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Hermenêutica Bíblica – Notas de Aula Nº 03

Assunto: Análise Léxico-Sintática Turma: Médio III Referências: Virkler - cap. 4; Berkhof - cap. 5. 1. Revisão das aulas anteriores A necessidade da hermenêutica

a) As traduções são uma forma (necessária) de interpretação. b) Nem todos os “significados claros” são igualmente claros para todos os cristãos. c) A natureza dupla, humana e divina, da Bíblia.

• Questão dos padrões de pensamento da época • Tipos de comunicação: em narrativa, as genealogias, as crônicas, leis, poesias, provérbios,

profecias, drama, etc.. O significado dos textos bíblicos para nós hoje

a) Um texto não pode significar o que nunca significou. Na verdade seu significado real é exatamente o

que Deus quis que ele significasse quando foi escrito/falado pela primeira vez.

b) Depois de entender um texto (o que ele significou), devemos ouvir o que essa mesma Palavra representa para nós hoje.

Destaques na história da hermenêutica

a) Nos primeiros séculos a interpretação era muito mística. Nenhum texto era considerado puramente

histórico, sempre havia algo de doutrinal, de profético, de filosófico e de místico (Clemente de Alexandria – 150 a 215 a.d.)

b) Ênfase no significado simbólico dos detalhes (Orígenes – 185 a 254? a.d.). c) Agostinho (354 a 430 a.d.) introduz alguns princípios importantes para a hermenêutica, tais como:

• O intérprete deve ser cristão autêntico; • Deve-ser ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura; • Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto o significado

que quiser; • Se o significado de um texto for obscuro, ele não deve constituir matéria de fé ortodoxa; e a

passagem obscura deve dar lugar à passagem clara; • Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isoladamente; Entretanto, na prática, Agostinho supervalorizou a alegorização, contradizendo sua teoria;

d) Reforma Protestante • Estudo do contexto, da gramática, das palavras e de passagens paralelas; • “A Escritura interpreta a Escritura” dizia Calvino;

e) Pós-Reforma: • Pietismo: Fim da controvérsia inútil e retorno à comunhão e às boas obras. Boa interpretação

histórico-gramatical. Pietistas mais recentes começaram a depender de uma “luz interior” ou “unção” nas interpretações, levando, muitas vezes, a interpretações contraditórias.

• Racionalismo: A razão deveria julgar que partes da revelação seriam aceitáveis.

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Um procedimento hermenêutico de seis passos (proposto por Virkler):

1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual

• Análise contextual histórico-cultural: Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos

• Análise contextual: contextual visa relacionar uma passagem com o texto completo do autor para que, considerando o seu pensamento geral, venhamos a ter um melhor entendimento de um texto em particular;

2º Passo: Análise Léxico-Sintática • Lexicologia: definição das palavras; • Sintaxe: Relação entre as palavras no texto; • Bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico.

3º Passo: Análise Teológica • Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi

escrito; 4º Passo: Análise Literária

• Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, hipérboles, antropomorfismos, etc.);

5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes • Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do

mesmo texto. 6º Passo: Aplicação

• “Traduzir” o significado original do texto, obtido pelos cinco passos acima, para a nossa própria época e cultura.

IMPORTANTE: Não há como automatizar a atividade hermenêutica. Estes passos servem apenas como um guia inicial com questões a serem consideradas durante o estudo, visando minimizar a possibilidade de interpretações equivocadas. Passo 1 – A Análise Histórico-Cultural e Contextual

a) Determinar o contexto histórico-cultural geral

• Situação política, econômica e social (Ex.: Expectativa de Jesus salvar os judeus do julgo romano);

• Costumes relacionados ao texto em questão (Ex.: Corbã, em Mc.7:10-13); • Nível de comprometimento espiritual do “público alvo”

b) Contexto histórico-cultural específico e objetivos de um livro: • Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual? • Para quem estava escrevendo? (crentes fiéis, crentes em pecado, incrédulos, apóstatas, etc.) • Qual foi a finalidade (intenção) do autor ao escrever este livro?

c) Desenvolver uma compreensão do contexto imediato • Entender como o livro é organizado (montar um esboço por assunto) • Saber contextualizar a passagem em análise na argumentação corrente o autor. • Saber identificar a perspectiva do autor.

i. Numenológica: Perspectiva Divina, absoluta (geralmente relacionadas a questões morais);

ii. Fenomenológica: Perspectiva humana, relativa (geralmente relacionadas a questões naturais, físicas);

d) Distinguir passagens descritivas de prescritivas • A ação de Deus numa passagem narrativa nem sempre significa que Deus sempre opera deste

modo com os crentes. Ex.: Dons de línguas na conversão (At.10:44 ) • Ações humanas descritas na Bíblia, se não forem claramente aprovadas por, devem ser

avaliadas. A Bíblia também registra os erros dos homens de Deus.

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e) Distinguir o núcleo de ensino de uma passagem de detalhes incidentais Ex.: Uma vez que o filho pródigo voltou para o Pai sem a necessidade de um mediador, então alguém poderia concluir que Jesus não é essencial para a salvação.

f) Definir a quem se destina cada promessa, sentença, ordenança, etc.

⇒ FIM DA REVISÃO

Passo 2 - Análise Léxico-Sintática

Visa compreendermos a definição das palavras (lexicologia) e sua relação com as outras (sintaxe) para que entendamos melhor o sentido do texto.

2. Necessidade da Análise Léxico-Sintática

• Embora as palavras possam assumir significados diferentes, só deve haver um significado num

determinado contexto: o Exemplo: Mt.: 5:12 “fermento dos fariseus” o Alguns, no desejo de parecerem originas e surpreenderem os ouvintes dão interpretações

fantasiosas. • Ninguém pode dizer: “O Espírito me diz que tal ou tal é o significado de uma passagem”. Não

podemos simplesmente aceitar tal declaração. O sentido legítimo deve ser verificado pela interpretação.

3. Passos para a Análise Léxico-Sintática:

a) Determinar a forma literária geral

• Há três formas principais: 1. A Prosa: predomina o uso literal; 2. A Poesia: predomina o uso figurativo; 3. A Literatura apocalíptica: predomina o uso simbólico; Relembrando a distinção entre sentido literal, figurativo e simbólico: o Sentido Literal: Coroa de ouro na cabeça do rei o Sentido Figurativo: Não me chame de coroa pois eu sou muito novo. o Sentido Simbólico: ... vi uma coroa de 7 pontas que eram 7 nações ...

• 1/3 do A.T. aproximadamente foi escrito em forma poética.

b) Observar as divisões naturais do texto

• Divisões em versículos e capítulos (úteis na localização de passagens) dividem o texto de modo

antinatural. • Algumas versões mantêm a numeração, mas organizam o texto em parágrafos. Seja qual for a

versão, devemos ler o texto enxergando os parágrafos e não os capítulos e versículos. Por exemplo, Atos 8:1 depende completamente de Atos 7:60.

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c) Observar os conectivos dentro de parágrafos e sentenças • Exercício (sem consulta): Em Gálatas 5:1, ao dizer-nos “Permanecei, pois, firmes e não vos

submetais, de novo, a jugo de escravidão”, Paulo quis dizer que nós não deveríamos nos submeter novamente:

a) ( ) Aos prazeres da carne; b) ( ) À escravidão do pecado; c) ( ) Ao amor ao dinheiro; d) ( ) Ao legalismo judaico; e) ( ) Ao domínio romano;

d) Determinar o sentido das palavras

• Exemplo do dia-a-dia - a palavra “acabado”:

o O muro está acabado (concluído ou danificado) o Olavo Bilac é o tipo acabado de poeta (poeta muito bom, perfeito) o José está acabado hoje (abatido, esgotado) o Como a senhora Shirley está acabada (envelhecida, cansada)

• Na primeira praga sobre o Egito, Deus tornou as águas do Nilo em sangue de modo que os

animais morreram, as águas cheiravam mal e não podiam ser bebidas. Será que necessariamente o rio se tornou em sangue (plasma sanguíneo, hemácias, plaquetas, etc.)? Não poderia o rio ter suas águas transformadas em algo com características de sangue (o que não diminuiria a ação sobrenatural de Deus)?

• Exercício: A palavra grega sa/rc [sarx] que traduzimos por “carne” aparece nos textos abaixo.

De acordo com cada versículo e os possíveis significados apresentados na coluna da direita, numere a coluna da esquerda:

( ) I Co. 15:39a: Nem toda carne é uma mesma carne;

( ) At. 2:26: por isso se alegrou o meu

coração, e a minha língua exultou; e além disso a minha carne há de repousar em esperança;

( ) Cl. 2:18: Ninguém se faça árbitro

contra vós outros, pretextando humildade e culto aos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum em sua mente carnal.

( ) Rm. 7:18: Portanto, irmãos, somos

devedores, não à carne para vivermos segundo a carne.

( 1 ) A natureza pecaminosa do homem; ( 2 ) Presunções e egoísmos dos

homens; ( 3 ) O corpo humano. A substância

global do corpo (carnes, ossos, órgãos, etc.);

( 4 ) A carne do corpo, ou seja, os

músculos;

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e) Como determinar o sentido das palavras?

• Exercício (sem consulta): Vendo as definições e explicações dadas pelos próprios autores. Por

exemplo, que significa “perfeito” em “[...] a fim de que o homem de Deus seja perfeito [...]” (2Tm.3:16-17)? 1

a. ( ) Sem pecado? b. ( ) Incapaz de cometer uma falta grave? c. ( ) Sem pecado numa área específica? d. ( ) Nenhuma das anteriores

• O sujeito e o predicado de uma sentença podem explicar-se mutuamente. 4. Ex.: Por utilizar a palavra mwranqv (moranthei) pode significar tornar-se tolo ou tornar-

se insípido, sem sabor, Mateus 5:13 poderia ser traduzido tanto por “[...] ora, se o sal vier a ser insípido [...]” ou por “[...] ora, se o sal vier a ser tolo [...]”. Entretanto, sendo o sujeito da sentença o sal, o único significado aplicável é tornar-se insípido.

• Observar se ocorre paralelismo dentro da passagem, especialmente em textos poéticos.

a. Paralelismo Sinonímico (de sinônimo): A segunda linha da estrofe repete o conteúdo da primeira utilizando sinônimos. Ex. (Sl.103:10):

“Não nos trata segundo os nossos pecados,

nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades”

b. Paralelismo Antitético (de antítese): A segunda linha da estrofe contrasta agudamente a primeira. Ex. (Sl. 37:21):

“O ímpio pede emprestado e não paga;

o justo, porém, se compadece e dá”

c. Paralelismo Sintético (de síntese): A segunda linha da estrofe completa, vai mais longe que a idéia da primeira. Ex. (Sl. 14:2):

“Do céu olha o Senhor os filhos dos homens,

para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus”

• Determinar se a palavra está sendo utilizada como parte de uma figura de linguagem.

o Exemplo: Ele tem os olhos maiores do que a barriga; Está chovendo pra cachorro. o Figuras de linguagem ocorrem na bíblia e uma interpretação literal seria desastrosa. Por

exemplo, Apocalipse 7:1 fala de “anjos em pé nos quatro cantos da terra”. Ora, sabe-se hoje que a terra não tem canto. E mesmo naquela época, quando muitos acreditavam que a terra era achatada, ninguém havia chegado à “quina da terra”. Essa espressão é uma figura de linguagem que apenas mostra que os anjos estavam agindo sobre toda a terra.

o Virkler sugere o uso de um bom manual bíblico de figuras de linguagem;

1 Resposta: Paulo esclarece de imediato que se trata de ser perfeitamente habilitado para um viver piedoso (“perfeitamente habilitado para toda boa obra”).

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• Estudar passagens paralelas.

o Informações complementares podem tornar o entendimento mais claro; o É importante distinguir paralelos verbais de paralelos reais:

a) Verbais: Utilizam palavras semelhantes, mas estão falando de coisas diferentes. Ex.: O conceito de Palavra de Deus como “espada” difere entre Ef.6:17 e Hb.4:12.

• No primeiro a espada faz parte da “armadura de Deus” para a batalha contra o mau (Jesus fez esse uso da Palavra contra Satanás);

• No segundo ela é penetrante, conhecendo todos os pensamentos e propósitos do homem, diferenciando os que são verdadeiramente obedientes dos que apenas aparentam ser.

b) Reais: Independente de usar as mesmas palavras ou não, falam do mesmo conceito

ou do mesmo evento. Obs.: A maioria das Bíblias apresentam referências para os versículos paralelos. É bom ter cuidado e verificar sempre se tal paralelo é real ou apenas verbal.

f) Sintaxe

Trata do modo como os pensamentos são expressos por meio das formas gramaticais de uma certa língua. • Cada língua tem sua própria estrutura. • Línguas analíticas: A ordem das palavras é um guia para o significado.

Ex.: Português e hebraico (um pouco menos); • Línguas sintéticas: O significado é entendido apenas parcialmente pela ordem das palavras e

muito mais pelas terminações das palavras ou pelas terminações dos casos. Ex.: Grego;

• O estudo da sintaxe utiliza principalmente os Léxicos Analíticos, as Gramáticas Gregas e Hebraicas e as Bíblias Interlineares.

• Muito do trabalho já foi feito e publicado. É importante sabermos quando é necessário utilizar desses recursos.

IMPORTANTE: Todo este estudo mais técnico deve fazer parte de qualquer exegese, mas apenas como a preparação para a exposição. Ele não precisa aparecer necessariamente no produto final. Nosso objetivo nas exposições é alimentar as pessoas, não impressioná-las.

Bibliografia

• VIRKLER, Henry A.. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. São Paulo. Editora Vida, 2001.

• FEE, Gordon D., STUART Douglas. Entendes o que lês?. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986.

• BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. JUERP, 4ª Edição, 1988.

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Hermenêutica I Atividade Extra-Classe Nº 03

Nome: _______________________________________________________ Data de Entrega: 21 de Junho de 2004

1. Alguém que perdeu o emprego recentemente está indo fazer um exame de seleção para um emprego e tem

certeza que conseguirá passar no exame porque está escrito “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl.4:13). Você concorda com o uso do versículo neste contexto? Por que?

2. Em Mateus 5:22, Jesus diz que se alguém chamar um irmão de tolo estará sujeito ao fogo do inferno, mas

em Mateus 23:17-19 ele chama os fariseus de insensatos, que é o mesmo que tolos ou loucos. Como você explica esta aparente contradição?

3. Um pregador brasileiro, muito conhecido e respeitado, certa vez disse que embora não saibamos o dia da volta de Jesus, ela ocorrerá no início do terceiro milênio da era cristã. Ele utilizou a parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37) para mostrar isso, com os seguintes argumentos:

a. O homem ferido caído na estrada tipifica (representa) a humanidade perdida nos seus pecados; b. O bom samaritano tipifica Jesus, o salvador; c. O bom samaritano (Jesus) veio, salvou o homem ferido (a humanidade), deixou 2 denários (salário

de dois dias de trabalho) e foi embora dizendo que voltaria e, se fosse o caso, pagaria algum eventual gasto a mais;

d. Como o bom samaritano deixou 2 denários, conclui-se que ele voltaria após dois dias. e. Como um denário é um salário de um dia, e um dia para o Senhor é como mil anos (2Pe.3:8), então

Jesus (o bom samaritano) voltará novamente aproximadamente dois mil anos depois da sua primeira vinda.

Utilize sua hermenêutica para interpretar a Bíblia e verificar a validade dessa aplicação da parábola do bom samaritano. Explique, citando os princípios hermenêuticos, por que você concorda ou não com esta interpretação.