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volume 3 | nmero 3 / 2010 ISSN 1983-7836
Marcelo M. NagataTtulo: Hoshisora
Sumrio
Dossi Temtico APRESENTAO - DOSSI MODA E CONHECIMENTO: INTERFACES COM AS CINCIAS HUMANAS E A COMUNICAO............................................................................................................................................................1 Maria Claudia Bonadio, Maria Gabriela S. M.C. Marinho e Solange Wajnman
MESA-REDONDA: MODA E CONHECIMENTO: INTERFACES COM AS CINCIAS HUMANAS E A COMUNICAO...............................................................................................................................................................5 Maria Claudia Bonadio, Maria Gabriela Marinho e Solange Wajnman A PRODUO ACADMICA SOBRE MODA NA PS-GRADUAO STRICTO SENSU NO BRASIL......50 Maria Claudia Bonadio CONFIGURAES SOBRE A EDUCAO NO SETOR DE MODA..................................................................147 Daniela Delgado
CONSIDERAES SOBRE MODA, TENDNCIAS E CONSUMO.....................................................................170 Amanda Queiroz Campos e Sandra Regina Rech MODA, CAMPO NO HERMENUTICO E MATERIALIDADE DA COMUNICAO: POR UMA ABORDAGEM TRANSVERSAL EM MODA............................................................................................................199 Solange Wajnman e Silvia Cristina Jardim A MODA COMO EXPRESSO CULTURAL E PESSOAL.....................................................................................227 Renata Pitombo Cidreira Artigos ANTES E DEPOIS: A FABRICAO DE ARQUTIPOS INSTANTANEOS NOS PROGRAMAS DE TV......245 Andra Portela e Ludmila Brando NO PRINCPIO ERA A ROUPA..................................................................................................................................259 Rafaela Norogrando EXPERINCIA ESTTICA: A MODA EM ALGUMAS INTERSECES COM A ARTE FUTURISTA E SURREALISTA...............................................................................................................................................................274 Ana Carolina Acom SOBRE O CARTER TENEBROSO DO NOSSO DESIGN....................................................................................292 Raphael DallAnese Durante Resenhas PARA ALM DA FUNO, A COMUNICAO...................................................................................................305 Winnie Bastian
ROBERTO CARLOS ABRE AS PORTAS DE SEU REINO......................................................................................310 Mara Zimmermann
Iara - Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo - V.3 N3 dez 2010
Entrevista ENTREVISTA COM GILLES LIPOVETSKY: MODA E CONHECIMENTO: INTERFACES COM AS CINCIAS HUMANAS E A COMUNICAO...........................................................................................................................316
Memria APRESENTAO & ENTREVISTA COM ANA FRIDA SPEIGLER VON ENDREFY........................................326 Suzana Avelar, Solange Wajnman e Alexandre Bergamo Teses & Dissertaes OS USOS DO BORDADO..........................................................................................................................................367 Cleide Floresta
JOO AFFONSO (1855-19124): ENTRE PALAVRAS, DESENHOS, COSTUMES E MODAS...................369 Fernando Hage
BONECAS DA MODA (2010)..................................................................................................................................372 Angela Covacs
HOSHISORA.................................................................................................................................................................379 Marcelo M. Nagata
Iara - Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo - V.3 N3 dez 2010
MODA E CONHECIMENTO: INTERFACES COM AS CINCIAS HUMANAS E A
COMUNICAO
Maria Claudia Bonadio
Maria Gabriela S. M.C. Marinho*
Solange Wajnman*
APRESENTAO
Em seu livro a Era dos Extremos, o prestigiado historiador britnico Eric
Hobsbawm atribui aos desenhistas de moda uma aguda capacidade de antecipao
dos eventos que moldam as sociedades contemporneas em seu futuro imediato1.
De modo elegante e sutil, Hobsbawm reconhece nos estilistas habilidades que
deveriam, por dever de ofcio, estar mais desenvolvidas nos profetas profissionais -
um modo irnico do autor se referir aos pesquisadores das cincias humanas e
sociais.
Considerado uma das grandes referncias intelectuais da cena internacional
nas ltimas dcadas, Hobsbawm nos oferece um insight que, por caminhos diversos,
podemos reencontrar no debate realizado conjuntamente pelo Centro Universitrio
SENAC e pela Universidade Paulista no final de agosto de 2010, aqui sistematizado
na forma de dossi. Para o evento, denominado Moda e Conhecimento:
Organizadoras do dossi Moda e Conhecimento: interfaces com as Cincias
Humanas e a Comunicao
1 A citao literal abre o captulo 6 nos seguintes termos: O motivo pelo qual brilhantes desenhistas de moda, uma raa notoriamente no analtica, s vezes
conseguem prever as formas dos acontecimentos futuros melhor que os profetas
profissionais uma das mais obscura questes da histria; e para o historiador da
cultura, uma das mais fundamentais (HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos, SP, Companhia das Letras, 1995, p.178).
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 Apresentao Dossi
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interfaces com as Cincias Humanas e a Comunicao, estiveram presentes as
professoras e pesquisadoras Lucia Santaella (PUC-SP), Maria Lcia Bueno (UFJF),
Teresa Cristina Toledo de Paula (Museu Paulista-USP) e Cristiane Mesquita (SENAC).
Ao longo do encontro, trajetrias de pesquisa diversificadas e fecundas foram
reconstrudas e assinalaram a capacidade heurstica da Moda enquanto dispositivo
social e como objeto de estudo. Manifestao cultural para a qual convergem a
esttica, o imaginrio coletivo e a base material da sociedade na qual est inserida, a
moda e seus artefatos so ao mesmo tempo objeto de desejo individual e poderosa
alavanca de produo econmica.
Demarcada pelo advento da chamada modernidade, caleidoscpica e
prismtica, a Moda escapa das anlises exclusivamente totalizantes. Desafia
intelectualmente por ser ao mesmo tempo complexa como objeto de estudo e quase
trivial pela forma como rapidamente devorada e re-significada pelas hierarquias de
consumo. Captar, sistematizar, interpretar e analisar tantos aspectos, tarefa que
certamente mobilizar geraes de pesquisadores por dcadas a fio. O que
podemos assinalar neste momento a intensa atividade de organizao que se
verifica no pas em todos os mbitos associados.
Nas duas ultimas dcadas, o mercado da moda no Brasil expandiu-se,
profissionalizou-se e tornou-se mais complexo. Um dos componentes desse processo
foi o rpido desenvolvimento da atividade acadmica nos diferentes nveis, mas com
um forte destaque para a implantao e expanso dos cursos de graduao em todo
o a pas. Ao mesmo tempo, cresceu de modo acentuado o interesse pela moda como
objeto de ateno do grande pblico, de setores produtivos e da pesquisa acadmica
em suas distintas variveis. Trabalhos acadmicos ou pesquisas encomendadas por
empresas e/ou entidades de classes passaram a percorrer um amplo espectro: a
dimenso histrica, a moda como fenmeno miditico, o mercado editorial, a ampla
cadeia produtiva, as inovaes da tecnologia txtil e dos processos de
comercializao - do varejo aos insumos -, alm dos eventos que assumiram
dimenso internacional e projetaram criadores e suas grifes para alm das fronteiras
nacionais.
Trata-se, em termos nacionais, de uma das experincias mais bem sucedidas
de reinveno de um setor e de uma atividade que na dcada de 1990 quase havia
sido solapada pelo processo de liberalizao econmica. A reestruturao produtiva
vivenciada em escala global na dcada anterior provocou a abertura das importaes
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 Apresentao Dossi
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brasileiras no incio do governo Collor, por meio de aes drsticas que
aprofundaram a crise econmica do pas. As medidas promulgadas em 1992
praticamente estrangularam a indstria txtil nacional que, em razo tambm de
fragilidades intrnsecas, se revelou incapaz de concorrer com os produtos asiticos
oriundos principalmente da China.
Ao mesmo tempo, outros setores que vinham de um processo de
reestruturao endgena adquiriram um novo dinamismo ao longo da dcada de
1990, entre os quais figura o segmento do ensino superior privado. A partir
principalmente de 1994, com o advento do governo Fernando Henrique Cardoso e
sob a gesto do economista Paulo Renato de Souza no Ministrio da Educao, a
extrema liberalizao das regras de credenciamento de cursos superiores, somada
ao engessamento do setor pblico, permitiu uma expanso sem precedentes de
cursos, faculdades e universidades particulares por todo pas.
A flexibilizao do setor propiciou a diversificao da oferta de cursos e o
ensino superior privado tornou-se responsvel pela criao de um novo elenco de
perfis profissiogrficos. Identificou-se no mercado a existncia de novas demandas
de formao profissional de nvel superior e aquele segmento desenvolveu cursos
que visavam atender tais objetivos. A oferta de cursos de graduao em moda
corresponde a esse movimento. No caso de So Paulo, o ponto de inflexo pode ser
localizado entre o final da dcada de 1980 e o incio dos anos de 1990.
Paralelamente institucionalizao dos cursos superiores, novas questes de
cunho acadmico se impuseram, tais como a indagao sobre a cientificizao dos
contedos ministrados em cursos de vinculao estreita com as demandas de
mercado. Posto de outra forma, cumpria refletir sobre a dimenso epistemolgica
dos saberes organizados em torno de objetos de escassa tradio acadmica ou de
produo no-sistemtica.
A experincia do Nidem (Ncleo Interdisciplinar de Estudos da Moda)-UNIP,
que obteve em 1998 o primeiro financiamento atribudo pela FAPESP para um grupo
de pesquisa em torno da moda, permitiu uma reflexo inicial acerca destas
temticas, esforo que retomamos agora com a organizao deste evento.
Propusemos um fio condutor para o debate, de modo a situar as experincias
individuais no contexto das duas ltimas dcadas, perodo no qual, conforme
apontado, o mercado de moda se tornou mais complexo e sofisticado e o tema
ocupou um lugar bastante diferenciado na academia.
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 Apresentao Dossi
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A partir da, solicitamos que as intervenes contemplassem, entre outros, os
seguintes aspectos:
1. Apresentao dos respectivos temas de pesquisa. Como se definiu o interesse
pessoal pelo tema e pelos principais problemas das investigaes realizadas
ou em andamento. Desafios, adversidades ou apoios institucionais para a
pesquisa do tema.
2. Limites dos aportes disciplinares. Contribuies ou limitaes das cincias
constitudas: cincias sociais, histria e cultura material, comunicao.
Critrios adotados nas escolhas bibliogrficas e seleo dos autores de
referncia. Que autores/escolas tericas permanecem vlidos como
referencial terico. Que autores/escolas perderam vigor explicativo, dada a
complexidade dos temas.
3. Como percebeu, se relacionou ou respondeu academicamente ao processo de
expanso da moda como fenmeno cultural, mas tambm como fora de
mercado.
4. O impacto da cibercultura e do mundo digital para o processo de produo de
pesquisa, na perspectiva pessoal, mas tambm enquanto corpo de produo
acadmica e na dimenso das relaes institucionais.
Compe o dossi uma entrevista indita do filsofo francs Gilles Lipovetsky
(realizada em setembro de 2010 pelos professores do Centro Universitrio Senac),
cuja relevncia para a temtica da moda encontra-se amplamente debatidas pelas
participantes do evento.
Tambm integram o dossi cinco artigos que refletem sobre o campo da moda
seus diversos aspectos, tais como: a produo acadmica sobre o tema na ps-
graduao; o ensino tecnolgico de moda no Pas; a importncia do estudo e anlise
de tendncias para a indstria do vesturio; moda e campo no hermenutico da
comunicao de massa e a importncia da moda como fonte e aposta fundamental
na dinmica da socializao e da constituio identitria.
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Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 50
A PRODUO ACADMICA SOBRE MODA NA PS-GRADUAO STRICTO
SENSU NO BRASIL
Maria Claudia Bonadio
RESUMO
O artigo apresenta um mapeamento da produo acadmica em moda desenvolvida
no mbito da ps-graduao Strico Sensu (mestrados e doutorados) no Pas. A
partir dos dados quantitativos resultantes do levantamento da referida produo
realizo tambm uma anlise dos condicionantes scio-histricos que permearam o
crescimento do campo da moda no Brasil em seu vis acadmico. So avaliadas
ainda, as conexes entre a referida produo cientfica e o crescimento da oferta de
cursos superiores em moda em nvel de graduao e, a distribuio regional dos
trabalhos e cursos de graduao e ps-graduao entre Instituies do Ensino
Superior pblicas e privadas.
Palavras-chave: moda, ps-graduao, ensino superior, produo acadmica.
Doutorado em Histria pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil (2005) e Docente do Centro Universitrio Senac ,Brasil
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 51
THE ACADEMIC PRODUCTION ON FASHION IN THE POSTGRADUATE
STUDIES IN BRAZIL
Maria Claudia Bonadio
ABSTRACT
This article presents a mapping of academic studies of fashion developed within the
graduate Strico Sensu (masters and doctorates) in the Country. From the
quantitative data resulting from the lifting of this production also analyzed the
socio-historical issues that permeated the growth in the field of fashion in Brazil in
its academic bias. I analyze too the connections between this scientific production
and supply growth of college courses in fashion at the undergraduate level, regional
distribution of the studies, and the distribution of the courses of undergraduate and
graduate between institutions of higher education public and private.
Keywords: fashion, postgraduate studies, higher education, academic research.
Doutorado em Histria pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil (2005) e Docente do Centro Universitrio Senac ,Brasil
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 52
Caminhos percorridos
No incio de 2009, recebi o convite para ministrar uma palestra sobre a pesquisa
acadmica em moda no pas aos professores do Curso Superior de Tecnologia em Design de
Moda da Universidade Tecnolgica Federal do Paran (campus Apucarana).
Aceito o convite, surgiu a dvida, deveria eu falar apenas da minha experincia na
pesquisa acadmica em moda? Apesar de atuar na rea j h mais de uma dcada, imaginei
que focar na palestra apenas na minha trajetria no seria uma boa opo, pois eu
apresentaria apenas um nico exemplo dentro do que eu (acertadamente) imaginava ser um
campo bastante vasto e diverso. Partindo dessa suposio, conclu que o melhor meio de
mostrar um balano das atividades de pesquisa realizadas na rea era atravs de um
mapeamento e conseqente anlise da produo acadmica sobre o tema. Partindo dessa
idia surgiu um segundo problema, como realizar o referido levantamento? Uma vez que
seria impossvel mesurar a produo acadmica referente ao campo em seu todo, optei por
arrolar as dissertaes e teses produzidas sobre o tema e reas afins.
Aquilo que deveria ser apenas uma palestra acabou se tornando um projeto maior, e
partindo do mapeamento realizado para apresentao na UTFPR, cuja base foi as teses e
dissertaes ento disponveis no site da Biblioteca Brasileiras de Teses e Dissertaes
(BDTD, disponvel em http://bdtd.ibict.br/) e no banco de teses da Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES, disponvel em:
www1.capes.gov.br/bdteses/). Observei, entretanto que a pesquisa nas referidas bases no
apresentavam os trabalhos realizados em algumas Instituies de Ensino Superior (IES)
onde provavelmente haviam mestrados e doutorados desenvolvidos sobre o tema, como a
Fundao Getlio Vargas (FGV), por exemplo. Com vistas a localizar outros trabalhos,
realizei tambm a consulta on-line dos catlogos de diversas bibliotecas nacionais. Foram
pesquisados os catlogos das principais IES federais, estaduais e privadas; o site
www.dominiopublico.gov.br e os currculos lattes de pesquisadores da rea.
Os ttulos elencados no anexo (tabela 5) foram selecionados a partir dos seguintes
critrios de pesquisa: a presena das palavras moda, vesturio, txtil e roupa nos campos
ttulo, e/ou assunto. No que diz respeito s palavras-chave txtil e vesturio, nem todos os
resultados obtidos estavam relacionados moda. H estudos na rea txtil sobre tapearia,
no-tecidos, revestimentos para automveis, entre outros. J a palavra vesturio, em
algumas ocasies aparecia em trabalhos que aplicavam modelos de anlise em empresas da
rea do vesturio, mas com o objetivo de avaliar questes que em nada se relacionavam
com a moda, esse tipo de estudo no foi agregado tabela.
Em 2000 realizei um mapeamento semelhante como parte das atividades de
pesquisa do Nidem (Ncleo Interdisciplinar de Estudos da Moda). Naquele momento, no
dispnhamos de bases eletrnicas on-line nas bibliotecas universitrias do pas e a pesquisa
computou apenas os trabalhos localizados atravs da visita s bibliotecas da Universidade de
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 53
So Paulo (USP) e Universidade de Campinas (Unicamp onde eu finalizava meu mestrado)
e consegui listar apenas 32 trabalhos, menos de 10% do total encontrado 10 anos depois.
Dentre aqueles trabalhos, alguns tratavam de temas prximos moda, como corpo e
comrcio, mas abordavam a questo apenas de forma perifrica, mesmo assim eram
trabalhos relevantes para o estudo do tema na poca, pois traziam colaboraes para o
entendimento do campo ento muito incipiente. O resultado desse primeiro levantamento
est disponvel em
http://www.unip.br/servicos/aluno/suporte/nidem/banco_de_teses/index.asp. A
disponibilizao desses dados na internet ocorreu em 2001 e foi possvel graas ao
financiamento da FAPESP ao projeto Moda Contempornea e construo interdisciplinar
(processo no. 98/08484-5) coordenado pela professora Solange Wajnman. Com o fim do
financiamento, o site no foi mais atualizado, entretanto, nesse nterim, recebi inmeros e-
mails de pessoas que solicitavam a incluso de seus trabalhos no referido banco de teses, ou
que perguntavam como ter acesso aos trabalhos listados no banco. A realizao do presente
levantamento, no qual trago, (sempre que possvel) o link para os trabalhos elencados em
certa medida, uma resposta a essas demandas.
Finalizado em dezembro de 2010, o levantamento apresenta um total de 533
trabalhos, dentre dissertaes, teses e uma livre-docncia. muito provvel que o nmero
total de trabalhos seja ainda maior, pois certamente muitos dos trabalhos defendidos em
2009 e 2010 ainda no se encontravam catalogados pelas bibliotecas consultadas.1 Portanto,
no tenho a pretenso de apresentar um nmero totalizante, mas uma amostra significativa
da produo acadmica em moda e temas afins (trabalhos que no necessariamente tratem
do tema moda, mas para os quais a moda seja um determinante, como por exemplo,
trabalhos que avaliam o crescimento das confeces em cidades como Nova Friburgo (RJ),
Jaragu (GO), ou Colatina (ES) as quais so bastante impulsionadas pela moda).
Com o intuito de ampliar a divulgao desses trabalhos, bem como observar suas
principais reas de concentrao; o crescimento anual da produo e a distribuio por IES,
regies do Pas e Estados da Federao, elaborei uma tabela (ver anexo) na qual informo
nome do autor, ttulo do trabalho, programa de ps-graduao e nome da IES onde foi
produzido, data e orientador.
1 Pretendo dar continuidade ao levantamento de estudos provenientes da ps-graduao
Stricto Sensu no Brasil, portanto, informaes sobre teses e dissertaes no includas na tabela, bem como publicaes provenientes desse tipo de estudo que no sejam citados no texto podem ser enviadas para o e-mail: [email protected]
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 54
Os primeiros passos da pesquisa acadmica em moda no Brasil
O trabalho de Gilda de Mello e Souza, A moda no sculo XIX, defendido como tese
de doutorado da Faculdade de Sociologia da USP, costuma ser apontado como o primeiro
estudo sobre moda desenvolvido no pas no mbito da Universidade, entretanto, ao
pesquisar no site da biblioteca da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi
localizado um trabalho classificado como tese, datado de 1926, denominado Da mulher -
Propores, beleza deformao, hysiene e moda, hygiene e Sport produzido por Virgilio
Mauricio da Rocha (Lagoa da Canoa, 4 de abril de 1892 Belo Horizonte, 13 de dezembro de
1937). At o final do ms de dezembro no foi possvel ter acesso ao material, pois o
trabalho pertence ao setor de Obras Raras da UFRJ que estava em reforma. As poucas
informaes disponveis na internet sobre seu autor indicam que antes de estudar medicina
Virglio Maurcio atuou como pintor, tendo morando em Paris e freqentado atelis de
diversos artistas da Real Academia Francesa de Pintura e Escultura. Durante seu tempo de
atuao como pintor, teria recebido crticas favorveis e exposto uma de suas obras L'heure
du Gouter (obra hoje pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de So Paulo), no
Salon de Paris. De volta ao Brasil, teria residido entre outros locais, na cidade do Rio de
Janeiro. Ainda que no hajam informaes precisas sobre o perodo de sua estadia no Rio de
Janeiro, possvel que tenha realizado o referido estudo como complementao ao seu
interesse pictrico, posto que o trabalho, segundo indica o ttulo estudaria questes ligadas
ao vesturio, proporo e deformao. Curiosamente, o trabalho de Virglio Maurcio, alm
de ser o primeiro a versar sobre moda no Brasil, possivelmente, o nico no pas, produzido
numa escola de Medicina, pois o levantamento no apontou novos ttulos na rea.
Os resultados obtidos na pesquisa conferem ainda mais importncia ao estudo
realizado por Gilda de Mello e Souza e, bom frisar, orientado por Roger Bastide que
aceitou nos idos dos anos 1940, a orientao de trabalho sobre o tema ento bastante
controverso. Pois, apesar de trabalhos sobre a indstria do vesturio ou a indstria txtil e
suas interseces com a moda surgirem a partir de 1978 em diversas IES do Pas, apenas
em 1986, que o termo moda, seria novamente utilizado no ttulo de uma pesquisa
proveniente de programas de Ps-graduao Stricto Sensu. Novamente a palavra daria ttulo
a uma pesquisa desenvolvida na Sociologia, trata-se do mestrado de Valda Maria de Queiroz
denominado Trama e o texto da moda., defendido na UnB e orientado por Maria Anglica
Brasil Gonalves Madeira. Apesar de seu interesse e relativo pioneirismo na rea, (a mesma
autora elaboraria em 2002, doutorado na mesma rea denominado Eterno no transitrio...
um estudo sociolgico da moda2), a autora no atua na rea, sendo professora da
Universidade Catlica de Braslia na rea da Comunicao e funcionria da Companhia de
2 H divergncia entre o ttulo informado pela autora em seu Currculo Lattes e aquele encontrado na consulta ao acervo on-line da biblioteca da UnB. No primeiro, a tese aparece com o seguinte ttulo: A moda como fenmeno sociolgico e no segundo denominada Eterno no transitrio... um estudo sociolgico da moda. Cf: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4786349U0 (acesso em 05 de janeiro de 2011) e http://consulta.bce.unb.br/pergamum/biblioteca/index.php
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 55
Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan). Em 1987, um novo mestrado sobre o tema
desenvolvido, dessa vez no departamento de Antropologia da UFPE, sob o ttulo Moda:
imposio do Gosto, elaborado Francisca Arago da Cunha Lima sob a orientao de Danielle
Perin Rocha Pitta. Porm, s em 1988, ou seja, 38 anos aps A moda do sculo XIX de Gilda
de Mello e Souza que outro trabalho sobre tema seria produzido na USP, trata-se da livre-
docncia de Victor Aquino, denominado Disco e moda: furaco do rock na articulao do
mercado cultural3. Diferentemente do que ocorreu com o trabalho anterior, que demorou 37
anos para chegar ao grande pblico tendo sido publicado pela Companhia das Letras
apenas em 1987, sob o ttulo O Esprito das roupas: A moda no sculo XIX (ver tabela 3) ,
a livre-docncia de Victor Aquino foi publicada apenas um ano aps sua defesa pela editora
campineira Papirus.
Segundo relata Helosa Pontes, nos idos dos anos 1950, o trabalho de Gilda,
Concebido como um ensaio de sociologia esttica foi considerado no interior do
departamento de Sociologia da USP
como ftil. Coisa de mulher. Na hierarquia acadmica e cientfica da poca, que presidia tanto a escolha dos objetos de estudo como a
forma de exposio e explicao dos mesmos, a tese de Gilda constituiu uma espcie de desvio em relao s normas predominantes. (2006: 90)
Durante sua carreira na universidade, Gilda de Mello e Souza, teve uma produo
tmida, especialmente quando comparada a de seus contemporneos, como seu marido
Antnio Cndido ou Florestan Fernandes. A maior parte dos textos por ela elaborados aps a
defesa de sua tese versa sobre literatura, artes ou cinema. Voltou a refletir sobre moda e
vesturio em apenas duas ocasies: em Macedo Alencar, Machado e as roupas, ensaio
publicado na revista Novos Estudos CEBRAP em 1995, e no texto Notas sobre Fred Astaire,
publicado em A idia e o figurado (2005). Durante sua atuao como professora da cadeira
de Esttica da Faculdade de Sociologia da USP, orientou diversos trabalhos de ps-
graduao, nenhum deles sobre moda ou temas afins. Apesar das dificuldades encontradas
por Gilda de Mello e Souza nos idos dos anos 1950, aps a publicao de sua obra em 1987,
o ttulo no saiu mais do mercado editorial. A editora no informa em sua pgina da internet
o nmero de reimpresses da obra, mas, passados quase 25 anos de seu lanamento, o
ttulo continua no catlogo e o exemplar disponibilizado parcialmente no Google books
(ttp://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=NM0186utLCgC&oi=fnd&pg=PA9&dq="o+esprito+das+roupas"&ots=W4IWVJ3_
QM&sig=G3-hZEE2IdKuV0xFWWdoWORlNzs#v=onepage&q&f=false), apresenta data de
2009, o que indica o contnuo interesse sobre o trabalho que hoje bibliografia obrigatria
nos cursos da rea.
3 Na poca o professora assinava como Tup Gomes Correa, tendo trocado oficialmente seu nome em meados dos anos 2000 para Victor Aquino Gomes Correa, nome com o qual assina
suas publicaes atuais, bem como seu currculo lattes (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4795828H6, acesso em 14 de janeiro de 2011).
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 56
J a livre-docncia de Victor Aquino foi apenas a primeira produo sobre o tema
realizada pelo professor da Escola de Comunicao e Artes da USP, cujo currculo atualmente
lista outros trs livros sobre o tema, alm de uma srie de artigos. O pesquisador hoje o
professor com maior nmero de orientaes na rea, 14 no total. Curiosamente, apesar de
tratar de tema ainda em voga nas universidades, essa obra no aparece mais no catlogo da
editora.
Breve trajetria do campo da moda no Brasil
No tempo decorrido entre as duas produes pioneiras realizadas na maior
universidade do Pas, ocorreram diversas transformaes, tanto no campo da moda, como da
Educao no Pas, o que justificaria as diferentes acolhidas e desdobramentos dos trabalhos
em questo.
Em 1950, os saberes ligados rea do vesturio, eram tradicionalmente passados de
me para filha, ou pai para filho no caso dos alfaiates. Existiam no Brasil cursos de formao
profissional para costureiras e alfaiates, mas quem desejasse estudar moda, precisava ir
Europa, especialmente Frana, como fez ainda nos anos 1940, o costureiro gacho Rui
Spohr (ARAUJO, PASSINI e SCHEMES, 20009)4.
Naquele perodo chic era se vestir nos moldes daquilo que ditava a alta-costura
francesa ou o cinema hollywodiano, e para aqueles que no pertenciam s camadas mais
abastadas da populao, as revistas nacionais costumeiramente traziam ilustraes ou
fotografias com os modelos ento em voga que eram prontamente copiados pelas
costureiras da famlia ou mesmo pelas senhoras mais prendadas.
A indstria txtil nacional, por sua vez, amargava um mau momento em razo do
parque txtil atrasado e da falta de mo de obra qualificada.5 J a confeco nacional
tambm no gozava de prestgio e produzia uma imitao barata da alta-costura parisiense,
tendo boa aceitao apenas no setor de roupas brancas camisolas, cuecas, calcinhas,
sutis, cintas, pijamas, entre outras peas de roupas ntimas (ABREU, 1986, KONTIC, 2007).
Diante dessa situao, possvel afirmar que apesar do pioneirismo da nossa indstria txtil
4 Aos 22 anos, em 1952, Rui Spohr, foi para Europa estudar na Chambre Syndicale de la
Couture Parisienne. O curso tinha durao de quatro anos e formava ajudantes de costura, e oferecia tambm, um curso intensivo para maiores de dezoito anos. Como as noes de corte e costura eram muito bsicas, em 1953, Rui matriculou-se na cole Guerre-Lavigne (hoje ESMOD), pois, para ele, a criao tem a ver com altas doses de curiosidade cultural e intelectual e, l, as disciplinas exigiam muito empenho dos alunos, em especial o aspecto cultural da criao. A disciplina de histria da moda era dentro do Museu do Louvre, por exemplo; e as aulas de desenho eram com modelos vivos e tecidos jogados no corpo, a fim
de identificar pelo trao do desenho qual era o tecido. (ARAUJO, PASSINI e SCHEMES, 2009) 5 Sobre esse tema ver: (MARINHO, 2002).
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 57
diversos estudos apontam a importncia do setor no incio da industrializao do pas no
sculo XIX e da existncia no pas de uma indstria voltada para o vesturio, ainda no
tnhamos uma cultura de moda. Quem bem define a situao ento vigente, Rudy
Davidsohn, fundador da confeco brasileira Ru-ri-ta, identifica o princpio de uma
conscincia de moda teria surgido apenas na dcada de 1960, pois antes disso, em sua
opinio (...) existia roupa, mas no existia moda. (CARTA, 1983)
Os primeiros passos na direo da consolidao de uma cultura de moda no pas
aconteceriam j no final da dcada de 1950, mais precisamente em 1958, quando foi criada
a Feira Nacional da Indstria Txtil (Fenit), que durante dcadas seria o principal espao
para a apresentao de novidades e desfiles de moda. Entre o final da dcada de 1950 e
incio dos anos 1960, emerge no Brasil a primeira gerao de costureiros (Dener, Guilherme
Guimares, Jos Nunes, entre outros), que rapidamente se tornam conhecidos em razo da
exposio na mdia. Outra iniciativa importante, ocorrida durante os anos 1960, so os altos
investimentos em publicidade de moda pela multinacional francesa Rhodia S.A. (e na
sequncia suas concorrentes como a japonesa Mafisa), que ampliaria a popularidade da
moda nacional atravs da realizao de desfiles e editoriais de moda veiculados em diversas
revistas nacionais, e tambm colaboraria no impulsionamento dessa indstria. (BONADIO,
2005)
Entre o final da dcada de 1960 e incio de 1970, acompanhando a crescente
urbanizao do pas e o consequentente ampliao da sociedade de consumo (CARDOSO DE
MELLO e NOVAES, 2000), comeariam a se firmar no pas algumas confeces especializadas
em elaborar produtos de boa qualidade e que seguiam as tendncias ditadas pelo prt--
porter internacional, exemplos so a Cori, a Pullsports e etc.6 Outro fenmeno surgido nessa
poca foram as butiques lojas de roupas mais sofisticadas voltadas ao pblico feminino, que
se expandiam em novas localizaes, diferenciadas dos tradicionais e populares centros das
cidades. (KONTIC, 2007: 33) Concentrando-se na Rua Augusta e nos Jardins em So Paulo,
Copacabana e Ipanema no Rio de Janeiro.
Apesar do aprimoramento sofrido em parte da confeco industrial no pas nos anos
1960, s nos anos 1980 que o brasileiro ir vestir-se prioritariamente com roupas
compradas prontas, pois at esse perodo, ainda predominavam quelas feitas por
costureiras. tambm nessa dcada, mais precisamente em seus ltimos anos que parte da
indstria do vesturio e acessrios nacional ir comear a elaborar um produto diferenciado
e que apesar de seguir as tendncias internacionais ir cada vez mais trabalhar uma
identidade prpria. (KONTIC, 2007)
Entretanto, a popularizao da confeco industrial nos anos 1980 no garantir
estabilidade indstria txtil na dcada seguinte, e enquanto no
6 A Cori surge em So Paulo em 1957, como uma alfaiataria de nome 3P e apenas em meados dos anos 1960 adotaria o nome atual.
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 58
perodo de 1965 a 1980, o consumo de fios manufaturados (sintticos e artificiais) havia crescido de forma acelerada, tendo sofrido forte
queda em 1985. J na dcada de 1990, o consumo desses fios voltou a mostrar rpido crescimento at 1995, e crescimento mdio moderado entre 1995 e 1999.
No entanto, a produo da indstria txtil do Brasil na dcada de 1990 apresentou um crescimento muito pequeno, quando comparado evoluo histrica que teve como mdia de crescimento de 6% a 7% ao ano, interrompendo de certa forma a tendncia secular de crescimento, que sempre norteou seu desenvolvimento, como pea fundamental no processo de industrializao no Brasil. (COAN e KON, 2005)
O que se observa que o incio da dcada de 1990 se caracteriza como um perodo
difcil para a indstria do vesturio, em razo da reduo das barreiras alfandegrias entre
1990 e 1994, do fim da superinflao, da grande apreciao do real, da elevao da taxa de
juros. provavelmente em razo dessas dificuldades que no limiar do sculo XXI, tais
indstrias iro buscar uma maior autonomia e inovao em design. Para Branislav Konitc
a inovao e moda se d a partir de um grupo de empresas que constitui a fora motriz de todo o sistema produtivo e deste mercado, no apenas por sua potncia econmica, mas pela capacidade de definir tendncias a partir de suas criaes, por sua capacidade de inovar. Este ncleo funciona com base em redes amplas de relaes sociais, de natureza comercial e no comercial, e se constitui no centro coordenador da indstria de moda e definidor dos padres adotados por vastas
reas da indstria e servios: fabricao de tecidos, confeces, calados, acessrios, o comrcio especializado e os servios de apoio. (2007: 11)
A fixao das semanas de moda no Rio de Janeiro, e especialmente em So Paulo a
partir de meados dos anos 1990 (ver tabela 1), provavelmente uma das formas
encontradas por esse grupo que constitui a fora motriz da moda para agregar valor ao
produto nacional.7 O deslocamento da vitrine da moda da Feira Nacional da Indstria Txtil,
para as semanas de moda, de fato indcio da busca pela diferenciao, pois ainda que os
setores sejam em parte imbricados, a realizao de eventos dedicados exclusivamente
moda eleva o status da produo nacional que hoje ganha espao inclusive na mdia
internacional. Como consequncia, no perodo, parte dessa indstria, e especialmente aquela
localizada em So Paulo deixa de trabalhar apenas com imitao ou adaptao das
7 Outras tentativas de sistematizao de semanas de moda no Brasil ocorreram durante os anos 1970 e 1980, mas no tiveram continuidade, exemplos so: o Grupo Moda Rio, criado em 1975 e do qual participavam as marcas J & Co (de Jos Augusto Bicalho e Jos Taranto), Mr. Wonderfull (de Luis de Freitas), Blu-Blu (Marlia Valls), Movie (Ana Gasparini),
Persona (Beth Brcio), Suka (Suely Sampaio), Marco Ricca (Moda Rica) entre outros; Ncleo Paulista de Moda, 1980-?, composto por Alcides, Armazm, Companhia Ilimitada, G. Confeces de Glria Coelho, Huis Clos, Le Truc, Rose Benedetti, Zoomp Grupo Paulista de Moda, criado em 1986 (Armazn, Frum, Forum, T.Machione, Trfico, Tweed Companhia Ilimitada, G, Cl Orozco, entre outros; Grupo Mineiro de Moda, formando em 1982 e composto por Art-I-Manha (Mabel Magalhes), Patachou (Terezinha Santos) , Renato Loureiro, Art Man (Luiza Magalhes e Mrcia Corra), Allegra (Sheila Mares Guia atual
estilista da M.Guia), Brbara Bella (Helen de Carvalho), Comdia (Liana Fernandes), Eliana Queiroz, Mnica Torres, IBZ (Nem Campos), esse provavelmente foi o mais profcuo entre esses grupos, pois os desfiles foram apresentados at 1995.
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 59
tendncias internacionais de moda e se tornam referncia para o produto-moda, passando
agora serem elas prprias fontes de imitao. (KONTIC, 2007)
A valorizao da moda nacional observada tambm atravs dos nmeros. Dados do
ano de 2005 informavam que at aquele ano, o principal evento de moda realizado no pas,
o So Paulo Fashion Week (SPFW) tinha um pblico estimado em 100 mil pessoas e que
A cobertura de mdia s perde para o futebol, gerando cerca de R$ 300 milhes em mdia espontnea, mais de 5.000 pginas de jornal e revistas e quase 600 horas de TV, entre canais abertos e por assinatura. A transmisso ao vivo dos desfiles pela internet tambm s perdeu para os jogos da copa do mundo. (BUEST, 2005)
Tamanho interesse em torno desse evento, que segundo seu criador Paulo Borges,
movimentava no final da ltima dcada (2001-2010) cerca de seis a sete milhes e
apresentava uma mdia de 30 a 40 desfiles por edio (49 em janeiro de 2009, mas na
edio de janeiro de 2011 sero apenas 32 desfiles sero apresentados), e tambm a
realizao de outros importantes eventos da rea, como o Fashion Rio e a Casa de Criadores,
certamente ampliaram o interesse pelo estudo da moda.
(http://sp.fashionweek.com.br/post/65-a-origem-do-spfw/).
Tabela 1: Principais Semanas de Moda realizadas no Brasil a partir de 1990
Nome do evento
Cidade
Primeira Edio
ltima
edio
Status
Phytoervas Fashion So Paulo 1993 1996 Extinto
Semana Barra Shopping de
Estilo
Rio de
Janeiro
1996 2001 Extinto
Morumbi Fashion So Paulo 1996 2000 Extinto
Casa de Criadores So Paulo 2000 2010 Na ativa
Amni Hot Spot So Paulo 2001 2006 Extinto
So Paulo Fashion Week So Paulo 2001 2011 Na ativa
Fashion Rio Rio de
Janeiro
2003 2011 Na ativa
Fashion Business Rio de
Janeiro
2003 2011 Na ativa
crescente profissionalizao dessa indstria seguiu-se a oferta de cursos superiores
na rea no Pas. Em 1987 surgiria na cidade de So Paulo, o primeiro curso superior de
moda, o Bacharelado em Desenho de Moda na Faculdade Santa Marcelina. Dois anos mais
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 60
tarde, novos bacharelados na rea passariam a funcionar em outras duas universidades
privadas tambm na cidade de So Paulo: a Universidade Paulista (Unip) passa a ofertar o
curso de Moda e a Universidade Anhembi Morumbi (UAM), o bacharelado em Negcios da
Moda. Em 1991, surge o primeiro curso fora da cidade de So Paulo, oferecido pela
Universidade de Caxias do Sul (RS) e em 1993, os primeiros cursos superiores em moda
ofertados por universidades pblicas, so eles: o curso de Moda-Estilismo da Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC) e o bacharelado em Moda da Universidade Federal do
Cear (UFC). Ao final da dcada de 1990, um total de 26 cursos funcionava em todo o
Brasil.8
Porm, a grande expanso dos cursos superiores em moda ocorreria nos 10 anos
seguintes, quando mais de 90 cursos na rea seriam criados. Uma busca com a palavra
moda no campo cursos do site http://emec.mec.gov.br/, realizada em 06 de janeiro de
2011 apontou que atualmente, existem 126 cursos superiores na rea de moda em
funcionamento no Pas (ver tabela 6 - no anexo), dos quais 108 seriam oferecidos por IES
privadas e 15 por pblicas. A pesquisa realizada no site http://emec.mec.gov.br/ ,
entretanto, imprecisa, pois ao efetuar a busca de cursos que contenham a palavra moda em
consulta textual, o nmero obtido 126, dentre estas, porm constam cursos que
empregam em suas denominaes a palavra modalidade9. J a busca refinada de cursos de
design de moda apresenta 98 cursos, nmero que provavelmente no totalizante, pois
no engloba os cursos da rea de gesto, negcios da moda e aqueles que ainda se intitulam
Estilismo10. Tambm no constam da listagem do Ministrio da Educao (MEC), os cursos
ofertados pela USP (Moda e Txtil), que na tabela do Ministrio ainda aparece com sua
antiga denominao Tecnologia em Txtil e Indumentria, o curso de Bacharelado
Interdisciplinar em Artes e Design da UFJF, que oferece habilitao em design de moda, e o
curso de Design da UFPE que funciona na cidade de Caruaru (plo txtil do Estado), cujo
foco preparar o designer para atuar na rea da moda.11 J a pesquisa de cursos de moda
no Guia do Estudante traz um resultado mais amplo, 149 cursos. Nesse caso, o nmero
8 Um quadro detalhado dos cursos de moda ofertados no pas at 2006 pode ser encontrado na dissertao de mestrado de Lucinia Sanches, intitulado Os moldes da moda: um estudo sobre o estado dos cursos de formao em moda no Brasil (mestrado em Educao, FURB, 2006) disponvel em: http://proxy.furb.br/tede/tde_arquivos/4/TDE-2006-11-14T104049Z-
141/Publico/Diss%20Lucineia%20Sanches.pdf, acesso em 10/01/2011. pp.41-43. 9 Aqueles oferecidos por IES pblicas e listados pelo MEC foram excludos da tabela, entretanto no foi possvel conferir os dados referentes aos cursos oferecidos por IES privadas em razo do grande nmero essa verificao ser realizada em etapa posterior dessa pesquisa. 10 Como o oferecido pela Faculdade Maurcio de Nassau (PE). 11 Na pgina do curso de design dessa instituio, o curso apresentado da seguinte maneira: Pretende-se que os profissionais advindos do curso de Design estejam aptos a projetar sistemas e produtos de moda, acessrios e vesturio (grifo nosso); sistemas de informaes visuais, objetos e seus sistemas de uso atravs do enfoque interdisciplinar sendo considerados os usurios e seus contextos scio-econmico-culturais, bem como as potencialidades e limitaes das unidades produtivas em questo. http://www.ufpe.br/proacad/index.php?option=com_content&view=article&id=190&Itemid=
138
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aumenta porque o Guia inclu os cursos voltados para o vesturio entre os resultados.
(http://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/?qu=moda, acesso em 21/01/2011).
O que se observa que a necessidade de profissionalizao do mercado, e da
indstria da moda gerada pelas transformaes econmicas ocorridas no incio dos anos
1990, acompanhada pela crescente demanda de mo-de-obra qualificada, bem como o
interesse pelo estudo da moda em seus diversos aspectos o que visvel atravs dos
nmeros de cursos de nvel superior em moda, e do aumento das teses e dissertaes sobre
o tema. (ver tabelas 5 e 6)
A observao do Grfico 1 evidencia que, apesar de trabalhos sobre moda e temas
afins serem realizados nos programas de ps-graduao Stricto Sensu do pas com alguma
freqncia desde os anos 1980, tal produo foi certamente impulsionada pelo surgimento e
popularizao dos cursos superiores em moda. At 1997, a produo na rea no
ultrapassava 10 ttulos por ano, nmero excedido a partir de 1998, quando 16 trabalhos so
produzidos. A partir de 2004, a produo ultrapassa a marca dos 30 trabalhos por ano, e
segue crescendo nos anos posteriores, atingindo um pico em 2009 com 72 trabalhos.
Encerrado em dezembro de 2010, o levantamento de trabalhos referentes h esse ano,
consideravelmente menor do que nos anos anteriores, no acredito, entretanto que tenha
ocorrido uma queda na produo. O nmero mais tmido, 30, provavelmente decorre do fato
da maior parte desses trabalhos ainda no terem sido catalogados pelas bibliotecas de suas
IES de origem.
Iara Revista de Moda, Cultura e Arte - So Paulo V.3 N3 dez. 2010 - Dossi 62
Grfico 1:
Produo acadmica em moda ( Stricto Sensu ) 1926 - 2010
1 1 2 1 2 2 1 2 1 2 2 1 1 2 2 3
9
2 4
8
16 15 15
17
25
29
37 36
65 64 65
72
30
0
10
20
30
40
50
60
70
80 1926 1950 1978 1979 1980 1981 1982 1984 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
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A produo acadmica em moda no Brasil na ps-graduao Stricto Sensu
em suas principais reas:
Design
muito provvel que o crescimento dos cursos superiores em moda tenha
colaborado na ampliao da realizao de pesquisas sobre o tema na ps-graduao Stricto
Sensu, o que se evidenciaria especialmente atravs da crescente produo acerca da moda
em programas dedicados ao Design, fato que provavelmente decorre da deciso tomada pelo
MEC, que em meados de 2000 determinou que os cursos na rea da moda seguissem em
seus currculos as diretrizes educacionais para o ensino de graduao em design, e
adotassem a nomenclatura no nome do curso com vistas autorizao e/ou reconhecimento.
Os dados arrolados no anexo (tabela 5) demonstram que a demanda na rea
crescente, porm, tardia quando comparada a outras reas como comunicao, cincias
humanas, artes, engenharia de produo e administrao, nas quais eram desenvolvidos a
maior prte dos trabalhos elaborados entre os anos 1980 e o ano 2000. O primeiro mestrado
sobre moda defendido em um programa de Ps-Graduao na rea foi desenvolvido por
Hilda Quialheiro Abreu em 1995. Intitulado Do traado ao molde: evoluo e representao
grfica da modelagem do vesturio (orientado por Jos Carlos Plcido da Silva),
desenvolvido dentro do curso de Desenho Industrial da Universidade Estadual de So Paulo
(UNESP Campus Bauru), porm somente nas primeiras dcadas dos anos 2000 que essa
produo se intensifica.
Hoje, o Design ocupa o terceiro lugar entre as reas que mais produzem dissertaes
e teses sobre moda somando um total de 44 trabalhos, ficando atrs apenas de
Comunicao e Administrao.12 A maior parte desses mestrados foi elaborada no mbito de
dois programas, o mestrado em Desenho Industrial da UNESP (Campus Bauru) e o mestrado
em design da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) onde a maior
parte dos estudos foi orientado pela professora doutora Denise Portinari, hoje coordenadora
do programa.
O crescimento de mestrados sobre moda em programas de design se intensificou a
partir de 2008 quando comearam a ser defendidos os primeiros trabalhos resultantes do
mestrado em Design da Anhembi Morumbi, programa que apresenta uma linha denominada
Design, arte e moda: inter-relaes e que tem em seu corpo docente duas das mais
destacadas pesquisadoras da rea Cristiane Mesquita e Kthia Castilho13.
12 Ainda que existam alguns doutorados que abordem questes relativas moda sendo desenvolvidos na rea, como aqueles de Lourdes Maria Pulls, Dbora Cristho e Flvio Sabra (todos no programa da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro PUC-RJ), no foram localizados registros de doutorados concludos sobre o tema na rea. Cf: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4706236A7, 13 Tambm atuou no programa a professora Rosane Preciosa, que ao lado de Cristiane Mesquita coordena o GT Processos de criao e produo de subjetividade no Colquio de Moda. tambm autora da seo Moda na Filosofia publicada na revista dObra[s] (Editora Estao das Letras) e de diversos livros e artigos sobre o tema. Atualmente professora do Instituto de Artes e Design da Universidade de Juiz de Fora. Cf:
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Administrao e Economia
Desde o final dos anos 1970, quando ainda que lentamente, comeam a se ampliar
os estudos acadmicos que tratam de moda e temas afins (como indumentria e indstria do
vesturio) no mbito da ps-graduao no Pas, essa produo veem se concentrando
majoritariamente em duas reas, Comunicao e Administrao. Os trabalhos produzidos
nestas somam 142 (62 na Comunicao e 80 na Administrao), o que significa mais de
26% do total.
O agrupamento de trabalhos na rea da Administrao (especialmente no mestrado)
bem como o nmero relevante de trabalhos elaborados no mbito dos programas de ps-
graduao em Economia (17) amplia-se consideravelmente em meados da dcada de
1990, o que certamente constitui um desdobramento das mudanas introduzidas nas
indstrias ligadas ao setor do vesturio aps a abertura das importaes no incio da dcada
de 1990. (ver grfico 2)
Outra caracterstica da produo proveniente dessa rea, que os trabalhos so
bastante pulverizados e desenvolvidos em diversas universidades e Estados do Brasil. Os
estudos tratam de temas variados, mas uma questo bastante explorada so os arranjos
locais e os desenvolvimentos de polos txteis e confeccionistas regionais. Tambm quase
no h concentrao de trabalhos sobre moda por orientador. Mrcia Regina Gabardo da
Cmara, docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paran a professora que
mais orientou mestrados na rea (quatro no total), entretanto, a professora possu apenas
uma publicao na rea e no desenvolve projetos sobre o tema14. provvel que tais
orientaes decorram da demanda local, pois a cidade de Londrina uma das que forma o
polo txtil do Norte do Paran, composto tambm pelas cidades de Maring, Apucarana e
Cianorte.15
Apesar da profuso de trabalhos realizados nos programas de ps-graduao em
Administrao, localizei apenas um livro proveniente de tese realizada na rea, Consumo de
Moda: a Relao Pessoa-Objeto (Barueri: Estao das Letras e Cores), de Ana Paula Celso
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4791938T0 , acesso em 10 de janeiro de 2011. 14 CAMARA, M. R. G. ; OLIVEIRA, Maria Aparecida de ; SOUZA, Luiz Gustavo Antnio de. O
corredor da moda do norte-noroeste do Paran luz dos Arranjos Produtivos Locais. In: Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, v. 110, n. 1, p. 110-125, 2006. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4794518E3#Producaocientifica 15 Dados publicados no site da Federao das Indstrias do Paran em 2008 informam que No Paran, em 2006, existiam 744 estabelecimentos da Indstria Txtil, sendo que a maior concentrao se encontra na Mesorregio Norte Central Paranaense com 281(41,69%), seguido da Metropolitana de Curitiba com 151 (18,53%) e do Noroeste Paranaense com 71
(10,86%). Disponvel em: http://www.fiepr.org.br/fiepr/analise/panorama/t%C3%AAxtil.pdf, acesso em 19 de janeiro de 2011.
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Miranda, lanado em 2008 e resultante da tese Comportamento de consumo simblico: a
marca como instrumento da relao pessoa-objeto, defendida em 2006 na FEA-USP.
Grfico 2
Dissertaes de mestrado sobre moda e temas
afins, por rea do conhecimento (1978-2010)
17%
13%
10%
9%8%
8%
5%
4%
4%
4%
4%
2%
2%
2%
2%
1%
1%
1%
1%
1%
Administrao
Comunicao
Design
Outras
Engenharia de
Produo
Moda, Cultura e Arte
Educao
Artes
Histria
Economia
Sociologia
Psicologia
Antropologia
Cultura Visual
Sistemas de Gesto
Desenvolvimento
Letras
Cincias Sociais
Geografia
Tecnologia
Em Outras foram somadas dissertaes produzidas nas seguintes reas: Agronegcios (1), Arquitetura
e Urbanismo (2), Cincias da Religio (1), Direito (1), Estudos tnicos e Africanos (1), Cincia da
Informao (1), Economia Domstica (4), Educao Fsica (2), Engenharia Mecnica (2), Esttica e
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Histria da Arte (3), Jornalismo (1), Multimeios (1), Poltica Cientfica e Tecnolgica (3), Profissional em
Controladoria (2), Profissionalizante em Polticas Pblicas e Gesto da Educao Superior (1),
Profissionalizante em Qualidade (2), Profissionalizante em Administrao (3), Relaes Pblicas,
Propaganda e Turismo (1), Sade Coletiva (1), Servio Social (1), Tecnologia Educacional nas Cincias
da Sade (1), Turismo e Hotelaria (1), Teoria Literria (3), Tecnologia (4).
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Comunicao
Na rea da Comunicao, a transposio de teses e dissertaes para livros um
pouco mais frequente, e alm do j citado Rock nos passos da moda (CORREA, 1989), foram
encontrados outros dez ttulos (ver tabela 2), sendo seis resultantes de mestrados e trs
de doutorados. Somando um total de 11 publicaes, a Comunicao firma-se como a rea
que mais converteu a produo da ps-graduao em livros. A maior parte dessas
publicaes foi realizada por editoras vinculadas a universidades ou que tem por
caracterstica a publicao de obras provenientes de teses ou dissertaes caso da
Annablume.
Tabela 2: Teses e dissertaes produzidas em programas de mestrado na rea de Comunicao sobre moda e publicadas em livro.
Autor Ttulo da dissertao/tese Ttulo, cidade e editora Data da defesa da dissertao/tese
Data da publicao do livro
1. Airton Francisco Embacher
Moda e identidade: a construo de um estilo prprio.
Moda e identidade (So Paulo: Saraiva)
1998 1999
2. Miriam da Costa Manso
O Reflexo no Espelho - O vesturio e moda como linguagem artstica e simblica. (dissertao)
O Reflexo no Espelho: o vesturio e moda como linguagem artstica e simblica. (Goinia: CEGRAF/UFG)
1998 2006
3. Ana Mery Sehbe de Carli
O Sensacional da Moda. (dissertao)
O sensacional da moda (Caxias do Sul: EDUCS)
1999 2002
4. Graziela Valadares Gomes de Mello Vianna
Jingles e spots: a moda nas ondas do rdio (1970/2000). (dissertao)
Jingles e spots: a moda nas ondas do rdio (Belo Horizonte: Editora Newton Paiva)
2002 2004
5. Kthia Castilho Cunha
Do Corpo presente Ausncia do Corpo: Moda e Marketing. (dissertao)
Moda e linguagem. (So Paulo: Anhembi Morumbi)
2003 2004
6. Renata Pitombo Cidreira
Moda e significao: aparncia e estilo nas cenas vestimentrias. (tese)
Os sentidos da Moda. (So Paulo: Annablume)
2003 2005
7. Suzana Helena de Avelar Gomes
Moda - entre arte e consumo. (tese)
Moda, globalizao e novas tecnologias (Barueri: Estao das Letras e Cores)
2005 2009
8. Ana Mery Sehbe de Carli
O corpo no cinema: variaes do feminino. (tese)
O corpo no cinema: variaes do feminino.
(Caxias do Sul: EDUCS)
2007 2009
9. Mrio Antnio Pinto de Queiroz
O heri desmascarado: a imagem do masculino nos editoriais da revista inglesa Arena Homme Plus entre 1995 e 2007. (dissertao)
O heri desmascarado: a imagem do homem na moda (Barueri: Estao das Letras e Cores)
2008 2009
10. Maria Carolina Garcia (Carol Garcia)
Imagens errantes: a comunicao nos txteis do mercado global. (tese)
Imagens errantes: ambigidade, resistncia e cultura de moda. (Barueri: Estao das Letras e Cores)
2010 2010
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Ao contrrio do que ocorre na Administrao, na Comunicao, h alguns professores
que com freqncia orientam trabalhos sobre moda e que possuem produo bibliogrfica
que contempla o tema, exemplos so o j citado Victor Aquino, Ana Claudia de Oliveira (oito
trabalhos, sendo um doutorado); Lcia Santaella (seis trabalhos, sendo um doutorado) e
Norval Baitello Jnior (trs trabalhos, sendo um doutorado), todos docentes do programa de
ps-graduao em Comunicao e Semitica da PUC-SP. Fora do Estado de So Paulo,
destaca-se Nzia Villaa (UFRJ), que orientou trs trabalhos na rea e possu diversas
publicaes sobre moda. Essa tambm a rea que concentra a maior parte dos doutorados
defendidos na rea, 26% do total. (ver Grfico 3)
Grfico 3:
Doutorados sobre moda e temas afins (1950-
2010): Distribuio por rea do conhecimento.
5%
5%
9%
11%
11%
17%
19%
23%
Antropologia
Cincias Sociais
Administrao
Sociologia
Histria
Outros
Engenharia de Produo
Comunicao
Em Outras esto includos os doutorados realizados nas seguintes reas: Arquitetura,
Lingustica e Psicologia (um por rea); Artes, Cincias da Comunicao, Educao,
Geografia e Letras (dois por rea).
possvel que o impulso inicial para os estudos sobre moda na Comunicao no
Brasil, tenha ocorrido em razo da abertura para o tema proporcionada por tericos da rea.
Num perodo em que a produo acadmica sobre o era bastante minguada, Roland Barthes
lanou O Sistema da Moda (1967). Classificada por seu autor como ultrapassada quando da
sua publicao, e muito criticada por leitores e crticos em razo de seu hermetismo, a
publicao da obra e sua traduo para diversos idiomas, tem o mrito de ter colaborado
para a elevao da moda a tema digno de estudos acadmicos (BARTHES, 2005)16. Tambm
16 A obra foi inicialmente vertida para o portugus pela editora Edies 70 (Portugal), em 1967 e em 1979 ganhou edio nacional pela Edusp (Editora da Universidade de So Paulo),
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os anos 1960, a obras de Marshall McLuhan tambm abordou o tema moda, exemplo , Os
meios de comunicao como extenso do homem (1969), no qual dedica um captulo
roupa (Vesturio: extenso da nossa pele).
Trabalhos provenientes da sociologia e filosofia que abordaram a moda e temas a ela
relacionados, como os elaborados por Jean Baudrillard ou Michel Maffesoli, aparentemente
tiveram maior impacto no campo da Comunicao do que em suas reas de origem. Ou seja,
plausvel aventar que foi nessa rea, que a questo das roupas e das aparncias comeou
a ser recuperada como objeto de estudo pelos intelectuais na 2. metade do sculo XX
posto que a moda havia despertado o interesse de estudiosos que atuaram entre o final do
sculo XIX e incio do XX, tais como Thorstein Veblen e Georg Simmel.
Entendendo que "A Semitica a cincia que tem por objeto de investigao todas
as linguagens possveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituio
de todo e qualquer fenmeno de produo de significao e de sentido." (SANTAELLA, 1983:
13), possvel afirmar que o desenvolvimento dos estudos sobre Semitica no Brasil a partir
dos anos 1970, proporcionou a ampliao da possibilidade dos estudos da moda como
linguagem especialmente no interior do programa de ps-graduao em Comunicao e
Semitica da PUC-SP criado em 1978, dentro da qual passaram a ser desenvolvidos
trabalhos abalizados nas mais diversas perspectivas tericas da rea. Isso