História das ideias políticas

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Histria das ideias polticas Antiguidade clssica (Grcia antiga) Parte 1 - Pricles e a defesa da democracia, Xenofonte e a apologia da ditadura: Pricles (sculo V a.C.): Pricles foi um nobre ateniense, homem inteligente e sbio, que abrilhantou a apreciada figura do estadista culto, moderado e cvico atravs da sua defesa da democracia (ainda hoje o sculo de Pricles conhecido como o perodo ureo da democracia ateniense).

O

pensamento poltico de Pricles e as regras da democracia ateniense: na sua

apologia pela democracia, Pricles defendia um modelo de democracia directa, e caracteriza o regime vigente em Atenas como um regime em que o Estado era administrado em funo do povo e no das minorias. Deste modo, este pensador entende que as regras principais da democracia seriam a igualdade e a liberdade:

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igualdade, na medida em que as leis asseguravam a todos um tratamento por igual, e, no que dizia respeito vida pblica, cada um obtinha uma igual considerao em funo dos seus mritos e valores pessoais (e no em valor da classe social a que se pertence);

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a liberdade, seria um princpio fundamental, uma vez que estimulava a participao da opinio pblica, mesmo nos debates que envolvessem as grandes questes do Estado (pois Pricles entendia que as grandes questes s tinham a ganhar com a livre discusso e argumentao das opinies).

Deste modo, facilmente se conclui que todo o seu discurso fica indelevelmente marcado pela apologia do equilbrio, da tolerncia e moderao da aco poltica, demonstrando particular ateno pelas leis sociais, e defendendo a possibilidade dos mais pobres sarem da sua dbil situao atravs do trabalho. Durante o tempo que governou Atenas (mediante 15 eleies sucessivas para o cargo de estratego), Pricles privilegiou a qualidade de vida (o desporto, a cultura e os espectculos), exacerbou a prosperidade econmica da cidade (bem como a sua abertura ao exterior), alm de elogiar os que morriam como heris em defesa da Ptria, exortando aos vivos para que saibam honrar o exemplo dos que pereceram no cumprimento do dever.

As

limitaes da democracia ateniense: a democracia ateniense apresentava, contudo,

algumas imperfeies e limitaes. Caracterizava-se por ser uma democracia directa, na qual somente participavam os cidados de Atenas, ou seja, os indivduos que eram

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filhos de pai e me atenienses, com mais de 21 anos de idade, e com servio militar cumprido. As mulheres no possuam poderes/direitos cvicos nem jurdicos, no podiam possuir propriedades e era-lhes vedado o ensino. Facilmente se constata que Atenas era palco de uma sociedade esclavagista, na qual os metecos (os cidados estrangeiros, como veio a ser o caso de Aristteles, por exemplo) eram obrigados a cumprir determinados deveres, como pagar impostos e cumprir servio militar, alm de no poderem participar da vida poltica da cidade. Xenofonte (sculos V e IV a.C.): A comparao entre os pensamentos de Pricles e Xenofonte perfila-se como fundamental, devido s gritantes distines entre os modelos polticos que ambos defendem. Xenofonte ter nascido provavelmente no ltimo ano em que Pricles viveu. Homem de esprito irrequieto e de carcter guerreiro, combateu por mais de uma vez ao servio de Esparta (regime com o qual se identificava) contra Atenas (regime ao qual se opunha). Daqui emerge outro importante ponto de distino entre Pricles e Xenofonte: se o primeiro surge como defensor da democracia ateniense e apologista de valores como a paz, a igualdade e a liberdade, o segundo, ao invs, vai-se identificar mais com a ditadura vigente em Esparta, elogiando o poder militar e o uso da fora, mostrando-se favorvel a um lder forte e autoritrio.

O pensamento poltico de Xenofonte o

lder e o poder: Xenofonte perfilava-se como

amante da guerra e via nas principais regras da democracia ateniense (igualdade e liberdade) os grandes inimigos de um Estado que deveria ser forte e rigoroso, presidido por um lder carismtico e autoritrio (em jeito de comparao pode-se referir que o modelo poltico sugerido por Xenofonte aproxima-se dos moldes paradigmticos de Hitler ou Staline). No entender deste defensor da ditadura, s os mais capazes e audazes estariam habilitados a exercer a faculdade de comando. Para ele, o lder seria dotado de uma autoridade natural, que o caracteriza e o distingue, levando os outros a respeit-lo e segui-lo. O chefe ou lder poltico, deveria ser um homem culto, de inegvel conhecimento, que soubesse persuadir os que o rodeiam atravs do seu carisma, que soubesse incutir respeito e obedincia atravs do seu carcter forte e autoritrio. Assim sendo, Xenofonte entende ainda que o poder a faculdade de mandar e de se fazer obedecer, considerando estas como as qualidades inatas do chefe, a sua apetncia natural.

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Em jeito de sntese pode-se considerar que o lder surge perspectivado num sentido psicolgico e no num sentido jurdico, tendo em vista que, o poder no resultaria das leis mas da mentalidade, da motivao, das atitudes e aces de determinados homens. Aquilo que interessa fundamentalmente aos governantes no a legitimidade do cargo, mas a eficcia demonstrada no exerccio do poder (embora enfatize que este nunca deve ser posto em prtica com o mero objectivo do interesse pessoal de quem o exerce, porque deve ser aplicado ao servio da prosperidade de todos).

Diferenas

entre os regimes vigentes nas Cidades-Estado de Atenas e Esparta: em

Atenas imperava um regime muito mais flexvel e democrtico do que em Esparta. Nesta Cidade-Estado privilegiava-se a arte, a cultura e o intelecto, em claro contraste com um regime ditatorial de caractersticas rgidas, sustentado por um lder forte, onde se valorizava o culto do corpo, o desporto, o exerccio fsico e a vertente militar. Do pensamento poltico de Pricles sobressai uma crtica ditadura vigente em Esparta, uma vez que ao assumir-se como defensor da liberdade dos cidados, ele ope-se a um regime onde impera a suspeio e uma apertada vigilncia policial. Alm disso, em Atenas imperava o princpio do debate democrtico, enquanto que em Esparta vigorava o princpio do laconismo, ou seja, o da deciso do chefe. Outra importante diferena entre estas duas Cidades-Estado, reside no facto de Atenas ser uma cidade aberta a todos os estrangeiros, ao passo que em Esparta s podiam residir estrangeiros mediante autorizao.

Parte 2 - Plato e as primeiras ideias comunistas, Aristteles e a sociedade pluralista: Se Pricles emergiu como um dos primeiros defensores da democracia e Xenofonte como um dos primeiros apologistas da ditadura, Plato acabou por se perfilar como um dos principais preconizadores de algumas ideias comunistas, o mesmo sucedendo com Aristteles relativamente defesa de uma sociedade pluralista, assente na famlia e na propriedade privada. De certo modo, acaba por existir uma certa aproximao entre os ideais defendidos por Pricles e Aristteles, do mesmo modo que tambm Plato acaba por se aproximar de Xenofonte relativamente a alguns princpios fundamentais. Plato (sculos V e IV a.C.): Apesar de ter nascido em Atenas, Plato denotou fortes simpatias por Esparta, nomeadamente por ter presenciado o julgamento e assistido morte de Scrates, considerado por ele como o melhor e mais sbio dos homens. Impulsionado pelo

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sentimento de revolta, comeou a desprezar Atenas e foi viver para Esparta, onde desenvolveu algumas ideias que se perfilam como fundamentais no mbito da Histria das Ideias Polticas.

O pensamento poltico de Plato a noo de justia e o modelo de sociedade ideal:Plato foi o primeiro grande pensador a avanar com o modelo daquilo que seria, no seu entender, uma sociedade mais justa, uma sociedade melhor, uma sociedade de cariz colectivista e que fosse dominada pelo Estado, em suma, uma sociedade ideal. Na sua incessante procura por um modelo de justia, ele vai atacar aqueles que considera serem os grandes males da sociedade do seu tempo, a famlia e a propriedade privada, na medida em que perspectivava uma justia de cariz colectivo e no somente individual:

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fiel aos seus princpios comunistas, Plato props a colectivizao dos bens de produo, defendendo consequentemente a abolio da propriedade privada. Tais argumentos seriam sustentados pelo facto dele procurar uma soluo que tivesse por objectivo eliminar o egosmo pessoal e a cobia. O filsofo entendia que o patrimnio individual tornava as pessoas egostas, porque fazia com que se preocupassem primeiramente com aquilo que lhes pertencia, descurando assim a preocupao com o bem geral da comunidade;

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com base nos mesmos princpios colectivistas que ele prope a abolio do casamento e da famlia tradicionalmente concebida. Tornou-se favorvel igualdade entre os homens e as mulheres, numa sociedade que deveria direccionar os seus elementos num objectivo comum, evitando assim o egosmo das sociedades multifacetadas. As unies entre homens e mulheres teriam por base um sorteio organizado pelos governantes/magistrados, e que seria, em determinadas alturas, engenhosamente determinado pelos mesmos, para que do resultado dessas unies emergisse um conjunto de seres-humanos, dotados de melhores caractersticas, tendo em vista uma espcie de aprimoramento da raa, e, por conseguinte, mais um passo em frente no objectivo da sociedade ideal. As crianas que nascessem deformadas ou fora do esquema por ele proposto, seriam abandonadas s portas da cidade e deixadas sua sorte.

Outro aspecto que se revelou fundamental no pensamento de Plato foi a importncia dada educao. No seu modelo inovador e quase utpico, ele propunha que as crianas fossem retiradas s mes aquando o seu nascimento, e seriam entregues a amas que cuidariam do seu crescimento e desenvolvimento. Ao longo da sua infncia, seriam os magistrados a ficar encarregues de escolher as fbulas para serem lidas pelas amas s crianas. Plato defendia um modelo educativo que privilegiasse um acompanhamento dedicado e constante s crianas, por forma a que se estudasse o desenvolvimento das aptides naturais das mesmas, e para que os magistrados tivessem uma ideia mais precisa das suas reais capacidades. Para tal, estariam previstas fases de ginstica e de msica, para que as crianas

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experimentassem novas emoes, e mais tarde estaria prevista nova fase, mas que incidisse sobre as artes militares e as cincias, tendo em vista a integrao nas trs classes sociais avanadas pelo filsofo. Estaria ento estabelecido que aos 30 anos aqueles que fossem os melhores de entre os guerreiros seriam educados com base na arte do dilogo e da filosofia, com vista magistratura que seria atingida aos 50 anos de idade aps serem superadas todas as provas. Deste modo triunfaria, no entender de Plato, aquilo que ele designava como a sofiocracia, o governo da sabedoria, e o melhor de entre os filsofos seria considerado o Reifilsofo.

As

diferentes classes de cidados e a tipologia das formas de Governo: Plato

concebeu trs moldes de classes sociais, tendo por base a clebre teoria dos metais, segundo a qual cada pessoa possui na sua alma um metal colocado por Deus. Nalgumas esse metal seria o ferro ou o bronze, e nesse caso a pessoa estaria destinada a pertencer classe dos artesos/artfices (seriam os trabalhadores, cuja principal funo consistia em assegurar os bens e o sustento da cidade), noutras pessoas seria a prata a caracterizar um a sua alma, de e desse modo alma pertenceriam seria mais classe pelo a dos ouro, dos guardas/militares (cuja funo seria a proteger e defender a cidade), e, finalmente, teramos restrito tais grupo pessoas cuja caracterizada importante, pertencendo elementos classe

magistrados/governantes, em relao qual as outras duas estariam subordinadas (a funo dos governantes seria, logicamente, a de colocar a sabedoria ao servio do governo da cidade). A teoria dos metais seria um dos critrios para seleccionar os cidados para as classes propostas por Plato, todavia, esse metal seria apurado, no por hereditariedade, mas pelo sistema educacional imposto pelos magistrados que faria sobressair as inclinaes naturais de cada um. O outro grande contributo de Plato para a Histria das Ideias Polticas prende-se com a sua tipologia das formas de Governo. O filsofo projecta os seguintes modelos: - monarquia podia ser uma sofiocracia (descrita como a forma de Governo da Cidade Ideal, assente na sabedoria e exercida pelo Rei-filsofo), ou uma tirania (e neste caso o poder absoluto assentava num s homem de cariz violento, e desprovido das luzes da filosofia); - oligarquia podia ser uma timocracia (e nesse caso o poder estaria assente na classe dos guardas, aca-bando por se instalar o predomnio da fora sobre a sabedoria), ou podia ser tambm uma plutocracia (descrita como o governo dos ricos, voltados para os seus interesses pessoais);

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- por

ltimo,

Plato

tambm

props

um

modelo

democrtico,

contudo,

a

democracia era pouco apreciada por ele, pois entendia que as grandes massas e multides so incapazes de, no seu todo, possuir a Razo e a Sabedoria necessrias para o governo da cidade. No entender deste pensador, a melhor forma de Governo seria a sofiocracia, no entanto, tambm considera que as formas de governo no so imutveis, na medida em que evoluiriam consoante as circunstncias. Ele d inclusivamente como assente uma espcie de ciclo em termos governamentais, que se iniciaria com a sofiocracia, passaria para a timocracia e posteriormente oligarquia, dando esta lugar democracia e o governo democrtico, devido s suas vicissitudes, culminaria numa tirania. A tirania seria uma espcie de culminar esta espcie de ciclo governamental, dando origem a novo ciclo que se iniciaria novamente com a sofiocracia. Aristteles (sculo IV a.C.): Aristteles nasceu em Estagira, na Macednia, mas viveu importante parte da sua vida em Atenas, onde se tornou aluno crtico de algumas ideias de Plato, seu professor. Filho de um mdico (Nicmaco), iniciou-se na medicina e na biologia, embora seja maioritariamente conhecido pelo seu contributo no mbito da filosofia. Todavia, o Estagirita tambm se revelou importante no campo da Histria das Ideias Polticas, nomeadamente por ter sido um dos primeiros defensores de uma sociedade pluralista, atribuindo, ao contrrio de Plato, um papel fundamental famlia e propriedade privada no seio da colectividade. Sucintamente deve-se realar que Aristteles primava pela defesa do individualismo, com base numa anlise realista, enquanto que Plato se afirmava apologista de um colectivismo extremo na sua vertente idealista.

O pensamento poltico de Aristteles a defesa da famlia e da propriedade privada:grande parte do pensamento de Aristteles que aqui importa referir tem por base uma crtica directa a alguns ideais defendidos por Plato, nomeadamente no que diz respeito sociedade por ele idealizada. Partindo de uma anlise ideolgica acerca da natureza humana, o filsofo vai argumentar que o Homem um animal poltico, concebido para viver em sociedade, e por isso que a poltica faz parte da sua natureza, logo, torna-se lgico que Aristteles defenda a superioridade do pluralismo social e poltico em detrimento do modelo de lgica colectivista proposto por Plato. Este acaba talvez por ser o primeiro ponto de distino entre ambos, na medida em que Aristteles exacerba o individualismo e a natureza mpar do homem, por oposio s ideias utpicas e colectivistas de Plato, usando como argumento o facto de considerar que o indivduo nunca conseguiria suportar a lgica do colectivismo social proposto pelo seu professor, na medida em que estaria a rejeitar a

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individualidade que inerente sua prpria natureza, ou seja, estaria a agir contra a sua natureza. O Estagirita ope-se veementemente abolio da famlia e da propriedade privada, considerando, entre outros importantes factores, que existem dois valores essenciais que fazem nascer o interesse e o apego no corao dos homens o afecto e o sentimento de posse:

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a defesa da famlia: como Aristteles considerava que o afecto inerente natureza humana, rapidamente conclui a impossibilidade da abolio da famlia, na medida em que, mais uma vez, o Homem estaria a agir contra a sua natureza. Alm disso, condena e considera pecaminosas as possveis situaes de incesto que poderiam ocorrer na sociedade idealizada por Plato;

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a defesa da propriedade privada: outro dos grandes pontos de discrdia entre ambos os filsofos estava relacionado com a discusso volta da defesa ou rejeio da propriedade privada. Para Aristteles, o sentimento de posse que caracteriza todos os seres humanos seria um forte entrave abolio da propriedade privada e respectiva colectivizao dos bens de produo. Assim sendo ele d um exemplo que se revela fundamental para a impossibilidade da criao da sociedade proposta pelo seu antigo professor: quando os homens vivem em conjunto uns com os outros e partilham de igual modo todas as coisas que lhes so necessrias, acabam por ocorrer determinadas discusses que vo gerar conflitos, na medida em que at nas coisas mais insignificantes o sentimento de posse que se revela inerente a cada um, vai acaba por sobressair, tornado deste modo praticamente impossvel a construo de tal modelo societrio.

Aristteles conclui a sua argumentao afirmando que os objectivos propostos por Plato seriam praticamente impossveis de alcanar, na medida em que ambos se revelam como verdadeiras contradies prpria natureza do ser-humano.

As

classes sociais (o predomnio das classes mdias) e as diferentes formas de

Governo: contrariamente ao que sucedera com Plato (que props as classes sociais que deveriam coexistir na cidade que ele prprio preconizou), o Estagirita fez uma anlise realista das vrias classes existentes na sociedade do seu tempo, abordando-as em funo das suas condies econmicas, ou seja, os muito ricos, os muito pobres e os que se encontravam num estado intermedirio. Como tal, o famoso filsofo defendeu que a melhor sociedade poltica era aquela que fosse maioritariamente composta por membros destas classes intermdias, porque os seus elementos no se caracterizavam pela ganncia

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prpria das classes ricas, e tambm no possuam a intriga e desordem das classes mais pobres. Toda a sociedade poltica que fosse maioritariamente dominada por uma destas duas classes (classe rica e classe pobre), estaria, segundo ele, fadada desordem, ao caos e runa. No entanto, o seu contributo no mbito da Histria das Ideias Polticas no se cingiu somente a estes aspectos, porque o filsofo tambm alargou o seu pensamento s grandes questes que envolviam as formas de Governo. Afirmando-se como defensor do primado da lei sobre a vontade dos homens, Aristteles vai apresentar uma classificao dos regimes polticos agrupados em regimes sos e degenerados:

Formas ss de Governo Governo de um s homem Governo de vrios homens Governo da multido, do interesse geral Monarquia Aristocracia Repblica

Formas degeneradas de Governo Tirania Oligarquia Democracia

No entender de Aristteles as formas ss de Governo visavam, de um modo geral, o bem do Estado e dos membros da comunidade. Ao invs, as formas degeneradas acabavam por revelar-se negativas porque no se dirigiam ao benefcio da sociedade inteira, a tirania seria uma monarquia governada no interesse pessoal do monarca, a oligarquia era vista como o governo dos ricos, virado unicamente para o interesse dos mesmos, e a democracia acabava tambm por se perfilar como uma forma degenerada de governo, porque s visava os interesses dos pobres. O filsofo defende que no se pode considerar de modo leve e espontneo qual ser a melhor forma de Governo, pois a resposta varia consoante os pases e as pocas histricas, todavia, tambm no se abstm de apresentar aquela que, no seu entender, talvez fosse a forma mais sensata de Governo. Deste modo, pronuncia-se favoravelmente a uma Repblica de carcter misto, com caractersticas de alguns elementos especficos da democracia e da oligarquia, apoiada no predomnio das classes mdias. Tal concluso fica a dever-se ao seu profundo realismo sociolgico, que o ter levado a pensar que dentro do possvel, o melhor no necessariamente o ideal. Ao contrrio de Plato, Aristteles entendia que a sucesso cclica das formas de Governo teria incio no regime que fosse historicamente considerado como sendo o primeiro, ou seja, a monarquia, sendo que a consequente evoluo no linear (algumas pessoas acabavam por se sobrepor ao Rei contribuindo para uma aristocracia, contudo, alguns desses elementos aproveitar-se-iam do poder formando uma oligarquia, s que como esta o governo de poucos o povo acaba por entregar o poder a um s homem, que se

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revela um tirano, todavia, a multido no suporta a tirania e da emerge a democracia, que se caracteriza pela desorientao, e devido a esse facto que surge a Repblica mista como resultado final), embora seja aceite por ele que no encerramento do ciclo que reside a melhor forma de Governo.

Idade mdia (a importncia do cristianismo) Parte 1 Santo Agostinho e a viso pessimista do Homem: Santo Agostinho (sculos IV e V): Santo Agostinho converteu-se tardiamente ao cristianismo (por volta dos 32 anos). Viveu na altura em que o Imprio Romano acentuou a sua decadncia e refutou as teses que apontavam para a expanso do cristianismo como uma das principais causas para a queda do Imprio. Ao longo da sua vida defendeu um predomnio dos valores espirituais em detrimento dos bens materiais, e tal defesa acabou indelevelmente por marcar todo um pensamento que vingou nos sculos posteriores, tendo por base a ideia da supremacia da Igreja sobre os restantes poderes (a ttulo de curiosidade refira-se que a coroao de Alexandre, o Magno, pelas mos do Papa, acaba por ser talvez o ponto fulcral que marca a ideia de que o poder vem de Deus e o Papa quem o transmite aos homens, culminando tal ideia, com a imagem de Napoleo a coroar-se a si prprio, muitos sculos mais tarde).

As duas cidades a cidade Celeste e a cidade Terrena: ao longo da sua obra e da suavida, o Bispo de Hpona, como tambm ficou conhecido, considerou existirem duas cidades, originadas por diferentes amores o amor a Deus levado at ao desprezo da prpria pessoa (Cidade Celeste), e o amor a si prprio levado at ao desprezo de Deus (Cidade Terrena). Cidade Celeste Cidade Terrena

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a cidade do bem; a cidade dos homens que vivem segundo o esprito e os que buscam a justia; a cidade onde impera a paz verdadeira.

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a cidade do mal; a cidade onde os homens vivem para a satisfao dos prazeres carnais; a cidade onde os homens se esforam por alcanar a paz, mas encontram apenas e somente uma mera aparncia da paz, porque ela impossvel sem a presena de Deus.

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As cidades acabam por representar uma luta entre o bem e o mal, uma luta pela posse do mundo, logo, no entender de Santo Agostinho, o quotidiano um combate entre estas duas foras e s na vida futura haver paz eterna e duradoira. Contudo, completamente errnea a conotao da Cidade Celeste com a Igreja, do mesmo modo que a Cidade Terrena tambm no deve ser identificada, associada nem confundida somente com o Estado, uma vez que tanto na Igreja como no Estado existem homens que pertencem aos dois reinos: a Igreja tambm produz pecadores e no Estado tambm se encontram homens santos.

A concepo de Santo Agostinho sobre a natureza humana e sobre o Estado: SantoAgostinho apresenta-nos uma imagem extremamente pessimista dos homens do seu tempo, pois via os mesmos como seres arrogantes e egostas, cujo propsito principal acabava por ser o seu bem individual e o desprezo pelos outros. Para ele poucos seriam os que se conseguiriam redimir e salvar, e era por esse motivo que a cidade Celeste apresentava muito menos indivduos quando em comparao com a cidade Terrena, que se encontrava povoada por homens apaixonados pelo poder e pelos prazeres da carne. O Bispo de Hpona no acredita no progresso nem na melhoria dos homens, porque entende que estes sero sempre eternos pecadores e devido a isso que a cidade Terrena nunca ter paz nem justia verdadeiras. A imagem que Santo Agostinho possui da natureza do ser-humano acaba por condicionar e influenciar toda a sua concepo acerca das principais caractersticas do Estado. Como via os homens como seres egostas e individualistas, ele entende que o Estado deveria ser repressivo, por forma a assegurar, atravs da coaco ou punio, dois grandes valores que Santo Agostinho considerava fundamentais, a paz e a segurana. S o medo do castigo poderia assegurar tais valores e da a importncia do Direito enquanto pecadores. mecanismo que visa assegurar a tranquilidade entre os homens

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Obedincia

ao poder poltico, funes da autoridade e relaes entre o Estado e a

Igreja: como entendia que o poder poltico vinha de Deus, ento tambm o Estado acabava por ser um instrumento ordenado por Deus, e da que Santo Agostinho defendesse que o dever de obedincia ao Estado e ao poder poltico deveria ser absoluto. Mesmo perante um Estado duro e repressivo, mesmo perante a existncia de maus governantes o cidado deveria aceitar passivamente o poder institudo, pois aquilo que realmente interessava seria a vida eterna garantida pelo ingresso na cidade Celeste. No que diz respeito s funes que a autoridade deveria exercer o Bispo de Hpona analisa trs que considera essenciais: comandar, prover e aconselhar. Mediante tais funes ele considera que o chefe deveria exercer a funo principal, a de comandar, ao servio do bem geral da comunidade, deveria desempenhar a segunda em virtude das necessidades do pas, alm de possuir a funo de conselheiro do povo, aco que deveria ser executada com amor e carinho ao prximo. Outros dos contributos que se perfilam como fundamentais no pensamento poltico de Santo Agostinho surge relacionado com as relaes que deveriam ser estabelecidas entre a Igreja e o Estado. Para ele seriam poderes distintos e independentes, s responsveis perante Deus, contudo, existiram pelo menos dois factores que se revelaram importantes para que nos sculos posteriores se comeasse a falar em agostianismo poltico (dito por outras palavras, o agostianismo poltico traduzia a doutrina da supremacia da Igreja sobre o Estado), na medida em que ele entendia que o Estado deveria punir os hereges atravs das suas leis, e a segunda surge relacionada com um desvio de interpretao no que se refere ideia da cidade Celeste, nomeadamente por no se ter percebido a crtica que nela estava implcita sociedade do seu tempo. Tais factos acabaram por contribuir para uma certa supremacia de Igreja face ao Estado nos sculos subsequentes. Apesar do seu pessimismo e conservadorismo, Santo Agostinho marcou profundamente o pensamento medieval e a doutrina da Igreja Catlica. Bem diferente e mais positivista foi So Toms de Aquino, o outro grande doutor da Igreja Medieval.

Parte 2 So Toms de Aquino e a concepo crist da poltica: So Toms de Aquino (sculo XIII): So Toms foi, juntamente com Santo Agostinho, um dos mais importantes doutores da Igreja Medieval Crist. O seu grande contributo para a

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Histria das Ideias Polticas reside no facto de ter conseguido produzir a sntese entre o pensamento de Aristteles e os principais fundamentos da Igreja Crist (as obras de Aristteles que se encontravam perdidas, foram dadas a conhecer na Europa atravs de verses rabes, contudo, o contedo das mesmas desencadeou uma resposta negativa por parte da Igreja que as considerava pags). Ao longo da sua vida e da sua obra considerou existirem quatro grandes leis: a lei eterna (a razo de Deus, que preside ao prprio universo e inacessvel aos homens), a lei divina ( a parte da Lei eterna que Deus resolveu revelar aos homens atravs das Sagradas Escrituras, de modo a preparar o mesmo com vista vida eterna sem medos ou hesitaes), a lei natural (a parte da lei eterna que Deus colocou no corao dos homens, de modo a que estes distinguissem o bem e o mal), e, por fim, a lei humana (aquela que feita pelo Homem, ou seja, era o conjunto de normas que este criava para as situaes da sua vida social).

Os fins do Estado

e a origem do poder: devido sua influncia aristotlica, So Toms

tambm vai perspectivar o Homem como um animal poltico e um animal social, logo, parecelhe lgico que a sociedade poltica seja a sociedade perfeita uma vez que a nica que se perfila como capaz de proporcionar a satisfao de todas as necessidades da vida humana. Seguindo esta linha de raciocnio, o Estado emerge como um dos pontos essenciais que so focados por So Toms de Aquino:

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para o Doutor Anglico, o Estado teria uma origem natural, na medida em que era um produto da natureza e da razo humana; o seu fim/objectivo principal a preservao e a garantia do bemcomum (no s em termos colectivos mas tambm individuais); o Estado deveria respeitar o ser-humano enquanto ser autnomo, independente e dotado de direitos, mas So Toms de Aquino tambm defendia que o respeito teria de ser mtuo, ou seja, o ser-humano tambm devia respeitar as imposies do Estado.

Outro aspecto essencial para So Toms prendia-se com a origem do poder. Assim, entendia que todo o poder tem origem em Deus e directamente transmitido ao povo, e este quem deve determinar os governantes, ou seja, o povo acaba por ser o verdadeiro proprietrio do poder poltico, podendo exerc-lo colectivamente ou escolhendo governantes para o fazer.

O

melhor regime poltico Monarquia mista: no que diz respeito classificao

dos regimes polticos So Toms de Aquino vai concordar integralmente com a classificao aristotlica, contudo, acaba por ser apologista de que o melhor regime poltico seria uma Monarquia mista (para Aristteles, o melhor modelo era uma

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Repblica mista), na medida em que o monarca deveria ser aconselhado e auxiliado por uma elite aristocrtica e eleito pelo povo, conjugando desse modo elementos da Monarquia, da Aristocracia e da Repblica. Alm disso, o Doutor Anglico entendia que a tirania seria o pior regime, porque teria por base a desordem, o caos e o benefcio do prprio tirano. Para este tipo de regime existiam, segundo So Toms, quatro possveis remdios: 1) a possibilidade do tirano ser deposto pela comunidade; 2) o pedido de substituio do tirano a um poder alheio e superior; 3) o recurso directo a Deus; 4) o ainda o direito de desobedincia por parte do povo cristo, no caso do Rei ser declarado pela Igreja como hertico, excomungado ou cismtico. Para prevenir os casos de tirania, So Toms de Aquino aplicou-se num determinado conjunto de obras destinadas a aconselhar os Prncipes cristos sobre os seus deveres enquanto governantes, nomeadamente o dever de garantir a paz e a unidade do pas, o dever de prevenir os crimes, reprimir a violncia e preservar a justia, a defesa do reino perante os seus inimigos, e a satisfao das necessidades dos elementos do reino, particularmente os mais necessitados. Estes dois aspectos, nomeadamente a defesa da origem do poder em Deus e a sua transmisso directa para o povo, acabam por se perfilar como os contributos mais relevantes no pensamento poltico de So Toms de Aquino.

Idade Moderna (renascimento) Parte 1 Maquiavel, o poder liberto da moral: Maquiavel (sculo XV e XVI): O contributo de Maquiavel para a Histria das Ideias Polticas fica indelevelmente associado ao contedo da sua obra mais conhecida, O Prncipe, que foi oferecido a Loureno de Mdicis com o objectivo de aconselhar e ajudar o mesmo nas respectivas funes. Do seu pensamento poltico retiram-se dois pontos fundamentais, que so aqueles que mais interessam realar no mbito da sua obra: a conquista e a manuteno do poder poltico.

Os

regimes polticos e a melhor forma de Governo a Repblica: Maquiavel foi o

primeiro autor a utilizar a palavra Estado com o sentido que ela assume actualmente, no sentido actual da comunidade poltica soberana na ordem interna e na ordem internacional. Contudo, tambm se revelou original na medida em que foi o primeiro grande pensador a apresentar uma classificao bipartida dos regimes polticos: Repblica (governada

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por uma vontade colectiva) e Monarquia ou Principado (governada por um s indivduo). Para este autor no interessam as distines entre formas de Governo boas ou ms, ss ou degeneradas, pois entende que todos os regimes polticos so legtimos, na medida em que o nico critrio o do sucesso poltico independentemente dos meios utilizados para tal ( dele a clebre frase os fins justificam os meios). Apesar de preferir claramente a Repblica, pois entende que o regime que melhor defende a liberdade, Maquiavel entende que existem pelo menos trs situaes em que o Governo de um s homem com caractersticas fortes, absolutamente necessrio:

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a fundao de um novo Estado; a reforma integral das instituies j existentes; e em ocasies extraordinrias de grave perigo pblico onde se confia a salvao da ptria a um homem.

De uma forma caricata pode-se ento afirmar que no entender Maquiavel a forma ideal de Governo a Repblica sempre que possvel, e a Monarquia sempre que necessrio. Ao manifestar a sua preferncia pela Repblica ele distingue-a entre Repblica aristocrtica (governada pelos nobres, tpica de um povo que se pretende confinado ao seu territrio e sua preservao) e democrtica (assente no governo popular e virada para a expanso do territrio).

A

amoralidade poltica e as caractersticas do Prncipe: Maquiavel foi o segundo

grande politlogo da histria a seguir a Aristteles, e da sua anlise da realidade e dos factos histricos ele retira duas importantes concluses: em primeiro lugar, considera que o serhumano visa continuamente o poder e uma criatura dotada de uma ambio insacivel (da opinar negativamente acerca da natureza humana), mas alm disso possui ainda uma perspectiva fixista e determinista da natureza do homem e da prpria histria (tambm tida como negativa). Em certa medida estas concepes acabam por influenciar o seu pensamento no que diz respeito ao modo como o poder deve ser exercido pelo respectivo detentor. Maquiavel nega radicalmente qualquer ligao da poltica moral e religio, tendo por base aquilo que ele chama de Razo do Estado, ou seja, tudo legtimo para se ganhar mais poder, para se prolongar e para se expressar esse poder, seja por intermdio da fora, da intriga ou da mentira, porque aquilo que interessa na poltica so os fins, e se estes forem atingidos pelo Prncipe para vencer e para manter o Estado, ento os meios sero sempre julgados honrosos e louvados, ainda que considerados imorais ou criminosos. Concluso: aqui surge o verdadeiro cerne do maquiavelismo (em poltica deve-se praticar o bem quando possvel e o mal sempre que necessrio), o Prncipe deve ser cruel quando assim for necessrio, deve ser hbil, realista e calculista, deve usar da boa

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ou m f conforme lhe for mais til, em suma, deve fazer tudo ao seu alcance para ganhar mais poder, seja por intermdio da crueldade, da represso ou do castigo, pois se no o fizer outro ir faz-lo e o Prncipe corre assim o risco de perder o seu poder. Maquiavel defende ainda o recurso guerra para solucionar questes e conflitos internacionais alm de ressalvar, na sua lista de conselhos ao Prncipe, aqueles que so talvez os dois nicos limites que ele coloca ao poder poltico: a manifestao excessiva dos poderes podia vir a ser nefasta no sentido em que poderia dar azo a um poder alternativo, a um poder de oposio que se tornasse mais forte no plano prtico e destitusse o poder vigente, do mesmo modo que tambm poderia dirigir-se para a estabilizao ou fixismo histrico que ele considera negativo.

Parte 2 Jean Bodin e o conceito de soberania: Bodin (sculos XVI): O jurista francs Jean Bodin publicou uma vasta obra de teoria poltica, denominada DE L REPUBLIQUE, que se destacou pelos conceitos emitidos sobre a soberania e o direito divino dos reis. Tais noes surgiram num momento em que a Frana vivia momentos agitados devido s guerras de Religio do sculo XVI, e foi o medo da anarquia que levou Bodin a sustentar que para preservar a ordem social deveria existir uma vontade suprema soberana.

O princpio da soberania: muito resumidamente, a soberania foi definida pelo autor como opoder absoluto do Chefe de Estado, que lhe permite fazer leis para todo o pas sem estar, entretanto, sujeito s mesmas ou s dos seus antecessores, na medida em que no pode dar ordens a si mesmo. Alm de absoluta, a soberania tambm perptua e indivisvel. Para Bodin a soberania poderia ser exercida de trs modos:

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podia ser exercida por um prncipe (caracterizando uma monarquia); podia ser exercida por uma classe dominante (caracterizando uma

aristocracia); ou poderia ainda ser exercida pelo povo inteiro (seria uma democracia). Todavia, a soberania apenas poderia ser efectiva na monarquia, porque esta dispe da unidade indispensvel autoridade do soberano.

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Ao exercer a soberania, o governante deve criar rgos, associaes ou conselhos (como os Estados Gerais na Frana, por exemplo) que lhe facilitem a administrao. Contudo, o poder de deciso em ltima instncia sempre do Prncipe, sob pena de desmoronamento da soberania. Entre as principais prerrogativas que o exerccio da soberania confere ao governante encontram-se as seguintes:

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os direitos de decretar guerra e a paz; condenar ou perdoar os rus; cunhar moedas; estabelecer ou suspender impostos.

Mas a Monarquia de poder absoluto no uma monarquia ilimitada ou desptica, pois aquela em que os sbditos obedecem s leis do monarca e o monarca s leis da natureza, continuando a pertencer aos sbditos a liberdade natural e a propriedade dos bens. Assim sendo, o monarca absolutista deve respeitar as leis naturais (como por exemplo o direito liberdade e vida) e as propriedades dos seus sbditos, no podendo tom-las sem motivo justo. As noes de soberania de Bodin constituram as bases da cincia poltica e do Direito Pblico durante o Antigo Regime e a sua influncia ultrapassou as fronteiras da prpria Frana. Parte 3 Thomas Hobbes e os fundamentos de um Estado forte e autoritrio: Hobbes (sculos XVI e XVII): Hobbes nasceu em Inglaterra e viveu perodos extremamente conturbados, o que de certa forma ter contribudo para que a sua opinio acerca da natureza humana fosse deveras negativa. Alis, a sua importncia e influncia na histria das ideias polticas deveu-se maioritariamente ao conceito da natureza m do Homem, bem patente, alis, na sua obra mais importante, o Leviathan.

O estado de natureza humana e o contrato social: Hobbes entende que o mais forte namaior parte dos homens a paixo e no a razo, nomeadamente, o medo da morte, porque aquilo que mais desejam defender a prpria vida. Para este autor o Homem tem uma natureza imperfeita e m, o que implica que a sua convivncia com os outros seja caracterizada por permanentes guerras e conflitos. Ele v os homens como pequenos monstros, movidos por interesses mesquinhos, egostas e gananciosos. O Homem um ser com uma assustadora e infinita ambio pelo poder, o que o leva a concluir que o seu estado natural, o seu estado de natureza o estado de guerra. Assim sendo, ele entende que s um monstro mais forte e poderoso que os homens poder preservar a segurana e garantir a paz (os grandes valores que Hobbes defende). Esse

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monstro o Estado, que surge atravs de uma espcie de contrato social, celebrado em comum acordo pela maioria dos homens, onde os mesmos alienam parte dos seus direitos a um Estado que, no entender deste pensador deveria ser forte, repressivo e com poderes ilimitados, por forma a garantir a paz e a segurana na vivncia em sociedade. Tudo isto ocorre porque os homens tambm se caracterizam pela sua inteligncia e racionalidade e acabam por chegar concluso que a situao que os envolve insustentvel. Concluso: do pensamento de Hobbes retiramos a ideia de que a sociedade resulta da natureza maligna do ser-humano e em consequncia, o Direito e o Estado surgem com uma funo repressiva e ilimitada, em ordem a preservar e garantir a segurana e a paz no estado de vida social dos homens. Em Hobbes, a liberdade de cada um deve ser controlada pelo Estado, porque para o autor, o Homem em liberdade um animal mau e ambicioso, que pode colocar em causa a segurana e o equilbrio da vida em sociedade.

Iluminismo Parte 1 John Locke e a fundao do liberalismo poltico: Locke (sculos XVII e XVIII): John Locke perfilou-se um dos principais (seno mesmo o principal!) fundadores do liberalismo poltico. Locke acabou por inovar e influenciar o pensamento dos homens do seu tempo, tendo por base o argumento de que todo o Governo deveria ser limitado no mbito dos seus poderes. A sua obra fundamental Two Treatises of Government revelou-se fundamental, servindo como grande suporte mais importante movimentao poltica que eclodiu no sculo XVIII na Amrica e na Europa a Revoluo Liberal.

As perspectivas de Locke acerca do poder poltico e do estado de natureza humana:para Locke o poder poltico era o direito de fazer leis para as quais se pudesse estabelecer como sano a pena de morte ou outras consequncias menos graves, de modo a que se pudesse preservar a propriedade, a segurana, a paz e o bempblico. Assim sendo, Locke acaba por ser o primeiro autor a afirmar que o Estado a nica entidade terrena (de natureza no divina) a possuir o direito de vida e de morte sobre os homens.

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Todavia, apesar de se aproximar de Hobbes em alguns pontos deste particular aspecto, Locke j se afasta do mesmo nomeadamente na sua noo acerca do estado de natureza humana, uma vez que no apresenta uma viso to pessimista do ser-humano, precisamente por entender que todos os homens nascem livres e iguais, e que o Homem seria bom ou mau consoante a sua vontade. Contudo, tambm defende a ideia de que no estado de natureza no existiriam leis nem tribunais que pudessem garantir aos homens a plenitude dos seus direitos, o que levava a que cada um procurasse garanti-los atravs de um sistema de justia privada. Racionalmente chegou-se concluso que este sistema poderia conduzir a desigualdades e injustias, contribuindo necessariamente para que os homens celebrassem entre si um contrato social, com o intuito de delegarem no Estado determinados poderes, para que este se encarregue de procurar garantir a justia, a liberdade e proteger a propriedade privada de cada um, entrando-se deste modo no estado de sociedade perspectivado por este pensador. Concluso: o entendimento de John Locke no que diz respeito ao estado de natureza humana e vertente contratualista do homem apresenta-se, relativamente ao pensamento de Hobbes, com algumas diferenas importantes. Argumenta Locke que o estado social surge atravs da vontade contratual do ser-humano, com a finalidade do Estado assegurar e garantir, alm da paz e da segurana, a liberdade e a defesa da propriedade privada, preconizando deste modo, uma interveno muito mais limitada do Estado e do Direito na vida privada de cada um, fundamento directo de uma concepo liberal de separao de poderes, que acabaram por caracterizar todo o seu pensamento.

A

distribuio de poderes como limitao do poder poltico: Locke entendeu que o

poder poltico se deveria desdobrar em trs faculdades essenciais:

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poder legislativo: a faculdade de fazer leis aquela que Locke considera mais importante. No seu entender, tal funo deveria ser confiada a um Parlamento, que seria uma espcie de assembleia de representantes do povo, livremente eleitos pelo prprio povo. Locke defende ainda que, em virtude da preponderncia do poder legislativo face aos restantes poderes, este no deveria ser exercido de forma permanente porque isso iria dar uma fora muito grande entidade que o desempenha;

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poder executivo: consistia na capacidade de aplicar as leis aos casos concretos, fosse por intermdio da Administrao Pblica ou atravs dos tribunais. Deveria, segundo Locke, ser confiado ao Rei e ao seu Governo (e ao contrrio do poder legislativo, o poder executivo deveria ser executado de forma contnua e permanente);

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poder federativo: era a capacidade de conduzir as relaes externas e internacionais com os outros Estados, devendo pertencer uma vez mais ao mbito das funes do Rei e respectivo Governo.

Tais limitaes ao poder poltico visavam uma salvaguarda dos direitos individuais do cidado. Se Hobbes defendeu um Estado com poderes ilimitados e ao qual os cidados alienavam os seus direitos, Locke, ao invs, perfilou-se como um preconizador de um Estado com poderes limitados, por forma a proteger a liberdade e preservar a propriedade privada de cada um.

Parte 2 Montesquieu e a doutrina da separao de poderes: Montesquieu (sculos XVII e XVIII): Apesar de ter sido jurista e magistrado, foi como politlogo e escritor que publicou a sua obra mais importante no mbito da Histria das Ideias Polticas, O Esprito das Leis. Esta obra nasce da conciliao entre duas tendncias opostas, que so a tendncia aristocrtica da Frana e da sua prpria famlia e o constitucionalismo britnico definido por Locke, das quais resultam a clebre teoria da separao dos poderes proposta por Montesquieu.

O princpio da separao de poderes: Montesquieu entendia que deveriam existir em cadaEstado trs poderes principais:

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poder legislativo: da competncia de um Parlamento; poder executivo: devia pertencer ao Rei (Montesquieu acaba por integrar as funes do poder federativo propagado por Locke no mbito do poder executivo); poder judicial: devia estar entregue nas mos dos tribunais.

Na sua defesa da liberdade, Montesquieu enfatizou a necessidade de tais poderes estarem entregues a diferentes entidades ou rgos responsveis, caso contrrio, se estivessem todos concentrados nas mos de uma s entidade, corria-se srio risco de se estar perante um tirano que criasse as suas prprias leis e as aplicasse repressivamente. Assim, rapidamente se denota que este modelo foi pensado de forma a que os poderes se impeam uns aos outros de provocar abusos que prejudiquem os cidados, e por isso que o prprio Montesquieu refere que em cada um deles esto contidas as faculdades de estatuir e impedir, ou seja, cada poder detm a possibilidade de tomar decises relativas sua esfera de competncia, mas deve igualmente possuir a capacidade

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de travar determinadas decises dos restantes poderes do Estado, de modo a que exista um sistema de controlo recproco que impea qualquer um dos poderes de assumir o controlo sobre os restantes.

Classificao

dos regimes polticos: na sua obra intitulada o Esprito das Leis,

Montesquieu tambm se ocupa da classificao dos regimes polticos distinguindo trs espcies de sistemas o Governo republicano, o Governo monrquico e o Governo desptico. Seguidamente, tambm estabelece a distino entre a natureza de um Governo, ou seja, aquilo que um Governo em si mesmo, a sua estrutura e o seu prprio mecanismo de funcionamento, e o princpio de um Governo, que entendido como aquilo que o faz agir, a ideia fundamental ou mola propulsora dos governantes numa dado regime poltico.

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Governo republicano: neste sistema a natureza do poder poltico assenta na pertena do poder poltico ao povo, e o seu princpio consiste na virtude cvica dos cidados;

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Governo monrquico: neste modelo a natureza do poder poltico assenta na pertena do poder poltico ao Rei (de acordo com as leis) e o seu princpio consiste na honra;

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Governo desptico: aqui a natureza do poder poltico assenta na pertena do poder ao prprio tirano, sem qualquer respeito pelas leis, e o seu princpio consiste no medo.

Montesquieu mostra-se favorvel a uma Monarquia limitada, apontando trs limitaes consideradas fundamentais:

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o Governo monrquico devia ser subordinado lei, sob pena de se tornar num Governo desptico; atravs da teoria dos corpos intermdios (ou poderes intermdios) defendia que a monarquia deveria ser limitada pelas autonomias municipais e corporativas, pelo clero, nobreza e povo e pela reunio dos Estados-gerais;

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alm disso, tambm garante ser necessria uma separao dos poderes dos governantes por forma a promover essa mesma limitao.

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Parte 3 Jean Jacques Rousseau, a ideia de soberania popular e a defesa da Repblica: Rousseau (sculo XVIII): Rousseau nasceu em Genebra e tornou-se famoso enquanto escritor e filsofo, apesar das vrias dificuldades com que se debateu em vida. Do ponto de vista da Histria das Ideias Polticas foi o autor de uma obra sobejamente conhecida, O Contrato Social, sobre a qual recaem algumas noes importantes que merecem ser realadas.

O estado de natureza e o contrato social: Dos pensadores que se afirmaram apologistas de um estado de natureza a caracterizar e anteceder o estado social do Homem (como Hobbes e Locke), aquele que se mostra mais optimista relativamente natureza humana. Apologista da teoria do Bom Selvagem, entende que no incio dos tempos o homem vivia isolado e feliz, expressando desse modo a sua liberdade, a sua natural bondade e a ausncia de conflitos. Segundo o autor, o estado de natureza era o paraso perfeito. Entende Rousseau que a sociedade que acabou por corromper a boa natureza do Homem, pois desenvolveu no mesmo o sentimento de posse, o sentimento de propriedade privada, decorrendo da uma substancial alterao na sua natureza, passando o Homem a ser ambicioso, egosta, causador de perturbao e conflitos. ento que atravs da vontade geral da colectividade, atravs do desejo da maioria, que se estabelece um determinado contrato social, cujo primordial objectivo consiste numa tentativa de procurar remediar a quebra de equilbrio do estado de natureza do ser-humano. Sendo um apologista de que a maioria tem sempre razo e cuja vontade geral deve sempre colocar-se acima dos interesses menores, Rousseau no coloca limites ao Estado e ao Direito, pois sendo um defensor da soberania popular e da democracia directa, ele entende que esta seria a melhor soluo em ordem a salvaguardar os interesses gerais da populao.

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A vontade geral, a soberania popular e a defesa da democracia directa: a vontade geral determinada atravs do recurso a votos, e quem detiver a maioria ter, segundo Rousseau, a razo do seu lado (aqui afasta-se de Locke, pois este achava que nem sempre as maiorias possuem a razo do seu lado e por isso que era preciso limit-las). O filsofo entende que a maioria exprime o interesse colectivo e o bem comum, e por isso que a soberania popular se reveste de infalibilidade, logo, Rousseau no encontra motivos para a sua limitao e defende mesmo que quem se opuser a tal princpio dever ser obrigado a obedecer, uma vez que quem for obrigado a obedecer maioria est apenas obrigado a ser livre chama-se a isto o princpio da teoria da democracia totalitria. Juntamente com todos estes valores, Rousseau perfilou-se ainda como um acrrimo defensor de uma democracia directa sob pena da vontade geral no ser aplicada, logo, os deputados nos seriam representantes do povo mas sim seus comissrios (a quem o povo delegava determinadas responsabilidades). Alm disso, Rousseau revela-se ainda particularmente importante ao defender que todas as leis deveriam ser submetidas a referendo popular, porque nesse ponto que reside o grande princpio da democracia directa (com isto pretendia dizer que os deputados podiam preparar as leis mas o povo quem as deve aprovar).

Crtica da Monarquia e a defesa da Repblica: como entendia que o Governo s seria legtimo se emanasse da vontade geral, este filsofo apresentou-se como um crtico aos regimes monrquicos, porque assentavam na tradio, no costume e na hereditariedade (para ele tal modelo seria ilegtimo pois no traduziria a vontade geral do povo). Deste modo, Rousseau acabou por considerar que a melhor forma de Governo deveria ter por bases as seguintes caractersticas:

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deveria ser uma Repblica de razes democrticas; assente na soberania popular expressa pelo voto e exercida directamente pelo povo (democracia directa), sem mediao das instituies representativas;

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uma das suas principais caractersticas deveria ser o apelo ao referendo popular sempre que assim fosse necessrio; e, contrariamente aos modelos de separao de poderes defendidos por Locke e Montesquieu, Rousseau defende que no seria necessrio uma separao de poderes, porque defendia um sistema de Assembleia do tipo convencional, onde a Assembleia Legislativa fosse delegada do povo, o Governo seria uma comisso delegada do legislativo, o Chefe de Estado

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seria colegial, tudo inserido na sua lgica de delegao de poderes (e nunca de representao poltica).

Idade contempornea Parte 1 Karl Marx e o socialismo marxista: Marx (sculo XIX): O contributo de Karl Marx para a Histria das Ideias Polticas reveste-se de uma fundamental importncia. Das suas obras mais importantes reala-se a publicao do Manifesto Comunista e do primeiro volume de O Capital . Marx foi essencialmente influenciado em dois planos: o plano dos factos, devido reaco contra as pssimas condies sociais em que vivia o proletariado e o impacto da sua ascenso devido conquista do direito de voto, e o plano das ideias, nomeadamente por receber influncias de Darwin, Comte, Malthus, Ricardo, Hegel, Kant, Feuerbach, entre outros. De uma forma geral, o pensamento de Marx pode ser sintetizado ao longo de sete pontos essenciais:

A filosofia geral de Marx Materialismo histrico: este pensador assenta as suas ideiasnum conjunto de pressupostos filosficos que se traduzem na conjugao da filosofia dialctica com o materialismo, e cujo resultado dessa conjugao denominado por materialismo histrico. O materialismo histrico pode ser entendido como uma interpretao da histria, segundo a qual esta evolui a partir do choque dos contrrios, isto , atravs do choque entre teses e antteses. Todavia, no entender de Marx, a histria essencialmente determinada por factores materiais e econmicos, e no por causas morais, espirituais ou polticas.

Teoria da histria: assim sendo, Marx interpreta a histria como uma guerra entre asclasses sociais e por isso que a luta das classes se assume como o motor fundamental para a evoluo histrica. O filsofo defende que no incio existia o comunismo primitivo e integral dos bens (tese), mais tarde surgiu a propriedade privada e os meios de produo (originando desse modo a luta entre as classes e a respectiva anttese), e da luta entre as classes emanou o Estado capitalista ao servio da classe exploradora (sntese e nova tese). A partir daqui originou-se nova luta das

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classes trabalhadoras contra o Estado capitalista (anttese), das quais haveria de emergir (segundo Marx) uma nova sntese, que era o socialismo em evoluo para o comunismo. Concluso: para Marx as ideias no provm da razo ou de Deus, por exemplo, porque so um reflexo das relaes materiais (econmicas e sociais) entre os fortes e os fracos, os ricos e os pobres, os dominadores e os dominados. Para este autor, as infraestruturas (foras econmicas e as relaes de produo) dominam e comandam as super-estruturas (tudo o que no possui autonomia face infra-estrutura, como por exemplo o Direito, a Poltica, a Moral, a Religio, etc.). Marx defende que o capitalismo , sob uma perspectiva histrica, a crise mais aguda da evoluo social, na medida em que entende que uma sociedade s se encontra em harmonia consigo prpria quando a infra-estrutura (ou o modo de produo) coincide com a super-estrutura (por outras palavras, o sistema de propriedade dominante), ou seja, se antigamente a produo era individual ou familiar, tambm se justificava que a propriedade dos meios de produo tambm o fosse, todavia, quando no capitalismo o modo de produo colectivo, ento j no se justifica que a estrutura de propriedade ainda seja individual. Para o autor devido a este facto que se verifica a crise social e a luta das classes, e a soluo que se apresenta como vivel para Marx a do princpio da apropriao colectiva dos meios de produo, que gerar uma sociedade sem classes (aqui se verifica um certo determinismo da evoluo econmica no pensamento marxista).

Doutrina

do Estado e do Direito: Assim sendo, a evoluo natural da histria seria a

passagem para a fase da propriedade colectiva dos meios de produo, que resultaria da ascenso e vitria do proletariado, s que esta evoluo est bloqueada pelo capitalismo, que simultaneamente uma infra e uma super-estrutura. Marx entende que o Estado um aparelho criado pela classe dominante cuja funo a de perpetuar a explorao e a opresso do proletariado, e quando ocorrer a inevitvel revoluo dos proletrios, tomando o poder e aniquilando a burguesia, ento a razo de ser do Estado cessar automaticamente e ele desaparecer. Tambm o Direito tido como uma super-estrutura pois visto como um mero produto da correlao de foras. Resulta da expresso da classe burguesa e do prprio capitalismo, como tal, dever desaparecer com o Estado.

Concepo acerca da religio e da moral: A religio , para Marx o pio do povo, ea sua funo dar aos proletrios a possibilidade de projectar para um futuro distante o paraso depois da morte o bem estar e a felicidade a que tm direito em vida neste mundo.

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A moral, por seu turno, sendo o cdigo tico de uma sociedade, a regra de distino entre o bem e o mal, no se destina a desaparecer no futuro. Mas Marx destingue uma moral capitalista que morrer com ele de uma socialista que nascer com o socialismo. Marx considera o capitalismo um sistema condenvel (repousa na explorao do homem pelo homem) e condenado porque fatalmente ser abolido pela evoluo histrica em favor do socialismo.

Anlise

econmica do capitalismo: A anlise econmica de Marx desenrola-se da tcnico e o dinamismo

seguinte forma: o motor do capitalismo o lucro. O progresso

prprio do regime capitalista obriga os capitalistas a modernizarem as suas empresas investindo em capital constante que sendo bastante elevado leva baixa da taxa de lucro s compensada com o aumento das quantidades vendidas que leva a crises de super-produo (teoria do lucro). Assim, s os mais fortes vo sobrevivendo economicamente e vo sucessivamente eliminando a concorrncia mais fraca caminhando-se, gradualmente para a acumulao do capital num nmero cada vez menor dos empresrios (lei da concentrao progressiva de capital) que se vo apropriando da maisvalia e levando pauperizao crescente do proletariado. Este ir lutar contra a burguesia que se defende atravs do aparelho repressivo do Estado. Mas o proletariado, mais forte, pois luta no sentido do devir histrico, aproveita a sua arma principal, a greve, primeiro espordica e depois geral. Quando estiverem verificadas todas as condies, os trabalhadores implementaro o socialismo.

Previso

sobre o advento do socialismo: Marx distingue duas fases no processo de

implantao do socialismo a fase inferior (ditadura do proletariado) e a fase superior (comunismo propriamente dito). A ditadura do proletariado a fase provisria em que a classe operria se apossa por intermdio da violncia do Estado e do seu aparelho repressivo, passando consequentemente a ocupar as posies-chave na administrao pblica, na economia e na sociedade, de modo a fazer com que o Estado opere a extino da burguesia e o desmantelamento do capitalismo atravs da priso dos principais dirigentes econmicos e da nacionalizao das principais empresas. Nesta fase o Estado ainda ter de subsistir, no para manter a explorao do proletariado pela burguesia, mas sim para a extinguir e para promover uma economia necessria para se passar fase posterior. Nesta fase, a economia ser organizada de acordo com o princpio de a cada um o seu trabalho.

Utopia sobre a sociedade comunista: como corolrio, teramos uma sociedade comunistaque seria profundamente igualitria e justa, desprovida de classes e distines sociais, onde

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todos seriam livres e iguais. A atribuio de rendimentos seria agora feita segundo o princpio de a cada um de acordo com as suas necessidades, ainda mais justo que o princpio anterior. nesta fase que o Estado se extinguir. Em jeito de concluso importante referir que a meta final preconizada por Marx no difere muito da dos anarquistas, apenas muda a forma de ser atingida. Alm disso, o comunismo de Marx o comunismo total, no s aplicada a bens de produo e de consumo, mas, na linha de raciocnio de Plato, ele estende o comunismo famlia, condenando a apropriao dos filhos e substituindo o casamento pela unio livre. Em suma, para este autor, a humanidade sairia finalmente do reino da fatalidade para entrar no da liberdade.

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