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t Jornalismo da Famecos: 5 estrelas hi per exto Porto Alegre, março-abril 2011, Ano 13 – Nº 85 – Um jornal dos alunos da Famecos Versão online: http://eusoufamecos.pucrs.br Lugar de estudar, não de morrer A ESCOLA A formatura no Tiradentes, a tragédia em Realengo Policiais retiram os corpos das crianças no Rio de janeiro Sérgio Oliveira/ AFP Dia de celebração, em abril, na formatura dos alunos do ensino médio do Colégio Tiradentes, em Porto Alegre, mantido pela Brigada Militar A voracidade do Lobão Nos debates do Fórum da Liberdade PÁGINA 8 Correspondentes de guerra na PUC PÁGINA 5 Lívia Stumpf/ Hiper Felipe Dalla Valle/ Hiper PÁGINAS 6 E 7 Mariana Fontoura/Hiper

Hipertexto Março/Abril 2011

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Edição de Março/Abril de 2011 do jornal Hipertexto, produzido pelos alunos de Jornalismo da Famecos (Faculdade de Comunicação Social - PUCRS).

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Page 1: Hipertexto Março/Abril 2011

t Jornalismoda Famecos:

5 estrelas

hiperexto

Porto Alegre, março-abril 2011, Ano 13 – Nº 85 – Um jornal dos alunos da Famecos

Versão online: http://eusoufamecos.pucrs.br

Lugar de estudar,não de morrer

A ESCOLA

A formatura no Tiradentes, a tragédia em Realengo

Policiais retiram os corpos das crianças no Rio de janeiro

Sérgio Oliveira/ AFP

Dia de celebração, em abril, na formatura dos alunos do ensino médio do Colégio Tiradentes, em Porto Alegre, mantido pela Brigada Militar

A voracidade do LobãoNos debates do Fórum da Liberdade PÁGINA 8

Correspondentes deguerra na PUC PÁGINA 5

Lívia Stumpf/ Hiper Felipe Dalla Valle/ Hiper

PÁGINAS 6 E 7

Mariana Fontoura/Hiper

Page 2: Hipertexto Março/Abril 2011

abertura

2 Porto Alegre, março-abril 2011hiperextot

hipersiderPor Camila Paier

Mariana Fontoura/ Hiper

Índios Guarani Nyunde recebem casas da Funai

Comunidade deixa barracas para habitar residências com banheiro e água encanada perto de Viamão

Guaranis conquistaram da Fundação Nacional do Índio as residências após 10 anos de luta

RBS na academia

A PUCRS assinou em 27 de abril parceria com a RBS envolvendo Tecnopuc e atividade de pesquisa, por intermédio da Famecos. Dentro de 90 dias, a RBS transfere uma operação com aproximadamente 100 pessoas para o Parque Tecnológico e, a partir das próximas semanas, a Famecos começa a desenvolver um projeto de pesquisa em parceria com a empresa, reunindo professores e alunos. “O fato muda a dimensão do nosso relacionamento com empresas de comunicação e marca também o início de nossa atividade junto ao Tecnopuc”, destacou a diretora Mágda Cunha.

Brasileira internacional

Beth Costa, ex-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), ex-editora de Internacional do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, é agora secretária executiva da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). A jornalista carioca exercerá suas funções em Bruxelas, na Bégica, sede da entidade que reúne sindicatos e federações de jornalismo de todo o mundo. Concorreram ao cargo 41 candidatos e em todas as etapas da seleção, a jornalista conseguiu a maior pontuação, conta o professor Celso Schröder, atual presidente da Fenaj.

Agenda de maio

Maio promete ser um mês bastante musical para a capital gaúcha. A diversidade de atrações vai desde Julieta Venegas (dia 11), a Raimundos (dia 26). Há ainda como opção de lazer o hermano Marcelo Camelo (12), Roberta Sá (06), Sublime With Rome (18), McFly (26) e Alice Cooper (31) para fechar bem o mês.

Shortinho

Se a meia-calça, que voltou com tudo no Outono/Inverno passado parece ter vindo para ficar, a tendência do momento é que o shortinho, como se vê nos corredores da Famecos e em todo o campus. Adaptado do verão, o shortinho se mantém nos dias mais frios acompanhado da meia-calça. De inúmeras maneiras, do jeans ao cetim, passando pela cintura alta e o modelo boyfriend, a peça se popularizou entre as meninas.

Aprimoramento

Quer conhecer mais profundamente um segmento da área profissio-nal? Então, aproveite os cursos de extensão da Famecos nesse semestre. Alguns cursos já estão em andamento, outros vão começar em maio, como: Produção Musical (03/05), Reportagem em Quadrinhos (05/05), Comunicação no ponto de venda (07/05), Assessoria de imprensa no esporte (07/05), Retrato para revista (27/05) e Áudio promocional e institucional para relações públicas (18/07). Inscrições na Educação Con-tinuada da PUCRS, prédio 15 do Campus, sala 112, das 8h às 21h15min.

Três perguntas para...Martha Medeiros

Qual tua lembrança marcante dos tempos de Famecos? Nada de muito especial, pra ser sincera. Lembro com carinho de

alguns colegas (Ike, Bebel, Maneco, Dedé), das aulas de fotografia nos sábados de manhã, dos papos inflamados no bar, mas nada de inusitado pra contar, a não ser um tombo medonho, estilo videocassetada, que levei uma vez, dentro do prédio, na hora do recreio. Maior mico...

Ultimamente, quem merece ir para o divã? Acho que todo mundo deveria dar uma passadinha por lá de vez em

quando, pra lembrar que tudo na vida depende unicamente da nossa vontade, de mais nada. É simples, né? Mas tem gente que passa uma vida sem entender isso.

Um ponto negativo e outro positivo de estar na mídia.Negativo é quando alguns leitores (raríssimos) forçam intimidade,

pedem favores pessoais, acham que te conhecem, tentam adivinhar teus pensamentos. De positivo é receber o carinho da grande maioria dos leitores, vê-los prestigiar meu trabalho. Sinto-me muito gratificada com o retorno que recebo. E é bacana também ter a oportunidade de conhecer algumas pessoas de quem sempre fui fã e que nunca imaginei conhecer, como atores, músicos e outros escritores.

Por Daiane Pajares

O Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, teve um significado especial este ano na aldeia indígena da tribo Guarani Nyunde, localizada no distrito de Estiva, a 30 km de Viamão. Após dez anos de luta, a comunidade conquistou, junto à Fundação Nacional do Índio (Fu-nai), a liberação de recursos para construção de 30 moradias popu-lares e espera ansiosa as chaves a serem entregues no próximo mês. As casas de madeira possuem ba-nheiro com encanamento de água e esgoto, dois quartos e cozinha.

As obras começaram dia 15 de fevereiro e são executadas por uma empresa terceirizada. Depois de concluídas, todas as casas receberão saneamento e energia elétrica. Por enquanto, apenas a escola tem luz e a água vem de um poço artesiano. “Estamos com pressa para que elas fiquem prontas. Tem casas em que moram quatro famílias juntas”, diz o vice-cacique da tribo, Tarcisio Karaí.

Assentados há 15 anos no local, os Guaranis dispõem de uma área de sete hectares de terra, de onde tiram boa parte da alimentação para sua sobrevivência. As plantações de milho, batata, aipim e amendoim abastecem o consumo interno dos

160 índios que vivem no local. A pesca e a caça também são ativida-des muito praticadas. “Nós ainda comemos o bicho do mato”, conta Karaí.

Entre as 32 famílias indígenas do assentamento da Estiva, um ho-mem chama atenção. A pele e olhos claros e o sotaque identificam o ar-gentino Frederico Arana, que mora há mais de um ano com os Guaranis. Natural de Buenos Aires, Arana via-jou por algumas cidades brasileiras até chegar ao assentamento, onde foi muito bem recebido. “Eu ajudo eles nas tarefas domésticas e em troca recebo comida e moradia”, afirma. “Já aprendi a pescar e até caçar”. Feliz e satisfeito com a vida na aldeia, Arana não pretende sair dali e nem voltar ao seu país.

Manter as raízesMesmo com condições de vida

próximos aos do homem branco, os Guaranis da comunidade da Estiva trabalham para preservar seus costumes e principalmente sua língua. “Aqui dentro só se fala o guarani”, salienta Karaí. Para ga-rantir a educação das crianças, eles mantêm uma escola indígena e as aulas são ministradas pelo próprio cacique e por professoras da rede estadual. “Queremos que nossas crianças aprendam o português para que saibam se comunicar com as outras pessoas e depois possam

lutar pelos seus direitos”, destaca. Semanalmente, uma equipe de saúde composta por médicos e den-tistas realiza atendimento no posto de saúde da aldeia.

As peças de artesanato, como os cestos de palha, são feitos ma-nualmente e vendidos na beira da estrada. Esta é a única fonte de renda deles, além das doações que chegam com bastante frequência. De acordo com o vice-cacique, a Funai não repassa nenhuma verba ou auxílio para o sustento da comu-nidade. “Todas as pessoas que vem aqui perguntam se recebemos ajuda da Funai, mas a verdade é que não ganhamos nada”, enfatiza. A Funai apenas garante a segurança das terras ocupadas por eles, impedindo ações que representam risco à sua preservação.

Os Guaranis também gostam de organizar festas e apreciam vários estilos musicais, mas o preferido é o forró. Para comemorar datas especiais, como Dia do Índio, Natal e Ano Novo, eles construíram um clube, uma cozinha e um banhei-ro comunitário, que são usados também para reuniões da aldeia. “Gostamos muito de receber outras pessoas nas nossas comemorações”, comenta Karaí. Uma grande festa foi realizada na última semana para celebrar o aniversário de 15 anos da irmã do cacique. Os festejos dura-ram dois dias.

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cidade

3Porto Alegre, março-abril 2011 hiperextot

Recorde de vendas de veículos congestiona trânsito da CapitalPor Morgana Laux

Pelo quarto ano consecutivo houve recorde de vendas de veículos no País em 2010, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabra-ve). Foram comercializadas mais de 5,444 milhões de unidades, com destaque para o setor de automó-veis. No primeiro trimestre do ano, outro índice histórico: 825.206 unidades vendidas. Tantos veículos em circulação provocam problemas de congestionamento, frequentes em Porto Alegre e na maioria das grandes cidades brasileiras.

O trânsito congestionado é um problema evidente na Capital, mas há medidas que ajudariam a ameni-zar a situação, na opinião do gerente de controle e monitoramento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Tarciso Kasper. “Cada vez mais as pessoas utilizam o automóvel. Por consequência, há mais congestionamentos em locais que não apresentava há alguns meses”, explica Kasper. Para ele, o transporte coletivo está ficando de lado. “O poder aquisitivo da popula-ção permite a compra do automóvel para deslocamento. Em consequên-cia, as ruas têm mais sobrecarga de veículos. Aos poucos a cidade está parando em locais críticos.”

Nos horários de pico da manhã, as ruas que apresentam problemas de grande fluxo de veículos na Ca-pital são Protásio Alves, próximo a

Manuel Elias, e a Ceará, na entrada do aeroporto, constata o gerente da EPTC.

Para melhorar a situação, Kas-per revela que serão encaminhados projetos junto à Secretaria da Copa que irão garantir melhorias na mo-bilidade urbana, como o alargamen-to em algumas vias que são pontos críticos na cidade. Além disso, a empresa responsável pelo trânsito da Capital implantou há dois anos, a Central de Monitoramento e Con-trole da Mobilidade. “O objetivo é fazer o controle dos pontos críticos da cidade para tentar minimizar a situação. A equipe visualiza o con-gestionamento ou acidente e, por meio de controles semafóricos são realizadas alterações para melhorar a fluidez em pontos estratégicos”, explica.

Kasper também destaca que é possível fazer mudanças em curto prazo. O gerente de controle e moni-toramento aconselha os motoristas a evitarem circular no horário de pico, organizando uma rotina di-ferente. “Outra solução é utilizar o transporte coletivo, se há condições. Ele ganha em mobilidade em função do corredor de ônibus, que normal-mente não há congestionamento, chegando mais rápido em seu des-tino. O lotação, transporte seletivo, também pode ser utilizados, como os trens”, indica.

Projeto de metrô Em 28 de março de 2011, o

prefeito de Porto Alegre, José For-tunati (PDT), apresentou o projeto

de metrô para a capital gaúcha. Em um primeiro momento, o futuro sistema de transporte tem o seu trajeto a partir da avenida Borges de Medeiros, com extensão rua da Praia, até a avenida Assis Brasil, nas proximidades da sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

Com possíveis recursos do Pro-grama de Aceleração do Crescimen-to (PAC), o metrô de Porto Alegre será integrado com o sistema de transporte coletivo da cidade, com o pagamento de uma única passagem.

Entretanto, o alvo de críticas da po-pulação gaúcha é apenas uma linha em sua primeira fase de projeto, deixando muitos bairros de fora do trajeto. O traçado abrange apenas as avenidas Assis Brasil, Brasiliano de Moraes, Benjamin Constant, Cairu e Borges de Medeiros. As estações serão as seguintes: Fiergs, Bernardi-no Silveira Amorim, Sarandi, Dona Alzira, Triângulo, Obirici, Bourbon, Cairu, Félix da Cunha, Ramiro Barcelos, Voluntários/Conceição e Rua da Praia.

Uma ampliação está prevista

para segunda etapa do projeto, da avenida Borges de Medeiros até a avenida Bento Gonçalves (extensão Antônio de Carvalho), com 10,92 quilômetros. Daer, Praça Itália, Getúlio Vargas, Azenha, Luiz de Camões, Barão do Amazonas, Apa-rício Borges, PUCRS, Carrefour e Antonio de Carvalho são as estações previstas para implantação da se-gunda fase. Caso a proposta esteja incluída entre as obras do PAC de Mobilidade Urbana, o projeto só entrará em execução no final de 2012, admite Fortunati.

g “Está bem ruim, porque há muito congestionamento, principalmente entre às 17h30 e 19h30. É preciso criar alternativas. Duplicar o que é possível.” (Vinícius de Bona Farinon, 26 anos, cientista da computação)g “O trânsito está cada dia pior. O metrô não solucionaria o problema, mas aliviaria. A exemplo de São Paulo, que tem metrô, mas o trânsito é horrível.” (Patrícia Ayub, 24 anos, arquiteta)g “É brabo, caótico o trânsito da cidade. Quando ficar pronto, o metrô vai resolver, mas até lá vai piorar. Porto Alegre tem mais sinaleiras que esquinas nos dias de hoje.” (Franco Vandré Rodrigues Oliveira, 36 anos, motorista)g “Acho um caos, confuso. Cada dia tem mais trânsito. Os motoristas de Porto Alegre são mal educados.” (Cristina Cinara, 29 anos, jornalista)

Motoristas devem seguir outras rotas para evitar o engarrafamento nos horários de pico

Estatísica da Fenabrave indica um dos motivos do engarrafamento, segundo a EPTC

Confira as opiniões sobre o trânsito:

Motoristas terão de continuar buscando alternativas para evitar os congestionamentos

Jonathan Heckler/Hiper

Jonathan Heckler/Hiper

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4 Porto Alegre, março-abril 2011hiperextot

Opinião

Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim Clotet

Vice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenador de Jornalismo: Vitor NecchiProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas Ramos.Estagiários matriculados e voluntários

Editoras: Morgana Laux (Texto e Diagramação), Lívia Stumpf e Mariana Fontoura (Fotografia)Repórteres: Amanda Schnor, Camila Paier, Daiane S. Pajares, Juliane Guez, Luna Pizzato, Mariana de Ávila, Morgana Laux e Sabrina Ribas.Fotógrafos: Amanda da Silva Bocchi, Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Camila G.

Cunha, Carolina Lopes de Oliveira, Caroline Witczak da Silva, Felipe Dalla Valle, Guilherme Santos, Isabella Sander, Jonathan Heckler, Júlia Merker, Karen Dias Martinez, Lisiane Ledesma Dutra, Lívia Auler, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Mariana Fontoura, Mauricio Lopes Krahn, Nicole Pandolfo, Rodrigo Ourique Naumczyk, Samuel Maciel e Vivian de Melo Lengler.

hiper extot Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000Versão online: http://eusoufamecos.pucrs.br

EDITORIAL

Uma caneta, talvez rosa, um bloquinho colorido e um olhar inusitado sobre as coisas. Uma escolha diferenciada das pautas, perguntas marcantes e um texto, de certo modo, muitas vezes, com um traço mais sentimental. Todas essas características estão reunidas nas mulheres que atuam na redação de um veículo, in-dependentemente do tipo. No Hipertexto não é diferente. Nesse semestre, são oito meninas operando texto e edição na arte de fazer um jornal mensalmente.

Nessa edição, a seleção dos assuntos reflete o caráter feminino. Talvez com menos futebol, ou na medida certa – diriam algumas, o jornal repercute e concede importância à tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro. A reportagem de capa, assinada por Luna Pizzato, recorda o fato, mas aponta a realidade: como educar em áreas de risco e agir em momentos de repressão. “A quinta-feira que nunca vai terminar” nos lembra as questões importantes da área educacional, além das doze crianças que tiverem as vidas roubadas.

É claro que todos se comoveram com o ocorrido na escola ca-rioca. Dezenas de jovens que, direta ou indiretamente, sofreram com os atos de um sujeito desequilibrado, fazem Luna conduzir a matéria na perspectiva de como identificar um agressor em poten-cial. E, por isso, a importância de uma mulher para descrever um misto de sentimentos, informações e uma recordação dos fatos.

Nesse caminho, o jornal também apresenta mais assuntos perti-nentes. O ensino praticado nas escolas com disciplina militar como a Tiradentes; a comunidade indígena guarani que conquistou casa com água e esgoto; a exposição com objetos do Titanic, e a eterna musa de Hollywood, Elizabeth Taylor. Com essas e outras pautas, convidamos o leitor a apreciar a edição, primeira sob a óptica de oito repórteres no comando da redação. Realmente, a prova de que somos maioria e que, sim, podemos fazer um jornalismo com qualidade, talvez com um pouco de sentimentos. Mas, isso é só um reflexo da realidade.

Boa leitura!Morgana Laux, editora

O olhar feminino do Hipertexto

Repórteres e fotógrafos se reúnem para definir coberturas

Por Marco Antonio Souza

O profissional que deixou sua marca no radiojornalismo gaúcho faleceu em 5 de abril. Flávio Alcaraz Gomes morreu devido a complica-ções de uma pneumonia. Nascido em 25 de maio em 1927 e formado em Direito pela UFRGS, em 1949, e na primeira turma de Jornalis-mo da PUCRS, de 1952, Flávio Alcaraz se consagrou como radialista pelas coberturas da guerra do Vietnã e do Oriente Médio nos anos 60. Apesar da sua atuação marcada por algu-mas polêmicas, ele revolucio-nou a forma de fazer jornalismo no rádio gaúcho.

O professor Marco An-tônio Villalobos comentou sobre a fama que perseguiu Alcaraz durante sua carreira. “Ele era um cara difícil, com um temperamento explosivo, mas um cara do bem. Ele foi fundamental na história do rádio e revolucionou a maneira que se trabalhava com esse veículo”, definiu Villalobos.

O talento inegável sempre an-dou junto com as polêmicas na carreira de Alcaraz. Uma das passa-gens mais marcantes foi lembrada por ele em uma entrevista para pro-grama Vozes do Rádio, da Famecos, em março do ano 2000.

“Gostaria de dar meu exemplo para vocês, quando quiserem desis-tir. Eu tive uma fatalidade na vida. Cometi um homicídio, fui preso e condenado a dez anos de cadeia. Fui para o fundo do cárcere. E ali eu sobrevivi escrevendo. Um belo dia, estou na minha sala batendo máquina (no Presídio Central de Porto Alegre), ouço um berreiro horrível. Era um preso sendo tor-turado. Eu larguei minha máquina de escrever, peguei o meu gravador e saí voando para lá e gravei tudo. Despachei de contrabando a grava-ção. A Rádio Gaúcha botou no ar.

Teve uma repercussão mundial. Foi notícia de capa em jornais da Fran-ça, da Inglaterra, do mundo árabe, dos Estados Unidos. Mandaram uma repórter do Estados Unidos me entrevistar. Ganhei prêmio de reportagem, preso. Consegui trans-formar um limão em limonada. Essa é a mensagem. Por pior que

possa parecer a situação para vocês, não se entreguem nunca. E a arma é o teu intelecto. É a tua crença em ti mesmo”, relembrou.

Nos anos 70, Flávio Alcaraz foi condenado a dez anos de prisão por ter matado a jovem Maria Alberton com tiro de espingarda. Demitido da empresa Caldas Junior pelo seu primo Breno Caldas, na noite do assassinato, Alcaraz foi admitido por Mauricio Sirotsky, na Rádio Gaúcha, ainda quando cumpria pena no presídio. Permaneceu na rádio Gaúcha até a Companhia Caldas Junior ser adquirida pelo empresário Renato Ribeiro em 1986. De volta à Caldas Junior, es-creveu uma coluna diária no jornal Correio do Povo até 3 de setembro de 2007. Na Rádio Guaíba, coman-dou o programa “Guerrilheiros da Notícia” e os programas “Fórum” e “Guerrilheiros da Notícia” na TV Guaíba (até 2007) e na TV Pampa.

Flávio Alcaraz entra paraa história do rádio gaúcho

Por Camila Paier

Em curta temporada, os porto-alegrenses tiveram a oportunidade de assistir à peça A Gaiola das Loucas no amplo e aconchegante Teatro do Bourbon Country. Di-rigida, estrelada e produzida pelo ator Miguel Falabella, é uma mon-tagem da comédia do dramaturgo francês Jean Poiret, La Cage Aux Folles, de 1973. Cinco anos depois e após grande sucesso, a encenação tornou-se filme homônimo, uma produção franco-italiana dirigida por Édouard Molinaro, que ainda rendeu duas sequências: uma delas também de Molinaro, em 1980, e uma terceira de Georges Lautner, em 1985.

O texto traz uma bem humo-rada crítica à sociedade moderna. Com diferentes adaptações, rendeu ainda outra versão cinematográfica americana, estrelada por Robin Williams, em 1996. Falabella, que ano passado viajou o Brasil com o musical de mesmo enredo, desta vez passou pela capital gaúcha com a peça teatral de Poiret.

No centro da história, se en-contram as personagens Georges, proprietário de casa noturna, e Zazá, vedete transformista. Longe dos holofotes, quando Zazá assume a identidade Albin, a dupla divide o teto e mantém um relacionamento estável há mais de 20 anos. O ca-sal divide a paternidade de Jean Michel, fruto de uma “aventura” de Georges.

As confusões começam quando o rapaz traz uma notícia bombás-tica, vai se casar. Seria um fato normal, caso o pai da noiva não fosse um político rígido e contrário a relacionamentos homossexuais. O desenrolar da história se dá entre as peripécias da diferenciada famí-lia em tentar passar uma imagem púdica para agradar ao filho e os pais da moça. Miguel Falabella deu show de atuação e humor refinado.

Loucuraengaiolada

ARTIGO MEMÓRIA

Flávio Alcaraz, 1ª turma da PUC

Divulgação

Elson Sempé Pedroso/ Hiper

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imprensa

5Porto Alegre, março-abril 2011 hiperextot

Por Daiane Pajares

Os conflitos recentes que resultaram em coberturas inter-nacionais motivaram a presença, na Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (Famecos), de quatro repórteres do Grupo RBS que estiveram nos últimos gran-des acontecimentos do Oriente Médio. Dia 30 de março, estu-dantes dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade ouviram as histórias de Humber-to Trezzi, Luiz Antônio Araújo, Rodrigo Lopes e Daniel Scola. O coordenador do curso de Jor-nalismo da Famecos, professor Vitor Necchi, foi o mediador do encontro, transmitido ao vivo pela internet.

O trabalho em condições pe-rigosas, as barreiras linguísticas e as dificuldades de transmitir as notícias para o Brasil foram as experiências e desafios relatados pelos jornalistas. Primeiro en-viado ao Oriente Médio, Araújo viajou em fevereiro para o Egito, para cobrir o levante popular que derrubou o ditador do país, Hosni Mubaraki. “Nunca imaginei que isso pudesse acontecer no mundo árabe”, relatou o repórter, que também foi agredido e teve seu

equipamento roubado durante os ataques.

Rodrigo Lopes precisou en-trar pelo país vizinho, a Tunísia,

de onde acompanhou a situação na fronteira com a Líbia. Conse-guiu ingressar no país junto com os rebeldes que lutam contra

Muamar Kadafi. “O problema foi na hora de sair. Eles falaram que havia acabado a gasolina e não teriam como nos levar de volta.

Tivemos que pegar uma carona de um carro que passava pela estrada”, contou. O repórter mul-timídia precisou sair do país mais cedo por problemas de saúde. “A decisão de deixar a cobertura foi a mais difícil da minha vida”, lamentou.

Com a volta de Rodrigo, Trezzi foi para a Líbia, onde entrou pela fronteira com o Egito, principal região ocupada pelos opositores. “Um dos maiores problemas que um jornalista pode encontrar é não ter linha telefônica nem acesso à internet para mandar as notícias”, destacou. Além destes obstáculos, Trezzi ainda presen-ciou um bombardeio contra os re-beldes líbios, sofreu um acidente de carro, feriu um olho e também teve que retornar ao Brasil antes do previsto.

Para os futuros jornalistas que sonham em percorrer o mundo cobrindo reportagens, Daniel Scola alertou sobre os perigos enfrentados pelos corresponden-tes. “É uma atividade que não tem nenhum glamour e oferece muitos riscos”, falou. Scola co-briu desastres como o terremoto do Chile em 2010 e o tsunami seguido de terremoto no Japão em março deste ano.

Correspondentes de guerra,um jornalismo de risco

Além do perigo de se tornar vítima, transmitir a notícia é outro drama

Em palestra na PUCRS, jornalistas explicaram os riscos de ser repórter em uma guerra

14 de janeiro – O presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, renuncia ao cargo depois de um mês de manifestações populares. Ali, que estava no poder desde 1987, fugiu do país e disse que não se candidataria às eleições de 2014.

11 de fevereiro – O ditador Hosni Mubaraki, do Egito, renuncia e põe fim ao regime autoritário de três décadas, depois de intensos protestos da população.

13 de fevereiro – Começa a onda de protestos na Líbia. Manifestantes pedem a saída do presidente Muamar Kadafi.

21 de fevereiro – Rebeldes líbios recebem apoio militar de países como a França e Estados Unidos e ocupam a fronteira do país.

20 de abril – Muamar Kadafi ainda permanece no poder e tenta recuperar o controle do país. Rebeldes ocupam apenas uma cidade. Organizações das Nações Unidas (ONU) consegue acordo com o governo do país para enviar ajuda humanitária às regiões mais afetadas pela guerra.

Outros focos – Tunísia e Líbia, Marrocos, Argélia, Iêmen, Bahrein e Jordânia também registraram protestos da população contra seus governos, revolta que tomou conta do mundo árabe no início deste ano.

Da Redação

A comemoração do dia do jornalista, em 9 de abril, trouxe à tona, mais uma vez, a discussão sobre a obrigatoriedade do diplo-ma para o exercício da profissão. Na Famecos, alunos organizaram uma manifestação em defesa da formação universitária específica do jornalista.

Desde o ano passado tramitam no Congresso Nacional duas Pro-postas de Emenda Constitucional (PECs) de iniciativa do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) e do senador Antônio Carlos Vala-dares (PSB-SE), para a retomada

da obrigatoriedade. As PECs ainda não têm data definida para votação na Câmara.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) enviou declaração para o Congresso afirmando ser contra as PECs. A SIP argumenta que, caso aprovadas, a ‘Convenção Interamericana de Direitos Huma-nos e os princípios da Declaração de Chapultepec’ seriam violados. Segundo a SIP, seria violado o princípio de que “toda a pessoa tem o direito de buscar e receber informação, expressar opiniões e divulgá-las livremente. Ninguém pode restringir ou negar esses di-reitos.” Confunde o exercício pro-

fissional do jornalista e a liberdade de informação com a liberdade de expressão da sociedade. O deputa-do Paulo Pimenta acredita que os argumentos da SIP não mudarão a opinião dos parlamentares.

O presidente da Fenaj (Fede-ração Nacional dos Jornalistas), professor Celso Schröder, reuniu-se com os presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara dos Deputados, Marco Maia, para agilizar colocação das PECs nas pautas de votação do Congresso. Pimenta lembrou que a proposta já cumpriu a tramitação necessária nas comissões, e foi aprovada em todas.

CRONOGRAMA DOS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO Obrigatoriedade do diploma de jornalista

segue em tramitação no Congresso

Felipe Dalla Valle/ Hiper

DEBATE NA FAMECOS

Page 6: Hipertexto Março/Abril 2011

6 Porto Alegre, março-abril 2011hiperextot

especial

Tiradentes: disciplina por opção Pais disputam vagas para os filhos nas escolas estaduais com rotina militar

Por Sabrina Ribas

Os prédios e o pátio da escola são limpos. Pichações ou banheiros quebrados, nunca. Os alunos têm uma rotina puxada de aulas e ainda podem escolher para extra-classe atividades como natação, equitação, atletismo, esgrima ou idiomas. O horário para o cumprimento das aulas é rigorosamente respeitado. Com todas essas características, o leitor deve estar se perguntando quanto custa a mensalidade. Nada, essa é uma escola pública.

Todas essas qualidades estão presentes nos Colégios Tiradentes (CTBM), unidades de ensino médio mantidas pela Brigada Militar e Secretaria Estadual de Educação. A estrutura administrativa e física é da corporação, e os professores são cedidos pelo Estado. O currículo escolar é o mesmo de qualquer co-légio público. A diferença é que os alunos, pela característica militar da instituições de ensino, são muito mais exigidos, além de aprenderem valores como disciplina, hierarquia e liderança.

A rotina militar é compartilhada por 1232 alunos dos colégios nas ci-dades de Porto Alegre, Santa Maria, Passo Fundo, Santo Ângelo, Ijuí, São Gabriel e Pelotas. A primeira escola, instalada na Capital, foi criada em 1980, e aceitava somente alunos do sexo masculino, já que tinha o objetivo de preparar para as carreiras militares. As meninas só puderam ingressar nove anos depois, quando já havia mulheres na maioria das forças policiais. As demais unidades foram criadas ao longo dos últimos quatro anos, dentro de um plano de expansão aprovado pelo Governo do Estado e muito discutido por especialistas em educação em razão de seu crité-rio para admissão.

Apesar de ser uma escola públi-ca, o ingresso de novos alunos acon-tece somente após seleção em con-curso público, o que causa polêmica entre educadores que consideram a medida ilegal e discriminatória. Segundo a BM, a escola antes de tudo é de caráter assistencialista, já que reserva 30% das vagas para filhos e dependentes de policiais militares. Os requisitos do edital, que prevêem condições inclusive de saúde, seriam apenas baseados na exigência de que os alunos estejam aptos a atividades físicas e que pos-sam marchar e cumprir as demais tarefas de cunho militar.

Porém, segundo o doutor em Psicologia Escolar e mestre em Educação, Fernando Becker, não há justificativa para a existência de um processo seletivo em uma escola pública estadual, que deveria acolher a todos. “É claro que os re-sultados serão melhores em escolas com alunos pré-selecionados e que, em tese, seriam ‘superiores’ aos demais. Louvável seria se esses resultados fossem atingidos por escolas convencionais, onde os alunos têm dificuldades e os pro-fessores mesmo assim conseguem superá-las”, diz Becker.

O especialista ainda defende que, se a procura por vagas é muito grande, poderia ser criado um sistema semelhante ao colégio Aplicação, onde o sorteio é a forma de definir quem entra no colégio. A escola de ensino fundamental e médio também é pública, mantida pela UFRGS.

Um fato que ninguém discute é a qualidade superior do ensino, que pode ser verificada pelo alto índice de aprovação dos alunos do Colégio Tiradentes nos vestibulares e avaliações. Em 2009, 27% dos formandos passaram no vestibular da UFRGS; da turma de 2010, fo-ram 24 aprovados. Na classificação do Sistema de Avaliação do Ensino

do Estado do Rio Grande do Sul divulgada em novembro do ano passado, que examinou um total de 2,6 mil escolas estaduais, a unidade de Porto Alegre foi considerada a melhor escola pública estadual.

Na escola de Santo Ângelo, que começou a funcionar no ano passa-do com 82 alunos no primeiro ano, o comandante relatou um dado curioso. Segundo o major Alexan-dre Brite, apenas 35 estudantes atingiram a média necessária para aprovação e ingresso no segundo ano. “Quando alguns pais sou-beram da reprovação de mais de 40% dos alunos, pediram que nós ‘resolvêssemos’ o problema, e ime-diatamente informamos que a única solução era repetir o ano, o que, em nossa escola, só é permitido uma vez”, relata o oficial. O major Brite acredita que o desempenho dos alunos pode ser decorrente da for-

ma como o ensino é trabalhado em algumas escolas, onde os educandos passam de ano independentemente de terem absorvido o conhecimento.

Rotina de caserna A correria começa cedo, às seis

horas, quando Paula acorda e em seguida sai para pegar o ônibus. A farda azul clara vai no cabide, bem passada, e é vestida somente às sete, quando os banheiros da escola são abertos. Depois de marchar à frente dos outros 343 alunos, a aluna Paula Sant’anna, do Colégio Tiradentes de Porto Alegre, acompanha as aulas na turma do terceiro ano. “Vim de colégio público e tive de fazer um cursinho preparatório para ser aprovada no concurso. A opção foi minha, queria uma escola melhor e meus pais deram todo o apoio”, relata a jovem que, no ano passado, quando ainda estava no segundo

ano, foi aprovada no vestibular da UFRGS para o curso que escolheu, Arquivologia.

Essa mesma determinação é compartilhada pelo aluno Matheus Silveira Wolschick, que pretende seguir carreira no Exército Brasi-leiro. “Fui incentivado por minha madrinha, que é sargento da Briga-da e pelo meu pai, que também era militar da reserva”, conta. No dia da entrevista era o sétimo dia do faleci-mento do pai de Matheus, baleado por um jovem durante um assalto. Mesmo assim, o aluno não desistiu de ser o comandante dos 180 no-vos alunos do Colégio Tiradentes, que receberam a boina no sábado (16/4), um símbolo entregue após a fase de adaptação e que representa o compromisso dos estudantes com a proposta da escola, de “formar intelectual e moralmente cidadãos do futuro”.

Ingresso de novos alunos na escola acontece após seleção em concurso público

Caroline Witczak/Hiper

MarianaFontoura/Hiper

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hiperextotPorto Alegre, março-abril 2011 7

especial

1. Blacksburg, EUA – 16 de abril de 2007 – 32 mortos.

O estudante sul-coreano Cho Seung-hui entrou em um aloja-mento de sua universidade, o Ins-tituto Politécnico da Universidade Estadual de Virgínia, e atirou em duas pessoas. Duas horas depois, voltou ao campus e matou outras 30 pessoas que estavam em salas de aula. Foi o pior massacre em uma universidade registrado nos Estados Unidos.

2. Dunblane, Escócia – 13 de março de 1996 – 17 mortos.

Armado com quatro revólve-res, o vendedor desempregado Thomas Hamilton invadiu o giná-sio da Dunblane Primary School. Matou 16 crianças que tinham entre 5 e 6 anos e uma professora, antes de se suicidar.

3. Erfurt, Alemanha – 26 de abril de 2002 – 16 mortos.

Depois de ser expulso da es-cola, o jovem Robert Steinhäuser, 16 anos, invadiu o local e atirou contra alunos e funcionários. O massacre matou 13 professores, dois alunos e um policial e termi-nou com o suicídio do atirador.

4. Winnenden, Alema-nha – 11 de março de 2009 – 15 mortos.

Ex-aluno entrou na escola

Albertville e abriu fogo contra os estudantes. Nove alunos e três professores foram mortos pelo ati-rador, que deixou o local dirigindo um carro. Durante a fuga, matou outras três pessoas, entre elas dois pedestres. O criminoso foi morto, a 40 quilômetros dali, em uma troca de tiros com a polícia.

5. Montreal, Canadá – 6 de dezembro de 1989 – 14 mortos.

Marc Lepine, de 25 anos, in-vadiu uma classe da Escola Poli-técnica de Montreal armado com um revólver. Depois de separar os estudantes por sexo, ele abriu fogo contra 14 mulheres. Lepine se suicidou depois do que foi conside-rado o maior massacre da história do Canadá.

6. Littleton, EUA – 20 de abril de 1999 – 13 mortos.

Dois estudantes da Columbine High School atiraram contra alu-nos e funcionários. Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, planejaram o ataque meses antes e tomaram o controle dos corredores com revólveres e bom-bas caseiras. Doze alunos e um professor foram mortos. Depois, os dois se mataram.

7. Austin, EUA – 1º de agosto de 1966 – 13 mortos

Um dia depois de matar a mãe

e a mulher, o ex-fuzileiro naval Charles Whitman subiu na torre da Universidade do Texas e atirou contra os estudantes, matando 13 e ferindo 30 pessoas. O massacre só terminou quando policiais atin-giram Whitman.

8. Rio de Janeiro, Brasil – 7 de abril de 2011 – 12 mortos.

O ex-aluno Wellington Mene-zes de Oliveira entrou na escola municipal Tasso da Silveira car-regando dois revólveres e muita munição. Ele atirou dentro das salas de aula, deixando 12 estu-dantes mortos e outra dezena de alunos feridos. O ataque cessou quando o atirador foi alvejado por um policial e se matou.

9. Paducah, EUA – 1º de dezembro de 1997 – 11 mortos.

O adolescente Michael Carne-al, de 14 anos, matou 11 estudantes em uma escola no Kentucky. Cerca de 40 estudantes estavam de mãos dadas fazendo uma oração quando começaram os disparos.

10. Kauhajoki, Finlândia – 23 de setembro de 2008 – 10 mortos.

O estudante Matti Juhani Saari entrou armado na Escola de Hote-laria de Kauhajoki e matou nove alunos e um professor. Ele atirou em si mesmo e morreu no hospital.

A QUINTA-FEIRA QUE NÃO ACABOU

A morteinvadea escola

O massacre em Realengo, no Rio

AS DEZ PIORES

Tragédia em bairro popular do Rio de Janeiro provoca comoção nacional

Vanderlei Almeida/AFP

Por Luna Pizzato

A manhã da quinta-feira, dia 7 de abril, poderia ter sido o início de mais um dia tranquilo e de sol no Rio de Janeiro. Porém, a Cidade Maravilhosa foi tomada pelo ter-ror, quando Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, matando 12 crianças, deixando 13 feridas e, logo após, suicidando-se. Passado o horror, os brasileiros começaram a questionar o que teria levado aquele homem a executar tamanha crueldade.

Para o psiquiatra e professor da PUCRS, Rodrigo Grassi, o ho-micida de Realengo não pode ser visto como um serial killer ou um psicopata, visto que, ao terminar de executar o seu plano, se matou. “Ele agrediu a terceiros e a si pró-prio, psicopatas e serial killers só cometem o suicídio em situações de julgamento, quando não encontram nenhuma outra saída. E mesmo assim, isso não é o habitual”. Oli-veira possuía um histórico familiar de psicopatologia grave, já que sua mãe biológica era esquizofrênica. Esse quadro já o levaria a uma con-dição de vulnerabilidade biológica a doenças mentais.

Segundo testemunhas, Welling-ton de Oliveira, ria e mostrava-se satisfeito ao executar as crianças. Para Grassi, isso só ajuda a con-firmar sua hipótese. “A minha hipótese é de um quadro psicótico, provavelmente com delírio reli-gioso. Ele continha um histórico familiar de doença mental impor-tante e também sofreu, dentro do colégio, traumas precoces através do bullying”. O psiquiatra afirmou que pessoas que sofrem maus tratos familiares e dentro das escolas estão mais propícios a desenvolver possí-veis psicopatologias e dependência química. “Essas agressões causam

uma série de alterações no cérebro dessa criança, devido a uma expo-sição ao trauma”, assegura.

Casos de bullying tornaram-se normais em meios escolares e, para a coordenadora do departamento de fundamentos da educação da PUCRS, Maria Conceição Pillon Christofoli, é fundamental que o educador saiba se colocar diante do problema. “A escola deve ser um espaço de aprendizagem e solidarie-dade. E o professor tem que auxi-liar e ensinar seus alunos a serem tolerantes com as diferenças”, diz.

A escola Tasso da Silveira, situa-se no bairro de Realengo, zona de classe média baixa do Rio de Janeiro e, educar numa provável zona de risco, implica cuidados especiais. Christofoli enfatiza a im-portância da instituição de ensino se inserir e participar da vida da comunidade. “A escola deve chamar essa população para participar das atividades. Assim essas pessoas se sentem envolvidas e passam a olhar a instituição como um espaço delas também, e não apenas das crian-ças”. Contudo, a pedagoga acredita que o massacre não tenha relação com a região em que o colégio se encontra. “O fato de alguém ter co-metido essa violência gratuita não é do cotidiano da escola. Foi um ato isolado, provocado por uma pessoa com doenças psicológicas que ne-cessitava de tratamento”, pondera.

E como pode-se identificar um psicótico? Conforme Roberto Grassi, são pessoas que, a princí-pio, apresentam dificuldade em processar dados da realidade e encontram-se em um quadro de sofrimento individual. “Geralmente mudam drasticamente o padrão de funcionamento. Ficam mais reclusas e com algum fanatismo específico. Também há aqueles que passam a ouvir vozes e a fugir da realidade. E, nesses casos, é obri-gatório o tratamento psiquiátrico”, subscreve Grassi.

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eventos

8 Porto Alegre, março-abril 2011hiperextot

Liberais debatem era digital no Fórum

Por Morgana Laux

O que democracia, direitos autorais, governos repressores, empreendedorismo e mundo virtual têm em comum? Aparentemente, são coisas desconexas, mas o 24ª Fórum da Liberdade, ocorrido na PUCRS, nos dias 11 e 12 de abril, tentou construir um sentido para tudo isso nos painéis que reuniram convidados como Marcelo Tas, Mar-celo Madureira, João Luiz Woer-denbag Filho (Lobão), Eduardo Pe-ninha, vice-governador Beto Grill, Paulo Castro, Romero Rodrigues, Rodrigo Constantino e teve ainda o depoimento da blogueira cubana Yaoni Sánchez.

O músico Lobão começou de forma humorada a participação. “Currículo ou ficha corrida?”, brin-cou quando o debatedor Paulo Ue-bel descreveu as informações profis-sionais do também apresentador da MTV. Com o jornalista e historiador Eduardo Bueno ao lado, Lobão falou sobre “Liberdade Individual: a arte de construir a sua própria história”.

Na fala de 15 minutos, Lobão ci-tou a falta de autocrítica no País. “O brasileiro não cultiva o hábito. Esse é um grande problema. O alicerce da democracia é opinar”, lembrou. Ele também argumentou sobre essa escassez de posicionamento verdadeiro no Brasil: “Você só pode existir se você não for você”.

Eduardo Peninha comentou que “não há dúvida que a internet abriu a dimensão do conhecimento”. Po-rém, argumentou que cabe a pessoa

fazer a escolha para saber o que se aproveita ou não. E para acessar o meio online e “incrementar”, remete a uma base educacional do internauta.

No momento do debate, Lobão e Peninha lembraram as questão de comportamento, decisivamente im-portantes quando estamos tratando de liberdade na era digital. “Existe uma certa negligência crítica. Nos anos de 1990, eu ficava apavorado com o show da Xuxa e por que achava que havia um exagero de sexualidade”, falou Lobão sobre o programa. O artista também citou a necessidade de programa ter pe-dagogos para orientar as crianças.

Durante a solenidade do pri-meiro dia ocorreu a exibição de um vídeo da blogueira Yoani Sánchez, que não pode comparecer ao evento, pois o governo cubano não autoriza suas viagens para fora do país. Ela recebeu uma premiação simbólica no Fórum da Liberdade. “A inter-net está transformado Cuba em um campo de treinamento cívico”, declarou Yoani.

Internet e abordagensNo final do primeiro dia de ativi-

dades do evento, o diretor geral do Terra, Paulo Castro, e o fundador e presidente do Buscapé Romero Rodrigues, iniciaram o discurso sobre impactos e oportunidades de negócio na rede, realizado sob me-diação do jornalista Carlos Alberto Sardenberg. “Sentimos essa energia de crescimento. É um novo acesso a cada 25 segundos”, afirmou Castro. Ele também destacou o número de lan houses no País, de 110 mil no

Brasil. “Nós encerramos ano passa-do com 75 milhões de usuários na internet brasileira, cerca de 40% da população. Um pulo significativo”.

O assunto sobre redes sociais ganhou espaço ainda, com a men-ção de que os brasileiros são o povo mais ativo nas redes. O diretor geral do Terra falou sobre o crescimento: “A internet se expandiu como forma

de conteúdo em celular, tablets”.Em 15 minutos, Rodrigues não

deixou de lado a questão das opor-tunidades na rede. “Todo empreen-dedor tem que estar sempre atento” e lembrou sua trajetória na criação do Buscapé, ao lado de mais três jo-vens, quando inicialmente foi criado um software para captar preços a fim de informar os consumidores.

Direitos autorais foi o tema de do painel que abriu as atividades do segundo dia. O advogado Car-los Affonso Pereira de Souza, ao transcorrer de uma apresentação criativa, apontou que a legislação brasileira é uma das mais restritivas no mundo. “Temos a quarta pior lei de direito autoral do mundo”, afirmou. Affonso também citou algumas outras que podem ser con-sideradas avançadas, a exemplo dos Estados Unidos, com o “uso justo”. Ao seu lado, o painelista Rony Ro-drigues destacou as funções da rede, afirmando também que o “lixo” não existe somente no mundo virtual, mas também no real.

O fórum também apresentou Rodrigo Constantino e o consultor econômico Raul Velloso como deba-tedores, e Hélio Beltrão de media-dor. Eles abordaram a questão dos governos repressores e ferramentas como possíveis aliados dos liberais. “Tuítes não derrubam governos, pessoas derrubam”, frisou Cons-tantino, que fez críticas a forma de enxergar o instrumento como possibilidade de intervir no mundo, quando, na verdade, é a cultura da sociedade. “Governos autoritários vão se adptar, usando a internet em benefício próprio”.

Constantino também explicou o uso da ferramenta pelas pessoas como algo que pode ser interes-sante, citando a possibilidade de acessar diversos vídeos, desde Justin Bieber até o da blogueira Yoani Sánchez. “A escolha das pes-soas, na maioria das vezes, é lixo. Gosto não se discute, se lamenta”, argumentou.

“Eu não tenho dúvida que che-gamos à era de Aquário”, brincou o jornalista Marcelo Tas no fecha-mento do Fórum feito pelos humo-ristas do CQC e Marcelo Madureira, integrante do grupo Casseta & Planeta. Sob o comando de Hélio Beltrão, ambos falaram sobre suas opiniões a respeito da internet e as mudanças que ocorreram a partir da sua criação.

“A gente produzia e não tinha onde publicar. A TV Gazeta foi o nosso Youtube”, contou Tas. O jor-nalista mostrou ao público fotos da sua carreira e detalhou experiências para apontar a dimensão da inter-net. Mas, em contraponto, disse que, “a gente não valoriza o ato de publicar coisas na web”.

Exemplos de como é possível se comunicar com o público pela rede, também foram relatados por Tas, que mostrou comentários de fãs e de telespectadores que não gostam do CQC. Eles foram citados para relatar que é preciso observar o consumidor por meio da internet.

Diferentemente, Madureira citou que é “um pouco pé atrás com o twitter”. Ele falou sobre proprie-dade intelectual e material postado nas redes sociais. “Eu não sabia, mas me disseram recentemente que o que é feito na internet não é nosso, é da rede, e nós, eu, o Tas, somos fazedores de conteúdo acima de tudo, nós vivemos disso. Por isso eu sou muito cuidadoso com o que coloco na rede”, comentou.

Evento realizado na PUCRS apresentou questões sobre os diversos usos da internet

Humor no encerramento

Marcelo Tas foi um dos painelistas dessa edição do Fórum, ao lado de Marcelo Madureira

Felipe Dalla Valle/ Hiper

Lívia Stumpf/Hiper

Apresentador Lobão no primeiro painel do Fórum

Page 9: Hipertexto Março/Abril 2011

esporte

9Porto Alegre, março-abril 2011 hiperextot

Promessa de craque

Grêmio aposta no garoto Leandro

Por Camila Paier

É a passos lentos e com certa timidez que o menino dos olhos gre-mistas recebe os repórteres na sala de conferências do estádio Olímpico. Com fones nos ouvidos e poucas palavras, Leandro, apenas 17 anos, ainda se adapta à sua rápida ascensão ao time principal do tricolor gaúcho. Vindo do Gama, time do Distrito Federal, há

um ano para Porto Alegre, o atacante reconhece ter estranhado o frio da época na Capital. Agora, diz que gosta da cidade onde vive. Nos horários de folga, costuma ir aos shoppings da capital ou ficar na internet.

Os momentos de lazer parecem ser cada vez mais escassos na vida do garoto. Caso a equipe passe à próxima fase da Libertadores da América, o treinador Renato Portaluppi já anun-ciou que o atleta só ficará de fora da lista atualizada dos jogadores que

integram o time na competição se a direção “trouxesse dois Kakás”, algo impossível de ocorrer.

Leandro Moura é jovem, mas demonstra possuir personalidade forte. Quando questionado sobre as comparações com o visual de Neymar e o futebol de Jonas, ele se revela torcedor de seu próprio time. Rejeita a comparação com outros jogadores. Tem ciência do quanto encanta com a bola nos pés e de que, se continuar cen-trado e focado em seus objetivos, pode futuramente também ser parâmetro e inspiração para jovens jogadores. A garra, agilidade e até mesmo força que demonstra em campo contrastam com a fala arrastada e o jeito comedido e sensato do rapaz.

O atacante cheio de ousadia e fome de gol, na verdade é um jovem que alcança a fase adulta e assim enfrenta as responsabilidades pro-fissionais. Por causa destas novas tarefas, no início de maio seu salário aumentará consideravelmente - de R$ 700 mensais, passará a receber cerca de 8 mil - assim como sua multa rescisória, especula-se que, para sair do Olímpico, o interessado teria que desembolsar cerca de 30 milhões de euros. Com contrato renovado por mais cinco anos, Leandro pretende

deixar a concentração tricolor, onde reside, para ocupar um lugar próprio em que tenha mais liberdade e priva-cidade. Terá acompanhamento psico-lógico e nutritivo, ainda assim. Tudo pelo o que representa no universo futebolístico, um jogador qualificado e surpreendente para a pouca idade.

Sonha com a EuropaO atleta admira craques como Ro-

naldinho Gaúcho e Neymar. Sonha em jogar na Europa, em clubes como Real Madrid e Barcelona. Mas antes, almeja conquistar um título com a equipe em que conquistou visibilidade e na qual ganha mais espaço. Questionado, mostra conhecimento sobre o clube em que atua, como alguns ídolos da torcida, datas importantes e até mes-mo o histórico do “professor” Renato, no ano de 1983.

Religioso, Leandro não perde culto evangélico. É fiel às suas crenças, e focado em seu futuro. Como os demais garotos da sua idade, ele gosta mesmo de um bom arroz e feijão, de música sertaneja e pagode. Não parece muito interessado na fama e o sucesso. Com humildade, esforço e as qualidades reveladas, Leandro tem tudo para surpreender ainda mais os torcedores gremistas nos próximos meses.

Com fones nos ouvidos e

poucas palavras, Leandro, apenas 17

anos, ainda se adapta à rápida

ascensão ao time principal

do tricolor gaúcho.

Grêmio descobriu Leandro em Brasília. Este mês, seu salário será multiplicado por dez

Fotos Mariana Fontoura/ Hiper

Entrevista foi concedida após treino no Estádio Olímpico

Page 10: Hipertexto Março/Abril 2011

10 Porto Alegre, março-abril 2011hiperextot

Cultura

Embarqueno Titanic

Público confere objetos retirados dos destroços do navio

O Titanic foi o navio transa-tlântico de maior número de pas-sageiros no mundo ao ser lançado para viagem inaugural. Ele saiu de Southampton, Inglaterra, em 10 de abril de 1912, em direção a Nova York, com 2.227 pessoas. Após quatro dias, colidiu com um iceberg e afundou três horas depois, provo-cando a morte de 1.517 passageiros.

A noite de 14 de abril estava fria e sem ondulação. A tempera-tura da água era em média-0,5 °C. Logo após ser avistado por vigias, às 23h40, o navio colidiu com o iceberg. Com pequenas aberturas no casco, depois de 20 minutos, o convés começou a inclinar-se.

Naquele momento, pedaços de gelo estavam na proa e a água invadiu os porões de carga. As esperanças do comandante Smith

terminam quando o engenheiro-chefe Thomas Andrews sela o des-tino do Titanic dizendo: “O navio vai afundar, temos menos de duas horas para evacuá-lo.” Um pedido de ajuda é enviado, sendo a primei-ra vez que um sinal internacional de SOS via rádio foi utilizado para acidentes marítimos.

Vinte botes de salva-vidas fo-ram preenchidos, com mulheres e crianças da primeira e segunda classe, seguidos por homens e por último destinam-se terceira classe. A última só começou a ser resgata-da quando restavam apenas dois botes. Cerca de três horas após a colisão, o navio mergulha nas pro-fundezas do oceano. A ajuda chega duas horas depois do desapareci-mento completo do transatlântico e resgata 706 sobreviventes.

1.517 mortos, 706 sobreviventes

Por Luna Pizzatoe Morgana Laux

Com a réplica do cartão de embarque concedida ao público vi-sitante, inicia a viagem por Titanic: A Exposição – Objetos Reais, Histó-rias Reais. O evento, que apresenta 243 objetos retirados do navio a profundidade de 4 mil metros do fundo do mar, acontece desde 17 de março até 22 de maio na Capital, no BarraShoppingSul.

Entre frascos de perfumes, rou-pas, talheres e pratos, a mostra, com oito galerias inseridas em 1.500m², também leva aos participantes as-pectos interessantes da época, como o cotidiano no início do século e as diferenças entre as classes.

Com diversas frases, incluindo a famosa “estamos vestindo nossas melhores roupas e preparados para afundar como cavalheiros”, dita por Benjamin Guggenheim, passageiro de primeira-classe, a exposição lem-bra o famoso filme do diretor James Cameron, vencedor de 11 estatuetas do Oscar. Na mostra não há relato do romance de Jack e Rose, exposto na película, mas sim um enorme e fascinante resgate de muitas vidas que sofreram consequências diretas ou indiretas do acidente.

Diversas fotos relembram os cenários em que os atores Leonar-do Dicaprio (Jack) e Kate Winslet (Rose) contracenaram. Além disso, também é possível recordar as clas-

ses menos favorecidas, que foram as principais vítimas no naufrágio. Não consta um cenário dos porões, onde Rose dançou com Jack na obra de Cameron, mas sim como eram os cômodos dessa camada social. Reproduzidos durante a exposição, eles dão a dimensão dos móveis na época e acessórios. Os que conferem a mostra também visualizam aspec-tos da primeira classe, com a cópia do que seria um quarto destinado ao público A no Titanic.

Outros aspectos tentam trazer à tona a história. O clima gelado, presente na sala onde consta uma reprodução do iceberg, lembra a temperatura que estava quando os ocupantes do navio viveram os piores e/ou os últimos momentos de suas vidas. Por fim, há um sala em que é possível conferir se a pas-sageira, mencionada no cartão de embarque no início da exposição, conseguiu sobreviver à tragédia e o motivo pelo qual ela estava viajando.

A opinião do públicoVisitada por mais de 22 milhões

de pessoas no mundo, a mosta imprime sentimentos diversos no público. Em Porto Alegre, não foi diferente. Alguns gostaram dos aspectos históricos, outros sentiram uma sensação desagradável, em razão do alto número de objetos que lembram os 1.523 passageiros mortos no acidente.

“Eu assisti ao filme e também vi

algumas reportagens. A exposição está bem apresentada e interes-sante. Gostei da parte das caldei-ras. Pude observar como eram na época, o luxo e a riqueza”, afirma o aposentado Ibanes Kullman. Para ele, a sessão é preferida por conter a recriação também de uma porta es-tanque, além de detalhes da história do momento do naufrágio.

Diferentemente, uma das visi-tantes, a aposentada Márcia Correa, acredita que a mostra traz um sen-timento negativo. “Estou odiando, é algo muito fúnebre”, revela ao observar os objetos de porcelana, colocados na galeria A Vida a Bordo, onde constam pertences pessoais.

A mostra exibida em Porto Alegre é trazida pela Time For Fun e pela RMS Titanic, Inc. Única em-presa autorizada por lei a recuperar os objetos do naufrágio, a RMS Tita-nic, Inc . tem os direitos de explorar o local do acidentes desde 1994. Até o momento, foram realizadas sete expedições para recuperar um total de 5.500 itens originais que permaneceram durante 73 anos adormecidos no fundo do mar.

As peças exibidas na exposição apresentam cuidados fundamentais e são colocadas em compartimentos especialmente desenvolvidos. Além desse detalhe, temperatura, umida-de relativa do ar e níveis de luz são controlados, a fim de se proteger as relíquias contra a deterioração. Para ver a exposição, o ingresso custa R$ 40.

Exposição real em Porto Alegre

Entrada para a mostra é uma réplica do cartão de embarque

Fotos Mariana Fontoura/ Hiper

Page 11: Hipertexto Março/Abril 2011

cultura

11Porto Alegre, março-abril 2010 hiperextot

Por Juliane Guez

Alguns historiadores dizem que Cleópatra, a mais famosa rainha do Egito antigo, não era nada da ima-gem célebre que Elizabeth Taylor eternizou no cinema. De pouco adiantam os argumentos dos his-toriadores, Cleópatra sempre será lembrada como Liz Taylor a repre-sentou, deslumbrantemente bela.

A dona dos famosos olhos vio-letas morreu em 23 de março, aos 79 anos. Elizabeth Taylor faleceu devido à insuficiência cardíaca no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles. Liz deixou belos filmes numa longa carreira que iniciou aos 10 anos quando estreou no filme “There’s One Born Every Minute”.

Sua trajetória foi marcada por

sua beleza, seduzindo os olhares do público com o poder de prendê-los até o último minuto. Assim, con-quistou sete homens na sua vida, contando oito casamentos já que com Richard Burton, que conheceu ao filmar Cleópatra, casou duas vezes. Além de romances, ganhou dois prêmios Oscar com os filmes: Quem tem medo de Virginia Wolf? e Disque Butterfield 8. Contudo, seu papel em Cleópatra marcou sua vida como atriz. Com esse longa recebeu nove indicações ao Oscar com quatro delas premiadas.

Na exposição do Museu da Bar-bie, ocorrida em março no Shop-ping Iguatemi, muitos personagens foram representados pelas bonecas. A Cleópatra imortalizada por Liz Taylor era uma delas.

Atriz consagrou imagem de Cleópatra

Liz Taylor (1932-2011) tornou-se o rosto de Cleópatra

Júlia Merker/ Hiper

Quando a perfeição leva à morte Sob pressão da mãe, a bailarina tem vida de prisioneira para alcançar o sucesso

Natalie Portman, no papel de Nina é o reflexo de fênix no filme Cisne Negro, ainda nos cinemas da cidade

Por Juliane Guez

O filme Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010) surpreendeu as expectativas e teve uma reação intensa do público. A produção de Darren Aronofsky com Natalie Portman, no papel de Nina, conta a história da bailarina que busca a perfeição ao se dedicar totalmente ao balé. Ela quer conquistar o papel principal em Lago dos Cisnes que reflete dois lados opostos, cisne branco e cisne negro.

Ao longo do filme, condutas ob-sessivas começam aparecer devido à cobrança sem limites pela mãe que deixou a carreira de bailarina pela gravidez. Isso se reflete em alu-cinações e percepções que causam polêmica se é ou não esquizofrenia. O psiquiatra Herberto Maia não considera que seja esquizofrenia, mas um narcisismo negativo, uma vez que a bailarina analisa a sua vida e busca a perfeição, porém de forma excessiva.

Para situar o espectador, há uma simbologia interessante como as cores que a personagem usa mais frequente: cinza e preto. O espelho foi um reflexo do medo e dos desejos de Nina. Como disse Maia, o espelho é uma forma de manipulação de situações de crise e de agressividade. O psiquiatra considera que o diretor do filme quis demonstrar uma integração da Nina ingênua com aquela que estava sendo descoberta.

Durante a apresentação do Lago dos Cisnes, Nina quis matar sua

colega e rival, Lily, mas quem se feriu foi ela mesma. Como no mito Fênix, ela renasce e consegue fazer um belíssimo espetáculo, inclusive nas cenas do cisne negro que era o seu grande desafio. Maia acredita que a morte, após a apresentação, foi simbólica já que ninguém ia con-seguir dançar com um ferimento na região abdominal. Ele adverte que o excesso de perfeição está sempre perto da morte.

Houve muitos comentários sobre algumas interpretações pre-cipitada de pessoas que valorizaram a negatividade do que foi mostrado nas telas. Contudo, não foi só isso. O perfeccionismo foi visto como con-sequência da relação que Nina tinha com a mãe, uma mulher sozinha e superprotetora.

Samantha Luchese, de 17 anos, estudante de Psicologia da UFRGS, acredita que o perfeccionismo e a

doença psicológica prejudicaram a representação do cisne negro. “A mãe cobrava muito, querendo que ela fosse a melhor. Toda essa busca pela perfeição a deixava mais tra-vada, assim não conseguia se soltar para interpretar o personagem”, observa a universitária.

Outro ponto importante muito comentado pelo público foi a rela-ção da bailarina com o professor e diretor do balé, representado

pelo Vincent Cassel. Quando ele a beija, Nina o morde. Isso pode ser visto de formas distintas. Segundo o psiquiatra Herberto Maia, quando o professor a beija, ele quer dizer que para ser bailarina, ela deve ser capaz de seduzir um homem. Sa-mantha Luchese acredita que “antes da mordida, ele a via só como uma guria. E quando ela teve o impulso de mordê-lo, ele passou a vê-la como mulher”.

Page 12: Hipertexto Março/Abril 2011

Porto Alegre, março-abril 201112 ponto final hipertexto

Domingo no estilo porto-alegrês Domingo é um dia monótono? Talvez

seja, para muita gente, por ser véspera do trabalho, na segunda. Então, se

queres domingos avassaladores, daqueles que suspiros tornam-se tão involuntários quanto às gargalhadas com as amigas, me siga até a Redenção, como diriam os twitteiros. Com certeza, lá termos muitos seguidores com o mesmo propósito, aproveitar o último dia do final de semana para o reflexo da segunda não invadir o clichê de nostalgia.

Para a tristeza de uns e alegrias de ou-tros, eu me incluo nesses sorrisos, o outono chegou. E logo virá o inverno. Junto com ele, teremos dias de tomar chimarrão com rapadura e largatear ao sol para esquentar o esqueleto fugindo do frio.

Tchê, comentários à parte, voltando ao Parque Farroupilha, o olhar encontra lugares para todos os gostos, idades e tribos. Basta conhecer um pouco de cada canto e saborear tudo que há de bom. É cultura para todos os lados, sempre tem alguma demonstração de arte.

Quando tu poderias imaginar ver um show de uma banda estrangeira em uma pa-rada de ônibus como palco? E, alguns metros depois, uma exibição de capoeira ao ar livre. Mais adiante, um varal de roupas de bonecas estendidas, peças de jóias e bijuterias antigas compõem o cenário multicolorido das estan-des que formam o Brique. Só na Redenção. Sem esquecer que todo domingo tem cangas de todas as cores atiradas ao chão para melhor

acomodar os amigos ou a família que quer fazer do domingo um grande piquenique. Em volta, desfilam cachorros, violeiros, cantorias, estátuas humanas ou apenas amigos que se encontram e contam as novidades da sema-na.

A balbúrdia das crianças acrescenta mais um capítulo à nossa aventura dominical. Como abelhas, elas voam e zunem em torno dos carrinhos de pipoca e de algodão doce. O vai-vem delas indica a proximidade dos peda-linhos, dentro do lago artificial. O passeio de pedalinho é uma ótima idéia para casais que buscam um roteiro romântico. Porém, nem sempre o clima é de romantismo. Pedalar os carrinhos dentro do lago artificial pode resultar na companhia desagradável de lixo

ali jogado. A natureza é bela, mas nem todos conseguem reconhecê-la. Quem ama cuida.

Por falar em crianças, elas se espraiam até as pracinhas com diversos brinquedos onde se divertem, enquanto os pais trocam idéias, lamentações, críticas e outras proposições com amigos e conhecidos. Ah, tem ainda as bicicletas, muitas magrelas que carregam pais, filhos e cachorros. Depois de tudo isso, deu fome? Então, é só escolher a barraquinha com churros ou pipoca.

Para quem me seguiu e gostou, basta um retweet para convidar o resto do pessoal e aproveitar o domingo de forma única. E va-mos se animar que segunda está chegando! No próximo domingo, tem mais. Porto Alegre é demais!

Por Juliane GuezCrônica

ENSAIO FOTOGRÁFICOPor Samuel Maciel