31
 Histórias de Fadas T extos Escolhidos Oscar Wilde Tradução de Barbara Heliodora

Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Tradução: Barbara Heliodora

Citation preview

Page 1: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 1/31

Histórias de Fadas

Textos Escolhidos

Oscar Wilde

Tradução de

Barbara Heliodora

Page 2: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 2/31

Com este “Histórias de fadas” o escritor irlandês Oscar Wilde cria alguns dos

mais belos contos do gênero. De alta ualidade !o"tica e tocando fundo o coração do

leitor# suas narrati$as mara$il%osas emocionam e fa&em refletir sobre o com!ortamento

%umano.

'um(rio

O )r*nci!e +eli&

O ,igante -go*staO migo Dedicado

O /ou0inol e a /osa

Oscar Wilde# escritor irlandês# nasceu em Dublin em 1234 e morreu em )aris em

1566. Dedicou7se ao 8ornalismo e 9 literatura. )ublicou contos e !oemas# mas foram suas!eças teatrais ue l%e trou0eram maior glória e sucesso. -m “Histórias de fadas”

considerado ltamente /ecomend($el !ela +undação :acional do ;i$ro <nfantil e =u$enil#

narra temas de fundo social# ue celebram a força do amor. Os cr*ticos da "!oca o

com!aram ao dinamaruês Hans C%ristian nderson considerado o maior autor do

gênero.

Page 3: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 3/31

O )r*nci!e +eli&

:a !arte alta da cidade# no to!o de uma certa colina# fica$a a est(tua do )r*nci!e

+eli&. -ra toda dourada com fin*ssimas fol%as de ouro refinado# seus ol%os duas safiras

bril%antes# e um grande rubi fulgura$a no !un%o de sua es!ada.

O )r*nci!e era $erdadeiramente admirado.

> -le " bonito como um cata7$ento ? comentou um dos Consel%eiros da Cidade#

ue ueria ficar famoso !or gostar das artes. ? 'ó ue não " tão @til ? acrescentou logo#

com medo ue o !o$o o 8ulgasse !ouco !r(tico# o ue não era $erdade# ali(s.

> )or ue $ocê não !ode ser igual ao )r*nci!e +eli&A ? !erguntou uma mãe

sensata a seu fil%in%o ue esta$a c%orando !orue ueria a lua. ? O )r*nci!e +eli& 8amais

son%a em c%orar !elo ue uer ue se8a.

> legro7me ue %a8a algu"m no mundo ue se8a inteiramente feli& ?

resmungou um %omem desencantado ao ol%ar !ara a mara$il%osa est(tua.

> -le " igual&in%o a um an8o ? disseram os meninos do Orfanato ao sair da

catedral $estindo suas ca!as $ermel%o $i$o e seus a$entais brancos.

> Como " ue $ocê sabeA ? disse o )rofessor de atem(tica. ? ocê nunca $iu

um deles.

> %# $imos# sim# em nossos son%os ? res!onderam as crianças.

-ntão o )rofessor de atem(tica fran&iu o cen%o e ficou muito se$ero# !ois não

a!ro$a$a essa %istória de criança son%ar.

Certa noite $oou !or cima da cidade uma ndorin%a mac%o. 'eus amigos tin%am

$oado !ara o -gito 8( %a$ia seis semanas# mas ele ficara !ara tr(s# !orue esta$a

a!ai0onado !or uma lind*ssima Haste de =unco. -le a con%ecera no in*cio da !rima$era#

ao $oar rio abai0o atr(s de uma mari!osa# e ficara tão atra*do !ela esbelte&a de sua

cintura ue !arou !ara con$ersar com ela.

> 'er( ue de$o am(7laA ? disse o )assarin%o# ue gosta$a de entrar logo no

assunto# e a Haste fe&7l%e uma !rofunda re$erência.

-ntão ele ficou $oando em torno dela# tocando a (gua com suas asas# criando!euenos c*rculos !rateados. -ra assim ue fa&ia a corte# ue durou todo o $erão.

> uma ligação rid*cula ? c%ilrea$am os outros !assarin%os. ? -la não tem

din%eiro e tem !arentes demais ? disseram# !ois o rio era todo c%eio de =uncos.

Euando c%egou o outono# como sem!re# elas $oaram !ara bem longe.

De!ois ue as outras !artiram# ele sentiu7se solit(rio e começou a se cansar de

Page 4: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 4/31

sua amada.

> -la não sabe con$ersar ? disse ele ># e ten%o receio ue se8a muito couete#

!ois est( sem!re flertando com o $ento.

- " bem $erdade ue sem!re ue o $ento so!ra$a# a Haste de =unco se cur$a$a

das maneiras mais graciosas.> Ten%o de confessar ue ela " muito caseira ? continuou ele ># mas eu adoro

$ia8ar# e !ortanto a min%a mul%er tamb"m de$eria gostar de $iagens.

> ocê uer !artir comigoA ? !erguntou ele finalmente# !or"m a Haste fe& ue

não com a cabeça# !or ser muito ligada a seu lar.

> -ntão $ocê este$e brincando comigo ? gritou ele. ? ou7me embora !ara as

)irFmides. deusG ? e saiu $oando.

oou o dia todo e# de noite# c%egou 9 cidade.

> Onde %ei de !assar a noiteA ? !ensou ele. ? -s!ero ue a cidade ten%atomado as de$idas !ro$idências.

- então $iu a est(tua no alto da coluna.

> ali ue $ou ficar ? e0clamou. ? uma situação !ri$ilegiada# com muito ar

fresco.

- !ousou e0atamente entre os dois !"s do )r*nci!e +eli&.

> ,an%ei um uarto de dormir de ouro ? disse ele bai0in%o !ara si mesmo#

enuanto ol%a$a em $olta !re!arando7se !ara dormir.

as no momento e0ato em ue ia colocar a cabeça debai0o da asa# uma enormegota de (gua caiu em cima dele.

> Eue coisa curiosaG ? e0clamou ele. ? :ão %( uma @nica nu$em no c"u# as

estrelas estão !erfeitamente $is*$eis e bril%antes# e no entanto est( c%o$endo. O clima no

norte da -uro!a " realmente %orr*$el. Haste de =unco costuma$a gostar da c%u$a# mas só

!orue sem!re foi ego*sta.

- a* caiu uma outra gota.

> De ue adianta uma est(tua se não ser$e !ara im!edir ue a (gua caiaA ?

disse ele. ? -u !reciso ir !rocurar uma boa c%amin" com tam!a ? e resol$eu sair $oando.as antes ue !udesse abrir as asas# caiu uma terceira gota# e ol%ando !ara

cima ele $iu... %G O ue foi ue ele $iuAGGG

Os ol%os do )r*nci!e +eli& esta$am c%eios de l(grimas# e l(grimas rola$am !or

suas faces douradas. 'eu rosto era tão bonito ao luar ue o !eueno )assarin%o ficou

tomado de !iedade.

Page 5: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 5/31

> Euem " $ocêA ? !erguntou ele.

> 'ou o )r*nci!e +eli&.

> -ntão !or ue " ue est( c%orandoA ? !erguntou o )assarin%o. ? ocê me

enc%arcou todo.

> Euando eu era $i$o e tin%a um coração %umano ? res!ondeu a est(tua ># eunão sabia o ue eram as l(grimas# !orue mora$a no )al(cio de 'ans7'ouci# onde as

triste&as eram !roibidas de entrar. De dia eu brinca$a com meus !euenos com!an%eiros

no 8ardim# e de noite eu lidera$a as danças no 'alão )rinci!al. -m $olta do 8ardim %a$ia

um muro muito alto# mas eu nunca me dei ao trabal%o de !erguntar o ue %a$ia !ara al"m

dele# 8( ue tudo 9 min%a $olta era tão bonito. eus cortesãos me c%ama$am o )r*nci!e

+eli&# e eu era na $erdade feli&# se " ue o !ra&er " felicidade. ssim eu $i$i e assim eu

morri. - agora ue estou morto eles me !useram aui# tão alto ue !osso $er todo o mal e

toda a mis"ria da min%a cidade e# mesmo ue meu coração se8a feito de c%umbo# não!osso e$itar c%orar.

> O uêG -le não " de ouro maciçoA ? disse o )assarin%o !ara si mesmo. -le

era bem educado demais !ara fa&er coment(rios !essoais em $o& alta.

> ;( longe ? continuou a est(tua com $o& sua$e e musical ># bem l( longe# em

uma !euena ruela# %( uma casa muito !obre. ma das 8anelas est( aberta e# atra$"s

dela# !osso $er uma mul%er sentada. 'eu rosto " magro e gasto# e ela tem mãos (s!eras

e $ermel%as# todas !icadas de agul%a# 8( ue " costureira. -la est( bordando flores de

maracu8( em um $estido de cetim !ara a mais bela das Damas de Honra da /ain%a usarno !ró0imo baile da Corte. :a cama# em um canto do uarto# est( deitado# doente# o

fil%in%o dela. -le est( com febre e !ediu uma laran8a# !or"m a mãe não tem nada !ara l%e

dar senão (gua do rio e !or isso ele est( c%orando. )assarin%o# )assarin%o# !eueno

)assarin%o# ser( ue não !odia entregar a ela o rubi do !un%o da min%a es!adaA eus

!"s são !resos a este !edestal e eu não !osso me me0er.

> -stão me es!erando no -gito ? disse o )assarin%o. ? eus amigos estão

$oando !ara cima e !ara bai0o no :ilo# con$ersando com as enormes flores de lótus.

Daui a !ouco eles $ão dormir no t@mulo do ,rande /ei. O !ró!rio /ei est( l(# em seucai0ão !intado. -le est( embrul%ado em lin%o amarelo e embalsamado com es!eciarias.

-m torno de seu !escoço %( uma corrente de 8ade $erde7!(lido# e suas mãos !arecem

fol%as secas.

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># ser( ue

$ocê não !ode ficar comigo !or uma noite# e ser meu mensageiroA O menino est( com

Page 6: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 6/31

tanta sede# e a mãe est( tão triste.

> -u ac%o ue não gosto de meninos ? res!ondeu o )assarin%o. ? :o $erão

!assado# uando eu esta$a !ousando no rio# %a$ia dois meninos muito grosseiros# os

fil%os do moleiro# ue esta$am sem!re atirando !edras em mim. -les nunca me atingiram#

" claro. :ós# andorin%as# $oamos bem demais !ara isso# e al"m do mais eu !ertenço auma fam*lia famosa !or sua agilidade. esmo assim# foi um gesto desres!eitoso.

as o )r*nci!e +eli& !arecia tão triste ue o !eueno )assarin%o !ediu

descul!as.

> ui fa& muito frio ? disse ele ># mas eu ficarei com $ocê !or uma noite e

serei seu mensageiro.

> uito obrigado# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e.

-ntão o )assarin%o tirou o grande rubi da es!ada do )r*nci!e e $oou# le$ando7o

no bico# !or cima dos tetos da cidade.-le !assou !ela torre da catedral# onde %a$ia est(tuas de an8os em m(rmore

branco. )assou !elo !al(cio e ou$iu o barul%o de gente dançando. ma moça bonita

a!areceu em um balcão com o namorado.

> Como estão mara$il%osas as estrelas ? disse7l%e ele. ? - como " mara$il%oso

o !oder do amorG

> -s!ero ue meu $estido fiue !ronto a tem!o do baile da Corte ? res!ondeu

ela. ? -u mandei bordar umas flores lindas nele# mas as costureiras são tão !reguiçosas.

-le !assou !elo rio e $iu as lanternas !enduradas nos mastros dos na$ios.)assou !elo gueto e $iu os $el%os 8udeus negociando uns com os outros# e !esando

din%eiro em balanças de cobre. +inalmente c%egou na casin%a !obre e ol%ou l( !ara

dentro. O menino esta$a a se $irar febrilmente na cama# e a mãe %a$ia ca*do dormindo de

tão cansada. -le !ulou !ara dentro e de!ositou o rubi ao lado do dedal da mul%er. De!ois#

$oou sua$emente em torno da cama# abanando a testa do menino com suas asas.

> Como ficou fresuin%o ? disse o menino. ? -u de$o estar mel%orando. ? -

caiu num sono delicioso.

-ntão o )assarin%o $oou de $olta !ara o )r*nci!e +eli& e contou7l%e o ue %a$iafeito.

> curioso ? comentou o !(ssaro ># mas estou me sentindo bem uentin%o

agora# a!esar de estar fa&endo frio.

> !orue $ocê fe& uma boa ação ? disse o )r*nci!e.

- o !eueno )assarin%o começou a !ensar# e adormeceu. )ensar sem!re da$a

Page 7: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 7/31

sono nele.

Euando o dia nasceu# ele $oou at" o rio e tomou ban%o.

> Eue fenImeno not($elG ? disse o )rofessor de Ornitologia ue esta$a

!assando na !onte. ? ma andorin%a no in$ernoG ? e escre$eu uma longa carta ao 8ornal

local. Todo mundo !assou a cit(7la# !orue esta$a c%eia de !ala$ras ue ningu"mconseguia com!reender.

> Ho8e de noite eu $ou !ara o -gito ? disse o )assarin%o# ue esta$a muito

contente só de !ensar nisso.

-le $isitou todos os monumentos da cidade e ficou uma !orção de tem!o

sentado no alto da torre da igre8a. - em todo lugar onde ia# os )ardais c%ilrea$am e

di&iam uns !ara os outros JEue $isitante distintoGJ# de modo ue ele se di$ertiu muito.

Euando a lua a!areceu# ele $oou de no$o at" o )r*nci!e +eli&.

> ocê tem alguma encomenda !ara o -gitoA ? gritou ele. ? -u estou de!artida.

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># não uer

ficar só mais uma noite comigoA

> -stão me es!erando no -gito ? res!ondeu o )assarin%o. ? man%ã meus

amigos $ão $oar !ara a 'egunda Catarata. Os ca$alos7marin%os se anin%am nos 8uncos#

e o grande deus emnon fica sentado em um imenso trono de granito. noite inteira ele

fica ol%ando as estrelas. Euando a!arece a estrela da man%ã ele solta um grito de alegria

e de!ois fica imó$el. o meio7dia os leKes amarelos descem at" a beira da (gua !aramatar a sede. -les têm ol%os como berilos $erdes# e seu rugido " mais alto do ue o da

catarata.

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># l( longe#

do outro lado da cidade# eu $i um ra!a& em um sótão. -le est( cur$ado sobre uma mesa

coberta de !a!"is# e em uma caneca a seu lado %( um ramo de $ioletas murc%as. 'eus

cabelos são castan%os e enrolados# seus l(bios rubros como romãs# e seus ol%os são

grandes e son%adores. -le est( tentando acabar uma !eça !ara o Diretor do Teatro# mas

est( com frio demais !ara !oder continuar a escre$er. :ão %( fogo no braseiro# e eledesmaiou de fome.

> -u es!ero mais uma noite com $ocê ? disse o )assarin%o# ue tin%a muito

bem no coração. ? Euer ue eu le$e um outro rubiA

> <nfeli&mente 8( não ten%o mais rubis ? disse o )r*nci!e. ? 'ó me restam os

meus ol%os# feitos de safiras raras# tra&idas da Lndia %( mil anos. rranue uma delas

Page 8: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 8/31

agora e le$e !ara ele. -le !ode $endê7la ao 8oal%eiro# com!rar len%a e acabar sua !eça.

> Euerido )r*nci!e ? disse o )assarin%o ># eu não !osso fa&er uma coisa

dessas ? e começou a c%orar.

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># faça como

eu mandei.-ntão o )assarin%o arrancou o ol%o do )r*nci!e e $oou !ara o sótão. +oi muito

f(cil entrar# !orue %a$ia um buraco no tel%ado. )assando !or ali# ele entrou no uarto. O

ra!a& esta$a com a cabeça abai0ada entre as mãos# de modo ue não ou$iu o bater das

asas do !(ssaro# e uando ol%ou !ara cima $iu a linda safira !ousada em cima das

$ioletas murc%as.

> -stou começando a fa&er sucesso ? gritou ele. ? <sso " de algum admirador.

 gora !osso terminar min%a !eça ? e !arecia muito contente.

:o dia seguinte# o )assarin%o $oou at" o !orto. )ousado no mastro de umgrande na$io# ficou obser$ando os marin%eiros ue# com cordas# iça$am grandes ba@s

!ara o !orão. “;e$anta# moçadaG”# grita$am eles cada $e& ue um ba@ ia subir.

> -u $ou !ara o -gitoG ? gritou o )assarin%o# mas ningu"m !restou atenção# e

uando a lua a!areceu ele $oou de $olta !ara o )r*nci!e +eli&.

> -u $im !ara di&er adeus ? cantou ele.

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># ser( ue

não !ode ficar mais uma noite comigoA

> in$erno ? res!ondeu o )assarin%o ># e daui a !ouco a ne$e gelada $aic%egar. :o -gito o sol " uente sobre as !almeiras $erdes# e os crocodilos ficam se

es!reguiçando na lama# só ol%ando em $olta. eus com!an%eiros estão construindo um

nin%o no Tem!lo de BaalbeM# e os !ombos rosa e branco estão a obser$(7los# arrul%ando

um !ara o outro. Euerido )r*nci!e# eu ten%o de dei0(7lo# mas nunca mais %ei de esuecê7

lo# e na !ró0ima !rima$era l%e trarei duas lindas 8óias !ara substituir as ue deu. O rubi

ser( mais rubro do ue uma rosa $ermel%a# e a safira a&ul como o mar imenso.

> :a !raça ali embai0o ? disse o )r*nci!e ? est( uma meninin%a ue $ende

fósforos. -la os dei0ou cair na sar8eta# e eles ficaram todos estragados. 'eu !ai $aies!anc(7la se ela não le$ar algum din%eiro !ara casa# e ela est( c%orando. -la não tem

sa!atos nem meias# e est( com a cabecin%a descoberta. rranue meu outro ol%o# e o dê

a ela# !ara ue seu !ai não a es!anue.

> -u ficarei com $ocê mais uma noite ? disse o )assarin%o ># mas não !osso

arrancar seu outro ol%o. ocê ia ficar com!letamente cego.

Page 9: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 9/31

> )assarin%o# )assarin%o# !eueno )assarin%o > disse o !r*nci!e ># faça

como eu mandei.

-ntão ele arrancou o outro ol%o do )r*nci!e# e desceu como uma flec%a.

ergul%ando !ertin%o da menina# !assou de!ressa a 8óia !ara a mão dela.

> Eue lindo !edacin%o de $idroG ? gritou a meninin%a e correu !ara casa# rindo.- então o )assarin%o $oltou !ara o )r*nci!e e disseN

> gora $ocê est( cego# e eu ficarei com $ocê !ara sem!re.

> :ão# !eueno )assarin%o ? disse o !obre )r*nci!e ># $ocê tem de ir !ara o

-gito.

> ou ficar com $ocê !ara sem!re ? disse o )assarin%o# e adormeceu aos !"s

do )r*nci!e.

Durante todo o dia seguinte ele ficou !ousado no ombro do )r*nci!e# contando7

l%e %istórias sobre o ue %a$ia $isto em terras estran%as. +alou dos *bis $ermel%os# uefa&em filas enormes ao longo das margens do :ilo# !egando !ei0in%os dourados com os

bicos da -sfinge# ue " tão $el%a uanto o !ró!rio mundo# mora no deserto# e sabe tudo

dos mercadores# ue camin%am lentamente ao lado de seus camelos# carregando contas

de Fmbar nas mãos do /ei das ontan%as da ;ua# ue " !reto como bano e adora um

cristal enorme da grande cobra $erde ue dorme em uma !almeira e tem $inte

sacerdotes !ara aliment(7la com bolin%os de mel e dos !igmeus ue na$egam em um

grande lago em cima de grandes fol%as !lanas# sem!re em guerra com as borboletas.

> Euerido )assarin%o ? disse o )r*nci!e ># $ocê me fala de coisasim!ressionantes# !or"m mais im!ressionante do ue ualuer outra coisa " o sofrimento

dos %omens e das mul%eres. :ão %( ist"rio tão grande uanto o da is"ria. oe !or

cima da min%a cidade# !eueno )assarin%o# e conte7me o ue $ê !or ali.

-ntão o )assarin%o $oou sobre a grande cidade# e $iu os ricos se di$ertindo em

suas lindas casas# enuanto os mendigos !ermaneciam sentados 8unto aos !ortKes. oou

!or ruelas escuras e $iu os rostos brancos de crianças famintas ol%ando# a!(ticas# !ara

ruas l@gubres. Debai0o do arco de uma !onte# dois meninos esta$am deitados# abraçados

!ara se esuentarem. “Eue fome nós temosG”# di&iam eles.> ocês não !odem deitar a*G ? gritou o guarda noturno# e os dois ti$eram de

sair !ela c%u$a.

- então o !(ssaro $oltou e contou o ue $ira ao )r*nci!e.

> -u sou coberto de ouro da mel%or ualidade ? disse o )r*nci!e. ? ocê

!recisa retir(7lo# fol%a !or fol%a# e d(7lo aos meus !obres. Os $i$os ac%am ue o ouro

Page 10: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 10/31

!ode tra&er7l%es felicidade.

+ol%a a!ós fol%a de ouro o )assarin%o arrancou# at" dei0ar o )r*nci!e todo

cin&ento e o!aco. +ol%a a!ós fol%a do mel%or ouro ele le$ou !ara os !obres# e os rostos

das crianças foram ficando mais rosados# e elas começaram a rir e a brincar nas ruas.

> gora nós temos !ãoG ? grita$am.- então c%egou a !rimeira ne$e e# de!ois da ne$e# $eio o gelo. s ruas !areciam

feitas de !rata# de tão bril%antes e relu&entes longos !ingentes de gelo !endiam dos

beirais das casas como adagas de cristal. Todo mundo anda$a en$olto em !eles# e os

meninin%os usa$am gorros $ermel%os e !atina$am no gelo.

  !obre ndorin%a mac%o foi ficando cada $e& com mais frio# mas não ueria

dei0ar o )r*nci!e# a uem tanto ama$a. -le cata$a migal%as do lado de fora da !adaria

uando o !adeiro não esta$a ol%ando# e tenta$a se esuentar batendo as asas.

as afinal c%egou um momento em ue ele sentiu ue ia morrer. 'uas forças sóderam !ara c%egar ainda uma $e& at" o ombro do )r*nci!e.

> deus# )r*nci!e ueridoG ? murmurou ele. ? 'er( ue !ermite ue eu bei8e a

sua mãoA

> +ico muito feli& ue $ocê finalmente este8a indo !ara o -gito# !eueno

)assarin%o ? disse o )r*nci!e. > ocê ficou !or aui muito tem!o# mas de$e bei8ar7me os

l(bios# 8( ue o amo muito.

> :ão " !ara o -gito ue estou indo ? disse o )assarin%o. ? ou !ara a Casa da

orte. orte " irmã do 'ono# não "A-# bei8ando os l(bios do )r*nci!e# ele caiu morto a seus !"s.

:auele instante um curioso ru*do de uebradura soou dentro da est(tua# como

se alguma coisa se ti$esse !artido. O fato " ue o coração de c%umbo se abrira

e0atamente em dois. :a certa !or causa do terr*$el frio ue esta$a fa&endo.

;ogo cedin%o# na man%ã seguinte# o )refeito esta$a andando !ela !raça# ue

fica$a ali embai0o# com os ereadores da Cidade. o !assarem !ela coluna# ele ol%ou

!ara cima e disseN

> Ora essaG Como o )r*nci!e +eli& est( !arecendo miser($elG> iser($el# mesmoG ? gritaram os ereadores# ue sem!re concorda$am com o

)refeito.

- todos subiram !ara ol%ar a est(tua.

> O rubi caiu da es!ada# os ol%os desa!areceram e ele não " mais dourado ?

disse o )refeito. ? :a $erdade ele !arece !ouco mais do ue um mendigoG

Page 11: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 11/31

> )ouco mais do ue um mendigoG ? disseram os ereadores.

> - %( at" mesmo um !assarin%o morto aos !"s deleG ? continuou o )refeito. ?

Temos de fa&er uma !roclamação de ue os !(ssaros não têm !ermissão !ara morrer

aui ? e o -scri$ão da Cidade tomou nota da sugestão.

- a est(tua do )r*nci!e +eli& foi derrubada.> Como ele não " mais bonito# não tem mais utilidade ? disse o )rofessor de

 rte da ni$ersidade.

- então eles derreteram a est(tua em um forno# e o )refeito reuniu todo o

go$erno local !ara resol$er o ue %a$eria de ser feito com o metal.

> Temos de fa&er uma outra est(tua# " claro > disse ele. ? as ser( uma

est(tua da min%a !essoa.

> Da min%aG ? foi di&endo logo cada um dos ereadores# e começaram a brigar.

:a @ltima $e& ue ou$i falar deles# ainda continua$am brigando.> Eue coisa esuisitaG ? disse o ca!ata& dos o!er(rios da fundição. ? -ste

coração !artido de c%umbo não derrete no forno. Teremos de 8og(7lo fora.

- atiraram7no em um monte de terra onde esta$a tamb"m o !assarin%o morto.

> Tragam7me as duas coisas mais !reciosas da cidade ? disse Deus a um de

seus n8os.

- o n8o l%e le$ou o coração de c%umbo e o !assarin%o morto.

> -scol%eu muito acertadamente > disse Deus ># !ois em meu =ardim do

)ara*so este !assarin%o cantar( !ara sem!re# e em min%a cidade dourada o )r*nci!e+eli& %( de lou$ar7me.

O ,igante -go*sta

Todas as tardes# ao sa*rem do col"gio# as crianças costuma$am ir brincar no

 8ardim do ,igante.-ra um 8ardim lindo e grande# com grama $erde e sua$e. ui e ali# sobre a

grama# a!areciam flores belas como estrelas# e %a$ia do&e !essegueiros ue# na

!rima$era# abriam7se em flores delicadas em tons de rosa e !"rola# e da$am ricos frutos

no outono. Os !(ssaros !ousa$am nas (r$ores e canta$am tão docemente ue as

crianças costuma$am !arar de brincar só !ara ou$i7los.

Page 12: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 12/31

> Como nos sentimos feli&es auiG ? e0clama$am elas.

Certo dia o ,igante $oltou. -le tin%a andado $isitando seu amigo# o ogre da

Cornual%a# e ficara sete anos com ele. De!ois de sete anos ele 8( %a$ia dito tudo o ue

tin%a !ara di&er# 8( ue sua con$ersa era limitada# e resol$eu $oltar !ara seu !ró!rio

castelo. o c%egar# ele $iu as crianças brincando no 8ardim.> O ue " ue $ocês estão fa&endo auiA ? gritou ele com uma $o& muito

r*s!ida# e as crianças sa*ram correndo.

> O meu 8ardim " o meu 8ardim ? disse o ,igante. ? Eualuer um !ode

com!reender isso. -u não $ou !ermitir ue ningu"m brinue nele# a não ser eu mesmo.

De modo ue ele construiu um muro alto em torno do 8ardim e colocou um carta&

de a$iso.

JO' <:'O/-' '-/PO )/OC-''DO'J

-le era um ,igante muito ego*sta.

 s !obres crianças agora não tin%am mais onde brincar. -las tentaram brincar na

estrada# mas a estrada era muito !oeirenta e c%eia de !edras duras# e elas não

gosta$am. Começaram a !assear em torno do muro de!ois das aulas# con$ersando sobre

o lindo 8ardim ue fica$a l( dentro. “Como "ramos feli&es l(G”# di&iam umas 9s outras.

-ntão c%egou a )rima$era# e !or todo o !a*s a!areceram !euenas flores e

!euenos !(ssaros. 'ó no 8ardim do ,igante -go*sta " ue continua$a a ser in$erno. Os!assarin%os não gosta$am de cantar l(# !orue não %a$ia crianças# e as (r$ores se

esueceram de florescer. ma $e& uma flor bonita começou a brotar# mas ao $er o carta&

de a$iso ficou com tanta !ena das crianças ue se enfiou de $olta no c%ão e adormeceu.

Os @nicos ue esta$am contentes eram a :e$e e o ,elo.

> )rima$era se esueceu deste 8ardim ? eles e0clamaram ># de modo ue

!odemos $i$er aui o ano inteiro.

  :e$e cobriu toda a grama com seu manto branco# e o ,elo !intou todas as

(r$ores de !rata. -les con$idaram o ento do :orte !ara se %os!edar com eles# e ele$eio. Todo enrolado em !eles# rugia o dia inteiro !elo 8ardim# derrubando as c%amin"s

com seu so!ro.

> -ste lugar " ótimo ? disse ele. ? :ós !recisamos con$idar o ,rani&o !ara $ir

fa&er uma $isita.

- o ,rani&o a!areceu. Todos os dias# durante três %oras# ele matraca$a no

Page 13: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 13/31

tel%ado do castelo at" uebrar uase todas as tel%as# e de!ois corria# dando $oltas no

 8ardim o mais de!ressa ue !odia. 'em!re $estido de cin&a# so!ra$a gelo !ara todo lado.

> :ão entendo !or ue a )rima$era est( demorando tanto a c%egarG ? disse o

,igante -go*sta# sentado 8unto 9 8anela e ol%ando !ara seu 8ardim frio e branco. ? -s!ero

ue o tem!o mude logo.as a )rima$era não a!areceu# nem o erão. O Outono trou0e frutos dourados

!ara todos os 8ardins# mas nen%um !ara o do ,igante.

> -le " muito ego*sta ? disse o Outono.

De modo ue ali ficou sendo sem!re in$erno# e o ento :orte e o ,rani&o# a

:e$e e o ,elo dança$am em meio 9s (r$ores.

Certa man%ã# o ,igante esta$a deitado# acordado# na cama# uando ou$iu uma

m@sica linda. 'oa$a com tal doçura em seus ou$idos ue ele at" !ensou ue de$iam ser

os m@sicos do /ei ue !assa$am. :a realidade era a!enas um !eueno !intarro0ocantando do lado de fora de sua 8anela# mas 8( fa&ia tanto tem!o ue ele não ou$ia um só

!assarin%o em seu 8ardim ue auela !arecia ser a m@sica mais bonita do mundo. -

então o ,rani&o !arou de dançar sobre a cabeça dele# e o ento do :orte !arou de rugir#

e um !erfume delicioso c%egou at" ele# atra$"s da 8anela aberta.

> c%o ue finalmente a )rima$era c%egou ? disse o ,igante. ? -# !ulando da

cama# ol%ou !ara fora.

O ue ele $iuA

  $isão mais bonita ue se !ossa imaginar. )or um burauin%o no muro ascrianças %a$iam conseguido entrar# e esta$am todas sentadas nos ramos das (r$ores.

-m todas as (r$ores ue ele conseguiu $er %a$ia uma criança. - as (r$ores esta$am tão

contentes de terem as crianças de $olta ue se cobriram de flores# balançando

delicadamente os gal%os# !or cima das cabeças da meninada. Os !assarin%os $oa$am de

um lado !ara outro# c%ilreando de !ra&er# e as flores es!ia$am e riam. -ra uma cena

linda# e só em um canto " ue continua$a a ser in$erno. -ra o canto mais distante do

 8ardim# e nele esta$a de !" um meninin%o. -le era tão !eueno ue não conseguia

alcançar os ramos da (r$ore. - ficou andando em $olta dela# c%orando# muito sentido.  !obre (r$ore continua$a coberta de ne$e e gelo# e o ento do :orte so!ra$a e

rugia acima dela.

> 'obe logo# meninin%oG ? di&ia a Qr$ore# cur$ando os ramos o mais ue !odia.

as o menino era !eueno demais.

- o coração do ,igante se derreteu uando ele ol%ou l( !ara fora.

Page 14: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 14/31

> Como eu ten%o sido ego*staG ? disse ele. ? gora 8( sei !or ue a )rima$era

não a!arecia !or aui. -u $ou colocar auele meninin%o em cima dauela (r$ore# de!ois

$ou derrubar o muro# e meu 8ardim ser( um lugar onde as crianças !oderão brincar !ara

sem!re e sem!re.

-le esta$a realmente arre!endido do ue tin%a feito. - assim# desceu asescadas# abriu a !orta da frente com toda a delicade&a# e saiu !ara o 8ardim. as uando

as crianças o $iram ficaram tão assustadas ue fugiram# e o in$erno $oltou ao 8ardim. 'ó

o meninin%o !eueno " ue não fugiu# !orue seus ol%os esta$am mare8ados de l(grimas

e não $iu o ,igante c%egar. - o ,igante a!ro0imou7se de mansin%o !or tr(s dele# !egou

delicadamente em sua mão e o colocou em cima da (r$ore. (r$ore imediatamente

floresceu# e os !assarin%os $ieram cantar nela o meninin%o esticou os braços# !assou7os

em torno do !escoço do ,igante e o bei8ou. Euando $iram ue o ,igante não era mais

mau# as outras crianças $oltaram correndo# e com elas $eio a )rima$era.> gora o 8ardim " de $ocês# crianças ? disse o ,igante. - !egando um imenso

mac%ado# derrubou o muro. Euando toda a gente começa$a a ir !ara o mercado. o

meio7dia# l( esta$a o ,igante brincando com as crianças no 8ardim mais bonito ue todos

 8( %a$iam $isto.

-las brinca$am o dia inteiro# mas uando c%ega$a a noite des!ediam7se do

,igante.

> as onde est( seu com!an%eirin%oA ? !erguntou ele. ? O menino ue eu

botei em cima da (r$ore.O ,igante gosta$a dele mais do ue de todos os outros# !orue ele l%e %a$ia

dado um bei8o.

> :ós não sabemos ? res!onderam as crianças. ? -le foi embora.

> ocês têm de di&er a ele !ara não dei0ar de $ir aman%ã. ? disse o ,igante.

as as crianças disseram ue não sabiam onde ele mora$a# e ue 8amais o

%a$iam $isto antes. O ,igante ficou muito triste.

Todas as tardes# uando acaba$am as aulas# as crianças iam brincar com o

,igante. as o meninin%o de uem o ,igante gosta$a nunca mais a!areceu. O ,iganteera muito bondoso com todas as crianças# mas sentia saudades de seu !rimeiro

amiguin%o# e muitas $e&es fala$a nele.

> Como eu gostaria de $ê7loG ? costuma$a di&er.

Os anos se !assaram# e o ,igante ficou mais $el%o e fraco. -le 8( não conseguia

brincar direito# e então fica$a sentado em uma !oltrona enorme# ol%ando as crianças ue

Page 15: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 15/31

brinca$am e admirando seu 8ardim.

> Ten%o tantas flores lindas ? di&ia ele# ># mas as crianças são as flores mais

bonitas de todas.

Certa man%ã de in$erno# ele ol%ou !ela 8anela enuanto se $estia. gora 8( não

odia$a o in$erno# !ois sabia ue este era a!enas a )rima$era enuanto dormia# e ue asflores esta$am descansando.

De re!ente ele esfregou os ol%os# es!antado# e ol%ou# e ol%ou# e ol%ou. -ra !or

certo uma $isão mara$il%osa. :o cantin%o mais distante do 8ardim %a$ia uma (r$ore toda

coberta de flores brancas. 'eus ramos eram dourados# carregados de frutos de !rata# e

debai0o deles esta$a o meninin%o ue ele ama$a.

O ,igante correu !elas escadas# com a maior alegria# e saiu !ara o 8ardim.

Cru&ou de!ressa o gramado e c%egou !erto do menino. - uando c%egou bem !erto# seu

rosto ficou rubro de rai$a# e ele disseN> Euem ousou te ferirA

:as !almas das mãos da criança esta$am as marcas de dois !regos# como %a$ia

marcas de dois !regos em seus !e&in%os.

> Euem ousou te ferirA ? gritou o ,igante. ? Di&e7me# !ara ue eu !ossa tomar

de min%a grande es!ada !ara mat(7lo.

> :ão ? res!ondeu o menino ># !ois essas são as feridas do mor.

> Euem "sA ? !erguntou o ,igante# e uando o temor a!ossou7se dele#

a8oel%ou7se diante da criança.  criança sorriu !ara o ,igante e l%e disseN

> ocê me dei0ou# certa $e&# brincar em seu 8ardim# e %o8e $ocê ir( comigo !ara

o meu 8ardim ue " o )ara*so.

:auela tarde# uando as crianças c%egaram correndo# encontraram o ,igante

morto# deitado debai0o da (r$ore# todo coberto !or flores brancas.

O migo Dedicado

Certa man%ã# o $el%o /atão7dR(gua botou a cabeça !ara fora de seu buraco. -le

tin%a uns ol%in%os bril%antes e uns bigodes cin&entos e duros# enuanto seu rabo !arecia

uma tira com!rida de borrac%a. Os !atin%os esta$am nadando no lago# !arecendo um

Page 16: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 16/31

bando de canarin%os amarelos# enuanto sua mãe# ue era toda branca# com as !ernas

$ermel%as# esta$a tentando ensinar7l%es# um a um# a ficar com a cabeça !ara bai0o#

dentro dR(gua.

> ocês 8amais !oderão freSentar a mel%or sociedade se não a!renderem a

ficar de cabeça !ara bai0o ? di&ia ela.- de $e& em uando mostra$a como " ue se de$ia fa&er. as os !atin%os não

!resta$am a menor atenção. -les eram ainda tão !euenos ue não !ercebiam ue

$antagem !oderia %a$er em ser aceito na sociedade.

> Eue fil%os mais desobedientesG ? gritou o /atão7dR(gua. ? -les realmente

merecem se afogar.

> :ada disso ? res!ondeu a )ata. ? Todo mundo tem de começar em alguma

%ora# e os !ais nunca !odem ser !or demais !acientes.

> %G -u não sei nada a res!eito desses sentimentos de !ais ? disse o /atão7dR(gua. ? )essoalmente# não sou %omem de fam*lia. :a $erdade# 8amais me casei# e nem

!retendo casar. O amor !ode ser uma coisa muito boa# l( 9 sua moda# mas a ami&ade "

de n*$el muito mais alto. De fato# não %( nada neste mundo ue se8a mais nobre ou raro

do ue uma ami&ade dedicada.

> - ual "# se me !ermite# a sua id"ia de uma ami&ade dedicadaA ? !erguntou

um )intarro0o $erde# ue esta$a !ousado em um c%orão ali !or !erto e ou$ira a con$ersa.

> -ra isso mesmo o ue eu ueria saber ? disse a )ata# e nadou !ara a outra

e0tremidade do lago# ficando de cabeça !ara bai0o a fim de dar um bom e0em!lo a seusfil%os.

> Eue !ergunta mais bobaG ? e0clamou o /atão7dR(gua. ? -u es!eraria de um

amigo dedicado ue ele fosse dedicado a mim# naturalmente.

> - o ue " ue $ocê faria em trocaA ? disse o !assarin%o# balançando7se sobre

um 8ato !rateado e batendo com suas asin%as !eueninas.

> :ão estou com!reendendo ? res!ondeu o /atão7dR(gua.

> Dei0e ue eu l%e conte uma %istória a res!eito ? disse o )intarro0o.

> %istória " a meu res!eitoA ? !erguntou o /atão7dR(gua. ? 'e for# uero ou$i7la# !ois gosto muito de ficção.

> !lica7se a $ocê ? res!ondeu o )intarro0o.

- $oando !ara bai0o# foi !ousar na margem do lago# onde contou a %istória do

 migo Dedicado.

> -ra uma $e& ? começou o !assarin%o ? um %omen&in%o %onesto c%amado

Page 17: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 17/31

Hans.

> -le era muito distintoA ? !erguntou o /atão.

> :ão ? res!ondeu o )intarro0o ># não creio ue fosse muito# a não ser !or seu

bom coração e sua cara engraçada# redonda e bem7%umorada.

-le mora$a so&in%o em um c%al" bem !euenino# e todo dia trabal%a$a no 8ardim. -m toda auela região ningu"m tin%a um 8ardim tão bonito uanto o dele. :ele

cresciam ,oi$os# Cra$inas# Bolsas7de7!astor e /an@nculos. Ha$ia /osas adamascadas e

/osas amarelas# Crocos lilases e dourados# ioletas ro0as e brancas# uil"gias e

Cardaminas# an8ericão e Basilicão 'el$agem# )r*mulas e +lores7de7lis# :arcisos e

Cra$os7da7Lndia cresciam e floresciam em sua seSência certa# 9 medida ue os meses

se !assa$am# cada flor tomando o lugar da outra# de modo ue sem!re %a$ia lindas

coisas !ara se ol%ar# e !erfumes agrad($eis !ara se c%eirar.

O !eueno Hans tin%a muitos amigos# !or"m seu amigo mais dedicado era ograndão Hugo# o oleiro. :a $erdade# tão dedicado era o rico oleiro ao !eueno Hans#

ue ele 8amais !assa$a !or seu 8ardim sem se debruçar !or cima do muro e col%er um

grande buuê de flores# ou um !un%ado de er$as c%eirosas# ou sem enc%er seus bolsos

com amei0as e cere8as# se era tem!o de frutas.

> Os amigos de $erdade com!artil%am tudo ? costuma$a di&er o oleiro.

O !eueno Hans acena$a# sorria# e fica$a muito orgul%oso de ter um amigo com

id"ias tão nobres.

 s $e&es# na $erdade# os $i&in%os ac%a$am meio estran%o ue o rico oleiro 8amais desse ualuer coisa em troca ao !eueno Hans# embora ti$esse cem sacos de

farin%a guardados em seu moin%o# e seis $acas leiteiras# e um grande reban%o de

carneiros lanudos.

as Hans nunca enc%eu a cabeça com !ensamentos assim# e nada l%e da$a

tanto !ra&er uanto ou$ir todas as coisas mara$il%osas ue o oleiro costuma$a di&er a

res!eito do altru*smo da $erdadeira ami&ade.

De modo ue o !eueno Hans continua$a a trabal%ar em seu 8ardim. :a

!rima$era# no $erão e no outono ele era muito feli&# mas uando c%ega$a o in$erno e elefica$a sem flores ou frutas !ara le$ar !ara o mercado# sofria bastante de frio e fome# e

muitas $e&es ia se deitar sem comer a não ser umas !eras secas ou umas no&es duras.

 l"m disso# no in$erno ele se sentia e0tremamente só# 8( ue nessas "!ocas o oleiro

 8amais ia $ê7lo.

> :ão adianta eu ir $er meu !eueno Hans enuanto dura a ne$e ? di&ia o

Page 18: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 18/31

oleiro 9 sua mul%er ># !ois uando as !essoas estão com !roblemas o mel%or " dei0(7

las so&in%as# !ara ue não ten%am de se aborrecer com $isitas. )elo menos essa " a

id"ia ue ten%o da ami&ade# e ten%o a certe&a de ue estou certo. - !or isso es!erarei

at" c%egar a !rima$era# uando então irei $isit(7lo# e ele !oder( dar7me uma grande cesta

de margaridas# o ue o far( muito feli&.> :ão %( d@$ida de ue $ocê tem muita consideração !ara com os outros ?

res!ondeu a mul%er# conforta$elmente sentada em uma !oltrona 8unto ao fogo de !in%o

em sua lareira. uita consideração mesmo. um !ri$il"gio ou$ir $ocê falar sobre

ami&ade. Ten%o certe&a de ue nem mesmo um sacerdote seria ca!a& de di&er as coisas

lindas ue $ocê di&# mesmo ue morasse em uma casa de três andares e usasse anel no

dedin%o.

> as ser( ue não !od*amos con$idar Hans !ara $ir !ara c(A ? disse o fil%o

mais moço do oleiro. ? 'e o !obre Hans est( em dificuldades# eu l%e darei metade domeu mingau# e ainda l%e mostro meus coel%os brancos.

> as ue menino toloG ? gritou o oleiro. ? :ão $e8o o ue " ue adianta

mand(7lo !ara o col"gio. )arece não estar a!rendendo nada. Ora essa# se o !eueno

Hans $iesse aui e $isse nosso fogo uentin%o# nosso 8antar gostoso e nosso imenso

barril de $in%o tinto# ele !oderia at" ficar com in$e8a# e a in$e8a " uma coisa %orr*$el# ue

!ode estragar a nature&a de ualuer um. - eu certamente não $ou !ermitir ue a

nature&a de Hans se8a cons!urcada. -u sou o mel%or amigo dele# e sem!re %ei de $elar

!or ele# !ro$idenciando !ara ue não caia em nen%uma tentação. l"m do ue# se Hans$iesse aui# seria ca!a& de !edir ue eu dei0asse ele le$ar um !ouco de farin%a fiado#

coisa ue eu 8amais !oderia fa&er. +arin%a " uma coisa# ami&ade " outra# e não se !ode

confundir as duas. Ora# as duas !ala$ras se escre$em de modos di$ersos# e significam

coisas radicalmente diferentes. Eualuer um !ode $er isso.

> Como $ocê fala bemG ? disse a mul%er do oleiro# ser$indo7se de uma grande

caneca de cer$e8a. ? +iuei at" sonolenta# " como estar na igre8a.

> uita gente age bem ? res!ondeu o oleiro ># !or"m muito !oucos falam

bem. O ue mostra ue falar " mesmo# e de longe# a mais dif*cil das duas coisas# al"m deser a mais reuisitada. - lançou um ol%ar se$ero !ara o outro lado da mesa# onde esta$a

o seu fil%in%o# ue se sentiu tão en$ergon%ado ue bai0ou a cabeça# ficou rubro e

começou a c%orar# dei0ando as l(grimas !ingarem dentro do c%(. :o entanto# ele era tão

!eueno ue tin%a de ser !erdoado.

> - esse " o final da %istóriaA ? !erguntou o /atão7dR(gua.

Page 19: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 19/31

> claro ue não ? res!ondeu o )intarro0o. ? -sse " o começo.

> -ntão $ocê est( muito fora de moda ? disse o /atão. ? Todo bom contador de

%istórias# %o8e em dia# começa com o fim# e a* então " ue !assa !ara o começo#

acabando com o meio. -sse " o no$o m"todo. -u soube de tudo outro dia# de um cr*tico

ue esta$a !asseando !elo lago com um 8o$em. -le discorreu longamente a res!eito# eestou certo de ue de$ia estar correto# !orue usa$a óculos a&uis e era careca# e todas

as $e&es ue o 8o$em fa&ia algum coment(rio# ele sem!re res!ondia “)ois simG” as# !or

fa$or# continue com a sua %istória. ,ostei muito do oleiro. -u tamb"m ten%o toda

es!"cie de bom sentimento# de modo ue %( grande afinidade entre nós dois.

> )ois bem ? disse o )intarro0o# !ulando 9s $e&es em uma !erna# 9s $e&es na

outra ># tão logo o in$erno terminou# e as margaridas começaram a abrir suas estrelas

amarelo7!(lido# o oleiro disse 9 mul%er ue iria $isitar o !eueno Hans.

> Ora# mas ue bom coração $ocê temG ? e0clamou a ul%er. > -st( sem!re!ensando nos outros. - não se esueça de le$ar com $ocê a cesta grande# !ara as flores.

-ntão o oleiro amarrou as $elas do moin%o com uma forte corrente de ferro e

desceu a colina# com a cesta no braço.

> Bom7dia# !eueno Hans ? disse o oleiro.

> Bom7dia ? disse Hans. !oiando7se em sua !(# e sorrindo de orel%a a orel%a.

> Como " ue !assou todo esse in$ernoA ? !erguntou o oleiro.

> Bem# na $erdade ? e0clamou Hans ># " muita bondade sua !erguntar# muita

bondade mesmo. Temo ue as coisas ten%am sido um !ouco duras# mas agora a!rima$era c%egou e eu estou muito feli&# e todas as min%as flores estão indo muito bemG

> :ós falamos de $ocê muitas $e&es durante o in$erno# Hans ? disse o oleiro

># imaginando como $ocê estaria !assando.

> uita bondade sua ? disse Hans. ? -u esta$a com medo ue ti$esse se

esuecido de mim.

> Hans# $ocê me sur!reende ? disse o oleiro. ? Euem " amigo 8amais se

esuece. <sso " o ue a ami&ade tem de mara$il%oso# mas temo ue $ocê não

com!reenda a !oesia da $ida. )or falar nisso# como estão lindas as suas margaridasG> -las estão mesmo muito bonitas ? disse Hans. ? uma sorte !ara mim ue

eu ten%a tantas. ou le$(7las ao mercado e $endê7las 9 fil%a do Burgomestre# e com!rar

de $olta o meu carrin%o de mão com o din%eiroG

> Com!rar de $olta seu carrin%o de mãoA 'er( ue est( di&endo ue o $endeuA

as isso " uma grande estu!ide&G

Page 20: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 20/31

> Bem# na $erdade ? disse Hans ># eu fui obrigado. 'abe# o in$erno " uma

"!oca muito dif*cil !ara mim# e eu não tin%a nen%um din%eiro !ara com!rar !ão. )rimeiro

eu $endi os botKes de !rata do meu !aletó de domingo# de!ois $endi min%a corrente de

!rata# de!ois meu cac%imbo grande e# finalmente# meu carrin%o de mão. as agora eu

$ou com!rar tudo de $olta.> Hans ? disse o oleiro ># eu l%e darei o meu carrin%o de mão. :ão est( em

estado muito bom# !ara falar a $erdade est( faltando um lado# e %( ualuer coisa errada

com os aros da roda# mas a!esar disso eu o darei a $ocê. -u sei ue " muito generoso de

min%a !arte# e ue muita gente $ai !ensar ue " uma grande tolice eu me desfa&er dele#

mas eu não sou como o resto do mundo. Creio ue a generosidade " a essência da

ami&ade e# al"m do mais# eu ten%o !ara mim um carrin%o de mão no$o. <sso mesmo#

$ocê !ode ficar descansado ue eu l%e darei o meu carrin%o.

> Bem# " uma grande generosidade sua ? disse o !eueno Hans# e suaengraçada carin%a redonda bril%ou de !ra&er. ? -u !osso consert(7lo com facilidade# 8(

ue ten%o uma t(bua em casa.

> ma t(buaG ? disse o oleiro. ? )ois era disso mesmo ue eu esta$a

!recisando !ara o tel%ado do meu celeiro. -st( com um buraco muito grande e o mil%o $ai

ficar todo @mido se eu não ta!(7lo. Eue sorte $ocê ter falado nissoG not($el como uma

boa ação sem!re gera outra. -u l%e dei o meu carrin%o de mão e $ocê $ai me dar a sua

t(bua. claro ue o carrin%o $ale muito mais do ue a t(bua# mas a $erdadeira ami&ade

 8amais re!ara em coisas como essa. )or fa$or $( logo !eg(7la# ue eu começo %o8emesmo a trabal%ar no celeiro.

> as " claro ? e0clamou o !eueno Hans# ue logo correu !ara seu barraco e

arrastou a t(bua !ara fora.

> :ão " uma t(bua muito grande ? disse o oleiro ol%ando !ara ela ># e temo

ue de!ois ue eu consertar o buraco no tel%ado do meu celeiro não ir( sobrar nada !ara

$ocê consertar o carrin%o de mão. as " claro ue isso não " cul!a min%a. - agora# 8(

ue eu l%e dei o meu carrin%o# estou certo de ue $ocê gostaria de me dar algumas flores

em troca. ui est( a cesta# e não dei0e de enc%er bem.> -nc%er bemA ? disse o !eueno Hans# um tanto triston%o# 8( ue a cesta era

realmente muito grande# e ele sabia ue se a enc%esse não l%e sobrariam flores !ara o

mercado# e esta$a com muita $ontade de conseguir de $olta seus botKes de !rata.

> Bem# na $erdade ? res!ondeu o oleiro ># como eu l%e dei meu carrin%o de

mão# não creio ue se8a demais !edir7l%e algumas flores. -u !osso estar enganado# mas

Page 21: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 21/31

!ensa$a ue a ami&ade# a $erdadeira ami&ade# era totalmente isenta de ualuer ti!o de

ego*smo.

> eu uerido amigo# meu mel%or amigo ? e0clamou o !eueno Hans ># $ocê

" bem7$indo a todas as flores do meu 8ardim. -u !refiro seus bons ol%os a meus botKes

de !rata# em ualuer tem!o ? e correu !ara col%er todas as sus lindas margaridas# !araenc%er a cesta do oleiro.

> deus# !eueno Hans ? disse o oleiro# e subiu a colina com a t(bua no

ombro e a grande cesta na mão.

> deus ? disse o !eueno Hans# e começou a ca$ar# muito alegre# de tão

contente ue esta$a com o carrin%o de mão.

:o dia seguinte# ele esta$a !rendendo uns ramos de dama7da7noite na $aranda#

uando ou$iu a $o& do oleiro ue o c%ama$a# l( da estrada. -le !ulou da escada# correu

!elo 8ardim e es!iou !or cima do muro. ;( esta$a o oleiro com um grande saco defarin%a nas costas.

> Euerido Hans ? disse o oleiro ># ser( ue $ocê se im!orta$a de carregar

esse saco de farin%a !ara mim at" o mercadoA

> %# eu sinto muito ? disse Hans ># mas %o8e eu realmente estou muito

ocu!ado. -u ten%o de !render todas essas tre!adeiras# e ten%o de regar as flores e de

cuidar de toda a grama.

> Ora# realmente ? disse o oleiro. ? -u ac%o ue# considerando ue eu $ou l%e

dar meu carrin%o de mão# a sua recusa não me !arece nada amig($el.> %# não diga isso ? e0clamou o !eueno Hans ># eu não dei0aria de ser

amig($el !or nada deste mundo.

- de!ois de correr !ara a!an%ar seu gorro# ele saiu carregando o grande saco

em seus ombros.

O dia esta$a muito uente# e a estrada terri$elmente !oeirenta# e antes de Hans

alcançar o se0to marco 8( esta$a tão cansado ue te$e de sentar7se !ara descansar. :o

entanto# ele continuou o camin%o cora8osamente# e afinal c%egou ao mercado. De!ois de

%a$er es!erado l( !or algum tem!o# $endeu o saco de farin%a !or muito bom !reço#$oltando imediatamente !ara casa# !ois tin%a medo de acabar encontrando ladrKes !elo

camin%o.

> :ão %( d@$ida de ue foi um dia bem duro ? disse o !eueno Hans !ara si

mesmo# uando ia se deitar. ? as estou contente !orue não me recusei a a8udar o

oleiro# ue " o meu mel%or amigo e# al"m do mais# $ai me dar o carrin%o de mão dele.

Page 22: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 22/31

;ogo cedo# na man%ã seguinte# o oleiro a!areceu !ara receber o din%eiro do

saco de farin%a# mas o !eueno Hans esta$a tão cansado ue ainda esta$a na cama.

> )ala$ra ue $ocê " muito !reguiçoso ? disse o oleiro. ? /ealmente#

considerando ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão# ac%o ue $ocê !oderia trabal%ar

um !ouco mais. ociosidade " um grande !ecado# e eu !or certo não gosto ue nen%umde meus amigos se8a !reguiçoso ou ocioso. ocê não de$e se im!ortar de eu falar com

$ocê assim com tanta franue&a. claro ue nem son%aria em fa&ê7lo se eu não fosse

seu amigo. as o ue " ue adianta a ami&ade se não se !ode di&er e0atamente o ue

se !ensaA Eualuer um !ode di&er coisas encantadoras e tentar agradar e ba8ular# mas

um $erdadeiro amigo sem!re di& coisas desagrad($eis# sem se im!ortar se causa dor ou

não. :a realidade# se ele for amigo de fato# " isso o ue ele !refere# !or saber ue est(

fa&endo o bem.

> -u sinto muito ? disse o !eueno Hans esfregando os ol%os e tirando suatouca de dormir ># mas eu esta$a tão cansado ue !ensei em ficar deitado só um

!ouuin%o# ou$indo os !(ssaros cantarem. 'abe ue eu sem!re ac%o ue trabal%o

mel%or de!ois de ou$ir os !(ssaros cantandoA

> uito me alegro com isso ? disse o oleiro dando um ta!a nas costas do

!eueno Hans. ? )orue eu ueria ue $ocê $iesse at" o moin%o assim ue se $estisse#

!ara consertar o tel%ado !ara mim.

O !obre Hans esta$a louco !ara ir trabal%ar em seu 8ardim# !ois fa&ia dois dias

ue suas flores não eram regadas# mas não uis recusar o !edido do oleiro# ue era tãoseu amigo.

> ocê ac%a ue seria muito inamistoso de min%a !arte se eu dissesse ue

estou ocu!adoA ? !erguntou ele com $o& t*mida e en$ergon%ada.

> Ora# na $erdade ? res!ondeu o oleiro ># não me !arece ue eu este8a

!edindo demais# le$ando em conta ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão. as# " claro#

ue se $ocê se recusar# eu $ou e conserto eu mesmo.

> Ora# de 8eito nen%um ? e0clamou o !eueno Hans. - !ulando !ara fora da

cama# $estiu7se de!ressa e foi !ara o celeiro.Trabal%ou l( o dia inteiro# at" o !Ir7do7sol# uando então o oleiro a!areceu

!ara $er como ele esta$a indo.

> Como "# 8( consertou todo o tel%ado# !eueno HansA ? !erguntou o oleiro

com $o& muito alegre.

> -st( tudo consertado ? res!ondeu o !eueno Hans# descendo a escada.

Page 23: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 23/31

> %G ? disse o oleiro. ? :ão %( trabal%o ue se faça com mais !ra&er do ue

auele ue se fa& !ara os outros.

> :ão %( d@$ida de ue " um grande !ri$il"gio ou$i7lo falar ? res!ondeu o

!eueno Hans# sentando7se e lim!ando a testa ># um !ri$il"gio muito grande. as receio

ue eu 8amais terei id"ias tão bonitas uanto as suas.> Ora# elas l%e ocorrerão ? disse o oleiro. ? as " !reciso ue $ocê se esforce

mais. :o momento# $ocê só con%ece a !r(tica da ami&ade# mas algum dia %a$er( de

con%ecer tamb"m a teoria.

> - $ocê ac%a mesmo ue eu consigoA ? !erguntou o !eueno Hans.

> :ão ten%o a menor d@$ida ? res!ondeu o oleiro. ? as agora ue $ocê 8(

consertou o tel%ado# " mel%or ir !ara casa descansar# !ois aman%ã de man%ã eu uero

ue $ocê le$e os meus carneiros !ara a montan%a.

O !obre !eueno Hans ficou com medo de di&er ualuer coisa sobre o assunto#e logo cedo# na man%ã seguinte# o oleiro le$ou os carneiros at" a cabana# e Hans saiu

com eles !ara a montan%a. ;e$ou o dia inteiro !ara c%egar at" l( e $oltar e uando

c%egou# esta$a tão cansado ue caiu dormindo na cadeira e só acordou uando o sol 8( ia

alto.

> Como eu $ou me di$ertir no meu 8ardimG ? disse ele# e !Is7se logo a trabal%ar.

as !or alguma ra&ão ele nunca conseguia cuidar de suas flores# !orue seu

amigo# o oleiro# esta$a sem!re a!arecendo !ara des!ac%(7lo em tarefas distantes# ou

!egando7o !ara trabal%ar no moin%o. O !eueno Hans $olta e meia fica$a muito!erturbado# !ois tin%a medo ue suas flores !udessem !ensar ue ele as %a$ia

esuecido# mas consola$a7se !ensando ue o oleiro era o seu mel%or amigo.

> l"m do ue ? costuma$a ele di&er ># ele $ai me dar seu carrin%o de mão# o

ue " um ato da mais !ura generosidade.

- assim# o !eueno Hans continua$a trabal%ando !ara o oleiro# ue continua$a

a di&er toda es!"cie de coisa bonita sobre a ami&ade# ue Hans escre$ia num cadernin%o

e torna$a a ler de noite# !ois era muito bom estudante.

 conteceu ue certa noite o !eueno Hans esta$a sentado !erto de sua lareira#uando ou$iu uma forte batida em sua !orta. -ra uma noite muito tem!estuosa# com o

$ento so!rando e rugindo em $olta da casa de modo tão terr*$el ue a !rinc*!io ele

!ensou ue era só a tem!estade. as $eio uma no$a batida e de!ois uma terceira# ainda

mais forte do ue as outras.

> 'er( algum !obre $ia8anteA ? disse o !eueno Hans consigo mesmo# e correu

Page 24: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 24/31

at" a !orta.

;( esta$a o oleiro com uma lanterna em uma das mãos e um grande bastão na

outra.

> Euerido !eueno Hans ? gritou o oleiro ># estou com um terr*$el !roblema.

eu fil%in%o caiu de uma escada e se mac%ucou# e eu $ou c%amar o Doutor. as elemora tão longe# e a noite est( tão feia# ue acaba de me ocorrer ue seria muito mel%or

se $ocê fosse em meu lugar. ocê sabe ue eu $ou l%e dar meu carrin%o de mão# de

modo ue " muito 8usto ue $ocê tamb"m faça alguma coisa !or mim.

> claro ? e0clamou o !eueno Hans. ? Considero um grande elogio ter $indo

me !rocurar# e $ou !artir agora mesmo. as !reciso ue $ocê me em!reste a sua

lanterna# !orue a noite est( tão escura ue ten%o medo de cair na $ala.

> ;amento muito ? res!ondeu o oleiro ? mas esta " min%a lanterna no$a e

seria uma !erda muito grande !ara mim se algo acontecesse com ela.> Bem# então não fa& mal# eu dou um 8eito sem ela ? disse o !eueno Hans# e

de!ois de !egar seu casaco de !eles# seu gorro $ermel%o uentin%o e de amarrar uma

ec%ar!e de lã no !escoço# ele !artiu.

-ra uma tem!estade terr*$elG noite esta$a tão negra ue o !eueno Hans mal

en0erga$a onde ia# e o $ento tão forte ue ele não conseguia !arar. :o entanto# ele era

muito cora8oso# e# de!ois de camin%ar umas três %oras# ele c%egou 9 casa do Doutor e

bateu na !orta.

> Euem est( a*A ? gritou o Doutor# metendo a cabeça do lado de fora da 8anelado uarto.

> o !eueno Hans# Doutor.

> - o ue " ue $ocê uer# !eueno HansA

> O fil%o do oleiro caiu da escada e se mac%ucou# e o oleiro uer ue o

sen%or $( agorin%a mesmo.

> -st( bemG ? disse o Doutor.

-le !egou seu ca$alo# suas grandes botas e sua lanterna# desceu e ca$algou na

direção da casa do oleiro# dei0ando o !eueno Hans a se arrastar atr(s dele.as a tem!estade foi ficando cada $e& !ior# e caiu uma c%u$a torrencial. O

!eueno Hans não conseguia $er !ara onde esta$a indo# nem acom!an%ar o ca$alo.

+inalmente ele se !erdeu# e camin%ou na direção da c%arneca# um lugar muito !erigoso

!orue era c%eio de buracos !rofundos. - foi num deles ue o !eueno Hans se afogou.

'eu cor!o foi encontrado no dia seguinte !or uns !astores de cabras# flutuando numa

Page 25: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 25/31

grande !oça dR(gua# sendo le$ado !or eles de $olta !ara a cabana.

Todo mundo foi ao enterro do !eueno Hans# !orue ele era muito !o!ular. - o

oleiro era o ue mais c%ora$a.

> -u era seu mel%or amigo ? di&ia o oleiro. ? 8usto ue eu ocu!e o lugar

mais im!ortante.De modo ue ele " ue foi na frente da !rocissão# usando uma longa ca!a !reta#

e $olta e meia en0uga$a os ol%os com um lenço branco.

> O !eueno Hans "# sem d@$ida# uma grande !erda !ara todos ? disse o

+erreiro# uando o enterro acabou e todos eles 8( esta$am conforta$elmente sentados na

ta$erna# bebendo $in%o tem!erado e comendo bolos.

> )elo menos uma grande !erda !ara mim ? res!ondeu o oleiro. ? -u

!raticamente 8( l%e %a$ia dado o meu carrin%o de mão# e agora eu realmente não sei o

ue fa&er com ele. ;( em casa fica atra!al%ando muito# e est( em tão m(s condiçKes uenão ia conseguir nada !or ele se uisesse $endê7lo. ou tomar o maior cuidado !ara

nunca mais tornar a dar coisa nen%uma. 'ofre7se muito uando se " generoso.

> - da*A ? disse o /atão7dR(gua# de!ois de uma longa !ausa.

> Bem# a* acabou ? disse o )intarro0o.

> as o ue aconteceu com o oleiroA ? !erguntou o /atão.

> Ora# eu não sei# realmente ? res!ondeu o )intarro0o. ? ,aranto ue !ouco me

im!orta.

> e$idente ue não %( nen%uma solidariedade em sua nature&a ? disse o/atão.

> /eceio ue $ocê não ten%a c%egado mesmo a !erceber ual " a moral da

%istória ? comentou o )intarro0o.

> ... o uêA ? gritou o /atão.

> moral.

> ocê uer di&er ue essa %istória tem uma moralA

> Certamente ? disse o )intarro0o.

> Ora# dei0e disso ? disse o /atão7dR(gua# com ar muito &angado. ? c%o ue$ocê de$ia ter me dito isso antes de começar. 'e ti$esse# eu !or certo não teria escutado.

:a $erdade# eu teria dito “)ois sim”# como o cr*tico. :o entanto# eu ainda !osso di&ê7lo

agoraN )ois simG ? gritou a !lenos !ulmKes# sacudiu o rabo e tornou a entrar em seu

buraco.

> - o ue " ue $ocê ac%a do /atão7dR(guaA ? !erguntou a )ata# ue c%egou

Page 26: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 26/31

nadando alguns minutos mais tarde. ? -le tem $(rios !ontos !ositi$os# mas eu# do meu

lado# ten%o meus sentimentos maternos# e 8amais consegui ol%ar !ara um solteirão

con$icto sem ue as l(grimas não me $iessem aos ol%os.

> /eceio ue o ten%a irritado ? res!ondeu o )intarro0o. ? O fato " ue eu contei

a ele uma %istória com moral.> %G <sso " sem!re uma coisa muito !erigosa de se fa&er ? disse a )ata.

- eu concordo inteiramente com ela.

O /ou0inol e a /osa

> -la disse ue dançaria comigo se eu l%e trou0esse rosas $ermel%as ?

lastimou7se o 8o$em -studante ># !or"m em todo o meu 8ardim não e0iste uma @nica

rosa $ermel%a.

De seu nin%o no grande car$al%o o /ou0inol ou$iu7o# ol%ou !or entre as

fol%agens e ficou !ensando.

> :em uma @nica rosa $ermel%a em todo o meu 8ardimG ? c%orou o -studante# e

seus lindos ol%os ficaram mare8ados de l(grimas. ? i# como a felicidade de!ende de

!euenas coisasG =( li tudo ue escre$eram os %omens mais s(bios# con%eço todos os

segredos da filosofia# mas !or falta de uma rosa $ermel%a min%a $ida est( desgraçada.

> +inalmente encontro um $erdadeiro amante ? disse o /ou0inol. ? Ten%o

cantado esse ser noite a!ós noite# mesmo sem con%ecê7loN noite a!ós noite contei sua

%istória 9s estrelas# e só agora o encontrei. 'eus cabelos são escuros como a flor do

 8acinto# e seus l(bios rubros como a rosa de seus dese8os# !or"m a !ai0ão tornou seu

rosto !(lido como o marfim e a triste&a selou sua testa.

> O )r*nci!e d( um baile aman%ã 9 noite ? murmurou o 8o$em -studante ># e o

meu amor estar( entre os !resentes. 'e eu l%e le$ar uma rosa $ermel%a ela dançar(

comigo at" de madrugada. 'e eu l%e der uma rosa $ermel%a eu a terei em meus braços#e ela deitar( sua cabeça sobre o meu ombro# com sua mão !resa na min%a.

as não %( uma @nica rosa $ermel%a em meu 8ardim# de modo ue ficarei

abandonado em meu lugar e ela %( de !assar !or mim. -la nem ir( me notar# e meu

coração ficar( !artido.

> * est(# de fato# um $erdadeiro amante ? disse o /ou0inol. ? -le sofre tudo o

Page 27: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 27/31

ue eu cantoN o ue " alegria em mim# !ara ele " dor. 'em d@$ida o amor " uma coisa

mara$il%osa. -le " mais !recioso do ue a esmeralda e mais refinado ue a o!ala. :em

!"rolas e nem granadas o !odem com!rar# e nem " ele e0!osto nos mercados. :ingu"m

!ode com!r(7lo de mercadores# nem !ode ser !esado nas balanças feitas !ara !esar

ouro.> Os m@sicos $ão ficar em sua galeria ? disse o 8o$em -studante. ? Tocarão

seus instrumentos de cordas# e o meu amor dançar( ao som da %ar!a e do $iolino. -la ir(

dançar com tal le$e&a ue seus !"s nem tocarão o c%ão# e os cortesãos# com suas

rou!as alegres# ficarão amontoados em $olta dela. )or"m comigo ela não ir( dançar#

!orue não l%e dei uma rosa $ermel%a ? e atirou7se na rel$a# enterrou o rosto entre as

mãos# e c%orou.

> )or ue " ue ele est( c%orandoA ? !erguntou o ;agartin%o erde# ao !assar

!or ele com o rabin%o em!inado !ara o ar.> )or ue ser(A ? disse uma Borboleta# ue esta$a es$oaçando atr(s de um

raio de sol.

> mesmo# !or ue ser(A ? sussurrou uma argarida a seu $i&in%o# com $o&

sua$e e bai0in%a.

> -st( c%orando !or uma rosa $ermel%a ? disse o /ou0inol.

> )or uma rosa $ermel%aA ? gritaram todos. ? as ue coisa rid*culaG ? e o

;agartin%o erde# ue era um tanto c*nico# caiu na gargal%ada.

as o /ou0inol com!reendeu o segredo da triste&a do -studante# e ficou emsilêncio debai0o do car$al%o# !ensando sobre o mist"rio do mor.

/e!entinamente ele abriu as asas !ara $oar e subir !ara os ares# !assando !elo

bosue como uma sombra e# como uma sombra# desli&ar atra$"s do 8ardim.

Bem no centro do gramado %a$ia uma linda /oseira e# ao $ê7la# o /ou0inol $oou

!ara ela e !ousou em um ramo.

> Dê7me uma rosa $ermel%a ? e0clamou ele ? ue eu l%e cantarei min%a mais

doce canção.

as a roseira não esta$a interessada.> in%as rosas são brancas ? res!ondeu. ? Brancas como a es!uma do mar# e

mais brancas do ue a ne$e das montan%as. as $( at" min%a irmã ue cresce 8unto ao

relógio de sol# ue tal$e& ela l%e dê o ue uer.

- então o /ou0inol $oou !ara a /oseira ue crescia ao lado do $el%o relógio de

sol.

Page 28: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 28/31

> 'e $ocê me der uma rosa $ermel%a ? gritou ele ># eu canto !ara $ocê min%a

mais doce canção.

as a /oseira sacudiu a cabeça.

> in%as rosas são amarelas ? res!ondeu ela ? tão amarelas uanto os cabelos

da sereia ue se senta em um trono de Fmbar# e mais amarelas do ue os 8unuil%os ueflorescem no cam!o antes do ceifador a!arecer com sua foice. as !ode ir at" min%a

irmã ue cresce debai0o da 8anela do -studante# ue tal$e& ela l%e dê o ue est(

!rocurando.

- então o /ou0inol $oou at" a /oseira ue crescia debai0o da 8anela do

-studante.

> 'e $ocê me der uma rosa $ermel%a ? gritou ele ># eu canto !ara $ocê min%a

mais doce canção.

as a /oseira sacudiu a cabeça.> in%as rosas são $ermel%as ? res!ondeu ela ># $ermel%as como os !"s da

!omba e mais $ermel%as do ue os grandes leues de coral ue abanam sem !arar nas

ca$ernas do oceano. as o in$erno congelou min%as $eias# a geada cortou meus botKes#

a tem!estade uebrou meus gal%os# e não terei uma só rosa este ano.

> -u só uero uma rosa ? gritou o /ou0inol. ? !enas uma rosa $ermel%aG :ão

%a$er( nen%um 8eito de consegui7laA

> 'ó %( um ? res!ondeu a /oseira ># mas " tão terr*$el ue não ouso contar.

> )ode contar ? disse o /ou0inol ># eu não ten%o medo.> 'e uiser uma rosa $ermel%a ? disse a /oseira ># $ocê ter( de constru*7la de

m@sica ao luar# tingindo7a com o sangue do seu !ró!rio coração. Ter( de cantar !ara mim

com seu !eito de encontro a um es!in%o. Ter( de cantar !ara mim a noite inteira# e o

es!in%o ter( de furar o seu coração# e o sangue ue o mant"m $i$o ter( de correr !ara as

min%as $eias# transformando7se em meu sangue.

> orte " um !reço alto !ara se !agar !or uma rosa $ermel%a ? e0clamou o

/ou0inol ># e a ida " muito cara a todos. tão agrad($el ficar !arado no bosue $erde#

ol%ar o 'ol em seu carro de ouro# e a ;ua em seu carro de !"rolas. Doce " o !erfume do!ilriteiro# doces são as cam!Fnulas ue se escondem no $ale# e as ur&es ue balançam

nas colinas. :o entanto# o mor " mel%or do ue a ida# e o ue " o coração de um

!assarin%o com!arado com o coração de um %omemA

Com isso# ele abriu as asas e alçou $Io !ara os ares. )assou c"lere sobre o

 8ardim e como uma sombra desli&ou !elo bosue.

Page 29: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 29/31

O 8o$em -studante ainda esta$a deitado na rel$a# onde ele o %a$ia dei0ado# e as

l(grimas ainda nem %a$iam secado em seu lindo rosto.

> +iuei contente ? cantou7l%e o /ou0inol ># fiuei contente. ocê ter( sua rosa

$ermel%a. -u a construirei com min%a m@sica ao luar# tingindo7a com o sangue do meu

!ró!rio coração. - só o ue !eço em troca " ue $ocê se8a um amante fiel e $erdadeiro#!ois o mor " mais s(bio do ue a +ilosofia# embora ela se8a s(bia# e mais !oderoso do

ue o )oder# embora este se8a !oderoso. Cor das c%amas são suas asas# e cor das

c%amas " o seu cor!o. 'eus l(bios são doces como o mel# seu %(lito como o incenso.

O -studante ol%ou !ara o alto e ou$iu# mas não com!reendeu o ue o /ou0inol

di&ia# !orue só con%ecia as coisas ue $êm escritas nos li$ros. as o Car$al%o

com!reendeu e ficou triste# !orue gosta$a muito do /ou0inol# cu8a fam*lia tin%a o nin%o

em seus ramos.

> Cante7me uma @ltima canção ? sussurrou ele ># $ou sentir7me tão só uando$ocê se for.

-ntão o /ou0inol cantou !ara o Car$al%o# e sua $o& !arecia a (gua uando sai

saltitando de um 8arro de !rata.

Euando a canção acabou# o -studante se le$antou e tirou do bolso um

cadernin%o de notas e um l(!is.

> -le tem forma ? disse !ara si mesmo# enuanto camin%a$a !elo bosue >#

isso ningu"m !ode negar. as ser( ue tem sentimentosA Temo ue não. :a $erdade#

de$e ser como a maioria dos artistasN " todo estilo# sem ualuer sinceridade. -le 8amaisse sacrificaria !elos outros. 'ó !ensa em m@sica# e todo mundo sabe ue as artes são

ego*stas. esmo assim# " !reciso admitir ue sua $o& tem algumas notas lindas. Eue

!ena não significarem nada# nem terem ualuer utilidade !r(ticaG

- foi !ara o seu uarto# onde se deitou em seu !eueno catre e# de!ois de

!ensar algum tem!o em sua amada# adormeceu.

Euando a ;ua começou a bril%ar no c"u# o /ou0inol $oou !ara a /oseira e

encostou o !eito no es!in%o. Durante toda a noite ele cantou# com o !eito no es!in%o#

enuanto a fria ;ua de cristal cur$a$a7se !ara ou$ir. -le cantou a noite inteira e o es!in%oentra$a cada $e& mais fundo em seu !eito# enuanto seu sangue escorria !ara fora.

)rimeiro ele cantou sobre o nascimento do amor no coração de um ra!a& e uma

moça. - no ramo mais alto da /oseira foi florescendo uma rosa mara$il%osa# !"tala !or

!"tala# 9 medida ue uma canção seguia outra. !rinc*!io ela era !(lida como a n"$oa

ue !aira sobre o rio# !(lida como os !"s da man%ã e !rateada como as asas da

Page 30: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 30/31

madrugada. Como a sombra de uma rosa em um es!el%o de !rata# como a sombra de

uma rosa em uma lagoa# assim era a rosa ue floresceu no ramo mais alto da /oseira.

as a /oseira fica$a gritando !ara o /ou0inol se a!ertar cada $e& mais de

encontro ao es!in%o.

> !erta mais# /ou0inol ? grita$a a /oseira ># senão o dia c%ega antes ue arosa este8a !ronta.

- o /ou0inol fa&ia cada $e& mais !ressão contra o es!in%o# e canta$a cada $e&

mais alto# !ois esta$a cantando o nascimento da !ai0ão entre a alma de um %omem e

uma don&ela.

- um delicado enrubescer rosado a!areceu nas fol%as da rosa# como o

enrubescer no rosto do noi$o uando ele bei8a os l(bios da noi$a. as o es!in%o ainda

não %a$ia atingido o coração# de modo ue o coração da rosa !ermanecia branco# !ois só

o sangue do coração de um /ou0inol !ode dei0ar rubro o coração de uma rosa.- a /oseira grita$a !ara o /ou0inol enfiar mais e mais o !eito de encontro ao

es!in%o.

> ais ainda# !eueno /ou0inol ? grita$a a /oseira ># senão o dia c%ega antes

de a rosa estar !ronta.

- o /ou0inol foi se a!ertando cada $e& mais de encontro ao es!in%o# e o es!in%o

tocou7l%e o coração# e um terr*$el gol!e de dor !assou !or toda a a$e&in%a. dor era

%orr*$el# %orr*$el# e a canção foi ficando cada $e& mais enlouuecida# !ois agora ele

canta$a o mor ue fica !erfeito com a orte# o mor ue não morre no [email protected] a rosa mara$il%osa ficou rubra# como a rosa do c"u do oriente. /ubro era todo

o c*rculo de !"talas# e rubro como um rubi era o seu coração.

as a $o& do /ou0inol foi ficando mais fraca# suas asin%as começaram a se

debater# e uma n"$oa cobriu seus ol%os. Cada $e& mais fraca foi ficando sua canção# e

ele sentiu alguma coisa ue sufoca$a sua garganta.

- então ele soltou uma @ltima !orção de m@sica.

  ;ua branca ou$iu7a e se esueceu da madrugada# ficando no c"u. rosa

$ermel%a tamb"m ou$iu# estremeceu toda em ê0tase# e abriu suas !"talas ao frio ar daman%ã. O eco le$ou7a at" sua ca$erna !@r!ura nas colinas e des!ertou de seus son%os

os !astores ue dormiam. -la flutuou at" os 8uncos do rio# e estes le$aram sua

mensagem !ara o mar.

> e8a# $e8aG ? gritou a /oseira. ? gora a /osa est( !ronta.

as o /ou0inol não res!ondeu# !ois tin%a ca*do morto no meio da rel$a# com o

Page 31: Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

7/21/2019 Histórias de Fadas - Oscar Wilde - Barbara Heliodora

http://slidepdf.com/reader/full/historias-de-fadas-oscar-wilde-barbara-heliodora 31/31

es!in%o atra$essado no !eito.

 o meio7dia o -studante abriu sua 8anela e ol%ou !ara fora.

> Ora# mas ue sorte mara$il%osaG ? e0clamou ele. ? -is ali uma rosa $ermel%aG

=amais $i rosa como essa em toda a min%a $ida. tão bonita ue estou certo de ue

de$e ter algum nome em latimG ? e# debruçando7se# col%eu7a.De!ois ele botou o c%a!"u e correu !ara a casa do )rofessor# com a rosa na

mão.

  fil%a do !rofessor esta$a sentada na !orta# enrolando um fio de seda a&ul em

um no$elo# com o cac%orrin%o deitado a seus !"s.

> ocê disse ue dançaria comigo se eu l%e trou0esse uma rosa $ermel%a ?

e0clamou o -studante. ? ui est( a rosa mais $ermel%a do mundo inteiro. se7a 8unto ao

seu coração %o8e 9 noite# e enuanto esti$ermos dançando eu l%e direi o uanto a amo.

as a moça fran&iu o cen%o.> /eceio ue ela não combine com o meu $estido ? res!ondeu. ? -# al"m do

mais# o sobrin%o do Camerlengo mandou7me uma 8óia de $erdade# e todos sabem ue as

 8óias custam muito mais do ue as flores.

> ocê " muito ingrata ? disse o -studante com rai$a# e atirou a rosa na rua#

onde ela caiu na sar8eta e uma carroça acabou !assando !or cima.

> <ngrataA ? disse a moça. ? )ois fiue sabendo ue $ocê " muito rude e# afinal#

uem " $ocêA !enas um estudante. Ora# não creio seuer ue ten%a fi$elas de !rata

!ara seus sa!atos# como as ue tem o sobrin%o do Camerlengo ? e# le$antando7se desua cadeira# entrou na casa.

> Eue coisa tola " o morG ? disse o -studante# enuanto se afasta$a. ? :ão

tem a metade da utilidade da ;ógica# !ois não !ro$a nada# e fica sem!re di&endo a todo

mundo coisas ue não $ão acontecer# fa&endo com ue acreditemos em coisas ue não

são $erdade. -nfim# não " nada !r(tico e# como %o8e em dia ser !r(tico " o im!ortante#

$ou $oltar 9 +ilosofia e estudar etaf*sica.

- $oltou !ara seu uarto# onde !egou um enorme li$ro todo em!oeirado e

começou a ler.