206
História do Brasil República MSc. Waldefrankly Rolim de Almeida Santos

História_do_Brasil_República PROF. WALDEFRANKLY

Embed Size (px)

Citation preview

  • Histria do Brasil RepblicaMSc. Waldefrankly Rolim de Almeida Santos

  • Copyright Universidade TiradentesAutor:MSc. Waldefrankly Rolim de Almeida SantosRevisor de Texto: 1 reviso: Ancjo Santana Resende 2 reviso: Alfredo Luiz Menezes Portugal Castro 3 reviso: Maria Amlia Faanha BergerCapa: Rebecca Wanderley Nepomuceno Agra SilvaFolha de Rosto:Walmir Oliveira Santos JniorIlustraes: Adelson Tavares de SantanaWalmir Oliveira Santos JniorWandeth Graziaany Soto Tello JaciukEditorao Eletrnica: Alexandre Meneses ChagasAncelmo Santana dos SantosAstolfo Marques Pinto Bandeira Claudivan da Silva SantanaEdivan Santos GuimaresRedao:Pr-Reitoria Adjunta de Ensino a Distncia Av. Murilo Dantas, 300 - Farolndia - Prdio da Reitoria - Sala 40 - CEP: 49.032-490 - Aracaju - SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: http://www.proead.unit.br

    Impresso:Grfi ca da Universidade TiradentesAv. Murilo Dantas, 300 - Farolndia - CEP: 49032-490 Aracaju - Sergipe - e-mail: grafi [email protected]

    S237h Santos, Waldefrankly Rolim de Almeida. Histria do Brasil Repblica./ Waldefrankly Rolim de Almeida

    Santos. - Aracaju : UNIT, 2008.

    p. : il.

    Inclui bibliografi a

    1. Histria do Brasil. 2. Brasil repblica. I. Universidade Ti-radentes (UNIT). Pr-Reitoria Adjunta de Ensino a Distncia. II. Ttulo.

  • Sumrio

    UNIDADE I - Primeira Repblica e Era Vargas da Construo da Ordem (re)defi nio de Repblica (1889-1945) .............................................11

    TEMA I - As Repblicas...............................................................13

    Deodoro da fonseca e a repblica Militar ......................................................... 15

    Benjamin Constant - A Repblica Sociocrata ...................................................... 16

    Quintino Bocaiva - A Repblica Liberal ........................................................... 17

    Atividade 01 ............................................................................................. 18

    Os ventos da Proclamao ........................................................................... 19

    Atividade 02 ............................................................................................. 23

    TEMA II - Encilhamento ................................................................. 25

    Leitura Complementar ................................................................................. 28

    Atividade 03 ............................................................................................. 30

    TEMA III - Processo Poltico-Partidrio da Primeira Repblica ...................31

    Primeiros Passos ........................................................................................ 33

    Leitura Complementar ................................................................................. 34

    Atividade 04 ............................................................................................. 36

    Floriano e o Processo Poltico ......................................................................... 36

    Atividade 05 ............................................................................................. 38

    Prudente de Moraes e o processo poltico-partidrio ............................................. 38

    Leitura Complementar ................................................................................. 39

    Atividade 06 ............................................................................................. 43

    Campos Sales e a Poltica dos Governadores .................................................... 44

    Leitura Complementar ............................................................................... 45

    Leitura Complementar ................................................................................. 47

    Atividade 07 ............................................................................................. 49

  • A Poltica das Salvaes ............................................................................ 49

    Leitura Complementar ................................................................................. 52

    Leitura Complementar ................................................................................. 54

    Atividade 08 ............................................................................................. 56

    Reao Republicana ................................................................................. 57

    Atividade 09 ............................................................................................. 57

    TEMA IV - Os anos Vinte .............................................................. 59

    Leitura Complementar ................................................................................. 63

    Leitura Complementar ................................................................................. 65

    Atividade 10 ............................................................................................. 67

    TEMA V - Breve introduo a Era Vargas (1930-1945) ............................. 69 Aliana Liberal ............................................................................ 71

    Leitura Complementar ................................................................................. 73

    Atividade 11 ............................................................................................. 75

    Breve introduo a Revoluo de 1930-1945 ..................................... 75

    Leitura Complementar ................................................................................. 78

    Atividade 12 ............................................................................................ 80

    Leitura Complementar ................................................................................. 82

    LAMPIO: O REI DO CANGAO ........................................................................ 85

    Atividade 13 ............................................................................................. 87

    A Ditadura do Estado Novo ............................................................................ 88

    Leitura Complementar ................................................................................. 93

    Atividade 14 ............................................................................................. 95

    Atividade Geral ......................................................................................... 95

  • RESUMO DA UNIDADE I ................................................................... 97

    UNIDADE II - Do Perodo Democrtico redemocratizao (1945- 2001) .... 99

    TEMA VI - O Frgil Retorno Democracia - Populismo e Crise .................. 99

    O Frgil Retorno Democracia - Entre Dutra e JK ...............................................101

    Leitura Complementar ...............................................................................105

    Leitura Complementar II .............................................................................107

    Leitura Complementar III .............................................................................109

    Atividade 15 ............................................................................................111

    TEMA VII - O fi m da democracia populista...........................................113

    Governo Jnio Quadros ...............................................................................115

    O Governo Joo Goulart. .............................................................................118

    Leitura Complementar ...............................................................................123

    Leitura Complementar II .............................................................................124

    Leitura Complementar III .............................................................................126

    Atividade 16 ............................................................................................128

    TEMA VIII - Os governos militares: tenses e contradies ......................129

    O governo Castelo Branco ............................................................................131

    O Governo Costa e Silva ..............................................................................133

    Atividade 17 ............................................................................................135

    O Governo Mdici ......................................................................................135

    O Governo de Ernesto Geisel ........................................................................138

    O Governo de Joo Figueiredo .......................................................................139

    Leitura Complementar ................................................................................141

    Leitura Complementar II .............................................................................143

    Atividade 18 ............................................................................................146

  • TEMA IX - A Eleio de Tancredo Neves e a Nova Repblica no Brasil .........147

    Atividade 19 ............................................................................................151

    Atividade 20 ............................................................................................153

    Leitura Complementar ................................................................................155

    Leitura Complementar II .............................................................................164

    Atividade 21 ............................................................................................167

    Atividade Geral ........................................................................................169

    RESUMO DA UNIDADE II ..................................................................171

    GALERIA DOS PRESIDENTES ............................................................172

  • Apresentao da Disciplina

    Caro (a) aluno (a),

    Sob a gide da globalizao, o atual momento histrico mundial vem estabelecendo novas formas de perceber e analisar as histrias nacionais. A professora Circe Bittencourt (2004), renomada pesquisa-dora da rea de Histria da Educao, destacou que o ensino de Histria do Brasil est relacionado, de maneira inequvoca, formao da identidade nacional dos brasileiros. Atentos necessidade de evitar os erros que Bittencourt apontou como prprios ao ensino das disciplinas relacionadas a esse campo, priorizamos uma abordagem que ressalta a centralidade dos eventos histricos da Histria do Brasil Repblica, no os tornando apenas prolongamento da Histria Geral. Do mesmo modo, foi nossa preocupao no conferir exposio dos fatos e personagens um carter dogmtico e ideolgico, algo que se tornou marca negativa de vrias obras didticas, sobretudo durante os regimes ditatoriais no pas. Estaremos distantes do objetivo de colaborar com a construo de um nacionalismo patritico, lastreado no culto aos heris nacionais e aos principais eventos cvicos, ou mesmo, por outro lado, da negao da importncia da identidade nacional para a vida dos indivduos. Durante este mdulo, nosso compromisso ser contribuir para uma leitura crtica da histria, capaz de favorecer a voc, aluno (a), uma formao intelectual e humanstica adequada. Compreendemos que este o percurso mais coe-rente para fi rmar uma relao consciente entre um povo e sua nao. Assim, dividido basicamente em duas unidades, este mdulo expe, na forma de sntese, os principais aspectos referentes histria do Brasil Repblica. Na primeira unidade, pretendemos discutir a Primeira Repblica no Brasil, tambm defi nida como Repblica Velha, o processo poltico e alguns dos pontos que convergiram para confl itos armados. Em seguida Primeira Repblica nos dedicaremos em apresentar a Era Vargas (1930-1945) em um recorte que possibilite a compreenso de algumas caractersticas signifi cativas do perodo. Na unidade seguinte, centramos-nos na exposio dos principais elementos histricos que compuseram o Perodo Democrtico (1945-1964), a Ditadura Militar (1964-1985) e a Redemocratizao (1985-2001). Elencar os fatos mais expressivos desses perodos atravs do dilogo com diferentes autores uma boa oportunidade para entendermos porque a segunda metade do sculo XX no Brasil se constitui um palco de signifi cativas mudanas que encaminharam o pas pela trilha que atualmente pisamos e reconstruimos diariamente.

    Ementa

    Processo de criao e montagem da Repblica brasileira de 1870 ao sculo XX, relacionado aos temas: Mudana do Regime Poltico e consolidao da Repblica. Estado Oligrquico: economia, estru-tura social e estrutura de poder na Repblica Velha. Crise oligrquica e Movimento de 30. As relaes entre capital e trabalho entre 1930 e 1945. Estado Novo. Repblica Liberal Populista: 1945-1964. Crise do Estado Populista, Golpe de 64 e Estado Militarista. Nova Repblica: a dcada perdida e Brasil Novo: caminhos e descaminhos do Estado brasileiro.

    Habilidades

    Senso crtico para entender as variveis no processo de montagem da estrutura republicana, ten-do por base conceitual e epistmica, as questes que envolvem: Estado e nao; escravido e capi-talismo; cultura e vida poltica; estrutura rural e urbana; imaginrio poltico e social.

    Domnio das bases conceituais dos estudos histricos sobre a Repblica brasileira.Capacidade de Construir um olhar sobre o Brasil inserindo-o no contexto da atual dinmica

    mundial.Aplicar o conhecimento apreendido adequadamente na investigao cientfi ca.

  • OBS.: Ao fi nal de cada unida-de, teremos exerccios e traba-lhos que sero contabilizados para a nota da unidade e que devero ser respondidos e entregues antes das provas.

    Competncias

    Conhecimento dos elementos histrico-sociais que permitiram a transio do Regime Monrquico para o Republicano no Brasil.

    Conhecer a periodizao clssica da histria do Brasil republicanoCompreender o processo poltico-partidrio brasileiro nos diferentes perodos da Repblica.Entender a estrutura republicana que nos foi herdada.Pensamento Crtico refl exivo.

    Organizao da Disciplina

    A presente disciplina est organizada a partir de duas unidades. Juntas, elas totalizam 72 horas/aulas, distribudas em atividades de auto-estudo, tutoria virtual e presencial; debates atravs de fruns de discusso nos chats e resoluo de atividades voltadas para avaliao dos conhecimentos adquiridos. A seguir, listamos os temas que sero abordados por cada uma das unidades deste mdulo:

    UNIDADE I: Primeira Repblica e Era Vargas; Da Construo da Ordem (re)defi nico de Repblica(1889-1945)

    UNIDADE II: Perodo Democrtico redemocratizao (1945- 2001) Caminhos e descaminhos da experincia republicana brasileira

    UNIDADE I

    Tema I - As Repblicas. Tema II - Encilhamento. Tema III - Processo Poltico-Partidrio da Primeira Repblica. Tema - IV - Os anos Vinte Tema - V - Breve introduo a Era Vargas (1930-1945)

    UNIDADE II

    Tema VI - O Frgil Retorno Democracia - Populismo e Crise Tema VII - O fi m da democracia populista. Tema VIII - Os governos militares: tenses e contradies Tema IX - A Eleio de Tancredo Neves e a Nova Repblica no Brasil

    Atividades e Exerccios

    Visando contribuir para a maior compreenso dos assuntos, as atividades que integram este mdulo esto disponveis no fi nal de cada unidade. Formadas basicamente por exerccios com questes abertas, textos complementares, reunies de discusso nos chats, atividades de pesquisa e exerccios com questes de mltipla escolha. elas pretendem auxiliar na consolidao do seu conhecimento e, ao mesmo tempo, servir como parte da avaliao.

  • Avaliaes

    Ao pensarmos as avaliaes para as duas unidades deste mdulo, lembramos-nos de um impor-tante livro da pesquisadora Adriana de Oliveira Lima (1994). Com o sugestivo ttulo, Avaliao Escolar - Julgamento X Construo, a autora apresenta uma contribuio singular para o debate acerca dos meca-nismos da avaliao e os seus principais impasses no processo de aprendizagem dos alunos. Foi a partir da leitura dessa obra, que pudemos entender que a avaliao no pode ser um puro objeto de exerccio de poder usado pelo professor, numa espcie de cruzada em defesa de uma educao cujas atenes se centram na defesa do conhecimento informativo. Entendemos que necessrio, acima de tudo, enten-der o (s) sentido (s) da avaliao e do processo educativo que pretendemos empreender. Destarte, as avaliaes acerca do contudo das unidades tero tanto a natureza presencial, conforme calendrio da disciplina a ser divulgada pela Coordenao do Curso, como sero formadas por atividades sugeridas pelo professor-tutor. Sero avaliados: aluno (a), o empenho e a qualidade da presena nas discusses, na resoluo dos exerccios durante os encontros nos chats e fruns e nas aulas presenciais com o professor da disciplina. Portanto, esperamos que as atividades sirvam para que voc possa expressar compromisso com a disciplina e, principalmente, vontade em aprofundar os conhecimentos adquiridos.

    A pontuao das avaliaes ser composta da seguinte forma: 40% - aferio de compromisso por meio de participao nas atividades e resoluo dos exer-ccios; 60% - desempenho na prova.

    Metodologia do Estudo

    Seguindo as especifi cidades da educao a distncia, podemos enfatizar inicialmente, estimado (a) aluno (a), que este aspecto, longe de ser prejudicial, pode ser revertido em algo bastante positivo a seu favor. De modo geral, sabemos que o mundo contemporneo tem cada vez mais exigido profi s-sionais com capacidade de lidar com diferentes limitaes, expressando certa autonomia para resolver muitos dos problemas que se apresentam no quotidiano. Como destacou brilhantemente o socilogo italiano Domenico de Masi, tem-se valorizado a capacidade dos indivduos em responderem, de forma criativa, s difi culdades prprias do dia-a-dia. Neste sentido, os bons profi ssionais so aqueles que sempre esto dispostos a aprender e a ensinar, que demonstram dinamismo e persistncia diante dos desafi os, que no esmorecem facilmente frente s difi culdades. Dessa forma, sugerimos, nessa tarefa de auto-construo profi ssional, que voc valorize os encontros com o professor, listando as dvidas a serem tiradas, solicitando sugestes de leituras, pesquisando quando possvel e verifi cando com ele o percurso e o xito de sua aprendizagem. uma oportunidade para que voc aluno possa se disciplinar e alcanar bons resultados.

    Mantenha contato, em caso de dvidas, com seu tutor.

    Voc tem alguma dvida sobre o que acabamos de informar?

    Para tirar suas dvidas sobre o contedo, a tutoria, as avaliaes, os encontros presenciais ou o suporte tcnico sobre como utilizar a ferramenta da Unit Virtual, importante que voc envie um e-mail para [email protected], telefone para o nmero 0800-284 7117 ou envie correspondncia via fax (79) 3218-2200 ou correio para o endereo do PROEAD/Campus Aracaju Farolndia - Av. Murilo Dantas, 300 - Farolndia, CEP 49032-490 - Aracaju/SE.

    Se a dvida for sobre o contedo, lembre-se de fazer referncia ao ponto da aula que trata do as-sunto.

  • Por exemplo:Fiquei com uma dvida na Unidade 01/Tema 01/pgina 02, na frase ...., qual a dvida? No caso dos exerccios, tambm fazer referncia matria, tema e pgina. Isso para que possamos localizar e agilizar o atendimento, podendo, assim, solucionar suas d-

    vidas.

    Ento, bem-vindo (a) disciplina Histria do Brasil Repblica.

    Bibliografi a bsica comentada

    LINHARES, Maria Yedda (org.). Histria Geral do Brasil. 9a. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990. [Os textos abrangem a histria do Brasil, em sua diviso clssica, e foram elaborados por especialistas, com atualizao at o governo Fernando Henrique Cardoso)MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em Perspectiva. 21. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. [ Um clssico da Histria do Brasil dos anos de 1960 que possui, nos textos sobre a Histria do Brasil Repblica uma abordagem com teses que so atuais.]FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 8. ed. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, Fundao para o Desenvolvimento da Educao, 2000. [Linguagem fcil, didtica. Construdo de forma a servir, tambm a alunos do Ensino Mdio, Boris Fausto constri um texto para um pblico mais amplo, op-tando por uma apresentao tradicional e didtica da histria do Brasil]

    Bibliografi a complementar

    FAUSTO, Boris (Dir.) O Brasil republicano: Sociedade e Instituies (1889-1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. v.2. t.3. (Histria Geral da Civilizao Brasileira, 9).SEVCENKO, Nikolau (Org.). Repblica: da Belle poque era do Rdio. 2. reimp. So Paulo: Com-panhia das Letras, 1998. p. 289-365. (Histria da Vida Privada no Brasil; 3)

    Pginas que disponibilizam contedos relacionados aos assuntos das unidades na Inter-net:

    www.dominiopublico.gov.br [pgina com variados assuntos de Histria. Expe uma abordagem atual dos eventos histricos. Possui os vdeos e documentrios da TV Escola sobre histria, bem como imagens, artigos, dissertaes e teses sobre o perodo republicano no Brasil]www.mec.gov.br/seed/tvescola/historia/entrevista_2a.asp [a pgina traz uma interessante entrevista com o historiador Boris Fausto, que discute temas sobre Histria do Brasil]http://www.professordehistoria.com/historiadobrasil/ [pgina com vrios contedos sobre Histria]http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/sons/tome_ciencia/historia_fi losofi a_sociologia_e_an-tropologia [pgina da Universidade de So Paulo que possui udios sobre o perodo republicano bra-sileiro]www.historianet.com.br [pgina com assuntos e imagens referentes a Histria do Brasil, da Amrica e Histria Geral. Traz textos de renomados historiadores brasileiros]www.museuhistoriconacional.com.br [pgina ofi cial do museu que rene expressivo acervo de obras sobre a Histria do Brasil, alm de disponibilizar servios e exposies]http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/ [pgina do Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil/ Fundao Getlio Vargas - CPDOC/FGV rene uma documentao sig-nifi cativa sobre a Histria do Brasil Repblica com revista especializada, textos, imagens, entrevistas (Histria Oral)]

  • UNIDADE I Primeira Repblica e Era Vargas: Da Construo da Ordem (re)defi nio de Repblica (1889-1945)

    Competncias e Habilidades

    O que iremos aprender Os Desdobramentos do episdio do golpe que instaurou a repblica.

    Conhecer os elementos histrico-sociais que permitiram a transio do Regime Monrquico para o Republicano no Brasil; Conhecer a periodizao clssica da histria do Brasil republicano; Compreender o processo poltico-partidrio brasileiro nos diferentes perodos da Repblica; Entender a estrutura republicana que nos foi herdada; Pensamento Crtico refl exivo; Senso crtico para entender as variveis no processo de montagem da es-trutura republicana, tendo por base conceitual e epistmica, as questes que envolvem: Estado e nao; escravido e capitalismo; cultura e vida poltica; e estrutura rural e urbana; imaginrio poltico e social.

    As RepblicasTEMA I

  • 13Teorias da Histria 13Histria do Brasil Repblica

    Caro (a) aluno (a)

    A partir desta unidade, nosso objetivo ser discutir os principais temas que assinalaram a Histria do Brasil a partir da Proclamao da Repblica. Cinco temas compem esta unidade. Iniciaremos com os desdobramentos do epsdio do golpe que instaurou o regime republicano, passaremos pelas disputas polticas e pelo processo poltico-partidrio da Primeira Repblica, pelas crise dos anos vinte at a Revoluo de 1930. Do mesmo modo, a partir dessa revoluo, abordaremos elementos que caracterizam a Era Vargas entre 1930 e 1937 e discutiremos a implantao do golpe que iniciou a ditadura do Estado Novo e o desenvolvimento desse regime at o seu fi m, em 1945. Esperamos, assim, que voc compreenda e refl ita sobre a importncia da Histria, entendendo os fatos ocorridos nessa fase e a sua relao com as importantes transformaes na confi gurao social, poltica e econmica do pas. Bom estudo!

    As Repblicas.

    As duas ltimas dcadas do sculo XIX e as primeiras do sculo seguinte foram signifi cativas para a experincia poltica brasileira. A abolio do regime de escravido no Brasil, as mudana de regime poltico do Imprio para a Repblica foram alguns dos eventos que marcaram expressivamente a vida nacional, envolvidos pelos aconte-cimentos internacionais, dos quais possibilitou, dentre outras coisas, a viabilizao de uma mo de obra imigrante bastante participativa no cotidiano de muitas cidades brasileiras e do campo.

    Novos atores sociais tambm surgiram no cenrio poltico brasi-leiro, a exemplo do exrcito, favorecidos pelas ideologias que marcaram a formao da intelectualidade e das escolas militares: Positivismo, Darwinismo Social, socialismos (nas suas variadas expresses), so algumas delas.

    No bojo dessa realidade, a Repblica parecia ser capaz de con-cretizar os anseios de transformao de muitas dessas expresses ide-olgicas. Nesse sentido, os movimentos republicanos da dcada de 70 do sculo XIX foram se fortalecendo a medida que o Regime Imperial perdia legitimidade.

    Os movimentos republicanos surgidos no Brasil no possuam um comportamento homogneo. Muitos deles entravam em contradio em muitos pontos, apresentando uma linha mais radical, com ataques mais intensos ao regime de escravido no Brasil, a exemplo do Partido Republicano Carioca ou mesmo uma linha mais branda com menor nfase na questo da escravido como o Partido Republicano Paulista. Em sntese, enfatizavam a necessidade de maior descentralizao poltica e de maior autonomia para as provncias pela via da federao.

    As elites civis - representadas nos partidos regionais, em que a maior expresso foi o Partido Republicano Paulista - no constituiu

  • 14 Teorias da Histria14 Histria do Brasil Repblica

    a nica fora poltica no fi nal do sculo XIX. Os militares formaram a outra fora a contribuir para a mudana na natureza do regime po-ltico brasileiro. Ambas divergiam social e ideologicamente, embora apontassem para a necessidade de transformaes, optando pela via republicana.

    Na primeira fora, o sonho de uma repblica liberal com maior autonomia poltico-administrativa para as provncias (futuros Estados), capaz de contrair emprstimos no exterior e comercializar sem grandes intervenes centralizadoras, ser o sonho das elites polticas civis.

    O Manifesto Republicano, publicado em dezembro de 1870 pelos lderes - jornalista-polticos: Quintino Bocaiva e Joaquim Saldanha Marinho - do Partido Liberal (tambm denominados de Luzias), e assinado por vrios profi ssionais liberais, j evidenciava claramente a defesa pela descentralizao e tentava no excluir o tema da unidade nacional, conforme podemos visualizar a seguir:

    A autonomia das provncias , pois, para ns mais do que um interesse imposto pela solidariedade dos direitos e das relaes provinciaes, um principio cardeal e solemne que inscrevemos na nossa bandeira.

    O regimen da federao baseado, portanto, na indepen-dncia reciproca das provncias, elevando-as a cathegoria de Estados prprios, unicamente ligados pelo vinculo da mesma nacionalidade e da solidariedade dos grandes interesses da representao e da defeza exterior, aquelle que adaptamos no noso progamma, como sendo o unico capaz de manter a communho da familia brasileira.

    Se carecssemos de uma frmula para assignalar perante a conscincia nacional os effeitos de um e outro regimen, ns a resumiramos assim: - Centralisao-Desmembra-mento. Descentralisao-Unidade.

    (Manifesto Republicano - A REPBLICA, 03/12/1870)

    J para os militares, representantes da segunda fora, a nfase e perspectiva de repblica se dirigia para a necessidade de maior cen-tralizao poltica do poder, afi rmando, ao contrrio dos argumentos fi nais do trecho do manifesto acima exposto, que a unidade nacional e o progresso seria possvel pelo caminho da centralizao poltica, em outras palavras, signifi cava um maior controle sobre os futuros estados, que naquele momento ainda eram provncias.

    No obstante, se minimizarmos temporariamente as diferenas existentes entre os grupos militares e as elites civis nesse perodo, po-deramos afi rmar que a proclamao da repblica em 15 de novembro de 1889, conduzida pelo brao armado militar, signifi cou o momento no sculo XIX da unio dessas duas foras contraditrias.

    Todavia, aps o ato da proclamao inexistia um projeto comum de repblica que signifi casse um acordo entre as duas foras, no se

  • 15Teorias da Histria 15Histria do Brasil Repblica

    tinha bem defi nido qual o modelo de repblica a ser implantada. Como pontua o historiador Ilmar Mattos (1989): (...) para os homens de en-to, a passagem do Imprio Repblica poderia seguir por diferentes caminhos. Assim, no mbito das construes imagticas do novo regime no possvel se falar em Repblica, mas em Repblicas, na elasticidade histrica e interpretativa que o termo permitiu.

    Entretanto, embora no dominassem o controle do executivo federal nos primeiros anos do novo Regime, ideologicamente, a vitria das elites civis se concretizou na elaborao da constituio de 1891, a qual garantiu a descentralizao dos Estados.

    As coordenadas legais da primeira repblica fi rmaram o federa-lismo, o presidencialismo e a ampliao dos poderes representativos. A infl uncia do modelo republicano dos Estados Unidos foi signifi cativa na construo inicial da experincia republicana brasileira no perodo, estabelecendo, assim, a diviso em trs poderes: Executivo, Legislativo, e Judicirio e a denominao para o pas de Estados Unidos do Brasil.

    Aps a proclamao, tambm se iniciou uma disputa simblica, na tentativa de se construir uma verso ofi cial dos acontecimentos do dia 15 de novembro de 1889. Uma verso que se tentava consolidar na luta pelo estabelecimento do mito de origem, que partia da atribuio real da proclamao (quem?). As representaes giravam em torno de atores participantes das disputas polticas da poca: Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Quintino Bocaiva, Floriano Peixoto. Na expresso do historiador Jos Murilo de Carvalho (1989, p.27): no h inocncia na briga pela delimitao do poder desses atores. Por trs desta luta, h disputa de poder e h, sobretudo, vises distintas sobre a prpria natureza do novo regime.

    Deodoro da Fonseca e a Repblica Militar

    Das imagens disputadas na construo de uma verso ofi cial dos acontecimentos de novembro de 1889, a do Marechal Deodoro da Fonseca se esta-beleceu com fora representacional. O grupo ligado a Deodoro era, em sua maioria, composto por ofi ciais superiores que participaram na Guerra do Paraguai. A proclamao, para eles, foi um acontecimento estritamente militar . Unia-os uma forte idia de corporao e a inexistncia do pensamento positivista em suas aes. Nas palavras de Carvalho (1989, p.89): A Repblica, para os ofi ciais antigos, era o ato fi nal da Questo Militar. (...) Este grupo no tinha viso elaborada da Repblica. Buscava apenas posio de maior prestgio e poder para o Exrcito, direito que julgava adquirido pela corporao nos campos de batalha da Guerra do Paraguai.

    A capacidade de mobilizao das tropas em torno dos eventos da proclamao, bem como a sua liderana nesses acontecimentos garan-tiram ao Marechal uma posio de destaque na disputa pela construo imagtica do heri militar. Representao eternizada na clssica pintura

    1Para relembrar as questes referentes ao exrcito brasileiro e que envolvem a guerra do paraguai, consulte: Tema XXVI - A Guerra do Paraguai e o Tema XVII - O Exrcito Brasileiro do seu livro de Histria do Brasil Imperial do 4 perodo.

    Marechal Deodoro da Fonseca

  • 16 Teorias da Histria16 Histria do Brasil Repblica

    Imagem extrada de (CARVALHO, 1990).

    de Henrique Bernadelli (1858-1936), em que Deodoro retratado em primeiro plano, dominando toda a cena do quadro.

    Benjamin Constant - a Repblica Sociocrtica

    Uma outra corrente poltica e ideolgica defendia a predomi-nncia da fi gura de Benjamin Constant nos eventos da proclamao, disputando o papel de fundador com Deodoro.

    Benjamin no representava a classe militar, mas exerceu um uma forte infl uncia sobre a juventude militar. Adjetivos como mestre, dolo, catequista, apstolo, dentre outros, caracterizam, no pe-rodo, sua participao. Em outras palavras, ele visto como terico, o portador de uma viso histrica, o idealizador de um projeto de Brasil. A ele atribudo o fato de o 15 de novembro ter ultrapassado os limites de uma aquartelada com o intuito de derrubar o Ministrio (...), conforme analisou Jos Murilo de Carvalho (1989, p.30).

    As idias de Constant estavam ligadas a ideologia dos positi-vistas. Foram estes, inclusive, que defenderam sua imagem no rol dos heris responsveis pelo novo regime. Positivistas ortodoxos, que interpretavam a participao do exrcito, antes como um ins-trumento do que um fi m do movimento republicano, e que tambm liam a mudana do regime com uma profundidade maior, na qual signifi cou, para eles, o momento de salvao da ptria.

    Contudo, esses ortodoxos, tambm conhecidos como sociocrticos, foram inimigos da democracia representacional e favorveis a ditadura. Para eles, o caminho de uma repblica ditatorial, social e virtuosa somou-se oposio que faziam

    representao poltica (elemento da democracia representacional) e elite bacharelesca (elite civil). Essas ltimas caractersticas dos ortodoxos fundiram-se, parcialmente, com a corrente ligada a Floriano Peixoto, denominada, tambm, de fl orianista ou, em uma aluso a Revoluo Francesa, de jacobinista.

    Benjamin Constant

  • 17Teorias da Histria 17Histria do Brasil Repblica

    Os positivistas exerceram sobre o re-gime dos primeiros anos uma participao ativa na manipulao do seu imaginrio e na construo dos seus smbolos. Eles ab-sorveram uma viso integrada da histria com perspectiva teleolgica de evoluo da humanidade e de progresso, em que a interpretao do passado e do presente inclua uma projeo de futuro. A bandeira republicana e a construo de personagens como Tiradentes, Jos de Bonifcio e do Prprio Benjamin Constant tiveram dire-tamente a manipulao positivista.

    Quintino Bocaiva - A Repblica Liberal.

    Diante de personagens como Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant, a participao das elites civis fi cou um pouco ofuscada, mas no ausente. O nome do jornalista Quintino Bocaiva foi defendido pe-los republicanos histricos. Ele representava a propaganda republicana desde a dcada de 60 do sculo XIX, e redigiu o manifesto republicano de 1870. A defesa de Quintino Bocaiva signifi cou, tambm, a tentativa de garantir a posio dos civis nos eventos de novembro de 1889.

    Para muitos Republicanos histricos, a participao civil serviu para legitimar o golpe. A unio, embora com resistncia de Deodoro da Fonseca, entre militares e civis, era defendida por Quintino Bocaiva.

    Os histricos tentaram diminuir a participao dos Positivistas, reduzindo a imagem de Benjamin Constant nos eventos, inclusive na tomada de posio para o evento do dia 15, acusando-o de indicar a via do plebiscito ao negar a do golpe. Para os Republicanos histricos, o marechal tambm hesitou, dias antes, em tomar parte nos episdios da proclamao, sendo fundamental a atuao de Quintino para seu convencimento.

    Existiram contedos bastante distintos na perspectiva de repbli-ca suscitada pelas trs representaes expostas. Deodoristas (coorporati-vo, centralizao, ditadura militar), Sociocrticos (ditadura esclarecida) e Republicanos histricos (liberais, descentralizao): para alm de uma disputa de imagens, escondia-se uma perspectiva ideolgica de fundo: Repblicas que disputavam espaos no campo das representaes, vias diversifi cadas que o novo regime poderia seguir.

    Quintino Bocaiva

  • 18 Teorias da Histria18 Histria do Brasil Repblica@Atividade 011) Entre as elites militares e as elites civis, o que podemos apontar como divergncias na concepo que cada uma delas traava sobre a Repblica brasileira?2)Na construo de uma verso ofi cial sobre a Proclamao da Re-pblica, diversas representaes entraram em cena. Comente, com base no texto, qual o sentido que podemos extrair desse interesse em se construir uma verso ofi cial do episdio da Proclamao, no incio do regime republicano.

  • 19Teorias da Histria 19Histria do Brasil Repblica

    Os ventos da proclamao

  • 20 Teorias da Histria20 Histria do Brasil Repblica

    ,

  • 21Teorias da Histria 21Histria do Brasil Repblica

    (Assis, Machado de. Esa e Jac Apud BRETAS, Marcos Luiz. Navalhas e Capoeiras uma outra queda. Cincia hoje, Rio de Janeiro, n. 59, v.10, p.56. 1989.)

  • 22 Teorias da Histria22 Histria do Brasil Repblica

    O trecho da obra de Machado de Assis traz uma observao bas-tante signifi cativa sobre a instabilidade do novo regime. A fragilidade tinha sentido nas contradies poltico-ideolgicas existentes na vida poltica do pas no perodo. Os ajustes para consolidao do regime mar-cam o perodo que denominamos de Primeira Repblica (1889-1930). O trecho acima tambm suscita uma outra discusso: o da participao do povo nos acontecimentos de 15 de novembro de 1889.

    As impresses que se registraram sobre essa participao foram minimizadas ainda no sculo XIX. Aristides Lobo - um propagandista da Repblica - chegou a afi rmar, com decepo, que o povo, que deveria ser pela natureza do novo regime, o protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgan-do ver talvez uma parada militar (CARVALHO, 2004, p.09). Outros, inclusive estrangeiros que estavam no Brasil na poca, tambm regis-traram a apatia popular diante dos eventos de novembro de 1889.

    O espanto talvez esteja ligado natureza da Repblica, da institui-o do regime que aquele que propunha trazer o povo para o centro da atividade poltica. Contudo, no devemos acreditar que as observaes do sculo XIX estejam isentas de ideologias e preconceitos. A partici-pao popular, de fato no se encaixava no modelo e nas expectativas dos reformistas, mesmo aqueles ligados classe operria. Tambm no se formulou a partir de um comportamento poltico comum as institui-es republicanas. No por isso, contudo, que devamos acreditar que o povo no existia, (do ponto de vista poltico), conforme sugeriu um observador estrangeiro que se encontrava no Rio de Janeiro durante os acontecimentos de mudana de regime.

    As mobilizaes populares ainda estavam marcadas por formas tradicionais. O esprito associativo se manteve principalmente nas socie-dades religiosas e de auxlio mtuo, conforme nos lembra o historiador Jos Murilo de Carvalho (2004). Os momentos como a Revolta da Va-cina (1904), no Rio de Janeiro, signifi caram algumas das situaes em que, longe de um projeto organizado de classe, de intenes polticas, evidenciou a ao ativa das classes populares.

    Carvalho (2004) nos faz perceber que o tema da participao do povo, ou mesmo as impresses sobre ela, remete-nos natureza de nossa vida poltica, da prtica da cidadania entre ns. Possui, portanto, um ponto bastante contemporneo para a refl exo. Evidencia um pro-blema de relacionamento entre o cidado e o Estado, ou o cidado e o sistema poltico, o cidado e a prpria prtica poltica. De acordo com esse historiador: todo sistema de dominao, para sobreviver, ter de desenvolver uma base qualquer de legitimidade, ainda que seja a apatia dos cidados (2004, p.11)

    Nesse sentido, diante da fragilidade do novo regime, os ventos da proclamao carregaram tambm uma idia de povo e uma idia para o povo, na qual na teoria e formalmente o apresentava como elemento central do novo regime. Por outro lado, na prtica, no real, acabava por castrar sua participao. O perigoso discurso da apatia, da incapacida-de, da defi nio de povo a partir de um referencial europeu (ao modo da Revoluo Francesa) permitiu o no enquadramento da realidade brasileira ao conceito, a tipologia, alm de inviabilizar a incorporao

  • 23Teorias da Histria 23Histria do Brasil Repblica

    @do povo na vida poltica e cultura do pas (Carvalho, 2004).

    Atividade 02

    1) A expresso bestializado utilizada no perodo da proclamao se referiu ao comportamento do povo nos acontecimentos de 15 de novembro de 1889. A partir do tema II, como podemos caracterizar o debate em torno da participao do povo, no incio da repblica?

    2) Comente, em poucas linhas, como a discusso sobre cidadania pode ser encontrada na discusso apresentada no tema II sobre a participao do povo.

  • TEMA II

    Competncias e Habilidades

    O que iremos aprender

    Encilhamento

    A Poltica econmica adotada pelo ministro do Governo Deodoro da Fonseca; o baiano Rui Barbosa.

    Conhecer os elementos histrico-sociais que permitiram a transio do Regime Monrquico para o Republicano no Brasil; Conhecer a periodizao clssica da histria do Brasil republicano; Compreender o processo poltico-partidrio brasileiro nos diferentes perodos da Repblica; Entender a estrutura republicana que nos foi herdada; Pensamento Crtico refl exivo; Senso crtico para entender as variveis no processo de montagem da es-trutura republicana, tendo por base conceitual e epistmica, as questes que envolvem: Estado e nao; escravido e capitalismo; cultura e vida poltica; e estrutura rural e urbana; imaginrio poltico e social.

  • 27Teorias da Histria 27Histria do Brasil Repblica

    Os primeiros anos do novo regime foram difceis. Alm dos con-fl itos ideolgicos, as instituies republicanas comearam a se construir. Provisoriamente, a administrao do pas fi cou com o Marechal Deo-doro da Fonseca, que tinha liderado o exrcito brasileiro nos episdios do golpe de 15 de novembro.

    Deodoro deveria governar o Brasil at a promulgao da nova constituio para o pas. Nesse tempo, garantiu algumas aes para a administrao do Estado, dentro da perspectiva republicana: separao entre a Igreja e o Estado (o casamento civil era o reconhecido pelo Es-tado em detrimento do religioso), a certido de nascimento substituiu o batistrio como documento ofi cial de nascimento.

    As prticas deodoristas, e mesmo o entendimento republicano que ele possua era ideologicamente contrrio aos das elites civis. A sua concepo de um Estado centralizador Unionista feria os princpios republicanos das elites que apoiaram o golpe. Esses posicionamentos geraram confl itos, quando na prtica interferiu em assuntos de natureza dos Estados, enfraquecendo-o do ponto de vista das representaes polticas.

    Outro ponto de desgaste do governo foi sua poltica econmica, grandemente infl uenciada pelo ministro da fazenda de seu governo, Rui Babosa. Em outras palavras, no entendimento que se tinha do melhor caminho a seguir para o desenvolvimento do Brasil, o ministro optou por um programa de acelerao de industrializao brasileira, em uma clara referncia ao modelo dos Estados Unidos.

    Contudo, para que isso fosse possvel, era preciso defi nir bem onde encontrar capital. Ter a clareza de onde viriam os recursos neces-srios para esses investimentos, uma vez que aqueles provenientes das fazendas no eram sufi cientes. A sada encontrada por Rui Barbosa foi autorizar trs bancos a emitirem papel-moeda que seriam emprestados para empresrios que quisessem montar fbricas.

    No houve um controle muito efi ciente dos emprstimos, sendo que muita empresas chegaram a receber autorizao para serem mon-tadas e funcionarem, mas no existiram de fato. Houve tambm muitos investimentos na bolsa de valores, sobretudo de venda de aes dessas empresas, vrias delas fantasmas. Com o tempo, foi-se percebendo que existia muito menos riqueza e muito mais especulao nas aes das empresas que circulavam na bolsa de valores. Foi quando os investidores foram percebendo que o preo das aes no era real, mas artifi cial, especulativo. Diante disso, o otimismo dos primeiros tempos da medida econmica foi cedendo lugar a uma crise geral.

    Os que conseguiram sair antes da queda das aes na bolsa conseguiram lucrar muito; os demais, inclusive pequenos investidores, saram fracassados. Essa poltica econmica fi cou conhecida como Encilhamento, em uma forte referncia as apostas no Jquei do Rio de Janeiro.

    A infl ao e o descontentamento popular aumentaram, bem como se intensifi caram os ataques da oposio ao Marechal. Foram difceis os primeiros anos do novo regime; as turbulncias da primeira dcada se refl etiram nos desafi os que as agitaes da ordem econmica, social, poltica e cultural do pas se fi zeram sentir.

  • 28 Teorias da Histria28 Histria do Brasil Repblica

    Leitura Complementar

    Brasil: Encilhamento, o Primeiro Pacote.

    O objetivo era promover a industrializao brasileira e estimular a atividade econmica do Pas. Mas o resultado foi um dos maiores surtos infl acionrios do Brasil.

    Rui Barbosa (1849-1923) foi o primeiro ministro da Fa-zenda da histria republicana do Pas, nomeado pelo chefe do governo provisrio da recm-proclamada Repblica dos Estados Unidos do Brasil, general Deodoro da Fonseca. Ministro e secretrio de Esta-do dos Negcios da Fazenda, ele manteve-se no cargo por 14 meses.

    Adepto dos ideais libe-rais, Rui Barbosa rechaa se-guir os caminhos das polticas econmicas de carter prote-cionista, as quais considerava preconceito mercantilista do sculo 18 a refl etir-se no scu-lo 19. Suas primeiras aes ministeriais concentram-se na elaborao da primeira Cons-tituio republicana. Rui, preocupado em de-fender os interesses nacionais contra os descrentes da nova realidade poltica do Pas, foi o principal redator da Carta Magna.

    A administrao monarquista deixara-lhe um Tesouro falido, mas Rui obstinado diante de seus objetivos de substituir a antiga estrutura agrria baseada na exportao de caf, promover a industrializao e incentivar o crescimento econmico.

    Para atingi-los, ele implementa uma srie de medidas reformadoras - que atingem principalmente o crdito hipotecrio e o crdito lavoura e indstria. Todas essas iniciativas obedecem ao sentido renovador que desejava implantar a fi m de possibilitar o desenvolvimento das foras produtivas entravadas por um aparelho estatal obsoleto e por um retrgrado sistema econmico e fi nanceiro, como relata Nelson Werneck Sodr, em sua obra Histria da Burguesia Brasileira.

    Mas o grande desafi o era superar a escassez de moeda, agravada

    Populares se agitam em frente Bol-sa de Valores do Rio de Janeiro

  • 29Teorias da Histria 29Histria do Brasil Repblica

    pelo crescimento do trabalho assalariado, resultado do fi m da escravi-do e da macia chegada de imigrantes. Neste momento, era grande o debate quanto orientao macroeconmica a ser adotada no Brasil. Ao passo que os metalistas defendiam a volta do padro ouro, os pa-pelistas acreditavam que a presso sobre o crdito seria sanada com a emisso de moeda.

    Inspirado no sistema ban-crio norte-americano e coerente com seus ideais industrializan-tes, Rui Barbosa decreta a lei bancria de 17 de janeiro de 1890, que estabelecia as emis-ses bancrias sobre um lastro constitudo por ttulos da dvida pblica.

    Essa poltica monetria, chamada de Encilhamento (gria carioca que aludia ao lugar do hi-pdromo onde fi cam os cavalos), buscava atender s legtimas necessidades dos negcios, j que havia no Pas uma demanda reprimida de numerrio. Com esse objetivo, foram estabeleci-das trs instituies bancrias regionais (Bahia, So Paulo e Rio Grande do Sul), cada uma com seu banco emissor.

    No Rio de Janeiro, re-gio central, foi criado o Banco dos Estados Unidos do Brasil (BEUB), de papel preponderante no novo sistema. Cada regio

    bancria tinha a funo de expandir o crdito e esti-mular a criao de novas empresas.

    O resultado das emisses, porm, um desastre. Em vez de fi nanciar a industrializao, gera um dos maiores surtos infl acionrios do Pas e tambm desenfreada especulao fi nanceira na Bolsa de Valores, pois o dinheiro fora desvia-do de seu propsito inicial para toda a sorte de negcios, muitos deles fi ctcios. Fortunas surgem da noite para o dia, enquanto a economia brasileira sofre violento colapso.

    A grande euforia industrial-fi nanceira s termina com o corte da emisso de moeda, muito desvalorizada, o que gera uma grave cri-se econmica e contribui para o isolamento poltico de Deodoro da Fonseca. Em 20 de janeiro de 1891, o primeiro ministro da Fazenda do Brasil deixa o cargo. E o presidente renuncia em 23 de novembro do mesmo ano, sob iminente ameaa de deposio pelos republicanos,

    Rui Barbosa em sua biblioteca de 35 mil volumes .

  • 30 Teorias da Histria30 Histria do Brasil Repblica

    @representados pelo vice-presidente Marechal Floriano Peixoto, que assume naturalmente a presidncia.

    Fora do governo, Rui torna-se o principal opositor das arbitra-riedades e dos desmandos autoritrios de Floriano Peixoto e em tenaz crtico dos primeiros presidentes civis: Prudente de Morais e Campos Salles. O apelido guia de Haia provm de sua participao na II Conferncia de Paz, em Haia, na Holanda, em 1907.

    (Reportagem e imagens extradas da Revista Histria Viva. Fonte: < http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/brasil_encilhamen-to_o_primeiro_pacote.html > Acesso em 15 ago 2007).

    Atividade 03

    1) Explique o que signifi cou o encilhamento no contexto econmico do incio do perodo republicano brasileiro.

    2) Com base no texto indicado para leitura complementar, apresente e explique algumas contradies existentes entre a realidade brasileira e as medidas adotadas pelo ento Ministro da Fazenda, Rui Barbosa , em sua tentativa reformadora, que posteriormente recebeu o apelido de encilhamento, nos primeiros anos do regime republicano brasileiro.

  • TEMA III

    Competncias e Habilidades

    O que iremos aprender

    Processo Poltico-Partidrio da Primeira Repblica

    Processo Poltico-Partidrio da Primeira Republica.

    Conhecer os elementos histrico-sociais que permitiram a transio do Regime Monrquico para o Republicano no Brasil; Conhecer a periodizao clssica da histria do Brasil republicano; Compreender o processo poltico-partidrio brasileiro nos diferentes perodos da Repblica; Entender a estrutura republicana que nos foi herdada; Pensamento Crtico refl exivo; Senso crtico para entender as variveis no processo de montagem da es-trutura republicana, tendo por base conceitual e epistmica, as questes que envolvem: Estado e nao; escravido e capitalismo; cultura e vida poltica; e estrutura rural e urbana; imaginrio poltico e social.

  • 33Teorias da Histria 33Histria do Brasil Repblica

    Primeiros Passos

    Aliada crise econmica, tambm contou para o desgaste do governo provisrio as orientaes polticas que Deodoro assumiu em defesa de uma maior centralizao poltica e controle dos Estados. Tais atitudes contrariavam os interesses das Elites Civis que apoiaram o regime, e que aos poucos se viam afastadas das posies estratgicas no governo.

    Diante da crise, as presses polticas e sociais garantiram que o tema da Elaborao de uma Constituio aparecesse com fora nas discusses nacionais, ao se exigir a convocao da Assemblia Nacional Constituinte. No entanto, o Governo Provisrio, com suas medidas centralizadoras, conseguiu que boa parte dessa Assemblia lhe decla-rasse oposio.

    Embora, nesse novo regime, se defendesse que a escolha dos executivos, assim como dos legislativos, Estadual e Federal, ocorreria sempre por voto universal, fi cou acertado que a primeira eleio para Presidente da Repblica aconteceria de forma indireta, que se realizaria pelo voto dos deputados e senadores eleitos para a Assemblia Nacional Constituinte.

    A aliana entre o Partido Republicano Paulista e Deodoro da Fonseca, que convergiu para o golpe de 15 de novembro, j se mostra-va enfraquecida, e se romperia completamente com o lanamento da candidatura de Prudente de Moraes - na poca Presidente do Senado pelo Partido Republicano Paulista - como oposio ao governo federal. O Marechal Deodoro da Fonseca, que comandou o golpe e assumiu o Governo Provisrio do Brasil, era o candidato natural s eleies que defi niriam o Presidente Constitucional do Brasil.

    A oposio se uniu com a pretenso de em um s golpe conseguir articular a forte bancada paulista e parte do exrcito. Para isso, tentou garantir que o vice da chapa de Prudente de Moraes fosse um militar: o Marechal Floriano Peixoto. Quanto ao nome do vice de Deodoro, foi escolhido dos quadros da marinha: o almirante Wandenkolk.

    A perda de prestgio poltico e a forte oposio que crescia apontavam para a derrota de Deodoro nas primeiras eleies para o executivo federal do novo regime. Contudo, a historiadora Maria do Carmo Campello de Souza (2001, p.117) nos chama a ateno para o fato de que, no balano das foras militares, a maior parte da guarnio apoiava Deodoro, alm de que corriam rumores que caso outro can-didato ganhasse as eleies constituintes, eles aclamariam o Marechal Deodoro, ditador.

    Diante dos rumores, algumas preocupaes foram tomadas no sentido de garantir, pelo menos como estratgia de um contragolpe, a vitria para o Vice-Presidente da Repblica. Nesse perodo, as eleies para presidente da Repblica no garantiam automaticamente a eleio do Vice-Presidente, de forma que se podia votar separadamente, garan-tindo, como aconteceu em muitos casos, que fosse eleito o Presidente da Repblica de uma chapa e o Vice-Presidente de outra. E foi isso que aconteceu. O nome do Marechal Deodoro foi confi rmado como

  • 34 Teorias da Histria34 Histria do Brasil Repblica

    Presidente dos Estados Unidos do Brasil com 129 votos e o do Mare-chal Floriano Peixoto (Candidato pela chapa de Prudente de Moraes) como Vice-Presidente da Repblica com 153 votos (nmero superior a votao do candidato a presidncia).

    Uma forte oposio se fi rmou contra Deodoro da Fonseca, o desentendimento entre o Legislativo e o Executivo fi cou de tal modo intenso que ele, na expectativa de se fortalecer, dissolveu o Congresso Nacional e decretou Estado de Stio. Essa medida reforou a oposio e evidenciou o nome do Vice-Presidente da Repblica, eleito pela opo-sio e agora elemento importante para um contragolpe.

    Alm da presso civil, tambm existiu a militar. A marinha se manteve com a esquadra, revoltada no Rio de Janeiro, exigindo a renn-cia de Deodoro da Fonseca. Os canhes da marinha se encontravam apontados para a Cidade do Rio de Janeiro. A unio dessas oposies fora fatal ao governo.

    O Presidente renunciou em 23 de novembro de 1891, demons-trando assim a efi ccia do contragolpe. Dentre os motivos atribudos a sua queda, destacamos as dissenses em torno de algumas medidas fundamentais a organizao federativa, com a defesa que fazia a unidade de magistratura, a igualdade de representao estadual no congresso.

    Leitura Complementar

    Revolta da Armada

    Foi um confl ito armado transcorrido em duas fases, fomentado pela Marinha brasileira em represlia, inicialmente, ao governo do Ma-rechal Deodoro da Fonseca e atuao de seu vice, Marechal Floriano Peixoto. Ocorreu em duas fases:

    Primeira Revolta Armada

    Aconteceu no ano de 1891, em represlia maneira de atuar do ento presidente da Repblica Marechal Deodoro da Fonseca que, ao ver-se diante de srios problemas para lidar com os partidos polticos contrrios ao governo - representados pela nata cafeicultora -, resolveu tomar uma atitude radical, fechar o Congresso, transgredindo a Consti-tuio de 1891. Uma ao coletiva por parte de alguns centros da mari-nha, entre eles o da Baa de Guanabara, que se revoltaram e prometeram atacar a cidade do Rio de Janeiro, ento capital da Repblica.

    Para evitar o pior, Deodoro da Fonseca, ento com apenas nove meses de gesto, decidiu renunciar. Seu vice, Floriano Peixoto, assu-

  • 35Teorias da Histria 35Histria do Brasil Repblica

    me provisoriamente, pois segundo a Constituio, no prazo sumo de dois anos seriam chamadas novas eleies presidenciais. Quando se aproximava o fi m de seu mandato, a oposio comeou a alardear que Floriano pretendia continuar no governo ilicitamente.

    Segunda Revolta Armada

    Teve incio com uma agitao encabeada por alguns generais que enviaram uma carta ao presidente Floriano Peixoto ordenando-lhe que convocasse imediatamente novas eleies, em obedincia Consti-tuio. O presidente coibiu severamente a insubordinao, ordenando a priso dos condutores do levante. O golpe era comandado pelos ofi ciais superiores da armada, Saldanha da Gama e Custdio de Melo, que ambicionava substituir Floriano Peixoto.

    O movimento retratava a insatisfao da Marinha, que se sentia politicamente inferior ao Exrcito. O levante no encontra apoio neces-srio no Rio de Janeiro, migrando ento para o Sul. Algumas tropas se aquartelaram na cidade de Desterro - Atual Florianpolis - e tentaram um acordo com os gachos partidrios do federalismo, porm sem xito. Em maro de 1894, o Presidente da Repblica, amparado pelas foras do Exrcito brasileiro, pelo Partido Republicano Paulista e con-tando com uma nova frota de navios obtida com urgncia no exterior, abafou o movimento.

    (Fonte: SANTANA, Miriam Ilza. Revolta da Armada. < http://www.infoescola.com/historia/revolta-da-armada/ > Acesso em 20/08/2007

    Marechal Floriano Peixoto e a Revolta da Armada, em bico-de-pena de Angelo Agostini, na revista D. Quixote de 29 de junho de 1895Fonte: Coleo ngela Agostini, in Histria do Brasil, ed. Folha de S. Paulo, 1997, S. Paulo/SP e Grandes Personagens da Nossa Histria, vol. III, 1973, ed. Abril Cultural, S. Paulo/SP

  • 36 Teorias da Histria36 Histria do Brasil Repblica@) Atividade 041) Explique, em poucas linhas, que tipo de oposio surgiu contra a candidatura do Marechal Deodoro da Fonseca.2) Com base no texto complementar desta unidade, explique os mo-tivos da Revolta da Armada e o que ela representou entre as foras armadas.

    Floriano e o Processo Poltico

    O Marechal Floriano Peixoto era o Vice-Presidente da Repblica e substituiu Deodoro da Fonseca quando este renunciou. As aes do contragolpe tinham surtido efeito e as elites civis ocuparam cargos es-tratgicos dentro do Governo de Floriano Peixoto, sobretudo o Partido Republicano Paulista. A aliana de Floriano com o PRP foi importante para garantir a entrada efetiva das Elites Civis no Executivo Federal nas eleies presidenciais que se seguiram.

    O saldo da poltica econmica do perodo anterior no tinha sido solucionado. O problema da infl ao era uma realidade na vida dos brasileiros, que se agravou ainda mais com as aes do governo na compra de navios estrangeiros para combater a Revolta da Armada. Floriano Peixoto agia com fi rmeza diante da ameaa de rebelies ou oposies armadas. Foi assim com a Revolta da Armada e com a Re-volta Federalista, ambas identifi cadas na poca com os antigos quadros monarquistas. Suas aes militares a favor da manuteno da ordem e de uma suposta unidade nacional contriburam, mesmo diante dos problemas sociais de seu governo, para que ele recebesse o ttulo de consolidador da Repblica.

    O governo de Floriano, do mesmo modo que seu antecessor, tambm sofreu oposio no congresso. Inicialmente, a maioria da oposio vinha de polticos ligados ao governo anterior, mas logo em seguida foi se ampliando, principalmente por aqueles que temiam um continusmo fl orianista.

    Os partidos polticos durante a Primeira Repblica possuam caractersticas muito diferentes dos partidos atuais. Eles no eram na-cionais e no se constituam por ideologias diferenciadas. Os partidos eram estaduais. Defendiam interesses das elites estaduais. Assim existia o PRP - Partido Republicano Paulista; PRM - Partido Republicano Mi-neiro; PRB - Partido Republicano Baiano, dentre tantos outros.

    Outro ponto importante que a organizao do congresso fa-voreceu a ampliao do poder dos Estados. O maior nmero de re-presentantes no congresso, por Estado, era calculado a partir do maior

  • 37Teorias da Histria 37Histria do Brasil Repblica

    nmero de habitantes que cada um destes possua. Assim, por exemplo, So Paulo e Minas Gerais eram bastante populosos e conseguiam ter a maioria no congresso nacional. Sendo partidos estaduais, eles fechavam interesses regionais. A partir desse princpio de unio de foras, tambm funcionou a chamada Poltica do Caf-com-Leite.

    Nesse primeiro momento, os ajustes estavam sendo feitos e con-duziam, ao poucos, para a construo de um modelo republicano que caracterizar a Primeira Repblica Brasileira.

    A ascenso de Floriano Peixoto exigiu algumas mudanas na or-dem poltica. Com a sua entrada, bem como acontecera antes, foram depostos os Presidentes de Estado (governadores) que tinha apoiado o Marechal Deodoro da Fonseca nos episdios do golpe que dissolveu o congresso nacional. De acordo com Souza (2001, p.175), os novos substitutos por sua vez, dissolveram as Assemblias Legislativas e os tribunais judicirios e apearam todas as autoridades para substitu-las por representantes de outras faces locais. Das deposies, a que trouxe conseqncias mais srias para a vida poltica do pas foi a do Rio Grande do Sul, que teve como extenso a Revolta Federalista.

    O Grupo fl orianista conseguiu, aos poucos, certa estabilizao e ajustamento poltico nos Estados. Prximo as novas eleies presiden-ciais, eles se posicionaram enquanto grupo. Desse modo,

    Sob a infl uncia de Francisco Glicrio (paulista), com os elementos heterogneos que apoiavam o governo de Floriano, fundou o Partido Republicano Federal (P.R.F.) em 1893. Esse partido procurou abrigar sua sombra a maioria macia dos blocos estaduais, numa tentativa de resolver os problemas de estabilizao e ajustamento do regime poltico federativo. O ncleo da agremiao era formado pelos elementos identifi cados com o fl orianis-mo (Souza, 2001, p.178)

    Para sucesso da Presidncia da Repblica nas eleies que se se-guiram gesto fl orianista, o nome de Prudente de Moraes foi possvel, por um lado, pela posio que seu grupo (P.R.P.) assumiu nos episdios do contra-golpe e nas garantias que o governo de Floriano possibilitou e, por outro lado, pelo desgaste sofrido por este ltimo. Contudo, no demorou muito para que o PRF e o Presidente da Repblica entrassem em divergncias, grandemente infl uenciadas pelas disputas pelo poder nas decises relativas aos Estados.

    Enquanto o Presidente Prudente de Moraes defendia uma srie de mudanas na organizao poltica dos Estados de forma que afe-taria, diretamente, as situaes regionais surgidas e estabelecidas com Floriano Peixoto, e que benefi ciava a este e a sua agremiao (PRF), o grupo fl orianista, ao contrrio, defendia a inalterao dessas vrias situaes regionais.

    As disputas em torno das questes estaduais contriburam, de forma bastante signifi cativa, para uma maior fragmentao do congres-so nesse perodo, e difi cultaram politicamente a gesto presidencial de Prudente de Moraes. Esses problemas j vinham sendo sentidos desde

  • 38 Teorias da Histria38 Histria do Brasil Repblica

    Prudente Jos de Moraes e Barros(*1841/ +1902)

    @a Presidncia do Marechal Deodoro da Fonseca. Atividade 051) Caracterize os Partidos Polticos durante a Primeira Repblica e compare-os aos atuais, revelendo suas diferenas.2) Apresente algumas divergncias que levaram ao rompimento dos acordos entre o PRP e o PRF.

    Prudente de Moraes e o processo poltico-partidrio

    Durante a Presidncia de Prudente de Moraes (1894-1898), o Con-gresso Nacional estava dividido em dois grandes blocos representados: pelo PRP, os prudentistas, e pelos fl orianistas, tambm apelidados de Jacobinos (uma aluso a Revoluo Francesa), grandemente ligados ao PRF. Tambm havia dentro dos blocos partidrios, vrias divises e subdivises.

    Muitos dos que compunham o PRF tentaram se aproximar do chefe do executivo federal. Essas disputas se revelaram mais intensas na briga pela presidncia da Cmara, cuja unio das bancadas de So Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e a totalidade baiana garantiu a vitria do nome de Artur Rios, poltico baiano, represen-tante dos interesses prudentistas. As bancadas do Rio Grande do Sul, Amazonas, Distrito Federal e Cear, que apoiaram o deputado

    Glicrio, ligados aos interesses fl orianistas, saram derrotados. Os Estados menores se dividiram entre os dois grupos sem que con-seguissem alterar o jogo das foras polticas a favor do presidente Prudente de Moraes.

    No jogo poltico, os atritos iniciais entre os dois grupos levaram a oposio a identifi car Prudente de Moraes com a restaurao da Monarquia. Isso diante das medidas tomadas pela presidncia na resoluo de confl itos como pacifi cao

    do Rio Grande do Sul, ante a ameaa federalista que se estendia; da revolta de Canudos na Bahia (1893-1897) e diante da insubordinao da Escola Militar em 26 de maio de 1897. Nos dois primeiros problemas, o tema

    monarquista reapareceu. Perante a atitude do presidente nos acontecimentos como a Guerra de Canudos, apontada como pseudomilitarista por setores da oposio e do exrcito, a Escola

  • 39Teorias da Histria 39Histria do Brasil Repblica

    Militar se insurbodinou. (Souza, 2001).A Guerra de Canudos assumiu propores muito grandes. A

    imprensa internacional e a nacional noticiavam os acontecimentos. Existia uma intensa presso sobre o Presidente da Repblica. Contudo, o desfecho violento da Guerra de Canudos evidenciou um outro as-pecto da situao naquele momento: uma propaganda poltica forte do grupo fl orianista contra o Presidente, no qual Canudos e as expedies fracassadas para elimin-lo serviram para relacionar o presidente com o retorno da Monarquia, mostrando-o conivente ao antigo regime. Nesse sentido, a forma que assumiu a ltima expedio pode ser interpretada como uma resposta poltica do grupo prudentista oposio e aos seus crticos.

    Ao se aproximarem as eleies legislativas e presidenciais, e diante da derrota do grupo fl orianista na disputa pela presidncia da Cmara dos Deputados, o Congresso se organizou. Fazendo uma leitura simplifi -cada, podemos apontar dois grupos: Concentrados e Republicanos, provenientes das divises do antigo Partido Federal. Rio Grande do Sul, Paran e Santa Catarina ligavam-se a linha jacobina, formando o primeiro grupo. O segundo grupo vinculado ao presidente da Repblica, era composto por Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Maranho, Rio de Janeiro e a maioria paulista.

    Naquele momento, Campos Sales ocupava a Presidncia do Esta-do de So Paulo e anteriormente tinha dado apoio a Prudente de Mo-raes, auxiliando-o no fortalecimento poltico contra o ncleo jacobino do PRF. Foi o nome apoiado pelo Presidente e pelos Republicanos para as eleies presidenciais e que saiu vitorioso.

    At o Governo Prudente de Moraes, a existncia de um con-gresso fracionado, e os confl itos envolvendo os interesses estaduais e os feudos polticos neles existentes, exerceram forte infl uncia no comportamento do executivo federal, em geral, e deixava-o vulnervel as instabilidades advindas desse quadro. Na tentativa de resolver esses problemas, Campos Sales e o grupo ligado a ele conseguiram construir uma estrutura que caracterizou toda a Primeira Repblica.

    Leitura Complementar

    A Guerra dos Canudos e Sertes

    Introduo

    Para entendermos a Guerra dos Canudos e a violncia com que foi esmagada a revolta camponesa preciso restabelecer o cenrio histrico em que ela ocorreu. No se pode entender Canudos isoladamente, sem conhecer as circunstncias histricas e polticas que a provocaram.

    O Brasil estava em permanente ebulio, desde 13 de maio de 1888 com a assinatura da Lei urea pela princesa Isabel, acontecimen-

  • 40 Teorias da Histria40 Histria do Brasil Repblica

    tos espetaculares e traumticos se sucediam um ao outro. A Questo Militar que vinha se arrastando desde 1883, com o debate em torno da doutrina do soldado-cidado, que defendia a participao dos ofi ciais nas questes polticas e sociais do pas, teve uma concluso repentina, com o golpe militar republicano de 15 de novembro de 1889.

    A derrubada da Monarquia, que de imediato foi sem derrama-mento de sangue, terminou por provocar reaes anti-republicanas. Uma nova constituio foi aprovada em 1891, tornando o Brasil uma repblica federativa e presidencialista no modelo norte-americano. Separou-se o estado da Igreja (o que vai provocar a indignao de Antnio Conselheiro) e ampliou-se o direito de voto (aboliu-se o sis-tema censitrio existente no Imprio e permitiu-se que todo o cidado alfabetizado pudesse tornar-se cidado).

    As difi culdades polticas da implantao da Repblica se acelera-ram com a crise infl acionria provocada pelo Encilhamento, quando o Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, autorizou um aumento de 75% na emisso de papel-moeda nacional. Houve muito desgaste do novo regime devido ao clima de especulao e de multiplicao de empresas sem lastro (mais de 300 em um ano apenas). O presidente da Repblica, Mal. Deodoro da Fonseca chegou a fechar o Congresso, o que serviu de pretexto para a Marinha de Guerra rebelar-se exigindo e conseguindo sua renncia , o que ocorreu em 23 de novembro de 1891. Deodoro doente retirou-se, sendo substitudo pelo vice-presidente Mal. Floriano Peixoto.

    Em fevereiro de 1893 estoura no Rio Grande do Sul a revoluo federalista, quando maragatos insurgem-se contra o governo de Jlio de Castilhos, conduzindo o estado a uma dolosa guerra civil. Neste mesmo ano em setembro, ocorre o segundo levante da Armada, nova-mente liderado pelo Al. Custdio de Melo, seguida pela adeso do Al. Saldanha da Gama, que chega a bombardear o Rio de Janeiro. Floriano Peixoto mobiliza a populao para a defesa da capital e Custodio de Melo resolve abandonar a baa da Guanabara para juntar-se aos ma-ragatos que haviam ocupado Desterro (em Santa Catarina). A guerra no sul militarmente se encerra com a morte de Gumercindo Saraiva o guerrilheiro maragato em 1894, e com derrota da incurso do Al. Sal-danha da Gama na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai em 1895. A guerra tinha produzido mais de 12 mil mortos em uma parte deles havia sido vtima de degolas de parte a parte. Coube ao novo presidente, Prudente de Morais, alcanar a pacifi cao que assinada em Pelotas em agosto de 1895.

    Foi nesse pano de fundo turbulento, marcado por transformaes repentinas e radicais, pela abolio da escravido, pelo golpe republicano, pelo fechamento do Congresso, pelo estado de stio, por dois levantes da Armada e por uma cruel Guerra Civil, que a populao urbana ouviu com espanto a notcia, em novembro de 1896, de que uma expedio de 100 soldados havia sido derrotada pelos jagunos do interior da Bahia. Comeava ento a Guerra de Canudos.

  • 41Teorias da Histria 41Histria do Brasil Repblica

    A Guerra de Canudos(1896-1897)

    Provavelmente, se o quadro poltico brasileiro dos primeiros anos de Repblica no fosse to conturbado, talvez os episdios de Canudos tivessem outro desenlace. Mas a notcia de que tropas regulares haviam sido desbaratadas pelos fi is do Conselheiro fez com que as autoridades e a prpria populao dos grandes centros urbanos, particularmente do Rio de Janeiro, vissem naquilo a mo ardilosa dos monarquistas.

    Se por um lado era evidente que o Conselheiro pregava contra a repblica, estimulando a que no se lhe pagassem tributos e at espan-tasse os funcionrios que representavam a justia e o casamento civil, no se pode negar seu contedo religioso. Canudos assemelha-se s incontveis rebelies religiosas, lideradas por fanticos, chamados de profetas, que se dizem enviados ou mensageiros dos cus. Renem ao seu redor um bando de crentes, aos quais assegurada no s a salvao como muitas vezes a imortalidade.

    Repudiam o mundo ao seu redor, denunciado como corrupto e de estar a servio das foras demonacas. S os justos se salvaro. S aqueles que se dedicam inteiramente s rezas e comunidade dos crentes sero os eleitos. Seu comportamento erradio e agressivo para com os outros e seu fanatismo militante faz com que se indisponham com o resto da sociedade. Os atritos da decorrentes, fazem com que a polcia ou a milcia termine por se envolver com eles. As tentativas de apaziguamento fracassam. Eles resistem a qualquer de dispersar. Ao contrrio, a presena das autoridades faz com que se aglutinem com maior fervor em torno do profeta. Armam-se. O profeta lhes assegura que caso morram na defesa da Nova Jerusalm, Jesus lhes garantir a vida por mais mil anos ainda.

    Antnio Conselheiro e Nova Jerusalm

    Antnio Conselheiro j era uma fi gura bastante conhecida nos sertes nordestinos desde a dcada de 1870. Era caixeiro de loja e gra-as a uma infelicidade pessoal - foi abandonado pela mulher - partiu para uma vida de eremita, cruzando o serto de cima a baixo. Por onde andava, procurava consertar os cemitrios e melhorar as igrejas. A fama das suas prdicas comeou a se espalhar e gente miservel comeou a segui-lo. Sua aparncia assemelhava-se aos profetas bblicos, com uma vasta cabeleira que lhe caia pelos ombros e vestido com um brim comprido que lhe chegava aos ps e um cajado nas mos. Parecia um personagem sado diretamente das Velhas Escrituras.

    Hostilizado pela maioria dos padres do interior, que no lhe suportavam a concorrncia e a crescente popularidade, o Conselheiro resolveu, em 1893, isolar-se em Canudos, um lugarejo pauprrimo, nas margens do rio Vasa-barris, no serto baiano. Rebatizou-a de Monte Santo. Em pouco tempo, um fl uxo constante de romeiros para l se dirigiu. O Conselheiro rejeitava a repblica. Considerava-a coisa satnica por ter institudo o casamento civil. Como a Igreja Catlica acomo-dou-se com a nova ordem, coube a ele liderar a rebeldia. Tratava-se

  • 42 Teorias da Histria42 Histria do Brasil Repblica

    de constituir um outra sociedade, onde os princpios dogmticos da religio seriam estritamente obedecidos. No se bebia em Canudos, e o maior delito era no comparecer s rezas coletivas. Tambm serviu de abrigo a marginais e bandidos que l procuravam refgio e de onde saam para novos barbarismos.

    Em pouco tempo, o Conselheiro formou uma espcie de peque-no estado dentro do estado. As autoridades fi zeram ento uma frente. Coronis, assustados com a fuga de mo de obra e com os surgimento de uma outra liderana, aproximaram-se da igreja que via nele um he-rtico. Um desentendimento com um lugarejo vizinho foi o pretexto que as autoridades aguardavam para mandar intervir militarmente. No incio de novembro de 1896, uma fora de 100 praas, sob o comando do Ten. Manuel Ferreira, foi enviada para Juazeiro e depois para Uau, que destroada pelo ataque dos jagunos em 21 de novembro.

    Foram necessrias mais trs expedies militares, a ltima com quase 5 mil homens e artilharia para submeter a Tria de taipa. A populao lutou at o fi m. Umas 300 mulheres, velhos e crianas se renderam. Os homens sobreviventes foram degolados e os que resis-tiram at o fi m foram baionetados numa luta corpo-a-corpo que se travou dentro do arraial, no dia do assalto fi nal, em 5 de outubro de 1897. Antnio Conselheiro, morto em 22 de setembro, teve seu corpo exumado e sua cabea decepada para estudos frenolgicos. O Gen. Artur Oscar determinou que os 5.200 casebres fossem pulverizados a dinamite. E assim, onze meses depois do entrevero de Uau, terminou Canudos.

    As quatro campanhas contra Canudos

    Campanhas Acontecimentos

    1 Campanha: 4 a 21 de novembro de 1896

    2 Campanha: 25 de outubro de 1896 a 20 de ja-neiro de 1897

    3 Campanha: 8 de fevereiro a 3 de maro de 1897

    Governador da Bahia ordena expedio para defesa de Juazeiro ameaada pelos jagunos de Antnio Conselheiro. Expedio com 100 pra-as comandada pelo ten. Manuel Ferreira. Segue at Uau, onde derrotada na madrugada pelos jagunos no dia 21 de outubro. O mdico enlou-quece. Retirada para Juazeiro.

    Comandada pelo Major Frebnio de Brito, com 543 praas e 14 ofi ciais e 3 mdicos. Travessia do Cambaio, primeiro e segundo combate. Mais de 400 jagunos mortos. Retirada em frente a Canudos, para Monte Santo. Militares vaiados. Debandada geral.

    Expedio Moreira Csar. Chega a Queimadas com 1.300 homens. Chega a Monte Santo e dali para Canudos. Assalto ao arraial em 2 de maro. Morte de Moreira Csar. Expedio dissolvida bate em retirada.

  • 43Teorias da Histria 43Histria do Brasil Repblica

    @Fonte: < http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/canudos.htm > Acesso em 16 de novembro de 2007.

    Atividade 06

    1) Com o rompimento poltico entre o PRP e o PRF, Prudente de Moraes governou com um congresso nacional dividido. Explique como essa diviso poderia ameaar os interesses das elites que o apoiavam.

    2) Qual a relao que podemos apresentar entre as disputas polticas entre o grupo jacobino e o prudentista, no mbito nacional, e a Guerra de Canudos no serto do Estado da Bahia?

    4 Campanha: 16 de junho a 5 de outubro de 1897

    Expedio comandada pelo Ge. Artur Oscar, dividida em duas colunas (gen. Joo Barbosa e Amaral Savaget), uma com 1.933 homens e a outra com 2.350. Combate de Cocorob. Duas colunas chegam a Canudos. Assalto ao arraial: 947 baixas. Chegam reforos de 2 brigadas da Bahia. Bombardeio sobre Canudos. Combate de Coxomongo. Morre Antnio Conselheiro no dia 22. No dia 24 de setembro, Canudos encontra-se sitiada. Assalto fi nal em 1 de outubro: 567 baixas. 300 prisioneiros (mulheres, velhos e crianas), dia 5 morrem os 4 ltimos resistentes. As 5.200 casas so dinamitadas.

  • 44 Teorias da Histria44 Histria do Brasil Repblica

    Campos Sales e a Poltica dos Governadores

    Diante de um Congresso fracio-nado, e para evit-lo, Campos Sales (1898-1902) tentou garantir o apoio das bancadas de Minas Gerais, So Paulo e Bahia, bem como pleiteou reformas no Regimento Interno da Cmara no intuito de impor ao Con-gresso nacional uma certa linha de con-duta durante a fase de reconhecimento dos poderes.

    bom lembrar que nesse pero-do no era o poder Judicirio o rgo verifi cador dos poderes dos deputados, senadores, presidente e vice-presidente da Repblica. rgo que garantia a es-ses a Diplomao, em outras palavras, que garantia que eles exerceriam seus mandatos aps a vit-ria nas eleies.

    Nesse momento da histria poltica brasileira, o rgo verifi cador dos poderes era o prprio Legislativo. Em outras palavras, a historiadora Maria do Carmo Cam-pello de Souza (2001, p.182-183) nos esclarece a importncia dessas medidas, naquele perodo: dominar as eleies signifi cava controlar automaticamente a comisso reconhecedora de diplomas, onde residia o fulcro das decises, na fase de reconhecimento dos poderes. Nesse sentido, a linha de conduta proposta, de acordo com ela, defi nia-se ela por reconhecer somente os diplomas dos candidatos eleitos pelas situaes no poder naquele momento dos respectivos Estados, no importando a que grupo pertencessem (grifo da autora).

    A mudana no Regimento Interno na Cmara defendia que a presidncia interina caberia ao mais velho dos diplomados da casa. Esse presidente, de preferncia, deveria ser o mesmo da comisso anterior, mantendo assim uma linha de continuidade. Seria ele tambm o encar-regado de formar a comisso que reconheceria os diplomas.

    Com o apoio de trs maiores bancadas, Campos Sales conseguiu que suas orientaes fossem aprovadas e cumpridas, permitindo assim que deputados e senadores tivessem mandatos slidos e interminveis no Congresso, bem como conseguiu ao seu partido um longo domnio no poder.

    Alteraram-se, assim, elementos importantes na estrutura de dominao nos Estados que permitiram a implantao de oligarquias estaduais que se fechariam as tentativas de oposio que viessem a surgir. Instituiram-se, com essas medidas, os alicerces que sustentariam por muitos anos a Poltica dos Governadores.

    Existiu, portanto, na manuteno das oligarquias estaduais, um

    Manuel Ferraz de Campos Salles(*1841/ +1913)

  • 45Teorias da Histria 45Histria do Brasil Repblica

    acordo poltico que garantiu a continuidade dos mesmos grupos, seja na instncia federal quanto nas estaduais. O presidente apoiaria o can-didato indicado pela situao nos Estados, desde que eles fi zessem o mesmo quanto ao indicado pela situao federal. Nesse contexto, e para garantir o funcionamento desses acordos, denominados tambm como Poltica dos Governadores, criou-se uma estrutura que contou com instrumentos legais (o voto aberto, a estrutura partidria e a forma que assumiu o federalismo brasileiro ratifi cados pela constituio de 1891), e prticas violentas e ilcitas (voto forado, compra de votos, violncia no campo), baseadas em relaes clientelistas e mandonistas, a exemplo do coronelismo.

    Com essas medidas se estabelece, tambm, a hegemonia de alguns setores da economia brasileira, que desde a proclamao, em 1889, con-duziram o processo republicano para esse fi m. o caso dos grandes fazendeiros do Caf e a Poltica do Caf-com-leite estabelecida a partir de acordos polticos entre o PRP e o PRM de Minas Gerais. Dentro do quadro instaurado pela poltica dos governadores, a relao entre o PRP e o PRM, as duas maiores bancadas no Congresso, se fortaleceram. Conseguindo com isso que os pilares da poltica partidria federal se fundamentassem no PRP e PRM, pelo menos at 1930.

    Apenas em dois momentos durante todo o restante a Primeira Repblica o revezamento PRP/PRM na presidncia da Repblica no aconteceu. O primeiro, mas que no signifi cou um rompimento, foi o da eleio de 1910, que marcou o retorno do exrcito nos quadros da grande poltica com a eleio do Marechal Hermes da Fonseca. O segundo momento, por sua vez, representou o rompimento dos acordos da poltica do Caf-com-Leite e ocorreu em torno da eleio de 1930, quando o Presidente da Repblica Washington Luiz indicou Jlio Preste, Presidente do Estado de So Paulo naquele perodo, em detrimento a indicao de um mineiro para sua sucesso, rompendo assim com o acordo com Minas Gerais.

    Leitura Complementar

    O PROCESSO POLTICO PARTIDRIO NA PRIMEIRA REPBLICA.

    (fragmentos)

    Por Maria do Carmo Campello de Souza

    [...] No sistema constitudo, os verdadeiros protagonistas do processo poltico eram os Estados, os quais, dotados dos necessrios suportes legais, dominavam a poltica nacional. Em troca da garantia de tal autonomia, sem interveno da Unio e do direito de controlar as

  • 46 Teorias da Histria46 Histria do Brasil Repblica

    nomeaes federais, os Estados davam apoio ao presidente da Repbli-ca, sem o qual este no subsistiria no poder. Embora tal compromisso no se concretizasse em relao as pequenas unidades da federao, [...], esse era o princpio implcito nas relaes da Unio com os Estados.

    A fora de uma oligarquia estadual advinda do controle exercido sobre os grandes coronis municipais, condutores da massa eleitoral incapacitada e impotente para participar do processo poltico que lhes fora aberto com o regime representativo imposto pela Constituio de 1891.

    Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleies estaduais e federais, os dirigentes polticos do interior fazem-se credores de especial recompensa, que consiste em fi carem com as mos livres para consolidarem sua dominao no municpio. Essa funo eleitoral do coronelismo to importante que sem ela difi cilmente se poderia compreender o doutdes que anima todo o sistema. O regime federativo tambm contribuiu, relevantemente, para a produo do fenmeno: (coronelismo) ao tornar inteiramente eletivo o governo dos Estados, permitiu a montagem, nas antigas provncias, de slidas mquinas elei-torais; essas mquinas eleitorais estveis, que determinaram a instituio da poltica de governadores, repousavam justamente no compromisso coronelista.

    [...] o fenmeno estudado caracterstico do regime republi-cano, embora diversos dos elementos que ajudam a compor o quadro do coronelismo fossem de observao freqente durante o Imprio e alguns deles no prprio perodo colonial. (Leal, p. 184)

    O fulcro do poder ou das decises polticas no residia, contu-do, nos municpios como pode parecer primeira vista. As faces municipais s subsistiam enquanto emanaes dos desejos do poder estadual e em nome da oligarquia instaurada no Estado. Existiam lutas polticas municipais: segundo prtica fi rmada de longas data dois grupos se engajavam em luta, dividindo verticalmente as comunidades. No importava, porm, qual funo ganhava o poder local, pois as graas lhe seriam dadas de qualquer modo, seguidas da absoro pelo governo estadual, com vantagens para ambos os lados.

    Com o poder judicirio, militar e policial em suas mos, o Estado garantia sua posio de parte forte, numa barganha na qual o municpio, ao no entrar nas regras do jogo, teria muito a perder, e, ao cumpri-las, ganhava o que podia receber.

    Ao nvel nacional, sob a hegemonia dos Estados mais fortes, Min as Gerais e So Paulo, desenrolava-se o processo poltico: um ajustamen-to e compromisso entre todos os Estados da Federao para a Escolha do Presidente da repblica, ponto crucial e quase nico importante no quadro da vida republicana.

    Dos papis reservados a cada um dos Estados no compromisso da poltica dos governadores, So Paulo e Minas Gerais detinham os mais importantes, seguidos pelo Rio Grande do Sul. Seus encontros e desencontros forjavam a poltica nacional. As outras unidades da Federao balanavam-se ao seu redor em busca e espera de serem carreadas ao poder depois de tomadas as grandes decises.

    Num sistema onde estavam ausentes os partidos nacionais, o

  • 47Teorias da Histria 47Histria do Brasil Repblica

    encaminhamento sucessrio assumia uma forma bastante complexa. [...] A hegemonia do processo, avocada pelos Estados de grande fora econmica e demogrfi ca, Minas e So Paulo era garantida por suas organizaes poltico-partidrias.

    (Fragmentos extrado do texto de Campello, 2001, p.185)

    Leitura Complementar

    Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discusso Conceitual

    (fragmentos)

    Por Jos Murilo de Carvalho

    Comeo com o conceito de coronelismo. Desde o clssico traba-lho de Victor Nunes Leal (1948), o conceito difundiu-se amplamente no meio acadmico e aparece em vrios ttulos de livros e artigos. No entanto, mesmo os que citam Leal como referncia, freqentemente, o empregam em sentido distinto. O que era coronelismo na viso de Leal? Em suas prprias palavras: o que procurei examinar foi sobretudo o sistema. O coronel entrou na anlise por ser parte do sistema, mas o que mais me preocupava era o sistema, a estrutura e a maneira pelas quais as relaes de poder se desenvolviam na Primeira Repblica, a partir do municpio (Leal, 1980:13). Nessa concepo, o coronelismo um sistema poltico, uma complexa rede de relaes que vai desde o coronel at o presidente da Repblica, envolvendo compromissos recprocos. O coronelismo, alm disso, datado historicamente.

    Na viso de Leal, ele surge na confl uncia de um fato poltico com uma conjuntura econmica. O fato poltico o federalismo implantado pela Repblica em substituio ao centralismo imperial. [...]

    A conjuntura econmica, segundo Leal, era a decadncia econ-mica dos fazendeiros. Esta decadncia acarretava enfraquecimento do poder poltico dos coronis em face de seus dependentes e rivais. A manuteno desse poder passava, ento, a exigir a presena do Estado, que expandia sua infl uncia na proporo em que diminua a dos do-nos de terra. O coronelismo era fruto de alterao na relao de foras entre os proprietrios rurais e o governo e signifi cava o fortalecimento do poder do Estado antes que o predomnio do coronel. O momento histrico em que se deu essa transformao foi a Primeira Repblica, que durou de 1889 at 1930.

    Nessa concepo, o coronelismo , ento, um sistema poltico na-cional, baseado em barganhas entre o governo e os coronis. O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos pblicos,

  • 48 Teorias da Histria48 Histria do Brasil Repblica

    desde o delegado de polcia at a professora primria. O coronel hipo-teca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de votos. Para cima, os governadores do seu apoio ao presidente da Repblica em troca do reconhecimento deste de seu domnio no estado. O coronelismo fase de processo mais longo de relacionamento entre os fazendeiros e o governo. O coronelismo no existiu antes dessa fase e no existe depois dela. Ele morreu simbolicamente quando se deu a priso dos grandes coronis baianos, em 1930. Foi defi nitivamente enterrado em 1937, em seguida implantao do Estado Novo e derrubada de Flores da Cunha, o ltimo dos grandes caudilhos gachos.

    Essa viso do coronelismo distingue-o da noo de mandonismo. Este talvez seja o conceito que mais se aproxime do de caciquismo na literatura hispano-americana. Refere-se existncia local de estruturas oligrquicas e personalizadas de poder. O mando, o potentado, o che-fe, ou mesmo o coronel como indivduo, aquele que, em funo do controle de algum recurso estratgico, em geral a posse da terra, exerce sobre a populao um domnio pessoal e