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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo Hermenêutica Hermenêutica Hermenêutica Hermenêutica A interpretação e compreensão dos textos bíblicos Escola Superior de Teologia do ES

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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo

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A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC

O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais avançados sistemas de ensino da atualidade.

Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.

A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como bibliografia

para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.

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__________ SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo

_______ _______ _______ _______

Introdução......................................................................................................................................................... 04

O espírito santo e a interpretação bíblica.......................................................................................................... 05

Disposição necessária para o estudo das escrituras........................................................................................ 07

Fatores determinantes do siginificado.............................................................................................................. 08

Compreensão e interpretação........................................................................................................................... 11

Métodos da hermenêutica................................................................................................................................. 13

A exegese......................................................................................................................................................... 17

Figura retórica................................................................................................................................................... 19

Exemplos de textos com aplicação da hermenêutica....................................................................................... 24

Bibliografia........................................................................................................................................................ 29

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IInnttrroodduuççããoo

O termo "hermenêutica" provém do verbo grego "hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão".

Filosoficamente têm-se que o termo deriva do nome de Hermes, que na mitologia grega é um deus, o deus Hermes. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença "dos deuses", a qual precisa de uma interpretação para ser apreendida corretamente.

Encontra-se desde os séculos XVII e XVIII o uso do termo no sentido de uma interpretação correta e objetiva da Bíblia. Spinoza é um dos precursores da hermenêutica bíblica.

Outros dizem que o termo "hermenêutica" deriva do grego "ermēneutikē" que significa "ciência", "técnica" que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras; "interpretação" do sentido das palavras dos textos; "teoria", ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico.

Nas Escrituras é usado em quatro versículos: João 1.42; 9.7; Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. Assim vemos o termo sendo traduzido por explicar ou expor. O termo Hermenêutica, portanto, descreve simplesmente a prática da interpretação. É necessário que o estudante das Escrituras procure descobrir o significado do texto que está sendo estudado. Queremos saber o que o texto significa. Para descobrirmos o significado do texto, teremos que verificar os vários componentes envolvidos na Hermenêutica.

A divisão da hermenêutica é reconhecida como geral e específica. A geral é aquela que se aplica à interpretação de qualquer obra escrita. A específica é aquela que se aplica a determinados tipos de produção literais tais como: Leis, histórias, profecias, poesias, etc e que será tratada neste estudo por estar dentro do campo de aplicação a literatura sacra – A BÍBLIA como inspirada Palavra de Deus.

A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA

O pecado obscureceu o entendimento do homem e exerce influência perniciosa em sua mente e torna necessário o esforço especial para evitar erros. (II Pd 3.16 e De 7.10)

A aplicação e a conservação do caráter teológico da hermenêutica estão vinculadas ao recolhimento do princípio da inspiração divina da Bíblia Sagrada.

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EEssppíírriittoo SSaannttoo ee aa iinntteerrpprreettaaççããoo ddaa BBííbblliiaa

A Bíblia, como produto da inspiração divina, é a Palavra de Deus e revela aquilo em que os cristãos crêem (regras de fé) e como eles vivem (regra de prática). Os termos infalibilidade e inerrância são freqüentemente usados para descrever a fidedignidade da Bíblia.

Tudo quanto os autores desejavam transmitir com respeito a assuntos de fé (doutrina) e prática (ética) é verdadeiro. O termo inerrância significa que tudo quanto está escrito na Bíblia (informações históricas, geográficas, científicas etc.) corresponde à verdade e não pode induzir ninguém ao erro.

Um fato determinante, ultrapassando as fronteiras do tempo, envolve aquilo que o autor, conduzido pelo Espírito, desejou transmitir em seu texto. Consideremos Isaías 11.12, onde o profeta narra que Deus recolherá os dispersos de Judá desde os quatro cantos da Terra. O que ele quis dizer com esta declaração? Teria sido: Quero que saibam que a Terra consiste em quatro cantos e Deus trará de volta o seu povo desses quatro lugares? A Terra não tem nenhum canto. Pretendia Isaías afirmar algo sobre geografia? Seu propósito era falar do futuro ajuntamento do povo de Deus de todas as partes da terra. Sua declaração portanto pode ser considerada infalível e inerrante.

REGRAS PARA INTERPRETAÇÃO

É necessário usar as diferentes regras para a interpretação dos gêneros literários presentes na Bíblia. Uma parábola, uma narrativa, uma poesia, devem ser interpretadas conforme as regras. Note alguns exemplos:

PROVÉRBIOS

São declarações sucintas que empregam geralmente linguagem metafórica para expressar uma verdade geral. Contudo, os Provérbios não são leis, nem promessas. São observações gerais extraídas de um olhar sábio e cuidadoso dos fatos do dia-a-dia.

PROFECIA

Uma das regras da literatura profética envolve as profecias de julgamento. Por exemplo: Jonas 3.4. O profeta proclama à cidade de Nínive: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. Quando os ninivitas ouviram esta mensagem, proclamaram um jejum, e vestiram-se de pano de saco, desde o maior até ao menor (Jn 3.5) e o rei decretou um período de luto e arrependimento. A falta de julgamento divino fez dele um falso profeta? A regra para esse tipo de profecia encontra-se em Jeremias 18.7,8: No momento em que eu falar contra uma nação e contra um reino, para arrancar, e para derribar, e para destruir, se a tal nação, contra a qual falar, se

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converter de sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. Por outro lado, encontramos sectários anunciando a volta de Cristo, marcando datas, e as mesmas sempre falhando. Não seria legítimo entendermos que uma mudança na sentença seria semelhante à mudança de direito: não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder (Atos 1.8).Os mesmos princípios de Hermenêutica devem ser observados em outros gêneros.

"Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra." (II Tm. 3.16,17)

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." (2 Pd 1.20,21)

"Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e decaiais da vossa firmeza." (2 Pd

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DDiissppoossiiççõõeess nneecceessssáárriiaass ppaarraa oo eessttuuddoo ddaass eessccrriittuurraass

Assim como para apreciar devidamente a poesia se necessita possuir um sentido especial para o belo e poético, e para o estudo da filosofia é necessário um espírito filosófico, assim é da maior importância uma disposição especial para o estudo proveitoso da Sagrada Escritura.

1. Necessita-se de um espírito respeitoso.

Um filho que não respeita, que caso fará dos conselhos, avisos e palavras de seu pai? A Bíblia é a revelação do Onipotente. "O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito, e que treme da minha palavra." (Is 66.2)

2. Necessita-se de um espírito dócil.

Isto significa ausência de obstinação e teimosia diante da revelação divina. É preciso receber a Palavra de Deus com mansidão. (Tg 1.21)

3. Necessita-se de um espírito amante da verdade.

Um coração desejoso de conhecer a verdade (Jo 3.19-21)

4. Necessita-se de um espírito paciente.

Como o garimpeiro que cava e revolve a terra, buscando com diligência o metal precioso, da mesma maneira o estudioso das Escrituras deve pacientemente, buscar as revelações que Deus propôs e que em algumas partes é bastante profunda e de difícil interpretação.

5. Necessita-se de um espírito prudente.

Iniciando a leitura pelo mais simples e prosseguir para o mais difícil. "Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... e ser-lhe-á concedida." (Tg 1.5)

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FFaattoorreess ddeetteerrmmiinnaanntteess ddoo ssiiggnniiffiiccaaddoo

Existem três fatores que determinam o significado do texto dentro de sua interpretação: O autor, o texto e o leitor.

O AUTOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

Esse é o método mais tradicional para o estudo da Bíblia. O significado é aquele que o escritor, conscientemente, quis dizer ao produzir o texto. É importante verificar o que o autor disse em outro escrito. O que Lucas registrou em seu Evangelho poderá ser mais esclarecedor se comparado com Atos, ou registro de Lucas. Devemos levar em conta os idiomas da época: aramaico, hebraico e grego. Eles possuem um significado que não pode variar. Por outro lado, o texto está limitado ao que o autor disse exatamente? Por exemplo: lemos em Efésios 5.18: Não vos embriagueis com vinho. Alguém poderia dizer: Paulo proíbe que nos embriaguemos com vinho, mas acho que não seria errado embriagar-se com cerveja, rum, ou outra droga. Os escritos do apóstolo vão além de sua consciência, embora essas implicações não contradigam o significado original, antes fazem parte do texto e seu objetivo. Compreendemos então o mandamento paulino como um princípio, pois mesmo que o autor não esteja ciente das circunstâncias futuras, ele transmitiu exatamente a sua intenção.

O TEXTO COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

Alguns eruditos afirmam que o significado tem autonomia semântica, sendo completamente independente do que o autor quis comunicar quando o escreveu. De acordo com esse ponto de vista, quando um determinado escrito se torna literatura, as regras normais de comunicação não mais se lhe aplicam, transformou-se em texto literário. O que o texto está realmente dizendo sobre o assunto? Analisando o relato em Marcos 4.35-41 Qual é o objetivo do texto? Informar sobre a topografia do mar da Galiléia ou o mal tempo naquela circunstância? Seu objetivo era falar sobre Jesus Cristo, Filho de Deus. O significado que Marcos queria transmitir está claro: Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (4.41). O autor queria transmitir que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Filho de Deus. Ele é o Senhor e até mesmo a natureza está sujeita a ele!

O LEITOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

Segundo essa perspectiva, o que determina o significado é o que o leitor compreende do texto. O leitor atualiza a interpretação do texto. Leitores distintos encontram diferentes significados, isso porque o texto lhes concede permitir essa multiplicidade. É relevante o que pensa o leitor? Isto poderia influenciar o sentido do texto? Se compreendermos que há diferença de interpretação entre um leitor crente e outro que é ateu, a resposta é sim!

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Contudo é necessário que o leitor esteja em condições de entender o texto. Ao verificar como as palavras são usadas nas frase, como as orações são empregadas nos parágrafos, como os parágrafos se adequam aos capítulos e como os capítulos são estruturados no texto, o leitor procurará compreender a intenção do autor. O texto, em sua íntegra, ajudará o leitor a compreender cada palavra individualmente. Assim sendo, as palavras, ou conjunto de palavras, ajudam a compreender o todo.

DEFINIÇÃO DAS REGRAS

Uma utilização equivocada das ferramentas da Hermenêutica resultará em confusão e desvio, portanto, heresia. O que está envolvido no processo de interpretação? Que padrão terminológico o autor utilizou para dar significado ao texto? Que implicações se enquadram legitimamente no padrão por ele pretendido? Que significação atribui o leitor ao texto? Qual é o assunto do texto? Que compreensão e interpretação o leitor terá? Se as normas da linguagem devem ser respeitadas, que possibilidade significados é permitida pelas palavras de um texto? Foi reconhecido o gênero literário. As respectivas regras que o governam estão sendo obedecidas? O contexto prevê o significado dos objetos literários encontrados no texto?

SIGNIFICADO

O autor pretendia comunicar suas informações. Valeu-se, então, de um código de linguagem para transmitir sua mensagem. O significado não pode ser alterado, pois o autor, levando em consideração suas possibilidades ed interpretação, submeteu-se conscientemente às normas de linguagem com as quais o leitor está familiarizado. Da mesma maneira, os textos produzidos pelos autores das Sagradas Escrituras, movidos pelo Espírito Santo, têm implicações que abrangem o significado específico que eles, conscientemente, procuraram transmitir.

Isso é razoável, uma vez que o leitor deverá compreender a linguagem utilizada.

IMPLICAÇÕES

As implicações ultrapassam os significados originais. O autor não estaria ciente de novas circunstâncias. Apesar disso, elas se enquadram legitimamente no padrão de significado pretendido pelo autor. Em Gálatas 5.2 lemos: Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. O significado específico está bem claro. Se os cristãos da Galácia cedessem às pressões dos judeus e se submetessem à circuncisão, estariam renunciando a fé, recusando a graça de Deus em Cristo e procurando, consequentemente, estabelecer uma relação diferente com Deus, baseada em suas próprias obras.

Para os gentios da Galácia, aceitar a circuncisão equivalia renegar a Cristo! Hoje essa interpretação é ponto pacífico no seio da Igreja. Contudo, as implicações desse versículo ainda são proveitosas. No século 16, Lutero tomou as indulgências e a penitência proclamadas pela Igreja Católica como uma tentativa de estabelecer uma relação com Deus dependente das próprias obras. Embora Paulo não estivesse ciente das circunstâncias

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ocorridas no século 16, Lutero estava certo das implicações implícitas no significado da epístola.

No século 19 e 20, formaram-se grupos religiosos que proclamam a guarda do sábado como obrigatória para a salvação. As implicações do texto paulino são claras: não podemos misturar graça e fé com as obras da Lei. É estritamente pela fé que somos salvos - fé sem circuncisão, fé sem indulgências, fé sem penitências, fé sem guardar o sábado.

As implicações dos ensinos bíblicos ultrapassam as distâncias culturais e temporais e são luz para os problemas atuais. O mandamento olho por olho, dente por dente (Êx 21.23-25) implica em exercício da justiça. Enquanto grupos religiosos cortam a mão de uma pessoa por roubar um objeto, as Escrituras ensinam uma justiça equivalente (Êx 22.1): o objeto roubado mais uma multa. Não uma retaliação física.

SIGNIFICAÇÃO

Refere-se ao modo do leitor responder ao significado de um texto. Um cristão atribuirá significação positiva às implicações do texto naturalmente. Um descrente, pelo contrário, atribuirá significação negativa. Mesmo no corpo de discípulos cristãos, as aplicações de um mesmo texto poderá ser diferente: A Grande Comissão em Mateus 28.19,29 pode significar tornar-se um missionário em terra distante, ou um mantenedor, ou mesmo um pioneiro no próprio pais, um pastor local, ou um incentivo como professor de uma classe de Escola Dominical. Mas todas, apesar de diferentes, são respostas às implicações legítimas do significado.

O ASSUNTO DO TEXTO

Qual é o assunto do texto a ser considerado? Em Gênesis temos a história da criação; em Juízes, a história política; Salmos, a poesia hebraica; Provérbios, a sabedoria prática; Evangelhos, a vida de Jesus.

Devemos discernir qual o objetivo específico do escritor. Em Marcos 2.1-12 temos o relato da cura de um paralítico. Diversos detalhes são agregados ao texto, transmitindo-nos informações históricas, formas de construção de casas etc. Mas o que Marcos queria enfatizar realmente? Sua ênfase é percebida em vários lugares no próprio texto: 1. A questão levantada pelos escribas sobre quem tem poder para perdoar pecados (Mc 2.7); a declaração de Jesus de que o Filho de Deus tem esse poder (Mc 2.8-10); a realização de um milagre para legitimar sua declaração (Mc 2.11), a maneira como os ouvintes reagiram diante de sua declaração e do milagre (2.12): Nunca tal vimos. Marcos demonstrou que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, não existindo na Terra ninguém semelhante, pois somente ele tem autoridade divina para curar e perdoar pecados. Outra implicação legítima dessa exposição é que Jesus é o Senhor e Salvador

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CCoommpprreeeennssããoo ee iinntteerrpprreettaaççããoo

A compreensão refere-se ao entendimento correto do significado pretendido pelo autor. Já que há apenas um significado, todo aquele que o compreender terá a mesma compreensão do padrão de significado do autor. Algumas compreensões podem ser mais completas do que outras, devido à maior percepção das várias implicações envolvidas.

Como expressar essa compreensão? Há quase um número infinito de formas de expressar essa compreensão. Por exemplo: o Senhor Jesus, ao ensinar sobre a chegada do reino de Deus, valeu-se de várias parábolas. Alguns intérpretes alegam que não existe sinônimo perfeito. Ainda assim, um autor, com o propósito de evitar o desgaste de vocábulos já empregados, pode, conscientemente, desejar usar outros com o mesmo sentido. Isto porque o uso de sinônimos é previsto pelas normas da linguagem, as quais também admitem uma extensão de possíveis significados para a mesma palavra.

Há dois princípios para orientar o trabalho de tradução: palavra por palavra, ou pensamento por pensamento. A dificuldade do primeiro é que em idiomas e culturas diferentes nem sempre os vocábulos têm a mesma exatidão. O segundo princípio tem, também, suas dificuldades. Isso fica evidente quando procuramos determinar como um autor usa os mesmos termos em lugares diferentes com o mesmo significado. O valor da equivalência em tal tradução fica muito mais comprometido do que no propósito de comparar outras passagens nas quais o autor bíblico usa as mesmas palavras com o mesmo significado.

NORMAS DE LINGUAGEM

As normas da linguagem, tentam especificar a extensão de significados permitidos pelas palavras de um texto. O termo fé, por sua vez, possui ampla extensão de significados no Novo Testamento. Pode ser mera aceitação mental de um fato; em outros contextos, confiança plena; ou ainda, um conjunto de crenças. O termo fé, contudo, não pode significar algo incompatível com o contexto, como: ritual do batismo. As Testemunhas de Jeová atribuem um significado à palavra Geena que é totalmente estranha a sua natureza. Afirmam que essa palavra deve significar aniquilamento, destruição eterna, punição eterna. Onde encontramos esse termo? Leiamos Mt 5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15,33; 9.43,45,47; Lc 12.5; Tg 3.6. Algum desses versículos transmite a idéia de aniquilamento? Ou refletem um estado contínuo distante da presença de Deus? Atribuir à palavra geena um significado inadequado é um equívoco, segundo as normas de linguagem. Todo o contexto atribui à palavra geena o significado que conhecemos. Portanto, uma palavra ou frase possui uma extensão de significados. A tarefa do interprete é descobrir qual o significado pretendido pelo autor. Ao fazê-lo, estará se orientando pelas normas de expressão. Felizmente, as normas da linguagem limitam o número de possibilidades, de modo que apenas uma delas terá o significado que interessa ao autor. Por isso, o autor bíblico se manteve cuidadosamente dentro desses limites, a fim de ajudar os seus leitores a compreendera sua mensagem. O contexto é fundamental para

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reduzir os significados possíveis a apenas um significado específico.

RECONHECENDO O GENERO LITERÁRIO

Quais formas literárias estão sendo usadas pelo autor? Diferentes gêneros literários estão presentes na Bíblia. Obviamente, como os escritores da Bíblia tinham por finalidade compartilhar o significado do que escreviam, submeteram-se às convenções literárias de seu tempo. Se o leitor não ponderar esse fato, será impossível a compreensão do significado.

CONTEXTO

O contexto facilita a compreensão do significado pretendido pelo autor. Devemos entender o contexto literário como sendo aquilo que o autor procurou dizer com os símbolos utilizados antes e depois do texto em questão. Portanto, quando nos referimos ao contexto, aludimos ao padrão de significado compartilhado pelo autor nas palavras, orações, parágrafos e capítulos presentes no texto. Paulo (Rm 4.1-25) e Tiago (Tg 2.14-26) usam o termo fé com significados diferentes. Será problemático admitir que os dois escritos queriam dizer, um conjunto de crenças. Maior dificuldade haverá se assumirmos que Paulo está falando de uma mera aceitação do fato. E daí dizer que Tiago refere-se a uma verdadeira confiança. Todavia, está claro, pelo contexto, que Paulo se refere à verdadeira confiança (Rm 4.3,5); e Tiago à mera aceitação do fato (Tg 2.14,19).

O livro Raciocínios a base das Escrituras (TJ) procura explicar 1 Co 15.29 associando-o a dois textos remotos (Rm 6.3; e Cl 2.12). Desprezando o contexto (capítulo 15), que se refere à ressurreição e sua veracidade, não está focalizando a condição espiritual do mundo em relação a Deus, como ocorre nas outras referências. Encontramos em 1 Co 15 um credo da Igreja referente à ressurreição que Paulo está citando.

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MMééttooddooss ddaa HHeerrmmeennêêuuttiiccaa

Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo a passo com o objetivo de alcançar um resultado.

Durante séculos os eruditos religiosos procuraram todos os métodos possíveis para desvendar os tesouros da Bíblia e arquitetar meios de descobrir os seus segredos.

1. Método Analítico

É o método utilizado nos estudos pormenorizados com anotações de detalhes, por insignificantes que pareçam com a finalidade de descrevê-los e estudá-los em todas as suas formas. Os passos básicos deste método são:

a) Observação – É o passo que nos leva a extrair do texto o que realmente descreve os fatos, levando também em conta a importância das declarações e o contexto;

b) Interpretação – É o passo que nos leva a buscar a explicação e o significado (tanto para o autor quanto para o leitor) para entender a mensagem central do texto lido. A interpretação deverá ser conduzida dentro do contexto textual e histórico com oração e dependência total do Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases chaves, avaliando os fatos, investigando os pontos difíceis ou incertos, resumindo a mensagem do autor a seus leitores originais e fazer a contextualização (trazer a mensagem a nossa época ou ao nosso contexto); c) Correlação – É o passo que nos leva a comparar narrativas ou mensagem de um fato escrito por vários autores, em épocas distintas em que cada um narra o fato, em ângulos não coincidentes como por exemplo a mesma narrativa descrita em Mc 10.46 e Lc 18.35, onde o primeiro descreve "saindo de Jericó" e o segundo "chegando em Jericó"; d) Aplicação – É o passo que nos leva a buscar mudanças de atitudes e de ações em função da verdade descoberta. É a resposta através da ação prática daquilo que se aprendeu.

Um exemplo de aplicação é o de pedir perdão e reconciliar-se com alguém ou mesmo o de adoração à Deus.

2. Método Sintético.

É o método utilizado nos estudos que abordam cada livro como uma unidade inteira e procura o seu sentido como um todo, de forma global. Neste caso determina-se as ênfases principais do livro ou seja, as palavras repetidas em todo o livro, mesmo em sinônimo e com isto a palavra-chave desenvolve o tema do livro estudado. Outra maneira de determinar a ênfase ou característica de um livro é observar o espaço dedicado a certo assunto. Como por

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exemplo, o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus enfatiza a fé e em todos os demais capítulos ela enfatiza a palavra SUPERIOR. (De acordo com a versão Almeida Revista e Atualizada – ARA).

Superior: a) Aos anjos – 1.4; f) Ao sacrifício – 9.23; l) Ao sacerdócio – 5 a 7;

b) A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;

c) A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;

d) A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;

e) A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;

3. Método Temático

É o método utilizado para estudar um livro com um assunto específico, ou seja, no estudo do livro terá um tema específico definido. Como exemplo temos a FÉ:

a) Salvadora – Ef. 2.8;

b) Comum – Tt 1.4; Jd 3; e) Vencedora – I Jo 5.4;

c) Pequena – Mt 14.28 a 31; f) Crescente – II Ts 1.3.

d) Grande – Mt 15.21 a 28;

4. Método Biográfico de Estudo da Bíblia

Esta espécie de estudo bíblico é divertida, pois você tem a oportunidade de sondar o caráter das pessoas que o Espírito Santo colocou na Bíblia, e de aprender de suas vidas. Paulo, escrevendo aos Coríntios, disse: "Estas cousas lhes sobrevieram como exemplo, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado." (I Cor. 10.11)

Sobre alguns personagens bíblicos muito foi escrito. Quando você estuda pessoas como Jesus, Abraão e Moisés, pode precisar restringir o estudo a áreas como, "A vida de Jesus como nos é revelada no Evangelho de João", "Moisés durante o Êxodo", ou "Que diz o Novo Testamento sobre Abraão". Lute sempre para manter os seus estudos bíblicos em tamanho manejável.

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b. Estudo Biográfico Básico.

PASSO UM – Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo (por exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou um índice enciclopédico, localize as referências que têm relação com a pessoa do estudo. Leia-as várias vezes e faça resumo de cada uma delas.

1) – Observações – Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre essa pessoa. Quem era? O que fazia? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que fez? Como levou a efeito? Anote minúcias sobre ela e seu caráter.

2) – Dificuldades – Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de acontecimentos de sua vida.

3) – Aplicações possíveis – Anote várias destas durante o transcurso do seu estudo, e escreva um "A" na margem. Ao concluir o seu estudo, você voltará a estas aplicações possíveis e escolherá aquela que o Espírito Santo destacar.

PASSO DOIS – Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da pessoa. Inclua os acontecimentos e características importantes, declarando os fatos, sem interpretação. Quando possível, mantenha o material em ordem cronológica.

b) Estudo Biográfico Avançado.

Os seguintes passos podem ser acrescentados quando você achar que o ajudarão em seus estudos biográficos. São facultativos e só devem ser incluídos progressivamente, à medida que você ganhe confiança e prática.

Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para ampliar este passo somente quando necessário. As seguintes perguntas haverão de estimular o seu pensamento.

1) – Quando viveu a pessoa? Quais eram as condições políticas, sociais, religiosas e econômicas da sua época?

2) – Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa de incomum em torno do seu nascimento e da sua infância?

3) – Qual a sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra ocupação? Isto influenciou o seu ministério posterior? Como?

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4) – Quem foi seu cônjuge? Tiveram filhos? Como eram eles? Ajudaram ou estorvaram a sua vida e o seu ministério?

5) – Faça um gráfico das viagens da pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?

6) – Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?

5. Método de Estudo Indutivo.

a) O método indutivo se baseia na convicção de que o Espírito Santo ilumina a quem examina as escrituras com sinceridade, e que a maior parte da Bíblia não é tão complicada que quem saiba ler não possa entendê-la. Os Judeus da Bereia foram elogiados por examinarem cada dia as escrituras "se estas coisas eram assim". (At 17.10,11) b) É óbvio que obras literárias tem "partes" que se formam no "todo". Existe uma ordem crescente de partes, de unidades simples e complexas, até se formarem na obra completa. c) A unidade literária menor, que o Estudo Bíblico Indutivo (EBI) emprega, é a palavra. Organizam-se palavras em frases, frases em períodos, períodos em parágrafos, parágrafos em seções, seções em divisões, e por fim, a obra completa.

PALAVRA – Unidade menor;

FRASES – Reunião de palavras que formam um sentido completo;

PERÍODO – Reunião de frases ou orações que formam sentido completo;

PARÁGRAFOS – Um discurso ou capítulo que forma sentido completo, e que usualmente se inicia com mudança de linha.

SEÇÃO – Parte de um todo, divisão ou subdivisão de uma obra, tratado, estudo.

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AA EExxeeggeessee

Exegese é a interpretação profunda de um texto bíblico, jurídico ou literário. A exegese como todo saber, tem práticas implícitas e intuitivas. A tarefa da exegese dos textos sagrados da Bíblia tem uma prioridade e anterioridade em relação a outros textos. Isto é, os textos sagrados são os primeiros dos quais se ocuparam os exegetas na tarefa de interpretar e dar seu significado. A palavra exegese deriva do grego exegeomai, exegesis; ex tem o sentido de ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar, ex-por; quer dizer, no caso, conduzir, guiar.

Por isso, o termo exegese significa, como interpretação, revelar o sentido de algo ligado ao mundo do humano, mas a prática se orientou no sentido de reservar a palavra para a interpretação dos textos bíblicos. Exegese, portanto, é a denominação que se confere à interpretação das Sagradas Escrituras desde o século II da Era Cristã. Orígenes, cristão egípcio que escreveu nada menos que 600 obras, defendia a interpretação alegórica dos textos sagrados, afirmando que estes traziam, nas entrelinhas de uma clareza aparente, um sentido mais profundo. O termo exegese restou ligado à interpretação alegórica, ensejando abusos de interpretação, a ponto de alguns autores afirmarem, ironicamente, que a Bíblia seria um livro onde cada qual procura o que deseja e sempre encontra o que procura.

1. Pré-requisitos para uma boa exegese.

a) Tenha uma vida afinada com o Espírito Santo, pois Ele é o melhor interprete da Bíblia – (Jo 16.13; 14.26; I Cor 2.9 e 10; I Jo 2.20 e 27);

b) Vá você mesmo diretamente ao texto não permitindo que alguém pense por você, evitando assim a dependência de outra pessoa para que você desenvolva ao máximo o seu potencial próprio.

c) Procure o significado de cada palavra dentro do seu contexto. Deve ser tomado conforme o sentido da frase nas Escrituras, porque as palavras variam muito em suas significações.

2. Aplicação da exegese.

A aplicação da exegese é realizada a partir das indagações básicas sobre o contexto e o conteúdo do texto em exame.

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a) Texto – O capítulo, parágrafo ou porção bíblica que encerra uma idéia completa, que se pretende estudar. Ex.: Mateus 5.1-12; I Coríntios 11.1-3; João 14,6, etc.

b) Contexto – A parte que antecede o texto e a parte que é precedida pelo texto. Ex.: Texto João 14.6, Contexto Gênesis 1.1 a João 14.5 e João 14.7 a Apocalipse 22.21.

Obs.: As vezes tomando-se o contexto próximo do texto, é o suficiente para uma interpretação correta. Outras vezes será necessário lançar mão do capítulo inteiro, ou do livro inteiro, ou ainda da Bíblia toda.

Não devemos nos esquecer que a primeira pessoa a interpretar as Escrituras, de forma distorcida, foi o diabo. Ele deu à palavra divina um sentido que ela não tinha, falseando astutamente a verdade. (Gn 3.1)

Os seus imitadores, conscientes e inconscientes, têm perpetuado este procedimento enganando à humanidade com falsas interpretações das Escrituras Sagradas.

A maior de todas as regras é: A ESCRITURA É EXPLICADA PELA PRÓPRIA ESCRITURA, ou seja, A BÍBLIA, SUA PRÓPRIA INTERPRETE.

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Exporemos em seguida uma série de figuras com seus correspondentes exemplos, que precisam ser estudados detidamente e repetidas vezes.

1. Metáfora.

Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro.

Exemplo: Ao dizer Jesus: "Eu Sou a Videira Verdadeira", Jesus se caracterizou com o que é próprio e essencial da videira (pé de uva); e ao dizer aos discípulos: "Vós sois as varas", caracterizou-os com o que é próprio das varas.

Outros exemplos: "Eu Sou o Caminho", "Eu Sou o Pão Vivo", "Judá é Leãozinho", "Tu és minha Rocha", etc.

2. Sinédoque.

Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa.

Exemplos: Toma a parte pelo todo: "Minha carne repousará segura", em vez de dizer: meu corpo. (Sl 16.9)

Toma o todo pela parte: "...beberdes o cálice", em lugar de dizer: do cálice, ou seja, parte do que há no cálice.

3. Metonímia.

Emprega-se esta figura quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo.

Exemplos: Jesus emprega a causa pelo efeito: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos", em lugar de dizer que têm os escritos de Moisés e dos profetas. (Lc 16.29)

Jesus emprega o símbolo pela realidade que o mesmo indica: "Se eu não te lavar, não tem parte comigo." Lavar é o símbolo da regeneração.

4. Prosopopéia.

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Esta figura é usada quando se personificam as cousas inanimadas, atribuindo-se-lhes os feitos e ações das pessoas.

Exemplos: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Cor 15.55) Paulo trata a morte como se fosse uma pessoa.

"Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas." (Is 55.12)

"Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar." (Sl 85.10,11).

5. Ironia.

Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro.

Exemplo: "Clamai em altas vozes... e despertará." Elias dá a entender que chamar por Baal é completamente inútil. (1 Rs 18.27)

6. Hipérbole.

É a figura pela qual se representa uma cousa como muito maior ou menor do que em realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. É um exagero.

Exemplos: "Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos... as cidades são grandes e fortificadas até aos céus." (Num. 13.33) "Nem no mundo inteiro caberiam os livros que seria, escritos". (Jo. 21.25) "Rios de águas correm dos meus olhos, porque não guardam a tua lei". (Sl 119.136)

7. Alegoria.

É uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes.

Exemplo: "Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna", etc. Esta alegoria tem sua interpretação nesta mesma passagem das Escrituras. (Jo 6.51-65)

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8. Fábula.

É uma alegoria histórica, na qual um fato ou alguma circunstância se expõe em forma de narração mediante a personificação de cousas ou de animais.

Exemplo: "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha por mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo." (2 Rs 14.9) Com esta fábula Jeoás, rei de Israel, responde a proposta de guerra feita por Amazias, rei de Judá.

9. Enigma.

Exemplo: "Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura." (Jz 14.14)

10. Tipo (Tipologia)

Exemplos: A serpente de metal levantada no deserto foi mencionada por Jesus como um tipo para representar sua morte na cruz. (Jo 3.14)

Jonas no ventre do grande peixe, foi usado como tipo por Jesus para representar a sua morte e ressurreição. (Mt 12.40)

O primeiro Adão é um tipo para Cristo o último Adão. (I Cor 15.45)

11. Símbolo.

Representa alguma cousa ou algum fato por meio de outra cousa ou fato familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação.

Exemplos: Representa-se: A majestade pelo leão, a força pelo cavalo, a astúcia pela serpente, o corpo de Cristo pelo pão, o sangue de Cristo pelo cálice, etc.

12. Parábola.

Apresentada sob a forma de narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de ilustrar uma ou várias verdades importantes.

Exemplos: O Semeador (Mt 13.3-8); Ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo (Lc. 15), etc.

13. Símile.

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Procede da palavra latina "similis" que significa semelhante ou parecido a outro. É uma analogia. Comparação de cousas semelhantes.

Exemplos: "Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim (do mesmo modo) é grande a sua misericórdia para com os que o temem". (Sl 103.11);

"Como o pai se compadece de seus filhos, assim (do mesmo modo) o Senhor se compadece dos que o temem". (Sl 103.13)

14. Interrogação.

Somente quando a pergunta encerra uma conclusão evidente é que é uma figura literária.

"Interrogação é uma figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor, ou adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai responder."

Exemplos: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18.25)

"Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos que hão de herdar a salvação?" (Hb 1.14)

"Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" (Rm 8.33)

"Com um beijo trais o Filho do homem?" (Lc 22.48)

15. Apóstrofe.

O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou cousa ausente ou imaginária.

Exemplos: "Ah, Espada do Senhor, até quando deixarás de repousar?" (Jr 47.6)

"Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão!" (2 Sm 18.33).

16. Antítese.

"Inclusão, na mesma frase, de duas palavras, ou dois pensamentos, que fazem contraste um com o outro."

Exemplos: "Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal." (Dt 30.15)

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"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz a perdição e são muitos os que entram por ela) porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela." (Mt 7.13,14)

17. Provérbio.

Trata-se de um ditado comum. Exemplos: "Médico cura-te a ti mesmo" (Lc 4.23); "Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra." (Mt 6.4; Mt 13.57)

18. Paradoxo.

Denomina-se paradoxo a uma preposição ou declaração oposta à opinião comum.

Exemplos: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos". (Mt 8.22)

“Coais o mosquito e engolis o camelo". (Mt 23.24)

“Porque quando sou fraco, então é que sou forte". (2 Cor 12.10)

O que temos estudado aqui é apenas subsídios para uma interpretação mais segura. De maneira nenhuma queremos com isto substituir o método mais antigo e eficaz que existe: A leitura humilde regada de oração, jejum, e na total dependência do maior interprete das Escrituras Sagradas – O Espírito Santo.

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EExxeemmppllooss ddee tteexxttooss ccoomm aapplliiccaaççããoo ddaa HHeerrmmeennêêuuttiiccaa 1. A Igreja primitiva batizava apenas em nome de Jesus?

Baseados nas passagens que seguem, algumas seitas se opõem à fórmula batismal trinitariana: At 2.38: "...seja batizado em nome de Jesus Criso..."; At 8.16: "... sido batizados em nome do Senhor Jesus..."; At 10.48: "...batizados em nome do Senhor..."; At 19.5: "...batizados em nome do Senhor Jesus". Observamos que não se trata de uma fórmula batismal porque as expressões não são uniformes. Muito razoável é afirmar que a narrativa de At 2.38, indicada com batismo em nome de Jesus Cristo, esteja se referindo à autoridade de Jesus, como se lê em At 3.16 e 16.18, na qual a autoridade de Jesus é invocada. Não se trata de fórmulas que acompanham tais acontecimentos, visto que em At 19.13 a invocação do nome de Jesus por exorcistas nada significasse porque os que o fizeram não tinham verdadeiramente a autoridade de Jesus. Em outras palavras, o batismo foi ordenado e levado a efeito sob a divina autoridade do Filho, empregando o ensino de Mateus 28.19, que diz: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". 2. As Escrituras não indicam que a alma existe antes de sua concepção?

Os kardecistas afirmam que Jeremias 1.5 é uma referência à preexistência da alma. Como explicar esse versículo?

Além dos kardecistas, outros movimentos ensinam a doutrina da reencarnação. Os mórmons e os membros do movimento Nova Era, por exemplo, crêem que o versículo em pauta indica que Jeremias preexistiu como uma alma sem o corpo antes de ser encarnado.

Enquanto os reencarnacionistas crêem que a alma está em uma espécie de peregrinação e após a morte volta em outro nascimento, aqueles que acreditam na preexistência da alma afirmam que existe uma espécie de pré-mundo ou mundo espiritual ou até mesmo um tipo de sala em que todas as almas foram primeiramente criadas por Deus e ali estão confinadas até o tempo apropriado para que possam encarnar. Essa é a diferença entre essas duas crenças.

O texto em estudo, no entanto, não fala de reencarnação e muito menos de preexistência da alma antes do nascimento. O foco aqui não está na alma de Jeremias, mas no fato de que Deus conhece, chama e separa Jeremias para o ministério profético. Ele foi escolhido por Deus da mesma forma que o oleiro escolhe o material para construir um vaso. Deus tem conhecimento cabal do futuro e da constituição do homem. Conhece até mesmo o feto que está sendo gerado (Sl 139.11-16). É dessa forma que, em sua sabedoria, Deus unge e designa alguém, antes mesmo que essa pessoa tenha nascido, para determinada obra, o que não significa que a alma dessa pessoa conheça, antes do nascimento, a tarefa para a qual fora escolhida pelo Senhor. Absolutamente. As Escrituras não indicam que a alma tenha qualquer existência antes de sua concepção, e muito menos que tenha qualquer qualidade própria. Mas Deus conhece todas as coisas.

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Logo, esse versículo não fala da preexistência da alma antes da concepção. Ao contrário, afirma a preordenarão de Jeremias como vaso escolhido. Tudo isso se deve à soberania e onisciência de Deus.

3. E se alguém subiu ao céu, como interpretar João 3.13?

Existem algumas exceções nas Escrituras que devem ser entendidas com uma significação real ...De acordo com (Gn 37.35,36; Sl 16; Lc 16.19-31), antes da vinda de Cristo o mundo invisível dos mortos estava num mesmo lugar embaixo da terra. Como conciliar esta explicação com os textos de 2Reis 2.11, Gênesis 5.24 e Provérbios 15.24, que dizem que subiram e não que desceram? E se subiram, como interpretar João 3.13?

A Bíblia é a Palavra de Deus revelada ao homem. Foi escrita com o objetivo de comunicar a vontade de Deus à humanidade, mas principalmente ensinar a Igreja. Inicialmente, devemos ter em mente três coisas para que possamos entender a Bíblia.

Primeiro, Deus revela ao homem coisas terrenas e celestiais, sendo esta última de difícil entendimento. É necessário compreendermos o objetivo maior das Escrituras.

Segundo, foi necessário que Deus nos falasse usando uma linguagem que pudéssemos entender, pois, ainda que sua Palavra seja perfeita, nosso entendimento não é. Existem algumas exceções nas Escrituras que devem ser entendidas com uma significação real, ou seja, devemos buscar o entendimento espiritual — e somente o Espírito Santo poderá indicar uma compreensão mais profunda (veja Hb 9.8). A Bíblia Apologética tem como objetivo defender as doutrinas cristãs de maneira clara para o alcance do povo cristão.

E terceiro, quanto à posição do inferno, as Escrituras ora afirmam sua localização nas “partes inferiores da terra”, ora “embaixo”. Enquanto os céus e qualquer outra afirmação positiva no relacionamento com Deus são referidos como algo acima, aquilo que está numa posição negativa para com Deus é mencionado como inferior. Então, segundo o conhecimento dos servos de Deus, antes do Calvário, ainda que a morte significasse descer, como no caso de Jacó, Davi e Lázaro, a exceção poderia existir, como no caso dos arrebatamentos de Enoque e Elias. E sabemos que as exceções sempre têm algo a enfatizar. Esse foi o objetivo de Deus, enfatizar, indicando algo novo, que no Novo Testamento representa o arrebatamento da Igreja.

Mas Enoque e Elias realmente subiram? Sim! Subiram, ainda que, neste caso, fossem uma exceção! Como, então, conciliar esse fato com o que está escrito em João 3.13?, que diz: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem que está no céu”. Jesus teria se equivocado? Não! Pois Ele é a própria Palavra de Deus! O apóstolo Paulo, escrevendo aos romanos (10.6,7), esclarece a questão mencionando o texto de Deuteronômio 30.11-14, no qual Deus afirma que a Lei não estava além do alcance dos israelitas. Segundo o texto, os israelitas não precisam da ajuda de alguém para que pudessem entender o significado de “subindo ao céu ou descendo ao abismo”.

Agora, Jesus usa de autoridade para falar de coisas celestiais. Que autoridade é essa? Ora, ninguém subiu aos céus com o objetivo de ensinar as coisas celestes (realmente Enoque

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e Elias não subiram para depois descerem e ensinarem a Israel), senão o que desceu do céu, o Filho do homem, Cristo Jesus.

4. Em que sentido o Espírito Santo de Deus habita em nós, visto ser ele uma Pessoa?

O Espírito Santo é um Ser, dotado de personalidade própria. Não é meramente uma força ativa, ou influência espiritual, ou ainda simples emanação de Deus. No Antigo Testamento ele é visto como uma Pessoa Divina, possuidor de atributos divinos (Gn 1). Ele tem participação na criação (Gn 1.2; Jó 26.13; Sl 104.30). Existem diversos símbolos do Espírito Santo nas Escrituras: azeite (Jo 3.34; Hb 1.9); água (Jo 7.38-39); vento (At 2.2; Jo 3.8); alguns confundem os símbolos do Espírito Santo com a sua natureza. Se os confundem com a Pessoa do Espírito Santo, porque não fazem o mesmo com os símbolos referentes a Jesus Cristo? Jesus é chamado de Cordeiro que foi morto (Ap 5.6); pedra (1 Pe 2.6); pão da vida (Jo 6.48). Se não atribuímos significação literal aos símbolos referentes a Jesus, porque querem alguns fazê-lo em relação ao Espírito Santo?

Em relação à Igreja, o Espírito Santo é visto como o único que pode regenerar uma alma, mediante seu toque operante e transformador (Jo 3.3-5). A presença do Espírito Santo, entre os crentes, deve ser contínua e perpétua (Jo 14.6). Essa presença produz frutos no crente. Vemos a ação de Deus desde a fundação do mundo. ...Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho (Jo 3.16). O Filho deu sua própria vida (Jo 15.13). E o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Alguns querem que anjos sejam seus mentores no caminho espiritual. As Escrituras, porém, ensinam que somente Deus pode conduzir o homem à vida eterna. Sua habitação portanto é pessoal, real, transformadora. 5. Lucas 12.46-48 faz alusão ao purgatório?

“Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”.

O Catolicismo tenta usar esse texto pra arvorarem que a idéia de purgatório é Bíblica. De acordo com a teologia romanista, o purgatório além de ser um lugar de purificação de pecado é também um lugar onde a alma cumpre pena; pelo que o fogo do purgatório deve ser temido grandemente.

jesus disse que as pessoas assim condenadas irão para o castigo eterno (Mt 25.46). Ele não disse nada sobre um lugar de purificação após a morte ou de que o pecador que partiu desta vida teria outra oportunidade (Hb 9.27).

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O texto alvo de nosso comentário mostra que assim como haverá diferentes graus de glória (galardões) no novo céu e na nova terra (I Co 15.41,42), também haverá diferentes graus de sofrimento no inferno.

“E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt. 25.46)

O texto de Lucas em nada se refere a idéia de purgatório, mas a grau de punição no

inferno eterno – “A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, nem aquele que recebe o sinal do seu nome”. (Ap. 14.11).

6. Sansão cometeu suicídio?

Vejamos o que diz o texto: “Sansão clamou ao SENHOR e disse: SENHOR Deus, peço-te que te lembres de mim, e dá-me força só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue dos filisteus, pelos meus dois olhos. Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que se sustinha a casa, e arrimou-se sobre elas, com a mão direita numa e com a esquerda na outra. E disse: Morra eu com os filisteus. E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela estava; e foram mais os que matou na sua morte do que os que matara na sua vida” (Jz 16.28-30).

Não encontramos nenhuma evidência de suicídio, ou de eutanásia. Se Sansão tivesse um desses objetivos, isto é, se desejasse a morte devido à frustração de ter sido capturado pelos filisteus, certamente teve diversas oportunidades para se matar. Se Sansão desejasse acabar com seu sofrimento devido à cegueira e às dores da mutilação, também poderia ter feito alguma coisa antes dessa ocasião. Além disso, a força de Sansão para tamanha destruição não veio dele, mas foi proveniente de Deus. Dessa forma, aceitar o ato de Sansão como suicídio significaria dizer que o próprio Deus o concedeu forças sobrenaturais para fazê-lo, o que não pode ser concebido diante da natureza divina.

Devemos entender que os filisteus eram um povo que se opunha a Israel e não buscava a paz, como fizeram os gibeonitas (Js 9). Sansão estava lidando com inimigos irreconciliáveis, sabia que um confronto poderia causar-lhe a morte, quer essa morte fosse devido à queda do edifício, quer ocorresse após a queda do edifício por meio da retaliação de algum filisteu.

Encontramos Sansão no rol de Hebreus (11), um homem que pela fé livrou Israel de seus inimigos.

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7. A genealogia documentada em Mateus 1.1-17 é diferente da apresentada por Lucas 3.23-38 - Por quê?

Como Jesus pode ser a raiz de Davi se nas genealogias apresentadas nos evangelhos é José, seu padrasto, quem aparece como descendente de Davi?

A genealogia documentada em Mateus 1.1-17 é diferente da apresentada por Lucas 3.23-38. Mateus escreveu seu evangelho para os judeus e, assim, a genealogia oficial traz em questão as credenciais messiânicas judaicas de Jesus, pois os judeus esperavam que o Messias fosse descendente de Abraão e raiz de Davi. Lucas escreveu seu evangelho para os gregos e, por isso, apresenta Jesus como perfeito, segundo a concepção da cultura helênica. O propósito de Mateus é mostrar Jesus como verdadeiro rei, e o de Lucas é mostrá-lo como verdadeiro humano. Mateus apresenta a linhagem legal de Davi e Lucas a linhagem natural. Tanto José quanto Maria eram descendentes de Jessé. Podemos apontar a genealogia de Lucas como sendo de descendentes familiares de Maria e a de Mateus, de José. Esta pode ser uma explicação, pois na cultura judaica o homem, através de seu comprometimento com uma mulher, era tido como filho de seu sogro. Assim, embora Maria não seja citada, ela é, no entanto, representada por seu marido. 8. Como podemos entender a expressão O Anjo do Senhor no AT?

Nem sempre quando encontramos a expressão o anjo do Senhor, está claro que se refere à Pessoa do Senhor Jesus, pois há ocasiões que um mero anjo é identificado com Deus. Nesses contextos, o propósito é mostrar que o anjo está agindo e falando como representante de Deus. Mas, algumas vezes, o anjo indica a presença imediata de Deus (Êx 23.20-23; 32.34; 33.14,15; Is 63.9). Nesses textos Deus está prometendo andar e orientar o povo de Israel. O anjo mencionado em Êx 32.24 é chamado em Êx 33.14-15 de a minha presença, essa expressão poderia ser traduzida literalmente por a minha face. Em Is 63.9, o anjo da sua presença, no hebraico, significa não somente o anjo que se conserva na presença de Deus, mas também naquele em quem Deus é visto.

Theophania, é uma palavra composta pelos vocábulos gregos Theós (Deus), e phainein, (aparecer), significando uma manifestação visível de Deus. Tais teofanias são atribuídas a Segunda Pessoa da Trindade, Jesus Cristo. Elas não têm o objetivo de demonstrar a forma do Senhor, mas visa apenas dar uma mensagem, ao passo que a forma visível atrai meramente e fixa a atenção. O livro de Apocalipse dá uma notável visão de Jesus Cristo ressurrecto e glorificado (1.12-20).

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2. Quais os fatores determinantes do significado?

3. Explique o que é “compreensão e interpretação do texto”?

4. Qual a importância do contexto?

5. Quais os métodos da hermenêutica?

6. Descreva o método de estudo indutivo.

7. O que é exegese? Qual a sua importância?

8. Dê um exemplo bíblico de matáfora.

9. Dê um exemplo bíblico de alegoria?

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hermeneutica.

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