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HISTÓRIA (S) DO (S) MERCADO (S) DE CASCAIS 1952–2014

HISTÓRIA · do vinho e da cantaria, tendia a consumir internamente as suas produções. Todavia, não obstante em 1758 existirem «duas Praças na Vila, uma de fruta, outra de

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HISTÓRIA(S) DO(S) MERCADO(S) DE CASCAIS

1952–2014

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FICHA TÉCNICA

CONCEÇÃODNA Cascais – Empreendedorismo e Comércio Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Inovação e ComunicaçãoGabinete de Arquivos MunicipaisDivisão de Marca e Comunicação

COORDENAÇÃOJoão Miguel Henriques

INVESTIGAÇÃO, TEXTO E SELEÇÃO DE IMAGENSJoão Miguel HenriquesMargarida SequeiraFátima Henriques

COLABORAÇÃOMafalda MartinhoAna Laura AlcântaraMarta Silvestre

APOIOCristina NevesCristina BrunoIsabel FernandesEdite SotaAna Maria DiasFernanda BorgesAntónio LukomboBeatriz BrilhaCristiana Marques

IMAGENSArquivo Histórico Municipal de Cascais

FOTOGRAFIAInês DionísioSibila Lind

DESIGN GRÁFICODavid Pinto

IMPRESSÃOSeleprinter Sociedade Gráfica, lda.

TIRAGEM1000 exemplares

ISBN978-972-637-256-1

DEPÓSITO LEGAL378410/14

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Mercado(s) de Cascais – História(s) das nossas gentes

primeira ordem, se adaptasse aos novos tempos. Desta forma, em 2008, a Câmara Municipal de Cascais decidiu avançar com uma profunda intervenção de requalificação do equipamento, com vista à melhoria das condições de trabalho e qualidade do serviço prestado, que beneficiou, depois, toda a envolvência.

Em 2012, o Mercado de Cascais ganhou novo ímpeto, ao impor-se como espaço de eleição para a realização de eventos, entre os quais se destacaram, desde logo, o Dia da Alimentação Saudável e o Mercado do Mel. Também a primeira edição do Mercado do Chocolate, em fevereiro de 2013, que atraiu ao longo de três dias cerca de 16 000 pessoas, se revelou um enorme sucesso. Em função de uma estratégia de dinamização do comércio local, da gastronomia nacional como âncora turística e da promoção de uma nova centralidade, estes mercados temáticos transformaram-se, assim, num dos principais atrativos de uma infraestrutura que, para além de garantir o abastecimento da vila, se transformou num ponto de visita obrigatório.

Os mercados temáticos ofereceram uma oportunidade para o Mercado se reinventar. O sucesso, apesar de notório, não está garantido. E é por isso que a nossa agenda de ambiciosa requalificação do Mercado irá continuar durante 2014, com a recuperação das lojas do primeiro andar, tendo em vista a instalação de novas empresas que sejam geradoras de postos de trabalho, símbolos gastronómicos da região e estandartes da nossa identidade.

Temos a certeza que, num mundo globalizado e mecanizado, só conseguiremos afirmar Cascais por via da diferença que projetarmos. Ao contrário do que acontece noutros sítios, no Mercado de Cascais os clientes são atendidos por pessoas e não por máquinas. E ao contrário, também, do que acontece noutros lugares, no Mercado de Cascais cada cliente tem acesso a produtos que em vez da uniformidade das linhas industriais, carregam o peso da identidade de um produtor ou de um artesão da terra.

Podemos dizer, sem receios, que aos 62 anos o Mercado de Cascais está longe da idade da reforma. Muito pelo contrário: seis décadas depois, encontrou uma vida nova em que se afirma como espaço de empreendedorismo e de futuro ao serviço de todos os cascalenses e dos que nos visitam.

Carlos CarreirasPresidente da Câmara Municipal de Cascais

A palavra “mercado” ganhou injustamente má fama nos últimos tempos. A culpa é principalmente da conceção liberal da palavra. O mercado que aqui lhe trazemos é outro – não é o dos juros da dívida ou o da especulação financeira. Este mercado, o nosso mercado, é o da simpatia, o da confiança e o da identidade. É o Mercado de Cascais, um espaço feito para as pessoas e para as pessoas de Cascais.

Inaugurado a 9 de agosto de 1952, o Mercado Municipal de Cascais constitui um dos marcos arquitetónicos mais simbólicos da vila, espaço privilegiado de comércio e ponto de encontro dos cascalenses, há 62 anos ao serviço de gerações de clientes e vendedores.

No âmbito das comemorações dos 650 anos da Vila de Cascais – que decorrerão de 8 de junho de 2013 a 6 de junho de 2015, celebrando também os 500 anos do seu foral e o 645º aniversário da criação do concelho – propusemo-nos, em nome da preservação da memória coletiva e do património (i)material de um território privilegiado pela Natureza e generosamente intervencionado pelo Homem, conhecer melhor a história deste equipamento de referência local, com recurso à preciosa documentação preservada pelo Arquivo Histórico Municipal e a recolhas de testemunhos orais junto dos mais antigos funcionários e vendedores do Mercado, na certeza de que a história se faz também destas estórias…

As necessidades de abastecimento da população cedo conduziram à constituição de um mercado em Cascais que, inicialmente instalado na Praça Velha, atual Praça 5 de Outubro, transitaria, em 1892, para um mercado em ferro, junto à foz da Ribeira das Vinhas, demolido em 1944, para alargamento da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra. O novo edifício destinado a substituí-lo deveria ter sido erguido nas imediações do Jardim Visconde da Luz, com projeto do arquiteto Jorge Segurado. Todavia, por razões de ordem vária, o mercado veio a funcionar nos terrenos da Parada, em piores condições, durante quase uma década.

A partir de 1952, o novo Mercado Municipal de Cascais, gizado pelo arquiteto Alberto Cruz – a quem o concelho deveu tantas outras obras emblemáticas – garantiu os requisitos de higiene, segurança, acessibilidade e conforto então exigidos, continuando, depois, a ser ampliado e/ou adaptado, sempre que necessário e possível. Não obstante, urgia que este espaço, cuja centralidade se relevara, em função do crescimento da vila e da sua imposição como destino turístico de

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Durante séculos, a agricultura, a pecuária, a pesca e a extração e preparação de pedra constituíram as principais atividades económicas de um concelho que, com exceção

do vinho e da cantaria, tendia a consumir internamente as suas produções. Todavia, não obstante em 1758 existirem «duas Praças na Vila, uma de fruta, outra de hortaliça onde se vende almotaçado pelos almotacés tudo o que vem de fora e é preciso para o sustento do povo e não leva nada o almotacé pelo preço»1, em 1862 o município ainda se preocupava, por exemplo, em impedir a circulação de porcos na via pública, deliberando, a 26 de dezembro, que a sua venda em Cascais apenas se poderia efetuar no «Largo das Escorelas»2…

A reconstrução das estradas que ligavam Cascais a Oeiras e a Sintra, em 1864 e 1868, inauguraria um período de desenvolvimento que se fez sentir sobretudo na vila, em função da moda dos banhos de mar, facilitando o transporte de mercadorias e de novos consumidores até à região. O comércio assumiu-se, então, como o principal beneficiário desta evolução, num período também marcado pela implementação do sistema métrico decimal, em 1852, que, apesar da resistência inicial, contribuiu de forma decisiva para o controlo e profissionalização da atividade.3

Doravante, a questão do abastecimento e da regulamentação do comércio transformar-se-ia numa das principais preocupações do município, pelo que, a 3 de maio de 1866, por se considerar não existir na vila um lugar destinado à venda de géneros alimentícios, «tais como frutas, hortaliças, aves, caça, etc. [e que] seria conveniente [que] se criasse um estabelecimento de uma praça diária dentro da vila, no local apropriado para os consumidores se proverem do que necessitassem e evitar-se o abuso dos atrevessadores [sic] comprarem todos os géneros para os revenderem com excessivos lucros»4, se preparou a seguinte postura, para apreciação superior:

«Artigo 1º – É criado um mercado diário e gratuito nesta vila; o local para ele destinado é a praça nova. Artigo 2º – É permitida a venda no dito mercado de todos os géneros, exceto os proibidos por disposição de lei ou postura: o mercado durará desde o nascer do sol até à uma hora da tarde. Artigo 3º – Fica pelo precedente artigo proibida a venda pelas ruas e portas, durante o tempo marcado para a venda na praça, de todos os géneros, exceto os dos artigos seguintes 4º e 5º. Artigo 4º – Não são compreendidos no artigo 3º o pão, vinho, vinagre, azeite e aguardente. Artigo 5º – O peixe será vendido na praia chamada a ribeira que

1. Resposta do «Reytór da Igreja Matris da Villa de Cascaes, Manoel Marçal da Silveyra», da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, de 6 de abril de 1758, ao interrogatório enviado às paróquias, no âmbito da produção do Dicionário geográfico, pelo Padre Luís Cardoso. Cf. Cascais em 1755: Do terramoto à reconstrução. Cascais: Câmara Municipal, 2005, p. 164-165. 2. Cf. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 26 de dezembro de 1862, p. 44 v. 3. A adoção do sistema métrico de pesos e medidas não foi pacífica, pelo que, a 8 de novembro de 1866, a vereação foi forçada a produzir uma proposta de postura a este propósito, estabelecendo que «todo o indivíduo com estabelecimento público de venda, qualquer que seja o ramo comercial a que se dedique, sempre que seus géneros tenham de ser pesados ou medidos, só o poderá fazer pelos pesos e medidas em vigor, determinados na lei do sistema métrico». A 14 de agosto de 1867 encontramos outras referências a abusos praticados ao nível da pesagem por vendedores de pão. Cf. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 8 de novembro de 1866, p. 53 v.; 14 de agosto de 1867, pp. 92-92 v. e 24 de outubro de 1867, p. 100.

4. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 3 de maio de 1866, p. 31 v.

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será a praça própria para a venda deste género, podendo os comerciantes dele vendê-lo pelas portas a qualquer hora do dia. Artigo 6º – Toda a pessoa que durante o tempo da praça for encontrada em contravenção com o disposto no artigo 3º e que entrando na Vila siga caminho diverso do que conduz à praça, segundo a direção donde venha, qualquer que seja o pretexto para tal praticar, pagará quinhentos réis pela primeira vez e mil réis em cada reincidência».5

Ainda que se tivesse conhecimento da sua aprovação definitiva a 2 de maio de 1867, na semana seguinte o mercado transitaria para «o largo da Praça em frente da Cadeia e Paços do Concelho», depois rebatizado como Praça D. Luís I e, em 1910, como Praça 5 de Outubro, abandonando, assim, a Praça Nova, atual Praça Luís de Camões.6 Já a 1 de agosto, a edilidade deliberou que as licenças para a venda ambulante de hortaliças, frutas, aves e outros produtos fossem apenas válidas depois das 13 horas.7 Estava, pois, oficialmente estabelecido o mercado de Cascais, novo ponto de encontro e de troca dos mais diversos produtos trazidos por agricultores, pescadores e comerciantes, que assumiu um papel fundamental na transição da economia de subsistência para a de mercado.

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5. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 3 de maio de 1866, pp. 31 v.-32.

6. Cf. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 2 de maio de 1867, p. 72 v. e 9 de maio de 1867, p. 73 v.

7. Cf. AHMCSC/AADL/CMC/B-A/001, 1 de agosto de 1867, p. 91.

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O município obstinou-se em melhorar as condições do mercado em funcionamento na Praça Velha e na Praia da Ribeira, hoje conhecida por Praia dos Pescadores. Nesse sentido, com vista à beneficiação do mercado de peixe, provisoriamente instalado no vão do arco grande que comunicava com a praia, a 25 de novembro de 1880 tomaria conhecimento da autorização do Ministério da Guerra para a sua instalação na rua entre o armazém denominado «Barracão» e a muralha de fuzil da praia, que parece ter sido resolvida com a montagem de um pequeno telheiro de abrigo!

O projeto de construção de um edifício expressamente concebido para mercado, em Cascais, remonta a 1890, por ocasião da tomada de posse de Jaime Artur da Costa Pinto como Presidente da Câmara Municipal, que, no âmbito de uma ambiciosa política de modernização da vila, fez aprovar, logo a 2 de janeiro, os planos de edificação de um mercado, de um matadouro, de um cemitério e de um de lavadouro, entre outros melhoramentos. Na sessão camarária de 6 de março deliberar-se-ia, mesmo, a contração de um empréstimo de 20.000$00 réis para a implementação das benfeitorias programadas.

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PRAÇA VELHA, ATUAL PRAÇA 5 DE OUTUBRO

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Num período em que Cascais se impôs como capital do lazer em Portugal – em função da presença sazonal da Família Real e da Corte, tradição instituída por D. Maria Pia e D. Luís em 1870, que D. Carlos soube galvanizar e o caminho-de-ferro democratizou, a partir de 1889 – a premência da resolução da questão do abastecimento da população fixa e flutuante conduziu o município, a 8 de maio de 1890, a mandar estabelecer um mercado provisório de frutas e hortaliças a este do «Passeio do Rio», por meio da construção de barracas fechadas e de bancadas para acomodação dos vendedores. Note-se que o novo mercado deveria ser construído junto à foz da Ribeira das Vinhas, em localização que na sequência da canalização deste antigo ex-libris de Cascais, no início do segundo quartel do século XX, corresponde atualmente ao término da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra.

No âmbito das grandes transformações urbanísticas então operadas, a 26 de junho desse ano, tendo de se proceder à demolição do antigo «Barracão dos Pilotos», decidiu-se transferir provisoriamente o mercado de peixe para junto do de hortaliça, construindo-se, para o efeito, um hangar vedado com rede de arame. Neste contexto, a 4 de setembro aprovou-se, ainda, uma nova postura estabelecendo que a venda de peixe por grosso apenas se poderia efetuar na antiga praça do peixe e que a venda por miúdo tinha de se realizar no mercado da Rua Oriental do Passeio, designação atribuída a 3 de julho de 1890 «à nova rua junto ao rio onde se deve estabelecer o mercado provisório». Dois anos depois, a 30 de junho, a Câmara Municipal mandou transferir os mercados de peixe e hortaliça para o novo aterro do lado ocidental da Ribeira das Vinhas, até que, a 28 de junho de 1892, ao decidir-se que o novo mercado começaria a funcionar a 7 de agosto, se autorizasse os pescadores de sardinha e carapau a proceder à venda na praia defronte do novo edifício.

Construído em ferro, dispunha de cobertura de chapa de ferro zincado ondulado e compunha-se de dois corpos idênticos, separados por corredor transversal, que a Monografia de Cascais descreve da seguinte forma: «O corpo do topo norte destinava-se à venda de frutas e hortaliças; o do sul ao comércio de peixe. Por sua vez, a lota do peixe grosso (pescadas, gorazes, pargos, chernes, etc.) funcionava no mercado do peixe num recinto ao ar livre, em bancas de pedra, onde era feita a exposição das várias espécies, por tecas (porções) que se leiloavam depois no sentido de pregão decrescente».8 De forma a assegurar-se o sucesso desta empreitada, a 2 de março de 1893 estabelecer-se-ia, mesmo, uma nova postura proibindo a venda ambulante de peixe, hortaliça, fruta, caça, criação e outros comestíveis fora do respetivo mercado antes do meio-dia.

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8. Ferreira de Andrade, dir. – Monografia de Cascais. Cascais: Câmara Municipal, 1969, p. 119.

VENDA DE PEIXE JUNTO AO MERCADO DE FERRO

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Mercê do empenho do Presidente da Câmara Municipal, a 24 de dezembro de 1891 já se encontrava esgotado o pântano formado pela estiagem da Ribeira, que, com vivo protesto da população, há muito perigava a saúde pública, estando também praticamente concluídas as obras do canal e aterros marginais, mandadas executar pelo Ministro das Obras Públicas, Frederico Arouca, a que João Franco Castelo Branco, que então tutelava a pasta, deu sequência. Não pode, assim, causar estranheza que, a 4 de agosto de 1892, dias antes da inauguração do novo mercado, a vereação tenha deferido a proposta dos habitantes da vila para que, como testemunho de gratidão pela conclusão desta importante obra, o novo passeio junto à Ribeira, onde funcionara o mercado, se passasse a designar Praça Costa Pinto, glorificando, em vida, um edil em exercício há menos de dois anos… A 22 de junho de 1904, a firma Salinas & Martins

arrematou os trabalhos de ampliação do mercado da fruta, que em 1906 ainda não se encontravam concluídos. Já a 9 de setembro de 1908 a vereação tomou conhecimento de que o arrematante da construção do mercado de peixe na Praça Costa Pinto pretendia proceder à entrega provisória do mesmo. Anos depois, a 2 de fevereiro de 1914, a Comissão Executiva da Câmara Municipal decidiria obter orçamento para a montagem de um toldo que protegesse a fruta do sol, assim como de novas mesas e de uma barraca para arrecadação. Durante a Grande Guerra, em função da crise de subsistências, a Câmara Municipal aprovaria a promoção de um mercado geral em Cascais, todos os primeiros domingos do mês, para venda de gado, artigos de lavoura e outros produtos, que a 6 de abril de 1916, a Comissão Executiva afirmava ter excedido as expectativas, impondo, assim, por via oficial, o «mercado saloio» que ainda tem lugar junto ao atual edifício do mercado. A necessidade de abastecimento continuou, pois, a exigir a reparação e ampliação do edifício, que tendeu a revelar-se insuficiente para as solicitações do público, num período em que o aumento da procura se estendeu também a outras localidades do concelho. Desta forma, a 2 de dezembro de 1920 deliberar-se-ia efetivar, com a maior urgência, o estudo para a construção de um mercado na Parede, a que se sucedeu, a 17 de março de 1923, a decisão da criação de um mercado diário em Carcavelos.

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O Código de Posturas da Câmara Municipal de Cascais, aprovado pela Comissão Executiva a 13 de maio de 1915 refere-se explicitamente aos mercados públicos e feiras, estabelecendo que «Nas povoações em que haja mercados públicos é proibida até às 10 horas a venda ambulante, ou fora dos estabelecimentos ou mercados de géneros ou artigos neles expostos à venda».Da mesma forma, «É proibido aos arrematantes ou alugadores de lojas, mesas ou lugares nos mercados, sob pena de se considerar findo o arrendamento ou a licença, o ter os seus estabelecimentos ou lugares fechados ou vazios de géneros ou artigos de seu comércio». Note-se que «Ninguém pode vender nos mercados sem arrendamento ou pagamento das taxas respetivas» e que «É igualmente proibido ter géneros alimentícios espalhados no chão ou de forma que resulte perigo para a saúde pública».

A preocupação com a manutenção e gestão do mercado também se evidencia, pelo facto de ser «defeso deteriorar o mercado, ou fazer nele quaisquer alterações

CÓDIGO DE POSTURAS. CASCAIS: CÂMARA MUNICIPAL, 1915, ARTIGOS 149º A 166º

sem licença, sujá-lo com detritos ou águas insalubres e ter os lugares em falta de limpeza […], proferir obscenidades, insultar as pessoas ou altercar em termos inconvenientes». Estabelece-se, ainda, que «Feita a venda ou fechado o mercado, todos os géneros ou artigos serão removidos para fora dele». Neste sentido, «A Câmara determinará pelos seus fiscais os lugares ou arruamentos destinados especialmente para venda de certos artigos, tais como peixe, criação, legumes, frutos e outros. Os pescadores que vendam por grosso o peixe que desembarque nas praias poderão fazer a sua venda nelas, nos sítios que lhes forem designados».

No que concerne aos horários de funcionamento, «Os mercados abrirão de julho a outubro inclusivé às 4 ½ e nos restantes meses às 7 horas e fechará o de fruta naqueles meses às 7 horas e nos restantes às 4; e o do peixe ao sol posto». Note-se, por fim, que «A Câmara designará por editais os lugares públicos destinados a feiras, exceto daquelas que é uso antigo fazer-se em épocas e lugares certos» e que «Todos os feirantes que armem barracas ou vendam em lugares fixos nas feiras solicitarão previamente licença à Câmara e pagarão a taxa de ocupação»

Código de Posturasde 1915

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A marcha do tempo e as intempéries conduziriam o vulnerável mercado de ferro da última década do século XIX à obsolescência, tornando imprescindível a construção de um novo edifício, adaptado às exigências da época. A primeira proposta nesse sentido surgiu em 1931, por iniciativa do vereador Eduardo Maria Rodrigues, não obstante apenas ganhar alento seis anos depois, como se registará nesta breve história do novo mercado da vila, que, de forma a facilitar a consulta, apresentaremos cronologicamente, reproduzindo as principais fontes documentais em presença, preservadas no Arquivo Histórico Municipal de Cascais.

1931-05-24

A Câmara Municipal recebe ofício do Gabinete de Engenharia, Ldª, apresentando as suas condições para a construção de um novo Mercado Agrícola, a inaugurar até sete meses após a assinatura do contrato. A sua exploração deveria ser concedida por prazo não inferior a trinta anos. A 8 de julho receciona outro ofício, com proposta técnica e financeira para o efeito

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1931-07-20

Anteprojeto de contrato a celebrar com a Câmara Municipal para a construção de mercados em Cascais, no Monte Estoril e em Carcavelos. O prazo para edificação do novo mercado de Cascais não pode exceder dezoito meses, concedendo-se ao vencedor a sua exploração por trinta anos, «a contar da abertura do primeiro [mercado], que deverá ser o de Cascais». Noutra versão deste documento, datada de 27 de julho de 1931, o prazo de conclusão do mercado é já de doze meses e o do Monte Estoril de dezoito meses

1933-05-08

Informação do Encarregado dos Mercados acerca da reparação de portas e bancadas do mercado, em que o vereador Eduardo Maria Rodrigues anota: «Este mercado está há muito condenado a ser demolido, pelo estado deplorável em que se encontra, para em sua substituição se construir outro em local próprio. Sou de parecer que se deve apenas proceder a qualquer arranjo inadiável e que não cause grande despesa, pelo que se deve baixar à Secção de Engenharia para mandar proceder às reparações em conformidade com este parecer»

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1933-10-09

Na sequência da receção de abaixo-assinado dos vendedores internos do mercado reclamando contra as vendas a retalho no mercado externo, a Câmara Municipal decide transferir este último para o centro do edifício, onde os produtores podem comerciar os seus géneros. Contudo, a questão não parece ser sanada, pois ainda a 12 de dezembro de 1934 se encontram notícias de que muitos vendedores preferem deixar as bancas interiores vazias para vender no exterior

1937-04-18

O jornal O Estoril noticia que «O Mercado local está a pedir camartelo, fazendo-se a sua remoção para sítio arejado e fora das artérias de maior movimento, libertando-as da atmosfera quasi irrespirável que muitas vezes se espalha por toda a parte baixa da vila»

1937-11-05

A Câmara Municipal delibera que se «proceda com a urgência possível à construção de um novo mercado em Cascais, para que o senhor Arquiteto elaborará o respetivo projeto». O arquiteto escolhido é Jorge Segurado, que já no relatório de atividades da Câmara Municipal recebera rasgados elogios do Presidente, ao anotar que «Jorge Segurado, arquiteto, é de todos estes funcionários o mais moderno na Câmara. Isso não o impede porém de já ter no seu ativo relevantes serviços prestados. Consciente do seu valor que é grande, não transige nunca com os hábitos do passado que neste concelho eram regra em assuntos de estética. Meteu na ordem aquilo que dela andava arredado, pondo cada qual no seu lugar: os mestres de obras, os amadores de projetos e os criadores de estilos… Tem em mim um admirador»

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Nasceu em Lisboa, a 15 de outubro de 1898, vindo a afirmar-se como um dos principais autores da arquitetura modernista portuguesa, juntamente com Cristino da Silva, Pardal Monteiro, Cassiano Branco e Carlos Ramos. Começou a trabalhar no ateliê de Tertuliano de Lacerda Marques, ainda antes de concluir o curso de arquitetura, em 1924, na Escola de Belas-Artes de Lisboa, colaborando, por exemplo, no projeto da casa de Alfredo da Silva, no Monte Estoril. Marcado pelo academismo neoclássico do mestre José Luís Monteiro, a obra inicial deste discípulo confesso de Raul Lino seria marcada pela Art Déco, que tendeu, depois, a simplificar, como sucedeu no projeto «geométrico e purista» do Liceu Masculino de Coimbra, de 1929-30, de que foi coautor, com Carlos Ramos e Adelino Nunes. Participou, assim, ativamente na rutura cultural da geração que se mostrou no Salão dos Independentes, em 1930, na Sociedade de Belas-Artes, ensejo que reforçaria na sequência de uma viagem pela Europa, ao contactar diretamente com a arquitetura modernista, que tanto admirava.

Para além de vários projetos de lojas em Lisboa, a sua «década modernista» foi marcada pelos projetos da Casa da Moeda e do Liceu D. Felipa de Lencastre, em Lisboa, em colaboração com António Varela. Em 1932 era, segundo se apurou, funcionário da Câmara Municipal de Cascais, participando no projeto do novo mercado

9. Foi também encarregado de elaborar os desenhos do projeto. Cf. Ana Paula Rebelo e José Meco – A casa dos azulejos de Cascais: De palácio dos condes da Guarda a paços do concelho. Cascais: Câmara Municipal, 2009, p. 57. 10. José Manuel Fernandes – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2011, p. 55.

Jorge Seguradoda vila, desde 1937; mas também como membro de uma comissão nomeada em 1935 para a instalação dos serviços camarários nos atuais Paços do Concelho, antigo Palácio dos Condes da Guarda9; e gizando os planos não concretizados de um bairro operário e do mercado de Carcavelos, na década de 1940.

A obra de Jorge Segurado acompanhou, depois, a generalização do estilo oficial do Estado Novo, frequentemente apelidado de «Português Suave», que determinou o «regresso aos múltiplos formulários neoconservadores e tradicionalistas»10, patentes nos pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Nova Iorque e de S. Francisco, em 1939, ou no núcleo das “Aldeias Portuguesas” da Exposição do Mundo Português, no ano seguinte. Entre as centenas de projetos que desenhou urge destacar o do Colégio de Santa Doroteia, de 1935-1957, ou a sua casa, em Lisboa, que lhe valeria o Prémio Valmor, em 1947. Desde então, o seu trabalho tenderia a compatibilizar as opções claramente modernistas com as de pendor mais tradicional, evidenciadas em projetos como o da Pousada de Sagres, em 1960 ou o da Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, três anos depois. Faleceu a 9 de novembro de 1990.

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1938-07-30

Informação do Engenheiro-Chefe da Secção de Melhoramentos Urbanos da Câmara Municipal, em que anota: «a área do atual mercado anda à roda de 800 m2, existindo nestes Serviços um estudo para novo mercado com a área de 3.000 m2, incluindo lojas»

1939-07-07

Em sessão da Câmara Municipal regista-se que o novo mercado deve ser instalado junto ao Jardim Visconde da Luz, nos terrenos denominados «A Horta» ou «Fábrica Velha», de Manuel Marques Leal Pancada. Na verdade, «De há muito se reconhece a necessidade de mudar para [outro] local o mercado de produtos agrícolas desta vila e tanto assim que nenhumas obras se têm feito, dando assim ocasião a que o mesmo mercado esteja carecido de grande reparações. Agora, com a construção da Estrada Marginal, mais urgente se torna essa mudança. Em tempo foi escolhido para nova instalação do mercado um terreno

situado ao fundo do passeio Visconde da Luz, pertencente ao Senhor Manuel Marques Leal Pancada e logo que este benemérito de Cascais teve conhecimento do desejo da Câmara, apressou-se a comunicar que estava na intenção de facilitar à Câmara a aquisição da sua propriedade para o indicado fim. Que era sua intenção legar essa propriedade à Santa Casa da Misericórdia desta vila e que assim estava disposto a fazer uma transação mediante a qual receba uma pensão vitalícia equivalente ao rendimento líquido que atualmente recebe, passando essa pensão por sua morte para a referida Misericórdia»

ASPETO DAS DEMOLIÇÕES EM CASCAIS, AQUANDO DA CONSTRUÇÃO DA ESTRADA MARGINAL

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A construção da Estrada Marginal insere-se no Plano de Urbanização da Costa do Sol, celebrizado pela sigla PUCS, que remonta a 1933, quando, por decreto-lei, se encarregou o premiado arquiteto urbanista francês Donat-Alfred Agache de proceder ao estudo preliminar da urbanização da «larga zona de terrenos que vai ser aberta à urbanização e à exploração turística pela construção da estrada marginal entre Lisboa e Cascais».

Enquadrar-se-ia, assim, na perspetiva integrada de um plano urbanístico, a preservação de uma área de expansão privilegiada da capital, que a partir de 1927, com a criação da zona de jogo permanente do Estoril e a inauguração do Hotel Palácio e do Casino, em 1930 e 1931, respetivamente, se assumiu enquanto destino turístico de primeira ordem.

Em 1935, ao definirem-se as circunscrições da região que, abrangendo parte dos concelhos de Lisboa, Oeiras e Cascais, se passou a apelidar oficialmente de Costa do Sol, regulou-se, também, a sua urbanização, de acordo com um Plano aprovado pelo Governo, sob a supervisão do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol, organismo dependente do Ministério das Obras Públicas e Comunicações, com administração autónoma e de caráter temporário.

O PUCS foi coordenado por Agache até ao final do primeiro mandato de Duarte Pacheco enquanto Ministro das Obras Públicas e Comunicações, em 1936, apenas voltando a ganhar novo alento por ocasião do regresso deste estadista ao Ministério, dois anos depois, quando encarregou da sua revisão Etienne de Gröer, que já se encontrava incumbido do Plano Diretor de Urbanização de Lisboa e do Plano da Vila de Sintra. Enquanto Agache determinara a conceção de um projeto integrado à escala regional, marcado, como definido, por uma via panorâmica de fruição ao longo do litoral – a Estrada Marginal – mas também por uma autoestrada, paralela à costa, num traçado interior, de Gröer focar-se-ia, sobretudo, na malha fina dos aglomerados urbanos.

Desta forma, em 1946 o PUCS já fora concluído, vindo a ser aprovado, dois anos depois, por decreto que também determinaria a extinção do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol. Sendo considerado «o início de uma orientação que viria a abranger, a breve trecho, todo o território nacional», previa-se que fosse revisto a cada cinco anos. Todavia, tal só veio a acontecer em 1959, pelo que, com as devidas alterações, se manteve em vigor até à década de 1990, por ocasião da ratificação dos Planos Diretores Municipais de Cascais e de Oeiras. O PUCS assumiu-se, assim, como um documento determinante para a imposição do urbanismo na aceção que hoje lhe atribuímos, definindo os elementos estruturantes de uma região alargada, com vista à sua expansão de forma ordenada e concorrendo ativamente para um planeamento à escala das grandes regiões.

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Plano de Urbanização da Costa do Sol

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Planta de localização do novo mercado de Cascais, a edificar junto ao Jardim Visconde da Luz

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1939-07-24

Minuta de ofício enviado pelo Presidente da Câmara Municipal ao Governador Civil do Distrito de Lisboa, dando conhecimento do legado de Manuel Marques Leal Pancada e pedindo informação acerca da viabilidade jurídica da transação

1939-10-13

Escritura da doação de Manuel Marques Leal Pancada à Câmara Municipal de Cascais, dos terrenos denominados “A Horta” ou “Fábrica Velha”, a destinar à construção do mercado, a alargamento de ruas e a espaços públicos

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A lista dos elementos para a construção do novo mercado aponta que a área coberta para vendas no antigo mercado atinge 866 m2 e a descoberta, para vendedores eventuais, 400 m2. Já o novo projeto, para além de talhos e lugares de venda, dispõe de instalações para a administração do mercado e veterinário, uma casa para frigorífico e depósito de pão, num total de 1291 m2 cobertos, apoiados por uma área descoberta de 676 m2. Prevê, ainda, a construção de um anexo para estalagem de vendedores eventuais, parque de estacionamento para vinte camionetas, «parque para recolha de carroças e animais que as puxam» e uma casa para recolha de leites, dotada de um pequeno laboratório

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1939 | 1940

De acordo com o Relatório de Gerência de 1939 e Plano de Atividades da Câmara Municipal para 1940, «dos quatro mercados do concelho apenas dois se encontram instalados nas condições devidas – Estoril e Parede. Os restantes – Cascais e Carcavelos – estão péssimos e vergonhosamente instalados. Quanto a Carcavelos, contamos construir com brevidade um novo mercado e, quanto a Cascais, a demolição e substituição do existente tem estado dependente da determinação do local exato onde deve ser construído o novo edifício. Da elaboração de ambos os projetos foi encarregado o arquiteto Jorge Segurado, cuja competência técnica está sobejamente comprovada. Para obviar de algum modo à deficiência das instalações, tem-se procurado com êxito exercer uma fiscalização sanitária aturada, cujos resultados têm sido fecundos. […] Como é do geral conhecimento, a Câmara, inteiramente de acordo com o Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol, adquiriu no presente ano o terreno ao norte do Jardim Visconde da Luz para construção do novo mercado; contudo, essa localização não foi aprovada superiormente. […] Como é urgente a demolição do mercado atual, a Câmara construirá no próximo ano, em comparticipação com o Estado, o novo mercado»

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A Câmara Municipal recebe ofício do arquiteto Jorge Segurado solicitando o pagamento dos honorários referentes a dois anteprojetos e ao projeto definitivo do novo mercado, entregue a 24 de abril

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1940-05-10

Notícia da alteração da localização do novo mercado, para a qual se sugere primeiramente a Rua Afonso Sanches e depois o terreno da “Fábrica Velha”. Na verdade, «Pelo Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol foi escolhido para tal fim um terreno sito na Rua Afonso Sanches e pertencente ao senhor Doutor Joaquim Pedroso. Em breve se reconheceu, porém, que o mesmo terreno não servia para o fim em vista, por ser insuficiente e ainda pelo elevado custo das expropriações que era necessário fazer para o seu acesso. Nestas condições, o Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol voltou a Cascais a tratar da escolha de outro terreno para a localização do novo mercado, tendo sido escolhido o terreno da Fábrica

Velha». Ainda que a Câmara Municipal, ao encarregar Jorge Segurado da elaboração do projeto, tivesse garantido o apoio deste Gabinete, que acompanhou ativamente a produção do esboceto, anteprojeto e projeto, aprovados com as modificações que proporia, «tendo Sua Excelência o Ministro [das Obras Públicas e Comunicações] encarregado um arquiteto de elaborar o projeto de urbanização da parte baixa da vila, não foi no mesmo localizado o novo mercado e por não estar ainda aprovado por Sua Excelência o Ministro o plano de urbanização, a Câmara passou a estar numa situação embaraçosa para dar cumprimento às determinações do Gabinete»

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1940-06-12

Minuta de ofício enviado pela Câmara Municipal ao arquiteto Jorge Segurado, em que se anota que, em função da não concordância do Ministro das Obras Públicas e Comunicações relativamente ao local escolhido para o novo mercado, o projeto tem de ser adaptado ao espaço a definir. Oportunamente será, então, promovida uma visita com vista à escolha da nova localização

1941-01-03

A Câmara Municipal recebe ofício do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol comunicando que, por despacho do Ministro das Obras Públicas e Comunicações, «de forma a evitar que o Mercado fique na Estrada Marginal ou muito junto dela», se propõe uma localização «ainda mais para Norte e possivelmente junto à atual ribeira local»

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A Câmara Municipal decide comunicar ao Gabinete de Urbanização da Costa do Sol que o terreno mais conveniente para a construção do novo mercado está situado junto à Rua D. Francisco Avillez, de acesso ao novo Hospital, que veio a ser batizado como Hospital Condes de Castro Guimarães e cuja festa de inauguração decorreria a 21 de dezembro do ano seguinte

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Informação do Encarregado dos Mercados dirigida ao Presidente da Câmara Municipal na sequência do «temporal de 15 do corrente, [que] fez ir pelos ares diversas chapas de zinco do mercado desta vila de Cascais e parte das outras se mostram descravadas ou soltas, dando lugar a chover dentro do escritório e não se poder trabalhar, inutilizando também a instalação elétrica, lâmpadas da lota e da praça do peixe, atirando também abaixo o gradeamento do lado sul, o qual partiu várias pedras e cantoneiras das mesas e diversos estragos mais». A degradação do antigo mercado agudizava-se, de forma irremediável

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1941-09-08

A Câmara Municipal recebe ofício da Secção de Melhoramentos Urbanos da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Ministério das Obras Públicas e Comunicações informando que a obra do novo mercado de Cascais será incluída no Plano de Melhoramentos Urbanos para 1942

1942-01-07

Abaixo-assinado enviado à Câmara Municipal por vendedores de fruta, hortaliça, ovos e criação do mercado, a propósito do horário de funcionamento, em que se anota: «Não é a vila de Cascais uma aldeia sertaneja: pelo contrário, a sua importância como centro turístico e piscatório acentua-se progressivamente, colocando-a entre as primeiras do país e, por tal motivo, deve oferecer as necessárias facilidades de compra àqueles que lhes foi impossível abastecerem-se durante a primeira parte do dia». A 9 de janeiro, o horário é, então, alterado em função

das necessidades apontadas. Desta forma, de 16 de maio a 15 de outubro, o mercado passa a funcionar das 5h30 às 17h00 e de 16 de outubro a 15 de maio, das 7h00 às 16h00

1943-03-16

Minuta de ofício dirigido pela Câmara Municipal de Cascais ao Ministério das Obras Públicas, em que se regista: «Por despacho de 11 de dezembro de 1940, transmitido por ofício nº 661/40, do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol, definiu Vossa Excelência o local onde deverá ser construído o mercado desta vila e depois disso a Casa Palmela, proprietária do terreno escolhido, estabeleceu para ele condições de venda que foram consideradas vantajosas para o Município. Não se tendo aproveitado essa oportunidade, declarou posteriormente a proprietária que terá de ligar a transação do precioso terreno para o mercado (Quinta de Santa Clara) com a projetada urbanização do chamado Parque Palmela e para tal chegou a oferecer a citada Quinta de Santa Clara como uma das compensações dos encargos

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que à Câmara poderiam competir na urbanização do referido Parque». Face à necessidade de assegurar a resolução desta questão, coloca-se a possibilidade de expropriação, decidindo-se, ainda, solicitar ao Ministério que «se digne determinar as indispensáveis diretivas para a urbanização do Parque Palmela e também no sentido de ser definido todo o arranjo da zona compreendida entre o Jardim Visconde da Luz e o futuro mercado, pois sendo reconhecidamente necessário dotar esta vila com um cinema, o terreno aterrado a norte do Jardim Visconde da Luz poderia ser aproveitado para tal fim». Refira-se, neste sentido, que «esta Vila não tem uma casa de espetáculos digna desse nome e que o cinema existente, além de não possuir condições para o indicado fim, está condenado a desaparecer, por funcionar no prédio denominado “Casino da Praia”, cuja demolição se prevê para quando do arranjo da parte baixa de Cascais»

1943-06-22

Minuta de informação dirigida pelo Presidente da Câmara Municipal ao Engenheiro-Chefe da Secção de Melhoramentos Urbanos confirmando a suspensão do processo da obra para a construção do novo mercado, por ordem do Ministro das Obras Públicas e Comunicações

1944-04-12

A Câmara Municipal recebe ofício da Junta Autónoma das Estradas pedindo que «se digne promover que seja desmontado o atual Mercado Municipal, pois a sua demolição é necessária para a construção do referido troço de Estrada»

1944-04-21

Condições de arrematação da estrutura de ferro do mercado. O arrematante obriga-se «a demolir por sua conta e a retirar, no prazo improrrogável de vinte dias, a contar da notificação para tal efeito, toda a estrutura de ferro, com exclusão dos materiais de instalação elétrica e trinta chapas de ferro zincado da cobertura, a escolher, materiais estes que serão retirados pela Câmara no início da demolição»

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Aviso de encerramento do mercado de Cascais, para demolição, devido às obras de construção da Estrada Marginal. A atividade seria transferida para a Parada, para

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o local onde haviam funcionado os lavadouros e antigas oficinas municipais. A ocupação oficial das dez barracas que inicialmente detinha decorreu apenas a 1 de agosto

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Aviso da Câmara Municipal, em que se regista que as obras de demolição do antigo mercado se iniciam a 17 de julho

1945-06-11

Programa do novo mercado, que deve desempenhar funções de mercado abastecedor e de mercado retalhista. A relevância dos vendedores externos é atestada pela seguinte anotação: «a prática demonstra que os habituais vendedores são os pequenos fazendeiros dos arredores e do concelho de Sintra que trazem os seus produtos em carroças e em burros. Também nos dias de mais movimento, quintas e domingos, é o mercado frequentado por produtores vindos em camionetes, dos concelhos de Sintra (locais mais afastados), de Mafra e de Torres Vedras». O documento regista também a necessidade de se providenciarem «locais apropriados para […] se poderem vender melões e melancias que aqui desembarcam em grande quantidade». Anota igualmente que «Como o público está acostumado a comprar “aos saloios” por julgar que compram mais barato, mas por vezes é ludibriado, pois compra a “saloios” que o não são, parece que convinha destacar do retalhista para sua defesa e ainda para proteção dos vendedores habituais do mercado que pagam as suas contribuições»

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Arrematação da estrutura de ferro do antigo mercado de Cascais a António Jorge Júnior, pela quantia de 121.500$00

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Minuta de ofício dirigido pela Câmara Municipal de Cascais ao Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol, solicitando a planta de localização do novo mercado e os perfis das ruas projetadas, «a fim de o arquiteto Jorge Segurado poder começar a efetuar os estudos para a elaboração do projeto»

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A Câmara Municipal recebe ofício de Jorge Segurado com vista à definição dos honorários para elaboração do projeto do novo mercado

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Memória descritiva e justificativa do anteprojeto do novo mercado, da autoria de Jorge Segurado, para a construção de «um mercado o mais higiénico possível, deixando não só que o Sol o desinfete eficaz e naturalmente, mas também que o ar possa nele circular à vontade, evitando-se com segurança e todas as probabilidades de êxito o ar viciado e o desagradabilíssimo cheiro tão peculiar aos mercados fechados»

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A Câmara Municipal delibera que o novo estudo para a construção do mercado, tendo por base a nova localização escolhida, seja entregue a Jorge Segurado, de acordo com o anteprojeto superiormente aprovado

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A Câmara Municipal encarrega a Sociedade Construtora Portuguesa Ldª dos trabalhos de sondagem para o reconhecimento geológico dos terrenos de fundação do mercado. O documento refere, ainda, que «o aspeto do edifício será pois de grande simplicidade, de grande calma e unidade e terá aquele ar meio rústico de justa medida necessária ao seu caráter, fugindo por isso mesmo à banalidade dos mercados fechados e anti-higiénicos, casando-se discreta e harmoniosamente com o ambiente local»

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Ofício do arquiteto Jorge Segurado, dando conhecimento à Câmara Municipal da indisponibilidade para a execução de novo projeto do mercado. Na verdade, «Ponderado o caso da construção do mercado de Cascais conforme a nossa conversa cheguei à conclusão firme de que não farei outro projeto […] Quanto ao novo projeto, o nosso amigo Filipe [de Figueiredo?] dará com certeza e digo-o com a máxima sinceridade, bem conta do recado»

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Findas as sondagens geológicas ao local onde se projetava construir o mercado, conclui-se que o terreno não apresenta características favoráveis, pelo que se propõe o deslocamento do projeto umas dezenas de metros, para local que assegura as condições necessárias. De acordo com o relatório, de 10 de dezembro, «Este deslocamento implica a elaboração de outro projeto, visto que o primeiro foi estudado para um terreno de nível, condições que se não verificam se nos afastarmos, por pouco que seja, do local previsto. [...] E entrando-se no caminho de abandonar o projeto atualmente aprovado, julgam estes Serviços que deveriam reflectir-se sobre se conviria manter a sua conceção fundamental de Mercado aberto, simples telheiro, ou se, pelo contrário, dadas as condições do clima local, não conviria mais adotar-se o mercado fechado, tipo edifício, onde as pessoas e os géneros ficariam abrigados dos efeitos desse clima»

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A Câmara Municipal decide nomear o arquiteto Alberto Pereira da Cruz para a elaboração do novo projeto de arquitetura do mercado, por 30.000$00

Nasceu a 12 de novembro de 1920, no Porto, onde concluiu o curso superior de Arquitetura da Escola de Belas-Artes, em 1943. Obteria o diploma de arquiteto dois anos depois, quando já colaborava no ateliê de Adelino Nunes. Fixando-se em Lisboa, veio, depois, a residir em Cascais. Em 1944 ingressou na Direção-Geral de Monumentos e Edifícios Nacionais, sendo nomeado arquiteto de 3.ª classe do quadro permanente em 1947, sem abdicar de atividade privada, em que pôde exprimir mais intensamente «uma linguagem arquitetural própria, de algum modo reconhecível em inúmeras obras, que poderíamos designar de “moderna com elementos tradicionais”»11.

Para além de mais de duzentas moradias, trabalhou intensamente para a indústria hoteleira, gizando, entre outros projetos, a Pousada da Ria, em Aveiro (1960); a Pousada de S. Jerónimo, no Caramulo (1962); o Hotel Grão-Vasco, em Viseu (1964); o Hotel Alvor (1967); a Pousada de Santa Cruz, na Horta (1969); e os hotéis Eva, Boavista e Delfim, no Algarve.

No concelho de Cascais foi responsável pela ampliação das Arcadas do Estoril e do Hotel Palácio, com um longo piso superior e pela instalação do Hotel Albatroz na antiga Casa dos Duques de Loulé, em Cascais (1978), assim como pela construção do Hotel Baía, em colaboração com Elísio Summavielle (1962), do Hotel Cidadela, da Farmácia Cordeiro e dos mercados de Cascais e Carcavelos, com coberturas telhadas e panos de pedra rústica.

Foi, ainda, em coautoria com o filho, Manuel Cruz, responsável pelo conjunto da Igreja e do Centro Paroquial de S. Pedro e S. João do Estoril (1984-87), trabalhando intensamente na construção da área da Gandarinha. Para além dos mercados de Lamego, Braga, Vila Real e Beja, gizou várias agências para o Banco de Fomento Nacional, o Banco da Agricultura e o Banco Pinto e Sotto Mayor, assim como o Museu do Caramulo, a Fábrica de Papel da INAPA e a nova Embaixada de Portugal em Londres. Faleceu em 1990.

11. José Manuel Fernandes – “Alberto Cruz: Arquiteto”. Monumentos: Dossiê: Conjunto monumental da Mata do Buçaco. Lisboa: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, março de 2004, n.º 20, p. 162.

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1948-06-29

Ofício do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol dirigido à Câmara Municipal acerca do «deslocamento do mercado para Norte sobre uma encosta muito inclinada», em que o urbanista E. de Gröer anota: «É meu parecer que esta proposta acarreta os dois inconvenientes seguintes: 1º – o mercado ficaria muito longe do centro comercial e não se conjugaria com este. 2º – ficaria localizado em plena zona de habitação que prejudicaria com a sua presença, intercetando ao mesmo tempo as encostas da colina no cimo da qual está projetada uma Igreja. Ora essas encostas devem constituir, por assim dizer, o pedestal desta Igreja». A opção proposta é, assim, a sua localização um pouco mais abaixo do espaço proposto

1948-05-14

Aprovação do anteprojeto do mercado de Cascais

1948 | 1949

De acordo com o Plano de Atividades da Câmara Municipal para 1949, «embora as diligências efetuadas tenham sido grandes, para que a construção do novo mercado de Cascais fosse uma realidade, obra que se considera o melhoramento de maior urgência em todo o concelho, não foi possível até ao presente obter a aprovação do projeto definitivo. No momento, na parte respeitante à elaboração do projeto, caminha-se finalmente para a solução, estando ainda pendente de resolução superior o acordo a estabelecer com os proprietários do terreno, para que este entre na posse do Município. A título de informação, relato que no ano em curso se fizeram sondagens no local previamente indicado pelo Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol, cujos resultados levaram à transferência desse local, mais para poente, obrigando assim a elaborar-se novo projeto, após reuniões efetuadas com os técnicos do citado Gabinete. Presentemente, um novo anteprojeto está correndo as diversas repartições, para se obterem as informações necessárias para a elaboração do projeto definitivo»

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TERRENO ONDE SE CONSTRUIU O NOVO MERCADO

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12. Martinho de França Pereira Coutinho – A cultura no concelho de Cascais. Dissertação inaugural apresentada ao Conselho Escolar do Instituto de Agronomia e Veterinária. Lisboa: Tipografia e Litografia de A. E. Barata, 1900, p. 11.

O novo mercado viria, assim, a ser edificado em terras de cultivo da Quinta de Santa Clara, num período em que agricultura, que até meados do século XX marcara a vivência do concelho, entrava em franca decadência, em função do surto de urbanização que se apossou do território. A realidade agrícola descrita em 1900 por Martinho de França Pereira Coutinho não deveria ser muito diferente cinquenta anos depois, mercê do recorrente atraso técnico e excessivo emparcelamento dos terrenos. O território caraterizava-se sobretudo pela secura, abundando tojos, carrascos, estevas e urzes, alternados por talhões irregulares com muros de pedra solta. Consequentemente, «apenas nalguns vales mais frescos e anateirados, o arvoredo viçoso dos pomares espreita[va] os seus irreconciliáveis adversários por sobre os muros das quintas, verdadeiros oásis na aridez do restante solo».12

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Ainda que de natureza geológica diversa, os terrenos agrícolas geravam searas consideráveis quando cultivados, «como prova o facto deles produzirem razoavelmente, mal trabalhados, com um arado rudimentar e sem estrumes ou quasi [sic], logo que o ano corra favorável, isto é, logo que não escasseie muito a humidade».13 O maior defeito era, desta forma, a secura de que se ressentiam durante o estio, agravada pelo deficiente abastecimento de água, visto que a maioria dos cursos de água quase secava, como sucedia, por exemplo, à Ribeira das Vinhas. Desta forma, apesar de algumas nascentes permitirem o funcionamento de azenhas no Inverno, muitas propriedades tinham de recorrer a engenhos como as noras, os estanca-rios, as cegonhas ou picotas e ainda os moinhos de vento, como era o caso da Quinta de Santa Clara.

13. Idem, Ibidem, p. 22.

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Como já anotámos, a agricultura revelava-se de baixo rendimento e técnica e tecnologicamente deficitária, pelo que a produção não supria sequer as necessidades de consumo internas. Na realidade, nem mesmo a lavra do trigo, a mais relevante do concelho, satisfazia a procura, o mesmo sucedendo com a da cevada, de produção menos significativa, porque cultivada em terrenos de qualidade inferior, para ração. Também o milho era considerado secundário, à semelhança de outras culturas tradicionais, casos da aveia, do centeio e da fava. Escasseavam igualmente as hortas, por necessitarem de muita água, sendo sobretudo instaladas nas quintas, perto dos vales mais frescos e junto a terras abastecidas por ribeiros ou servidas por poços, tal como os pomares, em que se encontravam oliveiras, figueiras, pessegueiros, pereiras, amendoeiras, nogueiras, alperceiros, romãzeiras, abrunheiros, macieiras, laranjeiras, tangerineiras, limoeiros e nespereiras.14

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Num concelho em que «a grande propriedade não existe [...] e a mediana é, pode-se dizer, rara; a divisão do terreno em algumas partes vai tão longe que melhor diríamos a propriedade estar aí pulverizada do que dividida».15 A explicação encontra-se no elevado custo dos terrenos, propiciado pelo crescimento populacional e por um surto de construção civil que se acentuou no período em análise. Para lá dos muros de pedra que delimitavam as frações agrícolas nas imediações da Casa da Horta da Quinta de Santa Clara, onde hoje funciona a Biblioteca Municipal de Cascais, localizava-se um outro marco histórico da vila: as ruínas da Real Fábrica de Lanifícios de Cascais, que Francisco Mailhol fundara em 1774. Em 1809, o edifício seria adquirido em hasta pública, por investidores que se revelaram incapazes de contrariar a decadência de um projeto que em 1816 encerraria definitivamente atividade.

14. Cf. Idem, Ibidem, p. 84-95. 15. Idem, Ibidem, p. 27.

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TERRENO VENDIDO PARA CONSTRUÇÃO DO MERCADO, 1949

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frigoríficas do mercado, por Fernando Rosado de Sousa

1949-12-27

Escritura de venda de propriedade de José Felício Justino Canas de Aguiar à Câmara Municipal, para ampliação do terreno destinado ao mercado e seus logradouros

1950-03-08

Anúncio publicado nos jornais O Século e Diário de Notícias da 1ª fase da empreitada de construção do mercado, que não inclui o pavilhão do lado nascente, tendo por base de licitação o valor de 1.500.000$00

1950-04-03

Minuta de ofício dirigido pela Câmara Municipal ao Diretor de Serviços de Urbanização do Distrito de Lisboa, comunicando que findas as averiguações «sobre a moralidade e capacidade financeira do concorrente» a obra será adjudicada a Silvério Lourenço por 1.128.000$00. Ao custo dos trabalhos associar-se-ão os gastos com as sondagens, no valor de 35.000$00 e o valor do terreno, «que na parte que diz respeito à Quinta de Santa Clara se estima em 143.430$00 (6.830 m2 a 21$00). A parte respeitante à propriedade de José Justino Canas d’Aguiar, sua mulher, Maria Antónia Gonçalves d’Aguiar e sua Mãe, importou em 120.460$00». O prazo fixado para a execução da obra é de dezoito meses, prevendo-se que esteja concluída em outubro de 1951, ainda que se registe que «apenas com a construção do que ficou constituindo a 1.ª fase, o Mercado não poderá ser aberto ao público, porquanto no Pavilhão Principal ficam instalados os talhos, lugares de venda de aves e ainda os lugares de fruta». Desta forma, «Sendo de prever que para a construção do Pavilhão Principal – orçado em 1.689.000$00 – se consiga redação semelhante à que se obteve para a 1.ª fase, tem esta Câmara a honra de propor a Sua Excelência o Ministro que seja aberto concurso para a 2ª fase, no mês de julho […] Desta forma seria possível inaugurar o Mercado em fins de outubro de 1951. Caso contrário só será possível em fins de 1952»

1950-05-01

Contrato para adjudicação da empreitada da obra de construção da 1ª fase do mercado

1949-02-02

A Câmara Municipal recebe ofício do arquiteto Alberto Cruz acerca dos honorários para a elaboração do novo anteprojecto do mercado, em virtude de o perfil e caraterísticas do terreno serem totalmente diferentes. Na verdade, «após a completa elaboração do primeiro anteprojecto para o local que foi escolhido, os Exmos. Srs. Eng.º Nazareth de Oliveira e Arq. Etienne de Gröer resolveram transferir a implantação para ponto que exigiu a elaboração de um anteprojeto inteiramente novo, em virtude de o perfil e características do terreno serem totalmente diferentes. Posteriormente e depois de elaborado o projeto, o programa sofreu também alterações, que exigiram correspondentes modificações»

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Fatura da execução do projeto, memória descritiva, cálculo da base de licitação e caderno de encargos da instalação elétrica de iluminação, força motriz e câmaras

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1950-05-26

A Câmara Municipal recebe ofício da Repartição de Melhoramentos Urbanos da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, comunicando estar autorizada a elaboração de estudo para os arruamentos que servem o novo mercado

1950-05-30

Minuta de ofício enviado pela Câmara Municipal ao Diretor de Urbanização do Distrito de Lisboa, pedindo a revisão da comparticipação concedida à obra pelo Ministério das Obras Públicas, em que se regista a evolução do projeto, que «Começou por ser localizado junto à Estrada Marginal, [...] tendo Sua Excelência o então Ministro das Obras Públicas rejeitado a localização junto àquela Estrada. Localizou-se seguidamente já na Quinta de Santa Clara e foi elaborado um anteprojeto que também foi abandonado, não tendo sido julgado

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conveniente por motivo dos acessos. Mais tarde, localizado na mesma Quinta, mas mais para poente, com a aprovação do Gabinete de Sua Excelência o Ministro, foi elaborado um projeto completo, o qual houve que abandonar por virtude do estudo das fundações e sondagens que foram efetuadas se concluir que custariam preços muito elevados. Nova orientação foi estudada – a atual – e novo projeto foi elaborado, que foi ora comparticipado, o qual é um projeto cuidadoso e pormenorizado, sendo um projeto caro, mas que só assim poderia merecer a consideração das entidades superiores. Nestes estudos e nesses projetos se gastaram oito longos anos, muitas energias e quantia muito superior a 100 contos. Por outro lado, os terrenos em que foi localizado o Mercado não eram deste Município e houve que os adquirir, nas condições que Vossa Excelência também conhece: imposição da aquisição total da Quinta de Santa Clara e do Parque Palmela, que custou a esta Câmara Municipal 4.000 contos, além da aquisição de parte da Quinta da Raposa»

SALOIAS REGRESSANDO DE CASCAIS, DEPOIS DO MERCADO

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1950-09-29

Minuta de ofício enviado pela Câmara Municipal ao Ministério das Obras Públicas, solicitando a cedência de material em utilização nos aterros da Estrada Circular de Cascais para levar a efeito o aterro necessário ao novo mercado

1951-02-10

A Câmara Municipal decide que o produto da alienação de terrenos municipais reverta a favor de obras municipais que constituam bens patrimoniais, designadamente na construção do mercado

1951-03-10

Escritura entre a Câmara Municipal e a Santa Casa da Misericórdia de Cascais, através da qual passaram a recair sobre o terreno municipal situado na Ribeira das Vinhas, na parte norte do novo mercado, os encargos que oneravam o prédio rústico denominado «Horta» ou «Fábrica Velha»

1951-03-10

Em entrevista ao jornal A Nossa Terra, que reproduz a maqueta do novo mercado, o Presidente da Câmara Municipal explana a conceção que esteve na base do projeto, dotado de «diversos pavilhões, grandes, separados uns dos outros e cada um com a sua finalidade própria: para venda de peixe, para venda de hortaliças e para talhos, frutarias, floristas e criação». Destacando a sua localização junto à nova zona comercial de Cascais, em edifício onde existirão áreas destinadas aos saloios

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8que sobretudo às 5ªs feiras e domingos se deslocam à vila para vender as suas produções, revela, também, muitos factos que os documentos oficiais não registaram. Desta forma, em 1940, quando se tencionava construir o novo edifício a norte do Jardim Visconde da Luz, onde veio depois a edificar-se o Cine-Teatro S. José, «Presente o projeto ao então ministro Duarte Pacheco, recebo um telefonema urgente para comparecer no seu gabinete. Ouço então do grande ministro [...] o seguinte: “Colocar um mercado junto à estrada marginal, com camionetas e carroças paradas, nem pensar nisso”. Argumentei ainda: “O projeto tem o parecer favorável dos técnicos do seu Ministério”. “Não quero saber, escolham novo local”. Custou essa determinação alguns milhares de escudos ao Município, sem que ele diretamente fosse culpado, mas devemos reconhecer que foi medida bem acertada». Seguiram-se várias propostas de localização: a encosta do Alto do Moinho Velho, que exigiria a criação de um mercado com dois pavimentos e de difícil acesso; os terrenos do Dr. Joaquim Pedroso, entre a Rua Afonso Sanches e a Rua Visconde da Luz, que requereria avultadas expropriações; a propriedade do Dr. Avelar Lopes na Rua D. Francisco de Avilez, que a proximidade do hospital desaconselhou; o terreno do Dr. Costa Pinto, entre a Avenida Vasco da Gama e a Rua Dr. Fernando Pombeiro e até «o terreno onde hoje está construído o novo grupo escolar», sempre sem sucesso. Desta forma, «Apesar da promessa do Ministro e das muitas insistências desta Câmara, só em julho de 1945 é que é indicado o local da Horta de Santa Clara. Se o problema da urbanização do Parque Palmela não tivesse demorado os anos que demorou, poder-se-ia, em determinado momento, ter obtido a Quinta de Santa Clara sem qualquer dispêndio de dinheiro, [...] mas quis o destino que assim não fosse»

1951-08-18

A Câmara Municipal decide adjudicar a Francisco Schiappa M. de Carvalho e Glenville Américo Marques a empreitada da construção da 2.ª fase do mercado

1952-04-18

A Câmara Municipal delibera adjudicar o calcetamento do mercado a José Silva

1952-04-30

Planta da construção dos acessos ao novo mercado

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1952-05-03 A Câmara Municipal encarrega o escultor Joaquim

Correia da execução da figura decorativa destinada ao espelho de água previsto para o mercado, pela quantia de 27.500$00. A 26 de junho a escultura em gesso já estava concluída, processando-se, a 8 de agosto, o pagamento, na sequência da entrega da obra

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1952-06-26

A Câmara Municipal recebe ofício das Companhias Reunidas Gás e Eletricidade comunicando ter examinado o anteprojeto do edifício previsto para a instalação de um posto de transformação destinado à alimentação do mercado e concordar com a sua disposição

1952-07-05

A Câmara Municipal delibera que a inauguração do novo mercado se realize a 9 de agosto

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A Câmara Municipal defere o requerimento de Silvério Lourenço para prorrogação da conclusão da obra do mercado até 30 de junho

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Auto de receção provisória do novo mercado

1952-06-14

Adjudicação do trabalho de pintura do mercado a Francisco Andrade

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1952-07-26

A Câmara Municipal adjudica o fornecimento dos portões do mercado a Alfredo de Aguiar

1952-08-01

A Câmara Municipal convida os funcionários a comparecerem na cerimónia de abertura do novo mercado

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A 13 de setembro, o jornal A Nossa Terra descreve a inauguração do mercado, a 9 de agosto, anotando que «O Sr. Ministro do Interior, que era aguardado pelos Srs. Presidente e vereadores do Município, autoridades civis e militares, vários elementos em destaque na vila e numeroso público, procedeu ao ato inaugural, fazendo içar, no mastro principal do edifício, a bandeira municipal, ato que foi muito aplaudido. O Sr. Dr. Trigo de Negreiros percorreu, em seguida, demorada e interessadamente, as várias dependências do edifício que, apesar de não estar totalmente concluído, mereceu elogiosas referências àquele membro do Governo. [...] Durante toda a cerimónia – mesmo antecedendo-a e seguindo-a – subiram ao ar numerosíssimos foguetes e morteiros»

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Inauguraçãodo Mercado deCascais

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1952-08-13

Ofício da Regedoria da Freguesia de Cascais congratulando-se pela construção de um mercado, que considera modelar e um dos melhores do país

1952-12-23

A Câmara Municipal decide adjudicar os trabalhos de construção dos arruamentos de acesso ao mercado a Costa Lima, Ldª, por 189.220$00

1952

Em Relatório de Atividades, a Câmara Municipal anota que o novo mercado constitui «obra em que se gastaram 1.820.555$40, mas na qual se verifica que satisfaz inteiramente as pessoas mais exigentes e que se apresenta como um modelo de conceção. A Câmara Municipal tem o justo direito de sentir-se orgulhosa pela total realização deste importante melhoramento para a Vila»

1953-04-25

Auto de receção provisória da obra da 1.ª fase do mercado, adjudicada a Silvério Lourenço

1953-07-07

Pagamento do projeto de instalação elétrica de iluminação pública nas ruas circundantes do mercado, executado pela Sociedade Reparações Elétricas e Máquinas Industriais, Ldª, no valor de 2.381$30

1953-08-07

A Câmara Municipal aprova, a pedido da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Leite do Concelho de Cascais, a instalação de um posto de receção e distribuição de leite no edifício do Mercado, mediante o pagamento de 150$00 mensais

1953-09-19

Informação enviada à Câmara Municipal pela Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, em que se regista que «Esta obra foi executada em duas fases, correspondendo a primeira à execução dos Pavilhões de peixe e legumes, o recinto dos vendedores eventuais, a Torre e o recinto central; à segunda fase o Pavilhão Principal. Os empreiteiros respetivos foram Silvério Lourenço e Francisco Schiappa de Carvalho. Quando dos inícios dos trabalhos da 1.ª Fase, reclamou o empreiteiro do facto de se ter estabelecido, na implantação do Mercado, o ponto de cota 00 do projeto a um nível que obrigava à execução de volumes de aterro e de alvenaria em fundações que não tinham sido contados no projeto posto a concurso. Verificadas as alegações do empreiteiro, no local, por técnicos desta Direção e da Câmara, reconheceu-se serem de atender aquelas reclamações pelo que se estabeleceu: a) A Câmara procedia à construção dos aterros bem como da sua compactação; b) Pagar-se as alvenarias correspondentes àquela elevação de cota, e ainda; c) as alvenarias da sapata provenientes de peso da construção». O valor das obras da 1ª fase alcançou 1.680.698$11 e o da 2ª 1.594.864$17. Desta forma, o custo global da edificação, excluindo a construção da cave sob o pavilhão dos vendedores eventuais, já com expropriações e sondagens, computou 3.564.452$28

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1953-12-04

A Câmara Municipal recebe ofício do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo comunicando a devolução da maquete do mercado, cedida para figurar na exposição “25 anos no Governo da Nação”

1954-02-05

Auto de receção definitiva da obra da 1.ª fase do mercado

1954-04-07

A Câmara Municipal recebe ofício do Ministério das Obras Públicas comunicando que a obra será vistoriada por técnico da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização

1954-05-07

A Câmara Municipal recebe da Direção de Urbanização de Lisboa seis exemplares do auto de receção definitiva da obra da 2ª fase do Mercado

1954-07-24

Tabela de taxas cobradas pela utilização dos mercados municipais

1958-06-03

A Câmara Municipal recebe ofício do arquiteto Alberto Cruz com estudo programa de ampliação do mercado, relativo à peixaria, ao «mercado de saloios», às câmaras frigoríficas e ao armazém para arrecadação de legumes

1958-07-19

Informação do Engenheiro-Chefe dos Serviços de Obras ao Presidente da Câmara Municipal sobre obras no mercado, nomeadamente de aberturas nas bancas; alargamento do «mercado saloio», com cobertura em terraço; arrecadação para utensílios e balanças do pavilhão de peixe; pequeno matadouro de criação; abrigo para solípedes e modificação de portões

1958 | 1959

De acordo com o Plano de Atividades da Câmara Municipal, «o crescente desenvolvimento dos agregados populacionais do concelho exige de parte da Câmara uma atenção cuidada no tocante ao problema do abastecimento público. Os mercados que abastecem as povoações principais não oferecem condições que satisfaçam cabalmente as necessidades locais, por isso a Câmara vem promovendo a remodelação de alguns dos edifícios afetos a esse fim e construindo novos edifícios quando assim parece aconselhável. Beneficiações dessa natureza impõem-se especialmente em Cascais e em Carcavelos. O projeto de ampliação do mercado de Cascais já está a ser elaborado e quanto ao novo mercado de Carcavelos está o projeto a ser apreciado pela Direção-Geral dos Produtos Pecuários. A um e a outro se pensa dar execução durante a próxima gerência. Em Parede também a necessidade de construção de um novo mercado se faz sentir, a qual chegou mesmo a ser focada em planos anteriores, mas por dificuldades em conseguir-se terreno para a sua implantação, tem-se o assunto arrastado, esperando-se, no entanto, poder encomendar-se o projeto no próximo ano»

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1959-02-05

A Câmara Municipal decide firmar contrato para a execução de projeto de ampliação do mercado de Cascais com o arquiteto Alberto Cruz, que será assinado a 19 de março

1959-02-28

A Câmara Municipal recebe ofício de Alberto Cruz com aditamento a carta sobre as condições do contrato para projeto de ampliação do mercado, que seria apreciado em sessão de 5 de fevereiro de 1960

1959 | 1960

De acordo com o Plano de Atividades da Câmara Municipal, «em Cascais, centro turístico de densa população, o mercado abastecedor mal comporta já o público que a ele acorre para satisfação das exigências de abastecimento, e, mormente, nos meses de verão, é assaz insuficiente para comportar compradores e vendedores. Impõe-se, portanto, encarar urgentemente a ampliação

do Mercado Municipal de Cascais, alargando-se não só os pavilhões de venda de peixe e de fruta, como o mercado saloio. As obras de ampliação do mercado de Cascais estão calculadas em cerca de 500 contos»

1960-02-05

A Câmara Municipal decide firmar contrato com o arquiteto Alberto Cruz para elaboração do projeto e assistência técnica das obras de ampliação do mercado

1960-03-19

Minuta de informação do Chefe da Secretaria ao Engenheiro-Chefe dos Serviços de Obras da Câmara Municipal, registando que foi assinado contrato com Alberto Cruz

1960

De acordo com o Relatório de Gerência da Câmara Municipal de Cascais, «também no mercado de Cascais, insuficiente para o volume de transações que ali se efetuam, se procederá à ampliação das respetivas instalações, tendo

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sido encomendado ao arquiteto Alberto Cruz a elaboração do competente projeto. O anteprojeto, que já se encontra elaborado, vem sendo objeto de apreciação por parte das entidades que sobre ele se têm que pronunciar»

1962-02-23

A Câmara Municipal delibera mandar reparar a instalação frigorífica do mercado à Empresa Frigoríficos Imperial, Ldª, por 17.800$00

1963 | 1964

De acordo com o Plano de Atividades da Câmara Municipal para 1964, «no que respeita ao mercado de Cascais, já hoje considerado acanhado para as necessidades da vila, a Câmara tem hesitado em realizar obras de ampliação, uma vez que, com as alterações introduzidas na organização dos serviços e no aproveitamento dos espaços livres, se têm atingido alguns objetivos. O projeto da ampliação está elaborado, mas talvez não seja ainda oportuno realizar no próximo ano obras de grande ampliação»

1964 | 1965

De acordo com o Plano de Atividades da Câmara Municipal para 1965, «concluído o mercado de Carcavelos, cuja inauguração terá lugar dentro de breves dias, terá a Câmara forçosamente de encarar o problema do estabelecimento de um outro mercado em Parede [...] Isto sem descurar o problema da ampliação do mercado de Cascais, cada vez mais acanhado para as necessidades da vila. No que respeita à ampliação do mercado de Cascais, que se vem arrastando há alguns anos, não obstante o projeto se encontrar elaborado, a concretização das obras tem vindo a ser adiada, por manifesta falta de espaço para a transferência do pavilhão da recolha de carroças e do gado muar, pavilhão este que é de aproveitar para a ampliação do pavilhão da venda do peixe. Dificuldades sérias tem a Câmara encontrado para adquirir o terreno necessário para a instalação do primeiro dos pavilhões, mas o problema talvez tenha em breve solução, em virtude da possível cedência à Câmara de uma parcela de terreno que o Plano de Urbanização da Costa do Sol marca como zona verde»

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1964-03-27

O jornal A Nossa Terra publica um artigo intitulado “O nosso mercado e a sua atração turística”, descrevendo-o como «a praça mais bem servida em toda a linha e uma das melhores do país», apesar dos preços elevados

1964-10-27

Auto de receção definitiva da obra de substituição dos lancis e calcetamento dos parques de estacionamento em volta do mercado, a cargo de Henrique da Conceição Rocha

1964-11-20

Notícia do Jornal da Costa do Sol em que se anota: «Em cada quinta-feira, Cascais é “invadida” e toma um aspeto festivo que lhe fornece toda uma “massa anónima” que para ela converge e que há muito incluiu nos seus hábitos dedicar-lhe este dia. A afluência começa ainda mal desponta a manhã. De toda a parte do concelho, das regiões vizinhas e de localidades afastadas, utilizando os mais diversos transportes: vendedores, compradores, curiosos e oportunistas dirigem-se ao Mercado Municipal, onde têm encontro marcado. Tendas que se armam, camionetas e carroças que transportam os mais variados objetos e utilidades que cuidadosamente serão expostos à curiosidade e tentação, pregões que soam, barulho, movimento, cor – tudo isto é Feira»

1965 | 1966

No seu Plano de Atividades para 1966, a Câmara Municipal anuncia que «procurará [...] proceder à ampliação do pavilhão do peixe do Mercado de Cascais, que se torna verdadeiramente inadiável, dada a extraordinária afluência de pessoas que aqui ocorrem para se abastecerem, especialmente nos meses do verão»

1966-08-07

O Jornal da Costa do Sol denuncia a falta de limpeza nas imediações do mercado de Cascais

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1967-03-25

Notícia do Jornal da Costa do Sol acerca da mudança do dia de realização do mercado exterior: «O mercado de levante em Cascais passou para as quartas-feiras e sábados. A Câmara Municipal de Cascais, acedendo ao que lhe solicitaram numerosos vendedores do Mercado Municipal da sede do concelho, em petição a que aqui nos referimos, deliberou que o mercado de levante passasse a realizar-se às quartas-feiras e aos sábados, deixando de ser às quintas-feiras e aos domingos, como era anteriormente. A resolução camarária entrou em vigor no dia 15 deste mês. Para possibilitar aos seus operários irem ou mandarem fazer as suas compras no mercado dos sábados, alguns mestres-de-obras passaram a pagar as férias às sextas-feiras, o que poderia ser seguido, e, certamente o vai ser, por todos os que têm assalariados ao seu serviço»

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O Jornal da Costa do Sol regista que «O mercado destinado aos produtores, que era às quartas-feiras e sábados, funcionará, além de nesses dias, também aos domingos, passando, assim, para três vezes por semana»

1967-07-29

O Jornal da Costa do Sol analisa detalhadamente as deficientes condições do mercado, apontado que «Cascais já não é uma aldeia piscatória. Cascais tornou-se uma cidade. Mas o seu mercado – que nunca satisfez – continua a ser o que todos veem e sabem e, naturalmente – se os maus fados não determinarem o contrário – de ano para ano, de mês para mês irá sendo mais impróprio para consumo e utilização»

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1969-02-28

Artigo do jornal A Nossa Terra, criticando o aumento do preço do terrado no mercado, pois «Sendo o Mercado um importante centro de troca de mercadorias, o vendedor produtor ocupa nos dias consentâneos esses espaços e ocupa-os normalmente para vender o produto que fabrica, na maioria das vezes com o labor do corpo e suor do rosto. Não nos parece possível que se consiga vender mais barato se o aluguer de venda é mais caro. Deixamos à consideração da Câmara este aspeto, certos de que farão voltar ao preço antigo aquele aluguer, a fim de que o vendedor possa com segurança e sem ressentimentos alinhar nesta campanha de estabilização»

1969-08-08

A Câmara Municipal recebe abaixo-assinado dos comerciantes da vila solicitando a proibição da venda de artigos essencialmente para turistas por vendedores ambulantes e que apenas se autorize a realização da feira junto ao mercado uma vez por mês, em virtude de a mesma afetar o comércio concelhio

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1970-03-07

Artigo do Jornal da Costa do Sol em que se anota que «a referida feira semanal afeta naturalmente e diminui de forma considerável o volume de vendas do comércio do concelho» e que como «Essa feira, que antes se realizava às quintas-feiras, foi antecipada para o dia anterior, para não coincidir com a que se realiza na Malveira (do concelho de Mafra), maior número, portanto, de feirantes vem a Cascais vender os seus artigos». Face ao exposto, propõe-se «Reduzir para uma vez por mês a realização da feira. Ou, quanto muito, duas vezes. Essas feiras, em Cascais, aliás, não se justificam. Só têm razão de ser nos meios rurais, afastados dos grandes centros urbanos. E não é esse o caso de Cascais»

1971

No seu Relatório de Gerência, a Câmara Municipal anuncia que «em S. Pedro do Estoril foi construído um posto de vendas que servirá plenamente os interesses da população, o qual deverá ser inaugurado ainda no corrente mês. Com o aparecimento dos grandes supermercados, que estão a multiplicar-se por todo o país, deverá a Câmara de futuro usar de prudência no que respeita aos estudos para instalação de novos mercados no concelho». O paradigma alterava-se…

1972-12-29

Concurso público para a adjudicação da obra de remodelação da instalação elétrica do mercado

1973-10-13

Notícia do Jornal da Costa do Sol defendendo a abolição da feira junto ao Mercado de Cascais

1973

No seu Relatório de Gerência, a Câmara Municipal anuncia que se «procedeu à remodelação da instalação elétrica do Mercado Municipal de Cascais, trabalho adjudicado à Firma Oficinas Metalúrgicas Erma, Ldª, pela importância de 180.00$00»

1974-04-25

A Câmara Municipal decide construir um parque para arrecadação de carros de lixo e um refeitório para o

pessoal de limpeza do mercado. A obra será adjudicada à empresa Aquiles & Pinto, Ldª

1974-05-14

A Câmara Municipal recebe uma petição dos vendedores do mercado para que o dia de descanso semanal seja ao domingo, indo, assim, contra outra petição, que propõe a 2ª feira para o efeito

1974-05-29

A Câmara Municipal decide adquirir com a maior brevidade possível bancas desmontáveis, de forma a evitar que nos dias de mercado sejam «expostos à venda produtos hortícolas e frutos, em condições higiénicas que deixam bastante a desejar, sobre plásticos e papéis bastante sujos, ou até em contacto direto com o chão»

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1974-06-22

Notícia do Jornal da Costa do Sol sobre o mercado, exigindo a proibição da venda fora do seu recinto

1975-04-16

A Câmara Municipal delibera adjudicar a obra de construção de bancadas no mercado saloio à Sociedade de Construções e Empreitadas Alves Estevam, Ldª, por 279.957$00. Todavia, esta acabaria por ser interrompida, na sequência de reclamação dos vendedores do mercado saloio pelo facto de «não se coadunarem as ditas bancadas com o tipo de venda que ali se pratica, pois os produtos são transportados normalmente em grades ou em sacas e são quase sempre em grande número. Deste modo, não creem que seja funcional movimentar e alojar várias grades, sacas, caixas de fruta e outras, no espaço restrito de cada lugar. Acresce o facto de ficarem os arruamentos mais apertados, dificultando assim as manobras das viaturas de maior porte e cuja entrada no interior do mercado é absolutamente necessária, face ao volume e peso da venda a carregar»

1976-05-24

Memória descritiva e planta das obras a realizar no mercado, em que se regista que «o referido mercado encontra-se em funcionamento há aproximadamente 25 anos, não tendo até essa data sofrido obras de reparação». A obra, que seria adjudicada ao empreiteiro Gonçalves Barbosa, comporta um refeitório para funcionários e a «recuperação de uma câmara frigorífica que se encontra fora de uso há anos e que presentemente se torna necessária pôr a funcionar para possibilitar a conservação de peixe proveniente do aumento de mais 24 bancas que presentemente já estão distribuídas e em funcionamento»

1976

No seu Relatório de Gerência, a Câmara Municipal anuncia que «foi durante este ano que se resolveu o problema dos vendedores ambulantes da rampa frente ao Hotel Baía, com a criação de um anexo ao Pavilhão do Peixe no Mercado Municipal de Cascais, em que se aumentou com mais 24 bancas o referido Pavilhão. Esta ampliação orçou os 296.000$00. Efetuou-se também o calcetamento do logradouro interno do Mercado de Cascais, obra tão desejada pelo público e vendedores, e que rondou os 44.000$00. Foi adjudicada à firma Imperial, pela importância de 125.400$00, para a recuperação de uma câmara frigorífica no Mercado Municipal de Cascais. O pessoal do Mercado de Cascais passou a desfrutar de um refeitório e balneários, devidamente equipados para

1974-06-29

O Jornal da Costa do Sol anuncia que, na sequência de intervenção da P.S.P., se restitui a possibilidade de acesso dos utentes ao mercado através do passeio

1975-02-21

Edital da Câmara Municipal de Cascais dando conhecimento do concurso público para adjudicação da empreitada da obra de construção de bancadas no mercado saloio de Cascais, publicado no Diário do Governo, III Série, nº 60, de 12 de março de 1975

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um mínimo de conforto e bem-estar, de todos quanto aqui trabalham, beneficiação esta que importou em cerca de 120.000$00. Programou-se também a construção de onze minimercados, a espalhar por todo o concelho, quer para benefício das populações do interior, quer para o descongestionamento do já superlotado Mercado Municipal de Cascais, que a muito custo tem conseguido cumprir o que dele se pede, para o que tem contribuído o esforço dos agentes da P.S.P. e da fiscalização municipal previamente destacada para o efeito»

1978-03-08

Edital com horário do funcionamento do mercado, que encerra ao domingo

1983-11-24

Na sequência das cheias que invadiram a parte baixa de Cascais, o Jornal da Costa do Sol refere-se ao «imenso lençol de água que se estendia por toda a Ribeira das Vinhas, cobrindo o mercado (aqui emergia apenas o telhado da zona de venda do peixe e o primeiro andar) e fazia da Quinta das Loureiras, a norte da estação de caminhos-de-ferro uma enorme e horrível piscina»

1989-04-27

Artigo do Jornal da Costa do Sol aludindo ao “cosmopolitismo” do mercado, em que se anota: «O novo mercado passou a ser considerado mais fino, mais chique e a tração animal deu lugar à tração mecânica. As pessoas, embora não deixassem de continuar a ser pessoas, com os seus problemas e a sua ansiedade, passarem a utilizar uma linguagem diferente, por vezes confusa, sendo vulgar ouvir-se dizer aos vendedores, analfabetos que fossem, “It’s not expensive at all, madama, it’s cheap”, quando madamas, agora de olho mais aberto, torciam o nariz»

1992-02-02

Notícia do Jornal da Costa do Sol anunciando obras de reparação da cobertura do mercado, na área conhecida por «mercado saloio»

1998-07-09

O Jornal da Costa do Sol regista que «Durante dois meses, devido às obras para a nova entrada da vila, esteve suspensa a tradicional feira do levante que às quartas-feiras se realiza na área exterior do mercado de Cascais, mas no passado dia 24 de junho os feirantes voltaram a montar as bancas, agora em novo espaço»

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Tendo em vista a requalificação do Mercado de Cascais, que há anos se vinha deteriorando, entendeu a Câmara Municipal de Cascais lançar, em agosto de 2005, um “Concurso Público Internacional de Ideias para o Mercado de Cascais e Zona Envolvente”. Publicado na III série do Diário da República, de 30 de agosto de 2005, previa «a requalificação do Mercado de Cascais e Zona Envolvente com vista à revitalização de uma área nobre do centro histórico de Cascais, cuja reconversão tem um forte potencial para a vocação turística». A proposta suscitou o interesse de dezenas de especialistas, que se traduziu na apresentação de 53 projetos, avaliados pela complementaridade, exequibilidade e qualidade do conjunto das ideias face às intenções dos objetivos do concurso, nomeadamente a adequabilidade ao programa de intervenção, a integração nos espaços envolventes, a preservação da expressão natural do sítio, a inovação, valorização e promoção do património edificado e a flexibilidade, em termos de adaptação da solução proposta a uma execução faseada.

A 5 de junho de 2006 chegaram a ser anunciados vencedores. O primeiro lugar, com um prémio no valor de 15.000 euros, caberia a Marco Neri; o segundo, no valor de 10.000 euros, a Arkibyo – Arquitetura e Urbanismo, Ldª e o terceiro, no valor de 5.000 euros, a Bernardo Almeida Lopes. Todavia, por razões de força maior, este intento municipal não se concretizaria, apesar de, pouco depois, a 14 de setembro, o Jornal da Costa do Sol registar que «o mercado municipal de Cascais instalado há seis décadas numa zona nobre da vila de Cascais, outrora importante pólo de atração turística, vai conhecer melhores dias já a partir do próximo ano. Uma realidade ansiada pelos comerciantes e vendedores que ali procuram retirar o seu sustento diário, face às péssimas condições em que aquela infraestrutura se encontra atualmente. Mas se é certo que “de promessas está o inferno cheio”, a verdade é que já existe um projeto, da autoria do arquiteto e engenheiro Marco Neri, tendo em vista a requalificação daquele espaço e zona envolvente, transformando-o num

Requalificaçãodo Mercadode Cascais

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verdadeiro espaço de animação urbana […] O projeto vencedor do “Concurso Público Internacional de Ideias para o Mercado de Cascais e Zona Envolvente”, organizado pela Câmara Municipal de Cascais e pela Ordem dos Arquitetos Portugueses, foi apresentado na passada 5.ª feira (dia 7), numa cerimónia realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Cascais».

Ainda que se pretendesse «transformar o Mercado de Cascais num verdadeiro espaço de animação urbana, sem prejudicar a sua função original», sob o mote de que «num Mercado também se pode proporcionar cultura, história, tradição e progresso», até novembro de 2008, na impossibilidade imediata de dar novo rosto à zona envolvente deste equipamento, a Câmara Municipal de Cascais decidiu avançar com uma profunda intervenção de requalificação. Com vista à melhoria das condições de trabalho e segurança dos vendedores, que passaram a contar com os meios técnicos adequados ao exercício da sua atividade, procedeu-se, assim, a uma limpeza profunda e a trabalhos de pintura, de forma a debelar problemas antigos, particularmente sentidos na área técnica.

Demoliram-se as câmaras frigoríficas existentes, com muitos anos de serviço. Em sua substituição equipou-se o Mercado com «o que de mais moderno e funcional» existia na área do frio e da conservação de alimentos. A remodelação implicou, também, a construção de raiz de uma máquina industrial de fabrico de gelo, uma arca específica para peixe, com zona para marisco com temperatura diferenciada e ainda uma outra câmara para frutas e legumes. Criou-se igualmente uma sala de higienização de material plástico: o único permitido no interior destes equipamentos.

No exterior do Mercado levantou-se o chão e as galerias, renovando-se as infraestruturas de águas pluviais e esgotos. O Mercado do peixe, cujo telhado se encontrava muito degradado, foi destelhado e recuperado, reanimando-se as vistas originais das asnas e águas. Recuperaram-se, ainda, as linhas redondas nos vãos e janelas a tardoz, forrando-se os pilares interiores com azulino de Cascais. Também as casas de banho foram completamente reformuladas. À entrada, o Mercado passou a ostentar um novo painel de azulejos, pintado pela artista plástica Teresa Posser de Andrade, cujo fabrico, completamente artesanal, foi assegurado pelo Mestre Joaquim, da Cerâmica de Bicesse. Produto da terra, o painel espelha as vivências dominantes no Mercado da vila, funcionando como uma espécie de

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cartão-de-visita do espaço. No âmbito desta intervenção foi ainda recuperado o talude da Avenida 25 de Abril, cuja reformulação implicou a replantação das espécies arbóreas e a implementação de um sistema de rega independente. Foi ainda colocado um novo e arrojado passa-mãos, da autoria do Arquiteto Carlos Baracho. Numa segunda fase desta profunda intervenção, montaram-se toldos na zona central, de forma a resguardar vendedores e clientes do sol e da chuva. Mais atrasada ficou a requalificação do pavilhão da fruta e das lojas do primeiro andar, também prevista para 2009, à qual se seguiriam os arranjos exteriores paisagísticos nos espaços adjacentes, junto ao leito da Ribeira das Vinhas.

Em 2012, a requalificação do Mercado de Cascais ganhou novo ímpeto, com a transferência dos vendedores de fruta, legumes e flores do pavilhão da fruta para o pavilhão do peixe. Libertou-se, desta forma, um importante espaço coberto para a realização de eventos, ao agrupar-se os vendedores num espaço comum. O verão desse ano seria, desta forma, marcado pela realização de eventos destinados a atrair população ao Mercado, de que são exemplo o Dia da Alimentação Saudável e vários ateliês. Já em dezembro se promoveu o primeiro mercado temático da nova era deste equipamento: O Mercado do Mel, que reuniu no antigo pavilhão da fruta dezenas de produtores e empresas da área. Este seria o primeiro de muitos mercados temáticos desde então promovidos, de forma a divulgar o espaço ao longo do ano, com renovados motivos de interesse.

A primeira edição do Mercado do Chocolate realizou-se em fevereiro de 2013. Ao longo de três dias, cerca de 16.000 pessoas tiveram a oportunidade de degustar alguns dos mais refinados chocolates de produção artesanal e participar em workshops, teatros infantis, exposições e vendas de artesanato. Inseridos numa estratégia de dinamização do comércio local, da gastronomia nacional como âncora turística e da promoção de uma nova centralidade em Cascais, os mercados temáticos afirmaram-se, assim, como uma constante ao longo de todo o ano. Em março decorreria o Mercado Epicur, que trouxe ao Mercado um vasto leque de produtos gourmet, cada vez mais apreciados pelos consumidores. Seguiram-se o Mercado dos Jardins e Ar Livre, em maio; do Brinquedo, em junho; e dos Desportos Radicais, em julho, que atraíram milhares de visitantes a um espaço que começa a recuperar a sua centralidade, como o atestam, já em 2014, a criação de novos mercados temáticos dedicados à Doçaria Conventual e Cake Design, ao Mar,

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à Cerveja, aos Jovens Criativos e ao Bacalhau e Azeite. Também nos primeiros e segundos domingos de cada mês se realiza, respetivamente, o Mercado de Oportunidades e o Mercado de Artesanato, que se constituíram como espaços privilegiados para a troca de bens em segunda mão e de produtos criados por artistas locais.

No âmbito desta nova fase de melhoramentos requalificou-se o terreiro da feira, com a colocação de um novo tapete betuminoso na zona envolvente ao Mercado e a marcação dos lugares de estacionamento e da feira. Também a iluminação exterior foi renovada com a introdução da tecnologia LED, que permite iluminar mais por um custo inferior. A Torre do Mercado, outrora casa de função, foi requalificada para acolher os serviços técnicos municipais afetos à gestão deste equipamento, libertando as lojas que estavam a ocupar. Está ainda programada a criação de uma bolsa de estacionamento exclusiva para comerciantes da vila, de modo a libertar mais lugares para clientes.

A requalificação prosseguirá até ao final de 2013 e durante o ano de 2014, com vista à recuperação das lojas do primeiro andar, para a instalação de novas empresas – de preferência ligadas à restauração – e abertura de uma nova aposta de índole municipal: a “Mercearia do Mercado”, tendo por objetivo a criação de uma marca de qualidade ou gourmet para (novos) produtos de Cascais. A intervenção permitirá, assim, a renovação da imagem de um espaço que se pretende cada vez mais dinâmico.

Para além dos aventais vermelhos com a marca “Mercado da Vila” que os vendedores utilizam, de modo a acolher os clientes de forma mais uniforme, à entrada, foram também criadas novas infraestruturas que permitem uma melhor articulação com a rede envolvente. Seguir-se-á a renovação do posto de transformação, de forma a aumentar a capacidade de fornecimento de energia elétrica, respondendo às novas exigências do espaço. Numa segunda fase, o projeto implicará a substituição das bancas e a atualização do material dos preçários, padronizando a apresentação dos produtos.

O ano de 2014 deverá, assim, marcar o efetivo regresso do Mercado da Vila à vida dos cascalenses, dotado de nova imagem e espaços renovados, bem como da centralidade de outros tempos.

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A história do Mercado de Cascais é feita de pessoas! Comerciantes, funcionários e compradores, que ao longo de décadas transformaram este espaço num marco da paisagem local.

As entrevistas que em seguida se reproduzem resultam da transcrição e síntese dos depoimentos reco-lhidos junto destes homens e mulheres que continuam a fazer do Mercado um ponto de visita obrigatório, a quem prestamos a nossa homenagem.

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”“João Ferreira FelícioNascido em 1931 | CascaisAntigo funcionário da Câmara Municipal de Cascais25 anos a viver na Torre do Mercado de Cascais

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Nasceu a 18 de março de 1931, embora no Bilhete de Identidade se diga que faz anos a 29... “Nasci no Areeiro, onde hoje é a Avenida Marechal Carmona. Foi mesmo onde está o Espaço Memória do Teatro Experimental de Cascais que eu nasci mais o meu irmão. Fui morar para a Rua das Flores quando tinha seis anos. Até a tropa fiz em Cascais! Sou cascaense a 100 por cento e 99 por cento da Praia da Rainha”… A instrução primária foi feita na Escola João de Deus, no Monte Estoril, “uma escola de ricos”, como diz, a que teve acesso porque o pai era padeiro e fornecia para lá: “O meu pai veio de Tábua, a minha mãe é que nasceu aqui em Cascais”.

Entrou ao serviço da Câmara Municipal de Cascais em 1951, aos 20 anos. Era ainda um serviço precário: “A lota fazia parte do serviço de mercados. Estava na lota três a quatro meses, se havia peixe. Se não havia, era dispensado e voltava depois”. Lembra-se, assim, muito bem do antigo mercado de ferro: “Foi demolido tinha eu 14 anos. Era em ferro com cobertura em chapas de zinco”. Recorda-se, mesmo, que “era num plano inferior em relação à estrada, do lado do mar. Do lado esquerdo ficava o mercado; no meio, as sentinas (casas de banho públicas) e do lado direito era a fruta”. Para João, a estrutura ainda estava atual e em bom estado, pelo que não guarda boas recordações da demolição...

Onde hoje é habitual montar-se o palco para os concertos que se realizam na esplanada dos pescadores ficava a lota, que nesse tempo ainda era feita a céu aberto, pelo que o mais natural era que todas as atividades associadas se desenrolassem nas proximidades. Por baixo do Casino da Praia, de cuja demolição, aquando da construção da Estrada Marginal, também se recorda, havia armazéns de salga de peixe que ainda tem bem presentes na memória. A vida de um cobrador de impostos da Câmara Municipal de Cascais não era fácil naqueles tempos, sobretudo porque tinha de receber o “três por cento”, imposto pago por quem comprava na lota. “Cobrávamos às peixeiras que víamos. Das outras, pela surra, não conseguíamos dar conta”, recorda. Mas mesmo assim, feitas as contas aos vinte e cinco anos que, depois disso, passou no Mercado de Cascais, é perentório: “O trabalho da lota era mais difícil, mas dava mais luta”!

Da inauguração do novo mercado, em agosto de 1952, não tem qualquer memória: “Estava na tropa” no quartel da Cidadela. Mas da construção – que aconteceu ao mesmo tempo em que se rasgou a depois apelidada Avenida 25 de Abril – guarda recordações polvilhadas de

adivinhas: “Achávamos imensa graça a esta pala ondulada que liga o antigo pavilhão da fruta ao do peixe. Nessa altura deitávamo-nos a adivinhar o que seria aqui. Não fazia ideia nenhuma de vir para cá!”.

Mas iria, em 1965. Antes disso viveu os tempos em que, até à mudança para o Mercado da Vila ainda em obras, vendedores e feirantes tiveram de passar por uma estrutura provisória, montada no terreno onde mais tarde veio a ser construído o pavilhão do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais, entretanto demolido. “Como não cabiam todos os vendedores, alguns vinham vender para a rampa da Praia dos Pescadores. Não eram autorizados”, recorda João Ferreira, na altura já com funções de fiscalização na Câmara Municipal: “Mas aí a responsabilidade já não era nossa, mas da capitania”.

Veio para o Mercado em 1965, altura em que a Lota saiu da jurisdição municipal. Mesmo a tempo de viver – na Torre do Mercado, aquela que veio a ser a sua casa durante vinte e cinco anos – as cheias de novembro de 1967. “Se subisse mais um bocadinho, a água chegava a dois degraus acima do primeiro piso”, conta. “Essas cheias foram um susto relativo. Agora as cheias de 1983 foram um susto muito grande”, recorda.

Para quem não conhece o local importa explicar que o piso térreo da Torre do Mercado apenas tem uma divisão, onde, tal como antigamente, funciona o escritório do serviço de fiscalização. A casa de função que João Felício ocupou durante mais de duas décadas – onde hoje se encontram os escritórios da DNA Comércio, que assegura os serviços de gestão do Mercado a nível municipal – desenvolvia-se pelos pisos acima, divididos por lances de dezoito degraus cada. No primeiro piso estava a sala e a cozinha, no segundo um quarto e uma casa de banho e no terceiro, que apenas servia para dar acesso ao telhado, a mulher, Cândida, tinha, com muita imaginação, a máquina de costura. No terraço, que proporciona uma vista muito alargada sobre o casario envolvente, funcionava a máquina de lavar.

Hoje João descreve o susto entre risos, mas naquela noite de 1983 não houve motivo para graças. Era véspera de Mercado, portanto, noite de sexta para sábado. Nessa época João arrumava o carro à entrada do Mercado, junto ao pavilhão da fruta. “Deviam ser aí umas três e pouco da manhã, ouvi um barulho e vim à janela da casa de banho para ver o que seria. A água não chegava a tapar meia roda do meu carro. Foi o tempo de pôr umas calças, camisa e

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sapatos e, quando desci à sala (18 degraus), já ele [o carro] ia de avião por aí fora”. João pensou que se tratasse de algum cataclismo, tal era o estrondo com que a força das águas anunciava a sua entrada nas caves existentes no «redondel». “A minha filha gritou-me bem alto – Janica! – foi o que me valeu para não fazer parvoíces. Voltei para dentro e só deu tempo de trazermos a televisão e o frigorífico para cima…” Apesar de medir cerca de 1,75 m, a água chegava-lhe ao peito, no primeiro andar…

Prepararam-se para tudo, até para sair a nadar pelo terraço caso fosse preciso, improvisando uns flutuadores para a mulher que não sabia nadar. Foi às escuras que ficaram até de manhã. “Às 10 horas ainda isto estava tudo cheio com água da altura do portão. Apareceram-me, depois, aqui uns rapazes num bote de borracha” mandados por um colega em cuidados, pois não se sabia do João.

Não chegou a temer pela vida, mas ainda hoje pensa que o grande problema está no túnel que leva a água para a Ribeira e Praia do Peixe: “É muito estreito e isto estando baixo é muito bom para acumular águas. Quando há um primeiro impacto é aqui que se sofre mais”.

Sinal dos tempos, entre 1965 e o final da década, a vida no contexto do Mercado de Cascais haveria de se render à motorização. “Quando vim para cá ainda vinham carroças e cobrávamos um escudo e cinquenta para uma carroça estar aqui todo o dia”. Nessa altura a maioria dos vendedores vinha da zona saloia de Sintra, Assafora, Almargem, Colares e de Sobral de Monte Agraço. Passados alguns anos a maioria já vinha da Zona de Mafra. Com a mudança dos tempos, as carroças deram lugar aos camiões “do Zé Marau e do Valério”. Depois, para proporcionar maior segurança, começou a circular

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um autocarro bem cedinho para trazer as pessoas para vender no Mercado.

Durante vinte e cinco anos a vida de João Ferreira Felício passou quase exclusivamente pelo Mercado da Vila, que chegou a conhecer quase melhor que a palma das suas mãos: “Se eu abrisse a janela do mercado, só pelos sons sabia o que se estava a passar. Foram muitos anos”. Tempos houve em que aos vendedores não era permitido montar quaisquer coberturas ou toldos. “Ao princípio só permitíamos toldos quando estava a chover… Este mercado era limpo. Tinha quatro placas em calçada e o resto era relva. Havia uma mão cheia de árvores de fruto e umas ameixas amarelas que eram um espetáculo”!

“Fiz de tudo. Só não cheguei a varrer o chão”, recorda, passando em revista as múltiplas funções que em momentos vários teve de assumir no mercado. Foi esse o caso da vez em que teve de vestir a pele de mecânico/eletricista num determinado sábado, após uma saída de amigos. “Quando cheguei aqui, o frigorífico do peixe, atestado até cima, tinha pifado”. Estava vestido “todo janota e com um copo a mais”, recorda. Mas isso não o impediu de trepar por ali acima para resolver o problema. “Desliguei um dos motores que estava a fazer curto-circuito e lá consegui ligar o outro. Assim funcionou até segunda-feira e o peixe não se estragou”. O mesmo já não se pode dizer da roupa, que ficou imprópria para narizes mais sensíveis…

Hoje com 82 anos, Janica, como é carinhosamente chamado pela filha e amigos mais chegados, mal nos deixa perceber como era o Ti João, nome pelo qual ainda hoje muitos feirantes utilizam quando lhe dirigem a palavra. “Tinha uma cara de pau. Era muito importante para haver respeito. Mas os feirantes eram muito respeitadores. De vez em quando lá era preciso chamar à atenção, mas muito raramente”. Conhecia todos os vendedores e sabia de cor a lista que era obrigado a ter sempre atualizada com os seus nomes e taxas cobradas.

“Quando isto estava no auge não tínhamos um único espaço disponível, nem um sítio para uma cadeira para pôr um vendedor. Às dez horas da manhã os clientes também eram muitos. Por exemplo, no pavilhão do peixe nem se podia andar. O mercado estava sempre cheio”. O sábado era campeão na atração de multidões, mas era à quarta-feira que se conseguiam artigos mais em conta. Entre os clientes recorda-se bem de encontrar às compras “a senhora do Dr. Pinto Balsemão ou a irmã do

rei de Espanha, que era cega e vinha com a sua bengala…”. Na verdade, “Vir ao mercado nunca foi uma questão de ordem social. Vinha gente de todas as classes e origens. Havia produtos muito bons. Mas a dada altura deixou-se de vender para o pobre. Ficou tudo muito caro e os pobres desapareceram”.

Mas, como em tudo, há sempre um mas… Os vendedores, na opinião do Ti João, “estagnaram a partir dos finais dos anos 70. Quem ganhou com isso foi o Estoril”, afirma. A “ideia do velho”, como se refere aos mercados temáticos que desde o final de 2013 têm atraído mais gente ao Mercado da Vila, “é que é capaz de devolver a vida ao mercado”.

Época conturbada e de grande altercação política, o 25 de abril foi, para João Felício, “o caos, porque ninguém mandava, não havia polícia, não havia nada. Os nervos eram uma constante à flor da pele, sobretudo por causa da «rebaldaria» que se instalou de repente”. Todavia, “talvez pelo local, talvez pelas pessoas, no Mercado de Cascais esta situação durou muito pouco tempo”. João lembra com orgulho o momento em que foram os próprios feirantes a ir buscá-lo para ajudar a organizar as coisas: “Eu fui a melhor coisa que aconteceu no Mercado de Cascais”, diz sem falsa modéstia! Mas por outro lado o 25 de abril foi também muito bom para contrariar a pobreza que era muita, pois “passaram a vir mais pessoas e mais vendedores”.

Reformou-se em 1988 e pouco depois deixou de vez o Mercado, mudando-se de armas e bagagens para a Encosta da Carreira, onde, de outra torre, continua a observar a realidade à sua volta. Enquanto as pernas lhe permitirem, todas as quartas-feiras continua a ser presença assídua, onde faz questão de ir buscar o pão para a semana.

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”“Faustina de JesusAlves de CarvalhoNascida em 1932 | Barril – Mafra62 anos no Mercado

Faustina Carvalho é a mais antiga vendedora do Mercado de Cascais. Aqui se casou e construiu uma vida de trabalho com o marido. “Ensinei o meu marido a ler. E sabe? Vendíamos bem, pois tínhamos bons modos”.

“A praça era só miséria. Não havia toldos. Era muito pobrezinho”, relembra. Mas “depois comecei a ter boa clientela. Fomos crescendo as vendas, pois o meu marido tirou a carta de condução e comprámos um carrito. E começámos a fornecer restaurantes e hotéis, para além dos clientes que vinham aqui”.

Não se cansando de referir que é a anciã do Mercado, declara que “não posso ser mais bem tratada e acarinhada”… A sua filha mais velha, hoje enfermeira, já com três meses vinha acompanhar os pais.

“Adoro as coisas da terra. Na minha casa tenho um quintal e adoro ir lá. Não passo um dia sem ver as minhas galinhas, as minhas fazendas. Gosto muito da venda, mas gosto muito da agricultura”, refere com sorriso rasgado. E remata: “Posso ter alguma coisa, mas foi porque eu e o meu marido fomos muito lutadores”.

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”“José FernandoDuarte PolidoNascido em 1957 | Assafora50 anos no Mercado

José Polido veio para o Mercado desde os 7 ou 8 anos. “Vim muitos anos de trator. Lembro-me que uma vez o meu pai até o virou. Para mim era muito engraçado e típico”. Mas não deixa de lembrar o que se comerciava: “Antigamente vendia-se muito mais e com o dinheiro de um quilo de batatas faziam-se mais coisas do que fazemos hoje. Parece que o dinheiro valia mais”….

Entre o passado e o presente, José acha que a clientela está a mudar. “Agora já aparece mais gente nova. Porque há poucos mercados com produtos frescos como o nosso”.

Ainda se lembra da mãe lhe contar que “no primeiro dia do Mercado de Cascais mandou o xaile para marcar o lugar, pois não havia sorteio, não havia nada… Era o que calhava. Quem chegava primeiro é que ficava com o lugar”!

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”“Conceição Ferreira Mendes SotiriNascida em 1931 | CascaisBanca de legumes e hortaliças62 anos no Mercado

(Leopoldina da)

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Está no Mercado da Vila desde o dia em que abriu. Da inauguração, contudo, pouco se lembra. Estava na loja do Mercado – que acabara de construir e onde montara um lugar de venda de frutas e legumes. Contudo, “vim cá baixo e vi clientes. Ora eu era uma rapariga nova e precisava de vender, pelo que deixei a loja e vim para baixo onde havia clientes”! Hoje tem quatro bancas e “vende-se mais que noutros tempos”. Só o IVA a 23% veio estragar tudo, porque agora “os clientes dizem que vendo muito caro”. A aposta neste ramo de atividade fez-se com muita vontade e trabalho: “Já trabalhava para outras pessoas neste negócio e depois comecei a ver que ganhava pouco e o meu namorado também e decidi vir para isto”. Nem a dureza do trabalho a demoveu: “Foram muitos anos a apanhar o primeiro comboio da manhã e a carregar caixas pesadas! Era eu que ia ao meloal escolher os melhores melões… Agora já não…”

As atuais condições do Mercado da Vila são melhores que as antigas, mas nem por isso Conceição se mostra muito otimista em relação ao negócio que “há de ficar para o neto”. O trabalho sempre ao rubro não deixou tempo para viver histórias engraçadas, mesmo que se tenham passado sessenta anos desde que veio para o Mercado da vila. Apenas evoca a vez em que foi presa por causa de uma multa passada por irregularidades nas placas dos preços que não pagou: “Fui a Lisboa duas vezes para pagar a multa, mas pedia por registos em nome de Conceição e nunca apareceu nada. Pudera, a multa estava passada em nome de Leopoldina, que é o meu primeiro nome, e nunca me lembrei disso. O guarda foi insensível até ao facto de eu ter o meu filho com quatro anos comigo e saber que ia ficar sozinho… Nem o pedido de uma cliente que era condessa me valeu”... Livrou-se de “ir na «ramona» pelas boas graças de um agente conhecido”, que aceitou levá-la no comboio. Depois, recorda, “cheguei à Boa Hora, paguei e vim-me embora. Resolveu-se tudo”.

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”“Amélia Cordeiro FerreiraNascida em 1960 | Achada – MafraBanca de frutas e legumes54 anos no Mercado

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Começou a vir para o Mercado de Cascais ainda na barriga da mãe. “Fui criadinha numa saquinha de palha, atrás da venda da minha mãe”, diz Amélia, sempre de sorriso rasgado na face. “O mercado era muito lindo, tinha árvores no meio, tinha muitas sardinheiras… Eu, quando era pequenina, punha as pétalas das sardinheiras nas unhas a fingir que estavam pintadas, era lindo”, recorda.

Dos tempos antigos lembra-se, ainda, de haver “Muita rigidez. Não podíamos vender fora de horas, se não ficávamos de castigo sem poder vir vender uma ou duas semanas. Agora há mais abertura e espontaneidade. Também temos de cumprir as regras, mas estamos mais à vontade”.

Com uma alegria contagiante, Amélia recorda os tempos em que “As mulheres vinham nos camiões. Hoje cada um tem o seu carro, mas antigamente havia aqueles camiões grandes que traziam a carga e as mulheres. Juntavam às quatro e cinco mulheres… Cada uma pagava um “x” e vinham nos camiões, que traziam também as coisas que cultivavam lá”. Recorda, também, que “Nesses tempos traziam couve portuguesa cultivada perto de casa. Trazíamos os fardos de nabos e as mulheres vinham no meio da carga, também em molho…. Era tão engraçado”! Na verdade, “antigamente cultivávamos muita coisa. Agora compra-se mais”. Acrescenta também que “Meus mesmo trago para aqui limões. Tenho perto de mil pés de limões! O resto compro para vir vender”...

A venda de legumes e hortaliças vem de há várias gerações. “A minha avó, da parte do meu pai, vendia em cima de um burro. Depois o meu pai empregou-se numa fábrica e era a minha mãe que vendia na praça da Ericeira até que se inscreveu no camião e veio vender para Cascais. Depois casei e fiquei eu, que trouxe para cá o Ti Carlos, meu marido”, conta com uma alegria extasiante.

Dos turistas que passam por Cascais diz serem muito engraçados: “Tiram muitas fotografias, mas não compram quase nada… Estão de passagem!”

Quando compara o mercado de outrora com o de hoje, Amélia lamenta a diminuição do poder de compra: “Hoje vê-se que as pessoas olham para as coisas que querem comprar, mas não podem. Antigamente vendia-se às cabazadas de quilos. Agora não, vende-se menos”. Bom, mesmo, foi terem sido colocados os toldos que hoje protegem vendedores e produtos da torreira: “Já o deviam ter feito há mais tempo. Só o descanso de a gente chegar

aqui e não ter de andar por aí a montar toldos… E quando estava a chover? A gente a montar toldos, era puxa uma corda para aqui e outra para acolá e uhhh banho… bolas! A gente apanhou muita humidade na cabeça e ossos. Abençoada Câmara que fez isto!”

Ainda hoje acorda muito cedo, às duas e três da manhã e isso pesa-lhe muito e ainda mais aos filhos que “só se não tiverem alternativa é que ficam com o negócio”. Mas em chegando ao Mercado a alegria irrompe: “Acordo sempre resmungona, mas depois de cá estar gosto muito. Hoje já estivemos a comer sardinhas e salada… É uma alegria”.

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”“Maria Helena de Carvalho Rato NevesNascida em 1944 | Assafora50 anos no Mercado

Maria Helena Neves faz do Mercado a sua casa desde os 20 anos. Até se casar com um agricultor, trabalhou desde muito cedo em casas de famílias. “Fui servir com 14 anos. Esses tempos foram de muita dificuldade. Às vezes até os patrões nos batiam. Estávamos desejosas de casar para sermos mais livres”. E tornou-se livre no Mercado, apesar da vida de trabalho…

“O meu filho nasceu aqui praticamente. Depois de sairmos, acabada a venda do Mercado, ainda íamos vender porta-a-porta. Às vezes todas molhadas quando chovia. Até tinha clientes que me davam roupa”, recorda Maria Helena.

Quanto à clientela, afirma que nos tempos idos havia mais gente a comprar, mas agora “temos outras condições. Desde que puseram os toldos está muito bom. Antes até vendíamos à chuva, com sacas na cabeça e estávamos aqui a vender. Era duro”.

Recorda desses tempos que ”as pessoas esperavam lá fora que a sineta tocasse para entrar. Chegavam a pedir para guardarmos coisas. Era uma confusão. Não se compara o que era antigamente e o que é hoje”, época em que “os clientes são mais exigentes, gostam de tudo do bom, apesar de agora levarem menos quantidade”.

Atualmente a banca é do filho: “Não quis estudar e começou a andar com a gente. Agora é dele. Eu venho cá ajudar até puder”. Na verdade, “Gosto de tudo do Mercado. De conviver com as pessoas, conversar, ver pessoas. No fundo somos uma família”.

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”“Maria de LurdesNascida em 1939 | CascaisBanca de peixe48 anos no Mercado

Vende peixe no Mercado desde 1966, pela mão da mãe, que já o vendia na rua. “Filha de Cascais”, como se afirma, Lurdes criou-se por terras de Sesimbra, de onde regressou com 18 anos acompanhando a mãe. Vendeu primeiro no mercado da rampa, onde tinha uma banca subalugada e transitou, depois, para do Mercado da vila, onde teve uma bancada só sua. Nessa época era frequente terem de “voltar à praia, onde se fazia a lota, para comprar mais peixe antes das dez da manhã, porque o que se tinha comprado à noite se vendia todo num instante”.

A diferença “É como do dia para a noite. Hoje há muito menos gente e vende-se muito menos. A maioria das pessoas que vinham cá comprar eram de Cascais. Vinham restaurantes e cozinheiras das casas particulares, com aquelas alcofas muito grandes…. Merecia a pena… Hoje nem um dono de restaurante aqui vem comprar. Com os supermercados não vamos lá”!

Na sua banca só se vende peixe de Cascais.

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”“ Há quarenta e três anos, mais precisamente desde janeiro de 1970, que faz a sua vida no Mercado da vila. Veio pelo casamento: “Casei a 4 de janeiro e na quarta-feira a seguir vim para cá trabalhar com os meus sogros”. Hoje vende plantas que outros farão crescer, como alfaces, tomate de várias qualidades, cebola, ervas aromáticas, tudo prontinho para medrar na horta de cada um. “Já tive várias bancas. Chegou a ser só flores, hortaliça e fruta, depois só flores e agora só hortaliça para os outros plantarem. Deixei a horta há um ano, porque era muito trabalho e eu já estou velho e deixei-me disso. Isto é mais fácil para mim”.

Do Mercado que conheceu aos 20 anos recorda que tinha muito mais vida: “Isto não tem uma décima parte do povo que tinha nessa altura. As infraestruturas agora são muito melhores, porque dantes a gente andava aqui com panos e quando chovia ficávamos todos molhadinhos, mas público temos muito menos”. As alcofas de palha fazem parte do registo do passado que já lhe parece muito distante: “Quando comecei a vir para aqui nem sacos de plástico havia! Era em alcofas que as pessoas transportavam as coisas”.

Aos colegas de profissão chama família: “Somos todos amigos!”

João SapateiroNascido em 1948 | Achada – MafraBanca de hortaliças para plantar44 anos no Mercado

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”“Manuel Fernando Batista CarvalhoNascido em 1958 | Santa Susana – PobralBanca de legumes e hortaliça, com a mulher Anabela46 anos no Mercado

Tinha apenas 10 anos quando começou a vir para o Mercado de Cascais, pela mão do pai que se transferiu do mercado da Cidadela (como lhe chamavam) para o centro da vila, sempre com a sua banca de legumes e fruta. Desse tempo recorda que “o Mercado tinha mais vendedores, mais artigos e maior variedade e que as pessoas compravam maiores quantidades e vinham até governantas e pessoas que estavam a servir nas casas… Hoje já não há nada disso”. Ainda se lembra das carroças e das argolas para prender os animais que eram usados no transporte até ao Mercado, mas insiste: “isso era mais do tempo do meu pai”.

Com o passar do tempo e o surgimento de novos pontos de oferta, como as grandes superfícies e mercados de produtos frescos, o fator “mercado de referência” foi-se perdendo, pois “antigamente só havia os mercados. Hoje há muita oferta e menos poder de compra”. A esperança no futuro reside, assim, na vitória da qualidade e na promoção do mercado em si: “O mercado agora tem muitas condições. Tem cobertura e já há algum estacionamento que se nota à quarta-feira com as obras que se fizeram… Agora está melhor”.

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”“Aurora do Zé do Telhado (nome do marido, que nunca quis que botasse outro)

Nascida em 1933 | CascaisBanca de peixe62 anos no Mercado

“Toda a vida vendi peixe e cavei na terra, semeei, fiz tudo. Sei lavar, passar a ferro, fazer comer, tudo!” diz com o orgulho próprio de quem acha que as atuais gerações estão muito mal preparadas para enfrentar a dureza da vida. “Eu sou da Figueira da Foz, com muitas honras. Em pequena já vendia com cabazes à cabeça e canastas e fazia duas horas a pé para ir vender”. Recorda que “quando vendia lá em baixo na rampa, de noite e tudo, o povo era às mãos cheias. Dantes eles viam os barcos a chegar e o peixe a saltar e sabiam que era fresquinho. Quiseram que viéssemos para aqui e isto morreu”…

Vende só peixe de Cascais, pois nunca se habituou a ir comprar a outro lado, recordando que “Com três dias de parida a minha mãe já me levava ao colo para vender peixe”.

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”“Maria do Rosário CorvoSertã – Castelo Branco | Almoçageme | Colares – Sintra Banca de hortaliça21 anos no Mercado

A vender no mercado da vila há vinte anos, é das poucas, se não mesmo a única, a vender apenas aquilo que produz. Alfaces, couves e outros verdes é o que tem para oferecer. A grande mudança desde então foram os clientes, que têm diminuído, mas não deixa de referir que o terreiro central está agora muito melhor com as obras, particularmente os toldos, que trouxeram mais abrigo e conforto.

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”“Amélia Deodatoe Luís (filho)

Nascida em 1952 | Sobral da Abelheira – MafraBanca de legumes e frutas41 anos no Mercado

Há quase quarenta anos a vender no Mercado de Cascais, cultiva quase tudo o que vende. “Ao longo dos anos a freguesia foi diminuindo e as condições melhorando”, mas como recorda o seu filho Luís, “a vida do campo é complicada! A gente sabe o que vai investir. Não sabe é o que vai receber”... Hoje têm o apoio da balança eletrónica e do computador, que antigamente não existia: “A gente punha as coisas em cima das sacas no chão e tinha uma balança daquelas em que se punha um peso do lado e do outro”. Novos tempos!

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”“Maria da Conceição ParrachoNascida em 1933 | CascaisBanca de peixe62 anos no Mercado

Nascida numa família de pescadores que morava numa casa onde hoje se situa o Hotel Baía. “Quando era pequenina, lembro-me de chorar porque via o comboio passar e a minha mãe obrigava-me a ir a pé. O dinheiro do comboio – 8 tostões – dá para as batatas, dizia ela.” Lembra-se, ainda, que “No verão pescávamos a raia e o carapau para comer durante o inverno com batatas e cebolas cozidas”.

Trabalha no Mercado desde que abriu.

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Page 83: HISTÓRIA · do vinho e da cantaria, tendia a consumir internamente as suas produções. Todavia, não obstante em 1758 existirem «duas Praças na Vila, uma de fruta, outra de

”“Maria do Carmo M. Jacinto MendesNascida em 1939 | CascaisBanca de pão e bolosMais de 41 anos no Mercado

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Quando veio sozinha de Celorico da Beira para Cascais andavam a acabar as obras que taparam a Ribeira das Vinhas e deram um novo rosto à vila. Tinha 17 anos e ainda viveu o tempo em que nas procissões se forrava a rua com alecrim… Casou e empregou-se a dias, mas ter um negócio “minava-lhe a ideia”. Empreendedora, lançou-se a fazer pães-de-ló grandes que vendia nas casas vizinhas e “toneladas de rissóis, croquetes e pastéis de bacalhau”, chegando mesmo a vender bolas de Berlim nas praias da Conceição e da Duquesa. Pouco depois, já lá vão mais de quarenta anos, montou banca no Mercado que “antes, tinha um lago, um chafariz, muitas árvores e…. muita gente”. Havia, ainda, “muitos saloios que vinham a pé e de burro trazer a roupa da Malveira e da Azóia já lavadinha e levavam a suja para lavar mais”. É assim que se recorda do Mercado da vila dos primeiros tempos.

A sua memória está repleta de vendedores: “Havia a vender perus por aqui fora, havia o leiteiro, o padeiro,

os carteiros, os dos jornais a deitar os jornais para as varandas… Era outra vida”. O peixe vinha do mar e quem “trazia os caixotes vinha a abaná-los de propósito, como quem não quer a coisa, para que caíssem alguns peixes de modo a que os pobres pudessem apanhar”. Da zona envolvente recorda com saudade a solidariedade que sempre marcou Cascais: “Em frente era o Baía Velho e era aí ao pé, na areia, que os pobres faziam penas tecas (montinhos) com os peixes que apanhavam para vender e arranjar algum dinheiro para outras coisas”.

Hoje, com as ofertas de supermercados e outras superfícies, aliada ao decréscimo do poder de compra, o Mercado “tem menos procura e, consequentemente, menos oferta”, pois “desde há sete anos para cá que sentimos que as coisas se têm degradado muito. Nós éramos três a vender e nem tempo tínhamos para nada… Era sempre a correr. Num dia vendíamos aos 900 pastéis de nata! Agora vendem-se 25 e é uma sorte”…

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”“Conceição Matias e Hernâni SantosNascidos em 1953 e 1980 | Pobral – EriceiraBanca de frutos secos, bolos, azeitonas,especiarias e sementes41 anos no Mercado

Há quarenta anos a vender no Mercado da Vila, Conceição diz que o espaço “era dentro deste género. Havia era mais gente. Mas com as obras recentes voltou a haver mais gente por cá”. Assim, em poucas palavras, resume quatro décadas, sem deixar de acusar os efeitos da concorrência: “Vem aqui muita gente comprar, mas para consumo próprio” e em menores quantidades.

A vinda para o mercado aconteceu, pela mão da mãe, tinha Conceição 11 anos: “Isto é muito giro, convive-se com muita gente”. A banca que tem agora e que explora com o marido, Manuel dos Santos, e o filho Hernâni, diz ser muito “mais saudável, pois as sementes estão muito na moda”.

“É uma família muito grande. Toda a gente se conhece”, acrescenta o filho Hernâni, terceira geração de vendedores no Mercado. “Lidamos tão de perto com as pessoas que sabemos os nomes, gostos, tudo… Os clientes da minha mãe são os meus e os filhos deles também”.

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Ultrapassado o azul e branco do exterior do edifício, embelezado pelo painel de azulejos de Teresa Posser de Andrade, as cores e aromas dos produtos expostos nas bancadas fundem-se também com o vibrante emaranhado de vozes de vendedores e clientes, conferindo encanto especial a um espaço cada vez mais considerado de visita obrigatória, mercê da multiplicidade de eventos que promove ao longo de todo o ano.

Memória(s) Viva(s)

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MERCADO DOS DESPORTOS RADICAIS, 2014

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MERCADO DO MAR, 2014

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ARRAIAL DE SANTO ANTÓNIO, 2013

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MERCADO DO MUNDIAL, 2014

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MERCADO DOS DESPORTOS RADICAIS, 2014

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MERCADO EPICUR, 2013

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ANTESTREIA DO FILME A GAIOLA DOURADA, 2013

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| Coleção

Memórias Digitais de Cascais