Comitê Científico Internacional da UNESCO para Redação da História Geral da África HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA • VIII África desde 1935 UNESCO Representação no BRASIL Ministério da Educação do BRASIL Universidade Federal de São Carlos EDITOR ALI A. MAZRUI EDITOR ASSISTENTE C. WONDJI
1. Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da
Histria Geral da frica HISTRIA GERAL DA FRICA VIII frica desde 1935
EDITOR ALI A. MAZRUI EDITOR ASSISTENTE C. WONDJI UNESCO Representao
no BRASIL Ministrio da Educao do BRASIL Universidade Federal de So
Carlos
2. Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da
Histria Geral da frica HISTRIA GERAL DA FRICA Viii frica desde
1935
3. Coleo Histria Geral da frica da UNESCO Volume I Metodologia
e pr-histria da frica (Editor J. Ki-Zerbo) Volume II frica antiga
(Editor G. Mokhtar) Volume III frica do sculo VII ao XI (Editor M.
El Fasi) (Editor Assistente I. Hrbek) Volume IV frica do sculo XII
ao XVI (Editor D. T. Niane) Volume V frica do sculo XVI ao XVIII
(Editor B. A. Ogot) Volume VI frica do sculo XIX dcada de 1880
(Editor J. F. A. Ajayi) Volume VII frica sob dominao colonial,
1880-1935 (Editor A. A. Boahen) Volume VIII frica desde 1935
(Editor A. A. Mazrui) (Editor Assistente C. Wondji) Os autores so
responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidos neste
livro, bem como pelas opinies nele expressas, que no so
necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organizao. As
indicaes de nomes e apresentao do material ao longo deste livro no
implicam a manifestao de qualquer opinio por parte da UNESCO a
respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade,
regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas
fronteiras ou limites.
4. Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da
Histria Geral da frica HISTRIA GERAL DA FRICA Viii frica desde 1935
EDITOR Ali A. Mazrui Editor Assistente Christophe Wondji Organizao
das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura
5. Esta verso em portugus fruto de uma parceria entre a
Representao da UNESCO no Brasil, a Secretaria de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao do Brasil
(Secad/MEC) e a Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Ttulo
original: General History of Africa, VIII: Africa since 1935.
Paris: UNESCO; Berkley, CA: University of California Press; London:
Heinemann Educational Publishers Ltd., 1993. (Primeira edio
publicada em ingls). UNESCO 2010 Coordenao geral da edio e
atualizao: Valter Roberto Silvrio Tradutores: Lus Hernan de Almeida
Prado Mendoza Reviso tcnica: Kabengele Munanga Preparao de texto:
Eduardo Roque dos Reis Falco Projeto grfico e diagramao: Marcia
Marques / Casa de Ideias; Edson Fogaa e Paulo Selveira / UNESCO no
Brasil Histria geral da frica, VIII: frica desde 1935 / editado por
Ali A. Mazrui e Christophe Wondji. Braslia : UNESCO, 2010. 1272 p.
ISBN: 978-85-7652-130-3 1. Histria 2. Histria contempornea 3.
Histria africana 4. Culturas africanas 5. frica I. Mazrui, Ali A.
II. Wondji, Christophe III. UNESCO IV. Brasil. Ministrio da Educao
V. Universidade Federal de So Carlos Organizao das Naes Unidas para
a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO) Representao no Brasil SAUS,
Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar 70070-912
Braslia DF Brasil Tel.: (55 61) 2106-3500 Fax: (55 61) 3322-4261
Site: www.unesco.org/brasilia E-mail: [email protected]
Ministrio da Educao (MEC) Secretaria de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade (Secad/MEC) Esplanada dos Ministrios, Bl.
L, 2 andar 70047-900 Braslia DF Brasil Tel.: (55 61) 2022-9217 Fax:
(55 61) 2022-9020 Site: http://portal.mec.gov.br/index.html
Universidade Federal de So Carlos (UFSCar) Rodovia Washington Luis,
Km 233 SP 310 Bairro Monjolinho 13565-905 So Carlos SP Brasil Tel.:
(55 16) 3351-8111 (PABX) Fax: (55 16) 3361-2081 Site:
http://www2.ufscar.br/home/index.php Impresso no Brasil
6. SUMRIO
Apresentao....................................................................................VII
Nota dos
tradutores............................................................................
IX
Cronologia........................................................................................
XI Lista de
Figuras..............................................................................
XIII
Prefcio...........................................................................................XIX
Apresentao do
Projeto..................................................................XXV
Introduo...........................................................................................
1 Captulo 1
Introduo.............................................................................
1 . Sesso I A frica na dcada de conflitos mundiais 19351945........
31 Captulo 2 O chifre da frica e a frica
setentrional........................... 33 . Captulo 3 frica
tropical e a frica equatorial sob domnio A francs, espanhol e
portugus. ............................................. 67 .
Captulo 4 A frica sob domnio britnico e
belga................................ 89 Sesso II luta pela
soberania poltica, de 1945 s A
Independncias................................................................
123 Captulo 5 Procurai primeiramente o reino
poltico........................... 125 Captulo 6 A frica
setentrional e o chifre da frica........................... 151
Captulo 7 A frica
ocidental.............................................................
191 . Captulo 8 A frica Equatorial do
oeste............................................. 229 Captulo 9 A
frica
Oriental..............................................................
261 . Captulo 10 A frica
Austral..............................................................
295
7. VI frica desde 1935 Sesso III O Subdesenvolvimento e a Luta
pela Independncia . Econmica.
....................................................................
335 Captulo 11 s mudanas econmicas na frica em seu contexto A
mundial
(19351980).......................................................
337 Captulo 12 A agropecuria e o desenvolvimento
rural....................... 377 Captulo 13 O desenvolvimento
industrial e o crescimento urbano.... 429 . Captulo 14 Estratgias
comparadas da descolonizao econmica.... 471 SESSO IV Evoluo
sociopoltica aps as independncias. ............. 517 . Captulo 15
onstruo da nao e evoluo das estruturas C
polticas............................................................................
519 Captulo 16 Construo da nao e evoluo dos valores polticos.....
565 Sesso v Mudanas socioculturais aps
1935................................. 603 Captulo 17 Religio e
evoluo social. ............................................... 605
. Captulo 18 Lngua e evoluo
social.................................................. 631
Captulo 19 O desenvolvimento da literatura
moderna....................... 663 Captulo 20 As artes e a
sociedade aps 1935..................................... 697 Captulo
21 Tendncias da filosofia e da cincia na frica. ................
761 . Captulo 22 Educao e mudana social.
............................................ 817 . Sesso VI
Panafricanismo: libertao e integrao a partir de O .
1935....................................................................................
847 Captulo 23 A frica e a dispora
negra............................................. 849 Captulo 24 O
Panafricanismo e a Integrao Regional.................... 873
Captulo 25 Panafricanismo e
libertao............................................ 897 Sesso VII
A frica independente em meio aos assuntos mundiais... 925 Captulo
26 A frica e os pases
capitalistas....................................... 927 Captulo 27
A frica e os pases
socialistas......................................... 965 Captulo 28
A frica e as regies em vias de desenvolvimento......... 1003
Captulo 29 A frica e a Organizao das Naes Unidas...............
1053 Captulo 30 O horizonte
2000.......................................................... 1095
Posfcio: cronologia da atualidade africana nos anos
1990.................. 1133 Cronologia dos fatos
relevantes............................................................
1143 . Membros do Comit Cientfico Internacional para a Redao de uma
Histria Geral da
frica...................................................... 1157
Dado biogrficos dos autores do volume
VIII...................................... 1159 Abreviaes e listas
de peridicos.
........................................................ 1167 .
Referncias
bibliogrficas......................................................................
1169 ndice
remissivo.....................................................................................
1241
8. VII APRESENTAO APRESENTAO Outra exigncia imperativa de que a
histria (e a cultura) da frica devem pelo menos ser vistas de
dentro, no sendo medidas por rguas de valores estranhos... Mas
essas conexes tm que ser analisadas nos termos de trocas mtuas, e
influncias multilaterais em que algo seja ouvido da contribuio
africana para o desenvolvimento da espcie humana. J. Ki-Zerbo,
Histria Geral da frica, vol. I, p. LII. A Representao da UNESCO no
Brasil e o Ministrio da Educao tm a satisfao de disponibilizar em
portugus a Coleo da Histria Geral da frica. Em seus oito volumes,
que cobrem desde a pr-histria do continente africano at sua histria
recente, a Coleo apresenta um amplo panorama das civilizaes
africanas. Com sua publicao em lngua portuguesa, cumpre-se o
objetivo inicial da obra de colaborar para uma nova leitura e
melhor compreenso das sociedades e culturas africanas, e demonstrar
a importncia das contribuies da frica para a histria do mundo.
Cumpre-se, tambm, o intuito de contribuir para uma disseminao, de
forma ampla, e para uma viso equilibrada e objetiva do importante e
valioso papel da frica para a humanidade, assim como para o
estreitamento dos laos histricos existentes entre o Brasil e a
frica. O acesso aos registros sobre a histria e cultura africanas
contidos nesta Coleo se reveste de significativa importncia. Apesar
de passados mais de 26 anos aps o lanamento do seu primeiro volume,
ainda hoje sua relevncia e singularidade so mundialmente
reconhecidas, especialmente por ser uma histria escrita ao longo de
trinta anos por mais de 350 especialistas, sob a coordenao de um
comit cientfico internacional constitudo por 39 intelectuais, dos
quais dois teros africanos. A imensa riqueza cultural, simblica e
tecnolgica subtrada da frica para o continente americano criou
condies para o desenvolvimento de sociedades onde elementos
europeus, africanos, das populaes originrias e, posteriormente, de
outras regies do mundo se combinassem de formas distintas e
complexas. Apenas recentemente, temse considerado o papel
civilizatrio que os negros vindos da frica desempenharam na formao
da sociedade brasileira. Essa compreenso, no entanto, ainda est
restrita aos altos estudos acadmicos e so poucas as fontes de
acesso pblico para avaliar este complexo processo, considerando
inclusive o ponto de vista do continente africano.
9. VIII frica desde 1935 A publicao da Coleo da Histria Geral
da frica em portugus tambm resultado do compromisso de ambas as
instituies em combater todas as formas de desigualdades, conforme
estabelecido na declarao universal dos direitos humanos (1948),
especialmente no sentido de contribuir para a preveno e eliminao de
todas as formas de manifestao de discriminao tnica e racial,
conforme estabelecido na conveno internacional sobre a eliminao de
todas as formas de discriminao racial de 1965. Para o Brasil, que
vem fortalecendo as relaes diplomticas, a cooperao econmica e o
intercmbio cultural com aquele continente, essa iniciativa mais um
passo importante para a consolidao da nova agenda poltica. A
crescente aproximao com os pases da frica se reflete internamente
na crescente valorizao do papel do negro na sociedade brasileira e
na denncia das diversas formas de racismo. O enfrentamento da
desigualdade entre brancos e negros no pas e a educao para as
relaes tnicas e raciais ganhou maior relevncia com a Constituio de
1988. O reconhecimento da prtica do racismo como crime uma das
expresses da deciso da sociedade brasileira de superar a herana
persistente da escravido. Recentemente, o sistema educacional
recebeu a responsabilidade de promover a valorizao da contribuio
africana quando, por meio da alterao da Lei de Diretrizes e Bases
da Educao Nacional (LDB) e com a aprovao da Lei 10.639 de 2003,
tornou-se obrigatrio o ensino da histria e da cultura africana e
afro-brasileira no currculo da educao bsica. Essa Lei um marco
histrico para a educao e a sociedade brasileira por criar, via
currculo escolar, um espao de dilogo e de aprendizagem visando
estimular o conhecimento sobre a histria e cultura da frica e dos
africanos, a histria e cultura dos negros no Brasil e as
contribuies na formao da sociedade brasileira nas suas diferentes
reas: social, econmica e poltica. Colabora, nessa direo, para dar
acesso a negros e no negros a novas possibilidades educacionais
pautadas nas diferenas socioculturais presentes na formao do pas.
Mais ainda, contribui para o processo de conhecimento,
reconhecimento e valorizao da diversidade tnica e racial
brasileira. Nessa perspectiva, a UNESCO e o Ministrio da Educao
acreditam que esta publicao estimular o necessrio avano e
aprofundamento de estudos, debates e pesquisas sobre a temtica, bem
como a elaborao de materiais pedaggicos que subsidiem a formao
inicial e continuada de professores e o seu trabalho junto aos
alunos. Objetivam assim com esta edio em portugus da Histria Geral
da frica contribuir para uma efetiva educao das relaes tnicas e
raciais no pas, conforme orienta as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o Ensino da
Histria e Cultura Afrobrasileira e Africana aprovada em 2004 pelo
Conselho Nacional de Educao. Boa leitura e sejam bem-vindos ao
Continente Africano. Vincent Defourny Fernando Haddad Representante
da UNESCO no Brasil Ministro de Estado da Educao do Brasil
10. NOTA DOS TRADUTORES IX NOTA DOS TRADUTORES A Conferncia de
Durban ocorreu em 2001 em um contexto mundial diferente daquele que
motivou as duas primeiras conferncias organizadas pela ONU sobre o
tema da discriminao racial e do racismo: em 1978 e 1983 em Genebra,
na Sua, o alvo da condenao era o apartheid. A conferncia de Durban
em 2001 tratou de um amplo leque de temas, entre os quais vale
destacar a avaliao dos avanos na luta contra o racismo, na luta
contra a discriminao racial e as formas correlatas de discriminao;
a avaliao dos obstculos que impedem esse avano em seus diversos
contextos; bem como a sugesto de medidas de combate s expresses de
racismo e intolerncias. Aps Durban, no caso brasileiro, um dos
aspectos para o equacionamento da questo social na agenda do
governo federal a implementao de polticas pblicas para a eliminao
das desvantagens raciais, de que o grupo afrodescendente padece, e,
ao mesmo tempo, a possibilidade de cumprir parte importante das
recomendaes da conferncia para os Estados Nacionais e organismos
internacionais. No que se refere educao, o diagnstico realizado em
novembro de 2007, a partir de uma parceria entre a UNESCO do Brasil
e a Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do
Ministrio da Educao (SECAD/ MEC), constatou que existia um amplo
consenso entre os diferentes participantes, que concordavam, no
tocante a Lei 10.639-2003, em relao ao seu baixo grau de
institucionalizao e sua desigual aplicao no territrio nacional.
Entre
11. X frica desde 1935 os fatores assinalados para a explicao
da pouca institucionalizao da lei estava a falta de materiais de
referncia e didticos voltados Histria de frica. Por outra parte, no
que diz respeito aos manuais e estudos disponveis sobre a Histria
da frica, havia um certo consenso em afirmar que durante muito
tempo, e ainda hoje, a maior parte deles apresenta uma imagem
racializada e eurocntrica do continente africano, desfigurando e
desumanizando especialmente sua histria, uma histria quase
inexistente para muitos at a chegada dos europeus e do colonialismo
no sculo XIX. Rompendo com essa viso, a Histria Geral da frica
publicada pela UNESCO uma obra coletiva cujo objetivo a melhor
compreenso das sociedades e culturas africanas e demonstrar a
importncia das contribuies da frica para a histria do mundo. Ela
nasceu da demanda feita UNESCO pelas novas naes africanas
recm-independentes, que viam a importncia de contar com uma histria
da frica que oferecesse uma viso abrangente e completa do
continente, para alm das leituras e compreenses convencionais. Em
1964, a UNESCO assumiu o compromisso da preparao e publicao da
Histria Geral da frica. Uma das suas caractersticas mais relevantes
que ela permite compreender a evoluo histrica dos povos africanos
em sua relao com os outros povos. Contudo, at os dias de hoje, o
uso da Histria Geral da frica tem se limitado sobretudo a um grupo
restrito de historiadores e especialistas e tem sido menos usada
pelos professores/as e estudantes. No caso brasileiro, um dos
motivos desta limitao era a ausncia de uma traduo do conjunto dos
volumes que compem a obra em lngua portuguesa. A Universidade
Federal de So Carlos, por meio do Ncleo de Estudos Afrobrasileiros
(NEAB/UFSCar) e seus parceiros, ao concluir o trabalho de traduo e
atualizao ortogrfica do conjunto dos volumes, agradece o apoio da
Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD),
do Ministrio da Educao (MEC) e da UNESCO por terem propiciado as
condies para que um conjunto cada vez maior de brasileiros possa
conhecer e ter orgulho de compartilhar com outros povos do
continente americano o legado do continente africano para nossa
formao social e cultural.
12. XI Cronologia Cronologia Na apresentao das datas da
pr-histria convencionou-se adotar dois tipos de notao, com base nos
seguintes critrios: Tomando como ponto de partida a poca atual,
isto , datas B.P. (before present), tendo como referncia o ano de +
1950; nesse caso, as datas so todas negativas em relao a + 1950.
Usando como referencial o incio da Era Crist; nesse caso, as datas
so simplesmente precedidas dos sinais - ou +. No que diz respeito
aos sculos, as menes antes de Cristo e depois de Cristo so
substitudas por antes da Era Crist, da Era Crist. Exemplos: (i)
2300 B.P. = -350 (ii) 2900 a.C. = -2900 1800 d.C. = +1800 (iii)
sculo V a.C. = sculo V antes da Era Crist sculo III d.C. = sculo
III da Era Crist
13. XIII Lista de Figuras Lista de Figuras Figura 1.1 Mapa
poltico da frica em
1935...........................................................................
5 Figura 1.2 Diante da Sociedade das Naes, o imperador Hail Selassi
elevase contra a agresso da Etipia pela
Itlia.................................................................................
9 Figura 1.3 Em 11 de dezembro de 1960, no bairro de Salembier, em
Alger, jovens manifestantes levantam pela primeira vez a bandeira
verde e branca da . Frente de Libertao Nacional (FLN).
.................................................................
26 Figura 2.1 O avano das tropas italianas na
Abissnia...........................................................
49 Figura 2.2 A Frana em combate no deserto da
Tripolitnia................................................. 51
Figura 2.3 Sayyd Abd alRahman alMahdi em sua partida rumo a
Londres, no dia 15 de julho de
1937....................................................................................
61 Figura 3.1 Conferncia de Brazzaville, em fevereiro de
1944................................................ 85 Figura 4.1
Pea de artilharia antiarea manobrada por soldados africanos durante
a Segunda Guerra
Mundial....................................................................................
113 Figura 4.2 O dia da independncia da Suazilndia: o chefe Sobhuza
II, o Leo da Suazilndia, passa em revista as suas
tropas..................................... 118 Figura 5.1 Dedan
Kimathi, heri do combate dos maumau pela independncia, . capturado
em 21 de outubro de 1956 e em seguida
executado........................... 135 Figura 5.2 Argelinos
presos durante os levantes de 8 de maio de 1945 na
Kabylie............. 137 Figura 5.3 Kwame Nkrumah na aurora da
independncia de Gana, no Old Polo Ground em 5 de maro de
1957.........................................................................
141 . Figura 6.1 Congresso do NoDestour em novembro de 1955. No
centro, Habib
Bouguiba................................................................................
157 . Figura 6.2 Em 20 de setembro de 1959, Messali Hadj aprovou a
declarao do general de Gaulle a propsito da
Arglia............................................................
162 Figura 6.3 Farhat Abbas dirigindose multido na ocasio de uma
manifestao em Casablanca, em 9 de julho de 1961, na presena do rei
Hassan II...................... 164
14. XIV frica desde 1935 Figura 6.4 PortSad, na zona do canal:
a destruio causada pela guerra de 1956.............. 175 Figura 7.1
Obafemi Awolowo da Nigria, lder do Action Group Part, fundado em
1950... 200 . Figura 7.2 Nnamdi Azikiwe, governadorgeral da Nigria,
acompanhado do duque de Devonshire, em Londres, no dia 10 de julho
de 1961......................................... 201 Figura 7.3
Congresso do RDA em Bamako, no ano de 1946. direita, Flix
HouphoutBoigny; esquerda, Gabriel
dArboussier........................................ 210 Figura 7.4
Sylvanus Olympio, presidente do Togo, proclamando a independncia do
seu pas, em 27 de abril de
1960..........................................................................
214 Figura 7.5 Mulheres combatentes do Partido Africano da
Independncia da Guin e . Cabo Verde (PAICG).
........................................................................................
221 Figura 7.6 William Tubman, presidente da Libria, em setembro de
1956......................... 225 Figura 8.1 Kigere V, ltimo rei do
Ruanda..........................................................................
254 Figura 8.2 Da esquerda para a direita: Joseph Kasavubu,
presidente do Congo, o primeiroministro Patrice Lumumba, e o rei da
Blgica, Baudouin, . em Lopoldville, Congo, em junho de 1960.
...................................................... 258 Figura
8.3 Trs dos chefes da Unio das Populaes de Camares (UPC). Da
esquerda para a direita: Ernest Ouandi, Flix Roland Moumi e . Abel
Kingu..
......................................................................................................
258 Figura 9.1 O rei Mutesa II, kabaka do Buganda, exilado em
Londres................................ 272 . Figura 9.2 Julius K.
Nyerere, presidente da Tanganyika African National Union . (TANU).
.............................................................................................................
276 Figura 9.3 Jomo Kenyatta, presidente do Kenya African Union
(KAU), em 1946 ou
1947................................................................................................................
280 Figura 9.4 O campo de deteno de Langata, aberto pelos britnicos
durante a revolta dos maumau, em abril de
1954..........................................................................
282 Figura 10.1 Principais recursos minerais da frica do
Sul................................................... 296 Figura
10.2 Robert Mangaliso Sobukwe, presidente e fundador do PanAfrican
Congress (PAC), em
1963................................................................................
309 Figura 10.3 Massacre de Sharpeville, na frica do Sul, em 28 de
maro de 1960................ 309 Figura 10.4 centro: Eduardo
Chivanbo Mondlane, fundador e primeiro presidente No da Frente de
Libertao de Moambique (FRELIMO), em 1962................... 315
Figura 10.5 Seretse Khama, prncipe herdeiro do Bamangwato, exilado
na GrBretanha, com a sua esposa inglesa, Ruth Williams, e a sua
filha, em maro de 1952. .... 317 . Figura 10.6 esquerda para a
direita: Sally Mugabe; o primeiroministro Robert Da Mugabe, o
presidente, rev. Canaan Banama, e o vicepresidente, Simon Muzenda,
fotografados em 1980, ano da independncia do Zimbbue............
323 Figura 10.7 Destacamento da South West Africa Peoples
Organization (SWAPO).......... 325 Figura 11.1 As reivindicaes
territoriais da Itlia na frica (planos de 1940)...................
343 Figura 11.2 Conferncia da Organizao dos Pases Exportadores de
Petrleo (OPEP), em Viena, no dia 21 de novembro de
1973...................................................... 351
Figura 11.3 financiamento dos bens de equipamento na frica negra de
expresso O francesa e em Madagascar, 19461973 (em bilhes de francos
CFA constantes em
1960).........................................................................................
353
15. Lista de Figuras XV Figura 11.4 Os lucros da SCOA,
19101960.......................................................................
356 Figura 11.5 Investimento e poupana na frica, 19601983, com
exceo dos pases exportadores de
petrleo...................................................................................
365 Figura 11.6 Bernardo Vieira, presidente da Guin Bissau, durante
encontro com M. A. . Queredi, primeiro vicepresidente do Banco
Mundial, em outubro de 1988... 367 Figura 11.7 Organizaes regionais
e subregionais em prol da cooperao e da
integrao..........................................................................................................
369 Figura 12.1 Trabalhadora rural no
Marrocos.......................................................................
382 Figura 12.2 risco de desertificao na frica, segundo a
Conferncia das Naes O . Unidas sobre a Desertificao,
1977.................................................................
401 Figura 12.3 A seca na Arglia, em 1947: carneiros diante de um
bebedouro vazio............. 4 0 2 Repartio do plantel bovino na
frica. Mapa secundrio: principais zonas Figura 12.4 . contaminadas
pela mosca
tsets......................................................................
405 Figura 12.5 Composio dos fluxos migratrios internacionais da mo
de obra africana.... 408 Figura 12.6 Principais exploraes minerais
na frica.........................................................
422 Figura 12.7 Repartio das culturas com fim comercial na
frica....................................... 423 Usina txtil de
processamento de algodo em Mahana, no norte do Egito...... 447
Figura 13.1 Figura 13.2 Ondo: uma cidade
prcolonial........................................................................
463 Figura 13.3 Bidonvilles: a. em Lagos; b. Mathare Valley, em
Nairbi; c. Belcourt, em
Alger........................................................................................
467 . Figura 14.1 Evoluo na produo alimentcia por habitante: para o
conjunto do mundo, PMA e frica (base =
19741976)...................................................................
480 Figura 14.2 Repartio regional dos MULPOC.
.........................................................................492
Figura 14.3 Agrupamentos econmicos regionais na
frica.......................................................493
Figura 14.4 Malha rodoviria projetada para a frica do Oeste,
CEA/CEDEAO............. 494 Figura 14.5 Zona de Comrcio
Preferencial na frica Oriental e Meridional: projetos de
autoestradas..................................................................................................
496 Figura 14.5 A barragem de Jinja, em
Uganda......................................................................
513 Figura 14.6 Em cima: a barragem de Akosombo, em Gana. Embaixo:
a grande barragem de Kariba, no
Zimbabwe...................................................................
514 Figura 15.1 Rei Mutesa II, o ltimo kabaka de Buganda, trajando
uniforme militar.. ........ 521 . Figura 15.2 Segundo Encontro de
Estados Magrebinos, em Marrakesh, 15 e 16 de fevereiro,
1989.................................................................................
526 Figura 16.1 Franz Fanon, autor francs nascido na
Martinica............................................. 572 Figura
16.2 Chegada de Ahmed Ben Bella na Arglia em 5 de julho de
1962................... 580 Figura 16.3 Amilcar Cabral, presidente
do PAIGC, na frente militar oriental da Guin
Bissau.....................................................................................................
582 Figura 16.4 Tom Mboya, antigo dirigente sindical e ministro do
Planejamento Econmico do Qunia, assassinado em
1969................................................... 589 .
Figura 16.5 Ahmed Skou Tour, presidente da Repblica da Guin de 1958
a 1984........ 594 Figura 17.1 Repartio do cristianismo, do isl e
da religio tradicional africana na frica, segundo estimativas de
cada religio.....................................................
609
16. XVI frica desde 1935 Figura 17.2 ocasio de um encontro de
telogos do Terceiro Mundo, no Cairo, Por membros da AOTA visitam o
patriarca da Igreja copta do Egito.................... 615 Shaykh
Ahmadu Bamba, dirigente dos mouros do Senegal, Figura 17.3 com os
seus
talaba.............................................................................................
618 Figura 17.4 congols Simon Kimbangu detido pelas autoridades
belgas em O lisabethville
(Lubumbashi).............................................................................
625 Figura 18.1 Repartio das lnguas oficiais na
frica.......................................................... 638
. Figura 19.1 Um gri, tradicional contador de histrias
africano.......................................... 664 Figura 19.2
esquerda: Aim Csaire, escritor francs da Martinica. direita: .
Lopold Sdar Senghor, do Senegal, membro da Academia
Francesa............. 666 Figura 19.3 Wole Soyinka, da Nigria,
recebendo o prmio Nobel de Literatura em dezembro de
1986.............................................................................................
669 Naguib Mahfuz, do Egito, laureado com o prmio Nobel de
Literatura em Figura 19.4 outubro de
1988................................................................................................
685 Molara OgundipeLeslie, da Nigria, professora universitria,
poeta, Figura 19.5 autora de escritos literrios, ensasta e
crtica.................................................... 687
Figura 19.6 Andr Brink, da frica do Sul, escritor
antiapartheid...................................... 692 Figura 20.1
Arte turstica ou arte dos
aeroportos............................................................
706 . Figura 20.2 Arte
maconde...................................................................................................
708 Figura 20.3 Arteso trabalhando o zinco em Foumban,
Camares..................................... 709 . Figura 20.4
parte superior: Iba Ndiaye, Senegal, com uma das suas pinturas. Na
Na parte inferior: Kofi Antubam, Gana, com uma das suas
esculturas............. 715 Figura 20.5 Viteix, Angola, com uma das
suas
pinturas....................................................... 717
Figura 20.6 A Orquestra de Fez, no Marrocos: uma orquestra de msica
raboandaluz... 730 . A Figura 20.7 cantora egpcia Umm Khulthum em
um recital na cidade de Paris em
1967............................................................................................................
732 . Figura 20.8 Bal africano de Fodeba
Keita..........................................................................
737 Figura 20.9 arte africana e o cubismo. esquerda: trono real
esculpido em madeira: A o rei e a sua corte, Kana, Dahomey.
direita: Le Prophte, escultura de Ossip Zadkine,
1914.........................................................................................
758 Cheikh Anta Diop, filsofo e fsico senegals, em seu laboratrio
no Figura 21.1 IFAN, em Dakar,
Senegal.................................................................................
762 Figura 22.1 Curso de fsica no Ateneu Real de Lopoldville, Congo
belga (atualmente R. D. do
Congo)...........................................................................
819 Figura 22.2 Escola cornica na cidade de Lagos, na
Nigria............................................... 824 Grfico
22.1 Taxa de escolaridade na frica, 19601980; taxas absolutas de
escolaridade ajustadas por
grau............................................................................................
830 Grfico 22.2 Taxa de escolaridade na frica, 19601980; taxas
absolutas de escolaridade ajustadas por grau e por
gnero.......................................................................
830 Grfico 22.3 Tendncias dos efetivos na escola primria na frica,
19601980, mostrando a populao em idade escolar primria e os
efetivos do ensino primrio, em milhes, assim como as taxas
absolutas de escolaridade ajustadas do primrio (em
%)..........................................................................
831
17. Lista de Figuras XVII Figura 22.3 arte superior: laboratrio
de biologia em um instituto de pedagogia, P Universidade de Lagos,
na Nigria, 1968. Parte inferior: Instituto Politcnico do Qunia,
1968.................................................................................................
837 Figura 23.1 Algumas grandes figuras da dispora africana,
clebres defensores da causa dos negros. Na parte superior,
esquerda, George Padmore; na parte superior, direita, Paul Robeson
e W. E. B. Du Bois; na parte inferior, esquerda, Marcus Garvey; na
parte inferior, direita, Max
Yergan.................................. 858 Figura 23.2 Malcolm X,
portavoz apaixonado da luta pelos direitos dos
negros................ 862 Figura 23.3 carnaval de Notting Hill,
festival das comunidades antilhanas organizado O anualmente nas
ruas de
Londres.......................................................................
870 Os Figura 24.1 quatro chefes de Estado do Conselho da Entente
aps uma reunio no palcio do Eliseu, Paris, em abril de 1961. Da
esquerda para a direita: o presidente de Daom (atual Benin) H.
Maga, o presidente da Costa do Marfim F. Houphout Boigny, o
presidente da Nigria H. Diori e o presidente de AltoVolta (atual
Burkina Faso) M. Yameogo............................ 879 Da Figura
24.2 esquerda para a direita: o presidente tanzaniano J. Nyerere, o
presidente ugands A. M. Obote e o presidente queniano J. Kenyatta,
por ocasio da assinatura do Tratado de Cooperao na frica do Leste,
em Kampala, no ms de junho de
1967.......................................................................................
881 Quinto Congresso PanAfricano realizado em Manchester,
Inglaterra, em Figura 25.1 outubro de 1945. Da direita para a
esquerda, mesa diretora: Peter Milliard, Sra. Amy Jacques Garvey, o
prefeito de Manchester e I. T. A.
WallaceJohnson...............................................................................................
898 Figura 25.2 Discurso de abertura da primeira Conferncia dos
Povos Africanos em Accra, Gana, em dezembro de
1958.................................................................
902 Na Figura 25.3 parte superior, esquerda: Dulcie September,
representante do Congresso Nacional Africano (CNA) na Frana,
assassinada em Paris no ms de maro de 1988. Na parte superior,
direita: sulafricano Steve Biko, dirigente do Black Consciouness
Movement, assassinado em setembro 1977. Na parte inferior,
esquerda: Nelson Mandela, fotografado no incio dos anos 1960, antes
da sua condenao priso perptua. Na parte inferior, direita: o chefe
sulafricano Albert Luthuli, primeiro presidente do CNA,
19521960............ 909 Figura 26.1 Conferncia francoafricana em
La Baule, Frana, realizada em junho de
1990..................................................................................................................
932 Figura 26.2 Instalao de uma grfica no CICIBA, em Libreville,
Gabo, realizada por tcnicos da Mitsubishi Corporation do
Japo................................................... 934 Figura
27.1 presidente chins Mao Tsetung encontra o presidente Kenneth
Kaunda, O da Zmbia, em Pequim, em fevereiro de
1974.................................................. 974 Figura
27.2 Anastase Mikoyan, ministro das Relaes Exteriores da URSS,
chega em Gana e recebe s boasvindas do presidente Kwame Nkrumah, em
janeiro de
1962.............................................................................................................
985 Figura 27.3 TAZARA (ou Uhuru), estrada de ferro TanzniaZmbia,
construda com a ajuda dos chineses. Instalao dos trilhos na
fronteira entre a Tanznia e a Zmbia, em setembro de 1973, com a
presena de autoridades chinesas e dos . presidentes Julius Nyerere,
da Tanznia, e Kenneth Kaunda, da Zmbia. ........ 991 Figura 27.4
Tropas cubanas em
Angola...............................................................................
995
18. XVIII frica desde 1935 Figura 28.1 Conferncia da Liga rabe
e da Organizao para a Unidade Africana, no Cairo em
1977...........................................................................................
1026 Fidel Castro, de Cuba, e o Grupo dos Setenta e Sete em Havana
no Figura 28.2 dia 21 de abril
1987........................................................................................
1037 Figura 28.3 esquerda para a direita: J. B. Tiw, da Iugoslvia,
A. Ben Bella, Da da Arglia, A. M. Obote, de Uganda e H. Bourguiba,
da Tunsia, durante a segunda Conferncia dos pases no alinhados, no
Cairo, de 5 a 10 de outubro de
1964..............................................................................................
1046 Figura 28.4 quarta Conferncia dos Pases No Alinhados, em
Alger, no ms de A setembro de
1973............................................................................................
1047 A Figura 29.1 regio do Togo em 1919. Declarao francobritnica
de 10 de julho de 1919 (segundo E. K.
Kouassi)....................................................................
1056 O Figura 29.2 CongoLopoldville, atual Repblica Democrtica do
Congo (segundo E. K.
Kouassi.)................................................................................................
1062 Figura 29.3 Acima, esquerda: Dag Hammarskjld ( esquerda),
secretriogeral das Naes Unidas, e Joseph Kasavubu (sentado direita,
de perfil), presidente do Congo, durante encontro em Lopoldville
(atual Kinshasa) no dia 29 de julho de 1960. Acima, direita: M.
Tshomb, primeiroministro da provncia secessionista do Katanga
(Shaba), em lisabethville (Lubumbashi), no ms de agosto de 1960.
Abaixo, esquerda: Patrice Lumumba, primeiroministro da Repblica do
Congo, em julho de 1960. Abaixo, direita: o coronel J. D. Mobutu,
chefe do exrcito congols, em setembro de
1960............................ 1067 Figura 29.4 A Arglia (segundo
E. K.
Kouassi).................................................................
1073 Figura 29.5 senegals AmadouMahtar MBow, diretorgeral da UNESCO
de O 1974 a
1987....................................................................................................
1087 Figura 29.6 O sistema das Naes
Unidas.........................................................................
1091 Sam Nujoma, primeiro presidente da Nambia, e Javier Prez de
Cullar, Figura 29.7 secretriogeral das Naes Unidas, quando da
proclamao da independncia da Nambia, em 21 de maro de
1990............................................................
1093 Figura 30.1 esquerda: a liberiana Angie Brooks, presidente da
Assembleia Geral das Naes Unidas em 19691970. direita: a princesa
Elizabeth Bagaya, ministra das relaes exteriores de Uganda, fazendo
uso da palavra perante a Assembleia Geral das Naes Unidas, em
setembro de 1974......................... 1108 Figura 30.2
esquerda: a egpcia Jehan alSdt, eminncia na luta pelos direitos da
mulher. direita: a sulafricana Winnie Mandela, militante do
movimento contra o apartheid, em Joanesburgo, no ms de outubro de
1985................... 1111 Figura 30.3 O reator nuclear Triga
(exZaire e atual R. D. do Congo, 1965).................... 1115
Figura 30.4 A desertificao do
Sahel................................................................................
1120 Figura 30.5 O desmatamento da
frica.............................................................................
1121
19. Prefcio por M. Amadou - Mahtar MBow, Diretor Geral da
UNESCO (1974-1987) Durante muito tempo, mitos e preconceitos de
toda espcie esconderam do mundo a real histria da frica. As
sociedades africanas passavam por sociedades que no podiam ter
histria. Apesar de importantes trabalhos efetuados desde as
primeiras dcadas do sculo XX por pioneiros como Leo Frobenius,
Maurice Delafosse e Arturo Labriola, um grande nmero de
especialistas noafricanos, ligados a certos postulados, sustentavam
que essas sociedades no podiam ser objeto de um estudo cientfico,
notadamente por falta de fontes e documentos escritos. Se a Ilada e
a Odisseia podiam ser devidamente consideradas como fontes
essenciais da histria da Grcia antiga, em contrapartida, negava-se
todo valor tradio oral africana, essa memria dos povos que fornece,
em suas vidas, a trama de tantos acontecimentos marcantes. Ao
escrever a histria de grande parte da frica, recorria-se somente a
fontes externas frica, oferecendo uma viso no do que poderia ser o
percurso dos povos africanos, mas daquilo que se pensava que ele
deveria ser. Tomando freqentemente a Idade Mdia europia como ponto
de referncia, os modos de produo, as relaes sociais tanto quanto as
instituies polticas no eram percebidos seno em referncia ao passado
da Europa. Com efeito, havia uma recusa a considerar o povo
africano como o criador de culturas originais que floresceram e se
perpetuaram, atravs dos sculos, por
20. XX frica desde 1935 vias que lhes so prprias e que o
historiador s pode apreender renunciando a certos preconceitos e
renovando seu mtodo. Da mesma forma, o continente africano quase
nunca era considerado como uma entidade histrica. Em contrrio,
enfatizava-se tudo o que pudesse reforar a idia de uma ciso que
teria existido, desde sempre, entre uma frica branca e uma frica
negra que se ignoravam reciprocamente. Apresentava-se
frequentemente o Saara como um espao impenetrvel que tornaria
impossveis misturas entre etnias e povos, bem como trocas de bens,
crenas, hbitos e idias entre as sociedades constitudas de um lado e
de outro do deserto. Traavam-se fronteiras intransponveis entre as
civilizaes do antigo Egito e da Nbia e aquelas dos povos
subsaarianos. Certamente, a histria da frica norte-saariana esteve
antes ligada quela da bacia mediterrnea, muito mais que a histria
da frica subsaariana mas, nos dias atuais, amplamente reconhecido
que as civilizaes do continente africano, pela sua variedade
lingstica e cultural, formam em graus variados as vertentes
histricas de um conjunto de povos e sociedades, unidos por laos
seculares. Um outro fenmeno que grandes danos causou ao estudo
objetivo do passado africano foi o aparecimento, com o trfico
negreiro e a colonizao, de esteretipos raciais criadores de
desprezo e incompreenso, to profundamente consolidados que
corromperam inclusive os prprios conceitos da historiografia. Desde
que foram empregadas as noes de brancos e negros, para nomear
genericamente os colonizadores, considerados superiores, e os
colonizados, os africanos foram levados a lutar contra uma dupla
servido, econmica e psicolgica. Marcado pela pigmentao de sua pele,
transformado em uma mercadoria, entre outras, e condenado ao
trabalho forado, o africano passou a simbolizar, na conscincia de
seus dominadores, uma essncia racial imaginria e ilusoriamente
inferior quela do negro. Este processo de falsa identificao
depreciou a histria dos povos africanos, no esprito de muitos,
rebaixando-a a uma etno-histria em cuja apreciao das realidades
histricas e culturais no podia ser seno falseada. A situao evoluiu
muito desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em particular, desde
que os pases da frica, tendo alcanado sua independncia, comearam a
participar ativamente da vida da comunidade internacional e dos
intercmbios a ela inerentes. Historiadores, em nmero crescente,
esforaramse em abordar o estudo da frica com mais rigor,
objetividade e abertura de esprito, empregando obviamente com as
devidas precaues fontes africanas originais. No exerccio de seu
direito iniciativa histrica, os prprios africanos sentiram
profundamente a necessidade de restabelecer, em bases slidas, a
historicidade de suas sociedades.
21. Prefcio XXI nesse contexto que emerge a importncia da
Histria Geral da frica, em oito volumes, cuja publicao a Unesco
comeou. Os especialistas de numerosos pases que se empenharam nessa
obra, preocuparam-se, primeiramente, em estabelecer-lhe os
fundamentos tericos e metodolgicos. Eles tiveram o cuidado em
questionar as simplificaes abusivas criadas por uma concepo linear
e limitativa da histria universal, bem como em restabelecer a
verdade dos fatos sempre que necessrio e possvel. Eles esforaram-se
para extrair os dados histricos que permitissem melhor acompanhar a
evoluo dos diferentes povos africanos em sua especificidade
sociocultural. Nessa tarefa imensa, complexa e rdua em vista da
diversidade de fontes e da disperso dos documentos, a UNESCO
procedeu por etapas. A primeira fase (1965-1969) consistiu em
trabalhos de documentao e de planificao da obra. Atividades
operacionais foram conduzidas in loco, atravs de pesquisas de
campo: campanhas de coleta da tradio oral, criao de centros
regionais de documentao para a tradio oral, coleta de manuscritos
inditos em rabe e ajami (lnguas africanas escritas em caracteres
rabes), compilao de inventrios de arquivos e preparao de um Guia
das fontes da histria da frica, publicado posteriormente, em nove
volumes, a partir dos arquivos e bibliotecas dos pases da Europa.
Por outro lado, foram organizados encontros, entre especialistas
africanos e de outros continentes, durante os quais discutiu-se
questes metodolgicas e traou-se as grandes linhas do projeto, aps
atencioso exame das fontes disponveis. Uma segunda etapa (1969 a
1971) foi consagrada ao detalhamento e articulao do conjunto da
obra. Durante esse perodo, realizaram-se reunies internacionais de
especialistas em Paris (1969) e Addis-Abeba (1970), com o propsito
de examinar e detalhar os problemas relativos redao e publicao da
obra: apresentao em oito volumes, edio principal em ingls, francs e
rabe, assim como tradues para lnguas africanas, tais como o
kiswahili, o hawsa, o peul, o yoruba ou o lingala. Igualmente esto
previstas tradues para o alemo, russo, portugus, espanhol e chins1,
alm de edies resumidas, destinadas a um pblico mais amplo, tanto
africano quanto internacional. A terceira e ltima fase
constituiu-se na redao e na publicao do trabalho. Ela comeou pela
nomeao de um Comit Cientfico Internacional de trinta e 1 O volume I
foi publicado em ingls, rabe, chins, coreano, espanhol, francs,
hawsa, italiano, kiswahili, peul e portugus; o volume II em ingls,
rabe, chins, coreano, espanhol, francs, hawsa, italiano, kiswahili,
peul e portugus; o volume III em ingls, rabe, espanhol e francs; o
volume IV em ingls, rabe, chins, espanhol, francs e portugus; o
volume V em ingls e rabe; o volume VI em ingls, rabe e francs; o
volume VII em ingls, rabe, chins, espanhol, francs e portugus; o
VIII em ingls e francs.
22. XXII frica desde 1935 nove membros, composto por africanos
e no-africanos, na respectiva proporo de dois teros e um tero, a
quem incumbiu-se a responsabilidade intelectual pela obra.
Interdisciplinar, o mtodo seguido caracterizou-se tanto pela
pluralidade de abordagens tericas quanto de fontes. Dentre essas
ltimas, preciso citar primeiramente a arqueologia, detentora de
grande parte das chaves da histria das culturas e das civilizaes
africanas. Graas a ela, admite-se, nos dias atuais, reconhecer que
a frica foi, com toda probabilidade, o bero da humanidade, palco de
uma das primeiras revolues tecnolgicas da histria, ocorrida no
perodo Neoltico. A arqueologia igualmente mostrou que, na frica,
especificamente no Egito, desenvolveu-se uma das antigas civilizaes
mais brilhantes do mundo. Outra fonte digna de nota a tradio oral
que, at recentemente desconhecida, aparece hoje como uma preciosa
fonte para a reconstituio da histria da frica, permitindo seguir o
percurso de seus diferentes povos no tempo e no espao, compreender,
a partir de seu interior, a viso africana do mundo, e apreender os
traos originais dos valores que fundam as culturas e as instituies
do continente. Saber-se- reconhecer o mrito do Comit Cientfico
Internacional encarregado dessa Histria geral da frica, de seu
relator, bem como de seus coordenadores e autores dos diferentes
volumes e captulos, por terem lanado uma luz original sobre o
passado da frica, abraado em sua totalidade, evitando todo
dogmatismo no estudo de questes essenciais, tais como: o trfico
negreiro, essa sangria sem fim, responsvel por umas das deportaes
mais cruis da histria dos povos e que despojou o continente de uma
parte de suas foras vivas, no momento em que esse ltimo
desempenhava um papel determinante no progresso econmico e
comercial da Europa; a colonizao, com todas suas conseqncias nos
mbitos demogrfico, econmico, psicolgico e cultural; as relaes entre
a frica ao sul do Saara e o mundo rabe; o processo de descolonizao
e de construo nacional, mobilizador da razo e da paixo de pessoas
ainda vivas e muitas vezes em plena atividade. Todas essas questes
foram abordadas com grande preocupao quanto honestidade e ao rigor
cientfico, o que constitui um mrito no desprezvel da presente obra.
Ao fazer o balano de nossos conhecimentos sobre a frica, propondo
diversas perspectivas sobre as culturas africanas e oferecendo uma
nova leitura da histria, a Histria geral da frica tem a indiscutvel
vantagem de destacar tanto as luzes quanto as sombras, sem
dissimular as divergncias de opinio entre os estudiosos. Ao
demonstrar a insuficincia dos enfoques metodolgicas amide
utilizados na pesquisa sobre a frica, essa nova publicao convida
renovao e ao
23. Prefcio XXIII aprofundamento de uma dupla problemtica, da
historiografia e da identidade cultural, unidas por laos de
reciprocidade. Ela inaugura a via, como todo trabalho histrico de
valor, a mltiplas novas pesquisas. assim que, em estreita colaborao
com a UNESCO, o Comit Cientfico Internacional decidiu empreender
estudos complementares com o intuito de aprofundar algumas questes
que permitiro uma viso mais clara sobre certos aspectos do passado
da frica. Esses trabalhos publicados na coleo da UNESCO, Histria
geral da frica: estudos e documentos, viro a constituir, de modo
til, um suplemento presente obra2. Igualmente, tal esforo
desdobrar-se- na elaborao de publicaes versando sobre a histria
nacional ou sub-regional. Essa Histria geral da frica coloca
simultaneamente em foco a unidade histrica da frica e suas relaes
com os outros continentes, especialmente com as Amricas e o Caribe.
Por muito tempo, as expresses da criatividade dos afrodescendentes
nas Amricas haviam sido isoladas por certos historiadores em um
agregado heterclito de africanismos; essa viso, obviamente, no
corresponde quela dos autores da presente obra. Aqui, a resistncia
dos escravos deportados para a Amrica, o fato tocante ao marronage
[fuga ou clandestinidade] poltico e cultural, a participao
constante e massiva dos afrodescendentes nas lutas da primeira
independncia americana, bem como nos movimentos nacionais de
libertao, esses fatos so justamente apreciados pelo que eles
realmente foram: vigorosas afirmaes de identidade que contriburam
para forjar o conceito universal de humanidade. hoje evidente que a
herana africana marcou, mais ou menos segundo as regies, as
maneiras de sentir, pensar, sonhar e agir de certas naes do
hemisfrio ocidental. Do sul dos Estados-Unidos ao norte do Brasil,
passando pelo Caribe e pela costa do Pacfico, as contribuies
culturais herdadas da frica so visveis por toda parte; em certos
casos, inclusive, elas constituem os fundamentos essenciais da
identidade cultural de alguns dos elementos mais importantes da
populao. 2 Doze nmeros dessa srie foram publicados; eles tratam
respectivamente sobre: no 1 O povoamento do Egito antigo e a
decodificao da escrita merotica; no 2 O trfico negreiro do sculo XV
ao sculo XIX; no 3 Relaes histricas atravs do Oceano ndico; no 4 A
historiografia da frica Meridional; no 5 A descolonizao da frica:
frica Meridional e Chifre da frica [Nordeste da frica]; no 6
Etnonmias e toponmias; no 7 As relaes histricas e socioculturais
entre a frica e o mundo rabe; no 8 A metodologia da histria da
frica contempornea; no 9 O processo de educao e a historiografia na
frica; no 10 A frica e a Segunda Guerra Mundial; no 11 Lbya
Antiqua; no 12 O papel dos movimentos estudantis africanos na
evoluo poltica e social da frica de 1900 a 1975.
24. XXIV frica desde 1935 Igualmente, essa obra faz aparecerem
nitidamente as relaes da frica com o sul da sia atravs do Oceano
ndico, alm de evidenciar as contribuies africanas junto a outras
civilizaes em seu jogo de trocas mtuas. Estou convencido que os
esforos dos povos da frica para conquistar ou reforar sua
independncia, assegurar seu desenvolvimento e consolidar suas
especificidades culturais devem enraizar-se em uma conscincia
histrica renovada, intensamente vivida e assumida de gerao em
gerao. Minha formao pessoal, a experincia adquirida como professor
e, desde os primrdios da independncia, como presidente da primeira
comisso criada com vistas reforma dos programas de ensino de
histria e de geografia de certos pases da frica Ocidental e
Central, ensinaram-me o quanto era necessrio, para a educao da
juventude e para a informao do pblico, uma obra de histria
elaborada por pesquisadores que conhecessem desde o seu interior os
problemas e as esperanas da frica, pensadores capazes de considerar
o continente em sua totalidade. Por todas essas razes, a UNESCO
zelar para que essa Histria Geral da frica seja amplamente
difundida, em numerosos idiomas, e constitua base da elaborao de
livros infantis, manuais escolares e emisses televisivas ou
radiofnicas. Dessa forma, jovens, escolares, estudantes e adultos,
da frica e de outras partes, podero ter uma melhor viso do passado
do continente africano e dos fatores que o explicam, alm de lhes
oferecer uma compreenso mais precisa acerca de seu patrimnio
cultural e de sua contribuio ao progresso geral da humanidade. Essa
obra deveria ento contribuir para favorecer a cooperao
internacional e reforar a solidariedade entre os povos em suas
aspiraes por justia, progresso e paz. Pelo menos, esse o voto que
manifesto muito sinceramente. Resta-me ainda expressar minha
profunda gratido aos membros do Comit Cientfico Internacional, ao
redator, aos coordenadores dos diferentes volumes, aos autores e a
todos aqueles que colaboraram para a realizao desta prodigiosa
empreitada. O trabalho por eles efetuado e a contribuio por eles
trazida mostram com clareza o quanto homens vindos de diversos
horizontes, conquanto animados por uma mesma vontade e igual
entusiasmo a servio da verdade de todos os homens, podem fazer, no
quadro internacional oferecido pela UNESCO, para lograr xito em um
projeto de tamanho valor cientfico e cultural. Meu reconhecimento
igualmente estende-se s organizaes e aos governos que, graas a suas
generosas doaes, permitiram UNESCO publicar essa obra em diferentes
lnguas e assegurar-lhe a difuso universal que ela merece, em prol
da comunidade internacional em sua totalidade.
25. Apresentao do Projeto XXV Apresentao do Projeto pelo
Professor Bethwell Allan Ogot* Presidente do Comit Cientfico
Internacional para a redao de uma Histria Geral da frica A
Conferncia Geral da UNESCO, em sua dcima sexta sesso, solicitou ao
Diretor-geral que empreendesse a redao de uma Histria Geral da
frica. Esse considervel trabalho foi confiado a um Comit Cientfico
Internacional criado pelo Conselho Executivo em 1970. Segundo os
termos dos estatutos adotados pelo Conselho Executivo da UNESCO, em
1971, esse Comit compe-se de trinta e nove membros responsveis
(dentre os quais dois teros africanos e um tero de no-africanos),
nomeados pelo Diretor-geral da UNESCO por um perodo correspondente
durao do mandato do Comit. A primeira tarefa do Comit consistiu em
definir as principais caractersticas da obra. Ele definiu-as em sua
primeira sesso, nos seguintes termos: Em que pese visar a maior
qualidade cientfica possvel, a Histria Geral da frica no busca a
exausto e se pretende uma obra de sntese que evitar o dogmatismo.
Sob muitos aspectos, ela constitui uma exposio dos problemas
indicadores do atual estdio dos conhecimentos e das grandes
correntes de pensamento e pesquisa, no hesitando em assinalar, *
Durante a XVI sesso plenria do Comit Cientfico Internacional para a
redao de uma Histria Geral da frica (Brazaville, agosto de 1983),
procedeu-se eleio do novo Bureau e o professor Ogot foi substitudo
pelo professor Alberto Adu Boahan.
26. XXVI frica desde 1935 em tais circunstncias, as divergncias
de opinio. Ela assim preparar o caminho para posteriores publicaes.
A frica aqui considerada como um todo. O objetivo mostrar as relaes
histricas entre as diferentes partes do continente, muito amide
subdividido, nas obras publicadas at o momento. Os laos histricos
da frica com os outros continentes recebem a ateno merecida e so
analisados sob o ngulo dos intercmbios mtuos e das influncias
multilaterais, de forma a fazer ressurgir, oportunamente, a
contribuio da frica para o desenvolvimento da humanidade. A Histria
Geral da frica consiste, antes de tudo, em uma histria das idias e
das civilizaes, das sociedades e das instituies. Ela fundamenta-se
sobre uma grande diversidade de fontes, aqui compreendidas a tradio
oral e a expresso artstica. A Histria Geral da frica aqui
essencialmente examinada de seu interior. Obra erudita, ela tambm ,
em larga medida, o fiel reflexo da maneira atravs da qual os
autores africanos vem sua prpria civilizao. Embora elaborada em
mbito internacional e recorrendo a todos os dados cientficos
atuais, a Histria ser igualmente um elemento capital para o
reconhecimento do patrimnio cultural africano, evidenciando os
fatores que contribuem unidade do continente. Essa vontade em
examinar os fatos de seu interior constitui o ineditismo da obra e
poder, alm de suas qualidades cientficas, conferir-lhe um grande
valor de atualidade. Ao evidenciar a verdadeira face da frica, a
Histria poderia, em uma poca dominada por rivalidades econmicas e
tcnicas, propor uma concepo particular dos valores humanos. O Comit
decidiu apresentar a obra, dedicada ao estudo sobre mais de 3
milhes de anos de histria da frica, em oito volumes, cada qual
compreendendo aproximadamente oitocentas pginas de texto com
ilustraes (fotos, mapas e desenhos tracejados). Para cada volume
designou-se um coordenador principal, assistido, quando necessrio,
por um ou dois co-diretores assistentes. Os coordenadores dos
volumes so escolhidos, tanto entre os membros do Comit quanto fora
dele, em meio a especialistas externos ao organismo, todos eleitos
por esse ltimo, pela maioria de dois teros. Eles encarregam-se da
elaborao dos volumes, em conformidade com as decises e segundo os
planos decididos pelo Comit. So eles os responsveis, no plano
cientfico, perante o Comit ou, entre duas sesses do Comit, perante
o Conselho Executivo,
27. Apresentao do Projeto XXVII pelo contedo dos volumes, pela
redao final dos textos ou ilustraes e, de uma maneira geral, por
todos os aspectos cientficos e tcnicos da Histria. o Conselho
Executivo quem aprova, em ltima instncia, o original definitivo.
Uma vez considerado pronto para a edio, o texto remetido ao
Diretor-Geral da UNESCO. A direo da obra cabe, dessa forma, ao
Comit ou ao Conselho Executivo, nesse caso responsvel no nterim
entre duas sesses do Comit. Cada volume compreende por volta de 30
captulos. Cada qual redigido por um autor principal, assistido por
um ou dois colaboradores, caso necessrio. Os autores so escolhidos
pelo Comit em funo de seu curriculum vitae. A preferncia concedida
aos autores africanos, sob reserva de sua adequao aos ttulos
requeridos. Alm disso, o Comit zela, tanto quanto possvel, para que
todas as regies da frica, bem como outras regies que tenham mantido
relaes histricas ou culturais com o continente, estejam de forma
equitativa representadas no quadro dos autores. Aps aprovao pelo
coordenador do volume, os textos dos diferentes captulos so
enviados a todos os membros do Comit para submisso sua crtica.
Ademais e finalmente, o texto do coordenador do volume submetido ao
exame de um comit de leitura, designado no seio do Comit Cientfico
Internacional, em funo de suas competncias; cabe a esse comit
realizar uma profunda anlise tanto do contedo quanto da forma dos
captulos. Ao Conselho Executivo cabe aprovar, em ltima instncia, os
originais. Tal procedimento, aparentemente longo e complexo,
revelou-se necessrio, pois permite assegurar o mximo de rigor
cientfico Histria Geral da frica. Com efeito, houve ocasies nas
quais o Conselho Executivo rejeitou originais, solicitou
reestruturaes importantes ou, inclusive, confiou a redao de um
captulo a um novo autor. Eventualmente, especialistas de uma questo
ou perodo especficos da histria foram consultados para a finalizao
definitiva de um volume. Primeiramente, uma edio principal da obra
em ingls, francs e rabe ser publicada, posteriormente haver uma
edio em forma de brochura, nesses mesmos idiomas. Uma verso
resumida em ingls e francs servir como base para a traduo em lnguas
africanas. O Comit Cientfico Internacional determinou quais os
idiomas africanos para os quais sero realizadas as primeiras
tradues: o kiswahili e o haussa. Tanto quanto possvel, pretende-se
igualmente assegurar a publicao da Histria Geral da frica em vrios
idiomas de grande difuso internacional
28. XXVIII frica desde 1935 (dentre os quais, entre outros:
alemo, chins, italiano, japons, portugus, russo, etc.). Trata-se,
portanto, como se pode constatar, de uma empreitada gigantesca que
constitui um ingente desafio para os historiadores da frica e para
a comunidade cientfica em geral, bem como para a UNESCO que lhe
oferece sua chancela. Com efeito, pode-se facilmente imaginar a
complexidade de uma tarefa tal qual a redao de uma histria da frica
que cobre no espao, todo um continente e, no tempo, os quatro
ltimos milhes de anos, respeitando, todavia, as mais elevadas
normas cientficas e convocando, como necessrio, estudiosos
pertencentes a todo um leque de pases, culturas, ideologias e
tradies histricas. Trata-se de um empreendimento continental,
internacional e interdisciplinar, de grande envergadura. Em
concluso, obrigo-me a sublinhar a importncia dessa obra para a
frica e para todo o mundo. No momento em que os povos da frica
lutam para se unir e para, em conjunto, melhor forjar seus
respectivos destinos, um conhecimento adequado sobre o passado da
frica, uma tomada de conscincia no tocante aos elos que unem os
Africanos entre si e a frica aos demais continentes, tudo isso
deveria facilitar, em grande medida, a compreenso mtua entre os
povos da Terra e, alm disso, propiciar sobretudo o conhecimento de
um patrimnio cultural cuja riqueza consiste em um bem de toda a
Humanidade. Bethwell Allan Ogot Em 8 de agosto de 1979 Presidente
do Comit Cientfico Internacional para a redao de uma Histria Geral
da frica
29. 1 Introduo CAPTULO 1 Introduo Ali A. Mazrui As exigncias da
anlise desenvolvida no presente volume conduziram a aqui subdividir
a histria da frica em trs domnios: cultural, econmico e poltico.
Empregamos a palavra cultural no em sentido estrito, que evoca a
experincia artstica, mas em sua acepo mais ampla, voltada aos
valores e s tradies. Definimos o domnio econmico como aquele que se
refere produo africana e distribuio de bens, mas tambm aquele dos
modos de consumo africanos e das modalidades de troca relativas1 a
esses ltimos. Por fim, definimos a experincia poltica da frica do
ponto de vista dos desafios do poder e da autoridade, como tambm do
ponto de vista das regras da participao na gesto dos assuntos
pblicos. No plano cultural, os temas abordados abarcam todo o
horizonte compreendido entre a religio e a literatura. Em matria
econmica, ns tratamos nesse volume, tanto o abastecimento de gua
nos campos quanto a busca de uma nova ordem econmica mundial.
Finalmente, os temas polticos englobam tpicos to diversos quanto as
lutas de libertao na frica Meridional, as revolues sociais em pases
tais como a Ruanda e a Etipia, a construo da nao na Tanznia ou os
valores polticos no Magreb. 1 No que se refere aos debates
econmicos, consultar especialmente os documentos do Banco Mundial,
1989a, e da ONU, Comisso Econmica para a frica, 1989.
30. 2 frica desde 1935 Por que escolhemos 1935 como ponto de
partida para o perodo estudado nesse volume? Porque a Segunda
Guerra Mundial, para a frica, comeou nesse ano. imagem da China,
para a qual o conflito no teve incio com a invaso da Polnia pela
Alemanha em 1939, mas somente na ocasio da invaso de seu territrio
pelo Japo em 1937, a frica viu efetivamente abriremse as
hostilidades em outubro de 1935, no momento da invaso da Etipia
pelas tropas de Mussolini. Toda uma sesso do volume consagrada a
esta dcada do conflito internacional (19351945) e ns igualmente
abordamos a Segunda Guerra Mundial em captulos ulteriores.
Retomaremos mais adiante, na presente introduo, esse tema ligado ao
conflito mundial em suas relaes com a crise dos anos 30. Os
valores, a produo e o poder No domnio cultural, esse perodo da
histria da frica corresponde a uma importante fase de africanizao
das religies vindas de fora, cristianismo e islamismo. Igrejas
crists independentes fizeram sua apario, afirmando sua identidade
com maior autoconfiana, particularmente na frica Central e
Meridional. Quanto ao islamismo, por exemplo, no Senegal,
experimentou uma africanizao mais profunda, sob influncia de
movimentos tais como a confraria moura de Amadou Bamba. No domnio
lingustico, a frica, como veremos, deve considerar o papel das
lnguas europeias importadas e a utilizao do alfabeto latino no
processo de codificao das lnguas nacionais. Fato curioso, no
decorrer do perodo aqui abordado, o continente no conheceu no plano
lingustico um nacionalismo militante comparvel quele manifesto no
plano poltico. Os africanos sentem se menos frustrados pela
preponderncia das lnguas da Europa do que pela supremacia poltica
dela. Com efeito, se fizermos exceo da Etipia, da Somlia, da
Tanznia e da frica de lngua rabe, a ressonncia emocional do
nacionalismo lingustico apresentase bem mais reduzida na frica,
comparativamente ao ocorrido na sia pscolonial. Como assinalaremos
mais adiante no presente volume, a frica demonstra maior disposio
em acomodarse dependncia lingustica do que ela parece estar pronta
a admitir o neocolonialismo poltico. Por outro lado, ainda que
expressos muitas vezes em lngua estrangeira, a literatura e o
teatro africanos so indissoluvelmente solidrios com a poltica de
libertao. No curso desse perodo, o teatro da libertao apresenta
incontestavelmente maior engajamento que o teatro do
desenvolvimento. O tema da
31. Introduo 3 libertao impregnou especialmente o teatro
sulafricano, como veremos na sequncia desse volume. Peas como Sizwe
Banzi is dead, de Athol Fugard, John Kani e Winston Ntshona, ou
Survival, fruto do Workshop 71, abriram o caminho a toda uma nova
gerao do teatro da libertao. At mesmo Ngahiika Ndenda [Eu me
casarei quando quiser], pea populista de Ngugi wa Thiongo, trata
uma temtica que poderamos considerar antes ligada libertao que ao
desenvolvimento, neste caso, a libertao relativa opresso de classe
(negros contra negros) e no aquela concernente opresso racial como
na frica do Sul (brancos contra negros). Em termos gerais,
dependncia lingustica e nacionalismo literrio manifestamse
simultaneamente no transcorrer desse perodo na frica. Mas, quando
lnguas estrangeiras so empregadas, isso acontece para expressar uma
identidade literria deliberadamente africana, dessa forma, no Qunia
por exemplo, um autor como Ngugi wa Thiongo busca fundir
nacionalismo lingustico e independncia literria: sua pea, Ngahiika
Ndenda, escrita em lngua Kikuyu est voltada contra o poder africano
negro da poca pscolonial de seu pas. Paralelamente a essa tentativa
em combinar nacionalismo literrio e nacionalismo lingustico, Julius
K. Nyerere, na Tanznia, tenta, por sua vez, combinar nacionalismo
lingustico e dependncia literria. Sua traduo em kiswahili do Jlio
Csar de Shakespeare parece, primeira vista, ir de encontro
libertao. Mas o que fez ele seno pedir ao kiswahili para carregar o
peso da cultura mundial, sem no entanto recuar ante a grandeza de
Shakespeare? Em certo sentido, Nyerere dava assim um golpe em
benefcio do desenvolvimento, lingustico, neste caso. Se no plano
literrio, preocuparse com Shakespeare correspondia, aparentemente,
a virar as costas libertao, traduzir um gnio ocidental para uma
lngua africana pode ser considerado uma afirmao do desenvolvimento.
A traduo por Nyerere do Mercador de Veneza pode igualmente
assemelhar se a algo que caminha em sentido contrrio libertao. Mas,
ela pertence, sua maneira, ao teatro do desenvolvimento, por duas
razes. Primeiramente, a empreitada equivalia a promover a lngua
nacional da Tanznia condio de lngua internacional. Em segundo
lugar, a escolha do Mercador de Veneza inscreviase no quadro do
esforo pela educao econmica da Tanznia, dirigido contra a explorao.
A viso toda de Nyerere em seu Ujamaa consistia em uma luta contra
os Shylock desse mundo (mais pagos que judeus). A maneira como ele
traduziu o ttulo da pea acomodava esse sentimento: O(s)
Capitalista(s) de Veneza (Mabepari wa Vanisi). Ns retomaremos, nos
captulos posteriores, o simbolismo do Mwalimu e do Bard na cultura
pscolonial.
32. 4 frica desde 1935 Em relao ao domnio econmico, este volume
aborda, ao mesmo tempo, os problemas relativos pobreza e ao
subdesenvolvimento, tanto em nvel mundial quanto no plano local, ou
da microssociedade, pois, se no Ocidente a concorrncia equivale ao
enfrentamento de capitalistas no campo do mercado de aes, na frica,
situase s vezes no nvel da pobreza. Esperamos poder lanar uma luz,
nos captulos seguintes, sobre o contexto global do
subdesenvolvimento e da misria que castigam o continente2. Podemos
questionar, com relao aos anos 90, se os tempos mais difceis para a
frica j se encontram em seu passado. Os dados disponveis, se no
trazem uma resposta definitiva, permitem, entretanto, pensar sobre
o fato da mortalidade infantil j ter baixado no continente, desde
ento, de 40% para 24%. Igualmente, tudo indica que a esperana de
vida, outrora da ordem de 40 anos, esteja em vias de aproximarse
dos 50 anos. No que concerne a produo de vveres, aparentemente ela
teria aumentado cerca de 3% em 1986. Essa evoluo significa que,
pela primeira vez em quinze anos, a produo de gneros alimentcios
aumentou mais que a populao. Pudemos tambm observar, em meados dos
anos 80, uma mudana no comportamento dos camponeses africanos,
desde logo atentos s polticas adotadas pelos governos no sentido de
melhorar os rendimentos da agricultura. Os captulos consagrados
economia permitiro um tratamento do contexto em que se inscrevem
esses problemas3. Quanto ao aspecto poltico da histria da frica,
durante o perodo considerado, os principais processos estudados
nesse volume so a libertao, a formao do Estado e a edificao da nao.
Aps os captulos que tratam da libertao em relao ao regime colonial
europeu propriamente dito, mais particularmente ao longo do perodo
que vai at os anos 60, ser abordada a poca em que a frica lutou
contra governos dominados por minorias brancas, como no Zimbbue.
Certamente, sero tratadas igualmente nesse volume questes relativas
s lutas que se desenvolveram nas colnias africanas, consideradas
pela Europa como partes integrantes da metrpole (tal o caso da
Arglia e das colnias portuguesas). Finalmente, analisaremos o
esforo levado a cabo pela frica na poca pscolonial visando superar
as relaes de dependncia ainda subsistentes 2 3 Consultar J.
RAVENHILL, 1986. Eu agradeo tambm Wanjiku Kironjo (Qunia) por sua
estimulante contribuio. C. BASSET, 1987.
33. 5 Introduo Argel Tnger Casablanca Bizerta Tnis MA R M Sfax
EDIT ERRNEO Trpoli Kenitra MARROCOS O O Benghazi Kafr al-Dawar
Canal de Suez Alexandria Cairo TRIPOLITNIA ARGLIA CIRENICA LBIA
FEZZAN MA RI DE U RO TUNSIA EGITO R R A F R I C A O C I D E N TA L
F R A N C E S A Dar es-Salaam RODSIA DO NORTE Lusaka Gr-Bretanha
(Dominada pela UNIO SUL-AFRICANA) BECHUANALNDIA Gaborone TRANSVAAL
Joanesburgo UNIO SUL-AFRICANA PROVNCIA DO CABO Itlia NA LIA UE IQ
MB RODSIA DO SUL MO Vinduque Zomba A FRICA DO SUDOESTE Frana
Portugal Salisbria OCEANO NDICO COMORES (Frana) ) NIASSALNDIA
KATANGA SEICHELES (G.B.) ZANZIBAR (G.B.) SC Luanda ANGOLA Blgica
Nairbi TANGANYIKA Elisabethville Zonas sob domnio de ITA M SO CONGO
BELGA Lopoldville Brazzaville Mogadscio QUNIA RUANDA-URUNDI CONGO
MDIO FRANCS OCEANO ATLNTICO LI A SA CE AN FR UGANDA Campala na GABO
ETIPIA Bangui SOMLIA FRANCESA SOMLIA BRITNICA HAUD OGADNIA Wal-Wal
(Fra Libreville OUBANGUI-CHARI Jibuti Harar AR Yaound Adis-Abeba GA
FERNANDO POO (Esp.) RO PRNCIPE (Port.) MUNI SO TOM (Port.) IAL
CAMARES BRITNICO CAMARES FRANCS Adowa SUDO ANGLO-EGPCIO DA Abidjan
Porto Novo Ac Lom Lag os cr a A EQ U AT OR LIBRIA NIGRIA Fort Lamy
ERITRIA TIGR Cartum FRIC Monrvia CHADE Uagadugu COSTA DO MARFIM
SERRA LEOA Niamei D AO M GUIN FRANCESA GEZIRA NGER ALTO-VOLTA
Bamako MA SUDO FRANCS COSTA DO OURO TOGO BRITNICO TOGO Conakri
Freetown A HO SENEGAL GMBIA GUIN PORTUGUESA A EL S Saint-Louis RM
Dakar VE CABO VERDE (Port.) MAURITANIE Antananarivo MAURCIO (G.B.)
REUNIO (Frana) Loureno Marques SUAZILNDIA BASUTOLNDIA Cidade do
Cabo Cabo da Boa Esperana Espanha Estados Independentes 0 500 1 000
milhas 0 800 1 600 km figura 1.1 Mapa poltico da frica em 1935.
(Fonte: segundo J. Bartholomew, The citizens Atlas of the world,
Edimburgo, Batholomew and Son Ltd., 1935, pg. 122123.) Nota: entre
1932 e 1947, o AltoVolta encontravase dividido entre o Sudo francs,
a Costa do Marfim e a Nigria. Nessa poca, Ouagadougou no era a
capital.
34. 6 frica desde 1935 frente s antigas potncias coloniais: em
outros termos, o combate contra o neocolonialismo. Na fase
pscolonial, os processos de sucesso poltica no interior dos Estados
africanos revestemse de uma particular importncia. Observouse a
ocorrncia em alguns casos de sucesso pstuma natural, isto , sucesso
aps um falecimento natural. Dessa forma, Moi sucedeu Kenyatta e
Chadli Bendjedid sucedeu Boumediene. Sucesses tambm aconteceram aps
um assassinato, uma morte poltica ou um acidente duvidoso. Na
ocasio em que alHadji Shehu Shagari chegou ao poder em 1979, trs
dentre os seis chefes de governo na Nigria haviam sido mortos desde
a independncia, ou seja, uma taxa de regicdio de 50%. Entretanto,
desde Shagari, a taxa de regicdio baixou na Nigria, pois nenhum
presidente foi assassinado nesse pas nos anos 80. Os casos, porm,
de sucesso poltica resultantes de um golpe militar de Estado foram,
de longe, os mais frequentes. Acima de setenta golpes de Estado
ocorreram no continente desde a independncia, em sua maioria ao
norte da linha do equador. necessrio aqui acrescentar as sucesses
consecutivas a um golpe civil de Estado (um governo civil sucedendo
outro governo civil). Assim, na Uganda, Obote logrou uma revoluo
palaciana destituindo em 1966 o presidente, o rei Mutesa, e Lule
sucedeu Binaisa, em 1979, aps outro golpe civil de Estado. Certas
sucesses produziramse como consequncia de uma verdadeira guerra.
Assim se deu a ascenso ao poder de Lule, depois da guerra entre
Estados que ops Tanznia e Uganda, em 19781979. Sucesses tambm
ocorreram aps uma guerra civil: a tomada de poder pelas tropas de
Museveni, na Uganda, depois de Obote e Okello, apresentase como o
melhor exemplo. A insurreio popular igualmente desempenhou seu
papel nesses processos. O caso do Sudo excepcional a esse respeito.
Em 1964, uma insurreio conduzida por civis provocou nesse pas o
desmoronamento do regime militar do general Aboud e, em 1985, uma
insurreio democrtica de mesmo tipo l tambm derrubou o regime de
Nimayr, obrigando os militares a prometer o retorno democracia em
um prazo de um ano. A promessa foi cumprida, mas o governo civil no
durou. Casos de passagem voluntria de poder dos militares aos civis
tambm aconteceram: o general Obasanjo em 1979, na Nigria, e o
capito Jerry Rawlings, em Gana, demitiramse assim em favor de civis
(por pouco tempo nesse ltimo pas). Quanto sucesso assegurada por
eleies, a esse respeito, Maurice talvez constitua o nico exemplo na
frica. No decorrer do perodo da histria afri-
35. Introduo 7 cana aqui considerado, os casos de substituio de
um governo aps um fracasso eleitoral foram rarssimos. Os captulos
que tratam dessa questo, especialmente os captulos 15 e 16,
analisam alguns dos fatores que contribuem volatilidade das
instituies na frica pscolonial. No entanto, observaramse muitos
casos histricos de sucesso poltica advindos aps uma demisso ou uma
retirada voluntria. O exemplo mais ntido de retirada poltica
completa , at hoje, aquele do presidente do Senegal, Lopold Sdar
Senghor. Em 1985, Julius K. Nyerere, tambm ele, ofereceu o exemplo
de renncia ao mais alto posto de Estado; todavia, durante certo
tempo, ele no pde resolver abandonar seu papel no seio do partido
nacional, o Chama Cha Mapinduzi (CCM). Igualmente ambivalente foi a
retirada realizada de forma ostensiva por Ahmadou Ahidjo, alguns
anos antes, na Repblica Unida de Camares. Nos captulos relativos s
crises polticas da frica, esperamos mostrar que, no cerne dessas
crises, reside especialmente a questo de saber como dar s nossas
naes uma maior coeso cultural e como conferir aos nossos Estados
uma maior legitimidade poltica, bem como uma autoridade acrescida.
A frica do perodo aqui tratado aquela que recebeu em partilha:
fronteiras artificiais, exrcitos mal treinados e uma situao
econmica de extrema dependncia. Nos captulos consagrados poltica e
economia so examinadas algumas dentre as crises acima evocadas,
inclusive do ponto de vista das questes cruciais que os direitos
humanos engendram na frica pscolonial. Entretanto, dado o carter
particular do sculo XX, sculo em que, pela primeira vez no curso da
aventura humana, a economia e a poltica adquiriram uma dimenso
verdadeiramente global, universal, a histria da frica contempornea
no pode ser compreendida plenamente seno quando inserida no
contexto mais amplo da histria mundial. O que se extrai da histria
do perodo observado consiste, por um lado, na maneira pela qual a
frica ajudou a Europa a se reumanizar e, por outro lado, os meios
pelos quais a Europa contribuiu para a reafricanizao da frica. A
histria da descolonizao no sculo XX constituise num dos grandes
dramas da histria da humanidade, tomada em seu conjunto. Esse
processo colocou em jogo excepcionais contradies4. 4 Ns definimos a
descolonizao como o processo pelo qual o regime colonial atinge seu
fim, as instituies coloniais so desmanteladas e os valores, bem
como as modalidades coloniais, so abandonados. Teoricamente, a
iniciativa da descolonizao pode ser tomada, seja pela potncia
imperialista, seja pelo povo colonizado. Na realidade, a verdadeira
descolonizao geralmente imposta pela entrada dos oprimidos em
luta.
36. 8 frica desde 1935 Os anos decorridos desde 1935
constituem, em particular, um perodo da histria durante o qual o
mundo ocidental relembrou aos africanos, involuntariamente, a sua
identidade panafricana. Ns sabemos que a identidade nigeriana,
queniana ou marfinense no teria existido sem o colonialismo
europeu. A Europa , por conseguinte, a me ilegtima da conscincia
nacional dos nigerianos, quenianos e marfinenses; mas poderamos ns
igualmente dizer que o imperialismo ocidental o pai ilegtimo da
conscincia panafricana? Este volume tambm aborda o aparecimento
dessas novas identidades e dessas novas aspiraes junto aos povos
africanos. Se, na frica, a conscincia de classe resulta,
parcialmente, da intensificao do capitalismo, a intensificao do
imperialismo j suscitou em parte, nesse continente, uma conscincia
de raa. Da mesma forma que a explorao capitalista ajuda os
trabalhadores a melhor tomarem coletivamente conscincia de si
mesmos enquanto trabalhadores, igualmente, o imperialismo europeu
contribuiu, com o passar do tempo, a tornar os africanos
colonizados coletivamente mais conscientes de si mesmos, enquanto
povo colonizado. nesse sentido que o imperialismo europeu
contribuiu, por exemplo, para que o pas Kikuyu reconhecesse nos
yoruba como seus irmos africanos e contribuiu para que o povo da
Arglia reconhecesse os zulu como compatriotas, em escala
continental. claro que os africanos, em suas prprias sociedades e
subregies, no necessitaram de ajuda da Europa para conhecer e
experimentar, desde muito tempo, a dignidade de sua identidade
prpria de Kikuyu, de Amhara, de Yoruba, de Berberes, de Zulu ou de
rabes magrebinos. Contudo, quando em seu livro Filosofia da
Revoluo, Gamal Abd alNasser convocou os egpcios a se lembrarem que
eles no eram somente rabes e muulmanos mas, tambm, Africanos, se
referia explicitamente experincia de luta compartilhada por todo
continente contra uma dominao estrangeira. O imperialismo europeu
provocou o despertar de uma conscincia continental. A casa imperial
da Etipia foi relativamente lenta em reconhecer seu pas como pas
africano. Por muito tempo, os soberanos etopes preferiram
considerarse como pertencentes ao Oriente Mdio e no frica.
Entretanto, ocorre em 1935, ano de referncia inicial para o
presente volume, a humilhao e a ocupao da Etipia pela Itlia, ato de
consequncias particularmente dramticas. O restante da frica e todo
o mundo negro vibraram de dor pelos acontecimentos. As consequncias
desse evento sero estudadas em detalhe em vrios captulos.
Esqueceuse s vezes que, a partir de 1935, a Etipia descobriuse, ela
prpria, como realmente participante da condio africana. De um lado,
pelo ann-
37. Introduo 9 figura 1.2 Diante da Sociedade das Naes, o
imperador Hail Selassi elevase contra a agresso da Etipia pela
Itlia. (Fonte: Museu do Palcio das Naes, Genebra. Foto: L. Bianco.)
cio da nova invaso italiana, vemos Kwame Nkrumah, ainda jovem,
percorrendo a largos passos as ruas de Londres, sem poder reprimir
suas lgrimas de clera. A triste notcia tornouse, naquele dia, um
estmulo suplementar para a consolidao de uma identidade panafricana
junto ao jovem Nkrumah. Por outro lado, porm, o imperador Hal
Slassi mergulhou em uma experincia similar quela que havia sido
imposta a outros soberanos africanos, trinta ou cinquenta anos
antes: a ocupao direta de seu territrio e a submisso de seu povo
pelos europeus. O imperador foi tambm testemunha da amplitude do
apoio manifesto pelos africanos e negros ao seu povo e a ele
prprio, perante o desafio imposto pela Itlia. Assim nasceu uma nova
conscincia racial na casa real da Etipia, sob o efeito do choque
produzido pela descoberta de si mesma, enquanto dinastia africana
reinando sobre um povo africano. Em seguida, Hal Slassi iria
tornarse um dos pais fundadores do panafricanismo pscolonial e, sob
muitos aspectos, seu mais eminente representante. Assim, uma vez
mais, os excessos da Europa imperial prepararam o caminho a algo
diferentemente positivo, o esplendor de uma nova identidade
panafricana cresceu sobre a srdida misria do racismo europeu. Este
trata da transio decisiva entre a igno-
38. 10 frica desde 1935 mnia dos excessos dos europeus e o
esplendor da descoberta da frica por ela mesma. Mas qual foi o
efeito inverso, aquele que a frica produziu sobre o Ocidente? Ao
combater pela sua prpria independncia, a frica contribuiu tambm
para modificar o curso da histria europeia e, inclusive, mundial.
Evidentemente, o presente volume coloca nfase sobre os fatos
histricos que se produziram no interior do prprio continente mas,
tendo em vista que no decorrer desse perodo a frica foi incorporada
e participou mais estreitamente do que nunca do sistema mundial,
importante lembrar que ela no era simplesmente um contine