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GUETA Edição Especial, Fevereiro de 2014. Beleza, força e conquista

Gueta

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GUETA Edição Especial, Fevereiro de 2014.

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Sumário

EXPEDIENTE

Todos somos Gueta!

Oqueédiversidadeafinal?Paranósda Gueta, diversidade vai muito além da uniãodosdiferentes.Representa adiversi-dade brasileira, tão rica e plural. E a Gueta é issooserpluraloserBrasil.Emnossapri-meiraediçãocomtodososentravesefaci-lidades da idealização dessa ideia chegamos ao que seria o ser Gueta.

Pormeiodeumaideia,naqualacre-ditamos que as publicações de revistas pode-riamterumfocodiferenciadocomeçamosadesenvolvernossopequenogritopelacultu-raemmeioatantapublicidade.Foiatravésdenossamotivaçãodequeaculturapodeedeveserretratadadeumaformadiferenteemenosexcludente.

Atravésdos ideaisdedisseminaçãoequestionamentodas formasdeculturaosnossos pensamentos começaram a tomarforma por meio das nossas editorias. EmGingado buscamos o resgate da capoeiraesuainfluêncianaformaçãodaregiãodasvertentes.NoCinemabuscamosquestionarrealmente pra quem se está sendo feita aculturanonossopaís.JánosEsportesbus-camos apresentar amanifestação da cultu-raderuaatravésdoskate.NaFotografiaépossívelveroqueé,ouoquepretendemosserdecorpoealma.Comacolaboraçãodaestudante,Yvye Nathalie, a Gueta ganhouumrosto.ComaBatidaganhamosumrit-mo e com o trabalho duro para realizarmos esse projeto creio que todos da redação es-tamosmaispertodosnossosobjetivoscomoGueta. Queessanãosejaaúltima,massimaprimeirademuitasporquenofinalsomosissoa mistura, a diversidade Somos Gueta.

Beijos de luz para toda a redação.

SarahEvelyn,editora.

Editorial

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4...........GINGADOCapoeira:daorigemàfor-

maçãoeducacional

6.............CINEMAAmostraquenãomostrou

8...........ESPORTEContrariandoEstatísticas

10....FOTOGRAFIAO rosto da diversidade

12...........BATIDAAs verdades são rimas

cantadas

EDITORA Sarah Evelyn REVISOR Sarah Evelyn

EDITORADEARTE Bianca Furtado REPÓRTERES Bianca Furtado Fellipe Faleiro Jéssica Loures Kelly Motta Thaís Matias

GINGADO

daorigemàformaçãoeducacional

A capoeiranasceunoséculoXVI,comavindadeescravosangolanosparaoBrasilcolôniapara suprir, principalmente, amão de obra neces-sárianaproduçãodeaçúcarnonordestebrasileiro.Os senhores de engenho, à época, determinarama proibição da prática de lutas entre os escravos,mas estes desenvolveram uma “luta” imbuída demusicalidade que disfarçava o que realmente pre-tendia a então chamada capoeira: arte marcial,jogoedançaparaprotegernegroscontraasinves-tidas violentas dos senhores e capitães-do-mato.

A capoeira foi assim denominada, já que os es-cravos a praticavam em campos com peque-nos arbustos, chamados de capoeira ou capo-eirão. O lugar determinou, assim, o nome daluta popularmente conhecida nos dias atuais.

ApráticapormuitotempofoiproibidanoBrasilporserconsideradasubversivaeviolenta,atéque,em1930,umgrandecapoeiristabrasileiro,MestreBim-

ba,apresentoualutaparaoentãopresidenteGetúlioVargas,quenãosóaprovoucomotransformouacapo-eiraemesportenacionalbrasileiro.DesdeentãoalutaéumaimportantedivulgadoradoBrasilnoexterior.

Hoje a capoeira é compreendida como expres-são cultural brasileira e temos em exercício trêsestilos da mesma: a capoeira Angola, a capoeiraRegional e a capoeira contemporânea.A contem-porânea, um movimento de vanguarda, foi res-ponsável pela institucionalização da mesma, coma adoção de um sistema de graduação através de cordas, fundação de federações e associações, e adoutrinaçãoda luta emacademias, e se diferenciadasoutras,pelaadoçãodemovimentosmaisacro-báticos, considerada, também, o resultado de umamudança natural que foi delineada conforme ocontextoatual.Acapoeirahojepossuiumamistu-ra das capoeiras angola e regional aliado a tantoselementos incorporados com o passar dos anos.

texto:ThaísMatias;

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AuladoprojetoOrigensorientadapeloprofessorWesley.(foto:ThaísMatias)

A percepção da capoeira como história, expressão cultural e recurso pedagógico.

Houveumamudançanapercepçãodacapoeirahojeemdia,elaéconcebidanãosócomoumexercícioacrobático,mascomoumamaneirade ajuda na superação de diversas carênciashumanas,sejamelassociais,físicasoupsíqui-cas.Amaiorvantagemdacapoeiraéaversa-tilidade, a mistura, ela mescla ritmo, poesia, música, exercícios, liderança, comunicação,culturaedisciplina.Epara,alémdisso,desen-volveaautoestimaeorespeitoaopróximo.

Éimportanteressaltar,quecabeaoprofissional,aodoutrinadordacapoeira, que estimuleoaluno,masdeixeomesmolivrenaescolhadosegmentoquemaisseidentificadentrodaprática, aproveitandoas-simsuapotencialidadecomocapoeirista.

Conduzido pela ideia de que o doutrinadorsefazindispensávelnaconduçãodecriançasdentrodaluta,oeducadorfísicoWesleyOto-niel,desenvolveumtrabalhovoluntáriodesde2005,nacidadedeEntreRiosdeMinas,cha-madoprojeto“Origens”,quedáoportunidadedeinserçãodecriançasnomundodacapoeira,maslevandoemconsideração,nãosóobene-fíciodosexercíciosfísicos,masapráticacomoferramentapoderosanaformaçãodevalores.

Ementrevista concedidaa revistaGueta, elefaladesdeosurgimentodointeressepelaca-poeiraatédequeformaamesmapodeserusa-dacomorecursopedagógico:

Professor Wesley, como surgiu seu interesse pela capoeira?Meuinteressesurgiuquandoporvoltados11anosde idade,assistindoaumanovelaondeapareciaumcapoeirista,questioneiameupaiquenãoeraumaluta,eraapenasumadança.Meu pai entãome corrigiu dizendo se tratarde uma luta criadapelos escravosnoBrasil.

Então,porcuriosidade,comeceiafazeraulascomoNaca,naantigabarraquinha,há28anos.

E como surgiu também a ideia de fazer um trabalho voluntário usando a capoei-ra? E como funciona esse trabalho?Em2005estavacursandoEducaçãoFísicaeentão comecei a dar aulas na escola PedroDomingues como estagiário trabalhando acapoeira.Quandocriança,emnossacidade,eradifíciltreinarcapoeira,poisasaulassem-predeixavamdeseremdadas,muitasvezesporfaltadeespaço,apoioetambéminstruto-rescomdisponibilidadedetempo.Eraquaseimpossívelvocêmanterumaprogressãonostreinamentos. Se você quisesse, tinha queviajarparaoutracidadeouentãosemudar.Pensando nisso, o projeto veio para supriressa necessidade, dando oportunidade paraos jovensdeEntreRiosdeMinasque temvontadedeaprenderacapoeira,alémdeaju-darnaformaçãodosmesmoscomocidadãosdebem,cultivandovaloresesquecidospelanossasociedade.

Você acha que a capoeira funciona como re-curso pedagógico?O aluno quando ingressa no projeto assumiocompromissode iraos treinos (aulas)comdedicação e respeito aos demais participan-tes.As aulas são divididas em aquecimento,parte física,parte técnicae rodadeconversanofinal,ondeosalunosrecebemorientaçõessobreassuntosdiversosasuaformaçãocomocidadão.Então,acapoeiracomoesporte,emgeral,funcionacomopoderosaferramentanaformaçãodevalores.Seus alunos tiveram mudanças significati-vas depois que começaram a praticar a ca-poeira?Temosrelatosdealunosquetiverambonsre-sultados com a prática, dentre eles:melhoradocomportamento,melhoranaautoestima,doconvíviosocialeavalorizaçãodesuasraízese tradições.

“ alunos rece-bem orientações sobre assuntos diversos a sua

formação como cidadão”

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CINEMA texto: Fellipe Feleiro e Sarah Evelyn;

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AconteceuemTiradentesde24de ja-neiro a 1º de fevereiro a 17°edição

daMostra de Cinema de Tiradentes que,segundo o seu release online, apresentaao público a diversidade da produção ci-nematográfica e que tem como objetivomostraraopúblicoapluralidadedoscon-teúdosaudiovisuais.Comotemadaediçãoela afirmou mostrar as novas formas doprocesso de criação de audiovisual, mos-trando assim o cinema contemporâneo.

Oeventoprestigiaapequenacidadeinte-rioranadeMinasGerais,queficarepletadeturistas,viajantes,estudantese,obviamen-te, produtores de conteúdo audiovisual.Muitossonhamemalgumdiaganharquin-zeminutosnastelonasdaMostradeCine-ma,oqueévistocomoumpontapéparaocurrículodeumcineastainiciantequesofrepelosinfortúniosdacarreira,equemuitasvezesnãopossuiumsobrenomejáconhe-cido ou umpadrinho que poderá guiá-lo.

CineTenda.(foto:divulgação)

Mostra de Cinema de Tiradentes e o

cenário contemporâneo do Audiovisual

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Oqueéinevitávelénãofalarcomosede-senvolveocenáriodocinemacontemporâ-neo,quenamaioriadasvezeséfeitopelasproduções independentes que geralmen-te não possuem nenhum apoio, tanto deeventosculturaiscomopolíticaspúblicas.

EmentrevistaàrepórterSarahEvelyn,oiniciantecineastaDiegoAlexandre,estu-dante de Comunicação Social pela Uni-versidade Federal de São João del-Rei,contaqueoseuprimeirocurta-metragem-nãofoiselecionadopelacuradoriadamos-tradecinema.Odocumentário“SóParaLoucos” retrata o cotidiano do cantor ecompositorhippieVentaniaefoigravadoemSãoThomédasLetras,suldeMinas.

Quando perguntado sobre como vê oapoio do festival dado às produções in-dependentes e aos novos produtores,

Diego afirma que o objetivo da mostraé abrir novos horizontes e formar no-vos profissionais, mas acha contraditó-rio uma vez que a produção do eventoinvesteemcursos,oficinaseseminários,mas os alunos que mandam seus filmesnãosãoselecionados,oquesegundoeleacaba desmotivandofuturos produtores.

Atualmente vivenciamos a luta pela de-mocratizaçãodosmeioseumasaídaparaisso é a aceitação das novas propostasno audiovisual, o que se faz necessárioe o apoio tanto político quanto a even-tos que promulgam a expansão do cine-ma brasileiro como a Mostra de Cine-ma de Tiradentes e outras que ocorremno Brasil inteiro. Andy Warhol enga-nou-se nem todos possui seus 15minu-tos de fama,pelo menos por enquanto.

CinePraça.(foto:divulgação)

ESPORTE texto e fotos: Kelly Motta;

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Ligada aos movimentos de contra cultura e

intervenções artísticas, saindo do menor mu-nicípio do Brasil, a Custom Skate Art vem ao

mercado para Contrariar as Estatísticas.

Assimcomoasmaisvariadasformasdemanifestaçãodeculturaderua,oskate

contribui, desde seu surgimento nosEsta-dosUnidosduranteadécadade60,paraaformaçãoecrescimentodejovenseadoles-centesquemuitasvezessofremcomafaltadeespaçodentrodasociedadequepriorizaoapoioàculturaclássica,considerada“culta”.

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NoBrasila lutapormaiorespaçoereco-nhecimentoganhaforçacominiciativadepessoasquefazemdesseesportesuavidaemotivaçãoparasuperarobstáculose“Con-trariar as Estatísticas”. Dessa forma, aocontráriodamaioriadasmarcasparaskateproduzidasemgrandescentrosurbanos,aCustomSkateArtsurgiunomenormunicí-piodopaís:SantaCruzdeMinas.Ocria-dordamarcaFranciscodeAssis,conhecidocomoTito,contaquenuncateveaintençãodecriá-la,aideiaapenasaconteceu.Váriosamigosecolaboradoresforamresponsáveisparaquetudoseconcretizasse.Foicriadaem2008edesdeseulançamentoimpulsio-naapráticadeskatenaregiãoeavaloriza-çãodaculturaderua.Porém,Titoquepra-ticaoesportehá14anos,observaqueaindaexistemuitotrabalhoaserfeitopelafrente.

Alogodamarcanãofoicriadacomoob-jetivodediferenciarumproduto,mascomo intuitodesimbolizarumestilodevida.Estilomarcadopelosentidodeiralém,depropor o novo, de superar qualquer bar-reira:“Deondevocênãoimaginaquevai

sair uma marca, o menor município bra-sileiro, ela sai. E esse é o sentimento daCustom, isso é contariar estatísticas, issoé Custom SkateArt” - afirma o skatista.O tema da coleção verão 2013/14, Back To Flow, têmoobjetivode resgatarpartedaessênciadoskate,dadiversãoedafluidez.Elaremetesubjetivamenteaáguaesuare-lação antagônica com o skate que se fazpresenteotempotodo,commuitoàensinar.

Quanto à falta de apoio e valorização dacultura pelos órgãos públicos, Tito sen-te a necessidade de reconhecimento naregião e acredita que assim como uma igreja é tombada pelo IPHAN, manifes-taçõesdeartecomoografite tambémde-veriam ser.Quando o assunto é reconhe-cimentodagrandemídiaeleafirma:“Nóssomos a nova mídia, se a cultura de ruaforpop, tenhomedoqueelanão resista.”

Ofuturodamarcaelepreferedeixarfluir,assim como tudo aconteceu, tendo o es-portecomoaprendizado,semdeixaradi-versão e a paixão de lado.

FOTOGRAFIA

O rosto da

texto: Bianca Furtado; fotos: Yvye Nathalie;

Ewá. Bela, virgem e guerreira. Ewá re-presenta um orixá do Candomblé pela

qual Xangô se apaixonou,mas não conse-guiu conquistá-la. Casta, a divindade fu-giu e refugiou-se nas matas inalcançáveis,tornando-se assim, guerreira e caçadora. Foi esse o tema escolhido pela estudantede Comunicação Social da UniversidadeFederal deSão JoãoDelRei,YvyeNatha-lie,paraconduziroensaio fotográficoparaa disciplina de Fotojornalismo. O objetivodo trabalho era avaliar o olhar e a técnicados alunos como fotojornalistas e montarumarevista.“Umolharapuradoparacaptarum ângulo ou um detalhe às vezes imper-ceptívelparaalguns,oumesmoparapegaraqueleinstantedecisivodafotografia,oque

paraissoprecisadesorte.Nãosoufotógrafaprofissional, apenasgostode registrar ima-gens de pessoas queridas” comenta Yvye.Yvye decidiu fazer um ensaio que explo-rasse a beleza negra. Emuito além da es-tética, a beleza da força e da conquistade uma nação. Ela retrata, então, a forçados negros juntamente com a bela histó-ria de Ewá, a senhora das possibilidades. Yvye explica queEwá “comomulher, ca-racterizaria a feminilidade (independen-te de ser homem ou mulher) em toda suadelicadeza, mas ao mesmo tempo se trata de uma guerreira. O que pra mim repre-senta toda a luta e conquista dos negros.Uma luta diária por igualdade e respeito. 10

O ensaio fotográfico feito pela estudante de Jor-nalismo, Yvye Nathalie, aborda muito mais que beleza negra, mas a força e conquistas desse povo.

Quanto a questão da virgindade,Ewá é aprotetora de tudo que é inexplorado.As-sim como havia dito no editorial da re-vista “podem ter explorado meu corpo,mas nuncaminha alma”, isso fazendo re-ferenciaa tantosanosdeescravidão que,apesar de tudo, não afetou a efetivaçãoda cultura e peculiaridades dos negros.”

Comaajudadeseusamigos,Inara,Marci,SávioeJessé,Yvyedizterconseguidopas-saroquedesejava.Cadaumdosmodelosre-presentouosdiferentestiposdalutaracial.“AprimeirasessãodefotosfoicomaIna-ra.Elaéumamulherigualmenteguerreiraeenvolvidaemcausassociais.Nesseensaioeuquisretrataralutadamulhernegratidacomo objeto sexual, herança maldita doBrasilColônia.Numsegundoensaio,feitocomaMarci,quismostrarabelezaportrásdaefemeridade.Abelezaqueirradianobri-lhodosolhosenosorriso,independentedepadrõessociaisestéticos.ComoSavinho,euquismostraraquestãodavitóriadiáriacontraopreconceito,apartirdeumolharesperançosoparaofuturo.JáoJessé,útimoensaio,quismostraraquestãodaperiferiaeopreconceitocultural,ondeumsimplesestilo ganha conotação de criminalidade.”

Paraela,amisturaderaças,culturaseide-ologiassãomuitoimportantesparacomporumBrasilmais rico. E usando a frase deChicoScience,“Somosjuntosumamisci-genaçãoenãopodemosfugirdanossaet-nia”,elaconfirmaqueavalorizaçãodessadiversidadeéessencialparaaafirmaçãodenossa identidade.Aindaqueosbrasileirosnão procurem conhecer o vasto univer-so cultural em que vivem para exaltar acultura estrangeira, é bom que comecema enxergar essa diversidade como um ca-minho para a aceitação das diferenças.

Com o trabalho finalizado Yvye diz que“ver o resultado e também a satisfaçãodos meus amigos que toparam posar pra mim foi uma felicidade enorme. Colo-quei muito sentimento na realização dasfotose acreditoqueconseguimaterializaresse sentimento.” E sem dúvidas repre-sentoumuitobem,comoelamesmadisse“a vozdomorroque ecoana sociedade”.

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BATIDA texto: Jéssica Loures;

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As verdades são

rimas cantadas!

Grupo “Ideologia de Paz” fala sobre os desafios do rap, das dificul-dades na carreira e na defesa do estilo musical mais descriminado.

Tudocomeçouem1994comafebredogrupodeRapmais conhecidodopaís, os “Racio-

naisMc’s”queentorpeceramessageraçãocomrimasmilimetricamentepensadasqueatingiramdosmaisnovosaomaisvelhos,colocandoorapnacionalemascensão.EláestavamosprimosRo-drigoResende(27)eWesleyTeixeira(22)escu-tandoeabsorvendotodaessaculturaparatemposdepoisse tornaremrappersdogrupo“IdeologiadePaz”,queestánaestradahá8anos,levandoasrimasdapossibilidadepelasruasSãoJoanenses.

Rodrigo começou a escrever suas próprias le-tras em meados de 1998, embalado pela in-fluência do rap nacional e internacional daépoca. Wesley, embora não tenha terminadoo ensinomédio, sempre teve interesse pela es-crita de textos e poemas, e foi no rap que osdois encontraram uma forma de expressão.

Ogruponasceuem2006,eeracompostoporcin-co integrantes,porémo tempoe ideiasdiferen-tesossepararam,fazendopermanecerapenasosdois que acreditaramno rap e o transformaramempropósitodevida.Praticamenteparadosportrêsanos,comrarasapariçõesnocenário local,o “Ideologia de Paz”marcava presença apenasduranteofestivaldoInvernoCulturalqueocorreemSãoJoãodel-Reianualmente.Wesleyexpli-caseupontodevistaa respeitodoafastamentodosintegrantes:Cada um foi fazendo uma coisa e foi deixando o grupo de lado, mas quem acredi-

tou mesmo ficou, como nós dois–afirmaWesley. As marcas na vida serviram de incentivo paraseguir o caminho que o rap mostrou aos dois.A vida de Rodrigo foi difícil na infância,com a falta de presença do pai e o sofrimen-to constante da mãe. Mas ele não se deixouabater pelos problemas que a vida lhe impôs.

Eu era uma criança muito caseira, mas deixei de ser criança porque eu tive muito problema com meu pai, pois ele era usuário de drogas. Eu via aquilo tudo que meu pai fazia, vendo minha mãe sofrer, acho que é até por isso que eu sou quem eu sou hoje. – afirma Rodrigo.

O“IdeologiadePaz”éformadopeladupladesdenovembrode2013, como lançamentodo clipe“AgoraChora”quejáultrapassou1.900visuali-zaçõesnoYouTube.Comproduçãoindependen-te, o grupo possui quatro clipes gravados, além de váriasmúsicaslançadas.ComshowspelaregiãoeaténoRiodeJaneiro,aduplaseguefirmecomoidealdecrescercadavezmaisnomeiomusi-cal.Em2008,ogrupochegouafazeraaberturado showdosRacionaisMc’s, em Juiz deFora.

Oclipedamúsica“FaçaAcontecer”,quefoilan-çadorecentemente,éumgrandemarco,afinal“overdadeirosabordaconquistaéquandovemoreco-nhecimento”–jáfalaRodrigonocomeçodoclipe.

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Rodrigo(direita)eWesley(esquerda)formamogrupo“IdeologiadePaz”(foto:JéssicaLoures)

Quando passamos a gravar nossos clipes, tivemos um retorno maior e recebemos mais reconhecimen-to. Inclusive o produtor do clipe não nos cobrou nada pelo trabalho, pois ele afi rmou que a música fazia parte de um processo da vida dele, afi rmam.

Quando alguém diz para nós “essa música de vocês é a minha vida”, não tem nada melhor –dizWes-ley.Agentetentaescrever,nãoumamúsicaquevaiservirdiretamentepravocê,masvaidependerdasituaçãoquevocêseencontra,completaRodrigo.

O fato é que o rap evoluiu e os artistas que fi-zeram muito sucesso no passado estão caindona inércia e sendo ultrapassados pela nova ge-ração do rap nacional. Para a dupla, a ideologiadeve ser mantida, mas deve ser transmitida de ou-tra forma, pelos tempos atuais serem diferentes.

O pessoal mais antigo tem a cabe-ça mais fechada - afirma Rodrigo.

É necessário novas ideias, não adianta escre-ver sobre as mesmas coisas que os outros já fa-laram apenas, você precisa fazer isso de umjeito diferente. Aquelas ideias fizeram sucesso na-quelaépoca,elesprecisamseadaptar,afirmaWesley.

Amídiaéumdebateetantoparaoestilomusicalque

maisagrideosistema.ComapariçõesnaTV,grandesrappersforamacusadosdedeixaraideologiamorrer,masparaRodrigo,énecessáriosaberlidarcomamídia.

Você precisa chegar na mídia, depois que você che-ga, é tudo mais fácil. Você pode dar o que eles que-rem, mas do seu jeito, você só precisa manter a sua identidade –afirma,edefendequeamídianãoprecisaser usada como inimiga,mas sim como aliada paraalcançar a visibilidade que qualquer artista almeja. Do mesmo jeito que a mídia de levanta, ela te derruba. O artista tem que saber lidar com a fama, se ele apare-cer muito sua imagem fi ca desgastada–afirmaWesley. Precisamos ser reconhecidos e não descrimina-dos, mas o próprio Rap se exclui, ele deve se unir a outros estilos, afi nal tudo é música – defendem.

Sobreavisibilidadenocenárionacional,orapperdevinteedoisanosafirmaqueissodependenoníveldeaceitação das pessoas e usa o funk como exemplo.

O funk vai ter mais espaço que o rap, embora os dois tenham a mesma origem, pois o nível de aceitação do funk é maior. As pessoas querem dançar, se di-vertir, não ouvir a realidade que já vivem–comenta.

Rodrigo(direita)eWesley(esquerda)formamogrupo“IdeologiadePaz”(foto:JéssicaLoures)

A ideologia continua sendopassadade geração a ge-ração, mas o preconceito continua presente. Dadocomo o estilomusicalmais complexo, o rap e quemestá envolvido nele - seja cantor ou fã - sofre pre-conceito. Na vestimenta ou no jeito de falar, para adupla, a descriminação está no olhar das pessoas.

Só de falar que é rap, já tem uma descrimina-ção, já falam que é estilo musical de malandro, de bandido. Só de colocar um boné na cabeça. Você percebe pelo olhar das pessoas, afirmam.

Adedicaçãodaduplahojeémaior,poiselestêmacredi-tadonoprópriotrabalho,alémdesesentiremmaisde-pendentesdesimesmos,oquetemfacilitado.OgrandedesejodeRodrigoeWesleyésededicarem100%aorap,masafirmamqueinicialmentenãoháretornofinanceiro.

Pra falar a verdade a gente não ganha dinhei-ro com o rap, mas o nosso grande sonho é viver de nossas letras, afirma Rodrigo. Você poder ga-nhar dinheiro com aquilo que você gosta, com aqui-lo que sempre fez de graça, é ótimo, defendem.

Asdificuldadesnacarreirasãoinevitáveis,masopre-conceitoenrustidoeanãovalorizaçãodaculturadoraplocal,dificultaaascensãodadupla.Osdoiscitamalgunseventosqueestiverampresenteseexplicamodescaso.

A maior dificuldade para nós é a questão de estrutu-ra. Você chega em um lugar pra cantar e o microfone é daqueles de karaokê, com uma caixa de som ruim, você tem se que virar de qualquer jeito,afirmaWesley.

No último Inverno Cultural de São João Del--Rei, a dupla foi se apresentar e nem os apa-relhos de som estava arrumados para o show.Doisdiasdepois,umadasprincipais atraçõesdo fes-tival,orapperpaulistaCrioulo,seapresentouefezlo-taroevento,estemuitobemorganizado.Acríticadadupla é com relação à atenção dada aos artistas que

vem de fora, desvalorizando assim os locais. De-talhe que o “Ideologia da Paz” subiu ao pal-co sem receber nenhum ganho financeiro. Se fosse outro grupo, de outra cidade, eles dariam mais atenção. Pode vir um rapper qualquer, só de falar que é de fora, já valorizam muito mais do que a nós-afirmaWesley.

Nós não temos nem contato com esses caras que a pre-feitura paga caro pra vir fazer uma apresentação. Nós subimos no palco de graça, cantamos com a estrutura precária e não somos valorizados–desabafaRodrigo.

Se apoiandomuito aCharlesDarwin e sua teoria daadaptação,aduplafalasobreasituaçãodorapnacio-nal e internacional.ParaRodrigo, o rap internacionalse aliou demais ao pop e está perdendo a essênciaquehaviaemTupacShakur,Eminem,entreoutros.Eo nacional? Bem, o rapper de vinte e sete anos afir-ma que rap brasileiro está “tentando se encontrar”.

“Nãoéomaisfortequesobrevive,nemomaisinteli-gente,masoquemelhorseadaptaàsmudanças”,sábiafrasedeDarwinqueRodrigopregaemsuacarreiraparanãopararnotempo.Aideologiadapazapareceacadamúsicadogrupo,masosdoisrappersaindaprocuramumpontodepazemsuasvidas.Pormeiodorap,acha-ramocaminhoparacontinuaremacreditandoeatraindoaspossibilidadesqueficamcadadiamaisreaisnalutadestes dois guerreiros. É questão de fazer acontecer.

“Se você mesmo acredita que você vai che-gar, você vai chegar”, finaliza Wesley.

Atransmissãodapazcomofocoprincipaldorap(foto:divulgação)

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