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BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL Jamila Eliza BATISTELA 1 Marilda Ruiz Andrade AMARAL 2 RESUMO: O presente trabalho trata da questão do sistema prisional. Neste trabalho será feito um breve esboço histórico, iniciando pela antiguidade clássica (Grécia e Roma), posteriormente a Idade Média e a Idade Moderna. Na seqüência foi analisada a questão do sistema prisional brasileiro, iniciando no Brasil Colônia. Assim, foram analisadas as ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Na seqüência foram analisadas as questões do Brasil Império e do Brasil Colônia. Palavras-chave: Sistema Prisional. Histórico do Sistema Prisional. 1 ANTIGUIDADE CLÁSSICA 1.1 GRÉCIA Faltam notícias seguras, de fontes jurídicas, sobre o Direito punitivo entre os gregos, e o mais importante que se sabe adveio de seus poetas, oradores ou filósofos. Dos costumes primitivos, a fonte de informação são os poemas homéricos, onde os deuses participam da vida e das lutas dos homens, submetidos todos não só ao destino, mas às paixões e fraquezas humanas. A pena era uma fatalidade que decorria do crime que, por sua vez, também era uma fatalidade. O Direito Penal Grego era fundamentado na obra de dois grandes filósofos: Platão e Aristóteles. 1 Discente do 5º ano do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de Toledo” de Presidente Prudente-SP [email protected] 2 Docente do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de Toledo” de Presidente Prudente-SP [email protected]

História Do Sistema Prisional

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  • BREVE HISTRICO DO SISTEMA PRISIONAL Jamila Eliza BATISTELA1

    Marilda Ruiz Andrade AMARAL2

    RESUMO: O presente trabalho trata da questo do sistema prisional. Neste trabalho ser feito um breve esboo histrico, iniciando pela antiguidade clssica (Grcia e Roma), posteriormente a Idade Mdia e a Idade Moderna. Na seqncia foi analisada a questo do sistema prisional brasileiro, iniciando no Brasil Colnia. Assim, foram analisadas as ordenaes Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Na seqncia foram analisadas as questes do Brasil Imprio e do Brasil Colnia.

    Palavras-chave: Sistema Prisional. Histrico do Sistema Prisional.

    1 ANTIGUIDADE CLSSICA

    1.1 GRCIA

    Faltam notcias seguras, de fontes jurdicas, sobre o Direito punitivo

    entre os gregos, e o mais importante que se sabe adveio de seus poetas, oradores

    ou filsofos.

    Dos costumes primitivos, a fonte de informao so os poemas

    homricos, onde os deuses participam da vida e das lutas dos homens, submetidos

    todos no s ao destino, mas s paixes e fraquezas humanas. A pena era uma

    fatalidade que decorria do crime que, por sua vez, tambm era uma fatalidade.

    O Direito Penal Grego era fundamentado na obra de dois grandes

    filsofos: Plato e Aristteles.

    1 Discente do 5 ano do curso de Direito das Faculdades Integradas Antonio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente-SP [email protected] 2 Docente do curso de Direito das Faculdades Integradas Antonio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente-SP [email protected]

    diogoCaixa de textoBATISTELA, Jamila Eliza , AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. Breve histria do Sistema Prisional. 2008. Disponvel em: . Acesso em 17 mar. 2015.

  • Plato, em sua obra Georgias, mostrou que a pena tinha um carter

    expiatrio, ou seja, que o castigo era a retribuio ao mal cometido.

    Em sua obra Poltica, Aristteles apresentava a pena como carter

    intimidatrio, porque o castigo alm de intimidar o ru para que no voltasse

    novamente a cometer delitos, devia tambm servir de exemplo para os demais que

    por ventura estivessem prestes a cometer um crime. Este filsofo fez penetrar, por

    fim, nas suas construes ticas e jurdicas, a idia do livre arbtrio, sem que se

    saiba que papel teve nas prticas gregas. Esta idia, entretanto, veio exercer

    considervel influncia no Direito Penal do Ocidente.

    A pena alcanou o seu fundamento civil tornando-se pblica, e no

    Direito de Atenas distinguia-se o que defendia um bem do Estado ou da religio, ou

    apenas um bem particular, reservando-se para o primeiro o mximo rigor penal.

    Finalmente, os filsofos gregos trouxeram a debate uma questo

    geralmente ignorada pelos povos anteriores: a da razo e fundamento do direito de

    punir e da finalidade da pena, questes que preocuparam pensadores diversos e

    que vieram a ser mais detidamente considerada no movimento iniciado por Scrates,

    com o particular interesse que ento se tomou pelos problemas ticos. As opinies

    mais ponderveis so de Plato e Aristteles, sendo que aquele se baseava nas

    leis, j este na tica. Estas questes se constituram em objeto de preocupao por

    parte dos filsofos, mas deve-se observar que no houve Cincia do Direito na

    Grcia antiga.

    1.2 ROMA

    O Direito Penal Romano , at hoje, a maior fonte originria de

    inmeros institutos jurdicos.

    Roma deixou abundante cpia de documentos jurdicos, que permitem

    seguir, com uma informao precisa, a sua longa histria, desde a fundao da

    cidade, desde a Lei das XII Tbuas, at os tempos de Justiniano, na decadncia do

    Imprio.

  • Os firmes conhecimentos que podemos colher mostram o carter

    religioso do Direito punitivo inicial, lembrando que os romanos foram um dos raros

    povos da antiguidade que cedo libertaram o Direito do domnio religioso,

    distinguindo, nitidamente, na doutrina e na prtica, o jurdico do sacral.

    Em 509 a.C., ocorreu separao entre a religio e o Estado, com a

    implantao da Repblica, o que provocou o surgimento de duas espcies de crime,

    o perduellio e o parricidium. O primeiro se apresentava como negcio do Estado por

    se constituir em fato contra a existncia e a segurana da cidade, sendo punido com

    pena pblica. O segundo sendo, primitivamente, a morte dada a um pater. So os

    crimina publica, que se distinguem dos delicta privata, cuja represso fica entregue

    iniciativa do ofendido junto justia civil, para reconhecimento do seu direito a

    composio. Para os crimes pblicos, a pena era severa, geralmente a capital ou o

    banimento.

    As principais caractersticas do Direito Penal Romano eram:

    a) A afirmao do carter pblico e social do Direito Penal;

    b) O amplo desenvolvimento alcanado pela doutrina da

    imputabilidade, da culpabilidade e de suas excludentes;

    c) O elemento subjetivo doloso se encontrava claramente

    diferenciado. O dolo, que significava a vontade delituosa, que se aplicava a todo

    campo do direito, tinha, juridicamente, o sentido da astcia, reforada, a maior parte

    das vezes, pelo requisito da conscincia da injustia;

    d) A teoria da tentativa, que no teve um desenvolvimento

    completo, embora se admita que fosse punida nos chamados crimes extraordinrios;

    e) O reconhecimento, de modo excepcional, das causas de

    justificao (legtima defesa e estado de necessidade).

    f) A pena constitua uma reao pblica, cabendo ao Estado a

    sua aplicao;

    g) A distino entre crimina publica, delicta privata e a previso dos

    delicta extraordinria;

    h) A considerao do concurso de pessoas, diferenciando a autoria

    e a participao;

  • Os romanos foram grandes juristas, que, entretanto, no cuidavam da

    doutrina sistemtica de conceitos fundamentais porque o seu direito era uma prtica

    do justo em relao a fatos cotidianos.

    2 IDADE MDIA

    O Direito Penal Medieval foi caracterizado por sua crueldade,

    porquanto as pessoas viviam situaes de extrema insegurana, porque sendo o juiz

    dotado de plenos poderes, ele poderia aplicar penas que no estavam previstas nas

    leis, no havendo a observncia do princpio da legalidade. No havia tambm

    nenhuma garantia quanto ao respeito integridade fsica do condenado ou mesmo

    daquele que era investigado.

    Foi trazida pelos germanos a influncia das ordlias ou juzos de

    Deus que consistia na invocao do pronunciamento dos deuses atravs de duelo,

    prova de fogo, entre outros, para apontar o criminoso.

    Surgiram neste momento dois tipos de prises: a priso do Estado e a

    priso eclesistica. A primeira com a modalidade de priso-custdia, utilizada no

    caso em que o delinqente estava espera de sua condenao, para os casos de

    priso perptua ou temporal ou, at receber o perdo. J a segunda, era destinada

    aos clrigos rebeldes, que ficavam trancados nos mosteiros, dentro de um aposento

    subterrneo, para que, por meio de penitncia e meditao, se arrependessem do

    mal causado e obtivessem a correo.

    O termo penitenciria tem antecedentes no Direito Penal Cannico,

    que a fonte primria das prises. Este direito era dotado de peculiaridades, como,

    por exemplo, os gastos com manuteno e subsistncia que ficavam por conta do

    prprio encarcerado.

    Os cristos entendiam que a pena deveria servir de penitncia, para

    que o condenado reconhecesse seus pecados, arrependesse e no delinqissem

    mais. No entanto, viam a necessidade do ru recolher-se em locais cujo ambiente

    contribuiria para sua correo.

  • O que se pode verificar que na alta Idade Mdia a sociedade viveu

    sob um sistema de terror e insegurana, pois a aplicao de penas cruis

    evidenciava a falta do princpio da dignidade humana e da legalidade, que s

    comearam a ser delineados com a baixa Idade Mdia.

    3 IDADE MODERNA

    Em meados do sculo XVI, a populao europia era formada, em sua

    maioria, de indivduos pobres. No havia poltica criminal que pudesse minimizar a

    situao de pobreza, pois havia se perdido a segurana, j que a pena de morte no

    era mais eficaz para punir os delinqentes.

    Foi na segunda metade do sculo XVI que surgiu um importante

    movimento para desenvolver as penas privativas de liberdade: a criao de prises

    para correo dos condenados. Cita-se o House of Corretion, construda em

    Londres, na Inglaterra, entre 1550 e 1552, tendo por objetivo a reeducao dos

    delinqentes, atravs de disciplina e trabalho severo.

    Em 1556 surgiu em Amsterdam, na Holanda, a casa de correo para

    homens; e no ano de 1557, uma casa de correo para mulheres; e em 1600 uma

    priso especial para homens.

    Como esses modelos prisionais tiveram xito, vrios pases europeus

    os adotaram.

    Um fato importante na era moderna foi a mudana da priso- custdia

    para priso-pena, cuja motivao foi econmica. O Estado tinha a necessidade de

    possuir um instrumento que permitisse a submisso do delinqente ao capitalismo.

    Com isso, a privao da liberdade do indivduo gerou o surgimento de

    estabelecimentos organizados como as casas de deteno e as penitencirias. Esta

    populao carcerria deu origem ao denominado sistema penitencirio.

    Nos Estados Unidos, no sculo XVII, surgiram importantes sistemas: o

    Celular Pensilvnico ou Filadlfico e o Sistema Auburniano.

  • No Sistema Pensilvnico ou Filadlfico era utilizado o isolamento

    celular absoluto, no podendo os presos manter qualquer forma de comunicao

    com seus companheiros. Este sistema foi muito criticado porque era retirado do ser

    humano uma necessidade humana: a de se comunicar. No dizer de Edgar

    Magalhes Noronha, a cela um tmulo do vivo.

    O Sistema Auburniano, que prevaleceu nos Estados Unidos, surgiu em

    Auburn em 1818, tambm chamado de Silent System. Neste sistema, o isolamento

    era noturno, o trabalho era inicialmente realizado nas suas prprias celas e,

    posteriormente, em tarefas grupais, durante o dia, isso tudo em absoluto silncio,

    sendo proibido visitas, lazer e prtica de exerccios.

    Depois da criao do sistema de Auburn, surgiu na Inglaterra a gnese

    do que viria a ser denominado sistema progressivo que, de certo modo, atendia

    precariamente aos movimentos emergentes e as presses de matizes humanitrias

    em relao aos sistemas prisionais.

    O capito da Armada Inglesa, Alexander Maconochie, introduziu na Ilha

    de Norfolk o Mark System (sistema de marcas), sob o qual os condenados tinham

    em seus pronturios marcas que poderiam ser positivas ou negativas conforme seu

    comportamento em razo do trabalho ou conduta disciplinar.

    Importante ressaltar que foi a partir do aparecimento do sistema

    progressivo complementado por Alexander Maconochie, que o sistema penitencirio

    passou por grandes modificaes, trazendo consigo alteraes fundamentais que

    lhe permitiram sobreviver at agora.

    4 SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

    4.1 BRASIL COLNIA

    4.1.1 ORDENAES AFONSINAS

    As Ordenaes Afonsinas foram promulgadas em 1446, por D. Afonso

    V, constituindo o primeiro cdigo completo de legislao a aparecer na Europa

    depois da Idade Mdia.

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    diogoCaixa de textoBATISTELA, Jamila Eliza , AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. Breve histria do Sistema Prisional. 2008. Disponvel em: . Acesso em 17 mar. 2015.

  • Esta legislao vigorou por quase 70 anos, sendo substitudo por uma

    nova codificao empreendida por D. Manuel, O Venturoso, que queria ajuntar aos

    seus ttulos, o de legislador e divulgar pela imprensa, que ento comeava a

    generalizar-se em Portugal, um cdigo mais perfeito.

    4.1.2 ORDENAES MANUELINAS

    Em 1514, foram editadas as Ordenaes Manuelinas, e de cuja

    codificao foram incumbidos os juristas Rui Bato, Rui da Gr e Joo Cotrim.

    Durante sete anos, recebeu reformas, sendo finalmente publicada em 1521.

    Estas Ordenaes foram a real e efetiva legislao do incio do regime

    colonial no Brasil.

    Nas condies primitivas da colnia, no era fcil se ter um rigoroso

    ajustamento s leis da metrpole, porque pessoas que vinham para o Brasil estavam

    cheias de ambies, e em nenhum momento se preocupavam com o que estava

    prescrito juridicamente, ou com o que a sociedade metropolitana considerava

    moralmente correto.

    Essa legislao no era apropriada para reger a sociedade dos

    primeiros tempos coloniais, pois era uma legislao que representou a evoluo de

    uma velha sociedade s necessidades da mesma, ao nela se acolher.

    Na realidade, sobretudo no regime das capitanias, o que interessava

    era o arbtrio do donatrio, representado por um direito informal e personalista, com

    o qual se pretendia manter a ordem social e jurdica, em ncleos de homens

    ambiciosos ou de delinqentes que longe da metrpole, no se sentiam presos s

    limitaes jurdicas e morais desta.

    J no tempo dos governos gerais, tornou-se um pouco mais efetivo o

    imprio da lei, por se ter um quadro de funcionrios destinados aplicao e

    execuo e medidas penais. Entretanto, na prtica, os abusos e injustias

    continuaram existindo.

  • 4.1.3 ORDENAES FILIPINAS

    As Ordenaes Filipinas foram a mais longa das Ordenaes,

    vigorando do tempo colonial at os primeiros anos do Imprio.

    Essas ordenaes foram marcantes pela exorbitncia das penas, que

    alcanavam com extremo rigor fatos s vezes insignificantes; pela desigualdade de

    tratamento entre os infratores; pela confuso entre direito, moral e religio, e por

    muitos outros vcios.

    As execues efetivaram-se na forca, na fogueira, e em alguns casos

    ocorria a amputao dos braos ou das mos do condenado. Essas penas ficaram

    reservadas para os casos de homicdio, latrocnio e insurreio de escravos,

    configurando uma mudana importante, pois no antigo regime, a pena de morte era

    prevista para mais de setenta infraes. Em 1835, como reao ao levante de

    negros muulmanos ocorrido na Bahia, uma lei draconiana ampliaria as hipteses de

    pena capital para escravos que matassem, tentassem matar ou ferir gravemente seu

    senhor ou feitor.

    Tivemos no Brasil o caso de Tiradentes que, acusado de crime de lesa-

    majestade (traio cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado), foi

    enforcado e esquartejado, demonstrando a crueldade excessiva da poca.

    A permanncia da Corte Portuguesa no Brasil, por mais de 13 anos,

    no trouxe nenhuma alterao nossa legislao penal, nem o fato da

    independncia do pas veio marcar o incio de novo perodo na histria do nosso

    Direito Penal. A evoluo, entretanto, foi se operando com o passar dos tempos, e

    em plena vigncia das Ordenaes Filipinas, em Portugal, espritos adiantados

    propugnaram pela renovao das leis.

    4.2 BRASIL IMPRIO

    Com a independncia e a Carta Constitucional de 1824, veio a

    necessidade de se substituir a legislao do Reino.

  • O esprito que dominou o Cdigo Criminal do Imprio estava

    antecipado na Constituio de 1824. Este cdigo estabelecia as relaes do

    conjunto da sociedade, cuidando dos proprietrios de escravos, da plebe e dos

    cativos.

    Estabelecia trs tipos de crimes: os pblicos, entendidos como aqueles

    contra a ordem poltica instituda, o Imprio e o imperador - dependendo da

    abrangncia seriam chamadas de revoltas, rebelies ou insurreies; os crimes

    particulares, praticados contra a propriedade ou contra o indivduo e, ainda, os

    policiais, contra a civilidade e os bons costumes. Nestes ltimos incluam-se os

    vadios, os capoeiras, as sociedades secretas e a prostituio. O crime de imprensa

    era tambm considerado policial.

    Em todos os casos o governo imperial poderia agir aplicando as penas

    que continham no cdigo como, por exemplo, priso perptua ou temporria, com ou

    sem trabalhos forados, banimento ou condenao morte.

    As caractersticas mais importantes desse cdigo so: a) a excluso da

    pena de morte para os crimes polticos; b) a imprescritibilidade das penas; c) a

    reparao do dano causado pelo delito; d) ser considerado agravante o ajuste prvio

    entre duas ou mais pessoas, para a prtica do crime; e) a responsabilidade

    sucessiva nos crimes de imprensa.

    Este cdigo transformou-se em lei, a 16 de dezembro de 1830, sendo o

    primeiro Cdigo Penal autnomo da America Latina.

    Na poca, as idias liberais encontravam-se no seu pice. A

    propaganda individualista, desenvolvida quase simultaneamente na Frana e nos

    Estados Unidos, estava em ebulio. Era natural que, nos princpios em foco, se

    fundamentasse a Constituio Federal, revelando-se uma das mais adiantadas.

    O seu art. 179 reuniu de forma completa, a enumerao dos direitos e

    garantias individuais. Pelo que este preceito consignou, podia-se vislumbrar a

    orientao do Cdigo Criminal por vir.

    O inciso 2. desse artigo dizia: Nenhuma lei ser estabelecida sem

    utilidade pblica. manifesto que o legislador se inspirava na doutrina de Bentham,

    segundo a qual os sistemas legislativos deveriam se basear na utilidade das coisas.

  • O inciso 3. firmava o relevante princpio da irretroatividade da lei, cuja

    incidncia no terreno repressivo consubstancia uma das essenciais garantias

    liberdade dos cidados.

    Assim dispunha outros incisos do art. 179, referentes, a matria penal:

    Inciso 4.: Ningum pode ser perseguido por motivo de religio, uma

    vez que respeite a do Estado, e no ofenda a moral pblica;

    Inciso 5.: Ningum poder ser preso sem culpa formada, exceto nos

    casos declarados na lei; e nestes, dentro de 24 horas, contadas da entrada na

    priso, sendo em cidades, vilas, ou outras povoaes prximas aos lugares da

    residncia do juiz; e nos lugares remotos dentro de um prazo razovel que a lei

    marcar, atenta a extenso do territrio, o juiz, por uma nota por ele assinada, far

    constar ao ru o motivo da priso, os nomes dos seus acusadores, e os das

    testemunhas, havendo-as;

    Inciso 6.: Ningum ser sentenciado seno pela autoridade

    competente, por virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita;

    Inciso 7.: Nenhuma pena passar da pessoa do seu delinqente.

    Portanto, no haver em caso algum confiscao de bens, nem a infmia do ru se

    transmitir aos parentes, em qualquer grau que seja;

    Inciso 8.: As cadeias sero seguras, limpas e bem arejadas, havendo

    diversas casas para separao dos rus, conforme suas circunstncias e natureza

    dos seus crimes.

    O Cdigo Criminal do Imprio revelou o acolhimento dado s idias

    liberais.

    Depois do Cdigo Criminal de 1830, adveio o Cdigo de Processo de

    1832, tambm imbudo do esprito liberal, sendo este estatuto de suma importncia

    para a legislao brasileira, porque constituiu, at o fim de 1941, a sua lei processual

    em matria repressiva.

  • 4.3 BRASIL REPBLICA

    Proclamada a Repblica em 1889, intensificou-se a necessidade de se

    promover reforma na legislao criminal, mesmo porque j haviam se passado 60

    anos da promulgao do Cdigo do Imprio, e as suas leis ficaram envelhecidas por

    no mais acompanhar a realidade.

    O Ministro da Justia do governo provisrio, Campos Sales, confirmou

    o trabalho que havia sido confiado a Batista Pereira na preparao do novo Cdigo.

    Em pouco tempo o projeto foi estruturado e rapidamente entregue ao Governo,

    sendo submetido ao juzo de uma comisso presidida pelo prprio Ministro da

    Justia. Por decreto de 11 de outubro de 1890 foi aprovado, transformando-se em lei

    passando o Brasil a ter um novo cdigo penal.

    Como foi feito s pressas, apresentava vrios defeitos tcnicos, sendo

    por isso objeto de crticas, que contriburam para abalar seu prestgio, o que

    dificultou a aplicao do novo Cdigo.

    Para solucionar o problema, o Poder Executivo fez um projeto para um

    novo Cdigo. Depois de inmeras tentativas, em 1940 o projeto definitivo foi

    apresentado, sendo promulgado em 7 de dezembro do mesmo ano. Entrou em vigor

    em 1 de janeiro de 1942.

    Vicente Piragibe coligiu toda a legislao penal posterior ao Cdigo de

    1890 e elaborou uma Consolidao das Leis Penais, obra de grande valor, pois

    facilitava a todos quantos tinham de indagar qual direito penal estava vigente.

    Para fazer o Cdigo de 1940, o legislador brasileiro inspirou-se em um

    Cdigo Italiano, de 1930, chamado Cdigo de Rocco, e tambm seguiu, como

    exemplo, o Cdigo Suo de 1937, para inmeras solues adotadas.

    Embora elaborado durante regime ditatorial, o Cdigo Penal unifica

    fundamentalmente as bases de um direito punitivo democrtico e liberal. Na parte

    geral do Cdigo, temos por base o princpio da reserva legal; o sistema de duplo

    binrio; a pluralidade de penas privativas da liberdade; a exigncia do incio da

    execuo para a configurao da tentativa; o sistema progressivo para o

    cumprimento da pena privativa de liberdade; a suspenso condicional da pena e o

  • livramento condicional. Na parte especial, dividida em onze ttulos, a matria se

    inicia pelos crimes contra a pessoa, terminando pelos crimes contra a administrao

    pblica. No h mais pena de morte e nem de priso perptua, e o mximo da pena

    privativa de liberdade de 30 anos.

    Em 1961, o governo decidiu fazer uma reforma na legislao criminal, e

    solicitou a Nelson Hungria, mestre de Direito Penal Brasileiro, para que a fizesse.

    Modificou-se a parte geral, tendo como ponto marcante o abandono do

    sistema do duplo binrio (medidas de segurana detentivas para imputveis),

    adotando o sistema vicariante (pena ou medida de segurana), nos casos em que o

    agente semi-imputvel.

    Juntamente com a nova Parte Geral do CP, foi promulgada a Lei de

    Execuo Penal, Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984.

    BIBLIOGRAFIA

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