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Tronco Opcional História da Medicina Faculdade de Medicina de Lisboa Ano Lectivo 2014/2015 A Medicina no mundo islâmico e a sua influência na Medicina moderna Depois de egípcios e gregos terem dado importantes avanços à Medicina, foi a vez das civilizações árabes reaproveitarem esse conhecimento, com especial destaque para o que se encontrava agrupado nas obras de Galeno e Hipócrates entre outros , dando o seu contributo para o desenvolvimento da Medicina. Houve diferenças notórias de comportamento entre as civilizações ocidentais e as civilizações árabes no que toca ao tratamento dos tratados e compêndios de várias ciências, nomeadamente a Medicina: enquanto que as civilizações ocidentais destruíram os livros gregos e romanos que armazenavam a informação médica mais actual para a época, evoluindo para uma Medicina empírica, as civilizações árabes, a partir do séc. IX, empreendem grandes esforços no sentido de traduzirem todas as obras de autores antigos do latim ou do grego para o árabe, de modo a que os académicos islâmicos pudessem estudá-los mais facilmente. A Medicina ocupava uma parte central da cultura árabe, sendo estudada tanto na sua teoria como também na prática, o que era facilitado pela atenção dada à experiência (conhecimento empírico que era suportado pelo estudo teórico). Falando agora um pouco dos homens que ficaram na História como impulsionadores do desenvolvimento médico, temos em primeiro lugar Ali Ibn Sahl Rabban al-Tabari, que escreveu a 1ª enciclopédia médica, interessou-se pela pediatria e foi o mentor de Razis (al-Rhazi), outro dos grandes médicos islâmicos, que prosseguiu os estudos do seu mestre na área da pediatria e ampliando os conhecimentos na área da oftalmologia (área muito estudada pelos sábios árabes, cuja informação compilada foi usada na clínica até ao início do séc. XX); a sua enciclopédia médica al-Hawi também ficou célebre e foi um dos pilares do ensino médico no mundo ocidental, embora criticando Galeno, um dos principais autores gregos estudados. Razis também foi dos primeiros a preocupar-se em desenvolver uma ética para os físicos (assim eram tratados os médicos na era medieval) e em estudar Anatomia para compreender melhor como se comportavam as partes do corpo quando afectadas por determinadas doenças; deste médico conta-se a seguinte história: era necessário construir um novo hospital em Bagdade e por isso os governantes da cidade pediram o conselho de Razis sobre qual o local mais apropriado para o construir. Para suportar a sua escolha, colocou pedaços de carne em vários locais da cidade e disse que o hospital devia ser construído no local onde após uma semana a carne se tivesse deteriorado menos.

História Da Medicina

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Trabalho 1º semestre 2º ano FML

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Page 1: História Da Medicina

Tronco Opcional – História da Medicina

Faculdade de Medicina de Lisboa

Ano Lectivo 2014/2015

A Medicina no mundo islâmico e a sua influência na

Medicina moderna

Depois de egípcios e gregos terem dado importantes avanços à Medicina, foi a vez das

civilizações árabes reaproveitarem esse conhecimento, com especial destaque para o que se

encontrava agrupado nas obras de Galeno e Hipócrates entre outros , dando o seu contributo

para o desenvolvimento da Medicina.

Houve diferenças notórias de comportamento entre as civilizações ocidentais e as civilizações

árabes no que toca ao tratamento dos tratados e compêndios de várias ciências, nomeadamente a

Medicina: enquanto que as civilizações ocidentais destruíram os livros gregos e romanos que

armazenavam a informação médica mais actual para a época, evoluindo para uma Medicina

empírica, as civilizações árabes, a partir do séc. IX, empreendem grandes esforços no sentido de

traduzirem todas as obras de autores antigos do latim ou do grego para o árabe, de modo a que

os académicos islâmicos pudessem estudá-los mais facilmente.

A Medicina ocupava uma parte central da cultura árabe, sendo estudada tanto na sua teoria

como também na prática, o que era facilitado pela atenção dada à experiência (conhecimento

empírico que era suportado pelo estudo teórico).

Falando agora um pouco dos homens que ficaram na História como impulsionadores do

desenvolvimento médico, temos em primeiro lugar Ali Ibn Sahl Rabban al-Tabari, que escreveu

a 1ª enciclopédia médica, interessou-se pela pediatria e foi o mentor de Razis (al-Rhazi), outro

dos grandes médicos islâmicos, que prosseguiu os estudos do seu mestre na área da pediatria e

ampliando os conhecimentos na área da oftalmologia (área muito estudada pelos sábios árabes,

cuja informação compilada foi usada na clínica até ao início do séc. XX); a sua enciclopédia

médica al-Hawi também ficou célebre e foi um dos pilares do ensino médico no mundo

ocidental, embora criticando Galeno, um dos principais autores gregos estudados.

Razis também foi dos primeiros a preocupar-se em desenvolver uma ética para os físicos

(assim eram tratados os médicos na era medieval) e em estudar Anatomia para compreender

melhor como se comportavam as partes do corpo quando afectadas por determinadas doenças;

deste médico conta-se a seguinte história: era necessário construir um novo hospital em

Bagdade e por isso os governantes da cidade pediram o conselho de Razis sobre qual o local

mais apropriado para o construir. Para suportar a sua escolha, colocou pedaços de carne em

vários locais da cidade e disse que o hospital devia ser construído no local onde após uma

semana a carne se tivesse deteriorado menos.

Page 2: História Da Medicina

Outro facto verdadeiramente notável sobre este académico é que ele foi o primeiro a elaborar

uma obra para as pessoas que não tinham facilidades em aceder a um médico, como as pessoas

mais pobres ou os viajantes, com receitas de mezinhas que permitiam curar problemas comuns

como dores de cabeça ou doenças gástricas.

Morreu no séc. X, deixando uma vastíssima obra científica e sendo considerado "a principal

autoridade em Medicina até ao séc. XVII".

O último grande médico árabe foi Avicena (Ibn-Sina) já no séc. XI, académico de estudo

obrigatório pelos ocidentais até à Renascença pois introduziu vários conceitos importantes como

a de que existem doenças que podem ser transmitidas por via aérea e a de que devem ser

utilizados fórceps nos casos de parto difícil por via normal; foi também com ele que de

desenvolveu o uso generalizado de anestésicos, com principal destaque para o ópio.

Foram também os árabes que iniciaram e desenvolveram a construção de hospitais públicos,

em que qualquer membro da sociedade podia ser atendido, não havendo descriminação.

Embora muitos dos conhecimentos que chegaram até nós destes estudiosos se encontrem

desactualizados ou mesmo errados, não deixa de ser notável em que numa época histórica em

que o pensamento se centrava predominantemente na religião, tenham existido pessoas que se

libertaram dessa corrente e tenham dedicado as suas vidas à busca de um conhecimento que

melhorou a qualidade de vida da população.

Bibliografia:

Syed, Ibrahim "Islamic Medicine: 1000 years ahead of its time"

Pormann, Peter E.; Savage-Smith, Emilie (2007). Medieval Islamic Medicine.

Tiago Cunha, aluno nº15232