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Também é hidroestesista, ou seja, tem a capacidade de, com o uso da
vara de madeira, perceber a existência de água no subsolo. Sobre o assunto ele
revela:
“Desde menino tenho esta sensibilidade. Eu saía com minha mãe para procurar água pra nós e pros animais. Aí, não tinha água à vista mas eu dizia: mãe, vamos cavar aqui que vai sair água. Ela não acreditava, achava que era besteira minha. Aí eu insistia, começava a cavar e a água aparecia. Quando comecei a fazer os cursos no IRPAA, fiquei sabendo que lá tinha dois especialistas para isso, então fiz dois cursos lá para me desenvolver melhor no assunto. Eu tenho acertado de 75% a 80% na marcação do lugar onde a água está e graças a Deus, tenho ajudado a muita gente. Pelos estudos da EMBRAPA, a pessoa precisa de 100 ha para sobreviver no semi-árido. Eu tenho 52 ha e vivo muito bem. Tenho duas cisternas, duas barragens, um barreiro e um caxio, que é um poço redondo e profundo para evitar a evaporação da água.Possuo 75.000 litros de água boa em cisterna só para beber e outras cacimbas para uso doméstico e dos animais. Tenho 200 caprinos e ovinos, galinhas e porcos. Planto milho, feijão de corda, abóbora, melancia, manga, goiaba, pinha e hortaliças. Possuo esta casa boa, com móveis e vivo no conforto, tudo depois que conheci o IRPAA. Agora estou dando um vôo mais alto. Estou em processo de certificação de carne orgânica de caprino e ovino. Veja o que o conhecimento pode fazer da pessoa...”
Para entender melhor o fenômeno da hidroestesia, vale observar a figura
22, que é uma gravura reproduzida do livro de Georgius Agrícola, De remetallica
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(sobre os metais), citado por Gnadlinger (2001:18), publicada pela primeira vez no
ano de 1556. No centro da figura se encontra uma pessoa cortando uma árvore e
outros dois homens (A) usando forquilhas para localizar um lugar de minérios, onde
outros mineiros logo começam a cavar o mineral (B).
Figura 21– Buscando água e minérios no subsolo
Segundo Gnadlinger, supõe-se que vários materiais que se encontram
embaixo da terra como minérios, petróleo, água, emitem raios que pessoas sensíveis
a eles podem detectar. O termo hidroestesia usado pelo IRPAA para detectar água
embaixo da terra, vem do grego “hydor” = água e “aisthesis” = sensibilidade, que
significa sensibilidade para sentir a água. Pesquisadores da Universidade de
Munique na Alemanha, levantam a hipótese do ser humano possuir uma
sensibilidade biológica para reagir a campos magnéticos que se encontram na
natureza, atribuindo assim explicação científica para o fenômeno da hidroestesia. A
vara, na visão do autor é como um ponteiro que ligado ao corpo humano indica onde
se encontra a água.
Dos vários tipos de varas existentes, as mais usadas pelo IRPAA, são:
a. forquilha de madeira, que mede meio metro de cumprimento e um dedo
de grossura, não podendo ter mais de um ano de vida;
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b. vara de ganchos, que consiste em dois ganchos retangulares com 13
cm, mais 48,5 cm de cumprimento, com 3 a 5 milímetros de diâmetros,
feitos de arame de ferro, cobre, alumínio ou plástico.
c. vara de laço, feita de material elástico de mais ou menos 3 milímetros
de grossura e cumprimento de 90 cm. O laço deve juntar-se no meio
com um anel ou uma arruela.
Figura 22 – Vara de Ganchos Figura 23 – Vara de Laço
O IRPAA trabalha desde 1991 com a hidroestesia. Primeiro buscou-se
entre os agricultores do semi-árido aqueles com sensibilidade para detectar água
embaixo da terra, com forquilha de goiabeira. Nessa busca, apenas 3% da população
testada demonstrou tal sensibilidade. Em outubro de 1993, os técnicos alemães Hans
Schoter e João Gnadlinger organizaram o primeiro curso para hidroestesistas. De lá
para cá muitos cursos foram ministrados, com a socialização de um saber tão
importante para a população rural que tem na água o seu bem mais precioso.