o seu desenvolvimento levará a maiores retornos para todas as partes. A importância deste ponto é incontornável.

O Projecto existe dentro do contexto regional do GNL da África Oriental. Presentemente, Moçambique está mais avançado em termos de prazos e também tem maiores reservas de gás do que a Tanzânia. Contudo, a Tanzânia tem bastantes reservas significativas, e os principais comerciantes de GNL/ actores petrolíferos têm participações sociais em campos de gás e esperam desenvolver o potencial de GNL ao longo da próxima década.

A Tanmzânia partilha as vantagens de Moçambique em termos de proximidade dos mercados Asiático, Europeu e Latino-Americano bem como uma estrutura de custos baixos semelhante derivada do tamanho das reservas o qual reduz os custos unitários, assumindo o desenvolvimento de vários trains. Assim, a África Oriental tem o potencial para ser uma das maiores regiões exportadoras de GNL mas enfrenta concorrência de outros exportadores de GNL emergentes, tais como os E.U.A. que já têm infra-estruturas de gás desenvolvidas e uma base forte a partir da qual angariar capitais, e da Rússia a qual procura desenvolver novos mercados de energia e cada vez mais será capaz de aproveitar no Verão as rotas mais curtas para a Ásia através do Ártico. A janela de mercado para o GNL da África Oriental está a ser criada parcialmente devido a uma redução no fornecimento de GNL de países como a Malásia e a Indonésia. Até à data, os projectos de raíz de GNL em África nunca asseguraram clientes constantes da Ásia. Os principais compradores Asiáticos têm historicamente colocado mais importância na segurança do abastecimento. Consequentemente, será imperativo assegurar um enquadramento político, fiscal e regulatório estáveis de modo a reter compradores de longo prazo e deste modo executar o Projecto.

No pressuposto de uma tomada de decisão rápida, Moçambique está posicionado para beneficiar do facto de ser um primeiro entrante no desenvolvimento do GNL na África Oriental. Ao ser a primeira fábrica de GNL na África Oriental aumentam as hipóteses de se desenvolver a quantidade máxima de trains de GNL em Moçambique e poderá ajudar a que Moçambique se torne o parceiro sénior de qualquer potencial bloco exportador de GNL na África Oriental.

Consequentemente, um desenvolvimento lento em Moçambique poderá levar a que seja ultrapassado pela Tanzânia (de uma forma semelhante em que o Quénia está actualmente a desafiar o Uganda no desenvolvimento de campos petrolíferos, embora tenha descoberto o petróleo muitos anos depois do Uganda, país que tem vivido muitos atrasos derivados de questões técnicas e de políticas).

Ao ser o primeiro entrante e através do desenvolvimento do Projecto (especialmente se 6 – ou mais – trains forem desenvolvidos) Moçambique tornar-se-á num grande fornecedor de

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gás para os mercados mundiais, e o parceiro sénior num pólo de gás alargado na África Oriental. Tal conferirá a Moçambique uma maior significância em relação aos mercados energéticos e por seu turno fará de Moçambique um nó importante na Economia Global Mundial, em particular para os mercados Asiáticos. À medida que outras economias Asiáticas confiem em Moçambique uma parte do seu próprio sucesso económico, poderá esperar-se que as relações bilaterais e o comércio para além do GNL aumente e as ligações mútuas se expandam. Deste modo, através do Projecto bem como de empreendimentos induzidos e relacionados com o gás debatidos no Capítulo 5, Moçambique tornar-se-á provavelmente um país cada vez mais visível aos olhos do mundo – o que traz múltiplos benefícios económicos bem como benefícios geo-políticos mais intangíveis.

Relacionado com isto, o estatuto de Moçambique,tanto dentro da SADC e da África Subsaariana, aumentará consideravelmente se a sua taxa de crescimento exceder a dos países vizinhos – tal como este Relatório espera – e se a sua proeminência global aumentar como um resultado da sua relação energética com a Ásia. Esperar-se-á então que Moçambique se torne uma voz importante na SADC e na UA, e com a sua própria experiência providenciar uma fundação para uma influência crescente. Através do Projecto, Moçambique continuará a ser uma das economias com mais rápido crescimento em África, senão mesmo no mundo, pelo que no Capítulo 6 deste Relatório se perspectiva uma taxa de crescimento real de 8,4% até 2035. Isto continuará a elevar o perfil de Moçambique tanto em África como a nível global. Afirma-se frequentemente que o Século XXI poderá pertencer a África e se assim for, o Projecto poderá colcar Moçambique na dianteira da história de crescimento Africana.

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3.3 Contexto Moçambicano

Desde o fim da Guerra Civil, em 1992, Moçambique tem sido uma das Economias de África com melhor desempenho, crescendo a uma média nominal de 7% ao ano, prevendo-se que estas taxas se mantenham pelos próximos anos (BAD, 2014). Um dos principais impulsionadores deste crescimento tem sido a indústria extractiva a qual cada vez mais representa uma fatia maior da Economia em termos de contribuição para o PIB, enquanto que 80% do emprego continua a residir no Sector Agrícola. Aparte do forte crescimento, Moçambique ainda enfrenta muitos desafios incluindo elevadas taxas de pobreza, desemprego, dependência da Agricultura de Subsistência, baixos niveis de Educação e Saúde bem como lacunas de Governação e de capacidade Governativa.

Tabela 8: Estatísticas Seleccionadas

Moçambique

População (million) 25

PIB per Capita (USD de 2012) USD562

Emprego: Agricultura (%) 81%

Emprego: Indústria (%) 3%

Emprego: Serviços (%) 16%

Classificação Soberana na S&P B (estável)

Classificação de Risco Político pelo EIU B

Classificação no Índice de Desenvolvimento Humano

185/187

Classificação no Índice Africano de Infra-estruturas

43/53

Classificação no Índice de Percepções de Corrupção

113/177

Fonte: Banco Mundial, ONU, BAD, Transparency International

Devido aos desafios substanciais de desenvolvimento e governação em Moçambique salientados na Tabela 8, continua a haver uma grande presença de doadores e de ONGs em Moçambique que providenciam significativa Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (ODA) ao GdM e fornecem diversas intervenções sectoriais directas. Estima-se que durante muitos anos os doadores providenciaram mais de 50% do Orçamento de Estado (Institute for Security Studies, 2012) e que são uma grande componente da despesa na Economia e que apenas em anos recentes se tornou menor do que a despesa corrente do Governo ou que a formação bruta de capital fixo (a qual inclui a formação de capital do Sector Privado e o IDE). Em 2012, o montante de ODA ascendeu a 2 mil milhões de USD. Tal pode observar-se na Figura 17 abaixo. Adicionalmente, a ODA tem sido historicamente uma grande fonte de fluxos financeiros na Economia (Figura 18), mas os fluxos recentes de IDE relacionados com os recursos naturais (p.e. Vale, Kenmare, Riversdale, APC e ENI) estão a começar a tirar-lhe o lugar pelo menos na conta de capital. Apesar disto, Moçambique continua a depender do apoio dos doadores para executar políticas e prestar serviços aos seus cidadãos.

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Figura 17: ODA em Moçambique

Fonte: Banco Mundial, 2014

Figura 18: Entradas Financeiras em Moçambique

Fonte: Banco Mundial, 2014

3.3.1 Principais Documentos de Políticas Moçambicanas

Vários documentos-chave estratégicos orientam o desenvolvimento de Moçambique a alto nível. O principal documento é o Plano Quinquenal do Governo 2009-2014. O mesmo salienta a necessidade de transformação estrutural através do desenvolvimento de indústrias centradas nos recursos naturais e no desenvolvimento de PMEs. Como parte deste aspecto o mesmo menciona o grande potencial da agricultura para aliviar a pobreza e identifica o incremento na produtividade como um meio fundamental para alcançar este objectivo juntamente com o desenvolvimento da agro-indústria e do agro-processamento. Contudo, o Plano Quinquenal foi escrito antes de terem sido descobertas e confirmadas as reservas de gás significativas na Bacia do Rovuma e as mesmas não foram, por este motivo, incorporadas neste plano de desenvolvimento abrangente para Moçambique. O Standard Bank espera que o próximo plano inclua a implementação do Projecto e as múltiplas ligações empresariais relacionadas com o mesmo, incluindo a VDG associada.

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2008 2009 2010 2011 2012

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Exportações IDE Investimentos de Carteira Remessas ODA

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O Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP), finalizado em 2011, foi escrito com a auscultação do GdM e dos doadores chave do país. Está centrado em 3 áreas-chave abrangentes:

1. Agricultura e Pescas

2. Emprego Decente

3. Educação e Saúde

As mesmas são apoiadas por dois temas transversais, Boa Governação e Estabilidade Macro-Económica para apoiar a industrialização e a realização das suas metas declaradas. Dado que a grande maioria dos Moçambicanos recebe os seus rendimentos da agricultura, sobretudo de subsistência, o PARP aponta explicitamente para este sector ao procurar melhorar a produtividade através do acesso a mercados e melhor acesso aos factores de produção. Isto sobrepõe-se com a criação de empregos decentes através do desenvolvimento de um ambiente favorável às PMEs, melhoria da empregabilidade e facilitação de ligações entre a procura e a oferta de trabalho. Verificam-se sobreposições adicionais destes elementos com o desenvolvimento do apoio social através de esquemas de segurança social, educação de qualidade e provisão de serviços de saúde. No âmbito do Capítulo 6 discute-se como o Projecto e a VDG endereçam as metas do PARP.

A Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE) de 2013, é o esboço da estratégia de desenvolvimento de Moçambique preparada pelo Ministério do Plano e Desenvolvimento, e tal como com outros documentos de política, enfatiza a necessidade da industrialização para endereçar os desafios de Moçambique em torno da pobreza e desemprego. A extracção de recursos naturais é uma parte significativa desta estratégia e liga esta extracção a outros sectores-chave da Economia, tais como a Agricultura onde a maior parte dos Moçambicanos está empregue e na qual a produtividade poderá aumentar grandemente. A Execução do plano pretende fazer crescer a economia de Moçambique a uma taxa real inferida de 8,4% ao ano até 2035. Apesar de não ser impossível, é difícil de ver como é que tal poderá ser alcançado sem o volume drástico de receitas e desenvolvimento industrial que múltiplos trains de LNG poderão providenciar. As projecçoes de crescimento no Capítulo 6 deste relatório argumentam neste sentido. Excluindo o Projecto, o Standard Bank prevê uma tendência de crescimento real de longo prazo para Moambique de 5,7% ao ano (significativamente abaixo do plano ENDE). Esta percentagem aumenta para 8,4% por ano se for incluído o Projecto (ver o Capítulo 6)

Deste modo, o potencial do GNL, através de receitas derivadas bem como de gás disponibilizado para megaprojectos domésticos (através de oportunidades de VDG) e PMEs locais, poderá desempenhar um papel significativo no alcance das metas de desenvolvimento de Moçambique acima expostas. Tal plano é apresentado no Esboço de Plano Director de Gás de Moçambique (PDG), existindo publicamente na sua versão esboço / preliminar (apesar de haverem indicações de que o mesmo foi finalizado não foi disponibilizado publicamente).

O esboço de PDG traça uma rota estratégica para o desenvolvimento do gás natural de Moçambique e não está limitado apenas ao desenvolvimento da Bacia do Rovuma ou do GNL. A sua principal visão é desenvolver os recursos de gás de uma forma que beneficie ao máximo Moçambique e desenvolva competências institucionais e individuais. Naturalmente,

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o GNL assume um papel central no PDG dada a sua singularidade e tamanho. O desenvolvimento do sector de gás de Moçambique através do GNL é vista com um meio vital ara alcançar a visão do PDG. Contudo isto assenta no desenvolvimento, por Moçambique, de trains sucessivos, e a quantidade máxima, a um ritmo significativo, e Frühauf (2014) indica que apenas o Qatar construiu trains sucessivos de GNL à velocidade indicada no PDG.

Um foco ainda maior do PDG, e explicitamente colocado na sua visão, é o de desenvolver a indústria nacional e infra-estruturas associadas de suporte à indústria tendo em vista a criação de emprego tanto nos grandes projectos de gás como nas PMEs. Como parte disto, o PDG identifica um número de projectos-chave os quais incluem:

GTL;

Produção de Metanol (GTM) (como um passo intermédio para MTO/ Petroquímicos);

Produção de fertilizantes (GTF);

Geração de electricidade (gás para energia (GTP));

Rede de gasodutos.

Reconhece-se que estes projectos serão certamente de capital intensivo. Contudo, os mesmos, juntamente com o GNL, têm um grande potencial para criarem ligações empresariais nacionais, tanto directas como indirectas; por exemplo no caso da Agricultura na qual a produçao de fertilizantes poderá resultar num fornecimento de baixo custo e juntamente com o apoio dedicado ao sector, melhorar a produtividade e o nível de rendimentos dos milhões de pequenos agricultores de Moçambique. Adicionalmente, através do desenvolvimento de megaprojectos, a criação de infra-estruturas de gás será facilitada o que também apoiará o desenvolvimento de PMEs. A importância da promoção da indústria doméstica de gás é um tema dominante do PDG.

O PDG apresenta diversas recomendações-chave com as quais orienta o desenvolvimento das reservas de gás de Moçambique. Entre estas incluem-se:

A utilização de royalties e de lucros de gás tanto em dinheiro como em espécie para promover o desenvolvimento social e industrial de Moçambique – assinalando que existe uma interligação entre ambos aspectos;

Desenvolver infra-estruturas que possam promover o crescimento dando prioridade ao desenvolvimento de megaprojectos que por seu turno possam catalizar o desenvolvimento de PMEs;

Promover caminhos específicos para o desenvolvimento utilizando receitas de gás, dos quais se salientam:

o O desenvolvimento do mercado de capitais nacional;

o Financiar parcerias público-privadas (PPP);

o Criar um Fundo Soberano de Riqueza e/ ou Banco Nacional de Desenvolvimento.

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O PDG notou que os pressupostos em torno de preços e volumes de gás têm implicações significativas na grau de realização da sua visão para Moçambique. Dado não haver respostas para os mesmos à data da sua redacção, o PDG não procedeu à sua modelação formal, afirmando que os cálculos económicos dependem dos preços de gás, da disponibilidade do gás e do clima de investimentos.

Contudo, para compreender os impactos definitivos de desenvolvimento, será importante compreender exactamente quanto é que do acima exposto será possível e a que custo de modo a tomar decisões informadas sobre o desenvolvimento dos recursos de gás de Moçambique.

Além de ter tido acesso aos dados da Área 1 sobre a disponibilidade de gás (volumes e calendarização) bem com aos preços de gás, o Standard Bank é capaz de aceder aos pressupostos sobre os custos de desenvolver estes megaprojectos relacionados com o gás a partir dos respectivos líderes da indústria, e trabalhar sobre a base oferecida pelo PDG para demonstrar como é que o Projecto pode ser alavancado para promover as metas dos principais documentos de políticas públicas de Moçambique bem como o próprio PDG.

Os principais temas do PDG defendem directamente os documentos de políticas chave e um tema central da literatura sobre o desenvolvimento de receitas dos recursos – a transformação do capital natural em capital físico e humano. Dadas as grandes descobertas de gás em Moçambique, bem como outras descobertas anteriores de minerais, diversas IFDs, ONGs e instituições académicas escreveram sobre como Moçambique poderá utilizar esta riqueza para alcançar as suas metas de desenvolvimento. As mesmas estão escritas no contexto de uma literatura mais ampla sobre a gestão óptima das receitas dos recursos, aspecto comentado abaixo.

3.3.2 A Maldição dos Recursos Naturais

No seu influente trabalho, Natural Resource Abundance and Economic Growth, Sachs e Warner (1995) foram dos primeiros a iniciar o longo e contínuo debate sobre se a abundância de recursos contribui para um crescimento económico mais lento, e se sim de que forma. As suas conclusões sugerem que os países que exportam uma grande quantidade de recursos naturais cresceram a um ritmo mais lento em relação a países que não o faziam, tudo o resto constante. Desde então, vários autores testaram se isto se verificava, sob que condições, de que ´formas acontecia e como é que os decisores políticos poderiam melhor responder. Esta secção oferece um breve resumo destes elementos com um foco especial em boas práticas ao nível de opções de políticas para um país em desenvolvimento.

Na sua revisão da literatura sobre a maldição dos recursos, Frankel (2010) identifica diversas formas através das quais qualquer abundância de recursos poderá abrandar o crescimento:

1. Os sectores de recursos excluem os outros sectores, especialmente a indústria transformadora a qual poderá ter efeitos muito fortes no crescimento através do

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desenvolvimento tecnológico ou pela “aprendizagem baseada em experiências” e também na criaçã de emprego. Isto é o efeito da Doença Holandesa;

2. A volatilidade nos preços das mercadorias provoca instabilidade macro-económica e outros problemas;

3. As receitas dos recursos poderão desgastar ou atrasar o desenvolvimento de capacidade institucional e boa governação;

4. Os recursos esgotam-se muito depressa devido a má gestão e falta de suficientes direitos de propriedade;

5. Os países com grandes quantidades de recursos têm maior probabilidade de se envolverem em conflitos armados os quais prejudicam o crescimento.

Os estudos que tentaram determinar estatisticamente quais as formas, caso existissem, mais evidentes ou sob que condições as mesmas eram válidas, enfrentaram diversas dificuldades incluindo sensibilidade às definições das variáveis, inclusão de variáveis de controlo e debate significativo em torno da direcção exacta da causalidade. Apesar disso, apesar de existirem evidências de que a abundância dos recursos possa inibir o crescimento sob certas condições, parece não haver uma maldição de recursos naturais que se aplique na totalidade a nível global. As evidências sugerem que existem armadilhas económicas significativas relacionadas com a abundância de recursos, mas que as mesmas podem ser mitigadas, evitadas e/ou ultrapassadas através de uma gestão e políticas apropriadas. Efectivamente, existem muitos exemplos de países que têm recursos abundantes e que os utilizaram para transformar as suas economias e criaram riqueza para os seus cidadãos. Os casos mais marcantes incluem os Estados Unidos da América, a Noruega, a T&T, Botswana, Qatar e Omã bem como o Reino Unido e a região da Alemanha de Rhine-Ruhr durante a Revolução Industrial.

Das principais formas expostas acima, as primeiras três são potencialmente problemáticas no caso do desenvolvimento do GNL de Moçambique e serão abordadas com maior detalhe.

No caso do esgotamento rápido tal é pouco provável visto que as reservas recuperáveis de Moçambique são grandes (i.e. 50 a 70 Tcf para a Área 1) e poderá manter-se a produção ao serviço dos contratos de longo prazo assegurados pelas Contratadas relevantes que tiverem direitos de propriedade claramente definidos.

No caso do quinto ponto, apesar de Moçambique ter um historial de conflito, tem vivido em paz ao longo de duas décadas e com diversas transições de poder democráticas. Adicionalmente, o caminho do conflito funciona sobretudo com fontes de recursos facilmente controláveis que são de extracção simples e com fácil acesso ao mercado tais como diamantes, petróleo e tantalite, o oposto do GNL que requer tecnologia intensiva e tem que aceder ao mercado através de transportadores de GNL dedicados e facilmente identificáveis. Isto relaciona-se com outro ponto importante na consideração da maldição de recursos ligada ao Projecto, que é que o GNL é em muitas medidas um recurso único. Requer uma infraestrutura e transporte especiais de modo a chegar ao mercado tornando os volumes produzidos mais transparentes. Importa notar que o GNL é fornecido mediante contratos de longo prazo, os quais são indexados ao preços globais de mercadorias (o JCC, mas cada vez mais os preços de gás do Henry Hub) e além disso ter preços mínimos e máximos incorporados na fórmula de preços para proteger os vendedores e compradores

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respectivamente. Isto reduz grandemente a volatilidade dos preços e consequentemente a volatilidade das receitas do Governo, o que muitos defendem ser uma causa significativa de todos os efeitos da Doença Holandesa (Van der Ploeg e Poelhekke, 2009). De facto, o FMI (2014) reconheceu que a volatilidade de preços do GNL é menor do que a de outras mercadorias, o que endereça parcialmente o ponto 2.

Existe uma estratégia de alto nível, além de respostas políticas individuais, que é geralmente aceite pelos economistas, na gestão da receitas dos recursos, salientando-se que verificam ligeiras variações com base no nível de desenvolvimento de um país. A hipótese do rendimento permanente procura manter um nível permanente de rendimento no longo prazo através da extracção dos recursos a um ritmo equivalente ao valor total da anuidade do recurso. Tal como Collier et al (2011) defendem, tal nem sempre é aplicável para um país em desenvolvimento, o qual tem maiores necessidades de consumo no presente, dados os seus elevados níveis de pobreza, os quais podem ser utilizados para mover o país num caminho de consumo crescente. Importa notar, e tendo em consideração experiências prévias nas quais as receitas dos recursos não têm sido utilizadas de forma óptima, que grandes fatias das receitas dos recursos devem ser investidos, especialmente em infra-estruturas, as quais compõem a espinha dorsal de uma economia moderna. Deste modo, as receitas dos recursos deverão ser utilizadas para acumular reservas iniciais de capital físico e humano – efectivamente transformando o capital natural noutras formas úteis que poderão sustentar o crescimento após o declínio dos recursos. Esta é a lógica subjacente da Regra de Hartwick. Collier et al salientam que existem três caminhos gerais através dos quais o Governo pode facilitar esta transferência de recursos para aumentar o consumo e investimento, notando que certas fatias deverão em muitos casos ser retidas para objectivos de políticas macro-económicas (apresentados ao longo dos Capítulos 4 e 6):

1. Dar ao Sector Privado através dividendos, aos cidadãos ou de isenções fiscais;

2. O Governo gastar directamente, através do consumo público ou activos públicos (i.e. desenvolvimento de infra-estruturas);

3. Os fundos serem emprestados pelo Governo ao Sector Privado – por exemplo o sector bancário nacional (para consumo e/ ou desenvolvimento de infra-estruturas)

Com esta estratégia de alto nível em mente, importa considerar as respostas políticas individuais às três áreas em que qualquer maldição de recursos poderá actuar em Moçambique: desenvolvimento industrial, desenvolvimento institucional e gestão macro-económica. As mesmas são, por seu turno, debatidas.

3.3.2.1 Desenvolvimento Industrial

O termo Doença Holandesa surgiu da descoberta de gás no campo de gás Holandês de Groningen em 1959, cujas exportações levaram a uma apreciaçao considerável da moeda que por sua vez retirou competitividade à indústria transformadora Holandesa, marcando o início do seu declínio. Adicionalmente, a procura por trabalho aumentou no sector do recurso, atraindo trabalho de outros sectores da economia e as receitas provenientes das receitas dos recursos aumentam a procura por serviços, novamente atraindo recursos (capital e trabalho) para esse sector em detrimento da indústria transformadora. Esta

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indústria, diz-se, tem benefícios dinâmicos únicos para a economia os quais impulsionam o crescimento e criam emprego. Deve notar-se contudo que no presente, o sector da indústria transformadora de Moçambique é pequeno e em 2019 provavelmente não será muito maior do que nos dias de hoje. O Standard Bank acredita que é muito provável que o Projecto e a VDG por ele possibilitada criará um sector industrial muito maior do que qualquer Doença Holandesa poderá ameaçar.

Mas ainda assim, podem ser realizadas grandes intervenções para prevenir que a mesma se manifeste. Primeiro, é a capacidade de prevenir movimentações de moeda através de meios socioeconómicos – este ponto é debatido em 3.3.2.3. Outra é a promoção de ligações económicas estratégicas entre o sector de recursos e a indústria transformadora em que o país tenha uma vantagem comparativa, talvez através de um insumo de baixo custo, o qual poderá ter benefícios económicos potencialmente vastos – tendo em conta esta ligação, Van der Ploeg (2011) analisa como o acesso de Detroit a minério de ferro barato promoveu o desenvolvimento da indústria motor (apesar de tal não ser o único factor). Este aspecto é de um potencial óbvio para Moçambique dada o tamanho das descobertas de gás.

Estimular de ligações económicas é uma das formas básicas para assegurar que o benefício do sector do recurso extraído alcança a economia numa base alargada. No caso do Projecto, tal poderá ocorrer através do desenvolvimento da indústria local assente no gás disponibilizado para consumo nacional em Moçambique. Apesar de que muita desta indústria local ainda não existe, atrair-se-ão investidores e promotores de projectos que poderão estabelecer parcerias com empresas e indivíduos Moçambicanos e promover o desenvolvimento de competências e transferência de tecnologia – além de desenvolver infra-estruturas de apoio. À medida que isto ocorre, o aumento de capacidade desenvolver-se-á de modo a que as PMEs participem do aproveitamento das infra-estruturas melhoradas e da transferência de competências dentro da Economia através de uma diversidade de actores do sector privado. Deve salientar-se que será crucial a existência de um Sector Privado dinâmico para efectivar estas etapas posteriores do desenvolvimento industrial.

Isto deverá ser feito com muito cuidado, considerando os pontos fortes do País, e tendo consciência de que se necessitam muitos factores adicionais para além do mero acesso ao recurso, tais como direitos de propriedade, infra-estruturas associadas, uma lógica comercial forte, e disponibilidade de competências técnicas, de modo a concretizar as oportunidades de peso. De modo semelhante, especialmente num país como Moçambique, estes aspectos terão que ser trabalhados com tempo, à medida que a Economia se desenvolve, mas os mesmos conferirão uma vantagem significativa e habilidade para fazer uso das receitas do GNL para um desenvolvimento abrangente. À medida que a economia se diversifica, o país torna-se resistente à volatilidade nos mercados de mercadorias dada uma base fiscal mais alargada e emprego em diversos sectores. As instituições e a prestação de contas são fortalecidas por terem uma base fiscal não dominada por uma única fábrica ou sector e aumenta a competição por sectores downstream tornand a Economia menos dependente de únicos e grandes contribuidores fiscais e da fatia de gás disponibilizada. Existe portanto a oportunidade para fazer uso das tecnologias por múltiplos actores do mercado e desta forma contribuir para um ambiente competitivo numa perspectiva geral.

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3.3.2.2 Desenvolvimento Institucional

O papel das instituições no desenvolvimento económico tem-se revelado nos últimos anos como um dos mais importantes factores na determinação do sucesso de um país (Hall e Jones, 1999; Acemoglu e Robinson, 2001). No seu livro, Why Nations Fail, Acemoglu e Robinson (2012) retratam como tipicamente dois tipos de enquadramentos institucionais emergem nos países e que resultam no seu sucesso ou fracasso. Os mesmos são instituições extractivas versus instituições inclusivas. No primeiro caso as instituições são desenvolvidas em torno da extracção de valor da economia por uma elite política, a qual captura e distorce as instituições do país para promoverem essa meta. Durante o certo período, estes países conseguem gerar crescimento, por vezes significativo, mas não conseguem manter o crescimento fundamentalmente porque asfixiam a inovação e os incentivos necessários para impulsionar uma economia moderna.

Alternativamente, as instituições inclusivas fortalecem os direitos de propriedade, promovem a educação e o desenvolvimento de infra-estruturas e apoiam a prestação de contas e desta forma fornecem a base para o crescimento e desenvolvimento económico sustentáveis. Acemoglu e Robinson congratulam o Botswana pelo seu desenvolvimento a este nível.

Como tal, as instituições inclusivas são necessárias para impulsionar o crescimento de longo prazo e maximizar os benefícios do desenvolvimento de recursos naturais. Num estudo importante, Mehlum et al (2006) consideram que não se observam maldições de recursos naturais em países com fortes fundações institucionais. Dado que Moçambique receberá grandes montantes de receitas, é quase axiomático que o grau em que as mesmas for bem utilizado determinará o benefício para o seu Povo, e como tal são vitais os procedimentos de gestão em vigor para assegurar que as receitas são gastas de forma óptima e que as decisões de investimento são eficientes e tomadas de acordo com princípios comerciais. Este ponto foi adicionalmente vincado pelo FMI (2014) na discussão de reformas estruturais relacionadas com o desenvolvimento do GNL. Como parte disto, Collier et al (2011), salientam a necessidade para desenvolver países para “investir no investimento” pelo desenvolvimento da capacidade de avaliarem projectos de investimento que se tornarão possíveis devido aos incrementos de receitas de uma forma transparente e metódica. Isto também evidenciado pelo Banco Mundial (2014) ao colocar ênfase na necessidade de um referencial de Gestão do Investimento Público que possa promover o desenvolvimento de infra-estruturas. Outros tipos importantes de instituições incluem aquelas que publicam os recibos de receitas bem como os desembolsos de receitas a províncias e municipalidades, instituições que supervisionam as regras fiscais e fundos dedicados e instituições que podem resolver disputas entre as comunidades locais, o Governo e as empresas. Dado o número de IFDs e ONGs activas em Moçambique, existe um forte argumento para sua atenção crescente ao apoiarem as áreas acima descritas à medida que Moçambique se torna mais independente do ponto de vista fiscal como resultado dos fluxos de receitas do Projecto para o GdM.

Por último, a participação de Moçambique na EITI é um passo importante no desenvolvimento de instituições transparentes que possam assegurar que os recursos de Moçambique beneficiam todas as suas pessoas. O Projecto naturalmente cairá dentro desta categoria. O Relatório salienta que os dados actuais da EITI são algo antigos (dados de 2011 apenas publicados em 2014). Isto poderá limitar a eficácia da formulação de políticas mas ainda assim é um complemento importante.

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3.3.2.3 Estabilidade Macro-Económica

A gestão macro-económica da Economia é uma função da capacidade institucional, mas ainda assim é diferente em termos de respostas às ameaças de Doença Holandesa e de maldições de recursos. Existem diversas questões importantes relacionadas com a gestão macro-económica das receitas dos recursos:

O equilíbrio entre despesas de consumo (incluindo transferências sociais) e investimento;

Evitar despesas pró-cíclicas através de regras fiscais;

Criar fundos dedicados para poupar a riqueza (Fundo Soberano de Riqueza (FSR) ou Fundo de Estabilização Doméstic (FED); e

Amortizar a dívida (quer seja nacional p.e. obrigações do Tesouro ou de Empresas Estatais tais como a CFM, Petromoc, ENH e EDM)

Dada a pobreza na maioria dos países em desenvolvimento incluindo Moçambique, verifica-se a necessidade de rapidamente elevar os rendimentos e o consumo. As transferências sociais são um meio importante e uma ferramenta política que Moçambique pode investigar para aliviar a pobreza e promover o desenvolvimento (Biggs, 2012). As mesmas podem assumir uma forma de transferências (condicionais) de dinheiro, pensões, donativos por deficiência ou de família. Tais programas têm funcionado bem para melhorar os resultados sociais, reduzir a pobreza e criar emprego em países como o Brasil (Bolsa Família9 e a África do Sul (Programa de Pensões Old Age SA) (Ardington et al, 2007). Contudo, os mesmos devem ser ponderados juntamente com prioridades de investimento, bem como pela consciencialização de que as possibilidades de consumo não são infinitas e portanto não deverão criar-se compromissos excessivos relativamente a despesas de consumo, tais como os salários do Governo, os quais são fáceis de subir durante os tempos de prosperidade mas difíceis de reduzir quando as receitas dos recursos diminuem.

Este balanço entre despesas de investimento e consumo também existe em paralelo com a necessidade potencial de manter algumas receitas de parte em fundos específicos que possam compensar a volatilidade e manter os níveis de orçamento durante crises (FED) e/ ou preservar a despesa das gerações futuras (FSR). Existe em Moçambique uma quantidade significativa de prioridades de investimento doméstico, e dada esta necessidade, os projectos domésticos providenciarão um melhor retorno do que investimentos estrangeiros (os quais um FSR está mandatado para fazer). Como tal, o GdM deve reflectir com cuidado sobre se a esta etapa o FSR será a melhor forma de aplicar os funfos, visto que o mesmo implica emprestar receitas de recursos a empresas e indivíduos domésticos em detrimento dos nacionais. Intuitivamente, não parece ser uma prioridade de topo, especialmente porque as oportunidades de VDG estimularão o potencial de investimento doméstico.

Um FED, juntamente com regras fiscais rígidas e flexíveis, poderá ser útil na gestão deste equilíbrio e assegurar que os fundos são utilizados de forma óptima e transparente. Ao ter o seu FED, Moçambique poderá manter receitas constantes em face de reduções de preços de mercadorias e deste modo providenciar despesas em contra-ciclo de apoio à Economia em face de crises económicas. Isto permitiu que o Chile gerisse o declínio nos preços do cobre durante a Crise Financeira Global e evitasse uma recessão (Frankel, 2010). Um FED poderá ser combinado com um fundo de estabilizaçao da taxa de câmbio de modo a dar apoio à indústria transformadora, no caso da mesma o necessitar devido a uma apreciação excessiva da moeda. Tal poderá não ser necessário, devido às baixas volatilidades nos preços do GNL e como tal qualquer FED não necessitaria de ser do tamanho equivalente a aqueles implementados nas economias exportadoras de petróleo. Em qualquer dos casos,

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salienta-se que a indústria transformadora de Moçambique é em si mesma muito pequena, tendo a Mozal sido endereçada anteriormente.

Por último, ter volumes baixos de endividamento aumenta a independência da economia, a flexibilidade de resposta a quaisquer crises de curto prazo, a diminuição do risco cambial associado com dívida em moeda estrangeira bem como aumenta a atractividade junto dos investidores. A amortização da dívida existente, em conjunto com as prioridades de despesa delineadas acima, é uma forma útil de fazer uso dos fluxos de receitas, especialmente em anos em que se tenham recebido receitas acima das previsões de longo prazo. Isto previne uma despesa insustentável em consumo ou projectos marginais de investimento e reduz a longo prazo os fardos sobre o fisco. Mais ainda, incrementa a capacidade de endividamento para quando a mesma for necessária.

O Capítulo 3 descreveu o Projecto enquadrando-o globalmente e em Moçambique e fez uma revisão das principais metas de políticas e de literatura sobre a gestão de receitas de recursos. Foram salientados vários pontos importantes:

A necessidade premente de impulsionar o desenvolvimento em Moçambique, através do alívio da pobreza e a criação de emprego

o A Agricultura e as PMEs têm um papel importante neste sentido

Os países com muitos recursos naturais que utilizaram o seu património finito de uma forma correcta fizeram-no pela conversão de capital natural em capital humano e físico de uma forma óptima. A chave residiu em políticas que:

o Favoreceram o investimento em detrimento do consumo, e promoveram investimento eficiente tanto no sector privado como no público;

Utilizar uma parte das receitas e aquelas que não puderem ser investidas de forma eficiente para amortizar dívidas existentes;

o Desenvolveram a indústria nacional através de ligações directas e indirectas à base de recursos naturais e portanto tiraram partido da vantagem comparativa do país;

o Geriram com êxito a volatilidade através de um FED;

o Levaram a elevados níveis de transparência e boa governação.

O Projecto confere a capacidade sem precentes de transformar capital natural em capital humano e físico. Uma fábrica de GNL por si só não garantirá que Moçambique cumpre com as suas metas políticas e objectivos de desenvolvimento, pois a mesma não é uma condição suficiente. Porém, de modo a alcançar as suas ambiciosas metas de desenvolvimento, é difícil ver como é que Moçambique poderá fazê-lo sem tirar partido das receitas e ligações industriais que o Projecto oferece. Nisto o Projecto fornece uma oportunidade verdadeiramente única a qual poderá ser utilizada para o avanço do país, desde que se verifiquem outras condições necessárias. Os capítulos seguintes salientam a escala dos benefícios financeiros e económicos, e também expõem as significativas ligações comerciais associadas com a VDG que estão potencialmente disponíveis.

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4 Análise Financeira

4.1 Introdução

Os modelos financeiros do Projecto foram desenvolvidos pela Área 1 utilizando o programa informático Palantir. A Anadarko, a ENH, o GdM e outras partes interessadas relevantes (p.e. INP) possuem licenças para utilizar este programa informático. O Standard Bank solicitou que vários cenários fossem testados no modelo Palantir. Os relatórios de resultados do Palantir foram utilizados como uma base para esta análise a qual, por seu turno foi disponibilizada à Conningarth para utilização no seu próprio modelo económico SAM (Secção 6). Adicionalmente, foram realizados testes à razoabilidade dos resultados do modelo Palantir de modo a assegurar a existência de uma conciliação geral entre os produtos do modelo Palantir e os do modelo do próprio Standard Bank.

4.2 Cenários de Modelação

Esta análise é realizada considerando os impactos económicos mais abrangentes de seis cenários financeiros do Projecto:

1. Um cenário sem Projecto, considerando o abandono em 2015 (“Abandono do Projecto”)

2. 2 trains (com a primeira produção de Gás – Primeiro Gás - em 2019)

3. 2 trains, com um atraso de três anos (i.e. com o Primeiro Gás em 2022)

4. 6 trains (com a operacionalização de um train por ano a partir do Primeiro Gás em 2019)

5. 6 trains, com um atraso de 3 anos (i.e. com o Primeiro Gás em 2022)

6. Um projecto isolado de Venda Doméstica de Gás (VDG) (com o Campo de Gás Nacional a alcançar o Primeiro Gás em 2019)

Cada um destes cenários é examinado em quatro intervalos temporais:

2019: Fase de construção dos trains iniciais assumindo que não há atrasos

2025: Os primeiros seis possíveis trains estão em funcionamento por um ano inteiro

2030: Cinco anos de funcionamento de todos os trains possíveis, com projectos iniciais de VDG em funcionamento, e outros grandes megaprojectos a utilizarem a VDG, em construção

2035: Uma década de pleno funcionamento e com os megaprojectos relacionados em funcionamento operacional e comercial

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Tal como mencionado anteriormente, os cenários acima baseiam-se apenas na Área 1. Quaisquer desenvolvimentos da Área 4 (LNG e/ou VDG) acrescem aos cenários acima e vão para além dos mesmos.

Figura 19: Pontos de Decisão Final de Investimento (FID) e Resultados Financeiros

A figura anterior refere-se às Taxas Internas de Rentabilidade (TIRs) sem endividamento. A introdução de endividamento para os trains 1 e 2 aumenta a TIR para 12.2%.

Existem duas grandes variáveis cujo valor muda em cada cenário. As mesmas são o número de trains, o prazo de construção sendo o gás doméstico – VDG – também considerado (como um resultado do Projecto). Os cenários escolhidos foram motivados por diversos factores:

Visto que os trains são construídos como um resultado da procura no mercado global de GNL, não há certeza de que todos os trains sejam construídos e o Relatório tem por intenção explorar o impacto macroeconómico de diferentes quantidades de trains em Moçambique

É possível que haja atrasos em alcançar a FID dados certos posicionamentos comerciais bem como a necessidade de negociar o Regime Especial e acordos finais. O Relatório pretende investigar como é que quaisquer atrasos com o GdM afectarão a estrutura de custos e transferência de benefícios para o GdM e o seu povo

É modelada uma opção de VDG, a qual terá um impacto crucial na estratégia de industrialização de Moçambique. A intenção é modelar como é que os volumes de gás disponibilizados afectam o grau de desenvolvimento industrial, através do fornecimento de gás doméstico aos vários projectos baseados em gás que Moçambique possa construir, com a quantidade relevante de VDG a aumentar para MMSCF/dia até 2039 ou 361 Bcf por ano.

4.3 Prazos

O modelo Palantir assume que o Projecto entregará os primeiros carregamentos de GNL até meados de 2019. A FID necessita ser tomada até ao 3º trimestre de 2015 de modo a satisfazer este compromisso. Devido à natureza da actividade de exploração e produção, o risco de exploração e os custos de pré-desenvolvimento com o FEED são totalmente absorvidos pelos dois trains

2014 2015 2021202020192016 20182017 20242022 2023

Train 1

2044

Train 2

Train 3

Train 4

Train 5

Train 6

DGS

Capex Incremental : $23-26 mil milhões

TIR: 10,1%

FID FID

FID FID

Capex Incremental: $14.5 mil milhões

TIR acumulada: 15,7%

Capex Incremental : $14 mil

milhões

TIR acumulada: 16,2%Capex: $4.3bn

Início da Produção

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iniciais. A perfuração de exploração da Área 1 iniciou em 2009. Como resultado disto e da experiência obtida na realização dos primeiros dois trains, espera-se que os trains futuros custem incrementalmente menos (tal como abaixo apresentado).

Figura 20: Economias de Escala Associadas ao Projecto

Do ponto de vista comercial faz, portanto, sentido, desenvolver múltiplos trains. De uma forma geral, as receitas de cada train adicional são semelhantes às dos primeiros mas implicam um custo de capital significativamente inferior, o que significa que os últimos trains aumentam a TIR acumulada. O cenário de 6 trains assume que se desenvolverão 6 trains com um train a entrar em funcionamento por ano a partir de 2019 (até 2024). O EPCC permite um período de desenvolvimento e produção de 30 anos após a aprovação do Plano de Desenvolvimento (POD) (previsto para o 3º trimestre de 2015). Assumiu-se um atraso de 3 anos na FID no cenário de atraso. A lógica subjacente é que o Projecto falharia a janela do mercado de GNL pré-2020 e estaria num mercado de compra diferente (devido a mais GNL da Austrália, Canadá e EUA no mercado global, potencialmente também a Tanzânia, salientando o risco da oferta de longo prazo de GNL exceder a procura). Existe também o risco de reputação que o GdM teria que enfrentar, dado que haveria que voltar a motivar os potenciais compradores e os mesmo poderão estar mais cépticos em rondas de negociação futuras e/ou poderão colocar maiores exigências ao Projecto antes de se comprometerem de novo. Adicionalmente, e a nível interno, um atraso afectará negativamente os prazos das receitas fiscais; a disponibilidade de gás doméstico para os megaprojectos e um atraso no aumento da prosperidade de todos os Moçambicanos. O Standard Bank não está envolvido em conversações com compradores de GNL. Contudo, com base numa revisão documental e debates sobre o mercado o Standard Bank acredita ser vital alcançar a FID em 2015 de modo a assegurar que Moçambique obtém os benefícios mencionados neste Relatório.

0

2

4

6

8

10

12

14

2 trains 4 trains 6 trains

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Tamanho do Projecto

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4.4 Custos do Projecto

A Área 1 disponibilizou os relatórios Palantir para os Trains 1, 2, 3, 4 e 50% dos Trains 5 e 6. A Área 1 assume que os Trains 5 e 6 serão desenvolvidos conjuntamente pela Área 4 e pela Área 1 (e portanto apenas terem sido fornecidos os pressupostos para um dos trains). Considerando que o Standard Bank tem apenas acesso a informação da Área 1, o Relatório adoptou um pressuposto de duplicar os trains 5 e 6 para determinar o impacto em Moçambique. Os custos do projecto modelados são apresentados na tabela abaixo.

Tabela 9: Custos do Projecto

Custos de Capital em Milhares de Milhão de USD

2 Trains 4 Trains 6 Trains Abandono

Capital de Exploração - Perfuração 2.8 2.8 2.8 2.8

Capital de Desenvolvimento – Perfuração 3.0 5.3 7.5

Pré-Desenvolvimento (estudos FEED, etc).) 1.2 1.2 1.2 1.2

Unidade de Produção Flutuante (compressão futura)

0.8 3.4 5.1 -

Juros Capitalizados e Comissões durante a construção (apenas os Trains 1 e 2)

3.6 3.6 3.6 -

Engenharia e Design Subaquáticos 0.4 0.4 0.4 0.1

Gasoduto 0.8 1.3 1.8 0.2

Infraestrutura subaquática/ Conjunto de Poços

2.8 4.6 7.0 0.5

GNL 10.0 16.6 23.2 1.7

Capital de Abandono 0.8 1.5 2.1 -

Total de Custos de Capital (Capex) 26.1 40.6 54.6 6.5

Custo Incremental 14.4 14.0

Note-se que no EPCC, a recuperação de custos está limitada a 65% do petróleo disponível (disposable petroleum) por ano sendo quaisquer custos de petróleo (cost petroleum) adicionais transportados para o período fiscal seguinte até que os mesmos sejam totalmente recuperados. Assume-se que todas as despesas do Projecto constituem custos recuperáveis ao abrigo do EPCC. Projecto O custo de capital acumulado é de 26.1 mil mihões (MM) de USD para os 2 trains (a totalidade dos custos de capital (all-in) pré-FID são 23 MM de USD) 40.6MM de USD para o 4º train e 54.6MM de USD para o 6º train do projecto GNL. Para fornecer trains adicionais serão necessários mais poços. Serão dispendidos 4.2 MM de USD em custos pré FID até 2014. Os custos de exploração e estudo FEED são incorridos inicialmente para os trains 1 e 2. Os juros durante a construção são incluídos apenas nos primeiros 2 trains. Não se considerou financiamento para os trains 3,4, 5 e 6 devido às actuais limitações de previsão das condições do mercado. Abandono Uma decisão de não avançar com o Projecto (por exemplo, devido à incapacidade de alcançar um acordo sobre o Regime Especial) resultará numa perca estimada de investimentos no valor de 6.5 MM de USD (suportados até 2015) o que por definição levará a grandes percas de receitas por parte do GdM bem como da Área 1.

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Atraso Um atraso de 3 anos comporta um acréscimo de custos de capital de 500 milhões de USD por ano. Venda Doméstica de Gás (VDG) O cenário de campo de gás doméstico (DFC) tem um custo de capital de 4.3 MM de USD distribuídos por um período de 25 anos a começar em 2019. O DFC é um projecto isolado que requererá a perfuração de poços adicionais e infra-estruturas dedicadas, exclusivamente dedicadas à venda de gás doméstico (VDG) a projectos nacionais downstream.

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4.5 Operações do Projecto

Os elementos chave da informação operacional do Projecto são apresentados abaixo.

Tabela 10: Dados Operacionais do Projecto

2 trains 4 trains 6 trains DFC

Volume Líquido de Gás (Tcf) 12.18 23.40 33.63 5.94

Volume Incremental (Tcf) 11.21 10.24 n/a

Tarifa de Gás em USD/ mcf 12.30 12.30 12.30 3.25

Receitas (Milhares de Milhão de USD)

149.87 287.76 413.67 19.31

Despesas Operacionais (Milhares de Milhão de USD)

15.48 24.91 33.60 2.63

Os trains de GNL baseiam-se na modelação de um pressuposto fixo de 12 USD por MMBTU ou 12.30 USD por MSCF. Reconhece-se que na realidade as receitas variarão devido a mudanças nos índices relevantes dos Acordos de Compra e Venda (SPA), p.e. partes do Japan Crude Cocktail (JCC) ou do Henry Hub (ou de outros índices a acordar). Tal como mostrado acima, os volumes líquidos de gás consumido (assumindo que todos os trains são construídos) são 40 Tcf. Os volumes são líquidos de percas a montante no valor de 1% e de percas de conversão de GNL no valor de 10.9%, visto os volumes brutos consumidos serem 45 Tcf. A título de clarificação, assumindo a procura de GNL, a Área 1 desejaria produzir mais gás durante o período do EPCC. O Train 1 entrega os seus primeiros carregamentos em 2019 acrescentando-se mais um train em cada ano. Cada train adicional acrescenta menos gás visto que o período de Desenvolvimento e Produção de 30 anos do EPCC terminar cerca de 30 anos depois da FID (3º T de 2015 – de notar que o Train 6 produz durante 20 anos). As receitas totais para os cenários de 2 train e de 6 train são de 150 MM de USD e 414 MM de USD respectivamente. Os 6 trains funcionam em simultâneo, por períodos completos de um ano, desde 2025 até 2044. Os valores chave são apresentados abaixo:

Tabela 11: Dados Operacionais do Projecto: 2 trains 2019 2020 2021 2025 2030 2035

Volume de Gás (tcf) 0.12 0.37 0.50 0.50 0.48 0.48

Tarifa de Gás (USD / mcf)

12.30 12.30 12.30 12.30 12.30 12.30

Receitas Anuais (Milhares de Milhão de USD)

1.53 4.58 6.11 6.11 5.87 5.87

Despesas Operacionais (Milhares de Milhão de USD)

0.12 0.73 1.16 0.82 0.54 0.52

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Tabela 12: Dados Operacionais do Projecto: 6 trains

2019 2020 2021 2025 2030 2035

Volume de Gás (tcf) 0.12 0.37 0.62 1.47 1.45 1.45

Tarifa de Gás (USD / mcf)

12.30 12.30 12.30 12.30 12.30 12.30

Receitas Anuais (Milhares de Milhão de USD)

1.53 4.58 7.63 18.09 17.85 17.85

Despesas Operacionais (Milhares de Milhão de USD)

0.12 0.73 1.19 1.65 1.37 1.35

A Venda Doméstica de Gás (VDG) assume um preço de 3.25 USD por MSCF.

4.6 Receitas do Governo de Moçambique com o Projecto

A porção do Projecto correspondente ao GdM provém de múltiplas fontes ao longo da duração do projecto, incluindo:

Participação do Estado “Funded Carry” – 15% (detida pela ENH) até à

aprovação do primeiro POD (o qual diminui os compromissos de capital) por parte

do GdM

2% de Imposto de Produção de Petróleo (“IPP”) relativamente ao Gás Natural

produzido por depósitos a uma profundidade marítima superior a 500 metros

Petróleo-Lucro o qual é partilhado de acordo com uma escala variável determinada

pelo valor do Factor-R. Este valor pode ser obtido em espécie mas para efeitos

deste Relatório assume-se que será recebido em dinheiro.

o Por definição, o Factor-R é obtido pela divisão das entradas de dinheiro

(cash inflows) pelas saídas de dinheiro (cash outflows)

o Evidentemente, quanto maior o Factor-R maior a receita para o GdM. O

Factor R é uma forma complementar de tributação.

Tabela 13: Alocações do Factor-R no Projecto

Factor-R Parte do Petróleo-Lucro correspondente ao GdM

Parte do Petróleo-Lucro correspondente à Área 1

Menos do que um 10% 90%

Entre 1 & 2 20% 80%

Entre 2 & 3 30% 70%

Entre 3 & 4 50% 50%

Maior do que 4 60% 40%

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Tributação

o 32% de IRPC (com 25% de redução durante os primeiros 8 anos de

produção)

o 8% de taxa de retenção na fonte

o O Imposto sobre Mais Valias (CGT) é aplicável à Área 1 (está incluído nas

receitas do GdM dado este imposto estar directamente relacionado com as

actividades do Projecto). Importa salientar que a aplicação deste

imposto á Área 4 não é objecto deste Relatório.

Comissões de Formação e Bónus de Produção

o 4 milhões de USD por ano

o 5 milhões de USD com a produção inicial; 10 milhões a 20.000 BOE/ dia; e

20 milhões de USD a 50.000 BOE/ dia

No Capítulo 2, o Standard Bank expõe as condições fiscais dos megaprojectos anteriores.

Constata-se que as condições contempladas no EPCC da Área 1 são materialmente

diferentes das dos restantes megaprojectos (tais como reduções menores do IRPC e

a inclusão de impostos complementares sob a forma de Factores-R).

No seguimento do acima exposto, apresenta-se abaixo um resumo dos ganhos fiscais para o Governo de Moçambique com o Projecto:

Tabela 14: Resumo dos Ganhos Fiscais do GdM com o Projecto

Ganhos do GdM (Milhares de Milhão de USD)

2 trains 4 trains 6 trains

Comissões 0.2 0.2 0.2

Bónus 0.1 0.2 0.3

Gás proveniente do IPP 3.0 5.8 8.3

Imposto sobre Mais Valias 0.9 0.9 0.9

IRPC 24.0 45.4 65.6

Taxa de Retenção na Fonte 3.7 7.0 10.0

Total de Receitas para o Governo 27.4 68.5 104.4

Fluxo de Caixa Líquido da ENH 8.0 15.3 21.9

Receita Líquida 67.2 143.1 211.6

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Figura 21: Ganhos Totais Líquidos do GdM em função do tamanho do Projecto

Estima-se que o Governo de Moçambique receberá directamente 67 mil milhões de USD com 2 trains, 143 mil milhões de USD com 4 trains e 212 mil milhões com 6 trains ao longo da vida do Projecto (2006 a 2044). Além das receitas fiscais com os trains de GNL, a perspectiva de venda doméstica de gás (VDG) providenciará ao Governo de Moçambique gás de baixo custo (cujo preço não estará amarrado ao GNL ou a qualquer forma de paridade de preço de exportação) para utilização em projectos nacionais, bem como a receitas fiscais adicionais sob a forma de, bem como a receitas fiscais adicionais sob a forma de royalties, carry, partilha de lucros e impostos. As condições fiscais de uma potencial VDG terão ainda que ser negociados mas assume-se como sendo os mesmos do EPCC. As mesmas são ilustradas na tabela seguinte.

Tabela 15: Condições Fiscais da Venda Doméstica de Gás (VDG)

Item Descrição

Carry de Exploração 15%

Bónus 5 milhões de USD com a produção inicial; 10 milhões a 20.000 BOE/ dia; e 20 milhões de USD a 50.000 BOE/ dia

IPP 2%

Recuperação de custos 65%

Tributação 32% com 25% de redução por 8 anos

Factor-R Como ilustrado anteriormente

Com base nos elementos técnicos fornecidos pela Área 1, o Standard Bank assumiu um preço de VDG de 3.25 USD / MCF, o qual por seu turno gera os seguintes resultados financeiros:

Tabela 16: Ganhos Fiscais de Moçambique com o Desenvolvimento de VDG Ganhos para o GdM (mil milhões de USD)

Comissões -

Bónus 0.06

Gás proveniente do IPP 0.39

IRPC 2.89

0

50

100

150

200

250

2 trains 4 trains 6 trains

Milh

are

s d

e M

ilh

ão

de U

SD

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Ganhos para o GdM (mil milhões de USD)

Taxa de Retenção na Fonte 0.41

Total de Receitas Lucros do Governo 2.74

Fluxo de Caixa Líquido da ENH 0.94

Receita Líquida 7.43

TIR infinita

Deste modo o Governo de Moçambique pode ainda receber mais 7 mil milhões de USD provenientes de empreendimentos de VDG.

4.7 A ENH e a Área 1

A ENH é a detentora da participação carry do Estado de 15% (durante o período de exploração). A ENH recebe um carry financiado até à aprovação do primeiro POD. É responsável pelos seus próprios investimentos de capital e angariação de fundos, e o financiamento inicial é devolvido ao concessionário com base na recuperação de custos. A ENH e o concessionário partilham o Petróleo-lucro de acordo com uma escala variável determinada pelo valor do Factor-R. Os mesmos são tributados na sua parte do Petróleo-Lucro. Ambos têm direito à Recuperação de Custos até 65% do valor do petróleo disponível anualmente. O Petróleo Disponível por definição é a receita após o pagamento do IPP. A recuperação de custos permite que a ENH e a Área 1 recuperem os seus investimentos e partilhem os custos associados ao projecto. Dado o exposto, as TIRs respectivas da ENH e da Área 1 são as seguintes:

Tabela 17: Fluxos de Caixa Líquidos e TIRs da ENH e da Área 1 em função do nº de Trains

ENH Area 1

Fluxos de Caixa Líquidos

TIR Fluxos de Caixa Líquidos

TIR

2 trains 8.0 17.8% 42.0 12.2%

4 trains 15.3 20.6% 80.1 15.1%

6 trains 22.0 21.1% 114.9 16.1%

De notar que apenas os resultados dos Trains 1 e 2 incluem os efeitos do financiamento (a angariação de financiamento do projecto - project finance), sendo que os Trains 5 e 6 incluem ajustamentos para reflectir os pressupostos de modelação do Standard Bank os quais consideram que todos estes Trains são desenvolvidos pela Área 1 (dado o Standard Bank apenas ter acesso à informação da Área 1). Daqui resulta que a TIR, para a Área 1, de um GNL de 2 Trains é de 12,2% e a de 6 Trains é 16,1%. Os cenários de atraso resultam numa TIR menor devido a um acréscimo nos custos de capital e a um atraso nas receitas. A TIR da ENH é maior porque os seus custos iniciais de capital são financiados até que o POD seja aprovado.

Tabela 18: TIR da ENH e da Área 1 nos Cenários de Atraso na Construção de Trains ENH Area 1

Atraso em 2 trains 14.7% 10.0%

Atraso em 6 trains 20.2% 13.8%

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A Figura 22 ilustra graficamente as tabelas anteriores.

Figura 22: Comparação da TIR da ENH e da Área 1 por Cenário

4.8 Pontos Chave de Discussão

Os resultados da modelação não deixam margem para dúvidas sobre a importância, para o GdM bem como para a Área 1, de desenvolver os primeiros 2 trains de GNL para fornecer os primeiros carregamentos até 2019. Um atraso na FID levará a pelo menos um atraso de 3 anos nos primeiros carregamentos o que, dependendo do contexto do mercado de GNL nessa data, poderá afectar negativamente o preço do GNL e consequentemente os retornos para os investidores e para o GdM. Adicionalmente, tal atraso implica um adiamento nas receitas fiscais de Moçambique e atrasa ainda mais a disponibilidade de gás doméstico e o desenvolvimento de projectos nacionais tais como p.e. fertilizantes e a produção de energia, os quais podem oferecer a Moçambique benefícios em massa (ver Capítulos 5 e 6). O desenvolvimento de 6 trains de GNL é mais benéfico dado que o desenvolvimento de cada train adicional tem um custo incrementalmente menor como resultado dos custos de exploração e infraestrutura terem ocorrido aquando dos 2 primeiros trains, i.e., existem grandes economias de escala associadas ao Projecto.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 trains 2 trains com atraso 4 trains 6 trains com atraso 6 trains com atraso

TIR

ENH Area 1

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60

Tabela 19: Análise de Custos Total e Incremental

Custo Total Custos incrementais como % do Custo Total de 6 trains

Trains 1 & 2 Trains 3 & 4 Trains 5 & 6 6 trains Trains 1 & 2 Trains 3 & 4 Trains 5 & 6

Capital de Exploração - Perfuração 2.8 - - 2.8 100% 0% 0%

Capital de Desenvolvimento – Perfuração

3.0 2.3 2.1 7.5 40% 31% 29%

Pré-Desenvolvimento (estudos FEED, etc).)

1.2 - - 1.2 100% 0% 0%

Unidade de Produção Flutuante (compressão futura)

0.8 2.5 1.7 5.1 17% 50% 33%

Engenharia e Design Subaquáticos 0.4 - - 0.4 100% 0% 0%

Gasoduto 0.8 0.5 0.5 1.8 43% 29% 29%

Infraestrutura subaquática/ Conjunto de Poços

2.8 1.8 2.4 7.0 40% 26% 34%

GNL 10.0 6.6 6.6 23.2 43% 28% 28%

Capital de Abandono 0.8 0.6 0.7 2.1 39% 30% 31%

Capex total 22.5 14.4 14.0 51.0 44% 28% 27%

GNL as % of Total Capex 44.4% 45.7% 47.2% 45.5%

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A tabela acima indica que não existem custos adicionais para a exploração, perfuração, pré-desenvolvimento e engenharia e design subaquáticos após os trains 1 e 2. Também ilustra que os trains 1 e 2 são responsáveis por uma maior proporção do CAPEX em relação à perfuração de desenvolvimento, gasodutos, infraestrutura subaquática, processamento flutuante de gás e abandono. O investimento em capital para a unidade de produção flutuante é maior nos trains 3 e 4. A tabela abaixo é uma análise resumida das receitas fiscais do GdM, assumindo a possibilidade de recuperação de custos da fábrica de GNL e das infra-estruturas marítimas associadas:

Tabela 20: Resumo das Receitas Fiscais do GdM provenientes do Projecto Valores em Mil Milhões de USD 2 trains 4 trains 6 trains

Lucros do Governo 67.2 143.2 211.6

Receitas 149.9 287.8 413.7

Menos

Recuperação de Custos Operacionais (OPEX) 26.1 40.6 54.6

Recuperação de Custos de Capital (CAPEX) 15.5 24.9 33.6

Receitas menos a recuperação de Capex e Opex 108.3 222.3 325.5

Lucros do GdM como % das Receitas líquidas da Recuperação de OPEX e CAPEX

62.1% 64.4% 65.0%

Reconciliação da Recuperação de Custos

FC – Total de Capital 26.1 40.6 54.6

Comissões 0.2 0.2 0.2

FC – Total de Custos Operacionais 15.5 24.9 33.6

Total de Recuperação de Custos 41.8 65.6 88.3

Na perspectiva do Standard Bank, consideramos que o lucro fiscal do GdM de 62% a 65% é bastante satisfatório, especialmente salientando que a dimensão do CAPEX (54 mil milhões de USD) em relação a megaprojectos anteriores. O Standard Bank acredita que os benefícios significativos (fiscais directos, megaprojectos, socio-económicos) de continuar com o Projecto se sobrepõem de longe à opção de adiamento do Projecto.

4.8.1 Ajustamento do Risco em Projectos de Gás e Petróleo a Montante

Projectos de Gás e Petróleo a montante requerem tempo a serem desenvolvidos e os riscos das fases iniciais são elevados, antes e durante as fases de exploração. Adicionalmente, os mesmos podem ocorrer durante um longo período de tempo antes que se verifiquem quaisquer recebimentos. A título de exemplo a APC assinou o EPCC em 2006, e assumindo que não se verificam atrasos, apenas obterá os seus primeiros recebimentos como resultado da exploração em 2019 – o que constitui cerca de 13 anos de saídas de dinheiro em termos absolutos (durante as fases de pré-exploração, exploração e primeira construção (2006-2019)) e aproximadamente 15 anos de saídas líquidas de dinheiro (custos de construção que excedem os fluxos de recebimento iniciais) suportando riscos técnicos e comerciais substanciais. A falta de êxito até à data da Statoil e da Petronas nas Áreas 2 e 3 respectivamente relembram-nos do risco de exploração que as empresas enfrentam. As Figuras 23 e 24 fornecem um resumo esquemático deste risco e dos tempos requeridos pela Área 1 relativamente ao GdM e à ENH.

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Figura 23: Riscos do Projecto e Prazos Associados

Figura 24: Saídas de Dinheiro e Riscos da Área 1

Consequentemente, com base nos princípios de risco e retorno, bem como do valor do dinheiro no tempo, no cálculo dos vários ganhos da Área 1, ENH e do GdM, o Standard Bank acredita ser importante ter em consideração:

As diferentes taxas de actualização que as partes aplicam (como resultado das

diferenças de assunção de riscos no Projecto de acordo com o EPCC assinado); e

Não assume qualquer

Risco de Exploração

Enfrenta Risco de

Desenvolvimento e Risco

de Acesso ao Mercado

ENH

Começa a gastar apenas a

partir do POD (2015)

Prazos

Não assume qualquer

Risco de Exploração ou

Risco de Desenvolvimento

GdM

Não tem despesas

Prazos

Assume Risco de

Exploração Puro, Risco de

Desenvolvimento do

Campo e Risco de Acesso

ao Mercado

Área 1

As despesas começam no

Ano 0 (o primeiro

investimento) e continuam

ao longo de todas as fases

Prazos

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Os diferentes horizontes temporais que cada parte tem de enfrentar relativamente

aos riscos (de acordo com o EPCC assinado).

Consequentemente, o Standard Bank recalculou os ganhos de cada parte assumindo:

Taxas de actualização de 10% por ano para a Área 1 e de 5% para a ENH e

também para o GdM; e

Tendo em consideração o facto de que a Área 1 investiu na exploração desde 2006;

que o GdM já obteve ganhos fiscais (923 milhões de USD em Imposto sobre Mais

Valias da Área 1) e que a ENH não tem de investir até 2015 (até que o POD seja

aprovado)

A alocação de benefícios resultante é apresentada na tabela e figura abaixo: Tabela 21: Alocação de Benefícios à Área 1, ENH e GdM por número de Trains

Mil milhões de USD

2 trains % 4 trains % 6 trains %

Área 1 3.6 12% 10.0 16% 14.6 16%

ENH 2.9 10% 5.9 9% 8.3 9%

Governo 22.8 78% 48.3 75% 70.7 76%

Total 29.3 100% 64.2 100% 93.6 100%

Figura 25: Valor Actual Líquido (VAL) ajustado ao Risco

O Standard Bank acredita que uma análise dos ganhos fiscais do Governo, ajustada ao risco, na ordem dos 84% a 88% é bastante aceitável para o País e muito elevada à luz de padrões globais para um mercado como Moçambique. Quaisquer benefícios provenientes da VDG acrescem aos já apresentados.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2 trains 4 trains 6 trains

Mil

Milh

õe

s d

e U

SD

Area 1 ENH Governo

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64

4.9 Análise Financeira de Domínio Público

O Standard Bank analisou sete fontes de domínio público que individualmente procuraram realizar cálculos financeiros (ou fornecer comentários) sobre o Projecto, nomeadamente:

CIP (2013) (dois documentos)

Credit Suisse (2014)

ICF (2013, 2014)

ILPI (2013)

IMF (2013)

Wood Mackenzie (2014)

World Bank (2014)

Adicionalmente, Frühauf (2014) cita algumas das fontes anteriores. Seguem abaixo os principais comentários sobre estes documentos (tendo em consideração o acesso do Standard Bank à informação da Área 1) reconhecendo que existem diferenças intrínsecas relacionadas com o prazo das decisões finais de investimento (FID) à data de redacção:

4.9.1 CIP

2013 Comentário

Contratos de Gás do Rovuma

Página

4 De acordo com o EPCC, os custos da dívida só podem ser deduzidos por mútuo acordo

5 O Gráfico sobre os ganhos para Moçambique exclui a parte da ENH bem como os impostos secundários/ complementares (apesar de que os últimos são considerados no texto)

5 A afirmação de que os contratos “pendem excessivamente” a favor das empresas exclui a realidade de que todas as despesas de exploração e desenvolvimento são da responsabilidade das empresas e não tem em consideração os benefícios para Moçambique. A análise da TIR e das receitas fiscais conduzida neste capítulo demonstra que esta afirmação está incorrecta, com o Governo de Moçambique a obter ganhos de 84% a 88% numa base ajustada ao risco.

6 O comentário sobre a definição do preço de GNL ignora a realidade de que a empresa também está igualmente concentrada em obter um preço elevado de GNL

7 Nada neste contrato impede o Governo de obter um empréstimo para financiar este custo (coberto pelo Gás Lucro)

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Implicações dos Contratos de 2006

Página

1 Afirma-se que serão recebidos 1,2 mil milhões de USD em 2026. Num cenário de 6 trains gerar-se-iam 5,6 mil milhões de USD nesse ano

2 / 3 O GNL de Angola é alimentado por múltiplos campos de gás associados sem um único empreendimento de gás não associado, de salientar portanto que se trata de um ponto de comparação inadequado

3 De acordo com o Relatório, o desenvolvimento de 6 trains assume que se completam 30 MTPA até 2024.

4 Não está claro o que se entende por “um projecto de energia dispendioso” dado a tabela excluir o produto do Projecto (em todas as referências)

5 O Cenário Base de dois trains pressupõe um custo de 23 mil milhões de USD.

5 O pressuposto de Preço de Gás situa-se aproximadamente entre os pressupostos da AIE e do Banco Mundial, citados no Relatório

7 Os números ignoram a participação da ENH na Empresa

8 O Standard Bank não compreende o gráfico que mostra receitas de USD4 e USD 8 MMBTU relativamente ao nosso entendimento da estrutura do EPCC

9 Pelo acima exposto, ao abrigo do EPCC, os custos de dívida só poderão ser deduzidos por mútuo acordo

A afirmação de que as condições fiscais são generosas não se reflectem na TIR da Área 1

4.9.2 Credit Suisse

Página Comentário

1 Assume-se uma TIR de 18% a qual é algo mais elevada do que a do Relatório mesmo assumindo a construção de seis trains. O Credit Suisse explica que o pressuposto se baseia num preço real do gás de 13 USD por MMBTU, ligeiramente superior ao pressuposto do relatório de 12 USD por MMBTU

2 O pressuposto do Credit Suisse de 30 MTPA na costa é igual ao do Relatório, havendo uma diferença no pressuposto do Credit Suisse de 5 MTPA FLNG (duas vezes 2,5 MTPA)

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66

9 O Credit Suisse assume que os custos de liquefacção não são recuperáveis sob o EPCC. Este pressuposto está incorrecto

11 Os custos de liquefacção projectados estão alinhados com as expectativas do Credit Suisse para este tipo de projectos (exceptuando regiões com custos elevados

4.9.3 ICF

Página Comentário

2012

7 De salientar que o relatório ICF foi redigido com um propósito específico, não é claro sobre a finalidade do cálculo da margem bruta (netback) embora os valores façam sentido do ponto de vista de lucos (ver abaixo). Estruturalmente, os campos são concessionados aos consórcios privados relevantes (e não ao GdM). Em segundo lugar, o preço relevante do gás comandado no mercado será o preço relevante do Acordo de Compra e Venda (SPA). Não há certeza de qual será o papel do GdM (para além de consentir/ acordar) na determinação de políticas de preço do GNL per si.

20 Não está claro porque é que foi adoptado um horizonte de produção de 45 anos sem diferenciar entre o período da Área 1 (30 anos de período de desenvolvimento e produção) e subsequentes períodos sob propriedade do GdM. O investimento tem de fazer sentido para o detentor da concessão, caso contrário não serão mobilizados recursos

21 De acordo com o Relatório, os custos totais (all in) projectados para os Trains 1 e 2 aumentou para cerca de 2300 USD por tonelada (muito

provavelmente devido à passagem do tempo

25 De acordo com o Relatório, adoptou-se uma taxa de actualização de 10%

39 O cenário de 6 trains por parte do ICF reflecte o do Relatório

40 Os pressupostos fiscais excluem a redução de 8% para os primeiros 8 anos após o Primeiro Gás

2014

4 Os comentários acima referentes às políticas de netback e de determinação de preços são também aplicáveis ao documento resumo de 2014

5 Repete-se o comentário sobre o horizonte de produção de 45 anos

11 Para 6 trains, o ICF calcula uma “Receita Total do Governo” de cerca de 6 a 8 mil milhões de US p.a. do Projecto. De acordo com o cenário de 6 trains, o relatório mostra um rendimento acumulado para o GdM de 212

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mil milhões de USD entre 201 e 2044, a uma média de 7,05 mil milhões de USD (reais) por ano. Este valor exclui todos os benefícios da VDG.

4.9.4 ILPI

Página Comentário

23 “O regime fiscal que governa os contratos do Rovuma é considerado como um dos mais generosos do mundo”. Espera-se que o benefício geral para o Governo seja algo inferior à média”. As conclusões do Standard Bank são inteiramente diferentes. A TIR da Área 1 situa-se num nível baixo e os ganhos fiscais do GdM são elevados, em especial quando ajustados ao risco e ao prazo.

24 “As Receitas de multi-milhares de milhões de dólares por ano parecem muito improváveis pelo menos antes de 2026”. Assumindo seis trains,os ganhos para o GdM ultrapassa os 2 mil milhões de USD por ano a partir de 2023; 4 mil milhões em 2024; 5 mil milhões de USD e 2025 e 6 mil milhões de USD em 2027.

35 “Existem riscos significativos de que se tenham incluído despesas não elegíveis ou inflacionadas nas declarações anuais de recuperação de custos”. Considera-se que a probabilidade de tal acontecer é baixa dado, inter alia: provisões de auditorias no EPCC; o estatuto de EITI de Moçambique; a angariação de project finance para financiar os Trains 1 e 2; a utilização de contratos de perfuração e de FEED que protegem o GdM, bem como as capacidades e profissionalismo das empresas envolvidas.

4.9.5 FMI

Página Comentário

5 Os cálculos do FMI baseiam-se em quatro trains

6 Assumem-se 20 TPA até 2023 (notando a passagem do tempo). O Relatório assume 30 MTPA até 2024

6 Projecção de investimento total de 40 mil milhões de USD. O Relatório considera 54,6 mil milhões de USD (excluindo o cenário de campo doméstico - DFC)

6 O Relatório assume apenas financiamento por dívida dos Trains 1 e 2 com um rácio de Dívida: Capital Próprio de 50:50 (em contraposição com o rácio de 70:30 assumido)

6 O FMI assume uma estrutura de cobrança com a entidade intermediária (a fábrica) separada da entidade a montante. Tal como debatido, estas

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modalidades fiscais não reflecte a lei em Moçambique e o Relatório assume um projecto integrado

12 O FMI assume 1 milhar de milhão de cf/ d para quatro trains até 2023. Até 2025 (o primeiro ano completo com seis trains) o valor relevante são

1.371 mil milhões de pés cúbicos

O Relatório salienta que o documento de 2012 do FMI “’Mozambique: Reforming the Fiscal Regimes for Mining and Petroleum’’ não foi publicado, apesar de ter sido mencionado pelo CIP.

4.9.6 Wood Mackenzie (2014)

Página Comentário

2 Os custos de capital de WoodMac são calculados apenas com relação ao elemento a montante

17 WoodMac assume uma estrutura de cobrança par a unidade de GNL na qual o modelo aplicável é um Projecto Integrado.

17 A WoodMac exclui o desconto de 25% sobre o IRPC (o qual é válido por 8 anos)

18 WoodMac assume que a fábrica de GNL cobra uma comissão de intermediação suficiente para obter uma TIR de 10%. Como salientado anteriormente, a fábrica é concebida em torno de um modelo integrado de Projecto

21 Com base na cobrança à fábrica de GNL, Woodmac estima uma TIR de 20,68% para o elemento a montante. Tal como indicado noutra parte deste Relatório, as TIRs dos Trains 1 e 2 uilizando um Modelo Integrado é de 12%.

4.9.7 Banco Mundial

Página Comentário

8 O Banco Mundial assume que 90% das projecções de receitas públicas de recursos para 2032 de 9 mil milhões de USD estará relacionada com GNL (portanto 8.1 mil milhões de US$) por quatro trains (página 41). O Relatório assume 8,63 mil milhões de USD no mesmo ano para seis trains. Este caso ilustra um tema consistente que é que a literatura de domínio público assume que o Projecto é mais rentável do que se espera vir a acontecer (com base neste Relatório)

41 O Banco Mundial assume quatro trains de produção de GNL em 2032. O

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Relatório assume seis trains.

43 O Banco Mundial assume que o início da produção de GNL será em 2020. O Relatório assume que o Primeiro Gás será em 2019.

43 O Banco Mundial assume o preço de 13,6 USD por MMBTU. O Relatório assume USD12 MMBTU / 12,3 MSCF

43 O pressuposto de imposto sobre o rendimento é mais baixo do que no Relatório. A mesma assume 16% até 2025 (cinco anos) notando-se que o número relevante é 24% por oito anos antes de reverter par 32%

4.10 Resumo das Conclusões

Tal como ilustrado acima, o Projecto é extremamente grande (à luz de padrões globais) e representa um fluxo de custos enorme para Moçambique que terá que ser incorrido (cerca de 150% do actual PIB). Uma vez incorridos e financiados, no seguimento do Primeiro Gás, o Projecto muda então para um fluxo de receitas sem precedentes em Moçambique Ao observar-se o ciclo de vida do projecto como um todo, certos elementos se destacam:

O Projecto não é particularmente rentável para a Área 1. Uma TIR alavancada de

de 12,2% para os Trains 1 e 2 é apenas 370 bps mais elevada do que o rendimento

das obrigações e com uma diferença de bps semelhante à de outras questões

relacionadas com obrigações soberanas, tais como as da Zâmbia no início deste

ano. Apesar das IRRs de tais níveis serem projectados para projectos GNL na

Austrália, deve notar-se que a Austrália tem um crédit ranking de AAA enquanto que

Moçambique tem um ranking de B (maior risco requer maior retorno). Quando se

aplicam taxas de actualização, apenas a Área 1 (excluindo a ENH) recebe cerca de

11% de fluxos de caixa líquidos com os primeiros dois trains.

Naturalmente, a TIRs aumenta com os trains subsequentes até acumular 15%, mas

o financiamento inicial ainda tem que receber contribuições por se tratar de um

projecto de 23 ´mil imlhões de USD. Naturalmente a TIR aumenta para trains

subsequentes

O Projecto é altamente rentável para o GdM. Por um lado está a assumir riscos

muito menores do que na Área 1 (p.e. investindo mais tarde). Adicionalmente, as

receitas fiscais que irá receber são de uma importância enorme. Dois trains geram

67 mil milhões de USD em receitas enquanto que seis trains produzirão 212 mil

milhões de USD de receitas. Se ignorarmos as taxas de actualização, este valor

corresponde a uma percentagem de 62% a 65% (dependendo do número de trains

a qual é aceitável. Contudo, quando se considera o prazo e a natureza do risco de

de Moçambique (através de taxas de desconto diferenciadas em datas diferentes),

esta receita fiscal sobe para 84 a 88%. Este resultado é magnífico para

Moçambique à luz de quaisquer padrões.

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Dados os efeitos adversos de um potencial atraso e dos efeitos benéficos de

múltiplos trains parece evidente para o Standard Bank que a estratégia financeira

óptima para Moçambique é procurar apoio no dois primeiros trains o mais cedo

possível. Por outro lado, deverá dar a maior probabilidade de desenvolver seis

trains assumindo que existirá procura do mercado (e potencialmente mais com o

passar to tempo) e assim maximizar o benefício para Moçambique;

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5 Análise Comercial

5.1 Introdução

Conforme descrito no Capítulo 4, espera-se que o Projecto produza em Moçambique um impacto financeiro transformador, decorrente da respectiva venda de vários trains de GNL a compradores estrangeiros.

No entanto, em forte contraste com todos os megaprojectos anteriores em Moçambique, o Projecto tem também a oportunidade de transformar a posição energética interna de Moçambique através da VDG, que o Relatório prevê que possa vir a ser usada em vários projectos downstream (por exemplo, GTP, GTF, GTM, etc.), muitos dos quais trariam benefícios internos significativos para Moçambique (por exemplo, a criação de novas indústrias de transformação), bem como em alguns casos o desenvolvimento de novas indústrias de exportação (o que irá aumentar ainda mais o emprego, exportações, balança de pagamentos, etc.).

O objectivo deste Capítulo 5 é modelar de forma indicativa, recorrendo a números de referência, uma combinação potencial de projectos de gás doméstico de raiz que poderiam usar, em Moçambique, o gás natural decorrente do Projecto. Em suma, é colocar números em cima da mesa para debate em Moçambique sobre resultados ideais no que respeita à VDG.

Os projectos downstream neste Capítulo 5 não representam uma recomendação ou conselho do Standard Bank sobre uma potencial selecção de projectos por parte de Moçambique ou pelo mercado global, sendo apresentados apenas para fins de discussão.

No processo de formulação deste capítulo o Standard Bank:

Recebeu da Área 1 pressupostos do projecto upstream, aos quais aplicou a sua visão comercial;

Recebeu certos pressupostos de referência do projecto downstream das partes interessadas que gostariam desenvolver projectos de gás em Moçambique (que foram calculados com base num preço de gás, critérios de tributação e financiamento uniformes);

Teve em consideração, e analisou, certos cálculos dentro da versão do Plano Director de Gás (PDG) a que tivemos acesso (publicado em 2013);

Calculou os potenciais custos de capital dos projectos downstream (e, portanto, as necessidades de financiamento), juntamente com o cálculo das receitas, custos, pagamentos de impostos ao GdM e as TIRs subsequentes. Não foram efectuadas quaisquer outras avaliações do grau de bancabilidade de projectos individuais;

Conningarth utilizou estes elementos para determinar o efeito (1) da VDG do Projecto e (2) o consumo, por projectos downstream, da mesma VDG (ao longo de prazos especificados), na sua análise económica final descrita no Capítulo 6.

No entanto, o Standard Bank, neste capítulo, não tem a intenção de criar uma versão do PDG (um processo de definição de política que já está em curso há muito tempo e que um banco não está qualificado a realizar). De forma semelhante à Introdução descrita na Secção 1.1, esta secção tenta iluminar e abrir o debate sobre o Projecto, através da disponibilização de números que são derivados de informações da Área 1. Conforme

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afirmado anteriormente, esta é a primeira vez que esta actividade foi realizada relativamente ao Projecto, por isso o Standard Bank acredita que a mesma traz valor e transparência para a discussão do Projecto em Moçambique.

Este Capítulo foi influenciado pelo mais recente diagrama de Sankey para Moçambique da AIE (Figura 26 abaixo), que mostra um papel reduzido para o gás natural, com a maior parte da produção de gás natural a ser exportada (para a África do Sul, pela Sasol). Uma meta clara do Projecto é mudar este diagrama de forma a incluir mais produção de gás (através do GNL) e da VDG, em linha com os exemplos de Omã, Qatar e Trinidad e Tobago incluídos no Anexo (sobre os prazos de desenvolvimento da sua indústria doméstica de gás) e discutidos em maior detalhe abaixo.

Este relatório sublinha novamente o pressuposto que a VDG descrita aqui exclui qualquer VDG que a Área 4 venha a efectuar. Consequentemente, é provável que as discussões do projecto downstream mudem quando a Área 4 efectuar VDG. Um exemplo óbvio é o pressuposto de gasoduto, cuja modelação e rentabilidade são determinados unicamente pelo gás da Área 1. Com mais gás disponível, o Standard Bank assume que o mesmo será concretizado.

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Fonte: AIE

Diferenças estatísticasProdução e Importações

MoçambiqueBalanço (2011)

Prod Petróleo

Import produtos de Petróleo

Prod Carvão

Prod Gás

Prod Bio/ Desperdício

Import Electricidade

Prod Energia Hídrica

Variações de Existências Exportações Percas de Energia\ Exportações Bunkers Consumo Próprio

Diferenças estatísticasVariações de ExistênciasConsumo Final Total

Outros

Transportes

Indústria

Estação de Energia

Outra transformação

Figura 26: Diagrama de Sankey de Moçambique

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Na sequência do debate sobre a VDG são abordados quatro aspectos comerciais materiais que têm impacto sobre as conclusões deste relatório, nomeadamente:

O impacto do Projecto sobre o sector bancário de Moçambique (decorrente da forma como os fluxos de caixa provenientes da venda de GNL e da VDG poderão ser repartidos)

Considerações sobre o Conteúdo Local do Projecto (tanto para o primeiro train como para os seguintes);

Os Regimes Especiais do Projecto que estão em negociação (que pretendem definir uma estrutura jurídica em torno do Projecto dentro do contexto da Lei Moçambicana); e

As implicações do Projecto para o futuro papel do Estado em Moçambique.

5.2 VDG e DFC

Ao abrigo do EPCC assinado, não existe nenhuma obrigação legal da Área 1 de fornecer gás doméstico a um comprador domiciliado em Moçambique. No entanto, na sequência dos vários êxitos na exploração descritos no Capítulo 1, a Área 1 e o GdM têm mantido discussões informais sobre a VDG, ou seja, a venda de gás de alto-mar a um - o Relatório assume - “Comprador Único” (ou agregador), localizado na costa, que será então responsável pela venda posterior desse gás a projectos individuais downstream na costa (que usarão esse gás doméstico como matéria-prima para a preparação do seu próprio produto).

O Standard Bank acredita fortemente que Moçambique deverá desfrutar do amplo desenvolvimento que a VDG traria ao ser disponibilizada para os Moçambicanos. Da mesma forma, a Área 1 espera poder contribuir para que Moçambique alcance maiores interligações em toda a sua economia, que irão surgir com base na sua potencial oferta de gás doméstico. A fim de promover o desenvolvimento máximo de Moçambique - em linha com a literatura sobre desenvolvimento aceite - a Área 1 gostaria de vender o gás ao seu “Custo em Terra” sem receber ou criar um subsídio (associado à sua produção e venda de GNL). Esta abordagem está em linha com a do ICF (2014) que argumenta que o gás não deverá ter o seu preço fixado no mercado interno abaixo do custo de produção. Abraçar a VDG tem vários benefícios, inclusive a diversificação da economia nacional (por exemplo, como no México ou na Indonésia) e reduzindo assim a sua exposição à Doença Holandesa (Van De Ploeg, 2011).

A posição da Área 1 sobre a VDG é resumida da seguinte forma:

Após chegar-se a um acordo sobre o projecto inicial de 2 trains, a Área 1 está preparada para negociar a realização da VDG a um comprador Moçambicano, com uma expectativa de que tais vendas tenham início logo após o Primeiro Gás decorrente do train 1 (i.e., assumindo o Primeiro Gás em 2019, a VDG inicial terá início em 2020);

A fim de garantir que não existe risco potencial para a produção de GNL da Área 1 (que, se ocorresse, teria um impacto financeiro sobre o GdM, de acordo com os resultados do Capítulo 4), a Área 1 assume que a VDG surgiria de um

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desenvolvimento autónomo no terreno - o DFC - cujos detalhes financeiros foram descritos no Capítulo 4 acima;

A Área 1 prevê que as negociações relevantes que rodeiam a VDG serão realizadas através de uma alteração do EPCC e confirma a sua disponibilidade para efectuar a VDG (desde que exista uma recuperação dos custos do DFC, tal como com a produção de GNL);

A Área 1 forneceu ao Standard Bank um perfil de produção pressuposto para a VDG, que começa em 2019 (45 Bcf p.a.), que aumenta ao longo do tempo para 126 Bcf em 2023 e, eventualmente, atinge o pico de 362 Bcf p.a. em 2039 (de uma base de 124 MMSCF/dia no ano 1)

Nesta base, a Área 1 está preparada para vender o gás ao Custo em Terra, incluindo um retorno upstream para a Área 1. Para efeitos do presente Relatório, o Standard Bank assumiu um preço de gás fixo de 3,25 USD por MSCF, que é aplicável a cada período de tempo a partir de 2019 até à conclusão do EPCC, em 2044;

A fim de implementar a VDG, a Área 1 espera que o GdM execute uma série de actividades subsequentes, incluindo, entre outras:

o Concordar acerca de uma estratégia e documentação de VDG com a Área 1 e a Área 4;

o Determinar a prioridade e sequência de alocação da VDG aos projectos, incluindo o seu processo de alocação comercial;

o Determinar o preço pelo qual a VDG iria ser revendida a projectos individuais;

o Realizar uma análise detalhada de Iniciativa de Desenvolvimento Espacial (“SDI”) regional sobre como os benefícios para o desenvolvimento decorrentes da VDG poderão ser alocados a todos os sectores e regiões de Moçambique, com particular destaque para o Norte de Moçambique, subdesenvolvido;

o Considerar cuidadosamente como a Área 1 e a Área 4 poderão desenvolver os seus trains iniciais de GNL em paralelo com a oferta inicial de VDG. Por exemplo, as duas concessionárias, ao construírem quatro trains de GNL em paralelo, irão utilizar recursos significativos e criar um impacto na indústria da construção de Moçambique até um ponto em que poderá retirar recursos de qualquer projecto nacional planeado anteriormente;

o Determinar e negociar os acordos contratuais ao abrigo dos quais o gás seria vendido pela Área 1 e adquirido por um suposto Comprador Único, e a base política, legislativa e regulamentar deste projecto;

o Determinar a estrutura da indústria de gás doméstico (tal como a estrutura física) de como o gás seria vendido pelo Comprador Único, através da cadeia de valor, para os utilizadores finais;

o Determinar a localização dos projectos downstream individuais e a rota e capacidade de transporte de gás óptimas; e

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o Determinar a estrutura ideal de capital para tais projectos downstream e ajudar sempre que necessário na captação de financiamento.

Os aspectos acima mencionados são um resumo breve, mas que destacam o grande número de decisões a serem tomadas pelo GdM, a fim de implementar a VDG. Claramente, serão necessárias mais actividades para que Moçambique receba os benefícios do gás para consumo nacional o mais rapidamente possível. Será de esperar que o GdM se concentre no gás para consumo nacional após o acordo sobre os Regimes Especiais e as actividades de acompanhamento essenciais para o Projecto (por exemplo, a alteração do EPCC).

5.3 Metodologia do Projecto Downstream

Para compilar uma lista e sequência de exemplos de projectos downstream que utilizariam a VDG (que nós modelámos neste Relatório), o Standard Bank teve em conta as seguintes considerações, de uma forma geral:

A necessidade de energia eléctrica para facilitar o crescimento económico em Moçambique, considerando as condições provavelmente limitadas da rede no Norte de Moçambique, a médio prazo. Por exemplo, uma taxa de crescimento real projectado de 8,4% ao ano (incluindo o Projecto) provavelmente exigiria anualmente mais 10% de capacidade de geração para apoiar este crescimento;

O facto de que a agricultura representa cerca de 80% do emprego nacional (agricultura de subsistência) e cerca de 30% do PIB nacional. Não obstante, Moçambique utiliza actualmente uma quantidade limitada de fertilizantes na sua actual produção agrícola e depende de fertilizantes importados, para os quais o preço aproximado em Março de 2014 é de 972 USD por tonelada no caso do NPK e 852 USD por tonelada para a Ureia. Estes números representam uma queda substancial, dos 1.437 USD para o NPL (Maio de 2013) e 1.059 USD para a Ureia (Janeiro de 2014) e, naturalmente, indicam que existe potencial de mercado para a produção nacional de fertilizantes (considerando que o preço do gás é competitivo), a qual se espera impulsionar o consumo doméstico devido à descida dos preços unitários;

O potencial de Moçambique, através de um gás de baixo custo e fiável, desenvolver uma indústria de exportação de Metanol (um químico básico, com múltiplas aplicações). Com o tempo, esperamos que isto possa evoluir para uma produção petroquímica mais complexa, tal como MTO, que seria uma nova indústria de exportação para Moçambique e desta forma, o gás natural facilitaria grandes benefícios de ligações downstream e da beneficiação;

De uma perspectiva dos combustíveis líquidos, Moçambique é totalmente dependente de importações de gasolina, diesel, querosene, GPL, etc. De acordo com uma apresentação do Standard Bank de 2014, a conta corrente de importação para essas importações é de mil milhões ao ano (dado que são importados produtos refinados). Naturalmente, tal como com a energia eléctrica, uma taxa projectada de 8,4% de crescimento real (incluindo o GNL) irá provavelmente aumentar os requisitos de combustíveis líquidos em 10% ao ano (aumentando assim a conta de importação). Consequentemente, assumindo um acesso fiável ao gás de alto-mar a um preço razoável, a construção de uma instalação de GTL poderá fazer sentido económico e comercial (dado que poderia ser atingida a auto-suficiência no que respeita ao diesel, nafta e GPL, com excedentes a serem exportados). Para o efeito, tanto a Shell (com a ENH) como a Sasol (com a ENI)

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anunciaram estudos de viabilidade sobre o mesmo em relação ao gás da Bacia do Rovuma.

Dentro de Moçambique existe uma proposta de gasoduto (Gasnosu) que pretende integrar Moçambique através de um gasoduto/rede Norte-Sul, passando próximo de Palma - Pemba (através de um ramal) - Nacala (através de um ramal) - Quelimane - Beira (através de um ramal) - Maputo. Existe também uma opção adicional de construir o gasoduto até Richards Bay, na África do Sul. Tal como acontece com todos os gasodutos, o desafio é garantir que existe uma rota para o mercado, para levar o gás, antes da construção do gasoduto (para garantir que pode ser alvo de project finance). As opções iniciais incluem alguns dos projectos acima mencionados, bem como energia eléctrica (localizada em Moçambique, ou, eventualmente na África do Sul), embora isto naturalmente possa resultar num risco de um projecto dependente de outro projecto. Genericamente, os gasodutos também podem oferecer benefícios complementares, tais como o transporte de cabos de fibra óptica e/ou o transporte de gás para pagar royalties;

Em linha com a nossa compreensão geral de como outros locais de GNL se têm desenvolvido (por exemplo, Omã, Qatar, T&T), também esperamos que Moçambique tenha a opção de desenvolver fábricas nacionais de aço e cimento (que serão necessárias para abastecer os respectivos projectos de segunda geração e os futuros trains de GNL). Também prevemos que o acesso ao gás natural poderá levar a discussões em torno de beneficiamento de recursos existentes (por exemplo, produtos de mineração); e

Por último, dada a sua propensão para criar emprego em qualquer país, prevemos ser fundamental que as PME de Moçambique beneficiem da disponibilização de gás nacional, que prevemos que possa beneficiar grandemente as indústrias, tais como a alimentar e de agro-processamento.

O Standard Bank posteriormente comparou os seus pensamentos com os do PDG, o qual destacou as seguintes opções potenciais de desenvolvimento:

Tabela 22: CENÁRIOS DO PDG

Cenário Descrição

1 Exclusivamente GNL em Palma - 10 trains, 2 em 2018, 2 adicionados a cada 2 anos

2

Desenvolvimento Centrado em Palma - com fornecimento na costa do Rovuma e Electricidade, Fertilizantes e GTL a entrarem em operação em 2018, 2019 e 2020, respectivamente, em Palma

3a

Desenvolvimento Centrado em Pemba - como no cenário 2, mais desenvolvimento offshore no sul do Rovuma e segunda central de GNL, com 2 trains em 2020. Electricidade, GTL, fertilizantes em Pemba, e electricidade em Palma. Gasoduto de Palma para Pemba

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Cenário Descrição

3b

Desenvolvimento Centrado em Nacala - o mesmo que o 3a, mas electricidade, fertilizantes e GTL são produzidos em Nacala e electricidade em Palma. Está autorizado um gasoduto entre Pemba e Nacala

4 GNL de Palma com gasoduto para a Beira. O mesmo que o cenário 1, mas neste cenário as fábricas de fertilizantes e de GTL são construídas na Beira

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Com base no exposto, a lista indicativa de projectos downstream modelados neste Capítulo 5, do Standard Bank, é a seguinte (impulsionados pela VDG da Área 1 entre 2019 e 2044 e excluindo totalmente a VDG da Área 4):

Operações Comerciais:

2020

o Palma - Geração de Electricidade (limitada pelas condições da rede e pela matéria-prima disponível)

o Palma - Produção de Fertilizantes

o Assumimos que a localização geográfica destes projectos é fixa no caso da região de Palma, no prazo aplicável, e devido à falta de produção e transporte actual de gás (antes do Primeiro Gás).

2025

o Metanol

2030

o GTL

2035

o Gasoduto (assumindo o Gasnosu). Com base num pressuposto

conservador, assumimos que o gás transportado pelo gasoduto será

inteiramente consumido pela geração de electricidade na área de Maputo)

O Standard Bank não especifica quaisquer localizações geográficas para os projectos de GTL ou de metanol, decisão essa que é da responsabilidade dos políticos Moçambicanos. Por definição não emitimos opinião sobre as implicações destes projectos no gasoduto. Em paralelo, não efectuamos qualquer pressuposto sobre a rota exacta do gasoduto. Se e quando for construído, o mesmo poderá ser a única fonte de abastecimento de matéria-prima para estes projectos (que de outra forma poderão ter de estar exclusivamente localizados na área de Palma, o que iria concentrar o foco no desenvolvimento numa região). Mais uma vez, esta decisão fica a cargo do GdM, de acordo com o PDG. Porém, como questão prática, a calendarização do processo de desenvolvimento da VDG mostra que esta questão é muito importante para determinar a data de arranque do gasoduto (conforme o que foi afirmado acima). Se um projecto de metanol/GTL (ou equivalente) for alimentado por um novo gasoduto de longa distância, então tal significaria que o gasoduto seria utilizado muitos anos mais cedo do que se fosse através de matéria-prima dedicada. Em termos dos pressupostos relativos à Área 1, destacamos que a matéria-prima disponível tem sido impulsionada pelo perfil de produção abaixo (no qual fazemos referência à procura oriunda de projectos individuais).

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Figura 27: VDG da Área 1 e Consumo de Gás de Projecto

A intenção geral do Standard Bank foi de o volume de produção da VDG não exceder os requisitos de alimentação por parte dos projectos downstream, valores que foram reconfirmados, de acordo com o gráfico acima. Além disso, o Standard Bank também incluiu os seguintes pressupostos genéricos para efeitos de modelação:

Imposto sobre Rendimentos de 32% (sem isenções fiscais oferecidas pelo GdM);

Taxa de Desconto de 10% (o Custom Médio Ponderado de Capital - WACC assumido) com capitalização de juros durante a construção também calculada com base no WACC. A TIR resultante foi revista como um ponto de verificação da atractividade comercial do projecto individual;

Todos os custos de capital são financiados pelo Promotor do Projecto, sem contribuição em dinheiro por parte do GdM, cuja única contribuição através do Comprador Único é fornecer o gás para o projecto a um preço pressuposto de 3,25 USD por MSCF (ou seja, Custo em Terra, sem qualquer subsídio ou adição de prémio).

Com base no exposto acima e os pressupostos específicos do projecto, resumimos abaixo os resultados financeiros gerais dos projectos downstream:

0

50

100

150

200

250

300

350

400

2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033 2034 2035 2036 2037 2038 2039 2040 2041 2042 2043 2044

bcf

po

r an

o

Consumo de Gás dos Projectos (incluindo PMEs) Gás Disponível

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Tabela 23: Resumo dos Megaprojectos Associados Nascidos a partir do Projecto

Projecto Consumo de Gás (MSCF

Total)

Consumo de Gás

(MSCF/p.a.)

Operações do

Projecto

Despesas de

Capital (Mil

Milhões de USD)

TIR

Imposto sobre

Rendimentos total

(Mil Milhões de USD)

Electricidade de Palma

326 424 000 16 321 200 2020 0,5 12% 1,2

Fertilizantes de Palma

426 075 000 17 043 000 2020 1,9 17% 4.2

Petroquímicos 1 521 232 800 54 008 664 2025 4,7 15% 10,3

GTL 1 530 810 000 102 054 000 2030 19,2 9,4% 17,4

Gasoduto (Electricidade de Maputo)

2

745 757 600 36 634 160 2035 9,4 -1% 1.3

PMEs 1 393 908 600 Não

modelado Não

modelado

Não modelado

Não modelado

Total 5 944 208 000

35,8

34,3

2 Conforme mencionado acima, não assumimos que o gasoduto alimente, por exemplo, um projecto de metanol ou de GTL, que poderá ser de facto o caso, e que altera significativamente os números

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Conforme apresentado acima:

O consumo acumulado de gás está em sintonia com o gás disponibilizado pela Área 1 através da VDG, em 2020 são disponibilizados electricidade e fertilizantes em Palma, petroquímicos em 2025, GTL em 2030 e o gasoduto de transporte de gás para Maputo para uma central eléctrica a gás, em 2035;

As TIRs são calculadas com base num preço de gás fixo de 3,25 USD por MSCF (assumido pelo Standard Bank);

Os custos de capital totais (a serem financiados pelo sector privado) são de 35 mil milhões de USD para todos os projectos nacionais, sendo os dois maiores o de GTL (19 mil milhões de USD) e a integração gasoduto/central eléctrica (9,4 mil milhões de USD). Este valor é maior do que os trains 1 e 2;

Durante a vigência do EPCC o total de impostos pagos ao GdM, através dos projectos downstream, é de 34 mil milhões de USD;

A descrição acima é puramente um cálculo financeiro com os respectivos cálculos económicos a serem realizados no Capítulo 6, que incluem:

o Poupanças nas importações de diesel de Moçambique decorrentes da produção nacional de GTL;

o Poupanças nas importações de Moçambique resultantes da produção nacional de fertilizantes;

o O impacto subsequente de desenvolver uma rede nacional de gasodutos de gás (por exemplo, o uso misto entre produtos petroquímicos e electricidade);

o Os efeitos positivos sobre a balança de pagamentos/exportações decorrentes do aumento da produção e das exportações;

o Reiteramos que a VDG disponibilizada pela Área 4 provavelmente irá alterar os cálculos acima referidos (à medida que mais gás fica disponível) e irá impulsionar os projectos.

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5.4 Gás para Electricidade (GTP)

Os pressupostos sobre GTP são da inteira responsabilidade do Standard Bank e incluem o seguinte:

Tabela 24: Pressupostos de GTP Descrição Unidades

Capacidade Bruta 353 MW/ano

Capacidade Líquida 300 MW/ano

Consumo de gás por dia 44 716 mcf

Uso de gás por ano 16 321 200 mcf

Horas anuais 8760

Factor de disponibilidade 85%

Taxa de inflação 3%

Capex da Central Eléctrica

Construção Capital 1 150 000 USD/MW

Curva sigmóide - Ano 1 30%

Curva sigmóide - Ano 2 45%

Curva sigmóide - Ano 3 25%

Tarifa Inicial (2014) 0,07 USD/kWh

Custo Fixo 16 790 USD/MW

Custo variável 0,01 USD/kWh

TIR 12%

O projecto de electricidade opera por 25 anos, de 2020 a 2044, e gera uma TIR de 12%. O fluxo de caixa depois de impostos é de 2,5 mil milhões de USD.

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5.5 Gás para Fertilizante (GTF)

Os pressupostos da fábrica de GTF foram fornecidos por um líder global na área dos fertilizantes e são os seguintes:

Tabela 25: Pressupostos do Gás para Fertilizante Descrição Unidades

Ureia 690 000 ton/ano

Amónia 330 000 ton/ano

Metanol 145 000 ton/ano

Electricidade 35 MW/ano

Horas anuais 8760

Consumo de gás para ureia por dia 46 693 mcf

Consumo de gás para ureia por ano 17 043 000 mcf

Taxa de utilização (Ano 1,2,3+) 80%/90%/100%

Taxa de inflação 3%

Capex da Fábrica de Fertilizantes

Capital de Construção (EPC) 1,5 mil milhões de USD

Curva sigmóide - Ano 1 20%

Curva sigmóide - Ano 2 40%

Curva sigmóide - Ano 3 40%

Tarifa USD/ton

Ureia 356,52

Amónia 445,45

Metanol 593,1

Electricidade 101,11

Custo Fixo 40 000 000 USD/ano

Custo Variável 18 500 000 USD/ano

TIR 17%

O projecto de fertilizantes opera durante 25 anos, de 2020 a 2044, e gera uma TIR de 17%. O fluxo de caixa depois de impostos é de 8,9 mil milhões de USD.

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5.6 Gás para Metanol (GTM)

Os pressupostos da fábrica de GTM foram fornecidos por um produtor petroquímico de topo a nível mundial, apresentando-se abaixo os principais pressupostos:

Tabela 26: Pressupostos do Gás para Metanol Descrição Unidades

Metanol 1 642 000 ton/ano

Amónia 726 000 ton/ano

Ureia 1 000 000 ton/ano

Consumo de gás para metanol por ano 54 008 664 mcf

Consumo de gás para metanol por dia 147 969 mcf

Consumo de gás para amónia por ano 22 052 976 mcf

Consumo de gás para amónia por dia 60 419 mcf

Taxa de utilização 100%

Taxa de inflação 3%

Capex da Fábrica Petroquímica

Construção Capital (EPC) 2,9 mil milhões de USD

Curva sigmóide - Ano 1 35%

Curva sigmóide - Ano 2 35%

Curva sigmóide - Ano 3 20%

Curva sigmóide - Ano 4 10%

Tarifa USD/ton

Metanol 421

Amónia 588

Ureia 500

Custo variável USD/ton

Metanol 167

Amónia 156

Ureia 138

Custo Fixo USD/ton

Metanol 31

Amónia 43

Ureia 15

TIR 15%

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O projecto petroquímico opera durante 20 anos, de 2025 a 2044, e gera uma TIR de 15%. O fluxo de caixa depois de impostos é de 21,8 mil milhões de USD.

5.7 Gás para Líquidos (GTL)

Os pressupostos da fábrica GTL foram extrapolados da nota de pesquisa do JP Morgan sobre o projecto de GTL da Sasol EUA (Novembro de 2013), com os seguintes pressupostos chave:

Tabela 27: Pressupostos de GTL Descrição Unidades

Diesel GTL 20 640 bbl/dia

Nafta GTL 13 920 bbl/dia

Químicos Petrolíferos de Base 13 440 bbl/dia

Consumo de gás por ano 102 054 000 mcf

Consumo de gás por dia 279 600 mcf

Taxa de utilização 100%

Taxa de inflação 3%

Capex da Fábrica GTL

Capital de Construção (EPC) USD 10 799 730 000

Curva sigmóide - Ano 1 25%

Curva sigmóide - Ano 2 25%

Curva sigmóide - Ano 3 25%

Curva sigmóide - Ano 4 25%

Tarifa USD/ton

Diesel GTL 120

Nafta GTL 100,94

Químicos Petrolíferos de Base 196

Custo operacional USD/ton

Diesel GTL 24

Nafta GTL 24

Químicos Petrolíferos de Base 16,8

TIR 9,42%

O projecto de GTL opera durante 20 anos, de 2030 a 2049, e gera uma TIR de 9,42%. O fluxo de caixa depois de impostos é de 53,9 mil milhões de USD.

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5.8 Gás para Gasoduto (GTP)

Os pressupostos de Gás para Gasoduto foram fornecidos por um desenvolvedor potencial de gasodutos, com os seguintes pressupostos chave:

Tabela 28: Pressupostos de Gasoduto

Descrição Unidades

Capacidade Bruta 400 milhões GJ/ano

Capacidade Líquida 400 milhões GJ/ano

Gás disponível para transporte 2035 - 2039 36 634 160 mcf

Gás disponível para transporte por dia 100 368 mcf

Gás disponível para transporte 2040 - 2055 99 870 160 mcf

Gás disponível para transporte por dia 273 616 mcf

Factor de carga 100%

Taxa de inflação 3%

Capex do Gasoduto

Gasoduto com capacidade para 1tcf

Despesas de Capital (Milhares de Milhões de USD)

5

Curva sigmóide - Ano 1 33,3%

Curva sigmóide - Ano 2 33,3%

Curva sigmóide - Ano 3 33,4%

Tarifa 5 USD

Custo Fixo 4% do investimento/ano

Custo variável 0 USD

TIR (10 anos até 2044) -13%

TIR (20 anos de vida) -1%

O gasoduto de 2100 km de Cabo Delgado para Maputo será capaz de transportar 400 milhões de GJ de gás. Com base na matéria-prima disponível na Área 1, e se o gasoduto servir apenas centrais eléctricas, o mesmo não será utilizado ao máximo da sua capacidade. No entanto, conforme observado noutras partes, não tivemos em conta qualquer gás doméstico fornecido pela Área 4 ou que o gasoduto possa vir a fornecer a certos projectos delineados neste Capítulo (por exemplo, metanol/ GTL). Assumimos portanto que o investimento em capital de 5 mil milhões de USD será financiado pelo Governo a uma taxa de actualização de 5%, apesar de realçarmos que, se o gasoduto abastecesse outros projectos, se conseguiria obter project finance / financiamento ao projecto. O projecto do gasoduto consequentemente não contrai qualquer dívida.

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De 2035 a 2038 o volume transportado de 36,6 bcf por ano será capaz de abastecer uma central eléctrica a gás de 673 MW. Em 2039, o volume para o gasoduto aumenta em 63,2 bcf, o que significa que mais 1.162 MW poderão ser adicionados neste ano. O gasoduto poderá portanto fornecer gás para uma estação eléctrica a gás de 1.835 MW. O gasoduto irá transportar volumes de 104 milhões de GJ até 2044. Como se observa, o Standard Bank assumiu que a totalidade da capacidade do gasoduto será disponibilizada para:

PMEs; e

uma central eléctrica a gás localizada na área de Maputo.

As PMEs não foram modeladas especificamente, mas, com base na reserva de gás disponível no final de cada ano, depois de distribuir gás para os projectos acima, as PMEs recebem entre 5 e 93 bcf por ano durante o período de 2020-2044. Este é um pressuposto razoável dado que, no cenário de 6 trains, o GdM recebe mais 7 mil milhões por ano, a partir de 2028.

5.9 Exemplos de Gás de Consumo Nacional

Ao avaliar o potencial impacto da VDG, o Standard Bank acompanhou de perto a história do desenvolvimento do gás de Omã, Qatar e Trinidad e Tobago (Angola não foi explicitamente abordada neste relatório, dado que é impulsionada por gás associado. Além disso, o seu desenvolvimento de recursos baseia-se principalmente em petróleo, não em gás). Cada país tem adoptado a operação comercial de uma central de exportação de GNL, com um posterior desenvolvimento de uma indústria nacional de gás. Intuitivamente, preferimos mais usar exemplos de GNL do que de jurisdições com foco no petróleo, que muitas vezes aparecem na literatura de desenvolvimento (por exemplo, Venezuela, Nigéria).

Para cada país, o Standard Bank analisou diagramas de Sankey da AIE de 1996 a 2011 (incluídos no Anexo, em formato mais detalhado e gráfico), com a Produção Total e o Consumo Nacional Total apresentados abaixo (em Petajoules):

Tabela 29: Consumo de Energia em Economias de Gás Seleccionadas. Petajoules

1996 2001 2006 2011 TCAC

Qatar

Produção Total 1.239 2.652 4.160 8.843 22%

Consumo Nacional 191 255 406 607 12%

Omã

Produção Total 2.100 2.736 2.582 3.078 4%

Consumo Nacional 107 152 325 740 21%

T&T

Produção Total 541 858 1.767 1.765 13%

Consumo Nacional 210 381 587 647 12%

Fonte: AIE, 2014

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Claramente, em cada situação, o consumo nacional também tem crescido significativamente ao longo da produção, garantindo assim uma indústria nacional considerável de gás em cada país. Expresso graficamente, o crescimento apresenta-se da seguinte forma:

Figura 28: Consumo Nacional de Energia em Economias de Gás Seleccionadas

Fonte: AIE, 2014

Desta forma, o Standard Bank acredita que a VDG descrita neste Relatório irá estabelecer uma base firme para que Moçambique beneficie do crescimento do mercado interno, em linha com que foi vivido em Omã, Qatar e Trinidad e Tobago, especialmente se as recomendações institucionais destacadas neste relatório forem tidas em conta. Similarmente, conforme detalhado no Capítulo 6, isto irá resultar em impactos significativos sobre o PIB. As figuras abaixo fazem referência a estes aspectos no que diz respeito às principais economias de gás.

Figura 29: PIB real per Capita em Economias de Gás Seleccionadas

Fonte: Banco Mundial, 2014

0

100

200

300

400

500

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1996 2001 2006 2011

pe

tajo

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Qatar Omã T&T

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Milh

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Qat

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Milh

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5O

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&T

Omã T&T Qatar

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Figura 30: Crescimento do PIB real per Capita. Ano 2000=Base 100

Fonte: Banco Mundial, 2014

Figura 31: Crescimento do PIB Real. Ano 2000=Base 100

Fonte: Banco Mundial, 2014

Como pode ser visto acima, em termos reais, o crescimento do PIB e do PIB per capita tem sido acentuado. A T&T duplicou o seu PIB per capita em termos reais no período de 1996 a 2011, e fê-lo a partir de uma base elevada, passando de 7.100 USD em 1996 para 14.096 USD em 2011. Da mesma forma, o PIB real do Qatar quadruplicou desde 2000 (só estão disponíveis dados a partir desta data), com base nas exportações de gás e no desenvolvimento industrial baseado em gás nacional. O PIB real de Omã e de T&T duplicou desde 1996. Mais uma vez estes países tiveram bases iniciais de comparação bastante elevadas. Note-se que o crescimento da população do

0

20

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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

%

Omã Qatar T&T

0

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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

%

Omã Qatar T&T Moçambique (projecção a partir de 2019)

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Qatar atingiu uma média de 10% (devido à grande imigração), o que se reflecte num crescimento menor do PIB per capita, mas ainda assim substancial, em comparação com a T&T. O Standard Bank sobrepôs projecções de crescimento do PIB de Moçambique a partir de 2019 no Capítulo 6 na Figura 31 (2019 = 100, 8,4% projectado ao longo de 13 anos). Tal oferece uma indicação aproximada de como Moçambique se desempenhará em relação a outras economias baseadas no gás que cresceram ao longo dos finais dos anos 90 e nos anos 2000. Também pode observar-se que Moçambique pode crescer a uma taxa rápida e potencialmente ser um futuro estudo de caso de crescimento dinamizado pelo consumo de gás interno bem como dos lucros das exportações. Espera-se que o seu PIB triplique ao longo do período de 13 anos e supere outros países transformados tais como Omã e T&T.

Além de Omã, Qatar e Trinidad e Tobago, um outro mercado que vale a pena avaliar na história da VDG é a Austrália. A Austrália é um mercado geográfico muito distinto. Desde a sua criação no final de 1980, o desenvolvimento da North West Shelf forneceu à Austrália Ocidental volumes significativos de gás nacional. Tal permitiu o desenvolvimento de uma economia dependente de gás nacional, que produziu uma série de benefícios económicos (por exemplo, electricidade a preços competitivos).

Nos últimos anos, porém, a mudança significativa da Austrália para centrais de GNL trouxe alguns desafios. Na Costa Este, o desenvolvimento de instalações de GNL que exportam metano oriundo do leito de carvão causou um aumento no preço do gás de consumo nacional (dado que a opção equivalente é exportar o gás para a Ásia). Na Austrália Ocidental, a escala do gás produzido a partir da North West Shelf levou à falta de investimento a longo prazo no processamento de gás. Nos últimos anos, o crescimento do sector de mineração da Austrália Ocidental colocou pressão sobre as reservas de gás disponíveis (observando-se um sub-investimento em infra-estrutura). Tal como acontece com os Estados Orientais, a Austrália Ocidental também está a aumentar a sua produção de GNL. A sua resposta passa por uma legislação única, que exige que os produtores de GNL reservem 15% do seu gás para o mercado interno. Por um lado, isto é útil e garante a segurança do abastecimento. Por outro, poderá levar a um excesso de oferta de gás, ineficiências de produção e excesso de consumo de gás na Austrália Ocidental (envolvendo uma má alocação de recursos).

Para a realidade de Moçambique, a lição a retirar é que a VDG poderá fazer uma diferença significativa para o país, tendo de se gastar tempo e dar atenção na estrutura óptima da indústria. Todos os modelos relevantes - Omã, Qatar, Trinidad e Tobago e a Austrália (entre outros) - precisam de ser avaliados por Moçambique para garantir que se alcança o melhor resultado.

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5.10 Impacto do Projecto no Sector Bancário de Moçambique

5.10.1 Visão Geral do Sector Bancário de Moçambique

O sector bancário Moçambicano tem crescido a uma taxa média de 14,6% por ano ao longo dos últimos 10 anos, e é um dos sectores que mais cresce na economia, o que reflecte as fortes taxas de crescimento do PIB do país, mas também o facto de partir de uma base baixa.

Tabela 30: Selecção de Estatísticas de Crescimento Bancário em Moçambique. Milhões de USD

2005 2008 2013 Crescimento

Depósitos de Clientes

BIM 678 1 182 2 812 315%

BCI 348 754 2 005 476%

Standard Bank 369 710 1 193 223%

Barclays 162 213 400 147%

Empréstimos e Adiantamentos

BIM 336 678 1 600 376%

BCI 227 528 1 511 566%

Standard Bank 73 213 632 760%

Barclays 44 96 264 504%

Activos Totais

BIM 849 1 414 2 852 236%

BCI 465 950 2 743 490%

Standard Bank 433 851 1 471 240%

Barclays 242 317 573 137%

Fonte: Dados da Empresa

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Figura 32: Quota de Mercado Bancário por Activos Totais

Fonte: Dados da Empresa

O sistema bancário é composto por 18 bancos, dos quais os 5 primeiros têm uma quota de mercado de 85% da base de activos totais de 9,9 mil milhões de USD. Os de origem Portuguesa reflectem mais de 60% da base de capital do sistema bancário, seguidos pelos Sul-Africanos, com os Moçambicanos a possuírem a menor participação. A população bancarizada permanece baixa, totalizando 3,2 milhões de contas no final de 2013, com baixo acesso a empréstimos por parte de pessoas e empresas, especialmente nos segmentos de mercado com rendimentos mais baixos.

O desenvolvimento do sector financeiro é, portanto, uma das principais prioridades do Governo, com os objectivos de reduzir os custos das transacções financeiras; aumentar o acesso por parte da população em geral aos serviços bancários; facilitar a concessão de empréstimos às pequenas e médias empresas e promover a expansão bancária para os distritos. No final de 2013, a rede do sector bancário Moçambicano era composta por 521 agências, das quais apenas 63 estavam localizadas nos distritos, ou seja, fora das principais cidades.

5.10.2 O Projecto e o Desenvolvimento do Sector Bancário Moçambicano

O EPCC assinado permite à Área 1 manter contas bancárias em moeda estrangeira fora de Moçambique, para fins de recebimento, entre outros, de contribuições para o financiamento do Projecto, das receitas do Projecto e para fazer reembolsos de empréstimos (e de capital/dividendos). Nos mercados emergentes, e a nível global, tais disposições contratuais são inteiramente normais, pelas seguintes razões:

Tipicamente, as classificações de crédito de jurisdições bancárias seleccionadas (por exemplo, dos EUA, Reino Unido) são classificadas AAA (ou similar), em comparação com a

29%

29%

15%

6%

6%

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BIM

BCI

Standard Bank

Barclays

Mozabanco

Outros

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jurisdição do país que recebe o Projecto (por exemplo, no caso de Moçambique, a classificação soberana actual é B (5 níveis abaixo do menor grau de investimento ou 14 níveis abaixo da classificação AAA). Portanto, ter as receitas do Projecto domiciliadas nas primeiras jurisdições aumenta materialmente o conforto que um Credor Financeiro do Projecto terá em ceder empréstimos (ou o conforto de um Investidor em investir), dado que o projecto subjacente é domiciliado num País com uma classificação de sub-investimento (representando desta forma um risco mais elevado);

As receitas de GNL pagas por compradores de ACV são denominadas em USD e os investimentos/empréstimos serão denominados na mesma moeda. É lógico e normal que as contas bancárias sejam mantidas internacionalmente em USD e utilizadas para o pagamento de fornecedores, subcontratados, credores e investidores nas suas demonstrações em USD;

Adicionalmente, tais jurisdições bancárias estabeleceram procedimentos para a obtenção e execução de garantias de Credores (que aumentam materialmente o conforto dos Credores do Financiamento ao Projecto relativamente a empréstimos ao Projecto domiciliado num mercado com classificação de sub-investimento);

Colocando a questão em termos bancários, os Projectos de GNL em mercados emergentes geralmente só se tornam financiáveis quando os Compradores de GNL efectuam todos os pagamentos ao abrigo de ACVs, em contas bancárias em USD domiciliadas em Nova Iorque ou Londres, pagamentos esses que são então aplicados contra um fluxo de custo especificado (uma cascata), aplicação esta que também é efectuada internacionalmente;

Em Moçambique, conforme descrito no Capítulo 2, o projecto Mozal foi executado exactamente com base nestes princípios, portanto, existe um precedente bem sucedido para tais disposições - o Projecto foi financiado, desenvolvido e tem funcionado com sucesso. Todos os projectos de GNL em mercados emergentes também operam com base nos mesmos princípios (p.e., o PNG LNG).

Após o EPCC, Moçambique promulgou em 2010 uma lei cambial que permite normalmente que um projecto de exportação converta 50% das suas receitas em Metical. Note-se que a prática do mercado de GNL baseia-se na geração de receitas em USD. Subsequentemente, por princípio, a implementação da reforma para o Projecto significaria que 50% das receitas (note-se que são receitas, não receitas líquidas) teriam que ser convertidas em Meticais antes de (sem despesas), posteriormente, serem convertidas novamente em USD (para pagar empréstimos e dividendos em USD). No mínimo, este processo seria caro e ineficiente, não obstante o impacto no sistema bancário de Moçambique, a moeda e os riscos de crédito associados colocados sobre os credores e investidores internacionais.

Ao avaliar o provável impacto do Projecto sobre o sector bancário de Moçambique é importante analisar os princípios por detrás da questão, bem como a escala das receitas do Projecto antes de avaliar o impacto do GNL (e de uma indústria nacional de gás) sobre os sectores bancários de (para efeitos do nosso exemplo) Omã, Qatar e Trinidad e Tobago.

Tal como a Crise Financeira Internacional reiterou, um sector financeiro eficiente e funcional é fundamental para o crescimento de um país e por sua vez para o desenvolvimento do sector privado. Um sector bancário forte desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de novas oportunidades, mitigação de riscos - para o governo, empresas e indivíduos - bem como proporciona estabilidade macroeconómica por via de um aumento da capacidade de absorção de choques, externos ou internos. Tal como demonstrou a literatura analisada no Capítulo 3, um sector financeiro forte é bom para a economia em si, mas terá outros benefícios, ao mitigar qualquer instabilidade macroeconómica causada, por exemplo, pela volatilidade das receitas de potenciais alterações nos preços ACV do GNL ao longo do ciclo de vida do Projecto.

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Dado que o sector bancário em Moçambique é subdesenvolvido (reflectindo a economia nacional), o Projecto irá beneficiar o sector financeiro de variadas formas:

Promoção da capacidade institucional;

Aumento do volume (ou seja, transacções), bem como o aumento da complexidade da

actividade financeira (por exemplo, aumento de capital, produtos de dívida complexos,

consultoria financeira, financiamento de projectos, acesso aos mercados financeiros

globais, etc.);

Aumento dos balanços de todos os intervenientes no mercado (através do aumento do

rendimento nacional);

Aumento dos rendimentos pessoais, o que dá origem a uma subida da procura por contas

bancárias e serviços financeiros pessoais; e

Atracção de novos bancos estrangeiros, que trazem consigo um aumento de capacidades,

transferência de tecnologia, bem como o aumento da concorrência bancária. Estes efeitos

foram observados em particular no Médio Oriente.

No entanto, conforme afirmado de outras formas neste Relatório, o Projecto não irá por si só desenvolver o sector financeiro que Moçambique precisa. Pelo contrário, se for executado conjuntamente com as reformas necessárias, que permitam que um sector financeiro se desenvolva, o Projecto poderá ajudar no desenvolvimento de um sector financeiro, que por sua vez irá facilitar um desenvolvimento nacional o mais alargado possível. No seu Relatório sobre o Desenvolvimento Financeiro Global, o Banco Mundial (2013) identifica as quatro principais medidas de um sistema financeiro. Estes incluem:

Profundidade dos mercados financeiros

o Profundidade refere-se à dimensão do mercado, incluindo a dimensão dos

depósitos e a capitalização bolsista

Acesso aos mercados financeiros

o A capacidade que indivíduos e empresas de diferentes rendimentos e dimensões,

bem como necessidades financeiras, têm em aceder aos mercados e produtos

financeiros

Eficiência dos mercados financeiros

o Quão bem os mercados financeiros funcionam, tal como a quantidade de actividade

que existe no mercado. Os custos de transacção e de liquidez são considerações

importantes na avaliação da eficiência do sistema financeiro de um país

Estabilidade dos mercados financeiros

o Mercados financeiros estáveis têm baixa volatilidade e têm preços fixados

correctamente, com base na transparência e total acesso à informação. Para

alcançar estes objectivos é fundamental uma gestão adequada dos riscos e uma

regulação forte.

Tal como pode ser observado acima, não é apenas a dimensão de um sector bancário que faz com que o mesmo seja forte, mas uma variedade de outros factores importantes. Um tópico-chave é a força e a capacidade institucional, tanto de bancos como das próprias instituições financeiras, mas também o enquadramento regulamentar e os reguladores que os supervisionam. Portanto, qual será a melhor forma possível que Moçambique terá para desenvolver todos estes aspectos de um sistema financeiro forte, recorrendo ao crescimento económico e às receitas que o Projecto irá providenciar?

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Mais importante ainda, é preciso estar em vigor um enquadramento institucional forte e esta premissa deverá ser desenvolvida de forma prioritária. Isto irá facilitar o crescimento do sector e lançar as bases para operações mais complexas que irão ocorrer à medida que o Projecto e a economia se desenvolva. É provável que os verdadeiros impulsionadores do crescimento do sector financeiro não sejam apenas os fluxos de receita iniciais através do sistema, mas os efeitos secundários ou indirectos do Projecto, tais como o crescimento dos rendimentos pessoais, o desenvolvimento de projectos industriais, o financiamento das PME e/ou programas governamentais de transferência, dado que estes efeitos irão gerar procura por diversos produtos bancários, que o sector financeiro irá por sua vez colmatar. O Capítulo 4 destacou especificamente a enorme dimensão da fatia fiscal directa arrecadada pelo GdM (ignorando os fluxos financeiros oriundos do desenvolvimento industrial subsequente destacado neste Capítulo). Numa base não actualizada, e assumindo 6 trains, os pagamentos a Moçambique iriam somar até 65% de todos os fluxos de caixa líquidos ao longo do período do EPCC. Desta forma, partindo de um pressuposto de moeda estrangeira, as contas bancárias externas (ao abrigo do EPCC e do Regime Especial), dois terços dos fluxos de caixa líquidos do Projecto fluiriam do estrangeiro de volta para Moçambique (na forma de USD). Por si só e seguindo o exemplo de Omã, Qatar e T&T, tal fará crescer substancialmente o sector bancário de Moçambique. Tais entradas de USD beneficiariam o sistema bancário de Moçambique, quer fossem depositadas em bancos, emprestadas a bancos, distribuídas aos cidadãos ou usadas para financiar investimentos que gerarão fluxos de caixa futuros (que serão depositados em bancos). A partir de 2023 tais pagamentos nunca seriam inferiores a 2 mil milhões de USD por ano e rapidamente subiriam para 7-8 mil milhões de USD por ano, a partir de 2028. Neste contexto é importante avaliar a experiência de Omã, Qatar e Trinidad e Tobago. Todas as três jurisdições desenvolveram projectos de GNL, que determinaram que as receitas do Projecto seriam domiciliadas em contas bancárias externas, em divisa estrangeira. Conforme demonstrado abaixo, entre 2003 e 2013, cada banco nacional seleccionado aumentou drasticamente os seus Depósitos Totais de Clientes, Empréstimos a Clientes, bem como os Activo Totais, em paralelo com o crescimento do seu balanço.

Tabela 31: Selecção de Estatísticas de Crescimento Bancário no Qatar, Omã e T&T. Milhares de Milhões de USD

Milhares de Milhões de USD

2003 2008 2013 TCAC

Depósitos de Clientes

QNB (Qatar) 6,5 28,6 90,5 30%

CBQ (Qatar) 1,7 8,7 17,1 26%

Bank Muscat (Omã) 2.6 8,1 14,8 19%

Republic Bank (T&T) 2.5 4,4 6,7 11%

Empréstimos e Adiantamentos

QNB 6,2 27,5 83,7 30%

CBQ 1.3 9,2 18,1 30%

Bank Muscat 3.1 9,6 15,9 18%

Republic Bank 1,9 3,8 4.0 8%

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Activos Totais

QNB 9,4 41,8 119,6 29%

CBQ 2.4 16,6 30,5 29%

Bank Muscat 3,9 15,6 22,1 19%

Republic Bank 4.1 6,6 9,2 6%

Fonte: Dados da Empresa Na prática, Qatar, Omã e Trinidad e Tobago - promotores de projectos de GNL - desenvolveram os seus sistemas financeiros nacionais com base em projectos de GNL, em que a fatia do Governo retornou ao país quando repatriada para o país anfitrião, oriunda de contas bancárias internacionais. Estes impactos no seu sector bancário - especialmente o Qatar, dado o tamanho da receita de GNL e que agora é um centro financeiro global de referência - são evidentes nos números. Alternativamente, o Crescimento dos Activos Totais em tais bancos (sendo Activo a contribuição em forma de empréstimos por parte do banco para a respectiva economia) poderá ser expresso da seguinte forma:

Figura 33: Crescimento de Activos Totais por Banco Seleccionado

Fonte: Dados da Empresa Relativamente ao Projecto, o GdM irá receber todos os pagamentos fora do sector financeiro moçambicano, que serão transferidos para o sistema financeiro de Moçambique (por exemplo, através do IPT, imposto sobre rendimentos, Petróleo-Lucro, etc.) Prevemos que será benéfico para Moçambique manter uma parte das receitas em USD, bem como reter uma parte fora do sistema bancário (através de um sistema de regras fiscais e um FEN), conforme observado anteriormente. Dada a aceitação que o mercado tem desta estrutura e a escala das receitas que fluirão, é difícil ver como isto poderá representar qualquer tipo de risco para o desenvolvimento do sector financeiro de Moçambique. No entanto, para completar, se a Lei Cambial de 2010 fosse promovida pelas partes interessadas no sentido de ser adoptada pelo Projecto, o Standard Bank acredita que a passagem de 50% da receita bruta do Projecto através do sistema bancário Moçambicano seria desaconselhável, por várias razões, nomeadamente:

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140

QNB CBQ Bank Muscat Republic Bank

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2003 2008 2013

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A posição não seria bancável perante os Credores do Projecto nem aceitável para os Investidores do Projecto (por razões de risco de crédito em Moçambique e os seus bancos constituintes). Embora no futuro (p.e., 5 a 10 anos) Moçambique possa esperar que a sua classificação de crédito soberana melhore, tal só poderá ser um processo de longo prazo associado à obtenção do Primeiro Gás;

Os bancos Moçambicanos não seriam capazes de lidar com a quantidade de fluxos financeiros em USD que requerem a conversão em Meticais. Onde é que obteriam a liquidez para fornecer os Meticais e quem seriam as contrapartes?

Existiria um aumento na procura de Metical, o que iria colocar o valor da moeda em níveis muito altos (promovendo o risco de Doença Holandesa) e originaria a subsequente volatilidade;

Seria, em qualquer caso, altamente ineficiente a nível financeiro, dado que uma enorme parte da Recuperação de Custos do Projecto e das Despesas Operacionais são em USD, mas uma grande parte teria que ser convertida em Meticais, antes de ser reconvertida em USD.

Curiosamente este é também o parecer da Organização das Nações Unidas. Na UNCTAD (2012) a ONU foi extremamente clara, na medida em que considerou que a Lei Cambial de 2010 criou “sérias preocupações e restrições operacionais sobre os investidores”. A UNCTAD recomendou especificamente que a lei e o seu decreto de implementação fossem alterados para, entre outras, “eliminar a obrigação de converter divisas em Metical”.

Na nossa perspectiva acreditamos que será ideal seguir o exemplo de Omã, Qatar e Trinidad & Tobago, em que os proveitos em moeda estrangeira do GdM fluem de volta para o sistema bancário nacional, aumentando desta forma a actividade do sector financeiro (um modelo comprovado e que funciona) . A alternativa poderá ser um Projecto que não pode ser alvo de financiamento, levando assim a um custo de oportunidade enorme para Moçambique. Vale a pena relembrar, de acordo com o Capítulo 4, que a TIR do Projecto (pós project finance) é de apenas 12%, portanto, são necessários os benefícios de endividamento para aumentar a TIR da Área 1. Adicionalmente, para além dos benefícios directos do Projecto surgirão benefícios nacionais da VDG que são abordados noutras partes deste Capítulo 5.

5.11 Conteúdo Local do Projecto

Em África o Conteúdo Local (por exemplo, a percentagem de um produto ou serviço cujo valor acrescentado tem origem internamente) é um tema crescente e tem ganho cada vez mais relevância. Não é difícil perceber porquê. Em última análise, se um projecto utiliza mais conteúdo e serviços nacionais consequentemente mais fluxos de capital tendem a permanecer no país (impulsionando a economia nacional de acordo com o Capítulo 6).

No entanto, existe um desafio inerente à implementação de conteúdo local para o Projecto em jurisdições FOAK, tais como Moçambique. Numa linguagem sem rodeios, e pelo menos nas fases iniciais, não é provável que seja a indústria local a poder ser utilizada para fornecer bens e serviços. Consequentemente, em muitas jurisdições, é comum ver uma estratégia de conteúdo local inicial que aumenta em escala e percentagem dos gastos ao longo do tempo. No caso de instalações de GNL que, ao longo tempo desenvolvem múltiplos trains, isto não representa necessariamente uma desvantagem (o conteúdo local para os trains 3 e 4 será certamente superior à dos trains 1 e 2).

É neste contexto que Kaplan (2013) abordou as “Policy Options for Strengthening Local Content in Mozambique’’ (Opções Legislativas para o Fortalecimento de Conteúdo Local em Moçambique).

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A Lei do Petróleo de 2001 de Moçambique determina que as empresas “deverão dar preferência aos produtos e serviços Moçambicanos sempre que sejam competitivos em termos de preço e comparáveis em termos de qualidade e oferta”. Este aspecto não gera controvérsia, mas o desafio é que, em geral, tais produtos e serviços não são fornecidos localmente. Da mesma forma, o Decreto Lei nº 24/2004 permite às empresas Moçambicanas obterem “10% de margem de preço de preferência assumindo igual qualidade, tempo de entrega e quantidade disponível”. Isto, de um modo geral, também não gera controvérsia e está contemplado também no Projecto de Lei do Petróleo de 2013.

O desafio está então em mudar Moçambique do seu estado actual de desenvolvimento para uma situação em que consiga aproveitar uma percentagem significativa das despesas do Projecto. Note-se que os Megaprojectos referidos no Capítulo 2 na generalidade não deram origem a grande desenvolvimento em termos de conteúdo local, embora cada um tenha obtido alguns sucessos e é geralmente aceite que o projecto da Vale teve o maior impacto sobre o conteúdo local.

Kaplan cita três opções para alcançar progressos:

Nenhuma Acção Governamental (não é preferida e é vista como pouco provável de gerar um grande progresso)

Promulgar uma lei de conteúdo local (ou regulamentos) associada a futuras Leis de Petróleo e Gás (Kaplan acha que isto poderá ser prematuro dado a capacidade de Moçambique de contribuir com conteúdo local)

Desenvolver uma estrutura legislativa de conteúdo local (Kaplan acha que este aspecto poderá ser o mais útil, ainda que seja uma iniciativa a longo prazo).

Curiosamente, a Área 1 tem desenvolvido a sua própria estratégia de conteúdo local, que foi aproveitada neste Relatório. Dentro dos limites de capacidade nacionais actuais, a Anadarko desenvolveu um plano de conteúdo nacional que actualmente prevê o seguinte:

O desenvolvimento, pela Área 1 de um Plano de Coordenação e de Execução de Conteúdo

Nacional (NCCEP);

A participação nacional de 23-30% na força de trabalho de construção (ou seja, até 3.000

de um total de 10.000 pessoas);

Compras locais a fornecedores Moçambicanos orçadas entre 1 a 3 mil milhões de USD

(entre 7 e 20% de conteúdo local, excluindo despesas de exploração e juros sobre a

construção/financiamento);

O compromisso com os planos de desenvolvimento de fornecedores e de desenvolvimento

de competências;

Um investimento em formação de entre 1 a 5 milhões de horas para Moçambicanos e um

compromisso educativo de até 7 milhões de USD;

Um procedimento de relato de resultados dos pontos anteriores.

Como parte desse processo, a Área 1 confirma a sua conformidade com (1) as disposições do Decreto Lei 24/ 2004 no qual os fornecedores Moçambicanos terão preferência (assumindo critérios semelhantes), até um diferencial de 10%. Tal compromisso será codificado dentro do Regime Especial; e (2) os requisitos do EPCC em matéria de emprego e de formação de Moçambicanos, bem como o próprio NCCEP.

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Do ponto de vista do Standard Bank, o sucesso do Projecto em termos de conteúdo local irá ser aprofundado e expandido nos trains subsequentes (efectivamente, os trains aumentam progressivamente o conteúdo local). De acordo com este Relatório, presume-se a Área 1 irá construir vários trains (6) e esperamos que (mas não calculamos) que a Área 4 também irá construir vários trains. Assim, recomendamos que os planos de desenvolvimento individuais que forem aprovados na devida altura (incluindo os trains de GNL) incluam um foco em conteúdo local, com a nossa expectativa de que os trains futuros venham a incluir maior conteúdo local do que os primeiros trains.

Embora possa ser irrealista para Moçambique chegar a atingir os 50% de conteúdo local da Austrália no desenvolvimento de GNL (Dundee Capital Markets, 2014), existe um custo associado ao conteúdo local da Austrália que afecta a competitividade geral do projecto de GNL do país e o número final de trains de GNL que podem ser construídos na Austrália. Como se observa, os projectos de GNL na Austrália foram recentemente adiados, tais como Browse, Arrow e Bonaparte LNG.

Dada a fase de desenvolvimento industrial de Moçambique e o valor que o Projecto irá gerar para todos os Moçambicanos, o Relatório defende que o conteúdo local deverá, no futuro, desempenhar um papel de apoio, com um foco especial em garantir que as percentagens e totais relevantes aumentam ao longo do tempo, em paralelo com o aumento dos benefícios para Moçambique.

O Standard Bank recomenda o uso do mecanismo de plano de desenvolvimento para avaliar e determinar o conteúdo local. Gostaríamos também de afirmar, tal como Gqada (2013), que o GdM (apoiado pela Área 1) deverá desenvolver uma iniciativa educativa e de desenvolvimento de competências a longo prazo, focada em formação universitária e técnico-profissional, com foco especial na educação e formação em ciências, engenharia, tecnologia e matemática.

5.12 Regimes Especiais do Projecto

Em todo o mundo os sistemas jurídicos nacionais subjacentes nos mercados emergentes são raramente concebidos de forma ideal para implementar projectos de investimento de raiz de vulto. Existem uma série de motivos para que tal aconteça: as escalas relativas das economias nacionais; tendências das intenções dos investidores; a sequência de descobertas de recursos e tendências nos mercados globais, bem como as tendências no desenvolvimento de risco político em mercados emergentes.

É por esta razão que a Área 1 e a Área 4 propuseram Regimes Especiais, que se destinam a ser um mecanismo geral no qual várias facetas físicas do processo operacional, de desenvolvimento e de financiamento do Projecto poderão ser regularizadas dentro da lei actual de Moçambique. Tais regimes especiais têm sido amplamente utilizados em instalações de GNL em Angola, Egipto e Papua Nova Guiné, entre muitos outros.

Do ponto de vista do Relatório, o Standard Bank efectua duas observações:

Em primeiro lugar, é perfeitamente normal em economias de países desenvolvidos (e

especialmente em mercados emergentes) que projectos transformacionais exijam Regimes

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Especiais legais (ou equivalentes). Existem dois exemplos no Reino Unido que são dignos

de nota: os Jogos Olímpicos de Londres (15 mil milhões de USD de custo de projecto) e o

Crossrail (27 mil milhões de USD);

Digno de nota é que ambos os exemplos têm custos de projecto num intervalo de 65-120%

dos Trains 1 e 2, e ambos são projectos de investimento complexos e multifacetados, que

envolvem vários ministérios governamentais.

Em segundo lugar, vale a pena olhar para os Regimes Especiais pelo que são: um mecanismo de facilitação para alcançar os benefícios descritos neste Relatório. A analogia é uma rede Wi-Fi que fornece serviços de internet. Por exemplo, o único objectivo do Olympics Act era realizar os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, não mudar o sistema legal do Reino Unido na sua totalidade, ou o Reino Unido.

Por isso, o Relatório defende que os Regimes Especiais deverão ser rapidamente estabelecidos em 2014 para garantir o compromisso dos Compradores e dos Financiadores, com o intuito de garantir a Decisão Final de Investimento (FID) em 2015.

5.12.1 Decretos-Lei sobre GNL em Angola

O GNL em Angola passou por uma série de decretos-lei necessários. Foi necessário um determinado conjunto de decretos para resolver questões específicas sobre terras, que advieram do projecto. O local do projecto encontrava-se maioritariamente rodeado por pântanos e, a fim de avançar com o projecto, era necessário recuperar terras para construir as instalações e a infra-estrutura de apoio no perímetro mais alargado do local. A criação de terra ao abrigo do direito Angolano iria transferir imediatamente a terra para o Estado angolano, no âmbito da legislação Angolana de domínio público. Foi aprovado um decreto-lei especial (Decreto-Lei nº. 76/07) para permitir que a terra recuperada passasse do domínio público para o domínio privado. Foi aprovado um outro decreto sobre terra (Decreto-Lei nº. 77/07) que retirou o projecto de GNL da jurisdição do Porto do Soyo, para evitar a sobreposição de jurisdições. O recurso a decretos-lei sobre terra foi utilizado para resolver um determinado problema com o qual o GNL de Angola se deparava. No entanto, os mesmos existiram juntamente a um decreto-lei geral que providenciou a necessária estabilidade jurídica e fiscal que os apoiantes, promotores iniciais, financiadores e investidores precisavam. O Decreto-Lei nº. 07/10 foi aprovado em Outubro de 2007, o que foi crucial para o desenvolvimento do GNL de Angola e para obter o Primeiro Gás em 2013. Este Decreto-Lei continha anexos que incluíam as regras e isenções fiscais, regras alfandegárias, recuperação de custos e a determinação dos mesmos e as regras cambiais para o pagamento de financiadores, empreiteiros offshore, investidores e accionistas. No caso de Angola o decreto-lei geral não foi suficiente e foram necessários outros estatutos e alterações. Dada a dimensão e complexidade do projecto, as leis do trabalho de Angola foram alteradas para autorizar trabalhadores internacionais, a fim de permitir que o projecto cumprisse os seus prazos de construção com base num padrão internacional, em parte para obter o Primeiro Gás em tempo útil, mas também para cumprir os critérios de empréstimos estabelecidos pelos financiadores do projecto. Foram necessárias outras alterações estatutárias para facilitar a recuperação dos custos dos sistemas de recolha submarinos offshore, bem como para administrar os canais de navegação exigidos pelos transportadores de GNL (e definidos por normas internacionais de segurança). Devido à sua natureza, todas as instalações de GNL são grandes projectos, que requerem leis específicas e, nalguns casos, exigem disposições especiais, que cubram aspectos que são únicos no contexto de um país, como são exemplo os decretos angolanos sobre concessões de domínio público. Os decretos-lei oferecem garantias aos promotores iniciais e financiadores, e mais

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importante ainda, dada a complexidade técnica destes projectos, facilitar a construção inicial através de legislação laboral e importação de bens necessários.

5.12.2 Exemplos de Leis Promotoras

5.12.2.1 Jogos Olímpicos de Londres

A Olympic Delivery Authority (“ODA”) é um Organismo Público Não-Departamental que foi estabelecido como uma corporação legal pela London 2012 Olympic Games and Paralympic Games Act, de 2006. A ODA foi criada para as seguintes finalidades:

Preparar os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 e os Jogos Paralímpicos

Organizar a preparação das instalações e infra-estruturas a serem utilizadas durante os jogos

Garantir uma preparação adequada relativamente às modalidades de transporte durante os jogos.

Esta lei foi, essencialmente, uma “lei promotora” temporária, transferindo poderes no que diz respeito ao encerramento de estradas, obras rodoviárias e comissões de planeamento. Estes poderes foram devolvidos aos seus respectivos departamentos após os Jogos Olímpicos.

5.12.2.2 Crossrail

O Crossrail é o maior projecto de infra-estrutura da Europa. A ferrovia tem 118 km e estende-se de Reading e Heathrow para oeste, através de Shenfield e Abbey Wood, a este. A construção da ferrovia está legislada ao abrigo da Crossrail Bill de 2008.

A Crossrail Bill foi introduzida em Fevereiro de 2005, mas só foi promulgada em 2008, após ter sido apresentada ao parlamento três vezes. A Bill é referida como uma lei híbrida, que é o método a que o governo recorre em nome de empresas ferroviárias e agências de transporte para obter autorização para os grandes projectos. Grandes projectos como o Túnel do Canal, a ligação ferroviária do Túnel do Canal e o Túnel de Dartford foram todos construídos ao abrigo desta lei.

5.13 Implicações para o Estado

Do ponto de vista do Standard Bank, vemos o Governo de Moçambique como tendo uma série de questões para debater com rapidez e determinação a respeito do Projecto. Resumimos as perguntas em quatro subsecções:

Independência Fiscal e Auto-Suficiência

o No seu livro inspirador sobre Moçambique “Who Calls the Shots?”, Hanlon (1991) defendeu que até que Moçambique assegure a sua independência fiscal,

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intervenientes externos irão implicitamente controlar Moçambique (através do financiamento/aprovação de orçamentos anuais)

o Conforme afirmado no Capítulo 4, está claro que o Projecto poderá garantir a independência fiscal e auto-suficiência de Moçambique, com a implicação de que Moçambique poderá começar a fazer suas próprias escolhas políticas sobre a alocação de recursos e o seu desenvolvimento. Conforme apresentado, Moçambique captará até 88% dos fluxos de caixa líquidos actualizados, o que representa uma captação enorme de rendimentos, que poderão ser reinvestidos em gastos sociais, investimento público, entre outros.

o Poder-se-á argumentar que, se esta é a prioridade fundamental para o Estado, então os desafios de execução precisam de ser resolvidos à medida que surgem, em tempo útil, para evitar comprometer a meta de independência fiscal

o Especificamente, o princípio indica que questões como os Regimes Especiais do Projecto deverão ser simplesmente decididas a fim de manter o cronograma do Projecto e garantir que os benefícios sejam cumpridos.

Desenvolvimento e Ligações Empresariais

Com base no Capítulo 5, fica claro que o Projecto poderá garantir benefícios enormes em termos de desenvolvimento para Moçambique, muitos dos quais irão aumentar ao longo do tempo, nomeadamente:

o Integração do Upstream - este será o de menor grau nos primeiros anos, mas uma combinação de Conteúdo Local e a VDG irão garantir que, entre outros, os bens de capital oferecem grandes benefícios no futuro (desde que sejam sustentados por Investigação e Desenvolvimento, desenvolvimento de competências e educação em Ciências, Engenharia, Tecnologia e Matemática). Poderíamos argumentar que a Área 1 poderia alcançar maiores benefícios em termos de desenvolvimento através do financiamento de educação profissional (aumentando assim as Ligações de Conhecimento)

o Integração do Downstream - em paralelo com a venda de GNL, o desenvolvimento da VDG numa base certa no que respeita a datas, preços e volumes confere a Moçambique uma oportunidade sem precedentes de beneficiamento do gás natural (através do GTP, GTF, GTM, GTPET, GTL etc.) e o desenvolvimento de novas indústrias de transformação e de exportação. O desafio para o Estado será a forma de organizar os seus Ministérios para garantir a obtenção das ligações desejadas (por exemplo, a forma como os novos fornecimentos de fertilizantes poderão ser distribuídos de forma barata e poderá ser dada formação aos agricultores para garantir que a produtividade agrícola aumenta).

o Espacial - O Projecto irá facilitar a infra-estrutura associada através da oferta de gás para consumo nacional ao Custo em Terra, para benefício de Moçambique. Isto deverá permitir, no mínimo, um grande desenvolvimento do Norte de Moçambique e, no futuro, de Moçambique no seu todo.

o Em todos os tópicos acima existe um tema consistente: o GdM tem de desenvolver uma abordagem coerente para lidar com o sector privado internacional, a fim de obter o melhor resultado em termos de desenvolvimento para todos os Moçambicanos. Associado a esta questão está outro ponto: qual é a capacidade industrial do Estado de modo a impulsionar o objectivo do desenvolvimento?

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Comparação com jurisdições de GNL

o Neste relatório, o Standard Bank tem feito referências substanciais à experiência de Omã, Qatar e Trinidad e Tobago no desenvolvimento de GNL e de uma indústria doméstica de gás;

o Também fizemos referências periódicas à Austrália, Canadá, Tanzânia e EUA neste Relatório;

o Na nossa perspectiva acreditamos que uma questão crítica em relação ao futuro prende-se com o GdM definir pontos de comparação e responder a (1) ameaças competitivas que o Projecto enfrenta; e (2) as jurisdições em estudo que poderá procurar imitar e/ou melhorar, em particular, no que concerne ao desenvolvimento de uma indústria doméstica de gás. Tal comparação irá muito provavelmente garantir um processo de tomada de decisão mais rápido. A experiência da Gorgon LNG mostra claramente que o tempo e as decisões podem custar dinheiro, o que poderia em última instância ter impacto sobre os benefícios para todos os Moçambicanos, ou no pior dos casos, o Projecto poderia ser adiado, tal como em exemplos australianos recentes.

Gestão e Execução do Projecto

Em qualquer grande projecto de petróleo e gás existe uma probabilidade de que as companhias internacionais de petróleo tenham mais recursos (e melhor qualificados) do que o Governo anfitrião (neste caso, Moçambique).

No entanto, na nossa perspectiva, vemos o Projecto como simplesmente a prioridade económica mais importante com que o Estado se depara, para a qual todos os recursos necessários deverão ser dedicados, para garantir um sucesso em linha com o mercado mundial de GNL (que requer uma decisão final de investimento em 2015, a fim de obter o Primeiro Gás em 2019). Os recursos atribuídos pelo Estado precisam de orientação política, monitorização e suporte claros para desenvolver o projecto de acordo com o período do mercado de GNL (trabalhando numa premissa de que corresponder aos requisitos do cliente final irá garantir o sucesso do Projecto em Moçambique);

Vemos também o Estado como tendo uma oportunidade única de aproveitar a janela actual do mercado de GNL e obter a decisão final de investimento em 2015. Acreditamos que existem vários benefícios em fazê-lo e pouco custo de oportunidade em não fazê-lo (em comparação com a escala dos benefícios do Projecto ou a perda de oportunidade por parte do Estado ao não avançar em tempo útil).

Isto implica que as competências de negociação deverão ser priorizadas pelo Estado. Este Relatório indica a escala dos benefícios oferecidos a Moçambique, que são muito superiores aos observados em cada megaprojecto até à data. Tal implica que enquadramento temporal deverá conduzir o Projecto, beneficiando todos os Moçambicanos.

Finalmente, recomenda-se que o Estado aborde o Projecto de uma forma pragmática. Todas as imperfeições negociadas, e posteriormente reveladas, poderão sempre ser renegociadas nos trains 3 e 4. Se o prémio nacional por si só valer a pena, o pragmatismo poderá ser uma política sensata.

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105

6 Análise Económica

6.1 Âmbito e Metodologia

6.1.1 Âmbito

O objectivo principal deste estudo macroeconómico foi medir a natureza e a magnitude de todos os impactos económicos e socioeconómicos que emanam do Projecto, em Moçambique. Foi realizada uma análise detalhada para garantir que todos os impactos relevantes, incluindo possíveis sectores comerciais e secundários que pudessem surgir em resultado do Projecto, fossem medidos. Foram medidos os impactos socioeconómicos das fases de construção e operação do Projecto na economia Moçambicana. Em particular, foram quantificados os impactos directos, indirectos e induzidos do Projecto. Um dos efeitos directos do Projecto é a criação de emprego para os trabalhadores do Projecto. Os efeitos indirectos resultam dos efeitos directos, chegando a áreas ou populações distantes do objectivo pretendido ou original do Projecto. Os efeitos indirectos referem-se ao impacto do Projecto sobre os fornecedores de insumos para o Projecto. Os efeitos induzidos incluem o impacto económico sobre o pagamento de vencimentos e salários aos trabalhadores no Projecto e indústrias que estão indirectamente associadas à indústria do gás. O efeito multiplicador desse rendimento é o efeito induzido. Para efeitos de análise, o impacto económico total do investimento no Projecto de seis trains foi desagregado nas seguintes componentes:

O impacto da fase de investimento inicial (ou seja, a fase de construção do primeiro train),

que se estima concluir em 2019;

O impacto da fase de investimento final (ou seja, a fase de construção do sexto e último

train), que se estima concluir em 2025; Esta fase também incluirá a produção e exportação

de GNL, que teve início após a conclusão da fase de investimento inicial em 2019;

O impacto da operação corrente das infra-estruturas concluídas das componentes do

Projecto em 2030. Incluem-se nesta componente algumas oportunidades locais

(Moçambique) de investimento sob a forma de megaprojectos, decorrentes do acesso ao

gás por parte de Moçambique;

O impacto final estudado neste relatório refere-se ao pleno funcionamento do Projecto,

incluindo o uso doméstico de gás para megaprojectos, gás para as PMEs e as mudanças

na estrutura da economia de Moçambique em 2035. Em particular, considerou-se nos

cálculos um declínio na intensidade de importação da economia, à medida que a mesma se

desenvolve ao longo do tempo.

O foco principal deste estudo foi no impacto do investimento da Anadarko na economia de Moçambique, no que diz respeito aos indicadores macroeconómicos, tais como o Produto Interno Bruto (PIB), as oportunidades de emprego, a utilização de capital (investimento) e a distribuição de rendimentos. Quando se utilizam valores, os cálculos de preços são feitos a preços constantes. Tal implica que o efeito de inflação é excluído do cálculo. A fim de medir todas as implicações económicas associadas com as fases de construção e operação deste Projecto foi realizada uma análise de equilíbrio macroeconómico geral parcial, com base na última SAM de Moçambique. Faz-se uma descrição detalhada de uma SAM no Anexo 1. A análise de equilíbrio macroeconómico geral parcial foi utilizada para determinar a natureza e a magnitude dos impactos macroeconómicos que emanam do Projecto em termos de indicadores de desempenho, tais como o PIB, a geração de

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emprego, investimento, rendimentos e despesas das famílias. A abordagem SAM é exposta brevemente na secção de metodologia, que se segue.

6.1.2 Metodologia

A metodologia utilizada neste estudo é composta por uma análise de fluxo de caixa, bem como uma análise do impacto macroeconómico.

6.1.2.1 Análise de fluxo de caixa

A análise de fluxo de caixa actualizado (FCA) representa o valor líquido actual dos fluxos de caixa projectados disponíveis para todos os fornecedores de capital, líquido do dinheiro que é necessário investir para gerar o crescimento projectado. O conceito de avaliação dos FCA é baseado no princípio de que o valor de uma empresa ou activo é inerentemente baseado na sua capacidade de gerar fluxos de caixa para os fornecedores de capital. Nessa medida, o FCA depende mais das expectativas fundamentais do negócio do que de factores de mercado públicos ou precedentes históricos, e é uma abordagem mais teórica, contando com vários pressupostos. Uma análise de FCA gera o valor global de um negócio (ou seja, o valor da empresa), incluindo tanto a dívida como o capital próprio. O FCA envolve os seguintes aspectos:

O preço adequado para as estimativas de custos e o nível de inflação prevalecente;

Se é necessária uma análise dos preços relativos no caso de alguns itens de custo (por

exemplo, custos de mão-de-obra);

Qual será o ano base (ou ano de desconto);

Qual será a taxa de actualização de base/avaliação inicial;

O período de avaliação (ou o período do Projecto).

Teoricamente, o FCA é sem dúvida o método mais sólido de avaliação. O método de FCA é prospectivo e depende mais das expectativas futuras do que de resultados históricos. O método do FCA é mais voltado para dentro, contando com as expectativas fundamentais do negócio ou do activo, e é influenciado em menor medida por factores externos voláteis. A análise de FCA está focada na geração de fluxos de caixa e é menos afectada por práticas e pressupostos contabilísticos. O método de FCA permite que estratégias operacionais esperadas (e diferentes) sejam tidas em conta na avaliação. A análise de fluxo de caixa foi realizada para um período de programação de 30 anos, conforme discutido na secção anterior. Os resultados para os anos seguintes foram utilizados como contribuições para a análise macroeconómica:

2019 (fase de investimento inicial);

2025 (fase de investimento final, incluindo produção e exportações após a conclusão da

fase de investimento inicial);

2030 (fase operacional total, mais investimento em Moçambique);

2035 (Projecto em plena capacidade, mais o efeito do consumo nacional de gás e

diminuição na intensidade de importação à medida que a economia se desenvolve).

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6.1.2.2 Pressupostos e contribuições para o fluxo de caixa

Os fluxos de caixa para as operações de exportação e domésticas do Projecto foram utilizados na análise dos impactos macroeconómicos do Projecto. Com base nestes fluxos de caixa, os pressupostos para os anos de 2019, 2025, 2030 e 2035 foram utilizados para determinar os fluxos de caixa líquidos, bem como o impacto do Projecto no GdM. Este impacto inclui:

Royalties, taxas e bónus;

Lucros do Governo;

IRPC e taxa de Retenção na Fonte.

O impacto macroeconómico foi calculado tanto para o gás a ser exportado, como para a produção de gás que foi assumida como sendo distribuída no mercado nacional de Moçambique. Em linha com as projecções de fluxo de caixa, pressupõe-se que o primeiro train irá entrar em operação em 2019 e que o Projecto irá atingir a produção máxima até ao ano de 2025, quando a produção para o mercado externo atingir um máximo de 1.222 bcf por ano. Para o mercado interno, espera-se que no ano de 2035 sejam produzidos 298 bcf por ano. De acordo com dados fornecidos pela Anadarko, pressupôs-se que a força de trabalho irá atingir um máximo de 10.000 funcionários (na fase de construção) e 1.000 funcionários (na fase de operação). Também foi assumido que o quadro de pessoal será composto da seguinte forma:

Pessoal qualificado 30%

Pessoal semi-qualificado 40%

Pessoal não qualificado 30%

Os seguintes dados de fluxo de caixa foram, portanto, utilizados como contribuições para a análise do impacto macroeconómico do Projecto:

Tabela 32: Contribuições do Fluxo de Caixa para o Modelo Macroeconómico (Milhões de USD) 2019 2025 2030 2035

Investimento Anual Total 4 758 1 295 906 441

Receita Total 1 674 18 499 18 557 18 821

GdM:

IPP e Taxas 67 414 375 400

Participação nos Lucros 62 1 255 3 004 4 897

Imposto Colectivo e de Retenção na Fonte

18 3 081 4 433 4 255

Custos Operacionais Totais 140 1 210 1 434 1 471

Excedente de Exploração Bruto

Lucro Líquido mais Depreciação

1 533 17 289 17 133 17 350

Mão-de-Obra (números): Qualificada 150 300 300 300

Semiqualificada 200 400 400 400

Não Qualificada 150 300 300 300

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre as possíveis indústrias que poderiam ser estabelecidas em Moçambique devido à produção de gás para o mercado interno. Foram analisadas as seguintes indústrias:

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Tabela 33: Contribuições do Projecto do Mercado Interno

de Gás para a Análise Macroeconómica

Dimensão Típica da Fábrica

Custos de Capital com a

Fábrica

Consumo Preço Rendimento por Instalação

(Unidades Produzidas/A

no)

(Milhões de USD)

(Bcf/Ano) por Unidade (Milhões de USD)

Centrais Eléctricas 300 450 19 1 223

Fertilizantes 690 000 194 11 389 268

Metanol para Exportação 726 000 4 696 18 492 357

GTL 48 000 16 773 102 96 1 682

Alumínio 500 000 4 018 63 2 408 1 204

Aço 1 000 000 359 11 887 887

Cimento 1 000 000 116 6 200 200

PMEs 1 275 3 0,01 1 000 1,28 Após comparar a quantidade de gás disponível para o mercado nacional durante os anos analisados, assumiu-se que o seguinte conjunto de indústrias estaria em produção durante esses anos. Os consumos da VDG usados nos cálculos são:

2025 -126 Bcf;

2030 – 217 Bcf;

2035 – 298 Bcf.

Para cada um dos anos 2025, 2030 e 2035 calculou-se o consumo para potenciais projectos de VDG, para somar o total de gás disponível naquele ano. Para os seguintes tipos de projectos interpretámos os dados do Standard Bank para calcular o consumo de gás para um determinado ano:

Centrais Eléctricas;

Fertilizantes;

Metanol;

GTL.

Os dados do sumário executivo do Esboço de PDG foram extraídos e utilizados para calcular o número de instalações (por exemplo, centrais eléctricas), tendo em conta o consumo anual por projecto.

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Tabela 34: Pressupostos: Fábricas alternativas de Moçambique para os diferentes anos

2019 2025 2030 2035

Centrais Eléctricas - 1 2 2

Fertilizantes - 1 1 1

Metanol para Exportação - - 2 2

GTL - 1 1 1-

Alumínio - - - 1

Aço - - 1 2

Cimento - - 2 2

PMEs Totais - 321 543 1.068

Total - 324 552 1.079

6.1.2.3 Análise de impacto macroeconómico

O impacto macroeconómico do Projecto é calculado utilizando uma SAM para Moçambique. Uma SAM é uma base de dados detalhada que abrange toda a economia e que contém informações sobre o fluxo de recursos que ocorre entre os diferentes agentes económicos que existem dentro de uma economia (ou seja, as empresas, as famílias, governo, etc.) durante um determinado período de tempo, normalmente um ano civil. Portanto, uma SAM é uma matriz que incorpora as inter-relações que existem entre os diversos agentes económicos na economia, incluindo a distribuição de receitas e despesas entre os grupos familiares. A preparação da SAM é muito significativa, uma vez que a mesma dá uma estrutura em que as actividades de todos os agentes económicos são acentuadas e distinguidas de forma proeminente. Ao combinar estes agentes em grupos significativos, a SAM torna possível distinguir claramente os grupos, pesquisar os efeitos da interacção entre os mesmos e medir o bem-estar económico de cada grupo. Há duas razões principais para a compilação de uma SAM:

Em primeiro lugar, a SAM fornece uma estrutura para organizar informações sobre a

estrutura económica e social de uma entidade geográfica específica (ou seja, um país,

região ou província), por um determinado período de tempo (normalmente um ano civil); e

Em segundo lugar, proporciona uma base de dados que poderá ser usada por qualquer

uma de entre várias ferramentas de modelação macroeconómica, para avaliar o impacto de

diferentes decisões económicas e/ou programas de desenvolvimento económico.

Dado que a SAM é um sistema de dados abrangente, desagregado, consistente e completo de entidades económicas que capta a interdependência que existe dentro de um sistema socioeconómico, a mesma poderá ser usada como uma estrutura conceptual para explorar o impacto de mudanças exógenas em variáveis tais como as exportações, certas categorias de despesas Governamentais e os investimentos sobre todo o sistema socioeconómico interdependente. A SAM, devido à sua boa desagregação das despesas das famílias privadas em categorias socioeconómicas relativamente homogéneas que são reconhecidos para fins de definição de

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política, tem sido usada para explorar questões relacionadas com a distribuição de rendimentos. O Anexo 1 contém uma discussão mais aprofundada das SAMs e discorre sobre o uso de SAMs como ferramentas analíticas para aplicações específicas na análise de equilíbrio económico geral. Para efeitos deste estudo, foi utilizada a última SAM disponível para Moçambique, a qual foi actualizada pela Conningarth de modo a ter em consideração as contas nacionais em vigor. Além disso, os dados e as informações económicas foram obtidas no Banco Central de Moçambique, no Banco Mundial, no Banco de Desenvolvimento da África Austral e noutras fontes.

6.1.2.4 O Projecto

Realizou-se uma análise do equilíbrio macroeconómico geral parcial, com base na SAM para Moçambique, para determinar a natureza e magnitude dos impactos do Projecto em vários indicadores, tais como:

PIB;

Utilização de capital;

Impacto no emprego por nível de habilidades;

Rendimento familiar por grupo de rendimento;

Impactos fiscais da receita fiscal e royalties;

Indicadores de eficiência para o capital e trabalho.

Foram medidos os impactos macroeconómicos directos, indirectos e induzidos decorrentes da construção e operações realizadas no Projecto.

6.1.2.4.1 Impacto directo do Projecto

Os “impactos directos” referem-se aos efeitos tangíveis quantificados das fases de construção e operação das componentes em alto-mar, na costa e junto à costa do Projecto.

6.1.2.4.2 Impacto indirecto do Projecto

Os “impactos indirectos” referem-se aos efeitos do Projecto sobre todas as outras indústrias que fornecem insumos durante as fases de construção e operação. Em termos da fase de construção, tais insumos referem-se a cimento, aço e tijolos. No que diz respeito à fase operacional, referem-se a produtos tais como energia eléctrica, combustíveis e produtos químicos. É importante notar que os impactos indirectos também incluem os materiais que outras empresas terão de assegurar às indústrias que fornecem produtos e serviços directamente ao Projecto. A fim de explicar melhor o significado do conceito de impactos indirectos, podemos recorrer a um exemplo. Por exemplo, quando o Projecto começar a operar serão necessários materiais, tais como máquinas e equipamentos, tubagens, combustível, lubrificantes, energia eléctrica e até mesmo insumos como material de escritório e serviços bancários. A fim de produzir estes produtos e serviços, os respectivos fornecedores, por sua vez, exigem certos insumos de outros produtores em diferentes sectores da economia. Os impactos indirectos, portanto, representam as interacções totais que ocorrem a fim de fornecer os materiais e serviços directos utilizados pelo Projecto, assim como os produtos e serviços que complementam os que são utilizados pelo Projecto. Estas interacções são expressas em termos da sua contribuição para o PIB, geração de emprego e rendimentos, bem como outras variáveis macroeconómicas.

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111

6.1.2.4.3 Impacto induzido do Projecto

Os impactos induzidos são os efeitos do pagamento de salários, vencimentos e dividendos às pessoas que estão empregadas no sector relevante. Esses impactos induzidos também têm em conta os vencimentos e salários pagos por fornecedores do Projecto. Estes vencimentos e salários adicionais geram um efeito multiplicador através de um aumento da procura de vários bens de consumo, que precisam de ser fornecidos por vários sectores económicos. Assim, um montante inicial de despesas do Projecto (ou seja, o pagamento de salários e vencimentos) leva ao aumento das despesas de consumo e, portanto, aumenta o rendimento nacional num montante superior do que a despesa inicial por parte da Anadarko.

6.1.2.4.4 Matriz de Contabilidade Social para Moçambique

Os impactos supramencionados concentram-se em todos os elos ascendentes e descendentes associados ao Projecto. Realizou-se uma análise de equilíbrio macroeconómico geral parcial, com base na última SAM para Moçambique, conforme mencionado anteriormente a fim de medir todas as implicações económicas associadas com as fases de construção e operação do Projecto. Conforme mencionado acima, esta SAM foi portanto ajustada e modificada para corresponder aos requisitos específicos do estudo.

6.2 Impacto Económico do Projecto

6.2.1 Natureza e magnitude dos resultados

Os resultados do estudo de análise de impacto macroeconómico são apresentados de acordo com os seguintes temas:

Impacto macroeconómico;

Impacto sectorial;

Critérios de eficácia económica;

Impacto socioeconómico e fiscal.

6.2.2 Impacto macroeconómico do Projecto total

As fases de construção e operação do Projecto irão ambas gerar impactos sobre a economia, mas a construção é um acontecimento isolado que irá durar alguns anos, enquanto que a fase de exploração é de longo prazo. Os impactos das fases de construção e operação foram integrados, a fim de chegar a um impacto macroeconómico anual do projecto total. Como tal, o impacto macroeconómico da fase de construção foi desdobrado em anos, para coincidir com a fase operacional. Conforme foi explicado na secção anterior, a análise foi realizada considerando-se as diferentes fases do Projecto. Na discussão a seguir o Relatório só se irá referir à fase final (medida em 2035), quando o Projecto estiver totalmente operacional, os megaprojectos e o gás para as PMEs estiverem implementados e quando a economia de Moçambique se tiver desenvolvido a tal ponto que a intensidade de importação da economia começa a diminuir, com a produção nacional em Moçambique a substituir as importações.

6.2.2.1 Produção nacional (PIB)

O PIB, no contexto do Projecto, é a produção total de bens e serviços dentro das fronteiras geográficas de Moçambique, num determinado período de tempo (um ano). O Projecto é significativo em relação à pequena Economia de Moçambique de cerca de 15,32 mil milhões de

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USD. Para ser mais específico, espera-se que o Projecto contribua com mais 38,98 mil milhões de USD por ano para o PIB, em 2035. Como tal, o impacto do Projecto sobre o PIB de Moçambique é equivalente a 250% do PIB de 2013 do país. Obviamente, o Projecto terá um impacto ainda maior no sector do gás, uma vez que este sector está actualmente estimado em apenas 1% do PIB. O Projecto terá um impacto sobre a economia de Moçambique de três formas: efeito directo, efeito indirecto e efeito induzido.

Figura 34: Impacto no PIB

O maior impacto do Projecto sobre a Economia Moçambicana irá resultar de efeitos directos, que se espera virem a contribuir com 55% do impacto total do Projecto. Cerca de 41% do efeito total sobre o PIB deverá advir dos efeitos induzidos decorrentes da criação de actividades económicas por parte dos fornecedores do Projecto. O impacto do Projecto está consequentemente projectado para desdobrar-se por toda a Economia. A Figura 32 examina o impacto no PIB descrito acima em vários cenários, incluindo um possível desenvolvimento da Área 4 (isto foi efectuado assumindo 80% do impacto da Área 1, devido à falta de dados referentes à Área 4 e a possíveis desfasamentos). A mesma realça os ganhos enormes à disposição de Moçambique. Devido ao Projecto e à VDG associada em 2035 o PIB real aumenta 6 vezes em relação ao PIB em 2014. Isto é quase o dobro dos aumentos no cenário base, em relação ao mesmo período de tempo. Se a Área 4 for igualmente desenvolvida, à qual o Projecto iria acrescentar um impulso significativo, o PIB aumenta quase 850%.

Figura 35: Impacto de Cenários do Projecto sobre o PIB Total de Moçambique

2019 2025 2030 2035

Total 2.2 30.7 33.6 39.0

Induzido 0.9 11.8 13.1 16.0

Indirecto 0.4 0.7 1.2 1.4

Directo 0.9 18.3 19.3 21.5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

mil

milh

õe

s d

e U

SD

0

20

40

60

80

100

120

140

PIB de 2014 2035 sem Projecto 2035 6 trains 2035 6 trains e VDG 2035 6 trains,VDG e Área 4

PIB

de

Mo

çam

biq

ue

Mil

Milh

óe

s d

e U

SD d

e 2

01

3

PIB Base Área 1 - 6 trains Oportunidade de VDG Área 4 (pressuposto)

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6.2.2.2 Emprego

Moçambique tem uma grande força de trabalho. Cerca de 47% da população jovem do país de entre 20 milhões de pessoas faz parte da força de trabalho, dos quais uma grande parte são não qualificados e semiqualificados. A taxa de desemprego estimada em Moçambique é de 21%. Dos que têm emprego, uma parte desproporcional está envolvida na agricultura e no sector informal. A criação de emprego é, portanto, um objectivo importante do Governo e um requisito fundamental dos governos de investidores estrangeiros.

Figura 36: Emprego criado

Durante a fase de construção da parcela do gás do Projecto serão criados cerca de 10.000 postos de trabalho. A Figura 36 acima mostra que o Projecto deverá gerar e sustentar 725.428 anos-pessoa adicionais durante a vigência do Projecto. A desagregação dos efeitos sobre a criação de emprego é apresentada a seguir: Prevê-se que aproximadamente 87% do total de empregos que serão criados pelo Projecto resultem do impacto induzido, o qual reflecte a adicional remuneração pelo trabalho e geração de excedentes operacionais brutos dos fornecedores para o Projecto e para as indústrias que irão receber os seus fornecimentos do Projecto. Há que destacar que a maioria dos postos de trabalho que serão criados pelo Projecto (40%) serão não qualificados. Pouco mais de um terço dos postos de trabalho (38%) será semi-qualificado. Os restantes 22% de postos de trabalho são qualificados, o que implica que terá que existir migração de mão-de-obra qualificada para a região. No entanto, a vantagem para 71% do total de empregos que o Projecto cria com algumas competências é o potencial de transferência de habilidades entre os trabalhadores locais, melhorando desta forma as qualificações da força de trabalho local. A Figura 37 abaixo mostra os postos de trabalho criados durante as diferentes fases do Projecto. Por exemplo, durante as fases iniciais de construção, 2019 e 2025, será criado um total de 19.341 postos de trabalho.

2019 2025 2030 2035

Total 53 501 594 725

Induzidos 35 456 511 633

Indirectos 16 26 46 56

Directos 2 18 36 37

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Milh

are

s d

e E

mp

rego

sC

riad

os

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Figura 37:Impacto Total do Emprego por Componente do Projecto

6.2.3 Agregados familiares

Um agregado familiar é considerado a menor unidade económica dentro de uma economia. A dimensão média de um agregado familiar tende a ser maior em países menos desenvolvidos e Moçambique não é excepção, com uma média de 5 a 6 pessoas por agregado familiar. O Projecto deverá ter um efeito significativo sobre a despesa de consumo das famílias. Estima-se que o Projecto dinamizará mais 35,9 mil milhões de USD em despesas de consumo. Estas despesas de consumo adicionais são equivalentes a 160% do total das despesas de consumo das famílias em Moçambique, que somam 22,45 mil milhões de USD em 2013. Em particular, 54% das despesas adicionais de consumo das famílias promovidas pelo Projecto serão acumuladas por agregados familiares de elevado rendimento, o que é um sinónimo de famílias qualificadas e algumas semi-qualificadas. Os agregados familiares de baixo rendimento deverão ganhar mais 11.5 mil milhões de USD em despesas de consumo em resultado do Projecto. Embora o PIB per capita possa ser distorcido por uma grande desigualdade nas sociedades, continua a ser um indicador sólido do rendimento médio por pessoa numa economia. O PIB per capita de Moçambique em 2012 foi 676 USD. Considerando pressupostos plausíveis, o PIB per capita deverá atingir 4.450 USD em 2035. Isto representa um enorme aumento, mas espera-se que continue significativamente abaixo da média mundial de 9.000 USD. Em 2011, o rendimento per capita no grupo de países com elevados rendimentos foi de 39.000 USD. Resumindo, o Projecto deverá aumentar os rendimentos das famílias e, com isso, aumentar a despesa de consumo das famílias.

6.2.4 Balança de pagamentos

Moçambique tradicionalmente apresenta um défice na balança de pagamentos (excluindo as doações), em resultado de um défice comercial alargado e um saldo líquido negativo na conta de serviços e rendimentos, que explicam o défice perpétuo na conta corrente. O Projecto deverá aumentar a conta das importações, a médio prazo, dado que as máquinas e equipamentos do Projecto serão importados. No entanto, a partir do ano em que as exportações de GNL arrancam e durante o tempo de vida do projecto prevê-se que a receita de exportação seja impulsionada para o longo prazo. Espera-se que uma melhoria na receita de exportação diminua o défice comercial e melhore o défice da conta corrente.

2019 2025 2030 2035

Total 53 501 594 725

PMEs - 14 25 47

Megaprojectos 2 65 149 220

GNL - Construção 15 5 3 2

GNL - Operação 36 417 417 457

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Milh

are

s d

e E

mp

rego

sC

riad

os

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De acordo com a análise, o Projecto deverá gerar enormes receitas adicionais de exportação para contas externas do país, transformando, assim o défice da balança de pagamentos de 2,7 mil milhões de USD em 2019 num superavit de 15,9 mil milhões de USD em 2035.

6.2.5 Impacto Sectorial do Projecto

Evidentemente, o impacto diferencial das várias componentes do Projecto sobre variáveis macroeconómicas sugere que o Projecto também terá um efeito variado em diferentes sectores da economia. A Tabela 35 abaixo apresenta os impactos do Projecto ao nível de nove sectores económicos.

Tabela 35: Impacto Sectorial (mil milhões de USD, 2013)

2019 2025 2030 2035

Principais Sectores

Económicos

PIB (Valor)

% PIB (Valor)

% PIB (Valor)

% PIB (Valor)

%

1. Agricultura 0.4 16% 3,9 13% 4,3 13% 5,3 14%

2. Mineração 0,6 28% 18,3 59% 19,3 57% 21,5 55%

3. Produção Industrial

0.2 11% 1,5 5% 1,7 5% 2.1 5%

4. Electricidade e Água

0,0 1% 0.3 1% 0.3 1% 0.4 1%

5. Construção 0.1 4% 0.1 0% 0.2 0% 0.2 0%

6. Comércio e Alojamento

0.4 17% 3.4 11% 3,9 12% 4,8 12%

7. Transportes e Comunicações

0.1 6% 1.4 4% 1,6 5% 1,9 5%

8. Serviços Financeiros e Empresariais

0.2 11% 1.0 3% 1,2 4% 1,5 4%

9. Serviços Comunitários e Sociais

0.1 5% 0,9 3% 1.1 3% 1.3 3%

Impacto Total no PIB

2,2 100% 30,7 100% 33,6 100% 39,0 100%

Dado o Projecto tratar-se de um projecto de gás não é surpreendente que o sector de mineração seja o maior beneficiário na economia (55% do PIB) do impacto total do Projecto. Isto é especialmente significativo dado que actualmente o sector de mineração gera apenas um por cento do PIB. O sector de comércio e alojamento também deverá beneficiar visivelmente (12% do PIB). Portanto, espera-se que este Projecto de investimento tenha um efeito pronunciado sobre a economia. Espera-se que o Sector de Comércio e Alojamento seja o maior beneficiário (46% do emprego total) dos novos projectos criados pelo Projecto, devido ao efeito multiplicador elevado de empregabilidade do sector, que está relacionado com o facto de ser o maior sector e o maior empregador do país. O Sector Agrícola beneficia de 22% dos postos de trabalho criados. Em particular, apenas 5% de todos os empregos criados pelo Projecto são no Sector da Mineração. Este efeito não é inesperado dada a natureza de capital intensivo do Projecto. Espera-se que três sectores, para além do comércio e comunicações e agricultura, criem mais empregos do que o Sector de Mineração. Espera-se que a Indústria de Transformação e o sector de serviços

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comunitários e sociais gerem 7% de todos os novos postos de trabalho e espera-se que 6% sejam criados pelos sectores de transportes, armazenamento e comunicações.

6.2.6 Indicadores de eficácia económica para o Projecto total

A eficácia dos factores de produção utilizados pelo Projecto foi medida e é apresentada nesta secção do relatório. Os indicadores de eficácia dos Projectos são medidos e comparados com indicadores de eficácia nacionais e os de outros projectos, para demonstrar a eficiência com que um determinado projecto emprega os factores de produção para chegar a uma determinada produção. A eficiência do investimento de capital do Projecto é deduzida através do cálculo do rácio entre a contribuição do Projecto para o PIB em relação ao investimento de capital do Projecto (PIB/Capital), que mostra quanto é produzido por cada dólar de capital investido. Da mesma forma, foi calculado um rácio de trabalho em relação ao capital, o que mostra o número de empregos criados por cada milhão de USD de investimento de capital efectuado pela Anadarko. Tendo em conta que Moçambique é um país de baixos rendimentos, pareceu adequado incluir um indicador de eficiência social entre os indicadores de eficiência apresentados na Tabela 36 abaixo e uma comparação com as médias relevantes da economia Moçambicana. O rácio de redução da pobreza foi utilizado para demonstrar o impacto do Projecto na melhoria do bem-estar económico das famílias Moçambicanas. O método usado foi a percentagem de rendimento adicional do agregado familiar gerado pelo Projecto que foi prestado às famílias de baixos rendimentos.

Tabela 36: Critérios de eficácia

Rácio

PIB/Capital Rácio

Trabalho/Capital

Rácio Rendimento

Familiar Baixo/Total

Investimento 0,45 8,12 32%

Resultados Sectoriais Comparativos

Agricultura, Caça, Silvicultura e Pesca 0,68 34,29 37%

Mineração e Extracção 0,53 20,87 24%

Produção Industrial 0,66 27,47 27%

Abastecimento de Electricidade, Gás e Água 0,32 10,67 23%

Construção 0,75 42,72 25%

Grossistas e Retalhistas 0,70 34,88 27%

Transportes, Armazenagem e Comunicações 0,45 17,67 25%

Serviços Financeiros, Seguros, Imobiliário e Serviços Empresariais

0,55 19,45 23%

Serviços Comunitários, Sociais e Pessoais 0,78 33,89 25%

Economia Total 0,70 33,56 26%

Os indicadores efectivos de eficiência do investimento de capital destacam a natureza de capital intensivo do Projecto. Para cada USD de capital investido no Projecto é gerado 0,45 USD de PIB

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adicional, em comparação com 0,70 USD gerado a partir de um investimento de capital equivalente no projecto Moçambicano médio. Isto implica que o capital investido no Projecto não é tão eficiente na geração de resultados como é o capital no projecto Moçambicano médio. Da mesma forma, o rácio trabalho/capital revela que, por cada milhão de USD de investimento de capital efectuado pela Anadarko, serão criados 8,12 novos postos de trabalho. Um investimento de capital equivalente no projecto Moçambicano médio criaria 33,6 postos de trabalho, o que é quase seis vezes mais do que os criados pelo investimento da Anadarko. Estes indicadores de eficácia salientam a intensidade de capital de projectos que incluem minas, estações eléctricas e/ou actividades de transporte. Além disso, os números mais elevados do projecto Moçambicano médio são prova da escassez de projectos intensivos em termos de capital em Moçambique, que actualmente incluem apenas a Mozal e a operação de gás natural de Pande. O indicador social, que mede grosseiramente o impacto do Projecto sobre a redução da pobreza, revelou que uns impressionantes 32% de rendimento familiar adicional criado pelo Projecto irão beneficiar famílias de baixos rendimentos, quando comparados com 26% para o projecto médio de investimento a nível nacional. Esta percentagem relativamente alta deve-se à importância do sector agrícola na economia de Moçambique. Além disso, a fatia relativamente alta nos lucros do Governo durante a última parte do Projecto traduzir-se-á em gastos adicionais por parte do Governo em serviços sociais e redução da pobreza, o que beneficiará maioritariamente famílias de baixos rendimentos. Em geral, os indicadores de eficácia poderão não corresponder à média nacional, mas demonstram igualmente que o Projecto criará novos postos de trabalho, aumentará a produção nacional bem como os rendimentos familiares.

6.2.7 Impactos Fiscais e Socioeconómicos do Projecto

Outro canal através do qual a economia Moçambicana beneficiará dos investimentos da Anadarko é a receita fiscal adicional. A criação de postos de trabalho implica um aumento da remuneração do trabalho, e as operações do Projecto sugerem um novo IRPS e IRPC sobre rendimentos e imposto colectivo. Adicionalmente, o aumento previsto das despesas de consumo das famílias, devido a um maior rendimento familiar, implica uma receita adicional de impostos indirectos, incluindo imposto sobre valor acrescentado (IVA). A Anadarko também efectuará gastos com suprimentos e consequentemente irá estar a contribuir para as receitas de IVA do Governo. Todas as contribuições fiscais relevantes do Projecto são apresentadas abaixo na Tabela 37.

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Tabela 37: Impacto fiscal

Impacto Fiscal: 2019 2025 2030 2035

Impostos Directos Incl. Parte dos Lucros e Royalties e Taxas (milhões de USD) 142 4078 6541 7981

Imposto sobre Vendas (incl. Imposto sobre Actividades) (Milhões de USD)

154 1164 1361 1684

Impostos Aduaneiros (Exportações e Importações) (Milhões de USD)

90 756 872 1076

Total 386 5998 8774 10740

A receita fiscal foi transposta para os recursos nos quais o Governo poderá investir, de modo a avaliar os benefícios da receita fiscal adicional que o Projecto irá gerar. O principal objectivo do Governo Moçambicano é a redução da pobreza. Para o conseguir o Governo tem dado prioridade aos gastos no desenvolvimento de infra-estruturas, educação e saúde. Nesta base, a despesa adicional do Governo foi transposta para os recursos que conseguiria obter nos sectores da Educação e da Saúde. Mais especificamente, a receita adicional do Governo foi transposta para o número adicional de docentes, camas hospitalares, médicos e casas de baixo custo que os fundos permitiriam angariar. A Tabela 37 apresenta o possível impacto fiscal do Projecto em projectos sociais prioritários. Também deverá ser destacado que os itens de gastos sociais do Orçamento Nacional listados na Tabela 38 representam apenas cerca de 20% do Orçamento total. Por conseguinte, 80% do Orçamento total permanece alocado aos outros itens do Orçamento, tais como Estradas, Defesa, etc. e, possivelmente, medidas para estimular o desenvolvimento das PMEs e de outros sectores da Economia. 2 148 milhões de USD adicionais em receitas do Governo iriam potencialmente permitir-lhe investir em mais 34 376 docentes, 9 313 camas hospitalares, 1 658 médicos e 14 711 casas de baixo custo. Vale a pena realçar que o custo de um docente, por exemplo, não compreende apenas o pacote de remuneração, mas também todos os outros custos relacionados com o apoio ao docente, incluindo edifícios escolares, mobiliário, apoio administrativo e assim por diante. O mesmo se aplica aos médicos e camas hospitalares. O impacto social dos recursos adicionais na Educação e Saúde será significativo, dada a escassez destes recursos em Moçambique. Estima-se que o rácio de alunos por docente em Moçambique seja elevado, atingindo o número 67. A receita fiscal do Projecto poderá desta forma dar um contributo positivo para a Educação através da contratação adicional de docentes. A taxa de mortalidade infantil relativamente alta de Moçambique (115 por cada 1 000 nados vivos) e a baixa esperança média de vida (42 anos) reflecte a falta de serviços e pessoal de Saúde do país. O número considerável de Moçambicanos economicamente activos que estão infectados com HIV/SIDA (12,5% do grupo etário dos 15-49 anos) é indicativo da pressão sobre os serviços de Saúde do País. Médicos e camas hospitalares adicionais são, portanto, uma exigência extrema do sobrecarregado Sistema de Saúde de Moçambique.

Tabela 38: Indicadores socioeconómicos

Indicadores Socioeconómicos Número por Ano

2019 2025 2030 2035

Docentes Adicionais 1.111 18.883 28.142 34.376

Camas Hospitalares Adicionais 351 5.248 7.621 9.313

Médicos Adicionais 45 889 1.358 1.658

Casas de Baixo Custo Adicionais 450 8.012 12.045 14.711

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No geral, os recursos fiscais adicionais gerados pelo Projecto irão reforçar a capacidade das autoridades alcançarem as oito Metas de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas, em particular “alcançar a Educação Primária Universal” (Meta 2), “Reduzir a mortalidade infantil” (Meta 4) e “Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças” (Meta 6).

6.3 Impacto do Projecto no Crescimento a Longo Prazo

Nesta secção serão consideradas as perspectivas de crescimento da Economia de Moçambique sem o Projecto. Estão no entanto incluídos nos números as despesas da Área 1 em Moçambique até à fase actual. No próximo capítulo serão analisadas as perspectivas para a Economia de Moçambique com o Projecto. O foco nestes dois sectores é sobre as taxas de crescimento da Economia. Esta secção começa por considerar o actual estado social e económico de Moçambique. É oferecida igualmente uma perspectiva social e económica a longo prazo da Economia.

6.3.1 Crescimento Económico Projectado sem o Projecto

6.3.1.1 Contexto económico e social de Moçambique

Moçambique tem uma população de aproximadamente 25 milhões de habitantes. A demografia detalhada de Moçambique é apresentada na tabela abaixo:

Tabela 39: Demografia de Moçambique

População (est. de 2012)

TOTAL 23 515 934

Urbana 38%

- 0-14 anos 46%

- Idade mediana 16,8 anos

Taxa de desemprego 21% (est. de 1997)

PIB per capita 676 USD

Rendimento familiar por % de contribuição

- Os 10% inferiores 1,9%

- Os 10% superiores 36,7% (est. de 2008)

Taxa de crescimento populacional 2,4%

Taxa de infecção da população adulta por HIV/SIDA

23,1%

Fonte: CIA World Fact Book. A pobreza continua generalizada em Moçambique, não obstante o crescimento sustentado do PIB na última década. A taxa de pobreza caiu de 69,4% da população em 1997 para 55% em 2010, mas a pobreza está a estagnar e as disparidades regionais permanecem notórias. A crescente desigualdade poderia levar a uma maior tensão social, se os preços dos alimentos continuarem altos. Os indicadores de desenvolvimento têm melhorado nos últimos anos, mas a maioria dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) não serão atingidos, a não ser que o Governo e os Doadores

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reforcem o seu comprometimento ao longo dos próximos cinco anos. Desafios básicos, tais como a melhoria da qualidade dos serviços de educação e de saúde e a luta contra o HIV/SIDA, continuam extremamente difíceis de superar. Conforme é apresentado na Tabela 39, a população de Moçambique poderá ser considerada muito jovem, a acrescentar a uma elevada taxa de crescimento de 2,4% ao ano. A taxa de desemprego (21%) é relativamente baixa em comparação com outros países Africanos, mas este valor aplica-se principalmente ao sector formal. Somente 38% da população é urbana, enquanto que 81% da força de trabalho está ainda dependente da Agricultura para obter oportunidades de trabalho. Apesar do bom progresso recente em relação ao crescimento económico e ao aumento de gastos governamentais em infra-estruturas sociais e económicas, o fosso entre pobres e ricos ainda permanece excepcionalmente grande. Coloca ao Governo enormes desafios para garantir uma maior disseminação da riqueza criada por um sector de mineração em expansão, sem impedir a competitividade da indústria e a sua atractividade em termos de investimento do Sector Privado.

6.3.1.2 Perspectivas de futuro para os sectores-chave

A Economia de Moçambique tem apresentado elevadas taxas de crescimento do PIB ao longo dos últimos anos, com uma média de 7,4% ao ano em termos reais. Isto foi principalmente induzido por grandes investimentos do sector privado no sector da mineração. O valor total dos projectos de investimento em mineração em Moçambique é actualmente de 11,6 mil milhões de USD, dos quais o carvão representa 7,1 mil milhões de USD. As exportações de alumínio, actualmente a maior fonte de receitas de exportação de Moçambique, irão aumentar ao longo do período em consideração para 1,2 mil milhões de USD em 2017, apoiadas por um aumento moderado dos preços a partir de 2014. O carvão, a segunda maior fonte de receitas de exportação de Moçambique desde meados de 2012, irá até 2015 ultrapassar o alumínio, quando uma nova linha ferroviária de carvão até ao porto de Nacala iniciar as operações. Os volumes de exportação crescerão de 4,4 milhões de toneladas em 2013 para 19,5 milhões de toneladas em 2017. Como pode ser deduzido dos parágrafos anteriores, a extracção de carvão e o investimento em novas infra-estruturas de transporte irão impulsionar o crescimento económico a médio e longo prazo. No entanto, a partir de 2018/2019 em diante a economia de Moçambique precisa de nova injecção de capital em termos de megaprojectos para sustentar o seu actual crescimento acentuado.

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6.3.1.3 Previsões económicas de longo prazo (2014 - 2035)

Os modelos de Conningarth prevêem que a Economia de Moçambique, com base em pressupostos importantes sobre variáveis chave, irá com toda a probabilidade atingir uma taxa de crescimento de cerca de 5,7% ao ano a longo prazo. A Tabela 40 abaixo apresenta a distribuição das taxas de crescimento anuais de componentes importantes da procura final e o PIB total de Moçambique de 2014 a 2035.

Tabela 40: Projecções de procura final (2014 - 2035)

PIB e componentes de Procura Final Taxa de crescimento durante o período

2014-2035

Despesas de Consumo Final dos agregados familiares:

5,0%

Bens duráveis 6,8%

Bens semiduráveis 7,1%

Bens não duráveis 4,6%

Serviços 4,2%

Despesas de Consumo Final do Governo:

Governo geral 6,0%

Formação de capital bruto: 7,0%

Edifícios e trabalhos de construção 4,5%

Equipamento de transporte 7,5%

Maquinaria e outros equipamentos 8,5%

Custos de transferência 4,3%

Exportações de bens e serviços 7,2%

Importações de bens e serviços 7,0%

PIB Total (a Preços Constantes de 2013) 5,7%

6.3.1.4 Situação social e da pobreza em Moçambique no futuro

Conforme já foi explicado e descrito pelos números acima, Moçambique sofre pobreza e privação social em grande escala. O crescimento económico relativamente elevado previsto para Moçambique irá definitivamente ter um impacto positivo na pobreza e nas condições sociais. Por exemplo, estima-se que o PIB per capita aumentará de cerca de 676 USD (est. de 2012) para cerca de 2.150 USD (est. de 2035), tendo em conta o crescimento económico futuro, conforme previsto e descrito na tabela acima, e uma taxa de crescimento da população de 2,4% ao ano durante o período em análise. Portanto, embora o cenário nulo (em que cenário nulo se refere ao crescimento da Economia de Moçambique sem o Projecto) preveja um desenvolvimento animador para Moçambique, o desenvolvimento de megaprojectos associados com o Projecto poderá ter um grande impacto sobre o desenvolvimento económico, mais especificamente na redução da pobreza e a elevação social de Moçambique. Os benefícios do Projecto para o desenvolvimento económico serão discutidos na secção seguinte.

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6.3.2 Crescimento económico incluindo o Projecto

Nesta secção foi feita uma tentativa de calcular o impacto económico do Projecto sobre variáveis macroeconómicas de oferta e procura. A tabela abaixo apresenta o crescimento económico projectado com e sem o Projecto.

Tabela 41: Impacto sobre o PIB e componentes de procura final

PIB e componentes de Procura Final

Taxa de crescimento durante o período 2014-2035

Sem o Projecto Com o Projecto

Despesas de Consumo Final dos agregados familiares:

5,0% 8,5%

Bens duráveis 6,7% 10,3%

Bens semiduráveis 7,1% 10,6%

Bens não duráveis 4,6% 8,1%

Serviços 4,2% 7,7%

Despesas de Consumo Final do governo:

Governo geral 6,0% 9,9%

Formação de capital bruto: 7,0% 7,5%

Edifícios e trabalhos de construção 4,5% 5,1%

Equipamento de transporte 7,5% 8,1%

Maquinaria e outros equipamentos 8,5% 9,1%

Custos de transferência 4,3% 4,9%

Exportações de bens e serviços 7,2% 10,3%

Importações de bens e serviços 7,0% 7,5%

PIB Total (a Preços Constantes de 2013)

5,7% 8,4%

Com base no acima exposto fica claro que ocorrerá um aumento significativo na taxa projectada de crescimento económico de Moçambique se o Projecto for implementado sem atrasos. A taxa projectada de crescimento de 5,7% ao ano (sem o Projecto) para o período 2014-2035 irá aumentar em cerca de 2,7% ao ano, para 8,4% ao ano, em média, ao longo do período (incluindo o Projecto). Estima-se também que o PIB per capita aumente de cerca de 2.150 USD para cerca de 4.500 USD, em termos de “sem” e “com” o Projecto, no período que se encerra em 2035. Isto constitui mais do que a duplicação da riqueza média.

6.3.3 Impacto económico da despesa projectada no Projecto se for interrompido, na Economia de Moçambique (cenário nulo)

De 2006 a 2015, estima-se que um montante de 6 535 milhões de USD serão gastos no Projecto. Mesmo que o Projecto não continue no futuro é importante notar que esta despesa teve um efeito positivo na economia de Moçambique. A maior parte da despesa projectada ao longo dos últimos 4 anos, incluindo 2015, equivale a 1 360 milhões de USD por ano. Estima-se que este gasto, só por si, teve um impacto positivo sobre o PIB de 230 milhões de USD, em média, por ano, e um impacto positivo sobre o emprego (directo, indirecto e induzido) de pouco mais de 5.000 novos postos, em média, por ano. Este gasto também tem um efeito positivo sobre o rendimento das famílias e do Governo.

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6.4 Implementação do Projecto com Três Anos de Adiamento

6.4.1 Introdução

O adiamento do projecto tem um grande impacto sobre a economia de Moçambique. Adiar o Projecto significa que a criação de riqueza para a população actual e para as futuras gerações será negada e embora eventualmente se venha a materializar, sacrificá-lo temporariamente significa que na realidade o mesmo não poderá ser recuperado. Isto aplica-se à perda de actividade do Projecto como tal, bem como a dinâmica que tem sobre o crescimento económico em geral, devido aos seus efeitos multiplicadores de impacto em toda a Economia.

6.4.2 Impacto do adiamento do Projecto

Nesta secção desenvolve-se um cenário que projecta o impacto de uma implementação do Projecto com 3 anos de adiamento. Este cenário irá investigar exclusivamente o impacto do adiamento do Projecto sobre o crescimento e desenvolvimento económicos e não tem em consideração o impacto do risco de obter preços mais baixos do gás no futuro. A tabela abaixo mostra o impacto marginal de adiar o Projecto por 3 anos em relação ao cenário de base, onde o cenário base, neste caso, se refere ao cenário um (1), o que pressupõe que a produção de gás irá começar em 2019. Um atraso de três anos significa que a fase de produção do Projecto irá apenas começar em 2022. O impacto marginal do Projecto irá, como é o caso com o ano de base, ser medido em 2019, 2025, 2030 e 2035. Devido ao facto da análise ser calculada a preços correntes, o efeito de inflação está excluído deste exercício. No entanto, conforme já foi explicado previamente, as mudanças dos preços relativos das commodities são importantes num exercício desta natureza. Por exemplo, se houver uma boa razão para que o preço relativo do gás, em relação a outras commodities que estão a ser usadas no Projecto, aumente ou diminua ao longo do tempo, o mesmo deverá ser tido em consideração. No entanto, como já foi afirmado, este aspecto não foi incluído nesta análise. Com base na tabela da página seguinte é importante realçar os seguintes aspectos:

O adiamento do projecto tem um impacto marcante sobre a Economia de Moçambique.

Em 2035 o PIB é menor em 23% e o impacto no Emprego é menor em 17% no cenário

de adiamento quando contraposto ao cenário de referência (base). O impacto no

rendimento do Governo é de menos 4%;

É importante realçar que, em 2025, o impacto absoluto sobre o Emprego será de cerca

de menos 182.000 postos de trabalho, cerca de 36% abaixo do cenário base; e

Os impactos negativos do cenário de adiamento em relação ao cenário base são muito

mais graves nos anos anteriores. Por exemplo, o impacto nas receitas do Governo é

cerca de 72% inferior ao do cenário de base em 2019, quando comparado com os 7% em

2030. Este fenómeno é expectável, dado que os impactos positivos estão apenas a

deslocar-se para o futuro.

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Tabela 42: Impacto Macroeconómico de 3 Anos de Adiamento sobre a Economia de Moçambique

Impacto no PIB

(Milhares de Milhões

de USD)

Impacto na Formação de Capital (Milhares

de Milhões de USD)

Impacto no Emprego

(Milhares de Empregos Criados)

Impacto no Governo

(Milhares de Milhões de

USD)

2019 Cenário de Adiamento 1,2 14,7 29,9 0.1

Cenário de Base 2.2 24,2 53,0 0.4

Impacto Absoluto -1,0 -9,5 -23,1 -0,3

Impacto em Percentagem -47% -39% -44% -72%

2025 Cenário de Adiamento 16,9 60,2 319,1 2,0

Cenário de Base 30,7 62,5 500,9 6,0

Impacto Absoluto -13,8 -2,4 -181,8 -4,0

Impacto em Percentagem -45% -4% -36% -67%

2030 Cenário de Adiamento 25,9 63,5 509,5 8.2

Cenário de Base 33,6 76,0 593,9 8,8

Impacto Absoluto -7,7 -12,5 -84,4 -0,6

Impacto em Percentagem -23% -16% -14% -7%

2035 Cenário de Adiamento 30,2 71,2 602,2 10,4

Cenário de Base 39,0 88,1 725,4 10,7

Impacto Absoluto -8,8 -16,9 -123,2 -0,4

Impacto em Percentagem -23% -19% -17% -4%

6.5 Resumo e Conclusões

O objectivo principal deste estudo macroeconómico foi medir a natureza e a magnitude de todos os impactos económicos e socioeconómicos que emanam do Projecto, em Moçambique. Foi realizada uma análise detalhada para garantir que foram medidos todos os impactos relevantes, incluindo possíveis sectores comerciais e secundários que possam surgir em resultado do Projecto. Foram medidos os impactos socioeconómicos, da fase de construção e de operação do Projecto na Economia Moçambicana. Em particular, foram quantificados os impactos directos, indirectos e induzidos do Projecto. Um dos efeitos directos do Projecto é a criação de empregos para os trabalhadores do Projecto. Os efeitos indirectos resultam dos efeitos directos, chegando a áreas ou populações distantes do objectivo pretendido ou original do Projecto. Os efeitos indirectos referem-se ao impacto do Projecto sobre os fornecedores do Projecto. Os efeitos induzidos incluem o impacto económico sobre o pagamento de vencimentos e salários aos trabalhadores no Projecto e indústrias que estão indirectamente associadas à indústria do gás. O efeito multiplicador desse rendimento é o efeito induzido.

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6.5.1 Resumo dos impactos socioeconómicos

O maior impacto do Projecto na Economia Moçambicana irá resultar de efeitos directos, que se espera que venham a contribuir com 55% do impacto total do Projecto. Um terço do efeito total sobre o PIB deverá advir dos efeitos induzidos decorrentes da criação de emprego por parte dos fornecedores do Projecto. Estima-se, deste modo, que o impacto do Projecto se reparta por toda a Economia. O efeito total sobre o PIB seria equivalente a 39 mil milhões em 2035, mais de duas vezes e meia a dimensão actual da Economia Moçambicana. Na verdade, irá elevar o crescimento do PIB de 5,7%, sem o Projecto, para 8,4% com o Projecto, a longo prazo. Sendo Moçambique um país pobre, existem grandes esperanças de como o Projecto poderá gerar impacto na elevação socioeconómica da população. Neste contexto, o foco foi colocado sobre a forma como o Projecto poderá afectar o Emprego e o bem-estar das famílias. Do lado do Emprego calculou-se que o Projecto terá um grande impacto sobre a procura por trabalhadores, somando meio milhão de empregos que seriam mantidos em 2025. A esmagadora procura terá origem em fontes induzidas. O que é importante destacar aqui é que 64% dos postos de trabalho que serão procurados irão precisar de algum tipo de qualificação, ou seja, desde o nível mais alto ao mais baixo. Isto é importante dado que, como é sabido, os níveis mais elevados de remuneração estão associados com níveis mais altos de qualificação. Isto também tem um impacto importante sobre a capacidade do Governo de proporcionar as unidades de Educação e Formação necessárias. Fazendo a ponte com os aspectos anteriores, espera-se que o Projecto tenha um efeito significativo sobre a despesa de consumo das famílias. Estima-se que o Projecto promoverá mais 35 914 milhões USD em despesas de consumo. Estas despesas de consumo adicionais são equivalentes a 160% do total das despesas de consumo das famílias em Moçambique, que somam 22,45 mil milhões de USD em 2013. Sendo um país em desenvolvimento, Moçambique tradicionalmente apresenta défice na balança de pagamentos (excluindo subsídios), em resultado de um défice comercial alargado e um saldo líquido negativo na conta de serviços e rendimentos, que explicam o défice perpétuo na conta corrente. De acordo com a análise, o Projecto deverá gerar enormes receitas adicionais de exportação para a conta externa do País, transformando, assim o défice da balança de pagamentos de 2.799 milhões de USD em 2019 num superávite de 15 969 milhões de USD em 2035. Isto obviamente traça uma imagem totalmente diferente da actual e exigirá um novo enquadramento legislativo para garantir o máximo benefício para o País. Um dos resultados positivos a realçar do Projecto, uma vez implementado, será a sua capacidade de gerar um fluxo substancial de receitas fiscais (que inclui a participação do Governo nos lucros). Para 2035, calcula-se que uma fonte adicional de receita do Governo na ordem dos 10 740 milhões de USD entrará nos cofres do Governo. Muita coisa irá depender de como o governo planeie utilizar esses recursos adicionais para o benefício da população em geral. O principal objectivo do Governo Moçambicano é a redução da pobreza. Para o conseguir o Governo tem priorizado os gastos no desenvolvimento de infra-estruturas, Educação e Saúde. Com base nas necessidades prioritárias do Governo nas áreas de Educação e Saúde, a Conningarth deu um exemplo hipotético do que pode ser conseguido com um montante extra de 2 148 milhões de USD até o ano de 2030 (note-se que este valor representa apenas cerca de 20% do Orçamento total):

34.376 professores;

9.313 camas hospitalares;

1.658 médicos;

14.711 casas de baixo custo.

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Também é interessante observar como o Projecto terá impacto sobre a composição sectorial da Economia de Moçambique ao longo do tempo. Como seria de esperar o sector da Mineração receberia aproximadamente 55% do estímulo, seguido pelo sector da Agricultura, com cerca de 14%, e os sectores do Comércio e do Alojamento, com cerca de 12%. É bastante claro que em 2035 a Economia será muito mais diversificada do que actualmente. Em especial, a indústria transformadora deverá estar numa posição melhor para começar a substituir os produtos importados. Mesmo que a contribuição da indústria transformadora para o PIB tenha diminuído nos últimos anos, a implementação do Projecto irá inverter esta tendência. Em termos da criação de Emprego, o Sector do Comércio e do Alojamento será o maior beneficiado (46%), seguido do Sector da Agricultura (22%).

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7 Conclusão e Opções de Políticas

7.1 Introdução

Este relatório salientou diversos aspectos relacionados com o Projecto. Em particular, concentrou-

se nas imensas oportunidades de desenvolvimento disponíveis ao GdM e ao seu Povo através de

efeitos directos, indirectos e induzidos do Projecto e através de desenvolvimento industrial

dinamizado pelo gás nacional, alimentado pelo Projecto. O Standard Bank foi capaz de utilizar os

pressupostos da Área 1 bem como o próprio conhecimento sectorial para providenciar a modelação

mais exacta aos dias de hoje sobre os resultados potenciais do Projecto.

A grande conclusão deste trabalho é que Moçambique obterá um benefício directo e

indirecto verdadeiramente sem precedentes pelo desenvolvimento do Projecto e

direccionando-o para o progresso nas suas metas socio-económicas. Contudo, para alcançar

este benefício máimo, Moçambique deverá agir rapidamente de modo a assegurar o Projecto

dada a crescente concorrência pelo fornecimento de GNL a nível global.

Abaixo apresenta-se um resumo das conclusões mais importantes:

Tanto nas receitas como no fornecimento doméstico de gás, Moçambique obterá um montante enorme com a execução do Projecto, e o mesmo desempenhará um papel vital na transformação de Moçambique num país de rendimentos médios num prazo consistente com os planos de desenvolvimento perspectivados pelo Governo. Dada a ambição destas metas, é difícil entender como é que as mesmas poderão ser alcançadas sem múltiplos trains de GNL.

A escala dos ganhos ultrapassa todos os dos outros megaprojectos e o Projecto transformará Moçambique para sempre. De notar que as condições fiscais oferecidas ao Projecto são menos vantajosas do que nos megaprojectos anteriores.

A dimensão de qualquer ganho variam substancialmente: as receitas fiscais do GdM variam entre 67 mil a 212 mil milhões de USD. Num cenário de 6 trains sem atrasos da VDG, isto resulta em mais de 700 mil postos de trabalho e um PIB adicional por ano de mais de 39 mil milhões de USD. Adicionalmente, estes ganhos directos são obtidos fazendo uso de capital de terceiros e sujeitando o GdM a riscos limitados.

Apesar das grandes diferenças entre o risco e as despesas de capital das três principais partes consideradas, Moçambique obtém retornos que são muitas mais vezes aquelas do Contratado, cujo retorno se situa dentro de padrões de referência globais e está no limite inferior para mercados em vias de desenvolvimento.

o O GdM obtém 84 a 88% dos ganhos do Projecto numa base ajustada ao risco

Estes fluxos de receitas providenciarão receitas adicionais significativas ao Governo e em breve excederão a dimensão das receitas que Moçambique presentemente obtém de Ajuda ao Desenvolvimento (ODA) (em 2023 assumindo 6 trains (excluindo Impostos sobre Mais Valias(IMV)), em 2021 (incluindo IMV). Tal dará maior margem de manobra para o GdM implementar a sua própria política e, fazendo-o, reforçar também a capacidade de resposta. Contudo, isto não significa que não há lugar para as Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) e ONGs que fornecem um apoio sectorial e assistência técnica cruciais e que continuarão a desempenhar um papel no desenvolvimento de Moçambique no futuro imediato devido à diversidade de desafios do País. O Standard Bank salienta

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alguns casos abaixo nos quais o envolvimento de IFDs poderá trazer uma contribuição significativa.

Embora estes benefícios monetários sejam substanciais, um empreendimento de GNL fornece adicionalmente meios importantes para alcançar as metas de transformação estrutural e industrialização de Moçambique – as quais por seu turno aliviam a pobreza e criam postos de trabalho.

Tal é alcançado através da VDG – gás que pode ser disponibilizado à Economia a um preço que é determinado pelo custo de produção em Moçambique, e não pelas forças globais do mercado. Como tal, esta determinação incremental de preço não subsidiada permitirá que múltiplos projectos baseados no gás se realizem , o que adicionará mais receitas para o Governo, providenciará infra-estruturas para os cidadãos e negócios em Moçambique e criará emprego.

o Estes projectos incluem centrais de energia, a produção de fertilizantes, a produção de metanol, fábricas de GTL, petroquímicos e gasodutos que fornecem PME’s (p.e. indústria transformadora ligeira, agro-processamento, etc), bem como o cimento e o aço

o Estes projectos podem ser economicamente desenvolvidos em Moçambique tanto por entidades privadas nacionais como estrangeiras, bem como através de modelos facilitados pelo Governo tais como PPPs. Como tal, à semelhança do Projecto, as mesmas não requerem o compromisso de capital por parte do GdM e levam a que Moçambique alcance retornos significativos

Contudo, embora a magnitude dos ganhos para Moçambique seja grande e sem precentes, exactamente quão grandes os mesmos são assenta na construção da maior quantidade de trains que a Bacia do Rovuma possa suportar e para a qual exista mercado, tendo em consideração a concorrência no fornecimento de GNL (da Austrália, Canadá, E.U.A, Rússia e Tanzânia);

Alcançar a FID é portanto um assunto urgente e para isto deverão ser tomadas medidas que dêem níveis satisfatórios de segurança a apoiantes internacionais-chave do Projecto tais como banks de desenvolvimento e agências de crédito a exportações, financiadores internacionais, investidores de capital, governos estrangeiros, e compradores globais de GNL. Uma parte vital deste aspecto é um regime legal que governe o Projecto.

Atrasos em alcançar o Fecho Financeiro e início da construção terão impacto, de diversas maneiras, nos ganhos que Moçambique se posiciona para obter

o Primeiro, terá implicações de custos e potenciais implicações contratuais para a construção e ACVs de longo prazo. Estes riscos reduzirão a receita que fluirá para o GdM, além de adiarem os recebimentos deste bem como benefícios industriais não-monetários associados (gás de consumo nacional);

o Segundo, aumenta o risco de que nem todos os possíveis trains sejam construídos, visto a FID ser então tomada em 2016/7 para o Primeiro Gás ocorrer no início da década de 2020 e nessa altura as condições globais de mercado poderão ter mudado afectando a realização subsequente de trains , especialmente se a grande lista de projectos planeados entrar numa fase de construção e tiver desta forma assegura a quantidade limitada de ACVs de longo prazo. Dado o tamanho do impacto de cada train em Moçambique, bem como as economias de escala associadas com grandes fábricas de GNL, existe um risco significativo de não se avançar;

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o Os atrasos poderão colocar em risco a opção de desenvolver uma maior oferta doméstica de gás de 990 MMSCF/ dia a partir de 2039, a qual requererá mais capex do que a VDG fornecida proporcionalmente ao número de trains construído;

o Os atrasos também se arriscam a ameaçar qualquer vantagem de avançar em primeiro lugar que Moçambique poderá obter em relação ao potencial do GNL da África Oriental. A Tanzânia poderá ultrapassar Moçambique em termos de exportações de GNL da mesma forma que o Quénia está a desafiar o Uganda em termos do gás costeiro;

o Atrasos prolongados colocam em risco o estatuto crescente de Moçambique como um destino de investimento atractivo , incluindo o desenvolvimento de outros minerais e recursos de hidrocarbonetos fora da Bacia do Rovuma.

7.2 Opções de Políticas

Num estudo detalhado do que tem historicamente funcionado bem na dinamização do crescimento,

a Comissão de Crescimento, liderada pelo economista vencedor do Prémio Nobel Michael Spence,

identificou os principais factores impulsionadores do crescimento económico a partir da experiência

internacional bem como da literatura académica. Muitos destes aspectos são cobertos neste

Relatório – desenvolvimento de infra-estruturas, serviços de Educação e Saúde, redes de

Segurança Social, desenvolvimento industrial – mas salienta-se que todos estes elementos só

podem ser bem executados através de boa governação e de instituições que promovam

estabilidade, investimento e que dêm prioridade ao seu Povo.

É portanto de uma importância crucial que a governação esteja na dianteira do desenvolvimento de

Moçambique, visto este ser um dos principais obstáculos globais na concretização do potencial dos

recursos naturais. Tal como se observou em várias jurisdições dominadas pelo petróleo, as receitas

dos recursos por si não se traduzirão em crescimento e num desenvolvimento socio-económico

amplo e portanto o enquadramento institucional e de políticas dentro dos quais estas receitas são

aplicadas é vital para alcançar os resultados que o Projecto oferece.

O Relatório salientou previamente algumas opções gerais de políticas relacionadas com a gestão

das receitas dos recursos, as quais estão em sintonia com as boas práticas a nível global no que

concerne à utilização da riqueza dos recursos para criar crescimento económico. De uma forma

geral, existem várias finalidades concorrentes para as receitas dos recursos:

Consumo vs investimento;

Dentro da opção de investimento, a escolha de investir internamente ou internacionalmente;

Utilizar as receitas para os objectivos de estabilidade macroeconómica, entre os quais a estabilidade fiscal orçamental, a estabidade da moeda e /ou a gestão do cumprimento de dívidas (tendo em conta a potencial volatilidade das receitas dos recursos);

As receitas também podem ser aplicadas nos cidadãos actuais e futuros de Moçambique, os quais terão provavelmente diferentes necessidades e diferentes níveis de rendimento.

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Tal como foi assinalado anteriormente, Moçambique tem diversos desafios avultados os quais

podem ser endereçados utilizando estas receitas, e dada a urgência associada a estas questões –

tais como a pobreza, baixos níveis dos serviços de Saúde e Educação, infra-estruturas

subdesenvolvidas, e dependência da agricultura de subsistência – parece que advirão benefícios de

utilizar uma grande parte das receitas no início e direccionando uma parte significativa das mesmas

para o investimento. Adicionalmente, caso o Projecto avance, Moçambique passará por mudanças

significativas à medida que se industrializa e transforma numa economia moderna e diversificada (o

Relatório utiliza como exemplos disto Omã, Qatar e Trinidad & Tobago).

No longo prazo, e tal como aconteceu com as actualmente economias desenvolvidas, esta mudança

será melhor para todos. Contudo, surgirão distrações iniciais, e os sistemas e estruturas de apoio

deverão estar prontas para assegurar que todos os Moçambicanos possam beneficiar de uma

economia em rápido crescimento e transformação.

A História contém muitos exemplos de Governos que não fizeram uma utilização óptima dos

recursos adicionais. Apesar da abordagem óptima poder variar um pouco dependendo do país,

existem algumas lições valiosas na experiência internacional até à data e aplicáveis na

generalidade. O Botswana, por exemplo, alloca receitas de mineração para finalidades específicas

de desenvolvimento tais como a Educação e a Saúde através do seu Índice de Orçamento

Sustentável. De forma semelhante, o Chile tem utilizado as suas receitas do cobre para financiar um

Fundo de Estabilização Interna (FEI)

De acordo com MGI (2013), os Governos devem ponderar nos seguintes pontos se quiserem retirar

a totalidade dos benefícios dos seus recursos à sua disposição:

“Definir expectativas. De modo a contrapor pressão mal-informada que poderá levar a desperdícios nas despesas, os governos necessitam de concordar atempadamente nos princípios sobre como a prosperidade advinda dos recursos será utilizada e gerir em conformidade as expectativas dos seus cidadãos”. Na perspectiva do Standard Bank, um ponto de partida é o de mostrar de forma transparente os valores que poderão ser recebidos por Moçambique no devido tempo – algo que este Relatório procura alcançar. Nós também procuramos expor alguns dos princípios que poderão ser debatidos, e apropriados pelo Povo de Moçambique.

“Assegurar que a despesa é transparente e que os benefícios são visíveis. Os Governos necessitam de assegurar que os mecanismos institucionais são implementados para um elevado nível de transparência de modo a que os receptores veja os benefícios adicionais dos recursos investidos”. Na perspectiva do Standard Bank, o GdM tornar-se-á cada vez mais auto-suficiente em relação ao orçamento. Tal mudará o papel desempenhado pelas IFDs de apoio ao orçamento e supervisão para um de suporte e parceria. O GdM necessita de fortalecer as suas estruturas institucionais para este efeito.

“Despesa Governamental Suave. Definir como meta o equilíbrio orçamental do Governo excepto as receitas dos recursos poderá isolar as despesas públicas da volatilidade. Durante períodos de preços ou produção de recursos relativamente altos, o orçamento geral poderá acumular um superávite, enquanto que durante períodos de baixos preços ou baixa produção poderá sofrer um défice mas a despesa continuar intacta. As regras fiscais têm funcionado muito bem no Chile”. Este Relatório torna claro que as receitas aumentarão em sintonia com o desenvolvimento de cada train e com a amortização dos montantes de recuperação de custos. Nesse sentido, acreditamos que o GdM tem tempo para assegurar o apoio e assistência de terceiros na medida do necessário para desenvolver um enquadramento de apoio adequado.

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“Manter o Governo ágil. Os país impulsionados por recursos frequentemente sofrem de burocracias governamentais exageradas. Os mesmos devem também considerar como é que eles podem de forma consistente identificar estruturas repetitivas no sector público que poderão ser consolidadas”. Novamente, acreditamos que o GdM tem tempo suficiente para determinar a sua estratégia devido ao período de construção de múltiplos anos do Projecto, e consideramos que as IFDs poderão desempenhar um papel nesta tarefa

“Passar de consumo para investimento. Canalizar alguma da riqueza dos recursos para o investimento nacional e poupanças é crucial para transformar a riqueza dos recursos naturais em prosperidade de longo prazo. Poderá ser útil implementar mecanismos institucionais para apoiar neste processo, porque os mesmos poderão atacar quaisquer enviezamentos em favor do consumo, despesa e défices Governamentais, reforçar a disciplina fiscal e aumentar a responsabilização através da transparência”. Tal como este Relatório ilustrou, a execução do Projecto produzirá recursos suficientes para alcançar ambas oportunidades. Dada a actual pobreza de Moçambique, podemos identificar fortes argumentos para implementar programas sociais que providenciem garantias de um rendimento mínimo a certas categorias de cidadãos (p.e. pessoas com limitações físicas, crianças, pensionistas). Em paralelo, o desenvolvimento da VDG beneficiará de forma maciça o desenvolvimento industrial de Moçambique (ainda para mais considerando o gás da Área 4). Para além disto, acreditamos que o Projecto será o catalizador da melhoria das infra-estruturas domésticas (p.e. transmissão de electricidade, estradas, etc). O Standard Bank também dá ênfase à necessidade de fortalecer o desenvolvimento do capital humano com forte enfoque nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, vitais para o desenvolvimento industrial.

“Reforçar as capacidades internas para utilizar os fundos de modo correcto. Os governos impulsionados por recursos necessitam de assegurar o desenvolvimento de fortes capacidades de investimento no sector público. Algumas das áreas chave a endereçar incluem a avaliação, selecção, implementação e auditoria de projectos. Este princípio também se aplica ao consumo, e tanto a despesa no investimento como no consumo deverão ser monitorizados e avaliados com cautela, notando que itens de consumo podem ser politicamente difíceis de inverter no caso de uma caída das receitas, e que investimentos ineficientes não promovem o crescimento sustentável”. Novamente, da nossa parte, apoiamos totalmente este objectivo e acreditamos que as IFDs podem desempenhar um papel valioso em apoiar o GdM na construção de capacidade nestas áreas.

Caso as opções acima – ou outras semelhantes – sejam desenvolvidas e implementadas, estará claro que a viagem da criança (desde o nascimento em 2015) descrita na Introdução tem todas as chances de se materializar. Contudo, o ponto de partida para tudo isto é a FID em 2015 para os dois primeiros trains os quais impulsionarão a trajectória de desenvolvimento apresentada neste Relatório.

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Com base na exposição anterior, as nossas opções específicas de políticas, para consideração,

seriam as seguintes:

Página Comentário

32 Determinar a capacidade óptima de endividamento de Moçambique com base nas receitas de

GNL. Tal poderá apoiar Moçambique na concretização atempada de receitas do Projecto

através dos mercados de capitais.

34 Facilitar a FID o mais cedo possível. As forças do mercado global de GNL arriscam-se a

mover contra o Projecto e dessa forma reduzir os benefícios que Moçambique possa usufruir.

Adicionalmente, a flexbilidade em ter uma fábrica de GNL em funcionamento que se possa

aumentar a escala e adequar-se às possíveis oportunidades de mercado no início da década

de 2020 comporta vantagens significativas para Moçambique

40 De acordo com o PARPA, o Projecto poderá ser utilizado para promover a produtividade

agrícola bem como melhorar o desempenho ao nível do Emprego, Educação e Saúde

44 A utilização óptima das receitas dos recursos – na perspectiva do Standard Bank deverá ser

pesquisado e preferido um FEI em relação a um FRS. As IFDs têm um papel importante neste

ponto

45 A hipótese do rendimento permanente não é assim tão relevante para um país com desafios

de desenvolvimento e requsitos de investimento significativos. As garantias de rendimento

mínimo podem formar parte disto epoderão incluir (no modelo Su-Africano):

Pensões

Benefícios para crianças

Benefícios para pessoas com limitações

43 Desenvolver a capacidade de avaliar e desenvolver projectos de infra-estruturas, bem como

gerir grandes fluxos de recursos – Moçambique deve “investir no investimento”. Amortizar

dívidas (nacionais ou de empresas estatais) reforçará a estabilidade macroeconómica e criará

flexibilidade para assumir mais endividamento quando tal for melhor para o País. A redução

do fardo regulatório está incluída neste aspecto.

44 Amortizar dívidas existentes (nacionais ou de empresas estatais)

71 A VDG cria significativas ligações empresariais downstream por toda a Economia.

Moçambique necessitará de uma IDS para as desenvolver bem como um referencia para

executar os projectos que daí advierem

72 Realizar uma pesquisa de mercado detalhada das possíveis ligações empresariais

downstream que poderão nascer com a VDG e disponibilizar um enquadramento que facilite a

concorrência na utilização do gás para consumo nacional. Tal proporcionará a Moçambique a

opção de ter diferentes actores de mercado envolvidos nas oportunidades

87 Desenvolver o sector nacional da banca através dos fluxos de receitas do Projecto, tendo em

consideração de que não será necessário que a totalidade dos fluxos passe pelo sector

bancário para que esse desenvolvimento ocorra – observando os exemplos do Qatar, Oman e

T&T. Apesar de mais de 65% dos fluxos de caixa líquidos do projecto passarem por

Moçambique, o tamanho não é a única determinante de um sector financeiro forte. Deverão

ser aplicadas reformas para permitir que o sector bancário de Moçambique obtenha o máximo

de benefícios

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93 Utilizar os trains subsequentes como um catalizador de conteúdo local

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8 Recomendações

O Standard Bank está satisfeito por ter analisado e debatido o potencial impacto macroeconómico

do Projecto.

Em termos dos próximos passos, nós recomendamos uma partilha deste Relatório com as partes

interessadas Moçambicanas e depois com a Sociedade Civil.

Nós confiamos que este processo poderá apoiar na aprovação do Regime Especial antes de

Outubro de 2014. Este ponto está no caminho crítico do Projecto e necessita ser ultrapassado de

modo a assegurar que o Projecto possa providenciar os benefícios desejados para todos os

Moçambicanos.

.

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9 Anexos

9.1 Matriz de Contabilidade Social

A Matriz de Contabilidade Social (SAM) é uma base de dados detalhada, que abrange toda a economia e que contém informações sobre o fluxo de recursos que ocorre entre os diferentes agentes económicos que existem dentro de uma economia (ou seja, as empresas, as famílias, governo, etc.) durante um determinado período de tempo, normalmente um ano civil. O desenvolvimento das ideias que sustentam a SAM é em grande parte atribuível a Sir Richard Stone e ao trabalho realizado pelo Cambridge Growth Project na década de 50 e 60. Este grupo começou por integrar contas de produção desagregadas na forma de Tabelas Input-Output para o Sistema de Contas Nacionais (SCN). A SAM é uma apresentação do SCN num formato de matriz que incorpora uma análise das inter-relações que existem entre os diversos agentes económicos na Economia, incluindo a distribuição de receitas e despesas entre os grupos familiares, proporcionando desta forma uma dimensão social às contas nacionais. A SAM é muito semelhante à Tabela de Input-Output tradicional, no sentido em que reflecte todas as ligações intersectoriais que estão presentes numa Economia. No entanto, para além destas ligações intersectoriais, a SAM também reflecte as actividades das famílias, que são a unidade básica em que são tomadas decisões importantes sobre variáveis económicas importantes, tais como despesa e poupança. Ao combinar as famílias em grupos significativos, a SAM torna possível distinguir claramente entre estes grupos familiares e estudar o bem-estar económico de cada grupo familiar separadamente. Os requisitos de dados para todos os modelos económicos podem ser sempre expressos na forma de uma SAM. Se não for possível expressar os dados desta maneira particular o modelo irá ter sempre falhas, tornando impossível a sua aplicação na criação de modelos. É esta característica particular da SAM que a tornou popular como base de dados preferencial para modelos económicos multissectoriais que são usados para avaliar as implicações económicas de mudanças de política (ou choques), que terão por sua vez efeitos não só sobre os agregados macroeconómicos, tais como o PIB, oportunidades de emprego, Balança de Pagamentos, etc., mas também sobre a estrutura da Economia. Como tal, estes modelos deverão ter acesso a informações sobre Produção, Consumo, Mercados de Trabalho; e à distribuição funcional dos rendimentos e da composição da actividade comercial.

9.1.1 A estrutura de uma SAM

Quando os agentes económicos numa economia estão envolvidos em transacções, os recursos financeiros mudam de dono. A SAM fornece uma base de dados completa de todas as transacções que ocorrem entre estes agentes num determinado período, apresentando consequentemente uma “fotografia” da estrutura da Economia nesse período de tempo. Como sistema de organização de informação, a SAM revela ser uma ferramenta poderosa em termos da forma como a Economia pode ser descrita de uma forma completa e consistente:

Completa, no sentido de que fornece uma contabilidade completa de todas as

transacções económicas para a entidade que está a ser representada (ou seja, país,

região/província, cidade, etc.); e

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Consistente, no sentido em que todas as receitas e despesas são equiparadas.

Consequentemente, a SAM poderá fornecer uma estrutura unificadora dentro da qual as

autoridades estatísticas poderão compilar e apresentar as contas nacionais.

9.1.1.1 Os conceitos de fluxo circular e contabilidade de dupla entrada

Os princípios mais básicos subjacentes à SAM são os conceitos de fluxos circulares e contabilidade de dupla entrada.

9.1.1.1.1 Fluxo circular

O conceito de fluxos circulares diz respeito a um determinado ângulo a partir do qual um sistema económico é observado e seguido. Os diversos sectores produtivos (ou seja, as “actividades”) na Economia agem como produtores e vendedores de bens e serviços (ou seja, as “mercadorias”) a instituições como as famílias, as empresas e o governo (os “compradores” das mercadorias). Por sua vez, as famílias, as empresas e o Governo agem como vendedores de serviços de factores às diversas actividades que, em seguida, tornam-se os compradores desses factores (ou seja, trabalho, capital, etc.) Dando a volta completa o fluxo circular envolve traçar os fluxos de bens e serviços (ou seja, os mercados de mercadorias). Dando a volta ao contrário o fluxo circular traça os fluxos de fundos (ou seja, os mercados de factores). As transacções com o resto do mundo poderão ter lugar tanto através de mercados de mercadorias como de factores. A figura na página seguinte apresenta uma representação esquemática destes fluxos. De acordo com esta figura existe um fluxo contínuo de serviços de factores dos mercados de factores para as actividades da Economia, as quais por sua vez fornecem mercadorias (ou seja, produtos/bens e serviços) aos mercados de mercadorias, a partir dos quais as mesmas chegam a todas as instituições na Economia (ou seja, famílias, empresas e Governo). Por sua vez, as instituições oferecem serviços de factores em mercados de factores, onde as actividades actuam como compradores. O mercado de mercadorias fornece bens e serviços a dois tipos de utilizadores. O primeiro tipo de utilizador inclui as instituições, tais como famílias, que utilizam produtos e serviços para efeitos de consumo final (ou seja, bens finais). O segundo tipo de utilizador são outros produtores na economia que usam bens e serviços no seu próprio processo de produção (ou seja, bens intermédios). Além disso, tanto o mercado de factores como o das mercadorias poderão interagir com o resto do mundo.

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Figura 38: Fluxo circular de todas as transacções numa economia

R es t o f th e W o rld

F A C T O R M A R K E T S

(F u n d s , L a b o u r )

A ct iv it ies

(P rod u ct iv e S ecto rs )

C O M M O D I T Y M A R K E T S

(G o o d s & S ervices )

R es t o f th e W o rld

I n s t itu t io n s

(H o u s eh o ld s , E n terp ris es , G o v .)

F acto r S erv ices

F in a l G o o d s

In te rm ed ia te G o o d s

Fonte: McDonald, Punt et al.

9.1.1.1.2 Contabilidade de dupla entrada

A SAM capta o valor monetário das transacções económicas e organiza-as numa série de “contas”. Existem seis grandes tipos de contas que formam a base de uma SAM:

Contas de mercadorias, que captam o valor de produtos/bens e de serviços

comercializados numa Economia

Contas de Actividade, que captam o valor de produtos/bens e de serviços produzidos

numa Economia

Contas de Factor, que captam o valor dos pagamentos feitos aos factores essenciais de

produção (ou seja, trabalho, capital, terra, etc.)

Contas Institucionais, que captam o valor das operações de Empresas Comerciais, das

Famílias e do Governo; e

Contas do Resto do Mundo, que captam o valor das importações e exportações

Estruturalmente, a SAM é uma matriz quadrada, em que cada conta tem tanto uma linha como uma coluna. As entradas das colunas registam as despesas/pagamentos/saídas para cada conta, enquanto que os rendimentos/recibos/entradas para cada conta são contabilizados como entradas das linhas. Como tal, a SAM é uma forma de contabilidade de dupla entrada, onde cada entrada é uma transacção (que tem as dimensões de preço e quantidade), que identifica tanto a sua origem como o destino. Portanto, os gastos totais por cada conta deverão ser exactamente iguais ao total das receitas para cada conta. Como tal, os respectivos totais das linhas e colunas deverão ser iguais. Consequentemente, uma SAM fornece um conjunto completo e consistente de informações sobre um sistema económico de uma forma eficiente e, em última instância, simples. Além disso, a

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mesma irá fornecer essa informação de uma forma que seja consistente com as contas macro/agregadas para o SCN. Adicionalmente, no contexto de toda uma economia, uma SAM conterá não só a informação fornecida pelo SCN, mas também mais detalhes sobre as transacções entre os vários grupos de agentes dentro do sistema.

9.1.1.2 Multiplicadores económicos

Assim que a SAM é desenvolvida torna-se uma ferramenta poderosa que pode ser usada para realizar várias análises macroeconómicas, tais como calcular os multiplicadores sectoriais. O conceito de multiplicador é definido como a natureza e a extensão do impacto/efeito de uma mudança autónoma numa quantidade económica específica sobre outra quantidade ou quantidades económicas. Samuelson (1970) define o conceito de multiplicador da seguinte forma: “O multiplicador é o número pelo qual a mudança de investimento deverá ser multiplicado para nos apresentar a mudança resultante no rendimento”. A fim de tornar o conceito de multiplicador mais geral, os investimentos e os rendimentos poderão ser substituídos, respectivamente, por outras variáveis independentes e dependentes, tais como volume de produção, taxas de juros, a despesa governamental e/ou das famílias, etc.

9.1.1.3 Impactos directos, indirectos e induzidos

Uma modelação macroeconómica sofisticada, utilizando uma SAM como base de dados, destaca o impacto directo que um projecto específico terá no seu próprio contexto sectorial, bem como os impactos indirectos que o projecto terá sobre indústrias a montante que fornecem ao projecto matérias-primas essenciais e outros insumos; além dos impactos induzidos que o projecto terá em toda a economia alargada, que resultam do aumento das despesas das famílias e de outras instituições que beneficiam do rendimento que obtêm a partir do envolvimento directo e indirecto no projecto. Estas ligações são representadas esquematicamente na figura seguinte.

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Figura 39: Representação esquemática dos impactos directos, indirectos e induzidos

9.1.1.3.1 Multiplicadores directos

O multiplicador directo mede o impacto directo que emana de um sector específico sobre si mesmo. Por exemplo, o multiplicador directo irá medir como um aumento na produção de um determinado sector afectará o emprego no mesmo sector. Esses impactos directos estão mais estreitamente relacionados com o sector e, como tal, são provavelmente os impactos mais importantes do ponto de vista do planeamento estratégico.

9.1.1.3.2 Multiplicadores indirectos

Os multiplicadores indirectos reflectem os impactos que um determinado sector terá sobre todas as outras indústrias que fornecem insumos (materiais) às operações que ocorrem no sector. Estas “ligações a montante” são importantes, pois medem o impacto mais alargado que as mudanças no sector directo terão sobre a economia. Frequentemente, estes impactos indirectos são muito significativos e poderão até mesmo ultrapassar os impactos directos.

9.1.1.3.3 Multiplicadores induzidos

Os impactos económicos resultarão do pagamento de vencimentos e salários às pessoas que estão empregadas num determinado sector, bem como os vencimentos e salários pagos pelas empresas que operam nos sectores indirectamente ligados a este sector, por razão do fornecimento de insumos. Estes vencimentos e salários adicionais levam a um aumento da procura de vários bens de consumo, que precisam de ser fornecidos por vários sectores económicos em toda a economia alargada. Claramente, estes impactos induzidos poderão ser consideráveis e são medidos com recurso a multiplicadores induzidos.

Salários e Lucros

Salários e Lucros

Salários e Lucros

Fornecimento de Insumos - Sector 1

Fornecimento de Insumos - Sector 2

Fornecimento de Insumos - Sector n

Sector em Foco

Salários e Lucros

Impacto Induzido

Impacto Indirecto

Impacto Directo

Impacto Induzido

Total Impacto

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9.1.1.4 Indicadores económicos

A modelação macroeconómica calcula o impacto que um evento específico, tal como um projecto de investimento, teria numa variedade de indicadores económicos. Esta secção descreve os indicadores que são medidos mais frequentemente.

9.1.1.4.1 Produto interno bruto

O PIB reflecte a magnitude do valor acrescentado na economia. O valor acrescentado é composto por três elementos, nomeadamente:

Remuneração dos empregados

Excedente bruto de exploração (que inclui, entre outros, lucros e depreciação)

Impostos indirectos líquidos

É portanto possível avaliar também o aumento de vendas por parte de novas empresas através da interpretação dos impostos indirectos líquidos. O mesmo se aplica ao aumento dos vencimentos e salários.

9.1.1.4.2 Formação de capital

Para uma economia operar a um nível específico é necessário um montante de capital social para suportar esse nível de actividade. O capital, em conjunto com o trabalho e o empreendedorismo, formam os factores básicos necessários para a produção na economia. A eficácia e eficiência com que estes factores são combinados influênciam o nível geral de produtividade/rentabilidade do processo de produção.

9.1.1.4.3 Criação de emprego

O trabalho é uma componente-chave do processo de produção. A análise do impacto macroeconómico determina o número de novas oportunidades de emprego que serão criadas com a construção e operação de um projecto específico. Estas oportunidades são divididas entre as que são criadas directamente no sector que está a ser analisado e as que são indirectamente criadas e induzidas na economia no seu todo. As oportunidades de emprego criadas durante a fase de construção serão maioritariamente temporária, enquanto que aquelas que forem criadas durante a fase de operação serão maioritariamente permanentes.

9.1.1.4.4 Impacto fiscal

O Governo é directa ou indirectamente afectado pelas mudanças nas actividades económicas que ocorrem dentro dos vários sectores da economia. Portanto, é importante calcular o impacto que a construção e operação de um determinado projecto terá sobre as contas do Governo (o impacto fiscal). Normalmente, o Governo recebe rendimentos na forma de rendimentos de propriedade, impostos directos (principalmente impostos singulares e colectivos), impostos indirectos (o IVA, que resulta dos gastos adicionais das famílias) e impostos aduaneiros, especiais e sobre transferências. Do lado das despesas existirá um custo para o Governo na prestação de serviços. O efeito líquido entre receitas e despesas é determinado como parte da avaliação do impacto macroeconómico.

9.1.1.4.5 Balança de pagamentos

A construção e operação da infra-estrutura terá impactos directos, indirectos e induzidos sobre a exportação e importação de bens e serviços em todos os diversos sectores económicos que estão interligados com um projecto. As importações são compostas por importações materiais directas e

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indirectas, bem como por bens consumidos pelas famílias que são importados em resultado do impacto induzido, resultante do aumento dos rendimentos familiares.

9.1.1.4.6 Rendimento familiar

Um dos elementos de valor acrescentado adicional (p.e., o PIB) é a remuneração dos empregados, a qual afecta os rendimentos familiares. A avaliação de impacto macroeconómico avalia a magnitude das mudanças que irão ocorrer tanto ao nível dos rendimentos familiares como nos padrões de gastos/poupança, em resultado da construção do projecto. O impacto específico sobre Famílias de Baixos Rendimentos poderá ser isolado, medido e reportado.

9.1.1.4.7 Serviços sociais

Existem também outros impactos sociais significativos que poderão resultar da construção e operação de um projecto, dependendo das prioridades do Governo relativas a gastos sociais. A existência de um projecto iria, por exemplo, levar a que os seguintes aspectos fossem calculados:

Número de educadores adicionais;

Número de camas adicionais em hospitais;

Número de médicos adicionais;

Número de casas de baixo custo adicionais que poderão ser construídas.

9.1.1.4.8 Critérios de eficácia

Além dos impactos macroeconómicos sobre os quais se reflectiu acima, o impacto macroeconómico dos projectos também é avaliado em termos de critérios de “eficácia” (eficiência). Estes critérios medem o grau em que o projecto utiliza recursos de forma eficaz. Dado que o capital é um recurso escasso na África do Sul, a eficácia da utilização do capital em termos de trabalho/emprego e de criação de PIB é medida em relação à economia total Sul-Africana. Ao avaliar a construção e operação de um projecto e as actividades relacionadas, estes critérios de eficiência são os indicadores mais fiáveis no que respeita à possibilidade ou não da expansão representar uma utilização eficaz do capital. A fim de efectuar estas comparações são calculados dois principais multiplicadores/rácios, ou seja,

O rácio PIB/Capital, e

O rácio Trabalho/Capital

Recorrendo a estes rácios poderá ser definida, a contribuição para o crescimento económico e para a criação de emprego em relação ao capital alocado ao projecto. Se o tomador de decisão considerar que o crescimento económico contínuo e a longo prazo é mais importante do que a criação de emprego a curto prazo então o rácio PIB/Capital é o mais importante das duas medidas de eficácia macroeconómica. Por outro lado, se a criação de emprego, particularmente a curto prazo, tiver prioridade, o rácio Trabalho/Capital é mais importante.

9.1.1.5 Aplicação da SAM

O desenvolvimento da SAM é muito significativo, uma vez que fornece uma estrutura dentro do contexto do Sistema Internacional de Contas Nacionais (SCN), em que as actividades de todos os agentes económicos são acentuadas e distinguidas de forma proeminente. Ao combinar estes agentes em grupos significativos a SAM torna possível distinguir claramente entre os grupos,

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pesquisar os efeitos da interacção entre os grupos e medir o bem-estar económico de cada grupo. Há duas razões principais para a compilação de uma SAM:

Em primeiro lugar, a SAM fornece uma estrutura para organizar informações sobre a

estrutura económica e social de uma entidade geográfica específica (ou seja, um país,

região ou província), por um determinado período de tempo (normalmente um ano civil);

e

Em segundo lugar, para proporcionar uma base de dados que possa ser usada por

qualquer uma de entre várias ferramentas de modelação macroeconómica, para avaliar

o impacto de diferentes decisões económicas e/ou programas de desenvolvimento

económico.

A principal contribuição da SAM no campo do planeamento de políticas económicas e da análise de impacto é dividida em duas categorias:

Como principal fonte de informação económica;

Como enquadramento contabilístico nacional e regional detalhado e integrado

consistente com os dados socioeconómicos publicados oficialmente, uma SAM projecta

instantaneamente uma imagem da natureza da economia de um país ou região. Como

tal, presta-se a uma análise tanto descritiva como estrutural;

Como ferramenta de planeamento.

Devido às suas bases matemáticas/estatísticas a mesma poderá ser transformada num modelo macroeconométrico que poderá ser usado para:

Realizar exercícios/construir cenários de previsão económica

Realizar análises de impacto económico, tanto para ajustes de política a nível nacional e

provincial e para a avaliação de grandes projectos;

Realizar análises de auto-suficiência, ou seja, análise de diferenças para determinar,

com a ajuda dos fluxos intersectoriais e de commodities contidos na SAM provincial,

onde existem possíveis oportunidades de investimento, e

Calcular os impactos inflacionários ao nível provincial das variações de preços instigadas

ao nível nacional (ou seja, os preços aplicados, IVA, etc.).

Resumindo, o mecanismo SAM fornece uma estrutura universalmente aceitável dentro da qual o impacto económico de projectos de desenvolvimento e de ajustes de política poderá ser analisado e avaliado, tanto a nível nacional como provincial/regional. Serve como uma extensão das Contas Nacionais oficiais da economia de um país e, portanto, oferece muitas informações adicionais, especialmente quando desagregadas a níveis mais detalhados.

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143

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9.3 Diagramas de Sankey de uma Selecção de Economias GNL

Abaixo encontram-se diagramas de Sankey indicando como os fluxos de energia (especialmente gás) mudaram em Omã, Qatar e Trinidad e Tobago, entre 1996 e 2011, com foco em intervalos de cinco anos. Os números são da AIE e os números indicados estão em petajoules.

Figura 40: Diagrama de Sankey de 2011: Omã

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Figura 41: Diagrama de Sankey de 2006: Omã

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Figura 42: Diagrama de Sankey de 2001: Omã

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Figura 43: Diagrama de Sankey de 1996: Omã

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Figura 44: Diagrama de Sankey de 2011: Qatar

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Figura 45: Diagrama de Sankey de 2006: Qatar

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Figura 46: Diagrama de Sankey de 2001: Qatar

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Figura 47: Diagrama de Sankey de 1996: Qatar

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Figura 48: Diagrama de Sankey de 2011: T&T

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Figura 49: Diagrama de Sankey de 2006: T&T

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Figura 50: Diagrama de Sankey de 2001: T&T

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Figura 51: Diagrama de Sankey de 1996: T&T

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9.4 Detalhes de Contacto

O Standard Bank agradece comentários e feedback sobre este relatório. Os mesmos poderão ser encaminhados para: Paul Eardley-Taylor Director: Petróleo e Gás, África do Sul [email protected] +27 11 721 7829 30 Baker Street Rosebank 2196 Joanesburgo África do Sul