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7/24/2019 Herarquia de Desacordo de Graham
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Como entrar em desacordoA internet transformou a escrita em conversao. H vinte anos, escritores escreviam e
leitores liam. A internet permite que seus leitores respondam, e cada vez mais eles fazem
em comentrios em posts, fruns e em seus prprios blogs. Muitos daqueles que
respondem tem algo a discordar sobre o que leem. Isso j esperado. Concordar com um
texto motiva menos as pessoas do que discordar. Quando voc concorda, h menos para
se dizer. Voc pode expandir o que o autor afirmou, mas talvez ele j explorou todas as
implicaes interessantes. Quando voc entra em desacordo, voc est entrando em um
territrio que o autor ainda no explorou.
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O resultado que h muito mais divergncias acontecendo, e voc pode medir isso pelas
palavras e respostas por a. Isso no significa que as pessoas tem se tornado raivosas. A
mudana estrutural na maneira de como ns nos comunicamos j suficiente para
explicar isso. Apesar de no ser a raiva que est causando um aumento nos nmero de
desacordos, h o perigo de que o aumento no nmero de deles faa com que as pessoas
se tornem mais raivosas e infelizes umas com as outras. Particularmente online, onde
fcil dizer coisas que voc nunca diria cara a cara.
Se ns vamos entrar em desacordo mais vezes, ento ns deveramos tomar cuidado com
isso. Muitos leitores conseguem saber a diferena entre xingamentos e uma refutao
cuidadosamente construda, mas eu acho que ajudaria se colocassemos nomes para os
estgios intermedirios. Ento tentaremos estabelecer uma hierarquia do desacordo.
0) XingamentoEssa a forma mais baixa de desacordo e provavelmente a mais comum. Todos ns j
vimos comentrios assim:
vc uma bicha!!!
Mas mais importante perceber que uma forma mais articulada de xingamento tambmtem o mesmo peso. Um comentrio do tipo
O autor pedante e o artigo horrvelmente construdo.
no nada alm de uma verso pretensiosa devc uma bicha!!!.
1) Ad HominemUm ataquead hominemno to fraco quanto um simples xingamento. Ele pode conteralgum peso. Por exemplo, se um senador escreve um artigo dizendo que os salrios dos
senadores deveriam ser aumentados, algum poderia rebater:
Claro que ele diz isso. Ele um senador.
Isso no refutaria o argumento do autor, mas pode pelo menos parecer relevante para este
caso. No entanto, ainda uma forma bem fraca de desacordo. Se h algo de errado com o
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argumento do senador em si, ento voc deveria dizer o que est errado; e se no h,
ento que diferena faz o fato de ele ser um senador?
Dizer que um autor no tem autoridade para escrever sobre um assunto uma variante
dead homineme particularmente uma variante intil, pois as boas idias geralmente vm
dosoutsiders(aqueles que ainda so desconhecidos no meio). A questo sobre o autor
estar correto ou no. Se a sua falta de autoridade causou e fez com que ele cometa erros,
ento aponte-os. E se falta de autoridade no est ligada aos supostos erros, ento ela
realmente irrelevante.
2) Respondendo ao tomNesse nvel superior comeamos a ver respostas ligadas diretamente ao contedo do
texto, ao invs de serem ligadas ao autor. A forma mais inferior desse tipo de argumento
discordar do tom utilizado pelo autor no texto. Por exemplo:
Eu no posso acreditar que o autor rebate o esign nteligente de maneira to
arrogante.
Apesar de ser melhor do que atacar o autor, esse ainda uma forma fraca de divergir.
muito mais importante saber se o autor est certo ou errado do que apontar os dedos para
o tom utilizado em seu escrito. Especialmente porque difcil julgar um tom de maneira
isenta. Algum que est emocionalmente envolvido com determinado tema pode sentir-se
ofendido por um determinado tom, enquanto o mesmo pode ter sido percebido como
neutro por outros leitores.
Ento, se a pior coisa que voc pode dizer a respeito de algo criticar o seu suposto tom,
ento voc no est dizendo muito. O autor rude, porm correto em seus argumentos?
Melhor isso do que ser grosseiro e estar errado. E se o autor est errado em algumaafirmao, aponte onde est o erro e refute.
3) Contradio nesse estgio que ns finalmente encontramos respostas minimamente substanciais
para o que foi dito, ao invs de respostas para como tais coisas foram ditas ou por quem
elas foram ditas. A forma mais baixa de se responder um argumento simplesmente
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afirmar o oposto, contradizendo o autor, com nenhuma ou pouca evidncia, atravs de um
argumento falacioso ou simplesmente frgil.
Esse tipo de argumento muitas vezes combinado com argumentos do tipo(2), de
resposta ao tom:
Eu no posso acreditar que o autor rebate o esign nteligente de maneira to arrogante.
O esign nteligente sim uma teoria cient"ica.
A contradio pode ter algum peso. s vezes, apenas contradizer e afirmar o
oposto explicitamente pode ser suficiente para verificar-se que est correto. Na maioria dos
casos, evidncias e uma argumentao mais rica so necessrias.
4) Contra-argumentoNo nvel(4)encontramos a primeira forma de desacordo convincente: o contra-argumento.
At esse ponto, todas as formas anteriores podem ser ignoradas como irrelevantes e muito
inferiores. O contra-argumento pode provar ou refutar algo. O problema que pode ser
difcil verificar o que um contra-argumento realmente prova.
Um contra-argumento uma contradio expressa em conjunto de evidncias confiveis e
argumentao lgica slida. Quando direcionado diretamente contra o argumento original
do autor, ele pode ser convincente. Mas infelizmente comum encontrar contra-
argumentos que esto atacando posies diferentes daquelas aladas originalmente pelo
autor. Nesse sentido, podemos dizer que um bom contra-argumento pode estar tentando
atacar um espantalho do argumento original do autor criado conscientemente ou no e
que uma verso distorcida do argumento, geralmente fcil de ser rebatida. Muitas vezes,
duas pessoas esto discutindo passionalmente sobre duas coisas completamente
diferentes. Os indivduos at concordam um com o outro, mas esto to profundamenteenvolvidos no embate que acabam cegando para esse fato.
possvel que exista uma razo legtima para argumentar contra alguma coisa
ligeiramente diferente daquela que sustentada originalmente pelo autor: quando voc
percebe que ele deixou escapar o mago ou ponto central da questo. Mas quando voc
fizer isso, deve dizer explicitamente, de maneira textual e direta, que voc percebeu que o
autor errou por pouco o alvo.
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5) RefutaoA maneira mais convincente divergir de seu proponente a refutao. tambm a mais
rara, j que a mais difcil. De fato, a hierarquia do desacordo forma uma espcie depirmide, no sentido de que as formas que se encontram no topo so as mais raras de se
encontrar.
Para refutar algum, preciso que provavelmente voc faa uma citao do argumento do
mesmo. Voc precisa ser capaz de achar uma fumaa ou ponto fraco em uma
passagem do texto do autor que voc percebe que est errada, e ento explicar por que
ela est errada. Se voc no consegue encontrar uma passagem textual, de preferncia
clara e objetiva, ento possvel que voc esteja correndo o risco de estar argumentandocontra um espantalho criado pela sua prpria sede de encontrar uma falha nos
argumentos do autor.
Mesmo que a refutao geralmente venha forma de criao de citaes de passagens do
texto do autor, o fato de estar citando passagens diretas do texto do autor no implica que
uma refutao est realmente acontecendo. Algumas pessoas citam partes do texto que
elas discordam apenas para dar a aparncia de que esto prestando ateno nos
argumentos, e de que esto produzindo uma refutao legtima, quando na verdade esto
construndo uma resposta to inferior quanto uma(3)contradio ou um(0)xingamento.
6) Refutando o ponto central.A fora de uma refutao depende daquilo que voc refuta. A forma mais poderosa de
desacordo refutar o ponto central afirmado por algum.
Muitas vezes, mesmo em nveis alto como(5), encontramos desonestidade intelectualdeliberada, como por exemplo quando algum refuta apenas os argumentos acessrios ou
adjacentes ao argumento central proposto pelo autor que ainda se mantm forte em seu
ponto central. A refutao do ponto central to forte e avassaladora que, na maioria das
vezes, percebida pelo pblico como um grandead hominemou como arrogncia e abuso
de intelectualidade por parte do refutador, ao invs de um argumento legtimo.
Para verdadeiramente refutar algo, necessria uma refutao do ponto central ou pelo
menos de alguns deles. E isso significa se comprometer em expressar textualmente, da
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maneira mais objetiva possvel, qual o ponto central que est sendo refutado no
momento. Ento, uma refutao verdadeiramente efetiva se parece com isso:
O ponto central do autor parece ser #. Como ele mesmo diz$
%cita&o'
(as isso est) errado por diversas raz*es+ como por e#emplo , e z-
A citao apontada no precisa ser necessariamente uma afirmao textual exata quela
expressa originalmente pelo autor em seu ponto central. Algumas vezes, alguma citao
que prove uma dependncia essencial em relao ao ponto central ja suficiente.
O que isso tudo significaAgora ns temos uma maneira ligeiramente informal de classificar formas de desacordo.
Qual o benefcio disso? Uma coisa que a hierarquia do desacordo no nos d uma
maneira de escolher um argumento vencendor. Os nveis apenas descrevem o formato dos
argumentos e no se eles so corretos. Uma resposta(6)de refutao do ponto central,
ainda que slida, pode estar completamente errada.
Mesmo que os nveis de desacordo no estremem um limite inferior sobre o grau de
convencimento de respostas e replicas em uma discusso, eles acabam sim delimitando
um limite superior. Uma resposta(6)de refutao do ponto central pode no ser
convincente, mas uma(2)de resposta ao tom do texto do autor sempre fraca e
inconvincente.
A vantagem mais bvia de se classificar formas de entrar em divergncia que isso pode
ajudar as pessoas a avaliar o que elas esto lendo. Em particular, vai ajudar elas a
identificar argumentos intelectualmente desonestos. Um orador eloquente ou escritor pode
causar a impresso de estar subjugando oponentes apenas por estar usando palavras de
impacto. De fato, essa a qualidade dos demagogos. Ao dar nomes para as diferentes
formas de entrar em desacordo, damos aos leitores um alfinete para estourar tais bales
argumentativos.
Tais rtulos podem ajudar os escritores tambm. A maioria das desonestidades intelectuais
so no-intencionais, muitas vezes irracionais e inconscientes. Algum que est
argumentando contra o tom empregado pelo autor em um texto pode realmente acreditar
que o texto est falando algo vlido. Dar um passo para trs e ver a figura de longe pode
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inspir-lo a tentar mover as suas respostas para o status de(4)contra-argumento
ou(5)refutao.
Mas o grande benefcio de entrar em desacordo de maneira racional e inteligente no
que isso pode fazer com que as nossas conversas fiquem melhores, mas fazer com que as
pessoas envolvidas nelas tornem-se mais felizes. Se voc estudar as conversas,
perceber que os argumento prximos de(1)contm muita mesquinhez e maldade. Para
destruir um argumento voc no precisa destruir o oponente. De fato, voc no quer. Se
voc se concentrar em subir a hierarquia da pirmide do desacordo, fars com que a
maioria das pessoas tornem-se felizes. A maioria das pessoas no gosta de mesquinhez;
elas s fazem isso porque se envolvem emocionalmente.
*Paul Graham, Ph.D. em Cincia da Computao pela Havard University e B.A. em
Filosofia pela Cornell University, empreendedor do Vale do Silcio e famoso pelo seu
trabalho na linguagem de programao Lisp (autor de On Lisp e ANSI Common Lisp)