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Resumo do texto: A Teoria das Elites e sua Genealogia Consagrada – Mario Grynszpan . Mosca, Pareto e Michels, ainda que possam se distanciar em aspectos fundamentais de suas análises, têm em comum questões e problemáticas centrais e interligadas que refletem o contexto político, social e intelectual da virada do século XIX: igualdade, democracia, soberania popular, representação política, sufrágio universal e socialismo . Palavras de ordem dos homens que buscavam se impor politicamente ao Ancien Régime mediante a introdução de um novo ator social: as massas. .Vilfredo PARETO , a quem se atribui a afirmação sociológica do termo elite: haveria em todas as esferas, em todas as áreas de ação humana, indivíduos que se destacam dos demais por seus dons, por suas qualidades superiores . Eles compõem uma minoria distinta do restante da população – uma elite. Desta forma, poderíamos falar de uma elite de guerreiros, de uma elite religiosa, uma elite econômica etc. O termo tem um sentido classificatório, não valorativo, uma aristocracia – os melhores de cada atividade . Em tempo: as aristocracias não são eternas – “a história seria um cemitério de aristocracias”. A circulação das elites que assegura o equilíbrio e a longevidade do corpo social . Quando cessa ou é demasiadamente lenta esta circulação, há a degeneração da elite propiciando um quadro de perturbação e crise e, por conseqüência, a revolução. Luta de elites, entre a elite no poder e os grupos de excluídos. Mesmo que fossem extintas as classes sociais, a luta continuaria dado que haveria a formação de elites. Na visão de Pareto, a revolução socialista nada mais seria do que a substituição de uma elite burguesa capitalista por outra socialista. Longe de ser igualitária, seria dominada por outra elite . Todo o governo seria de uma minoria e nem mesmo a imposição do sufrágio universal seria capaz de alterar esse quadro. A tese

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Resumo do texto: A Teoria das Elites e sua Genealogia Consagrada Mario Grynszpan

Resumo do texto: A Teoria das Elites e sua Genealogia Consagrada Mario Grynszpan

. Mosca, Pareto e Michels, ainda que possam se distanciar em aspectos fundamentais de suas anlises, tm em comum questes e problemticas centrais e interligadas que refletem o contexto poltico, social e intelectual da virada do sculo XIX: igualdade, democracia, soberania popular, representao poltica, sufrgio universal e socialismo. Palavras de ordem dos homens que buscavam se impor politicamente ao Ancien Rgime mediante a introduo de um novo ator social: as massas.

.Vilfredo PARETO, a quem se atribui a afirmao sociolgica do termo elite: haveria em todas as esferas, em todas as reas de ao humana, indivduos que se destacam dos demais por seus dons, por suas qualidades superiores. Eles compem uma minoria distinta do restante da populao uma elite. Desta forma, poderamos falar de uma elite de guerreiros, de uma elite religiosa, uma elite econmica etc.

O termo tem um sentido classificatrio, no valorativo, uma aristocracia os melhores de cada atividade. Em tempo: as aristocracias no so eternas a histria seria um cemitrio de aristocracias.

A circulao das elites que assegura o equilbrio e a longevidade do corpo social. Quando cessa ou demasiadamente lenta esta circulao, h a degenerao da elite propiciando um quadro de perturbao e crise e, por conseqncia, a revoluo.

Luta de elites, entre a elite no poder e os grupos de excludos. Mesmo que fossem extintas as classes sociais, a luta continuaria dado que haveria a formao de elites.

Na viso de Pareto, a revoluo socialista nada mais seria do que a substituio de uma elite burguesa capitalista por outra socialista. Longe de ser igualitria, seria dominada por outra elite. Todo o governo seria de uma minoria e nem mesmo a imposio do sufrgio universal seria capaz de alterar esse quadro. A tese democrtica, por conseguinte, no teria base real. A retrica democrtica busca obter o apoio das massas.

Gaetano MOSCA, um dos aspectos mais bvios de todos os organismos polticos era o de que havia sempre duas classes de pessoas, uma dirigida e outra dirigente diferindo-se pela organizao, por possuir algum atributo valorizado e pela hereditariedade; que viabilizam a estabilidade e a permanncia da classe dirigente.

Noo de frmula poltica, princpio de legitimidade do poder, onde nenhuma classe dirigente se sustentava somente na base da fora, devendo-se escorar em algum princpio, quer fosse religioso, legal ou moral.

A idia de soberania popular, que informava as democracias e que se materializava no sufrgio universal. Por seu intermdio, a minoria eleita governava, legitimando-se e mantendo-se no poder. Desta forma, o representante se impe ao eleitor.

A tendncia democrtica como uma das formas de renovao da classe dirigente. Em contrapartida tendncia aristocrtica, percebida no sistema socialista, onde uma oligarquia poderosa e totalitria ficava sem controle. Esse risco deveria ser evitado.

O que marcaria a democracia de fato seria, acima de tudo, a garantia de uma oposio livre, pblica, nica forma de limitar o poder da elite governante.

Robert MICHELS, elegeu a democracia como objeto de preocupao.

A Lei de Ferro da Oligarquia: [...] a organizao a fonte de onde nasce a dominao dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatrios sobre os mandantes, dos delegados sobre os que delegam. Quem diz organizao diz oligarquia.

Sua questo inicial era a de como a democracia podia ser exercida no interior dos partidos polticos, visto que neles se operava, inevitavelmente, uma concentrao de poderes, uma cristalizao de lderes, uma oligarquizao. Para tal, ele investigou os partidos polticos os guardies da democracia.

O ideal participativo da democracia, a idia de governo direto das massas, que decidiam livremente em assemblias, havia se tornado tcnica e mecanicamente invivel, diante do crescimento e da complexificao das sociedades. Abrindo espao para a patologia das massas, incompetncia das massas, facilmente manipuladas por oradores competentes (os seus lderes) e pela baixa qualidade das assemblias. E, ainda, pela tendncia representao de interesses atravs de organizaes e delegados.

Delegados e funcionrios tornar-se-iam, assim, profissionais da organizao, passando a depender dela para a sua sobrevivncia. Mais do que isso, a prpria sobrevivncia da organizao passaria a depender deles. [...] o direito de controle reconhecido massa torna-se cada vez mais ilusrio. Os partidrios devem renunciar a dirigir ou mesmo a supervisionar todos os assuntos administrativos. Vmse obrigados a confiar esta tarefa a certas pessoas, especialmente nomeadas para tal fim, a funcionrios pagos pela organizao. A massa reduzida a contentar-se com prestaes de contas sumarssimas ou a recorrer a comisses de controle.

Apartados de suas atividades originais, os delegados passavam, assim, a ver como indispensveis seus ganhos na organizao. Isso era mais evidente no caso de indivduos que no possuam fortuna pessoal ou outras fontes de renda, como antigos operrios que se tornavam lderes. A perda do cargo significava para eles um desastre. Desligados do hbito do trabalho manual e gozando de vantagens e privilgios que, de outra forma, dificilmente teriam, um retorno antiga condio era, para eles, no mnimo dramtica.

Percebendo suas posies como um direito, os chefes tendiam, por extenso, a interceder em sua sucesso, reservando-as a seus herdeiros. Neste sentido, o que se notava era a prevalncia de prticas como a do nepotismo, do favorecimento e da cooptao, e no a do mrito, da concorrncia, da eleio. Os delegados, os representantes, deixavam de ser servidores do povo para se tornarem patres. Um dos perigos da automizao da liderana sobre a base da soberania popular, sobre a base, enfim, do ideal democrtico, era o cesarismo. Amparado no que seria a vontade coletiva, justificando-se com o apoio de uma esmagadora maioria dos votos, um indivduo poderia passar a impor a sua dominao, suprimindo a prpria democracia, e denunciando como antidemocrtica qualquer forma de oposio ou protesto. Em nome da democracia, portanto, as maiores violncias poderiam ser cometidas, o que equivale a dizer que a soberania poderia ser a raiz de sua prpria supresso.

Os revolucionrios de hoje so os reacionrios de amanh. A democracia, tal como propalada, era impraticvel.

Retornando ao contexto histrico inicial, vivia-se um momento de afirmao da democracia, de extenso da participao e da cidadania poltica, de alargamento tendencial dos limites da plis no sentido do demos, de maneira global. Polticos e partidos lanam-se em uma luta concorrencial pelo voto em decorrncia da adoo do sufrgio universal (nem to universal assim...).

ELITISMO E CIDADANIA POLTICA

Arno Mayer, registra: [...] teria brotado o elitismo. Juntamente com o darwinismo social, ele teria desafiado e criticado [...] o iluminismo do sc. XIX, e mais particularmente as presses pela democratizao social e poltica.O termo elite, carregado de valores, s se definiu como tal de forma plena no final do sc. XIX, e recebeu sua mais ampla e corrente aceitao em sociedades dominadas pelo elemento feudal. Mas, por toda a Europa, as teorias da elite espelhavam e racionalizavam prticas predominantes correntes [sic], ao mesmo tempo em que serviam como arma na batalha contra o nivelamento poltico, social e cultural.

Os autores elitistas apresentavam-se como pensadores realistas, demolidores de mitos.

Albert O. Hirschman, apropriando-se da tese do socilogo T. H. Marshall, segundo a qual a cidadania, no Ocidente, se afirmou a partir de trs dimenses, distintas e consecutivas: a civil, no sculo XVIII, expressa pela igualdade perante a lei e pelos direitos do homem; a poltica, no sculo XIX, caracterizada pela ampliao do direito de voto no sentido do sufrgio universal; e, finalmente, a social e econmica, j no sculo XX, associada ao Welfare State; coloca que cada uma dessas dimenses desencadeou formas de resistncia especficas, ou ondas reacionrias, apoiadas em trs teses bsicas. A primeira, a da perversidade, sustentava que qualquer ao adotada no sentido da melhoria de aspectos econmicos, sociais ou polticos terminaria, de algum modo, produzindo o efeito inverso, piorando aquilo que se desejava remediar. A segunda, a da futilidade, partia da idia de que as aes propostas, fatalmente, resultariam infrutferas. Quanto terceira, sua avaliao era de que as aes, ainda que pudessem ter alguma eficcia, teriam um custo muito elevado, pondo em srio risco valiosas realizaes anteriores. No era fortuito, portanto, o fato de ela ser denominada, tese da ameaa, em funo da proposta de incorporao da massa poltica.

Alm da combinao de qualidades ordinrias, as multides geravam caracteres novos nos homens, e isso, de acordo com Gustave Le Bon, por trs razes. A primeira era a fora quase invencvel com a qual, em uma multido, o indivduo se sentia dotado, e que o levava a ceder a instintos que, de outro modo, no cederia, a dar vazo a todos os seus desejos, certo de seu anonimato, de que no seria pessoalmente responsabilizado. Por sua vez, a associao da segunda razo, o contgio, com a terceira, a sugestionabilidade, tornaria irresistveis as presses sobre o indivduo, levando-o mesmo a sacrificar seus interesses pessoais em favor dos coletivos, agindo como um autmato destitudo de vontade.

A REVOLUO DOS MANAGERS

Nos EUA a teoria das elites floresceu, em especial, em funo de dois autores.

Segundo James Burnham, havia em todas as sociedades, um grupo de pessoas relativamente reduzido, que tinha um tratamento preferencial na distribuio de bens, concentrando poder, privilgio e riqueza. Esse grupo, socialmente dominante, constitua a classe dirigente e seu poder, de fato, emanava no da propriedade dos meios de produo, como supunham os marxistas, mas sim do controle sobre eles. No capitalismo, portanto, a burguesia era a classe dirigente porque ela mesma controlava, administrava os meios de produo. Esse quadro, porm, vinha passando por um claro processo de modificao. De acordo com Burnham, estava em marcha uma revoluo social em escala mundial, nela se inserindo a Segunda Guerra. Essa revoluo vinha provocando mudanas nas instituies polticas, econmicas, sociais, culturais e nas crenas dominantes, sinalizando a conformao de uma nova classe dirigente. Esta classe seria formada pelos managers que, efetivamente, controlavam os meios de produo, mesmo no sendo seus proprietrios.

A base da estrutura econmica da nova sociedade, assim, seria a propriedade estatal dos instrumentos de produo. E como eram os managers que geriam esses instrumentos, sendo responsveis pela produo, eles terminariam assumindo o controle do prprio Estado, tomando-se a nova classe dirigente.

As idias de Burnham, que criticava a noo de democracia como governo da maioria, eram semelhantes s de Thorstein Veblen, Adolf Berle, Gardiner Means, Hugo Urbahns sobre o papel dos managers. Outros autores criticavam esta tese em defesa do socialismo (Leon Blum e Georg Lukacs).

Segundo Charles Wright Mills, o poder na Amrica era monopolizado por uma elite unificada, que se impunha, e as suas decises, ao restante da sociedade. Essa elite, postada no topo das principais hierarquias e instituies da sociedade americana, tomava por si mesma, livremente, as grandes decises, as decises que afetavam a nao como um todo. Seu poder, assim como sua celebridade e sua riqueza, resultava, de fato, de sua posio frente daquelas hierarquias e instituies, ou, mais especificamente, do Estado, das empresas e das Foras Armadas. Por esse processo eram igualmente conformados igrejinhas, esquemas de clientela e de lealdades pessoais, que pesavam, de modo efetivo, para a ascenso e o xito nas altas-esferas, contradizendo a tese do self-made.

Mills e Floyd Hunter, grandes expoentes da tese do monismo elitista, tm como questo comum o poder, entendido como a faculdade de tomar grandes decises. Dessa perspectiva, estudar o poder equivaleria a investigar os processos de tomada de deciso e, da mesma forma, os tomadores de deciso, os decisions-makers, as elites.

PLURALISMO E ELITISMO DEMOCRTICO

A contraposio liberal, pluralista, a Mills ficou conhecida, de um modo geral, como o elitismo democrtico. Com inmeras variantes, apoiava-se, grosso modo, sobre dois pontos. De acordo com o primeiro, a tese clssica da democracia - ancorada na noo de soberania popular, de governo da maioria, do povo, pelo povo e para o povo - seria destituda de fundamento real. Pior, o que as recentes experincias totalitrias demonstravam que uma ampla base de apoio popular no seria, necessariamente, sinnimo de democracia. Pelo contrrio, sujeitas influncia de demagogos, as massas, em lugar de uma garantia, poderiam se constituir em uma ameaa democracia. O verdadeiro esteio desta, portanto, seriam as minorias dirigentes. Dessa forma, no haveria, dentro dessa perspectiva, incompatibilidade entre a existncia de elites e o sistema democrtico. O que diferiria a democracia do autoritarismo? A diferena, segundo ponto de apoio da tese elitista democrtica, se resumiria a uma questo de procedimento. As elites, na democracia, seriam abertas, isto , seu recrutamento e seleo no estariam confinados a um grupo apenas.

Walter Lippmann centrava sua colocao na necessidade de um governo ou, mais especificamente, de um Executivo forte, para a prpria sobrevivncia da democracia; negando s massas, maioria, e mesmo s suas entidades representativas, aos partidos, o papel de avalistas do sistema democrtico. Para ele, era um erro acreditar que as opinies dos votantes expressavam o interesse pblico.

A massa, segundo Joseph Schumpeter, era incapaz de desenvolver e divulgar idias definidas e coerentes, transformando-as em atitudes. Ela apenas podia seguir, ou se recusar a seguir, a liderana que lhe era oferecida. Por isso mesmo, a teoria clssica da democracia, forjada no sculo XVIII, no mais se mostrava dotada de sentido. A democracia, portanto, era um governo dos polticos. O que a identificava, o que a diferenciava de outros sistemas, era a livre concorrncia entre possveis lderes pelo voto do eleitorado. O objetivo da luta concorrencial seria, na verdade, o poder, os cargos polticos. Se o bem comum alcanado, ele o seria como, subproduto daquela luta, da mesma forma que, na economia, as necessidades bsicas do povo so atendidas pela concorrncia pelo lucro. Por conseguinte, os polticos atenderiam aos anseios da populao na medida em que buscavam realizar seus interesses.

Harold D. Lasswell, afigurava-se como fundamental, a habilidade da elite no poder para manipular smbolos, ou ideologias, para controlar e distribuir bens, para empregar a violncia, para negociar e organizar, para recrutar e treinar seus membros. Tudo isso, assim como as estratgias e os padres de lealdade prevalecentes, estaria intimamente relacionado e decorreria da personalidade e dos perfis polticos dominantes na elite.

Rompendo com a viso dicotomizada elite/massa, Lasswell e Abraham Kaplan identificariam entre as duas uma semi-elite, constituda por aqueles que teriam graus intermedirios de organizao e, assim tambm, de poder. Essa concepo da distribuio social diferencial do poder importante, de acordo com os autores, para reconciliar a noo de elite com a operao de instituies democrticas. A simples presena de uma elite, assim, no suficiente para desqualificar uma estrutura como democrtica. O que preciso verificar, de fato, so os padres de recrutamento da elite, o modo como exerceria seu poder, suas relaes com as massas. Em uma democracia, o recrutamento aberto, outorgando-se iguais oportunidades de acesso. Em uma autocracia, ao contrrio; o que se observa uma drstica restrio, um acentuado estrangulamento.

David Riesman forjou o conceito de grupos de veto, a partir do estudo sobre lobbies. Estes se constituam em grupos que lutavam no apenas pelo poder e pela implementao de medidas favorveis aos seus interesses, mas, igualmente, pelo veto a polticas que lhes eram adversas.

Partindo, porm, de um ponto prximo ao de Riesman, um outro pluralista, David Truman, procurou dar conta de algumas das preocupaes presentes em Mills debruando-se sobre aqueles que considerava os elementos de ameaa ao sistema poltico americano, sendo um deles o prprio macarthismo. Desde a Segunda Guerra, o sistema poltico americano vinha sendo colocado diante de repetidos, ou mesmo crnicos, desafios, entendidos como tais a Revoluo Chinesa e o Sputnik, que levava a Unio Sovitica frente da corrida espacial. Dependendo, entretanto, da forma como o sistema a eles respondesse, sua prpria sobrevivncia poderia ser colocada em jogo, e isso por duas vias: a primeira delas, minando a posio de liderana dos Estados Unidos no concerto das naes ocidentais; a segunda, e para a qual o ensaio de Truman se voltava, destruindo a prpria democracia atravs de medidas inadequadas, fruto da incompreenso quanto s reais fontes de ameaa. Truman chama a ateno para o que seria uma extensa, e fundamental, estrutura poltica intermediria - formada por grupos de interesse, associaes, sindicatos e igrejas, entre outros -, que faria, bem entendido, a mediao, e no a subordinao ou a dominao, entre o governo e o cidado comum. Essa teia, essa estrutura, segundo Truman, de evidente trao pluralista, seria um fato central na distribuio do poder na sociedade americana. Aqueles que ocupavam posies de liderana dentro desses grupos constituiriam uma elite em um sentido puramente tcnico, neutro. Eles seriam, certo, influentes e privilegiados, mas, por isso mesmo, estariam interessados, e atuariam no sentido da manuteno do sistema do qual provinham seus privilgios. No chegariam eles, contudo - e aqui a crtica a Mills era direta -, a conformar uma elite no sentido de uma classe governante unificada, autoconsciente, at mesmo porque no tinham origens sociais e geogrficas comuns.A importncia da estrutura poltica intermediria para a democracia foi ressaltada por William Kornhauser.

A grande contribuio de Michels, segundo Seymour Lipset, teria sido a demonstrao de que a oligarquia no era um defeito da democracia, mas uma caracterstica geral de qualquer sistema social complexo. Com isso, ele teria jogado por terra o conceito rousseauniano, de democracia popular direta, que seria a base das teorias democrticas tradicional e socialista. As elites organizacionais permaneciam em suas posies por longos perodos, desenvolvendo interesses de grupo que as distanciavam daqueles que elas representavam. No haveria, assim, como eliminar a diviso entre dirigentes e dirigidos. No seria, destarte, o ideal grego que nortearia a democracia, mas sim a competio entre grupos organizados, acrescida do acesso dos dirigidos aos dirigentes. Essa possibilidade impediria que qualquer grupo suprimisse os demais e, por essa via, garantiria a prpria democracia.

Para Suzanne Keller o destino das sociedades industriais estava atrelado ao que chamava de elites estratgicas, minorias de indivduos socialmente importantes, cuja misso seria servir coletividade, tomando para si a responsabilidade pela realizao de grandes metas e, igualmente, pela continuidade da ordem social. Essas elites no se confundiriam com classes sociais. Sua origem no se limitaria diviso social do trabalho, guardando relao com a prpria heterogeneidade da comunidade, de acordo com sexo, idade, etnia e assim por diante. Assim, enquanto havia apenas uma classe dirigente em uma sociedade, poderia haver tantas elites estratgicas quantos segmentos e atividades sociais existissem. Por isso mesmo, diferena das classes dirigentes, as elites estratgicas dificilmente se tomariam despticas, tendendo, antes, para uma autonomia estrutural e funcional. As elites estratgicas se distinguiriam das classes dirigentes tambm no que toca ao recrutamento. As classes dirigentes teriam um acesso mais ou menos monopolizado s posies dominantes e, desse modo, poderiam transmiti-las a seus descendentes atravs de herana. J as elites estratgicas seriam abertas, selecionadas com base na motivao, na capacidade e no mrito individuais, o que significaria igualdade de oportunidades.Segundo Robert Dahl, apenas uma pequena parcela de cidados teria uma presena poltica mais evidente, interessando-se pelas grandes decises, participando das discusses e das aes. Essa parcela seria o que Dahl chama de estrato poltico, por oposio ao apoltico, formado pelo restante dos cidados; pela maioria. Para o primeiro, a poltica seria uma referncia bastante forte, suas escolhas e estratgias seriam calculadas, racionais, suas escolhas coerentes e consistentes. Para o segundo, ela seria algo distante, suas escolhas seriam fruto no tanto de um clculo racional, mas da inrcia, do hbito, de lealdades, de vnculos pessoais, emoes e impulsos, e suas orientaes, por seu turno, seriam desconexas e no-ideolgicas.

Em um quadro concorrencial, os lderes buscariam garantir suas eleies atravs de um fluxo de recompensas, ou da promessa de recompensas, em um sentido bastante amplo, principalmente queles que os apoiassem, e, alm disso, seriam obrigados a manter-se dentro de determinados limites.

O Elitismo Democrtico na Europa

Muito embora tenha sido nos Estados Unidos que, segundo os comentadores, a teoria das elites, sobretudo em sua perspectiva pluralista, elitista democrtica, tenha se desenvolvido mais plenamente, alguns nomes europeus, alm dos trs pais fundadores, so tambm includos em sua genealogia. So eles Ortega y Gasset, Raymond Aron, Karl Mannheim, RalfDahrendorf, Maurice Duverger e Giovani Sartori, sendo os trs primeiros, cronologicamente anteriores, reconhecidos como tendo exercido influncia sobre o elitismo democrtico de modo geral.

Para Gasset, preocupado com o problema das massas, em uma viso bastante prxima de Le Bon, a sociedade dividia-se no em classes, mas em massa e minorias excelentes (sinnimo de nobreza). Enquanto estas eram livres, o homem-massa marchava ao acaso, ao sabor dos acontecimentos. Ele deveria ser dirigido, sugestionado, representado, organizado. Incapaz de gerir sua prpria existncia, a ele no poderia ser confiado o destino de uma sociedade.

interessante observar como, em um contexto no de afirmao, mas de crise da democracia - inverso, portanto, ao que estavam inicialmente referidos Mosca, Pareto e Michels -, Mannheim, diferena destes, lana mo da tese elitista no para criticar a democracia, mas sim para sustentar como o fariam todos os elitistas democrticos que as duas no eram incompatveis; que a existncia e, mais do que isso, a inevitabilidade das elites, no negava a democracia. Iniciava ele observando que o princpio da igualdade entre os homens, embora bsico, no implicava no seu nivelamento mecnico. Em concorrncia alguns poderiam, claro, se mostrar superiores aos outros. O fundamental, contudo, seria garantir que a competio fosse justa, impedindo que alguns partissem j de uma melhor posio social, alcanada por nascimento, por herana.

A democracia se caracterizaria, portanto, pela quebra, justamente, da homogeneidade da minoria governante, e nesse sentido que ele a perceberia como uma tendncia inexorvel.

Concordando com os elitistas clssicos, Aron sustenta que o poder poltico seria sempre distribudo de forma desigual, mesmo nas democracias e nos regimes socialistas, o que significaria que esse no seria um bom critrio para estabelecer diferenas entre as sociedades.

Para Ralf Dahrendorf a idia de uma classe dirigente nica, monoltica, seria errnea. Maurice Duverger, buscando elaborar uma teoria geral dos partidos polticos, tem em Michels seu ponto de apoio fundamental, concordando com sua tese de que as organizaes, mesmo as mais democrticas, seriam, inevitavelmente, sinnimo de oligarquia um governo marcado pelo domnio de uma minoria.

O que o sistema partidrio permitiria, em uma democracia, em um regime pluralista, seria garantir noo de representao aquele que seria o seu verdadeiro sentido. Aqui, diferena dos regimes de partido nico, onde as elites seriam fechadas e perenes, se teria, efetivamente, uma classe dirigente aberta, sada do povo, e que se renovaria de tempos em tempos. A tese da elite aberta, acrescida da noo de pluralidade, seria encampada tambm por Sartori, que no via as minorias em uma democracia como oligarquia e considerava a concorrncia como elemento bsico da democracia.

A CRTICA NEO-ELITISTA

Termo empregado por Richard Merelman, tendo como autores principais Peter Bachrach - que considerava que o predomnio das elites e a passividade das massas como requisitos bsicos da teoria democrtica e que o princpio clssico da igualdade de poder seria substitudo pelo da igualdade de condies para se alcanar uma posio de poder, igualdade de oportunidades - e, Jack Walker.