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O Hinduísmo na História das Religiões.
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Histria das Religies 16
III - RELIGIES COM ORIGEM NA NDIA
HINDUSMO
O termo hindusmo um tanto difcil de definir. A religio no tem um fundador nico, um credo nico, um mestre ou profeta nico, reconhecidos por todos
os hindus como elementos ou figuras centrais para a religio, e no existe um livro
sagrado nico reconhecido universalmente como de importncia primordial.
O prprio uso do termo hindu complexo. Tanto ndia como hindu derivam de Sindhu, o nome tradicional do rio Indo.
Na histria da cultura indiana, encontra-se a inigualvel fora da religiosidade
de seu povo, que vai desde a definio de uma casta, at os hbitos milenares adotados
e que fazem parte do cotidiano social, numa mescla de religio e cultura.
Adoravam uma divindade masculina, representada com trs rostos e rodeada de
animais, sendo considerada como a figurao primitiva daquilo que mais tarde ser o
deus Shiva. Tambm adoravam smbolos da fertilidade como a deusa-me, o touro ou
as rvores sagradas. O sacrifcio ocupava o centro da vida religiosa, tanto da pessoa
como da tribo. Atravs do sacrifcio pretendia-se que os deuses tivessem uma atitude
misericordiosa e que, por outro lado, favorecessem a unio entre os membros da
comunidade.
Com uma adeso de mais de um bilho de adeptos pelo mundo, cuja
esmagadora maioria se encontra no continente asitico, o hindusmo se constitui num
conjunto de princpios, doutrinas e prticas religiosas dominantes na ndia, conhecido
pelos seus seguidores pelo nome snscrito Sanatana Dharma, traduzido por ordem permanente. Est fundamentado nos Vedas, que significa conhecimento em snscrito, lngua indoeuropia do ramo indoariano, na qual foram escritos os quatro
Vedas, entre 1200 e 900 a.C., e que, entre os sculos VI a.C. e 11 d.C., se tornou a
lngua da literatura e da cincia hindu.
mantida, ainda hoje, por razes culturais, como lngua constitucional da ndia;
conjunto de textos sagrados compostos de msicas e descries de rituais. Atrelado a
um politesmo que acomoda um panteo de mais de trinta mil divindades e crena na
reencarnao, o hindusmo a terceira religio do mundo em nmero de praticantes, e
seus preceitos influenciam fortemente a organizao desta classe social.
No produto de um fundador histrico, e sim, fruto da evoluo gradual e da
caminhada de numerosos mestres espirituais que viveram na ndia ao longo dos
sculos. Por falta de uma autoridade centralizadora, o hindusmo no tem doutrinas e
comportamentos bem-definidos: trata-se mais de uma miscelnea religiosa, com
numerosas seitas e escolas de toda tendncia.
Histria e doutrina
A tradio dos Vedas nasceu com os arianos, grupo tnico das estepes da sia
central, que a levou para a regio da ndia em 1500 a.C., quando da invaso e
conquista dos vales dos rios Indo e Ganges. Est estribada na lembrana da
comunidade hindu sobre deuses tribais e csmicos, sendo repassada oralmente e,
posteriormente, grafada em seus livros sagrados, os Vedas. Essa obra de quatro tomos
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foi reunida durante o sculo X a.C e contm, na crena hindu, as verdades eternas
reveladas pelos deuses: a ordem do dharma universal que rege todas as coisas e os
seres, classificando-os em categorias, por eles denominadas castas ou varnas.
Segundo os Vedas, o homem est preso realidade cclica e eterna que se
resume em morte e renascimento, condio irrevogvel chamada smsara, segundo a
qual o homem est fadado a reencarnar e a sofrer em infinitas vidas. As reencarnaes
alcanam tanto o ser humano como o animal e so regidas pelo carma, que o preceito
segundo o qual traada a forma como renascemos em nossa vida atual, todavia,
sendo definida na vida anterior, colocando tudo na dependncia do estgio espiritual
que alcanamos e dos atos que praticamos numa vida pstuma. O hindu busca fundir-
se a Brahman, a chamada verdade suprema; um esprito que rege o universo. Esta
condio s pode ser conquistada libertando-se do smsara pela purificao de seus
infinitos carmas, atingindo o estgio conhecido como nirvana, a sabedoria resultante
do conhecimento de si mesmo e do universo. A busca e o alcance do nirvana esto
intrinsecamente ligados s prticas religiosas, s oraes e ioga, mas muitos hindus
adotam tambm dietas vegetarianas e a renncia aos bens e prazeres materiais, prtica
conhecida como ascetismo, a qual muitos tm por imprescindvel para alcanar o
nirvana.
Do sculo IX ao XIV tem incio o tantrismo, linha de filosofia hindu que prega
o aperfeioamento espiritual pelo domnio da mente e do corpo, excluindo, porm, o
ascetismo, uma vez que se adota a prtica sexual e hbitos a ela atinentes. Em reao
expanso do islamismo na ndia a partir do sculo VII, e ao domnio britnico, iniciado
no sculo XVIII, surgem vrias correntes no hindusmo.
O smbolo. A slaba Aum ou Om escrita em snscrito antigo. Ela cantada e
muitos acreditam que represente as vibraes bsicas de energia com as quais o mundo
foi criado.
A vaca sagrada. Tem sido um animal sagrado no Hindusmo durante sculos.
H documentos, de mais de 1500 anos antes do nascimento de Cristo, chamados
Vedas, onde esto dados que comentam sobre a alta fertilidade dos bovinos, e os
associa a varias divindades. Mas h outras escrituras, como o Manusmriti, do sculo I
a.C., aproximadamente, onde est relatado que a vaca tinha uma importncia tremenda
na vida do homem. E, de l para c, nos seguintes sculos, leis e regras foram sendo
criadas a fim de regularizar o status de divindade do animal bovino. Esse fato
provavelmente data da invaso ariana, quando elas eram largamente usadas pelo seu
leite e pela sua pele (depois de morrerem). Atualmente, na vida rural indiana cotidiana
elas so criaturas imensamente benficas para os humanos. Elas proveem leite, do qual
se faz manteiga, ghee, iogurte, creme de leite e queijo (o ghee usado em oferendas).
As vacas tambm puxam carroas e arados nos campos, nos moinhos e canais de
irrigao. O esterco seco usado na construo de paredes e como combustvel para
fogueiras. As vacas so animais importantes e utilitrios, so vistas como mes ou presentes dos deuses. Elas no devem ser mortas e o consumo da carne de vaca
proibido. Eles a consideram to pura, que utilizam as suas necessidades fisiolgicas
(fezes, urina) e tambm o leite em rituais para a purificao. Os centros hindus
(ashrams, onde as pessoas vivem em comunidade e em adorao) geralmente tm
santurios dedicados s vacas, cuidar delas e us-las na terra um aspecto central da
devoo religiosa cotidiana.
Histria das Religies 18
Revelao e tradio
A filologia parece revelar que a partir de inmeros estudos e pesquisas
realizados entre os povos da ndia, houvera, desde os tempos mais remotos,
colonizaes promovidas por povos que falavam diversos idiomas.
No ano 1500 a.C., grupos de colonizadores conhecidos como rias (nobres),
portadores de uma lngua indoeuropia que achava similaridade com o latim e o grego,
devastaram as regies do Vale do Indo, parte do continente asitico que parece ter sua
existncia vinculada a perodos que antecedem quatro milnios a.C.
Esta antiga civilizao quase no comportava o meio rural, tendo o povo se
aglomerado em sociedades urbanas que se concentravam principalmente no atual
Paquisto e noroeste da ndia. Subjugadas as civilizaes do Vale do Indo,
exatamente por aqueles que traziam o idioma dos rias, observou-se ento o
surgimento de elementos que favoreceram a instituio de castas, tradies e crenas
diversas, as quais posteriormente receberiam o nome de hindusmo.
Com o passar dos anos, o idioma indo-europeu trazido pelos colonizadores foi
sendo substitudo pelo snscrito, este, desenvolvido entre os indianos natos que,
semelhana do rabe para os muulmanos, o idioma sagrado pelo qual se transmite
os textos do hindusmo, alm da filosofia e da cultura indiana, que se principiam nos
Vedas, documentos hindus originrios que alcanaram a nossa civilizao, cujo nome
advm da raiz Vid, que significa conhecer. Trata-se de uma imensa coletnea de escritos sagrados compostos por hinos que, na sua maioria, so atribudos a videntes e
msticos.
possvel distinguir alguns dos textos que naturalmente foram transmitidos
pela tradio oral, alm daqueles que foram grafados e ficaram mundialmente
conhecidos como fundamentos da religio hindu, formando a tradio e a revelao.
Tradio
Tambm chamada de Shruti, ou audio; aquilo que foi ouvido pelos videntes, chamados rishi, que receberam estes textos por meio do sentido da intuio
mstica peculiar a esta casta, compreendendo os trs volumes (Samhita) dos Vedas: o
brahmana, o aranjakai e o upanishadi. Para a f hindu, estes escritos possuem
autoridade mxima, sendo proibido a qualquer pessoa contest-los ou alter-los, e
teriam chegado at ns por meio de uma fidelssima tradio oral.
Revelao
Este conceito da religio hindu chamado de smriti, significando lembrana ou memria. Na revelao se acham agrupados os elementos que funcionam como uma complementao ao texto dos Vedas e que possibilitam a perfeita execuo da
ritualstica cotidiana e sacerdotal, o que, obviamente, impede seu emprego isolado
quando da realizao destes eventos.
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Textos sagrados
O hindusmo detm uma vasta relao literria que acomoda as normas
referentes vida cotidiana alm de formar a sociedade para uma correta observao
dos ensinos. De toda essa literatura, a mais arcaica os Vedas traz um rol normativo que antecede o sculo X a.C.
Outras obras escritas tambm so destacadas entre os hindus, como os Puranas,
que formam a narrativa sobre a trade divina do hindusmo, formada pelos deuses
Brahma, Shiva e Vishnu, descrevendo ainda as festas, condutas sociais e religiosas do
hindu. Contam tambm com um poema histrico que narra a grande epopia do
Bharatas, o Mahabharata.
Este poema possui nada menos que noventa mil versos, e a compilao de um
antigo material pico indiano, provavelmente escrito entre o II sculo a.C. e o I sculo
d.C. Ele ainda trata da luta do bem e do mal, dos cultos a Shiva e Vishnu e as lutas
entre as tribos hindus; descreve os Upanishads, que so as aulas dos mestres; o
Ramayana, outro poema, este, sobre o amor de Rama por Sita, alm do Cdigo de
Manu, outro conjunto de normas, regras e prticas sociais hindus.
O enredo se desenrola na plancie do Rio Ganges e seu ponto principal a
batalha entre os Kauravas e os Pndavas (outro ramo dos Bharatas), povo que afirma
descender de um antepassado epnimo, isto , que cedeu seu nome a famlias indianas,
o grande Bharata.
Originariamente, o Mahabharata era considerado um poema marcial escrito,
preservado e transmitido s geraes pela classe dos brmanes, o qual recebeu, com
toda certeza, um vasto volume de material didtico e religioso no decorrer de sua
transmisso. No curso desta obra, considerada de primeira grandeza para os hindus,
encontram-se narrativas de guerras mescladas com cenas que retratam a mitologia e os
pronunciamentos morais, revelando valores ticos das antigas sociedades hindus e, em
especial, textos que versam sobre os deveres de cada indivduo.
A parte que encontra mais reverncia entre os fiis do hindusmo destaca o
discurso de Krishna ao heri desta novela, Arjuna, tambm conhecido como
Bhagavad-Gita, ou, o canto do bem-aventurado, isto , de Krishna como avatar, a
reencarnao de um deus supremo, e, especialmente, no hindusmo, a reencarnao do
deus Vishnu.
O discurso transcorre, num primeiro momento, sobre o dharma da classe
kshatriya, a varna (forma como se denominam os grupos ou castas no hindusmo)
guerreira. Outra parte que integra o poema o Shanti Parvan; um discurso sobre a
tica e o governo, este, pronunciado pelo moribundo Bhishma. Uma ltima histria a
de e Damyanti, que tem o propsito de advertir os seguidores contra os malefcios do
jogo.
O sistema ou ordem de castas
A palavra indiana para casta jti e significa nascimento e a forma de vida por
ela definida, o respectivo status e pertena social a uma classe. No que diz respeito
expresso ordem de castas indiana: o termo casta vem do portugus: puro, raa, tribo, cl, e foi transferido para o sistema social indiano. Varna (do snscrito =
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cor, classe, estamento), como j visto, o sistema de separao de grupos entre os fiis
desta religio que foi se codificando com o passar do tempo.
Segundo a literatura sagrada hindu, os homens, devido soberana vontade de
seus deuses, devem pertencer a diferentes classes sociais, as chamadas castas, sendo
que esta separao determinada logo na natividade do indivduo, respeitando-se
sempre a ascendncia paterna. Esta crena milenar, alm de determinar a qual classe
ir pertencer a criana recm-nascida, tambm fixa sua posio profissional na
comunidade em que conviver.
Uma vez sendo esta uma norma religiosa e que excede em importncia qualquer
outra, no pode ser modificada por interveno humana, j que se considera entre os
hindus que a fidelidade aos ritos ditados pela literatura espiritual um dos elementos
que proporciona ao indivduo o gozo celeste.
As castas tambm esto divididas hierarquicamente e, baseado nesta tradio,
os que pertencem s classes mais altas gozam de todos os privilgios previstos na
seita, enquanto que os que se acham resignados s varnas mais baixas, no usufruem
nenhum. Esta separao pode determinar ainda uma outra privao, que se define na
incomunicabilidade entre as classes, principalmente no que diz respeito s atividades
sociais desenvolvidas por cada um. No casamento, por exemplo, no podero se unir
pessoas de castas diferentes. No princpio, o nmero de castas existentes se resumia a
quatro. As trs mais importantes derivavam de uma diviso que j ocorria entre uma
horda de colonizadores rias, enquanto que a quarta, por no se achar inserida sequer
na sociedade, estando limitada aos grupos que se sujeitaram aos invasores, no podia
ser contada com aquelas que advinham destes povos. So elas:
No pice: Brahman ou brmanes. So os portentosos colecionadores da
sabedoria contida nos Vedas, acumulando ainda a responsabilidade da ministrao dos
sacrifcios, atributos exclusivos queles que detm o poder sacerdotal e o
conhecimento dos mantras sacrificiais, isto , frmulas encantatrias que tm o poder
de materializar a divindade invocada. Os hindus acreditam que a partir destas frmulas
os deuses se tornam obrigados a baixar terra, aceitar os alimentos e bebidas e ouvir
as oraes dos sacerdotes.
Em segundo lugar: Xtria. a classe dos guerreiros nobres, prncipes ou
magistrados, os quais funcionam ainda como defensores dos tesouros, tendo ainda por
atribuio a instigao dos sacrifcios e a proteo do pas.
Vaishya. a classe dos que desenvolvem atividades braais e produtivas, como
a criao de gados, a agricultura e o comrcio; alm dos artesos.
Shudra. Encarregado dos trabalhos mais humildes, sem qualificao. No
possui qualquer outra atividade dentro da sociedade hindu, exceo de funcionar
como servo.
H duas outras classes ainda mais inferiores, que a dos shudras, que so os
candala e os sem-castas. A partir da proliferao de ramificaes das castas dentro da
sociedade hindu, o nmero de classes aumentou substancialmente, excedendo em
muito o nmero original delas. Atualmente, a regra para definio de a qual das castas
pertencer a criana hindu est diretamente ligada atividade ocupacional que ela
desenvolver, seguindo a hereditariedade paterna.
Os chamados intocveis ou sem-castas, tambm conhecidos como prias,
descendentes de aborgenes, constituem-se num grupo numeroso, ao qual o lder
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poltico e religioso indiano Mohandas Karamchand Gandhi (Mahatma Gandhi, 1869-
1948) chamava karijan, que significa filhos de Deus, entretanto, a sociedade hindu no parece ter tido o mesmo sentimento fraternal por esta casta, qualificando-os
posterior e genericamente como dulit ou excludos. Em prol dos excludos e das castas mais inferiores, emergiu um governo
afinado com o mundo moderno, que reconheceu a igualdade social diante do Estado e
aboliu o sistema de castas. A ndia independente tambm abortou oficialmente este
sistema, tornando-o inexistente ante o governo, no se nomeando mais castas entre a
sociedade; oferecendo-se recompensas para jovens que se propuserem a contrair
matrimnio com membros de outras classes; adotando medidas que favoream as
castas tidas por inferiores e demais providncias que efetivamente baniram a
desigualdade ditada pela f hindu.
Em 1950, Nehru, lder hindu poca, declarou que, em dez anos, conseguiria
desarticular todo o sistema de castas, entretanto, a sociedade comum pareceu no
aceitar a interveno governamental, desejando a prevalncia da tradio, o que
promoveu um entrave no processo de extino das castas, fazendo com que at hoje
esta norma prevalea entre o povo.
BIBLIOGRAFIA SOBRE HINDUSMO:
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https://pt-br.facebook.com/sobaluzdasescriturassagradas/posts/407485872684599
Artigo (sem ttulo).