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HEMANGIOSSARCOMA CARDÍACO EM CÃO: RELATO DE CASO

CARDIAC HEMANGIOSARCOMA IN A DOG: CASE REPORT

Ana Raquel de A. Ferreira1; João Moreira da Costa Neto2; Arianne Pontes Oriá2; Eduardo Luis Trindade Moreira2; Deusdete Conceição. Gomes Junior.3; Lorena Gabriela Rocha Ribeiro4, Joelma

Jesus da Silva5, Carlos Humberto Vieira Filho1 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo relatar a presença de hemangiossarcoma cardíaco, com metástases pulmonar, esplênica e hepática em uma cadela, castrada, de sete anos de idade, bem como associar as alterações clínicas identificadas com os achados dos exames utilizados para o diagnóstico de tais tumores. Palavras chave: neoplasia, coração, canino. ABSTRACT The present study aims reporting cardiac hemangiosarcoma, with metastasis to the lung, spleen and liver, in a 7 year old neutered bitch, as well as the identified clinical alteration and main methods adopted for tumor identification. Keywords: hemangiosarcoma, cardiac, dog

O hemangiossarcoma é a neoplasia cardíaca primária mais freqüente em cães de meia idade. Prevalente em caninos de grande porte, sendo o Pastor Alemão a raça mais acometida e observa-se maior incidência em fêmeas castradas (BROWN et al. 1985). O átrio direito é o principal sitio de ocorrência, contudo observa-se o hemangiossarcomacardíaco (HSC) em outros locais como junção atrioventricular direita, lúmen atrial e ventricular e ventrículo esquerdo (PALACIO et al. 2006).

A magnitude das alterações cardiovasculares determinadas por estas neoplasias varia conforme a localização, tamanho, presença de efusão pericárdica e tamponamento cardíaco resultante. Desta forma são comuns sinais de comprometimento hemodinâmico como fraqueza, pulso fraco, distensão jugular, intolerância a exercícios e síncope. Alguns animais podem ainda ter morte súbita devido intensa hemorragia causada por ruptura de grandes massas intraperitoneais ou intrapericárdicas (AUPPERLE et al. 2007). O diagnóstico precoce do tumor é difícil, uma vez que a sintomatologia associada ao comprometimento hemodinâmico está relacionada ao avanço da neoplasia sobre as estruturas cardíacas e metástases (SWARTOUT et al. 1986).

Uma cadela, sem raça definida, castrada, de sete anos de idade e pesando 21kg, foi atendida com histórico de apatia, fraqueza, perda de peso, hiporexia e intolerância a exercício, observados há uma semana. Ao exame clínico o animal apresentava-se letárgico, com mucosas hipocoradas, tempo de preenchimento capilar (TPC) maior que 3 segundos, dispnéia, temperatura retal de 37,1ºC, leve grau dedesidratação, sons cardíacos abafados à auscultação e pulso femoral fraco.

Amostras de sangue foram coletadaspara realização de hemograma e analise bioquímica (Uréia, Creatinina, Fosfatase alcalina, Alanina aminotransferase e Albumina). O resultado do hemograma revelou anemia normocítica normocrômica, com presença de hemácias nucleadas, trombocitopenia moderada (127.000/uL – referência 166.00-575.000u/L) e acantócitos. A fosfatase alcalina foi o único parâmetro bioquímico alterado (426U/L – referência 20-156U/L). Todos os demais resultados estavam dentro dos valores de referencia para cães.

Foram realizadas radiografias torácicas em incidências ventro-dorsal, lateral esquerda e direita, onde foi evidenciada silhueta cardíaca aumentada com formato globoso, compatíveis com o quadro

1Médica Veterinário (a) – Programa de especialização em Medicina Veterinária sob a forma de residência. EMVZ - UFBA 2Médico Veterinário (a) – Professor(a) Departamento Patologia e Clínicas – EMVZ – UFBA. 3Médico Veterinário – Programa de Pós-Graduação Cirurgia Veterinária – FCAV –UNESP. 4Médica Veterinária – Programa de Pós-Graduação Ciência Animal nos Trópicos – EMVZ –UFBA. 5Bolsista de Iniciação Científica – EMVZ – UFBA Apoio: Procad NF08/CAPES

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clínico de efusão pericárdica. Baseado neste achado optou-se por realização de pericardiocentese para estabilizar o animal e aliviar as alterações clínicas relacionados com tamponamento cardíaco.

Durante o processo de pericardiocentese, onde foi drenado aproximadamente 350 ml de fluido sanguinolento, o animal foi acompanhado por eletrocardiografia, não surgindo nenhum complexo ventricular prematuro que pode ocorrer secundário ao contato do cateter no coração. Neste momento também foi possível identificar taquicardia sinusal, alternância elétrica e ondas QRS de baixa amplitude, que voltaram ao normal ao final da drenagem pericárdica. Ato contínuo foi realizado novo Rx, quando foi identificada massa sobreposta ao átrio direito, não vista anteriormente, devido presença de efusão pericárdica. O ecocardiograma feito posteriormente confirmou presença de massa oval, hipoecogênica e homogênea, medindo 4,0 x 4,8 cm, sobrepondo o átrio direito, sugestivo de processo neoplásico.

O animal veio a óbito antes da realização do procedimento cirúrgico de toracoscopiaexploratória e biopsia da massa. Ao exame post-mortem observou-se presença de hemoperitônio, com aproximadamente 900 ml de conteúdo. Identificada área de hemorragia bilateral entre 5º e 11º costelas. O fígado apresentava-se aumentado de volume, com bordas abauladas, consistência friável, coloração amarelo pálido, com padrão lobular evidente e presença de múltiplos nódulos, o maior medindo 3,5 x 2,5cm, de coloração brancacenta e com áreas de hemorragia. No baço foi encontrado um nódulo de aproximadamente 8,0 x 7,0 x 4,0 cm de diâmetro, de consistência friável, com coloração avermelhada no centro e enegrecida na periferia, preenchido por sangue; outras nodulações menores com as mesmas características distribuíam-se de forma multifocal no parênquima do órgão. O pericárdio encontrava-se preenchido por discreta quantidade de sangue. No coração havia um nódulo localizado na parede atrial direita, sem invasão intraluminal, aderido ao pericárdio, medindo 5,5 x 5,0 cm, com superfície multilobular de coloração avermelhada, apresentando ao corte coloração avermelhada, com áreas enegrecidas.No parênquima pulmonar foram visualizados múltiplos nódulos variando de 1,0 cm a milimétricos, de coloração vermelho enegrecido e consistência firme.

Fragmentos de baço, coração, estômago, intestino, pulmão, diafragma, músculo intercostal, fígado e rim foram coletados para exame histopatológico. Os tecidos foram fixados em formol neutro, tamponado com fosfato a 10% e processados pela técnica rotineira de inclusão em parafina. Secções histológicas de 4µm foram coradas pela técnica de Hematoxilina-Eosina (HE).

Os nódulos cardíaco, esplênico, hepático e pulmonar, possuíam características histológicas semelhantes. Revelou-se intensa e difusa infiltração de células endoteliais imaturas, de aspecto pleomórfico, caracterizadas por possuírem escasso citoplasma eosinofílico, núcleos grandes e pequenos, redondos e ovóides, mas notadamente fusiformes e hipercromáticos, com nucléolos pouco visíveis. Muitas células aparecem em formas bizarras, multinucleadas e atípicas. As células neoplásicas arranjam-se formando espaços vasculares normalmente preenchidos por hemácias e leucócitos, outras vezes por formações trombóticas, sustentadas por tecido conjuntivo frouxo e delicado, muitas vezes acelular e hialino. Índice mitótico em torno de quatro a cinco mitoses por campo e atípicas. Presença de áreas hemorrágicas com siderófagos e de infiltrado inflamatório mononuclear difuso. Achados histopatológicos compatíveis com hemangiossarcoma apresentando disseminação metastática.

O animal deste estudo possuía um tumor cardíaco único, localizado no átrio direito, medindo 5,5 X 5,0cm, de superfície multilobular e áreas enegrecidas ao corte, além de múltiplos nódulos no parênquima pulmonar, esplênico e hepático, suspeitando-se de HSC cardíaco, e confirmado por exame histopatológico. Apesar da análise imunohistoquimica não ter sido empregada neste trabalho para confirmar a origem cardíaca primária do HSC, tal afirmativa foi possível, baseando-se na localização, dimensões e achados macroscópicos do tumor cardíaco, afirmativa que corrobora com os achados de Aupperle et al. (2007), que referem que hemangiossarcomas localizados no átrio direito e medindo acima de 5cm de diâmetro, são neoplasias cardíacas primárias, relatos comprovados por exame imunohistoquimico.

Kleine (1970) justifica ainda que os hemangiossarcomas localizados no átrio direito são neoplasias primárias, baseado no fato de que estas massas cardíacas são usualmente solitárias, enquanto que os hemangiossarcomas localizados em outros órgãos frequentemente são múltiplos, sugerindo sua origem metastática. Além do que, o átrio direito é o local conhecido por dar origem aos sarcomas nos animais.

As alterações relatadas pelo proprietário, bem como os sinais clínicos apresentados pelo cão deste estudo eram compatíveis com insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Baseado nesta suposição

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realizou-se exame radiográfico de tórax, onde o coração estava com formato globóide e silhueta aumentada, imagem compatível com efusão pericárdica (AUPPERLE et al. 2007). A imagem ovalada, obtida no segundo Rx e também observada por ecocardiografia, não mostrou haver indícios de alterações na função cardíaca. Tais achados corroboram com a afirmativa de que o tumor cardíaco foi a causa primária do acúmulo de efusão pericárdica, que por sua vez foi responsável pelo surgimento dos sinais de ICC, já que o animal não possuía uma disfunção cardíaca intrínseca que justificasse o acúmulo de derrame pericárdico. Esta suposição é fortalecida pelos achados de Johnson et al. (2004) que afirmam que cães com HSC cardíaco geralmente possuem rápido acumulo de efusão pericárdica e colapso, proveniente de tamponamento cardíaco agudo, caracterizados por uma menor quantidade de liquido acumulado, enquanto animais com efusão pericárdica secundária a outras causas, que não tumor cardíaco, acumulam de forma lenta maiores quantidades de liquido (cerca de 730ml) e apresentam pequenas alterações hemodinâmicas. Do animal deste relato foi drenado somente 350 ml de fluido pericárdico hemorrágico, volume que foi suficiente para promover sinais clínicos compatíveis com tamponamento cardíaco severo, confirmando, portanto que a massa cardíaca foi o motivo primário para o desenvolvimento do derrame pericárdico.

Os achados hematológicos de cães com HSC são incomuns e podem auxiliar no diagnóstico (KLEINE et al. 1970). As alterações hematológicas identificadas no animal deste trabalho foram anemia normocítica normocrômica, com presença de hemácias nucleadas, alterações relatadas na literatura consultada (SWARTOUT et al. 1986). A anemia possivelmente surgiu por desvio de sangue da circulação para dentro dos maiores hemangiossarcomas, localizados no coração e principalmente no baço do cão em estudo. A elevada quantidade de hemácias jovens lançadas na circulação provavelmente ocorreu em resposta à destruição e seqüestro sanguíneo pelos hemangiossarcomas. Hipótese que justifica o motivo pelo qual cães com HSC apresentam sinais de hematopoiese ativa com grande número de hemácias imaturas circulantes no sangue. Outra explicação possível é a hipoxemia, que pode ocorrer em cães com HSC cardíaco, como resultado de falência cardíaca, má oxigenação sanguínea por comprometimento tumoral nos pulmões e/ou pela possível estagnação de sangue dentro dos canalículos vasculares do tumor, estimulando a produção de hemácias nucleadas (KLEINE et al. 1970).

O prognóstico para animais com HSC é sempre reservado, uma vez que se trata de uma neoplasia, muito invasiva, com período de evolução rápido e incontrolável. O diagnóstico precoce é raro, uma vez que os sinais clínicos estão usualmente relacionados com o avanço da doença, geralmente relacionados com envolvimento metastático. Os animais portadores de HSC podem morrer subitamente como resultado de extensa hemorragia devido ruptura de tumores localizados na cavidade peritoneal e/ou pericárdica, ou como complicação da doença metastática, coagulação intravascular disseminada ou arritmias cardíacas. O animal deste relato veio á óbito por provável choque hipovolêmico, secundário a ruptura do hemangiossarcoma esplênico, com subsequente formação de hemoperitônio. REFERÊNCIAS AUPPERLE, H.; MÄRZ, I.; ELLENBERGER, C.; BUSCHATZ, S.; REISCHAUER, A.; SCHOON, H.A. Primary and Secondary Heart Tumours in Dogs and Cats. J Comp Path, v.136, p.18-26, 2007. BROWN, N.O.; PATNAIK, A.R.; MACEWEN, E.G. Canine hemangiosarcoma: retrospectiveanalysis of 104 cases. J Am Vet Med Assoc, v.186, n.1, p.56-58, 1985. JOHNSON, M.S.; MARTIN,M.; BINNS, S.; DAY, M.J. A retrospective study of clinical findings, treatment and outcome in 143 dogs with pericardial effusion.Journal of Small Animal Practice, v.45, p.546-552, 2004. KLEINE, L.J.; ZOOK, B.C.; MUNSON, T.O. Primary cardiac hemangiosarcomas in dogs.J Am Vet Med Assoc, v.157, n.3, p. 326-337, 1970. PALACIO, M.J.F.; LÓPEZ, J.T.; RÍO, A.B.; ALCARAZ, J.S.; PALLARÉS, F.J.; SWARTOUT, M.S.; WARE, W.A.; BONAGURA, J.D. Intracardiac Tumors in Two Dogs. Journal of the American Animal Hospital Association, v.23, p.533-538, 1986. SWARTOUT, M.S.; WARE, W.A.; BONAGURA, J.D. Intracardiac Tumors in Two Dogs.Journal of the American Animal Hospital Association, v.23, p.533 – 538, 1986.