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HISTÓRIAS ACUMULATIVAS Faz um bom tempo que gosto de utilizar as histórias acumulativas com minhas turmas, pois o sucesso é garantido. Elas geram um interesse imediato nas crianças que interagem o tempo todo com o texto. A Velhinha Maluquete e A Casa Sonolenta todos os anos aparecem para fazer uma visitinha em minha sala de aula! Além de encantarem as crianças no ato da leitura, essas histórias ainda podem proporcionar excelentes atividades desafiadoras ao grupo. A partir de 2007 passei a utilizar a Coleção Conta de Novo, de Ana Maria Machado. Todas elas possuem o recurso da acumulação e foi através dessa coleção que me encantei mais ainda por esse gênero. Apesar de já utilizá-las, ainda não sabia classificá-la como tal. Foi através da parceria com a Lica que aprendi um pouco mais. Recentemente, esse interesse por histórias com acumulação foi reacendido, tanto pela intenção de minha amiga Liane Araujo, Lica, em elaborar um post sobre o assunto em seu blog [email protected] , quanto pelo trabalho com as Histórias Acumulativas propostas pelo Projeto Trilhas, do qual a escola em que trabalho (Santo Antônio do Cuiabá), participa. Os materiais do Projeto vieram somar ainda mais ao trabalho que já venho realizando. Em uma de nossas conversas via internet, eu e Lica falávamos sobre as histórias com acumulação e ela sugeriu criarmos, em parceria, alguns materiais a partir dessas histórias, para uso dos alunos. A proposta foi a de os próprios alunos fazerem a ilustração do material, já que dentre os materiais, haveria fichas com figuras de personagens ou objetos das histórias, para apoiar o reconto ou associar com fichas com palavras escritas. Achei a proposta muito pertinente, pois esses materiais seriam produzidos a partir do trabalho com as histórias junto aos alunos e certamente criaria um sentido para desdobramentos em atividades diversas. Assim, as histórias acumulativas ganharam mais espaço na minha sala este ano, uma turma de 1° ano com 21 crianças. Como o projeto que estou desenvolvendo com os alunos neste ano trata sobre florestas, escolhi o livro “Ah, cambaxirra, se eu pudesse...”, de Ana Maria Machado. Antes de iniciar o processo, li o post sobre o assunto escrito pela Lica e o Caderno de Histórias com Acumulação do Trilhas, a fim de buscar novas contribuições para o meu trabalho dali pra frente. O livro citado no trabalho não pertence ao acervo literário do Projeto Trilhas, mas possui as características do gênero em questão. Mas, justamente por ser baseado nos gêneros, o Trilhas nos sugere algumas atividades, passos iniciais, possibilitando que coloquemos em jogo nossos conhecimentos com o objetivo de ampliarmos o que já sabemos e isso cria uma oportunidade de também contribuirmos com experiências inovadoras e criativas com outros livros e materiais propostos a partir do nosso fazer pedagógico. O momento da leitura foi bem interessante! Aproveitei o espaço da Casa de Leitura, um espaço encantador que a escola possui onde a leitura é viva e dinâmica e estimula a criança a gostar de ler. Iniciei, como sempre, fazendo um levantamento sobre o que as crianças imaginam sobre o assunto do livro, conversando sobre a autora e ilustradora, informando sobre a editora. Após essa conversa fiz a leitura do livro. Foi um momento prazeroso para todas as crianças. Como já se esperava, logo no começo os alunos decoraram as falas dos personagens e passaram a interagir com o momento: “ Ah, cambaxirra, se eu pudesse... Mas não é comigo não! Estou só cumprindo ordens! De quem?Conforme a leitura foi se dando, as crianças iam participando num coro bem sonoro e espontâneo. Cada vez que um personagem ia citando outro, acumulando, a sonoridade, o aspecto lúdico e a própria característica do texto tornava a leitura uma grande brincadeira de se por no lugar do personagem assim como na Velhinha maluquete onde é um prazer repetir: “Poder pode, mas trate de se comportar!” As ilustrações de Graça Lima também ajudaram, pois a expressão diferenciada de cada personagem

Histórias acumulativas registro

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HISTÓRIAS ACUMULATIVAS

Faz um bom tempo que gosto de utilizar as histórias acumulativas com minhas turmas, pois o sucesso é

garantido. Elas geram um interesse imediato nas crianças que interagem o tempo todo com o texto. A

Velhinha Maluquete e A Casa Sonolenta todos os anos aparecem para fazer uma visitinha em minha

sala de aula! Além de encantarem as crianças no ato da leitura, essas histórias ainda podem

proporcionar excelentes atividades desafiadoras ao grupo. A partir de 2007 passei a utilizar a Coleção

Conta de Novo, de Ana Maria Machado. Todas elas possuem o recurso da acumulação e foi através

dessa coleção que me encantei mais ainda por esse gênero. Apesar de já utilizá-las, ainda não sabia

classificá-la como tal. Foi através da parceria com a Lica que aprendi um pouco mais.

Recentemente, esse interesse por histórias com acumulação foi reacendido, tanto pela intenção de

minha amiga Liane Araujo, Lica, em elaborar um post sobre o assunto em seu blog

[email protected], quanto pelo trabalho com as Histórias Acumulativas propostas

pelo Projeto Trilhas, do qual a escola em que trabalho (Santo Antônio do Cuiabá), participa. Os materiais

do Projeto vieram somar ainda mais ao trabalho que já venho realizando.

Em uma de nossas conversas via internet, eu e Lica falávamos sobre as histórias com acumulação e ela

sugeriu criarmos, em parceria, alguns materiais a partir dessas histórias, para uso dos alunos. A proposta

foi a de os próprios alunos fazerem a ilustração do material, já que dentre os materiais, haveria fichas

com figuras de personagens ou objetos das histórias, para apoiar o reconto ou associar com fichas com

palavras escritas. Achei a proposta muito pertinente, pois esses materiais seriam produzidos a partir do

trabalho com as histórias junto aos alunos e certamente criaria um sentido para desdobramentos em

atividades diversas.

Assim, as histórias acumulativas ganharam mais espaço na minha sala este ano, uma turma de 1° ano

com 21 crianças. Como o projeto que estou desenvolvendo com os alunos neste ano trata sobre

florestas, escolhi o livro “Ah, cambaxirra, se eu pudesse...”, de Ana Maria Machado. Antes de iniciar o

processo, li o post sobre o assunto escrito pela Lica e o Caderno de Histórias com Acumulação do

Trilhas, a fim de buscar novas contribuições para o meu trabalho dali pra frente. O livro citado no trabalho

não pertence ao acervo literário do Projeto Trilhas, mas possui as características do gênero em questão.

Mas, justamente por ser baseado nos gêneros, o Trilhas nos sugere algumas atividades, passos iniciais,

possibilitando que coloquemos em jogo nossos conhecimentos com o objetivo de ampliarmos o que já

sabemos e isso cria uma oportunidade de também contribuirmos com experiências inovadoras e criativas

com outros livros e materiais propostos a partir do nosso fazer pedagógico.

O momento da leitura foi bem interessante! Aproveitei o espaço da Casa de Leitura, um espaço

encantador que a escola possui onde a leitura é viva e dinâmica e estimula a criança a gostar de ler.

Iniciei, como sempre, fazendo um levantamento sobre o que as crianças imaginam sobre o assunto do

livro, conversando sobre a autora e ilustradora, informando sobre a editora. Após essa conversa fiz a

leitura do livro. Foi um momento prazeroso para todas as crianças. Como já se esperava, logo no

começo os alunos decoraram as falas dos personagens e passaram a interagir com o momento: “Ah,

cambaxirra, se eu pudesse... Mas não é comigo não! Estou só cumprindo ordens! De quem?”

Conforme a leitura foi se dando, as crianças iam participando num coro bem sonoro e espontâneo. Cada

vez que um personagem ia citando outro, acumulando, a sonoridade, o aspecto lúdico e a própria

característica do texto tornava a leitura uma grande brincadeira de se por no lugar do personagem assim

como na Velhinha maluquete onde é um prazer repetir: “Poder pode, mas trate de se comportar!” As

ilustrações de Graça Lima também ajudaram, pois a expressão diferenciada de cada personagem

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traziam risos e comentários! Esse tipo de história é importante, pois transforma um grupo de ouvintes

num grupo ativo, participante no ato da leitura.

Em outro momento, como sugestão da Lica, fizemos uma pesquisa no dicionário para que pudessem

compreender o significado de cada título: imperador, marquês, conde... Nesse caso foi interessante, pois

as crianças puderam compreender que são títulos dados à nobreza, mas que há uma hierarquia: um

título é superior ao outro. As crianças queriam ver no próprio livro quem possuía maior poder. Já sabiam

que o imperador, que aparece por último era o mais poderoso, mas queriam ver os outros. A partir dessa

atividade compreenderam porque os personagens falavam: “E eu morro de medo dele!” Justamente

pelo poder que um exercia sobre o outro. As crianças também comentaram sobre os castelos e as terras

e o uso da lenha também foi questionado.

Retomamos as ilustrações do livro com a intenção de buscarmos um elemento diferenciador para cada

personagem. Isso seria muito importante, pois os desenhos não seriam fiéis aos do livro, portanto

deveríamos encontrar ícones que servissem de identificador de tal personagem. Dessa forma os

personagens poderiam ser facilmente identificados. Os alunos também tinham a obrigatoriedade, ao

fazer o desenho, de colocar a representação escolhida pelo grupo. Dessa forma tivemos os seguintes

resultados:

LENHADOR- CAMISETA CAPATAZ- CAMISA

BARÃO- BLUSA COM BABADOS MARQUÊS- TÚNICA CONDE- CASACO VISCONDE- CAPA DUQUE- CHAPÉU

IMPERADOR- COROA CAMBAXIRRA- ASAS

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Cada criança escolheu quatro personagens para ilustrar. Os resultados foram muito bons, as crianças capricharam no desenho e na pintura. Fizemos a escolha dos personagens através de votação. Após as escolhas resolvi trabalhar com as palavras e imagens que apareceriam no jogo. Todos foram se familiarizando com os desenhos escolhidos. Também propus a escrita dos nomes dos personagens e seus respectivos ícones. Através dessa atividade os alunos colocaram em jogo seus conhecimentos sobre a escrita. No caso da escrita da lista dos personagens a atividade foi bastante desafiadora, pois eram palavras “difíceis”. (cambaxirra, lenhador, imperador, conde, visconde, marquês, barão, duque, capataz). Como meu grupo de alunos já está em fase de reflexões ortográficas, a atividade atendeu a todos. Através da análise das palavras CAMBAXIRRA, IMPERADOR, CONDE E VISCONDE, conseguimos estabelecer a regularidade ortográfica do uso do M antes de P e B. Refletimos sobre a questão ortográfica do S com som de Z através das palavras blusa, camisa, camiseta, asa, casaco. Propus o levantamento de novas palavras com esta regularidade. Fizemos uma pesquisa sobre a cambaxirra e cada criança escreveu um texto informativo sobre essa ave que posteriormente foi revisado e através desta revisão os alunos compreenderam o uso do parágrafo. Refletindo sobre essas atividades percebo que estão bem de acordo com o momento de aprendizagem do meu grupo. Provavelmente se estivéssemos em outro momento do ano as propostas seriam diferentes, como por exemplo, estabelecimento da letra inicial e final, como aconteceu com a Velhinha Maluquete no início. O importante é o estabelecimento de desafios possíveis aos alunos, fazendo-os avançar.

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Quando o material do Kit Cambaxirra ficou pronto levei para

a turma. Elogiei bastante o grupo pelo trabalho

desenvolvido. Todos gostaram muito do produto e os

ilustradores ficaram muito felizes ao verem seus desenhos.

Cada grupo foi usando o material. O primeiro grupo,

composto por Gabriel, Bryan, Luiz Felipe e Alice foram

automaticamente separando os personagens e colocando

na ordem em que aparecem na história. À medida que iam

colocando, Gabriel dizia: “Estou só cumprindo ordens! De

quem? E colocava outra cartela. A intenção inicial era essa

mesmo, mas não precisei falar. Eles compreenderam muito

bem a ideia acumulativa e já haviam memorizado a ordem

dos personagens.

Propus ao grupo que colocassem os respectivos nomes

abaixo da imagem. Fizeram com muita categoria, pois já são

leitores mais experientes. Por conta própria colocaram os

identificadores. As crianças separaram as cartelas para o

jogo da memória: figura/nome e depois figura/símbolo.

Certamente esse kit desenvolvido com este grupo poderá

ser utilizado com outras turmas, em qualquer momento. O importante é conhecer as necessidades do

grupo em questão e lançar desafios adequados e possíveis a ele. Se for utilizado no início do ano letivo

provavelmente não daríamos ênfase à questão ortográfica, por exemplo. Ele possibilita atividades de

reflexão e leitura para crianças ainda não alfabéticas, através do reconhecimento de palavras por

estratégias diversas. Assim, poderão associar as fichas com os nomes dos personagens a suas figuras,

usar as fichas escritas também para apoiar o reconto, e não apenas as fichas com figuras. Para apoiar

outros grupos o kit possui ainda um glossário que informa o título de cada personagem utilizando

imagem/palavra. Isso é fundamental, pois outros grupos já receberão o jogo pronto, ou seja, não fizeram

parte da sua confecção.

O material também prevê o jogo da trinca, jogado como baralho cujo obletivo é a formação de trincas

associando fichas com os nomes, fichas com a figuras e fichas com o elemento definidor do personagem

escrito. Lica também propôs a formação de novas palavras através da palavra CAMBAXIRRA, com letras

móveis: cama, maca, barra, cara, baixa, rixa, rara, arara, birra, caixa, e por aí vai...

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Após este trabalho também lemos o livro O barbeiro e o coronel de Ana Maria Machado, da mesma

coleção. Os alunos logo perceberam que tinha algo parecido com o livro da cambaxirra. Foi um ótimo

momento para fazermos relações com os títulos A casa sonolenta e A velhinha maluquete lidos em

outros momentos do ano. Gabriel disse: “A história vai repetindo, mas com novos personagens!”

Selecionei dois livros do acervo do Projeto Trilhas: Uma girafa e tanto e o grande rabanete para novas

propostas de leitura e escrita. Certamente podemos propor as mesmas atividades, mas como cada livro

traz suas próprias surpresas, novidades poderão surgir por aí. É preciso apostar e acreditar!

Fundamental ainda ressaltar que o trabalho do professor não necessita ser solitário. Podemos sim, firmar

parcerias, pois essa interação é que nos faz crescer. À amiga Lica, meus sinceros agradecimentos.

Ana Lúcia Antunes