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Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015 1 História da Educação nas relações de gênero no Brasil pela imprensa de 1959, 1960: Clarice Lispector e pseudônimos. SOPELSA, Kaoana i SANTOS, José Carlos ii No início do século XX, o Brasil assistiu a ascensão da classe média, momento em que ocorria o crescimento urbano e a industrialização, com maior acesso a informação, lazer e consumo, inclusive para as mulheres. No pós Segunda Guerra Mundial, aumentou a possibilidade para ambos os sexos de educação e trabalho profissional. A reconstrução mundial abriu um novo cenário para inclusão das mulheres nas diversas profissões, cuja demanda atendia a esta necessidade. No Brasil, especificamente, como afirma Fúlvia Rosemberg em Mulheres educadas e a educação das mulheres, no Brasil, também, a educação das mulheres é fato recente e intenso. Guerra acabada, as mulheres deveriam voltar ao lar e ao tradicionalismo social de antes, em que Fúlvia Rosemberg descreve como um momento sustentado pelo discurso de que as mulheres deveriam ser educadas, pois viriam a ser “educadoras de homens”, necessários à nação. Neste outro investimento do imaginário nacional, alguns mitos serão retomados. A sociedade brasileira do período possuía um ideário de que mulheres deveriam ter educação mais restrita por sua saúde frágil, inteligência limitada e missão feminina de mãe, o que as impossibilitaria de continuar os estudos. Este ideário convergia para afirmação que a finalidade principal para a mulher era o casamento e a maternidade. Ideias estas implantadas a partir da concepção higiênica de contrato conjugal – assim como os papéis de gênero também por esta concepção definidos, ligada ao aburguesamento geral da sociedade brasileira oitocentista. Assim explica Jurandir Costa Freire, em seu livro Ordem médica e norma familiar: Do ponto de vista dos higienistas, a independência da mulher não podia extravasar as fronteiras da casa e do consumo de bens e [sic] idéias que reforçassem a imagem da mulher-mãe. A mulher intelectual dava mal exemplo às outras mulheres. Obrigava-as a ver e quem sabe a acreditar, que podiam substituir por iniciativa própria, sem concurso dos maridos. Emancipada intelectual e profissionalmente, a mulher comprometia o pacto

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História da Educação nas relações de gênero no Brasil pela imprensa de 1959, 1960: Clarice Lispector e pseudônimos.

SOPELSA, Kaoanai

SANTOS, José Carlosii

No início do século XX, o Brasil assistiu a ascensão da classe média, momento

em que ocorria o crescimento urbano e a industrialização, com maior acesso a

informação, lazer e consumo, inclusive para as mulheres. No pós Segunda Guerra

Mundial, aumentou a possibilidade para ambos os sexos de educação e trabalho

profissional. A reconstrução mundial abriu um novo cenário para inclusão das mulheres

nas diversas profissões, cuja demanda atendia a esta necessidade. No Brasil,

especificamente, como afirma Fúlvia Rosemberg em Mulheres educadas e a educação

das mulheres, no Brasil, também, a educação das mulheres é fato recente e intenso.

Guerra acabada, as mulheres deveriam voltar ao lar e ao tradicionalismo social

de antes, em que Fúlvia Rosemberg descreve como um momento sustentado pelo

discurso de que as mulheres deveriam ser educadas, pois viriam a ser “educadoras de

homens”, necessários à nação.

Neste outro investimento do imaginário nacional, alguns mitos serão retomados.

A sociedade brasileira do período possuía um ideário de que mulheres deveriam ter

educação mais restrita por sua saúde frágil, inteligência limitada e missão feminina de

mãe, o que as impossibilitaria de continuar os estudos. Este ideário convergia para

afirmação que a finalidade principal para a mulher era o casamento e a maternidade.

Ideias estas implantadas a partir da concepção higiênica de contrato conjugal – assim

como os papéis de gênero também por esta concepção definidos, ligada ao

aburguesamento geral da sociedade brasileira oitocentista. Assim explica Jurandir Costa

Freire, em seu livro Ordem médica e norma familiar: Do ponto de vista dos higienistas, a independência da mulher não podia extravasar as fronteiras da casa e do consumo de bens e [sic] idéias que reforçassem a imagem da mulher-mãe. A mulher intelectual dava mal exemplo às outras mulheres. Obrigava-as a ver e quem sabe a acreditar, que podiam substituir por iniciativa própria, sem concurso dos maridos. Emancipada intelectual e profissionalmente, a mulher comprometia o pacto

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machista firmado entre a higiene e o homem. A mulher que trabalhava punha em risco os termos do acordo. Tornava-se economicamente liberada do marido e intelectualmente equiparada ao homem. Sobre ela o machista não tinha o mesmo poder e a mesma ascendência. Sem a inferioridade da mulher o machismo perderia parte de seu sentido. (COSTA, 2004, pág. 160)

Deduz-se, a partir de Freire, que uma convergência ente papéis sociais e ciência

no fomento de um ideário sobre mulheres ressaltando sua fragilidade, feminilidade,

maternidade; é nesta mesma convergência que, no contraponto, afirma-se também os

papéis masculino e sobreposição ao da mulher. Ciência e costumes passariam a falar de

papeis sociais naturais de homens e mulheres.

A publicidade direcionada ao público feminino auxiliava estas mulheres a

portarem-se como o esperado. Assim afirma Carla Beozzo Bassanezi, na obra História

das Mulheres no Brasil: E nada melhor que as revistas femininas do período para atuar como porta de entrada para o universo das “verdades absolutas”, das normas sociais e da “natureza” dos sexos. (...) Revela também os jogos de poder envolvidos nas relações entre homens e mulheres, os conflitos de gerações, os valores morais presentes entre as classes médias urbanas. (BASSANEZI, 1996, p. 10)

Possibilitando uma abordagem geral do tema e temporalidade propostos utilizo

Clarice Lispector e seus pseudônimos, que em suas colunas escrevia para o público

feminino. Clarice está inserida na identidade social e/ou cultural no momento em que

esteve trabalhando para os jornais brasileiros, inserindo em seus trabalhos valores e

cultura - tanto no ambiente privado quanto no público - o compartilhamento de

experiências, transformando-a em rica informação, como uma mulher instruída.

A história da educação abordada aqui refere-se às relações de gênero e

identidade, exprimindo a representação para ambos os sexos apreendida fora das

escolas. Assim explica Maria Izilda S. de Matos em Por uma História da mulher: Sem dúvida, a categoria gênero reivindica para si um território específico, em face da insuficiência dos corpos teóricos existentes para explicar a persistência da desigualdade entre mulheres e homens. (...) a categoria gênero procura destacar que a construção dos perfis de comportamento feminino e masculino definem-se um em função do outro, uma vez que se constituíram social, cultural e historicamente em um tempo, espaço e cultura determinados. (IZILDA, 2000, p. 16)

Portanto, quando o pesquisador refere-se ao estudo das relações sociais entre

homens e mulheres, é significativo que não exclua parte de sua análise, incorporando a

situação de desigualdade entre os sexos e de que forma essa situação interfere no

conjunto das relações sociais, das definições e delimitações de espaços para os sexos, na

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qual todos os seres humanos são classificados em um sistema de acordo com valores e

hierarquias sociais construídas inclusive através da educação informal. Tratando-se a

fonte de concepções femininas expostas em colunas destinadas para este público, estas

não estão desvinculadas do convívio com o masculino, indubitavelmente. Fazem parte

do mesmo meio social, cultural, assim como do mesmo espaço de tempo.

Carla Beazzo Bassanezi introduz a utilidade de fontes semelhantes para a análise

desejada: Resgatando, analisando e comparando os discursos destas revistas podemos ter uma idéia [sic] de como se delinearam as relações homem-mulher em seus diversos aspectos, que vão desde a preparação do “destino feminino” até a convivência entre o marido e a esposa, passando pelas expectativas e imposições sociais, pelas idéias [sic] de felicidade, por insatisfações e decepções, pelos jogos de poder articulados em forma de dominação/submissão, de resistência e de convivência e complementariedade.(BASSANEZI, 1996, pág. 12)

Simone de Beauvoir, em seu livro O segundo sexo: a experiência vivida, baseia-

se na mulher aprendendo sobre sua condição e sentimentos, num universo que se

encontra encerrada, desejosa do estudo sobre quais evasões lhes eram permitidas, sendo

possível alcançar a compreensão dos problemas impostos às mulheres que instigavam

ou caminhavam para um novo futuro. Acrescenta ainda que “é o conjunto da civilização

que elabora êsse[sic] produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o

feminino”. (BEVAOIR, 1960, pág. 9)

Clarice Lispector atuou na imprensa a partir de 1940, antes de lançar seu

primeiro romance. Esteve escrevendo para jornais e revistas até 1977, ano de sua morte.

Aparecida Maria Nunes, na compilação Clarice na cabeceira: jornalismo, afirma a

imprecisão acerca do primeiro trabalho na imprensa carioca de Clarice Lispector.

Escreve que alguns acreditavam que a autora iniciara sua carreira em 1943, com a

publicação de Perto de um coração selvagem, entretanto, surgiu a trilogia atualmente

identificada como Cartas a Hermengardo datando 1941. Ainda assim, Nunes explica

que as informações não levaram em contra a trajetória de Lispector nas redações dos

jornais, principalmente por falta de interesse em mencionar a Clarice jornalista. Assim

comenta: A imprecisão de certos dados biográficos nos textos canônicos sobre a autora de A paixão segundo G.H., bem como daqueles provenientes das várias entrevistas que concedeu, não permitiu localizar com exatidão os textos de Clarice no periodismo brasileiro, tampouco a vida de jornalista que teve,

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prevalecendo deste modo as informações registradas por [Renard] Perez. Sabemos hoje que ela, mocinha do Rio de Janeiro, consegue emprego na Agência Nacional e no jornal A Noite. Aliás, é como repórter de A Noite que Clarice, em março de 1942, recebendo 600 mil réis mensais, tem o primeiro registro na carteira de trabalho. E, em janeiro de 1944, o de jornalista, no Serviço de Identidade Profissional. Nesse período, Clarice concilia o trabalho na imprensa com os estudos na Faculdade Nacional de Direito e ainda com a escritura de sua ficção. (NUNES, 2006, pág. 13 e 14)

O livro Correio Femininoiii, que compila algumas colunas escritas por Clarice

Lispector utilizando pseudônimos, aborda temas do cotidiano que abrangem as relações

de poder entre homens e mulheres, tanto na esfera privada quanto na pública, em temas

como trabalho, filhos, sex appeal, a imagem do outro, orientações de como proceder, ou

seja, representações coletivas. Pesquiso aqui os conselhos de Clarice, sobre as

obrigações femininas, inseridas na educação informal através da imprensa brasileira.

Por assemelhar-se aos códigos de conduta ou manuais de etiqueta utilizados para

sistematizar o comportamento da sociedade, possui mediações, exemplos, expectativas

sociais em torno do comportamento feminino e masculino. Andréa Lisly Gonçalves, em

seu livro História & Gênero, afirma que Miguel do Sacramento Lopes Gama, padre

pernambucano e vigoroso publicista que atuou em mais de sete jornais, especificando

em alguns a crítica de costumes aos hábitos, julgando-os ridículos e até irracionais. A

autora demonstra com imagens e explicações a sátira que o clérigo utilizava,

comparando a moda em transformação do período com animais, vendo semelhanças.

Assim explica Andréa: “Um de seus alvos prediletos eram não apenas os modos mas também as modas adotadas pelas mulheres, ao ponto de não esconder seus preconceitos misóginos. Os quadros quase caricaturais que compunha sobre muitas mulheres de seu tempo indicam, na “contramão”, que aquelas não seguiam, estritamente, as normas previstas nos manuais, fosse pelo figurino com o qual desfilavam no espaço público, fosse pela forma com que estabeleciam relações com o sexo oposto.” (GONÇALVES, 2006, pág.114)

Em distintos séculos, com autores de gêneros diferentes, mas tanto Clarice

quanto Miguel constroem modelos de feminino e masculino, na relação de um com o

outro, em um processo adquirido pelas pessoas no acúmulo de conhecimentos de forma

casual e não intencional e organizada, adquirindo atitudes e comportamentos

relacionados as suas experiências diárias, ou seja, em um processo de livre

aprendizagem e transmissão de saberes e comportamentos da sociedade, podendo ser

realizada nas atividades de lazer, nos veículos de informação, em um processo

permanente, como aqui demonstrados.

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Em 2006, a Editora Rocco, através da pesquisadora Aparecida Maria Nunes,

publicou a obra Correio Feminino, de Clarice Lispector. É uma coletânea da autora, em

seus momentos jornalísticos anteriormente publicados em três colunas femininas entre

1952 e 1961. “Entre Mulheres”, coluna do tabloide Comício, publicada entre maio e

setembro de 1952. “Correio Feminino – Feira de Utilidades”, produzida entre agosto de

1959 e fevereiro de 1961, no jornal Correio da Manhã. “Só para mulheres”, publicada

entre abril de 1960 e março de 1961, para o jornal Diário da Noite. Ciro Flamarion

Cardoso cita Peter Burke, no livro Domínios da História, escreve sobre as diferentes

fontes empregadas pelos historiadores:

Na verdade, os historiadores sociais e econômicos estão empregando cada vez mais tipos de documentação, cuja real utilidade como evidência histórica repousa no fato de que seus compiladores não estavam deliberada e conscientemente registrando para a posteridade.(BURKE, in CARDOSO 1992, p. 48)

O material de estudo primário apresenta um prisma significativo da

representação da educação e dos costumes no período analisado, já que esta educação

informal influi sobre o dualismo público/privado e a formação da identidade de gênero

do Brasil em 1959 e 1960. O fato da continuidade de suas colunas nos jornais demonstra

a propriedade e a aceitação das concepções que a autora dissemina e, sendo assim,

servem como base para a reconstrução e análise da educação e dos costumes nas

décadas e local abordados.

A imprensa que permeia a fonte utilizada é abordada em análise com a

historiografia da educação do período, sendo que a teoria aplicada foi a categoria

gênero. Trabalhar com literatura dentro da história da educação exige que ocorra aporte

temporal, social, respondendo questionamentos sobre a identidade e as representações

encontradas no período histórico em que a fonte está inserida. Já a categoria gênero

detecta movimentos de construção de sujeitos históricos, analisando as transformações

por que passaram e como construíram suas práticas, transpondo o silêncio e a

invisibilidade antes relegados às mulheres na história, numa análise de relações

pessoais, redes familiares, vínculos afetivos, modos e formas de comunicação, criando a

condição para se decifrar as construções sociais.

Parafraseando Simone de Beauvoir no livro já citado, não se trata de enunciar

verdades eternas, mas descrever o fundo comum sobre o qual se desenvolve a existência

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feminina. Afinal, a submissão ou servidão voluntária já vem sendo estudada desde o

século XVI por Etienne de La Boetie, assim como por Freud no século XX. As relações

de poder não param de ser tema atual e interessante.

Utilizando o método indiciário, já trabalhado tanto por Foucault quanto por

Ginzburg, que, através de indícios implícitos no que foi escrito por Clarice Lispector,

permite a aproximação com a formação da identidade de gênero no Brasil de 1959 e

1960, para elucidar sobre a contribuição na educação informal, realizada em espaços de

imprensa visando alcançar o ambiente privado feminino. Este método comporta que o

pesquisador vá além do que a própria fonte evidencia. Andréa Lisly Gonçalves, em obra

já mencionada, indica a utilização do paradigma indiciário: “(...) essas fontes se distribuem como um “mosaico de pequenas referências esparsas”, forçando a adoção de métodos específicos do qual talvez seja um bom exemplo o paradigma indiciário, formulado por Carlo Ginzburg, ainda que não especificamente para a história das mulheres, entre uma gama variada de opções.” (GONÇALVES, 2006, pág. 87-88)

Ginzburg esclarece no livro O fio e os rastros que “o mundo privado e o mundo

público acontecem paralelamente, ora se encontram” e que “o olhar aproximado nos

permite captar algo que escapa da visão de conjunto, e vice-versa.” (GINZBURG, 2007,

p. 267). Reforça a ideia no livro Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história: Deste modo, pormenores normalmente considerados sem importância, ou até triviais, “baixos”, forneciam a chave para aceder aos produtos mais elevados do espírito humano (...) momentos em que o controle (...) ligado à tradição cultural, distendia-se para dar lugar a traços puramente individuais (...) a uma atividade inconsciente. (...) pistas talvez infinitesimais permitem captar uma realidade mais profunda, de outra forma inatingível. (GINZBURG, 1989, p. 149 e 150)

Clarice utiliza suas experiências e observações para escrever a fonte utilizada,

vivências estas inseridas no momento histórico desejado para análise. Preocupações

acerca da reputação, da maternidade, do casamento, dos ambientes “naturais”

destinados para os homens e para as mulheres, problematizam o que deseja ser revelado

e esclarecido através da pesquisa. A investigação demonstra que, através da educação

informal, comportamentos e valores são aceitos em uma determinada sociedade e

período, mas podem ser rejeitados posteriormente. Procura então recuperar a

comunicação entre o pesquisador e os testemunhos.

Carla Beozzo Bassanezi, em seu livro Virando as Páginas, Revendo as

Mulheres, analisa revistas que abrangem temas similares aos de Clarice Lispector,

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conseguindo desvendar o comportamento de ambos os sexos, observando como

desenvolviam-se as relações homem-mulher, na satisfação ou não, nos jogos de poder

em forma de submissão e dominação e da convivência, influenciadores da educação e

dos costumes.

Clarice Lispector atuou na imprensa escrevendo para jornais e revistas. Alguns

textos foram compilados na obra Correio Feminino, por Aparecida Maria Nunes. Os

anos que mais se destacam nessa compilação são 1959 e 1960.

A autora, entretanto, utilizou pseudônimos em suas publicações. Fernando

Sabino, em correspondência com Clarice Lispector compilada no livro Cartas perto do

coração: dois jovens escritores unidos pelo mistério da criação, discorrem brevemente

sobre a preocupação em escrever e assinar. Sabino, em 8 de agosto de 1953, aconselha

carinhosamente Clarice, sobre a vontade da autora de escrever acerca do american way

of life, que a rodeia em sua vida norte-americana, para a revista brasileira Manchete: Escreva duas páginas e meia a três páginas tamanho ofício sobre qualquer coisa, semanalmente. Tem que ser assinado, mas não tem importância, nós todos perdemos a vergonha e estamos assinando. (...) Não se incomode muito com a qualidade literária por ser assinado – um título qualquer como Bilhete Americano, Carta da América ou coisa parecida se encarregará de dar caráter de seção e portanto sem responsabilidade literária. (SABINO, 1953, pág. 95 e 96)

Assim, Clarice lhe responde, em 30 de agosto de 1953: Fico muito sem jeito de assinar, não pelo nome ligado à literatura, mas pelo nome ligado à mim mesma: terei pelo menos num longo começo, a impressão de estar presente em pessoa, lendo minhas noticiazinhas e provavelmente gaga de encabulamento. É mesmo possível ressuscitar Tereza Quadros? Ela é muito melhor do que eu, sinceramente: a revista ganharia muito mais com ela – ela é disposta, feminina, ativa, não tem pressão baixa, até mesmo às vezes feminista, uma boa jornalista enfim. Se for mesmo impossível, tentarei assinar e tentarei um “à vontade” quase insultuoso. (LISPECTOR, 1953, pág. 97)

Tereza Quadros, criação de Clarice para assinar “Entre Mulheres”, é vista por

Aparecida Maria Nunes na compilação utilizada como fonte neste artigo, como uma

fuga ao temor de Lispector de “comprometer seu nome mediante a produção de textos

menos elaborados para jornais e afetar a imagem de esposa de diplomata”, já que a

autora “sabia também que tinha de manejar uma linguagem mais despojada e adotar um

discurso calcado na estética da imprensa feminina, construída no tom de conversa

íntima, afetiva e persuasiva”. Sabino, respondendo Clarice sobre assinar como Tereza,

escreve:

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Antes de mais nada, Manchete: estou meio sem jeito de dizer a eles que você não quer assinar, por duas razoes: primeiro, porque, a despeito da elevada estima e distinta consideração que eles têm pela formosa Tereza Quadros, sei que fazem questão de seu nome – e foi nessa base que se conversou; não sei se você sabe que tem um nome. E segundo, porque acho que você deve assinar o que escrever; como exercício de humildade é muito bom. E depois, você leva a vantagem de estar enviando correspondência do estrangeiro, o que sempre exime muito a pessoa de responsabilidade propriamente literária. (SABINO, 1953, pág. 101)

Ainda assim, Clarice demonstra preocupação literária e insiste em assinar apenas

C.L.; de qualquer forma, este recorte é visto como possibilidade para futuras pesquisas,

sem mais delongas, apenas para não passar despercebido e não ser ignorado. De

qualquer forma, adentra na percepção da linguagem mais acessível, apresentando ideias

cotidianas e observações destinadas ao público feminino, quando utilizados os

pseudônimos de sua criação.

São obrigações femininas, de acordo com a autora: ocupar-se com os afazeres

domésticos, fazendo daquele espaço agradável aos olhos do marido e dos filhos: A dona de casa tem que ser, antes de tudo, uma economista, uma “equilibrista” das finanças, principalmente com as dificuldades da vida atual. O lar é o lugar onde devemos encontrar a nossa paz de espírito num ambiente limpo, sadio e agradável e cabe à mulher providenciar isso. Muitas erram ao fazer de sua casa uma vitrina permanente, onde não há liberdade para o marido fumar o seu cachimbo, para o filhinho brincar. Essas, geralmente, fazem da vida do lar um inferno e quase sempre obrigam o marido a ir procurar conforto e bem-estar noutro lugar, quando não nos braços de outra mulher. (CLARICE, Dirigir um lar, fevereiro de 1960, pág. 45)

Clarice reafirma não só os papeis prescritivos para a dona de casa e mãe de

família ideal como também, no contraponto, descreve papeis de homem ideal que, não

encontrando um ambiente familiar propicio, poderia encontra-lo com outra mulher. A

higiene cientifica ganha ares de higiene de costumes, de tradição.

Ocupar-se com sua aparência, sendo feliz para ser bonita e alcançar a finalidade

primordial de agradar o cônjuge ou um futuro candidato ao cargo, principalmente sem

ofuscá-lo: O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Felicidade é estado de alma, é atmosfera interior, não depende de fatos ou circunstâncias externas. Cultive o bom humor, como quem cultiva um bom hábito. Esforce-se para ser alegre. Afaste os sentimentos mesquinhos que provocam o despeito, a inveja, o sentimento de fracasso, que dão origem de infelicidade. Adote uma filosofia otimista, eduque-se para ser feliz. Você o conseguirá. E verá o milagre em sua própria face, nos olhos que adquirirão brilho e vivacidade, na

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boca que perderá o [sic] ríctus amargo e ganhará um ar jovem, na pele outra vez clara e macia. Seja feliz, se quer ser bonita! (CLARICE, Ser feliz... para ser bonita, fevereiro de 1960, pág. 24)

Ocupar-se com a boa criação dos filhos, que deveriam, pelas mãos das mães,

tornar-se adultos satisfeitos e bem resolvidos sentimentalmente são abordadas.

Basicamente, o universo feminino, em suas linhas, parecia resumir-se em obrigações

sobre a aparência, tanto doméstica quanto física, para agradar e manter o homem: Uma verdadeira mulher e mãe sabe que seus deveres vão além de alimentar, enfeitar e agasalhar o seu filho. Antes de tudo, deve dar-lhe amor. Amor que é devoção, cuidado, orientação e, sobretudo, participação em seus problemas e suas dificuldades. Toda mãe deve conhecer o filho que trouxe ao mundo, e isso consegue chegando-se a ele, ouvindo-lhe as primeiras queixas e os primeiros desejos. Minha amiga, a primeira qualidade para uma mulher ser Mulher é saber ser Mãe. Não se descuide desse dever. Não seja o monstro responsável pelas futuras falhas de seu filho, deixando-o levianamente crescer longe de seus olhos e de seus carinhos. (CLARICE, Ser mãe..., setembro de 1959, pág. 33)

A maternidade no ideário mostrado por Clarice tem um papel fundamental. De

um lado ela realizaria a própria existência do ser feminino, por outro lado, possibilitaria

realizar um papel social que seria a geração saudável de novas proles sem ser o

“monstro” geradora de futuras falhas.

As singelas mudanças não abstêm a mulher de sua condição social como mãe e

esposa, pois alcançar estas colocações é classificado como ser uma mulher esclarecida.

O gênero feminino ainda é idealizado como bondoso, compreensivo, tolerante,

cuidadoso e delicado. Ainda assim, condena-se a indecisão (mesmo em um lugar

comum em que os homens tomam a maior parte das decisões): A mulher moderna sabe que, apesar da evolução das ciências e das artes, o homem continua o mesmo, e o principal atrativo que encontra na mulher é sua aparência física. Julgar que porque casou com ele está dispensada de seduzi-lo é outro grave erro. O homem é volúvel. Sua busca da “mulher ideal” é apenas uma forma romântica com que encobre essa volubilidade, e geralmente envelhecem sem descobrir realmente o que querem da mulher. Só sabem que a querem. Sempre bonita e renovada, se possível. A faceirice é, portanto, obrigação para a mulher. Nem a mulher de negócios, nem a cientista, nem a mulher de letras, nem a esportista dispensam esse dever primordial para a conquista do homem. Afinal, podemos pensar deles o que quisermos, mas precisamos deles para completar a nossa felicidade, não é mesmo? Façamos, portanto, por conquistá-los.(CLARICE, O dever da faceirice, dezembro de 1959, pág. 15)

A faceirice era para a autora, uma qualidade essencial na relação entre gêneros.

Soa como uma estratégia feminina para sempre atrair o masculino.

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Mesmo que Clarice aconselhe-as a adquirir um estilo que combine com suas

respectivas personalidades, os limites a serem observados devem partir da mentalidade

masculina: A mulher inteligente não é escrava dos caprichos dos costureiros, dos cabeleireiros ou dos fabricantes de cosméticos. Antes de adotar a última palavra da moda, ela estuda o efeito da mesma sobre o seu tipo. A mulher inteligente sabe que mais importante que parecer “chique” é parecer bonita. Não quero dizer que ela ande fora de moda, use roupa e penteados antiquados. Mas o que ela usa é o que lhe fica bem, ajuda na sua figura, realça a cor e o brilho de seus olhos e cabelos, a cor da sua pele, remoça-a e torna-a ainda mais interessante para os olhos masculinos. (CLARICE, A moda... e a mulher inteligente, dezembro de 1959, pág. 29)

Clarice, finalmente, atribui qualidades para a mulher como sujeito capaz de fazer

escolhas em função de determinadas posições sociais que precisava assumir: “a mulher

inteligente sabe que mais importante que parecer “chique” é parecer bonita...” e, para

ser feliz, de acordo com os concelhos da autora, há necessidade de buscar o equilíbrio, o

sacrifício: Falar alto, rir alto, esquecer quem está ao seu lado para dirigir-se ao público à volta (...) alheia ao constrangimento do companheiro e risinho maldoso dos estranhos... Os homens costumam fugir apavorados desse tipo de mulher. Os homens são, quase sempre, mais discretos e têm horror ao espalhafato. (CLARICE, Manias que enfeiam, fevereiro de 1960, pág. 16)

Essa devotada inquietação em agradar os homens confere ao papel feminino a

submissão constante, mesmo que mascarada por delicadeza, tolerância, beleza ou

alegria inexistente. Porque não era aconselhável discordar, a não ser que os argumentos

masculinos falassem mais alto e que as palavras femininas pronunciadas fossem dóceis

e sugerissem terem partido do próprio homem: A arte de discordar consiste, especialmente, em não agredir... discordar sem “agredir com palavras” ou com tonalidade de voz é um modo de, possivelmente, chegar a um acordo. Ou pelo menos é assim que se pode comunicar um pensamento, uma opinião, sem criar à toa um inimigo. Não seja abrupta com sua opinião. Se você vai discordar, suavize sua frase com um “sim, de algum modo você tem razão, mas, também acho que...”. E na hora de dizer o “mas”, não use sua voz pior. Outro modo de suavizar é, depois de dar sua opinião, acrescentar: “Que é que você acha disso” (CLARICE, Quando você discordar..., novembro de 1960, pág. 31)

Por trás de um discurso de convencimento às condições submissas a que eram

submetidas há a tentativa leal de evitar a melancolia, o ressentimento. É perceptível a

falta de consentimento (mesmo que não na totalidade) feminino com a postura adotada

pela sociedade patriarcal: A mulher, pelo seu temperamento mais afetivo e predisposto ao perdão, esquece com facilidade as más palavras surgidas numa discussão. Com o

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homem não acontece o mesmo. Conheço alguns que tiveram seus casamentos arrasados por uma palavra ou uma frase impensada de sua mulher. Cuidado, portanto, na maneira como trata seu marido, minha amiga e leitora! Pense no que será perdê-lo... e faça-lhe as vontades. Quando não, use diplomacia e delicadeza. Garanto que é o melhor meio de domá-los. (CLARICE, Compreenda seu marido, setembro de 1959, pág. 79)

As obrigações femininas começam com a confiança no cônjuge, no interesse por

seu trabalho, na atenção destinada ao que o mesmo quiser discorrer sobre, em manter a

casa limpa e apresentar refeições agradáveis e gostosas, mas saber conversar sobre

outras coisas, além de culinária, já que duas pessoas (com o tempo mais, agregando os

filhos) vão conviver tantos anos juntas que há de se ter uma certa inteligência para não

aborrecer o outro: As mulheres têm e deverão ter grande influência na vida do marido. Há um ditado antigo e pouco original que diz que “A mulher faz o homem”. Nada mais verdadeiro, pois a esposa, com seu amor e capacidade de organização, pode ajudar o marido a subir na vida, fazendo com que ele ganhe mais confiança em si. Uma mulher que recebe o chefe do lar com um ar cansado, e desfiando a ele um rosário de lamúrias sobre seus problemas caseiros, brigas com as empregadas e as malcriações dos filhos, tal atmosfera, os aborrecimentos que o marido talvez traga da rua, suas preocupações, seus problemas, não encontram uma válvula de escape e aumentam, tornando-o mal-humorado, nervoso e pouco apto para resolver as situações que o aguardam no dia seguinte. (CLARICE, Marido e mulher, dezembro de 1960, pág. 88)

Por se tratar de uma pesquisa inicial, ainda há muito a se explorar acerca dos

conselhos trazidos por Clarice Lispector em suas colunas. Este recorte e análise pontual

é apenas uma das muitas possibilidades. Recortes como o namoro, o marido ideal, o

tratamento adequado com os funcionários, as mulheres que trabalham e a preocupação

com a feminilidade, entre outros, são alternativas que adentram a educação informal

brasileira para a virada da década de 1950 à 1960. O estudo das mentalidades, com viés

histórico, ou mesmo literário, a análise do discurso, a biografia da autora são outras

análises possíveis para essa mesma fonte, que mostra-se flexível e rica para tais fins. A

produção literária possibilita encontrar pequenas raízes, fios que se ligam em um

imaginário mais amplo que ancorados em discursos mais profundos da ciência, da

família como célula manter e de uma urbanidade que se torna realidade no pós guerra

no Brasil e fora dele. Os textos viabilizados pela imprensa circulavam por entre um

grupo elitizado de pessoas que compunham esta comunidade de leitores e que

tematizavam a relação não conflituosa dos papeis sociais. Uma historia da educação se

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torna visível quando estas fontes demonstram o esforço de sujeitos sociais em pensar

seu modo de ser, seu status político e social em determinado período da história.

REFERÊNCIAS

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__________________, 1920 – 1977. Clarice na cabeceira: jornalismo / Clarice Lispector; organização e apresentações de Aparecida Maria Nunes. – Rio de Janeiro: Rocco, 2012.

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SOIHET, Rachel. História das mulheres. In: Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

i Graduada em História pela Universidade Paranaense, aluna regular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. [email protected]

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ii Orientador. Graduação em Filosofia, Especialização em Educação; mestrado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1996) e doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná (2002). Atualmente é professor Associado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Docente de Graduação e Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu. [email protected] iii Aparecida Maria Nunes como compiladora e organizadora.