Governança metropolitana

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    Governana Metropolitana no Brasil

    Relatrio de Pesquisa

    Caracterizao e Quadros de Anlise Comparativa daGovernana Metropolitana no Brasil:arranjos institucionais de gesto metropolitana (Componente 1)

    Regio Integrada de DesenvolvimentoEconmico do Distrito Federal (Ride/DF) e Entorno

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    Governana Metropolitana no Brasil

    Relatrio de Pesquisa

    Caracterizao e Quadros de Anlise Comparativada Governana Metropolitana no Brasil:arranjos institucionais de gesto metropolitana (Componente 1)

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    Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos daPresidncia da RepblicaMinistro Marcelo Crtes Neri

    Fundao pbl ica vinculada Secretaria de

    Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica,

    o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s

    aes governamentais possibilitando a formulao

    de inmeras polticas pblicas e programas de

    desenvolvimento brasileiro e disponibiliza,

    para a sociedade, pesquisas e estudos realizados

    por seus tcnicos.

    Presidente

    Sergei Suarez Dillon Soares

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalLuiz Cezar Loureiro de Azeredo

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado,das Instituies e da DemocraciaDaniel Ricardo de Castro Cerqueira

    Diretor de Estudos e PolticasMacroeconmicasCludio Hamilton Matos dos Santos

    Diretor de Estudos e Polticas Regionais,Urbanas e AmbientaisRogrio Boueri Miranda

    Diretora de Estudos e Polticas Setoriaisde Inovao, Regulao e InfraestruturaFernanda De Negri

    Diretor de Estudos e Polticas Sociais, SubstitutoCarlos Henrique Leite Corseuil

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicase Polticas InternacionaisRenato Coelho Baumann das Neves

    Chefe de GabineteBernardo Abreu de Medeiros

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoJoo Cludio Garcia Rodrigues Lima

    Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

    URL: http://www.ipea.gov.br

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    Rio de Janeiro, 2014

    Relatrio de Pesquisa

    Caracterizao e Quadros de Anlise Comparativada Governana Metropolitana no Brasil:arranjos institucionais de gesto metropolitana (Componente 1)

    Governana Metropolitana no Brasil

    Regio Integrada de Desenvolvimento

    Econmico do Distrito Federal (Ride/DF) e Entorno

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    Coordenao Nacional da Rede IpeaMarco Aurlio Costa Ipea

    Coordenao Nacional do ProjetoMarco Aurlio Costa Ipea

    Coordenadora Estadual do ProjetoCrita da Silva Sampaio Tcnica da Codeplan

    Equipe EstadualGiuliana Corra Tcnica da CodeplanFrancisca Paz Tcnica da CodeplanTamile Dias Bolsista Codeplan

    Reviso TcnicaBrbara Oliveira Marguti Ipea

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, noexprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou daSecretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduespara fins comerciais so proibidas.

    Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea2014

    EQUIPE TCNICA

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    SUMRIO

    1 FORMAO E CARACTERIZAO DO TERRITRIO.................................................................................................... 7

    2 ARRANJO INSTITUCIONAL DA GESTO DA RIDE/DF E ENTORNO............................................................................. 13

    3 AVALIAO DA GOVERNANA METROPOLITANA .................................................................................................. 24

    4 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................................................ 31

    REFERNCIAS ........................................................................................................................................................... 32

    APNDICE A.............................................................................................................................................................. 33

    ANEXO A .................................................................................................................................................................. 49

    LISTA DE QUADROS .................................................................................................................................................. 78

    LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................................................... 78

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................................... 78

    LISTA DE GRFICOS .................................................................................................................................................. 78

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    7Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)

    1 FORMAO E CARACTERIZAO DO TERRITRIO

    1.1 Histrico da Regio Integrada de Desenvolvimento do DistritoFederal (Ride/DF) e entorno

    O processo de ocupao do territrio do Planalto Central que configura o recorte espacial daRegio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (Ride/DF) e Entorno, formada por22 municpios, traz no seu bojo elementos identificadores da dinmica atual do Distrito Federale das cidades do seu entorno, sobretudo, pelas caractersticas de formao do territrio. Paramelhor compreenso da evoluo urbana desse espao, faz-se necessrio recorrer a antecedenteshistricos do seu processo de formao, antes e depois da construo de Braslia.

    A penetrao no territrio do Planalto Central teve incio no sculo XVIII com achegada dos bandeirantes, rea at ento ocupada por tribos indgenas. Os bandeirantespretendiam identificar jazidas de minrios, ampliar as reas de pastagens e escravizar osndios nativos da regio (Brasil, 2010). A partir das expedies dos bandeirantes e do

    desenvolvimento da atividade mineradora e das atividades pecurias, a regio Centro-Oestepassa a assumir uma nova dinmica econmica e social. Estes fatores contriburam para aocorrncia de um movimento migratrio na regio, que consolidou importantes rotas aolongo do sculo XVIII utilizadas por bandeirantes e mineradores, atraindo um contingentepopulacional de migrantes e escravos africanos, em torno de ncleos de minerao.

    Com o declinar da atividade mineira, no final do sculo XVIII, houve a migrao deuma parcela da populao da regio, provocando um grande esvaziamento populacional, e amaior parte dos mineiros e escravos que permaneceram no territrio passou a se dedicara pecuria, caa, pesca e agricultura de subsistncia. A economia local entra em decadnciacom o declnio da minerao (Miragaya, 2010).

    A fixao no territrio se deu pelo criatrio de gado nas reas de campos naturais que sedesenvolveu para abastecer as zonas mineradoras, e, durante o sculo XIX, o crescimento dapopulao do Centro-Oeste foi pouco expressivo. Em 1900, a participao desta regio nocontingente populacional nacional era de apenas 2,15% da populao do Brasil, se comparadoao perodo do ciclo da minerao, 120 anos antes, em 1780, de 5% (Miragaya, 2010).

    O Centro-Oeste brasileiro, no final do sculo XIX e incio do sculo XX, permaneciapouco habitado, estando margem dos movimentos migratrios. Neste perodo, era aregio menos povoada do pas, com apenas 373 mil habitantes. No incio da dcada de1940, a populao ainda era bastante reduzida, no obstante o crescimento ocorrido noperodo, considerando-se a enorme extenso do territrio. Nesse ano, a populao era de1,25 milho de habitantes, com uma densidade demogrfica inferior a um habitante porkm. Neste contexto, foram implementadas pelo governo federal vrias iniciativas voltadaspara a ocupao do Centro-Oeste, como o lanamento do programa Marcha para o Oesteproclamado por Getlio Vargas (1940), uma estratgia para a interiorizao do Brasil, e,posteriormente, a deciso da transferncia da capital para a regio, principal vetor para odesenvolvimento e a ocupao do Centro-Oeste (Miragaya, 2010).

    O local do Planalto Central escolhido para a construo do DF seguia a mesma tendnciade ocupao do Centro-Oeste de meados do sculo XIX e incio do sculo XX. A reaera ocupada com latifndios voltados para a produo agrcola de subsistncia e a pecuria

    extensiva. As transformaes estruturais que atingiram a economia brasileira nas dcadas de1940 e 1950, em especial o setor industrial, praticamente no ocorreram no Centro-Oeste,

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    mesmo apresentando um grande crescimento populacional no perodo, devendo-se estecrescimento, quase de maneira exclusiva, expanso da atividade agropecuria. Do incio dosculo XX at 1960, a populao saltou de 370 mil para 3 milhes de habitantes. A economiada regio obteve um grande crescimento, saindo de uma produo de gros de 210 mil para1,46 milho de toneladas, de 1920 a 1960. No mesmo perodo, a criao de gado passou de

    5,85 para 10,75 milhes de cabeas (Miragaya, 2010).Contudo, a regio Centro-Oeste ganhou uma dimenso maior com a transferncia da

    capital do pas para o Planalto Central, estratgia de interiorizao do desenvolvimento eintegrao nacional, com a ampliao da malha rodoviria e do mercado interno de consumoe de produo. A proposta de transferncia da capital para o interior do pas foi registrada naConstituio de 1891, mas, somente no final do sculo XIX, a Misso Cruls, liderada por LusCruls, instituda com o objetivo de escolher a rea a ser ocupada pelo DF, e em meados dosculo XX a proposta foi efetivada, com a transferncia da capital e a construo de Braslia.

    Com a expanso industrial, a dcada de 1950 marcada por um intenso processo deurbanizao no pas. poca da transferncia da capital, o Brasil passava de uma sociedade

    predominantemente rural para urbana. A virada no processo demogrfico ocorrida a partirde 1940, particularmente quanto urbanizao, foi especialmente marcante no Centro-Oeste.A regio saiu de uma posio de menor taxa de urbanizao, da ordem de 20%, para oterceiro lugar em 1960, com 34%, ocupando o segundo posto em 2000, com mais de 83%de sua populao vivendo nas cidades. O processo de ocupao do territrio est inseridono mtodo de urbanizao de Braslia, sendo um dos objetivos da transferncia da capitala maior ocupao demogrfica no interior do pas (op. cit.).

    A formao da rea metropolitana de Braslia se intensificou, a partir do incio dadcada de 1970, com a consolidao da transferncia da capital. A tabela 1 apresenta aevoluo populacional dos municpios que formam a rea metropolitana. A expansodesta rea ocorreu de forma polinucleada e esparsa no territrio do DF (Paviani, 2010),

    perpassando seus limites poltico-administrativos e abrangendo um espao de influnciadireta em municpios do estado de Gois, formando um aglomerado urbano na reametropolitana de Braslia. A configurao espacial do territrio constitui um espaourbano com complexidade metropolitana por suas funes e processos, que extrapolam asfronteiras do quadriltero, assumindo a forma de regio metropolitana (RM).

    TABELA 1rea metropolitana de Braslia: populao (1960-2010)(Em habitantes)

    Anos 1960 1970 1980 1991 2000 2010

    rea metropolitana de Braslia 208.098 625.916 1.357.198 1.980.432 2.753.414 3.484.451

    DF 140.164 537.492 1.176.935 1.601.094 2.051.146 2.570.160

    Periferia metropolitana de Braslia 67.934 88.424 180.263 379.338 702.268 914.291guas Lindas de Gois 1 1 2 2 105.746 159.378

    Alexnia 8.022 9.390 12.124 16.472 20.047 23.814

    Cidade Ocidental 1 1 1 1 40.377 55.915

    Cristalina 8.402 11.600 15.977 24.937 34.116 46.580

    Formosa 21.708 28.874 43.296 62.982 78.651 100.085

    Luzinia 27.444 32.807 80.089 207.674 141.082 174.531

    Novo Gama 1 1 1 1 74.380 95.018

    Padre Bernardo 4.637 8.381 15.857 16.500 21.514 27.671

    Planaltina de Gois 6.123 8.972 16.172 40.201 73.718 81.649

    Santo Antnio do Descoberto 1 1 12.725 35.509 51.897 63.248

    Valparaso de Gois 1 1 1 1 94.856 132.982

    Fonte: Censos Demogrficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e Miragaya (2011, p. 40-43).

    Notas: 1Includo em Luzinia.2Includo em Santo Antnio do Descoberto.

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    9Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)Segundo o estudo Regio de Influncia das Cidades 2007 (REGIC 2007) do IBGE,

    Braslia uma metrpole nacional e ncleo de uma rea metropolitana que abrange o DFe onze municpios goianos: guas Lindas de Gois, Alexnia, Cidade Ocidental, Cristalina,Formosa, Luzinia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina, Santo Antnio do Descoberto,Valparaso de Gois. A influncia que Braslia exerce sobre essa regio apresenta-se de forma

    diferenciada, sendo mais intensa nesses onze municpios que sofrem os efeitos polarizantes dacapital e menos acentuada nos demais municpios que constituem a sua rea de influncia.

    A Constituio Federal (CF), no seu Artigo 25, estabelece competncia aos estadospara a instituio de RMs visando integrar a organizao, o planejamento e a execuo defunes pblicas de interesse comum. A RM de Braslia formalmente no existe,1dadaa complexidade institucional do territrio constitudo por dois estados da Federao.Contudo, para atender a esse objetivo precpuo, a CF dispe sobre a integrao de regiesem desenvolvimento para efeitos administrativos.

    A Ride, instituda pela Lei Complementar (LC) no94/1998, composta por 22municpios no entorno, abrangendo uma rea de 55.402,2 km e, segundo o Censo

    Demogrfico de 2010, uma populao de 3.717.728 habitantes. A rea da Ride compreende,alm do DF, 22 municpios, dos quais dezenove esto situados no estado de Gois e trs noestado de Minas Gerais. Os municpios goianos so Abadinia, gua Fria de Gois, guasLindas de Gois, Alexnia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Gois, Corumbde Gois, Cristalina, Formosa, Luzinia, Mimoso de Gois, Novo Gama, Padre Bernardo,Pirenpolis, Planaltina, Santo Antnio do Descoberto, Valparaso de Gois e Vila Boa, e osmunicpios mineiros so Buritis, Cabeceira Grande e Una includos na rea da Ride.

    1.2 Legislao de referncia

    O federalismo, segundo Srgio Prado (2007), um arranjo poltico-institucional que

    visa existncia de uma nao com autonomia e individualidade poltica das diversasregies que a compem. A resultante dessas autonomias uma grande complexidadeadministrativa e organizacional que implica necessariamente incentivo a mecanismos decooperao intergovernamentais.

    Desse modo, a CF preconiza que as esferas de poder e as esferas governamentaisobedeam a princpios de harmonia, solidariedade e cooperao. Isso pretende dar carterfluido elaborao de polticas pblicas que respeitem as competncias interfederativas.Para tanto, prevista na Carta uma infinidade de mecanismos de ao conjunta entre asinstncias de governo, nas quais os entes federados guardam suas autonomias decisriase capacidade de financiamento prprias, sendo essas as caractersticas de um federalismo

    cooperativo e da igualdade formal entre os entes federados.

    A LC no94/1998 criou, embasada na CF, os Artigos 21, 43 e 48, a Ride/DF e Entorno.Esta Ride constitui-se em uma regio administrativa composta por trs estados (DF, Gois eMinas Gerais) e 22 municpios, para realizar o planejamento conjunto de servios pblicoscomuns a esses entes, em especial em infraestrutura e gerao de empregos (figura 1). A leiautoriza ainda a criao de um Programa Especial de Desenvolvimento do Entorno do DistritoFederal para tratar, mediante convnio e guardadas as competncias constitucionais de cadaente, normas e critrios para a unificao de procedimentos relativos aos servios pblicos.

    1. H no Senado uma Proposta de Emenda Constituio (PEC) no27/2008 que visa ao acrscimo do inciso XXVI ao Artigo 21 daCF para inserir entre as competncias da Unio a de instituir, por meio de LC, RMs, aglomeraes urbanas e microrregies constitudaspor municpios limtrofes situados em estados distintos ou pelo DF, para integrar a organizao, o planejamento e a execuo de funespblicas de interesse comum.

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    10 Relatrio de PesquisaFIGURA 1Configurao territorial da Ride/DF e entorno

    Fonte: Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).Obs.: imagem reproduzida em baixa resoluo em virtude das condies tcnicas dos originais disponibilizados pelos autores para publicao (nota

    do Editorial).

    O processo de regulamentao da LC no94/1998 iniciou-se com a edio do Decreto

    n

    o

    2.710/1998, que propunha uma ao administrativa articulada entre os estados e a Uniona rea dos 22 municpios e do DF. A forma de gesto administrativa desses servios seriaefetuada por meio do Conselho Administrativo da Regio Integrada de Desenvolvimento doDistrito Federal e Entorno (Coaride), criado no mbito da Cmara de Polticas Regionaisdo Conselho de Governo da Presidncia da Repblica.

    As atribuies do Coaride, conforme constantes no Artigo 3odesse decreto, posicionamesse conselho como rgo responsvel pela articulao da cooperao entre os entesfederados por meio de uma operao transversal entre diversos setoriais. Da ter sido criadoefetivamente no seio do Conselho de Governo da Presidncia da Repblica, justamentepara que possusse a chancela poltica para executar tal grau de gesto e harmonizao da

    atuao territorial das funes pblicas previstas na lei. Anteviam-se, entre as competnciasconferidas ao Coaride, a coordenao de aes para a reduo das desigualdades, a aprovaoe superviso de planos, os programas e projetos de desenvolvimento integrado da Ride, aprogramao da integrao de servios e harmonizao entre os planos da Ride com osplanos regionais de desenvolvimento, alm da compatibilizao das aes da Ride com asdemais aes executadas em desenvolvimento regional.

    A composio do Coaride refora seu carter multidisciplinar e transversal, ao trazerpara seus membros o secretrio-executivo da Cmara de Polticas Regionais do Conselhode Governo, que o presidiria, representantes dos Ministrios do Planejamento, Oramentoe Gesto (MPOG) e da Fazenda (MF), alm de dois representantes indicados pela Cmara

    de Polticas Regionais do Conselho de Governo da Presidncia da Repblica. Por partedos demais representantes da Federao, haveria um representante de cada estado e um

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    11Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)representante dos prefeitos dos municpios integrantes da Ride. Esses representantes teriammandato de dois anos, permitida a reconduo.

    A tomada de deciso prevista pelo Decreto no2.710/1998 na gesto dos processosseria realizada pela maioria simples, cabendo ao presidente o voto de desempate. Alm disso,

    o Decreto n

    o

    2.710/1998 instituiu, para o atendimento dessa necessidade de articulaointerfederativa, o Programa Especial de Desenvolvimento do Entorno do Distrito Federal.A elaborao deste programa ficaria a cargo da ento Secretaria Especial de PolticasRegionais (Sepre), do MPOG, e versaria sobre incentivos fiscais para a gerao de empregoe renda; tarifas, fretes e seguro; e linhas de crdito especiais. Esse arcabouo de incentivoseconmicos ficaria responsvel pela atrao de investimentos do setor produtivo no entorno,de modo a criar oportunidades de emprego e crescimento para os municpios limtrofes aoDF. Ademais, ficaria responsvel por criar uma poltica de harmonizao de tarifas e fretes,que propiciaria o aprofundamento de fluxos econmicos entre o entorno e o DF.

    Cabia ainda ento Sepre/MPOG a articulao entre os rgos da administrao pblica

    federal para a obteno de recursos necessrios aos programas e projetos prioritrios para a Ride.Nota-se que a Ride no foi, em momento algum, pelo seu primeiro decreto regulamentador,dotada de oramento prprio, cabendo secretaria a elaborao de um plano definidor de metase priorizao para alcanar, aps o momento de sua elaborao, as contribuies de recursosfederais (majoritariamente) a serem utilizados na implementao das medidas.

    Em maio de 2000, pelo Decreto no3.680, a Sepre foi transformada no Ministrioda Integrao Nacional (MI), que visa trabalhar, de forma mais efetiva, a diminuiodas desigualdades regionais por meio de polticas pblicas com um carter de poltica deEstado, envolvendo a concepo de um planejamento de longo prazo, tal qual o pretendidopela Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).

    O Decreto no2.710/1998 foi alterado pelo Decreto no3.445/2000, e a atribuio dacoordenao da Ride, que antes era do secretrio-executivo da Cmara de Polticas Regionaisdo Conselho de Governo, foi transferida para o ministro de Estado da Integrao Nacional,inclusive com a transferncia do Coaride para este ministrio. Assim a composio doCoaride foi alterada para a presidncia do ministro de Estado da Integrao Nacional, queindicaria dois representantes, pelo MPOG, pelo MF, por um representante da Casa Civilda Presidncia da Repblica, por um representante do DF, um do estado de Gois e um doestado de Minas Gerais, indicados pelos respectivos governadores; e um representante dosmunicpios que integram a Ride, indicado pelos respectivos prefeitos.

    Muito embora as superintendncias do Norte e do Nordeste tenham sido recriadas soba roupagem de agncias de desenvolvimento, a Superintendncia de Desenvolvimento doCentro-Oeste (Sudeco) no foi retomada nesse perodo. Foi criada, na estrutura do prprioministrio, a Secretaria do Centro-Oeste (SCO) que, sob uma estrutura diminuta, exerciaresponsabilidade por programas e aes e pelo fundo constitucional nessa macrorregio,atuando sob as diretrizes da PNDR. A SCO ficou responsvel tambm pela elaborao egesto do Plano Estratgico de Desenvolvimento do Centro-Oeste e pela gesto da Ride/DFe Entorno (Brasil, 2006).

    O Decreto no3.445/2000 acresceu ainda nas funes pblicas comuns a questo dasegurana pblica, que comeava a despontar na rea da Ride como um de seus problemas

    mais crticos, sem haver acrscimo de um rgo do setor para a atuao no Coaride.

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    12 Relatrio de Pesquisa

    Em 2003, o Decreto no4.700 modificou a composio do Coaride e acresceu oMinistrio das Cidades (MCid) no rol de conselheiros. Este ministrio, poca criadopela Medida Provisria (MP) no103, depois convertida na Lei no10.683, tem sob suacompetncia polticas setoriais de habitao, saneamento ambiental, transporte urbanoe trnsito, bem como toda a articulao e formulao de diretrizes gerais envolvendo

    sociedade civil e esferas governamentais nas referidas reas setoriais.O processo de recriao da Sudeco iniciou-se em 2009 com a sano da LC no129,

    regulamentada pelo Decreto no7.471, de 4 de maio de 2011. Assim, o governo federalrecriou a Sudeco, extinguindo a SCO da estrutura do MI. A Ride passou a ser regulamentadapor um novo marco legal, o Decreto no7.469/2011, vigente at o presente.

    Este decreto vinculou o Coaride Sudeco, muito embora a presidncia doCoaride tenha sido mantida pelo ministro da Integrao Nacional. A composio atualdo Coaride, portanto, tem presidncia da Integrao Nacional o diretor-superintendenteda Sudeco; um representante do MPOG, do MF e do MCid; um representante da Casa

    Civil da Presidncia da Repblica; dois representantes do MI; um representante da Sudeco,um representante do DF, um do estado de Gois e um do estado de Minas Gerais e umrepresentante dos municpios que integram a Ride, indicado pelos respectivos prefeitos.

    Alm disso, o decreto ainda aponta como Secretaria-Executiva do Coaride a Diretoriade Implementao de Programas e de Gesto de Fundos da Sudeco.

    1.3 Funes pblicas de interesse comum

    Segundo o Decreto no7.469/2011, Artigo 3o, compete ao Coaride (figura 2):

    Pargrafo nico. Consideram-se de interesse da Ride os servios pblicos comuns ao Distrito

    Federal, aos Estados de Gois e de Minas Gerais e aos Municpios que a integram, relacionadoscom as seguintes reas:

    I - infraestrutura;

    II - gerao de empregos e capacitao profissional;

    III - saneamento bsico, em especial o abastecimento de gua, a coleta e o tratamento de esgoto eo servio de limpeza pblica;

    IV - uso, parcelamento e ocupao do solo;

    V - transportes e sistema virio;

    VI - proteo ao meio ambiente e controle da poluio ambiental;

    VII - aproveitamento de recursos hdricos e minerais;

    VIII - sade e assistncia social;

    IX - educao e cultura;

    X - produo agropecuria e abastecimento alimentar;

    XI - habitao popular;

    XII - servios de telecomunicao;

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    13Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)XIII - turismo; e

    XIV - segurana pblica.

    FIGURA 2Funes pblicas de interesse comum constantes no Decreto no7.469/2011: competncias do Coaride

    Infraestrutura

    Gerao deempregos ecapacitao

    Saneamentobsico

    Uso, parcelamentoe ocupao do solo

    Transportes esistemavirio

    Proteo aomeio

    ambiente

    Aproveitamentode recursoshdricos emineraisSade e

    assistnciasocial

    Educao ecultura

    Produoagropecuria

    Habitaopopular

    Servios detelecomunicaes

    Turismo

    Seguranapblica

    Fonte: Decreto no7.469/2011.Elaborao dos autores.

    2 ARRANJO INSTITUCIONAL DA GESTO DA RIDE/DF E ENTORNO

    2.1 Institucionalizao de gesto da regio integrada

    De acordo com o Decreto no7.469/2011, as aes da Ride/DF e Entorno so coordenadaspelo seu conselho de administrao, o Coaride. Trata-se de um rgo colegiado, formadopor treze membros assim distribudos (figura 3):

    ministro de Estado da Integrao Nacional, que o presidir;

    diretor-superintendente da Sudeco;

    um representante do MPOG, do MF e do MCid;

    um representante da Casa Civil da Presidncia da Repblica, indicado por seu titular;

    dois representantes do MI, indicados por seu titular;

    um representante da Sudeco, indicado por seu titular;

    um representante do DF, um do estado de Gois e um do estado de Minas Gerais,indicados pelos respectivos governadores; e

    um representante dos municpios que integram a Ride, indicado pelosrespectivos prefeitos.

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    14 Relatrio de PesquisaFIGURA 3Composio do Coaride

    COARIDE

    Ministro daIntegrao Nacional

    (Presidente)

    Diretor deImplementao de

    Programas e deGesto de Fundos

    (SUDECO)

    SecretariaExecutiva

    Membros

    Esfera Federal

    SUDECO (1)

    Casa Civil (PR) (1)

    Ministrio dasCidades (1)

    Ministrio doPlanejamento (1)

    Ministrio daFazenda (1)

    Ministrio daIntegrao Nacional

    (2)

    DiretorSuperintendente

    da SUDECO

    Esfera Estadual Esfera Municipal

    Municpios da Ride(1) Presidente da

    AMAB

    GDF (1)

    Governo de GO (1)

    Governo de MG (1)

    Fonte: Decreto no7.469/2011.Elaborao dos autores.Notas: 1(1) e (2) quantidade de membros.

    2Governo do Distrito Federal.3Associao dos Municpios Adjacentes a Braslia.

    Alm disso, o Coaride possui uma Secretaria-Executiva, exercida pela Diretoria deImplementao de Programas e de Gesto de Fundos da Sudeco.

    As representaes municipais e estaduais tm mandato de dois anos, podendo serreconduzidos. No h prazo para a renovao de mandato da representao federal no conselho.

    As decises so tomadas por maioria simples de seus membros, cabendo ao seupresidente o voto de qualidade. So, portanto, nove membros do governo federal, trs dosgovernos estaduais e apenas uma representao municipal. Nota-se grande prevalncia daesfera federal na composio do conselho, justificada pelo prprio carter interfederativoda Ride, agregando Unidades da Federao (UFs) que podem possuir interessesadministrativos divergentes nesse territrio, cabendo Unio o papel de harmonizaodas polticas conflitivas levadas a esse conselho. Esse mecanismo possibilita, inclusive, quea tomada de deciso sobre as aes a serem desenvolvidas na regio possa ser realizadasem o consentimento dos governos estaduais e da representao municipal, o que teriasrias implicaes quanto ao nvel de concertao pretendido pelo prprio decreto, quandodistribui igual peso individual aos votos de seus membros.

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    15Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)Muito embora esse mecanismo sirva para amenizar eventuais conflitos de interesse

    entre os estados, e entre eles e a representao municipal, h uma grande dependncia daesfera federal para a conduo das aes na Ride. Assim, caso no haja priorizao polticadesse espao por parte dos ministrios que compem o conselho e pelo governo federal,no h estmulo para a utilizao do frum por parte dos seus demais membros, cabendo

    a eles solucionar, em sistema bilateral, os problemas que enfrentam em suas funespblicas comuns.

    Esse aspecto ressaltado pelos Artigos 8oa 10 do Decreto no7.469/2011, que apontam anecessidade da formulao de um programa especial de desenvolvimento do entorno do DF,que, atendidos os rgos competentes, estabeleceria, mediante convnio, normas e critriospara a unificao de procedimentos relativos aos servios pblicos de responsabilidade distrital,estadual e municipal de entes que integram a Ride. Este programa teve sua primeira versoelaborada em 2002, visando instrumentalizar os governos federal, estaduais e municipaisna resoluo de contradies existentes. Agora, a cargo da secretaria-executiva do Coaride,ele est sendo reformulado, com a autorizao da Resoluo do Coaride no 03/2011,

    que permite a criao de um grupo temtico (GT) para discuti-lo. Essa lacuna entre aelaborao e a implementao, e agora na reformulao do programa, refora o desestmulodas demais UFs na utilizao desse espao para o dilogo no planejamento e gesto desuas funes pblicas e a busca, em outros fruns setoriais, de um espao para realizar osmesmos debates, mas de maneira fragmentria.

    A viso de unidade territorial que o planejamento integrado desse espao poderiafornecer, portanto, prejudicada. O debate a respeito de diretrizes de atuao encontra-sedisperso entre vrios rgos setoriais dos diversos nveis de governo, que muitas vezesdesconsideram decises de outros rgos na formulao de suas polticas pblicas, criandoreas de sombreamento e de divergncias.

    As competncias do Coaride, segundo o Artigo 3odo decreto, so:

    I - coordenar as aes dos entes federados que compem a RIDE, visando ao desenvolvimento e reduo das desigualdades regionais;

    II - aprovar e supervisionar planos, programas e projetos para o desenvolvimento integrado daRIDE (...);

    III - programar a integrao e a unificao dos servios pblicos de interesse comum (...);

    IV - indicar providncias para compatibilizar as aes desenvolvidas na RIDE com as demais aese instituies de desenvolvimento regional;

    V - harmonizar os programas e projetos de interesse da RIDE com os planos regionais dedesenvolvimento;

    VI - coordenar a execuo de programas e projetos de interesse da RIDE; e

    VII - aprovar seu regimento interno.

    Cabe ainda, segundo o Regimento Interno do Coaride, a criao e o estabelecimentode GTs, bem como de suas regras de funcionamento. Os GTs podem ser constitudos porconselheiros titulares e/ou suplentes e/ou, ainda, representantes de ministrios e organismosda administrao pblica federal, estadual, do DF e dos municpios da Ride e entidades

    privadas, os quais tero direito de voz e voto nos respectivos grupos.

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    16 Relatrio de Pesquisa

    Em sesso da 16a Reunio Ordinria realizada em 20 de dezembro de 2011, emBraslia (DF), o colegiado resolveu aprovar, com fulcro no Artigo 4odo regimento interno,a criao de grupos de trabalho para discutir e propor encaminhamentos sobre assuntos deinteresse da Ride/DF e Entorno:

    mobilidade urbana e semiurbana;

    oramento e incentivos fiscais e creditcios;

    segurana pblica;

    incluso social e produtiva;

    saneamento bsico;

    Copa do Mundo de Futebol de 2014; e

    Programa Especial de Desenvolvimento Integrado do Entorno do Distrito Federal.

    J se encontram instalados os GTs para mobilidade urbana e semiurbana; oramentoe incentivos fiscais e creditcios; saneamento bsico e Copa do Mundo de Futebol de 2014.

    O funcionamento do Coaride, segundo seu regimento interno, efetuado porreunies ordinrias, realizadas a cada trs meses, em datas fixadas previamente emcalendrio aprovado por seus membros, com convocao expedida pela secretaria-executivaacompanhada da devida pauta. H possibilidade de reunio extraordinria, convocada pelopresidente do conselho, por sua iniciativa ou por solicitao de um tero, pelo menos, deseus membros ou, ainda, no prazo de trinta dias decorridos da reunio em que tenha sidodado conhecimento de qualquer matria. As extraordinrias devero ainda ser convocadaspor meio de ofcio-circular, emitido pela secretaria-executiva, com antecedncia mnimade cinco dias teis.

    As reunies do conselho sero pblicas, realizadas com a presena de, no mnimo,metade de seus membros, entre eles o presidente. As matrias a serem submetidas aoconselho, segundo o Artigo 8odo regimento interno, por qualquer conselheiro, devem serencaminhadas com antecedncia de quinze dias teis secretaria-executiva do Coaride, quepropor ao presidente a sua incluso na pauta de reunio ordinria conforme a cronologiado seu recebimento, podendo constituir-se de propostas de resoluo ou moo que devamser deliberadas pelo colegiado. Pode ainda haver convite a pessoas dotadas de conhecimentostcnicos especializados ou representantes de rgos pblicos afeitos temtica em discussopara a exposio e participao na reunio.

    As matrias submetidas apreciao do conselho sero previamente analisadas pelasecretaria-executiva, que emitir parecer em cada caso.

    da competncia do presidente do conselho, ou de quem for indicado para substitu-lo,em suas ausncias, dirigir os trabalhos da reunio, resolver as questes de ordem; sancionarresolues; adotar medidas ad referendum do conselho, em casos de manifesta urgncia erelevncia. Essas medidas devero ser imediatamente comunicadas a todos os conselheiros,mediante ofcio-circular, discutidas e votadas na reunio do conselho subsequente.

    Alm das atribuies j citadas, so competncias da secretaria-executiva do Coaride aredao de correspondncia do conselho; a coordenao das aes dos comits setoriais, decarter temporrio ou no, institudas pelo Coaride e a apresentao ao referido conselho

    de suas propostas; criao e atualizao do centro de informao e documentao da Ride;

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    17Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)ordenamento e manuteno de toda a documentao relacionada com as discusses e comas resolues do Coaride; organizao do arquivo das decises e dos anais das reunies doCoaride; elaborao proposta de alterao do regimento interno do Coaride e do ProgramaEspecial de Desenvolvimento Integrado do Entorno do Distrito Federal, ouvidos os rgoscom representao no Coaride.

    A veiculao das decises do Coaride ser feita por meio de resolues de seupresidente, publicadas no Dirio oficial da Unio(DOU). A implementao dessas decises de responsabilidade do presidente.

    O conselho ainda conta com assessoria jurdica, que ser exercida pela ProcuradoriaFederal junto Sudeco, cujas atribuies, sem prejuzo daquelas declaradas em lei, so assessoraro colegiado em assuntos jurdicos, examinar a legalidade das minutas de atos normativospropostas no mbito do Coaride, representar o conselho sobre providncias de natureza

    jurdica que devam ser adotadas em atendimento ao interesse pblico e s normas vigentes.

    2.2 Instrumentos de planejamento e gesto da regio integradaA gesto da Ride/DF e Entorno por meio de instrumentos de planejamento foi, conformej relatado, prejudicada pelo longo perodo de inoperncia de sua principal instncia dearticulao o Coaride. Aps sua reativao em 2011 com a criao da Sudeco, algumasiniciativas vm sendo desenhadas a fim de que possam se tornar subsdios para umplanejamento integrado. A inteno que estas iniciativas sejam discutidas e deliberadasentre os membros do conselho que, representando seus respectivos rgos e entes federados,daro legitimidade ao planejamento a ser implementado.

    Essas iniciativas caminham no sentido de fortalecer aspectos de infraestrutura dos

    municpios integrantes da Ride/DF e entorno para o efetivo desenvolvimento da regio.O que justifica o enfoque no tema so as polticas do governo federal mobilizadas parao desenvolvimento territorial a partir da lgica de gerao de infraestrutura desenhadapelo Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), j em sua segunda verso PAC 2.Em consonncia com este alinhamento, tramita no Congresso Nacional a MP no581, de 20de setembro de 2012, que trata da criao do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste(FDCO). O FDCO tem o propsito de permitir que a Unio conceda subveno econmicas instituies financeiras oficiais federais de projetos de investimentos submetidos aprovaoda Sudeco para o Centro-Oeste.

    No mbito da Ride/DF e Entorno, o FDCO motivou a consolidao do Acordo de

    Cooperao Tcnica (ACT) celebrado entre os seguintes atores: Unio, DF e estado de Gois,Agncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestruturade Transportes (DNIT) e a Sudeco. Este ACT, publicado no DOU de 21 de dezembro de2011, tem como objetivo firmar o interesse conjunto na elaborao de estudos tcnicos,econmicos e ambientais necessrios para a outorga da explorao do servio pblico detransporte regular de passageiros no trecho ferrovirio Braslia/DF a Luzinia/GO. Pormeio do ACT, ficou institudo o Comit Tcnico da Ferrovia Braslia-Luzinia que, soba coordenao da Sudeco, faz a gesto das aes previstas no acordo.

    Como primeira ao do ACT Ferrovia Braslia-Luzinia, foi publicada no DOU de17 de setembro de 2012 a Manifestao de Interesse para a seleo de consultores dentro

    do contrato do Banco Mundial com a ANTT Banco Internacional para Reconstruoe Desenvolvimento (BIRD) no7.383-BR. Esta consultoria visa desenvolver um estudo

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    de viabilidade para a implantao de uma nova infraestrutura ferroviria entre Braslia,Anpolis e Goinia.

    O estudo compreende o diagnstico da situao atual do transporte entre as duas cidadese a integrao com o corredor ferrovirio Norte-Sul (fluxos de trfego, condio de transporte

    por modal etc.); o estabelecimento de cenrios de evoluo da demanda diante da oferta atuale prevista de transporte; estudos preliminares tcnicos e econmicos, bem como estudos deimpactos socioambientais da nova ligao ferroviria; estudo financeiro, operacional, jurdico,institucional e normativo visando estabelecer a viabilidade da outorga da explorao do serviopblico de transporte ferrovirio regular de passageiros e de cargas.

    No mesmo contexto relacionado temtica infraestrutura, em especial funo pblicade interesse comum de transporte, foi firmado protocolo de inteno entre a Unio, o DF,o estado de Gois, a ANTT, o DNIT e a Valec Engenharia Construes e Ferrovias S/Ano DOU de 3 de julho de 2012. Este protocolo tem como objetivo o interesse conjuntona elaborao de Estudos de Viabilidade Tcnica, Econmica e Socioambiental (EVTEA)

    necessrios outorga de explorao do servio pblico de transporte ferrovirio regular depassageiros e de carga no trecho Braslia/DF, Anpolis e Goinia/GO.

    Muito embora essas duas iniciativas referentes malha ferroviria de ligao entre importanteseixos de Gois com o DF, notadamente com relao ao fluxo de pessoas, sejam de alta relevnciapara a gesto do territrio da Ride/DF e Entorno, ainda no possvel identificar como estas aespodero ser incorporadas a um planejamento que amplie a atuao do Coaride junto a outrasinstncias de gesto. Esta premissa essencial para se pensar em um cenrio de governana, emarranjos institucionais e em instncias mais ampliadas de gesto com maior participao social.

    2.3 Oramento e financiamento

    2.3.1 Insero da gesto da regio integrada na legislao oramentria

    A ausncia de atuao da antiga formao do Coaride, e sua recente recriao com novoorganograma e subordinao Sudeco, permitiu uma grande lacuna de criao de legislaooramentria objetiva para aes e projetos na Ride/DF e Entorno. Isso demonstra adificuldade de articulao institucional e intergovernamental de uma instncia de gestocomo esta, na qual as legislaes oramentrias do estado de Gois e do DF no retratamesforos de interao para o incentivo de um planejamento integrado.

    O olhar do DF sobre os municpios goianos dentro da legislao oramentria setorial

    e atende a demandas pontuais em acordos bilaterais entre uma secretaria de estado do DF e aprefeitura. No um olhar para a regio e no uma poltica de integrao com amlgamasbaseadas nas funes pblicas de interesse comum. Acerca desta afirmao, foi feita umaconsulta aos rgos do GDF por meio de ofcio que resultou em grande nmero de aessetoriais evidenciadas no apndice A deste texto. O resultado desta consulta demonstra umconsidervel grau de planejamento das instituies do GDF com a perspectiva do territrioda Ride. Das respostas obtidas, o quadro 1 apresenta as instituies que revelaram existirplanejamento e/ou aes bilaterais com os municpios da rea metropolitana de Braslia oucom a prpria Ride/DF e Entorno.

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    19Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)QUADRO 1Aes de planejamento de instituies do GDF que incluem a Ride/DF e Entorno

    Instituies do GDF Observaes

    Agncia Reguladora de guas,Energia e Saneamento Bsico doDF (Adasa)

    Lei expressa previso de aes integradas na Ride por meio de consrcios e convnios. ACT Internacionalcom a Organizao das N aes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco) e o Programa BrasliaSustentvel do suporte a acordos bilaterais com os municpios para o fortalecimento das polticas de recursoshdricos e saneamento bsico.

    Banco Regional de Braslia (BRB) Crdito e financiamento para toda a Ride.

    Fundao de Ensino e Pesquisa emCincias da Sade (FEPECS)

    Planejamento na capacitao de trezentos profissionais de sade com base em convnios com o Ministrio daSade (MS) e com o Ministrio da Justia (MJ) a partir da criao do Centro Regional de Referncia em parceriacom a SES/DF, com a finalidade de formao de profissionais de sade na ateno integral a sade e assistnciasocial com usurios de cracke outras drogas e seus familiares no DF e entorno.

    Empresa de Assistncia Tcnica eExtenso Rural do DF(Emater/DF)

    Apoio tcnico na regio integrada por meio de assessoria Cooperativa Agropecuria da Regio do DF(Coopa/DF).

    Secretaria de Agricultura(Seagri/DF)

    Ainda no h convnios firmados, mas o planejamento da secretaria prev aes em parceria com municpios daRide, por exemplo, disponibilizao de maquinrios, distribuio de insumos para agricultura familiar, assistnciatcnica e disponibilizao de espao para a comercializao na Central de abastecimento S/A (Ceasa)/DF.

    Secretaria de Sade(SES/DF)

    Existncia do Colegiado de Gesto da Sade na Ride/DF, instncia de pactuao entre os trs estados decarter informal, que tem uma atuao discreta e ausncia de reunies regulares. H previso de aes dedesenvolvimento de redes de ateno sade no Plano Plurianual (PPA) ancoradas no Projeto Qualisus Redes, do

    MS, financiado com recursos do Banco Mundial, em que a Ride/DF foi uma das treze regies escolhidas.Secretaria de Transportes(STDF)

    Atuao de gesto integrada prevista em lei, mas nenhuma ao ou planejamento foi relatado pela secretaria.

    Secretaria de Obras(SO/GDF)

    Programa pr-saneamento: implantao do sistema de esgotamento sanitrio de guas Lindas de Gois eadjacncias. Programa pr-saneamento: implantao do sistema de abastecimento de gua de guas Lindasde Gois e adjacncias. Implantao do sistema de produo de gua do rio Corumb municpios de CidadeOcidental, Luzinia, Novo Gama em Gois e Santa Maria e Gama no DF. Programa saneamento para todos:implantao do sistema de produo de gua do rio Corumb municpios de Cidade Ocidental, Luzinia, NovoGama em Gois e Santa Maria e Gama no DF. Os recursos so do PAC em saneamento e so executados efiscalizados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB).

    Secretaria de Turismo(Setur/DF)

    Previso em lei da incluso da Ride/DF na poltica de turismo do DF. Aes especficas para a Ride/DF noplanejamento estratgico da secretaria visando regionalizao do turismo e criao de roteiros tursticosintegrados. At o momento, ausncia de convnios ou acordos de cooperao.

    Secretaria de Desenvolvimento

    Social(SEDEST/DF)

    A Ride/DF tem viso estratgica da secretaria, como foco de ateno para o seu planejamento das polticassociais voltadas para o DF e entorno. As aes se concentram em realizar reunies regulares do Centro de

    Referncia da Assistncia Social (Cras) e do Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social (Creas) comas unidades de sade dos municpios e a insero da gesto integrada da Ride/DF na legislao concernente spolticas sociais.

    Secretaria de Planejamento eDesenvolvimento Econmico(Seplan/DF)

    O planejamento estratgico da secretaria prev dois macrodesafios estruturantes para a postura do GDF dianteda gesto da Ride/DF:i)assumir protagonismo no conselho de desenvolvimento da Ride; eii)propugnar pelaelaborao do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentvel (PDRS) para a regio.

    Secretaria de Segurana Pblica(SSP/DF)

    Atua na Ride por meio de ACT. Atualmente, o acordo encontra-se em fase de renovao no MJ. Neste intervalo,exerccio de parceria informal com o governo de GO.

    Departamento de Estradas eRodagens(DER/DF)

    Existe previso em lei de possibilidade de celebrao de convnios e acordos de cooperao para a realizao deprojetos de construo de rodovias pelo DER/DF para a interligao com o entorno. No entanto, no tem havidopreviso oramentria para a execuo destas aes, mesmo que solicitadas para serem includas no oramento.

    Elaborao dos autores.

    Na esfera federal foram analisados os PPAs 2008-2011 e 2012-2015. A pesquisa foi

    feita pela procura de aes setoriais que entendessem a Ride como rea de planejamentoe aplicao de recursos daquela temtica. No perodo 2008-2011, foram identificadosplanejamentos e aes setoriais na Ride/DF e Entorno por parte exclusivamente do MI edo MCid (tabela 2).

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    20 Relatrio de PesquisaTABELA 2A Ride/DF e Entorno no PPA (2008-2011)

    Programa Aes rgo executor Recursos (estimativa)1

    Desenvolvimentomacrorregionalsustentvel

    Promoo de investimentos em infraestrutura econmica na Ride/DF eEntorno.

    MIIncio: janeiro de 2008Trmino: dezembro de 2011Valor total estimado:

    R$ 120.000.000

    2008: R$ 02009: R$ 02010: R$ 0

    2011: R$ 0

    Servios urbanosde gua e esgoto

    Apoio a sistemas de abastecimento de gua em municpios de RMs,de Rides, municpios com mais de 50 mil habitantes, ou integrantes deconsrcios pblicos com mais de 150 mil habitantes. Ao do PAC.

    MCidIncio: janeiro de 2008Trmino: dezembro de 2011Valor total estimado:R$ 1.271.314.444

    Centro-Oeste:2008: R$ 55.101.4522009: R$ 64.056.6392010: R$ 70.670.6832011: R$ 35.990.339

    Servios urbanosde gua e esgoto

    Apoio a sistemas de esgotamento sanitrio em municpios de RMs, deRides, municpios com mais de 50 mil habitantes, ou integrantes deconsrcios pblicos com mais de 150 mil habitantes. Ao do PAC.

    MCidIncio: dezembro de 2007Trmino: novembro de 2011Valor total estimado:R$ 2.417.774.040

    Centro-Oeste:2008: R$ 90.327.6752009: R$ 113.792.9392010: R$ 17.755.4352011: R$ 94.740.198

    Urbanizao,regularizaofundiria eintegrao deassentamentosprecrios

    Apoio a empreendimentos de saneamento integrado em assentamentosprecrios em municpios de RMs, de Rides ou municpios com mais de150 mil habitantes.

    MCidIncio: janeiro de 2008Trmino: dezembro de 2011Valor total estimado:

    R$ 2.453.243.359

    Centro-Oeste:2008: R$ 65.042.7732009: R$ 45.759.0212010: R$ 22.708.413

    2011: R$ 0

    Fortalecimento dagesto urbana

    Apoio elaborao de projetos de saneamento em municpios de RMs,de Rides, municpios com mais de 50 mil habitantes, ou integrantes deconsrcios pblicos com mais de 150 mil habitantes.

    MCidIncio: janeiro de 2008Trmino: dezembro de 2011Valor total estimado:R$ 35.000.000

    Nacional:2008: R$ 25.000.0002009: R$ 02010: R$ 02011: R$ 10.000.000

    Total R$ 6.297.331.843 R$ 710.945.567

    Elaborao dos autores.Nota: 1Apenas pela anlise do documento do PPA no possvel identificar a forma e os percentuais de execuo destas aes no mbito de seus

    respectivos programas. Um trabalho mais refinado com os rgos executores de cada um deles poderia revelar a aplicao destes recursos.Esta pesquisa no chegou a este nvel de detalhe.

    Duas observaes podem ser feitas aqui quanto ao PPA 2008-2011. A primeira que,

    apesar da ao prevista pelo MI provavelmente referindo-se s aes pertinentes antigaSecretaria do Desenvolvimento Regional (SDR) ou at mesmo Sudeco de promoo deinvestimentos em infraestrutura na Ride/DF e Entorno, os recursos (da ordem de R$ 120milhes) no foram utilizados. A segunda que o MCid, alm de incluir a Ride/DF eEntorno em trs programas e quatro aes de seu planejamento, programou a execuo dototal do valor estimado para cada ao. Isso revela que, apesar da ausncia de articulao eplanejamento do territrio da Ride/DF e Entorno por parte de seu rgo gestor, a urgnciaem se envidarem esforos da rea federal, notadamente em aes de infraestrutura, acabapor permitir algum tipo de arranjo de GT na regio integrada.

    J no planejamento do PPA 2012-2015 (tabela 3), possvel identificar a

    manuteno de aes do MCid com relao ao saneamento bsico, delegandooramento especfico inclusive para realizar planos regionais de saneamento bsiconas trs Rides, mas tambm a ampliao para a questo da mobilidade urbana emambientes metropolitanos, considerando o DF e sua rea metropolitana neste escopo.

    Alm disso, o MCid projeta suas aes de planejamento urbano com um enfoque deplanejamento integrado em regies, aglomeraes e metrpoles, conforme o trabalhoda REGIC 2007/IBGE. Segundo a hierarquia de cidades da REGIC 2007, Braslia considerada uma metrpole nacional, levando em conta seu adensamento populacionale sua rede de influncia com outras metrpoles.

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    21Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)TABELA 3A Ride/DF e Entorno no PPA (2012-2015)

    Programa Aes rgo executor Recursos (2012)

    Cidadania e Justia

    Objetivo: estruturar e fortalecer a Poltica Nacional de Justia com nfase naarticulao e na integrao das aes garantidoras de direitos no mbito dacidadania, realando a participao social e os dilogos interfederativos.Metas 2012-2015:Criar e estruturar rede de articulao federativa com banco de dados e integraode informaes, priorizando todas as capitais e suas RMs, municpios com mais de100 mil habitantes, alm das mesorregies, regies integradas de desenvolvimento econsrcios pblicos.

    MJValores globaisdo programa:R$ 801.203

    Em 2012:R$ 171.680

    Mobilidade urbana etrnsito

    Objetivo: requalificar, implantar e expandir sistemas de transportes pblicos coletivos,induzindo a promoo da integrao modal, fsica e tarifria de forma sustentvel eamplamente acessvel.Metas 2012-2015:Investir R$18,5 bilhes em empreendimentos que visem dotar os centros urbanos desistemas de transporte pblico coletivo de forma sustentvel e amplamente acessvel.Alvos: municpios-sede de RMs acima de 3 milhes de habitantes e DF. R$ 14,60 bilhes.

    MCidValores globaisdo programa:R$ 36.995.102

    Em 2012:R$ 13.453..239

    Planejamento urbano

    Objetivo: promover a implementao de instrumentos de planejamento urbanomunicipal e interfederativo para o desenvolvimento urbano sustentvel com reduode desigualdades sociais.Metas 2012-2015:Instituio de planos de desenvolvimento urbano integrado em RMs e emaglomeraes urbanas com gesto consorciada, selecionadas entre as metrpoles dahierarquizao estabelecida pelo estudo REGIC 2007/IBGE.

    MCidValores globais

    do programa:R$ 2.425.900

    Em 2012:

    R$ 2.332.639

    Saneamento bsico

    Objetivo: implantar medidas estruturantes que visem melhoria da gesto emsaneamento bsico, compreendendo a organizao, o planejamento, a prestao dosservios, a regulao e fiscalizao, e a participao e controle social.Metas 2012-2015:Elaborar trs planos regionais de saneamento bsico das Rides.

    MCidValores globaisdo programa:R$ 34.187.219

    Em 2012:R$ 9.735.152

    Total R$ 74.409.424 R$ 25.521.201

    Elaborao dos autores.

    No atual PPA tambm foi includa por meio do Programa Cidadania e Justia doMJ uma ao voltada para a articulao e a integrao de aes para o fortalecimento da

    participao social e dilogos federativos no mbito da Poltica Nacional de Justia. Estaao visa criar e estruturar uma rede de articulao federativa por meio de um banco dedados, priorizando, entre outras reas, as Rides.

    Diante da investigao das aes federais no territrio da Ride/DF e Entorno e dossignificativos volumes oramentrios executados, possvel identificar uma iniciativa,principalmente do MCid, para estimular a elaborao de planos para a eficiente aplicaode recursos. Este aspecto interessante, pois no PPA anterior as aes foram mais executivase pontuais do que propriamente de planejamento.

    Apesar da ausncia de articulao entre os entes federados partcipes da Ride/DF e Entorno,

    algumas aes do governo federal insistem em criar um arranjo institucional improvisado paraque, por meio de aes temticas basicamente de infraestrutura, o territrio da regio integradaseja visto como nico, no separado politicamente pelos limites estaduais e municipais.

    2.3.2 Fundos

    O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) um recurso voltadopara o financiamento de iniciativas privadas na regio Centro-Oeste. A administrao destefundo, anteriormente gerido pela SCO, feita pelo Banco do Brasil (BB), atualmente sendogerido pela Sudeco. A partir do relatrio de gesto publicado em 2010 pelo MI, pode-se ter umainferncia da atuao do fundo na Ride/DF e Entorno, considerando-a uma das trs regies de

    planejamento previstas na PNDR as outras so a mesorregio e a faixa de fronteira.

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    22 Relatrio de Pesquisa

    Sem entrar no debate acerca da metodologia da tipologia da PNDR, algo polemizadopor especialistas da rea, a aplicao do FCO para os municpios considerados de baixa rendafoi nula no perodo analisado 2002-2008. Considerando que os municpios mais pobrestm menos capacidade de atrair investimentos de capital privado, isso razovel. No entanto,demonstra a fragilidade deste tipo de recurso pblico quando se trata de desenvolvimento

    regional ou metropolitano. As regies mais pobres no alcanam os resultados da aplicaodos recursos pblicos, por mais eficientes que eles sejam. E os nmeros mostram que so.Nos municpios considerados de alta renda, a aplicao do FCO quase a metade ou maisque os municpios considerados estagnados(tabela 4).

    TABELA 4Contrataes do FCO segundo a tipologia da PNDR (2002, 2006 e 2008)

    UFTipologia

    PNDR

    2002 2006 2008

    Quantidade R$ mil Quantidade R$ mil Quantidade R$ mil

    FCO

    Alta renda 7.774 754.582 16.441 703.352 26.340 1.689.155

    Baixa renda - - - - - -

    Dinmica 5.920 275.725 13.257 225.987 17.866 633.706

    Estagnada 7.292 409.032 22.272 515.011 27.235 1.147.202

    Total 20.986 1.439.339 51.970 1.444.350 71.441 3.470.064

    Fonte: MI Relatrio de gesto do FCO/2010.Elaborao dos autores.

    Outro ponto interessante dos resultados do relatrio que, correlacionandoas trs regies de planejamento da PNDR, no perodo analisado a Ride/DF e Entornorecebeu consideravelmente bem menos investimentos do FCO que as outras duas regiesde planejamento (grfico 1). Na Ride/DF e Entorno, o FCO financiou em 2008 R$ 104milhes, um tero do que financiou para a mesorregio de guas Emendadas no valor de

    R$ 304 milhes e cinco vezes menos do que financiou na Faixa de Fronteira R$ 649milhes (tabela 5).

    Apesar de no estarem descrito no relatrio os tipos de operaes em que este fundo aplicado, o fato de ele atingir maiores volumes em municpios considerados de altarenda ou renda estagnada aponta para a possibilidade de este crdito abranger grandesempreendimentos em detrimento daqueles pequenos ou microempreendedores queaguardam uma oportunidade de crdito para alavancar seu negcio. Esta caracterstica, doponto de vista do desenvolvimento e da dinmica regional, nociva para o aquecimentoda economia da regio, ficando na contramo da proposta do FCO em apoiar a promoodo desenvolvimento regional.

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    23Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)GRFICO 1Contrataes do FCO (2003-2008)

    700.000

    R$Mil

    600.000

    500.000

    400.000

    300.000

    200.000

    100.000

    0

    2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Ano

    guas Emendadas Faixa de Fronteira RIDE-DF

    Fonte e elaborao: MI Relatrios de atividades desenvolvidas e resultados obtidos com a aplicao de recursos do FCO exerccios 2003-2008.Obs. Grfico retirado integralmente do documento tcnico, sem alteraes.

    TABELA 5Operaes e contrataes do FCO por regies de planejamento da PNDR (2003-2008)

    FCONmero demunicpios

    2003 2004 2005

    Operaes Contrataes Operaes Contrataes Operaes Contrataes

    Mesorregies 77 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    guas emendadas 77 2.160 8,2 98.111 10,7 9.380 16,8 148.128 12,6 10.030 21,2 180.549 12,3

    Faixa de fronteira 72 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    Faixa de fronteira 72 8.744 33,1 172.625 18,8 12.649 22,6 171.596 14,6 7.725 16,3 231.912 15,8

    Rides 18 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    Ride/DF e entorno 18 159 0,6 41.401 4,5 1.327 2,4 29.940 2,6 1.267 2,7 69.584 4,7

    FCONmero demunicpios

    2006 2007 2008

    Operaes Contrataes Operaes Contrataes Operaes Contrataes

    Mesorregies 77 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    guas emendadas 77 10.969 21,1 168.000 11,6 10.887 18,3 189.065 9,6 11.226 15,7 304.400 8,8

    Faixa de Fronteira 72 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    Faixa de fronteira 72 6.130 11,8 167.719 11,6 7.647 12,8 212.830 10,8 10.856 15,2 649.142 18,7

    Rides 18 Op. % R$ mil % Op. % R$ mil % Op. % R$ mil %

    Ride/DF e Entorno 18 1.532 2,9 39.777 2,8 1.395 2,5 40.327 2,0 1.909 2,7 104.047 3,0

    Fonte e elaborao: MI Relatrios de atividades desenvolvidas e resultados obtidos com aplicao de recursos do FCO Exerccios 2003-2008.Obs.: Tabela retirada integralmente do documento tcnico, sem alteraes.

    Esse contexto refora a ideia de que a fraca participao da Ride como unidade territorialcapaz de promover a articulao intergovernamental traduz-se em baixa efetividade deproduo de desenvolvimento no territrio. O relatrio expe tambm o volume deoperaes e contrataes do FCO nas trs unidades de planejamento. A diferena dequantidades e valores considervel entre a Ride/DF e Entorno e as outras duas (tabela 5).

    Como prvia anlise desse relatrio, podem-se considerar entraves gestometropolitana na Ride/DF e Entorno as seguintes ponderaes:

    ausncia de planejamento integrado por parte do Conselho Gestor da Ride/DF e

    Entorno (Coaride);

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    24 Relatrio de Pesquisa apesar de a pesquisa ainda no ter alcanado as aes dos estados de Gois e Minas

    Gerais, as aes do GDF ainda so muito pontuais e no so integradas com oplanejamento da regio; e

    os elevados gastos de aes da esfera federal que contemplam a Ride/DF e Entornoficam pulverizados na ausncia de um planejamento integrado para a regio.

    3 AVALIAO DA GOVERNANA METROPOLITANA

    3.1 Impactos do arranjo institucional na governana metropolitana

    As investigaes e as anlises da estrutura organizacional da Ride/DF e Entorno revelamuma sequncia cronolgica de arranjos institucionais diferenciados e independentes dasnecessidades de gesto da rea metropolitana fisicamente instalada no territrio goianonas proximidades do DF. Este descompasso entre a capacidade de gesto e planejamentointegrado e as demandas da crescente populao metropolitana evidenciou o esvaziamentodo formato legal do arranjo institucional da Ride/DF e Entorno. Por sua vez, esta mesma

    demanda, provocada por necessidades de melhoria de transportes, sade, educao,infraestrutura, emprego e renda, tenciona um outro arranjo institucional traduzido pelaatuao de novos atores e instncias da governana da regio integrada.

    So atores da esfera pblica, distrital e federal, em diferentes instituies e com atuaesproporcionais ao grau de amadurecimento na capacidade de gesto e planejamento corporativoorganizacional. Outros atores aparecem na sociedade civil, organizaes que tm como cenrioo territrio integrado com polticas pblicas fragmentadas, mas que conseguem realizar aesarticuladas em trs setores da economia aqui identificados: cultura, turismo e agricultura.

    Com instrumentos de gesto ou de planejamento basicamente voltados para acordos

    de cooperao ou convnios, os governos do DF e de Gois realizam aes pontuais etemticas na relao com os municpios de Gois que compem a mancha urbanacaracterstica da rea metropolitana de Braslia. No uso da autonomia que os municpiosdetm sobre a gesto das funes pblicas, do planejamento territorial e do uso do solo,as cidades goianas adjacentes ao DF tm se beneficiado com estes convnios e acordos,por exemplo, com o investimento de recursos federais de infraestrutura em saneamento projetos executados pela Companhia de Abastecimento de gua do Distrito Federal ecom o ACT celebrado entre a Codeplan, o GDF, o governo de Gois e a Associao dosMunicpios Adjacentes a Braslia (AMAB), voltada para o apoio gesto dos municpiosda rea metropolitana de Braslia.

    Esses arranjos formais e informais foram identificados por meio de consultasdocumentais oficiais s instituies pblicas federais, estadual (Gois) e distritais, bem comopor entrevistas a atores selecionados a partir do perfil do arranjo institucional apresentado.O estado de Minas Gerais no foi includo na pesquisa porque sua representatividade naRide/DF e entorno feita por trs municpios (Cabeceira Grande, Una e Buritis)que noguardam relao metropolitana com o DF. Um dos exemplos desta definio metodolgicaaqui adotada que o Consrcio Pblico de Resduos Slidos, em vias de ser criado nombito da Ride/DF e Entorno, tem a abrangncia territorial de dezenove municpios deGois e do DF, excluindo os trs de Minas Gerais, uma vez que estes trs municpios jintegram um consrcio de resduos slidos regional do noroeste de Minas Gerais.

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    25Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)

    3.1.1 Arranjo formal ou institucionalizado

    O arranjo formal da Ride/DF e Entorno limita-se organizao do conselho gestor oCoaride. Apesar de o conselho ter sido criado com atribuies e autonomia suficientes paracriar uma rede de planejamento integrado, at mesmo porque todos os entes federadosenvolvidos compem o conselho, sua discreta atuao demonstra uma baixa capacidade

    de fortalecimento da conduo das aes em prol do desenvolvimento da regio. A altarepresentatividade da esfera federal no conselho no traduzida em aes de planejamentoe concertao dos programas e projetos federais para as esferas estaduais, distritais emunicipais. No entanto, a baixa representatividade, principalmente municipal, aumenta adificuldade de articulao dos municpios dentro do conselho.

    Aps a recriao da Sudeco e a reorganizao do Coaride em 2011, o conselho temconcentrado sua atuao em projetos de desenvolvimento de infraestrutura, basicamentena rea de transporte. Gradativamente tambm foi se aproximando das discusses sobrea criao do Consrcio Pblico de Resduos Slidos, que ser apresentado logo a seguir.Mesmo com o respaldo legal de se produzir e implementar um Programa Especial deDesenvolvimento do Entorno do Distrito Federal, o conselho abriu mo dessa estratgiade gesto. Da mesma forma, no dialoga com os estados, DF e municpios acerca de outrosprojetos e programas estaduais ou federais que se articulam bilateralmente ou pelaprpria sociedade civil.

    Um arranjo institucionalizado desse territrio a criao de ambas as secretarias doentorno de Gois e do DF. Estes dois governos estaduais introduziram em sua estruturaorganizacional esta pasta diante das demandas de se implementarem solues integradascom as cidades adjacentes ao DF. No entanto, mesmo que haja iniciativas estaduais emunicipais no arranjo institucional da Ride, ela sempre ter a prerrogativa de ser umaregio de planejamento a ser conduzida pela Unio, resgatando assim o papel do Coaride.Na sua ausncia, muitas aes das secretarias de entorno estadual e distrital ficam limitadasou at mesmo impossveis de serem realizadas.

    3.1.2 Outras formas de articulao relevantes no mbito metropolitano

    Est na iminncia de ser criado o Consrcio Pblico de Manejo de Resduos Slidos paraa Ride/DF e Entorno. As discusses acerca deste consrcio pblico surgiram no mbitodo Programa Melhoria da Gesto Ambiental Urbana no Brasil (BRA/OEA/08/001)desenvolvido pela Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano do Ministriodo Meio Ambiente (SRHU/MMA). O estado de Gois, por meio da Secretaria dasCidades do Estado, firmou convnio com o MMA para, no mbito daquele programa,desenvolver o Plano de Gesto Integrada de Resduos Slidos (PGIRS) em Gois e noDF focado na Ride/DF e Entorno. At este ponto, a articulao se deu entre o governode Gois e o MMA.

    As discusses acerca da possibilidade de incorporao da gesto associada comosoluo de manejo de resduos slidos para os governos locais iniciaram-se em 2007. Entreos avanos conquistados est a assinatura de um protocolo de intenes que tem induzido aprovao em todas as respectivas assembleias legislativas dos municpios goianosenvolvidos, do DF e do estado de Gois.

    Esse um exemplo de forma de articulao relevante que, se contasse com uma

    atuao mais efetiva do Coaride, j poderia estar em funcionamento facilitando a

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    promoo de desenvolvimento da regio. Similarmente, o Coaride tambm poderiainstituir comits permanentes para centralizarem questes temticas e promoveremdebates que fundamentassem um planejamento integrado. No existem comits nombito da Ride/DF e Entorno.

    3.1.3 Atores e agentes da dinmica metropolitanaAtores institucionais relevantes no mbito metropolitano

    Para a caracterizao dos atores e agentes da dinmica regional-metropolitana,foram realizadas, para este grupo de atores, as seguintes entrevistas, emquestionrio semiestruturado:

    Senhor Arquicelso Bites, secretrio do entorno do DF, entrevistado por CritaSampaio e Francisca Paz, no dia 14 de fevereiro de 2013;

    Senhor Andr Clemente, secretrio da representao de Gois, que no perodo deanlise do projeto esteve frente da Secretaria Extraordinria para o Desenvolvimentodo Entorno de Braslia; entrevistado por Giuliana Corra e Francisca Paz, no dia 15de fevereiro de 2013; e

    Senhor Marcelo Dourado, diretor-superintendente da Sudeco, entrevistado porGiuliana Corra e Francisca Paz, no dia 22 de fevereiro de 2013.

    A seleo dos entrevistados foi feita em considerao aos rgos que tm a atribuioformal de tratar da Ride no estado de Gois, DF e Unio. Foram entrevistados os gestoresdesses rgos pretendendo aferir a viso do institucional sobre a gesto da Ride/DFe Entorno e a percepo dos maiores entraves e melhorias sugeridas para a Ride/DF eEntorno em seu mbito institucional.

    Buscou-se identificar se os entrevistados tinham conhecimento das estruturas formaisde gesto da Ride, mais propriamente do Coaride, como a forma de atuao do conselho vista pelos estados, como planejada a ao no territrio, qual a maneira mais frequentepara a soluo dos problemas nas Funes Pblicas de Interesse Comum (FPICs), de queforma se pode aperfeioar o sistema, alm dos maiores avanos e entraves.

    possvel inferir que h, por parte dos entrevistados, baixo conhecimento a respeito dofuncionamento e da importncia do papel do Coaride para a gesto metropolitana. Muitoembora no se possa precisar a motivao de tal desconhecimento, sugere-se a possibilidadeda nfase na gesto dos fundos, de carter mais econmico, na atuao recente do Coaride e atradio da resoluo de problemas relacionados s FPICs de modo bilateral, principalmente

    devido paralisao da atuao do Coaride na ltima dcada, criando esse vcuo institucional.Alm disso, o receio de realizar colocaes mais incisivas com relao s deficincias defuncionamento da gesto metropolitana pode ser compreendido pelo respeito entre atoresinstitucionais, para que no haja qualquer conflito ou disputa entre os rgos.

    Por meio das respostas obtidas, pode-se dizer que no h, dentro da Ride, um rgoresponsvel pela gesto metropolitana e no existe um planejamento estratgico mnimo.H ausncia de amarras institucionais que permitam dilogos entre as diversas polticas dasFPICs na execuo das polticas pblicas.

    Todos os entrevistados alegaram que h oramento disponvel especfico para a regio

    e que o dilogo para a execuo desse oramento realizado funo por funo, municpio

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    27Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)a municpio, sem abordagem conjunta de solues, que se credita ausncia de um frumintegrado de discusso da gesto metropolitana. Tambm ressaltaram a baixa capacidademunicipal para a execuo de aes.

    As perspectivas dos entrevistados permitem concluir que os maiores avanos residem

    justamente na retomada do processo de dilogo entre os entes federados atuantes no territrio,na retomada do Coaride como espao de discusses. Como maiores entraves foram citados adescrena com relao ao processo de planejamento e o dilogo com a populao na execuode aes, descompasso entre as vises do governo federal e os governos de Gois e do DF e osmunicpios. Seguem os relatos, com sua respectiva anlise, das entrevistas.

    ENTREVISTA 1

    a) Senhor Arquicelso Bites secretrio do entorno do DF

    As diferenas de relaes entre os municpios que compem a Ride e o DF dificultam a gestoda regio e, na viso do secretrio, isso um problema. Foram incorporados municpios que

    no tm relao metropolitana, diferente de outros que so praticamente cidades-dormitriosdependentes do DF. Para o secretrio, o arranjo territorial da Ride incorpora entes federadosdesnecessrios leitura metropolitana, dificultando a gesto da regio integrada.

    O secretrio reconhece a importncia do Coaride, faz uma clara leitura do processode atuao do conselho ao longo do tempo, com momentos de inoperncia e outros derevitalizao, mas enftico ao dizer que uma instncia subutilizada. demonstradauma viso de que o conselho atua de forma distante da realidade das aes da Secretariado Entorno do DF e da prpria gesto das polticas pblicas do DF, como se o GDFno fizesse parte da composio do Coaride. H uma crtica de que o FCO aplicadosomente em projetos de grande investimento e quase no utilizado para movimentar o

    financiamento de microcrditos ou minicrditos de setores diversificados da economia daregio. H expectativa de que o FDCO faa a conexo deste outro tipo de financiamentoem mdio prazo para a regio, considerando o Banco de Braslia (BRB) como a agnciafinanceira de viso regional para que isso acontea.

    Quanto ao planejamento das aes da Secretaria do Entorno do DF (SEntorno/DF),o entrevistado relata que, por uma deciso de governo, as aes visam ao apoio questoda sade pblica. Apesar de existir um panorama das necessidades de aes em outrasreas como educao, cultura, saneamento e infraestrutura em geral, o foco dessa gesto nasecretaria tem sido a sade pblica. A percepo de que esse panorama relatado como oincio de um planejamento estratgico ainda muito verbal, de um conhecimento pouco

    elaborado, sem indicadores concretos e mapeamento das necessidades reais, at mesmoporque, apesar de ter sido iniciado, o planejamento da secretaria no existe de fato.

    Como instrumento de planejamento, o secretrio revela que o consrcio pblico ,na sua opinio, o mais eficaz para a realidade metropolitana no DF. Como experincia,foram citados o esforo na construo do Consrcio Pblico de Resduos Slidos e Manejode guas Pluviais, com o envolvimento dos municpios, dos estados e da Unio, emvias de criao, e o incio da discusso sobre um Consrcio Pblico de Sade para a reametropolitana de Braslia. O entrevistado enfatiza que a regio demanda aes conjuntas quesofrem o entrave do arranjo institucional e do pacto federativo da prpria criao da Ride.

    A soluo tem sido a implementao de ACTs e convnios bilaterais como instrumentos

    para resolues pontuais, desarticulados e sem coordenao do conselho gestor da Ride.

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    O oramento destinado secretaria no vinculado a aes especficas e tem um cartergenrico gesto da Ride. O entrevistado relata que este oramento vem aumentando acada ano, mas, mesmo assim, ainda pequeno diante das necessidades apresentadas. Noentanto, no foi possvel identificar na fala do secretrio como este oramento executado,em que tipo de aes, at mesmo porque o planejamento da secretaria no existe.

    Ao ser perguntado sobre avanos e entraves na gesto da Ride, o secretrio revela que onico avano na articulao poltica para a implementao de instrumentos como ACTs econvnios em aes pontuais. A prpria criao de secretarias do entorno, tanto em Goisquanto no DF, mostra que esta articulao vem acontecendo, mesmo com mudanas degesto em ambos os entes federados. O atual problema fazer com que esta articulaose transforme em aes integradas no mbito da Ride. Uma iniciativa que revela umaao integrada foram as discusses para a construo do plano de desenvolvimento doentorno conhecido como PAC do entorno. Este plano seria na verdade uma carteira deprojetos com demandas dos municpios, estados e DF, mas no se tornou uma realidadepossivelmente pela falta de conduo do Coaride como orientador deste processo.

    A escala metropolitana dentro da Ride um fato para a Secretaria do Entorno noDF. Alm de trabalhar com esta perspectiva, o entrevistado relata que a secretaria tem feitoum trabalho de convencimento, com a Codeplan, de defesa dessa rea metropolitana, dorecorte espacial condizente com as questes metropolitanas dentro da Ride. Apesar de serum aspecto difcil de ser tratado politicamente dentro do Coaride, com os estados de Goise Minas Gerais e com os municpios, o DF como polo desta rea metropolitana conseguedemonstrar as dificuldades que tem em administrar a oferta de servios pblicos e postosde trabalho de uma populao que extrapola a sua rea territorial em quase 1 milho dehabitantes. Esta viso, no entanto, no compartilhada pelos outros entes federados naRide. O DF tem realizado aes com o escopo da Ride, como o caso do Consrcio Pblico

    de Resduos Slidos, mas tambm tem aes para a rea metropolitana, que envolve apenasonze municpios de Gois, em andamento sob o ACT celebrado entre a Codeplan, aSEntorno/DF, a SEntorno/GO e a AMAB em dezembro de 2012.

    ENTREVISTA 2

    b) Senhor Andr Clemente ex-secretrio extraordinrio para o desenvolvimentodo entorno de Braslia e atual secretrio da representao do estado deGois em Braslia

    possvel inferir da entrevista que h grande preocupao com a capacidade de gesto dosmunicpios da Ride e com a cooperao com o DF na resoluo de problemas comuns, e,

    principalmente, com as responsabilidades de cada ente federado no processo de administraodas FPICs. Percebe-se a preocupao do gestor na construo de uma integrao entre osmunicpios para conseguir trazer os recursos necessrios implementao de aes, de onde possvel concluir que no h um rgo com capacidade de congregar e representar osmunicpios de forma satisfatria, pelo fato de no haver um dilogo permanente entre eles.

    O secretrio apontou como maior problema a falta de articulao entre os entes federadospara a traduo de discusses em aes concretas: planejar e executar, dividir as atribuiese responsabilidades em acordo com a competncia setorial e federativa de cada rgo paraexecutar as aes. Apontou que houve avanos importantes com os governos de AgneloQueiroz e de Marconi Perillo no dilogo entre DF e Gois, a ponto de ambos j estarem

    trabalhando em conjunto na regio da Ride em alguns setoriais, mas que ainda existemdificuldades para a diviso de competncias no tocante execuo das aes discutidas.

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    29Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)No possvel identificar claramente na fala do entrevistado se h a compreenso do

    sistema de gesto da Ride conforme institucionalizado pelo Decreto no7.469/2011, ou seh a compreenso de que o Coaride seria o rgo responsvel pela gesto formal das FPICs.

    A percepo do entrevistado foi a de que h vrias formas de solucionar problemas

    sem necessariamente atrel-los a um s frum de atuao. Ao mesmo tempo que enfatizaessa pluralidade de fruns para a soluo de problemas nas FPICs como algo que no afeta aimportncia do Coaride, identifica dificuldades de comunicao entre os tcnicos atuantesnas diversas reas de debates de polticas pblicas, o que muitas vezes causa retrabalhoou lentido no acesso informao ou execuo de aes uma clara fragilidade noprocesso de planejamento e gesto das aes na Ride. Alm disso, prope a criao de umconsrcio de gesto para a Ride, demonstrando no haver a compreenso de que j existao instrumento adequado e capaz de gerir as atividades nessa rea. Pode-se depreenderque, muito embora no haja declarao de que o Coaride seja um instrumento ineficaz deplanejamento e gesto, a no identificao desse conselho como a arena primordial para odebate de planejamento e aes aponta para ineficincias com relao gesto do territrio.

    Com relao ao oramento para a execuo dos projetos, no soube informarpercentuais, mas relatou a existncia de recursos nas secretarias de Gois voltadospara a Ride, com baixo grau de execuo, creditado por ele mais baixa capacidadeadministrativa e institucional dos municpios do que ausncia de instrumentos paraacesso a esses recursos.

    Como maior entrave, descreve a descrena da populao, justamente o elementoausente no Coaride, no dilogo com os governos estadual, distrital e federal. Apontauma falta de respostas dos rgos s reais necessidades da populao e o excesso deiniciativas que tiveram suas implementaes frustradas como o maior agente causador

    dessa descrena. ENTREVISTA 3

    c) Senhor Marcelo Dourado diretor-superintendente da Sudeco

    O superintendente afirma logo no incio da entrevista que o funcionamento da Ride insatisfatrio no ponto de vista da gesto, que a reativao do Coaride recente iniciou-se na antiga SCO e foi efetiva com a recriao da Sudeco aps um lapso de seis anosde ausncia de reunio do Coaride. Muito embora tenham sido explanados os programasda Sudeco e enfatizadas duas aes estruturantes no transporte de passageiros e cargas egerao de emprego e renda por meio da industrializao e mediante o financiamento

    do FCO, pouco se falou da estrutura, do funcionamento do Coaride, de suas polticasprioritrias (a exceo da capacitao no setor de turismo por conta dos grandes eventose da mobilidade urbana, abordada por meio dos projetos estruturantes, na concepo daSudeco) e da forma como feita a gesto do territrio e das aes.

    Nota-se uma grande preocupao com os entes privados, investidores regionais edesenvolvimento econmico, os quais esto frente de um processo de planejamento,na concepo do gestor. creditada ao estado calamitoso da Ride e ao fosso econmicoexistente entre o DF e os municpios do entorno a urgncia de aes, em detrimento de umplanejamento integrado. H, portanto, uma preferncia pela realizao de aes, com umplanejamento sumrio e sem atrelamento a uma viso regional.

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    30 Relatrio de Pesquisa

    Fica evidenciado na fala do superintendente que a maior preocupao da Sudecoconcentra-se nas FPICs que tem rebatimento direto no setor produtivo, como transportee financiamento. Essa preocupao justificada pelo fato de a Sudeco ser um rgo cujaatuao encontra-se majoritariamente no fomento produtivo.

    O gestor evidencia durante trechos da entrevista sua insatisfao com a dificuldade dedilogo entre os entes federados, reafirmando que o processo de planejamento moroso eno permite concretizar rapidamente aes necessrias populao. Ainda que o dilogoentre os entes tenha sido reaberto, as discusses no so capazes de prover, em um curtoespao de tempo, diretrizes mestras de atuao nesse espao.

    Muito embora o planejamento estratgico tenha sido abordado como o instrumentoque necessita ser elaborado, permanece a viso do centralismo democrtico.Tambm foram abordadas durante a entrevista a preferncia de atuao para negociardiretamente com os municpios e a dificuldade de consenso; a Sudeco atua da forma que

    julga mais adequada.

    Atores com participao em outras formas de articulao relevantes no mbitometropolitano

    A entrevista a seguir visou identificar outras formas de articulao, alm da institucional,relevantes no mbito metropolitano. Como se tratou de uma organizao cooperativa narea rural do DF, no foi possvel realizar o deslocamento da equipe de pesquisa. Assim, aentrevista foi feita por telefone e, portanto, no houve registro de udio para ser transcritoneste relatrio.

    Mesmo restrita apenas a um setor da economia e a um tipo de organizao, a entrevista reveladora do ponto de vista da conscincia da importncia da gesto da Ride/DF para

    o desenvolvimento local e da presena de outras formas de articulao, na ausncia dainstitucional, para o funcionamento de aes setoriais na regio.

    ENTREVISTA 4

    d) Senhor Francisco de Lima Ferreira Coopa/DF

    Uma das atividades econmicas mais tradicionais do DF a produo agrcola. Emborasem muita expresso no produto interno bruto (PIB) do DF, a produo agrcola temdemonstrado capacidade de diversificao na produo, bem como incorporao de inovaotecnolgica para mdios e pequenos produtores.

    Organizada desde 1978, a Coopa/DF foi criada sob o alicerce dos pressupostoscooperativistas no assentamento rural denominado Programa de Assentamento Dirigidodo DF (PAD-DF) na parte sudeste do DF. A divisa do DF com o municpio de Cristalinaem Gois no impediu que esta organizao da sociedade civil envidasse esforos parapromover projetos compartilhados de gesto agrcola na regio, tanto que o prprionome da cooperativa faz meno regio do DF.

    O entrevistado membro da atual direo da Coopa/DF. A cooperativa tem umarelao intensa com produtores dos municpios de Cristalina e Luzinia que veem naCoopa/DF o agente institucional para o funcionamento de sua produo. As aes dacooperativa com estes produtores, em conjunto com os do DF, so voltadas para a melhoria

    da qualidade dos produtos. Assim, a cooperativa fomentou a produo da semente de soja

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    31Arranjos Institucionais de Gesto Metropolitana: Regio Integradade Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF)cristalina, advinda exatamente do municpio de Cristalina, estimulando investimentos emgalpes, mquinas, equipamentos, estruturao comercial, entre outros.

    A assistncia tcnica e a oferta de linhas de crdito especiais para os produtores tambmsempre foram fortes reas da cooperativa. A cooperativa tem uma tendncia a motivar os

    associados s inovaes tecnolgicas, proporcionando-lhes maior competitividade. Umaboa oportunidade de negcios tem sido a feira agropecuria promovida pela Coopa/DF aAgrobraslia , que negociou o volume de R$ 400 milhes em 2012.

    A produo agrcola preferencialmente consumida no DF e em municpiosadjacentes a ele. No entanto, um aumento expressivo de exportao para outros estadostem se verificado pela cooperativa. Ela comea a ter contato com o Coaride desde acriao do FDCO. Na Agrobraslia 2013, a Sudeco apresentou o fundo aos produtoresque est disponvel para projetos de armazenamento e escoamento da produo agrcola.O volume destinado para isso informado pela Sudeco de R$ 1,4 bilho. Em declarao dosuperintendente da Sudeco, reafirma-se a preocupao com a malha ferroviria da regio

    para promover o escoamento da produo.Mais uma vez demonstrado que outros arranjos institucionais so mais concretos

    que o formal. O Coaride tem legitimidade para ser protagonista nos processos demodernizao tecnolgica, capacitao, trabalho, emprego, sade, entre tantas outrasreas, mas atua como um parceiro para apoiar iniciativas pblicas, privadas ou dasociedade civil.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Os arranjos institucionais identificados na Ride/DF e Entorno so variados, difusos e

    desconectados. A constituio de um conselho gestor sem um fundo especfico fragilizaa capacidade de operao desta instncia de gesto. No entanto, isso no invalida apossibilidade de haver um processo mnimo de planejamento integrado para que seconstrua uma agenda positiva na consolidao da gesto desta regio estratgica deplanejamento para o pas.

    Por sua vez, vrias aes pontuais revelam-se capazes de confirmar a necessidade deconvergncia de esforos para a gesto integrada. Os programas federais esto chegando Ride/DF e Entorno por meio de convnios e acordos de cooperao. O estado deGois e o DF, da mesma forma, utilizam estes instrumentos de gesto para estabeleceraes nos municpios integrantes da Ride. O crescimento da regio Centro-Oeste e a

    possibilidade de diversificao da economia somente iro ampliar esta necessidade degesto integrada. O sucesso do Consrcio Pblico de Resduos Slidos poder viabilizaroutras aes integradas do mesmo porte, desde que a atuao do Coaride seja maisintegradora e dimensionada.

    Considerando os dois tipos de arranjos os institucionais e outros de articulaorelevantes , notvel que os arranjos com articulao diferenciada dos institucionais somais frequentes e tm demonstrado capacidade de compreenso da dimenso regional e,em algumas ocasies, at mesmo metropolitana. Quando os secretrios do entorno doDF e de Gois revelam as dificuldades de articulao no mbito do Coaride e, ao mesmotempo, declaram os acordos bilaterais e as demandas cada vez mais frequentes, fica claro

    que o arranjo institucional no est funcionando e que urgente rev-lo.

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    As primeiras impresses tiradas a partir dos resultados deste arranjo institucional acercada avaliao da governana na Ride/DF e Entorno apontam para uma fragilidade. Um arranjoinstitucional discreto, sem a iniciativa de promover um planejamento integrado, a ausnciade um fundo especfico para o apoio aos projetos e aes e a falta de representatividade dasociedade civil neste arranjo institucional reproduzem um cenrio de falta de conduo

    de uma instncia que facilite o dilogo entre os entes federados e promova a pactuaonecessria para a construo de metas comuns.

    As aes no institucionais que se revelaram na investigao no produzem um nvelestrat