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Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Tradução: Barbara Heliodora
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7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora
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Histórias de Fadas
Textos Escolhidos
Oscar Wilde
Tradução de
Barbara Heliodora
7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora
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Com este “Histórias de fadas” o escritor irlandês Oscar Wilde cria alguns dos
mais belos contos do gênero. De alta ualidade !o"tica e tocando fundo o coração do
leitor# suas narrati$as mara$il%osas emocionam e fa&em refletir sobre o com!ortamento
%umano.
'um(rio
O )r*nci!e +eli&
O ,igante -go*staO migo Dedicado
O /ou0inol e a /osa
Oscar Wilde# escritor irlandês# nasceu em Dublin em 1234 e morreu em )aris em
1566. Dedicou7se ao 8ornalismo e 9 literatura. )ublicou contos e !oemas# mas foram suas!eças teatrais ue l%e trou0eram maior glória e sucesso. -m “Histórias de fadas”
considerado ltamente /ecomend($el !ela +undação :acional do ;i$ro <nfantil e =u$enil#
narra temas de fundo social# ue celebram a força do amor. Os cr*ticos da "!oca o
com!aram ao dinamaruês Hans C%ristian nderson considerado o maior autor do
gênero.
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O )r*nci!e +eli&
:a !arte alta da cidade# no to!o de uma certa colina# fica$a a est(tua do )r*nci!e
+eli&. -ra toda dourada com fin*ssimas fol%as de ouro refinado# seus ol%os duas safiras
bril%antes# e um grande rubi fulgura$a no !un%o de sua es!ada.
O )r*nci!e era $erdadeiramente admirado.
> -le " bonito como um cata7$ento ? comentou um dos Consel%eiros da Cidade#
ue ueria ficar famoso !or gostar das artes. ? 'ó ue não " tão @til ? acrescentou logo#
com medo ue o !o$o o 8ulgasse !ouco !r(tico# o ue não era $erdade# ali(s.
> )or ue $ocê não !ode ser igual ao )r*nci!e +eli&A ? !erguntou uma mãe
sensata a seu fil%in%o ue esta$a c%orando !orue ueria a lua. ? O )r*nci!e +eli& 8amais
son%a em c%orar !elo ue uer ue se8a.
> legro7me ue %a8a algu"m no mundo ue se8a inteiramente feli& ?
resmungou um %omem desencantado ao ol%ar !ara a mara$il%osa est(tua.
> -le " igual&in%o a um an8o ? disseram os meninos do Orfanato ao sair da
catedral $estindo suas ca!as $ermel%o $i$o e seus a$entais brancos.
> Como " ue $ocê sabeA ? disse o )rofessor de atem(tica. ? ocê nunca $iu
um deles.
> %# $imos# sim# em nossos son%os ? res!onderam as crianças.
-ntão o )rofessor de atem(tica fran&iu o cen%o e ficou muito se$ero# !ois não
a!ro$a$a essa %istória de criança son%ar.
Certa noite $oou !or cima da cidade uma ndorin%a mac%o. 'eus amigos tin%am
$oado !ara o -gito 8( %a$ia seis semanas# mas ele ficara !ara tr(s# !orue esta$a
a!ai0onado !or uma lind*ssima Haste de =unco. -le a con%ecera no in*cio da !rima$era#
ao $oar rio abai0o atr(s de uma mari!osa# e ficara tão atra*do !ela esbelte&a de sua
cintura ue !arou !ara con$ersar com ela.
> 'er( ue de$o am(7laA ? disse o )assarin%o# ue gosta$a de entrar logo no
assunto# e a Haste fe&7l%e uma !rofunda re$erência.
-ntão ele ficou $oando em torno dela# tocando a (gua com suas asas# criando!euenos c*rculos !rateados. -ra assim ue fa&ia a corte# ue durou todo o $erão.
> uma ligação rid*cula ? c%ilrea$am os outros !assarin%os. ? -la não tem
din%eiro e tem !arentes demais ? disseram# !ois o rio era todo c%eio de =uncos.
Euando c%egou o outono# como sem!re# elas $oaram !ara bem longe.
De!ois ue as outras !artiram# ele sentiu7se solit(rio e começou a se cansar de
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sua amada.
> -la não sabe con$ersar ? disse ele ># e ten%o receio ue se8a muito couete#
!ois est( sem!re flertando com o $ento.
- " bem $erdade ue sem!re ue o $ento so!ra$a# a Haste de =unco se cur$a$a
das maneiras mais graciosas.> Ten%o de confessar ue ela " muito caseira ? continuou ele ># mas eu adoro
$ia8ar# e !ortanto a min%a mul%er tamb"m de$eria gostar de $iagens.
> ocê uer !artir comigoA ? !erguntou ele finalmente# !or"m a Haste fe& ue
não com a cabeça# !or ser muito ligada a seu lar.
> -ntão $ocê este$e brincando comigo ? gritou ele. ? ou7me embora !ara as
)irFmides. deusG ? e saiu $oando.
oou o dia todo e# de noite# c%egou 9 cidade.
> Onde %ei de !assar a noiteA ? !ensou ele. ? -s!ero ue a cidade ten%atomado as de$idas !ro$idências.
- então $iu a est(tua no alto da coluna.
> ali ue $ou ficar ? e0clamou. ? uma situação !ri$ilegiada# com muito ar
fresco.
- !ousou e0atamente entre os dois !"s do )r*nci!e +eli&.
> ,an%ei um uarto de dormir de ouro ? disse ele bai0in%o !ara si mesmo#
enuanto ol%a$a em $olta !re!arando7se !ara dormir.
as no momento e0ato em ue ia colocar a cabeça debai0o da asa# uma enormegota de (gua caiu em cima dele.
> Eue coisa curiosaG ? e0clamou ele. ? :ão %( uma @nica nu$em no c"u# as
estrelas estão !erfeitamente $is*$eis e bril%antes# e no entanto est( c%o$endo. O clima no
norte da -uro!a " realmente %orr*$el. Haste de =unco costuma$a gostar da c%u$a# mas só
!orue sem!re foi ego*sta.
- a* caiu uma outra gota.
> De ue adianta uma est(tua se não ser$e !ara im!edir ue a (gua caiaA ?
disse ele. ? -u !reciso ir !rocurar uma boa c%amin" com tam!a ? e resol$eu sair $oando.as antes ue !udesse abrir as asas# caiu uma terceira gota# e ol%ando !ara
cima ele $iu... %G O ue foi ue ele $iuAGGG
Os ol%os do )r*nci!e +eli& esta$am c%eios de l(grimas# e l(grimas rola$am !or
suas faces douradas. 'eu rosto era tão bonito ao luar ue o !eueno )assarin%o ficou
tomado de !iedade.
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> Euem " $ocêA ? !erguntou ele.
> 'ou o )r*nci!e +eli&.
> -ntão !or ue " ue est( c%orandoA ? !erguntou o )assarin%o. ? ocê me
enc%arcou todo.
> Euando eu era $i$o e tin%a um coração %umano ? res!ondeu a est(tua ># eunão sabia o ue eram as l(grimas# !orue mora$a no )al(cio de 'ans7'ouci# onde as
triste&as eram !roibidas de entrar. De dia eu brinca$a com meus !euenos com!an%eiros
no 8ardim# e de noite eu lidera$a as danças no 'alão )rinci!al. -m $olta do 8ardim %a$ia
um muro muito alto# mas eu nunca me dei ao trabal%o de !erguntar o ue %a$ia !ara al"m
dele# 8( ue tudo 9 min%a $olta era tão bonito. eus cortesãos me c%ama$am o )r*nci!e
+eli&# e eu era na $erdade feli&# se " ue o !ra&er " felicidade. ssim eu $i$i e assim eu
morri. - agora ue estou morto eles me !useram aui# tão alto ue !osso $er todo o mal e
toda a mis"ria da min%a cidade e# mesmo ue meu coração se8a feito de c%umbo# não!osso e$itar c%orar.
> O uêG -le não " de ouro maciçoA ? disse o )assarin%o !ara si mesmo. -le
era bem educado demais !ara fa&er coment(rios !essoais em $o& alta.
> ;( longe ? continuou a est(tua com $o& sua$e e musical ># bem l( longe# em
uma !euena ruela# %( uma casa muito !obre. ma das 8anelas est( aberta e# atra$"s
dela# !osso $er uma mul%er sentada. 'eu rosto " magro e gasto# e ela tem mãos (s!eras
e $ermel%as# todas !icadas de agul%a# 8( ue " costureira. -la est( bordando flores de
maracu8( em um $estido de cetim !ara a mais bela das Damas de Honra da /ain%a usarno !ró0imo baile da Corte. :a cama# em um canto do uarto# est( deitado# doente# o
fil%in%o dela. -le est( com febre e !ediu uma laran8a# !or"m a mãe não tem nada !ara l%e
dar senão (gua do rio e !or isso ele est( c%orando. )assarin%o# )assarin%o# !eueno
)assarin%o# ser( ue não !odia entregar a ela o rubi do !un%o da min%a es!adaA eus
!"s são !resos a este !edestal e eu não !osso me me0er.
> -stão me es!erando no -gito ? disse o )assarin%o. ? eus amigos estão
$oando !ara cima e !ara bai0o no :ilo# con$ersando com as enormes flores de lótus.
Daui a !ouco eles $ão dormir no t@mulo do ,rande /ei. O !ró!rio /ei est( l(# em seucai0ão !intado. -le est( embrul%ado em lin%o amarelo e embalsamado com es!eciarias.
-m torno de seu !escoço %( uma corrente de 8ade $erde7!(lido# e suas mãos !arecem
fol%as secas.
> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># ser( ue
$ocê não !ode ficar comigo !or uma noite# e ser meu mensageiroA O menino est( com
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tanta sede# e a mãe est( tão triste.
> -u ac%o ue não gosto de meninos ? res!ondeu o )assarin%o. ? :o $erão
!assado# uando eu esta$a !ousando no rio# %a$ia dois meninos muito grosseiros# os
fil%os do moleiro# ue esta$am sem!re atirando !edras em mim. -les nunca me atingiram#
" claro. :ós# andorin%as# $oamos bem demais !ara isso# e al"m do mais eu !ertenço auma fam*lia famosa !or sua agilidade. esmo assim# foi um gesto desres!eitoso.
as o )r*nci!e +eli& !arecia tão triste ue o !eueno )assarin%o !ediu
descul!as.
> ui fa& muito frio ? disse ele ># mas eu ficarei com $ocê !or uma noite e
serei seu mensageiro.
> uito obrigado# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e.
-ntão o )assarin%o tirou o grande rubi da es!ada do )r*nci!e e $oou# le$ando7o
no bico# !or cima dos tetos da cidade.-le !assou !ela torre da catedral# onde %a$ia est(tuas de an8os em m(rmore
branco. )assou !elo !al(cio e ou$iu o barul%o de gente dançando. ma moça bonita
a!areceu em um balcão com o namorado.
> Como estão mara$il%osas as estrelas ? disse7l%e ele. ? - como " mara$il%oso
o !oder do amorG
> -s!ero ue meu $estido fiue !ronto a tem!o do baile da Corte ? res!ondeu
ela. ? -u mandei bordar umas flores lindas nele# mas as costureiras são tão !reguiçosas.
-le !assou !elo rio e $iu as lanternas !enduradas nos mastros dos na$ios.)assou !elo gueto e $iu os $el%os 8udeus negociando uns com os outros# e !esando
din%eiro em balanças de cobre. +inalmente c%egou na casin%a !obre e ol%ou l( !ara
dentro. O menino esta$a a se $irar febrilmente na cama# e a mãe %a$ia ca*do dormindo de
tão cansada. -le !ulou !ara dentro e de!ositou o rubi ao lado do dedal da mul%er. De!ois#
$oou sua$emente em torno da cama# abanando a testa do menino com suas asas.
> Como ficou fresuin%o ? disse o menino. ? -u de$o estar mel%orando. ? -
caiu num sono delicioso.
-ntão o )assarin%o $oou de $olta !ara o )r*nci!e +eli& e contou7l%e o ue %a$iafeito.
> curioso ? comentou o !(ssaro ># mas estou me sentindo bem uentin%o
agora# a!esar de estar fa&endo frio.
> !orue $ocê fe& uma boa ação ? disse o )r*nci!e.
- o !eueno )assarin%o começou a !ensar# e adormeceu. )ensar sem!re da$a
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sono nele.
Euando o dia nasceu# ele $oou at" o rio e tomou ban%o.
> Eue fenImeno not($elG ? disse o )rofessor de Ornitologia ue esta$a
!assando na !onte. ? ma andorin%a no in$ernoG ? e escre$eu uma longa carta ao 8ornal
local. Todo mundo !assou a cit(7la# !orue esta$a c%eia de !ala$ras ue ningu"mconseguia com!reender.
> Ho8e de noite eu $ou !ara o -gito ? disse o )assarin%o# ue esta$a muito
contente só de !ensar nisso.
-le $isitou todos os monumentos da cidade e ficou uma !orção de tem!o
sentado no alto da torre da igre8a. - em todo lugar onde ia# os )ardais c%ilrea$am e
di&iam uns !ara os outros JEue $isitante distintoGJ# de modo ue ele se di$ertiu muito.
Euando a lua a!areceu# ele $oou de no$o at" o )r*nci!e +eli&.
> ocê tem alguma encomenda !ara o -gitoA ? gritou ele. ? -u estou de!artida.
> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># não uer
ficar só mais uma noite comigoA
> -stão me es!erando no -gito ? res!ondeu o )assarin%o. ? man%ã meus
amigos $ão $oar !ara a 'egunda Catarata. Os ca$alos7marin%os se anin%am nos 8uncos#
e o grande deus emnon fica sentado em um imenso trono de granito. noite inteira ele
fica ol%ando as estrelas. Euando a!arece a estrela da man%ã ele solta um grito de alegria
e de!ois fica imó$el. o meio7dia os leKes amarelos descem at" a beira da (gua !aramatar a sede. -les têm ol%os como berilos $erdes# e seu rugido " mais alto do ue o da
catarata.
> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># l( longe#
do outro lado da cidade# eu $i um ra!a& em um sótão. -le est( cur$ado sobre uma mesa
coberta de !a!"is# e em uma caneca a seu lado %( um ramo de $ioletas murc%as. 'eus
cabelos são castan%os e enrolados# seus l(bios rubros como romãs# e seus ol%os são
grandes e son%adores. -le est( tentando acabar uma !eça !ara o Diretor do Teatro# mas
est( com frio demais !ara !oder continuar a escre$er. :ão %( fogo no braseiro# e eledesmaiou de fome.
> -u es!ero mais uma noite com $ocê ? disse o )assarin%o# ue tin%a muito
bem no coração. ? Euer ue eu le$e um outro rubiA
> <nfeli&mente 8( não ten%o mais rubis ? disse o )r*nci!e. ? 'ó me restam os
meus ol%os# feitos de safiras raras# tra&idas da Lndia %( mil anos. rranue uma delas
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agora e le$e !ara ele. -le !ode $endê7la ao 8oal%eiro# com!rar len%a e acabar sua !eça.
> Euerido )r*nci!e ? disse o )assarin%o ># eu não !osso fa&er uma coisa
dessas ? e começou a c%orar.
> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># faça como
eu mandei.-ntão o )assarin%o arrancou o ol%o do )r*nci!e e $oou !ara o sótão. +oi muito
f(cil entrar# !orue %a$ia um buraco no tel%ado. )assando !or ali# ele entrou no uarto. O
ra!a& esta$a com a cabeça abai0ada entre as mãos# de modo ue não ou$iu o bater das
asas do !(ssaro# e uando ol%ou !ara cima $iu a linda safira !ousada em cima das
$ioletas murc%as.
> -stou começando a fa&er sucesso ? gritou ele. ? <sso " de algum admirador.
gora !osso terminar min%a !eça ? e !arecia muito contente.
:o dia seguinte# o )assarin%o $oou at" o !orto. )ousado no mastro de umgrande na$io# ficou obser$ando os marin%eiros ue# com cordas# iça$am grandes ba@s
!ara o !orão. “;e$anta# moçadaG”# grita$am eles cada $e& ue um ba@ ia subir.
> -u $ou !ara o -gitoG ? gritou o )assarin%o# mas ningu"m !restou atenção# e
uando a lua a!areceu ele $oou de $olta !ara o )r*nci!e +eli&.
> -u $im !ara di&er adeus ? cantou ele.
> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># ser( ue
não !ode ficar mais uma noite comigoA
> in$erno ? res!ondeu o )assarin%o ># e daui a !ouco a ne$e gelada $aic%egar. :o -gito o sol " uente sobre as !almeiras $erdes# e os crocodilos ficam se
es!reguiçando na lama# só ol%ando em $olta. eus com!an%eiros estão construindo um
nin%o no Tem!lo de BaalbeM# e os !ombos rosa e branco estão a obser$(7los# arrul%ando
um !ara o outro. Euerido )r*nci!e# eu ten%o de dei0(7lo# mas nunca mais %ei de esuecê7
lo# e na !ró0ima !rima$era l%e trarei duas lindas 8óias !ara substituir as ue deu. O rubi
ser( mais rubro do ue uma rosa $ermel%a# e a safira a&ul como o mar imenso.
> :a !raça ali embai0o ? disse o )r*nci!e ? est( uma meninin%a ue $ende
fósforos. -la os dei0ou cair na sar8eta# e eles ficaram todos estragados. 'eu !ai $aies!anc(7la se ela não le$ar algum din%eiro !ara casa# e ela est( c%orando. -la não tem
sa!atos nem meias# e est( com a cabecin%a descoberta. rranue meu outro ol%o# e o dê
a ela# !ara ue seu !ai não a es!anue.
> -u ficarei com $ocê mais uma noite ? disse o )assarin%o ># mas não !osso
arrancar seu outro ol%o. ocê ia ficar com!letamente cego.
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> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o > disse o !r*nci!e ># faça
como eu mandei.
-ntão ele arrancou o outro ol%o do )r*nci!e# e desceu como uma flec%a.
ergul%ando !ertin%o da menina# !assou de!ressa a 8óia !ara a mão dela.
> Eue lindo !edacin%o de $idroG ? gritou a meninin%a e correu !ara casa# rindo.- então o )assarin%o $oltou !ara o )r*nci!e e disseN
> gora $ocê est( cego# e eu ficarei com $ocê !ara sem!re.
> :ão# !eueno )assarin%o ? disse o !obre )r*nci!e ># $ocê tem de ir !ara o
-gito.
> ou ficar com $ocê !ara sem!re ? disse o )assarin%o# e adormeceu aos !"s
do )r*nci!e.
Durante todo o dia seguinte ele ficou !ousado no ombro do )r*nci!e# contando7
l%e %istórias sobre o ue %a$ia $isto em terras estran%as. +alou dos *bis $ermel%os# uefa&em filas enormes ao longo das margens do :ilo# !egando !ei0in%os dourados com os
bicos da -sfinge# ue " tão $el%a uanto o !ró!rio mundo# mora no deserto# e sabe tudo
dos mercadores# ue camin%am lentamente ao lado de seus camelos# carregando contas
de Fmbar nas mãos do /ei das ontan%as da ;ua# ue " !reto como bano e adora um
cristal enorme da grande cobra $erde ue dorme em uma !almeira e tem $inte
sacerdotes !ara aliment(7la com bolin%os de mel e dos !igmeus ue na$egam em um
grande lago em cima de grandes fol%as !lanas# sem!re em guerra com as borboletas.
> Euerido )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># $ocê me fala de coisasim!ressionantes# !or"m mais im!ressionante do ue ualuer outra coisa " o sofrimento
dos %omens e das mul%eres. :ão %( ist"rio tão grande uanto o da is"ria. oe !or
cima da min%a cidade# !eueno )assarin%o# e conte7me o ue $ê !or ali.
-ntão o )assarin%o $oou sobre a grande cidade# e $iu os ricos se di$ertindo em
suas lindas casas# enuanto os mendigos !ermaneciam sentados 8unto aos !ortKes. oou
!or ruelas escuras e $iu os rostos brancos de crianças famintas ol%ando# a!(ticas# !ara
ruas l@gubres. Debai0o do arco de uma !onte# dois meninos esta$am deitados# abraçados
!ara se esuentarem. “Eue fome nós temosG”# di&iam eles.> ocês não !odem deitar a*G ? gritou o guarda noturno# e os dois ti$eram de
sair !ela c%u$a.
- então o !(ssaro $oltou e contou o ue $ira ao )r*nci!e.
> -u sou coberto de ouro da mel%or ualidade ? disse o )r*nci!e. ? ocê
!recisa retir(7lo# fol%a !or fol%a# e d(7lo aos meus !obres. Os $i$os ac%am ue o ouro
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!ode tra&er7l%es felicidade.
+ol%a a!ós fol%a de ouro o )assarin%o arrancou# at" dei0ar o )r*nci!e todo
cin&ento e o!aco. +ol%a a!ós fol%a do mel%or ouro ele le$ou !ara os !obres# e os rostos
das crianças foram ficando mais rosados# e elas começaram a rir e a brincar nas ruas.
> gora nós temos !ãoG ? grita$am.- então c%egou a !rimeira ne$e e# de!ois da ne$e# $eio o gelo. s ruas !areciam
feitas de !rata# de tão bril%antes e relu&entes longos !ingentes de gelo !endiam dos
beirais das casas como adagas de cristal. Todo mundo anda$a en$olto em !eles# e os
meninin%os usa$am gorros $ermel%os e !atina$am no gelo.
!obre ndorin%a mac%o foi ficando cada $e& com mais frio# mas não ueria
dei0ar o )r*nci!e# a uem tanto ama$a. -le cata$a migal%as do lado de fora da !adaria
uando o !adeiro não esta$a ol%ando# e tenta$a se esuentar batendo as asas.
as afinal c%egou um momento em ue ele sentiu ue ia morrer. 'uas forças sóderam !ara c%egar ainda uma $e& at" o ombro do )r*nci!e.
> deus# )r*nci!e ueridoG ? murmurou ele. ? 'er( ue !ermite ue eu bei8e a
sua mãoA
> +ico muito feli& ue $ocê finalmente este8a indo !ara o -gito# !eueno
)assarin%o ? disse o )r*nci!e. > ocê ficou !or aui muito tem!o# mas de$e bei8ar7me os
l(bios# 8( ue o amo muito.
> :ão " !ara o -gito ue estou indo ? disse o )assarin%o. ? ou !ara a Casa da
orte. orte " irmã do 'ono# não "A-# bei8ando os l(bios do )r*nci!e# ele caiu morto a seus !"s.
:auele instante um curioso ru*do de uebradura soou dentro da est(tua# como
se alguma coisa se ti$esse !artido. O fato " ue o coração de c%umbo se abrira
e0atamente em dois. :a certa !or causa do terr*$el frio ue esta$a fa&endo.
;ogo cedin%o# na man%ã seguinte# o )refeito esta$a andando !ela !raça# ue
fica$a ali embai0o# com os ereadores da Cidade. o !assarem !ela coluna# ele ol%ou
!ara cima e disseN
> Ora essaG Como o )r*nci!e +eli& est( !arecendo miser($elG> iser($el# mesmoG ? gritaram os ereadores# ue sem!re concorda$am com o
)refeito.
- todos subiram !ara ol%ar a est(tua.
> O rubi caiu da es!ada# os ol%os desa!areceram e ele não " mais dourado ?
disse o )refeito. ? :a $erdade ele !arece !ouco mais do ue um mendigoG
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> )ouco mais do ue um mendigoG ? disseram os ereadores.
> - %( at" mesmo um !assarin%o morto aos !"s deleG ? continuou o )refeito. ?
Temos de fa&er uma !roclamação de ue os !(ssaros não têm !ermissão !ara morrer
aui ? e o -scri$ão da Cidade tomou nota da sugestão.
- a est(tua do )r*nci!e +eli& foi derrubada.> Como ele não " mais bonito# não tem mais utilidade ? disse o )rofessor de
rte da ni$ersidade.
- então eles derreteram a est(tua em um forno# e o )refeito reuniu todo o
go$erno local !ara resol$er o ue %a$eria de ser feito com o metal.
> Temos de fa&er uma outra est(tua# " claro > disse ele. ? as ser( uma
est(tua da min%a !essoa.
> Da min%aG ? foi di&endo logo cada um dos ereadores# e começaram a brigar.
:a @ltima $e& ue ou$i falar deles# ainda continua$am brigando.> Eue coisa esuisitaG ? disse o ca!ata& dos o!er(rios da fundição. ? -ste
coração !artido de c%umbo não derrete no forno. Teremos de 8og(7lo fora.
- atiraram7no em um monte de terra onde esta$a tamb"m o !assarin%o morto.
> Tragam7me as duas coisas mais !reciosas da cidade ? disse Deus a um de
seus n8os.
- o n8o l%e le$ou o coração de c%umbo e o !assarin%o morto.
> -scol%eu muito acertadamente > disse Deus ># !ois em meu =ardim do
)ara*so este !assarin%o cantar( !ara sem!re# e em min%a cidade dourada o )r*nci!e+eli& %( de lou$ar7me.
O ,igante -go*sta
Todas as tardes# ao sa*rem do col"gio# as crianças costuma$am ir brincar no
8ardim do ,igante.-ra um 8ardim lindo e grande# com grama $erde e sua$e. ui e ali# sobre a
grama# a!areciam flores belas como estrelas# e %a$ia do&e !essegueiros ue# na
!rima$era# abriam7se em flores delicadas em tons de rosa e !"rola# e da$am ricos frutos
no outono. Os !(ssaros !ousa$am nas (r$ores e canta$am tão docemente ue as
crianças costuma$am !arar de brincar só !ara ou$i7los.
7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora
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> Como nos sentimos feli&es auiG ? e0clama$am elas.
Certo dia o ,igante $oltou. -le tin%a andado $isitando seu amigo# o ogre da
Cornual%a# e ficara sete anos com ele. De!ois de sete anos ele 8( %a$ia dito tudo o ue
tin%a !ara di&er# 8( ue sua con$ersa era limitada# e resol$eu $oltar !ara seu !ró!rio
castelo. o c%egar# ele $iu as crianças brincando no 8ardim.> O ue " ue $ocês estão fa&endo auiA ? gritou ele com uma $o& muito
r*s!ida# e as crianças sa*ram correndo.
> O meu 8ardim " o meu 8ardim ? disse o ,igante. ? Eualuer um !ode
com!reender isso. -u não $ou !ermitir ue ningu"m brinue nele# a não ser eu mesmo.
De modo ue ele construiu um muro alto em torno do 8ardim e colocou um carta&
de a$iso.
JO' <:'O/-' '-/PO )/OC-''DO'J
-le era um ,igante muito ego*sta.
s !obres crianças agora não tin%am mais onde brincar. -las tentaram brincar na
estrada# mas a estrada era muito !oeirenta e c%eia de !edras duras# e elas não
gosta$am. Começaram a !assear em torno do muro de!ois das aulas# con$ersando sobre
o lindo 8ardim ue fica$a l( dentro. “Como "ramos feli&es l(G”# di&iam umas 9s outras.
-ntão c%egou a )rima$era# e !or todo o !a*s a!areceram !euenas flores e
!euenos !(ssaros. 'ó no 8ardim do ,igante -go*sta " ue continua$a a ser in$erno. Os!assarin%os não gosta$am de cantar l(# !orue não %a$ia crianças# e as (r$ores se
esueceram de florescer. ma $e& uma flor bonita começou a brotar# mas ao $er o carta&
de a$iso ficou com tanta !ena das crianças ue se enfiou de $olta no c%ão e adormeceu.
Os @nicos ue esta$am contentes eram a :e$e e o ,elo.
> )rima$era se esueceu deste 8ardim ? eles e0clamaram ># de modo ue
!odemos $i$er aui o ano inteiro.
:e$e cobriu toda a grama com seu manto branco# e o ,elo !intou todas as
(r$ores de !rata. -les con$idaram o ento do :orte !ara se %os!edar com eles# e ele$eio. Todo enrolado em !eles# rugia o dia inteiro !elo 8ardim# derrubando as c%amin"s
com seu so!ro.
> -ste lugar " ótimo ? disse ele. ? :ós !recisamos con$idar o ,rani&o !ara $ir
fa&er uma $isita.
- o ,rani&o a!areceu. Todos os dias# durante três %oras# ele matraca$a no
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tel%ado do castelo at" uebrar uase todas as tel%as# e de!ois corria# dando $oltas no
8ardim o mais de!ressa ue !odia. 'em!re $estido de cin&a# so!ra$a gelo !ara todo lado.
> :ão entendo !or ue a )rima$era est( demorando tanto a c%egarG ? disse o
,igante -go*sta# sentado 8unto 9 8anela e ol%ando !ara seu 8ardim frio e branco. ? -s!ero
ue o tem!o mude logo.as a )rima$era não a!areceu# nem o erão. O Outono trou0e frutos dourados
!ara todos os 8ardins# mas nen%um !ara o do ,igante.
> -le " muito ego*sta ? disse o Outono.
De modo ue ali ficou sendo sem!re in$erno# e o ento :orte e o ,rani&o# a
:e$e e o ,elo dança$am em meio 9s (r$ores.
Certa man%ã# o ,igante esta$a deitado# acordado# na cama# uando ou$iu uma
m@sica linda. 'oa$a com tal doçura em seus ou$idos ue ele at" !ensou ue de$iam ser
os m@sicos do /ei ue !assa$am. :a realidade era a!enas um !eueno !intarro0ocantando do lado de fora de sua 8anela# mas 8( fa&ia tanto tem!o ue ele não ou$ia um só
!assarin%o em seu 8ardim ue auela !arecia ser a m@sica mais bonita do mundo. -
então o ,rani&o !arou de dançar sobre a cabeça dele# e o ento do :orte !arou de rugir#
e um !erfume delicioso c%egou at" ele# atra$"s da 8anela aberta.
> c%o ue finalmente a )rima$era c%egou ? disse o ,igante. ? -# !ulando da
cama# ol%ou !ara fora.
O ue ele $iuA
$isão mais bonita ue se !ossa imaginar. )or um burauin%o no muro ascrianças %a$iam conseguido entrar# e esta$am todas sentadas nos ramos das (r$ores.
-m todas as (r$ores ue ele conseguiu $er %a$ia uma criança. - as (r$ores esta$am tão
contentes de terem as crianças de $olta ue se cobriram de flores# balançando
delicadamente os gal%os# !or cima das cabeças da meninada. Os !assarin%os $oa$am de
um lado !ara outro# c%ilreando de !ra&er# e as flores es!ia$am e riam. -ra uma cena
linda# e só em um canto " ue continua$a a ser in$erno. -ra o canto mais distante do
8ardim# e nele esta$a de !" um meninin%o. -le era tão !eueno ue não conseguia
alcançar os ramos da (r$ore. - ficou andando em $olta dela# c%orando# muito sentido. !obre (r$ore continua$a coberta de ne$e e gelo# e o ento do :orte so!ra$a e
rugia acima dela.
> 'obe logo# meninin%oG ? di&ia a Qr$ore# cur$ando os ramos o mais ue !odia.
as o menino era !eueno demais.
- o coração do ,igante se derreteu uando ele ol%ou l( !ara fora.
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> Como eu ten%o sido ego*staG ? disse ele. ? gora 8( sei !or ue a )rima$era
não a!arecia !or aui. -u $ou colocar auele meninin%o em cima dauela (r$ore# de!ois
$ou derrubar o muro# e meu 8ardim ser( um lugar onde as crianças !oderão brincar !ara
sem!re e sem!re.
-le esta$a realmente arre!endido do ue tin%a feito. - assim# desceu asescadas# abriu a !orta da frente com toda a delicade&a# e saiu !ara o 8ardim. as uando
as crianças o $iram ficaram tão assustadas ue fugiram# e o in$erno $oltou ao 8ardim. 'ó
o meninin%o !eueno " ue não fugiu# !orue seus ol%os esta$am mare8ados de l(grimas
e não $iu o ,igante c%egar. - o ,igante a!ro0imou7se de mansin%o !or tr(s dele# !egou
delicadamente em sua mão e o colocou em cima da (r$ore. (r$ore imediatamente
floresceu# e os !assarin%os $ieram cantar nela o meninin%o esticou os braços# !assou7os
em torno do !escoço do ,igante e o bei8ou. Euando $iram ue o ,igante não era mais
mau# as outras crianças $oltaram correndo# e com elas $eio a )rima$era.> gora o 8ardim " de $ocês# crianças ? disse o ,igante. - !egando um imenso
mac%ado# derrubou o muro. Euando toda a gente começa$a a ir !ara o mercado. o
meio7dia# l( esta$a o ,igante brincando com as crianças no 8ardim mais bonito ue todos
8( %a$iam $isto.
-las brinca$am o dia inteiro# mas uando c%ega$a a noite des!ediam7se do
,igante.
> as onde est( seu com!an%eirin%oA ? !erguntou ele. ? O menino ue eu
botei em cima da (r$ore.O ,igante gosta$a dele mais do ue de todos os outros# !orue ele l%e %a$ia
dado um bei8o.
> :ós não sabemos ? res!onderam as crianças. ? -le foi embora.
> ocês têm de di&er a ele !ara não dei0ar de $ir aman%ã. ? disse o ,igante.
as as crianças disseram ue não sabiam onde ele mora$a# e ue 8amais o
%a$iam $isto antes. O ,igante ficou muito triste.
Todas as tardes# uando acaba$am as aulas# as crianças iam brincar com o
,igante. as o meninin%o de uem o ,igante gosta$a nunca mais a!areceu. O ,iganteera muito bondoso com todas as crianças# mas sentia saudades de seu !rimeiro
amiguin%o# e muitas $e&es fala$a nele.
> Como eu gostaria de $ê7loG ? costuma$a di&er.
Os anos se !assaram# e o ,igante ficou mais $el%o e fraco. -le 8( não conseguia
brincar direito# e então fica$a sentado em uma !oltrona enorme# ol%ando as crianças ue
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brinca$am e admirando seu 8ardim.
> Ten%o tantas flores lindas ? di&ia ele# ># mas as crianças são as flores mais
bonitas de todas.
Certa man%ã de in$erno# ele ol%ou !ela 8anela enuanto se $estia. gora 8( não
odia$a o in$erno# !ois sabia ue este era a!enas a )rima$era enuanto dormia# e ue asflores esta$am descansando.
De re!ente ele esfregou os ol%os# es!antado# e ol%ou# e ol%ou# e ol%ou. -ra !or
certo uma $isão mara$il%osa. :o cantin%o mais distante do 8ardim %a$ia uma (r$ore toda
coberta de flores brancas. 'eus ramos eram dourados# carregados de frutos de !rata# e
debai0o deles esta$a o meninin%o ue ele ama$a.
O ,igante correu !elas escadas# com a maior alegria# e saiu !ara o 8ardim.
Cru&ou de!ressa o gramado e c%egou !erto do menino. - uando c%egou bem !erto# seu
rosto ficou rubro de rai$a# e ele disseN> Euem ousou te ferirA
:as !almas das mãos da criança esta$am as marcas de dois !regos# como %a$ia
marcas de dois !regos em seus !e&in%os.
> Euem ousou te ferirA ? gritou o ,igante. ? Di&e7me# !ara ue eu !ossa tomar
de min%a grande es!ada !ara mat(7lo.
> :ão ? res!ondeu o menino ># !ois essas são as feridas do mor.
> Euem "sA ? !erguntou o ,igante# e uando o temor a!ossou7se dele#
a8oel%ou7se diante da criança. criança sorriu !ara o ,igante e l%e disseN
> ocê me dei0ou# certa $e&# brincar em seu 8ardim# e %o8e $ocê ir( comigo !ara
o meu 8ardim ue " o )ara*so.
:auela tarde# uando as crianças c%egaram correndo# encontraram o ,igante
morto# deitado debai0o da (r$ore# todo coberto !or flores brancas.
O migo Dedicado
Certa man%ã# o $el%o /atão7dR(gua botou a cabeça !ara fora de seu buraco. -le
tin%a uns ol%in%os bril%antes e uns bigodes cin&entos e duros# enuanto seu rabo !arecia
uma tira com!rida de borrac%a. Os !atin%os esta$am nadando no lago# !arecendo um
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bando de canarin%os amarelos# enuanto sua mãe# ue era toda branca# com as !ernas
$ermel%as# esta$a tentando ensinar7l%es# um a um# a ficar com a cabeça !ara bai0o#
dentro dR(gua.
> ocês 8amais !oderão freSentar a mel%or sociedade se não a!renderem a
ficar de cabeça !ara bai0o ? di&ia ela.- de $e& em uando mostra$a como " ue se de$ia fa&er. as os !atin%os não
!resta$am a menor atenção. -les eram ainda tão !euenos ue não !ercebiam ue
$antagem !oderia %a$er em ser aceito na sociedade.
> Eue fil%os mais desobedientesG ? gritou o /atão7dR(gua. ? -les realmente
merecem se afogar.
> :ada disso ? res!ondeu a )ata. ? Todo mundo tem de começar em alguma
%ora# e os !ais nunca !odem ser !or demais !acientes.
> %G -u não sei nada a res!eito desses sentimentos de !ais ? disse o /atão7dR(gua. ? )essoalmente# não sou %omem de fam*lia. :a $erdade# 8amais me casei# e nem
!retendo casar. O amor !ode ser uma coisa muito boa# l( 9 sua moda# mas a ami&ade "
de n*$el muito mais alto. De fato# não %( nada neste mundo ue se8a mais nobre ou raro
do ue uma ami&ade dedicada.
> - ual "# se me !ermite# a sua id"ia de uma ami&ade dedicadaA ? !erguntou
um )intarro0o $erde# ue esta$a !ousado em um c%orão ali !or !erto e ou$ira a con$ersa.
> -ra isso mesmo o ue eu ueria saber ? disse a )ata# e nadou !ara a outra
e0tremidade do lago# ficando de cabeça !ara bai0o a fim de dar um bom e0em!lo a seusfil%os.
> Eue !ergunta mais bobaG ? e0clamou o /atão7dR(gua. ? -u es!eraria de um
amigo dedicado ue ele fosse dedicado a mim# naturalmente.
> - o ue " ue $ocê faria em trocaA ? disse o !assarin%o# balançando7se sobre
um 8ato !rateado e batendo com suas asin%as !eueninas.
> :ão estou com!reendendo ? res!ondeu o /atão7dR(gua.
> Dei0e ue eu l%e conte uma %istória a res!eito ? disse o )intarro0o.
> %istória " a meu res!eitoA ? !erguntou o /atão7dR(gua. ? 'e for# uero ou$i7la# !ois gosto muito de ficção.
> !lica7se a $ocê ? res!ondeu o )intarro0o.
- $oando !ara bai0o# foi !ousar na margem do lago# onde contou a %istória do
migo Dedicado.
> -ra uma $e& ? começou o !assarin%o ? um %omen&in%o %onesto c%amado
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Hans.
> -le era muito distintoA ? !erguntou o /atão.
> :ão ? res!ondeu o )intarro0o ># não creio ue fosse muito# a não ser !or seu
bom coração e sua cara engraçada# redonda e bem7%umorada.
-le mora$a so&in%o em um c%al" bem !euenino# e todo dia trabal%a$a no 8ardim. -m toda auela região ningu"m tin%a um 8ardim tão bonito uanto o dele. :ele
cresciam ,oi$os# Cra$inas# Bolsas7de7!astor e /an@nculos. Ha$ia /osas adamascadas e
/osas amarelas# Crocos lilases e dourados# ioletas ro0as e brancas# uil"gias e
Cardaminas# an8ericão e Basilicão 'el$agem# )r*mulas e +lores7de7lis# :arcisos e
Cra$os7da7Lndia cresciam e floresciam em sua seSência certa# 9 medida ue os meses
se !assa$am# cada flor tomando o lugar da outra# de modo ue sem!re %a$ia lindas
coisas !ara se ol%ar# e !erfumes agrad($eis !ara se c%eirar.
O !eueno Hans tin%a muitos amigos# !or"m seu amigo mais dedicado era ograndão Hugo# o oleiro. :a $erdade# tão dedicado era o rico oleiro ao !eueno Hans#
ue ele 8amais !assa$a !or seu 8ardim sem se debruçar !or cima do muro e col%er um
grande buuê de flores# ou um !un%ado de er$as c%eirosas# ou sem enc%er seus bolsos
com amei0as e cere8as# se era tem!o de frutas.
> Os amigos de $erdade com!artil%am tudo ? costuma$a di&er o oleiro.
O !eueno Hans acena$a# sorria# e fica$a muito orgul%oso de ter um amigo com
id"ias tão nobres.
s $e&es# na $erdade# os $i&in%os ac%a$am meio estran%o ue o rico oleiro 8amais desse ualuer coisa em troca ao !eueno Hans# embora ti$esse cem sacos de
farin%a guardados em seu moin%o# e seis $acas leiteiras# e um grande reban%o de
carneiros lanudos.
as Hans nunca enc%eu a cabeça com !ensamentos assim# e nada l%e da$a
tanto !ra&er uanto ou$ir todas as coisas mara$il%osas ue o oleiro costuma$a di&er a
res!eito do altru*smo da $erdadeira ami&ade.
De modo ue o !eueno Hans continua$a a trabal%ar em seu 8ardim. :a
!rima$era# no $erão e no outono ele era muito feli&# mas uando c%ega$a o in$erno e elefica$a sem flores ou frutas !ara le$ar !ara o mercado# sofria bastante de frio e fome# e
muitas $e&es ia se deitar sem comer a não ser umas !eras secas ou umas no&es duras.
l"m disso# no in$erno ele se sentia e0tremamente só# 8( ue nessas "!ocas o oleiro
8amais ia $ê7lo.
> :ão adianta eu ir $er meu !eueno Hans enuanto dura a ne$e ? di&ia o
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oleiro 9 sua mul%er ># !ois uando as !essoas estão com !roblemas o mel%or " dei0(7
las so&in%as# !ara ue não ten%am de se aborrecer com $isitas. )elo menos essa " a
id"ia ue ten%o da ami&ade# e ten%o a certe&a de ue estou certo. - !or isso es!erarei
at" c%egar a !rima$era# uando então irei $isit(7lo# e ele !oder( dar7me uma grande cesta
de margaridas# o ue o far( muito feli&.> :ão %( d@$ida de ue $ocê tem muita consideração !ara com os outros ?
res!ondeu a mul%er# conforta$elmente sentada em uma !oltrona 8unto ao fogo de !in%o
em sua lareira. uita consideração mesmo. um !ri$il"gio ou$ir $ocê falar sobre
ami&ade. Ten%o certe&a de ue nem mesmo um sacerdote seria ca!a& de di&er as coisas
lindas ue $ocê di&# mesmo ue morasse em uma casa de três andares e usasse anel no
dedin%o.
> as ser( ue não !od*amos con$idar Hans !ara $ir !ara c(A ? disse o fil%o
mais moço do oleiro. ? 'e o !obre Hans est( em dificuldades# eu l%e darei metade domeu mingau# e ainda l%e mostro meus coel%os brancos.
> as ue menino toloG ? gritou o oleiro. ? :ão $e8o o ue " ue adianta
mand(7lo !ara o col"gio. )arece não estar a!rendendo nada. Ora essa# se o !eueno
Hans $iesse aui e $isse nosso fogo uentin%o# nosso 8antar gostoso e nosso imenso
barril de $in%o tinto# ele !oderia at" ficar com in$e8a# e a in$e8a " uma coisa %orr*$el# ue
!ode estragar a nature&a de ualuer um. - eu certamente não $ou !ermitir ue a
nature&a de Hans se8a cons!urcada. -u sou o mel%or amigo dele# e sem!re %ei de $elar
!or ele# !ro$idenciando !ara ue não caia em nen%uma tentação. l"m do ue# se Hans$iesse aui# seria ca!a& de !edir ue eu dei0asse ele le$ar um !ouco de farin%a fiado#
coisa ue eu 8amais !oderia fa&er. +arin%a " uma coisa# ami&ade " outra# e não se !ode
confundir as duas. Ora# as duas !ala$ras se escre$em de modos di$ersos# e significam
coisas radicalmente diferentes. Eualuer um !ode $er isso.
> Como $ocê fala bemG ? disse a mul%er do oleiro# ser$indo7se de uma grande
caneca de cer$e8a. ? +iuei at" sonolenta# " como estar na igre8a.
> uita gente age bem ? res!ondeu o oleiro ># !or"m muito !oucos falam
bem. O ue mostra ue falar " mesmo# e de longe# a mais dif*cil das duas coisas# al"m deser a mais reuisitada. - lançou um ol%ar se$ero !ara o outro lado da mesa# onde esta$a
o seu fil%in%o# ue se sentiu tão en$ergon%ado ue bai0ou a cabeça# ficou rubro e
começou a c%orar# dei0ando as l(grimas !ingarem dentro do c%(. :o entanto# ele era tão
!eueno ue tin%a de ser !erdoado.
> - esse " o final da %istóriaA ? !erguntou o /atão7dR(gua.
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> claro ue não ? res!ondeu o )intarro0o. ? -sse " o começo.
> -ntão $ocê est( muito fora de moda ? disse o /atão. ? Todo bom contador de
%istórias# %o8e em dia# começa com o fim# e a* então " ue !assa !ara o começo#
acabando com o meio. -sse " o no$o m"todo. -u soube de tudo outro dia# de um cr*tico
ue esta$a !asseando !elo lago com um 8o$em. -le discorreu longamente a res!eito# eestou certo de ue de$ia estar correto# !orue usa$a óculos a&uis e era careca# e todas
as $e&es ue o 8o$em fa&ia algum coment(rio# ele sem!re res!ondia “)ois simG” as# !or
fa$or# continue com a sua %istória. ,ostei muito do oleiro. -u tamb"m ten%o toda
es!"cie de bom sentimento# de modo ue %( grande afinidade entre nós dois.
> )ois bem ? disse o )intarro0o# !ulando 9s $e&es em uma !erna# 9s $e&es na
outra ># tão logo o in$erno terminou# e as margaridas começaram a abrir suas estrelas
amarelo7!(lido# o oleiro disse 9 mul%er ue iria $isitar o !eueno Hans.
> Ora# mas ue bom coração $ocê temG ? e0clamou a ul%er. > -st( sem!re!ensando nos outros. - não se esueça de le$ar com $ocê a cesta grande# !ara as flores.
-ntão o oleiro amarrou as $elas do moin%o com uma forte corrente de ferro e
desceu a colina# com a cesta no braço.
> Bom7dia# !eueno Hans ? disse o oleiro.
> Bom7dia ? disse Hans. !oiando7se em sua !(# e sorrindo de orel%a a orel%a.
> Como " ue !assou todo esse in$ernoA ? !erguntou o oleiro.
> Bem# na $erdade ? e0clamou Hans ># " muita bondade sua !erguntar# muita
bondade mesmo. Temo ue as coisas ten%am sido um !ouco duras# mas agora a!rima$era c%egou e eu estou muito feli&# e todas as min%as flores estão indo muito bemG
> :ós falamos de $ocê muitas $e&es durante o in$erno# Hans ? disse o oleiro
># imaginando como $ocê estaria !assando.
> uita bondade sua ? disse Hans. ? -u esta$a com medo ue ti$esse se
esuecido de mim.
> Hans# $ocê me sur!reende ? disse o oleiro. ? Euem " amigo 8amais se
esuece. <sso " o ue a ami&ade tem de mara$il%oso# mas temo ue $ocê não
com!reenda a !oesia da $ida. )or falar nisso# como estão lindas as suas margaridasG> -las estão mesmo muito bonitas ? disse Hans. ? uma sorte !ara mim ue
eu ten%a tantas. ou le$(7las ao mercado e $endê7las 9 fil%a do Burgomestre# e com!rar
de $olta o meu carrin%o de mão com o din%eiroG
> Com!rar de $olta seu carrin%o de mãoA 'er( ue est( di&endo ue o $endeuA
as isso " uma grande estu!ide&G
7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora
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> Bem# na $erdade ? disse Hans ># eu fui obrigado. 'abe# o in$erno " uma
"!oca muito dif*cil !ara mim# e eu não tin%a nen%um din%eiro !ara com!rar !ão. )rimeiro
eu $endi os botKes de !rata do meu !aletó de domingo# de!ois $endi min%a corrente de
!rata# de!ois meu cac%imbo grande e# finalmente# meu carrin%o de mão. as agora eu
$ou com!rar tudo de $olta.> Hans ? disse o oleiro ># eu l%e darei o meu carrin%o de mão. :ão est( em
estado muito bom# !ara falar a $erdade est( faltando um lado# e %( ualuer coisa errada
com os aros da roda# mas a!esar disso eu o darei a $ocê. -u sei ue " muito generoso de
min%a !arte# e ue muita gente $ai !ensar ue " uma grande tolice eu me desfa&er dele#
mas eu não sou como o resto do mundo. Creio ue a generosidade " a essência da
ami&ade e# al"m do mais# eu ten%o !ara mim um carrin%o de mão no$o. <sso mesmo#
$ocê !ode ficar descansado ue eu l%e darei o meu carrin%o.
> Bem# " uma grande generosidade sua ? disse o !eueno Hans# e suaengraçada carin%a redonda bril%ou de !ra&er. ? -u !osso consert(7lo com facilidade# 8(
ue ten%o uma t(bua em casa.
> ma t(buaG ? disse o oleiro. ? )ois era disso mesmo ue eu esta$a
!recisando !ara o tel%ado do meu celeiro. -st( com um buraco muito grande e o mil%o $ai
ficar todo @mido se eu não ta!(7lo. Eue sorte $ocê ter falado nissoG not($el como uma
boa ação sem!re gera outra. -u l%e dei o meu carrin%o de mão e $ocê $ai me dar a sua
t(bua. claro ue o carrin%o $ale muito mais do ue a t(bua# mas a $erdadeira ami&ade
8amais re!ara em coisas como essa. )or fa$or $( logo !eg(7la# ue eu começo %o8emesmo a trabal%ar no celeiro.
> as " claro ? e0clamou o !eueno Hans# ue logo correu !ara seu barraco e
arrastou a t(bua !ara fora.
> :ão " uma t(bua muito grande ? disse o oleiro ol%ando !ara ela ># e temo
ue de!ois ue eu consertar o buraco no tel%ado do meu celeiro não ir( sobrar nada !ara
$ocê consertar o carrin%o de mão. as " claro ue isso não " cul!a min%a. - agora# 8(
ue eu l%e dei o meu carrin%o# estou certo de ue $ocê gostaria de me dar algumas flores
em troca. ui est( a cesta# e não dei0e de enc%er bem.> -nc%er bemA ? disse o !eueno Hans# um tanto triston%o# 8( ue a cesta era
realmente muito grande# e ele sabia ue se a enc%esse não l%e sobrariam flores !ara o
mercado# e esta$a com muita $ontade de conseguir de $olta seus botKes de !rata.
> Bem# na $erdade ? res!ondeu o oleiro ># como eu l%e dei meu carrin%o de
mão# não creio ue se8a demais !edir7l%e algumas flores. -u !osso estar enganado# mas
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!ensa$a ue a ami&ade# a $erdadeira ami&ade# era totalmente isenta de ualuer ti!o de
ego*smo.
> eu uerido amigo# meu mel%or amigo ? e0clamou o !eueno Hans ># $ocê
" bem7$indo a todas as flores do meu 8ardim. -u !refiro seus bons ol%os a meus botKes
de !rata# em ualuer tem!o ? e correu !ara col%er todas as sus lindas margaridas# !araenc%er a cesta do oleiro.
> deus# !eueno Hans ? disse o oleiro# e subiu a colina com a t(bua no
ombro e a grande cesta na mão.
> deus ? disse o !eueno Hans# e começou a ca$ar# muito alegre# de tão
contente ue esta$a com o carrin%o de mão.
:o dia seguinte# ele esta$a !rendendo uns ramos de dama7da7noite na $aranda#
uando ou$iu a $o& do oleiro ue o c%ama$a# l( da estrada. -le !ulou da escada# correu
!elo 8ardim e es!iou !or cima do muro. ;( esta$a o oleiro com um grande saco defarin%a nas costas.
> Euerido Hans ? disse o oleiro ># ser( ue $ocê se im!orta$a de carregar
esse saco de farin%a !ara mim at" o mercadoA
> %# eu sinto muito ? disse Hans ># mas %o8e eu realmente estou muito
ocu!ado. -u ten%o de !render todas essas tre!adeiras# e ten%o de regar as flores e de
cuidar de toda a grama.
> Ora# realmente ? disse o oleiro. ? -u ac%o ue# considerando ue eu $ou l%e
dar meu carrin%o de mão# a sua recusa não me !arece nada amig($el.> %# não diga isso ? e0clamou o !eueno Hans ># eu não dei0aria de ser
amig($el !or nada deste mundo.
- de!ois de correr !ara a!an%ar seu gorro# ele saiu carregando o grande saco
em seus ombros.
O dia esta$a muito uente# e a estrada terri$elmente !oeirenta# e antes de Hans
alcançar o se0to marco 8( esta$a tão cansado ue te$e de sentar7se !ara descansar. :o
entanto# ele continuou o camin%o cora8osamente# e afinal c%egou ao mercado. De!ois de
%a$er es!erado l( !or algum tem!o# $endeu o saco de farin%a !or muito bom !reço#$oltando imediatamente !ara casa# !ois tin%a medo de acabar encontrando ladrKes !elo
camin%o.
> :ão %( d@$ida de ue foi um dia bem duro ? disse o !eueno Hans !ara si
mesmo# uando ia se deitar. ? as estou contente !orue não me recusei a a8udar o
oleiro# ue " o meu mel%or amigo e# al"m do mais# $ai me dar o carrin%o de mão dele.
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;ogo cedo# na man%ã seguinte# o oleiro a!areceu !ara receber o din%eiro do
saco de farin%a# mas o !eueno Hans esta$a tão cansado ue ainda esta$a na cama.
> )ala$ra ue $ocê " muito !reguiçoso ? disse o oleiro. ? /ealmente#
considerando ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão# ac%o ue $ocê !oderia trabal%ar
um !ouco mais. ociosidade " um grande !ecado# e eu !or certo não gosto ue nen%umde meus amigos se8a !reguiçoso ou ocioso. ocê não de$e se im!ortar de eu falar com
$ocê assim com tanta franue&a. claro ue nem son%aria em fa&ê7lo se eu não fosse
seu amigo. as o ue " ue adianta a ami&ade se não se !ode di&er e0atamente o ue
se !ensaA Eualuer um !ode di&er coisas encantadoras e tentar agradar e ba8ular# mas
um $erdadeiro amigo sem!re di& coisas desagrad($eis# sem se im!ortar se causa dor ou
não. :a realidade# se ele for amigo de fato# " isso o ue ele !refere# !or saber ue est(
fa&endo o bem.
> -u sinto muito ? disse o !eueno Hans esfregando os ol%os e tirando suatouca de dormir ># mas eu esta$a tão cansado ue !ensei em ficar deitado só um
!ouuin%o# ou$indo os !(ssaros cantarem. 'abe ue eu sem!re ac%o ue trabal%o
mel%or de!ois de ou$ir os !(ssaros cantandoA
> uito me alegro com isso ? disse o oleiro dando um ta!a nas costas do
!eueno Hans. ? )orue eu ueria ue $ocê $iesse at" o moin%o assim ue se $estisse#
!ara consertar o tel%ado !ara mim.
O !obre Hans esta$a louco !ara ir trabal%ar em seu 8ardim# !ois fa&ia dois dias
ue suas flores não eram regadas# mas não uis recusar o !edido do oleiro# ue era tãoseu amigo.
> ocê ac%a ue seria muito inamistoso de min%a !arte se eu dissesse ue
estou ocu!adoA ? !erguntou ele com $o& t*mida e en$ergon%ada.
> Ora# na $erdade ? res!ondeu o oleiro ># não me !arece ue eu este8a
!edindo demais# le$ando em conta ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão. as# " claro#
ue se $ocê se recusar# eu $ou e conserto eu mesmo.
> Ora# de 8eito nen%um ? e0clamou o !eueno Hans. - !ulando !ara fora da
cama# $estiu7se de!ressa e foi !ara o celeiro.Trabal%ou l( o dia inteiro# at" o !Ir7do7sol# uando então o oleiro a!areceu
!ara $er como ele esta$a indo.
> Como "# 8( consertou todo o tel%ado# !eueno HansA ? !erguntou o oleiro
com $o& muito alegre.
> -st( tudo consertado ? res!ondeu o !eueno Hans# descendo a escada.
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> %G ? disse o oleiro. ? :ão %( trabal%o ue se faça com mais !ra&er do ue
auele ue se fa& !ara os outros.
> :ão %( d@$ida de ue " um grande !ri$il"gio ou$i7lo falar ? res!ondeu o
!eueno Hans# sentando7se e lim!ando a testa ># um !ri$il"gio muito grande. as receio
ue eu 8amais terei id"ias tão bonitas uanto as suas.> Ora# elas l%e ocorrerão ? disse o oleiro. ? as " !reciso ue $ocê se esforce
mais. :o momento# $ocê só con%ece a !r(tica da ami&ade# mas algum dia %a$er( de
con%ecer tamb"m a teoria.
> - $ocê ac%a mesmo ue eu consigoA ? !erguntou o !eueno Hans.
> :ão ten%o a menor d@$ida ? res!ondeu o oleiro. ? as agora ue $ocê 8(
consertou o tel%ado# " mel%or ir !ara casa descansar# !ois aman%ã de man%ã eu uero
ue $ocê le$e os meus carneiros !ara a montan%a.
O !obre !eueno Hans ficou com medo de di&er ualuer coisa sobre o assunto#e logo cedo# na man%ã seguinte# o oleiro le$ou os carneiros at" a cabana# e Hans saiu
com eles !ara a montan%a. ;e$ou o dia inteiro !ara c%egar at" l( e $oltar e uando
c%egou# esta$a tão cansado ue caiu dormindo na cadeira e só acordou uando o sol 8( ia
alto.
> Como eu $ou me di$ertir no meu 8ardimG ? disse ele# e !Is7se logo a trabal%ar.
as !or alguma ra&ão ele nunca conseguia cuidar de suas flores# !orue seu
amigo# o oleiro# esta$a sem!re a!arecendo !ara des!ac%(7lo em tarefas distantes# ou
!egando7o !ara trabal%ar no moin%o. O !eueno Hans $olta e meia fica$a muito!erturbado# !ois tin%a medo ue suas flores !udessem !ensar ue ele as %a$ia
esuecido# mas consola$a7se !ensando ue o oleiro era o seu mel%or amigo.
> l"m do ue ? costuma$a ele di&er ># ele $ai me dar seu carrin%o de mão# o
ue " um ato da mais !ura generosidade.
- assim# o !eueno Hans continua$a trabal%ando !ara o oleiro# ue continua$a
a di&er toda es!"cie de coisa bonita sobre a ami&ade# ue Hans escre$ia num cadernin%o
e torna$a a ler de noite# !ois era muito bom estudante.
conteceu ue certa noite o !eueno Hans esta$a sentado !erto de sua lareira#uando ou$iu uma forte batida em sua !orta. -ra uma noite muito tem!estuosa# com o
$ento so!rando e rugindo em $olta da casa de modo tão terr*$el ue a !rinc*!io ele
!ensou ue era só a tem!estade. as $eio uma no$a batida e de!ois uma terceira# ainda
mais forte do ue as outras.
> 'er( algum !obre $ia8anteA ? disse o !eueno Hans consigo mesmo# e correu
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at" a !orta.
;( esta$a o oleiro com uma lanterna em uma das mãos e um grande bastão na
outra.
> Euerido !eueno Hans ? gritou o oleiro ># estou com um terr*$el !roblema.
eu fil%in%o caiu de uma escada e se mac%ucou# e eu $ou c%amar o Doutor. as elemora tão longe# e a noite est( tão feia# ue acaba de me ocorrer ue seria muito mel%or
se $ocê fosse em meu lugar. ocê sabe ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão# de
modo ue " muito 8usto ue $ocê tamb"m faça alguma coisa !or mim.
> claro ? e0clamou o !eueno Hans. ? Considero um grande elogio ter $indo
me !rocurar# e $ou !artir agora mesmo. as !reciso ue $ocê me em!reste a sua
lanterna# !orue a noite est( tão escura ue ten%o medo de cair na $ala.
> ;amento muito ? res!ondeu o oleiro ? mas esta " min%a lanterna no$a e
seria uma !erda muito grande !ara mim se algo acontecesse com ela.> Bem# então não fa& mal# eu dou um 8eito sem ela ? disse o !eueno Hans# e
de!ois de !egar seu casaco de !eles# seu gorro $ermel%o uentin%o e de amarrar uma
ec%ar!e de lã no !escoço# ele !artiu.
-ra uma tem!estade terr*$elG noite esta$a tão negra ue o !eueno Hans mal
en0erga$a onde ia# e o $ento tão forte ue ele não conseguia !arar. :o entanto# ele era
muito cora8oso# e# de!ois de camin%ar umas três %oras# ele c%egou 9 casa do Doutor e
bateu na !orta.
> Euem est( a*A ? gritou o Doutor# metendo a cabeça do lado de fora da 8anelado uarto.
> o !eueno Hans# Doutor.
> - o ue " ue $ocê uer# !eueno HansA
> O fil%o do oleiro caiu da escada e se mac%ucou# e o oleiro uer ue o
sen%or $( agorin%a mesmo.
> -st( bemG ? disse o Doutor.
-le !egou seu ca$alo# suas grandes botas e sua lanterna# desceu e ca$algou na
direção da casa do oleiro# dei0ando o !eueno Hans a se arrastar atr(s dele.as a tem!estade foi ficando cada $e& !ior# e caiu uma c%u$a torrencial. O
!eueno Hans não conseguia $er !ara onde esta$a indo# nem acom!an%ar o ca$alo.
+inalmente ele se !erdeu# e camin%ou na direção da c%arneca# um lugar muito !erigoso
!orue era c%eio de buracos !rofundos. - foi num deles ue o !eueno Hans se afogou.
'eu cor!o foi encontrado no dia seguinte !or uns !astores de cabras# flutuando numa
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grande !oça dR(gua# sendo le$ado !or eles de $olta !ara a cabana.
Todo mundo foi ao enterro do !eueno Hans# !orue ele era muito !o!ular. - o
oleiro era o ue mais c%ora$a.
> -u era seu mel%or amigo ? di&ia o oleiro. ? 8usto ue eu ocu!e o lugar
mais im!ortante.De modo ue ele " ue foi na frente da !rocissão# usando uma longa ca!a !reta#
e $olta e meia en0uga$a os ol%os com um lenço branco.
> O !eueno Hans "# sem d@$ida# uma grande !erda !ara todos ? disse o
+erreiro# uando o enterro acabou e todos eles 8( esta$am conforta$elmente sentados na
ta$erna# bebendo $in%o tem!erado e comendo bolos.
> )elo menos uma grande !erda !ara mim ? res!ondeu o oleiro. ? -u
!raticamente 8( l%e %a$ia dado o meu carrin%o de mão# e agora eu realmente não sei o
ue fa&er com ele. ;( em casa fica atra!al%ando muito# e est( em tão m(s condiçKes uenão ia conseguir nada !or ele se uisesse $endê7lo. ou tomar o maior cuidado !ara
nunca mais tornar a dar coisa nen%uma. 'ofre7se muito uando se " generoso.
> - da*A ? disse o /atão7dR(gua# de!ois de uma longa !ausa.
> Bem# a* acabou ? disse o )intarro0o.
> as o ue aconteceu com o oleiroA ? !erguntou o /atão.
> Ora# eu não sei# realmente ? res!ondeu o )intarro0o. ? ,aranto ue !ouco me
im!orta.
> e$idente ue não %( nen%uma solidariedade em sua nature&a ? disse o/atão.
> /eceio ue $ocê não ten%a c%egado mesmo a !erceber ual " a moral da
%istória ? comentou o )intarro0o.
> ... o uêA ? gritou o /atão.
> moral.
> ocê uer di&er ue essa %istória tem uma moralA
> Certamente ? disse o )intarro0o.
> Ora# dei0e disso ? disse o /atão7dR(gua# com ar muito &angado. ? c%o ue$ocê de$ia ter me dito isso antes de começar. 'e ti$esse# eu !or certo não teria escutado.
:a $erdade# eu teria dito “)ois sim”# como o cr*tico. :o entanto# eu ainda !osso di&ê7lo
agoraN )ois simG ? gritou a !lenos !ulmKes# sacudiu o rabo e tornou a entrar em seu
buraco.
> - o ue " ue $ocê ac%a do /atão7dR(guaA ? !erguntou a )ata# ue c%egou
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nadando alguns minutos mais tarde. ? -le tem $(rios !ontos !ositi$os# mas eu# do meu
lado# ten%o meus sentimentos maternos# e 8amais consegui ol%ar !ara um solteirão
con$icto sem ue as l(grimas não me $iessem aos ol%os.
> /eceio ue o ten%a irritado ? res!ondeu o )intarro0o. ? O fato " ue eu contei
a ele uma %istória com moral.> %G <sso " sem!re uma coisa muito !erigosa de se fa&er ? disse a )ata.
- eu concordo inteiramente com ela.
O /ou0inol e a /osa
> -la disse ue dançaria comigo se eu l%e trou0esse rosas $ermel%as ?
lastimou7se o 8o$em -studante ># !or"m em todo o meu 8ardim não e0iste uma @nica
rosa $ermel%a.
De seu nin%o no grande car$al%o o /ou0inol ou$iu7o# ol%ou !or entre as
fol%agens e ficou !ensando.
> :em uma @nica rosa $ermel%a em todo o meu 8ardimG ? c%orou o -studante# e
seus lindos ol%os ficaram mare8ados de l(grimas. ? i# como a felicidade de!ende de
!euenas coisasG =( li tudo ue escre$eram os %omens mais s(bios# con%eço todos os
segredos da filosofia# mas !or falta de uma rosa $ermel%a min%a $ida est( desgraçada.
> +inalmente encontro um $erdadeiro amante ? disse o /ou0inol. ? Ten%o
cantado esse ser noite a!ós noite# mesmo sem con%ecê7loN noite a!ós noite contei sua
%istória 9s estrelas# e só agora o encontrei. 'eus cabelos são escuros como a flor do
8acinto# e seus l(bios rubros como a rosa de seus dese8os# !or"m a !ai0ão tornou seu
rosto !(lido como o marfim e a triste&a selou sua testa.
> O )r*nci!e d( um baile aman%ã 9 noite ? murmurou o 8o$em -studante ># e o
meu amor estar( entre os !resentes. 'e eu l%e le$ar uma rosa $ermel%a ela dançar(
comigo at" de madrugada. 'e eu l%e der uma rosa $ermel%a eu a terei em meus braços#e ela deitar( sua cabeça sobre o meu ombro# com sua mão !resa na min%a.
as não %( uma @nica rosa $ermel%a em meu 8ardim# de modo ue ficarei
abandonado em meu lugar e ela %( de !assar !or mim. -la nem ir( me notar# e meu
coração ficar( !artido.
> * est(# de fato# um $erdadeiro amante ? disse o /ou0inol. ? -le sofre tudo o
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ue eu cantoN o ue " alegria em mim# !ara ele " dor. 'em d@$ida o amor " uma coisa
mara$il%osa. -le " mais !recioso do ue a esmeralda e mais refinado ue a o!ala. :em
!"rolas e nem granadas o !odem com!rar# e nem " ele e0!osto nos mercados. :ingu"m
!ode com!r(7lo de mercadores# nem !ode ser !esado nas balanças feitas !ara !esar
ouro.> Os m@sicos $ão ficar em sua galeria ? disse o 8o$em -studante. ? Tocarão
seus instrumentos de cordas# e o meu amor dançar( ao som da %ar!a e do $iolino. -la ir(
dançar com tal le$e&a ue seus !"s nem tocarão o c%ão# e os cortesãos# com suas
rou!as alegres# ficarão amontoados em $olta dela. )or"m comigo ela não ir( dançar#
!orue não l%e dei uma rosa $ermel%a ? e atirou7se na rel$a# enterrou o rosto entre as
mãos# e c%orou.
> )or ue " ue ele est( c%orandoA ? !erguntou o ;agartin%o erde# ao !assar
!or ele com o rabin%o em!inado !ara o ar.> )or ue ser(A ? disse uma Borboleta# ue esta$a es$oaçando atr(s de um
raio de sol.
> mesmo# !or ue ser(A ? sussurrou uma argarida a seu $i&in%o# com $o&
sua$e e bai0in%a.
> -st( c%orando !or uma rosa $ermel%a ? disse o /ou0inol.
> )or uma rosa $ermel%aA ? gritaram todos. ? as ue coisa rid*culaG ? e o
;agartin%o erde# ue era um tanto c*nico# caiu na gargal%ada.
as o /ou0inol com!reendeu o segredo da triste&a do -studante# e ficou emsilêncio debai0o do car$al%o# !ensando sobre o mist"rio do mor.
/e!entinamente ele abriu as asas !ara $oar e subir !ara os ares# !assando !elo
bosue como uma sombra e# como uma sombra# desli&ar atra$"s do 8ardim.
Bem no centro do gramado %a$ia uma linda /oseira e# ao $ê7la# o /ou0inol $oou
!ara ela e !ousou em um ramo.
> Dê7me uma rosa $ermel%a ? e0clamou ele ? ue eu l%e cantarei min%a mais
doce canção.
as a roseira não esta$a interessada.> in%as rosas são brancas ? res!ondeu. ? Brancas como a es!uma do mar# e
mais brancas do ue a ne$e das montan%as. as $( at" min%a irmã ue cresce 8unto ao
relógio de sol# ue tal$e& ela l%e dê o ue uer.
- então o /ou0inol $oou !ara a /oseira ue crescia ao lado do $el%o relógio de
sol.
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> 'e $ocê me der uma rosa $ermel%a ? gritou ele ># eu canto !ara $ocê min%a
mais doce canção.
as a /oseira sacudiu a cabeça.
> in%as rosas são amarelas ? res!ondeu ela ? tão amarelas uanto os cabelos
da sereia ue se senta em um trono de Fmbar# e mais amarelas do ue os 8unuil%os ueflorescem no cam!o antes do ceifador a!arecer com sua foice. as !ode ir at" min%a
irmã ue cresce debai0o da 8anela do -studante# ue tal$e& ela l%e dê o ue est(
!rocurando.
- então o /ou0inol $oou at" a /oseira ue crescia debai0o da 8anela do
-studante.
> 'e $ocê me der uma rosa $ermel%a ? gritou ele ># eu canto !ara $ocê min%a
mais doce canção.
as a /oseira sacudiu a cabeça.> in%as rosas são $ermel%as ? res!ondeu ela ># $ermel%as como os !"s da
!omba e mais $ermel%as do ue os grandes leues de coral ue abanam sem !arar nas
ca$ernas do oceano. as o in$erno congelou min%as $eias# a geada cortou meus botKes#
a tem!estade uebrou meus gal%os# e não terei uma só rosa este ano.
> -u só uero uma rosa ? gritou o /ou0inol. ? !enas uma rosa $ermel%aG :ão
%a$er( nen%um 8eito de consegui7laA
> 'ó %( um ? res!ondeu a /oseira ># mas " tão terr*$el ue não ouso contar.
> )ode contar ? disse o /ou0inol ># eu não ten%o medo.> 'e uiser uma rosa $ermel%a ? disse a /oseira ># $ocê ter( de constru*7la de
m@sica ao luar# tingindo7a com o sangue do seu !ró!rio coração. Ter( de cantar !ara mim
com seu !eito de encontro a um es!in%o. Ter( de cantar !ara mim a noite inteira# e o
es!in%o ter( de furar o seu coração# e o sangue ue o mant"m $i$o ter( de correr !ara as
min%as $eias# transformando7se em meu sangue.
> orte " um !reço alto !ara se !agar !or uma rosa $ermel%a ? e0clamou o
/ou0inol ># e a ida " muito cara a todos. tão agrad($el ficar !arado no bosue $erde#
ol%ar o 'ol em seu carro de ouro# e a ;ua em seu carro de !"rolas. Doce " o !erfume do!ilriteiro# doces são as cam!Fnulas ue se escondem no $ale# e as ur&es ue balançam
nas colinas. :o entanto# o mor " mel%or do ue a ida# e o ue " o coração de um
!assarin%o com!arado com o coração de um %omemA
Com isso# ele abriu as asas e alçou $Io !ara os ares. )assou c"lere sobre o
8ardim e como uma sombra desli&ou !elo bosue.
7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora
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O 8o$em -studante ainda esta$a deitado na rel$a# onde ele o %a$ia dei0ado# e as
l(grimas ainda nem %a$iam secado em seu lindo rosto.
> +iuei contente ? cantou7l%e o /ou0inol ># fiuei contente. ocê ter( sua rosa
$ermel%a. -u a construirei com min%a m@sica ao luar# tingindo7a com o sangue do meu
!ró!rio coração. - só o ue !eço em troca " ue $ocê se8a um amante fiel e $erdadeiro#!ois o mor " mais s(bio do ue a +ilosofia# embora ela se8a s(bia# e mais !oderoso do
ue o )oder# embora este se8a !oderoso. Cor das c%amas são suas asas# e cor das
c%amas " o seu cor!o. 'eus l(bios são doces como o mel# seu %(lito como o incenso.
O -studante ol%ou !ara o alto e ou$iu# mas não com!reendeu o ue o /ou0inol
di&ia# !orue só con%ecia as coisas ue $êm escritas nos li$ros. as o Car$al%o
com!reendeu e ficou triste# !orue gosta$a muito do /ou0inol# cu8a fam*lia tin%a o nin%o
em seus ramos.
> Cante7me uma @ltima canção ? sussurrou ele ># $ou sentir7me tão só uando$ocê se for.
-ntão o /ou0inol cantou !ara o Car$al%o# e sua $o& !arecia a (gua uando sai
saltitando de um 8arro de !rata.
Euando a canção acabou# o -studante se le$antou e tirou do bolso um
cadernin%o de notas e um l(!is.
> -le tem forma ? disse !ara si mesmo# enuanto camin%a$a !elo bosue >#
isso ningu"m !ode negar. as ser( ue tem sentimentosA Temo ue não. :a $erdade#
de$e ser como a maioria dos artistasN " todo estilo# sem ualuer sinceridade. -le 8amaisse sacrificaria !elos outros. 'ó !ensa em m@sica# e todo mundo sabe ue as artes são
ego*stas. esmo assim# " !reciso admitir ue sua $o& tem algumas notas lindas. Eue
!ena não significarem nada# nem terem ualuer utilidade !r(ticaG
- foi !ara o seu uarto# onde se deitou em seu !eueno catre e# de!ois de
!ensar algum tem!o em sua amada# adormeceu.
Euando a ;ua começou a bril%ar no c"u# o /ou0inol $oou !ara a /oseira e
encostou o !eito no es!in%o. Durante toda a noite ele cantou# com o !eito no es!in%o#
enuanto a fria ;ua de cristal cur$a$a7se !ara ou$ir. -le cantou a noite inteira e o es!in%oentra$a cada $e& mais fundo em seu !eito# enuanto seu sangue escorria !ara fora.
)rimeiro ele cantou sobre o nascimento do amor no coração de um ra!a& e uma
moça. - no ramo mais alto da /oseira foi florescendo uma rosa mara$il%osa# !"tala !or
!"tala# 9 medida ue uma canção seguia outra. !rinc*!io ela era !(lida como a n"$oa
ue !aira sobre o rio# !(lida como os !"s da man%ã e !rateada como as asas da
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madrugada. Como a sombra de uma rosa em um es!el%o de !rata# como a sombra de
uma rosa em uma lagoa# assim era a rosa ue floresceu no ramo mais alto da /oseira.
as a /oseira fica$a gritando !ara o /ou0inol se a!ertar cada $e& mais de
encontro ao es!in%o.
> !erta mais# /ou0inol ? grita$a a /oseira ># senão o dia c%ega antes ue arosa este8a !ronta.
- o /ou0inol fa&ia cada $e& mais !ressão contra o es!in%o# e canta$a cada $e&
mais alto# !ois esta$a cantando o nascimento da !ai0ão entre a alma de um %omem e
uma don&ela.
- um delicado enrubescer rosado a!areceu nas fol%as da rosa# como o
enrubescer no rosto do noi$o uando ele bei8a os l(bios da noi$a. as o es!in%o ainda
não %a$ia atingido o coração# de modo ue o coração da rosa !ermanecia branco# !ois só
o sangue do coração de um /ou0inol !ode dei0ar rubro o coração de uma rosa.- a /oseira grita$a !ara o /ou0inol enfiar mais e mais o !eito de encontro ao
es!in%o.
> ais ainda# !eueno /ou0inol ? grita$a a /oseira ># senão o dia c%ega antes
de a rosa estar !ronta.
- o /ou0inol foi se a!ertando cada $e& mais de encontro ao es!in%o# e o es!in%o
tocou7l%e o coração# e um terr*$el gol!e de dor !assou !or toda a a$e&in%a. dor era
%orr*$el# %orr*$el# e a canção foi ficando cada $e& mais enlouuecida# !ois agora ele
canta$a o mor ue fica !erfeito com a orte# o mor ue não morre no [email protected] a rosa mara$il%osa ficou rubra# como a rosa do c"u do oriente. /ubro era todo
o c*rculo de !"talas# e rubro como um rubi era o seu coração.
as a $o& do /ou0inol foi ficando mais fraca# suas asin%as começaram a se
debater# e uma n"$oa cobriu seus ol%os. Cada $e& mais fraca foi ficando sua canção# e
ele sentiu alguma coisa ue sufoca$a sua garganta.
- então ele soltou uma @ltima !orção de m@sica.
;ua branca ou$iu7a e se esueceu da madrugada# ficando no c"u. rosa
$ermel%a tamb"m ou$iu# estremeceu toda em ê0tase# e abriu suas !"talas ao frio ar daman%ã. O eco le$ou7a at" sua ca$erna !@r!ura nas colinas e des!ertou de seus son%os
os !astores ue dormiam. -la flutuou at" os 8uncos do rio# e estes le$aram sua
mensagem !ara o mar.
> e8a# $e8aG ? gritou a /oseira. ? gora a /osa est( !ronta.
as o /ou0inol não res!ondeu# !ois tin%a ca*do morto no meio da rel$a# com o
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es!in%o atra$essado no !eito.
o meio7dia o -studante abriu sua 8anela e ol%ou !ara fora.
> Ora# mas ue sorte mara$il%osaG ? e0clamou ele. ? -is ali uma rosa $ermel%aG
=amais $i rosa como essa em toda a min%a $ida. tão bonita ue estou certo de ue
de$e ter algum nome em latimG ? e# debruçando7se# col%eu7a.De!ois ele botou o c%a!"u e correu !ara a casa do )rofessor# com a rosa na
mão.
fil%a do !rofessor esta$a sentada na !orta# enrolando um fio de seda a&ul em
um no$elo# com o cac%orrin%o deitado a seus !"s.
> ocê disse ue dançaria comigo se eu l%e trou0esse uma rosa $ermel%a ?
e0clamou o -studante. ? ui est( a rosa mais $ermel%a do mundo inteiro. se7a 8unto ao
seu coração %o8e 9 noite# e enuanto esti$ermos dançando eu l%e direi o uanto a amo.
as a moça fran&iu o cen%o.> /eceio ue ela não combine com o meu $estido ? res!ondeu. ? -# al"m do
mais# o sobrin%o do Camerlengo mandou7me uma 8óia de $erdade# e todos sabem ue as
8óias custam muito mais do ue as flores.
> ocê " muito ingrata ? disse o -studante com rai$a# e atirou a rosa na rua#
onde ela caiu na sar8eta e uma carroça acabou !assando !or cima.
> <ngrataA ? disse a moça. ? )ois fiue sabendo ue $ocê " muito rude e# afinal#
uem " $ocêA !enas um estudante. Ora# não creio seuer ue ten%a fi$elas de !rata
!ara seus sa!atos# como as ue tem o sobrin%o do Camerlengo ? e# le$antando7se desua cadeira# entrou na casa.
> Eue coisa tola " o morG ? disse o -studante# enuanto se afasta$a. ? :ão
tem a metade da utilidade da ;ógica# !ois não !ro$a nada# e fica sem!re di&endo a todo
mundo coisas ue não $ão acontecer# fa&endo com ue acreditemos em coisas ue não
são $erdade. -nfim# não " nada !r(tico e# como %o8e em dia ser !r(tico " o im!ortante#
$ou $oltar 9 +ilosofia e estudar etaf*sica.
- $oltou !ara seu uarto# onde !egou um enorme li$ro todo em!oeirado e
começou a ler.