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 CURSO DE TEOLOGIA   17

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

JERôNIMOSeu nome era Sofrônio Eusébio Hierônimus (Jerônimo), natural de Strido, na Dalmácia (antiga Iugoslávia). Ele

estudou em Roma e foi batizado pelo papa Libério quando tinha cerca de dezenove anos de idade 12. Muito estudio-

so, tinha o desejo de conhecer o mundo religioso e cientíco da época13

. Em uma das diversas viagens que fez, con-traiu uma grave doença, e durante o período de sua enfermidade acreditava ter Cristo aparecido a ele, reprovando-o pela devoção aos livros clássicos do mundo cientíco. Logo renunciou à carreira secular e dedicou-se a uma vidaascética e erudita. Seu testemunho pode ser vericado através de um trecho de uma carta sua:

Muitos anos atrás, eu tive, pelo amor do reino dos céus, deserdado a mim mesmo de casa, pais, irmã, parentes e (o mais difícil de tudo) da comida saborosa a que eu havia me acostumado. Eu estava em meucaminho para Jerusalém, para travar minha batalha, mas ainda não podia trazer-me a parte com minha

 biblioteca a qual havia colecionado com tanto cuidado e trabalho duro em Roma. E assim, miserável ho-mem que eu era, jejuava apenas para que depois pudesse ler Cícero [...] E quando às vezes eu voltava aomeu juízo perfeito e começava a ler os profetas, seu estilo parecia rude e repulsivo. Eu falhei em ver a luzcom meus olhos cegos, mas atribuía minha falta, não a eles, mas ao sol [...] Subitamente eu fui apanhado

em espírito e largado diante do assento do julgamento do Juiz [...] Perguntou-me quem e o que eu era, erepliquei: “Eu sou um cristão”. “Você mente”, disse aquele que presidia: “Você é um ciceroniano, não umcristão. Porque onde seu tesouro está, ali também estará o seu coração”. Imediatamente eu quei mudo eem meio às batidas do chicote – porque ele havia ordenado que eu fosse castigado – fui torturado aindamais severamente pelo fogo da consciência [...] Eu z um juramento e invoquei seu nome, dizendo: “Se-nhor, se eu alguma vez possuir livros seculares ou lê-los, tenho negado a ti” [...] De agora em diante eu leioos livros de Deus com um zelo maior do que tinha antes dado aos livros dos homens (Carta 22:30). 14

ASCETISMO – SER ASCÉTICO

 Atitude sistemática de renúncia aos desejos físicos e psicológicos em prol de um aperfeiçoamento

espiritual. Os ascéticos acreditam que a puricação do corpo ajuda a puricação da alma.

Jerônimo aprendeu o hebraico e viveu como ermitão nas proximidades de Antioquia entre 373 e 379. Foiconduzido à carreira eclesiástica em 379, quando ocorreu sua ordenação ao presbiterato. Com o apoio do papaDâmaso, ele pregava em todos os lugares a respeito das bênçãos de uma vida monástica. Muitos se juntaram aele, inclusive mulheres de grande projeção em Roma.

Sua enorme erudição o fez dedicar-se à tradução das Escrituras para uma nova versão, mais moderna e perfei-ta. As antigas traduções eram imperfeitas e já estavam degeneradas. O Novo Testamento foi completado em 388.Contando com a ajuda de amigos, ele traduziu o Antigo Testamento em Belém diretamente do hebraico, sendodispensada a versão da Septuaginta. O produto nal do seu trabalho foi a Vulgata , a tradução latina das Escriturasem uso na Igreja Católica Apostólica Romana até os dias de hoje.

AGOSTINHO DE HIPONAA Igreja da “era dos gigantes” teve em Agostinho seu ponto mais importante e inuente desde os tempos apos-

tólicos. Aurélio Agostinho, nascido em 13 de novembro de 354, era natural de Tagaste, atualmente Suk Ahras,na Argélia. Era lho de um rico homem chamado Patrício e de Mônica, uma piedosa cristã. Estudioso desde ainfância, Agostinho estudou retórica em Cartago, cidade onde conheceu Flória Emília, com quem passou a viver

12. É importante destacar que nos primeiros séculos da Igreja a palavra papa também era aplicada indiscriminadamente aos bispos. Com

o decorrer do tempo, o bispo de Roma, por se tratar da capital do Império, passou a exercer autoridade sobre os bispos das outras regiões, e

podemos considerar que o primeiro bispo a defender essa autoridade foi o papa Leão I (440-461), cabendo a ele a designação de papa como a

conhecemos atualmente.

13. WALKER, Williston. Op. cit., p. 227.

14. LANE, Tony. Pensamento cristão: dos primórdios à Idade Média. São Paulo: Abba, 1999, p. 61, vol. 1.

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CURSO DE TEOLOGIA  18

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

em concubinato desde os 17 anos. Conviveu com ela por cerca de quatorze anos e teve um lho, Adeodato.Em 384 começou a ensinar retórica na cidade de Milão, onde conheceu Ambrósio, bispo da cidade. Escutando

seus sermões, começou a interessar-se pela fé cristã, momento em que começou a viver um longo conito inte -

rior. Aliando o conito causado pela pregação cristã ao estudo de lósofos neoplatônicos, Agostinho renunciouaos prazeres físicos. Abandonou sua concubina e foi batizado, junto com seu lho, por Ambrósio em 387. Poucosanos depois perdeu sua mãe, que orara por sua conversão durante muitos anos, e também seu lho. Foi ordenado

 padre na cidade de Hipona em 391, e em 395 tornou-se bispo.Sua história de vida inuenciou seu pensamento e escritos. Walker arma que “Agostinho era homem divi -

dido entre dois pendores: um, apaixonado e sensual; outro, intelectual e sequioso pela verdade”15. Ao achar averdade, ele abandonou o lado apaixonado e sensual, pois sua conversão fora revestida de profunda piedade emística. Aliás, foi justamente sua piedade mística o segredo da grande inuência de Agostinho para a Igreja. Paraele, o primeiro pensamento a respeito de Deus era sempre o de uma relação pessoal com um ser, somente emquem o homem pode encontrar real satisfação e bem16. É famoso o seguinte trecho de uma oração de Agostinho:“Ó De, t no ciate paa ti, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar na tua presença”.

Como bispo, ele teve de deixar de lado a vida contemplativa de um monástico para se ater às funções pasto -

rais. Cumprindo suas responsabilidades, escreveu uma série de obras que zeram dele o mais importante teólogoda igreja ocidental desde o apóstolo Paulo17. As obras mais importantes de Agostinho são “Da Trindade”, que éuma sistematização da teologia e losoa cristãs, escrita em 15 volumes; “A cidade de Deus”, onde são discuti-das as questões do bem e do mal, da vida espiritual e material, além da teologia da história; as “Conssões”, suaautobiograa, divulgada por volta do ano 400. Também escreveu inúmeros sermões e cartas didáticas.

O ponto central de sua teologia era, sem dúvida, a teologia da graça. A salvação vem pela graça de Deus, queé totalmente imerecida e livre. Segundo Agostinho, essa graça vem a quem Deus escolhe, portanto Ele predestinaaqueles que quer predestinar para o castigo e para a salvação18. No escrito “Da santa predestinação” ele armaque “a fé pela qual somos cristãos é dom de Deus” e que a graça é a infusão do amor pelo Espírito Santo19. Taldoutrina foi fundamental para a insurreição da Reforma Protestante, impulsionando Lutero ao armar a salvação

 pela graça mediante a fé. O pensamento de Agostinho também foi fundamental para o pensamento de outro re-formador, João Calvino, que, relendo Agostinho, retomou sua ideia de eleição.

Agostinho testemunhou acontecimentos decisivos da história que mudaram o rumo da Igreja, como o m doImpério Romano e da antiguidade clássica. Em 410 ele também viu a invasão de Roma pelos visigodos e, poucoantes de morrer, presenciou o cerco de Hipona pelo rei dos vândalos, Genserico.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. Qual foi a estratégia de Juliano, “o apóstata”, para restaurar o paganismo no império?2. Como Ambrósio tornou-se bispo de Milão?3. Jerônimo renunciou à carreira secular para dedicar-se a uma vida ascética. O que é ascetismo?4. Qual é o ponto central da teologia de Agostinho de Hipona?

15. WALKER, Williston. Op. cit., p. 229.

16. Idem, p. 233.

17. GONZÁLES, Justo L. Uma história … cit., p. 173.

18. WALKER, Williston. Op. cit., p. 236.

19. Idem.

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Os séculos IV e V foram marcados pela decadência do Império Romano. Foram várias as causas dessa deca-dência, tanto internas como externas. A pressão dos povos germanos (chamados de “bárbaros” pelos romanos),que entraram no império tanto pela força como por meio de convites de aliados para tornarem-se colonos, foiuma das mais signicativas causas. Isso resultou numa enorme contradição, já que no nal do século V tanto osinvasores como os defensores do império eram germanos20.

 Na Espanha houve a invasão dos vândalos, que se estabeleceram como um reino no norte da África, para ondese encaminharam pelo Estreito de Gibraltar. De lá zeram novas incursões contra o império, inclusive à própriacidade de Roma, saqueada por eles em 455. Por serem os vândalos arianos, houve perseguição aos cristãos or -

todoxos. Seu reinado na região só cessou quando houve a ajuda do Império Romano do Oriente (os bizantinos),que conquistaram a região em 533.

 Na região da Gália se estabeleceram, entre outros, os francos, em cuja honra a região se chama hoje “França”21.Eles eram pagãos, porém o impacto da missão cristã, pela graça de Deus, os converteu ao cristianismo. Foramos francos que detiveram o avanço do Islã na batalha de Tours ou Poitiers em 732. Na região romana da Grã-Bretanha se estabeleceram os anglo-saxões, na região onde atualmente está a Escócia. Já a Itália foi invadida porvários povos germanos.

É óbvio que as invasões bárbaras afetaram muito mais a igreja ocidental (de fala latina) do que a oriental (defala grega). No ocidente latino (que hoje é a Espanha, França e Itália) sobreveio um período de enorme caos.Esse é o período de maior transformação teológica da Igreja, que deniu seu caminho daí para frente. Sobre esse

 período, González arma:

Foram tempos de dor, morte e desordem. O culto cristão, em lugar de centrar sua atenção sobre a vitóriado Senhor pela ressurreição, começou a preocupar-se mais e mais com a morte, o pecador e o arrependi-mento. Por isso, a comunhão, que até então havia sido uma celebração, se converteu em um serviço deluto, e se pensava mais nos próprios pecados que na vitória do Senhor. 22

Apesar de tamanhas transformações, a Igreja ganhou muita força neste período, tornando-se muito inuente.Com as invasões bárbaras, boa parte da cultura imperial foi desaparecendo, e a única instituição que se preservoufoi a Igreja. Daí que, “neste período, tanto o monaquismo como o papado tiveram um papel importante” 23.

A INFLUêNCIA DE GREGÓRIO MAGNO E AS MUDANÇAS TEOLÓGICASDA IGREJA

 Neste período de armação do papado durante o declínio do império, Gregório Magno ganhou especial des-

taque. Foi a partir dele que a Igreja começou a sustentar seus principais pilares teológicos e eclesiológicos. Eleestava convencido de que, pela voz do Senhor, o cuidado de toda a Igreja foi conado ao santo apóstolo e prínci- pe de todos os apóstolos, Pedro24. Gregório fortaleceu a ideia da sucessão apostólica a partir da igreja ocidental,rejeitando e condenando a postura de João Jejuador, como “bispo universal” a partir de Constantinopla.

20. GONZÁLES, Justo L. Bosquejo … cit., p. 23.

21. Idem, p. 24.

22. Idem.

23. Idem.

24. WALKER, Williston. Op. cit., p. 248.

A IGREJA NA IDADE MÉDIA:

DE GREGÓRIO MAGNO AOCISMA ORIENTE-OCIDENTE2

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CURSO DE TEOLOGIA  20

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

Apesar de agostiniano, Gregório expandiu todas as tendências eclesiásticas de Agostinho. Em seu sistemaeclesiástico apareceram elementos que eram ausentes na eclesiologia agostiniana, tais como anjos, milagres eo diabo. Ele entendia que o homem era presa do pecado original, mas era resgatado dessa condição através do

 batismo. Mas avança armando que os pecados posteriores ao batismo não eram completamente eliminados,senão pela efetivação de obras meritórias feitas com a ajuda de Deus25. Outra novidade foi a sistematização da penitência como complemento à reparação pelos pecados cometidos após o batismo. Isso deu ocasião à ideia deum lugar para puricação das almas dos que pecaram após o batismo, sem contudo terem feito boas obras ou

 penitências: o purgatório. A ideia do purgatório não é original de Gregório, porém foi ele quem a popularizou.A Ceia do Senhor ocupou lugar importante em sua eclesiologia, enfatizando que o rito sacramental era a re -

 petição do sacrifício de Cristo, sendo útil para os vivos e para os mortos. Há também nesta situação a intercessãodos santos mortos. Ele armava: “Os que não conam em obra alguma de sua própria feitura deveriam buscara proteção dos santos mártires”26. Além de todas essas alterações sensíveis da eclesiologia, também é atribuídoa Gregório a grande obra de reforma litúrgica, inserindo a música no ambiente eclesiástico, que cou posterior -mente conhecida como “canto gregoriano”.

Uma das suas maiores virtudes foi o incentivo e o patrocínio às missões. Graças a elas a Igreja cresceu con -

sideravelmente na Europa Ocidental, chegando às Ilhas Britânicas, Escócia, Irlanda e muitos lugares da França.Através de Gregório Magno a igreja ocidental começa a estabelecer seus mais importantes traços que prevale-ceriam durante a maior parte da Idade Média.

CISMA ENTE ORIENTE E OCIDENTEA Igreja caminhava bem, enquanto o império ruía. Esse foi o ritmo que se estabeleceu até que se deu o cisma

entre a Igreja Latina (ocidental) e a Igreja Grega (oriental). Porém, para chegar a este estágio temos de passar ne-cessariamente por outros. Há que se destacar, por exemplo, o avanço do Islã como uma nova ameaça ao império.O exército islâmico havia conquistado diversos territórios imperiais, incluindo cidades importantes para a vida daIgreja, como Jerusalém, Alexandria, Cartago e Antioquia. Mas nesse mesmo contexto surge na Europa um novo

 poder político, vindo do reino dos francos, com Carlos Magno. No ano 800 o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador, celebrando uma cooperação de quase cin-

quenta anos entre o episcopado de Roma e os francos. Na mesma época, no lado oriental do império, Irene era aimperatriz bizantina. A coroação de Carlos Magno ganhou importância, não somente pela vontade de reestruturar oimpério, mas principalmente pelo poder destacado de um papa, legitimado no fato de coroar um imperador. O ano800 signica o auge do poder político que um Papa exercera até então. Até aquele momento não eram os religiososque consagravam os imperadores; ao contrário, eram os imperadores que escolhiam e nomeavam os bispos. Temosna coroação de Carlos Magno o início da queda do poder imperial e a ascensão do poder papal.

 Nessa época o chefe da Igreja Latina era a gura mais importante do Ocidente, além de ser o representante pessoal do cristianismo ocidental no Oriente. Mas isso era apenas o começo. O poder do ponticado de Leão IIInem sequer se aproximava da autoridade dos que o sucederiam. Muitos eventos ainda haveriam de ocorrer atéque o ápice da autoridade papal fosse atingido por Inocêncio III entre os anos de 1198 e 1216.

Carlos Magno prezava bastante o monaquismo, muito mais pela sua obra educacional e cultural do que pelosideais ascéticos. Porém, o monaquismo exerceria um papel importante em relação à Igreja e ao império ociden-tal. O século X fora caracterizado por uma intensa miséria, reexo da decadência imperial. O pensamento doshomens da época era, necessariamente, monástico. No mesmo século X houve um verdadeiro reavivamento daforma religiosa ascética, que veria seu movimento crescer com muita força nos próximos dois séculos. A partirda fundação, em 910, do mosteiro de Cluny, na França, muitos outros começaram a ser construídos em toda aEuropa Ocidental. Eles eram locais de busca intensa de religiosidade e também de sabedoria. Muitos levavamseus lhos para serem educados em mosteiros.

25. WALKER, Williston. Op. cit.,

26. Idem, p. 280.

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MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

 No ano de 1049 foi escolhido como papa Leão IX. Sob seu ponticado a Igreja fortaleceria importantes dou-trinas, que posteriormente tornaram-se dogmas. Entre elas temos a proibição do casamento clerical e a escolhado governo eclesiástico pelo próprio clero. Mas foi também sob sua autoridade que veio a ocorrer a mais impor -

tante divisão da Igreja cristã até então: o grande cisma do Oriente.Já ocorria há muito tempo o distanciamento cultural, político e religioso entre os dois lados da Igreja. Isso sedeu desde a divisão do Império Romano em ocidental e oriental. A transferência da capital de Roma para Cons -tantinopla por Constantino, ainda no século IV, já daria o tom das intermináveis disputas. As sucessivas invasões“bárbaras” no Ocidente e a consequente mistura de povos, em detrimento ao fato de o Oriente permanecer pra-ticamente intacto, também signicou mais um motivo de diferenças entre os dois lados. Enquanto o Ocidente sevia “misturado”, o Oriente permanecia como herdeiro do mundo clássico da cristandade helenística.

Os ritos tornaram-se diferentes, bem como a interpretação teológica da autoridade papal. Com o cresci-mento do poder do papa no Ocidente, o outro lado achava inconcebível a intervenção do Império Bizantinona igreja oriental.

Miguel Cerulário era patriarca de Constantinopla quando se deu a divisão. Ele iniciou uma campanha contraas igrejas latinas na sua própria cidade. Isso resultou em um processo de excomunhão contra Miguel Cerulário

na igreja do Ocidente, que fora entendido pela igreja do Oriente como uma excomunhão de toda a igreja bizan -tina. Em contrapartida, a resposta de Cerulário e da igreja oriental foi na mesma moeda, excomungando o papaLeão IX. A separação se deu em 1054, porém teve seu pior episódio durante as cruzadas, quando houve o saquea Constantinopla no ano de 1204.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. Quais foram as principais causas da decadência do Império Romano entre os séculos IV e V?2. Por que Gregório Magno foi importante para a ascensão do papado neste período?3. Em que ano se deu denitivamente a separação entre as igrejas do Oriente e do Ocidente? 

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CURSO DE TEOLOGIA  22

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

As cruzadas representam um acontecimento muito signicativo para a história da Igreja. Esse evento carac-terizou-se como uma das principais marcas da Idade Média. Trata-se das empreitadas militares patrocinadas

 pela igreja ocidental para recuperar sua hegemonia na Terra Santa (Jerusalém e toda Palestina), dominada pelosislamitas maometanos desde 638, e frear o avanço dos turcos seljúcidas27, bem como recuperar os territórios poreles conquistados no Oriente.

O exército islâmico alcançou, com bastante êxito, muitos territórios importantes para o Império Latino (Oci-dente) e também para o Bizantino (Oriente). Além de Jerusalém, os muçulmanos conquistaram a PenínsulaIbérica (Espanha) e o sul da Itália (especialmente a Sicília). O Império Bizantino não conseguiu reunir forças

 para uma reação consistente. Por isso, seu imperador, Miguel VII (1067-1078), apelou ao papa Hildebrando paraque o ajudasse. Isso se deu porque, sob o papado de Hildebrando, a Espanha foi reconquistada, vitória que levoutodos os cristãos a apostarem que o cristianismo poderia repelir os maometanos28. Porém, o movimento só se deua partir de 1095, com o papa Urbano II.

As cruzadas caram assim conhecidas devido à gura de uma cruz ostentada pelos soldados do exército cris-tão. Eles as ostentavam no peito, no escudo, além de estar presente também na bandeira.

Armaduras dos “cruzados” ostentando a cruz.

Apesar de as cruzadas terem sido um movimento permanente que se estendeu do século XI ao XIII, a tradiçãoenumera nove grandes cruzadas (todavia, outras também podem ser consideradas). Vejamos:

27. Esses não são os “turcos otomanos”, povo que deu origem ao atual estado da Turquia.

28. WALKER, Williston. Op. cit., p. 309.

3 AS CRUZADAS NA ERADOS ALTOS IDEAIS

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MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

PRIMEIRA CRUZADA (1095-1099)Foi proclamada por Urbano II em 1095 no Concílio da Igreja Ocidental, realizado em Clermont, na França.

Lá ele fez seu chamamento à guerra santa contra os inéis muçulmanos que haviam dominado a Terra Santa eameaçavam o Império Oriental. Para isso levou ao conhecimento de todos as atrocidades realizadas contra os

cristãos que peregrinavam a Jerusalém, a profanação de lugares sagrados e a diculdade dos cristãos gregos nocombate contra os turcos. Justo González indica o que aconteceu durante o discurso de Urbano II:

Antes mesmo que terminasse seu discurso, a multidão começou a expressar sua aprovação. Logo, o papalhes ofereceu uma indulgência plena a todos os que morreriam na empreitada. Isto quer dizer que, qual -quer pecado, por mais grave que fosse, lhes seriam perdoados, e iriam diretamente ao Paraíso. A multidãocontinuou expressando seu entusiasmo e, ao concluir o discurso, rompeu a gritar: Assim Deus quer! AssimDeus quer! Assim Deus quer!29

Para o sucesso dessa primeira empreitada militar, a Igreja contou com a nobreza feudal europeia, que armoutrês grandes exércitos. Desta forma, sob a liderança de Pedro, o ermitão, deu-se início à primeira cruzada, conhecidacomo “cruzada popular”. Após anos de avanços e conquistas rumo a Jerusalém, o exército dos cruzados (como eram

chamados os soldados que participavam das cruzadas) tomou a cidade em 15 de julho de 1099, dia em que todos oshabitantes foram passados ao o da espada. A cruzada se encerrou em 12 de agosto de 1099, após a derrota do exércitoegípcio que viera em socorro dos muçulmanos, culminando com a completa conquista de Jerusalém.

A partir daí iniciou-se o reinado cristão na Terra Santa. O reino de Jerusalém se estendia de Antioquia, passando pelos condados de Trípoli, até Edessa. Em todo território muitas igrejas foram reconstruídas, outras erguidas, além deserem estabelecidos inúmeros mosteiros. Entre os mosteiros organizados um em especial obteve grande destaque após aconquista: o mosteiro do Templo de Salomão. Ele foi erguido no mesmo local onde havia estado o templo, e lá cavamos monges guerreiros que participaram do exército dos cruzados. Assim foi fundada a Ordem dos Cavaleiros Templá-rios, por Hugo de Payens, em 1119.

Essa ordem tinha como princípio a permanente defesa de Jerusalém contra o exército maometano. Eram conheci-dos como bravos guerreiros e piedosos religiosos. Nada queriam de riqueza, por isso zeram votos de pobreza. Eramadmirados por todos, e logo sua fama chegou à Europa. Muitos, sensibilizados com a coragem e a vida devocional dos

cavaleiros, faziam doações de terras e riquezas diversas à Ordem, que passou a ter bastante poder e dinheiro. Essa situa-ção fez com que a Ordem se corrompesse e se desviasse de seu sentido original. Por isso a Ordem tornou-se ainda maissecreta, e seus documentos eram desconhecidos. A maçonaria proclama-se herdeira desse movimento, que fora extinto

 pela Igreja no século XIV.

Figura de Jacques de Molay, cavaleiro templário executado em 1314 pela Inquisição.

29. GONZÁLES, Justo L. Uma história … cit.

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CURSO DE TEOLOGIA  24

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

SEGUNDA CRUZADA (1147-1149) No ano de 1144 o reino de Jerusalém sofreu a baixa de um de seus mais importantes territórios, Edessa, já que

ele fora capturado pelos muçulmanos. Desta forma, tornou-se necessária a promoção de uma nova cruzada. Ela

se deu em 1147 e teve como seu principal líder Bernardo de Claraval. Walker arma que essa segunda cruzada“não tinha, no entanto, o ardente entusiasmo da anterior”30, por isso muitos contingentes sofreram expressivasderrotas na Ásia Menor e em muitas regiões da Palestina, especialmente em Damasco.

Contando com a unidade dos povos islâmicos, outrora desunidos, o exército maometano, sob o comando deSaladino, dominou a cidade de Jerusalém, bem como boa parte da Terra Santa. O desastre foi profundamentemarcante entre os impérios do Oriente e Ocidente, já que o Ocidente (Latino) culpa o Oriente (Grego-Bizantino)

 pelo insucesso da investida militar.

TERCEIRA CRUZADA (1189-1192)Essa foi a melhor e mais bem organizada cruzada. Três grandes exércitos foram preparados para guerrear

contra os maometanos. Cada exército tinha um comandante importante: Imperador Frederico Barba Ruiva; ReiFilipe Augusto, da França; e Rei Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra.

Porém, com a morte acidental de Frederico, o desentendimento entre os reis da Inglaterra e da França, aliadoao retorno inesperado de Filipe à França por causa de interesses políticos, foi fundamental para o fracasso damissão. Somente a região de Acre foi recuperada, e Jerusalém continuava sob o domínio maometano.

QUARTA CRUZADA (1202-1204)A quarta cruzada não teve nenhum efeito quanto à reconquista dos territórios dominados, porém foi funda -

mental para o agravamento religioso entre Oriente e Ocidente. O intuito inicial da retomada de Jerusalém foradesviado graças aos interesses comerciais dos venezianos, que foram contratados para o transporte dos cruza-dos. Não podendo pagar pelos serviços, os cruzados negociaram com os venezianos, que propuseram, em vezde dinheiro, que o pagamento fosse efetuado com a conquista de Zara, que pertencia à Hungria, o que de fatoaconteceu.

Os venezianos também intermediaram uma nova proposta aos cruzados: que derrubassem do trono do Impé -

rio do Oriente Aleixo III, que ururpara o trono de Aleixo, lho de Isaque II, que tinha sido deposto. O intuito dosvenezianos era plenamente comercial, já que viam em Constantinopla grandes oportunidades de lucro. Aleixo prometera grandes recompensas aos soldados, bem como auxílio na expedição para a Terra Santa. Desta forma,misturado ao ódio dos ocidentais pelos gregos, os cruzados facilmente retiraram Aleixo III do trono. Porém,ao assumir, Aleixo não conseguiu cumprir sua promessa, o que gerou grande revolta, culminando na queda deConstantinopla em 1204. Ajudados pelos venezianos, eles saquearam as igrejas, levando preciosas relíquias etesouros religiosos para a igreja latina.

Mesmo com esse evento o Império Oriental continuou, porém só reconquistou Constantinopla em 1261. Essa si-tuação agravou profundamente o ódio entre os cristãos latinos e gregos, o que perdurou durante centenas de anos.

CRUZADA DAS CRIANÇAS (1212)Trata-se de um lamentável e doloroso episódio no qual foram reunidas milhares de crianças na crença de que

apenas as almas puras poderiam libertar Jerusalém. Por isso crianças foram escolhidas para cruzarem os terri -tórios e lutarem em Jerusalém. O grande absurdo ocasionou na morte de muitas crianças, sendo que a maioriamorreu pelo caminho, de fome, frio ou devido a doenças. As poucas sobreviventes foram capturadas e vendidascomo escravas para o Egito. Alguns entendem ser esse um relato lendário, porém há indícios históricos paraconsiderá-lo verídico.

30. WALKER, Williston. Op. cit., p. 312.

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QUINTA CRUZADA (1218-1221)Organizada para conquistar o Egito, como estratégia para chegar até Jerusalém. Inicialmente, os cru-

zados obtiveram êxito, conquistando alguns territórios. Porém, culminou em fracasso, já que os muçul-

manos conheciam muito bem o território egípcio e atraíram os cruzados para uma armadilha. Receosos,resolveram recuar em 1221.

SEXTA CRUZADA (1228-1229)Cruzada liderada por Frederico II, que tinha sido excomungado pelo papa Gregório IX, por ser

considerado desertor, já que tinha partido para comandar a cruzada em 1227, porém retornou logo emseguida. Apesar disso, Frederico II partiu novamente para o levante em 1228, e em 1229 conseguiu,através de acordos feitos com o sultão do Egito, obter a posse de Jerusalém, Belém e Nazaré. Todavia,Jerusalém foi novamente capturada em 1244.

 SÉTIMA CRUZADA (1248-1254)A insistência cristã continuava, mesmo que muitos estivessem desanimados. Assim, Luís IX, rei da

França, reiniciou o embate contra o Egito, conquistando a cidade de Damietta. Porém, uma expediçãomalsucedida fez com que Luís IX se tornasse prisioneiro, fazendo os cristãos pagarem um alto resgate por sua libertação.

OITAVA CRUZADA (1270)Foi uma nova tentativa de Luís IX. Porém, seu alvo não era mais a retomada de Jerusalém, mas a

conversão do sultão Bibars e do emir da cidade de Túnis ao cristianismo. A expedição mal conseguiuchegar ao seu destino e foi assolada por uma peste, que culminou na morte de Luís IX e de muitos sol-dados franceses.

NONA CRUZADA (1271-1272)Foi a última tentativa de reconquistar a Terra Santa. Foi liderada pelo príncipe Eduardo da Inglaterra.

Ele combateu o sultão Baybars do Egito, porém com pouco sucesso. Tentou estabelecer uma trégua como sultão, mas não foi atendido. Surpreendido com a morte de seu pai, Henrique III, retornou à Inglaterra para, pouco depois , ser coroado Rei Eduardo I .

RESULTADOS DAS CRUZADAS E SEUS REFLEXOSDo ponto de vista militar, as cruzadas certamente foram um fracasso absoluto. A Terra Santa conti -

nuou sob o domínio muçulmano, e não há como defender a ideia de que elas detiveram um avanço maiordo islamismo. Porém, o período das cruzadas foi intenso quanto às mudanças estruturais na Igreja e emtoda a sociedade ocidental. A seguir destacamos os principais reflexos deste período:

Surgimento de cidades importantes e muito fortes comercialmente, como as do norte da Itália, a re-gião dos Alpes e do Reno, bem como Veneza;

Surgimento das vilas, como um novo sistema de organização social;Contato do Ocidente com a civilização antiga do Oriente;Despertamento intelectual e surgimento do escolasticismo;Início e desenvolvimento das universidades;Grande desenvolvimento artístico;Florescimento de diversos movimentos religiosos populares, como os movimentos franciscano e

dominicano.

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Apesar de todos esses aspectos tidos como positivos, temos também neste período o surgimento daInquisição como instituição de perseguição sistemática aos hereges, além do início da utilização dasindulgências como forma de satisfazer interesses econômicos da Igreja. Essa junção de Inquisição e

indulgências, entre os séculos XIV e XVI, culminou em muitas revoltas entre as camadas populares etambém entre os intelectuais, que fizeram emergir em 1517 o importante evento de renovação espiritualdenominado Reforma Protestante.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. O que foram as cruzadas?2. Qual é a origem do termo “cruzadas”?3. Qual era a extensão do domínio do exército islâmico no início do movimento das cruzadas?4. O que teria sido a “cruzada das crianças”?

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É errôneo considerar que a Reforma Protestante tenha sido fruto de um ato isolado do monge agostinianoMartinho Lutero, que teria, através de uma súbita revelação divina, desencadeado todo o movimento de protestocontra a Igreja Romana, que resultou em sua divisão. Ao contrário, tanto a contestação de Lutero quanto o movi-mento da Reforma são frutos de seu tempo e das inquietações da sociedade alemã desde os ns do século XV.

Por isso, não é possível analisar toda a repercussão deste acontecimento que mudou a história da humanidadesem estudar seu contexto histórico, social e religioso. Nesta lição, portanto, começaremos o estudo a partir docontexto imediatamente anterior ao ato de Lutero, que em 31 de outubro de 1517 xou suas noventa e cinco te -ses contra as cobranças das indulgências como forma de obter o perdão dos pecados. Também faz-se necessárioolharmos para Lutero, sua vida, seus anseios, sua luta e ideais antes e após seu corajoso ato contestador.

Olharemos também para os reexos do protesto luterano, que alcançou a mente e o coração de muitas pessoasem toda a Europa, tendo em João Calvino e Ulrich Zuínglio os maiores defensores e propagadores da igreja re -formada. Um olhar especial será dado a Calvino, já que ele foi o mais importante intelectual reformado e, assimcomo Lutero, foi responsável pela mudança do pensamento religioso e social de todo o Ocidente, perdurandoaté os dias atuais.

O CONTEXTO EM QUE SE DEU A REFORMA PROTESTANTEVimos, ao nal da lição anterior, que a sociedade havia ganhado inúmeras novidades durante e após o perí -

odo das cruzadas. Algumas delas nós retomaremos agora, como o despertamento intelectual e o surgimento dasuniversidades, além do crescimento do uso das indulgências, pela Igreja no Ocidente, como a forma de obter o

 perdão dos pecados.A sociedade ocidental no século XV estava passando por profundas transformações, e por isso mesmo inquie-

tações intelectuais e religiosas se faziam presentes em toda sua população. É neste período que a história registrao surgimento da “Alta Renascença”, o ponto mais elevado da renascença ou renascimento.

Chamou-se de renascimento o movimento que redescobriu, revalorizou e resgatou as fontes literárias eartísticas da antiguidade clássica. Filósofos neoplatônicos foram relidos, bem como os pais da Igreja, espe-cialmente Agostinho. Nesse movimento o interesse pelas línguas antigas, tais como o grego e o hebraico, foifundamental para entendermos o apego de Lutero às línguas originais dos textos sagrados. Além disso, as ar -tes conquistam um espaço muito importante, destacando-se nesta época artistas consagrados como Da Vinci,Michelângelo e Rafael.

Junto ao renascimento houve outro movimento importante chamado “humanismo”. Ele se destaca pelavalorização e celebração do ser humano e sua humanidade. O humanismo é antropológico e antropocêntri-co, ou seja, o ser humano passa a ser o centro de tudo. Trata-se de uma mudança fundamental, visto que avisão medieval sempre foi a de que Deus é o centro, sendo representado pela Igreja, e o ser humano apenascirculava em torno deles.

O que poderia, aparentemente, ser ruim para a fé tornou-se importante para o surgimento das contestaçõescontra a Igreja. O fato de o ser humano andar sozinho fez dele um ser inquieto, em busca de satisfazer sua alma,que por sua vez estava em busca de Deus. Com a sua valorização, o ser humano se descobriu ainda mais pecadore, portanto, necessitava do perdão de Deus para não ser condenado ao inferno. Assim, este ambiente se tornou

 propício para a atuação do Espírito Santo, o que resultou num avivamento religioso.

4 A REFORMA PROTESTANTEDE 1517

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O renascimento alcançou plenamente a Alemanha, que nos ns do século XV se tornara o grande centro do pensamento humanista. Em pouco tempo diversas universidades foram erguidas, inclusive uma em Wittenberg,local em que mais tarde Lutero lecionaria. Porém, junto com o avanço do pensamento intelectual, a Alemanha

 passava, bem como toda a Europa Ocidental, por um intenso momento de reexão religiosa. O medo da morteeterna, como consequência dos pecados, era sentido por todos. Então, muitos dedicaram suas vidas aos mos-teiros, com o pensamento de puricar-se para conseguir o perdão divino. No entanto, a maioria não tinha outrasaída senão comprar o perdão da Igreja através das indulgências.

As indulgências ganham um capítulo especial neste contexto. Elas eram os pagamentos, em dinheiro ou bens,efetuados para obter perdão divino, que era concedido pela Igreja, e se tornaram uma importante fonte de recur -sos nanceiros. Com eles a Igreja construía suntuosos templos. O auge desse acontecimento ocorreu em 1506,quando o papa Leão X decretou abusivas indulgências com a nalidade de construir a Basílica de São Pedro, hojeuma das maiores ornamentações de Roma. O dinheiro era pouco, por isso a Igreja vendia salvação, e vendia in-ternamente, para conseguir recursos. Cargos de alta hierarquia, como o arcebispado, eram vendidos por enormequantia de dinheiro ou bens. Também neste período “promoções” eram realizadas pela Igreja para que todos, atéos mais pobres, pagassem suas indulgências, prometendo perdão dos pecados tanto da pessoa individualmente

quanto dos parentes já mortos, que estariam sofrendo no purgatório.Este era o cenário em que Martinho Lutero atuou, causando aquilo que seria a maior revolução da história daIgreja: a Reforma Protestante.

JOÃO WYCLIFF E JOÃO HUSS

 Ao contrário do que se pensa, o movimento de reforma não se inicia exatamente com Martinho Lutero.

Outras pessoas antes dele levantaram teses contra a situação de degradação moral e teológica da

Igreja. Os mais importantes foram João Wycliff e João Huss. Mais de um século antes de Lutero iniciar

o movimento de reforma protestante, Wycliff (1329-1384), na Inglaterra, e Huss (1374-1415), na Boêmia

(região da atual República Tcheca) já tinham se posicionado contra a corrupção do clero e condenado a

autoridade papal como igual ou superior à autoridade das Sagradas Escrituras. Os dois precursores da

reforma foram denunciados como hereges, e Huss foi condenado à morte pela fogueira.

MARTINHO LUTERO E A REFORMA LUTERANAJusto González resume bem as controvérsias que cercam uma da figuras mais importantes da história

da Igreja:

Poucos personagens na história do cristianismo têm sido discutidos tanto ou tão acaloradamente comoMartinho Lutero. Para uns, Lutero é o monstro que destruiu a unidade da igreja, a besta selvagem que

 pisou a vinha do Senhor, um monge renegado que se dedicou a destruir as bases da vida monástica. Paraoutros, é o grande herói que fez com que uma vez mais prevalecesse o evangelho puro, o campeão da fé

 bíblica, o reformador de uma igreja corrompida.31

Lutero não é gura a ser dispensada nas disciplinas que envolvem a história do mundo contemporâneo. A -nal, no meio de um mundo em transição (da Idade Média à Idade Moderna) ele deu um passo decisivo para queessa transição acontecesse denitivamente.

31.GONZÁLES, Justo L. Uma história … cit.

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MARTINHO LUTERO Nascido em 10 de novembro de 1483, Martinho Lutero não era membro de família abastada; ao contrário, seu

 pai era um simples mineiro e de piedade não eclesiástica32. Mesmo com poucas condições, seu pai dedicou-se a

dar a ele uma boa educação, pois tinha o desejo de torná-lo um advogado. Em 1501 Lutero ingressou na Univer-sidade de Erfurt, onde foi inuenciado fortemente pelo movimento humanista. Por isso, sua formação inicial foinas artes, em 1505. Quando se prepara para ingressar na carreira do direito, foi surpreendido com a morte de umamigo próximo, quando um raio caiu próximo de onde ambos estavam. Lutero escapou da morte, porém não doanseio profundo da procura pela salvação de sua alma, já que se viu prestes a morrer. Nestas circunstâncias, eleresolveu ingressar na vida monástica, entrando num mosteiro de tradição agostiniana.

 No ano de 1507 ele foi ordenado ao sacerdócio e no ano seguinte foi enviado para Wittenberg, com a nalidadede preparar-se para dar aulas na universidade local. Em 1509 graduou-se bacharel em teologia. Pouco tempodepois cuidou de estudar e ensinar a Bíblia, partindo das línguas originais, o hebraico no Antigo Testamento e ogrego no Novo Testamento. Salmos e Romanos foram suas primeiras fontes de estudos.

Martinho Lutero

Apesar de toda a sua dedicação à vida religiosa, Lutero não estava espiritualmente completo, faltava paz àsua alma. O sentimento de pecaminosidade o atormentava, e nem mesmo as penitências o acalmavam. Foi neste

 período que Staupitz entra em cena em sua vida. Staupitz era o supervisor da congregação germânica da ordemagostiniana. Foi ele quem deu início ao pensamento de Lutero quanto ao amor de Deus. Sobre isso Walker diz:

Staupitz o auxiliou, ponderando que a penitência verdadeira começa não com o temor da punição de Deus,mas com o amor a Deus. Mas ainda que Lutero pudesse dizer que Staupitz foi o primeiro a lhe abrir osolhos ao Evangelho, sua visão foi se aclarando lenta e gradativamente. 33

De qualquer forma, foi decididamente a própria Bíblia o elemento fundamental da transformação de seu pen-

samento sobre a graça de Deus e a sua salvação. Durante as preleções que ele fazia sobre os Salmos e Romanos,entre 1513 e 1516, Lutero foi convencido de que a salvação vem de uma relação pessoal com Deus, não porméritos próprios, por meio das mais diversas obras, mas através da plena conança nas promessas graciosas deDeus. Pronto, a revolução já dera início em seu coração: pelo conhecimento que o Santo Espírito de Deus lhe

 proporcionou mediante o estudo da Palavra de Deus, Lutero começava a alimentar em seu coração as convicçõesque o levariam a protestar contra os desvios da Igreja.

32. Cf. WALKER, Williston. Op. cit., p. 416.

33. Idem, p. 417.

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A REFORMA DE LUTERO E OS “PROTESTANTES”Com o estabelecimento de que o perdão dos pecados depende da graça de Deus e de que isso se dá estrita-

mente através da misericórdia divina, e não por merecimento, os olhos de Lutero se abriram para os abusos e o

extremo misticismo da Igreja Católica. Não cabia mais em sua mente o sistema de indulgências, que vendia asalvação. Porém, sua revolta maior se deu após o conhecimento da venda do arcebispado em diversas regiões, pelo papa Leão X, a Alberto de Brandenburgo e das novas indulgências para a construção da Igreja de São Pedroem Roma.

Já convicto de que a salvação era pela graça mediante a fé, no dia 31 de outubro de 1517 Martinho Luteroaxou na porta da Igreja de Wittenberg – local tradicional de recados e propagandas da universidade – as suasnoventa e cinco teses questionando a venda do perdão e a salvação através das indulgências.

A propagação de suas teses não foi em si a própria Reforma; porém, foi a fagulha necessária para incendiaro povo, que ansiava por um líder que desse alento às suas almas e também aliviasse seus bolsos comprometidoscom essa espécie de tributo religioso. Entre suas teses estavam armações que atingiram em cheio os corações,tanto do povo pobre quanto da elite real. Vejamos alguma delas:

O Papa não pode perdoar dívida, senão declarar e conrmar aquilo que já foi perdoado por Deus, ou entãoo faz nos casos que lhe foram reservados. (6ª Tese)[...] erram os apregoadores de indulgências ao armarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvomediante indulgência do papa. (21ª Tese)A maioria do povo é ludibriado com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se ohomem singelo com as penas pagas. (24ª Tese)Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a almase vai do purgatório. (27ª Tese)Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o amor ao dinheiro cresce e aumenta;a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão-só corresponde à vontade e ao agrado de Deus. (28ª Tese)Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam obter certeza de sua salvação me -diante breves de indulgência. (32ª Tese)

Todo cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência. (36ª Tese)Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta ao necessitado do que osque compram indulgência. (46ª Tese)Deve-se ensinar aos cristãos que o Papa, por um dever seu, preferiria distribuir seu dinheiro aos que emgeral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário, a própria

 basílica de São Pedro. (51ª Tese)O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus. (62ª Tese)

Tais palavras soaram suaves como alento ao povo, porém foram agressivas a Roma e ao papa. Lutero entendiaque todo cristão que sentisse a verdadeira compunção pelo pecado teria direito à plena remissão da pena e da cul-

 pa, mesmo sem cartas de perdão pela indulgência. Ele queria que o papa assim entendesse e cessasse a cobrançadas indulgências, que empobreciam a cada dia mais o povo. Seu intuito era fazer Roma reetir, não dividir aIgreja. No entanto, não foi o que aconteceu. Mais tarde Lutero enxergou as pretensões papais como impiedosase chamou-o de anticristo.

Lutero só conseguiu escapar da morte graças à proteção dos nobres, e em especial do príncipe Frederico, oSábio. Foi Frederico que o escondeu, após Lutero rejeitar se retratar de seus escritos feitos até o ano de 1521 con-tra a autoridade papal e as indulgências. Ficou meses escondido e foi dado como morto. No esconderijo, Luterofez sua tradução das Sagradas Escrituras para o alemão diretamente das línguas originais, signicativo avanço,

 já que outra tradução existente era a partir da Vulgata, tendo sido grosseiramente malfeita.

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Lutero perante o tribunal em Worms, em 1521, ocasiãoem que não renegou seus escritos e pensamentos.

Enquanto isso, movimentos de protestos aconteceram na Alemanha, especialmente entre os pobres, comanda-dos, principalmente, por Filipe Melanchton. A pior de todas as revoltas cou conhecida como “Guerra dos Cam-

 poneses”, ocasião em que os camponeses reivindicaram maior liberdade aos latifundiários, numa oportunidadede união política aos ideais religiosos. Lutero afastou-se disso, não achando correto, e o nal deste episódio foitrágico e quase comprometeu a Reforma. Não era a intenção de Lutero que os pobres morressem em uma guerracontra Roma, porém isso teria se tornado inevitável.

Apesar disso, o movimento de Reforma prosseguia e alcançava adeptos em diversas regiões da Alemanhae países vizinhos. Lutero resolveu dedicar-se à expansão reformada, que logo atingiu também os príncipes dosterritórios alemães. Numa tentativa de retomada de poder da Igreja romana e do império, uma reunião com os

 príncipes foi marcada em fevereiro de 1529 em Reichstag. A maioria presente era católica, e ela ordenou a deci-são de que o culto romanista seria permitido em todas as terras alemãs, bem como a proibição do culto luterano.Contra isso, porém, alguns príncipes resolveram realizar um formal protesto, redigindo o  Protestatio. Daí seorigina o nome “protestante”.

Lutero casou-se em 1525 com Catarina von Bora, ex-freira do convento de Nimbschen, que aderira àReforma Luterana. Com ela teve seis lhos. Martinho Lutero faleceu em 1546, considerado o mentor espiritualda Reforma Protestante do século XVI.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. Qual foi a data em que Martinho Lutero iniciou o movimento da Reforma?2. O que foi o “renascimento”?

3. O que foi o “humanismo”?4. O que eram as indulgências?5. Qual era o intuito de Lutero ao axar as 95 teses na porta da igreja de Wittenberg?

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Um dos maiores exemplos de que a Reforma Protestante teve como suas causas primárias a evolução do pen-samento humano e da sociedade medieval a caminho da modernidade é a Reforma iniciada na Suíça por UlrichZuínglio.

ULRICH ZUÍNGLIOZuínglio era natural de Wildhaus, cidade suíça de fala alemã. Seu pai tinha boa posição na esfera jurídica da

aldeia onde moravam, mas sua educação foi realizada por um tio que era chefe religioso da escola de Wesen e o

colocou no caminho da cultura e da religiosidade.Estudou na cidade da Basiléia e posteriormente em Berna, onde teve contato com o humanismo. Ao retornar

a Basileia, teve contato com o humanista Tomás Wyttenbach, que lhe ensinou coisas preciosas sobre a fé e asSagradas Escrituras. Dele, aprendeu que a única autoridade de fé sobre o cristão são as Escritura, e o preço do

 perdão já foi pago por meio de Cristo, naturalmente inutilizando as indulgências. A partir disso Zuínglio tornou-se um dedicado estudioso das antigas fontes cristãs, especialmente da língua grega.

Como pároco de Glarus, acompanhou os jovens de sua paróquia como capelão durante várias campanhas mi-litares. Os jovens suíços eram constantemente contratados pelo império como mercenários em disputas e guerras.Enquanto acompanhava os soldados mercenários, Zuínglio trocava correspondências com o famoso humanistaErasmo de Roterdã34.

Com o passar do tempo, fez oposição ao serviço militar dos jovens suíços pelos estrangeiros, e por causadisso ganhou força e popularidade. Por causa de seu extremo conhecimento intelectual e de sua pregação entu -

siástica e profunda, o povo de diversos cantos da Suíça começou a vê-lo como líder.

Ulrich Zuínglio (1484-1531)

34. Cf. WALKER, Williston. Op. cit., p. 440.

5 ULRICH ZUÍNGLIO EA REFORMA NA SUÍÇA

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Diferentemente de Lutero, Zuínglio não reformou suas ideias religiosas por causa de uma grande crise espi -ritual, mas através do pensamento intelectual. Com apoio das ideias humanistas, chegou à conclusão de que asalvação não era fruto do sacrifício humano em fazer boas obras, ir à missa sacricial ou cumprir diversos ritos

religiosos, mas era por graça mediante a fé. Ele chegou a essa conclusão sem ter tido contato com Lutero. Pos-teriormente Zuínglio teve contato com as ideias luteranas e com o próprio Lutero. A maior de suas ideias estavarmada na centralidade da Palavra de Deus (Sola Scriptura) como autoridade máxima da vida cristã, e o que delaestivesse fora também estaria fora de propósito para a Igreja.

A REFORMA SUÍÇAMesmo fazendo parte do império, havia muito tempo a Suíça gozava de certa independência. Pouca era a

inuência imperial nos governos dos chamados cantões suíços. Na época eram ao todo treze cantões que tinhamligações entre si em confederação, porém com independência administrativa interna. A Suíça já era uma espéciede estado a caminho da modernidade.

Roma não agia contra a independência suíça justamente porque tinha interesse na contratação de jovens su-íços para formar um exército mercenário, que cou prejudicado quando Zuínglio iniciou um movimento contra

tal ato. Foi especialmente a partir disso, e da expulsão dos agentes clérigos que cobravam indulgências, queRoma decidiu agir contra o movimento reformado naquele país.Com autoridade independente de Roma, as ideias que contrariavam a igreja romana não teriam diculdade

de aceitação na Suíça. Toda a reforma zuingliana fora feita dentro de uma espécie de sistema democrático, comdiscussões abertas e debates francos entre Zuínglio e seus apoiadores, e o episcopado romano presente nos di-versos cantões. Diante dos debates, as autoridades governamentais dos cantões davam causa ganha a Zuínglio,isentando-o de heresia e tomando, assim, partido da causa evangélica.

O governo civil do cantão de Zurique foi ainda mais longe, rejeitando a sujeição ao bispo romano e tomandotodas as igrejas cristãs da cidade, sob a alegação de que somente a Palavra de Deus seria pregada, não havendomais os ritos de penitências. A partir daí iniciou-se o processo de Reforma no território suíço.

A centralidade da Palavra de Deus era tão forte para Zuínglio que até mesmo a autoridade civil deveria agirde acordo com as Escrituras. Desta forma, ele não rompe com a unidade entre Igreja-Estado, permanecendo ovínculo entre eles. Walker ainda arma:

A situação em Zurique realmente era esta: o governo cantonal introduzia as mudanças que ele [Zuínglio],como el intérprete da Escritura e líder natural do povo, persuadia o mesmo governo a decretar. Então,Zuínglio iniciou um processo de educação governamental e popular, no que teve grande êxito. 35

Além disso, Zuínglio ainda negava o caráter sacricial da missa, o valor intercessório dos santos, a existênciado purgatório, além da obrigatoriedade dos votos monásticos. Também incentivou o casamento dos clérigos, oque, com a extinção dos mosteiros e conventos, fez gerar inúmeros casamentos entre ex-freiras e sacerdotes.Zuínglio ainda armava que a única autoridade como cabeça da Igreja era Cristo.

DEBATES E CONTROVÉRSIAS COM LUTERO SOBRE A CEIA DO SENHOR Zuínglio e Lutero concordavam em muitos aspectos sobre temas teológicos que geraram a Reforma. No

entanto, havia uma fundamental discordância entre eles sobre um ponto da Ceia do Senhor. Lutero julgava que,diante da celebração eucarística, Cristo fazia-se presente. Para ele, as palavras de Cristo “este é o meu corpo”seriam literais, consistindo em uma promessa de perdão e restauração do pecador que participa da Ceia. Já paraZuínglio a interpretação era outra, pois as palavras de Cristo queriam dizer “isto ‘signica’ meu corpo”.

Um começou a escrever contra o entendimento do outro. Por isso, um dos príncipes alemães, Filipe de Hesse,combinou com os dois de se reunirem em Marburgo para procurar resolver suas diferenças e restaurar a unidade

35. WALKER, Williston. Op. cit., p. 441.

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 protestante. Tal reunião aconteceu no ano de 1529. As convergências de ideias se deram de forma positiva emdiversos aspectos, tais como: necessidade de o povo compartilhar diretamente o pão e o vinho; a vinculação da

 proclamação da Palavra à Ceia do Senhor; e a negação do sacricialismo presente na tradição católica. Porém,

não houve acordo quanto à presença de Cristo.Tal atitude desses importantes líderes foi fundamental para que houvesse uma crise nos dois movimentosreformados, além de ter gerado um sensível prejuízo diante das pretensões reformadas de alcançar mais locaise atingir por completo a igreja romana. Zuínglio entendia que a forma que Lutero enxergava a Ceia do Senhorera muito católica e profundamente mística, contrariando seu pensamento racional. Já Lutero o acusava de seranabatista, entendendo que a Ceia seria apenas uma repetição de rito, a ordenança de um memorial, descaracteri-zando seu sentido espiritual. Tal problema só foi solucionado quando João Calvino propôs uma teologia da Ceiado Senhor que abrangia as idéias luteranas e zuinglianas.

O PROBLEMA COM OS ANABATISTASOs anabatistas surgiram como um movimento radical da reforma zuingliana. São seus expoentes Conrado

Grébel e Felix Manz, que eram de famílias importantes da cidade de Zurique. Humanistas, desde cedo achavam

que as ideias de Zuínglio eram muito conservadoras e pediram maior radicalização na quebra de tradições coma igreja romana. Sem que a sociedade estivesse ainda preparada, eles já lutavam pela abolição das imagens e damissa. Porém, a posição de maior diculdade estava relacionada ao batismo. Eles criam que o batismo infantilnão era bíblico, e por pouco, em 1523, com apoio de Baltasar Hubmaier, Zuínglio não foi convencido.

 No entanto, Zuínglio resolveu manter o batismo infantil, sob a alegação teológica da promessa da aliança deDeus com as famílias, incluindo assim as crianças. Mas para o movimento liderado por Grébel e Manz isso nãoera correto, e eles lutavam para que houvesse um rebatismo de todos os que foram batizados na infância. Paraeles o batismo deveria ser fruto de uma reexão pessoal após a experiência da regeneração. Com a negação deZuínglio, resolveram se reunir na casa de Manz, e no dia 21 de janeiro de 1525, depois de orarem, Grébel foi

 batizado por Jorge Blaurock, fato que despertou nos outros simpatizantes do movimento o mesmo sentimento. Num primeiro momento, o movimento batizava, às escondidas, por aspersão. Algum tempo depois, pensando

serem mais bíblicos, resolveram realizar o batismo por imersão. A reação do governo de Zurique foi brutal, comoarma Walker:

O governo de Zurique, em março de 1526, ordenou fossem afogados os anabatistas, parodiando horrendamentesua crença. Em 5 de junho de 1527 Manz foi assim martirizado. Grébel escapou só porque morrera de praga, um

 pouco antes. Zuínglio a eles se opôs com encarniçamento, mas pouco conseguiu demovê-los de sua posição.

A não submissão do grupo à teologia do batismo e ao sistema de Igreja-Estado fez com que eles vivessem suafé em locais distantes, longe das igrejas que tinham vínculo com o governo. Eles foram os primeiros a reclama-rem a separação entre Estado e Igreja, fato que se tornou comum, já que se tratava de um momento de transiçãona história ocidental, da Idade Média à modernidade.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. Como Ulrich Zuínglio reformou suas ideias religiosas?2. Qual foi a principal controvérsia entre Zuínglio e Lutero?3. Quem eram os anabatistas?4. Por que os anabatistas viviam sua fé distantes de Zurique?

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MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

Apesar de Lutero ter sido o principal nome da Reforma Protestante, e Zuínglio um importante líder, não hádúvidas de que João Calvino foi o maior responsável pelo estabelecimento denitivo dos ideais reformados.Podemos até comparar os três como construtores de uma casa, sendo Lutero e Zuínglio aqueles que colocaramos fundamentos, e Calvino aquele que levantou a casa.

Calvino não foi um reformador como Lutero e Zuínglio, já que nem clérigo era, mas foi o principal dos teólogosreformados, inuenciando sua geração e toda geração posterior a ele. Suas ideias transcenderam a esfera religiosa einuenciou todo o mundo medieval, dando passos decisivos para a modernidade. Obviamente ele não pensava nis-so, porém a história moderna não pode prescindir de sua vida e de suas ideias, já que elas, originais ou retrabalhadas

 pela tradição calvinista, foram responsáveis pela mudança de paradigmas até mesmo na economia mundial

36

.A importante inuência de João Calvino e de sua teologia é destacada por V. H. H. Green:

O Calvinismo cristalizou a Reforma. Lutero e Zwínglio tinham modicado radicalmente a antiga religião,mas, para além do vigoroso realce dado à Palavra de Deus, as crenças reformadas careciam duma auto-ridade precisa, duma direção organizada e duma losoa lógica. João Calvino deu-lhes tudo isso e maisainda. Ele foi um daqueles raros caracteres em que o pensamento e a ação se conjugam e que, se chegama deixar marca, gravam-na profundamente na história. A inuência que ele exerceu desde a cidade deGenebra, que praticamente governou a partir de 1541 até a sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europainteira e mais tarde pela América.37

JOÃO CALVINO Nascido na França no dia 10 de julho de 1509, natural da cidade de Noyon, João Calvino era lho de Gerard

Calvino, um importante membro da classe média, sendo secretário do bispado da cidade e procurador de sua ca-tedral. Por isso, seu pai sustentava o desejo de ver seu lho na vida eclesiástica. Calvino foi estudar teologia, masdepois dedicou-se ao direito nas Universidades de Orleãs , Bourges e Paris, onde teve oportunidade de aprendero latim. Foi na vida universitária que teve contato com o humanismo, e assim também pôs-se a estudar a línguagrega. Em contato com o humanismo, sua discussão teológica começou a dar lugar aos textos contestadores deJohn Wyclif, John Huss e Martinho Lutero. Mas, segundo ele mesmo disse, “eu estava obstinadamente preso àssuperstições do papado”38.

Através da inuência de seu pai, Calvino recebeu benefícios de certos cargos eclesiásticos em Noyon, aindacom doze anos de idade. Apesar de ter ingressado na vida eclesiástica, nunca foi ordenado ao sacerdócio. Somen-te após a morte de seu pai, em 1531, Calvino conseguiu trilhar seus próprios caminhos 39.

36. Sobre isso, ver WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo . 14. ed. São Paulo: Pioneira, 1999.

37. GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma. Lisboa : Publicações Dom Quixote, 1991.

38. GONZÁLES, Justo L. Uma história … cit.

39. WALKER, Williston. Op. cit., p. 475.

6 O LEGADO DO REFORMADORJOÃO CALVINO

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Retrato do jovem Calvino.

A conversão de João Calvino se deu em 1534, e é algo absolutamente misterioso. Ele mesmo narra que passou por uma “súbita conversão”. Assim Green escreve sobre o testemunho que Calvino deu de sua conversão:

É incerto quando e como tenha Calvino abandonado a fé dos seus maiores. Mais tarde ele escreveu: Deussujeitou-me o coração à docilidade através duma conversão repentina. Sem dúvida que os seus interessesse foram desviando dos clássicos e das leis para o estudo dos Pais da Igreja, e das Escrituras. As inuências

 primordiais foram provavelmente as do Novo Testamento grego de Erasmo e dos sermões de Lutero. 40

 Seu contato com o Novo Testamento e com os escritos de Lutero foram fundamentais para que ele passasse

a usar seu brilhantismo intelectual, já reconhecido na área jurídica, também na área teológica, já que a religião passou a ocupar o primeiro lugar em sua vida.

De sua conversão até a primeira publicação daquela que seria sua principal obra teológica se passaram apenasdois anos. Era o ano de 1536 quando publicou, na cidade de Basileia, as Institutas da Religião Cristã, com prefáciodedicado ao rei da França. Com apenas 26 anos Calvino já se tornara o chefe do protestantismo francês, escrevendocom clareza e vigor os ideais da posição protestante, como até então ninguém havia feito41. A versão completa dasInstitutas só se deu no ano de 1559, num imenso compêndio de teologia, até hoje inalcançável quanto à sua maes-tria. Nenhum livro publicado no século XVI produziu tamanhos efeitos e foi de tão largo alcance42.

A REFORMA EM GENEBRAA Reforma Protestante já tinha alcançado diversos cantões da Suíça mediante o trabalho de Zuínglio, porém

uma das regiões de maior inuência e de poderio econômico ainda não tinha sido atingida: a cidade de Genebra.Porém, ao contrário do que se pensa, sua ida para lá não se deu por livre e espontânea decisão, mas por insistênciade Guilherme Farel.

Farel foi quem deu início à Reforma em Genebra. Foi para lá justamente pregar os ideais reformados, e poressa razão esteve em perigo de morte muitas vezes por apedrejamento, afogamento e envenenamento, causados

40. GREEN, V. H. H. Op. cit.

41. WALKER, Williston. Op. cit., p. 477.

42. GREEN, V. H. H. Op. cit.

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 pela perseguição dos clérigos romanos. Com o tempo, conseguiu convencer o governo civil das arbitrariedadesda igreja romana, por isso a missa foi suspensa e a idolatria cessada. Mas apesar do sucesso dos ideais reforma -dos em Genebra, a obra ainda não estaria completa. E assim entra em cena João Calvino.

 No ano de 1536 Calvino passou por Genebra, porém retornou para Ferrana, na Itália, de onde viera com seuirmão e sua irmã. Não poderia mais voltar à França, já que lá se iniciara uma intensa perseguição aos protestan -tes. Mas sua passagem por Genebra fora marcante, já que, coagido por Farel – que evocou a ira divina caso nãoaceitasse o trabalho –, Calvino resolveu iniciar um trabalho naquela cidade, mesmo sentindo-se despreparado

 para tal tarefa. E tão grande e penosa tarefa seria! A cidade de Genebra não era conhecida pelos seus valoresmorais mais elevados, ao contrário, era uma cidade de profunda liberalidade que beirava a libertinagem. Por isso,logo Calvino e Farel entraram em conitos com as autoridades civis, visto que tinham em mente um controlemaior da disciplina dos cristãos. Sua maior briga se deu por causa da insistência na liberdade da igreja em disci-

 plinar e excomungar os pecadores incontinentes, que até então era de exclusividade do governo. Além disso, asautoridades ainda se envolveram com questões clericais, como o modelo litúrgico a ser adotado pelas igrejas dacidade. Contrariando tais posturas, Calvino e Farel foram banidos da cidade em 1538.

Calvino mudou-se para Estrasburgo e lá viveu de 1538 a 1541. Foram, sem dúvida, seus anos mais felizes.

 Neste período conheceu e casou-se com a viúva Idellete de Bure (que morreria nove anos depois, em 1549, víti-ma da peste bubônica). Viveu tranquilamente três anos pastoreando uma igreja de refugiados franceses, escreveue lecionou teologia na cidade. Neste ínterim uma revolução em Genebra derrubou o partido contrário às suasideias, e o partido que subiu ao poder persuadiu Calvino para que voltasse. Após muita insistência, retornou em13 de setembro de 1541.

Era sua chance de implantar na cidade aquele tipo ideal de sociedade com o qual sonhava. Para Calvino, trêsinstituições foram divinamente estabelecidas para os homens: a igreja, os sacramentos e o governo civil. Essa

 junção era fundamental, porém o governo civil jamais deveria inuir nos assuntos eclesiásticos, pois ele existe para reger e cuidar da ordem social.

Calvino revolucionou a cidade de Genebra implementando projetos educacionais e incrementando o comér-cio. Mas, por causa da tradição libertina dos cidadãos, nunca passou em branco qualquer que fosse o pecado doshabitantes da cidade. Dependendo do caso, o pecador não somente recebia punição eclesiástica como tambémera denunciado ao governo civil, que, inuenciado pela Igreja, se via obrigado a raticar suas decisões. A ordemdas decisões agora foi invertida.

Por causa disso travou diversas lutas, sendo que a mais difícil e controversa foi com o espanhol Miguelde Servetus. Inteligente e sagaz, Servetus questionava a doutrina da predestinação e Calvino, além de armarque a doutrina nicena da trindade, a cristologia de Calcedônia e o batismo infantil eram as principais causas dacorrupção da Igreja. Também provocava Calvino ironizando e criticando com desprezo as Institutas. Servetustambém era procurado pela Inquisição católica, pelos mesmos motivos de heresia e provocações. Mas foi mortona fogueira em Genebra, após muito embate na instância civil. Por causa das intensas discussões com Calvino,sua morte cou na conta do reformador, apesar de ter sido decretada pelo governo de Genebra.

Calvino morreu em 27 de maio de 1564 em Genebra, onde é considerado até nossos dias a gura mais im- portante de sua história.

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Guilherme Farel, João Calvino, Teodoro Beza e John Knox.

Monumento à Reforma, Genebra, Suíça.

 PRINCIPAIS OBRAS LITERÁRIAS DE JOÃO CALVINOEntre as principais obras literárias de Calvino temos: Institutas da Religião Cristã; comentários dos livros do

 Novo Testamento (com exceção de 2 e 3 João e Apocalipse); Pentateuco, Salmos e Isaías, do Antigo Testamento;além de diversas cartas, folhetos e tratados polêmicos e instruções aos novos convertidos (catecúmenos).

ALGUNS DE SEUS PRINCÍPIOS TEOLÓGICOSCalvino insistia que o mais alto conhecimento do homem é o de Deus e de si mesmo. O Espírito Santo ocu-

 pava um lugar fundamental em sua teologia, já que é o testemunho do Espírito no coração do homem que podeatestar ao crente a vontade de Deus. Assim, a obediência à vontade de Deus é o dever primário de todo homem.Porém, toda a obra redentora de Cristo torna-se sem valor até que o ser humano a torne pessoal em sua vida, eisso só se dá mediante o toque do Espírito Santo. Podemos dizer que Calvino foi o primeiro teólogo protestantea dar especial ênfase à obra do Espírito Santo de Deus.

Mas a mais intrigante e questionada doutrina teológica de João Calvino, sem dúvida, é a doutrina da predes-tinação. Ela apareceu na primeira edição das Institutas em 1539, porém em nada difere da teologia agostiniana.Para Calvino o caráter da predestinação não estava ligado à providência divina na escolha dos eleitos, masnasceu de sua preocupação pastoral diante do problema que ele enxergava: por que uns respondem ao chamadogracioso do Evangelho e outros não? Sua resposta está no fato de que os que respondem são predestinados para avida. Era uma questão muito mais de amparo espiritual aos éis do que uma forma teológica de punição aos quenão respondiam ao chamado do Evangelho.

Resumindo o pensamento de Calvino sobre a predestinação, Franklin Ferreira arma:

A doutrina de Calvino sobre a predestinação pode ser resumida em três termos: (a) absoluta: não é condi-cionada por quaisquer circunstâncias nitas, mas repousa exclusivamente na vontade imutável de Deus;(b) particular: aplica-se a indivíduos e não a grupos de pessoas; Cristo não morreu por todos indiscrimina-damente, mas somente pelos eleitos; (c) dupla: Deus em sua misericórdia ordenou alguns indivíduos paraa vida eterna e em sua justiça ordenou outros para a condenação eterna. Calvino cria que essa doutrina eraclaramente encontrada nas Escrituras e não queria dizer nada sobre a predestinação que não pudesse ser to-mado da Bíblia. Ele também não permitiu que a doutrina fosse usada como desculpa para não proclamar o

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MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

evangelho a todos. De fato, na história da igreja, alguns dos maiores evangelistas e missionários, tais comoGeorge Whiteeld, Jonathan Edwards e Charles Spurgeon, foram rmes defensores dessa doutrina.43

CEIA DO SENHOR E ADMINISTRAÇÃO ECLESIÁSTICATambém foi fundamental para a fé cristã a sua posição quanto à Ceia do Senhor. A discussão que outroradesuniu os protestantes foi retomada por ele. Calvino reconhecia apenas dois sacramentos: o batismo e a Ceia doSenhor, e isso se propagou como doutrina fundamental para a maioria das igrejas evangélicas no mundo. Comespecial atenção à Santa Ceia, Calvino tomou um pouco das duas linhas do pensamento teológico outrora con -trariadas: a da presença de Cristo (de Lutero) e do memorial (de Zuínglio). Para Calvino, Cristo estava presentede forma real na Ceia, se bem que espiritualmente. Por isso, a fé e o poder do Espírito Santo são fundamentais

 para que a presença real de Cristo seja sentida, não nos elementos, mas na celebração. Calvino armava: “Cristo,fora da substância de Sua carne, infunde vida em nossas almas, ou antes, difunde Sua própria vida em nós, aindaque a carne real de Cristo não penetre em nós mesmos” 44.

Outro fator de destaque foi a organização eclesiástica realizada por Calvino na igreja de Genebra. Para ele, osociais da igreja, conforme o Novo Testamento apresentava, eram: pastores, professores, presbíteros ou anciãos

e diáconos. Em especial os presbíteros e os diáconos eram escolhidos pela própria congregação para governar eadministrar os bens aos mais pobres, sucessivamente. Calvino deu passos decisivos para o regime representativona igreja, que mais tarde cou conhecido como “regime presbiteriano de governo”.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. O que difere a ação reformadora de João Calvino da ação de Lutero e Zuínglio?2. Como aconteceu a conversão de Calvino?3. Qual é a principal obra literária de Calvino?4. Qual é o ponto mais controverso e polêmico da teologia de Calvino?

43. FERREIRA, Franklin. História da Igreja . Rio de Janeiro: Seminário Teológico Batista do Sul, 2002 (Apostila).

44. WALKER, Williston. Op. cit., p. 480.

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A “Contrarreforma” foi o nome dado ao movimento iniciado pela Igreja Católica, que convivia coma forte ameaça de sua hegemonia e poder soberano após a eclosão da Reforma Protestante. Além da Ale-manha, seu declínio podia ser visto em outros países da Europa, como França, Inglaterra, Suíça, Hungria,Países Baixos e Áustria.

A reação da Igreja Católica Romana se deu através de um conjunto de medidas que visavam frear o avanço protestante e desenvolver a expansão da fé católica. Para isso, medidas fortes e radicais foram tomadas. Noentanto, foram pequenas as mudanças estruturais ou doutrinárias, não havendo assim uma reforma interna daIgreja. Entre as principais ações católicas de contrarreforma destacamos as seguintes:

1) Criação da Companhia de Jesus (Jesuítas): uma ordem que visava promover a expansão da fé católica por diversos locais do mundo. Iniciando pela Europa, os jesuítas tiveram o trabalho de catequizar os povos e fazê-los retornar à Igreja Católica. Eles também foram responsáveis pela catequização das populações das Américas e da Ásia no período da expansão marítima promovida principalmente porEspanha e Portugal;

2) Instauração do Tribunal do Santo Ofício, ou simplesmente Inquisição: uma instituição organizada quetinha como função combater a expansão do protestantismo e todos os desvios doutrinários dos católicos.Além de perseguir os protestantes (no que resultou em fracasso), a Inquisição também perseguiu judeuse muçulmanos, por serem considerados “traidores de Jesus” e “inéis”, respectivamente. O tribunal in -vestigava denúncias de desvios da fé e condenava muitas pessoas por heresia ou prática de bruxaria. As

sanções se davam desde o voto de completo silêncio até a mais comum: morte na fogueira.

O CONCÍLIO DE TRENTOO Concílio de Trento é considerado pelos católicos o 19º concílio ecumênico da história da Igreja. Mas, na

realidade, ele foi o primeiro após a Reforma Protestante e foi convocado justamente para combatê-la.Sob o papado de Paulo III, o concílio realizou-se de 1545 a 1563 na cidade de Trento, na Itália. Tinha como

intenção primária raticar a unidade doutrinária e histórica da Igreja Católica, que havia sido seriamente atingida pelo movimento protestante. Por este motivo podemos dizer que a realização do concílio foi o principal eventodo movimento de contrarreforma.

Apesar dessa necessária reação institucional contra o movimento protestante, ela teria se dado tardiamente.Isso porque ela se iniciou 28 anos após Martinho Lutero disparar a Reforma (1517). Além disso, a primeira edi-ção das Institutas da Religião Cristã, de João Calvino, já havia sido feita pelo menos nove anos antes e já existiam

versões em latim e francês da obra. Durante a abertura do concílio, com excessão de Zuínglio, ainda estavamvivos: Martinho Lutero, Filipe Melanchton, João Calvino e João Knox.Quanto às principais decisões do Concílio de Trento podemos destacar:

a) Raticação da autoridade dos dogmas papais nos mesmos níveis das Sagradas Escrituras; b) Ocialização da tradução das Sagradas Escrituras em latim (Vulgata) como suciente e a única sagrada;c) Armação da autoridade exclusiva na interpretação das Sagradas Escrituras pela Igreja Católica Apostó-

lica Romana;

7 A CONTRARREFORMA EO CONCÍLIO DE TRENTO

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MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

d) Rearmação da doutrina da transubstanciação no sacramento da Eucaristia (Santa Ceia);e) Deniu que em toda missa existe a repetição do rito sacricial (de Cristo);f) Defendeu, ainda que de forma mais moderada, a concessão das indulgências;

g) Insistiu na existência do purgatório;h) Rearmou que a justicação do ser humano era resultado da colaboração entre a graça de Deus e as obrasmeritórias praticadas;

i) Aprovou de forma denitiva a oração dirigida aos santos; j) Incluiu na lista dos livros canônicos os livros chamados de “deuterocanônicos” (também chamados pelos

 protestantes de “apócrifos”).

Este último item foi decisivo para a divisão denitiva entre protestantes e católicos. Mexer no livro sagradofoi o fundamento para que houvesse um distanciamento ainda maior entre as partes.

DEUTEROCANÔNICOS E APÓCRIFOS

São livros que datam do período do Antigo Testamento e têm ligações literárias com os livros sagrados.São originários da tradução grega do Antigo Testamento (Septuaginta – LXX), não existindo em

sua forma original na língua hebraica. Os judeus e os protestantes os consideram apócrifos. O

termo “apócrifo” foi usado pela primeira vez por Jerônimo, no século V, designando os documentos

 judaicos escritos somente em grego.

O termo “deuterocanônico” designa, literalmente, os “segundos canônicos”. Dá a impressão de que

são livros de menor importância, no entanto a ideia real é que os livros e trechos dos livros foram

considerados canônicos num “segundo momento” da história.

Os deuterocanônicos, ou apócrifos, são:

Tobias, Judite, Baruque, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico ou Sirácida. Além da adição

de livros inteiros, também foram incluídos trechos da tradição grega nos livros de Ester e Daniel

(Susana, Bel e o Dragão).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

1. O que foi o movimento de contrarreforma?2. O que era a Inquisição?3. O que foi o Concílio de Trento e quais foram as sua principais decisões?4. O que são “deuterocanônicos”?

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 CURSO DE TEOLOGIA    43

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

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BIBLIOGRAFIA

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CURSO DE TEOLOGIA   44

MÓDULO 7 HISTÓRIA DA IGREJA II

DICAS DE FILMES

CRUZADA (Kingdom of Heaven, EUA, 2005)

Direção: Ridley ScottElenco: Brendan Gleeson, David Thewlis, Jeremy Irons, Liam Neeson, Marton Csokas, Orlando BloomObs.: Retrata o início do período das cruzadas.

O NOME DA ROSA (The Name of the Rose, Alemanha/França/Itália, 1986)Direção: Jean Jacques AnnaudElenco: Sean Conery, F. Murray Abraham, Cristian Slater Obs.: Retrata o período anterior à Reforma – início do renascimento.

JOANA D’ARC (Joan of Arc, França, 1999)Direção: Luc BessonElenco: Milla Jovovich, John Malkovich, Faye Dunaway, Dustin Hoffman

Obs.: Retrata o período anterior à Reforma – condenação por heresia.

LUTERO: O FILME (Luther, Alemanha, 2002)Direção: Eric TillElenco: Joseph Fiennes, Claire Cox, Alfred Molina, Peter Ustinov, Uwe Ochsenknecht, Torben LiebrechtObs.: Retrata a história de Martinho Lutero e a eclosão da Reforma Protestante na Alemanha.

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faculdade teológica betesdaMoldando vocacionados

AVALIAÇÃO - MÓDULO VIIHISTÓRIA DA IGREJA II

1. Quem foi Agostinho de Hipona e qual é o ponto central de sua teologia?

2. Quais foram as principais causas da decadência do Império Romano entre os séculos IV e V?

3. Explique o que foi o movimento das cruzadas e quais foram seus resultados.

4. O que foi a Reforma Protestante e por que ela cou conhecida por esse nome?

5. Qual é a importância do humanismo e do renascimento para a eclosão da Reforma Protestante?

6. Como Zuínglio compreendeu a doutrina da salvação, contestando a venda das indulgências?

7. Quais eram as principais ideias dos anabatistas?

8. Qual foi a importância de João Calvino para o movimento reformado?

9. Comente os conceitos teológicos de Calvino a respeito da Ceia do Senhor e da disciplina eclesiástica.

10. O que foi a contrarreforma e o Concílio de Trento?

CARO(a) ALUNO(a):

• Responda cada QUESTÃO acima em folhas pautadas (com linhas) em letras de forma ou digite no computador, sepreferir enviar via e-mail.

• Tanto via correio ou via e-mail, envie-nos as 5 Avaliações desse Módulo todas juntas, de acordo com as RegrasGerais (p.6):

  Via Correio: CAIXA POSTAL 12025 - CEP 02013-970 - SÃO PAULO/SP  Via E-mail: [email protected]

• Em caso de dúvidas ligue para o nosso SAA - Serviço de Atendimento ao Aluno.

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HERESIOLOGIA II

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APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................................................51

1. A IGREJA PRIMITIVA, AS PERSEGUIÇÕES E O COMBATE àS HERESIAS ..............................52

2. CATOLICISMO ROMANO ......................................................................................................................532.1. IGREJA NICA E VERDADEIRA: MEDIADORA DA SALVAÇÃO...............................................542.2. O PURGATÓRIO E A “NEGOCIAÇÃO” DA SALVAÇÃO...............................................................54

2.3. O PAPADO: A CHAVE DO REINO DOS CÉUS E A SUCESSÃO APOSTÓLICA...........................55  2.4. MARIA, MÃE DE JESUS.....................................................................................................................57  2.5. A IDOLATRIA E A ADORAÇÃO AOS SANTOS...............................................................................59

2.6. O CATOLICISMO ROMANO NO BRASIL.........................................................................................602.7. ALGUNS ENSINOS IMPORTANTES DA REFORMA PROTESTANTE ........................................61 

3. ESPIRITISMO............................................................................................................................................64  3.1. AS IRMÃS FOX....................................................................................................................................64  3.2. O ESPIRITISMO NA EUROPA ............................................................................................................65

3.3. ALLAN KARDEC.................................................................................................................................65  3.4. O ESPIRITISMO NO BRASIL ..........................................................................................................66

3.5. OBRAS BÁSICAS DO ESPIRITISMO................................................................................................66

  3.6. DOUTRINA ESPÍRITA ........................................................................................................................673.7. PRINCIPAIS PONTOS DOUTRINÁRIOS...........................................................................................683.8. PRINCIPAIS HERESIAS ESPÍRITAS...................................................................................................68

  3.8.1. ENSINAMENTOS REVELADOS POR DEUS...........................................................................683.8.2. EM RELAÇÃO À BÍBLIA..........................................................................................................69

  3.8.3. EM RELAÇÃO A DEUS.............................................................................................................693.8.4. EM RELAÇÃO A JESUS CRISTO.............................................................................................693.8.5. EM RELAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO.....................................................................................703.8.6. EM RELAÇÃO À SALVAÇÃO...................................................................................................70

4. RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS.........................................................................................................714.1. CANDOMBLÉ.......................................................................................................................................72

4.1.1.  DOuTrINAs ..............................................................................................................................72 4.2. UMBANDA........................................................................................................................................... 73

4.2.1.  DOuTrINAs ...............................................................................................................................73 

SUMÁRIO