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385 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 385-410, maio/ago. 2006 Histórias de vida e autobiografias na formação de professores e profissão docente (Brasil, 1985-2003)* Belmira Oliveira Bueno Helena Coharik Chamlian Cynthia Pereira de Sousa Denice Barbara Catani Universidade de São Paulo Resumo O texto apresenta uma revisão de trabalhos da área de Educação que fizeram uso das histórias de vida e dos estudos autobiográ- ficos como metodologia de investigação científica no Brasil. Dois recortes foram efetuados, um temporal e outro temático, para focalizar o período compreendido entre 1985 e 2003 e privilegiar dois temas: formação de professores e profissão docente. O ob- jetivo principal foi o de mapear a produção nacional, buscando identificar as temáticas que emergiram com maior força, apontan- do aspectos lacunares e indicando direções para futuros estudos na área. Várias fontes foram utilizadas: resumos de teses e dissertações (banco de teses da CAPES); textos completos de teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação da Pontifícia Universi- dade Católica de São Paulo — PUC-SP — e da Faculdade de Educa- ção da Universidade de São Paulo — FEUSP —; livros; e periódicos científicos. As análises levaram a concluir que o uso dessas abor- dagens cresceu significativamente no Brasil a partir dos anos de 1990, porém, de modo muito disperso, foram utilizadas muito mais como fonte de dados para o desenvolvimento de um largo espectro de pesquisas e muito timidamente como dispositivos de formação. Todavia, evidenciou-se que a intensificação de tais metodologias contribuiu para renovar as pesquisas sobre os pro- fessores, ao mesmo tempo em que fez aflorar o interesse por questões e temáticas novas, tais como as que se configuram, por exemplo, nos estudos sobre profissão, profissionalização e iden- tidades docentes. Palavras-chave Autobiografias — Histórias de vida — Formação de professores — Profissão docente. Correspondência: Belmira O. Bueno Faculdade de Educação/USP Av. da Universidade, 308 e-mail: [email protected] * Este trabalho contou, em diferentes fases dos levantamentos, com a cola- boração de Daiane Vieira Piscinato, Elza Pino dos Santos, Flávia Medeiros Sarti, Flavinês Rebolo Lapo, Lia Mara dos Santos, Marcela Oliveira Soga, Renata Marcílio Cândido, Teresa Van Acker e Vera Lúcia dos Santos, a quem quere- mos registrar nossos agradecimentos.

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Histórias de vida e autobiografias na formação deprofessores e profissão docente (Brasil, 1985-2003)*

Belmira Oliveira BuenoHelena Coharik ChamlianCynthia Pereira de SousaDenice Barbara CataniUniversidade de São Paulo

Resumo

O texto apresenta uma revisão de trabalhos da área de Educaçãoque fizeram uso das histórias de vida e dos estudos autobiográ-ficos como metodologia de investigação científica no Brasil. Doisrecortes foram efetuados, um temporal e outro temático, parafocalizar o período compreendido entre 1985 e 2003 e privilegiardois temas: formação de professores e profissão docente. O ob-jetivo principal foi o de mapear a produção nacional, buscandoidentificar as temáticas que emergiram com maior força, apontan-do aspectos lacunares e indicando direções para futuros estudos naárea. Várias fontes foram utilizadas: resumos de teses e dissertações(banco de teses da CAPES); textos completos de teses e dissertaçõesdefendidas nos programas de pós-graduação da Pontifícia Universi-dade Católica de São Paulo — PUC-SP — e da Faculdade de Educa-ção da Universidade de São Paulo — FEUSP —; livros; e periódicoscientíficos. As análises levaram a concluir que o uso dessas abor-dagens cresceu significativamente no Brasil a partir dos anos de1990, porém, de modo muito disperso, foram utilizadas muitomais como fonte de dados para o desenvolvimento de um largoespectro de pesquisas e muito timidamente como dispositivos deformação. Todavia, evidenciou-se que a intensificação de taismetodologias contribuiu para renovar as pesquisas sobre os pro-fessores, ao mesmo tempo em que fez aflorar o interesse porquestões e temáticas novas, tais como as que se configuram, porexemplo, nos estudos sobre profissão, profissionalização e iden-tidades docentes.

Palavras-chave

Autobiografias — Histórias de vida — Formação de professores —Profissão docente.

Correspondência:Belmira O. BuenoFaculdade de Educação/USPAv. da Universidade, 308e-mail: [email protected]

* Este trabalho contou, em diferentesfases dos levantamentos, com a cola-boração de Daiane Vieira Piscinato, ElzaPino dos Santos, Flávia Medeiros Sarti,Flavinês Rebolo Lapo, Lia Mara dosSantos, Marcela Oliveira Soga, RenataMarcílio Cândido, Teresa Van Acker eVera Lúcia dos Santos, a quem quere-mos registrar nossos agradecimentos.

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Life histories and autobiographies in teacher education andteaching profession (Brazil, 1985-2003)*

Belmira Oliveira BuenoHelena Coharik ChamlianCynthia Pereira de SousaDenice Barbara CataniUniversidade de São Paulo

Abstract

The text offers a review within the area of Education of the worksthat make use of life histories and autobiographic studies as ascientific research methodology in Brazil. The period between1985 and 2003 is focused under two different slants, one tem-poral, and the other thematic: teacher education and teachingprofession. The main purpose here was to map out the nationalproduction, seeking to identify the themes that have emergedwith greater strength, pointing out deficient aspects, andsuggesting directions for future studies in this field. Severalsources were utilized: abstracts of theses and dissertations fromthe CAPES database; complete texts of theses and dissertationspresented to the graduate programs of the Pontifical CatholicUniversity of São Paulo – PUC-SP – and of the Faculty ofEducation of the University of São Paulo – FEUSP; books; andscientific journals. The analyses have shown that the use of theseapproaches has grown significantly in Brazil since the 1990s but,in a very disperse manner, they have been used more as a sourceof data for the development of a wide spectrum of studies, andonly timidly as formation devices. Nevertheless, it has becomeapparent that the rise of these methodologies has contributed toa renewal in the studies about teachers, at the same time that ithas fostered the interest in new issues and themes, such as thosedeveloped, for example, in the researches about profession,professionalization and teacher identity .

Keywords

Autobiographies — Life histories — Teacher education — Teachingprofession.

Contact:Belmira O. BuenoFaculdade de Educação/USPAv. da Universidade, 308e-mail: [email protected]

* This work had, in various stages ofdata gathering, the help of Daiane VieiraPiscinato, Elza Pino dos Santos, FláviaMedeiros Sarti, Flavinês Rebolo Lapo,Lia Mara dos Santos, Marcela Olivei-ra Soga, Renata Marcílio Cândido, Te-resa Van Acker, and Vera Lúcia dosSantos, to whom we would like toexpress our gratitude.

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As histórias de vida e os estudos auto-biográficos como metodologias de investigaçãocientífica na área de Educação ganharam visí-vel impulso no Brasil nos últimos quinze anos.Em comparação com o período anterior, a dé-cada de 1990 traz grandes mudanças, apresen-tando um crescimento vertiginoso dos estudosque fazem uso dessas metodologias, generica-mente denominadas de autobiográficas.

Sinais desse crescimento puderam logoser percebidos. Em 1996, por exemplo, quan-do da organização do 1º Seminário Docência,Memória e Gênero na Faculdade de Educaçãoda Universidade de São Paulo – FEUSP –, fo-ram recebidas cerca de 40 propostas de traba-lhos, entre pesquisas concluídas e em desenvol-vimento, vindas de instituições de vários pon-tos do país1 . Alguns anos depois, ao realizar umtrabalho para a Associação Nacional de Pós-Gra-duação e Pesquisa em Educação — ANPEd —,identificamos 40 trabalhos completos apresenta-dos em suas reuniões, entre 1991 e 20012 , e 35nos congressos do Encontro Nacional de Didá-tica e Prática de Ensino — ENDIPE —, de 1998a 2000, entre comunicações, mesas-redondas,painéis e pôsteres. O número expressivo de ins-tituições representadas nesses eventos (32 naANPEd e 21 no ENDIPE) era indicativo de queum movimento de grande adesão aos estudosautobiográficos e com histórias de vida de pro-fessores estava ocorrendo em todo o país, cujasfeições, no entanto, eram ainda pouco nítidas.Naquela ocasião, consideramos oportuno fazerreferência a uma passagem de António Nóvoa(1995), a propósito do caminho que os estu-dos com as histórias de vida vinham tomando.Era o ano de 1995, e ele dizia:

Em 1988, quando publiquei em colaboraçãocom Mathias Finger O método autobiográfico ea formação, as abordagens biográficas erampouco conhecidas em Portugal e a sua utiliza-ção na formação de professores não tinha qual-quer significado. Em 1992, quando da primeiraedição de Vidas de professores, a situação játinha mudado consideravelmente, o que me leva

a alertar contra a existência de práticas poucoconsistentes e de metodologias sem qualquerrigor. Hoje, em 1995, o aviso deve ser escritocom letras ainda mais cheias. (p. 9)

Essa advertência e mais as constataçõesde que tais estudos vinham ganhando terrenono Brasil ensejaram a realização do presentetrabalho, com o objetivo de mapear e caracte-rizar a produção nacional com base em umlevantamento mais exaustivo. Ao analisar oemprego das metodologias autobiográficas ehistórias de vida nas investigações sobre for-mação de professores e profissão docente, otexto busca caracterizar as tendências queemergiram com maior vigor, identificando as-pectos lacunares e buscando apontar direçõesque nos parecem férteis para futuros investi-mentos na área.

Considerando o crescimento da produ-ção, a abrangência e a diversidade dos estudosencontrados, a revisão foi realizada com base emdois recortes, um temporal e outro temático, parafocalizar um período de aproximadamente duasdécadas (1985 a 2003) e privilegiar dois temas –formação de professores e profissão docente.Consideramos também as questões de gênero,em razão de sua presença marcante nas pesqui-sas em Educação no período em análise, além deser este um dos focos de análise em nossas pes-quisas com autobiografias/histórias de vida.

As buscas dos trabalhos foram efetuadaspor meio dos seguintes descritores: histórias devidas, autobiografias, memórias, lembranças, de-poimentos orais, narrativas, entrecruzados comos dois eixos temáticos da revisão. Esse tipo debusca envolve o risco de não se identificar to-dos os trabalhos desenvolvidos nas perspectivasadotadas nesta revisão, devido a dois fatoresprincipais: o envio irregular das informações pe-

1. Ver Atas do 1º. Seminário Docência, Memória e Gênero da FEUSP(Catani et al., 1997).2. Esse trabalho foi apresentado na 25a Reunião Anual, no GT Formaçãode Professores, como trabalho encomendado, sob o título “Os estudoscom histórias de vida de professores, um campo emergente de pesquisas:questões metodológicas e perspectivas para as práticas de formação”(Bueno; Catani, 2002). O texto não foi publicado.

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los programas de pós-graduação à Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior— CAPES —; e a não-coincidência entre as pala-vras-chave constantes dos trabalhos com osdescritores por nós utilizados. Desse modo, aidentificação de trabalhos com tais característi-cas só se faria possível mediante buscas diretasnas bibliotecas das universidades, o que torna-ria inviável a realização do levantamento de na-tureza abrangente que se pretendeu realizar. Emvirtude de se ter lidado com fontes diversas,acredita-se que as análises não ficaram compro-metidas naquilo que apresentam como caracte-rísticas gerais da produção nacional. O corpus deanálise, dessa forma, ficou assim constituído:165 resumos de teses e dissertações, 155 dosquais obtidos no banco de teses da CAPES e osoutros 10 no da PUC-SP e em catálogos daFEUSP3; 39 textos completos de teses e disser-tações defendidas nos programas de pós-gradu-ação da PUC-SP e da FEUSP (instituições den-tre as que apresentaram maior produção); 11livros, selecionados mediante a utilização dosdescritores acima mencionados quando da con-sulta a catálogos de algumas das principaiseditoras da área de Educação4; e 30 artigospublicados em 8 periódicos científicos, dentre osmais expressivos na área de Educação.

O exame realizado tornou evidente queessa produção se caracteriza por uma enormedispersão, tanto temática quanto metodológica,decorrente, entre outros fatores, da multi-plicidade de referenciais teóricos utilizados naspesquisas. Os teóricos que dão sustentação aostrabalhos têm sido buscados em vários camposdisciplinares, fazendo-se empréstimos concei-tuais e combinações as mais variadas, nemsempre isentas de ambigüidades quanto às de-nominações metodológicas utilizadas. Sem pre-tender esgotar, menciona-se aqui uma lista dedenominações usadas pelos autores: memória(s),lembranças, relatos de vida (récit de vie), depo-imentos, biografias, biografias educativas, memó-ria educativa, histórias de vida, história oral devida, história oral temática, narrativas, narrativasmemorialísticas, método biográfico, método au-

tobiográfico, método psicobiográfico, perspec-tiva autobiográfica. Vale ressaltar que muitostrabalhos usam mais de uma denominação, dei-xando implícita a idéia de que são tomadascomo sinônimos. Outras vezes, busca-se com-plementar um sentido com outro, ou uma abor-dagem com outra, dificultando com isso o tra-balho de categorização. Em vista das dificulda-des que isso trouxe para se proceder à classi-ficação dos trabalhos, optou-se por uma expo-sição que se orienta pela cronologia de apare-cimento dos trabalhos, em cuja seqüência bus-camos identificar e destacar as tendências etemáticas que mais caracterizaram cada déca-da/período. Ao nos propormos a esse trabalho,não houve a pretensão de esgotar as muitasanálises que esse conjunto de trabalhos com-porta, ao contrário, a perspectiva foi a de ofe-recer um primeiro mapeamento, na tentativa dedar uma primeira ordenação a essa produçãocom vistas a suscitar novos exames.

Alguns antecedentes

Os dados coligidos para esta revisão le-varam à constatação de que a década de 1980não foi prolífica em pesquisas com autobiogra-fias e histórias de vida. A produção dos progra-mas de pós-graduação expressa em resumos(período de 1985-90) registra a presença deapenas quatro trabalhos que utilizaram taismetodologias e, ainda assim, não voltadas aostemas focalizados nesta revisão5 . Um único li-vro foi localizado – Experimentos com históri-as de vida (Itália-Brasil) – uma coletânea detextos organizada por Olga von Simson (1988)

3. Essa complementação foi feita em virtude de uma não correspondên-cia entre os resumos do Banco de Teses da CAPES e os trabalhos da PUC-SP e da FEUSP, quando buscados para a leitura completa.4. Foram pesquisadas as seguintes editoras, por ordem alfabética: Arte& Ciência, Artmed, Ática, Autores Associados, Cortez, DP&A, Escrituras,Mercado de Letras, Papirus, Pioneira, Unesp, Unijui e Vozes. Alguns des-ses livros foram produzidos inicialmente como teses. As referências es-pecíficas a cada caso são feitas mais adiante.5. Três desses estudos foram defendidos na Universidade Federal deMinas Gerais – UFMG – e um na Universidade Federal de Pernambuco –UFP. Os temas tratados versaram sobre fracasso escolar, relação profes-sor-aluno, alfabetização e leitura.

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na perspectiva da sociohistória da educação6 .A análise dos periódicos confirma esse cenáriode rarefação de estudos. Nas revistas analisa-das, chega a surpreender a tênue presença deartigos sobre história da profissão docente ouformação de professores por meio do métodoautobiográfico/histórias de vida e memórias devida escolar, tanto nesse período como na dé-cada seguinte. Em um conjunto de 363 exem-plares consultados, foram encontrados apenas30 trabalhos – menos do que 10% de todo omaterial pesquisado – conforme pode ser vis-to no Quadro 1.

Entretanto, deve-se assinalar o fato deque os textos examinados aproximam-se desi-gualmente dos eixos escolhidos para análise –a maioria deles fazendo recurso a histórias devida, memórias, lembranças, docência, profissãodocente para produzir contribuições na área deHistória da Educação. Entre os trabalhos publi-cados na década de 1980, em cinco deles (dosseis periódicos que já existiam na época) pre-dominam contribuições baseadas em relatosorais e escritos, com vistas a complementar e/ou articular-se a informações obtidas em ou-tras fontes. Ressaltam-se investigações quebuscam reconstruir trajetórias de formação etrajetórias profissionais de professores. Talconstatação anteciparia a marca de interesseque determinados grupos de pesquisadoresviriam a mostrar no decorrer da década de 1990e que podem ser conhecidos por registros decongressos e eventos, por exemplo, no que

tange tanto ao grupo de Minas Gerais como odo Rio Grande do Sul7 .

O lugar antecipado pelo texto “Os alu-nos e o ensino na República Velha através dasmemórias de velhos professores” (Demartini;Tenca; Tenca, 1985), publicado nos Cadernosde Pesquisa, fortalece-se, definitivamente, coma atuação de Zeila Demartini no território dapesquisa histórico-sociológica ligada aos estu-dos educacionais que, nesse caso, revelava ocotidiano de escolas rurais no estado de SãoPaulo por meio das memórias de antigos pro-fessores e alunos. Em 1989, essa autora publicatexto sobre o coronelismo e a expansão do sis-tema educacional em São Paulo, com transcri-ções de trechos de relatos orais de professores(Demartini, 1989). Mais à frente, em 1993, pu-blica, novamente nos Cadernos de Pesquisa,outro artigo que é mais um desdobramento desua pesquisa dos anos de 1980, com as memó-rias de velhos professores (e professoras), cujaatuação no magistério primário se deu até ofinal da Primeira República (Demartini, 1993).Nesse texto, de modo especial, a questão dogênero é considerada, mas com auxílio dereferenciais teóricos que tratam do trabalho fe-minino (Michael Apple, Cristina Bruschini etc.).Nesse sentido, para a história da profissãodocente, com recurso dos relatos/depoimentosorais, fornece informações preciosas sobre acondição de trabalho das professoras (magisté-rio como profissão) em comparação aos bene-fícios e privilégios de que gozavam os homensprofessores (magistério como carreira)8 .

Nesse período, Educação em Revista(Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)também traz contribuições relevantes para a

6. Entre os capítulos desse livro, figuram dois textos dentre os que vie-ram a ser referência para muitas pesquisas, tanto nessa época como de-pois: o de M. Isaura Pereira de Queiroz (1988) – “Relatos orais: do indi-zível ao dizível” – e o de Zeila Demartini (1988) – “Histórias de vida naabordagem de problemas educacionais”. Nos próximos parágrafos, serãofeitas mais observações a respeito dessa orientação teórico-metodológica.7. Uma análise preliminar sobre a produção veiculada nos periódicos foiapresentada no Simpósio Internacional Escrever a Vida. Novas aborda-gens de uma teoria da autobiografia. São Paulo, Universidade de São Pau-lo, FFLCH,,,,, setembro de 2005 (Sousa; Catani, 2005).

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história da profissão docente, porém diferenci-adas entre si. Um dos textos adota uma pers-pectiva que se configura como uma históriadas disciplinas (nesse caso, acadêmica) ao exa-minar a Psicologia da Educação como matériade cursos de formação de professores. Frag-mentos de histórias de vida de 18 docentes sãoutilizados para analisar o trabalho com essadisciplina entre 1925 e 1984, na capital mineira(Goulart, 1986). Em 1989, um texto que apa-rece na seção de Comunicações chama a aten-ção para a trajetória de uma professora da zonarural – Mestra Iraci – que ao ser entrevistadapor duas alunas do curso de Pedagogia resol-veu escrever, ela própria, seu relato. Esse ma-terial utilizado na publicação era exigência deuma disciplina e parte de pesquisa de Lea Pi-nheiro Paixão, da UFMG, que nos inícios dosanos de 1990 publica artigo, nessa mesma re-vista, sobre professoras primárias mineiras quetinham iniciado suas carreiras entre 1924 e1938 (Paixão, 1991). No caso desse texto, Pai-xão recorreu a entrevistas de 35 professoras,investigando seu pertencimento social, sua for-mação e sua condição profissional. Não hádúvida de que o estudo tem muito a dever,nesse tema, ao pioneirismo de Zeila Demartini.

Ainda nos anos de 1980, a revista Edu-cação e Realidade (Universidade Federal do RoGrande do Sul – UFRS) publica texto que remetediretamente à pesquisa sobre educação femini-na nesse estado, por meio do estudo de práti-cas escolares e pedagógicas de uma instituiçãopública centenária na cidade de Porto Alegre(Louro, 1986). Entre outros recursos, sua auto-ra utilizou-se de depoimentos/relatos orais demulheres que, no passado, tinham sido persona-gens daquele universo escolar como alunas eprofessoras. A autora Guacira Lopes Louro, queviria a produzir outros tantos trabalhos sob aperspectiva das relações sociais de gênero, co-locou bastante ênfase na questão da dominaçãomasculina, bem como nas estratégias de resistên-cia das mulheres, uma abordagem bastante novaem estudos sociohistórico educacionais.

Na Revista Brasileira de Estudos Peda-

gógicos, foi localizado apenas um artigo, nes-sa perspectiva na década de 1980, bem distintodos demais. Trata-se de um texto escrito emprimeira pessoa, em que a autora (Soares, 1984)aproveita seu memorial de concurso de profes-sora titular para apresentar sua trajetória acadê-mica. Trata-se, portanto, de artigo baseado emtrajetória de vida profissional, no qual não seconsidera a infância nem as primeiras experiên-cias escolares, mas apenas a militância acadê-mica e a ideologia que influenciou seu traba-lho intelectual.

Em congressos, reuniões científicas,seminários, dissertações e teses, essas temáticasapareceram com maior freqüência. Se no gru-po dos trabalhos publicados na década de1980 é possível observar o quase generalizadoesforço de defesa do recurso às fontes ligadasà memória e às histórias de vida, pela nature-za das informações às quais tais fontes/proce-dimentos podem dar acesso, a questão do gê-nero – uma abordagem ainda incipiente nosestudos educacionais – não foi consideradanas análises, muito embora vários desses textostenham tratado das relações entre trabalho econdição feminina.

Dessas constatações deriva uma outra:a de que os anos de 1990 foram o cenário doincremento da produção de trabalhos em tor-no dos grandes eixos aqui apresentados.

Anos de 1990: o contextobrasileiro e as influências européias

Uma compreensão sobre os percursosda pesquisa educacional, no que tange aomovimento que ocorre em direção às aborda-gens autobiográficas, não poderia prescindir dealgumas considerações sobre o contexto brasi-leiro nos anos de 1990, bem como sobre asinfluências vindas de outros países e que aquise repercutem a partir desse período.

8. Uma análise preliminar sobre a produção veiculada nos periódicos foiapresentada no Simpósio Internacional Escrever a Vida. Novas aborda-gens de uma teoria da autobiografia. São Paulo, Universidade de São Pau-lo, FFLCH,,,,, setembro de 2005 (Sousa; Catani, 2005).

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Um primeiro ponto a ser registrado éque no Brasil as discussões em torno da forma-ção do professor e de sua profissionalizaçãointensificaram-se no período que antecedeu aaprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-cação Nacional (LDBEN 9394/96), a partir daqual os professores e os pedagogos passarama se denominados de profissionais da Educação(art. 61 a 67). Essa ênfase, no entanto, não eraisolada. Na verdade, fazia coro com um movi-mento mais geral, que emergia e se alastravapor toda parte, tanto nos países desenvolvidoscomo naqueles em desenvolvimento. A Améri-ca Latina foi palco de muitas reformas nos anosde 1990, todas, sem exceção, dando destaquepara o papel central dos professores na cons-trução da nova escola que então se passou avislumbrar. Embora no Brasil o movimento so-bre os profissionais da educação tenha se ini-ciado na década de 1970, dá-se ênfase aquiaos debates dos anos de 1990, em razão de sesupor que eles contribuíram para acentuar o in-teresse pelas abordagens autobiográficas e comhistória de vida de professores que, justamen-te nesse período, se multiplicam com enormerapidez, como demonstrado nesta revisão.

Olinda Evangelista e Eneida Shiroma(2003) mostram que órgãos como o Fundo dasNações Unidas para a Infância – UNICEF – e aOrganização das Nações Unidas para a Educa-ção, a Ciência e a Cultura – UNESCO – chama-vam a atenção para a problemática da profis-sionalização docente desde o início dos anosde 1990, e que as propostas a esse respeito jáestavam contidas em documentos da ComissãoEconômica para a América Latina e o Caribe –CEPAL – e do Proyecto Principal de Educaciónen América Latina y el Caribe – PROMEDLAC –também desde o início daquela década. Elasobservam que, em 1993, profissionalização foiconceito central da reforma educativa discutidanaquele Projeto, ao lado das discussões sobre asredefinições do perfil e da formação do professor.

Ao realizarem uma análise sobre os tra-balhos do GT Formação de Professores daANPEd, referente ao período de 1995-2002,

essas autoras constatam que o emprego dotermo profissionalização cresceu significativa-mente, nesse período, reportando-se

[...] à pessoa do professor, à prática docente, àqualificação da categoria do magistério, à qua-lidades inerentes à função, à requalificaçãoprofissional, à formação inicial, à formaçãocontinuada, ao modelo profissional, à mudançaradical do perfil docente. (p. 27-28)

Entre outras considerações, elas cha-mam a atenção para o fato de que os trabalhosanalisados baseavam-se “em uma literatura in-ternacional majoritariamente de origem européiae norte-americana” (p. 31), sem fazer umainterlocução com a própria América Latina.

O contexto descrito por Evangelista eShiroma e os dados por elas apresentados ex-plicam, em grande parte, a emergência dosestudos autobiográficos no Brasil, bem comovárias das marcas de sua produção. Com efei-to, o acesso a textos publicados em Portugal edistribuídos aqui, reunindo colaborações deautores portugueses, franceses, suíços, italia-nos, com teorias e investigações sobre o méto-do autobiográfico como recurso metodológicoe como fonte de pesquisa, foi um dos aspec-tos definidores do cenário que se desenha nosanos de 1990. A publicação em Portugal, em1992, de Vida de professores e Profissão pro-fessor, duas coletâneas organizadas por Anto-nio Nóvoa (1995a; 1995b), teve enorme reper-cussão no Brasil. Essas coletâneas contaramcom a participação de autores de diferentespaíses – Ivor Goodson e Peter Woods, da Ingla-terra; Miriam Ben-Peretz, de Israel; José GimenoSacristán e José Manuel Esteve, da Espanha;Daniel Hameline, da Suíça; Michäel Huberman,do Canadá; dentre outros autores – que depoisvieram a se tornar referências para muitos tra-balhos no Brasil. Antes disso, em 1988, Nóvoahavia organizado com Mathias Finger umaoutra obra, O método (auto)biográfico e a for-mação (1988), que já havia despertado grandeinteresse no contexto lusófono e acabou tam-

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bém chegando às mãos de muitos pesquisado-res brasileiros9 .

Data também desse período a criação doGrupo de Estudos Docência, Memória e Gênero daFEUSP (GEDOMGE-FEUSP), no ano de 1994,cujas concepções foram, em grande parte, tribu-tárias dos trabalhos liderados por Gaston Pineau,Pierre Dominicé e Marie-Christine Josso, desen-volvidos na Universidade de Genebra10 , e queàquela altura já se constituía em uma rede amplade pesquisadores de vários países – França, Itá-lia, Canadá, Portugal, entre outros. Seguindo asconcepções desses pesquisadores, como coorde-nadoras do GEDOMGE, colocamos o método au-tobiográfico em prática numa dupla perspectiva:para operar como dispositivo de formação e, aomesmo tempo, como instrumento de pesquisa11 .

As concepções do grupo de Genebra,por sua vez, encontravam suas raízes em proble-máticas que emergiram no âmbito das ciênciashumanas, sobretudo, nos finais do século XX(Josso, 1999). O que se verifica nos últimos 30anos é que as transformações do modelo socialdesse período são acompanhadas de formas desocialização em que os processos de indivi-dualização e subjetivação encontram um lugarcada vez maior. A acentuação dessas formas desocialização está ligada às transformações soci-ais que contêm a passagem das sociedades na-cionais, industrializadas e centralizadas, paraformas de sociedade cujos organismos políticos,sociais e econômicos perdem sua centralidade,em que as instituições não têm mais a mesmacapacidade de integração e nas quais os ‘indi-víduos’ são compelidos a provar mais e maisiniciativa e autonomia e encontrar neles pró-prios os recursos e forças para sua conduta.

É nesse contexto que ‘a questão dosujeito’ retorna por via das ciências sociais apóster sido esvaziada nos anos de 1960 e 1970. Aoretornar, reaparece na cena sociológica comoum sujeito despojado da dimensão essencialistae atemporal, que lhe conferia a filosofia clássi-ca, mas fortemente inscrito em uma realidadesociohistórica, ela própria cambiante e instável.A disciplina sociológica pode desenvolver agora

uma teoria do ‘ator social’, construindo o sen-tido de sua experiência e se fazendo o ‘sujei-to’ de sua ação (Delory-Momberger, 2003). Deacordo com Christine Delory-Momberger, osrelatos de vida vão conhecer um interesse re-novado na Europa por volta da metade dosanos de 1970. Orientada para os campos pro-fissionais, a abordagem biográfica suscita tra-balhos de sociologia crítica, a partir da compi-lação de relatos de vida que servem para esta-belecer trajetórias e percursos profissionais. Nosanos de 1980, o objeto de pesquisa se deslo-ca da coleta de informações, que permitemreconstituir as práticas de uma mesma catego-ria socioprofissional, para considerar a singula-ridade dos relatos obtidos e tratados em simesmos (Catani; Mazé, 1982). Essa evolução éacompanhada de uma dupla reflexão: a que serefere ao estatuto da história de vida e seu valor,como documento científico, e a que se preocu-pa com o relato, como objeto de linguagem esobre sua dimensão de autocriação como prá-tica autopoiética (Le Grand; Pineau, 1993).

Como parte desse processo, as históriasde vida também aparecem no campo da forma-ção que as utilizam como arte formadora daexistência (Pineau, 1996). O relato não é maissomente considerado em uma perspectiva depesquisa etnosociológica, mas como um cam-po de experiência e um instrumento de explo-ração formadora. Delory-Momberger acentuaque é preciso distinguir os procedimentos depesquisa, pois deles resultarão materiais de in-vestigação bastante diferentes. Segundo ela,

A autobiografia e o relato oral de vida nãofuncionam no mesmo registro: a primeira é umaatividade solitária de introspecção, enquantoque a segunda, conduzida em interação, é uma

9. Evangelista e Shiroma (2003), ao comentarem os trabalhos da ANPEd,observam que entre os autores mais citados desponta António Nóvoa, com 23%.10. A esse respeito, consultar: Dominicé, 1988; 1990; Josso, 1988;Pineau, 1988.11. Informações sobre a história da criação do grupo podem ser encon-tradas em Catani et al. (1997) e Bueno (1998). Sobre a linha de trabalhodo grupo, consultar os artigos: Bueno et al. (1993); Sousa et al. (1996);Catani; Bueno; Sousa, 2000; entre outros.

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palavra endereçada, atenta aos efeitos que elaproduz sobre seu destinatário. (2003, p. 5)

Da mesma forma, Josso (1999) distin-gue as histórias de vida como ‘projeto de co-nhecimento’ e as histórias de vida ‘a serviço deprojetos’. No primeiro caso, o relato oral, ouescrito, tenta abranger a totalidade da vida emseus diferentes registros, bem como em suaduração, mas na maior parte das vezes dá-se osegundo caso, em que a história produzidapelo relato é limitada a uma entrada que visafornecer o material útil a um projeto específi-co. Em outras palavras, se a intenção é produzirconhecimento sobre algum tema ou situaçãoutilizando relatos (orais ou escritos), teremoscomo resultado trabalhos que, colocando-seem novo paradigma (do sujeito e do ator rea-bilitado), são bastante distintos daqueles emque o método autobiográfico opera como ins-trumento de formação e funciona como projetode conhecimento global do sujeito.

Esses aspectos e essas diferenciaçõesquanto às concepções e aos modos de pôr ométodo autobiográfico em ação, ao ganharemadesão crescente e se espraiarem por todo oBrasil, acabaram por adquirir feições própriasaqui. Foi surpreendente, no entanto, observarque, a despeito de vários desses autores euro-peus estarem na origem das motivações quelevou tantos pesquisadores a desenvolveremtrabalhos com autobiografias e histórias de vida,a perspectiva da pesquisa/formação defendidapor eles teve pouca ressonância no Brasil, comoserá visto a seguir.

Anos de 1990: crescimento,diversidade, tendências

A análise do material reunido, referen-te ao período que se estende entre 1990 e2003, foi reveladora não apenas de um visívelcrescimento das pesquisas nesse período, mastambém de uma significativa diversificação dasmodalidades e dos usos das autobiografias ehistórias de vida. Esses estudos espraiaram-se

para além do domínio da sociohistória da edu-cação, marca predominante na década anteri-or, para explorar novos temas e construir novosobjetos. Essa diversidade e as tendências que semostraram mais marcantes nessa produção se-rão examinadas a seguir. Antes, porém, consi-derou-se importante apresentar alguns indica-dores quantitativos para oferecer uma visãogeral sobre o crescimento dos estudos, comeles também indicando o papel que os progra-mas de pós-graduação jogaram nesse processo.

Teses e dissertações: o papel dos

programas de pós-graduação

Os dados obtidos no Banco de teses daCAPES mostram que o ano de 1995 foi um mar-co nesse movimento de crescente adesão aosestudos com histórias de vida. De uma produ-ção que oscilou entre 2 e 4 trabalhos por ano,entre 1990 e 1994, há um salto em 1995, coma marca de 14 trabalhos: 10 mestrados e 4doutorados. Esse número correspondeu a quaseo dobro dos trabalhos produzidos nos cincoanos precedentes, tal como pode ser visto noGráfico 1 (próxima página).

Daí para frente, com pequenas oscila-ções, as pesquisas de pós-graduação que fazemuso dessas abordagens aumentam continua-mente, chegando a atingir a cifra de 30 traba-lhos só no ano de 2003. No período compre-endido entre 1990 e 2003, foram localizados165 trabalhos, sendo 128 de mestrado e 37 dedoutorado, defendidos em instituições de todasas regiões do país, com a participação de 21universidades federais, além de outras – esta-duais, PUCs e universidades privadas. É prová-vel que esse número seria ainda maior se fos-sem feitas buscas diretas em todas as bibliote-cas dessas universidades.

A USP foi a detentora da maior produção,com 24 trabalhos; seguida, em ordem decrescen-te, pela Universidade Federal de Santa Maria –UFSM –, no Rio Grande do Sul, com 16 trabalhos,e pela PUC-SP, com 15. Entre as universidadesprivadas, sobressaíram-se a Universidade da Cida-

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de de São Paulo – UNICID – e a UniversidadeMetodista de Piracicaba (estado de São Paulo) –UNIMEP –, cada uma com 6 trabalhos12 .

Na FEUSP, Elza Nadai foi, na década de1990, uma das pioneiras em desenvolver estu-dos sobre os professores e suas memórias, tra-balhando em uma perspectiva que, derivandoda história oral, aproximava-se dos estudoscom histórias de vida de professores, tal comoviriam a se multiplicar nesse período. Em 1990,Ricardo Ribeiro defendeu, sob sua orientação,a dissertação Inspeção e escola primária em SãoPaulo: trabalho e memória (1990). E, no anoseguinte, ela própria, sua tese de livre-docência– A educação como apostolado: história e re-miniscências (São Paulo 1930-1970), utilizan-do o que ela denominava de récit de vie (Nadai,1991). Nessa pesquisa, em que a autora com-bina vários procedimentos e fontes, foi estuda-do um grupo de professores do antigo ensinosecundário, por meio de um amplo leque dequestões – representações, memória, discurso,formação, escola, sociedade, profissionalização.Apoiado em uma diversidade de autores – PaulVeyne, Le Goff, Bosi, Halbwachs, Thompson, M.Isaura P. Queiroz –, esse trabalho filia-se à his-tória da profissão docente, tal como DeniceCatani (2000) já o havia incluído.

Também pioneiro, porém em linha bemdiversa, foi o trabalho realizado por M. Ignez

Joffre Tanus, em sua tese defendida em 1992na FEUSP, sob o título Mundividências – histó-ria de vida de migrantes professores. Publicadadepois como livro (Tanus, 2002), o trabalhoexplora as visões de mundo, os processos desubjetivação e de identificação presentes na pro-fissão, buscando compreender o imaginário e arealidade de grupos de migrantes-professores, apartir de duas questões básicas: a da identida-de e a da construção da noção de realidade. Aautora aproveita a situação de um trabalhoempírico para colher depoimentos dos infor-mantes acerca de suas histórias de vida, reali-zando o que ela denomina de uma ‘escutasensível’ (Tanus, 2002).

Esses trabalhos são indicativos não ape-nas do movimento que estava se iniciando emdireção às autobiografias e histórias de vida, nadécada de 1990, mas também de sua diversifi-cação. Nessa década, vamos com efeito encon-trar essa característica no recurso das históriasde vida e das memórias, cujos usos vão muitoalém do domínio da sociohistória da educação,como já observado. Assim é que se buscam com-preender especificidades da atuação de grupos de

12. Uma análise sobre os dados obtidos junto ao Banco CAPES foi apresen-tada no Simpósio Internacional Escrever a Vida. Novas abordagens de umateoria da autobiografia. São Paulo, Universidade de São Paulo, FFLCH,,,,, setem-bro de 2005. Nesse trabalho, constam outras tabelas que permitem visualizarmelhor a distribuição dos trabalhos entre as instituições do país (Bueno, 2005).

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profissionais docentes, de áreas e disciplinas diver-sas, pela alternativa das histórias de vida como pro-cedimentos de pesquisa. Ampliam-se igualmente asreferências às autobiografias e o gênero (literário)passa a ser valorizado pela sua contribuição aoentendimento de especificidades da vida escolar,do exercício da profissão docente, da construçãode representações e relações com a escola e o co-nhecimento, entre outras13 . E são justamente as-pectos como esses que serão sublinhados pelostextos que, no período, introduzem, por meio de ar-tigos publicados em periódicos e livros, a hipótesedo recurso a memória/histórias de vida/autobiogra-fias como procedimentos de formação. Inserindo-seem expressivo movimento internacional, observávelpelas produções educacionais oriundas da França,Canadá, Portugal e Suíça, os textos que propugnampelo caráter formador das histórias de vida apresen-tam-se também como fontes para a compreensãodas peculiaridades da formação e especificidades dassituações educativas formais e informais14 . Se sepode identificar um traço comum aos textos pu-blicados na década de 1990, talvez este seja o doesforço pela multiplicação do potencial expli-cativo/formador das memórias/histórias de vida/autobiografias. Nesse sentido, o recurso a elas éinvocado para permitir a compreensão do proces-so de mudança e desenvolvimento dos professo-res, observando-se uma proliferação de interessessuscitados pela vaga das histórias de vida e suaextensão a universos educativos variados.

Com efeito, o conjunto dos trabalhosanalisados evidenciou um grande espraiamen-to dos estudos autobiográficos, caracterizadopor um leque amplo de temas e perspectivas deanálise, mas com algumas convergências. Assimé que foram recorrentes os trabalhos que bus-cam, por exemplo, compreender especificidadesda atuação de grupos de profissionais docen-tes de áreas e períodos diversos, tal como pôdeser observado tanto nos trabalhos de pós-gra-duação como em livros e artigos.

Ainda que também dispersos no con-junto, foi possível identificar nesse âmbito tra-balhos que guardam maior proximidade entresi, como no caso dos estudos que derivam da

história oral e se situam em uma intersecçãocom a perspectiva das histórias de vida de pro-fessores. Vários desses trabalhos foram defen-didos na FEUSP, dentre os quais: o mestrado eo doutorado de Ricardo Ribeiro (1990 e 1996)– um sobre a atuação de antigos inspetores es-colares nos anos de 1930-45 e o outro, deantigas professoras primárias nos anos de 1925-1945; a pesquisa de Eleny Mitrulis (1993) tam-bém sobre os inspetores, mas abrangendo oinício da atuação dos supervisores de ensino; esobre período mais recente, as dissertações deDaiane Vieira (2002) e Elza Pino dos Santos(2003) – a primeira versando sobre a atuaçãode antigos diretores, homens que fizeram car-reira no magistério entre 1950-1980; e a se-gunda, o trabalho de professoras primárias queatuaram entre as décadas de 1960-1980. Forado âmbito da pós-graduação, também houveestudos nessa linha, como pode ser visto nolivro de Sanches (1999) – Orientação educacio-nal e o adolescente. Nele, a autora trabalhacom dez histórias de vida (orais) para compre-ender a atuação do orientador educacional,valendo-se também de um relato de sua própriaexperiência durante os anos de graduação.

Em outros estudos, a atuação de gruposde profissionais foi estudada a partir de outrascategorizações como, por exemplo, de professo-res negros ou afrodescendentes (Rofino, 1996;Ribeiro, 2001), de professores que tiverammilitância política (Dobbeck, 2000), de professo-res leigos (Rodrigues, 2001), entre outras.

Ao lado dessa temática, outras tambémse mostraram recorrentes, sobretudo nos traba-lhos de pós-graduação. A análise dos resumospermitiu verificar, por exemplo, que os docentesdo ensino fundamental e as áreas de Alfabetiza-

13. A esse respeito, ver o texto de Denice Catani (1991), “Pedagogia emuseificação”, no qual ela explora as potencialidades da obra memo-rialística de Elias Canetti – A língua absolvida – para a compreensão daeducação, da formação e da vida escolar. Ver também os trabalhos indica-dos na nota seguinte, nos quais se explicita o uso que foi feito dessa obraem cursos e projetos de formação docente.14. Essas características são típicas dos trabalhos desenvolvidos pelaspesquisadoras do GEDOMGE-FEUSP. Entre outras pesquisas, suas tesesde livre-docência também versaram sobre autobiografias e histórias de vida. Ver: Catani (1994), Bueno (1996), Sousa (2000) e Chamlian (2004).

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ção e Matemática se constituíram nos focos demaior atenção, enquanto que no ensino superi-or foi a de História de Educação, com uma pro-dução de 25 trabalhos. Embora um bom númerodesses trabalhos tenha se voltado ao estudo dasantigas escolas normais, foi curioso observar queo tema das relações de gênero não ganhou aênfase que haveria de se esperar. Isso ocorreunão apenas em relação a esse tema, mas tambémno conjunto dos trabalhos, de vez que apenascinco indicaram ter utilizado a categoria gêne-ro, dois destes em parceria com a categoriaetnicidade para focalizar a questão do professornegro. Importante registrar que essa temáticavem se acentuando nos últimos anos, como seráreferido mais adiante, neste texto.

O tema da identidade profissional sur-preendeu pela alta recorrência, seguido de pertopor outros dois: saberes docentes e educaçãocontinuada. Essa recorrência foi observadanotadamente nos resumos. Entre os trabalhoscompletos selecionados, menciona-se o deCarmen Lúcia Pérez (2002), defendido naFEUSP, que usou narrativas orais e escritas. Aquestão da construção da identidade (tal comoo tema é enunciado na maior parte das vezes)apareceu com maior freqüência nos trabalhosdefendidos na PUC-SP, dentre os trabalhos se-lecionados para leitura completa; mas ao seconsiderar os resumos, esse foi um tema estu-dado em todas instituições. Profissionais deáreas as mais diversas foram estudados sob essefoco, notadamente os professores. Alguns títu-los que aparecem nos resumos a partir de 1995servem para ilustrar a tônica desse conjunto detrabalhos: Memória e identidade: a travessia develhos professores através de suas narrativas; Aprofessora alfabetizadora: caminhos e descaminhosna construção de uma identidade; A representaçãoidentitária no professor de história: um estudocom depoimentos orais; Identidade, culturas ememórias de ex-professores; Autoformação, his-tórias de vida e construção de identidades do/aeducador/a; Identidades musicais de alunas depedagogia: música, memória e mídia; Identidadedo diretor da escola pública: compromisso com a

transformação do cotidiano escolar.Além dos professores, observou-se um

interesse pelo estudo da identidade dos professo-res negros (Rofino, 1996) e afrodescendentes(Oliveira, 2001)15 , assim como por aqueles que jáse aposentaram e se encontram em fase de enve-lhecimento (Stano, 2001a)16 . Esse tema estevepresente em uma série de estudos que contem-plam a questão identitária a partir de outros ân-gulos. É o caso das pesquisas que analisam pro-cessos de escolha profissional (Enge, 2004) ou asque contemplam os percursos de formação. Al-guns desses trabalhos se interessam por examinaro modo pelo qual os profissionais se tornaramprofessores (Hage, 1997); outros, como o deixa-ram de ser, como no caso do estudo de FlavinêsLapo (1999) que analisou as histórias de vidaprofissional de docentes que abandonaram omagistério e/ou a escola pública. Um outro con-junto de estudos, ainda nessa perspectiva, inves-tiga a construção da identidade a partir dos sig-nificados atribuídos, pelos professores, à profissãoe ao trabalho docente. Uma modalidade recentede estudos que se alinham ao tema da identida-de, a grande maioria de mestrado, diz respeitoàqueles em que os autores se propõem à análisede sua própria trajetória profissional. Buscam eles,em geral, compreender como vieram a se tornaros professores que são – de arte, de história,biologia, educação especial, alfabetizadores/as17 ,entre outros. Sobre a questão da identidade edesse tipo de estudos, serão feitas algumas con-siderações na seção final deste texto.

Os livros

A leitura dos livros reiterou alguns desses

15. Esse trabalho foi defendido no Instituto de Psicologia da USP. NaANPEd, trabalhos versando sobre temática da identidade dos professoresnegros aumentou com a criação do GT Estudos Afro-Brasileiros e Educa-ção. Entre 2002 e 2003, foram localizados quatro estudos com esse foco.16. Esse trabalho de doutorado, orientado por Mere Abramowicz, foipublicado como livro logo a seguir, no mesmo ano (Stano, 2001b).17. Estudos desse tipo, em nível de doutorado, foram identificados dois:o de Pereira (1997), defendido na PUC-SP, e o de Warschauer (2000),defendido na FEUSP.18. A expressão foi utilizada por Ivor F. Goodson (1992), na coletâneaVidas de professores (Nóvoa, 1992).

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temas, mas fez ressaltar outros, sobretudo pelofato de nem todos terem sido produzidos comoteses ou dissertações. Vários resultaram de proje-tos desenvolvidos por grupos de pesquisa e, emmuitos deles, os autores valem-se das narrativascomo matéria prima para a análise, focalizando aprofissão sob os mais diversos ângulos.

Selva Fonseca (1997) assina o livro Serprofessor no Brasil, utilizando-se da história oralde vida mediante o registro da história individu-al dos sujeitos que fazem e ensinam história.Isso permitiu produzir documentos e interpreta-ções nos quais os personagens explicitam e atri-buem diferentes sentidos às suas experiências,mostrando como suas produções e suas açõesprofissionais estão intimamente ligadas ao modopessoal de ser e viver. Por sua vez, o livro deGeni Vasconcelos (2000) – Como me fiz profes-sora – é uma coletânea de artigos sobre histó-rias de vida de professores, alguns tratando detemáticas relativas à construção da identidadeprofissional; outros, a partir de narrativas dospróprios professores, sobre suas histórias deformação. Segundo a organizadora, o objetivofoi o de buscar, por meio desse trabalho, resgataro respeito à categoria do magistério, dandovoz18 aos professores; e o de também mostrarque a identidade do professor se tece commúltiplos fios. Próximo dessa linha de trabalho,situa-se um capítulo de autoria de Cynthia deSouza (1998) “Fragmentos de histórias de vidae de formação de professoras paulistas”, no qualela apresenta resultados de uma pesquisa base-ada em entrevistas com uma centena de mulhe-res pertencentes a estratos médios urbanos, cujoobjetivo foi o analisar a escolha do magistériocomo profissão, por meio do resgate de aspec-tos de sua memória familiar e profissional.

O livro Identidade do professor no enve-lhecimento (Stano, 2001b) também elege a ques-tão da identidade, com o objetivo de investigarcomo o exercício profissional determina, colaborae marca a qualidade do envelhecimento dos pro-fessores. Nesse sentido, ouvindo as histórias devida de docentes aposentados, procura captar oque restou, o que tem determinado sua forma de

viver a velhice, como produto de singularidadeshistóricas e culturais. Pelas narrativas, foi possívelobservar a correspondência assegurada pelohabitus entre o antes e o depois, já que, uma vezafastado da escola e de todo o grupo de profis-sionais correspondentes, mantém-se o conjuntode práticas e modos incorporados durante o exer-cício profissional. Os professores elaboraram oseu envelhecer mantendo o tempo de seu ‘ser-pro-fessor’ por meio de contatos com os alunos ex-alunos/novos alunos. Quando perguntados sobrequal a sua profissão, respondem: sou professoraposentado, evitando, segundo a autora, a ‘dis-sociação do Eu’ na aposentadoria e assegurandoum envelhecer professoral.

Sob esse ângulo, o livro de Isabel M. Bello(2002), Formação, profissionalidade e prática do-cente19 , pode complementar-se com o de RitaStano ao investigar a profissão tomando por baseos ciclos de vida profissional (Huberman, 1992).Nele, ela analisa, a partir do ponto de vista dasprofessoras, comportamentos, destrezas, atitudes evalores necessários à formação profissional pormeio das histórias de vida de três professoras porela entrevistadas. Visa, com isso, à compreensão deaspectos da formação e da profissionalização do-cente. Do ponto de vista dos ciclos de vida, Bellose detém em fases que antecipam aquela contem-plada por Stano (2001a e 2001b), quando os pro-fessores já não estão mais na profissão, mas ain-da se sentem e se vêem como professores.

As questões da profissionalização e daformação foram contempladas, sob outros pris-mas, em outros livros publicados no períodoem análise, alguns focalizando a prática peda-gógica dos professores com vistas à sua trans-formação, outros, o autoconhecimento e o co-nhecimento sobre o professor, a constituição desua subjetividade e a formação.

Em uma perspectiva backtiniana, as ques-tões da formação e da profissionalização foram

19. Originalmente o trabalho foi apresentado como dissertação demestrado na Universidade Paulista – UNIP.20. A propósito dessa temática, cumpre registrar a tese de M. CatarinaCuri (2001), Memórias de leitura de professoras primárias no estado de SãoPaulo: uma história leitura contada por professoras, defendida na PUC-SP.

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tratadas em duas coletâneas que resultaram deuma pesquisa conjunta sobre leitura e escrita deprofessoras. Um deles é Histórias de professores– leitura, escrita e pesquisa em educação, deSonia Kramer e Solange Jobim e Souza (1996), eo outro, Narrativas de professoras: pesquisandoleitura e escrita numa perspectiva sócio-histórica,de M. Teresa de Freitas (1998). Kramer e Souzautilizam as histórias de vida como alternativa paraos estudos sobre a prática pedagógica, enfa-tizando o papel do sujeito ativo e criativo e aprodução, por meio das narrativas, de um conhe-cimento que se situe na encruzilhada de váriossaberes. A entrevista é como uma construção deintertextos, e as falas, mais do que respostas, sãouma ação dialógica por meio da qual o sujeitoconstrói e reconstrói sentidos. Freitas (1998), porsua vez, busca saber como os professores lêem,escrevem e como construíram essa relação ao lon-go de suas vidas. O grupo considerou que osefeitos do método autobiográfico se fizeram sen-tir, tanto para aquele que narra, organizando suasexperiências vividas e lhes atribuindo significado,quanto para o pesquisador que, ao colher as en-trevistas, com o pesquisado se identifica20 .

Próximo dessa temática é o livro deAna Chrystina Mignot e M. Teresa Santos Cu-nha (2003), Práticas de memória docente, cujostextos focalizam a escrita de professores e pro-fessoras, visando enriquecer as discussões so-bre as práticas de memória docente construídasna e sobre a escola. A obra é organizada porconjuntos de textos que contemplam, no pri-meiro, a ‘escrita ordinária’ de professores, pro-duzida sob os mais diferentes pretextos, quepermite perceber a escola como um espaço devalorização da escrita e de busca de liberdadede expressão21 . O segundo conjunto dedica-sea textos que trabalham com a escrita autobio-gráfica de docentes que “lançaram a mão daescrita para registrar, reivindicar propor, resistir,eternizar, enfim, a própria vida” (p. 13)22 .

Por outro lado, o trabalho organizadopor M. Helena Barreto Abrahão (2001) – Histó-ria e histórias de vida. Destacados educadores fa-zem a história da educação rio-grandense –,

além de trazer as histórias de vida de doze edu-cadores, apresenta “elementos histórico-sociaisdo contexto de inserção dessas histórias em seuconjunto [...]” (p. 29). De acordo com AntónioNóvoa, que escreveu o prefácio, esse livro nãose fecha apenas nos registros biográficos, namedida em que os autores procuraram confron-tos que iluminassem suas interpretações, assu-mindo que a história de vida é sempre uma‘construção’, na qual também participa o inves-tigador. As três categorias que serviram de ma-triz analítica para a análise e interpretação des-sas histórias de vida — formação, vida pessoal/profissional e construção de identidade — cons-tituem, segundo ele, “os limites justos de umainterpretação sensata” (p. 9).

Na categoria de trabalhos que relatam,sobretudo, experiências de pesquisa/formaçãofazendo uso do método autobiográfico e quediferem, nesse sentido, dos trabalhos até aquidescritos, foram localizados apenas três: asduas coletâneas organizadas pelas coordenado-ras do GEDOMGE-FEUSP: Docência, memória egênero: estudos sobre formação (Catani et al.,1997) e A vida e o ofício dos professores: for-mação contínua, autobiografia e pesquisa emcolaboração (Bueno et al., 1998); e o livroComo nos tornamos professoras?, de RoseliCação Fontana (2000), cuja pesquisa aproxima-se dessa perspectiva de trabalho.

As duas primeiras publicações resulta-ram de um projeto de educação continuada de-senvolvido pelo GEDOMGE, entre 1993 e 1997.Dele participaram professoras (e alguns poucosprofessores) da rede pública, por meio de umtrabalho que, ao fazer uso da escrita autobiográ-fica, teve por objetivo levar os professores acompreenderem e a se apropriarem de sua pró-pria história. Docência, memória e gênero, comoindica o nome do grupo, constituíram-se no

21. De certo modo, essa tese contraria as conclusões de Kramer; Souza(1996), que afirmam, a partir das entrevistas, que a escola parece atuarmais na formação do não-leitor do que na do leitor.22. O livro organizado por Celso Martinazzo (2000) – Histórias de vidade professores: formação, experiências e práticas – é outra coletânea coma história de lembranças, experiências e momentos marcantes da vida deum grupo de professores, porém, pouco analítico, quase meros relatos.

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tríplice foco de trabalho, que se vale da leiturada obra memorialística de Elias Canetti, A línguaabsolvida, como pretexto para a produção auto-biográfica das professoras. No capítulo “História,memória e autobiografia na pesquisa educacio-nal e na formação”, as autoras dão ênfase, deum lado, à vertente de investigação que o mé-todo autobiográfico suscitou na experiência deformação; de outro, o potencial trazido pelotrabalho da memória e da contramemória nocampo da profissão docente. A outra coletânea,A vida e o ofício dos professores, traz novosresultados da pesquisa, tanto do ponto de vistateórico como das práticas de formação desen-volvidas pelo grupo. A segunda parte do livroinclui os textos dos onze professores, que che-garam até o final da experiência, como forma deexplicitar mais autenticamente os resultadosdesse projeto de pesquisa/formação e de produ-ção de (auto)conhecimento por parte do grupo.

O trabalho de Roseli Cação Fontana(2000), Como nos tornamos professoras?, éfruto da transcrição das discussões de um gru-po de estudos e de pesquisa que durante doisanos se reuniu na qualidade de professoras-pesquisadoras, com o propósito de investigar aprópria condição profissional. O grande inves-timento do estudo concentrou-se na análisedas características do trabalho docente em seufazer cotidiano. As histórias de vida aparecemde forma complementar para esclarecer um dosaspectos – a escolha da profissão – presentesna análise da constituição do ser profissional.O relato de seis professoras entre 20 e 45 anosde idade é oportunidade para trazer à tonaalguns dos principais temas presentes na ques-tão da escolha da profissão docente, tais como:dom, vocação, adesão/identificação, aprendiza-do, aprendizado com o outro.

Os periódicos

Se nos anos de 1990 assistimos a umperíodo de expansão e incremento dos estudossobre educação que recorrem às histórias devida/autobiografias, tal como ficou patente na

produção de pesquisas de pós-graduação e noslivros (considerando-se que a maior parte sãocoletâneas e como tal contou com a participa-ção de vários autores), isso não significa que onúmero de artigos em periódicos científicos te-nha acompanhado esse crescimento. A rarefaçãode estudos com autobiografias/histórias de vidaveiculados pelas revistas, tal como já registradaa propósito da década anterior, permanece pra-ticamente a mesma, embora em números abso-lutos tenha havido um crescimento.

Entre os anos de 1990-1993, seguindoa mesma tendência dos trabalhos de pós-gradu-ação e livros, as produções veiculadas nos pe-riódicos se espraiam em temas que contemplamquestões referentes a diferentes parcelas de pro-fissionais do magistério, mas a tônica principaldos investimentos parece ser a explicitação deespecificidades do trabalho e da profissão do-cente. Coincidindo com a perspectiva evidenci-ada nos anos de 1990, do interesse pelos estu-dos sociohistóricos da profissão docente, a ten-dência ao recurso às memórias/histórias de vidaparece afirmar-se nesse domínio pelo seu poten-cial de conhecimento/pesquisa.

Em quatro artigos publicados, apare-cem trabalhos representativos dos estudossociohistóricos da educação. Dois deles, já re-feridos anteriormente, foram publicados noinício dos anos de 1990: o de Lea Paixão(1991), sobre antigas professoras primáriasmineiras que trabalharam entre 1924 e 1938,em Educação em Revista; e o de Zeila Demartinie Fátima Antunes (1993), sobre o magistérioprimário como profissão para as mulheres ecarreira para os homens, nos Cadernos de Pes-quisa. Além desses, figuram outros dois artigospublicados por Educação e Realidade e Educa-ção em Revista, ambos em 1994. O primeiro, deRosa M. Silveira (1994), traz uma análise daobra de Helena Morley, Minha vida de menina,no qual ela examina a representação da figurado professor no final do século XIX e enfatizaaspectos tais como a ambivalência profissio-nalismo/proletarização, feminização do magis-tério, saberes docentes, entre outros, ainda que

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o interesse maior recaia sobre as condiçõessociohistóricas nas quais a obra literária é pro-duzida. O outro artigo, de M. de Fátima Fortes(1994), examina características da escola ruralmineira do início do século XX (1918-1939), apartir do depoimento de 12 professoras de ori-gens sociais diferenciadas, que nasceram emdiversos pontos do estado entre 1898 e 1920.Esses depoimentos foram selecionados entre os35 utilizados na pesquisa “Trajetórias escolarese profissionais de professoras primárias minei-ras que iniciaram carreira antes de 1940”, co-ordenada por Lea Paixão.

Ao lado dessa tendência, aparece nosperiódicos analisados uma outra vertente de es-tudos autobiográficos, representada notada-mente pelos trabalhos do GEDOMGE. Essestextos explicitam as concepções do grupo naperspectiva da pesquisa/formação, tratadas sobdiferentes focos em cada um dos três textospublicados. O primeiro deles, que leva o títulohomônimo do grupo, foi publicado na revistaPsicologia USP, em um número temático sobrememória (Bueno et al., 1993). Nele, as autorasbuscam analisar os fundamentos teóricos e aspotencialidades práticas de formação de pro-fessores, baseados em interpretações autobio-gráficas e relatos de formação intelectual. Abor-dam também questões teóricas relativas à me-mória individual e coletiva, aos processos tra-dicionais de educação docente e aos estudossobre gênero, em especial sobre a condiçãofeminina e o trabalho do magistério, destacan-do a fecundidade da proposta de criação deuma contramemória profissional, mediante aprodução de autobiografias e relatos no proces-so de formação continuada de professores. Nosegundo texto — “Memória e autobiografia:formação de mulheres e formação de professo-ras” (Sousa et al., 1996) — publicado na RevistaBrasileira de Educação, as análises incidemsobre especificidades, constituição e recupera-ção da memória individual e da memória femi-nina, buscando examinar os vestígios e as con-figurações dessas especificidades em relatos demulheres professoras a respeito de suas expe-

riências de vida. A partir daí, enunciam-se algu-mas possibilidades novas acerca das relações pe-dagógicas e dos processos de formação escolar.Em “O amor dos começos: por uma história dasrelações com a escola” (Catani; Bueno; Sousa,2000), publicado nos Cadernos de Pesquisa, asautoras buscam explicitar e discutir, tambémcom base em relatos autobiográficos escritos, aspeculiaridades das relações que os indivíduos(homens e mulheres, alunos e professores) man-têm com a escola e com as diferentes discipli-nas, assim como os significados dessas relaçõesem histórias de escolarização e na formação daidentidade dos professores. O objetivo, comonos textos anteriores, é o de propor novasmodalidades de formação que estimulem dispo-sições favoráveis ao conhecimento.

Outra temática, baseada em estudoscom histórias de vida que também se fez repre-sentar nos periódicos, tem como foco a leitu-ra e escrita de professores. Dois desses artigosforam publicados por Sônia Kramer, pesquisa-dora da Pontifícia Universidade Católica do Riode Janeiro — PUC-RJ —, na linha de trabalhoque desenvolve desde 1993, com base nas te-orias de Walter Benjamin e Bakhtin, tal como járeferido a propósito do livro Histórias de pro-fessores: leitura, escrita e pesquisa em educa-ção (Kramer; Souza, 1996). O artigo veiculadoem Cadernos de Pesquisa procura analisar ex-periências de leitura e escrita de professores,tecidas ao longo de suas histórias de vida etrabalho, abordando o processo de construçãode conhecimento, para compreender como foiconstruída sua relação com a escrita e de queforma essa relação influencia a prática escolar(Kramer, 1999). No texto seguinte, que apare-ce em Educação em Revista, a autora apresen-ta uma síntese da produção de seu grupo depesquisa, retomando a temática em torno daqual o grupo se articulou ao longo da décadade 1990 (Kramer, 2000). Um pouco antes, em1998, esse mesmo periódico publicou um arti-go de Antonio Augusto Batista (1998), pesqui-sador da UFMG. O texto trata das relações deprofessores de Português com a leitura, base-

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ada em estudos de sociologia da educação, dafamília e das práticas culturais. Nele, o autoranalisa práticas de leitura docente, baseando-seem dados coletados por meio de vários instru-mentos, entre os quais: as lembranças redigidaspor docentes a respeito de seu processo deformação como leitores.

A questão da identidade, tão recorren-te nos trabalhos de pós-graduação e nos livros,apareceu de modo reduzido nas revistas. Ape-nas três artigos foram localizados: um deles naRevista Brasileira de Estudos Pedagógicos; ooutro em Educação em Revista; e o terceiro naRevista Brasileira de Educação. Lea Paixão(1995), em seu artigo “Cátedra e hegemonia daprática docente na Faculdade de Medicina daUniversidade Federal de Minas Gerais”, examina aidentidade social dos biólogos a partir de depo-imentos de professores, ex-professores e ex-alu-nos, mostrando os conflitos e as tensões que searticularam à emergência e institucionalização dabiologia como disciplina acadêmica no currículodaquela escola de medicina. No segundo texto,Anna Maria Caldeira (2000) utiliza fragmentosda história de vida de uma professora de ori-gem rural, que lecionava em uma escola públicade Barcelona, como recurso para compreendero processo de constituição de sua identidade.A história é recolhida no âmbito de um estudoetnográfico, no qual a pesquisadora focaliza aprática pedagógica da professora. Consideran-do os contextos em que essa identidade é for-jada, ela mostra que seus traços constitutivosforam construídos e reconstruídos ao longo desua profissionalização, desde o momento da es-colha da profissão e da formação inicial até ainserção e prática profissionais. Com base nesseestudo, Caldeira afirma que a construção daidentidade não pode ser vista como um proces-so atemporal, permanente e estável. O terceirotexto, publicado na Revista Brasileira de Educa-ção, é de autoria de Isabel Lelis (2001). O temaé a identidade social do magistério, para cujaanálise a autora se vale de histórias de vida deprofessoras do Rio de Janeiro que atuam emescolas públicas e privadas do ensino funda-

mental. Com base nas narrativas, Lelis analisoua trajetória social e instrucional das professo-ras, considerando vários aspectos, dentre osquais: suas famílias de origem e identidadesocial, a retórica da missão do sacerdócio e davocação, as questões de gênero como umacategoria importante para compreender a en-trada na profissão (que deve ser articulada aclasse social, etnia e geração).

De caráter exclusivamente teórico-me-todológico, versando sobre histórias de vida eautobiografias, são dois os artigos publicadospor Educação e Pesquisa, um em 1999 e ooutro em 2002. O primeiro é de autoria deMarie-Chistine Josso (1999), pesquisadora daUniversidade de Genebra, que oferece um am-plo panorama europeu e internacional de auto-res que desenvolveram pesquisas nesse campo,cuja exposição se faz a partir de seu própriopercurso em direção às histórias de vida. Nele,Josso busca distinguir as “histórias de vidacomo projeto de conhecimento das perspecti-vas biográficas temáticas a serviço de projetosespecíficos”. O outro texto examina as relaçõesentre o método autobiográfico e os estudoscom histórias de vida de professores, com des-taque para a questão da subjetividade (Bueno,2002). O texto também apresenta uma visãogeral sobre os vários usos que, na década de1990, vinham se fazendo dos estudos com au-tobiografias e histórias de vida, baseada em co-letâneas organizadas por Nóvoa (1992a; 1992b)e Goodson (1992).

O tema da profissão e profissionalizaçãodos professores apareceu em apenas dois artigos.Derivados de uma pesquisa que investigou aevasão de professores da escola pública em SãoPaulo, no período de 1990-1995, ambos to-mam por base as histórias de vida profissionalde 16 professores, para examinar a questão doabandono da profissão e o desencanto dosprofessores com a escola pública, sob doisfocos. O primeiro texto, publicado na revistaPsicologia USP, examina os vínculos e as rup-turas com o trabalho docente, a partir de con-siderações sobre o sentido do trabalho, do

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ponto de vista social, psicológico, pessoal(Lapo; Bueno, 2002). No outro, publicado nosCadernos de Pesquisa, o foco recai sobre astrajetórias e circunstâncias que levaram o gru-po de docentes em estudo a deixar a escolapública e/ou a própria profissão. Ao analisaremas etapas que caracterizam o processo de aban-dono, as análises chamam a atenção para oestresse e o burnout que acometem os profes-sores em tais processos (Lapo; Bueno, 2003).

Um único texto examinou o desenvolvi-mento profissional do professor, um tema atéentão não identificado em outros estudos. Publi-cado na Revista Brasileira de Educação, o autorrecorre à história de vida de uma professora dematemática, como metodologia de pesquisa, paraidentificar as percepções dos professores sobre asmudanças que ocorreram em seu pensamento e/ou prática ao longo dos anos, focalizando tam-bém suas percepções a respeito de experiênciase/ou desafios que poderiam tê-los influenciadonessas mudanças (Polettini, 1998).

Finalmente, cabe mencionar três textosque tratam de temas esparsos e nos quais ashistórias de vida ou narrativas biográficas foramutilizadas de modo tangencial. Um deles apa-receu na Revista Brasileira de Estudos Pedagó-gicos; outro, nos Cadernos de Pesquisa; e oterceiro, em Educação e Realidade, tratando suaautoras respectivamente dos seguintes temas:Yolanda Lôbo (1996), da trajetória de vida e deformação de Cecília Meireles, com destaquepara sua tese “O espírito vitorioso”, apresenta-da ao concurso que prestou na Escola Normaldo Distrito Federal; M. Isabel Cunha (1996), deexperiências inovadoras de ensino de professo-res universitários, com base em depoimentos ecom ênfase sobre seus sistemas de valores,representações e símbolos culturais, inclusive osde caráter afetivo; e Nádia Souza (2000), sobrerepresentações de corpo-identidade, em umaperspectiva foucaultiana. Na pesquisa, essaautora se vale, entre outras estratégias, de fo-tos e narrativas de professores e professoras debiologia para levá-los a falar sobre as práticasvivenciadas em suas famílias e as implicações

destas na produção dos seus corpos-identida-des. É relevante observar os pontos de conta-to entre esse estudo e a dissertação de GercinaSantana Novaes (1995), O corpo da aprendiza-gem: um estudo sobre representações de cor-po de professoras da pré-escola, na qual aautora investiga, no âmbito de um estudoetnográfico combinado com memórias, as re-presentações de corpo de professoras da pré-escola, cujo propósito foi o de analisar os sig-nificados dessas representações para as açõespedagógicas desenvolvidas nas aulas, bemcomo buscar os movimentos de constituição e(re)produção dessas representações.

Considerações finais

O exame realizado nesta revisão, con-templando o uso das autobiografias e históri-as de vida em investigações sobre formação deprofessores e profissão docente, permitiu che-gar a algumas conclusões. A primeira, e certa-mente a mais importante, é que a intensificaçãode tais metodologias aqui no Brasil, sobretudo apartir dos anos de 1990, contribuiu para reno-var a pesquisa educacional sob vários aspectos,notadamente no que diz respeito à pesquisa e àformação de professores, fazendo aflorar o inte-resse por questões e temáticas novas, tais comoas que se configuram nos estudos sobre profis-são, profissionalização e identidades docentes.Embora as principais características da produçãoanalisada tenham sido apontadas ao longo dotexto, algumas serão retomadas aqui com vistasa comentar alguns aspectos lacunares, a partirdas quais gostaríamos de oferecer algumas indi-cações para futuros estudos da área.

O fato de termos trabalhado com váriasfontes impediu que as análises descessem amuitos detalhes, mas por outro lado veio a favo-recer uma série de aspectos. Primeiramente, o fatode permitir uma visão simultaneamente quantita-tiva e qualitativa dos trabalhos, possibilitandoidentificar o espraiamento dos estudos pelas re-

23. Dados do levantamento feito em 2002 (Bueno; Catani, 2002).

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giões e universidades do país, o crescimento aolongo dos anos, as características e diversidadedos trabalhos, a partir das quais se constatou otraço principal: a enorme dispersão dessa produ-ção. Foi também possível verificar que houve umdesequilíbrio nas formas de divulgação e circula-ção das pesquisas. Considerando-se o número detrabalhos defendidos nas pós-graduações e ostrabalhos apresentados em congressos23 no perí-odo, verifica-se que apenas uma parte dessa pro-dução foi publicada em livros, a maioria coletâ-neas e, de forma mais rarefeita, como artigos emperiódicos científicos. Ao se considerar que mui-tos dos livros, capítulos de livros e artigos resul-taram de trabalhos de grupos de pesquisas e nãode teses e dissertações, tem-se ainda mais claroque os trabalhos gerados pelos programas de pós-graduação ficaram circunscritos a um nível limi-tado de divulgação.

Disso talvez resulte uma outra caracte-rística dos trabalhos analisados: a quase abso-luta ausência de diálogo das pesquisas com asproduções da área, em muitos casos, sem seconsiderar os resultados dos trabalhos produ-zidos na própria instituição do pesquisador. Emvista disso, não causou tanta estranheza queboa parcela deles não faça referência a proje-tos sobre formação e profissionalização docenteque, em plano nacional e internacional, vêmsendo desenvolvidos em países vizinhos. Colo-car os professores no centro dos debates nãofoi uma idéia que surgiu aqui por acaso, poisestá contida há mais de uma década nas refor-mas que propugnam pela redefinição de seuperfil e pela construção de ‘um novo professor’.Alguns autores de países diversos chegam atémesmo a sugerir uma ‘reinvenção da profissãodocente’24 . Tudo isso, certamente, faz com queas expectativas que pesam sobre esse profissi-onal se tornem ainda maiores. Por isso, não sepode tomar as autobiografias sem maiores cui-dados, como se fossem panacéias que por si sópodem transformar os professores e as escolas.

O quer se quer dizer com isso é que nãobasta dialogar apenas com trabalhos que tenhamutilizado as mesmas abordagens metodológicas.

Faz-se também necessária uma interlocução comas produções de outros contextos, indo alémdos teóricos da Europa e América do Norte. Pelasimilaridade das problemáticas educacionais edas reformas que se acham em curso nos paísesda América Latina/Caribe, é desejável que asquestões propostas aqui estejam também a elasreferenciadas. Mais ainda quando se trabalhacom memórias e narrativas e se advoga que asautobiografias favorecem ao sujeito uma apro-priação de sua própria história, que é não ape-nas individual, mas também coletiva. Poderíamosnos perguntar, que história coletiva é essa, hoje?Talvez seja esse um dos caminhos férteis para sediscutir e problematizar a questão das identida-des/auteridades.

Outra marca que se ressalta no exame dostrabalhos analisados é a imprecisão conceitual. Adespeito de muitos pesquisadores esclarecerem osentido dos termos empregados, as imprecisõesterminológicas persistem no conjunto da produção,por duas razões interligadas: primeiro, devido àenorme diversidade de expressões empregadas,muitas das quais utilizadas como sinônimos, comose houvesse um consenso a esse respeito25 ; de-pois, pelo fato de haver uma tácita desconsideraçãopela própria história das histórias de vida, suas ori-gens, seus avanços, seus recuos, bem como sobreas concepções e os usos que delas se fazem hojeem diferentes campos – na história, sociologia, an-tropologia, psicologia, literatura, além de outras26 .Disso resulta que os pressupostos das perspectivas

24. Mello; Rego (2004), ao se referirem a esse discurso, mencionamautores de vários países – Portugal, Brasil, Argentina, Espanha, França –dentre os que reiteram e endossam tais idéias.25. Gostaríamos de remeter o leitor para o texto de Gaston Pineau, noqual ele faz um mapeamento de expressões utilizadas por diferentes auto-res, tomando como entrada a palavra vida (biografia, autobiografia etc.).Sua lista não contempla, portanto, muitas das expressões e denominaçõesque encontramos nos trabalhos analisados nesta revisão.26. Ver, por exemplo, a relação de obras e autores que constam no finalde duas coletâneas: a de Olga von Simson (1988), Experimentos comhistórias de vida, e a organizada por Nóvoa e Finger (1988), O métodoautobiográfico e a formação. É também oportuno mencionar dois trabalhosem que as autoras oferecem contribuições valiosas, sobre o trabalhoconceitual aqui indicado, ao descreverem seus percursos teóricos no tra-balho com histórias de vida. São eles: “História de vida e projeto: a históriade vida como projeto e as ‘histórias de vida’ a serviço de projetos”, deChristine Josso (1999); e “Autobiografias, pesquisa histórico-sociológicae educação”, de Zeila Demartini (2005).

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adotadas nos trabalhos nem sempre se fazem ex-plícitos, ao contrário, aparecem muitas vezes am-bíguos e até contraditórios. Contribui com isso aliberalidade com que são feitas as apropriações te-óricas, nem sempre com os cuidados que o trans-porte de conceitos de uma área para a outra requer.Desse modo, se por um lado pode-se admitir queessa liberalidade é indicativa de uma revitalizaçãoda área da Educação, que não pode sobrevivernem crescer sem empréstimos conceituais, de outrolado, deve ser vista como um alerta contra abusose descuidos que, contrariamente, acabam porfragilizar a área e tornar os resultados das pesqui-sas pouco confiáveis ou valiosos.

Nessa mesma direção, deve-se acrescen-tar uma questão complementar às formas deapropriação dos procedimentos autobiográficos,que diz respeito às narrativas em primeira pessoa– muito presentes em dissertações e livros –, emgeral utilizadas para ilustrar, exemplificar, contar,oferecer depoimentos sobre a formação e a tra-jetória profissional de professores. Esses trabalhos,que possuem o mérito de fazer ecoar as vozes dossujeitos, atores do campo educacional, terminampor se constituir em um rol de casos isolados,abertos a interpretações sem fim, à espera de queos leitores cheguem, por si mesmos, à já clássicaafirmação de Ferrarotti, a de que

[...] o nosso sistema social encontra-se integral-mente em cada um dos nossos atos, em cada umdos nossos sonhos, delírios, obras, comportamentos.E a história deste sistema está contida por inteirona história da nossa vida individual. (1988, p. 26)

Talvez, o aprofundamento sobre essesaspectos, notadamente sobre as apropriaçõesconceituais e uma definição mais precisa dosreferenciais teóricos e procedimentos de pes-quisa e de formação pertinentes ao campo dasautobiografias e histórias de vida, possa auxi-liar na indicação dos percursos a seguir, paraproceder a apropriações sem que com isso seesteja a reinventar os autores a cada momen-to, transformando as potencialidades em limi-tações. Essa não é uma questão simples, mais

ainda quando se pretende sustentar que asnarrativas em primeira pessoa são modalidadesférteis para a educação e a formação.

Uma outra constatação a que se chegoué que a despeito da enorme diversidade de usosque os trabalhos exibem, paradoxalmente, o que seobserva é a prevalência de um modelo único, devez que caracterizado quase que exclusivamentepelo modelo das histórias de vida ‘a serviço deprojetos’, para usar a expressão de Christine Josso(1999). Na modalidade pesquisa/formação, alémdos trabalhos de nossa autoria, realizados na ver-tente do ‘processo autobiográfico em formação’(Dominicé, 1990; Josso, 1988; 1991), identifica-mos apenas mais um que se aproxima dessa cate-goria: o livro de Roseli Cação Fontana (2000),Como nos tornamos professoras? Assim, surpreen-dentemente, o modelo das biografias educativasdesenvolvido pelo grupo de Genebra, cujas idéiasinspiraram tantos trabalhos com histórias de vidano Brasil, não vicejou em nosso contexto. E, noentanto, a grande potencialidade dos estudosautobiográficos reside, justamente, no seu poten-cial explicativo/formador, além de se constituíremcomo fontes para a compreensão das peculiarida-des da formação e das especificidades das situa-ções educativas. No que tange à produção do pós-graduação, essa crítica deve ser relativizada namedida em que a exigüidade do tempo para rea-lizar os cursos, aliada à inexperiência da maioriados jovens pesquisadores, não permite muitasousadias metodológicas.

A propósito da questão da identidade,pelo fato de ter sido a temática mais recorren-te nos trabalhos, gostaríamos de também regis-trar algumas observações. A questão identitáriaé seguramente um dos temas mais candentes dacontemporaneidade. Por isso, pode-se admitirque esse conjunto numeroso de trabalhos fazparte de uma tendência que vem se acentuan-do há mais de uma década em outros países,sobretudo nos contextos francófonos, nos quaisa noção de identidade tem sido adotada poraqueles que desejam compreender, no campoda Educação e da Formação, como as mudan-ças individuais e coletivas se processam. Jean-

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Marie Barbier (1996) considera que a noção deidentidade é um paradigma particularmente útilpara se pensar e acompanhar as mutações erecomposições sociais que se operam nos diasde hoje. Todavia, como seus usos têm sido muitovariados e, além do mais, freqüentemente acom-panhados de imprecisões teóricas e epistemo-lógicas, a noção de identidade segundo ele temgerado grande confusão, chegando mesmo acolocar em dúvida sua fecundidade. Daí porquese faz necessário e importante examinar aspec-tos teóricos e conceituais envolvidos nessa ca-tegoria. Considerando esses aspectos e pensan-do em futuros trabalhos, algumas perguntas po-dem ser feitas: o que move tanto os professo-res a se perguntarem pela identidade docente,por sua própria identidade? Seriam tais indaga-ções evidências de uma crise da profissão,para cujas respostas as histórias de vida pare-cem dar alento? Por que estariam os professo-res indagando tão reiteradamente sobre suasescolhas, seus lugares e pelos sentidos queencontram na profissão? Tratar-se-ia de umabusca da (re)invenção de si? Nesse caso, comquais instrumentos teóricos?

Na mesma direção, pensamos que cabeainda chamar a atenção para uma modalidadede pesquisa que se tornou freqüente nos últi-mos anos: o estudo da própria história de vidapelo pesquisador. No caso dos trabalhos anali-sados nesta revisão, a maioria em nível demestrado (com duas exceções já mencionadas),o que se notou é que essa modalidade pareceter sido utilizada muito mais pela facilidade dese produzir um trabalho em curto prazo do queuma opção teórica calcada em convicções te-óricas e pressupostos claros. Tendo se envolvi-do em um processo de se autobiografrar, essestrabalhos trouxeram certamente ganhos paraseus autores, mas do ponto de vista acadêmi-co poucos têm algo a dizer. Não se trata, por-tanto, de negar as possibilidades nem mesmo a

riqueza que trabalhos desse tipo podem trazer,mas sim de insistir sobre necessidade de se li-dar com instrumentos teóricos que apenas amaturidade intelectual pode oferecer. Nessa li-nha, podem ser mencionados alguns casosexemplares: Cheminer vers soi, a tese deChristine Josso depois publicada como livro(Josso, 1991), e os Ensaios de ego-história,uma coletânea de textos de vários historiado-res – Agulhon, Chaunu, Duby, Girardet, Le Goff,Perrot e Rémond – que, estimulados por PierreNora, foram levados a narrar suas próprias his-tórias e seus próprios percursos, utilizando paratal os recursos teóricos com os quais estudarame analisaram as histórias de outrem (Agulhon etal., 1989). São contrapontos talvez por demaiscontrastantes, mas necessários para dizer dasexigências de um trabalho de tal natureza.

Essas foram algumas das ponderaçõesque nos pareceram relevantes de serem pontu-adas nestas considerações finais, muito maisdentro de um espírito de abertura a novas aná-lises do que de encerramento ou de conclusõesdefinitivas. A intenção foi a de agregar novoselementos a respeito dos modos de conceber eutilizar as metodologias em questão. Nesse sen-tido, não é demais reafirmar mais uma vez que,a despeito das lacunas observadas, o uso inten-so que se fez das autobiografias e histórias devida trouxe dados importantes para o debate eaprofundamento das questões referentes à pes-quisa educacional, no que tange à formação deprofessores e profissão docente, focos de aná-lise desta revisão. O mesmo não se podendodizer sobre as questões de gênero que, contra-riando a presença marcante que tem tido emoutras áreas no mesmo período, não se mostrouum foco privilegiado nos estudos com autobio-grafias e histórias de vida. Eis, portanto, maisuma das indicações que queremos registrar,dentre as que merecem ser levadas adiante eexploradas em futuros estudos.

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Recebido em 09.05.06Modificado em 22.05.06

Aprovado em 26.06.06

Belmira Oliveira Bueno é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Foi professora visitanteda University of North Carolina at Chapel Hill (EUA), desenvolve pesquisas na área de formação de professores e profissãodocente. É pesquisadora do CNPq e atualmente atua como co-editora do International Handbook on Urban Education(Dordrecht: Springer), responsável pela seção da América Latina.

Helena Coharik Chamlian é professora livre-docente da FE-USP. Desenvolve pesquisas na área de formação de professores,especialmente no campo de formação contínua. Coordenou recentemente Projeto de cooperação Internacional (CAPES-COFECUB) em colaboração com Jean Biarnés da Universidade Paris 13. Realiza no momento pesquisa-formação usandoprocedimentos autobiográficos com futuros professores universitários. E-mail: [email protected].

Cynthia Pereira de Souza é formada em Pedagogia pela FE-USP. Nessa mesma instituição obteve seus graus de Mestra eDoutora em Educação e, desde 2000, é professora associada (Livre-docente), título obtido em concurso público. Seus temasde pesquisa estão ligados a uma história das relações sociais de gênero no campo da educação; às investigações sobrememória, relatos autobiográficos e formação continuada de professores e, mais recentemente, aos estudos sociohistórico-comparados sobre educação primária. E-mail: [email protected].

Denise Catani é professora titular e coordenadora do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da USP.Pesquisadora do CNPq e autora de trabalhos acerca de história da educação brasileira e formação de professores. Temdesenvolvido estudos acerca das questões de memória, autobiografia e formação e também acerca da história da educaçãocomparada Brasil-Portugal. E-mail: [email protected].