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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2014 REVISTA PORTUGUESA DE HIPERTENSÃO E RISCO CARDIOVASCULAR ISSN: 1646-8287 NÚMERO 44 Doente Coronário Agudo, um Retrato Global Efeito da Ingestão Crónica de Nitratos na Pressão Arterial de Indivíduos com Diabetes Tipo 2 Tratamento da Hipertensão (HTA) em Doentes com Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva (DPCO) Tratamento da Hipertensão em Doentes com Doenças Reumáticas Resumos do 8º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global

HIPERTENSÃO - sphta.org.pt · Indicações terapêuticas: COVERAM está indicado como terapêutica de substituição para o tratamento da hipertensão arterial essencial e/ou doença

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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2014

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ISSN

: 164

6-82

87

NÚMERO

44

• Doente Coronário Agudo, um Retrato Global

• Efeito da Ingestão Crónica de Nitratos na Pressão Arterial de Indivíduos com Diabetes Tipo 2

•TratamentodaHipertensão(HTA)emDoentescomDoençaPulmonarCrónicaObstrutiva(DPCO)

•TratamentodaHipertensãoemDoentescomDoenças Reumáticas

• Resumosdo8ºCongressoPortuguêsdeHipertensãoeRisco Cardiovascular Global

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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2014 3

ÍNDICE

FICHA TÉCNICARevista Médica Bimestral, excluída de registo no ICS de acordo com a alínea a) do art. 12 do D. R. nº 8/99 de Junho de 1999.

ISNN 1646-8287

N.ºs avulsos: 10€Assinatura anual: 35€Tiragem: 5.000 exemplaresDepósito legal: 265384/07Propriedade: Grande Mensagem, Edições e Publicidade, Lda.

Av. Bombeiros Voluntários, n.º 52, Loja 8 Sala G

1495-022 AlgésTel: 91 439 81 85Fax: 21 357 90 21E-mail: [email protected] gráfico:Inês Almaça Tlm: 91 485 46 00E-mail: [email protected]

Impressão:CMYKGLOSS Impressores, Lda.Estrada de Barros, Elospark, Pav. 62725-193 Algueirão - Mem MartinsTel: 21 926 15 97/8Fax: 21 926 15 99E-mail: [email protected]

6ARTIGO ORIGINAL

• Doente Coronário Agudo, um Retrato Global• Acute Coronary Patient, a Global Portrait

16ARTIGO ORIGINAL

• Efeito da Ingestão Crónica de Nitratos na Pressão Arterial de Indivíduos com Diabetes Tipo 2• Effects of Chronic Dietary Nitrate Intake in Blood Pressure of Type 2 Diabetic Patients

22CLINICAL PRACTICE NEWSLETTERS

• Tratamento da Hipertensão (HTA) em Doentes com Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva (DPCO)

• Tratamento da Hipertensão em Doentes com Doenças Reumáticas

32RESUMOS

• 8º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global• 8th International Meeting on Hypertension and Global Cardiovascular Risk

Adalat CR 30 e Adalat CR 60 Composição: 30 mg (Adalat CR 30) ou 60 mg (Adalat CR 60) de nifedipina por com-primido. Forma Farmacêutica Comprimido de libertação prolongada. Indicações: Angina de peito crónica estável (angina de esforço); hipertensão: prevenção da mortali-dade e morbilidade cardio e cerebrovascular em doentes hipertensos Posologia: 1 comprimido de Adalat CR 30 1 x dia (1 x 30 mg/dia) ou 1 comprimido de Adalat CR 60 1 x dia (1 x 60 mg/dia), dependendo da situação clínica do doente. A terapêutica deverá ser iniciada com uma dose diária única de 30 mg (Adalat CR 30) podendo ser aumentada, gradualmente até 120 mg 1 x dia. Os com-primidos não devem ser mastigados nem fraccionados! Não beber sumo de toranja. Pode ser necessário reduzir a dose em doentes com compromisso hepático Contra-indicações: hipersensibilidade à nifedipina ou a qualquer dos excipientes; gravidez antes da semana 20 e aleita-mento; choque cardiogénico; em doentes com bolsa de

Kock (ileostomia após proctocolectomia); em combinação com rifampicina. Advertências: doentes com hipotensão grave com PA sistólica inf. a 90 mmHg; casos de insuf. cardíaca manifesta; estenose aórtica grave. Adalat CR contém sódio. Este facto deverá ser tido em consideração em doentes com dieta restrita em sódio. Interacções: A nifedipina é metabolizada via sist. citocromo P450 3A4, pelo que há risco de interacção com inibidores ou indu-tores deste sistema. A nifedipina pode potenciar o efeito hipotensor de anti-hipertensores. A nifedipina pode provo-car valores espectrofotométricos falsamente elevados de ácido vanililmandélico na urina. A determinação por HPLC não é influenciada. Efeitos indesejáveis: reacção alérgi-ca; edema alérgico/angioedema (incl. edema da laringe); ansiedade; perturbações do sono; cefaleias; vertigens; enxaqueca; tonturas; tremor; perturbações visuais; ta-quicardia; palpitações; edema; vasodilatação; hipotensão; síncope; hemorragia nasal; congestão nasal; obstipação;

dor gastrointestinal e abdominal; náuseas; dispepsia; flatulência; xerostomia; aumento transitório nas enzimas hepáticas; eritema; cãibras musculares; tumefacção das articulações; poliúria; disúria; disfunção eréctil; sensação de mal-estar; dor não específica; arrepios. Titular AIM: Centrofarma Distribuidor: Bayer Portugal S.A. Números de AIM: Adalat CR 30: 8563361 (28 comp.), 8563353 (14 comp.); Adalat CR 60: 8563379 (28 comp.) Data de revisão do texto: 01/2012 Medicamento sujeito a receita média. Regime comparticipação: 69%. Para mais infor-mações deverá contactar o titular de autorização de intro-dução no mercado

Bayer Portugal, S.A.,Rua Quinta do Pinheiro, nº 5, 2794-003 CarnaxideNIF 500 043 256

Experiência em forma de vida

Compromisso de longo prazo para a vida

Adalat_2014 Anuncio 205x290 (com rcm).indd 1 17/01/14 17:58 capa_SET.indd 3 11/30/2014 12:29:57 PM

NOVEMBRO/DEZEMBRO 20144

EDITORIAL

Editor Chefe / Editor-in-ChiefProf. J. Braz Nogueira

Editor Adjunto / Deputy EditorDr. Vitor Ramalhinho

Conselho Científico Nacional e InternacionalNational and International Scientific BoardProf. Manuel CarragetaProf. Ricardo Seabra GomesProf. Luís MartinsProf. Fernando PáduaProf. Gorjão ClaraProf. Pereira MiguelProf. Martins PrataProf. José BarbasProf. Rocha GonçalvesProf. Victor GilProf. Luciano RavaraProf. Salgado BorgesProf. Rui CarrapatoProf. Jose JuanateyProf. Josep RedonProf. Fernando NobreProf. Pinto CarmonaProf. Agostinho MonteiroProf. Massano CardosoProf. Luz RodriguesProf. Jorge PolóniaProf. Manuel BichoProf. José Luís MedinaProf. Davide CarvalhoProf. Luís SobrinhoDr. Alcindo Maciel BarbosaDr. João SaavedraDr. Oliveira SoaresDr. Soares FrancoDr. Vital MorgadoDr. Mariano PegoDr. Rasiklal RanchhodDr. Lacerda NobreDr. Pastor Santos SilvaDr. António Jara

Conselho Redactorial / Editorial BoardProf. Pinto CarmonaProf. Agostinho MonteiroProf. Massano CardosoProf. Jorge PolóniaProf. Manuel BichoProf. José Luís MedinaProf. Davide CarvalhoDr. Luís Calçada CorreiaDr. José NazaréDr. Jorge CotterDra. Teresa FonsecaDr. João MaldonadoDr. Carlos MoreiraDr. Mesquita BastosDr. José Alberto SilvaDra. Paula AmadoDra. Paula AlcântaraDra. Teresa RodriguesDr. Pedro Marques da SilvaDr. Fernando PintoDr. Pedro Guimarães Cunha

EDI TORIAL

Uma revista com as caracter ís t icas técnico-cient í f icas como a nossa ,

órgão ofic ia l da Sociedade Por tuguesa de Hiper tensão, deve ter ver tentes de formação e informação, quer ao níve l

c l ínico/epidemiológico quer de medicina trans lac ional de re lação

entre as c iências bás icas e a c l ínica . Este número é disto um bom exemplo.Ao nível de formação, permit indo-nos

rever as a l ternat ivas de actuação terapêut ica no nosso campo de

actuação especí f ico em duas s i tuações de co-morbi l idades muito frequentes

entre os hiper tensos : a DPOC e as doenças reumatológicas . As

interacções entre os fármacos ut i l izados em cada uma das patologias

e a destes na melhor ia ou desencadeamento/agravamento em

cada uma dessas doenças concomitantes devem ser do

conhecimento deta lhado de todos nós . As Newslet te r s da Sociedade

Europeia de Hiper tensão da autor ia de colegas Húngaros aqui

apresentados em tradução, para mais fác i l acess ibi l idade, permitem-nos ter

uma outra v isão de como estes problemas são v is tos numa

perspect iva cul tura l e num contexto populacional di ferente mas com

apl icabi l idade na nossa prát ica diár ia . Esta colaboração com Sociedades

afins da nossa for ta lece a amizade e o t rabalho conjunto na luta contra um

dos maiores factores de r i sco cardiovascular tão prevalente.

Na outra das ver tentes atrás c i tadas , para a lém da informação contida nos

trabalhos or iginais de invest igação, publ icados neste número da revis ta , chamo a vossa atenção para

a metodologia i r repreensíve l seguida em cada um deles : num efectuado no Centro Hospita lar da Cova da Beira , c l ínico-epidemiológico ao longo de

mais de um ano sobre os factores determinantes major dos doentes

coronár ios agudos a í internados. Este é um trabalho de grande qual idade

a judando-nos a conhecer dados re levantes duma área do inter ior do

país . No outro tenta-se em estudo

prospect ivo começar a infer i r das interacções entre os factores

a l imentares e as respostas tensionais em doentes diabét icos com doença

coronár ia . Do nível b ioquímico à resposta c l ínica num factor de r i sco

numa população de maior suscept ibi l idade num verdadeiro

exemplo de inferência de conhecimento trans lac ional .

Além da informação contida nestes ar t igos há toda uma formação pelo que nos permite aprender como se

pode fazer invest igação de qual idade em Por tugal .

V ítor Ramalhinho

Not a: o presente texto não foi escr i to de acordo com o novo “Acordo or tográfico”

INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO - Nome do medicamento: COVERAM 5 mg/ 5 mg; COVERAM 5 mg/ 10 mg; COVERAM 10 mg/ 5 mg; COVERAM 10 mg/ 10 mg. Composiçãoqualitativa e quantitativa: Cada comprimido contém 3,395 mg de Perindopril equivalente a 5 mg de Perindopril arginina e 6,935 mg de Amlodipina besilato equivalente a 5 mg de Amlodipina. Cada comprimido contém 3,395 mg de Perindopril equivalentea 5 mg de Perindopril arginina e 13,870 mg de Amlodipina besilato equivalente a 10 mg de Amlodipina. Cada comprimido contém 6,790 mg de Perindopril equivalente a 10 mg de Perindopril arginina e 6,935 mg de Amlodipina besilato equivalente a 5 mgde Amlodipina. Cada comprimido contém 6,790 mg de Perindopril equivalente a 10 mg de Perindopril arginina e 13,870 mg de Amlodipina besilato equivalente a 10 mg de Amlodipina. Excipiente: lactose monohidratada. Forma farmacêutica*: Comprimido.Indicações terapêuticas: COVERAM está indicado como terapêutica de substituição para o tratamento da hipertensão arterial essencial e/ou doença coronária arterial estável, em doentes já controlados com Perindopril e Amlodipina administrados emsimultâneo e com o mesmo nível de dosagem. Posologia e modo de administração: Via oral. Um comprimido por dia, numa toma, de preferência de manhã e antes duma refeição. A associação fixa não é recomendada para terapêutica inicial. Se fornecessário alterar a posologia, a dose de COVERAM pode ser modificada ou pode ser considerada a titulação individual com os componentes isolados. Doentes com compromisso renal e idosos: A eliminação do perindoprilato está diminuída nos idosos enos doentes com compromisso renal. Assim o seguimento médico usual, inclui frequente monitorização da creatinina e potássio. COVERAM pode ser administrado em doentes com Clcr≥ 60ml/min, e não é recomendado para doentes com Clcr < 60ml/min.Nestes doentes, recomenda-se uma titulação individual da dose com os componentes isolados. A amlodipina utilizada em doses similares nos doentes idosos ou jovens é igualmente bem tolerada. Recomenda-se o tratamento com doses normais nos idosos,mas o aumento da dosagem deve ser feito com cuidado. Alterações nas concentrações plasmáticas de Amlodipina não estão relacionadas com o grau de compromisso renal. A amlodipina não é dialisável. Doentes com compromisso hepático: Não foramestabelecidas recomendações de dose em doentes com compromisso hepático ligeiro a moderado; assim sendo, a seleção da dose deve ser cuidadosa e deve começar pela dose mais baixa do intervalo de doses. Para encontrar a dose inicial e demanutenção ideal nos doentes com compromisso hepático, os doentes devem ser titulados individualmente utilizando a combinação livre de amlodipina e perindopril. A farmacocinética da amlodipina não foi estudada em doentes com compromisso hepáticograve. Nos doentes com compromisso hepático grave, a amlodipina deve ser iniciada na dose mais baixa e titulada lentamente. População pediátrica: COVERAM não deve ser utilizado em crianças e adolescentes uma vez que a eficácia e tolerância doperindopril e amlodipina em associação ainda não estão estabelecidas em crianças e adolescentes. Contra-indicações: Hipersensibilidade ao Perindopril ou a qualquer outro IECA; Antecedentes de angioedema associado a uma terapêutica prévia comIECAs; Angioedema hereditário ou idiopático; Segundo e terceiro trimestres da gravidez; Hipotensão grave; Hipersensibilidade à Amlodipina ou derivados das dihidropiridinas; Choque, incluindo choque cardiogénico; Obstrução do infundíbulo de saída doventrículo esquerdo (por ex. grau de estenose aórtica elevado); Insuficiência cardíaca hemodinamicamente instável após enfarte agudo do miocárdio. Hipersensibilidade a qualquer um dos excipientes. Advertências e precauções especiais de utilização*:Precauções especiais: Ligadas ao Perindopril: Hipersensibilidade/Angioedema: Foi reportado raramente em doentes tratados com um IECA, incluindo o Perindopril, angioedema da face, extremidades, lábios, mucosas, língua, glote e/ou laringe. Isto podeacontecer em qualquer altura durante o tratamento. Nestes casos, o COVERAM deve ser imediatamente interrompido e iniciada monitorização adequada até ao completo desaparecimento dos sintomas; Reacções anafiláticas durante a aférese oudessensibilização de lipoproteínas de baixa densidade (LDL): evitadas com a suspensão do inibidor do ECA antes dos exames; Neutropenia/agranulocitose/ trombocitopenia/anemia: precaução extrema em doentes com doença vascular do colagénio,terapêutica imunossupressora, tratados com alopurinol ou procainamida, é aconselhável vigiar os glóbulos brancos periodicamente; Gravidez: Os IECAS não devem ser iniciados durante a gravidez. A não ser que a manutenção da terapêutica com IECA sejaconsiderada essencial, nas doentes que planeiem engravidar o tratamento deve ser alterado para anti-hipertensores cujo perfil de segurança durante a gravidez esteja estabelecido. Quando é diagnosticada a gravidez, o tratamento com IECA deve serinterrompido imediatamente e, se apropriado, deverá ser iniciada terapêutica alternativa. Precauções de utilização: Hipotensão: Os IECAs podem causar diminuição da pressão arterial. Nos doentes com risco elevado de hipotensão sintomática (depleçãode volume ou com hipertensão renina-dependente grave), a pressão arterial, função renal e potássio sérico devem ser rigorosamente monitorizados durante o tratamento com COVERAM. Uma resposta hipotensiva transitória não é uma contra-indicaçãopara doses adicionais, desde que a pressão arterial tenha aumentado após a expansão do volume. As mesmas considerações aplicam-se aos doentes com cardiopatia isquémica ou doença cerebrovascular, nos quais uma descida excessiva da pressãoarterial pode provocar um enfarte do miocárdio ou um acidente cerebrovascular; Estenose valvular aórtica e mitral/cardiomiopatia hipertrófica: Como com outro IECAs, o perindopril deve ser administrado com precaução a doentes com estenose da válvulamitral e com obstrução da câmara de saída do ventrículo esquerdo tal como na estenose aórtica ou na cardiomiopatia hipertrófica; Doentes com insuficiência cardíaca: usar com precaução. Insuficiência renal ligeira: monitorizar o potássio e a creatinina;recomenda-se a titulação individual dos monocomponentes se clearance da creatinina < 60 ml/min. Em doentes com estenose da artéria renal, a ureia e creatinina séricas podem aumentar; com hipertensão renovascular, risco de hipotensão grave einsuficiência renal. Insuficiência renal: A amlodipina não é dializável. Insuficiência hepática: parar o tratamento no caso de icterícia ou aumento acentuado de enzimas hepáticas. Insuficiência hepática ligeira: aumento gradual da dose e avaliação cuidadano caso de insuficiência hepática grave. Indivíduos de raça negra: o perindopril pode ser menos eficaz e causar uma taxa mais elevada de angioedema do que em outras raças. Tosse não produtiva. Cirurgia/Anestesia: interromper o tratamento um dia antesda cirurgia. Hipercaliemia: avaliação frequente de potássio sérico no caso de insuficiência renal, agravamento da função renal, idade (>70 anos), diabetes mellitus, desidratação, descompensação cardíaca aguda, acidose metabólica e utilização concomitantede diuréticos poupadores de potássio e sais de potássio. Doentes diabéticos: Em doentes diabéticos tratados com antidiabéticos orais ou insulina, o controlo da glicemia deve ser rigorosamente monitorizado durante o primeiro mês de tratamento com umIECA. Ligadas à Amlodipina: Crise hipertensiva: A segurança e eficácia da amlodipina em crises hipertensivas não foram estabelecidas. Doentes idosos: aumento da dose com precaução. Ligadas ao COVERAM: Devido à presença de lactose, doentes comproblemas hereditários raros de intolerância à galactose, má absorção de glucose-galactose, ou insuficiência de lactase de Lapp, não devem tomar este medicamento. Interacções medicamentosas e outras formas de interacção*: Não recomendadas:Diuréticos poupadores de potássio, suplementos de potássio ou substitutos de potássio contendo sal, lítio, estramustina, dantrolene (infusão), toranja ou sumo de toranja. Cuidados especiais: Produtos medicinais anti-inflamatórios não esteroides (AINE’s)incluindo aspirina ≥ 3 g/dia, antidiabéticos (insulina, sulfonamidas hipoglicémicas), indutores CYP3A4, inibidores CYP3A4, baclofeno. A ter em consideração: Diuréticos, simpatomiméticos, ouro, anti-hipertensores, vasodilatadores, corticosteroides,tetracosactida, alfa-bloqueantes (prazosina, alfuzosina, doxazosina, tamsulosina, terazosina), amifostina, antidepressivos tricíclicos, antipsicóticos, anestésicos, outros produtos medicinais com propriedades anti-hipertensivas. Gravidez e amamentação*:Nãorecomendado durante o primeiro trimestre de gravidez e aleitamento. Contra-indicado durante o Segundo e terceiro trimestres de gravidez. Fertilidade*: Alterações bioquímicas reversíveis de espermatozoides em alguns doentes tratados com bloqueadoresdos canais de cálcio. Condução e Utilização de Máquinas*: Pode estar comprometida em caso de tonturas, cefaleias, fadiga, má disposição ou náuseas. Efeitos indesejáveis*: Os efeitos indesejáveis seguintes foram observados durante o tratamentocom Perindopril (Per.) ou Amlodipina (Am.) administrados separadamente e são apresentados pela classificação MedDRA por sistema e sob a seguinte frequência: Muito frequente (≥1/10); frequente (≥1/100 a <1/10)); pouco frequente (≥1/1.000 a <1/100),raro (≥1/10.000 a <1/1.000); muito raro (<1/10.000); desconhecido (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis). Doenças do sangue e do sistema linfático: Leucopenia/neutropenia: Am./Per.-Muito raro; Agranulocitose ou pancitopenia: Per.-Muito raro; Trombocitopenia: Am./Per.-Muito raro; Anemia hemolítica em doentes com deficiência congénita em G-6PDH: Per.-Muito raro; Diminuição da hemoglobina e hematócrito: Per.-Muito raro. Doenças do sistema imunitário: Reações alérgicas: Am.-Muito raro; Per.-Pouco frequente. Doenças do metabolismo e da nutrição: Hiperglicemia: Am.-Muito raro; Hipoglicemia: Per.-Desconhecida. Pertubações do foro psiquiátrico: Insónia: Am.-Pouco frequente; Alterações do humor (incluindo ansiedade):Am./Per.–Pouco frequente; Depressão: Am.-Pouco Frequente; Perturbações do sono: Per.-Pouco frequente; Confusão: Am.-Raro/Per.-Muito raro; Doenças do sistema nervoso: Sonolência (especialmente no início do tratamento): Am.-Frequente; Vertigem(especialmente no início do tratamento): Am./Per.–Frequente; Cefaleia (especialmente no início do tratamento): Am./Per.-Frequente; Disgeusia: Am.-Pouco frequente/Per.-Frequente; Tremor: Am.-Pouco frequente; Hipoestasia: Am.-Pouco frequente; Parestesia:Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Síncope: Am.-Pouco Frequente; Hipertonia: Am.-Muito raro; Neuropatia periférica; Am.-Muito raro; Afecções oculares: Alteração da visão (incluindo diplopia): Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Afecções do ouvidoe do labirinto: Zumbidos: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Cardiopatias: Palpitações: Am.-Frequente; Angina de peito: Per.-muito raro; Enfarte do miocárdio, possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco: Am./Per.–Muitoraro; Arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilhação auricular): Am./Per.-Muito raro; Vasculopatias: Rubor: Am.-Frequente; Hipotensão (e efeitos relacionados com hipotensão): Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; AVC possivelmentesecundário a excessiva hipotensão em doentes de alto risco: Per.-Muito raro; Vasculite: Am.- Muito raro;Per.-Desconhecida; Doenças respiratórias, torácicas e do mediastino: Dispneia: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Rinite: Am.-Pouco frequente; Per.-Muito raro; Tosse: Am.-Muito raro; Per.-Frequente; Broncospasmo: Per.-Pouco frequente; Pneumonia eosinofílica: Per.-Muito raro; Doenças gastrointestinais: Hiperplasia gengival: Am.-Muito raro; Dor abdominal, náusea: Am./Per.-Frequente; Vómito: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Dispepsia: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Alteração dos hábitos intestinais: Am.-Pouco frequente; Secura de boca: Am./Per.-Pouco frequente; Diarreia, obstipação: Am. Pouco frequente; Per.-Frequente; Pancreatite:Am./Per.-Muito raro; Gastrite: Am.-Muito raro; Afecções hepatobiliares: Hepatite, icterícia: Am.-Muito raro; Hepatite citolítica ou colestática: Per.-Muito raro; Aumento das enzimas hepáticas (principalmente relacionado com colestase): Am.-Muito raro;Afecções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: Edema de Quincke: Am.-Muito raro; Angioedema da face, extremidades, lábios, mucosas, língua, glote e/ou laringe: Am. - Muito raro; Per.-Pouco frequente; Eritema multiforme: Am./Per.-Muito raro; Alopécia:Am.-Pouco frequente; Púrpura: Am.-Pouco frequente; Descoloração cutânea: Am.-Pouco frequente; Hipersudorese: Am./ Per. -Pouco frequente; Prurido: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Erupção cutânea, exantema: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente;Urticária: Am.Muito raro; Per.-Pouco frequente; Síndroma de Stevens-Johnson: Am.-Muito raro; Dermatite esfolitiva: Am.-Muito raro; Fotossensibilidade: Am.-Muito raro; Afecções musculo-esqueléticas e dos tecidos conjuntivos: Inchaço dos tornozelos: Am.– Frequente; Artralgias, mialgias: Am.-Pouco frequente; Cãibras musculares: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Lombalgias: Am.-Pouco frequente; Doenças renais e urinárias: Alterações da micção, nictúria, aumento da frequência urinária: Am.-Poucofrequente; Compromisso renal: Per.-Pouco frequente; Insuficiência renal aguda: Per.-Muito raro; Doenças dos órgãos genitais e da mama: Impotência: Am./Per.–Pouco frequente; Ginecomastia: Am.-Pouco frequente; Perturbações gerais e alterações no localde administração: Edema: Am.-Frequente; Fadiga: Am.-Frequente; Dor no peito: Am.-Pouco frequente; Astenia: Am.-Pouco frequente; Per.-Frequente; Dor: Am.-Pouco frequente; Mal-estar: Am.-Pouco frequente; Exames complementares de diagnóstico:Aumentode peso, diminuição de peso: Am.-Pouco frequente; Elevação das enzimas hepáticas e da bilirubina sérica: Per.-Raro; Aumento da ureia no sangue e creatinina sérica, hipercaliemia: Per. – Desconhecida. Sobredosagem*.Propriedades*: O Perindopril é uminibidor do enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II (Inibidor do Enzima de Conversão da Angiotensina - ECA). A amlodipina é um inibidor do influxo de iões de cálcio do grupo das dihidropiridinas (bloqueador dos canais lentos de cálcio ouantagonista do iões de cálcio) e inibe o influxo transmembranário dos iões de cálcio para as células miocárdica e muscular lisa vascular. Apresentação*: Caixa de 10 comprimidos de Coveram 5 mg/5 mg; caixa de 30 comprimidos de Coveram 5 mg/5 mg,5 mg/10 mg, 10 mg/5 mg, 10 mg/10 mg. Comparticipado pelo Escalão B. MSRM. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado: SERVIER PORTUGAL- Especialidades Farmacêuticas,Lda. Av. António Augusto de Aguiar, 128.1069-133 LISBOA- Telefone: 213122000- Fax:213122090.* Para uma informação completa deverá consultar o resumo das Características do Medicamento (RCM). 1. Dahlöf B et al. Lancet. 2005;366:895-906. 2. Dolan E et al. J Hypertens. 2009;27:876-885. 3. Rothwell PM, Howard SC, Dolan E, et al. ASCOT-BPLA and MRC Trial Investigators. Lancet Neurol. 2010;9(5):469-480. 4. The CAFE Investigators. (CAFE) study. Circulation. 2006;113:1213-1225.

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NOVEMBRO/DEZEMBRO 20146

ARTIGO ORIGINALORIGINAL ARTICLE

DOENTE CORONÁRIO AGUDO, UMRETRATO GLOBAL

ACUTE CORONAY PATIENT, A GLOB-AL PORTAIT

1 Rita Ivo, 2 Luis Oliveira, 3 Dora Saraiva, 4 Miguel Castelo Branco

1 Interna de Medicina Interna, Hospital Egas Moniz- Centro Hospitalar Lisboa Ocidental; 2 Assistente Graduado de Cardiologia- Centro Hospitalar Cova da Beira , E.P.E.; 3 Enfermeira Especialista Graduada - Centro Hospitalar Cova da Beira , E.P.E. ; 4 Assis-tente Graduado Sénior de Medicina Interna - Centro Hospitalar Cova da Beira , E.P.E., Professor Associado Convidado da Universi-dade da Beira Interior

RESUMOIntrodução: Na União Europeia, quase metade das mortes ocorrem devido a doenças cardio-vasculares e destas, cerca de um terço é causada por doenças coronárias agudas. São uma causa importante de incapacidade e de aumento dos custos da saúde de um país. A identificação dos fatores de risco cardiovascular presentes numa população, adquire um papel preponderante para a prevenção destas patologias. Objetivos: O objetivo principal deste estudo foi elaborar um retrato global do doente coronário agudo tratado no Centro Hospitalar Cova da Beira, através da identificação dum conjunto de fatores de risco cardiovascular tradicionais e não-tradicionais pré-existentes que desenca-dearam o primeiro episódio de doença coronária aguda.Materiais e Métodos: Estudo tipo caso-controlo, observacional e transversal. Desde 19 de outubro de 2011 até 19 de março de 2012, consecutivamente, identificaram-se indivíduos no serviço de cardiologia – casos; e nos serviços de cirurgia geral e ortopedia – controlos. Aplicou-se um questionário que permitia identi-ficar fatores de risco cardiovascular presentes na história clínica, socioeconómica, psicossocial e estilo de vida. Após a recolha dos dados, estes foram analisados estatisticamente através do Software Package for Social Sciences 17.0® para Windows®. Resultados: Obteve-se um total de 50 indivídu-os, 25 em cada grupo, 20 eram do sexo mascu-lino (80%) em ambos os grupos. A idade média

foi de 63,3 ± 14 e 62,8 ± 13,8 anos para os casos e controlos, respetivamente. Comparativamente ao grupo controlo, os casos apresentaram mais indivíduos empregados (64% versus 36%, p = 0,020), mais trabalhadores no setor primário (56% versus 28%, p = 0,022), mais analfabetos (20% versus 8%, p = 0,005), maior dificuldade em aceder aos cuidados de saúde primários (p <0,001), maior consumo de chocolate (p = 0,005) e ainda uma forte tendência para excesso de peso (p = 0,062), hipercolesterolémia (p = 0,061), antecedentes familiares de doença cardiovascular (p = 0,051) e menor consumo etílico (p = 0,068). Paralelamente, os casos apre-sentaram também mais ansiedade (p = 0,005) e stress (p = 0,071) e uma menor qualidade de vida percecionada.Conclusões: A análise dos dados sugere que os doentes coronários agudos apresentam uma constelação de fatores que favorecem o apareci-mento desta patologia, nomeadamente menor escolaridade, maior taxa de emprego, difícil acesso a consultas médicas, maior prevalência de fatores de risco tradicionais, mais ansiedade e stress e piores índices de qualidade de vida.

PALAVRAS-CHAVEDoenças cardiovasculares; fatores de risco cardiovascular; etiologia; síndrome coronário agudo; estilo de vida.

ABSTRACTIntroduction: In the European Union, almost half of the deaths are caused by cardiovascular diseases and one third of these are due to acute coronary disease. They are a major cause of disability and increased health care costs of a country. The iden-tification of the cardiovascular risk factors that exist in a population acquires a leading role in the prevention of these diseases. Goals: The aim of this study was to determine a global picture of the patient with acute coronary disease treated in Centro Hospitalar da Cova da Beira, by identifying a set of pre-existing tradi-tional and non-traditional cardiovascular risk fac-tors that triggered the first episode of this disease.Materials and Methods: This was an observa-tional and transversal case-control study. Since October 19, 2011 until March 19, 2012, consecu-tively, individuals were identified in the cardiol-ogy service - cases, and in general surgery and

orthopedics services - controls. A questionnaire was applied, that allowed the identification of the cardiovascular risk factors present in the medical, socioeconomic, psychosocial history and lifestyle. After collecting the data, they were statistically analyzed using the Software Package for Social Sciences 17.0® for Windows®.Results: A total of 50 individuals were analyzed during this study, 25 in each group, 20 were males (80%) in both groups. The mean age was 63,3 ± 14 and 62,8 ± 13,8 years for cases and controls, respectively. Compared with the control group, the cases had more people employed (64% versus 36%, p = 0,020), more workers in the primary sector (56% versus 28%, p= 0,022), more illiterate (20% versus 8%, p = 0,005), more difficulty accessing primary health care (p <0,001), higher chocolate consumption (p = 0,005) and a strong tendency to high body weight (p = 0,062), hypercholesterol-emia (p = 0,061), family history of cardiovascular disease (p = 0,051) and lower alcohol consumption (p = 0,068). In addition, the cases also showed more anxiety (p = 0,005), stress (p = 0,071) and a reduced perceived quality of life.Conclusions: The data analysis suggests that pa-tients with acute coronary disease have a variety of factors which favor the appearance of this pathol-ogy, namely lower education, higher employment rate, more difficulty in accessing medical appoint-ments, higher prevalence of traditional risk factors, more anxiety and stress, and lower quality of life indices.

KEYWORDSCardiovascular disease; cardiovascular risk fac-tors; etiology; acute coronary syndrome; lifestyle.

INTRODUÇÃOAs doenças cardiovasculares (DCV) são a prin-cipal causa de morte na Europa, responsáveis por cerca de metade das mortes anuais neste continente. Na União Europeia (UE), 43% das mortes ocorrem devido a DCV e destas, cerca de um terço é causada por doenças coronárias agudas (DCA). Portugal, não se desviando do panorama identificado na Europa e mais concretamente nos países da UE, apresenta uma elevada mortalidade devido a doenças cardíacas coronárias. As DCV são uma causa importante de incapacidade e contribuem significativamente para um aumento, em crescendo, dos custos dos

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cuidados de saúde de um país (1).Sabe-se que o desenvolvimento de DCV num indivíduo é devido a diversos agentes: biológicos, sociais, psicológicos ou ambientais. Estes têm sido identificados ao longo dos anos e catego-rizados conforme a sua contribuição na génese destas doenças e o tipo de prevenção em que se inserem. Os fatores de risco tradicionais e não tradicionais adquirem um papel preponderante pois encontram-se na base duma pirâmide que culmina com o evento coronário agudo inicial. Ao serem o alvo de uma prevenção primordial, revelam que uma atuação a este nível terá um impacto significativo no desenvolvimento de doenças cardíacas futuras (2).Apesar do seu reconhecimento, considerava-se que os fatores de risco tradicionais/convencio-nais/major (tabagismo, dislipidémia, hiperten-são arterial (HTA) e diabetes mellitus (DM)) apenas contribuíam para 50% da incidência de doenças coronárias cardíacas, sendo o restante atribuído a outras causas (2-4). Contudo, vários estudos realizados corroboram a hipótese de que estes, juntamente com fatores denominados não-tradicionais, como por exemplo fatores psicológicos, dieta e exercício físico, são os principais desencadeantes de DCA. O estudo INTERHEART (5) foi realizado a uma escala mundial de modo a permitir identificar de acordo com o género, a idade e a localização geográfica quais os fatores de risco que con-tribuíam para o desenvolvimento de doenças coronárias cardíacas. Aos fatores tradicionais/convencionais/major (tabagismo, dislipidémia, hipertensão arterial (HTA) e diabetes mel-litus (DM)) acrescentou a obesidade, a dieta, o consumo de álcool, a atividade física e fatores psicológicos (depressão, stress apercebido, eventos de vida stressantes e locus de controlo) e concluiu que a estes nove fatores mesuráveis e modificáveis se pode atribuir cerca de 90% do risco de ocorrência de um evento inicial de enfarte agudo de miocárdio (EAM). Para além disso, demonstrou-se que pessoas com níveis ótimos de fatores de risco cardiovascular tradicionais e que mantinham um estilo de vida saudável até aos 50 anos, tinham uma taxa de sobrevivência maior e apenas 5% (homens) e 8% (mulheres) de risco de vir a desenvolver uma doença cardíaca nos restantes anos de vida (6). Assim, verifica-se que um maior enfoque na identificação dos fatores de risco presentes numa população, não só a nível orgânico mas tam-bém psicológico e social, e nos estilos de vida adotados que os originam, é fundamental para conhecer qual o seu nível de risco de desenvolver um evento coronário agudo e como se deverá atuar de modo a preveni-lo, bem como a todas

as consequências que dele advêm. Este trabalho teve como principal objetivo fazer um retrato global do doente coronário agudo tratado no Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB), através da identificação dum conjunto de fatores de risco tradicionais e não-tradicio-nais pré-existentes (história socioeconómica, história clínica, estilo de vida e história psicos-social) que desencadearam o primeiro episódio de DCA (Angina Instável (AI), Enfarte Agudo do Miocárdio Sem Supra-ST (EAMSSST) ou Enfarte Agudo do Miocárdio Com Supra-ST (EAMCSST)). Este tipo de estudo será de extrema importância para criar um perfil de doente com DCA local, até agora inexistente, de modo a que futuramente se possam identificar possíveis casos em que a atuação ao nível da modificação dos fatores predisponentes tenha sucesso.

MATERIAIS E MÉTODOSEste estudo do tipo caso-controlo, observacional e transversal baseia-se na análise da existência de fatores de risco cardiovasculares nos utentes do CHCB, através da aplicação de um questionário durante o período de 19 de outubro de 2011 até 19 de março de 2012.O protocolo deste estudo teve parecer favorável da Comissão de Ética e foi aprovado pelo Nú-cleo de Investigação do CHCB.

ParticiPantesOs participantes deste estudo englobam dois grupos de indivíduos: casos e controlos. Os casos são constituídos pelos utentes do CHCB internados no serviço de cardiologia por evento inicial de DCA (AI, EAMSSST ou EAMCSST), sendo excluídos indivíduos com história prévia de doença cardíaca, cerebrovas-cular ou vascular periférica. O diagnóstico de EAMSSST ou EAMCSST foi efetuado através da presença de dor precordial de tipo anginosa com duração superior a 20 minutos, alterações electrocardiográficas consideradas de novo (elevação persistente do segmento ST, depressão deste e inversão da onda T ou bloqueio comple-to do ramo esquerdo do feixe de His) e elevação dos marcadores cardíacos (preferencialmente a troponina). Para diagnóstico de AI considerou-se dor anginosa de menor duração (em repouso, em crescendo ou de novo), associada ou não a alterações de novo de ST/T, não havendo alterações das enzimas cardíacas (7). Neste caso o diagnóstico foi confirmado pela existência de doença coronária aterosclerótica relevante em estudo angiográfico.Quanto aos controlos, são utentes do CHCB internados nos serviços de ortopedia e cirurgia

geral com idade (com um intervalo máximo superior ou inferior de 2 anos) e sexo corre-spondentes aos casos, com critérios de exclusão idênticos aos estabelecidos para estes, sendo apenas critério adicional a não existência de história pregressa de DCA.Todos os participantes deram o seu consenti-mento informado antes de fazerem parte do estudo.

Procedimentos e instrumentos de investigaçãoFoi aplicado um questionário estruturado a ambos os grupos referidos anteriormente, através de entrevista e autopreenchimento. O questionário foi elaborado de acordo com a finalidade deste estudo e tendo em vista fatores específicos que se pretendiam avaliar na comu-nidade. Encontrava-se dividido por secções e incluía: identificação (nome, idade, sexo, data de internamento e causa de internamento ou serviço do CHCB, para os controlos); história socioeconómica (morada, concelho, tipo de residência, acesso a saneamento básico, aqueci-mento central e abastecimento de água da rede pública, estado civil, agregado familiar, profissão, sector de atividade, habilitações literárias, posse de automóvel e tempo de acesso a uma consulta de Cuidados de Saúde Primários (CSP)); estilo de vida (consumo diário de fruta e vegetais, consumo semanal de peixe, consumo diário de álcool, café e chocolate; exercício físico); história clínica (HTA, índice de massa corporal (IMC), colesterol total, hábitos tabágicos, DM, antecedentes familiares de EAM ou morte súbita (MS) prematuros, presença de doenças concomitantes e medicação habitual); história psicossocial (número de relações sexuais sema-nais, Escala de Ansiedade Depressão e Stress 21 (EADS 21), e a escala de qualidade de vida/estado geral de saúde Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form (SF36)). Relativamente aos fatores de risco hipertensão e colesterol total, estes foram considerados existentes através de informação do historial clínico fornecida pelo doente, não sendo avali-ados clínica e analiticamente no momento da entrevista. EADS-21 é uma escala de 21 itens, validada para Portugal, que pretendem avaliar três dimensões: Ansiedade, Depressão e Stress (8). A Ansiedade é caracterizada pela interação de es-tados persistentes de tensão somática, hiperativi-dade e respostas intensas de medo. A dimensão Depressão associa-se à perceção individual de baixa probabilidade de concretização dos objetivos pessoais e à perda de autoestima e mo-tivação. Relativamente ao Stress, este representa

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estados de tensão e agitação persistentes, bem como um baixo nível de resistência à frustração e desilusão. Os indivíduos em estudo respon-dem, através de autopreenchimento, em que medida a afirmação apresentada no questionário se adequa a si na última semana (semana prévia ao internamento) selecionando um valor que varia desde o 0 até ao 3 (escala tipo Likert). Os resultados de cada dimensão são determinados pela soma de todos os 7 itens correspondentes a cada uma. Um indivíduo é classificado dimen-sionalmente em um de quatro estados: normal, ligeiro, moderado e severo. O SF-36 é um questionário de 36 perguntas, validado para Portugal, usado como indicador genérico do estado de saúde e qualidade de vida percecionada de um indivíduo (9). Este inclui oito subdimensões que avaliam diferentes

Tabela 1 – Caraterização e análise estatística das variáveis relativas à história socioeconómica

História Socioeconómica Tipo de Indivíduo P value

(Teste de

Fisher)

Caso Controlo N % N %

Tipo de residência Urbano 11 44,0% 12 48,0% 1,000 Rural 14 56,0% 13 52,0%

Saneamento básico Sim 21 84,0% 25 100,0% 0,110

Aquecimento central

Sim 2 8,0% 7 28,0% 0,138

Abastecimento de água da rede pública

Sim 22 88,0% 24 96,0% 0,609

Estado civil

Solteiro 1 4,0% 1 4,0%

0,891 Casado 18 72,0% 16 64,0% Viúvo 3 12,0% 6 24,0% Divorciado 2 8,0% 1 4,0% União de facto 1 4,0% 1 4,0%

Agregado familiar

Convencional 10 40,0% 9 36,0%

0,823 Com cônjuge 10 40,0% 8 32,0% Alargado 3 12,0% 5 20,0% Sozinho 2 8,0% 3 12,0%

Profissão Desempregado 0 0,0% 5 20,0%

0,020 Empregado 16 64,0% 9 36,0% Reformado 9 36,0% 11 44,0%

Sector de atividade Primário 14 56,0% 7 28,0%

0,022 Secundário 7 28,0% 5 20,0% Terciário 4 16,0% 13 52,0%

Habilitações literárias

Analfabeto 5 20,0% 2 8,0%

0,005 1º Ciclo 11 44,0% 12 48,0% 2º Ciclo 3 12,0% 11 44,0% Secundário 6 24,0% 0 0,0%

Posse de automóvel Sim 13 52,0% 16 64,0% 0,567

Acesso a consulta de CSP

< 1 semana 0 0,0% 8 32,0%

<0,001 1 semana – 1 mês 7 28,0% 11 44,0%

> 1 mês 18 72,0% 6 24,0%

Quando analisados os diferentes parâmetros relativos ao estilo de vida (tabela 2)

verificou-se que tanto casos como controlos tinham baixos níveis de consumo de fruta e

vegetais, bem como de peixe. De igual modo, ambos os grupos referiam atividade física

reduzida, na maioria 0 a 2 dias por semana (88% dos casos e 68% dos controlos). Não se

detetou diferença relevante entre os grupos relativamente ao consumo de café, estando

presente na maioria dos inquiridos. Verificou-se que os casos têm um consumo diário de

chocolate significativamente superior ao dos controlos (p = 0,005).

Quanto ao consumo de álcool os grupos revelaram forte tendência para serem

diferentes (p = 0,068). Nos casos 52% dos indivíduos não ingeriam bebidas alcoólicas

diariamente, ao contrário do constatado nos controlos onde 60% dos inquiridos responderam

afirmativamente, dos quais 36% revelava um consumo superior a 20g/dia.

áreas: capacidade funcional, desempenho físico, vitalidade, desempenho emocional, saúde men-tal, aspetos sociais, dor física e saúde em geral. O questionário pode ser aplicado através de entrevista ou autopreenchimento. As respostas a cada questão correspondem a um determinado valor que, depois de obtido, se soma às restantes questões da mesma subdimensão. O resultado final de cada grupo de questões é analisado num escala que varia de 0 a 100, representando 100 o grau mais elevado de funcionamento possível em cada subdimensão e, consequentemente, de qualidade de vida.

Métodos EstatísticosO trabalho de análise descritiva e estatística que se apresenta foi realizado com recurso ao Soft-ware Package for Social Sciences (SPSS®), versão

17.0 para Microsoft Windows®. Relativamente à análise descritiva dos dados obtidos para cada variável categórica em estudo, determinou-se a frequência absoluta e frequên-cia relativa para os grupos em estudo.Para se proceder à análise estatística inferencial, recorreu-se, em função das características das variáveis e ao tipo de relação, ao teste de Exato de Fisher, tal como recomenda Maroco (10).Para avaliar as diferenças ao nível dos valores obtidos através das escalas EADS 21 e SF36 por tipo de indivíduo (caso ou controlo) recorreu-se à aplicação do teste não paramétrico de Mann-Whitney, como recomenda Maroco (10).Ao longo de todo o estudo apenas se considera-ram as respostas válidas. Tendo em consideração a exatidão que o estudo exige optou-se por definir, para todas as análises inferenciais, um nível de significância de 0,05, ou seja, admissão de um erro de 5%.

RESULTADOScaractErização do doEntE coro-nário agudo da cova da BEiraDurante o período em que decorreu o estudo e mediante as premissas colocadas para a cons-tituição dos grupos, obteve-se um total de 50 indivíduos, dos quais 20 eram do sexo masculino (80%) e 5 do sexo feminino (20%) em cada grupo. A idade média dos indivíduos com DCA inicial foi de 63,3 ± 14 anos, sendo o mínimo 38 e o máximo 88 anos de idade. Relativamente ao grupo dos controlos, a idade média foi de 62,8 ± 13,8 anos, sendo o mínimo 36 e máximo 87 anos de idade. Relativamente ao tipo de DCA, registaram-se 8 (32%) casos de AI, 10 (40%) casos de EMSSST e 7 (28%) casos de EAMCSST. Na tabela 1 apresentam-se os dados obtidos no que concerne à história socioeconómica de ambos os grupos e respetiva comparação. A maioria dos indivíduos, casos e controlos, residia em zona rural, tinha acesso a saneamento e abastecimento de água da rede pública e não possuia aquecimento central. Cerca de 2/3 eram casados e o seu agregado familiar era conven-cional (pais e filhos) ou habitavam apenas com o cônjuge. No grupo casos verificou-se uma maior pro-porção de indivíduos empregados e a maioria destes exercia a sua atividade profissional no sector primário. Pelo contrário os controlos eram maioritariamente reformados ou desemprega-dos, diferença que atingiu significado estatístico (p = 0,020).No que concerne às habilitações literárias, em ambos os grupos a maioria dos indivíduos ape-nas completou o 1º ciclo. Contudo, verificou-se

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Tabela 2- Caraterização e análise estatística das variáveis relativas ao estilo de vida

Estilo de Vida

Tipo de Indivíduo P value (Teste de Fisher)

Caso Controlo

n % n %

Consumo de fruta e vegetais

1-3 porções/dia 21 84,0% 22 88,0% 1,000

>4 porções/dia 4 16,0% 3 12,0%

Consumo de peixe <3 refeições/semana 21 84,0% 18 72,0%

0,496 3 a 5 refeições/semana 4 16,0% 7 28,0%

Consumo de álcool

0 g/dia 13 52,0% 10 40,0%

0,068 <20 g/dia 10 40,0% 6 24,0%

>20 g/dia 2 8,0% 9 36,0%

Consumo de café

0/dia 11 44,0% 9 36,0%

0,426 1 a 2/dia 7 28,0% 12 48,0%

3 a 5/dia 6 24,0% 4 16,0%

> 6/dia 1 4,0% 0 0,0%

Consumo de chocolate*

0/dia 15 60,0% 24 96,0% 0,005

1 a 3/dia 10 40,0% 1 4,0%

Exercício físico** 0 a 2 dias/semana 22 88,0% 17 68,0%

0,171 >3 dias/semana 3 12,0% 8 32,0%

Relações sexuais 0 a 1 /semana 13 52,0% 13 52,0%

1,000 > 2 /semana 12 48,0% 12 48,0%

* 2 quadrados ** 30 minutos/dia

No estudo da história clinica prévia dos casos e controlos (tabela 3) constatou-se uma

forte tendência para maior prevalência de excesso de peso (p = 0,062), hipercolesterolémia

(p = 0,061) e antecedentes familiares de doença de EAM ou MS prematuros (p = 0,051) no

grupo casos. Pelo contrário, ambos os grupos apresentavam prevalências semelhantes quanto

a outros fatores de risco cardiovascular major (HTA, tabagismo e DM), bem como de

patologias não cardiovasculares inquiridas.

Relativamente à medicação habitual obtiveram-se percentagens semelhantes em

ambos os grupos, exceto no que concerne à toma diária de antiagregantes que foi superior

nos casos (p = 0,050).

nos casos um número significativamente maior de indivíduos analfabetos ou que completaram o ensino secundário (p = 0,005). Também relativamente ao tempo de acesso a consulta de CSP os dois grupos são estatistica-mente diferentes (p <0,001). Em nenhum dos casos se verificou ser inferior a uma semana, sendo que a maioria apenas o conseguia após 1 mês, enquanto no grupo controlos esse tempo era significativamente mais curto.Quando analisados os diferentes parâmetros relativos ao estilo de vida (tabela 2) verificou-se que tanto casos como controlos tinham baixos níveis de consumo de fruta e vegetais, bem como de peixe. De igual modo, ambos os grupos referiam atividade física reduzida, na maioria 0 a 2 dias por semana (88% dos casos e 68% dos controlos). Não se detetou diferença relevante entre os grupos relativamente ao consumo de café, estando presente na maioria dos inquiri-dos. Verificou-se que os casos têm um consumo diário de chocolate significativamente superior ao dos controlos (p = 0,005).Quanto ao consumo de álcool os grupos reve-laram forte tendência para serem diferentes (p = 0,068). Nos casos 52% dos indivíduos não ingeriam bebidas alcoólicas diariamente, ao contrário do constatado nos controlos onde 60% dos inquiridos responderam afirmativamente,

dos quais 36% revelava um consumo superior a 20g/dia.No estudo da história clínica prévia dos casos e controlos (tabela 3) constatou-se uma forte tendência para maior prevalência de excesso de peso (p = 0,062), hipercolesterolémia (p = 0,061) e antecedentes familiares de doença de EAM ou MS prematuros (p = 0,051) no grupo casos. Pelo contrário, ambos os grupos apresentavam prevalências semelhantes quanto a outros fatores de risco cardiovascular major (HTA, tabagismo e DM), bem como de patologias não cardiovas-culares inquiridas.Relativamente à medicação habitual obtiveram-se percentagens semelhantes em ambos os grupos, exceto no que concerne à toma diária de antiagregantes que foi superior nos casos (p = 0,050). Através da análise dos resultados obtidos pela aplicação da escala EADS 21 (tabela 4) é pos-sível concluir que os casos apresentavam um grau significativamente mais elevado de ansie-dade (p = 0,005) e uma importante tendência para sentirem mais stress (p = 0,071) relativa-mente aos controlos No que diz respeito às subdimensões do ques-tionário SF 36 (tabela 5 e gráfico 1), os casos apresentam de uma forma geral valores menores comparativamente aos controlos. Resultados

significativamente piores foram encontrados no que diz respeito à capacidade funcional (p = 0,008), aos aspetos sociais (p = 0,005) e vi-talidade (p = 0,032), nos indivíduos com doença coronária aguda.

DISCUSSÃOO presente estudo pretendeu realizar a carac-terização do doente coronário agudo da Cova da Beira e identificar possíveis fatores de risco cardiovascular responsáveis pelos episódios primários de DCA nesta região. Os fatores socioeconómicos presentes numa população exercem um papel fundamental como determinantes da sua saúde, refletindo assim uma associação importante com o desenvolvi-mento de DCV (11). Verificou-se que os indi-víduos com DCA inicial eram maioritariamente do sexo masculino, habitavam numa zona rural, em habitação com boas condições e com um agregado familiar convencional. Relativamente à sua atividade profissional, a maioria encon-trava-se empregada no setor primário, dados que corroboram o facto dos indivíduos que se encontram empregados terem uma suscetibili-dade superior de desenvolver doença coronária aguda, particularmente aqueles que exercem a sua atividade profissional no âmbito da agricul-tura, pecuária e indústrias extrativas (12). Um nível educacional mais baixo de uma população associa-se a maior exposição a diversos fatores de risco de DCA (11) o que está de acordo com os resultados encontrados, pois os indivíduos pertencentes ao grupo casos apresentavam menor escolaridade. A maioria dos indivíduos identificada com DCA inicial tinha um tempo de acesso a CSP mais elevado do que aqueles sem patologia cardíaca, facto que sugere a importância que este nível de cuidados médicos adquire na prevenção destas patologias e o modo como poderá ter contribuído para o aparecimento da DCA. Alguns estudos demonstram que os CSP contribuem crucialmente para a identificação e controlo dos fatores de risco cardiovascular, bem como na promoção de estilos de vida saudáveis e na diminuição das diferenças socioeconómicas da população por eles abrangida (13, 14). Este facto é enfatizado nas mais recentes guidelines da Sociedade Europeia de Cardiologia-SEC para prevenção de DCV (16) que consideram o médico de medicina geral e familiar o elemento chave para atuar ao nível da prevenção, deteção e posterior seguimento dos fatores de risco da sua população de modo a diminuir a morbilidade e mortalidade atribuída às DCV.O estilo de vida de um indivíduo é caracterizado por um conjunto de padrões comportamentais

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adquiridos na infância e adolescência, através da interação de fatores genéticos e ambientais, que são modelados e perpetuados na vida adulta. Os hábitos dietéticos influenciam o risco cardio-vascular, o que reforça o facto da atuação a este nível poder contribuir para a sua diminuição (15). As guidelines da SEC para prevenção de DCV (16), destacam o efeito protetor existente na dieta mediterrânea, relativamente a estas patologias, devido às suas principais característi-cas: consumo elevado de fruta, vegetais, produtos integrais, peixe e ácidos gordos insaturados (es-pecialmente azeite); consumo moderado de ál-cool (sobretudo vinho durante as refeições) e um baixo consumo de carne (vermelha), lacticínios e ácidos gordos saturados. Assim, recomendam o consumo diário de quatro a seis porções de fruta e vegetais, bem como o consumo semanal de, pelo menos, duas porções de peixe (uma de peixe gordo preferencialmente). Constata-se que para a maioria dos indivíduos o consumo de fruta e vegetais na população estudada se encon-tra aquém dos parâmetros propostos pela SEC e o consumo de peixe no patamar mais baixo considerado (0 a 3 refeições semanais).Na análise da ingestão diária de bebidas alcoóli-cas dos grupos em estudo, verifica-se que os indivíduos pertencentes aos controlos apresen-tavam um consumo superior relativamente aos com DCA inicial. Lindschou Hansen J. e colab-oradores, apuraram que o consumo moderado de álcool estava associado a um menor risco de ocorrência de DCA em ambos os sexos, o que poderá justificar os resultados obtidos (17). Embora se verifique que uma ingestão diária de álcool superior a 20g possa ser um fator protetor do risco cardiovascular, a SEC recomenda que esta não seja superior a 10g (aproximadamente um copo) para mulheres e 20g (aproximada-mente dois copos) para homens, pois relaciona-se com um maior risco de mortalidade por outras causas (16). A relação entre o consumo de café e as DCV desde há muito que é controversa, um estudo recente comprova que o seu consumo diário moderado (duas a quatro vezes) se associa a uma ligeira redução do risco de DCV (18). Todavia, não foi possível detetar diferenças na população em estudo.Quanto ao consumo de chocolate, conclui-se que é superior nos indivíduos acometidos com DCA comparativamente aos que não apresen-tam patologia cardiovascular, contrariamente ao apresentado por Buijsse B. e colaboradores, que demonstram que o consumo diário de 6g de chocolate se relaciona com a diminuição de 39% do risco de DCV (19). Porém, esta diferença poderá ser justificada pelo facto da relação entre

Tabela 3- Caraterização e análise estatística das variáveis relativas à história clínica

História Clínica

Tipo de Indivíduo P value (Teste de Fisher)

Caso Controlo

n % n %

Hipertensão arterial 13 52,0% 11 44,0% 0,778

IMC >25Kg/m2 21 84,0% 14 56,0% 0,062

Colesterol total 10 76,9% 6 37,5% 0,061

Consumo de tabaco 7 28,0% 2 8,0% 0,138

Diabetes mellitus 5 20,0% 2 8,0% 0,417

Antecedentes familiares 10 40,0% 3 12,0% 0,051

Doe

nça

s C

onco

mit

ante

s Insuficiência renal 2 8,0% 0 0,0% 0,490

Hipotiroidismo 1 4,0% 2 8,0% 1,000

Hipertiroidismo 1 4,0% 0 0,0% 1,000

DPOC 1 4,0% 1 4,0% 1,000

Doenças autoimunes 0 0,0% 1 4,0% 1,000

Med

icaç

ão H

abit

ual

Antiagregantes 5 20,0% 0 0,0% 0,050

Anticoagulação oral 0 0,0% 1 4,0% 1,000

Estatinas/Hipolipemiantes 4 16,0% 4 16,0% 1,000

IECAs 4 16,0% 1 4,0% 0,349

ARAs 6 24,0% 6 24,0% 1,000

Antagonistas do cálcio 1 4,0% 0 0,0% 1,000

Nitratos 1 4,0% 0 0,0% 1,000

Antidiabéticos orais 4 16,0% 1 4,0% 0,349

Corticoesteroides 0 0,0% 1 4,0% 1,000

Antidepressivos 0 0,0% 3 12,0% 0,235

Levotiroxina 0 0,0% 2 8,0% 0,490

Através da análise dos resultados obtidos pela aplicação da escala EADS 21 (tabela 4)

é possível concluir que os casos apresentavam um grau significativamente mais elevado de

ansiedade (p = 0,005) e uma importante tendência para sentirem mais stress (p = 0,071)

relativamente aos controlos

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ARTIGO ORIGINALORIGINAL ARTICLE

Tabela 4- Caracterização e análise estatística da EADS 21 e respetivas dimensões

No que diz respeito às subdimensões do questionário SF 36 (tabela 6 e gráfico 1), os

casos apresentam de uma forma geral valores menores comparativamente aos controlos.

Resultados significativamente piores foram encontrados no que diz respeito à capacidade

funcional (p = 0,008), aos aspetos sociais (p = 0,005) e vitalidade (p = 0,032), nos indivíduos

com doença coronária aguda.

Tabela 5- Caracterização e análise estatística do SF36 e respetivas subdimensões

Dimensões do SF 36 Casos (mediana)

Controlos (mediana)

p value (Teste de

Mann-Whitney)

Capacidade funcional 30 75 0,008

Limitações por aspetos físicos 50 100 0,145

Limitações por aspetos emocionais 67 100 0,055

Vitalidade 55 65 0,032

Saúde mental 60 68 0,094

Aspetos sociais 63 100 0,005

Dor 45 58 0,418

Estado geral de saúde 60 65 0,131

Dimensões da EADS 21 Casos (mediana)

Controlos (mediana)

p value (Teste de

Mann-Whitney)

Depressão 1,0 1,0 0,326

Ansiedade 3,0 1,0 0,005

Stress 2,0 1,0 0,071

Tabela 4- Caracterização e análise estatística da EADS 21 e respetivas dimensões

No que diz respeito às subdimensões do questionário SF 36 (tabela 6 e gráfico 1), os

casos apresentam de uma forma geral valores menores comparativamente aos controlos.

Resultados significativamente piores foram encontrados no que diz respeito à capacidade

funcional (p = 0,008), aos aspetos sociais (p = 0,005) e vitalidade (p = 0,032), nos indivíduos

com doença coronária aguda.

Tabela 5- Caracterização e análise estatística do SF36 e respetivas subdimensões

Dimensões do SF 36 Casos (mediana)

Controlos (mediana)

p value (Teste de

Mann-Whitney)

Capacidade funcional 30 75 0,008

Limitações por aspetos físicos 50 100 0,145

Limitações por aspetos emocionais 67 100 0,055

Vitalidade 55 65 0,032

Saúde mental 60 68 0,094

Aspetos sociais 63 100 0,005

Dor 45 58 0,418

Estado geral de saúde 60 65 0,131

Dimensões da EADS 21 Casos (mediana)

Controlos (mediana)

p value (Teste de

Mann-Whitney)

Depressão 1,0 1,0 0,326

Ansiedade 3,0 1,0 0,005

Stress 2,0 1,0 0,071

o consumo de chocolate e o risco de DCV estar associada ao tipo de chocolate ingerido (de leite, preto ou branco). Na população estudada o mais consumido é o chocolate de leite que contém menor quantidade de flavonóis e um teor calórico mais elevado, comparativamente ao chocolate negro, portanto menos propriedades preventivas e maior teor calórico, que se associa aqui a uma maior taxa de excesso ponderal. Um estilo de vida sedentário é um fator de risco cardiovascular amplamente reconhecido, por isso a promoção da prática de exercício físico regular contribuiu de maneira significativa para a diminuição do risco de DCV. Podemos verificar que, tanto os indivíduos pertencentes ao grupo casos como os controlos, apenas realizavam no máximo duas vezes por semana 30 minutos de atividade física moderada, o que fica aquém do recomendado pela SEC, que preconiza 2,5 a 5 horas semanais de atividade física moderada como a quantidade necessária para reduzir a

mortalidade por causas cardiovasculares (16). Devido ao importante papel que têm na patogénese das DCV, a HTA, a hiperlipi-démia, o tabagismo e a DM foram classificados como fatores de risco major/convencionais. O estudo AMÁLIA permitiu avaliar a prevalên-cia autoreferida destes fatores em Portugal, caracterizando-os e analisando a sua distribuição nas diferentes regiões do país (20). Constatou-se que 24% dos indivíduos reportavam HTA, 20% hipercolesterolémia, 16% tabagismo e 9% DM, concluindo-se que são fatores que, correlacio-nando-se entre si, poderão estar na origem das DCV em Portugal. No grupo casos as taxas reportadas para os mesmos fatores de risco são bem maiores do que os referidos: HTA 52%, hipercolesterolémia 77%, tabagismo 28% e DM 20%, e maiores ainda do que as apresentadas pelo grupo controlo, embora sem atingir signifi-cado estatístico, previsivelmente pelo reduzido número de elementos. Este fato está de acordo

com os inúmeros dados que apontam para a potenciação dos diversos fatores de risco quando eles se combinam no mesmo indivíduo. Acresce ainda que os casos apresentaram com maior frequência excesso ponderal definido como IMC ≥ 25kg/m2, o que está associado a efeitos cardiovasculares adversos e risco de morte, pela sua relação intrínseca com outros fatores de risco cardiovascular. Assim, a promoção de medidas que visem o controlo do peso é prioritária para a SEC (16). De igual modo, os indivíduos com DCA inicial referiram maior presença de antecedentes fa-miliares de EAM ou MS prematuros relativa-mente aos controlos. Este facto vem de encontro à análise efetuada no estudo INTERHEART que conclui que a presença de antecedentes familiares confere à pessoa quase o dobro de risco de desenvolver EAM, independentemente do género dos progenitores, de outros fatores de risco individuais presentes, país ou idade (21). Para além disso, verificou-se no mesmo estudo que os indivíduos com história familiar destas patologias apresentavam níveis mais elevados de fatores de risco cardiovascular biológicos e psicossociais (21). É conhecido o benefício do uso de antiagregan-tes na prevenção secundária de novos eventos cardiovasculares, contudo os efeitos benéficos da sua aplicação ao nível da prevenção primária ainda não foram totalmente esclarecidos (22). Embora existam evidências de que a toma diária de aspirina poderá reduzir até 12% a ocorrên-cia de eventos vasculares graves em indivíduos sem DCV, esta também se relaciona com um aumento do risco de sangramento gastrointes-tinal, o que coloca em questão o seu uso num nível primário de prevenção das DCV (22). Verificou-se uma diferença significativa entre os grupos em estudo relativamente à toma diária de antiagregantes, sendo esta superior no grupo casos, o que poderá ser justificado pelo pres-suposto de que indivíduos em que se identifica a presença de múltiplos fatores de risco cardiovas-cular numa consulta de rotina beneficiarem da toma diária de antiagregantes. A angústia psicológica é uma dimensão psico-patológica não específica, que se caracteriza por abranger um espetro que varia de estados de depressão a estados de ansiedade (23). O estado psíquico de um indivíduo adquire cada vez mais importância na etiologia das DCV, associan-do-se tanto à adoção de estilos de vida não saudáveis, que potenciam estas patologias, bem como a um potencial desencadeamento de alte-rações orgânicas diretamente relacionadas com as mesmas (23). A ansiedade, num indivíduo saudável, aumenta em 26% o risco de doença

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Gráfico 1- Medianas relativas a cada subdimensão do SF 36 por grupos em estudo (casos e controlos)

DISCUSSÃO O presente estudo pretendeu realizar a caracterização do doente coronário agudo da

Cova da Beira e identificar possíveis fatores de risco cardiovascular responsáveis pelos

episódios primários de DCA nesta região.

Os fatores socioeconómicos presentes numa população exercem um papel

fundamental como determinantes da sua saúde, refletindo assim uma associação importante

com o desenvolvimento de DCV (11). Verificou-se que os indivíduos com DCA inicial eram

maioritariamente do sexo masculino, habitavam numa zona rural, em habitação com boas

condições e com um agregado familiar convencional. Relativamente à sua atividade

profissional, a maioria encontrava-se empregada no setor primário, dados que corroboram o

facto dos indivíduos que se encontram empregados terem uma suscetibilidade superior de

desenvolver doença coronária aguda, particularmente aqueles que exercem a sua atividade

profissional no âmbito da agricultura, pecuária e indústrias extrativas (12). Um nível

educacional mais baixo de uma população associa-se a maior exposição a diversos fatores de

risco de DCA (11) o que está de acordo com os resultados encontrados, pois os individuos

pertencentes ao grupo casos apresentavam menor escolaridade.

A maioria dos indivíduos identificada com DCA inicial tinha um tempo de acesso a CSP

mais elevado do que aqueles sem patologia cardíaca, facto que sugere a importância que este

nível de cuidados médicos adquire na prevenção destas patologias e o modo como poderá ter

contribuído para o aparecimento da DCA. Alguns estudos demonstram que os CSP contribuem

crucialmente para a identificação e controlo dos fatores de risco cardiovascular, bem como

na promoção de estilos de vida saudáveis e na diminuição das diferenças socioeconómicas da

população por eles abrangida (13, 14). Este facto é enfatizado nas mais recentes guidelines

cardíaca coronária, sendo classificada como um fator de risco independente para estas patologias (24). Para além deste facto, o stress profissional e relativo à vida familiar também se associa a um ligeiro aumento do risco de DCV (16, 25). Através da aplicação da EADS 21, a maioria dos indivíduos pertencentes ao grupo casos apre-senta estados mais elevados de ansiedade e stress previamente ao internamento, o que permite concluir que estes poderão ter estado associados ao desenvolvimento de DCA. A qualidade de vida percecionada pela pessoa influencia o seu estado de saúde, podendo tam-bém correlacionar-se com o desenvolvimento de DCV (26). O SF36 é uma ferramenta que permite aos clínicos obterem uma visão geral das componentes físicas, sociais e emocionais que afetam um determinado indivíduo, o que relativamente aos sujeitos em estudo permitiu comprovar que, de um modo geral, aqueles com DCA inicial apresentam dificuldades físicas, socias e emocionais que condicionam uma qualidade de vida inferior. As três dimensões em que se observa uma diferença mais significativa são a capacidade funcional, a vitalidade e os aspetos sociais. É de salientar a importância que o apoio social adquire na qualidade de vida de um indivíduo, e uma boa interação entre este e a sua rede social favorece um melhor bem-estar físico e mental, o que naturalmente pode ajudar a prevenir as DCV (25). Este estudo apresenta algumas limitações. Primeiro, o número limitado de casos obti-dos perante as premissas colocadas para a sua identificação durante período de tempo em que

foi possível realizar este estudo. Sendo o mesmo baseado numa amostra de conveniência ele beneficiaria de um prolongamento do período de colheita, já que tornaria possível aumentar o seu tamanho.Segundo, para avaliar a influência da obesidade ou excesso de peso utilizou-se o IMC, que poderá não ser a medida antropométrica com maior valor preditivo de risco cardiovascular comparativamente à medição do perímetro abdominal ou ratio cintura:anca (27). Todavia, a SEC preconiza a utilização da medição do IMC na prática clínica devido ao baixo número de evidências que existem acerca da medição da adiposidade abdominal ou quantidade exata de massa gorda como determinantes do risco de DCV (16). Terceiro, a presença de dislipidémia e hiperten-são foi avaliada apenas por informação fornecida pelo inquirido ao que poderá estar associado algum erro. A sua identificação seria mais fiável através da observação de registos clínicos prévios ao internamento relativos à pressão arterial sistólica e diastólica, e à análise laboratorial dos níveis de colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de alta densidade (HDL) e triglicéridos, o que não foi possível de realizar. Por fim, embora existam algumas evidências que mostrem que as patologias concomitantes e os medicamentos questionados podem ter influência na etiologia das DCV, este estudo não permitiu identificar essa relação provavelmente devido ao número limitado de observações.Apesar do número limitado de sujeitos em

estudo, foi possível comprovar a presença que al-guns fatores de risco cardiovascular tradicionais e não tradicionais, os quais poderão justificar a DCA nos utentes do CHCB. Saliente-se o facto de que embora os fatores de risco tradicionais/major (HTA, a hiperlipidémia, o tabagismo e a DM) estejam presentes na população em estudo, outros fatores relativos ao estilo de vida, socio-económicos e psicossociais estudados estiveram associados ao aparecimento destas patologias.A aplicação do questionário criado permitiu tra-çar o seguinte perfil do doente coronário agudo da Cova da Beira: homem, com idade média de 63 anos, habitante numa zona rural juntamente com cônjuge e filhos, numa habitação com boas condições, empregado no sector primário ou secundário; o seu tempo de acesso à consulta de CSP é superior a 1 mês; caracteriza-se por um estilo de vida sedentário e por ter um baixo consumo de fruta, vegetais, peixe, café e bebidas alcoólicas; apresenta frequentemente HTA, colesterol total elevado, DM, excesso de peso e hábitos tabágicos; tem antecedentes familiares de patologias cardíacas; manifesta um elevado grau de ansiedade, algum stress e, no geral, uma qualidade de vida percecionada pior que a de outros indivíduos, particularmente no relaciona-mento social, capacidade funcional e noção de vitalidade.Embora o objetivo principal deste estudo seja a criação de um perfil do doente coronário agudo local, também permitiu adquirir mais conhecimento sobre a influência que parâmetros geralmente não avaliados como eventuais fatores de risco de DCV poderão ter na sua etiologia. Cerca de 80% dos EAM podem ser prevenidos com simples alterações do estilo de vida, as mais recentes guidelines da SEC (16) defi-nem os seguintes objetivos para alcançar uma saúde cardiovascular ideal: não fumar; praticar exercício físico em níveis adequados; realizar uma dieta variada; manter um IMC inferior a 25 kg/m2; ter um valor de colesterol total inferior a 190 mg/dL e de LDL inferior a 115 mg/dL; ter valores tensionais inferiores a 140 mmHg de pressão arterial sistólica e 90 mmHg de pressão arterial diastólica (16). Embora estes fatores desempenhem um papel fundamental na etiologia das DCV, o presente estudo permite verificar que, tal como é referenciado pela SEC, os fatores psicossociais e comportamentais devem também ser considerados. Destaque-se a importância que a cardiologia comportamental possui no reconhecimento destes fatores de risco não tradicionais, na sua interligação com os fatores tradicionais, bem como na criação de medidas que visem a atuação a este nível, pos-sibilitando, deste modo, a prevenção de DCV e

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ARTIGO ORIGINALORIGINAL ARTICLE

suas consequências (25). A aplicação de um questionário que visa identificar vários parâmetros da história so-cioeconómica, clínica, psicossocial e estilo de vida presentes num indivíduo com DCA inicial residente na Cova da Beira a um grande número de indivíduos, possibilitará uma avaliação global

dos possíveis fatores de risco associados às DCV na região e a criação de medidas de prevenção específicas para a população alvo.Sendo as DCV uma causa significativa de mortalidade no nosso país é importante alertar consciências para o facto de a sua prevenção ser fulcral. A criação de medidas preventivas

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dirigidas a cada população e região, o desen-volvimento de uma prática médica não dirigida apenas a fatores clínicos mas também a fatores psicológicos e sociais e a promoção de compor-tamentos e estilos de vida saudáveis, permitirão reduzir o impacto que estas patologias têm na sociedade.

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ARTIGO ORIGINALORIGINAL ARTICLE

EFEITO DA INGESTÃO CRÓNICA DE NITRATOS NA PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS COM

DIABETES TIPO 2

EFFECTS OF CHRONIC DIETARY NITRATE INTAKE IN BLOOD PRESSURE OF TYPE 2 DIABETIC PATIENTS

Sara Lopes Pereira1*, Cristina Seabra2, Carlos Moreira3, José Braz Nogueira3, Manuel Bicho1,4

1 Laboratório de Genética, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal2 Serviço de Oftalmologia, Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa, Portugal3 Serviço de Medicina 1, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa, Portugal4 Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral, Lisboa, Portugal

* [email protected]

RESUMOINTRODUÇÃO: A doença cardiovascular constitui a principal causa de mortalidade na diabetes Mellitus tipo 2. Este fenómeno pode dever-se a anomalias na atividade da sintase endotelial e induzível do óxido nítrico e ser atenuado por fatores ambientais como a dieta. O objetivo do estudo foi determinar se uma dieta enriquecida em nitratos modifica a resposta metabólica e cardiovascular na diabetes tipo 2.MÉTODOS: Estudo experimental cruzado (estudo piloto), envolveu 12 indivíduos com diabetes tipo 2 aleatorizados para uma dieta rica em nitratos (≥185mg/d) ou para uma dieta padrão (<185mg/d), cada uma com a duração de 3 meses.RESULTADOS: Durante a dieta nitratos verificou-se um aumento tendencial da pressão arterial sistólica (+5±4mmHg; p=0,059; η2G=0,14), que se correlacionou com a redução concomitante do consumo de lípidos monoinsaturados (r= -0,631; p=0,028) e de potássio (r= -0,598; p=0,040). CONCLUSÃO: O consumo de nitratos apresenta efeitos ambíguos sendo potencialmente mais benéfico nos indivíduos com maior risco cardiovascular, com uma disponibilidade reduzida de óxido nítrico ou

quando o consumo de antioxidantes ou de lípidos insaturados é simultaneamente superior.

PALAVRAS-CHAVE: óxido nítrico, nitratos, diabetes, hipertensão

ABSTRACTINTRODUCTION: Endothelial dysfunction is the leading cause of morbidity/mortality in type 2 diabetes Mellitus, which can be due to abnormal endothelial and inducible nitric oxide synthase activities, but can also be attenuated by environmental factors such as diet. The main goal of this study was to analyze if a nitrate rich diet would modify the metabolic and cardiovascular outcomes in type 2 diabetic patients. METHODS: Experimental study design (pilot study) involving 12 type 2 diabetic patients randomized to a nitrate rich diet (≥185 mg/d) or a standard nitrate diet (<185 mg /d) each for a 3 month period.RESULTS: During the nitrate diet there was a trend in rise of systolic blood pressure (+5±4mmHg; p=0,059; η2G=0,14), that also correlated with a simultaneous decrease in monounsaturated fatty acid (r= -0,631; p=0,028) and potassium (r= -0,598; p=0,040) consumption.CONCLUSION: The dietary nitrate exhibited ambiguous effects and can be more beneficial on subjects with higher cardiovascular risk, with lower nitric oxide availability or when the antioxidant and unsaturated fatty acid consumption is proportionally higher.

KEYWORDS: nitric oxide, nitrates, diabetes, hypertention

INTRODUÇÃO O óxido nítrico (NO) é um radical livre gasoso de caráter lipofílico que atua como molécula de sinalização em diversos órgãos exibindo uma elevada versatilidade funcional. A nível vascular intervém na modulação da vasodilatação dependente do endotélio, da pressão arterial, da agregação plaquetária e da resposta imunitária e inflamatória à lesão vascular ou aterosclerótica1. No sistema imunitário o NO desempenha funções efetoras e imunorreguladoras, atuando

como agente anti- e pro-inflamatório ou como uma imunotoxina1. Em condições homeostáticas o NO é formado a partir da reação catabólica da L-arginina com o oxigénio molecular catalizada pelas isoformas do NO2. A ação benéfica ou deletéria do NO como mensageiro químico depende do contexto celular envolvido na regulação das quantidades geradas e o período de duração da sua síntese2. A hiperglicemia crónica exerce um efeito profundo na biologia do endotélio vascular ao promover alterações hemodinâmicas e reológicas que induzem uma lesão nas células endoteliais prejudicando a síntese de NO3. Por outro lado, a hiperglicemia promove a sobreprodução de anião superóxido (O2

-) neutralizando o NO e a sua ação sobre o relaxamento das células do músculo liso3.A disfunção endotelial é reconhecida como a principal comorbilidade da diabetes mellitus tipo 2 (DM2), contudo atualmente sabe-se que as anomalias relacionadas com o endotélio podem preceder o estabelecimento da DM2 e inclusive contribuir para aumentar o risco para a doença4. O desenvolvimento das complicações vasculares da DM2 parece adicionalmente, encontrar-se associado à existência de um desequilíbrio entre a concentração de espécies reativas de oxigénio e de nitrogénio (ROS/RNS) e as defesas celulares antioxidantes enzimáticas e não enzimáticos4. Contudo, o estado pró-oxidante pode ser reversível com tratamentos que visem a redução da hemoglobina glicada (HbA1C)4. A síntese de NO endógeno pode advir alternativamente da reação de acidificação do nitrito de origem alimentar no sistema digestivo5. O consumo de nitratos e de nitritos na dieta pode contribuir para cerca de metade da concentração de NO no organismo e ainda participar em importantes reações de nitração e de nitrosação com ácidos gordos e proteínas com efeitos tanto benéficos como prejudiciais no sistema vascular6. Porém, estas reações podem ser inibidas pela presença de antioxidantes como as vitaminas C e E e os flavonóides6. Em meio gástrico estes antioxidantes promovem também a formação de NO e previnem a ocorrência de reações de nitrosação ao competirem com os agentes nitrosantes para o grupo amina7. Por este motivo, o objetivo deste estudo foi

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determinar o efeito uma dieta rica em nitratos/nitritos de origem vegetal (DN) em comparação com uma dieta padrão (DP) na resposta metabólica e cardiovascular de indivíduos com DM2.

MÉTODOSEstudo analítico de intervenção, longitudinal prospetivo experimental cruzado (estudo piloto). Recrutaram-se indivíduos com diagnóstico de DM2, não relacionados entre si, de ambos os sexos, de idade ≥45 anos e índice de massa corporal (IMC) ≥25 kg/m2, a partir do rastreio oftalmológico do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa. Foram excluídos os indivíduos com insuficiência renal, que referissem uma perda de peso >10% nos 6 meses anteriores ao início da sua participação, ou que se encontrassem a fazer medicação/suplementação com nitratos, glucocorticóides ou para a perda de peso. Os critérios da Declaração de Helsínquia foram cumpridos tendo sido obtido o consentimento informado de todos os participantes. Após seleção de elegibilidade os indivíduos foram aleatorizados para a DN (≥185 mg/dia de nitratos) ou para a DP (<185 mg/dia de nitratos) cada uma por um período de 90 dias, ao fim do

qual se realizou o cruzamento para a intervenção alternativa. A aleatorização procedeu-se através de uma sequência aleatória de números gerada por computador. No momento inicial e no final do 3º mês os participantes receberam um ensino alimentar e um plano nutricional de 7 dias com as características da dieta aplicada e respetivo ajustamento calórico (1500 kcal/dia para as mulheres e 1800 kcal/dia para os homens). A terapia nutricional seguiu no geral as recomendações da American Diabetes Association. Os dados foram colhidos no momento inicial, ao 3º e 6º mês de intervenção.Os dados socio-demográficos e anamnese clínica foram obtidos através de questionário por entrevista. O nível de atividade física foi determinado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (versão curta). O peso e a massa gorda corporal foram avaliados numa balança com impedância elétrica (Tanita® BC-420MA). O perímetro abdominal foi avaliado com uma fita métrica extensível e para a estatura foram utilizados os valores indicados no documento de identificação pessoal. O consumo alimentar e a adesão às intervenções foi determinada por diário alimentar de 3 dias em cada fase do estudo. A análise dos diários foi realizada no software Food Processor® ESHA,

cuja base de dados foi adaptada aos alimentos portugueses e complementada com os valores nutricionais de nitratos, nitritos, nitrosaminas, conteúdo total em flavonóides, índice glicémico e carga glicémica, de acordo com as informações publicadas em estudos de relevância8–10.A pressão arterial casual foi aferida pelo método oscilométrico utilizado um esfingomanómetro de braço (Dinamap® DPC101X-PR). Os valores da HbA1C, de glicemia em jejum e de colesterol total foram obtidos por consulta dos resultados das análises de rotina realizadas pelos participantes nos períodos de avaliação do estudo. Para os restantes parâmetros bioquímicos foram colhidos 6 mL de sangue por venipunção para um tubo com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e de 3 mL de sangue para um tubo seco (sem EDTA). A quantificação da hemoglobina realizou-se pelo método da cianomethemoglobina num espectrofotómetro. A atividade da fosfatase ácida (FA) (EC 3.1.3.2.) foi determinada por método espectrofotométrico conforme adaptação do descrito por Dissing num espectrofotómetro UV/Vis da Unicam. A atividade da redutase da methemoglobina (MHbR) (EC 1.6.2.2.) foi determinada por método espectrofotométrico adaptado ao método de Board e as absorvências

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FIGURAS

Figura 1 | Desenho do estudo.

DN, Dieta nitratos. DP, Dieta padrão.

Figura 2 | Variação da pressão arterial sistólica com a dieta.

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foram lidas num espectrofotómetro Ultrospec III da Pharmacia-LKB. Todas as leituras foram realizadas em duplicado.De acordo com as recomendações de Senn para análise de estudos cruzados, empregou-se a ANOVA univariada para descrever as características iniciais dos participantes e a ANOVA para medidas repetidas para descrever os resultados em relação às dietas testadas, com ajustamento à duração da DM2. A intensidade do efeito das dietas foi calculado pelo eta2 generalizado (η2G) de acordo com as recomendações de Bakerman e a relação das variações dos resultados entre as dietas com os fatores nutricionais foi calculada pelo r de Pearson.Os dados foram testados para o efeito do período através da análise de variância (ANOVA) para medidas repetidas. O efeito residual (carry-over) foi excluído da análise dado que a semivida do nitrato é reduzida (< 8h)11. Os valores-p <0,05 foram considerados estatisticamente significativos e a potência para o teste estatístico foi determinada a 80%. Para a análise estatística foi utilizado o software SPSS® (Statistical Package for Social Sciences) versão 19.0.

RESULTADOSO estudo decorreu entre Setembro de 2010 e Setembro de 2011 e envolveu 12 indivíduos que completaram as 2 intervenções nutricionais.

As perdas por follow-up verificaram-se com maior relevância do momento inicial para o primeiro período (-42%; n=11). Para reduzir a margem de perdas no segundo período, optou-se por contactar os participantes antes da última avaliação e que resultou em perdas por follow-up de 20% (n=3). Os motivos identificados para a desistência foram a impossibilidade de deslocação ao hospital (n=2) e a não adesão às recomendações nutricionais (n=1). Dos 12 sujeitos que foram incluídos na análise, 8 iniciaram a dieta nitratos no 1º período e 4 iniciaram-na no 2º período (Figura 1).A amostra foi constituída por indivíduos caucasianos de ambos os sexos (50% homens) e apresentou uma média de idades de 63,3±7,5 anos, uma mediana de 6 anos para o tempo decorrido desde o diagnóstico de DM2 (IC 95%: 1-15 anos) e 67% referiram antecedentes familiares de DM2 (Quadro 1). A nível nutricional verificou-se que o consumo de nitratos e de nitritos se encontrou de acordo com as estatísticas europeias (Tabela 2).Entre a dieta padrão e a dieta nitratos verificou-se uma diferença intencional de 78,0±15,4 mg de nitratos/dia, que apesar de não ter atingido significado estatístico (p=0,080), revelou um efeito prático de magnitude média (η2G=0,13). Para além destes nutrientes, os principais fatores de variação não intencionais entre as dietas foram o consumo calórico (-170±48 kcal/d; p=0,019; η2G=0,19), de lípidos totais

(-10,6±2,0 g/d; p=0,005; η2G=0,24), de lípidos monoinsaturados (MUFA, -5,3±1,1 g/d; p=0,006; η2G=0,24) e de vitamina E (-0,9±0,5 mg/d; p=0,020; η2G=0,16) que se revelaram inferiores durante a dieta nitratos. A DN induziu apenas um aumento tendencial da pressão arterial sistólica (PAS, +5±4 mmHg; p=0,059; η2G=0,14, Figura 2) e outros fatores como a pressão arterial diastólica (PAD) e a HbA1C não atingiram relevância estatística ou significado clínico. Apesar da PAS se ter apresentado mais elevada durante a DN, constatou-se porém que os fatores nutricionais que melhor explicaram este aumento foram não só a redução do consumo de MUFA (r= -0,631; p=0,028), como também a redução da ingestão de potássio (r= -0,598; p=0,040).

DISCUSSÃOO presente trabalho constituiu o primeiro estudo que descreveu o efeito a médio prazo do consumo de uma dieta rica em nitratos no contexto de uma intervenção nutricional de nível ecológico. A amostra estudada apresentou um risco cardiovascular elevado e diversas características do síndroma metabólico (idade, obesidade de grau I tipicamente central, massa gorda equivalente a pré-obesidade ou obesidade), num contexto de diabetes, hipertensão, dislipidemia ou toma regular de medicação antidiabética, anti-hipertensiva e hipocolesterolimiante12.

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23. Houston M. The Importance of Potassium in Managing Hypertension. Cur Hypertens Rep. 2011;13(4):309–17.

24. Kapil V, Milsom A, Okorie M, et al. Inorganic Nitrate Supplementation Lowers Blood Pressure in Humans: Role for Nitrite-Derived NO. Hypertension. 2010;56(2):274–81.

QUADROS

Quadro 1 | Características gerais dos participantes

Os valores representam média±DP para as variáveis contínuas e frequências absolutas (frequências relativas) para as variáveis qualitativas. ADO, antidiabéticos orais;; IECA, inibidores da enzima de conversão da angiostensina II

Características gerais Amostra (n=12)*

Café (unidades/dia) 1 ± 1 Álcool (g/d) 23,8 ± 33,7 Tabaco 0 (0%) Nível de atividade física

Baixo 2 (17%) Médio 8 (66%) Alto 2 (17%)

Medicação Biguanidas 6 (50%) Associações de ADO 4 (33%) Outros ADO 2 (17%) Antag. Rec. Angiotensina II 5 (42%) IECA 2 (17%) Anticoagulantes 5 (42%) Estatinas 10 (83%)

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No momento inicial verificou-se que o grupo estudado se encontrava em controlo glicémico intensivo (HbA1C<7,0%), apesar dos valores da glicemia em jejum e da pressão arterial não se encontrarem de acordo com as recomendações internacionais (glicemia: 70-130 mg/dL; PAS<130 mmHg e/ou PAD<80 mmHg)13. Os valores de colesterol total registaram-se dentro das recomendações de tratamento para a doença cardiovascular (<200 mg/dL)14. A atividade da MHbR encontrou-se dentro dos valores documentados para a população geral, apesar de ser expectável uma atividade mais reduzida15. Este facto pode ser explicado pela toma de medicação anti-hipertensiva que parece

relacionar-se inversamente com a atividade da MHbR por diminuir a necessidade da síntese de NO no sistema vascular15. A atividade da FA revelou-se diminuída devido às características de síndrome metabólico da amostra. Alguns estudos revelam uma associação da variante fenotípica da FA para uma atividade mais reduzida, com estados de obesidade e de propensão para valores de glicemia superiores16. A nível nutricional constatou-se no momento inicial que o consumo de nitratos e de nitritos se encontrava de acordo com as estatísticas europeias (30-181 mg/d e 0-20 mg/d, respetivamente1), e que se registaram alguns agravantes do risco cardiovascular (CDV)

como um consumo de uma dieta rica em gordura saturada (>7% do consumo calórico total) e colesterol (>200 mg/d), com efeito pró-inflamatório (rácio ω6:ω3 de 5:1)1,14. Em contrapartida, os participantes revelaram alguns fatores de caráter protetor contra a doença CDV como um baixo índice de sedentarismo, um consumo moderado de álcool (20-72 g/d) e a ausência de hábitos tabágicos14. A adesão dos participantes foi satisfatória dado que se atingiu apenas 97% do objetivo mínimo para o consumo de nitratos durante a DN (≥185 mg/d). Nesta dieta também se registaram diferentes níveis de ingestão de lípidos, de MUFA e de vitamina E. Contrariamente 10

Quadro 2 | Resultados da intervenção nutricional

Dieta inicial a

Dietas testadas b P

Padrão (n=12) Nitratos (n=12)

Resultado principal HbA1C (%) 6,7 ± 0,8 6,3 ± 0,2 6,7 ± 0,3 0,110

Resultados clínicos Peso (kg) 78,6 ± 9,9 77,1 ± 2,9 77,9 ± 3,0 0,557 IMC (kg/m2) 30,1 ± 3,5 29,5 ± 1,1 29,8 ± 1,0 0,582 Massa gorda (%) 32,4±6,7 33,0 ± 2,1 32,8 ± 2,0 0,818 Per. Abd. (cm) 101,1±7,8 98,2 ± 2,2 99,5 ± 2,3 0,777 PAS (mmHg) 145 ± 19 145 ± 7 151 ± 4 0,059 PAD (mmHg) 78 ± 12 76 ± 3 77 ± 3 0,129 Glicemia (mg/dL) 132,2 ± 33,1 119,1 ± 9,9 129,3 ± 13,4 0,720 Colesterol-T (mg/dL) 116,3 ± 100,6 178,4 ± 7,6 175,8 ± 8,2 0,867 MHbR (UI/L) 17,2 ± 1,1 20,0 ± 1,3 20,0 ± 1,5 0,484 FA (mol/g Hb/h) 116,3 ± 100,6 101,8 ± 7,5 102,6 ± 13,6 0,373 Resultados nutricionais Nitratos (mg) 127,4±56,0 101,8 ± 14,7 179,9 ± 23,9 0,080 Nitritos (mg) 2,6±1,0 2,2 ± 0,3 2,1 ± 0,3 0,656 Nitrosaminas (g) 0,9±0,5 0,8 ± 0,1 0,7 ± 0,1 0,454 Flavonóides (mg) 152,6±86,0 88,5 ± 16,7 100,4 ± 23,8 0,822 Energia (kcal) 2007±497 1690 ± 77 1520 ± 61 0,019* Proteína (g) 100,8±30,3 96,4 ± 4,3 84,1 ± 5,1 0,118 Glícidos (g) 219,8±43,6 178,4 ± 13,8 167,1 ± 9,9 0,122 Lípidos (g) 67,8±24,2 61,7 ± 2,9 51,1 ± 2,7 0,005*

MUFA (g) 27,4±11,1 26,5 ± 1,7 21,2 ± 1,2 0,006* 6:3 5:1 4:1 4:1 0,774

Vitamina E (mg) 8,2±1,2 7,6 ± 0,9 6,7 ± 0,9 0,020* Potássio (mg) 3771,5±666,7 3248,5 ± 187,3 3218,5 ± 208,8 0,113

a Os valores representam média±DP. b Os valores representam média±EPM.*Valor estatisticamente significativo para p<0,050. PAS, pressão arterial sistólica; PAD, pressão arterial diastólica; IMC, índice de massa corporal; Per.Abd., perímetro abdominal; MHBR, redutase da methemoglobina; FA, fosfatase ácida.

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ao esperado verificou-se que o consumo de uma dieta ad libitum com alimentos ricos em nitratos por um período de 90 dias induziu o agravamento dos parâmetros de controlo clínico da DM2, em particular nos valores de PAS. A intervenção não produziu alterações relevantes nos marcadores da dislipidemia e da inflamação. Recentemente foi publicado um estudo que corrobora os resultados encontrados nesta investigação, no qual a ingestão de sumo de beterraba rico em nitratos (434 mg/d) durante 15 dias não produziu efeitos na PAS, na função endotelial ou na sensibilidade à insulina apesar do aumento da concentração plasmática de nitratos e nitritos17. Outros estudos desenvolvidos em ratos com défice de sintase endotelial do óxido nítrico ou com diabetes, em indivíduos saudáveis ou com hipertensão arterial revelaram diversos efeitos como a redução da pressão arterial, da glicemia e da peroxidação lipídica18,19. Contudo, estes estudos diferem do atual em relação ao método de suplementação empregado, verificando-se com frequência o enriquecimento da dieta em sais de nitrato (137-548 mg/d) ou de nitrito (50-1500 mg/L água/dia), em bebidas e alimentos padronizados como o sumo de beterraba (500-750 ml/d) e os espinafres (120-200 g/d), sempre de forma aguda ou por períodos de tempo ≤30 dias18–20. Inclusive, o estudo da dieta DASH demonstrou um efeito atenuante da PAS e da PAD em indivíduos hipertensos após 8 semanas de ingestão de 4 a 5 porções de frutas e vegetais ricas em nitratos, equivalente a uma ingestão diária média de 785,6 mg/d nitratos e de 0,2

mg/dia de nitritos21. Porém o grupo incluído no estudo DASH apresentava um fenótipo de risco CDV substancialmente inferior em relação ao da presente amostra, dado que incluiu apenas pessoas saudáveis com PAS<160 mmHg e/ou PAD<95 mmHg, sem toma de medicação anti-hipertensiva, tendo excluído todos aqueles com DM2 e hiperlipidemia21. A redução não intencional da ingestão de lípidos MUFA e de potássio durante a DN foram os fatores que melhor explicaram o aumento da PAS. Estes resultados são consistentes com o efeito atenuante dos lípidos MUFA e polinsaturados sobre a nitração ácidos gordos e da formação de nitrosotióis em meio gástrico a partir da reação dos nitratos22. Deste modo, foi comprometida a ação anti-inflamatória da DN no sistema vascular, como por exemplo na inibição da agregação plaquetária, da quimiotaxia de neutrófilos e da ação dos macrófagos na lesão vascular, na melhoria do perfil lipídico e da sensibilidade à insulina22. Por outro lado, o potássio possui efeitos reconhecidos na redução da pressão arterial e alguns estudos mostram que o aumento da ingestão de apenas 600 mg/d de potássio induz uma redução de, pelo menos, 1 mmHg na PAS e de 0,5 mmHg na PAD em indivíduos hipertensos, de forma dependente em relação à raça e à ingestão de outros minerais como o sódio, cálcio e magnésio23. De modo análogo, deve ainda ser considerada a sinergia entre os nitratos e os nitritos alimentares e a ação do potássio no sistema vascular. A utilização de nitrato de potássio revela ser mais eficaz que o

cloreto de potássio no aumento da concentração de monofostato cíclico de guanosina e na redução da PAS e da PAD em indivíduos saudáveis24.Por este motivo, é possível concluir que com o aumento dos fatores de risco CDV, o consumo de uma dieta rica em nitratos possa não apresentar relevância funcional, ou por outro lado, na hipótese de influenciar a síntese de NO e o stresse oxidativo, pode acentuar os efeitos ambivalentes do NO na modulação do grau da disfunção endotelial e do estado inflamatório.O caráter exploratório deste estudo piloto tornou possível descrever o efeito dos nitratos dietéticos num contexto ecológico e numa patologia metabólica de base complexa, avaliando os seus benefícios e prejuízos e analisar importantes interações fenótipo-nutriente e nutriente-nutriente. O desenho cruzado permitiu reduzir o viés inerente à variabilidade entre os indivíduos em estudos de associação fenotípica a fatores ambientais. Contudo, os resultados devem ser interpretados com precaução, dado o tamanho amostral reduzido e a existência de fontes de viés como a impossibilidade de utilizar estimativas nacionais sobre o conteúdo em nitratos, nitritos, nitrosaminas e de flavonóides dos alimentos. Por outro lado, os valores de ingestão de nitratos observados durante a DN não atingiram significado estatístico na maioria das análises realizadas em relação à DP, devido à adesão dos participantes, pelo que alguns dos efeitos metabólicos dos nitratos não puderam ser observados ou evidenciados

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FIGURAS

Figura 1 | Desenho do estudo.

DN, Dieta nitratos. DP, Dieta padrão.

Figura 2 | Variação da pressão arterial sistólica com a dieta.

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com potência estatística ou relevância clínica. Por último, convém referir que os valores de glicemia, HbA1C e de colesterol foram inventariados a partir das análises de rotina realizadas pelos participantes no âmbito das consultas de vigilância da DM2, podendo existir discrepâncias inerentes às diferenças analíticas entre os laboratórios de patologia clínica utilizados. No futuro aconselha-se o desenvolvimento de trabalhos com desenhos e tamanhos amostrais apropriados, que permitam aprofundar a análise da relação dos nitratos inorgânicos com a função endotelial em populações de elevado risco CDV e do estudo de interações nutriente-nutriente com relevância biológica.

CONCLUSÕESEm indivíduos com elevado risco CDV, o consumo de uma dieta rica em nitratos pode contribuir para o aumento da PAS. O efeito benéfico ou deletério do consumo regular de nitratos na função vascular sugere ser fortemente influenciado pelas características gerais da dieta, possivelmente pela ocorrência de reações nitração e de nitrosação com outros nutrientes como os lípidos insaturados, a vitamina E e o potássio. Torna-se importante equacionar a recomendação de nutrientes com influência moduladora na disponibilidade de mensageiros químicos como o NO, dado a sua ambivalência em diversos processos de regulação do estado oxidativo e inflamatório na DM2 e na doença CDV.

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EUROPEAN SOCIET Y OF H YPERTENSIONCLINICAL PRACTICE NEWSLETTERS

TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO (HTA) EM DOENTES COM DOENÇA PULMONAR CRÓNICA OBSTRUTIVA (DPCO)

2012; 13: NO 51Csaba Farsang1, István Kiss2, Andrzej Tykarski3, Krzysztof Narkiewicz4

1Cardiometabolic Centre of St Imre Hospital, Budapest, Hungary2Department of Nephrology-Hypertension of St Imre Hospital, Budapest, Hungary3Department of Hypertension, Angiology and Internal Diseases, Poznan University of Medical Sciences, Poznan, Poland4Department of Hypertension and Diabetology, Medical University of Gdansk, Gdansk, Poland

HTA e DPCOA HTA é uma das doenças não transmissíveis com maior prevalência no mundo, afectando entre 30-40% da população adulta. Está frequente-mente associada a outras doenças (diabetes mellitus, doenças renais crónicas, asma e DPCO, entre outras), as quais podem influenciar a própria escolha da medicação anti-hipertensiva. De acordo com os dados da WHO, 250 milhões de pessoas sofrem em todo o mundo de DPCO, sendo esta responsável por 5% da mortalidade total. A incidência da DPCO está em todo o mundo a crescer muito rapidamente. É mesmo a única causa de morte com um aumento da incidência e estima-se que em 2030 se torne na terceira causa com maior prevalência, depois do acidente vascular cerebral ( AVC ) e do enfarte agudo do miocárdio. A DPCO ocorre predominantemente em fumadores de cigarros. É uma doença de progressão insidiosa, caracterizada por obstrução à passagem do ar quer nas vias aéreas quer no parênquima pulmonar. A sintomatologia e ou as complicações podem incluir, dispneia, baixa tolerância ao esforço, tosse crónica seca ou produtiva, pieira, falência respiratória e Cor Pulmonale. Muitos dos doentes com estes sintomas não têm um suficiente conheci-mento da doença e/ou um insuficiente tratamento.As co-morbilidades mais comuns da DPCO são a HTA (28%), a diabetes mellitus (14%) e a doença coronária (10%). De acordo com os dados internacionais conhecidos, a prevalência da DPCO entre os doentes com HTA é semelhante à da população em geral, pelo que a coexistência destas duas doenças pode afectar cerca de 2,5% da população adulta. A DPCO é considerada como um factor de risco independente das doenças cardiovasculares. De entre os doentes com DPCO, a prevalência em relação à população em geral é na Insuficiência Cardíaca 4 vezes maior, na doença coronária 2.5 vezes maior, na doença arterial periférica e nas arritmias 2.4 vezes maior e no AVC 1.5 vezes maior. Para além disto há uma ligação patogénica entre a DPCO e a HTA, já que a hipoxia pode induzir a produção de radicais livres e de disfunção endotelial, conduzin-do à HTA e às complicações cardiovasculares.Existem para o diagnóstico e tratamento de cada uma destas doenças Guidelines próprias. Contudo, estes assuntos não são discutidos em con-junto nas guidelines internacionais.O objectivo do tratamento da DPCO centra-se na redução a longo prazo do declínio da dinâmica pulmonar, na prevenção e tratamento das exacerbações, na redução das hospitalizações e da mortalidade, no alívio sintomático da dispneia e em aumentar a tolerância ao esforço, melho-rando no global a qualidade de vida dos doentes. O tratamento da DPCO inclui terapêutica inaladora (agentes anti-colinérgicos, agonistas dos receptores beta 2-adrenérgicos de longa acção e corticoides), programas

de cinesiterapia respiratória e o uso suplementar de oxigénio. Este tipo de medicamentos pode afectar o sistema cardiovascular (frequência cardíaca, pressão arterial) e pode aumentar a incidência de eventos cardiovasculares (angina pectoris, enfarte agudo do miocárdio).O objectivo da terapêutica anti-hipertensiva centra-se na normalização da pressão arterial, na prevenção da morbilidade cardiovascular, na redução da mortalidade, no aumento da esperança de vida e no melhoramento da qualidade de vida dos doentes. O tratamento passa quer por modificações do estilo de vida (cessação tabágica, redução do consumo de sal, aumento do exercício físico), quer por medicação (diuréticos, beta-bloqueantes, antagonistas dos canais de Calcio, i-ECA´s, ARAII´s , inibidores directos da renina, bloqueadores alfa-1, receptores imidazolinicos ou agonistas dos adrenoreceptores alfa-2 e, por vezes, vasodilatadores directos ou modula-dores da 5-hidroxitriptamina). Atendendo a que alguns destes agentes anti hipertensores podem afectar a dinâmica das vias aéreas, o tratamento da HTA em doentes com disfunção das vias aéreas torna-se particularmente complexo.

Tratamento da HTA em doentes com DPCOO tratamento envolve quer medidas não-farmacológicas quer medidas farmacológicas. Quanto às primeiras, elas passam pela cessação tabágica no sentido de prevenir uma ainda maior degradação da função das vias aéreas, bem como diminuir a morbimortalidade cardiovascular. Exercício físico moderado em doentes com DPCO e HTA sob programas de cinesiterapia pulmonar, conduz a uma melhoria da sintomatologia respiratória, da qualidade de vida e da tolerância ao exercício (Teste dos 6 minutos de marcha).O Tratamento farmacológico da HTA passa, na maioria dos doentes, por combinações de substâncias activas. Para a selecção das mais adequadas, em complemento à da DPCO, vários outros factores devem ser conside-rados: factores de risco e co-morbilidades concomitantes (dislipidémia, hiperuricemia, diabetes mellitus, insuficiência renal crónica, entre outros), efeitos colaterais da medicação usada para a DPCO no sistema cardiovas-cular e sua interacção com a medicação anti hipertensora, bem como os efeitos colaterais desta última medicação na dinâmica das vias aéreas. Não há evidências seguras derivadas de ensaios clínicos randomizados que o tratamento da HTA em doentes com DPCO reduza a morbimortalidade.Tal, deve-se ao facto dos ensaios serem demasiadamente pequenos, não terem um período de seguimento suficientemente longo e com frequên-cia falham no reportar de todos os resultados importantes. Tem contudo havido meta-análises que mostram que os beta-bloqueantes cardio-selecti-vos reduzem, nestes doentes, quer a morbilidade, quer a mortalidade. Para

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além disso, há uma insuficiente evidência dos ensaios clínicos randomiza-dos para determinar qual das substâncias activas é a mais eficaz. Portanto, é importante o clínico saber que esta é uma das áreas onde o tratamento médico não se encontra baseado na evidência, mas antes em estudos con-trolados ou em opiniões de peritos.

DiuréticosNão existem resultados de ensaios clínicos randomizados e controlados com diuréticos em doentes com DPCO. Aparentemente, os diuréticos podem ser benéficos na retenção de líquidos observada na Insuficiência Cardíaca (ICC), a qual é uma complicação frequente quer da DPCO, quer da HTA. Os diuréticos podem inibir o remodeling vascular pulmonar. A Acetazolamida é associada a um aumento da necessidade de ventilação na DPCO. Contudo, os diuréticos podem provocar hipokaliémia, a qual pode ser associada ao efeito hipokaliémico dos esteroides e dos agonistas Beta-2 adrenoreceptores, medicação esta frequentemente usada nos doentes com DPCO. Os diuréticos podem ainda aumentar a retenção de CO2, agravar, em doentes hipoventilados, a hipóxia relacionada com alcalose metabólica ou subir o hematócrito e deteriorar a secreção do muco brônquico.Assim, os diuréticos não estão recomendados para o uso generalizado em doentes hipertensos com DPCO.A Indapamida poderá ser a execpção a esta regra, de acordo com o resul-tado de um estudo de 28 semanas de doentes hipertensos com DPCO sob terapêutica brocodilatadora standard, no qual se verificou um decréscimo no valor médio na Pressão Arterial de 48/30 mmHg e um melhoramento da função respiratória global.

Beta-BloqueantesO desencadear ou o agravar da asma pelos Beta-Bloqueantes não selec-tivos é um facto bem conhecido, ao contrário dos bloqueadores adreno-receptores Beta 1 bem como dos que exercem uma moderada actividade Beta-2 agonista (celiprolol), ou mesmo aqueles que em combinação com a sua alta selectividade Beta-1 aumentam a produção endógena do óxido nítrico (NO), caso do nebivolol, em que a alteração da função das vias aéreas é menos evidente ou mesmo ausente.A terapêutica com Bloqueadores Beta-1 selectivos não só não está contra-indicada nos casos de obstrução crónica das vias aéreas, como provaram mesmo diminuir a mortalidade cardiovascular. Em acréscimo aos seus efeitos benéficos, podem também diminuir a incidência de exacerbações da obstrução crónica das vias aéreas. Contudo, se indicado, em doentes com DPCO e para o tratamento da HTA ou da doença coronária os bloqueadores de alta selectividade Beta-1 podem estar recomendados. A meta-análise de Sapeter e al. concluiu que a não selectividade dos Beta-Bloqueantes Beta-1 diminuem, ao passo que os Beta-Bloqueantes Beta-1 cardioselectivos melhoram, os efeitos brocodilatadores dos Beta-2 miméticos devido à sua acção sobre os receptores Beta-2.

Antagonistas dos Canais de Cálcio (CCB)Os CCB induzem o relaxamento do músculo liso brônquico bem como inibem a diminuição do tempo expiratório forçado (FEV1), sendo ambas as situações mediadas pela actividade física e pela metacolina. Podem ser moderadamente agonistas dos receptores beta-2 provocando uma bron-codilatação e diminuindo a reactividade brônquica inespecífica. Assim o uso dos CCB pode tornar-se benéfico nos doentes com HTA e DPCO. A práctica clínica mostrou que o uso desta classe de medicamentos habitual-mente não provoca efeitos colaterais nas vias aéreas. Contudo, é impor-tante frisar que os CCB podem agravar a relação da perfusão/ventilação e, desta forma aumentar a hipoxia, pelo que a monitorização da saturação de

oxigénio está recomendada. End-points consistentes para o uso de CCB em hipertensos com DPCO ainda não foram publicados.

Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (i-ECA´s)Desde há muito tempo que é bem conhecido o facto de poderem causar tosse seca e exacerbar ou, mesmo induzir, asma brônquica. 10% dos efeitos adversos reportados dos i-ECA´s estão relacionados com broncospasmo. Contudo, estes agentes anti-hipertensores têm provado diminuir a morbi-mortalidade cardiovascular, assim como a doença coronária e a insuficiên-cia cardíaca.Por outro lado, também diminuem as hospitalizações dos doentes com DPCO. Os i-ECAS podem reduzir o efeito de hipokaliémia relacionada com a estimulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona provocado pelos agonistas dos receptores beta-2 usados nestes doentes. É importante frisar que a tosse desencadeada pelos i-ECA´s não é mais frequentes nos doentes com bronquite crónica do que noutras populações de doentes. Contudo, os i-ECA´s podem piorar o estadio clínico de doentes com asma. A disponibilidade sérica aumentada da bradiquinina (responsável pelo aparecimento da tosse ) e da substância P (causadora de broncocons-trição) provavelmente contribuem para este indesejável efeito.Infelizmente, estudos incluindo doentes hipertensos com DPCO são escassos; a duração dos ensaios foi curta, os doentes não foram randomi-zados e grupos de controlo não foram incluídos. Nestes ensaios, os efeitos colaterais relacionados com os i-ECA´s foram raros, apesar de da tolerabi-lidade destes medicamentos ter sido boa.

Antagonistas dos receptores da Angiotensina II (ARAII´s)Uma importante vantagem desta classe de medicamentos em relação com os i-ECA´s é a de praticamente não provocarem tosse e o angio-edema por eles provocado ser raro. Doentes com história de tosse desencadeada como efeito colateral dos i-ECA´s , toleram tão bem os ARAII´s como o placebo. Contudo, num estudo o losartan aumentou a tosse, um efeito colateral que neste caso se admitiu poder traduzir inibição da libertação endógena do óxido nítrico.Contrariamente a estes achados, num outro estudo, o losartan inibiu o broncospasmo induzido pela metacolina e consequentemente diminuiu a redução do FEV1. O bloqueio do receptor AT1 da Angiotensina é benéfi-co porque a hipoxia estimula o sistema nervoso simpático e, consequente-mente, o Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona.

Bloqueadores alfa-1 adrenérgicosEm geral, estes medicamentos não afectam a resistência das vias aéreas. A Prazosina é tida como capaz de inibir parcialmente a broncoconstrição provocada pelo ar frio. A função deteriorada das vias aéreas na DPCO não é modificada por esta classe de medicamentos, pelo que pode ser usada em doentes hipertensos com DPCO.

Bloqueadores alfa e betaO Labetalol não modifica a resistência das vias aéreas, ao contrário do carvedilol que provavelmente devido ao seu fraco efeito alfa-1 e forte efeito beta2 não selectivo aumenta o broncospasmo. Daí que este tipo de medicamento pode não ser a melhor escolha no tratamento de doentes hipertensos com DPCO. Contudo, em doentes com insuficiência cardíaca o carvedilol não agravou a dinâmica das vias aéreas.

Modeladores da 5-hiroxitriptaminaEsta classe de medicamentos é raramente usado no tratamento da HTA. O urapidil para além da sua acção de modelador da 5-hidroxitriptamina

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tem perifericamente um efeito bloqueador alfa-1. Quer um quer outro destes efeitos provocam broncodilatação, pelo que o urapidil pode ser uma alternativa no tratamento da HTA em doentes com obstrução crónica das vias aéreas.

Agonistas alfa-2Estes medicamentos diminuem o tónus simpático central, diminuem a actividade do sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona e ainda aumen-tam moderadamente o tónus parassimpático. Consequentemente aumen-tam a susceptibilidade para um aumento do broncospasmo. Os agonistas alfa-2 podem potenciar o broncospasmo induzido pela histamina, pelo que não devem ser usados em doentes hipertensos com broncospasmo.Para estes doentes não existem dados sobre o uso de medicamentos mais específicos da inibição do tónus simpático central, como é o caso da imi-dazolina, rilmenidina ou moxonidina.

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ConclusõesEm doentes com HTA complicada por DPCO é essencial incluir, em complemento à medicação anti-hipertensiva, medidas não farmacológicas (exercício físico moderado, dieta adequada e restrição de sal, entre outras). É absolutamente crucial a cessação tabágica.Para o tratamento anti-hipertensivo não existem nem regras nem recomendações bem definidas, já que a resposta às diferentes classes de anti hipertensores e suas combinações, tais como antagonistas do Cálcio, Inibidores do sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona e dentro destes preferencialmente os antagonistas dos receptores da Angiotensina II ou em combinação com os antagonistas do Cálcio, assim como a escolha da classe inicial, podem depender de uma resposta individual às mesmas.Se houver uma resposta insuficiente ou inadequada, os diuréticos tiazídi-cos, os beta-bloqueantes cardio-selectivos, especialmente aqueles com propriedades mais específicas (caso do nevibolol ou do celiprolol) ou os antagonistas alfa-1 adrenérgicos, podem ser uma escolha a considerar.Em resumo, o mais importante é adoptar uma escolha flexível.

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TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO EM DOENTES COM DOENÇAS REUMÁTICAS

2013, 14: NO 57Dénes Páll1, Antónia Szántó1, Csaba Farsang2

1Department of Medicine, Medical and Health Science Centre, University of Debrecen, Debrecen, Hungary2Cardiometabolic Centre of St. Imre Teaching Hospital, Budapest, Hungary

IntroduçãoEntre as doenças "reumáticas" a artrite reumatóide (AR) é a patologia imuno-inflamatória mais comum, caracterizada por poliartrite simétrica afectando predominantemente as pequenas articulações das mãos e pés. Em doentes com AR seropositiva, o curso da doença é mais agressivo, com manifestações extra-articulares mais frequentes e maior mortalidade. A Osteoartrite (OA) é uma das causas mais comuns de incapacidade em adultos. É causada por uma lesão crónica na cartilagem das articulações – com as maiores mais frequentemente envolvidas. Além destas patologias, a gota merece uma atenção especial, na medida em que tem múltiplas interacções quer com hipertensão quer com o seu tratamento.

Hipertensão arterial em doentes com artrite reumatóide (AR)A prevalência da hipertensão é substancialmente superior (cerca de 42%) nos doentes com AR do que na população média [1]. Entre os doentes com AR a prevalência da hipertensão é estimada em 52 a 73% [2, 3], e a proporção de doentes bem - controlados é muito menor, em 13,2%, do que na população geral, que estima-se em cerca de 30%, apesar de se encon-trarem grandes diferenças em diferentes populações. A morbi – mortali-dade cardiovascular (CV) estão aumentadas na AR em comparação com os controlos, o que só é parcialmente atribuível aos factores de risco CV tradicionais [4, 5], pelo que a AR pode ser considerada como uma doença com alto risco CV, semelhante à diabetes mellitus ou a doença renal crónica.Este aumento da prevalência de hipertensão em doentes com AR pode ser explicado por vários factores: inflamação sistémica de baixa intensidade, inactividade física e medicação (por exemplo, corticosteróides e anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) usados para o controlo da actividade da doença e dos seus sintomas.A carga inflamatória desempenha um papel crucial no excesso de risco CV observado [6]. A elevação dos níveis de proteína C reactiva de alta sensibilidade (PCR hs) é representativa da inflamação sistémica e é carac-terística dos doentes com AR. A inflamação sistémica de baixa intensidade pode desencadear hipertensão através de vários mecanismos: a redução da produção de óxido nítrico nas células endoteliais leva a vasoconstrição, au-mento da produção de endotelina-1 e à activação plaquetária. Além disso, a PCR é capaz de regular em alta a expressão dos receptores da angioten-sina do tipo I (AT1) activando assim o sistema renina-angiotensina (RAS) [7]. Como consequência, a resistência vascular sistémica está aumentada na AR enquanto é reduzida a elasticidade das pequenas e grandes artérias. Estes processos juntamente com o aumento da rigidez arterial, também observada na AR, podem causar a elevação da pressão arterial [7], au-mento de tensão de cisalhamento e activação da cascata inflamatória.Os doentes com AR estão limitados na sua capacidade de realizar activi-dade física, o que pode ser explicado pela dor crónica e pelo dano articular. A falta de exercício pode levar ao excesso de peso em alguns doentes e,

posteriormente a hipertensão. Além destes processos fisiopatológicos inúmeros medicamentos usados na AR (anti-inflamatórios não-esteróides, glucocorticóides) também podem aumentar a pressão arterial e inibir o efeito anti-hipertensor de fármacos como diuréticos, beta-bloqueantes, ini-bidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs) e bloqueadores dos receptores de angiotensina (ARA) (Ver mais adiante).

Hipertensão arterial em doentes com osteoartrose (AO)A prevalência quer de OA quer de hipertensão aumenta significativamente com o envelhecimento. É frequente a coexistência de OA e hipertensão nos doentes. É muito importante salientar que hoje em dia mesmo os doentes com mais de 80 anos de idade podem beneficiar da redução da pressão arterial [8]. Numa grande coorte de doentes com osteoartrite, 57,6% tomavam medicamentos anti-hipertensores [9].O estilo de vida sedentário causado pela OA e o excesso de peso sub-sequente, agrava ainda mais esta situação. Além disso, o tratamento farmacológico utilizado para a abordagem da OA (veja em AR) também é capaz de aumentar a pressão arterial, como será discutido mais adiante em detalhe.

Aspectos especiais da abordagem de hipertensão em doentes com doenças reumáticasTratamento não-farmacológicoAvaliação de riscoA estratificação do risco cardiovascular deve ser realizada com particular atenção em doentes que sofrem de AR. Existem várias recomendações so-bre como a presença de AR deve ser considerada aquando da estratificação dos doentes nos diferentes grupos, de acordo com o seu risco CV.A AR deve ser considerada como um factor de risco independente para a hipertensão [10]. Foi sugerido adicionar “+ 1” à soma total dos factores de risco em doentes com AR e com hipertensão [7] quando usadas as direc-trizes das Sociedades Europeia de Cardiologia e Europeia de Hipertensão (ESC/ESH) [11]. Por outro lado, as mais recentes recomendações da Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR) para abordagem do risco CV referem um subconjunto de doentes com AR definido pelo cumprimento de pelo menos dois dos três critérios seguintes:• duração de doença de mais de 10 anos;• factor reumatóide ou anticorpo antipeptídeo citrulinado (anti-CCP) positivo;• presença de certas manifestações extra-articulares.Para a população de doentes acima mencionada, os modelos de calculo do risco devem ser ajustados, pela multiplicação da pontuação obtida pelo factor 1,5 [12].

Modificações de estilo de vidaAlém dos esforços para o atingir e manter o peso corporal ideal, a activi-

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dade física regular, a redução da ingestão de sódio e outras considerações dietéticas, provavelmente a recomendação mais importante para um doente com AR é a cessação tabágica. Há actualmente evidências claras da relação entre vários factores (citrulinização de auto-antigénios, altera-ções no equilíbrio das citocinas, aumento do risco de infecções) e o fumo de tabaco, contribuindo para a progressão e maior agressividade do curso da AR (predominantemente a forma seropositiva) [13].

Tratamento farmacológicoO impacto dos fármacos anti-reumáticos, sobre a pressão arterialFármacos anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) e inibidores de cicloxige-nase-2 (Coxibes)Os AINEs não selectivos e os Coxibes são comumente usados na AR e na OA. Numa meta-análise antiga, incluindo 50 ensaios, os AINEs causaram uma elevação média de 5 mm de Hg na pressão arterial sistólica. Foi observado que esse aumento foi mais pronunciado durante o tratamento com piroxicam, indometacina e naproxeno [14]. Uma revisão sistemática recente demonstrou um aumento significativo nos valores da pressão arte-rial média após utilização, durante o mínimo de 4 semanas, de ibuprofeno e indometacina, em comparação com o placebo. Após o tratamento com naproxeno, sulindac, nabumetona e diclofenac, a pressão arterial também aumentou, mas a diferença não alcançou significância estatística. Sobre o tratamento com ibuprofeno, o risco relativo de desenvolvimento de hipertensão foi 2,85 (CI: 1.4-5.6). O efeito dos AINEs não-selectivos aumentando a pressão arterial, foi mais evidente em hipertensos do que em normotensos [15]. Consideram-se como possíveis mecanismos fisiopa-tológicos de base a retenção de sal e água, causada pela diminuição da produção de prostaglandinas nas artérias renais e consequentemente maior efeito antinatriuretico na mácula densa, aumento da resistência vascular periférica promovida pela endotelina-1 e inibição da síntese de prosta-glandinas vasodilatadoras [16].Vários estudos têm demonstrado que a co-administração de AINEs não-selectivos com diuréticos, bloqueadores dos receptores beta, inibidores da enzima de conversão (IECAs) e de bloqueadores dos receptores da angiotensina II (ARA II) causa atenuação do seu efeito antihipertensor. Curiosamente, este efeito não foi observado com bloqueadores dos canais de cálcio (BCCs) [17, 18].Os inibidores selectivos da Cicloxigenase-2 (coxibes) foram desenvolvi-dos para diminuir o risco de hemorragia gastrointestinal em doentes que necessitam de AINEs. No entanto, após alguns anos tornou-se óbvio que os coxibes alteram o equilíbrio no efeito antitrombótico - protrombótico no sentido protrombótico, por inibir a síntese de prostaciclina e alterar o equilíbrio entre a síntese de vasodilatador/vasoconstritor (tromboxano) nas células endoteliais. O aumento da pressão arterial sistólica é mais marcado que o da pressão arterial diastólica. Em consequência, estes processos estão associados ao aumento do risco cardiovascular (Síndrome Coronário Agudo, Acidente Vascular Cerebral). Baseado nos resultados de uma meta-análise composta de 19 estudos, os coxibes mostraram induzir elevação mais acentuada da pressão arterial do que os AINEs não-seletivos ou o placebo [19]. Uma meta-análise mostrou que o rofecoxib (HR: 2,80), celecoxib (HR: 2,57), ibuprofeno (HR: 1,50), diclofenac (HR: 2,40) e outros AINEs (HR: 1,29) aumentam a mortalidade CV [20]. Este efeito foi dose-dependente. Noutra meta-análise envolvendo 114 estudos clíni-cos e dados de 16.094 doentes, o rofecoxib com efeito dose dependente, aumentou o risco de arritmia (RR: 2,90), disfunção renal (RR: 1,53), edema periférico (RR: 0,83) e hipertensão (RR: 1,55). Por outro lado, em doentes tratados com celecoxib, o risco de disfunção renal (RR: 0.61) e de hipertensão era menor do que nos controlos [21]. Na maior meta-análise

publicada até agora com 1.028.437 doentes, os dados mostraram que o maior aumento na mortalidade CV foi encontrado em doentes tratados com diclofenac (OR:1.91) e com o COX-2 selectivo rofecoxib (OR: 1.66), com este efeito prejudicial do diclofenac a ser mais marcado que o do rofecoxib. Verificou-se a tendência para o ibuprofeno causar aumento de Acidente Vascular Cerebral não letal (OR: 1.29). Por outro lado, o naproxeno não aumentou a mortalidade CV (OR: 0,84; NS) [22]. Estes dados sugerem que nenhum AINEs possa ser considerado seguro; no en-tanto, também se tornou evidente que cox-selectividade não é responsável pela associação a maior risco CV, o que é considerado como um efeito de classe deste grupo de fármacos. Este efeito colateral é considerado em relação ao risco CV basal do doente; naqueles com maior risco de base, o efeito prejudicial dos AINEs é mais pronunciado [23]. A selectividade Cox-2 é importante apenas para a diminuição do sangramento gastro-intestinal, que continua a ser o efeito secundário mais significativo dos AINEs. O uso de Coxibes é especialmente desfavorável em doentes com insuficiência cardíaca, insuficiência renal e cirrose hepática. De acordo com as últimas descobertas, entre os coxibes, apenas o rofecoxib foi associado a hipertensão, pelo que o efeito de classe para este grupo de agentes não é evidente [7].Estão a ser realizadas inúmeras pesquisas para identificar moléculas que libertem óxido nítrico (NO), promovendo os efeitos benéficos da molécula de base (principalmente AINEs) pela neutralização dos efeitos nocivos do agente original[24]. Uma dessas novas moléculas emergentes é o na-proxcinod (ao naproxeno juntou-se através de um vinculador o NO), que produz uma diminuição da pressão sistólica estatisticamente significativa comparada com o naproxeno [25].Tomados em conjunto, se a sua utilização não pode ser evitada, AINEs e Coxibes devem ser utilizados com acompanhamento atento da pressão arterial e se for iniciado tratamento anti-hipertensor ou for necessário modificá-lo devem ser escolhidos BCC.

Glucocorticóides (GC)Embora os GCs possam ser administradas por via intra-articular em doentes com AO e com dor severa e resistente ao tratamento, a sua área de aplicação principal é no tratamento sistémico das doenças reumáticas inflamatórias tais como a AR. O efeito de elevação de pressão arterial do tratamento continuado com GC foi identificado há muito tempo. Mesmo a utilização de uma dose moderada de prednisolona (> 7,5 mg / dia) ao longo de mais de 6 meses, causa elevação da pressão arterial e aumenta a incidência de hipertensão [7]. O efeito de aumento da PA pelos GCs é dose-dependente, como foi demonstrado pelo uso de dose baixa (≤ 7,5 mg/dia) de prednisolona ou equivalente, mesmo por um longo período (pelo menos 4 anos), resultando apenas numa tendência para o aumento da pressão arterial em comparação com doentes não tratados [26].Nas últimas recomendações da EULAR, são referidas duas vias opostas sobre a forma como os GCs influenciam o risco CV em doentes com AR: em primeiro lugar, devido ao seu bem conhecido efeito negativo nos lipidos, na tolerância à glicose e na obesidade, os corticosteróides podem elevar o risco CV, e em segundo lugar, eles podem até mesmo diminuí-lo pela supressão da inflamação e diminuição da dor [12].

Fármacos anti-reumáticos modificadores de doença (DMARDs)A Leflunomida induz hipertensão em 2 a 4,7% dos doentes, presumivel-mente, pelo aumento do tónus simpático [7]. A Ciclosporina é conhecida por provocar hipertensão, e por isso está contra-indicada em doentes com hipertensão não controlada. Existem várias hipóteses para a explicação da hipertensão induzida pela ciclosporina: o reforço da vasoconstrição depen-

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dente da endotelina, a redução da produção de óxido nítrico, a supressão da produção de prostaciclina e a redução da taxa de filtração glomerular causando retenção de sódio. A hipertensão induzida pela ciclosporina deve ser tratada com CCBs (diltiazem e verapamil são preferidos porque aumentam os níveis de ciclosporina do plasma). A redução da dose ou suspensão da ciclosporina pode ser necessária se a hipertensão se torna resistente ao tratamento [7, 27].

Terapêuticas biológicasEmbora haja ainda poucos estudos, não existe nenhuma evidência a sugerir qualquer impacto na hipertensão, ou sobre os efeitos da medicação anti-hipertensiva durante o tratamento com esses agentes (inibidores de TNF-alfa, rituximab, anakinra, abatacept). Além disso, o potencial de uso futuro do tocilizumab -anticorpo monoclonal (recombinante) humanizado contra o receptor humano da interleucina-6 (IL-6) tem sido sugerido para tratar a hipertensão resistente [28].

O impacto dos fármacos anti-hipertensores nas doenças reumáticasA medicação habitual dos doentes deve ser cuidadosamente avaliada antes do início de qualquer tratamento antihipertensor. Os doentes com AR apresentam aumento da actividade simpática, que pode resultar em aumento da actividade de renina plasmática. Logo, o tratamento anti-hipertensivo com IECAs parece ser razoável. Além disso, os IECAs suprimem a libertação de mediadores proinflamatórios como os radicais livres de oxigénio e a PCR e promovem a expressão de alguns factores anti-inflamatórios [29]. A inflamação crónica sistémica observada na AR leva à regulação em baixa dos beta-adrenoceptores e das correntes iónicas dos canais de cálcio tipo L, mas não altera a expressão dos receptores da angiotensina II tipo I. Teoricamente, estes efeitos podem atenuar o efeito terapêutico de beta-bloqueantes e CCBs, mas não é esperada nenhuma alteração no efeito dos ARA II na redução da pressão sanguínea [30]. Como a resistência à insulina — especialmente sob tratamento continuado por GC — é frequente, o uso de beta-bloqueantes não-cardioselectivos convencionais e de tiazidas deve ser evitado [31]. Se coexistir fenómeno de Raynaud com AR, os beta-bloqueantes selectivos devem ser evitados enquanto IECAs, ARA II, CCBs, carvedilol ou nebivolol podem ser preferenciais [7].

GotaA Gota é caracterizada por crises inflamatórias severamente dolorosas causadas pela acumulação de cristais de monourato de sódio nas articu-lações e tecidos envolventes. O desenvolvimento de depósitos de cristais nas articulações afectadas é promovido pela elevação do ácido úrico sérico. Uma crise de gota aguda típica envolve geralmente a primeira articulação metatarsofalângica, e é conhecida como podagra. No entanto, a artrite gotosa pode ocorrer noutras articulações, incluindo os tornozelos, joelhos, cotovelos, punhos e dedos. Os sintomas habituais da crise aguda são a presença de dor intensa, acompanhada de tumefacção local, calor e hi-

peremia. O aumento do nível de ácido úrico é o resultado de uma alteração no metabolismo da Purina. A hiperuricemia pode ser de origem primária ou secundária, e ambas podem ser causadas pela excreção insuficiente ou pelo excesso de produção de ácido úrico. O nível de ácido úrico no soro é definido pela proporção da produção e da secreção. Na maioria dos doentes, a hiperuricemia é causada pela secreção diminuída de ácido úrico nos túbulos proximais renais. A obesidade, uma dieta rica em purina e o consumo excessivo de álcool contribuem para a hiperuricemia por so-breprodução de ácido úrico. Um nível sérico elevado de ácido úrico não é necessariamente causa de gota, mas mesmo uma elevação menos pronun-ciada é capaz de aumentar o risco cardiovascular por comprometimento da função endotelial.As opções não-farmacológicas para diminuir o ácido úrico sérico incluem restrição dietética na ingestão de purina, normalização do peso corporal, ingestão abundante de líquidos e descontinuação da toma de diuréticos predisponentes (principalmente as tiazidas).Em relação ao tratamento farmacológico, o alopurinol ainda é usado como gold standard; interfere com a produção de ácido úrico, bloqueando a enzima xantina oxidase. Embora os diuréticos tiazídicos sejam peças fun-damentais da moderna abordagem da hipertensão, está provado que ele-vam os níveis séricos de ácido úrico de forma dose dependente, podendo desencadear crises de artrite gotosa quando usadas doses mais elevadas. Não é conhecido este tipo de efeito na Indapamida. Uma recente meta-análise com dados de 24.768 doentes com gota e de 50.000 controlos mostrou que o tratamento crónico da hipertensão arterial com diuréticos, beta-bloqueantes e — surpreendentemente — com IECAs e ARA II que não o Losartan aumentaram a incidência de gota em doen-tes hipertensos, mas os antagonistas de cálcio e o Losartan diminuíram-na [32]. Para o tratamento da hipertensão arterial dos doentes com hipe-ruricemia, Losartan e os cálcio antagonistas, como a amlodipina devem ser preferidos. O Losartan aumenta a secreção de urato pela inibição da troca de urato/anião nos túbulos proximais renais. Tanto a secreção como a reabsorção pós secreção estão bloqueadas, pelo que a taxa de excreção de ácido úrico sobe de 10 para 30% [33, 34]. Este é um atributo específico desta molécula, que não pode ser observado em qualquer outro ARA II. A Amlodipina aumenta também ligeiramente a uricosúria, aumentando a taxa de filtração glomerular e, consequentemente, a taxa de excreção de ácido úrico [35].

ConclusõesOs doentes com doenças reumáticas cronicas são considerados de alto risco CV, e esta condição está frequentemente associada a hipertensão. O tratamento com AINEs aumenta o risco CV (síndromes coronários agudos, acidente vascular cerebral); portanto, este tipo de terapêutica deve ser efectuado com vigilância apertada dos doentes e durante o período mais curto possível. Nos doentes com hiperuricemia, os anti-hipertensores uricosúricos tais como o Losartan e os CCBs são preferíveis e as tiazidas ou os beta-bloqueantes devem ser evitados.

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EUROPEAN SOCIET Y OF H YPERTENSIONCLINICAL PRACTICE NEWSLETTERS

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8º CONGRESSO PORTUGUÊS DE HIPERTENSÃO E RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL8TH INTERNATIONAL MEETING ON HYPERTENSION AND GLOBAL CARDIOVASCULAR RISK

COMUNICAÇÕES ORAIS/POSTERS

ID RESUMO: 5RELAÇÃO ENTRE A PRESENÇA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL E O BIOMARCADOR DE INFLAMAÇÃO VASCULAR PROTEÍNA-C REATIVA ULTRASSENSÍVEL, EM DOENTES ADMITIDOS POR ENFARTE AGU-DO DO MIOCÁRDIOLuis Bronze, Luís Bronze, Sílvio Leal, Ana [email protected], Unidade Coronária, Hospital de São Francisco Xavier

INTRODUÇÃO: O marcador inflamatório proteína C-Reativa ultrassensível (hs-CRP) reflete a intensidade do processo inflamatório vascular. Pode ser influenciado por fatores de risco, ou pelo uso de fármacos cardiovasculares com efeitos pleiotrópicos.

OBJETIVO: O nosso propósito foi a valo-rização da presença de pressão arterial elevada (HTA), quer como fator de risco conhecido nos antecedentes, quer na medição inicial efetuada na admissão por enfarte agudo do miocárdio (EAM), na sua relação com hs-CRP.

MÉTODOS: Estudámos prospetivamente 30 doentes (dts), com idade média de 66,5±11,5 (47-87) anos, género masculino 24/30 (80%) dts, que foram admitidos consecutivamente por EAM. Valorizou-se a presença de HTA nos re-gistos clínicos pregressos ou a prescrição anterior ao internamento de fármacos anti-hipertensores. Acharam-se dois grupos mediante a presença de HTA (grupo HTA+ e grupo HTA-). Valorizá-mos, ainda, os registos de hs-CRP na admissão (Roche Diagnostics®), bem como achados clíni-cos como a extensão da doença coronária (atingi-mento de ≥2 vasos), terapêutica prévia (estatina ou IECA), função sistólica ventricular esquerda, clearance da creatinina, acidente vascular cerebral prévio, doença arterial periférica diagnosticada e o índice de massa corporal. Registaram-se os valores de pressão arterial sistólica (PAS) na observação inicial no serviço de urgência ou unidade coronária. Comparámos estatisticamente os resultados entre os grupos (qui-quadrado para varáveis nominais, t-Student ou Mann-Whitney de acordo com normalidade da amostra para variáveis contínuas; efetuamos a correlação linear entre a PAS e hs-CRP na admissão).

RESULTADOS: Vide quadro. A figura apresenta a correlação entre a PAS e hs-CRP na admissão: R linear=0,216; p<0,0001.

CONCLUSÕES: HTA prévia não parece influenciar a hs-CRP em dts com EAM, pro-vavelmente pelo maior uso de IECA e estatina nestes doentes. Nesta população a PAS correla-cionou-se com os níveis de hs-CRP na admissão por EAM.

ID RESUMO: 6RELAÇÃO ENTRE O DIÂMETRO DA AURÍCULA ESQUERDA E RIGI-DEZ ARTERIAL NUM GRUPO DE DOENTES HIPERTENSOS SEGUI-DOS EM CONSULTA DE HIPER-TENSÃO/MEDICINA INTERNAHeloísa Ribeiro, Luísa [email protected]

INTRODUÇÃO: O aumento do diâmetro da aurícula esquerda (AE) constitui um mar-cador precoce da doença cardíaca hipertensiva, relacionado com vários outcomes.

OBJETIVOS: Avaliar a prevalência de atingimento vascular e do aumento do diâmetro da AE nos doentes hipertensos avaliados em consulta. Verificar se existe diferença entre o diâmetro da AE e velocidade de onda de pulso (VOP) entre doentes diabéticos e não diabé-ticos e se há relação entre valores de VOP e o diâmetro da AE.

MÉTODOS: Estudo transversal dos doentes hipertensos (diabéticos e não diabéticos) ob-servados em consulta, com VOP solicitada para caracterização vascular e diâmetro da AE de-

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terminado por ecocardiograma. Os dados foram tratados usando SPSS versão 20.0, aplicando-se os testes considerados adequados e consideran-do-se estatisticamente significativo p<0,05.

RESULTADOS: Avaliaram-se 126 doentes hipertensos, 46% do sexo feminino e 54% do sexo masculino, com idade média de 54,7±14,6 anos. 79,4% apresentavam IMC>25Kg/m2, 61,1% dislipidemia, 34,9% Diabetes mellitus (DM) e 17,5% história de tabagismo. Em 23% verificou-se VOP>10m/s. Em 64,7% dos ho-mens o diâmetro da AE foi ≥41 mm enquanto 37,9% das mulheres apresentavam diâmetro ≥39 mm. Verificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre doentes diabéticos e não diabéticos relativamente à VOP (9,8 vs 7,8 m/s, p<0,001) e ao diâmetro da AE (41,7 vs 39,3 mm, p=0,021). Houve uma correlação positiva entre os valores de VOP e o diâmetro da AE (r=0,429, p<0,001), que se manteve após ajuste para PAM (r=0,243, p=0,006). A VOP e a PAM foram fatores preditivos significativos do diâ-metro da AE (respetivamente, ß=0,441, p=0,040 e ß=0,063, p=0,042), o que não se verificou com a presença de DM (ß=1,52, p=0,127).

CONCLUSÃO: Existe uma elevada pre-valência de atingimento vascular nos doentes avaliados, apresentado os doentes hipertensos diabéticos maior atingimento vascular e maior diâmetro da AE. A VOP e PAM foram prediti-vas do aumento do diâmetro da AE.

ID RESUMO: 9HIPERTENSÃO ARTERIAL, IN-FLAMAÇÃO E PROTEÍNA C REATI-VA DE ALTA SENSIBILIDADEAna Célia Sousa, Isabel Mendonça, Catarina Gomes, Andreia Pestana, Mariana Rodrigues, Sofia Borges, Teresa Góis, Lino Nóbrega, Ilídio Ornelas, Roberto Palma dos [email protected] Dr. Nélio Mendonça

RESUMO : A hipertensão arterial (HTA) está associada a um estado pró-inflamatório com libertação de citoquinas e aumento dos níveis de proteína C reactiva de alta sensibilidade (PCR as). Este marcador é um preditor independente do risco de enfarte do miocárdio, AVC, doença vascular periférica e morte e a sua validação deve ser estimada em todas as populações.

OBJETIVO: Investigar se os níveis plasmáti-cos de PCR as se encontram elevados numa população de doentes hipertensos e se a pressão arterial (PA) é um determinante independente

dos níveis de PCR as, nesta população.

MATERIAL E MÉTODOS: Estudo caso-controlo com 993 indivíduos. Os ca-sos incluíram 513 hipertensos, idade média 51,2±7,9 anos, e os controlos 480 indivíduos sem HTA, idade média 50,8±7,3 anos. Em ambos foram estudados fatores demográficos, de risco tradicionais e parâmetros bioquímicos incluindo a PCR (as). Foram utilizados os testes do X2, probabilidade exata de Fisher ou teste de t de Student, conforme adequado, sendo o valor p<0,05 considerado significativo. O coeficiente de correlação de Pearson verificou a correlação entre a PCR as e a PA e a Regressão Linear estimou se a PA era determinante independente dos valores da PCR as.

RESULTADOS: A média plasmática da PCR as foi mais elevada no grupo dos doen-tes em relação aos controlos, 0,269mg/dl vs.0,221mg/dl; p<0,0001. Verificou-se haver uma correlação positiva entre a PA e a PCR as (r=0,117;P<0,0001). Após análise de regressão linear com a idade, IMC, tabagismo, LDL, HDL, diabetes e a PA, esta sai do modelo, demonstrando ser um determinante indepen-dente da PCR as.

CONCLUSÕES: Os indivíduos com HTA apresentaram valores elevados de PCR (as), sendo a PA um determinante independente dos mesmos. Sabendo que a PCR (as) é também um preditor independente de futuros eventos cardiovasculares, uma abordagem que module os seus níveis elevados (perda de peso, estatinas, aspirina, doses elevadas de tocoferol) poderá ser relevante na prevenção primária desta popula-ção.

ID RESUMO: 45A HIPERTENSÃO ARTERIAL ASSOCIA-SE AO SURGIMENTO DE IC DE NOVO EM DOENTES COM STEMIAndreia Filipa Vidal Fernandes, Marta Madeira, Inês Almeida, Francisca Caetano, Joana Trigo, Paula Mota, Maria Carmo Cachulo, João [email protected] Hospitalar e Universitário de Coimbra - Hospital Geral

INTRODUÇÃO: Os doentes com Síndro-ma Coronária Agudo, nomeadamente enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST (STEMI), têm já diagnosticados vários factores de risco cardiovascular que estão na base da doença aterosclerótica. Vários são os factores associados ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca (IC) de novo estando pouco estabeleci-da a relação existente entre o surgimento de IC de novo em doentes com STEMI e hipertensão arterial (HTA).

OBJECTIVO: Avaliar a relação existente entre o surgimento de IC de novos em doentes hipertensos internados por STEMI.

MÉTODOS: Estudo retrospectivo com 1040 D admitidos por Síndroma Coronário Agudo no nosso hospital entre Fevereiro de 2009 e Maio de 2012. Destes foram considerados 404 D admitidos por STEMI. Criaram-se dois gru-pos tendo em consideração o desenvolvimento de IC de novo: grupo IC + (com IC de novo, 30,4%) e grupo IC – (sem IC de novo, 69,6%). Foram comparados factores de risco cardiovas-cular, parâmetros demográficos e analíticos na admissão.

RESULTADOS: Não se verificaram diferenças significativas entre os grupos em relação ao género (p=0,061), diabetes (p=0,858), dislipidémia (0,722), doença coronária con-hecida (p=0,266), . Os D do grupo IC + eram mais velhos (70A vs 62A, p<0,001), hipertensos (76,1% vs 62,9%, p=0,013) e doentes renais crónicos (24,8% vs 7,3%, p<0,001) e menos fu-madores (31,9% vs 46,3%, p= 0,009). Os valores de troponina na admissão (p=66+/-145 vs 37+/-80, p=0,048) e de Nt-pro BNP (6750+/-8722 vs 2987+/-10281, p=0,001) eram mais elevados neste grupo. Em análise multivariada verificou-se que o desenvolvimento de IC se relacionou com HTA (p=0,014), troponina na admissão (p=0,024) e NtproBNP (p=0,022) e não com diabetes, dislipidémia e tabagismo.

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8º CONGRESSO PORTUGUÊS DE HIPERTENSÃO E RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL8TH INTERNATIONAL MEETING ON HYPERTENSION AND GLOBAL CARDIOVASCULAR RISK

COMUNICAÇÕES ORAIS/POSTERS

CONCLUSÕES: Nesta população a hiperten-são arterial associou-se ao surgimento de IC de novo em doentes com STEMI.

ID RESUMO: 46ESTUDO DOS FATORES PREDI-TORES DE RISCO PARA EVENTOS NA HTA DURANTE A GRAVIDEZRaquel Moreira da Cruz, Ferreira, R., Montez, A., Galante, A., Cunha, S., Mantins, J., Bastos, M., Santos, [email protected] Hospitalar do Baixo Vouga

INTRODUÇÃO: Foram identificados vários fatores de risco predisponentes para o desenvolvi-mento de distúrbios hipertensivos na gravidez: História familiar ou gestação prévia com pré-ec-lampsia, obesidade, diabetes, Hipertensão Arterial (HTA) crónica, gravidez em idades extremas.

MÉTODOS: Estudo retrospetivo e observa-cional de 88 grávidas enviadas à consulta de HTA entre 1 de Janeiro de 2007 e 31 de Dezembro de 2013. Objetivo: identificar quais os preditores in-dependentes de risco para ocorrência de 1 evento (morte fetal ou materna, pré-eclampsia, eclampsia e baixo peso ao nascer).

RESULTADOS: O estudo englobou 88 grávidas com idades entre os 20 e os 48 anos de idade, idade média 31 ±6 anos. O follow up decorreu até à altura do parto (follow up médio de 37 ± 5 semanas ) e durante esse período foram registados 24 eventos. Através da análise do teste do X2 verificou-se que dentro dos fatores de risco já identificados em estudos anteriores para desenvolvimento de pré-eclampsia apenas a história de HTA gestacional prévia e história de pré-eclampsia em gravidez anterior se mostra-ram como preditores independentes de risco (X2 respetivamente 10,9 e 15,8, p 0,00). Através da análise do X2 verificou-se que o número de fatores de risco foi também um importante preditor independente de risco (X2 12,2, p 0,01). Após estratificação do risco cardiovascular total das doentes em risco baixo, moderado, moderado a alto, alto e muito alto verificou-se pela análise das curvas de sobrevivência de Kaplan Meier diferenças estatisticamente significativas entre as mulheres de baixo e moderado risco cardiovascu-lar (log Rank 7,2 com p <0,01).

CONCLUSÃO: Tal como identificado em estudos anteriores, a HTA gestacional prévia e a história de pré-eclampsia prévia mostraram-se como preditores independentes de risco. Os autores levantam a questão se não deveria existir

um Score de Risco Cardiovascular diferente para este grupo, visto as grávidas terem fatores de risco particulares durante este período.

ID RESUMO: 48TENSÃO ARTERIAL SISTÓLICA COMO PREDITOR DE EVENTO CARDIOVASCULAR EM DOENTES COM SÍNDROME CORONÁRIA AGUDAJoana Neves, Raquel Ferreira, Carla Ferreira, José Mesquita Bastos, José António [email protected] Hospitalar Baixo Vouga, Aveiro

INTRODUÇÃO: A tensão arterial sistólica (TAS) à entrada apresenta valor preditivo de risco de evento cardiovascular (CV) em doentes inter-nados por síndrome coronária aguda (SCA). A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) é outro marcador de risco CV bem definido. Os autores pretenderam avaliar variáveis preditivas de novo evento CV nos doentes internados por SCA.

MÉTODOS: Estudo retrospetivo dos doentes internados com SCA no período decorrido entre 1 de Agosto de 2010 e 31 de Julho de 2012. O follow-up decorreu até 31 de Outubro de 2013 ou até à ocorrência de um evento (SCA, acidente vascular isquémico (AVC), insuficiência cardíaca, disritmias ou óbito de causa cardíaca).

RESULTADOS: O estudo incluiu 431 doen-tes, 312 do sexo masculino (72,4%), com idade média de 67 +/-13 anos. O follow-up médio foi de 22 +/-10 meses, tendo ocorrido no total 73 eventos. Na análise multivariada de Cox, ajustada a variáveis de confusão (sexo, idade, história de hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipi-démia, obesidade e revascularização), obtiveram-se como fatores preditores de evento a TAS à entrada, os eventos prévios, a classe de Killip e a FEVE (HR1,339, 1,636, 1,810, 1,825 com IC 95%, respetivamente). Quando nesta análise foi avaliada a TAS com a FEVE, a primeira mantem-se como preditor independente de risco CV (HR 1,261, p 0,036). Quando analisado o valor preditivo das mesmas variáveis para a ocor-rência de AVC isquémico, a TAS à entrada foi a única que apresentou significância estatística (HR 1,729, p 0,016). Para a SCA a TAS apenas mostra significância estatística na população com idade inferior a 55 anos (Logrank 9,84, p 0,020), apresentando-se como fator preditor de morbi-mortalidade a FEVE e os eventos prévios (HR 1,850 e 2,208, respetivamente, p <0,030).

CONCLUSÃO: A TAS à entrada é um fator,

nesta população, preditor de evento CV global, nomeadamente para o AVC isquémico, sendo na doença coronária só preditivo para indivíduos com idade inferior a 55 anos.

ID RESUMO: 41HIPERTENSÃO ARTERIAL E EDE-MA AGUDO DO PULMÃO RECOR-RENTE…HTA RENOVASCULAR?Emilie Serrão, José Nuno Rosa, José Mário Durães, Nivaldo Nunes, José França, Licínia Araú[email protected] de Sáude Estreito de Câmara de Lobos, SESARAM, EPE

INTRODUÇÃO: O desenvolvimento de hipertensão arterial (HTA) resistente pressupõe a pesquisa de uma causa secundária. A mais fre-quente é a não adesão à terapêutica e nos idosos deve-se também considerar a estenose da artéria renal aterosclerótica. Na maioria dos casos pode ser controlada com medicação anti-hipertensora.

CASO: Doente de 76 anos, caucasiana, com antecedentes de HTA há 5 anos, diabetes mel-litus tipo 2, fibrilhação auricular, dislipidémia, insuficiência cardíaca isquémica, e doença renal crónica (estadio II da National Kidney Founda-tion). Seguida regularmente no médico assistente, verifica-se nos últimos meses ao descontrolo da pressão arterial (PA 160/105 mmHg), agrava-mento ligeiro da função renal (FR) (Creatinina-Cr 1.0 −>1.53), com necessidade de ajuste e escalada da medicação anti-hipertensora. Não ob-stante, sucedem-se 4 episódios de EAP, no espaço de 6 meses, associados a crises hipertensivas. No último episódio, o quadro foi refratário a qualquer terapêutica e, por apresentar retenção azotada (Cr 3.87/ureia 159) e oligúria, com consequente sobrecarga de volume, iniciou hemodiálise. Con-tudo, não se verificou melhoria nas sessões subse-quentes com vários episódios de ´flash pulmonar edema´ no internamento. Realiza-se então uma tomografia computorizada abdominal que revelou na artéria renal esquerda, uma extensa placa calcificada que condicionava uma estenose>70%, sem estenose significativa na artéria direita. Re-alizou então uma angioplastia com colocação de stent na artéria afetada. Verificou-se uma descida progressiva da PA, até descontinuação de todos os anti-hipertensores. A FR regressou à normalidade progressivamente com suspensão da hemodiálise após 3 meses.

CONCLUSÃO: O ´flash pulmonar edema´ é uma manifestação rara de estenose da artéria renal mas quando existe, e associado a crises hiperten-

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sivas, está geralmente associado a esta entidade. A revascularização, com colocação de um stent, permitiu a resolução da HTA e a melhoria da FR.

ID RESUMO: 16IMPORTÂNCIA DA MODIFICAÇÃO DO PERFIL TENSIONAL EM DOEN-TES COM ACIDENTE VASCULAR CEREBRALCarlos Santos Moreira, Paula Alcântara, Cristina Alcântara, J. Braz [email protected] de Medicina I/CHLN-HSM-Serviço de Medicina I

INTRODUÇÃO: O objectivo do presente estudo foi avaliar as alterações do ritmo circa-diano da pressão arterial observadas em doentes com AVC.

MÉTODO: Foram estudados doentes que tinham tido AVC na enfermaria do nosso serviço e que possuíam medição ambulatória da pressão arterial (MAPA) nos seis meses anteriores apresentando perfil “dipper” e nos seis meses posteriores ao AVC. Alem do MAPA os doentes apresentavam análises e exame clínico. Utilizou-se os modelos de qui-quadrado e t-student tendo-se considerado significativo valores de p<0,01 (“two-tailed probabilities”).

RESULTADOS: Os factores de risco dos 100 doentes incluídos foram 78 hipertensão essencial (78%), diabetes mellitus 25 (25%) e fumadores 19 (19%). Todos os doentes incluídos no estudo apresentavam AVC isquémico e em 74 (74%) doentes foi abolida a descida nocturna da pressão (“dip”) superior a 10%, tendo em 28 doentes (28%) apresentado na segunda medição um perfil de “dipper” invertido (a média da pressão noc-turna era superior á pressão diurna). Os “dipper” invertidos e os não “dipper” não apresentava dife-rença significativa entre os dois grupos em relação ás variáveis estudadas, excepto no IMC que era superior nos doentes “dipper” invertidos. Em relação á proteinúria verificou-se que os doentes apresentavam valores significativamente elevados (antes: 78,06+64,38 mg/dl, após: 132,73+101,36 mg/dl, p<0,01) após o AVC, bem como elevação do fibrinogénio (antes: 386±183 mg/dL, após 435±201 mg/dL, p<0,01).

CONCLUSÃO: Com o nosso trabalho detectamos uma alteração patológica do perfil cir-cadiano após a ocorrência de AVC. Nos doentes com elevado índice de massa corporal a alteração de perfil além de não dipper ainda apresentava na maioria dos casos perfil dipper invertido, o

qual por si só parece aumentar o risco de AVC. Detectou-se igualmente agravamento do perfil in-flamatório evidenciado pelo fibrinogénio e maior gravidade na lesão renal evidente pela proteinúria

ID RESUMO: 19UMA CAUSA INVULGAR DE HI-PERTENSÃO ARTERIALMarta Madeira, Tiago Couto, Inês Almeida, Inês Gante, Ricardo Marques, João Rua, Jorge Fortuna, Ana [email protected]ço de Cardiologia, Centro Hospitalar e Uni-versitário de Coimbra – Hospital Geral

INTRODUÇÃO: A doença renovascular é uma importante causa de hipertensão arte-rial (HTA) secundária. Quando diagnosticada e tratada apropriadamente pode ser potencialmente curável. Na maioria dos doentes é secundária a doença aterosclerótica ou displasia fibromuscular (DFM).

CASO CLÍNICO: Doente (D) do sexo feminino, 25 anos, referenciada à consulta por HTA diagnosticada em medição de rotina, com quatro anos de evolução. Negava a toma regular de qualquer medicação e os antecedentes pes-soais e familiares eram irrelevantes. A D referia cefaleias esporádicas e apresentava pressão arterial no consultório de 160/100mmHg, sem outras alterações ao exame objectivo ou evidência de lesões de órgão alvo. O MAPA confirmou a presença de HTA diastólica grau I. Efectuado estudo complementar para investigação de causas de HTA secundária, do qual se destacava elevação dos níveis de aldosterona e renina plasmática activa no limite superior da normalidade. Sem alterações significativas no ECG, ecocardiograma transtorácico, ecografia renal ou supra-renal. A angiografia por tomografia computorizada com contraste iodado revelou uma angulação no terço proximal da artéria renal direita provocada pelo pilar diafragmático ipsilateral, condicionando uma estenose luminal de 50-60%. Visto não se evidenciar sinais de arterosclerose ou de DFM, assumiu-se que a estenose seria secundária a um fenómeno de compressão extrínseca, estabele-cendo-se o diagnóstico de HTA renovascular secundária à compressão da artéria renal direita pelo pilar do diafragma. Neste momento, a D encontra-se medicada com diltiazem e aguarda intervenção cirúrgica.

CONCLUSÕES: A estenose da artéria renal por compressão extrínseca pelos pilares diafrag-máticos é uma causa rara de HTA renovascu-lar, estando descritos apenas alguns casos na

literatura. Pela sua raridade ainda não foi possível estabelecer o tratamento ideal para esta entidade.

ID RESUMO: 33ESTUDO DA HIPOTENSÃO PÓS-PRANDIAL EM MAPAAna Iva Costa dos Santos, Paulo Pessanha, Inês Soares Pires, Jorge Polónia, Manuel Viana, Susana [email protected] S. João do Porto

OBJETIVOS: Este estudo pretende avaliar a presença de hipotensão pós-prandial (HPP) em doentes submetidos a Monitorização Ambu-latória da Pressão Arterial (MAPA), correlaciona-ndo-a com características demográficas e clínicas destes utentes.

MÉTODOS: Foi efetuado um estudo observacional, transversal e analítico, através da análise dos registos de MAPA (de 2007 a 2010) dos utentes de uma Unidade de Saúde Familiar, com idade >18 anos. Foram avaliadas variáveis demográficas, parâmetros antropométricos, mo-tivo de pedido da MAPA, medicação, presença de diabetes, perfil de variação circadiana da Pressão Arterial Sistólica (PAS), presença de HPP ao almoço e jantar (definida como descida da PAS média ≥ 20 mmHg, relativamente ao valor antes e até 2 horas após a refeição) e variação da frequên-cia cardíaca (FC) pré e pós-prandial (PP).

RESULTADOS: Foram avaliados 626 registos de MAPA, com uma média de idades de 56.8 ±14.1 anos. Destes 60% pertenciam a indivíduos do género feminino. O índice de massa corporal médio foi de 26.9 ±4.6 Kg/m2 e 9% dos doentes eram diabéticos. Em média cada utente consumia 2.3 fármacos. A variação PP média da PAS foi de -4.5±11.1 mmHg ao almoço e -2.4±10.3 mmHg ao jantar e a da FC foi de 2.6±8.9 batimentos por minuto (bpm) ao almoço e 0.6±7.7 bpm ao jantar. A prevalência global de HPP ao almoço foi de 9.6% e ao jantar de 5.6%. Dos doentes dos 19 aos 64 anos, 6.9% tiveram HPP ao almoço e 5.9% ao jantar. Dos idosos 15.9% ao almoço e 4.8% ao jantar apresentaram HPP. A queda PP da PAS ao almoço (mas não ao jantar) correlacionou-se apenas com a idade (r=-0.183, p<0.001). Também a queda PP da PAS ao almoço (mas não ao jantar) foi superior nos doentes sob terapêutica anti-hipertensora (p<0.01).

CONCLUSÕES: O valor da prevalência de HPP foi superior após o almoço tendo sido aproximadamente o dobro nos idosos. Estes resultados podem estar relacionados com uma

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8º CONGRESSO PORTUGUÊS DE HIPERTENSÃO E RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL8TH INTERNATIONAL MEETING ON HYPERTENSION AND GLOBAL CARDIOVASCULAR RISK

COMUNICAÇÕES ORAIS/POSTERS

maior ingestão alimentar ao almoço e com o pico de ação dos fármacos anti-hipertensores. ID RESUMO: 37EFEITO HIPOTENSIVO DE UMA SESSÃO DE EXERCÍCIO AERÓBIO EM IDOSOS HIPERTENSOSMesquita Bastos, Joana Oliveira, Cristina Argel de Melo, Fernando [email protected] Superior de Saúde, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal

INTRODUÇÃO: Uma sessão de exercício físi-co pode diminuir de forma imediata e transitória a pressão arterial casual (PAc) para valores abaixo dos de repouso no período pós exercício – hipo-tensão pós-exercício (HPE). A utilidade clínica da HPE associa-se à sua sustentação no tempo e à sua manutenção durante a realização de actividades da vida diária subsequentes ao período de exercício. É assim, plausível que uma sessão isolada de exercício se possa constituir também como uma intervenção não farmacológica no controlo da hipertensão.

OBJECTIVO: Avaliar o efeito hipotensivo induzido por uma sessão de exercício físico aeróbio em idosos hipertensos.

METODOLOGIA: Amostra constituída por 20 idosos com hipertensão arterial diagnosticada essencial, sem comorbilidades confundidoras, aleatorizados por dois grupos: experimental (n= 10, 81,2±4,7 anos) e controlo (n= 10, 81,2±3,1 anos). O grupo experimental realizou uma sessão de exercício aeróbio de 35 min, constituída por 5 min de aquecimento, por duas frações de 10 min de marcha a 40-60% da frequência cardíaca (FC) de reserva, com intervalo de recuperação de 5 min, e terminando com 5 min de retorno à calma. O grupo de controlo permaneceu sentado durante o mesmo período. Avaliaram-se variáveis antropométricas, medicação, e PAc e FC antes, no intervalo, imediatamente após, e aos 20 e 40 minutos após a sessão.

RESULTADOS: Não se verificaram diferenças na medicação entre grupos. No grupo experimental a PA sistólica aos 40 minutos (123,0±23,1 mmHg) após a sessão foi significativamente inferior aos restantes momentos de avaliação, incluindo o repouso (135,6±19,4 mmHg). A PA diastólica aos 40 minutos (61,9±7,5 mmHg) após a sessão foi inferior apenas ao intervalo da sessão (72,4±8,5 mmHg). No grupo controlo não se verificaram diferenças significativas.

CONCLUSÕES: Uma sessão de exercício

aeróbio promove a HPE, podendo ser considerada uma importante estratégia não farmacológica no controlo da hipertensão em idosos hipertensos.

ID RESUMO: 39IMPORTÂNCIA DA CRONOTERA-PIA NO CONTROLO DA HIPERTEN-SÃO ARTERIALCarlos Santos Moreira, Vitor Ramalhinho, Paula Alcantara, J. Braz [email protected]ço de Medicina I/Cadeira de Medicina I (CHLN-HSM/FML)

INTRODUÇÃO: O conceito da cronoterapia já é utilizado em algumas terapêuticas e tem sido estudo no tratamento da hipertensão, podendo a hora de administração de um medicamento in-fluenciar a sua eficácia. O objectivo deste estudo é analisar o controlo do perfil tensional em doentes medicados com beta-bloqueante e a quem foi alterada a hora de administração da manhã para a tarde.

MATERIAL E MÉTODOS: Fomos estudar de forma restrospectiva 94 doentes (D) hipertensos seguidos na consulta de hipertensão medicados com beta-bloqueantes a quem foi alterada a hora da administração do fármaco da manhã para a noite, tendo-se mantido a mesma dose. Todos os doentes tinham realizados MAPA nos três meses anteriores á mudança e realizaram-no novamente entre cindo e nove meses após a mudança. Encontravam-se polimedicados com IECA ou ARA, diurético, beta-bloqueantes, antiagregante e estatina. O modelo estatístico foi o paired t-student considerando-se significativo p<0,01 (“twotailed probabilities”).

RESULTADOS: Os D apresentavam descida dos valores de pressão arterial sistólica (PASC) (136,9+15,8 vs 128,5+12.6, p<0,01) e diastólica (PADC) (86,2+10,7 vs 76,5+11.6, p<0,01) do consultório e ambulatório (PASA) (132,6+12,6 vs 124,2+11.6, p<0,01) (PADA) (83,7+9,8 vs 74,6+10.3, p<0,01). Esta descida é mais eviden-ciada se considerarmos as pressões ambulatórias durante o dia e a noite (PASAD) (135,1+11,6 vs 130,6+10.6, p<0,01) (PASAN) (129,0+9,6 vs 122,6+8.6, p<0,01) (PADAD) (83,4+8,6 vs 78,4+8,9, p<0,01) (PADAN) (77,4+9,7 vs 68,9+7.6, p<0,01).

CONCLUSÃO: A cronoterapia melhora a eficácia da terapêutica medicamentosa, podemos verificar que existiu diminuição em todos os va-lores apenas por alteração da toma da medicação. A cronoterapia deverá ser aplacada no tratamento

dos nossos doentes, devendo ser equacionado no caso de medicamentos com vários compostos.

ID RESUMO: 42PARAGANGLIOMA COM EFEITO DE MASSA, CAUSA RARA DE HI-PERTENSÃO ARTERIALEmilie Serrão, José Nuno Rosa, Gil Silva, Aires Teixeira, José Mário Durães, Licínia Araú[email protected] de Sáude Estreito de Câmara de Lobos, SESARAM, EPE

INTRODUÇÃO: A avaliação inicial de um doente com hipertensão (HTA) deverá ser adap-tada dado a HTA secundária constituir 5-10% dos casos e não ser custo-efectivo realizar uma avaliação completa em todos os doentes. Assim, o médico deve estar alertado para “pistas” clínicas que coloquem esta hipótese provável, nomeada-mente, uma HTA resistente.

CASO: Doente de 46 anos, sexo masculino, raça caucasiana, com hipotiroidismo medicado, sem outros factores de risco. Medidor habitual da TA, recorre ao médico assistente por apresentar valores na ordem dos 160/90 mmHg. Da anam-nese e exame objectivo não foram identificados sintomas ou sinais que pudessem sugerir uma causa sendo iniciada medicação anti-hipertensora com um diurético e posterior reavaliação. Nas consultas seguintes houve necessidade de reajuste e escalada da medicação contudo, a HTA revelou ser resistente. Nesta fase são realizados exames complementares que revelaram retenção azotada (Creatinina 1.56 Ureia 51) e uma ecografia renal com uma massa condicionando estenose da artéria renal direita. O doente foi submetido a uma laparotomia exploradora com exérese de um tumor retroperitoneal que envolvia toda a artéria renal direita. No pós-operatório assistiu-se às normalizações da tensão arterial e função renal progressivamente. O resultado histológico revelou um paraganglioma com baixa actividade prolifera-tiva sem critérios de malignidade.

CONCLUSÃO: Os paragangliomas são tumores neuroendócrinos raros que se originam nos paragânglios parassimpáticos ou simpáticos, e a sua relevância clínica no estudo da hiperten-são secundária, decorre habitualmente da sua capacidade em secretarem catecolaminas e, mais raramente, das manifestações decorrentes de efeito de massa. A monitorização clínica, labora-torial e imagiológica inclusive com estudos com radioisótopos é importante face à possibilidade de recorrência do tumor (31% casos) e à presença de tumores múltiplos em 26% dos casos.

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NACIONAIS

XV Jor nad as d e H ip er te nsão Ar-ter ial e Risc o Card io vascul ar de Matosinh os14 e 15 de Novembro de 2014Hotel Sheraton - Por to

XIV Cong resso Inter nacional da S oc ied ad e Por t uguesa de Ci r ur-g ia Card io-Tor ác ic a e Vascul ar27 a 29 de Novembro de 2014Albufeira

15º Cong resso d o Núc l e o de Es-t ud os d e Doenç a Vascul ar Ce re -br al d a S oc ied ad e Por t ugue sa de Med ic ina Inter na28 a 29 de Novembro de 2014Por to, T iara Park Atlant ic

9º Cong resso Por t uguê s de Hiper tensão e Risco Card io vasc ular G lobal26 de Fevereiro a 1 Março 2015Centro de Congressos do Algar ve V i lamoura Mar inote l - Algar ve

XXXVI Cong resso Po r t uguê s de Card iolog ia19 a 21 de Abr i l de 2015Palácio de Congressos do Algar ve Salgados – Albufeira – Algar ve

21º Cong resso Nac ional de Me -d ic ina Inter na29 a 31 de Maio de 2015Tivol i Mar ina V i lamoura - Algar ve

CONGRESSOS NAC IO NA IS E I N T ERNACIONAI S I N T ERNACIONAIS

AHA – Ame r i c a n H ear t Associ at i on Meet i ng15 a 19 de Novembro de 2014Chicago - USA

34e s Jour né e s de l ´H y per tension Ar té r i e l l e8th I nte r nat i ona l M eet ing of the Fre nc h S oci e t y o f H y per tension18 a 19 de Dezembro de 2014Pala is des Congrès - Par is

25th Europe an M eet i ng on Hy-pe r te nsi on and C a rd i o vascular Prote ct i on12 a 15 de Junho de 2015Milão - I tá l ia

PORTO

VILAMOURA

AGENDA 2014/2015

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NOVA IORQUE

ATENAS

BARCELONA

FUNCHAL

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