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Revista Brasileira de Ciências Ambientais dezembro 2004 Nº 2 • www.fsp.usp.br/nisam • www.ictr.org.br

ICTR Revista Brasileira de ASSOCIE-SE · Edson A. Abdul Nour (FEC/Unicamp) ... (UFRJ) Francisco Suetônio Bastos Mota (UFCE) ... Paulo Renato Mesquita Pellegrino (FAU/USP)

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ICTRASSOCIE-SEBenefícios:Os sócios do ICTR participarão de uma rede entre os professores epesquisadores de todas as instituições públicas brasileiras de ensinoe de pesquisa, proporcionando a integração e atualização doconhecimento na área de resíduos e desenvolvimento sustentável.Poderão participar dos projetos organizados pelo instituto, assimcomo propor e coordenar projetos por meio do ICTR. Os sóciosreceberão, ainda, revista publicada pelo instituto e terão descontosespeciais em todos os eventos organizados por este.

Requisitos:Os sócios do ICTR devem ser professores, pesquisadores ou alunosde graduação ou pós-graduação das instituições públicas de ensinoe de pesquisa brasileiras, bem como pessoas jurídicas interessadas.

As categorias de sócios são:Sócios Fundadores – Os professores e pesquisadores com atuaçãona área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente edesenvolvimento sustentável, ligados às universidades públicas doestado de São Paulo – USP, Unesp, Unicamp, UFSCar, UNIFESP – etambém ao IPT e ao IPEN, que subscreverem a ata de fundação doICTR, a qual será mantida aberta pelo prazo de quatro meses acontar da data do competente ato de registro.

Sócios Regulares – Os professores e pesquisadores e alunos comatuação na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente edesenvolvimento sustentável, ligados às instituições públicas brasileirasde pesquisa e ensino superior, após o transcurso do prazomencionado no item anterior.

Sócios Beneméritos – Os que contribuírem com recursos, materiaisou humanos, para o desenvolvimento das atividades do instituto.

Sócios Honorários – Os que, por decisão conjunta dos órgãoscolegiados do instituto e por proposta, de iniciativa subscrita por aomenos dez sócios, merecerem este título em virtude de atuaçãodestacada na defesa dos ideais pelos quais o instituto propugna,consoante os objetivos estabelecidos.

Sócios Institucionais – As pessoas jurídicas que vierem a associar-se.

Formulários de inscrição em: www.ictr.org.br/associe.htm

RevistaBrasileira deCiências Ambientaisdezembro 2004 Nº 2 • www.fsp.usp.br/nisam • www.ictr.org.br

EDITOR

Marcelo de Andrade Roméro

CONSELHO EDITORIALPresidente

Marcelo de Andrade Roméro

Arlindo Philippi Jr.Celina Lopes Duarte

Eglé Novaes TeixeiraJorge Alberto Soares Tenório

Márcio J. Estefano de OliveiraMaria Cecília Focesi Pelicioni

Roberto Nunes Szente

DATA

Dezembro de 2004

TIRAGEM

2.000 exemplares

PROJETO E PRODUÇÃO GRÁFICA

Laboratório de Programação Gráfica daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Instituições Participantes

USP

UNICAMP

UNESP

UFSCAR

IPEN

IPT

RevistaBrasileira de

Ciências Ambientais

Adelaide Cássia Nardocci (FSP/USP)

Alaôr Caffé Alves (FD/USP)

Alcides Lopes Leão (Unesp/BOT)

Alexandre de Oliveira e Aguiar (NISAM/USP)

Angela M. Magosso Takayanagui (EERP/USP)

Antonio Carlos Rossin (FSP/USP)

Antonio Fernando Pinheiro Pedro (ABAA)

Antonio Herman Benjamín (IDPV)

Aracy Witt de Pinho Spínola (FSP/USP)

Aristides Almeida Rocha (FSP/USP)

Arlindo Philippi Jr. (FSP/USP)

Armando Borges de Castilhos Jr. (UFSC)

Attilio Brunacci (NISAM/USP)

Bastiaan Reydon (Unicamp)

Bruno Coraucci Filho (FEC/Unicamp)

Carlos Celso do Amaral e Silva (FSP/USP)

Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS)

Carlos Malzyner (SEMPLA)

Celina Lopes Duarte (Ipen)

Célio Bérman (IEE/USP)

Cíntia Philippi Salles (NISAM/USP)

Claudio Fernando Mahler (COPPE/UFRJ)

Cleverson V. Andreoli (UFPR)

Daniel Joseph Hogan (Unicamp)

Daniel Roberto Fink (MPSP)

Daniel Silva (UFSC)

Delsio Natal (FSP/USP)

Denise Crocce Romano Espinosa (EP/USP)

Dimas Floriani (UFPR)

Édis Milaré (NISAM/USP)

Edson A. Abdul Nour (FEC/Unicamp)

Edson Leite Ribeiro (PRODEMA/UFPB)

Eglé Novaes Teixeira (FEC/Unicamp)

Enrique Leff (PNUMA)

Eugênio Foresti (EESC/USP)

Fábio Luiz Teixeira Gonçalves (IAG/USP)

Fábio Nusdeo (FD/USP)

Fábio Taioli (IGc/USP)

Fabiola Zioni (FSP/USP)

Fernando Fernandes da Silva (NISAM/USP)

Francisco Radler (UFRJ)

Francisco Suetônio Bastos Mota (UFCE)

Gilberto Passos de Freitas (TJ/SP)

Gilda Collet Bruna (Mackenzie)

Guido Fernando Silva Soares (FD/USP)

Guilherme J. Purvin de Figueiredo (PGESP)

Helder Perdigão Gonçalves (INETI/Portugal)

Helena Ribeiro (FSP/USP)

Heliana Comin Vargas (FAU/USP)

Hilton Felício dos Santos (Consultor Ambiental)

Isak Kruglianskas (FEA/USP)

Ivete Senise (FD/USP)

Jair Lício Ferreira Santos (FMRP/USP)

João Antônio Galbiati (Unesp)

João Sergio Cordeiro (UFSCar)

João Vicente de Assunção (FSP/USP)

Jorge Alberto Soares Tenório (EP/USP)

Jorge Gil Saraiva (LNEC/Portugal)

Jorge Hajime Oseki (FAU/USP)

Jorge Hamada (Unesp)

José Carlos Derísio (Consultor Ambiental)

José Damásio de Aquino (FUNDACENTRO)

José de Ávila Aguiar Coimbra (NISAM/USP)

José Eduardo R. Rodrigues (Fundação Florestal)

José Fernando Thomé Jucá (UFPE)

José Luiz Negrão Mucci (FSP/USP)

José Maria Soares Barata (FSP/USP)

Leila da Costa Ferreira (Unicamp)

Léo Heller (UFMG)

Luis Enrique Sánchez (EP/USP)

Luiz Roberto Tomasi (FUNDESPA)

Luiz Sérgio Philippi (UFSC)

Marcel Bursztyn (UNB)

Marcelo de Andrade Roméro (FAU/USP)

Marcelo Pereira de Souza (EESC/USP)

Márcia Faria Westphal (FSP/USP)

Márcio Joaquim Estefano Oliveira (Unesp)

Marcos Reigota (UNISO)

Marcos Rodrigues (EP/USP)

Maria Cecília Focesi Pelicioni (FSP/USP)

Maria José Brollo (IG/SMA/SP)

Maria Olímpia Rezende (IQSC/USP)

Maria Regina Alves Cardoso (FSP/USP)

Mario Thadeu Leme de Barros (EP/USP)

Mary Dias Lobas de Castro (SVMA/PMSP)

Milo Ricardo Guazelli (ANVISA)

Mônica Porto (EP/USP)

Murilo Damato (SENAC)

Nemésio N. Batista Salvador (UFSCar)

Oswaldo Massambani (IAG/USP)

Paulo Affonso Leme Machado (UNIMEP)

Paulo Artaxo (IF/USP)

Paulo de Tarso Siqueira Abrão (NISAM/USP)

Paulo H. Nascimento Saldiva (FM/USP)

Paulo Renato Mesquita Pellegrino (FAU/USP)

Pedro Caetano Sanches Mancuso (FSP/USP)

Pedro Roberto Jacobi (PROCAM/USP)

Petra Sanchez Sanchez (Mackenzie)

Philip O. M. Gunn (FAU/USP)

Raul Machado Neto (ESALQ/USP)

Renata Ferraz de Toledo (NISAM/USP)

Ricardo Toledo Silva (FAU/USP)

Roberto Nunes Szente (IPT)

Roque Passos Pivelli (EP/USP)

Ruben Bresaola Jr. (FEC/Unicamp)

Ruth Sandoval Marcondes (FSP/USP)

Sabetai Calderoni (NAIPPE/USP)

Sebastião Roberto Soares (UFSC)

Sergio Eiger (FSP/USP)

Severino Soares Agra Filho (UFBA)

Sheila Walbe Ornstein (FAU/USP)

Solange Teles da Silva (NISAM/USP)

Tadeu Fabrício Malheiros (FSP/USP)

Umberto Cordani (IGc/USP)

Vahan Agopyan (EP/USP)

Vanderley Moacyr John (EP/USP)

Vera Lúcia Ramos Bononi (NISAM/USP)

Vicente Fernando Silveira (NISAM/USP)

Walter Lazzarini (NISAM/USP)

Wilson Edson Jorge (FAU/USP)

Witold Zmitrowicz (EP/USP)

Yara Maria Botti M. de Oliveira (Mackenzie)

NISAM/ ICTR

CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO

Instituto de Ciência e Tecnologia emResíduos e Desenvolvimento SustentávelPRESIDENTE

Arlindo Philippi Jr.VICE-PRESIDENTE

Jorge Alberto Soares Tenório

DIRETORIA EXECUTIVA

Sabetai Calderoni

DIRETORIA DE TECNOLOGIA E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

Gilda Collet BrunaDiretores Adjuntos

Márcio J. Estefano de OliveiraJoão Sérgio Cordeiro

DIRETORIA DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO

Angela Maria Magosso TakayanaguiDiretores Adjuntos

Edson A. Abdul NourJorge Hamada

DIRETORIA EDITORIAL

Marcelo de Andrade RoméroDiretores Adjuntos

Maria Cecília Focesi PelicioniRoberto Nunes Szente

DIRETORIA DE PESQUISA

Ruben Bresaola JuniorDiretores Adjuntos

João Antonio GalbiatiJorge Alberto Soares TenórioBernardo A. do Nascimento Teixeira

DIRETORIA DE EVENTOS

Leny Borghesan AlberghiniDiretores Adjuntos

Eglé Novaes TeixeiraCelina Lopes DuarteNemésio N. Batista Salvador

CONSELHO DE ORIENTAÇÃO

Alaôr Caffé AlvesAlcides Lopes LeãoCarlos Celso do Amaral e SilvaCelina Lopes DuarteEdson A. Abdul NourEglé Novaes TeixeiraGuilherme Ary PlonskiJorge HamadaLeny Borghesan AlberghiniMaria ZaninVahan AgopyanVanderley Moacyr John

CONSELHO FISCALTitulares

Mario Sérgio RodriguesNemésio N. Batista SalvadorPedro Caetano Sanches MancusoSuplentes

João Antonio GalbiatiLuis Enrique SánchezBruno Coraucci Filho

Núcleo de Informações emSaúde Ambiental

COORDENADOR CIENTÍFICO

Arlindo Philippi Jr.

VICE-COORDENADOR CIENTÍFICO

Pedro Caetano Sanches Mancuso

CONSELHO DELIBERATIVOPresidente

Arlindo Philippi Jr.Alaôr Caffé AlvesCarlos Celso do Amaral e SilvaGilda Collet BrunaJorge Alberto Soares TenórioMarcelo de Andrade RoméroMárcia Faria WestphalMaria Cecília Focesi PelicioniMaria Regina Alves CardosoPaulo Hilário Nascimento SaldivaPedro Caetano Sanches MancusoSergio Colacioppo

dezembro 2004 1

Índice

Palavras do PresidenteARLINDO PHILIPPI JR.

EditorMARCELO DE ANDRADE ROMÉRO

EntrevistaANGELA AMIN

Prefeita de Florianópolis

Gerenciamento de ResíduosEXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS SOBRE RESÍDUOS PERIGOSOS: AVALIAÇÃO,PERCEPÇÃO E COMUNICAÇÃO DE RISCOSRegina Maria A. Carneiro, Angela M. Magosso Takayanagui, Adriana A. Nery, Ana

Lúcia M. Barbosa

ReciclagemRECICLAGEM DE BATERIAS: ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL NO BRASILDenise Crocce Romano Espinosa, Jorge Alberto Soares Tenório

Educação AmbientalCAPACITAÇÃO, REPRESENTAÇÃO SOCIAL E PRÁTICA EM EDUCAÇÃOAMBIENTAL

Andréa Focesi Pelicioni, Helena Ribeiro

Energia e AmbienteA BIOMASSA COMO ALTERNATIVA ENERGÉTICA PARA O BRASILCelso Roberto Alves da Silva, Maria Teresa Flosi Garrafa, Paulo Laguna Navarenho,

Rodolfo Gado, Sérgio Yoshima

Saneamento AmbientalA APLICAÇÃO DE NITRATO DE AMÔNIO PARA O CONTROLE DE ODORES

EM SISTEMAS DE COLETA DE ESGOTOS SANITÁRIOSTeodosia Basile Liliamtis, Pedro Caetano Sanches Mancuso

MONITORAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS COMOINSTRUMENTO DE OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS ESUAS IMPLICAÇÕES

Solange Vieira da Silva, Rosemara Augusto Pereira, Roque Passos Piveli, Hernan

Junqueira Criscuolo

A QUESTÃO DA BALNEABILIDADE NAS PRAIAS: O CASO DOS MUNICÍPIOSDE SANTOS E SÃO VICENTEKátia Simões Parente

EventosAGENDA DE EVENTOS

COMUNICADO – ICTR´2004 / NISAM´2004

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais2

Palavrasdo Presidente

A movimentação da comunidadecientífica das ciências ambientais paradivulgar resultados de suas atividades depesquisa tem crescido significativamente.Essa movimentação tem encontrado noscongressos, fóruns e outros eventos umcanal inicial para as comunicações erevelado importante contribuição para odesenvolvimento da ciência e tecnologiaambiental.

A Revista Brasileira de CiênciasAmbientais – RBCIAMB, ao trabalharcom os diversos campos da áreaambiental, reforça seus objetivos de serum dos principais canais de divulgaçãocientífica dos estudos e pesquisasdesenvolvidos por essa comunidade,contando para isso com um corpoeditorial expressivo que reflete erepresenta as características das ciênciasambientais.

O Instituto de Ciência e Tecnologia emResíduos e Desenvolvimento Sustentável– ICTR e o Núcleo de Informações emSaúde Ambiental – NISAM da USP, aosomarem energias para a consolidaçãoda revista, reforçam a importância daconstrução de parcerias entreprofessores, pesquisadores eprofissionais das universidades, institutos

de pesquisa e instituições afins,contribuindo tanto para a produção edifusão de conhecimento em bases cadavez mais sólidas e interativas como paraa articulação e integração de grupos einstituições.

Com base nos resultados doseventos – fóruns, congressos,conferências, encontros acadêmicos,promovidos pelo ICTR e NISAM, tem-severificado uma ampliação gradativa detrabalhos que, por sua quantidade equalidade, revelam a necessidade decontar com a RBCIAMB, como relevanteveículo de divulgação científica da áreaambiental.

O crescimento da pós-graduaçãorelacionada a questões ambientais, como crescente aumento do número demestrados e doutorados, encontra,nessa revista, espaço tanto parasubmeter seus trabalhos para publicaçãocomo também para alimentar oconhecimento nos estudos e pesquisasem desenvolvimento.

Este segundo número da revistaconfirma e revela essa tendência.Usemos e demonstremos, pois, o que éconquista e produção destacomunidade.

Arlindo Philippi Jr.

Presidente do Instituto de Ciência e Tecnologia emResíduos e Desenvolvimento Sustentável – ICTR

Presidente do Conselho Deliberativo do Núcleo deInformações em Saúde Ambiental da Universidade de

São Paulo – NISAM

dezembro 2004 3

Editor

Marcelo de Andrade Roméro

Lançamos, oficialmente, a Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB,no evento ICTR´2004 – Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em Resíduos eDesenvolvimento Sustentável e NISAM´2004 – Ciclo de Conferências sobre Política eGestão Ambiental, no dia 17 de outubro de 2004, em Florianópolis, para um públicocomposto por cerca de 700 pessoas, provenientes de todo o Brasil. Da mesma forma,lançamos a RBCIAMB na sede da Faculdade de Saúde Pública, em novembro de 2004,para professores e alunos de pós-graduação do NISAM e de diversas unidades daUniversidade de São Paulo. Outros dois lançamentos foram realizados em novembrode 2004, sendo o primeiro na USP de Ribeirão Preto, no dia 29, e o segundo na USPde São Carlos, no dia 30, de maneira a conceder ampla divulgação para profissionais eacadêmicos presentes nesses eventos.

Foi muito prazeroso participar da editoração do segundo número daRBCIAMB, porque, a cada número, percebo que a revista vai atingindo os seusobjetivos. Iniciamos, desta vez, a seção Entrevista, a qual contou com a participação daprefeita de Florianópolis, no período de 1997 a 2004, que abordou sua experiência notocante à implantação de questões ambientais, como a Agenda 21 local, entre outras,no município de Florianópolis. Para o terceiro número programamos uma entrevistacom o engenheiro Rui Manuel Carvalho Godinho, administrador da VALORSUL,empresa responsável pelo tratamento de resíduos sólidos da região metropolitana deLisboa. No âmbito dos tópicos temáticos, os quais organizam a revista por áreas deinteresse, acrescentamos dois novos: Saneamento ambiental e Energia e ambientevisando caracterizar, por meio dos artigos científicos veiculados, o aspecto multidisciplinarda revista. Este, presente na busca pela diversidade de assuntos, é parte da linhaeditorial desta publicação e, ao mesmo tempo em que a caracteriza, diferencia-a.

Iniciamos, também neste número, a seção Agenda de eventos que, doravante,integrará o periódico, apresentando algumas chamadas de participação em eventosnacionais e internacionais na área ambiental, facilitando, assim, a busca do leitor pelosfóruns mais adequados para a apresentação e publicação de seus trabalhos. Do pontode vista formal, o rigor pela estética continua sendo uma preocupação, para que arevista seja cada vez mais bonita e, seu conteúdo, de fácil comunicação.

Revista Brasileira deCiências Ambientais

Envio de Artigos,Opiniões e Sugestões

Cartas paraNISAM/Revista Brasileira de Ciências

AmbientaisAv. Dr. Arnaldo, 715 – Cerq. César –São Paulo - SP – CEP 01246-904

A/c Marcelo de Andrade Roméro oue-mail: [email protected]

• • •

Assinatura

ICTR – Av. Paulista, n. 509, Piso P,Cj. 4 – São Paulo - SP

telefones: (11) 287-2327 / 287-4965e-mail: [email protected]

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Sites

www.ictr.org.br

www.fsp.usp.br/nisam

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Para anunciar

ICTR – Av. Paulista, n. 509, Piso P,Cj. 4 – São Paulo - SP

telefones: (11) 287-2327 / 287-4965

e-mail: [email protected]

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais4

Angela Regina Heinzen Amin Helounasceu no município de Indaial, emSanta Catarina. Formada em matemáticapela UFSC, desde cedo realizou trabalhosvoltados para a área social. Durante osanos de 1983 a 1986 desenvolveu parao governo do estado o Programa Pró-Criança, reconhecido pela Unicef doBrasil. Em 1988, Angela Amin se elegeuvereadora por Florianópolis, com a maiorvotação até então e, posteriormente,tornou-se a primeira mulher prefeita damesma cidade, a qual governou entre1997 e 2004. A prefeita concedeuentrevista a Marcelo de Andrade Roméro,editor da Revista Brasileira de CiênciasAmbientais, na abertura do eventoICTR’2004 e NISAM’2004, no dia 17 deoutubro de 2004, em Florianópolis.

RBCIAMB: Prefeita Angela Amin, como foidesenvolvido o processo de construçãoda Agenda 21 de Florianópolis?Angela AminAngela AminAngela AminAngela AminAngela Amin: Ele foi bastante analisado.Fizemos uma reunião inicial delançamento; depois dividimos omunicípio em diversas regiões eessas regiões sofreram novas divisões emsub-regiões para que a gente pudessechegar o mais próximo possível docidadão. O objetivo era que estivesserealmente espelhado, nesse documento,o sentimento ideal do cidadão deFlorianópolis, em relação ao que eleespera para o desenvolvimento de suacomunidade. Entendo que foi umaexperiência bastante válida, apesar deainda ser, em número de participantes,uma experiência pequena; talvez por serno Brasil um processo ainda novo, mascomo experiência foi amplamentepositivo. Algumas comunidadesparticiparam com mais identidade, outrascom menos. Vou citar um exemplo:

houve uma região onde a comunidadepossuía várias organizações ambientais eentendeu que deveria seguir as diretrizesde um documento que já possuíam.Bem, em meu entendimento, apesar dainiciativa dessa comunidade, odocumento já existente deveria seratualizado com base no que preconizavaa Agenda 21 local. Esse caso ocorreu naLagoa da Conceição, que possui um dosecossistemas mais frágeis do municípiode Florianópolis. Mesmo nãoconcordando inteiramente com acomunidade, respeitamos suas definiçõese determinações e acatamos suasdiretrizes inteiramente.RBCIAMB: Estas foram as principaisdificuldades encontradas?A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Isso é interessante, porque quandotu te propões a fazer um chamamentopara a comunidade, para promoverdiscussões, eles se consideramsoberanos e acham que prevalece, únicae exclusivamente, aquilo que eles têm, enão se nota uma posição de serenidade.RBCIAMB: Quais foram, a seu ver, osprincipais resultados do processo deimplantação da Agenda 21 até omomento?A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Entendo que hoje há uma visãodiferente. O resultado, em meu entender,foi a criação de uma sistemática de açãoda administração pública municipal. Semdúvida, houve uma nova visão interna nadiscussão, por exemplo, o novo planodiretor municipal e também um avançoem relação ao gerenciamento costeiro domunicípio de Florianópolis. A forma dediscussão do gerenciamento costeiro emnosso município, hoje, serve de base,para discussões semelhantes no Brasil.Também destaco a mudança dementalidade e da visão de participaçãocomunitária nas questões ambientais.

Como costumo dizer, a questãoambiental aqui no Brasil ainda é muitonova, e nós nos deparamos, em nossoprocesso, com dois extremos: aquelesque não querem saber de preservar ede cuidar, e o extremo do “simplesmentepreservar”.RBCIAMB: Houve algum processo deeducação ambiental nas escolas, paracrianças, decorrente da Agenda 21?A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Já existia um processo de educaçãoambiental no próprio regimento escolarda rede pública municipal. Em algunslocais ele era mais forte e em outrosmenos, mas a partir da Agenda 21, oprocesso se intensificou na rede públicamunicipal e alcançou as escolasestaduais e as particulares. Issoconsidero um grande avanço. É pormeio da educação que poderemosalcançar resultados na área ambiental eeu sempre digo, a visão que temos daárea ambiental é bem diferente da visãode nossos filhos.RBCIAMB: Quais foram as principaisconseqüências para o cidadão noprocesso de implantação da Agenda21 em Florianópolis?A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Entendo que foi, sem dúvida, aquestão da fiscalização e daconscientização, porque o melhor fiscal éo cidadão, e ele será um melhor fiscal apartir do momento em que entender aimportância dos ecossistemas para simesmo. Não é dever somente do poderpúblico ou do fiscal público.RBCIAMB: É do munícipe então?A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Sim, e nós só teremos a grandevitória a partir do momento em que ogrande fiscal for o cidadão.RBCIAMB: Mas, ele já é um pouco decerta forma...A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: A.A.: Sim, já avançamos muito semdúvida, mas precisamos avançar mais.

Entrevista

Angela AminPrefeita de Florianópolis

A visão que temos da áreaambiental é bem diferenteda visão de nossos filhos.

. . .

O melhor fiscal é o cidadão,e ele será um melhor fiscal apartir do momento em queentender a importância dos

ecossistemas para si.

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EXPERIÊNCIASMUNICIPAIS SOBRERESÍDUOS PERIGOSOS:AVALIAÇÃO,PERCEPÇÃO ECOMUNICAÇÃO DERISCOS

Regina Maria A. CarneiroEngenheira florestal – Mestranda do Programa deEnfermagem em Saúde Pública do DEMISP – EERP/[email protected]

Angela M. Magosso TakayanaguiProfessora doutora – Escola de Enfermagem deRibeirão Preto/USP –[email protected]

Adriana A. NeryEnfermeira, doutoranda do Programa de Enfermagemem Saúde Pública – EERP/USP.

Ana Lúcia M. BarbosaEnfermeira, mestranda do Programa Enfermagem emSaúde Pública – EERP/USP.

RESUMOOs problemas ambientais atuais se caracterizam por sua magnitude, complexidade e diversidade,diretamente relacionados a fatores de ordem política, social, econômica e de saúde, envolvendodireta ou indiretamente a comunidade, que nem sempre é comunicada ou consultada sobrequestões que podem levar a um risco ambiental e de saúde. Além disso, há uma grande lacuna emrelação ao compromisso do setor produtivo e do regulador da poluição ambiental, nos aspectosrelativos à comunicação de risco à população. No Brasil, o processo de avaliação, percepção ecomunicação de risco começou, recentemente, a ter destaque em pesquisas na área ambiental;porém, em países do Primeiro Mundo, o uso dessa estratégia pode ser identificado desde meadosdo século passado. Este estudo tem como objetivo discutir a participação da comunidade, diante deriscos ambientais causados por resíduos perigosos, oficialmente divulgados, a partir do conceito depercepção e comunicação de risco como instrumentos de gerenciamento de risco ambiental.Tomou-se como base a divulgação oficial de dois episódios de contaminação ambiental por essetipo de resíduo, ocorridos no estado de São Paulo, de 2000 a 2002, tendo sido trazido, também, casosimilar no Canadá, em 1990, a fim de subsidiar a discussão. Os dados foram extraídos de fontes deinformação acadêmica e de reportagens de jornais de grande circulação nacional, regional e local, daimprensa falada e escrita, bem como da imprensa eletrônica. Os resultados apontam para umnecessário incremento das ações públicas, no sentido de favorecer o processo de comunicação epercepção de risco ambiental no Brasil.

PALAVRAS-CHAVEAvaliação de risco, percepção de risco, comunicação de risco, resíduos perigosos, áreas contaminadas.

ABSTRACTThe environmental problems nowadays are characterized by its magnitude, complexity, and diversityrelated to the social, economic, political, and health order factors, attacking directly the community, thatis not always consulted and informed about the tasks that can get to health and environmental risk.Besides, there is a big fend related to the people accomplishment. In Brazil the risk assessment, riskperception, and risk communication process have started recently to be outstanding in environmentalarea researchs but in the most developed countries this strategies can be identified since the half oflast century. The aim of this study is to discuss the community participation before the environmentalrisks caused by hazardous wastes officialy communicated, from the concepts of risk perception andrisk communication as a skill of environmental risk management. It was taken two official cases ofenvironmental contamination by that kind of waste held in São Paulo State, from 2000 to 2002, anda similar case was held also in Canada, in order to help the discussion. The data sources are from theacademic information and reports on the best read nation newspapers as well as online information.The results point to a necessary public actions increment for the decision-makers in order to improvethe risk perception and risk communication of the environmental area in Brazil.

KEY WORDSRisk assessment, risk perception, risk communication, hazardous wastes, contaminated areas.

Gerenciamentode Resíduos

Revista Brasileira de Ciências Ambientais6

INTRODUÇÃOO crescimento urbano e a

conseqüente expansão industrial trazembenefícios à sociedade; mas, por outrolado, carream também uma contínuadeterioração do ambiente natural e dosrecursos primários necessários àmanutenção da vida, como a água, osolo e o ar.

Os problemas ambientais secaracterizam, atualmente, por suamagnitude, complexidade e diversidade,diretamente relacionados a fatores deordem política, social, econômica e desaúde (BRILHANTE; CALDAS, 1999).

Historicamente, o ser humanosempre demonstrou uma certapreocupação com o ambiente; mas apartir da década de 60 do século 20houve um considerável desenvolvimentoda consciência ambiental dos povos,quando se iniciaram os primeiros eventosinternacionais voltados para a discussãosobre a relação homem-ambiente, comoo famoso relatório produzido pelo Clubede Roma, que propôs limites para ocrescimento populacional ante osproblemas decorrentes do crescimento edesenvolvimento urbano (COIMBRA,2002).

Seguindo esse evento, houve váriasoutras reuniões que geraram novosrumos ao desenvolvimento daconsciência ambiental da humanidade edos dirigentes de estado, especialmentea II Conferência das Nações Unidassobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, ocorrida em 1992 noRio de Janeiro – ECO-92, que foi omaior evento dessa natureza e, maisrecentemente em setembro de 2002, aConferência RIO+10, realizada emJohannesburgo, África do Sul.

Dentre os diferentes problemasambientais, destacam-se os ligados àprodução de resíduos sólidos, oriundosde diferentes fontes, que vêm

aumentando em grande escala emtodas as sociedades, sendo causadas,principalmente, pelo desenvolvimentohumano e excesso de consumo debens e produtos, cada vez maiores.

Os diversos tipos de resíduos sólidosurbanos são provenientes de atividadeshumanas realizadas no contextodomiciliar e nos processos produtivos,como as indústrias que geram osresíduos Classe I, conforme a normaNBR-10.004 (ABNT, 1987),denominados como resíduos perigosos,por suas características e pelaconseqüente possibilidade de causardanos à saúde e ao ambiente,principalmente quando não há umplanejamento adequado paratratamento e destinação final dessesresíduos.

No que se refere aos riscosambientais e os efeitos à saúde humana,ainda há uma considerável distância emrelação ao conhecimento científico sobreos danos causados por agentes tóxicos,principalmente os de origem química,dado o elevado número de substânciasquímicas existentes, representando,portanto, cada vez mais, um importantetema a ser investigado e significando aponta de um iceberg, quando seconsidera que das cinco milhões desubstâncias químicas conhecidas pelohomem, somente sete mil já foramtestadas quanto à carcinogenicidade(CANADÁ, 1991).

Preocupações com a contaminaçãodos solos tornaram-se mais evidentes apartir do final da última década de 70,após a ocorrência de incidentes deproporções históricas em diversos paísesdo mundo, em que foram identificadossérios danos no solo causados porrejeitos, sobretudo, de indústrias químicas.

Uma área contaminada pode serdefinida como um local onde há,comprovadamente, poluição oucontaminação causada pela introdução

de substâncias ou resíduos que nelatenham sido depositados, acumulados,armazenados, enterrados ou infiltradosde forma planejada ou acidental, noqual os agentes de contaminaçãopodem concentrar-se no ar, nas águassuperficiais, no solo, nos sedimentos ounas águas subterrâneas. Oscontaminantes podem ser transportados,propagando-se por diferentes vias,alterando suas características edeterminando impactos negativos e/ouriscos sobre populações humanas,recursos naturais e infra-estruturalocalizados na própria área ou emoutras áreas sob influência direta ouindireta (CETESB, 2003).

Um aspecto fundamental para adeterminação de risco em áreascontaminadas é representado pelo tipode uso e ocupação do solo do entorno.Um risco só existirá se as concentraçõesde contaminantes excederem os limitesconsiderados aceitáveis e se osreceptores sensíveis estiverem emcontato direto ou indireto com ocontaminante (CETESB, 2003).

Uma das ferramentas utilizadas nogerenciamento de áreas contaminadas éo sistema de cadastro, que recebeinformações sobre as áreas,potencialmente, contaminadas, áreassuspeitas de contaminação e áreasconfirmadas como contaminadas. ACompanhia de Tecnologia deSaneamento Ambiental – Cetesb, a qualatua no estado de São Paulo, nogerenciamento das questões ambientais,aplicando a legislação existente nosprocessos de licenciamento e fiscalizaçãode atividades potencialmentedegradantes do meio ambiente, mantéme alimenta um cadastro dessa natureza,que subsidia a adoção de medidasvoltadas à remediação de áreascontaminadas, ao controle ambiental, aoplanejamento urbano e ocupação dosolo (CETESB, 2003).

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A saúde ambiental, ciência que seocupa das questões ambientais as quaisameaçam a qualidade de vida deindivíduos ou comunidades, vemlançando mão de diferentes estratégias einstrumentos metodológicos parasubsidiar os estudos nesse campo, comvista a uma participação mais efetiva decentros de pesquisas nas questõespolítico-administrativas da comunidade.

Para Brilhante e Caldas (1999), umapolítica de saúde ambiental deve serpautada em instrumentos bem claros eeficazes, constituídos de: legislaçãoambiental e de saúde, caracterização evaloração ambiental, instrumentos demercado, avaliação de impactoambiental, avaliação de risco ambiental,uso e ocupação do solo, manejo derecursos ambientais, recuperação deáreas degradadas e educação ambiental.

Em relação à avaliação de riscoambiental, em meados do séculopassado, na década de 60, foraminiciados estudos envolvendo a estratégiade avaliação e gerenciamento de riscona saúde ambiental, maisespecificamente como instrumentosmetodológicos utilizados em estudos daárea de toxicologia.

Para a agência americana de Registrode Doenças e Substâncias Tóxicas(ATSDR, 1990), o processo de avaliaçãode risco compreende a avaliação depropriedades de um dado elementoquímico em condições de exposiçãohumana, determinando a probabilidadede efeitos adversos a indivíduosexpostos a essas substâncias.

O Conselho Nacional de Pesquisas(NRC) da Academia Nacional de Ciênciasdos Estados Unidos desenvolveu umesquema de avaliação em situações derisco urbano, que consiste de quatrograndes componentes: identificação derisco, avaliação da dose-resposta,avaliação da exposição e caracterizaçãodo risco (CANADÁ, 1991).

Conway apud Brilhante e Caldas,1999, define “avaliação de riscoambiental (ARA) como o processo deavaliação conjunta de dados científicos,sociais, econômicos e de fatores políticosque precisam ser considerados para atomada de decisão (...), sendo que adecisão final envolve a medição científicado risco e o julgamento social, no qualos benefícios dos produtos ou atividadessão comparáveis ao risco” (p. 52).

Ainda, segundo esses autores, “oprocesso de Avaliação de ImpactoAmbiental (AIA) é definido como umconjunto de procedimentos realizadospara identificar, prever e interpretar,assim como prevenir as conseqüênciasou efeitos ambientais que determinadasações, planos, programas ou projetospodem causar à saúde, ao bem-estarhumano e ao entorno” (p. 48).

A legislação brasileira atual determinao uso de mecanismos destinados àavaliação de impactos ambientais: oEstudo de Impacto Ambiental erespectivo Relatório de ImpactoAmbiental, de acordo com as ResoluçõesConama n. 001 de 23/1/86 e n. 237de 19/12/97 (CONAMA, 1986;CONAMA, 1997).

No contexto do processo de avaliaçãode risco há também outras estratégiasque devem estar presentes em situaçõesde risco ambiental no espaço urbano,constituídas pelo processo decomunicação de risco, partindo deagências de controle e serviços públicosambientais e de saúde, e pelosresponsáveis pelo dano; e também oprocesso de percepção de risco pelosindivíduos ou pela coletividade envolvida.

O processo de comunicação de riscoguarda uma estreita ligação com apercepção de risco por indivíduos oucomunidades sobre situações existentesou em vias de concretizar-se.

Para Leiss (1995), comunicação derisco pode ser definida como o fluxo de

informações sobre avaliações de risco,anteriores ou futuras, por pesquisadores,legisladores, grupos envolvidos e deinteresse no tema, e pelo público emgeral.

No Brasil, oficialmente, a comunicaçãode risco ocorre em situações deAudiência e de Consulta Públicas,conforme previsto nas resoluçõesConama n. 001 de 23/1/86 e n. 009de 03/12/87 (CONAMA, 1986;CONAMA, 1987), sendo pouco comumpor outro meio.

A percepção de risco ambiental estárelacionada com a concepção que apopulação tem sobre sua saúde e ascondições do meio ambiente, bem comocom a forma em que se dá acomunicação dos riscos, com afinalidade de despertar e/ou sensibilizaras comunidades envolvidas para aproblemática de saúde ambiental, noque diz respeito aos riscos a que estãoexpostas.

As imprensas escrita e falada têmatuado de maneira importante nacomunicação de riscos, embora muitasvezes de forma alarmista. Por outro lado,tem servido ao processo de ampliaçãoda percepção de riscos pela sociedade,resultando em maior consciência críticada população sobre os problemas desaúde ambiental na sociedadecontemporânea.

No entanto, ainda é um instrumentode gerenciamento de risco poucoutilizado em nosso país, guardando umhistórico de forte domínio do setorprodutivo sobre as decisões políticas eadministrativas dos municípios,principalmente dos menos populosos.

Nos últimos anos, essecomportamento vem se modificando,tanto por parte dos responsáveis porprocessos de geração e controle daprodução de resíduos, ou substânciasnocivas ao ambiente e à saúde pública,quanto pela comunidade envolvida em

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situações de risco. Isso se deve, emparte, pela contribuição da mídia nadivulgação de alguns episódiosenvolvendo grupos de comunidades emsituação de exposição a poluentesperigosos, até mesmo com casos fataiscomo o acontecido em Goiânia com aampola de Césio violada por umpequeno grupo de pessoas quedesconheciam seu potencial de perigo,causando um desastre ambiental ehumano para toda a população doentorno de onde sucedeu o fato (CÉSIO137, 2003).

Assim, este trabalho visa discutir aquestão da participação da comunidadediante de riscos ambientais, oficialmentedeclarados, tomando-se como base oconceito de percepção e comunicaçãode risco, a partir de episódios decontaminação de áreas urbanas,ocorridos recentemente no estado deSão Paulo.

Com isso, espera-se, também, propiciaruma reflexão sobre a atuação dosgeradores de resíduos perigosos e dasagências fiscalizadoras governamentais,no que diz respeito à comunicação deriscos para as comunidades envolvidas,bem como na promoção de medidas deproteção e reparação dos danos geradosà saúde e ao ambiente.

METODOLOGIA

A busca de algumas situações paulistasde risco ambientalO estado de São Paulo possuía, até

maio de 2002, 145 áreascomprovadamente contaminadas, comprocesso de remediação em curso.Entretanto, é sabido que ainda existemmuitos casos não-cadastrados, os quaisaos poucos virão à tona, tendo em vistaque muitos rejeitos industriais foramdescartados, no passado, sem cuidados

com as conseqüências ambientais(CETESB, 2003).

Partindo-se dos conceitos depercepção e comunicação de risco,buscaram-se informações sobre doisepisódios de contaminação ambiental,recentemente divulgados no estado deSão Paulo, de 2000 a 2002,respectivamente nos municípios deGuaíra e Paulínia, realizando-se umestudo de caso sobre a temática,baseado nos dados disponíveis, etrazendo o relato de uma situação depercepção e comunicação de riscoambiental ocorrida no Canadá, no inícioda década de 90 (BAXTER et al, 1999),para subsidiar as discussões,considerando-se, obviamente, asevidentes diferenças de naturezasocioeconômica e cultural entre asrealidades dos referidos locais.

As informações sobre os casosocorridos no estado de São Pauloconstituíram-se de revistas científicas e dereportagens de jornais de grandecirculação nacional, regional e local, daimprensa on-line e de revistas técnicasrelatando casos de contaminaçãoambiental. A utilização de artigosdivulgados pela imprensa deve-se aofato de serem, os episódios, bastanterecentes e, portanto, ainda não-divulgados em revistas indexadas.

Os três casos se encontram em formade perfil descritivo, sintetizando asocorrências verificadas no período detomada de consciência da existência realde risco.

O caso de Guaíra, SPGuaíra, cidade situada no nordeste

do estado de São Paulo, possui umapopulação de aproximadamente 35.000habitantes, cuja economia está centradana produção de grãos e cana-de-açúcar,em área agrícola de 85 mil hectares ecerca de 500 produtores. Sãomanipulados mais de 15 mil litros de

agrotóxicos por ano no município,utilizados no controle de pragasagrícolas. Desde o ano 2000, foramdetectados quatro casos de anencefaliaocorridos no município, sendo um em2000, um em 2001 e dois em 2002(ROSSI, 2002 a, b, c).

A principal hipótese para os casos deanencefalia recaiu sobre a contaminaçãoambiental, a exemplo do ocorrido emCubatão na última década de 80,considerando-se que restos deagrotóxicos presentes em embalagens,descartadas de forma não controlada,poderiam estar contaminando as águasdo Ribeirão Jardim, principal manancialque abastece a cidade, com a ajuda daschuvas.

A hipótese levantada por técnicos dasáreas de saúde e meio ambiente,estaduais e municipais, baseava-se emanálises anteriores que haviam detectadoa presença de substâncias orgânicas eagrotóxicos nas águas do manancial,contaminando seus consumidores(ROSSI, 2002 a, c).

Considerando a experiência ocorridaem Cubatão, quando casos deanencefalia foram relacionados àcontaminação ambiental e, adotando asorientações da Secretaria de Estado daSaúde, a Secretaria Municipal de Saúderealizou exames de sangue em 111pessoas residentes nas zonas rural eurbana, em uma tentativa de abrangertoda população que pudesse estarsendo atingida (ROSSI, 2002 a).

Os resultados das análises de sanguerevelaram baixa quantidade de oxigênioem 50,45% das pessoas analisadas, oque significa um número superior a 17mil moradores com taxa de oxigênioabaixo do normal (ROSSI, 2002 c).

Segundo observações dos técnicosdo Centro de Vigilância Sanitária,freqüentemente são recolhidas dasmatas e acostamento de rodoviasregionais embalagens descartadas de

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Uma ex-moradora de Guaíra, por trêsanos, tendo engravidado nesse período,procurou a Secretaria Municipal deSaúde, informando ter perdido um filho,vítima de anencefalia, em 2001. Aotomar conhecimento das investigações,manifestou interesse em realizar osexames de sangue (ROSSI, 2002 b).

Já entre as autoridades responsáveisobservou-se que percebiam a situação eposicionavam-se sobre o caso, algumasvezes de forma contraditória:

“Três casos muito próximos deanencefalia numa cidade como Guaíralevantam a hipótese de que, se houveruma contaminação ambiental, as duascoisas podem estar relacionadas” –coordenador do programa Saúde daCriança, Secretaria de Estado da Saúde(ROSSI, 2002 c).

“A central (de recolhimento deembalagens) é importante para que oarmazenamento indevido e a queimade embalagens sejam interrompidos” –engenheiro agrônomo; enquanto aCetesb informava não ter como controlaro descarte irregular de embalagens deagrotóxicos, a não ser por meio dedenúncia (ROSSI, 2002 c).

A Secretaria Municipal da Saúdeacreditava que a alteração no sanguetivesse sido provocada por algum tipode contaminação por praguicida esolvente orgânico utilizado na agriculturaou pela água. Em outro momento, amesma Secretaria Municipal da Saúdeemitia declaração no sentido contrárioao que vinha manifestando: “Guaíraenfrenta um inimigo invisível, já que aágua e o agrotóxico, que eramapontados como principais suspeitos,estão praticamente descartados.”(PAGNAN, 2002)

Sabe-se que a anencefalia é umdefeito grave, que envolve ausência detodo o cérebro ou dos hemisférioscerebrais; o tronco cerebral e o cerebelopodem estar intactos. A anencefalia total

é incompatível com a vida; muitosanencefálicos são abortados ounatimortos; lactentes vivos, geralmente,sobrevivem apenas algumas horas e aetiologia está relacionada àhereditariedade e também a fatoresambientais (MUSCARI,1998;MARCONDES, 1992).

O caso do bairro Recanto dos Pássaros,Paulínia, SPO bairro Recanto dos Pássaros se

situa no município de Paulínia, próximoao rio Atibaia, local em quepredominavam chácaras e pequenaspropriedades agrícolas. Em 1977 foiinstalada, nesse bairro, uma fábrica depraguicidas no Centro Industrial da Shell,produzindo até 1990 agroquímicosorganoclorados, pertencentes à famíliados Drins. Esses produtos foramamplamente divulgados e assimiladospelo setor agrícola do país, naqueleperíodo em que as leis ambientaisbrasileiras, ainda rudimentares, não faziamgrandes exigências para a instalação eoperação de indústrias, as quais foramincentivadas a partir da explosão industrialocorrida (SILVEIRA, 2001).

A partir de 1985, o uso de inseticidasorganoclorados na agricultura foiproibido pelo Ministério da Saúde. Noentanto, a fábrica da Shell, em Paulínia,continuou com sua produção, visandoatender o uso desses produtos emreflorestamentos, que não haviam sidoproibidos, e também para exportação(SILVEIRA, 2001; CONTAMINAÇÃO,2001).

Segundo a Cetesb, houve umacompanhamento das atividades emudanças ocorridas na empresa, desdesua Licença de Instalação, tendo sido, aempresa, punida por aquele órgão comsete advertências e duas multas duranteo período. Também foram oficialmenteregistrados, durante esses anos deprodução de organoclorados, três casos

agrotóxicos, sem qualquer norma desegurança. Uma central de recebimentode embalagens, reivindicada pelosprodutores rurais há cerca de 20 anos,está em processo de licenciamento emGuaíra (ROSSI, 2002 c).

A Lei Federal n. 9.974 de 6/6/2000,que altera a Lei n. 7.802 de 11/7/89,obriga os usuários de agrotóxicos aefetuarem a devolução da embalagemvazia aos estabelecimentos comerciaisem que foram adquiridos, podendo, adevolução, ser intermediada por postoou centro de recolhimento autorizado efiscalizado por órgão competente(BRASIL , 2003).

O Ministério Público, por meio daPromotoria do Meio Ambiente de Guaíra,instalou inquérito civil para apurarpossível contaminação e intoxicação dosmoradores, bem como os responsáveispelo fato (ROSSI, 2002 a, b, c), tendosido criada uma Comissão da Câmara deVereadores, com a finalidade deacompanhar as pesquisas realizadas naágua da cidade, abastecida pelo RibeirãoJardim e poços subterrâneos.

A divulgação oficial da ocorrência decasos de anencefalia levou a populaçãoa preocupar-se com a possibilidade deestar sendo contaminada e com oprovável agente causador dacontaminação. Essa preocupação foicaptada em manifestações da populaçãoafetada, tomadas de reportagens daépoca, a exemplo de algunsdepoimentos:

“Devido ao fato de Guaíra serextremamente agrícola, pode ser quetenha ocorrido algum tipo decontaminação” – secretário da Saúde(ROSSI, 2002 a).

Sem uma explicação definitiva, osmoradores de Guaíra tentam evitar aingestão de água da cidade, temendoque a contaminação possa estar vindopor ela. “Eu só bebo água mineral”,relata uma moradora (PAGNAN, 2002).

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de vazamento dessas substâncias(SILVEIRA, 2001), mas sem o caráter decomunicação oficial dos riscos àcomunidade.

Entretanto, a contaminação do solo edo lençol freático do Recanto dosPássaros por Drins e solventes voláteisnão foi detectada pela Cetesb e pelosdemais órgãos fiscalizadores na época,vindo à tona somente em 1994, porocasião da auditoria ambientalcontratada pela Shell. Constatada acontaminação do solo e do aqüífero naárea e no entorno, a Shell efetuouautodenúncia ao Ministério PúblicoEstadual. Essa conduta foi adotadaporque a indústria se encontrava emprocesso de venda à Cyanamid IndustrialComercial Ltda. (SILVEIRA, 2001).

Em 1995, a multinacional anglo-holandesa assinou um acordo derecuperação ambiental com a Promotoriade Meio Ambiente, o que motivou oarquivamento do inquérito civil movidocontra a empresa. Em fevereiro de 2001,quando foram divulgados os resultadosde contaminação ambiental fora doslimites da fábrica, esse inquérito foireaberto, graças à atuação dosmoradores do bairro Recanto dosPássaros, que passaram a reunir-se ebuscar uma solução para o problema(MARGARIDO, 2001).

Por exigência do Ministério Público,cerca de 200 moradores das 66chácaras vizinhas à fábrica foramsubmetidos aos exames clínicos e desangue realizados pelo Centro deAnálises Toxicológicas da UniversidadeEstadual Paulista de Botucatu. Osresultados dos exames apontaram que70% das pessoas apresentavamsintomas clínicos compatíveis com apresença destes contaminantes em seusorganismos, sendo que 86%apresentavam contaminação por, pelomenos, uma substância química.Detectou-se que, dos 200 moradores,

88 adultos (44%) e 27 crianças (13%)tinham um quadro de contaminaçãocrônica (GUAIUME, 2001).

Tornados públicos esses resultados,mesmo descartando a hipótese decontaminação, a Shell resolveu fornecerágua potável à população, comprar aprodução de frutas e hortaliças daschácaras atingidas, bem como adquiriros terrenos dos proprietários quedesejassem sair de lá (SHELL, 2003).

Atualmente, de acordo com a fichatécnica do cadastro de áreascontaminadas da Cetesb, a área doCentro Industrial Shell de Paulíniaapresenta-se contaminada compraguicidas organoclorados, solventeshalogenados e fenóis clorados. Assim,foram recomendadas ações imediataspara resguardar os receptores de risco,tais como: isolamento da área,monitoramento ambiental, prevenção deconsumo de água e de alimentosproduzidos nas imediações, remoçãodos resíduos e tratamento dos líquidoscontaminados (CETESB, 2003).

A comprovação técnica decontaminação do solo desencadeoupara os moradores do bairro umamudança repentina em suas vidas,levando-os a manifestações públicas emprotesto ao dano sofrido, mas semmuita perspectiva de solução. Apercepção do problema pelosmoradores pode ser, em parte, verificadapor relatos e manifestações tambémtomados da imprensa escrita:

– Moradora há 33 anos no bairro,reclama de coceiras, gosto de veneno naboca e estômago ruim, manifesta seudilema: “Não quero sair daqui, mas nãoposso ficar”, precisou parar de venderseus produtos agrícolas, depois que anotícia da contaminação se espalhou(GUAIUME, 2001).

– Moradora no bairro há nove anos,descreve problemas de saúdeapresentados pelos filhos jovens, como:

feridas nas mãos, bronquite, manchas nocorpo, inchaço no rosto. Ainda, o irmãodessa moradora, também residente namesma chácara, apresenta problemasmotores e neurológicos desde o início de2001 (GUAIUME, 2001).

Alguns depoimentos ressaltaram aindignação e revolta pela situação, como:

–“Nós nos sentimos cobaias da Shell.Queremos que a empresa seresponsabilize pelo que fez e nosindenize. Se ela tivesse contaminadomoradores da Holanda, onde fica suasede, as sanções seriam mais rigorosas.Ela estaria fechada.” Líder dosmoradores do Recanto dos Pássaros(SILVEIRA, 2001).

O Secretário de Defesa eDesenvolvimento do Meio Ambiente dePaulínia relata: “Aqui, a partir de 1970,quando começou a funcionar aRefinaria de Paulínia, as indústriasforam instaladas às margens de um riopiscoso, habitadas por chacareiros epescadores. Vinte e cinco anos depois,os peixes e as matas nativas se foram eas pessoas estão doentes.” (SILVEIRA,2001)

De acordo com o promotorresponsável pelo inquérito civil: “Aautodenúncia da Shell não se deu porpreocupação com o Meio Ambiente oucom a saúde dos moradores. Seuinteresse foi exclusivamente comercial,pois estava vendendo suas fábricas dedefensivos agrícolas para outraempresa, que não queria ficar com opassivo ambiental. Sem a autodenúnciaa venda não se concretizaria.” (SILVEIRA,2001)

Em Paulínia, a atuação da associaçãode moradores possibilitou oengajamento da população envolvida. Apartir desse movimento, foi criada aRede Brasileira Contra a ContaminaçãoQuímica, com a participação de pelomenos 92 entidades ambientais doestado de São Paulo, para atuar nas

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temáticas jurídica, médica e ambiental edar suporte à população atingida, a qual,na maioria das vezes, encontradificuldades em requerer seus direitos(ROSSIT, 2002). Ainda hoje há algumasfamílias que permanecem no local,mesmo com a área sendo consideradacontaminada.

Sabe-se que praguicidasorganoclorados, contendo carbono ecloro em suas moléculas, englobam:DDT, BHC, lindane, heptacloro, endrin,aldrin, dieldrin, clordame, dodecacloro,endosulfan, telodrin e outros. Quandopresentes no corpo humano,acumulam-se, preferencialmente, notecido adiposo e nas substâncias lipídicasdos fluídos. O homem, que se encontrano ápice da cadeia alimentar, tende aacumular maiores quantidades dessesresíduos (MATUO et al, 1990).

O caso na região da Grande Toronto,CanadáEm novembro de 1990, o governo

da província de Toronto, Canadá, iniciouo planejamento para o manejo dosresíduos sólidos domésticos, porintermédio da Interim Waste Authority(IWA) – Autoridade Interina deResíduos, agência governamental,incumbida pela seleção de três áreas dedeposição controlada, tomando-se porbase critérios que minimizassem osefeitos negativos sobre os ambientessocial e natural, os quais foramsubmetidos à apreciação pública.

Dentre as áreas consideradas, foiindicado um local nas proximidades deCaledon, localidade com cerca de35.000 habitantes e densidadepopulacional de 51 habitantes/km2. Aprincipal atividade econômica emCaledon era a agricultura, cujapopulação era composta por moradorestradicionais e por novos moradores, osquais buscaram ali uma alternativa à vidaestressante dos grandes centros.

Nesse local foi realizado um estudopor especialistas da área de avaliação,percepção e comunicação de risco nacomunidade local, visando avaliar acompreensão da população sobre orisco de contaminação potencial da áreaem sua cercania, bem como a visãodessa mesma população sobre a atuaçãodos técnicos da IWA. Essa investigaçãotomou por base uma amostra de 30entrevistas efetuadas com moradores dastrês subáreas consideradas: cidade, localdo aterro e zona rural. Entre osentrevistados, figuravam moradores daárea, dentre os quais havia algunsmembros de diferentes grupos deoposição à instalação do aterro emembros da equipe técnica da IWA(BAXTER et al, 1999).

As entrevistas revelarampreocupações, por parte dos moradores,em relação às conseqüências futurassobre: a qualidade da água, saúde, valoreconômico das propriedades,surgimento de pragas e vetores, efeitossobre as crianças, representando oaterro sanitário uma ameaça aos valorese expectativas da comunidade.

Houve uma ampla divulgação daproblemática pela imprensa oficial,buscando-se a participação dacomunidade. No entanto, a populaçãolocal reagiu contrariamente à ação dostécnicos do IWA, alegandodirecionamento pelo governo, em sentidocontrário aos seus anseios. Moradoresentrevistados relataram o distanciamentoentre a população e os técnicos,possibilitando que barreiras à aceitaçãodos mesmos e de seus pareceres fossemcriadas. Assim, após muitas discussões, oprojeto de instalação do aterro foiinterrompido, decorrente também do fatode ter havido mudança na situaçãopolítica, por eleições do governo daprovíncia, revelando o poder deinfluência da comunidade na tomada dedecisões público-administrativas.

DISCUSSÃOA despeito das limitações dos dados

levantados para este estudo, bem comode algumas de suas fontes, é possívelfazermos uma discussão referente àpercepção e comunicação de riscosambientais da comunidade afetada.

Pela forma como ocorreram os doisepisódios selecionados no Brasil, pode-se observar que a comunicação de riscosó aconteceu a partir da manifestaçãode alterações na saúde da população,diretamente, envolvida ou exposta aosagentes contaminantes presentes noambiente e pela contaminaçãoconstatada de área localizada noentorno de uma fonte poluidora.

Nos dois casos paulistas, houvediferentes formas e níveis derepresentatividade e engajamento dapopulação exposta, resultando naformação de instâncias de manifestaçãodas incertezas e temores da populaçãoenvolvida. Observou-se, nesses casos, aefetiva participação do Ministério PúblicoEstadual, representando os interesses dacomunidade, porém com solução não-imediata e/ou definitiva, haja vista olongo período de tomada de decisãopor parte de autoridades e da própriacomunidade, ocorrido com o caso daShell em Paulínia (de 1994 a 2001).

Por outro lado, quando se analisa asituação vivenciada pela comunidadecanadense, o estudo demonstra que apopulação envolvida ampliou,rapidamente, sua consciência críticasobre os problemas ambientais, queresultou em manifestações de protesto àdecisão do governo da província. Nessecaso analisado, foi também possívelperceber que as apreensões dosmoradores extrapolaram a síndrome deNIMBY (Not in my back yard), visto queo risco apresentado significava ameaçasa valores e expectativas em relação aofuturo, e não apenas a questões de

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as ações por parte dos potenciaispoluidores quanto dos órgãos decontrole e fiscalização ambiental, e aprópria comunidade.

Este estudo nos leva a considerar quea população, quando mobilizada, possuiimportantes ferramentas para interferirnas decisões tecno-burocráticas,podendo exercer a cidadania na buscade seus direitos. No entanto, énecessário um incremento das açõespúblicas, no sentido de favorecer oprocesso de comunicação e percepçãode risco ambiental no Brasil.

Consideramos, ainda, que, paraenfrentar os problemas de saúdeambiental, são necessárias articulações,buscando-se a intersetorialidade eestabelecendo-se alianças, por meio deimplantação e/ou implementação depolíticas públicas favoráveis à saúde e aomeio ambiente.

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Nos casos paulistas apresentados,houve diferentes formas de perceber osriscos e de controlá-los, quando seobserva a forma de reação e os tipos demanifestações da comunidade expostadiante de uma situação de riscosocioambiental e de saúde. Em relaçãoao processo de comunicação de risco,também nos casos paulistas, não ficouevidenciada uma política clara eorganizada, por parte dos órgãospúblicos responsáveis, nem pelasempresas poluidoras.

Observou-se que, no caso relatadodo Canadá, houve, ainda quequestionada pela população, umaatuação mais rigorosa por parte dosórgãos gerenciadores das questõesenvolvendo a saúde ambiental, além, éclaro, de uma forma mais organizada eefetiva de manifestação do poder dapopulação.

CONSIDERAÇÕES FINAISPara Brilhante e Caldas (1999, p. 13),

“o meio ambiente se constitui hoje numdos temas essenciais de políticagovernamental e numa das maiorespreocupações dos cidadãos, seja nospaíses industrializados ou não”,havendo, cada vez mais, um maiornúmero de pessoas que vemconsiderando a degradação ambientalcomo uma ameaça à saúde e ao bem-estar social.

A comunicação de risco estádiretamente associada a um processo degerenciamento de risco ambiental, queenvolve etapas de avaliação e percepçãode risco, mas que depende,indiscutivelmente, de política e legislaçãoambiental clara e efetiva, norteando tanto

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RECICLAGEM DEBATERIAS: ANÁLISE DA

SITUAÇÃO ATUAL NOBRASIL

Denise Crocce Romano EspinosaDoutora em engenharia metalúrgica, Escola Politécnica,

USP.

Jorge Alberto Soares TenórioProfessor associado, Escola Politécnica, USP.

[email protected]

RESUMOO descarte de pilhas e baterias é um problema que tem adquirido maior amplitude nos últimos anos,devido ao grande aumento do uso de produtos portáteis os quais necessitam de pilhas ou bateriascomo fonte de energia. Pilhas e baterias podem conter elementos tóxicos, como cádmio, mercúrioe chumbo, fazendo com que seu descarte precise ser controlado. O Brasil foi o primeiro país daAmérica Latina a ter uma legislação para a regulamentação do descarte e tratamento de pilhas ebaterias. A Resolução n. 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece limitesde concentração de metais pesados em pilhas e baterias para que elas possam ser dispostas como lixo doméstico. Como as pilhas e baterias são produtos consumidos pela população, o controle deseu descarte torna-se difícil. Para que a coleta seja eficiente é necessário um engajamento dapopulação e, para que isto ocorra, a população precisa ser informada tanto do conteúdo da resoluçãocomo da importância de não se colocar as pilhas e baterias com o lixo doméstico. No mundo, jáexistem tecnologias consagradas para a reciclagem de alguns tipos das mesmas. No Brasil, a reciclagemde baterias automotivas de chumbo-ácido já é realizada em grande escala; entretanto, a reciclagem deoutros tipos de pilhas e baterias ainda é bastante incipiente. Este trabalho traça uma análise daResolução n. 257 do Conama e apresenta algumas sugestões e iniciativas de outros países, nessaárea, as quais possam auxiliar no gerenciamento desse tipo de resíduo sólido urbano.

PALAVRAS-CHAVEReciclagem, baterias, NiCd.

ABSTRACTThe discharge of batteries is a problem that has acquired bigger amplitude in the last few years dueto the increase on the use of portable devices, which use batteries as energy source. Batteries maycontain toxic metals such as cadmium, mercury and lead; so their disposal must be controlled. Brazilwas the first country in the Latin America to have a law that rules the discharge and treatment ofbatteries. The brazilian law establishes limits of concentration of heavy metals within batteries, if theconcentration of such metals is under the limits, the battery can be disposed of along with themunicipal waste. Since batteries are products used by the population, their discharge is difficult tocontrol. In order to have an efficient collection, the population must be engaged with the collection;and for the population became engaged with the collection, it must be informed about the law andthe importance of discharge batteries separately from the domestic garbage. In the world, there aresome long-established processes to recycle batteries. In Brazil, automotive (lead-acid) batteries arerecycled for several years, whereas the recycling of other types of batteries is still incipient. This workdoes an analysis of the brazilian law for battery recycling and presents some suggestions andexamples of the initiatives of other countries in order to help the managing of this kind of dangerouswaste.

KEY WORDSRecycling, batteries, NiCd.

Reciclagem

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LEGISLAÇÃO BRASILEIRASOBRE DESCARTE DE PILHAS EBATERIASO Conselho Nacional do Meio

Ambiente (Conama), em 30 de junhode 1999 regulamentou a fabricação e odescarte de pilhas e baterias. A seguirserão transcritos trechos dessaResolução do Conama, n. 257/99.

“... Considerando os impactosnegativos causados ao meio ambientepelo descarte de pilhas e bateriasusadas.

Considerando a necessidade de sedisciplinar o descarte e o gerenciamentoambientalmente adequado de pilhas ebaterias usadas, no que tange à coleta,reutilização, reciclagem, tratamento oudisposição final...”

“Art. 1o. As pilhas e baterias quecontenham em suas composiçõeschumbo, cádmio, mercúrio e seuscompostos... deverão, após seuesgotamento energético, ser entreguespelos usuários aos estabelecimentosque as comercializam ou à rede deassistência técnica autorizada pelasrespectivas indústrias, para repasse aosfabricantes ou importadores, para queestes adotem diretamente ou através deterceiros, os procedimentos dereutilização, reciclagem, tratamento oudisposição final ambientalmenteadequada ...”

“Art. 5o. A partir de 1o de 2000, afabricação, importação e comercializaçãode pilhas e baterias deverão atender aoslimites estabelecidos a seguir:

o com até 0,025% em peso demercúrio, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês;

o com até 0,025% em peso decádmio, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês;

o com até 0,400% em peso dechumbo, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês;

o com até 25 mg de mercúrio,quando forem do tipo pilhas miniaturase botão.”

“Art. 6o. A partir 10 de janeiro de2001..:

o com até 0,010% em peso demercúrio, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês;

o com até 0,015% em peso decádmio, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês;

o com até 0,200% em peso dechumbo, quando forem do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês.”

Os fabricantes e importadoresdeverão implementar sistemas de coleta,transporte, armazenamento, reutilização,reciclagem tratamento e/ou disposiçãofinal, em prazos definidos na resolução.As pilhas e baterias que estiverem dentrodas especificações acima poderão serdispostas à população, com os resíduosdomiciliares.

A resolução parece bastanteconservadora, uma vez que a maioriados limites propostos já está dentro doque os fabricantes de pilhas alcançamhá alguns anos. Assim, principalmenteas baterias de NiCd e chumbo-ácidoestão sujeitas a maior controle pelasempresas.

Destaca-se que o efeito dos metaispesados depende muito de seu estadono produto. Por exemplo, usa-semercúrio (Hg) nos amálgamas dentários.A resolução permitirá até 250 ppm(0,025%) de Hg nas pilhas; entretanto,não se considera o mesmo estar, emsua maioria, solúvel nas pilhas e, assim,estas seriam consideradas resíduo classe1, se submetidas à mesma sistemática declassificação de resíduos industriais.

As baterias de NiCd não estão dentrodos limites estabelecidos pela legislação,

uma vez que elas contêm cerca de 17%de cádmio (Cd) (VON STURM, 1981,ADAMS, & AMOS 1993). Isso faz comque sua coleta e destinação sejamregulamentas pela Resolução n. 257/99do Conama. A reciclagem das bateriasde NiCd é uma das alternativaspropostas pela resolução para adestinação desse tipo de baterias. A leide crimes ambientais, n. 9.605, prevêpunição aos infratores flagrados jogandoesses materiais no lixo comum: 1 a 4anos de prisão e multa. O Brasil é oúnico país da América do Sul com leissobre o assunto.

Atualmente, as empresas quecomercializam baterias as quaisnecessitam de coleta e destinaçãoadequadas já possuem um sistema decoleta organizado, e a destinação dasbaterias recolhidas depende da empresa.Segundo Reidler (2002), que estudou asituação atual das pilhas e baterias nomunicípio de São Paulo, o maiorproblema detectado no sistema decoleta e destinação das pilhas e bateriasfoi o desconhecimento da legislação porparte da população e de comerciantes.

SITUAÇÃO INTERNACIONALAs legislações específicas para pilhas e

baterias portáteis, no total, foramimplementadas na década de 90. Nogeral, o foco está na restrição domercúrio em pilhas alcalinas e secas etipo botão e também nas baterias deNiCd. Contudo, em alguns países comoSuíça, Noruega, Suécia e Alemanha, aexigência para a coleta é geral, não selimitando a tipos específicos de pilhas oubaterias (USEPA, 2002a).

Muitos tipos de pilhas e bateriaspossuem metais pesados e tóxicos emsua composição. Assim, esses materiaissão potencialmente perigosos. Nos

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aterros sanitários, eles são a principalfonte de mercúrio e cádmio, os quaispodem ser lixiviados e, portanto, causarcontaminações ao solo e aos lençóisfreáticos. Em 1989, 54% do Cd e 88%do Hg contidos nos aterros sanitárioseram provenientes desses materiais.Além disso, outras substâncias tóxicas,cloreto de amônio e hidróxido depotássio, também são, normalmente,usados como base do eletrólito(FISHBEIN, 2002).

A tendência observada é aeliminação de mercúrio em pilhas secase alcalinas e o incentivo ao uso desistemas com maior vida útil, como asbaterias recarregáveis. As baterias deNiCd apresentam tendência dediminuição de seu consumo; entretanto,trata-se de um tipo de bateria para oqual existe tecnologia de reciclagem,enquanto praticamente todas as outrasbaterias portáteis não são totalmenterecicláveis.

A legislação específica para pilhas ebaterias aplicadas em todos os estadosdos EUA passou a vigorar a partir de1996 (Mercury-Containing andRechargeable Battery Management Act),(USEPA, 2002b).

A legislação da União Européia foiaprovada em 1991 (91/157/EEC –Batteries and Accumulators Directive).Em resumo, essa diretiva visara limitar aconcentração de mercúrio, cádmio echumbo nas pilhas, padronizar aidentificação das pilhas que podem serrecicladas e desenvolver programas dereciclagem (USEPA, 2002a).

Além disso, a diretiva européia visaatingir metas progressivas, como: até2008 desenvolver o sistema de coleta detal forma, que 75% das pilhas e bateriasdomésticas e 95% das bateriasindustriais sejam coletadas; até 2009todo o cádmio deve ser eliminado, erecuperar 55% dos materiais por meiode processos de reciclagem.

A tendência é todas as pilhas ebaterias serem coletadas em todos ospaíses da Europa, principalmente as deNiCd.

A proposta da Associação Européiade Fabricantes de Pilhas é limitar aquantidade de mercúrio nas pilhas em5 ppm e a coleta de todos os tipos depilhas e baterias em 2003 (USEPA,2002a).

A legislação austríaca é mais restritivaque a diretiva da União Européia, poisrequer a coleta de todos os tipos debaterias. Nesse caso, a responsabilidadepela coleta e destinação fica a cargo dosfabricantes e importadores. O plano daAgência de Proteção Ambiental daDinamarca é: a partir de 2002, coletarpelo menos 75% das pilhas e baterias.Na Alemanha, desde 1998 (Germany’sBatteries Ordinance), a responsabilidadede coleta e destinação também recaisobre o fabricante ou importador. Osconsumidores são obrigados a devolverqualquer tipo de pilha, de qualquerfabricante ou comerciante a um sistemade coleta, no qual todos os fabricantesparticipam. Estima-se que 900 milhõesde pilhas de uso doméstico, o queequivale a aproximadamente 30.000toneladas de pilhas, sejam devolvidasanualmente (USEPA, 2002a).

Existem poucas empresas capacitadaspara reciclar pilhas na Europa. Destaca-se a Accurec Deutschland, em Mühlheim(Alemanha), com o processo TERA,subsidiada pelo Ministério do MeioAmbiente alemão. Existem tambémrestrições quanto ao uso de metaistóxicos em pilhas, de maneira que aspilhas contendo esses metais devempossuir identificação.

A Agência de Proteção Ambiental deTaiwan estabelece o recolhimentodecrescente de taxas com a quantidadede metais tóxicos presentes, visandoestimular a redução destes elementos(USEPA, 2002a).

RECICLAGEM DE PILHAS EBATERIASDevido a pressões políticas e novas

legislações ambientais, queregulamentaram a destinação de pilhas ebaterias em diversos países, algunsprocessos foram desenvolvidos visandoà reciclagem desses produtos.

Em 1999, na Europa, cerca de 76%das baterias de NiCd de uso domésticoainda eram colocadas em aterros ouincineradas (COX & FRAY, 1999). Essepanorama era semelhante nos EUA(VALIANTE, 1999). A agência ambientaldos EUA, Environmental ProtectionAgency (EPA) estima que, em 1999, asbaterias de NiCd representavam apenas0,1% em peso do lixo urbano. Todavia,elas se constituíam na maior fonte decádmio nos incineradores; era estimadoque cerca de 75% do cádmioencontrado em incineradores deresíduos urbanos fosse proveniente debaterias de NiCd (VALIANTE, 1999).

ColetaUm grande problema, quando se

pensa na reciclagem de baterias, é acoleta, pois sua eficiência depende nãoapenas da cooperação da população,mas, principalmente, das indústrias,distribuidores e governo. Pode-severificar esse problema tomando comoexemplo um programa voluntário parareciclagem de baterias de NiCd iniciadona Suécia, em 1993, o qual tinha comoobjetivo a reciclagem de 90% dasbaterias de NiCd produzidas até o verãode 1995. O programa falhou,conseguindo apenas a taxa dereciclagem de 35% (VALIANTE, 1999).

A questão da coleta é bastantecomplexa uma vez que, apesar de aresponsabilidade ser do setor público, oscustos associados inviabilizam estaoperação. Em alguns países existem

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legislações específicas a tratarem dessetipo de problema, baseadas no princípiodo poluidor-pagador. Ou seja, aempresa a qual produz ou importa omaterial é também a responsável por suadestinação, após o uso pelo consumidor.

Apesar de no país ainda não existir tallegislação, há setores em que ocorreminiciativas muito interessantes a seremanalisadas. O alumínio é um forteexemplo da iniciativa empresarial nosentido de reciclar materiais usados pelapopulação. Atualmente, os índices dereciclagem de alumínio alcançados noBrasil estão entre os maiores do mundo(ABAL, 2001). Além disso, a indústria dereciclagem de latas de alumínio geramilhares de empregos em todo o país,sendo a atividade de “catação” de latasde alumínio fonte de renda paramilhares de famílias carentes no país.

Lâmpadas fluorescentes contêmmercúrio na forma de vapor em suaconstituição. A quebra dessas lâmpadaspromove a liberação do mercúrio para oambiente. No Brasil existe umacompanhia que recebe essas lâmpadase promove a extração do mercúrio deforma segura, reintroduzindo o bem nomercado e evitando a contaminação dosolo. Nesse caso, a iniciativa dereciclagem fica por conta das empresasque enviam, em caixas especiais, aslâmpadas usadas para a empresa a qualrealiza o tratamento das mesmas.

De forma análoga ao alumínio, asbaterias de chumbo-ácido também sãorecicladas por empresas especializadas. Aforma de coleta dessas baterias aconteceem duas estratégias: na primeira, ousuário devolve a bateria na compra deuma nova; porém existem locais onde épossível comprar baterias sem anecessidade da troca, sendo asubstituição no carro feita pelo próprioconsumidor, dispensando-se a ajuda deum eletricista ou mecânico deautomóveis. Assim, os recicladores, em

algumas cidades do interior de SãoPaulo, fazem a aquisição das bateriasusadas pelo uso de veículos utilitárioscom alto-falantes que circulam pelacidade, de maneira semelhante aosvendedores de verduras e frutas.

Nos EUA, a coleta de baterias dechumbo-ácido acontece pela cobrançade um depósito de US$ 5-10, caso oconsumidor não devolva a bateriausada. Esse sistema de coleta fez comque a reciclagem desse tipo de bateria,nos EUA, chegasse a cerca de 95-99%,em 1998 (VALIANTE, 1999).

No caso brasileiro, os exemplos decoleta citados acontecem sem incentivoou mesmo obrigação do governo. Nota-se que para os três resíduos existem trêsestratégias diferentes encontradas,segundo o perfil da população e doproduto. No caso do alumínio e dochumbo, a segregação desses materiaisrealiza-se, principalmente, movida porfatores econômicos, mas as formasencontradas para adquirir esses resíduossão bastante diferentes.

Para o caso das latas houve, duranteum intervalo de tempo, uma eficientedivulgação e conscientização dapopulação, usando os meios depublicidade, sendo esta, em grandeparte, patrocinada pelo produtor delatas, que não era reciclador na ocasião,mas sim interessado em manter aimagem de seu produto. No caso dochumbo, a estratégia encontrada foitotalmente diferente, ou seja, existempostos de troca.

O caso das lâmpadas fluorescentes ébastante interessante, uma vez que ocusto da segregação é totalmentecoberto pelas empresas ou entidadescom efetivo interesse ambiental.

Para alguns resíduos, entretanto, nãohá interesse das empresas geradoras doproduto em contribuir para oencaminhamento ambiental aceitável doproblema. Nesses casos, existe uma

lacuna a ser coberta pela legislação.Assim, deve caber ao poder públicoformular leis que promovam eresponsabilizem as empresas adesenvolverem sistemas degerenciamento de resíduos sólidos,mesmo quando os mesmos sãoclassificados como urbanos e,principalmente, para os casos deresíduos sólidos com elementos tóxicosou que possam trazer problemas aomeio ambiente.

Apesar de vários países teremlegislações específicas para a destinaçãode baterias, muitas vezes a coleta não éeficiente. Na Europa, em 1995, cerca de5% das baterias de NiCd consumidaspela população eram recicladas, já asbaterias de NiCd industriaisapresentavam uma taxa de reciclagembem mais elevada, aproximadamente48% (DAVID, 1995).

Cada país pratica uma estratégia decoleta diferente. Por exemplo, naAlemanha foi testada uma estratégia decoleta conscientizando-se o consumidora separar e devolver as baterias. Essaestratégia teve uma eficiência muito baixa,pois cerca de 50% das baterias nãoeram de NiCd. Melhor resultado foiobtido incentivando-se o consumidor adevolver as baterias usadas aosrevendedores, que as separam eencaminham para as empresasrecicladoras (DAVID, 1995).

No Brasil, o sistema de coleta debaterias recarregáveis está começando esua eficiência ainda é difícil de inferir.Além disso, nenhuma empresaimportadora de baterias de NiCd reciclano país. Atualmente, todas as bateriasrecarregáveis são passíveis de seremrecolhidas pelos revendedores.

ReciclagemExistem diversos processos

consagrados para a reciclagem de pilhase baterias no mundo, os quais estão

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sendo empregados, principalmente, empaíses mais ricos como EUA, países daEuropa e Japão. A legislação brasileiranão obriga a reciclagem de pilhas secase alcalinas, pois estas já apresentamconcentrações de metais pesadosinferiores aos limites estipulados.

Os principais tipos de bateriasrecarregáveis de uso doméstico sãochumbo-ácido, NiCd, NiMH e íons de lítio.Destas, as baterias de chumbo-ácidoforam as primeiras a serem desenvolvidase sua utilização extensiva pela populaçãotambém é mais antiga. O processo parasua reciclagem é consagrado e elas sãorecicladas em diversos países do mundo,os quais também desenvolveramprogramas de coleta desse tipo debateria. Assim, mesmo que elascontenham chumbo, um metal tóxico,continuam em uso, não oferecendomuitos riscos ao meio ambiente, já queapresentam altas taxas de reciclagem enão são dispostas em aterros.

A utilização de baterias de NiCd pelapopulação começou a tornar-se maissignificativa na segunda metade doséculo 20, a partir da década de 80,com o aumento do uso de aparelhoseletroeletrônicos. Nessa época, adisposição de baterias de NiCd de usodoméstico em aterros sanitárioscomeçou a ser questionada, apesar deainda não ser considerada umproblema. As previsões de descarte debaterias indicavam que este seria umproblema em curto período de tempo.Foi realizado um estudo de 100 dias, amostrar que as pilhas de mercúrio eramcorroídas em aterros, liberando seuconteúdo. As pilhas secas tambémapresentaram corrosão evidente. Asbaterias de NiCd foram perfuradas,durante o estudo, mas seu conteúdonão tinha sido liberado. Estimou-se queeste, dispondo de maior tempo, tambémseria lixiviado para o chorume do aterro(STEVENS & WRIGHT, 1980).

As baterias de NiMH e de íons de lítionão apresentam metais pesadosrestringidos pela lei, mas a tendênciainternacional é para a reciclagem dasmesmas. Sua utilização pela populaçãotem aumentado, em substituição dasbaterias de NiCd.

Infelizmente, a distinção dos diversostipos de pilhas e baterias, externamente,nem sempre é fácil, fazendo com queelas sejam coletadas juntas. Um fatorimportante enfatizado na literatura é oefeito da contaminação da carga paraser reciclada com outros tipos de pilhasou baterias. Em geral, os processos parareciclagem de pilhas secas e alcalinasnão aceitam contaminação com bateriasde NiCd e vice-versa.

A mistura de baterias de NiCd compilhas secas e alcalinas, nos processospirometalúrgicos de reciclagem de pilhas,atualmente deve ser evitada, pois, sehouver contaminação da carga, o zincoobtido ficaria contaminado com cádmio.O mesmo valeria para os processos dereciclagem de baterias de NiCd, nos quaiso cádmio ficaria contaminado com zinco.

Outro metal volátil que podecontaminar os produtos dos processospirometalúrgicos é o mercúrio, o qual,além de contaminar o metal reciclado,ainda é um metal tóxico.

Os processos de reciclagem debaterias de NiCd também tratam bateriasde NiMH. Contudo, nesses processos, areciclagem se restringe à recuperação doníquel contido nas baterias de NiMH. Osoutros elementos, como as Terras Raras,não são recuperados. Com o intuito derecuperá-las também, processoshidrometalúrgicos estão sendodesenvolvidos, mas ainda em fase depesquisa.

Outro tipo de bateria de usodoméstico bastante comum é o de íonsde lítio. Ainda não há um processoestabelecido para a reciclagem desse tipode bateria, na qual o metal mais visado

para recuperação é o cobalto. Entretanto,pesquisas visando ao desenvolvimentode novos materiais para eletrodos para osistema de íons de lítio tendem a tentarsubstituir o cobalto por um metal maisbarato, a fim de diminuir o custo final dabateria, atualmente mais caro quandocomparado com as baterias de NiCd eNiMH.

Processos para a separação debaterias e pilhas, em função de suacomposição química, já estão sendodesenvolvidos. Um desses processosefetua a análise e separação das bateriaspor raios X (RAUSCH, 1998; SATTER,1998; WATSON, 1999).

DISCUSSÃOHoje, existem vários processos em

operação para a reciclagem de bateriasde NiCd. Já o sistema de coleta desseproduto ainda não está tão estabelecidoquanto no caso das baterias dechumbo-ácido. Nos EUA, a empresaRechargeable Battery RecyclingCorporation (RBRC) atua na coleta debaterias de NiCd e envia-as para oprocesso Inmetco para serem recicladas.Desde 2000, a RBRC também coletaoutros tipos de baterias para seremrecicladas. Além das enviadas pela RBRC,o Inmetco ainda coleta pelo correio(LANKEY, 1998).

Na Europa, a European PortableBattery Association (EPBA) atua na áreade coleta de pilhas e baterias, além deincentivar programas de coleta eseparação por intermédio depropagandas e palestras.

No Brasil, não há uma associação ouempresa responsável pela coleta dasbaterias de NiCd, a qual centralizeesforços não apenas para isso, mastambém para a informação dapopulação. Essa coleta ficou restrita àiniciativa das empresas importadoras e é

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feita de maneira dispersa. Não há umórgão público, associação ou empresaencarregada de coletar esses resíduos. Apopulação, em geral, não está ciente daresolução, com força de lei, que obriga adevolução de alguns tipos de pilhas ebaterias, nem se possui algum dos tiposdestas, as quais não podem serdispostas com o lixo doméstico(REIDLER, 2002).

A Resolução n. 257 do Conama, aregulamentar o descarte de pilhas ebaterias, não estabelece metas específicaspara a coleta das pilhas e baterias queprecisam ser coletadas, como acontecena Europa, fazendo com que o esforçopara a coleta não seja tão eficiente edeixa a resolução mais branda.

Geralmente, as empresasimportadoras de baterias de NiCdapenas as recebem usadas, caso ocidadão a devolva, e somente a aceitamquando é da mesma marca, ficando acargo daquele “descobrir” como devolvê-la, quando isso é possível. Não há umacampanha de conscientização queinforme e incentive as pessoas aencaminharem suas baterias esgotadaspara as assistências técnicas da marcautilizada.

As baterias de telefone celular foramas mais evidenciadas, pois quem possuium desses aparelhos sabe danecessidade de recarregarperiodicamente e até, eventualmente,trocar a bateria. Entretanto, existemoutros produtos eletroeletrônicos osquais podem conter baterias de NiCd emseu interior, como brinquedos, luzes deemergência, ferramentas sem fio,telefones sem fio, filmadoras, notebooks euma infinidade de equipamentos combaterias recarregáveis, cujos donos nãosabem qual o tipo de bateria instaladaem seu aparelho nem mesmo se elaexiste.

As baterias de NiCd de uso domésticoestão sendo substituídas pelas de NiMH

e íons de lítio. Como dito anteriormente,estas, apesar de serem consideradasmenos agressivas ao meio ambiente,ainda não contam com um processo dereciclagem consagrado, como no casodas de NiCd, além de terem um customais elevado para o consumidor.

O atual modelo de gestão de bateriasno Brasil possui as contradições e falhasapontadas, mas não se pode tirar omérito do Conama na iniciativa, pioneirana América Latina.

Contudo, ao contrário do queacontece em outros países, notadamenteEstados Unidos e Europa, a possuíremlegislação específica sobre baterias,a legislação nacional não promoveu areciclagem, nem mesmo das quesofreram maiores restrições (como as dechumbo-ácido e de NiCd). Talvez aprincipal conseqüência seja odesaparecimento do mercado dasbaterias de NiCd usadas para telefoniacelular. Todavia, elas ainda são usadasem outras aplicações.

O banimento do cádmio,preconizado por algumas diretivaseuropéias, aparentemente está cada diamais longe de ser viável(LETSRECYCLE.COM, 2002). Acrescente-se a isso o fato de as baterias de NiCdserem as únicas a passarem porprocessos estabelecidos para suareciclagem. Apesar do potencial poluidormaior do das baterias de NiMH e deíons de lítio, as de NiCd têm um ciclo devida mais fechado e, conseqüentemente,podem ser consideradas mais“sustentáveis” que as concorrentes.

Acrescente-se ainda a necessidade daadoção de um modelo de crescimentosustentável para o setor de energia.Nesse caso, as baterias industriais deNiCd ainda são uma das principaisalternativas, uma vez que os sistemasmais novos (NiMH e íons de lítio) aindaestão longe de apresentarem as mesmascaracterísticas de desempenho.

Portanto, uma das alternativas para seavançar na direção de umdesenvolvimento sustentável nesse setorseria a elaboração de metas específicasde reciclagem, tal como aconteceatualmente para os pneus (Resoluçãon. 258), associada a uma estrutura degerenciamento e promoção da coleta ereciclagem de todos os tipos de baterias,ficando os custos desse sistemaembutidos nos produtos.

Tais ações propiciariam não apenas aimplementação de sistemas deeducação, coleta e reciclagem, mastambém o desenvolvimento de novasbaterias mais facilmente recicláveis econtendo menores quantidades demetais tóxicos.

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CAPACITAÇÃO,REPRESENTAÇÃOSOCIAL E PRÁTICA EMEDUCAÇÃO AMBIENTAL

Andréa Focesi PelicioniMestre e doutora em saúde pública pela Faculdadede Saúde Pública da Universidade de São Paulo –FSP/USP, especialista em educação ambientalpela FSP/USP e pela Macquarie University (Austrália),professora do Centro Universitário das FaculdadesMetropolitanas Unidas – [email protected]

Helena RibeiroMestre em geografia pela University of California –Berkeley (EUA), doutora em geografia pela Faculdadede Filosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidade de São Paulo – FFLCH/USP, livre-docente em saúde pública pela Faculdade de SaúdePública da Universidade de São Paulo – FSP/USP.Professora Titular do Departamento de SaúdeAmbiental da FSP/[email protected]

RESUMOA diversidade de representações sociais e práticas em Educação Ambiental – EA, bem como osresultados de um levantamento nacional que mostrava a falta de capacitação específica entreexecutores de projetos de EA, motivaram o desenvolvimento desta pesquisa qualitativa, de douto-rado, que buscou identificar representações sociais e práticas em EA, presentes entre educadoresambientais, conhecer os motivos que os levaram a participar de um curso de especialização em EA,e os impactos do mesmo, entre outros objetivos específicos. Quanto aos resultados, foram identifi-cados quatro tipos de representações sociais em EA – conservacionista, romântica, ecossocialista etecnocêntrica; em relação às práticas relatadas havia uma gradação entre as que focalizavam oindivíduo e suas relações com o mundo, e outras, as quais privilegiavam a resolução de situações-problema; entre as razões que levaram os educadores a fazer o curso destacaram-se a procura desubsídios teóricos e práticos, de intercâmbio de experiências e de valorização profissional. Conside-raram que o curso trouxe impactos positivos, pois ampliou o entendimento sobre a EA, possibilitouarticular teoria e prática e o exercício da interdisciplinaridade.

PALAVRAS-CHAVEEducação ambiental, educador ambiental, curso de especialização em educação ambiental, Faculdadede Saúde Pública.

ABSTRACTThe variety of social representations and practices in Environmental Education – EE , as well as theresults of a national survey that showed that most environmental educators have not been throughcontinuing education programs in this field motivated the development of this Doctorate researchwhich aimed to identify existing social representations and practices in EE among environmentaleducators, to know the reasons why they decided to attend a postgraduate specialization program inEE and the impacts of that. The main results showed that there were four types of social representationsabout EE – conservationist, romantic, ecosocialist and technocentric; their practices varied fromthose more related to the individual and his relationship to the world and those that focused onproblem-solving situations; the main reasons why they attended the course were: to get theoreticaland practical subsidies, to exchange experiences, and to improve their professional recognition. Theyconsidered that the impacts of the course were positive, for it allowed the participants to improvetheir understanding about EE, to articulate theory and practice as well as to exercise interdisciplinarity.

KEY WORDSEnvironmental education, environmental educator, especialization course in environmental education,Faculdade de Saúde Pública.

EducaçãoAmbiental

Revista Brasileira de Ciências Ambientais22

INTRODUÇÃOA educação ambiental, por ser uma

construção social, reflete uma amplagama de representações sociais epráticas. Essa diversidade se justifica emfunção das diferentes interpretações arespeito das causas e soluções possíveisem relação à problemáticasocioambiental da atualidade e o papelatribuído à educação ambiental comouma das principais formas deenfrentamento e reversão dessaincômoda realidade.

O Levantamento Nacional de Projetosde Educação Ambiental (MMA/MEC,1997), elaborado para desvelar o“estado da arte” e subsidiar asdiscussões presentes na PrimeiraConferência de Educação Ambientalrealizada em Brasília (DF), em outubrode 1997, mostrou que o estado de SãoPaulo apresentava o maior porcentualde trabalhos em educação ambiental(17,7%), seguido do estado do Rio deJaneiro (11,7%). A maior parte dosprojetos era realizada em ambienteurbano (45,9%), mata atlântica (30,4%),bacias hidrográficas (20,8%) eecossistemas costeiros (15,1%).Contudo, no que se refere ao pessoalenvolvido com a execução dos projetos,apenas 36% tinham feito cursos decapacitação na área.

Em relação à capacitação de recursoshumanos, necessidade enfatizada desdea década de 70 em todos os encontrosinternacionais de educação ambiental,identifica-se uma progressiva oferta decursos de Educação Ambiental, bastantediversificados em termos de cargahorária, objetivos, conteúdos,profissionais e instituições envolvidas.

Há, por exemplo, em todas as regiõesdo país, cursos de curta duração,caracterizados como cursos de extensãoque têm se voltado, geralmente, àsensibilização dos participantes para a

problemática ambiental, à divulgação deinformações e/ou o ensino de algumastécnicas de dinâmica de grupos.

Já em algumas instituições de ensinosuperior existem programas degraduação ou de pós-graduação strictosensu, em que a disciplina “EducaçãoAmbiental” é oferecida, e existem aindacursos de especialização em EducaçãoAmbiental, cujos objetivos são maisamplos e a carga horária maior (nomínimo 360 horas) do que asmodalidades mencionadas, pois se tratade formar especialistas em educaçãoambiental, capacitando-os para queincorporem a dimensão educativa emsuas áreas de atuação.

Dentro dessa perspectiva, foi criado,em 1994, o curso de especialização emEducação Ambiental oferecido pelaFaculdade de Saúde Pública daUniversidade de São Paulo – FSP/USP. Aestrutura do curso foi inicialmentedelineada por docentes dosDepartamentos de Saúde Ambiental ede Prática de Saúde Pública e, emseguida, foi submetida à discussão eaprimoramento por meio de umworkshop, do qual participaram, alémdos professores da FSP/USP,educadores de diversas instituições,ambientalistas e outros profissionaisenvolvidos com a área.

O curso de especialização foiconcebido com os objetivos de: 1) criarcondições para que seus participantes,profissionais com nível superior,provenientes de diferentes áreas doconhecimento, tivessem a oportunidadede analisar criticamente as inter-relaçõesentre o ser humano, a sociedade emque vive, sua cultura e o ambientebiofísico em que está inserido;2) propiciar a experimentação demétodos e técnicas educativas coerentescom as abordagens teóricas daeducação ambiental, privilegiandoenfoques integrados na busca de

soluções para problemas complexos;3) promover o intercâmbio deconhecimentos e experiências trazidaspelas diferentes formações profissionaisde alunos e professores; 4) favorecer odesenvolvimento de interlocutores eminstituições públicas e privadas, bemcomo a realização de projetosintersetoriais (PHILIPPI Jr.; PELICIONI,2000).

A existência de representações sociaisdiversificadas a respeito da educaçãoambiental e da problemáticasocioambiental, bem como os dados dolevantamento nacional anteriormentereferido, o qual mostrava que na áreade educação ambiental predominavamexecutores de projetos que não tinhamcapacitação específica, motivaram arealização de pesquisa de doutorado(PELICIONI, 2002) com educadoresambientais participantes, na qualidade deestudantes, dos cursos de especializaçãoem Educação Ambiental promovidospela Faculdade de Saúde Pública da USPentre 1998 e 2000.

Constituíram objetivos da tese dedoutorado o desvelamento dasrepresentações sociais sobre a educaçãoambiental, a identificação das práticassociais em educação ambientaldesenvolvidas pelos educadores, averificação dos motivos que os levaram afazer a especialização e os impactos docurso sobre suas vidas pessoais eprofissionais, entre outros objetivosespecíficos, os quais não serãoabordados neste artigo devido àlimitação de espaço.

METODOLOGIAPara desenvolver esta pesquisa se

optou pela abordagem qualitativa. Emrelação à coleta dos dados, foramaplicados 100 questionários e realizadas21 entrevistas em profundidade, tendo

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como sujeitos da pesquisa educadoresque, antes de iniciar o curso deespecialização, já trabalhavam comeducação ambiental. Buscou-seassegurar que a amostra fosseconstituída por educadores comdiferentes tipos de formação universitáriae experiência profissional nesse campo,por exemplo, em órgãos governamentaismunicipais e estaduais, instituições deensino, unidades de conservação,organizações não-governamentais,autarquias, empresas privadas, entreoutras.

RESULTADOSEntre os motivos que levaram os

educadores ambientais a fazer o cursode especialização em EducaçãoAmbiental destacou-se a procura desubsídios os quais possibilitassem oaprimoramento de sua atuaçãoprofissional, a sistematização do trabalhorealizado e a ampliação do alcance dosprojetos que vinham desenvolvendo.Outras razões, como a possibilidade deavaliar as próprias práticas, de trocarexperiências com pessoas atuantes naárea e obter diploma de especialistadiante de um mercado de trabalho emexpansão, também foram mencionadas.

Por meio da análise dos discursosforam identificados quatro tipos derepresentações sociais a respeito dosobjetivos e estratégias da educaçãoambiental ante a problemáticasocioambiental.

O 1o tipo atribuía à educaçãoambiental o objetivo de mudar atitudes ecomportamentos de indivíduos por meiode informações, assemelhando-se àspropostas da educação conservacionista,abordagem delineada no início doséculo 20.

O 2o tipo, inspirado por um ideáriocaracterístico do romantismo do século

19, também atribuía à educaçãoambiental o objetivo de promovermudanças atitudinais e comportamentais,mas por meio da estratégia doautoconhecimento, da promoção daintegração do ser humano à natureza edo estreitamento das ligações afetivascom o mundo.

Nos dois primeiros tipos, portanto, aspropostas se apresentavam reduzidas amudanças individuais, como se issofosse suficiente para enfrentar acomplexa problemática socioambientalda atualidade.

No 3o tipo, a educação ambiental teriaum objetivo mais amplo, qual seja,promover transformações não apenasno indivíduo, mas na sociedade, àsemelhança das propostas doambientalismo ecossocialista.

O 4o tipo atribuía à educaçãoambiental o objetivo de proverinstrumentos de gestão ambiental,configurando uma representação socialalinhada ao restrito ideário doambientalismo tecnocêntrico.

Em relação às práticas relatadas peloseducadores, verificava-se uma gradaçãoentre aquelas cujo foco inicial era oindivíduo e suas relações com o mundoe, outras, cujo propósito era a resoluçãode situações-problema. Os resultadosdemonstraram existir discrepâncias entreas representações sociais e as práticasrealizadas pelos educadores,principalmente devido à falta de apoio ede recursos humanos e financeiros paraa realização de projetos sistemáticos,planejados e interdisciplinares deeducação ambiental.

Quanto aos impactos relatados,consideraram que o curso colaboroupara:

• a ampliação do entendimento arespeito da problemática socioambiental,da educação ambiental e do processopedagógico ao conferir novos subsídiosteóricos e práticos;

• o aprimoramento profissional emdecorrência da solidificação de conceitose do desenvolvimento da visão críticasobre as próprias práticas em educaçãoambiental;

• a reformulação ou aperfeiçoamentodo trabalho realizado, o aumento doescopo de atuação e/ou a geração deidéias para novos projetos;

• a troca de experiências entre os/asparticipantes e a formação de vínculoscom diferentes interlocutores,representantes de diversas instituições.Em alguns casos foram geradostrabalhos interinstitucionais;

• o exercício da interdisciplinaridade ea articulação entre teoria e prática pormeio do desenvolvimento dos projetosde pesquisa e intervenção, atividadeobrigatória do programa curricular;

• a ressignificação do papel do/aeducador/a;

• o aumento da motivação para atuarna área ao encontrar pessoasportadoras de ideais semelhantes;

• a difusão e discussão de idéiasoriundas das aulas e dos textos lidos,tanto no ambiente doméstico quanto node trabalho;

• a melhoria das relaçõesinterpessoais;

• a ampliação das perspectivasprofissionais.

ANÁLISE E CONCLUSÕESUm dos aspectos que mais

chamaram a atenção nos discursos doseducadores em relação ao papel daeducação ambiental se referia aoobjetivo de mudar comportamentosindividuais, como se isso fosse suficientepara reverter a situação preocupante emque a humanidade se encontraatualmente. Essa tônica não causaestranhamento, tendo em vista o fatoque é a abordagem preferencial de

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documentos oficiais da área ambiental,da mídia e de um número expressivo depublicações, os quais refletem as idéiasdos patrocinadores e não têm interesseem provocar transformações realmentesignificativas nas sociedades.

A ênfase na mudança decomportamento individual ofusca adimensão política das questõessocioambientais e, como ressalta avertente ambientalista ecossocialista,contribui para o prolongamento dostatus quo e para o atraso nastransformações estruturais necessárias.Portanto, é preciso que se realizem,concomitantemente, mudançasindividuais e estruturais.

Também foi possível verificar emalguns discursos a utilização daexpressão “passar conhecimentos”,indicativa de uma abordagem tradicionaldo processo ensino-aprendizagem. Ora,se a educação ambiental enseja umprocesso de transformação, e se oeducando é considerado sujeito desseprocesso, a ser realizado em conjunçãocom outros sujeitos, por meio de umprocesso participativo e dialógico, háuma grande incoerência em adotar-seuma abordagem tradicional na educaçãoambiental (PELICIONI, 1998). Em termospráticos, a adoção dessa abordagempode acarretar no fracasso do processopedagógico e no limite da própriaeducação ambiental enquanto uma dasformas de enfrentamento daproblemática socioambiental.

É preciso chamar a atenção para anecessidade de as práticas em educaçãoambiental contribuírem para promover

uma visão ampla e crítica daproblemática socioambiental (PELICIONI;PHILIPPI, 2002), não ficando confinadasa objetivos imediatistas, restritos aoâmbito do indivíduo ou do grupoparticipante de determinada atividade, eque tampouco promovam uma visãoacusatória de um “homem destruidor domeio ambiente”, destituído dequalificações maiores e falsamentepertencente a uma humanidadeportadora de possibilidades e interesseshomogêneos (PELICIONI, 1998).

Enfim, as práticas sociais em educaçãoambiental não devem mascarar adimensão política da problemática, sobpena de estarem contribuindo para seuagravamento. Além disso, é necessárioserem desenvolvidas ações, tanto emâmbito microssocial quanto macro, quepossam realmente ser instituintes denovas relações e promotoras damelhoria da qualidade de vida.

Tomando como referência osdepoimentos dos sujeitos deste estudo,é preciso reconhecer que cursos de pós-graduação delineados e desenvolvidosde forma coerente com os princípios daeducação ambiental – os quais, entreoutras recomendações, advogam odesenvolvimento da visão crítica daproblemática socioambiental, o exercícioda interdisciplinaridade e a participaçãoativa do educando no processo deensino-aprendizagem –, embora nãosejam a única forma, conferempossibilidades significativas de aprimorara qualidade dos trabalhos em educaçãoambiental desenvolvidos a potencializar aação transformadora da realidade.

BIBLIOGRAFIA[MMA/MEC] MINISTÉRIO DO MEIOAMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DAAMAZÔNIA LEGAL/MINISTÉRIO DAEDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Relatório:Levantamento nacional de projetos deEducação Ambiental. Brasília, DF, 1997.

PELICIONI, A. F. Educação ambiental naescola: Um levantamento de percepções epráticas de estudantes de primeiro grau arespeito de meio ambiente e problemasambientais. 1998. Dissertação (Mestrado emSaúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública,Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

. Educação ambiental: Limites epossibilidades de uma ação transformadora.2002. Tese (Doutorado em Saúde Pública) –Faculdade de Saúde Pública, Universidade deSão Paulo, São Paulo, 2002.

PELICIONI, M. C. F.; PHILIPPI JR., A. Meioambiente, direito e cidadania: Uma interaçãonecessária. In: PHILIPPI, JR. A.; ALVES, A. C.;ROMERO, M. de A.; BRUNA, G. C. (Eds.). Meioambiente, direito e cidadania. São Paulo:NISAM/Faculdade de Saúde Pública/SignusEditora, 2002.

PHILIPPI Jr., A.; PELICIONI, M. C. F. (Org.)Recursos humanos em educação ambiental:O papel da Faculdade de Saúde Pública daUniversidade de São Paulo. Educaçãoambiental: Desenvolvimento de cursos eprojetos. São Paulo: NISAM/Faculdade deSaúde Pública/Signus Editora, 2000.

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A BIOMASSA COMOALTERNATIVAENERGÉTICA PARA OBRASIL

Celso Roberto Alves da SilvaEngenheiro civil, formado pela Universidade [email protected]

Maria Teresa Flosi GarrafaEngenheira eletrônica, formada pela Faculdade deEngenharia Industrial (FEI)[email protected]

Paulo Laguna NavarenhoEngenheiro civil, formado pela Faculdade deEngenharia São Paulo (FESP)[email protected]

Rodolfo GadoEngenheiro civil, formado pela Universidade [email protected]

Sérgio YoshimaEngenheiro eletrônico, formado pela Universidade SãoJudas [email protected]

RESUMOA geração de energia elétrica no Brasil provém, essencialmente, de duas fontes energéticas: opotencial hidráulico e o petróleo, com grande predominância da primeira. Apesar da importânciadessas fontes, elas tendem a sofrer um processo de esgotamento no futuro. O Brasil dispõe devárias alternativas para geração de energia elétrica, dentre as quais se destaca o uso da biomassa.Esta, particularmente, provém de uma grande variedade de recursos energéticos, desde culturasnativas até resíduos de diversas origens. No entanto, a pouca informação a respeito do potencialenergético desses resíduos limita seu efetivo aproveitamento.No intuito de consolidar as informações existentes, o presente trabalho mostra um panorama dopotencial de biomassa no Brasil como fonte energética e seus aspectos sociais, econômicos eambientais.

PALAVRAS-CHAVEBiomassa, fonte de energia, impactos socioeconômicos, energia limpa, cana-de-açúcar, biodiesel,biogás.

ABSTRACTThere are two essential power sources that have provided electricity in Brazil, and the most used isby hydroelectric power stations and oil.Nowadays, these sources have occupied an importance place in the world power matrix but there isa tendency to suffer a break due to be drained in the future and more they have left negative impactsto the environmental. However, Brazil has several alternatives to get electricity, where biomass is oneof them. A great variety resources provides biomass, since those extracted from native cultures untilthose gotten by waste of different ways. But the few information about the real power potential ofwastes has difficulty using them more effectively.This work shows Brazil potential figures of biomass as power source, joining several existent informationand exploring its economical, social and environmental aspects.

KEY WORDSBiomass, power source, social and economical impacts, clean energy, sugar cane, biodiesel, biogas.

Energia e Ambiente

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INTRODUÇÃOTodos os processos da cadeia

energética (produção, transformação,transporte, distribuição, armazenagem euso final) envolvem uma série de perdasque reduzem a quantidade de energia,efetivamente útil à sociedade, a apenasuma fração do total de energia captadada natureza. Por contingência daspróprias leis físicas, um certo nível deperdas é inevitável ao longo da cadeiade transformações energéticas.

Como contrapartida a todaincorporação de um aporte de fontesenergéticas, existe a perda da energiadegradada, rejeitada para o ambienteexterno na forma de calor ou deresíduos (gases, material particulado).

Além disso, o uso de energia tambémorigina impactos sociais e econômicosdecorrentes do próprio aproveitamentode recursos naturais. Alguns delespodem ser significativos, mesmo no casode fontes, em virtude das áreas extensasas quais são necessárias para aprodução em grande escala.

Durante muito tempo, utilizando asforças disponíveis da natureza eadequando-as à sua localização, ohomem pode gerar, transmitir e consumirenergia sem alterar significativamente oambiente global, o uso do espaço e osmodos de produzir ou distribuir bens, deacordo com os modelos sociais, políticose culturais prevalecentes. Apesar de ter seconfrontado com vários episódios deescassez, provocados pela apropriaçãointensa das fontes disponíveis, como foi ocaso da lenha durante a idade média, atéa Revolução Industrial a humanidadeevoluiu com um consumo de energiarelativamente moderado. A inserção deuma nova tecnologia – a máquina avapor – no modo de produçãoprovocou uma ruptura no sistema,exigindo uma nova ordem de grandezano uso da energia.

A maioria das negociações ambientaisrelacionada à energia ainda está a meiotermo. A padronização dos critérios desegurança no transporte de petróleo eas diretrizes internacionais paraconstrução de grandes hidrelétricasestão em debate e a Convenção sobreSegurança Nuclear, assim como oProtocolo de Kyoto, ainda aguardam aratificação dos países signatários.

No âmbito brasileiro, até a década de70, as grandes barragens e centraishidrelétricas eram consideradas ícones dodesenvolvimento energético edesfrutavam da convicção de seremprojetos de baixo impacto, compossibilidade de agregar usos múltiplos(atenuação de cheias e abastecimento deágua na região circunvizinha, habilitaçãode áreas para lazer e aqüicultura), semoferecer riscos ambientais como aemissão de poluentes.

As mudanças produzidas noambiente construído se encarregariamde demonstrar conseqüências maisdrásticas do que se poderia mensurar. Oelevado nível de eutrofização (aumentode nutrientes na água resultante dadecomposição orgânica submersa),associado ao descontrole do grau deassoreamento de rios represadosfavoreceram, em grande parte dos casos,a proliferação de determinadas espéciesvegetais e animais (algas, mosquitos,parasitas), comprometendo o equilíbrioecológico e a qualidade de vida em seuentorno.

Resultados de pesquisas recentesapontam outro problema a serconsiderado: a decomposição orgânicada biomassa, submersa nos lagos dasrepresas, produz dióxido de carbono(CO2) e metano (CH4) em quantidadessimilares às termoelétricas, quandoconsiderados períodos históricosrelativamente pequenos (menos de 100anos). Com relação à necessidade dabusca de alternativas para a geração de

eletricidade, o racionamento de 2001demonstrou que a manutenção dadependência de mais de 90% dahidreletricidade é estrategicamentearriscada. Além disso, o potencial hídricode geração de eletricidade a baixo custoé, hoje, bastante limitado, sendo osmelhores sítios encontrados na regiãoNorte, distante dos grandes centrosconsumidores.

A crítica ambientalista ao plano deinstalação de um parque termoelétricomovido a gás natural, uma fonteconsiderada mais limpa que o petróleo,reside, justamente, no aumento daemissão nacional de óxidos denitrogênio (NOx), resultantes doprocesso de queima, e de ozônio debaixa altitude (O3), formado pela reaçãofotoquímica do NOx à radiação solar.Além dos resíduos produzidos noprocesso de queima, a alta porcentagemde metano (CH4), contido no gás natural(90%), transforma as perdas potenciais(estimadas em 1% do total) na rede detransporte e distribuição em fontes comcontribuição significativa para o aumentodo efeito estufa, conforme veremosadiante.

O século 20 ficará conhecido como oséculo dos combustíveis fósseis, uma vezque o carvão, o petróleo e o gás,praticamente, dominaram o sistemaenergético de todos os paísesindustrializados. O desenvolvimento e aotimização das tecnologias para utilizaçãodesses combustíveis e alguns dosprogressos extraordinários os quaistestemunhamos, tais como as viagensaéreas e a geração de eletricidade porturbinas a gás, são verdadeiramentenotáveis.

Por esses motivos, a tendência eraesquecer que, até a metade no século19, mais de 85% do total da energiausada no mundo era biomassa, naforma de lenha, resíduos da agricultura ede animais.

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A tecnologia utilizada naquela épocaera um tanto primitiva, e não evoluiu deforma significativa devido àpredominância das tecnologias maisavançadas de uso dos combustíveisfósseis. Não é surpresa, portanto, que a‘’biomassa’’, enquanto fonte de energia,tenha acabado com uma péssimareputação. A esses dados acrescente-seque em grande parte dos países menosdesenvolvidos, ainda é muito importantea utilização da lenha, seja para cozinharou aquecer, em fornos rudimentares, deeficiência bastante reduzida.

Essa situação está começando amudar: os combustíveis fósseis nãodurarão para sempre, sua utilização é acausa de a maioria das agressões aomeio ambiente, as quais hojetestemunhamos, e as tecnologias paraaumentar a eficiência da biomassaestarem evoluindo bastante nos últimosanos.

Apresenta-se, assim, a possibilidadedo ‘’renascimento’’ da biomassa naspróximas décadas, de maneira a tornar-se uma fonte de energia tão importantequanto há 200 anos. O sucesso doprograma de biomassa no Brasil –especialmente a expansão do uso doetanol, proveniente da cana-de-açúcarcomo alternativa ao uso da gasolina, sãofortes indicadores que as estratégiaspara se atingir, no futuro, um sistemasustentável, na área de energia, sãopossíveis e realísticas.

A BIOMASSA COMO FONTE DEENERGIADo ponto de vista energético,

biomassa é toda matéria orgânica (deorigem animal ou vegetal) que pode serutilizada na produção de energia. Assimcomo a energia hidráulica e outrasfontes renováveis, a biomassa é uma

forma indireta de energia solar. A energiasolar é convertida em energia química,pela fotossíntese, base dos processosbiológicos de todos os seres vivos.

Embora grande parte do planetaesteja desprovida de florestas, aquantidade de biomassa existente naterra é da ordem de dois trilhões detoneladas; o que significa cerca de 400toneladas per capita. Em termosenergéticos, isso corresponde a mais oumenos 3.000 EJ por ano; ou seja, oitovezes o consumo mundial de energiaprimária (da ordem de 400 EJ por ano).

Uma das principais vantagens dabiomassa é que, embora de eficiênciareduzida, seu aproveitamento pode serfeito diretamente, pela combustão emfornos, caldeiras, etc. Para aumentar aeficiência do processo e reduzirimpactos socioambientais, tem-sedesenvolvido e aperfeiçoado tecnologiasde conversão eficiente, como agaseificação e a pirólise.

A médio e longo prazos, a exaustãode fontes não-renováveis e as pressõesambientalistas acarretarão maioraproveitamento energético da biomassa.Mesmo atualmente, a biomassa vemsendo mais utilizada na geração deeletricidade, principalmente em sistemasde cogeração e no suprimento deeletricidade de comunidades isoladas darede elétrica.

Embora grande parte da biomassaseja de difícil contabilização, devido aouso não-comercial, estima-se que,atualmente, ela representa cerca de 14%de todo o consumo mundial de energiaprimária. Esse índice é superior ao docarvão mineral e similar ao do gásnatural e ao da eletricidade. Nos paísesem desenvolvimento, essa parcelaaumenta para 34%, chegando a 60%na África.

Hoje, várias tecnologias deaproveitamento estão em fase dedesenvolvimento e aplicação. Mesmo

assim, estimativas da AgênciaInternacional de Energia (IEA) indicamque, futuramente, a biomassa ocuparáuma menor proporção na matrizenergética mundial. Outros estudosmostram que, ao contrário da visãogeral, o uso da biomassa deverá semanter estável ou até mesmo aumentar,devido a duas razões, a saber:crescimento populacional; urbanização emelhoria nos padrões de vida.

Um aumento nos padrões de vidaleva pessoas de áreas rurais e urbanasde países em desenvolvimento a usarmais carvão vegetal e lenha, em lugar deresíduos (pequenos galhos de árvore,restos de material de construção, etc.).Ou seja, a urbanização não conduznecessariamente à substituição completada biomassa por combustíveis fósseis. Aprecariedade e falta de informaçõesoficiais sobre o uso da biomassa parafins energéticos deve-se, principalmente,aos seguintes fatores:

• Trata-se de um energéticotradicionalmente utilizado em paísespobres e setores menos desenvolvidos;

• trata-se de uma fonte energéticadispersa, cujo uso tradicional é muitoineficiente;

• uso tradicional da biomassa parafins energéticos é indevidamenteassociado a problemas dedesflorestamento e desertificação.

Contudo, essa imagem relativamentepobre da biomassa está mudando,graças aos seguintes fatores:

• Esforços recentes de mensuraçãomais acurada de seu uso e potencial,por meio de novos estudos,demonstrações e plantas piloto;

• uso crescente da biomassa comoum vetor energético moderno (graçasao desenvolvimento de tecnologiaseficientes de conversão), sobretudo empaíses industrializados;

• reconhecimento das vantagensambientais do uso racional da biomassa,

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essencialmente no controle das emissõesde CO2 e enxofre.

No Brasil, além da produção deálcool, queima em fornos, caldeiras eoutros usos não-comerciais, a biomassaapresenta grande potencial no setor degeração de energia elétrica. Os setoressucroalcooleiro e de papel e celulosegeram uma grande quantidade deresíduos, a qual pode ser aproveitadana geração de eletricidade,principalmente em sistemas decogeração. A produção de madeira, emforma de lenha, carvão vegetal ou torastambém gera uma grande quantidadede resíduos, que pode, igualmente, seraproveitada na geração de energiaelétrica.

O aproveitamento da biomassa podeser feito pela combustão direta (com ousem processos físicos de secagem,classificação, compressão, corte/quebra,etc.), processos termoquímicos(gaseificação, pirólise, liquefação etransesterificação) ou processos

biológicos (digestão anaeróbia efermentação). A Figura 1 apresenta osprincipais processos de conversão dabiomassa em energéticos.

GERAÇÃO DE ELETRICIDADE APARTIR DE BIOMASSAEmbora ainda muito restrito, o uso de

biomassa para a geração de eletricidadetem sido objeto de vários estudos eaplicações, tanto em países desenvolvidoscomo em países em desenvolvimento.Entre outras razões estão a busca defontes mais competitivas de geração e anecessidade de redução das emissões dedióxido de carbono.

Na busca de soluções para esses eoutros problemas subjacentes, asreformas institucionais do setor elétricotêm proporcionado maior espaço para ageração descentralizada de energia

elétrica e a cogeração (produçãocombinada de calor útil e energiamecânica).

Embora seja difícil avaliar o pesorelativo da biomassa na geração mundialde eletricidade, por conta da falta deinformações confiáveis, projeções daAgência Internacional de Energia indicamque ela deverá passar de 10 TWh em1995 para 27 TWh em 2020.

No Brasil, a biomassa representa cercade 20% da oferta primária de energia. Aimensa superfície do território nacional,quase toda localizada em regiões tropicaise chuvosas, oferece excelentes condiçõespara a produção e o uso energético dabiomassa em larga escala. Apesar disso, odesmatamento de florestas naturais vemacontecendo por razões essencialmentenão-energéticas, como a expansão dapecuária extensiva e da agriculturaitinerante.

Segundo dados do Balanço EnergéticoNacional de 1999, a participação dabiomassa na produção de energia elétricaé resumida em 3%, dividida entre obagaço de cana-de-açúcar (1,2%), osresíduos madeireiros da indústria depapel e celulose (0,8%), resíduosagrícolas e silvícolas diversos (0,6%) e alenha (0,2%).

Contudo, a conjuntura atual do setorelétrico brasileiro sinaliza um novo quadropara a biomassa no país. Entre outrosmecanismos de incentivo ao uso dabiomassa para a geração de energiaelétrica, destaca-se a criação do ProgramaNacional de Incentivo às FontesAlternativas de Energia Elétrica – PROINFA–, instituído pela Medida Provisória n. 14,de 21 de dezembro de 2001. Esseprograma tem a finalidade de agregar aosistema elétrico brasileiro 3.300 MW depotência, instalada a partir de fontesalternativas renováveis, cujos prazos eregras estão sendo definidos eregulamentados pela Câmara de Gestãoda Crise de Energia Elétrica – GCE – eFonte: Elaborado a partir de MME, 1982

Figura 1 – Diagrama esquemático dos processos de conversão energética da biomassa

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pelo Ministério de Minas e Energia –MME, com a colaboração de outrasinstituições, entre elas a ANEEL e aEletrobrás.

Os principais mecanismos de incentivoprevistos no PROINFA são a garantia decompra, por um prazo de até 15 anos,da energia gerada, e o estabelecimentode um valor de referência compatível comas características técnico-econômicas doempreendimento. Entre outros incentivos,destaca-se a redução não-inferior a 50%nos encargos de uso dos sistemas detransmissão e distribuição de energiaelétrica.

No que diz respeito à biomassa,particularmente, está sendo elaboradopelo MME e pela GCE um programa deincentivo específico, com a finalidade deagregar ao sistema elétrico nacional, atédezembro de 2003, 2.000 MW degeração de energia elétrica a partir debiomassa. Além dos incentivos previstospelo PROINFA, deverá haver umprograma de financiamento com taxas dejuros reduzidas e prazos de carência eamortização coerentes com a naturezados investimentos.

Além disso, a ANEEL tem estimulado eprocurado regulamentar o uso dabiomassa na geração de energia elétrica.Entre outras ações, destaca-se a definiçãode regras para a entrada de novosempreendedores, particularmente

autoprodutores e produtoresindependentes, levando em consideraçãoas peculiaridades e custos desse tipo degeração em sistemas elétricos isolados einterligados.

COGERAÇÃOCogeração é um vocábulo de origem

americana empregado desde os anos 70para designar a geração simultânea decalor e trabalho (energia mecânica/elétrica). Nas unidades de cogeração, ocalor e o trabalho são produzidos a partirda queima de um único combustível,com a recuperação de parte do calorrejeitado, qualquer que seja o ciclotermodinâmico empregado.

Dessa forma trata-se de um processode geração de energia mais eficiente doque simplesmente a geração de energiaelétrica, pois a partir da cogeraçãoocorrem dois produtos. Em conseqüênciaimediata da maior eficiência, tem-se amenor emissão de poluentes, desde queseja utilizado o mesmo combustível.

É uma tecnologia conhecida eempregada desde o início do século 20,porém, com o passar dos anos, foiperdendo a importância (meados dosanos 70) e a partir da década de 80 foirecuperando sua posição devido àstendências de desregulamentação do

setor elétrico em alguns países e àadoção de políticas de racionalização douso da energia. No final dessa décadapassou a ser valorizada também pelaminimização dos impactos ambientais,com redução das emissões globais deCO2 (o sistema consome quantidademenor de combustível, comparado comos sistemas convencionais) e pela maiorpossibilidade de emprego decombustíveis renováveis, como abiomassa.

Devido às limitações econômicas dosetor elétrico, dependente da participaçãodo capital privado, a cogeração seapresenta como uma opção interessantena contribuição à oferta de energiaelétrica, permitindo a geraçãodescentralizada, com unidades menores,mais flexíveis, próximas aos centros deconsumo, além de serem sistemas maiseficientes e menos poluentes.

As tecnologias de cogeração podemser separadas em dois grandes grupos,de acordo com a ordem relativa degeração de potência e calor: os ciclostopping (Figura 2) e os ciclos bottoming(Figura 3).

Nas tecnologias que operam segundoo ciclo topping, os gases de combustão auma temperatura mais elevada sãoutilizados para geração de eletricidade oude energia mecânica. O calor rejeitadopelo sistema de geração de potência é

Figura 3 – Sistema de cogeração tipo bottomingFonte: VELASQUEZ (2000)

Figura 2 – Sistema de cogeração tipo toppingFonte: VELASQUEZ (2000)

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utilizado para atender aos requisitos deenergia térmica do processo; assim, essamodalidade de cogeração produz energiaelétrica ou mecânica para depoisrecuperar calor, fornecido geralmente naforma de vapor para o processo(podendo também fornecer água quenteou fria e ar quente ou frio). Essa é aconfiguração mais comum dos processosde cogeração.

As tecnologias que operam segundo ociclo bottoming envolvem a recuperaçãodireta de calor residual (quenormalmente é descarregado naatmosfera), para a produção de vapor eenergia mecânica ou elétrica (em turbinasde condensação e/ou contrapressão).Nesse tipo de tecnologia, primeiro aenergia térmica é usada no processo, eentão a energia dos gases de exaustão éutilizada para a produção de energiaelétrica ou mecânica.

Apenas os ciclos topping podemfornecer real economia na energiaprimária, pois a maioria das aplicaçõesdos processos requer vapor de baixapressão, convenientemente produzidoneste ciclo.

A produção de eletricidade em umciclo a vapor, de forma geral, é feita pormeio do ciclo de Rankine tradicional comturbina a vapor, o que corresponde auma tecnologia em uso comercial há maisde 100 anos.

SETOR SUCROALCOOLEIROO setor sucroalcooleiro no Brasil

possui 377 usinas cadastradas noMinistério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento; destas, 272 unidadesestão localizadas na região Centro-Sul. Oestado de São Paulo possui o maiornúmero de usinas; no total são 165unidades produtoras.

O mercado sucroalcooleiromovimenta em torno de R$ 12,7 bilhões

por ano, entre faturamentos diretos eindiretos, o que corresponde a 2,3% doPIB brasileiro, sendo responsável poraproximadamente 1 milhão deempregos diretos.

O estado de São Paulo é também omaior produtor de açúcar e álcool dopaís, produzindo cerca de 60% do totalnacional.

O período de safra na região Centro-Sul acontece entre os meses de maio enovembro, enquanto na região Norte-Nordeste o período é de dezembro aabril.

Bagaço de canaO bagaço de cana é um grande

empecilho nas usinas, pois é produzidoem grandes quantidades (30% dacana), ocupa grandes áreas e pode vir asofrer combustão espontânea. Por outrolado, possui grande porcentagem defibras, o que lhe concede boascaracterísticas combustíveis; por essemotivo, juntamente como fato de ser umcombustível gratuito, o bagaço de cana équeimado nas caldeiras visando àgeração de vapor para o processo.

Tecnologias para geração de eletricidadeA tecnologia utilizada na indústria

sucroalcooleira é baseada no cicloconvencional de vapor (ciclo Rankine),usando-se, em grande parte, o bagaçode cana, in natura, com 50% deumidade, para a queima em caldeirasque produzem vapor com pressão de21 kgf/cm2 e temperatura de 300 ºC emmédia. Esse vapor aciona uma turbinaacoplada a um gerador, produzindoparte da energia elétrica necessária parasua operação.

O vapor gerado pela caldeira não éusado, exclusivamente, para a geraçãode energia elétrica, porque também éempregado como fluido de trabalhopara equipamentos de preparação,moagem da cana e para utilização no

processo industrial. Esse tipo de utilizaçãodo vapor é chamado de cogeração.

Aspectos socioeconômicos e ambientais– Geração descentralizada, próxima

aos pontos de carga: em particular, nasregiões Sudeste e Centro-Oeste ocorredurante o período de baixahidraulicidade, podendo complementarde forma eficiente a geração hidrelétrica.A cogeração de eletricidade poderiacolaborar com esse objetivo,fornecendo esta às regiões ruraispróximas às usinas/destilarias. Com umaeletrificação rural, poderiam seroferecidas melhores condições de vidaàquela população, colaborando parafixar o trabalhador no campo ereduzindo o êxodo rural.

– Utilização de mão-de-obra na zonarural: a geração de empregos éparticularmente importante. Naagroindústria canavieira, a mão-de-obrarepresenta 48% do custo total deprodução.

– Combustível limpo e renovável: aqueima de energéticos oriundos dacana-de-açúcar apresenta balanço decarbono nulo, pois o carbono emitidopela combustão desses materiais éabsorvido e fixado pela cana-de-açúcardurante seu crescimento. No entanto, aqueima desses combustíveis emiteóxidos de nitrogênio; isto ocorre porqueo nitrogênio faz parte da constituiçãoquímica dos vegetais. Esse problemapode ser reduzido aplicando-selavadores de gases e filtros, já disponíveiscomercialmente no país.

SETOR DE PAPEL E CELULOSEO setor de produção de papel e

celulose se caracteriza por um processoprodutivo que apresenta uma excelenterelação entre as demandas deeletricidade e de calor (vapor) para

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efeito de cogeração, além da geração deum combustível importante; intrínseco aoprocesso – o licor negro.

Além do licor negro (o efluentecombustível inerente ao processo, comum poder calorífico em torno de 13.400kJ/kg), produzido a uma taxa entre 1,0 e1,4 kg de licor concentrado por quilo decelulose, o setor conta com outrosinsumos energéticos agregados comocascas, lascas e resíduos de madeira, ecavacos de lenha, utilizados comocombustíveis complementares paraatender às necessidades energéticas doprocesso.

O sistema de cogeração utilizado naplanta de uma indústria de papel ecelulose é composto de turbina a vaporde condensação com duas extraçõespara atender às demandas térmicas doprocesso.

Em um sistema de cogeração, o vaporé gerado pela queima de licor negro nacaldeira de recuperação química, e deresíduos de madeira e lenha emcaldeiras do tipo leito fluidizado (esteúltimo, quando necessário para suprir ademanda de vapor no processo).

O processo de produção de celulosedemanda vapor a ser utilizado,sobretudo, nos secadores e digestores evapor de baixa pressão empregados nosevaporadores, entre outros setores.

A central de utilidades recebe daplanta industrial a lixívia e os resíduos/cascas de madeira, queimados emcaldeira de recuperação e leito fluidizado,respectivamente, gerando vapor de altapressão, que aciona o sistema decogeração fornecendo energia elétrica,vapor de média e de baixa pressão parao processo de fabricação.

Aspectos socioeconômicos e ambientaisO segmento de celulose e papel gera,

hoje, cerca de 130 mil empregos, seforem considerados os de naturezadireta e indireta. Mas a relevante

contribuição social do segmento não éclaramente representada por essaimagem, e sim pelos valores de impostosarrecadados anualmente e por seusbenefícios socioeconômicos, observadosnas regiões as quais cercam os setoresdas empresas (florestal, industrial,comercial, etc.).

Dando seguimento aos aspectossociais, não pode ser deixado de ladoavaliar a relação existente entre ainstalação da unidade produtora depapel e celulose e o desenvolvimentolocal. A maioria das unidadesprodutoras, no Brasil, localiza-se próximaà sua área de reflorestamento, levandoem conta os altos custos de extração etransporte que seriam gerados, casosuas fábricas ficassem localizadas agrandes distâncias de seusreflorestamentos, provocando, assim, umfenômeno de descentralização e fugados grandes centros urbanos.

Tal descentralização, dentro dosegmento de papel e celulose, exerceum papel de suma importância, poisconsegue obter bons índices dedesenvolvimento regionais, gerandoempregos e construindo uma estruturapara suportar as necessidades docrescimento da região.

O tema meio ambiente é um assuntode grande importância e preocupaçãopara as indústrias produtoras de papel ecelulose, visto que sua matéria-primabásica é fornecida diretamente daexploração controlada de madeira,respeitando leis e normas ambientaisrigorosas. Como principais aspectosambientais do segmento de papel ecelulose, destacam-se:

• Reflorestamento: No Brasil, asprincipais matérias-primas utilizadas pelosegmento de papel e celulose são oeucalipto e o pinus. O setor conta comem torno de 1,4 x 106 hectares dereflorestamentos próprios, principalmenteeucalipto (69,2%) e pinus (29,3%),

sendo o restante de outras espécies. Aprodução de celulose é, exclusivamente,feita a partir de madeira oriunda deflorestas plantadas, nas quais seincorporam modernas técnicas desilviculturas e de manejo florestalsustentável.

• Reciclagem: Como um rótuloecológico importante, a reciclagem dopapel carrega consigo um apelo, nãosomente ambiental, mas sim umasolução para a diminuição ou “controle”de aterros sanitários e também umasolução financeira para algumas pessoasque dependem da coleta seletiva parasobreviver. A indústria de papel ecelulose, tendo como principal matéria-prima a madeira e gerando resíduosorgânicos em seu processo, é um forteexemplo de utilização da biomassacomo uma alternativa energéticaambiental.

• Lixívia: A lixívia (licor negro), umresíduo inevitável do processo defabricação da celulose, altamente tóxico epoluente, comporta inúmeras vantagensem sua recuperação. Nela estãopresentes todos os produtos químicosutilizados no processo “sulfato” defabricação de celulose, e, se não fosseutilizada como combustível, na caldeirade recuperação (com a finalidade derecuperar esses produtos químicos egerar vapor), deveria ser descartada comelevados impactos ambientais em rios,lagos e lençóis freáticos. Como exemplo,o fato ocorrido em março de 2003 naIndústria de Papel Cataguases, ondetoneladas de licor negro poluíram abacia do rio Paraíba do Sul.

BIODIESELA idéia da utilização de óleos vegetais

em motores a combustão é quase tãoantiga quanto a própria invençãodestes. Há mais de 100 anos foram

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Figura 4 – Processo de obtenção de biodieselFonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE

realizados testes com óleos vegetais emmotores estacionários, sendo RudolfDiesel um empreendedor pioneironesse sentido. No entanto, apesar defazer o motor funcionar de modosatisfatório, os primeiros testes de longaduração revelaram que a utilização deóleos vegetais apresentava algunsinconvenientes. Além disso, com aredução do custo de prospecção dopetróleo e aumento da oferta doproduto, algumas frações derivadas dorefino do óleo cru mostraram-sebastante adequadas à utilização comocombustível em motores de combustãointerna. Assim, e com o passar dosanos, novos melhoramentos foramrealizados tanto no combustívelderivado do petróleo quanto no motorque o utilizava, levando aoesquecimento a idéia da utilização diretade óleos vegetais para esse fim. Aorigem das limitações ao usoautomotivo de óleos in natura estárelacionada com certas característicasintrínsecas aos óleos vegetais, tais comoalta viscosidade, composição em ácidosgraxos e presença de ácidos graxoslivres, assim como pela tendência queapresentam à formação de gomas porprocessos de oxidação e polimerização,durante sua estocagem ou combustão.No entanto, vários estudosdemonstraram que uma simples reaçãode transesterificação poderia dirimirmuito dos problemas associados àcombustão de óleos vegetais, tais comoa baixa qualidade de ignição, ponto defluidez elevado e altos índices deviscosidade e densidade específica,gerando um biocombustíveldenominado biodiesel, bastantecompatível com o óleo dieselconvencional. De modo geral, biodieselé definido como derivados monoalquiléster de fontes renováveis como óleosvegetais ou gordura animal, cujautilização está associada à substituição

de combustíveis fósseis em motores deignição por compressão interna(motores do ciclo Diesel).

Processo de produção de biodieselA transesterificação é um processo

químico que consiste da reação de óleosvegetais com um produto intermediárioativo (metóxido ou etóxido), oriundo dareação entre álcoois (metanol ou etanol)e uma base (hidróxido de sódio ou depotássio). Os produtos dessa reaçãoquímica são a glicerina e uma mistura deésteres etílicos ou metílicos (biodiesel). Obiodiesel tem características físico-químicas muito semelhantes às do óleodiesel e, portanto, pode ser usado emmotores de combustão interna, de usoveicular ou estacionário.

Fontes de matérias-primas para a produçãode biodiesel• Óleos Vegetais: Todos os óleos

vegetais, enquadrados na categoria deóleos fixos ou triglicerídicos, podem sertransformados em biodiesel: grão deamendoim, polpa do dendê, amêndoado coco de dendê, amêndoa do cocoda praia, caroço de algodão, amêndoado coco de babaçu, semente de girassol,baga de mamona, semente de colza,semente de maracujá, polpa de abacate,caroço de oiticica, semente de linhaça,semente de tomate, entre muitos outrosvegetais em forma de sementes,amêndoas ou polpas.

• Gorduras de Animais: Os óleos egorduras de animais possuem estruturasquímicas semelhantes as dos óleos

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vegetais. Como moléculas triglicerídicasde ácidos graxos, também podem sertransformadas em biodiesel: o sebobovino, os óleos de peixes, o óleo democotó, a banha de porco, entre outrasmatérias graxas de origem animal.

• Óleos e Gorduras Residuais: Osóleos e gorduras residuais, resultantesde processamentos domésticos,comerciais e industriais: as lanchonetes eas cozinhas industriais, comerciais edomésticas, onde são praticadas asfrituras de alimentos; as indústrias nasquais processam frituras de produtosalimentícios, como amêndoas, tubérculos,salgadinhos, e várias outras modalidadesde petiscos; os esgotos municipais, ondea nata sobrenadante é rica em matériagraxa, é possível extrair-se óleos egorduras; águas residuais de processosde certas indústrias alimentícias, como asindústrias de pescados, de couro, etc.

Biodiesel no BrasilOs estudos e testes sobre

combustíveis alternativos e renováveis noBrasil não são recentes. Na década de20, o Instituto Nacional de Tecnologia(INT) já desenvolvia pesquisas nessadireção. Desde a década de 70, esseinstituto, com o Instituto de PesquisasTecnológicas (IPT) e com a ComissãoExecutiva do Plano da Lavoura Cacaueira(CEPLAC), vêm desenvolvendo pesquisasrelativas à utilização de óleos vegetaiscomo combustível, dentre as quaismerece destaque o DENDIESEL, baseadono óleo de dendê.

Em 1983, o governo federal,motivado pela alta nos preços depetróleo, lançou o Programa de ÓleosVegetais (OVEG), no qual foi testada autilização de biodiesel e misturascombustíveis em veículos quepercorreram mais de 1 milhão dequilômetros. É importante ressaltar queessa iniciativa, coordenada pela Secretariade Tecnologia Industrial, contou com a

participação do setor privado, comoinstitutos de pesquisa, indústriasautomobilísticas e de óleos vegetais,fabricantes de peças e produtores delubrificantes e combustíveis.

Embora tenham sido desenvolvidosvários testes com biocombustíveis, dentreos quais o éster etílico de soja puro e amistura 30% de éster etílico de soja e70% de óleo diesel (cujos resultadosconstataram a viabilidade técnica dautilização do biodiesel comocombustível) e realizadas diversastentativas para o desenvolvimento demercado para o produto, os elevadoscustos de produção em relação ao óleodiesel impediram seu uso em escalacomercial.

Com a elevação dos preços do óleodiesel e o interesse do governo federalem reduzir sua importação, o biodieselpassou a ser visto com maior interesse,levando o Ministério da Ciência eTecnologia a lançar o Programa Brasileirode Desenvolvimento Tecnológico doBiodiesel (Probiodiesel), em 30 deoutubro de 2002, pela PortariaMinisterial n. 702. Ele tem como objetivofomentar a produção e utilização dobiodiesel no país, de modo a atingir suaviabilidade técnica, socioambiental eeconômica. Na primeira fase, encerradaem 2003, foram testados o éster etílico emetílico de soja e etanol. Na fase II, quedeverá se estender até 2005, serãodesenvolvidas as cadeias produtivas dobiodiesel produzido a partir de outrosóleos vegetais e/ou óleos residuais. Oprograma prevê, para 2005, o usocomercial de misturas com 5% debiodiesel e 95% de óleo diesel (misturaB5), esperando-se para 2010 oaumento da participação do biodieselpara 10% (B10) e até 2020 para 20%(B20).

Além do Probiodiesel, há algunsprojetos de lei tramitando no Congresso,prevendo a inclusão do biodiesel na

matriz energética brasileira. Desses, cabedestacar o PL n. 6983/2002, o qualprevê a mistura de 5% de biodiesel nodiesel, a partir de janeiro de 2004, e15% a partir de 2006, e o PL n. 526/2003, que regulamenta o uso dobiodiesel no Brasil.

Aspectos socioeconômicos e ambientaisO biodiesel é um combustível

renovável e, portanto, uma alternativaaos combustíveis tradicionais, obtidos dopetróleo. Sua utilização traz uma série devantagens ambientais, econômicas esociais.

Em termos ambientais, uma das maisexpressivas vantagens trazidas pelobiodiesel refere-se à redução da emissãode gases poluentes. Estudos realizadospela Universidade de São Paulodemonstram que a substituição do óleodiesel mineral pelo biodiesel resulta emreduções de emissões de 20% deenxofre, 9,8% de anidrido carbônico,14,2% de hidrocarbonetos não-queimados, 26,8% de materialparticulado e 4,6% de óxido denitrogênio.

Os benefícios ambientais podem,ainda, gerar vantagens econômicas. Opaís poderia enquadrar o biodiesel nosacordos estabelecidos no Protocolo deKyoto e nas diretrizes dos Mecanismosde Desenvolvimento Limpo (MDL), jáque existe a possibilidade de venda decotas de carbono por intermédio doFundo Protótipo de Carbono (PCF), pelaredução das emissões de gasespoluentes e também créditos de“seqüestro de carbono”, por meio doFundo Bio de Carbono (CBF),administrados pelo Banco Mundial.

Outra vantagem econômica é apossibilidade de redução dasimportações de petróleo e dieselrefinado. Segundo estatísticas da AgênciaNacional do Petróleo (ANP), o consumobrasileiro de óleo diesel apresentou um

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crescimento acumulado de 42,5%, noperíodo de 1992 a 2001. Para suprir ademanda crescente, foi necessárioaumentar o volume importado docombustível, de 2,3 milhões de m3, em1992, para 6,6 milhões de m3, em 2001.É importante destacar que, em 1992,8,5% do consumo brasileiro de óleodiesel era suprido via importações. Em2001, essa participação já havia saltadopara 16,5%. De acordo com a ANP,cada 5% de biodiesel misturado ao óleodiesel consumido no país representauma economia de divisas em torno deUS$ 350 milhões/ano.

O aproveitamento energético de óleosvegetais e a produção de biodiesel sãotambém benéficos para a sociedade,pois gera postos de trabalho,especialmente no setor primário. Outroaspecto positivo de sua utilização refere-se ao aumento da oferta de espéciesoleaginosas, as quais são um importanteinsumo para a indústria de alimentos eração animal, além de funcionaremcomo fonte de nitrogênio para o solo.

BIOGÁSAté há pouco tempo, o biogás era

simplesmente encarado como umsubproduto, obtido a partir dadecomposição anaeróbica (sempresença de oxigênio) de lixo urbano,resíduos animais e de lodo provenientede estações de tratamento de efluentesdomésticos. No entanto, o aquecimentoda economia nos últimos anos e asubida acentuada do preço doscombustíveis convencionais têmencorajado as investigações naprodução de energia, a partir de novasfontes alternativas e economicamenteatrativas, tentando, sempre que possível,criar formas de produção energética quepossibilitem a redução do uso dosrecursos naturais esgotáveis.

Diante do grande volume deresíduos provenientes das exploraçõesagrícolas e pecuárias, assim comoaqueles produzidos por matadouros,destilarias, fábricas de laticínios,tratamentos de esgotos domésticos eaterros sanitários, a conversãoenergética do biogás se apresentacomo uma solução a agregar ganhoambiental e redução de custos namedida em que reduz o potencialtóxico das emissões de metano, aomesmo tempo em que produz energiaelétrica.

Processo de formação do biogásO processo consiste na

decomposição do material pela ação debactérias (microrganismos acidogênicose metanogênicos). Trata-se de umprocesso simples, que ocorrenaturalmente com quase todos oscompostos orgânicos.

O tratamento e o aproveitamentoenergético de dejetos orgânicos(esterco animal, resíduos industriais,etc.) podem ser feitos pela digestãoanaeróbica em biodigestores, na qual oprocesso é favorecido pela umidade eaquecimento. Este é provocado pelaprópria ação das bactérias, mas, emregiões ou épocas de frio, pode sernecessário calor adicional, pois atemperatura deve ser de pelo menos35 °C.

Em termos energéticos, o produtofinal é o biogás, composto,essencialmente, por metano (50% a75%) e dióxido de carbono. Seuconteúdo energético gira em torno de5.500 kcal por metro cúbico.

Principais tecnologias de conversão dobiogásExistem diversas tecnologias para

efetuar a conversão energética dobiogás. Entende-se por conversãoenergética o processo que transforma

um tipo de energia em outro. No casodo biogás, a energia química contida emsuas moléculas é convertida em energiamecânica por um processo decombustão controlada. Essa energiamecânica ativa um gerador o qual aconverte em energia elétrica.

Não podemos esquecer demencionar o uso da queima direta dobiogás em caldeiras para cogeração e dosurgimento de tecnologiasremanescentes, porém atualmente nãocomerciais, como a da célula combustível.Mas as turbinas a gás e os motores decombustão interna do tipo “ciclo Otto”são as tecnologias mais utilizadas paraesse tipo de conversão energética.

Aspectos socioeconômicos e ambientaisO primeiro fator a ser analisado é o

da utilização de um gás combustível debaixo custo, uma vez que o biogás é umsubproduto de um processo dedigestão anaeróbica e, normalmente, édesprezado, ora emitido diretamente naatmosfera e agravando o impactoambiental por meio da emissão de gasesde efeito estufa, ora pela queima em“flares” para minimizar o impactoambiental.

Uma receita adicional pode sergerada pela venda do gás ou pelo usodo mesmo na geração de energiaelétrica. É importante salientar que, nocaso do tratamento de esgoto, o usodo biogás para geração de energiaelétrica possibilita a redução doconsumo de energia, enquanto, nocaso de um aterro sanitário, possibilita avenda da energia elétrica gerada à rede.

A emissão do biogás para aatmosfera provoca impactos negativosao meio ambiente e à sociedade, poiscontribui para o agravamento do efeitoestufa pela emissão de metano (CH4)na atmosfera (o impacto do metano é24 vezes maior que o do dióxido decarbono (CO2), provocando odores

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desagradáveis pela emissão de gasesfétidos e tóxicos, sobretudo pelaconcentração de compostos de enxofrepresentes no gás, além de umapequena, mas não-desprezível,presença de bactérias responsáveis peladigestão anaeróbica dos resíduosorgânicos. A presença do metano nobiogás sugere que o mesmo sejaqueimado em “flare”, por exemplo, paraque seja convertido para dióxido decarbono (CO2) pelo processo decombustão, com o objetivo deminimizar o impacto ambientalprovocado pela emissão de gases deefeito estufa.

O aproveitamento energético dobiogás, gerado pela digestão anaeróbicade resíduos, contribui com a preservaçãodo meio ambiente e também trazbenefícios para a sociedade:

• Promove a utilização oureaproveitamento de recursos“descartáveis” e/ou de baixo custo (obiogás é considerado como um gásresidual de processo);

• colabora com a não-dependênciade uma única fonte de energia fóssil(oferecendo uma maior variedade decombustíveis);

• possibilita a geração descentralizadade energia (gerando-a em comunidadesisoladas);

• aumento da oferta de energia;• geração de empregos para pessoas

menos qualificadas;• reduz os odores e as toxinas do ar

que contribuem para a poluição do arlocal;

• diminui as emissões poluentes pelasubstituição de combustíveis fósseis;

• colabora para a viabilidadeeconômica dos aterros sanitários eestações de tratamento de esgoto,aumentando a viabilidade dosaneamento básico;

• reduz significativamente a emissãode gases efeito estufa.

CONSIDERAÇÕES FINAISO Brasil apresenta condições

favoráveis para se tornar uma grandepotência no que diz respeito a fontesrenováveis de energia, sobretudo abiomassa, dado os seguintes fatores:

– Vasta extensão territorial, propícia àagricultura alimentícia e possível de(re)florestamento;

– condições bioclimáticas e aexperiência atingida quanto ao trato eexploração florestal a permitirem aobtenção de produtividade quatro acinco vezes superiores às obtidas nospaíses de clima temperado(essencialmente os paísesdesenvolvidos);

– a existência de grandequantidade de biomassa disponível pelaexpansão da fronteira agrícola eimplantação de grandes projetos naregião Norte e a existência de excedentede bagaço de cana na indústriasucroalcooleira;

– o aprimoramento das tecnologiasde transformação e o surgimento denovas, possibilitando melhoresrendimentos.

Como conseqüência, os fatores acimaapresentados trazem alguns benefícios,dentre os quais citamos:

• incentivo à produção agrícola eflorestal, ambas em ascensão;

• incentivo ao desenvolvimento denovas tecnologias;

• geração de energia descentralizadae possibilidade de fornecimento deenergia excedente às concessionáriaslocais;

• geração de empregos na zona rural,diminuindo o êxodo para as grandesmetrópoles;

• desenvolvimento sustentável(qualidade de vida, transporte eenergia);

• menor emissão de poluentes naatmosfera;

• balanço de carbono praticamentenulo, o que incentiva a venda decréditos de carbono para os paísesdesenvolvidos.

A experiência nacional de geração deenergia a partir da biomassa tem maiortradição na indústria sucroalcooleira,mostrando-se plenamente viável sob ospontos de vista técnico, operacional eeconômico.

É recomendável, portanto, que asexperiências operacionais de geração deenergia elétrica com biomassa florestalna região Norte, como as dos sistemaseletricamente isolados e a dosreservatórios de usinas hidrelétricasconcretizem-se, possibilitando oaproveitamento de grande potencialflorestal o qual estará disponível nospróximos anos. No caso do bagaço decana, cuja experiência operativa seencontra mais aprofundada, requer-seincentivos institucionais, técnicos efinanceiros por parte do governo federala possibilitar a implantação de umprograma de cogeração na indústriasucroalcooleira.

Quanto ao aproveitamento dasextensas áreas reflorestáveis, recomenda-se programas pilotos que desenvolvam aexperiência florestal e tecnológica deusinas com alto rendimento energéticode modo a possibilitar, em um futuropróximo, a execução de programas degeração térmica da biomassa florestal deporte tal, que venham a contribuir com acomplementação do sistema hidrelétrico,principalmente nas regiões nas quais jáse vislumbra o esgotamento do potencialde recursos hídricos.

Considerando-se as alternativasapresentadas hoje e as perspectivas parao setor elétrico no Brasil, discute-se apotencialidade do uso de biomassa nasusinas termoelétricas já existentes. Ocusto de produção de MWh (nuclear,carvão ou óleo) é elevado em relação àshidrelétricas, apesar de apresentarem

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períodos de construção, no caso dastermoelétricas a óleo, de três anossomente. Foi considerada a possibilidadede operação de termoelétricas a bagaçode cana com operação em 11 meses/ano, ampliando-se a discussão sobre apossibilidade de trabalhar não só combagaço excedente, mas também com apalha da cana-de-açúcar, resíduosprovenientes do processo de fabricaçãode papel e celulose, e até mesmobagaço de laranja.

Energeticamente, as vantagens para opaís são devidamente atraentes.Lançando mão de uso de recursoslocais e renováveis, diminuindo-se apressão futura sobre o balanço depagamentos, com uma importação depetróleo compatível às receitas dasexportações e a despesa dasimportações totais, além deinternacionalizar a geração de benefícios.Afora isso, a remuneração das usinassucroalcooleiras, pelas noções de custoevitado, gera nova receita aosprodutores e transfere ao setor privado,que já produz álcool combustível,também a responsabilidade pela geraçãode energia, evitando a construção denovas centrais térmicas pelasconcessionárias de energia elétrica.Como autoprodutores, essas empresastambém economizariam na construçãode redes de transmissão de energia,com a eliminação das linhas detransmissão, pois o abastecimento seriaobtido da própria fonte.

Quanto à questão ambiental, aenergia da biomassa não apresenta

aspectos críticos com relação aoprocesso de conversão. Praticamente oúnico efluente a requerer controleespecífico em uma termoelétrica ématerial particulado dos gases decombustão. O uso de precipitadores oufiltros de mangas leva o nível deemissão desse poluente a valoresaceitáveis pelas legislações maisrigorosas.

O assunto mostra outra face quandose aborda o lado da obtenção docombustível. É inegável que paraalgumas situações o aproveitamento debiomassa pode ser extremamentebenéfico, como no caso de resíduosurbanos agrícolas e industriais (lixo,esgoto), evitando problemas com adisposição final.

Finalmente, entendemos que o usoda biomassa na geração de energiaelétrica constitui-se em uma das opçõesmais viáveis para a participação docapital privado, no atendimento daparcela do mercado de eletricidade noBrasil.

Algumas questões ficam no ar após arealização do trabalho:

1 – Como a prática da biomassa, tãoantiga e ambientalmente correta, pôdeser esquecida pela humanidade?

2 – Por que o combustível à base decana-de-açúcar (o álcool), nacional e detamanho valor de interdependênciaenergética, não se perpetuou comsucesso?

3 – O que se pode fazer para que aimplementação desses programas setornem ações definitivas e permanentes?

BIBLIOGRAFIAATLAS de Energia Elétrica do Brasil. Brasília, DF:Agência Nacional de Energia Elétrica. 2002.153 p.

COELHO, S. T. Mecanismos paraimplementação da cogeração de eletricidadea partir de biomassa. Um modelo para oestado de São Paulo. 1999. 278 p. Tese(Doutorado) – Escola Politécnica, Universidadede São Paulo, São Paulo, 1999.

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A APLICAÇÃO DENITRATO DE AMÔNIOPARA O CONTROLE DEODORES EM SISTEMASDE COLETA DE ESGOTOSSANITÁRIOS

Teodosia Basile LiliamtisEngenheira química pela Universidade de Mogi dasCruzes, mestre e doutoranda em saúde pública pelaFaculdade de Saúde Pública da Universidade de Sã[email protected]

Pedro Caetano Sanches MancusoEngenheiro industrial pela Faculdade de EngenhariaIndustrial da Pontifícia Universidade Católica de SãoPaulo, mestre e doutor em saúde pública pelaFaculdade de Saúde Pública da Universidade de SãoPaulo, professor doutor do Departamento de SaúdeAmbiental da Faculdade de Saúde Pública daUniversidade de São [email protected]

RESUMOA presença de sulfetos, freqüentemente o sulfeto de hidrogênio, é responsável pela geração de odor,como também pela corrosão nas instalações de tratamento de esgotos. O presente trabalho foidesenvolvido com o objetivo de identificar e analisar a questão da geração de maus odores na redecoletora de esgotos do município de Pereira Barreto, com ênfase na formação do sulfeto de hidrogê-nio, focalizando a questão como problema de saúde pública, e também analisar o método de controleimplantado em sua rede de esgotos para minimizar o odor freqüente e intenso. Dos resultadosobtidos, concluiu-se que o método de nitrificação com a aplicação do nitrato de amônio, revelou-seeficaz em inibir a produção de concentrações de gás sulfídrico (H2S) superiores a 1,0 mg/L de H2S.Entretanto, para a região na qual se encontra a lagoa de estabilização, a dosagem de nitrato de amônioao esgoto apresentou-se inadequada, sendo necessário reavaliá-la. Os sintomas apresentados pelosentrevistados decorrentes da exposição ao odor freqüente e ofensivo, como dor de cabeça, náusea,ardor nasal, tontura e alterações no estado de humor, vieram a desaparecer, quando o odor passoua ser controlado e sua intensidade diminuída.

PALAVRAS-CHAVEOdor, gás sulfídrico, nitrato de amônio, saúde pública.

ABSTRACTThe presence of sulfides, particularly the hydrogen sulfide, are caused to emanate odor and corrosiveattack on pipe line from the wastewater treatment facilities. The present research work was developedin order to identify and analyze the creation of bad odors matter in the sewer system in the city ofPereira Barreto, giving emphasis to the formation of hidrogen sulfide, focusing it as a public healthproblem, and also analyzing the control method implemented in the sewer system to reducefrequent and intense odor. The nitrification method with the ammonia nitrate is eficient to inhibit theproduction of the sulphydric gas concentrations were at over 1,0 mg/L H2S. However, the area thatis found the stabilization lagoon, the dosage of the ammonia nitrate in the sewer system was notinadequate, it is necessary to evaluate again. The symptoms presented by the people had beenexposed to the frequent and ofensive odor were: headache, nausea, nose irritation, dizziness andmood alterations. These symptoms were disappeared as soon the odor was once controlled and theintensity was reduced.

KEY WORDSOdor, sulphydric gas, ammonium nitrate, public health.

SaneamentoAmbiental

Revista Brasileira de Ciências Ambientais38

INTRODUÇÃOA problemática do odor associada

aos sistemas de esgotos urbanos é umaquestão extremamente complexa epouco abordada no campo da saúdepública e ambiental.

Uma causa importante de odor nascoleções de águas residuárias é atribuídaà geração de sulfetos, principalmente aosulfeto de hidrogênio (H2S). A presençade sulfetos é também responsável pelacorrosão das tubulações de concreto nasinstalações de tratamento de esgotos.

O processo de geração de odorocorre, fundamentalmente, pela presençade sulfetos em esgotos, principalmenteem decorrência de atividade biológica.

Por outro lado, a formação deatividades biológicas favorece a produçãode gases não derivados de sulfetos, osquais podem ser odoríferos e inodoros.

Em algumas situações, a produção deodor no esgoto não resulta de atividadequímica ou biológica, mas da introduçãode fatores externos, como os despejosindustriais.

De acordo com o guia de primeirossocorros para o sulfeto de hidrogênio daUSEPA (2001), a toxicidade do H2Socorre por inalação ou pelo contato coma pele e olhos. Os efeitos do odor nasaúde são vários como:

• exposição aguda – taquicardia,palpitações cardíacas, arritmias cardíacas,bronquites, edemas pulmonares,depressão respiratória e também,possivelmente, uma paralisia respiratória;

• os efeitos neurológicos incluem:vertigem, irritabilidade, dor de cabeça,tontura, tosse, convulsões e até o estadode coma. Náusea, vômito e diarréia sãogeralmente observados.

A exposição ao gás sulfídrico podetambém provocar irritação na pele,lacrimejamento, incapacidade depercepção de odores, fotofobia e visãoembaçada.

A bibliografia consultada, até omomento, permitiu identificar que emvários países existe preocupação comrelação à ocorrência de odores.

No Brasil, a problemática da emissãode odores provenientes de fontes depoluição como: plantas industriais, usinasde tratamento de resíduos sólidos eestações de tratamento de esgotos,ainda não vem sendo regulamentada deforma específica.

No tocante ao H2S existe legislação,em âmbito estadual, para o controle deemissão do gás na água, expressa noDecreto n. 8.468 de 8 de setembro de1976, em seu artigo 19-A, a restringir olimite de lançamento de sulfeto emsistemas de esgoto a 1 mg/L.

Assim sendo, problemasrelacionados a exposições contínuas deseres humanos a substânciasodorantes, como os trabalhadores deETEs, além de moradores, transeuntes etrabalhadores em áreas próximas àsestações de tratamento, devem serpriorizados à luz da saúde pública eambiental.

OBJETIVOS• Identificar e analisar a questão da

geração de maus odores na redecoletora de esgotos do município dePereira Barreto, com ênfase na geraçãodo sulfeto de hidrogênio, focalizando aquestão como problema de saúdepública;

• Analisar o método de controle deodor utilizado para combater os mausodores exalados pelo sistema de esgotoda cidade; e,

• Identificar, por meio de umquestionário “próprio”, os efeitos doodor na saúde da população e apercepção desta com relação ao odorantes e depois da técnica da aplicaçãodo nitrato de amônio implantada.

O PROBLEMA DA GERAÇÃO DEODOR NO SISTEMA DE ESGOTODE PEREIRA BARRETO

HistóricoEm 1979, a Companhia Energética de

São Paulo (Cesp) iniciou a construçãoda Usina Hidroelétrica (UHE) de TrêsIrmãos, no município de Pereira Barreto,com a finalidade de exploração do rioTietê para a produção de energia elétrica.A obra foi concluída em março de 1991,contudo, produziu sérios danos ao meioambiente, apontados, inclusive, noEstudo de Impacto Ambiental (EIA).Dentre eles devemos ressaltar a elevaçãodo lençol de água e a contaminação doesgoto urbano, cujo sistema dedisposição entrou em colapso.

O antigo e precário tratamento deesgotos sanitários que atendia em tornode 63% da população urbana dacidade foi reformulado pela Cesp.

O novo sistema de esgoto implantadopela Cesp e elaborado pela CoplasaEngenharia de Projetos S/A, em 1983,inclui cinco sub-bacias de esgotamentocom vazão total de 8.800 m3/dia(coeficiente de retorno de 0.8), cadauma delas contando com uma estaçãoelevatória. Cada sub-bacia bombeia seusefluentes para a sub-bacia vizinha. Assim,os efluentes da EE-2 são bombeadospara a EE-1 e desta para a EE-5. Oesgoto da EE-4 é recalcado para a EE-3e desta para a EE-5. As estaçõeselevatórias EE-1, EE-2 e EE-3 localizam-sena área urbana, enquanto a EE-4 e aEE-5 na área rural.

Da EE-5 o esgoto é recalcado peloemissário até a caixa de passagem edesta por gravidade, até a estação detratamento, constituída por um conjuntode lagoas de estabilização (anaeróbia efacultativa), de onde o efluente é

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encaminhado para o lago doreservatório da UHE de Três Irmãos, ajusante da cidade. Esse sistema foiproposto em função do relevotopográfico da cidade e daspossibilidades de assentamento doscoletores.

Ação pública ambientalEm novembro de 1991, a Promotoria

Pública do Meio Ambiente entrou comuma ação civil pública ambiental cautelar(Processo n. 318/91 da 2a. Vara daComarca de Pereira Barreto) contra aCesp por danos causados ao meioambiente, estipulando multas e prazospara a solução dos problemas.

Entre os danos ambientais temos aremessa de resíduos de esgoto in naturano rio Tietê e o odor desagradávelproduzido e exalado pelo esgoto emtodas as estações elevatórias, nas caixasde passagens, em algumas regiões dacidade e dentro das residências.

Caracterização do odor proveniente dosistema de esgotoDa análise do desempenho hidraúlico

do sistema de esgoto realizado pelaCesp, constatou-se que vários foram osfatores a propiciarem a decomposiçãode material orgânico e,conseqüentemente, ao desprendimentodo gás sulfídrico em tempo insuficientede atingir-se o sistema de tratamento.Dentre eles, destacam-se:

a) A elevada temperatura do esgoto,em torno de 35o C, aumentando avelocidade de decomposição anaeróbicada matéria orgânica. A solubilidade dogás sulfídrico é inversamenteproporcional à temperatura. Nessesníveis constatados de temperatura, épropiciada uma maior liberação do gás;

b) o elevado teor de sulfato existentena água de abastecimento;

c) trechos da rede coletora, combaixa declividade que propiciam um

aumento no teor de sulfetos, em funçãodo depósito de matéria orgânica, fatoagravado pela temperatura do esgoto.Próximo de 7,5% da extensão da redeurbana apresentaram esse problema;

d) a existência de diversas obstruçõesparciais e/ou totais de trechos da rede,dificultando o escoamento e provocandodeposições de matéria orgânica quepoderão entrar em decomposição. Esseproblema de obstrução está relacionadocom as ligações indevidas, caixas degordura ou passagens mal construídas(ou ligações diretas sem sifão) queacabam carregando grandesquantidades de areia e terra para osistema coletor de esgotos;

e) falhas nos trechos hídricos dasinstalações prediais de esgoto e aexistência de ralos de drenagem pluvialligados indevidamente ao sistema, semfecho hídrico, bem como a não-existência de sistema de ventilação àsredes das casas.

Medidas corretivas propostas visando àredução do odorAs medidas corretivas necessárias e

implantadas para amenizar o problemade odor gerado pelo esgoto em PereiraBarreto, propostas pela Cesp, noperíodo anterior a 1995, foram:

a) limpeza da rede coletora e daselevatórias, tendo a finalidade de eliminaros depósitos e obstruções existentes;

b) rebaixamento do nível das bóiasde acionamento dos conjuntos derecalque das elevatórias, para diminuir ointervalo de tempo de retenção doesgoto;

c) implantação de um programa delimpeza constante dos cestos deretenção de sólidos das estaçõeselevatórias;

d) instalação de caixas de gordura;e) remanejamento de todos os

trechos da rede coletora comdeclividades baixas; e

f) estabelecimento de programa dedesconexão dos ralos de drenagemligados ao sistema de esgotos. Foramenviadas correspondências à Secretariade Saúde e prefeitura municipal dePereira Barreto, para que asirregularidades detectadas fossemcorrigidas.

Solução escolhida para eliminação do odorA Cesp optou pelo método da adição

de nitrato de amônio; sua aplicação foiintensamente pesquisada pela Sabesp,que utilizou esse produto de formapioneira. A Sabesp, no período de 1988a 1993, desenvolvia método de combateà formação do gás sulfídrico, adicionandonitrato de amônio ao esgoto nas cidadesde Santos e Monte Aprazível, ambas noestado de São Paulo, com ótimosresultados. Como esse método tambémera preconizado pela Coplasa, a Cesp,com a supervisão da Sabesp, implantouum campo experimental em PereiraBarreto, com a finalidade de resolver osdois problemas: odor e corrosão.

Desde o início foi definido que aselevatórias e a lagoa seriam pontos deaplicação e monitoramento, poispróximo a estes locais se verifica o maiornúmero de reclamações.

Os parâmetros analisados são:(a) Temperatura ambiente e do

esgoto (º C) – Determinada por meiode um termômetro de mercúrio;

(b) PH – Método eletrométrico;(c) Potencial de oxirredução, POR

(mV) – O POR mede a capacidade deoxidação ou redução de umasubstância. A medida é feita utilizando-seum pHmetro digital na escala demilimetragens com eletrodo específico amedir a minitensão, a qual écorrelacionável com o grau deoxidabilidade ou redutibilidade de umamistura (BRAILE & CAVALCANTI, 1993).

Em Pereira Barreto a aplicação denitrato de amônio elevou o POR do

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esgoto e, conseqüentemente, interferiuna formação de sulfetos;

(d) Teor de sulfeto de hidrogênio(mg/L) – O teor de sulfeto dehidrogênio é obtido por meio de umatécnica de análise adotada pela Sabesp.

Com base no Standard Methods forthe Examination of Water andWastewater (CLESCERI et al, 1992), oteste de sulfeto é qualitativo e consistena reação da amostra de esgoto comacetato de chumbo e utilização de umcatalisador (CO2).

A reação do gás liberado da amostraproduz uma coloração na membranabranca. A coloração obtida é comparadacom uma tabela, na qual encontramosseis níveis de coloração diferentes quecorrespondem a valores compreendidosentre 0 a 5 mg/L de H2S.

Dessa forma, avalia-se, então, o teorde sulfeto de hidrogênio contido naágua do esgoto.

Cabe frisar que, atualmente, em PereiraBarreto existem 11 pontos de aplicaçãodo produto, nos quais a quantidadeaplicada é verificada diariamente em trêshorários diferentes e 14 pontos demonitoramento, redefinidos conformeremanejamento dos pontos degotejamento de nitrato. A freqüênciaestipulada é de uma medição semanal.

ESTUDO DE CASO –QUESTIONÁRIO PARAENTREVISTASO questionário utilizado para

identificar os efeitos do odor na saúdedas populações circunvizinhas à ETE dePereira Barreto é do tipo de perguntasfechadas e de contato direto.

O questionário elaborado écomposto por um total de 20 questõesobjetivas, divididas nos seguintes itens:

I. Identificação – seis questõesreferentes a (o): Município/ Data/ Nomedo entrevistado/ Sexo/ Idade/ Endereço.

II. Urbanidade – duas questõesreferentes a (o): Tempo de moradia/Localização do imóvel em relação aoutras fontes potenciais de incômodos(cemitério, lixões, indústrias).

III. Descrição do odor – seis questõesreferentes a (o): Localização doentrevistado quando da percepção doodor/ Classificação do odor (antes dasolução do problema)/ Descrição doodor propriamente dita/ Permanênciado odor na vizinhança/ Percepçãoatual do odor/ Classificação do odor(após o controle do problema).

IV. Problemas de saúde causados peloodor – três questões referentes aos (a):Problemas de saúde que o entrevistadojá manifesta/ Problemas de saúdemanifestados após exposição ao odor/Insistência dos problemas de saúdesurgidos, após o controle do odor.

V. Questões ligadas à empresa desaneamento – três questões referentes a(o) (s): Conhecimento acerca daempresa prestadora dos serviços desaneamento/ Conhecimento acerca dasprovidências do órgão responsável comrelação ao problema de odor/ Forma demanifestação adotada pelo entrevistadopara reclamar do odor.

Para aplicação do mesmo, resolveu-seadotar, para fins de pesquisa, osseguintes critérios:

• Um raio de cerca de 500 metros dofoco de propagação, no caso, asestações elevatórias EE-1, EE-2, e umposto de visita (PV) na região central dePereira Barreto. Esse raio foi fixadolevando-se em conta a repercussão deimpactos, como proliferação de odoresos quais se constitui na principal queixacontra as estações de tratamento deesgotos próximas às áreas urbanas; e,

• Os domicílios em que osmoradores possuem um tempo de

residência de pelo menos 5 anos; estevalor foi estipulado para avaliar o odornas áreas críticas estabelecidas nopresente trabalho, antes e após aaplicação do nitrato de amônia,utilizando-se uma escala de intensidadede odor.

A percepção olfativa humanaapresenta grande variabilidade. Avariabilidade é o resultado de diferentespercepções dos odores (a percepçãovaria devido às diferentes classes decompostos odorantes); aceitar ou rejeitarum odor depende muito de experiênciasanteriores, das circunstâncias nas quais oodor é determinado, da idade, saúde eatitudes do receptor humano (WPCF,1979).

Amostragem estabelecidaO tipo de amostragem adotada é dita

amostragem não-probabilísticaintencional, ou seja, as unidades quecompõem a amostra são escolhidas pelopesquisador, não servindo,conseqüentemente, os resultadosobtidos nessa amostra, para se fazeruma generalização à população “normal”(RUDIO, 1989).

Considerou-se, para fins de pesquisa,o domicílio como unidade amostral.

Aplicação do questionárioNa aplicação do questionário foram

adotados os seguintes procedimentosbásicos:

• Quando da abordagem dosentrevistados, foram dadas informaçõesreferentes à pesquisa, objetivo eprocedência;

• Foram respeitados os indivíduosque preferiram, por qualquer motivo,não responder ao questionário,tomando-se a residência imediatamenteseguinte;

• No caso de residência fechada(ausência de moradores), foi tomada aresidência mais próxima;

dezembro 2004 41

• Aos entrevistados se garantiu amanutenção de sua identidade emanonimato, quando da publicação dosresultados da pesquisa, podendoresponder livremente às questões, semmedo de ficarem expostos a críticas ourepresálias de quaisquer ordem ouprocedência.

Foram realizadas 17 entrevistas, comuma média de duração de 30 minutoscada uma.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAnálise dos valores de sulfeto dehidrogênio obtidos no monitoramento darede de esgotosO sulfeto de hidrogênio é o principal

parâmetro a ser analisado, pois suaausência define o sucesso da utilizaçãoda tecnologia que emprega o nitrato deamônio.

Segundo experiências executadas pelaSabesp, apenas concentrações superioresa 1.0 mg/L, na massa líquida, causamodor, procedente do gás sulfídrico.

O monitoramento para o parâmetroem questão restringiu-se aos seguintesperíodos: 10 de maio a 18 de setembrode 1995 e 3 de janeiro a 25 de julhode 2001.

Para cada amostra há dadoscorrelatos de gás sulfídrico medidos aolongo da rede.

Como forma de melhor avaliar aeficácia desse método no controle deodor, resolveu-se dividir a cidade dePereira Barreto em cinco regiões distintas:

a) Rega) Rega) Rega) Rega) Região 1 – ião 1 – ião 1 – ião 1 – ião 1 – Estação elevatória 1.PV (posto de visita) da rua Auto Leitecom a avenida D. Pedro II, próximo àEE – 1 e PV da avenida D. Pedro IIanterior à EE–1.

b) Regb) Regb) Regb) Regb) Região 2ião 2ião 2ião 2ião 2 – Estação elevatória 2.c) Regc) Regc) Regc) Regc) Região 3ião 3ião 3ião 3ião 3 – Estação elevatória 3.

PV da avenida Francisco Pacca com arua Washington Luís, próximo à EE – 3.

d) Regd) Regd) Regd) Regd) Região 4ião 4ião 4ião 4ião 4 – Estação elevatória 5.PV da entrada da EE – 5.

e) Rege) Rege) Rege) Rege) Região 5ião 5ião 5ião 5ião 5 – Entrada da lagoa deestabilização (caixa de areia) e saída dalagoa de estabilização (lagoa facultativa).

Na análise dos resultados procurou-se verificar se as concentrações de H2Spara o sistema de esgotos da cidadeatendia ao limite máximo permitido de

1,0 mg/L, valor este adotado pelalegislação vigente. Nessa abordagem foianalisado se a aplicação de nitrato deamônio conseguiu eliminar o odor fétidoem todo o sistema de coleta domunicípio.

As Figuras 1, 2 e 3 mostram asconcentrações de gás obtidas nasregiões 1, 2 e 5, comparando-se os

Região 5

Figura 3 – Concentrações de H2S(mg/L) nos esgotos da saída dalagoa de estabilização (lagoafacultativa), no ano de 1995 e2001, comparando-se com olimite máximo permitidoFonte: Autores

Região 1

Figura 1 – Concentração de H2S(mg/L) nos esgotos da EE-1, nosanos de 1995 e 2001,comparando-se com o limitemáximo permitidoFonte: Autores

Região 2

Figura 2 – Concentrações de H2S(mg/L) nos esgotos da EE-2, nosanos de 1995 e 2001,comparando-se com o limitemáximo permitidoFonte: Autores

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anos de 1995 (início da implantação datecnologia da adição de nitrato deamônio) e 2001 (seis anos após onitrato ser implantado) com o limitemáximo permissível de sulfeto.

Observa-se, pela Figura 1, que noano de 1995 a região 1 se apresentoucrítica em termos de odor, pois a maioriados valores obtidos de sulfeto estáacima de 1.0 mg/L. Para o ano de2001, verifica-se que quase não seregistrou a presença de gás sulfídriconessa região.

De acordo com os dadosapresentados, a aplicação de nitrato deamônio, na região 2, conseguiupraticamente inibir a formação desulfetos, pois a maior parte de suasconcentrações se encontram abaixo de1.0 mg/L.

A dosagem de nitrato de amônio,supostamente suficiente para essetrecho, não conseguiu impedir aprodução de gás, tornando esta umaregião crítica em termos de odor.

A Tabela 1 resume os resultadosobtidos no monitoramento da rede deesgotos de Pereira Barreto.

Análise dos resultados obtidos napesquisa de campoO questionário foi aplicado no

período de 11 a 13 de julho de 2001.Na análise dos resultados, optou-se

por abordar as questões referentes aos

efeitos do odor na saúde da populaçãoe a descrição do odor antes e depois daalternativa escolhida pela Cesp, parasolucionar o problema de geração deodor intenso em Pereira Barreto.

É evidente que nessa abordagem nãoforam analisados todos os parâmetrosconsiderados no questionário, pois issocabe a trabalhos de pesquisa posteriorese complementares a este.

As variáveis consideradas foram:Variável 1 – sexo dos entrevistados; e

Variável 2 – idade dos entrevistados.Os indicadores são:1. Intensidade do odor (antes) – tem

por objetivo analisar como osentrevistados classificaram o odor geradopela ETE antes de o problema sersolucionado;

2. intensidade do odor (atual) – esteindicador analisa como os entrevistadosclassificam o odor hoje, apósimplantado o método de nitrato deamônio no sistema de esgotamento dacidade;

3. efeitos do odor na saúde dosentrevistados após sua exposição aoodor ofensivo – dentre os sintomaspotenciais surgidos, quais os que apopulação manifestou com maiorintensidade.

Os indicadores foram estudados uma um, e depois se buscou apresentar ocomportamento das variáveis (sexo eidade) em face de cada um deles.

Indicadores estipulados

No que se refere ao indicador 1, 11entrevistados (64,7% do total)classificaram o odor como forte, e seisentrevistados (35,0%) como muitoforte.

Quanto ao indicador 2, dividiu-se daseguinte forma: a grande maioriacorrespondente a 47,0% dosentrevistados afirma que, hoje, o odor éfraco; 41,0% moderado; 6,0%muito fraco; e os outros 6,0% dosentrevistados disseram que o odor énão-perceptível.

O indicador 3 mostrou que a maioriados entrevistados, correspondendo a76,5% do total, apresentou algumsintoma, enquanto os 23,5% dorestante afirmaram não sentiremabsolutamente nada diferente.

Dos 76,5% dos entrevistados amanifestarem alguma anomalia, ossintomas mais comuns em ordemdecrescente foram: dor de cabeça,náusea e ardor nasal; outros sintomas(piora de rinite/sinusite; azia); tontura ealterações do estado de humor.

Comportamento da variável 1 em relação aosindicadoresCom relação à variável 1, pode-se

afirmar que a disposição feminina emresponder ao questionário foi bemmaior que a masculina. O número demulheres (10) correspondeu a 58,8%

Tabela 1 – Resultadosdo monitoramentoFonte: Autores

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do total das entrevistas, e o número (7)foi de 41,2% do total.

O comportamento de homens emulheres em relação aos indicadoresestudados pode ser observado nasFiguras 4, 5 e 6.

A Figura 4 apresenta ocomportamento de ambos os sexos emrelação à intensidade de odor antes daaplicação de nitrato de amônio.

Observa-se, na Figura 4, que tanto amaioria das mulheres (seis entrevistadas,perfazendo 60% do total feminino)quanto a maioria dos homens (cincoentrevistados, perfazendo 71,4% do totalmasculino) classificou como forte o odorna cidade, antes do nitrato.

Na classificação do odor, hoje, ocomportamento da variável 1 édemonstrado na Figura 5.

De acordo com a Figura 5, aclassificação do odor, hoje, segundo aopinião de ambos os sexos, divide-se daseguinte forma:

• Não-perceptível – 10% dasmulheres contra 0% dos homens;

• Muito fraco – 10% das mulherescontra 0% dos homens;

• Fraco – 40% das mulheres contra57,1% dos homens;

• Moderado – 40% das mulherescontra 42,9% dos homens;

• Forte – 0% das mulheres contra0% dos homens;

• Muito forte – 0% das mulherescontra 0% dos homens.

Com relação aos efeitos do odor nasaúde dos entrevistados, a Figura 6apresenta o comportamento de homense mulheres.

Pela Figura 6 percebe-se que asmulheres apresentaram uma maiorsusceptibilidade a problemas de saúdeque os homens, quando da exposiçãofreqüente ao odor intenso.

Figura 6 – Sexo dos entrevistados x efeitos do odor na saúde dos entrevistados – (variável 1 x indicador 3)Fonte: Autores

Figura 5 – Sexo dos entrevistados x classificação do odor atualmente – (variável 1 x indicador 2)Fonte: Autores

Figura 4 – Sexo dos entrevistados x classificação do odor (antes) – (variável 1 x indicador 1)Fonte: Autores

Revista Brasileira de Ciências Ambientais44

Comportamento da variável 2 com relação aosindicadoresA variável 2 – idade dos entrevistados,

aparece no questionário dividida emfaixas etárias de 10 a 15; 16 a 25; 26 a35; 36 a 45; 46 a 55; 56 a 65, e acimade 65 anos.

Para facilitar a análise dessa variávelante os indicadores de percepção,decidiu-se agrupar as faixas etárias, daseguinte forma:

• Jovens – grupos de 10-15; 16-25(anos);

• Adultos – grupos de 26-35; 36-45;46-55 (anos);

• Idosos – grupos de 56-65; acimade 65 (anos).

De acordo com a variável 2 (idade),os 17 entrevistados da pesquisa decampo ficaram divididos em:

• Jovens = 1 (6%);• Adultos = 8 (47%);• Idosos = 8 (47%).Conforme se observa, a porcentagem

de adultos e idosos que respondeu aoquestionário foi equivalente.

Nas Figuras 7, 8 e 9, observa-se asdiferenças de comportamento dosgrupos etários considerados.

O comportamento da variável 2, emface da classificação do odor antes donitrato de amônio, é objeto da Figura 7.

A partir dos dados apresentados naFigura 7, observa-se que tanto a maioriados adultos (75% dos indivíduos)quanto 50% dos idosos entrevistadosclassificaram o odor como forte emPereira Barreto, antes do nitrato deamônio.

Em termos da classificação do odor,hoje, na Figura 8, encontram-se osresultados em face da variável 2.

A classificação do odor, hoje, para osgrupos etários considerados,apresentaram os seguintes resultados:

• Não-perceptível – 0% dos jovens,contra 12,5% dos adultos e 0% dosidosos;

Figura 9 – Idade dos entrevistados x efeitos do odor na saúde dos entrevistados – (variável 2 x indicador 3)Fonte: Autores

Figura 8 – Idade dos entrevistados x classificação do odor atualmente – (variável 2 x indicador 2)Fonte: Autores

Figura 7 – Idade dos entrevistados x classificação do odor antes – (variável 2 x indicador 1)Fonte: Autores

dezembro 2004 45

• Muito fraco – 0% dos jovens, contra0% dos adultos e 12,5% dos idosos;

• Fraco – 0% dos jovens, contra 50%dos adultos e 50% dos idosos;

• Moderado – 100% dos jovens,contra 37,5% dos adultos e 37,5% dosidosos;

• Forte – 0% dos jovens, contra 0%dos adultos e 0% dos idosos;

• Muito forte – 0% dos jovens, contra0% dos adultos e 0% dos idosos.

O desempenho da variável 2, em vistados efeitos do odor freqüente e ofensivona saúde dos entrevistados, apresenta-se na Figura 9.

Da Figura 9, destacam-se como osmais sensíveis os adultos, seguidos pelosidosos e jovens.

ConclusõesDos resultados obtidos se concluiu:• O nitrato de amônio aplicado em

trechos da rede coletora,correspondente às regiões 1, 2, 3 e 4do município de Pereira Barreto, revelou-se eficaz em inibir a produção deconcentrações superiores a 1,0 mg/L deH2S, sendo eficiente no controle de odorprocedente deste gás para os anos de1995 (início do experimento) e 2001(seis anos após o método de controledo odor ser implantado).

• Para a região 5, na qual se encontraa lagoa de estabilização, a dosagemaplicada de nitrato ao esgotoapresentou-se inadequada para inibir aformação de sulfetos nesse local, sendonecessário reavaliá-la.

• Analisando-se os resultados obtidoscom a aplicação do questionário, verifica-

se, pelas pessoas entrevistadas, que oodor na cidade de Pereira Barreto, antesda aplicação do nitrato, era forte. Em2001, foi classificado como fraco. Issovem comprovar que o método denitrificação com o nitrato de amônio éeficiente no controle de odor.

• Os sintomas mais freqüentesapresentados pelos entrevistados foram:dor de cabeça, ardor nasal, náusea,alterações do estado de humor etontura.

• As mulheres se mostraram maissusceptíveis aos efeitos do odor,provavelmente pelo fato de existir umamaior ligação feminina com a residênciae seu entorno (o bairro, a vizinhança,entre outros).

• Vale comentar que os sintomasapresentados pelas pessoasentrevistadas vieram a desaparecer,assim que o método da aplicação donitrato de amônio foi implantado nosistema de esgotos de Pereira Barreto,minimizando o odor intenso.

• Deve-se ressaltar que os resultadosapresentados neste trabalho devem serencarados com reserva, mais como umatendência do que uma regra, dado ofato de a amostragem estipulada para aaplicação do questionário ser não-probabilística intencional.

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[WPCF] Water Pollution Control Federation.Odor control for wastewater facilities.Washington (DC); 1979. (WPCF Manual ofPractice, 22).

Revista Brasileira de Ciências Ambientais46

MONITORAMENTO DAS

CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS

COMO INSTRUMENTO DE

OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE

LODOS ATIVADOS E SUAS

IMPLICAÇÕES

Solange Vieira da SilvaMestre em história social da ciência pela FFLCH-USP,

especialista em engenharia de saneamento básicopela FSP-USP. Especialista em entomologia

médica pela FSP-USP. Graduada em ciênciasbiológicas pelo Instituto de Biociências da USP.

[email protected]

Rosemara Augusto PereiraEngenheira civil formada pela PUC-Campinas,

especialista em engenharia de saneamento básicopela FSP-USP. Responsável pela coordenação dos

projetos da Empresa [email protected]

Roque Passos PiveliEngenheiro civil pela Escola de Engenharia de SãoCarlos – USP (EESC-USP). Doutor em engenharia

hidráulica e sanitária pela Escoloa Politécnica da USP emestre em engenharia hidráulica e saneamento pela

[email protected]

Hernan Junqueira CriscuoloEngenheiro civil pela Autarquia Municipal de Ensinos

de Poços de Caldas – atua PUC-Poços de Caldas.Especialista em engenharia de saneamento básico

pela [email protected]

RESUMOAs variações na composição dos esgotos que chegam às estações de tratamento de esgoto (ETE)causam grandes transtornos operacionais. Em geral, dados os procedimentos operacionais padrão ea concepção de projetos rigidamente estruturados, não há como adotar uma atitude preventiva. Ocaráter dinâmico do funcionamento de uma ETE também dificulta a realização de mudanças drásti-cas de operação quando em situações adversas. Nesse sentido, um programa de monitoramentopode auxiliar para que o processo de tratamento dos esgotos atinja seu máximo de eficiência. Aadoção de parâmetros que possibilitem averiguar as características dos esgotos encaminhados àETE, em pontos estratégicos de monitoramento, pode orientar na escolha de estratégias operacionaiseficazes. Conhecer o ambiente dos microrganismos responsáveis pelos processos metabólicosenvolvidos na degradação de matéria carbonácea e de nitrificação, possibilita antecipar quais parâmetrosdevem ser controlados. O monitoramento também pode auxiliar na identificação das possíveisfontes geradoras de poluição, possibilitando a transferência de custos de tratamento por meio daaplicação do princípio poluidor-pagador. No presente trabalho foram analisados parâmetros decaracterização do afluente e efluente das ETEs Barueri e Franca.

PALAVRAS-CHAVEMonitoramento de esgotos sanitários, caracterização de esgotos, processo de lodos ativados.

ABSTRACTVariations in the wastewater composition can cause serious operational problems in the wastewatertreatment plant. Very often, the strategies adopted to overcome problems related to the biochemicalprocess, usually caused by toxic compounds are not effective. Moreover, the concept and theoperation of the wastewater treatment plants are not structured to support changes in function of thewastewater characteristics. In this way, a very structured monitoring program can help operators toachieve the maximum treatment efficiency. The precise specification of the monitoring parametersand the strategic points of measuring them can lead to a more efficient operation. Another importantquestion is the knowledge of the biological process responsible for the carbonaceous degradationand the nitrification process. This knowledge can anticipate which parameters must effectively becontrolled to guarantee the microorganisms growing and adaptation. Besides, the wastewater monitoringcan identify the wastewater sources and transfer these costs to the wastewater generators by theapplication of principle of “who pollutes must pay for that”. In this work, the influent and the effluentof two wastewater treatment plant using sludge activated processes characteristics where analyzed.Despite of the less pollutant concentrations in the Barueri treatment plant, Franca treatment plant ismore efficient. One of the reasons for that is the huge dimensions of the Barueri treatment plant, theoperation complexity and great wastewater volume treated contribute to a lower treatment efficiency.

KEY WORDSWastewater monitoring, sludge activated process, wastewater parameters characterization.

SaneamentoAmbiental

dezembro 2004 47

INTRODUÇÃOConsiderando os riscos ambientais a

que estão submetidos os corposhídricos, sujeitos ao recebimento dasmais diversas cargas poluentes,decorrentes do lançamento direto deesgotos e dos efluentes finais de umaestação de tratamento de esgotos, adeterminação das principaiscaracterísticas dos mesmos,identificando suas propriedades físicas eseus principais constituintes químicos ebiológicos, constitui ferramentapoderosa a auxiliar na tomada demedidas, cujo objetivo seja o deotimizar os processos operacionais deuma ETE. Uma análise da viabilidade domonitoramento das características dosesgotos submetidos ao processobiológico de tratamento, a partir dedados de monitoramento dascaracterísticas dos afluentes e efluentesfinais das estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, referentesao período de agosto a dezembro doano de 2002, obtidos na Companhiade Saneamento Básico do Estado deSão Paulo (Sabesp), possibilitou não sócaracterizar os esgotos brutos dessasestações de tratamento como tambémpermitiu uma avaliação geral de suascondições de funcionamento.

Este estudo possibilitou definir quaisparâmetros físicos, químicos e biológicossão fundamentais na caracterização dosafluentes e efluentes, assim como acomparação entre os dados obtidos domonitoramento das características dosafluentes e efluentes finais das estaçõesde tratamento de esgotos de Barueri eFranca permitiu avaliar a eficiência dessasestações em função do afluente querecebem. Essa análise foi possível pelofato de essas unidades utilizarem oprocesso de lodos ativados notratamento.

Também foi considerado um conjuntode dados isolados específicos às estaçõesde tratamento de esgotos estudadas,cuja análise possibilitou evidenciaraspectos representativos de cada umadelas, os quais indicaram particularidadesdas regiões a elas associadas.

A escolha dos parâmetros utilizadosna análise comparativa entre as duasestações de tratamento de esgotos levouem consideração a relevância para acaracterização e a constância no períodode referência, e para a análise deeficiência no tratamento consideraram-seas concentrações dos vários parâmetrospresentes no afluente e no efluente final.

No que se refere ao efluente devemser considerados não só os riscosambientais, mas também o fato de suascaracterísticas apresentarem grandeinterferência na segurança e na saúdedos trabalhadores que operam osistema, e na preservação das instalaçõesde coletas e transporte dos esgotos,permanentemente sujeitos à corrosão,incrustação ou mesmo obstrução econdições que podem gerar explosões.

Os resultados obtidos a partir domonitoramento do afluente e efluentepermitem não só avaliar a eficiência dotratamento efetuado pelas ETEs emquestão, mas também possibilitamidentificar problemas em potencial,orientando nas ações que conduzem auma otimização dos processosoperacionais dentro dessas ETEs.

Monitoramento das características dosesgotosO monitoramento das características

dos esgotos deve basear-se em umconjunto de ações que tenha porobjetivo avaliar a eficiência do sistema detratamento de efluentes por meio demedições repetitivas, de forma discretaou contínua. Essa avaliação só é possívelquando se dispõem de informações

confiáveis obtidas a partir de dadosobservados nas diversas fases do fluxode um sistema de esgotos, para umefetivo conhecimento do que estáocorrendo no meio. É assim que ossistemas de monitoramento de esgotosdevem ser planejados, pois de nadaadianta obter dados isolados os quaisnão possibilitam conclusões acerca domeio em questão.

O conceito de monitoramento dascaracterísticas dos esgotos é muito maisamplo do que simplesmente verificar seos padrões legais de emissão elançamento de efluentes estão sendoobedecidos ou não. Um plano demonitoramento eficaz deve atender àsnecessidades de responder o que estádivergindo das características esperadase por que está ocorrendo, para quemedidas eficientes sejam tomadas.

METODOLOGIAEste estudo se baseou em dados

secundários gerados a partir dasinformações que constam nos relatóriostécnicos das estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, fornecidospela Companhia de Saneamento Básicodo Estado de São Paulo, nos quaisconstam valores médios mensais paradiversos parâmetros de caracterizaçãodos esgotos. Salienta-se que nestetrabalho foram selecionados os dadoscorrespondentes ao período de agostoa dezembro de 2002. Esses dados sãoapresentados no item reservado àanálise de dados.

Processo de tratamento dos dadosPrimeiramente, os dados foram

tabulados em Excel (Microsoft Office2000 Premium), a partir do qual foramgerados os gráficos temporais queauxiliaram no processo de análise.

Revista Brasileira de Ciências Ambientais48

A definição dos parâmetros utilizadospara análise considerou, como aspectosimportantes, a constância durante operíodo de referência e os valoresmédios mensais. Para a análise deeficiência no tratamento consideram-se asconcentrações desses vários parâmetrospresentes no afluente e no efluente finale, posteriormente, a análise de dadosisolados possibilitou o reconhecimentode particularidades inerentes a cada umadas estações de tratamento estudadas. Oestudo comparativo a partir dessesdados foi possível, uma vez que ambasse utilizam do processo de lodo ativadopara tratamento dos esgotos quechegam nas estações de tratamento.

DESCRIÇÃO DOS MÉTODOSANALÍTICOSForam objetos de estudo deste

trabalho as estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, para asquais foram analisadas as característicasdos esgotos que chegam às estações detratamento e do efluente final, a fim deidentificar a eficiência de ambas.

Estação de tratamento de esgotos deBarueriO sistema de esgotos de Barueri é

responsável pela coleta, transporte etratamento das contribuições de esgotoprovenientes das regiões: centro, norte,sul e oeste da região metropolitana deSão Paulo, além de municípios dasregiões oeste e sudoeste da Grande SãoPaulo, que são: Osasco, Taboão daSerra, Carapicuíba, Barueri, Cotia, Jandirae Itapevi.

Esse sistema de esgotos possui amaior e a mais complexa rede de coletae transporte de esgotos da RMSP,abrangendo uma área de cerca de1.200 km², na qual estão presentes os

rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, alémdos reservatórios Billings e Guarapiranga.

O processo de tratamento dosesgotos do sistema Barueri é do tipolodos ativados convencional e em nívelsecundário.

O tratamento compreende:tratamento preliminar, pelo gradeamentoe desarenação; decantação primária emtanques retangulares; aeração por ardifuso em dois conjuntos de tanques deaeração; clarificação final emdecantadores circulares com extração delodos por sifonamento; tratamento delodos por adensamento, por gravidadepara lodos primários e por flotação paralodos secundários; digestão anaeróbia edesidratação mecânica dos lodosproduzidos.

A ETE Barueri lança seu efluente finalno rio Tietê, o qual pertence à classe 04,de acordo com o Decreto n. 10.755/77.

Atualmente, a ETE Barueri temcapacidade nominal estabelecida em9,5 m³/s e trata cerca de 6,0 m³/s. Aconfiguração final prevista, no atualplano diretor da Sabesp, é de 28,5 m³/s,correspondendo a três módulos de9,5 m³/s.

Estação de tratamento de esgotos deFrancaO município de Franca é atendido

por cinco subsistemas de esgotos. Nesseprojeto estão sendo estudados apenasos esgotos encaminhados à ETE Franca.

A ETE de Franca está localizada namargem esquerda do córrego dosBagres, a jusante do cruzamento destecom a rodovia SP-345.

A ETE Franca lança seu efluente finaldo córrego dos Bagres, o qual pertenceà classe 04, de acordo com o Decreton. 10.755/77.

O processo de tratamento dosesgotos da ETE Franca é do tipo lodosativados convencional e em nívelsecundário.

O esgoto chega à ETE pelo emissáriodos Bagres. Nessa fase é realizado umtratamento preliminar; em seguida, oefluente é enviado para o poço desucção da estação elevatória de esgotobruto, de onde é bombeado até atorre de controle de nível e, em seguida,para os decantadores primários,seguido de aeração por ar difuso;clarificação final em decantadores etratamento de lodos.

Apresentação dos dadosAs Tabelas 1 e 2 apresentam,

respectivamente, as características dosesgotos afluentes às ETEs Barueri eFranca, e as Tabelas 3 e 4 apresentam,respectivamente, as características doefluente final das ETEs Barueri e Franca.

DISCUSSÃOA análise foi feita a partir de dados

apresentados nos relatórios da Sabesppara as estações de tratamento deesgotos de Barueri e de Franca. Foiconsiderado o período de agosto adezembro de 2002 pelo fato de osparâmetros usados para a comparaçãoentre as duas ETEs estarem presentesnos dois relatórios. Não foi possível fazeruma análise comparativa para asconcentrações de metais nem para ascaracterísticas da microfauna quecompunham o lodo do tanque deaeração (reator), porque nos relatóriosnão há informações para esses dadosno período considerado. Também nãohá indicações sobre as metodologiasaplicadas para a obtenção e análise dasamostras. Assim sendo, não podemosdescartar a possibilidade que asdiscrepâncias apresentadas possam serresultantes da aplicação de metodologiasdiferenciadas. Contudo, a análise dosparâmetros considerados permite avaliar,individualmente, as condições gerais nas

dezembro 2004 49

Tabela 2 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Franca *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

Tabela 4 – Características do efluente final da ETE Franca *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

Tabela 3 – Características do efluente final da ETE Barueri *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003** Valores não-determinados

Tabela 1 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Barueri *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

Revista Brasileira de Ciências Ambientais50

quais essas ETEs estão funcionando,fornecendo indicativos da eficiênciaobtida por cada uma delas.

Foram analisados, para o afluente e oefluente das ETEs Barueri e Franca, osparâmetros: sólidos suspensos totais(SST), sólidos suspensos voláteis (SSV),demanda química de oxigênio (DQO),demanda bioquímica de oxigênio(DBO), nitrogênio total kjeldhal (NTk)(KEENEY e NELSON, 1982), nitrogênioorgânico (N-org), nitrogênio amoniacal(N-NH3), metais, coliformes, índicevolumétrico (IVL). A escolha dessesparâmetros teve como base apossibilidade de verificação, a partir deseus valores referentes ao afluente eefluente, das condições gerais defuncionamento das estações detratamento de esgotos (ETEs) Barueri eFranca. Outros parâmetros igualmenteimportantes para inferir as condições defuncionamento das ETEs são acaracterização da fauna microbiológica ea idade do lodo (q). Não havendodados sobre a fauna microbiológica quecompõe os lodos dessas ETEs, noperíodo considerado, não foi possívelfazer a correlação com o parâmetroidade do lodo (q), para a avaliação dadiversidade dessa fauna e a composiçãorelativa entre os organismosconstituintes. O correlacionamentodesses dois parâmetros permitiria inferiros possíveis agentes a comprometeremo bom funcionamento do sistema.

Condições de funcionamento da ETEBarueriPara a ETE Barueri, a temperatura

média nos pontos de coleta manteve-seem 26º C e o pH médio esteve por voltade 7,2. Para o período considerado, amedida para a DQOaflu do afluentemostra um valor médio de 473,2 mg/L.O valor máximo atingido foi de 529 mg/Le ocorreu no mês de agosto. Para aDBOaflu, o valor médio foi de 247,4 mg/L.

O valor máximo atingido ocorreu nomês de outubro e chegou a 285 mg/L.A relação DQOaflu/DBOaflu ficou ao redorde 1,9, que segundo os valores aceitos,é típico de esgotos domésticos brutos,cujo valor varia entre 1,7 a 2,4 (BRAILE eCAVALCANTI, 1979; VON SPERLING,1996a).

A análise para a DQOaflu e DBOaflu,respectivamente, mostra que, em geral,nessa ETE, os valores de DBO foram emtorno de 52% menor. Isso significa quepróximo de 52% da matéria orgânicapresente no afluente bruto de Baruerideveriam corresponder à matériaorgânica carbonácea biodegradável, jáque a DBO5,20 mede apenas a fraçãobiodegradável. Quanto mais este valor seaproximar da DQO, mais facilmentebiodegradado será o esgoto. Otratamento biológico, normalmente, érecomendado quando a relaçãoDQO/DBO5,20 for menor a 3/1, e valoresmuito elevados desta relação indicamgrandes possibilidades de insucesso,uma vez que a fração biodegradável setorna pequena, ficando o tratamentobiológico prejudicado pelo efeito tóxicoexercido pela fração não-biodegradávelsobre os microrganismos (CETESB,2003).

Esse valor, no entanto, pode estarmascarado por alguns fatores queinterferem na medição da DBO. Porexemplo, a presença de metais pesadosno esgoto bruto pode estar inibindo oprocesso metabólico dosmicrorganismos presentes no tanque deaeração, ou estes microrganismospodem não estar adaptados àscondições do ambiente. Também areação de nitrificação pode interferir namedida da DBO, ou seja, a presença denitrogênio, em meio aeróbio, favorece aação das nitrosomonas, as quaisconvertem a amônia a nitrito (NO2-), edas Nitrobacter, que convertem nitrito anitrato (NO3-).

Por outro lado, a DQO envolve aoxidação tanto de matéria biodegradávelquanto da inerte, presentes no despejo.Dependendo da matéria presente naamostra, pode haver umasuperestimativa do oxigênio requeridono afluente em questão, quando ocorretambém a oxidação de matériainorgânica. A análise dos demaisparâmetros pode auxiliar na confirmaçãoou não das estimativas feitas a partirdesses valores.

O parâmetro SSTaflu, que quantifica ossólidos suspensos totais presentes noesgoto bruto e, portanto, a matériaorgânica total (fração biodegradável efração inerte) e inorgânica da ETE deBarueri teve o valor médio de195,4 mg/L, no período considerado.

O parâmetro SSVaflu quantifica amatéria volátil. Caracteristicamente, amatéria orgânica volatiliza totalmente a550 ºC. O valor médio, de agosto adezembro de 2002, foi de 150 mg/L. Ovalor médio encontrado para o SSVaflu

do esgoto bruto da ETE de Barueri écerca de 76% do valor médioencontrado para o SST. Esse valor indicaque cerca de 76% da quantidade totalde sólidos suspensos corresponde àmatéria orgânica.

A análise de DBOaflu mostra que 48%da matéria orgânica total presente noesgoto bruto do afluente de Barueri nãoé biodegradável, o que correspondepróximo de 36,48% do total de sólidossuspensos totais. Isso indica que39,52% do valor de SSTaflu é compostode matéria orgânica biodegradável,restando 24% que corresponde àfração inorgânica.

Para o efluente de Barueri, o valormédio da DQO foi de 70,4 mg/L. O valormáximo ocorreu no mês de setembrode 2002, chegando a 95 mg/L.

Para a DBOeflu, o valor médiopermaneceu por volta de 42 mg/L. Ovalor máximo foi de 55 mg/L e ocorreu

dezembro 2004 51

nos meses de setembro e outubro de2002. Segundo o Decreto n. 8.468/76,para a DBO, o valor máximo permitidopara lançamento no corpo receptor é de60 mg/L.

A relação DQOeflu/DBOeflu média foi de1,67, que, segundo a literatura, écaracterístico de esgotos domésticosbrutos. No entanto, como enfatizado porvon Sperling (1996b), o valor para essarelação deve aumentar após otratamento biológico e, usualmente, ésuperior a 3,0 no efluente final dotratamento biológico, uma vez que abiodegradação leva à redução damatéria orgânica biodegradável,mantendo inalterada a quantidade dematerial inerte.

Comparando o valor obtido para arelação DQO/DBO do afluente e doefluente, houve uma diminuição de 1,9para 1,67, quando se esperava umaumento desse valor.

Considerando que 41% do material éinerte, e observando que a remoção daDQO foi superior a 90% e a remoçãode DBO foi em torno de 87%, háindicativos que embora tenha havidoeficiência na remoção de material inerte,a remoção de matéria orgânica estásendo comprometida em algum pontodo processo biológico. Pode havermaterial tóxico comprometendo osprocessos bioquímicos, ou o maisprovável é haver problemasoperacionais, como, por exemplo, perdade lodo ou controle inadequado daidade do mesmo, levando a umdesequilíbrio no qual há excesso deprocesso de degradação endógena emdetrimento da exógena.

Para os valores de sólidos suspensostotais do efluente de Barueri, o valormédio obtido para o SSTeflu, no períodode agosto a dezembro de 2002, foi de26,4mg/L. O valor máximo obtido noperíodo foi de 44 mg/L, no mês desetembro de 2002.

O valor médio para SSVeflu de Barueri,no mesmo período, foi de 20,6 mg/L. Eo valor máximo ocorreu no mês denovembro e foi de 35 mg/L, no mês desetembro de 2002.

Observa-se que o valor médioencontrado para o SSVeflu, no períodoconsiderado, foi cerca de 78% do valorpara SSTeflu, significando que perto de78% dos sólidos totais presentes noefluente correspondem a materialorgânico. Desse total, 46,02%correspondem à fração orgânicabiodegradável e 31,98% a materialorgânico não-biodegradável. A fraçãoinorgânica corresponde a 22%.

Assim, o efluente final da ETE Barueripossui as seguintes características:46,02% corresponde à matéria orgânicabiodegradável; 31,98% material orgâniconão-biodegradável, aproximadamente; ecerca de 22% corresponde a materialinerte, que passou incólume peloprocesso.

Para a verificação da eficiência naremoção do nitrogênio, a Tabela 5mostra os valores obtidos na ETE Barueri.

A análise dos dados mostra quehouve uma baixa eficiência na remoçãodo nitrogênio amoniacal. Particularmente,no mês de agosto de 2002, de acordocom o relatório da Sabesp (2003),somente 20% do nitrogênio total foiremovido. A Sabesp, em seu relatório de2003, enfatiza que esta ETE não foiprojetada para a remoção de compostosnitrogenados e isso, certamente, vemcausando problemas operacionais.

A amônia é o produto primário donitrogênio em muitos processos detratamento de esgoto. Isso aconteceporque a ação das bactérias nitrificantespara oxidar a amônia a nitrito (NO2-) e,a partir daí, a nitrato (NO3-), requerabundância de O2 e os sistemas deaeração encarecem o tratamento deesgotos (MANAHAN, 1994). Assim, se oprocesso de lodos ativados for operadosob condições que favoreçam amanutenção do nitrogênio na forma deamônia (NH3), este pode ser retirado daágua por arraste pelo ar, desde que opH seja mantido em nível superior aopKa do íon amônio (NH4

+), favorecendoa forma gasosa do NH3. Na prática, o pHé mantido em níveis superiores a 11,usualmente 11,5, pela adição de cal(MANAHAN, 1994). A desvantagemdesse processo é a poluição atmosférica.

No caso específico da ETE Barueri,esse procedimento parece não ser amelhor solução. Talvez seja maisconveniente e tenha menor custopromover o processo completo,favorecendo o processo dedesnitrificação, logo após a nitrificação.A desnitrificação é catalisada porbactérias desnitrificantes e ocorre emambiente anaeróbio, podendo requereruma fonte adicional de matéria orgânica– neste caso, o metanol pode seradicionado. Contudo, o parâmetro,usualmente, utilizado para favorecer aremoção do nitrogênio é o tempo deretenção (Sludge retention time – SRT)(GRADY, 1999).

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Barueri, 2003

Tabela 5 – Valores médios para NTK, N-NH3 e N-org, (valores em mg/L), na ETE Barueri

Revista Brasileira de Ciências Ambientais52

As concentrações de metais pesadosque chegam ao reator (ou tanque deaeração) tiveram as seguintes médias,apresentadas na Tabela 6, para operíodo considerado.

A remoção de metais solúveis deveser feita a partir de reações de oxidaçãoque tornem o metal em questãoinsolúvel, facilitando sua retirada poroutros processos.

No caso do ferro e do manganês,esse processo deve garantir oxidaçãopróxima ao mais alto estado de oxidaçãoinsolúvel. A taxa de oxidação é pH-dependente, e, quanto maior for o pH,mais rapidamente ocorre a oxidação(MANAHAN, 1994).

Os metais pesados, tais como cobre,cádmio, mercúrio e chumbo sãoencontrados em águas residuárias deprocessos industriais. Devido à toxicidadede muitos metais pesados, há umapreocupação em removê-los ou, pelomenos, reduzi-los aos níveis mais baixosdurante os processos de tratamentodessas águas.

A ação tóxica de muitos metais ocorrepor haver afinidade com o enxofre,causando a quebra da cadeia protéica eformando ligações com o enxofre emmuitas enzimas, comprometendo a açãoenzimática. O grupo carboxila (-CO2H) eamina (-NH2), presentes em proteínas, étambém atacado por muitos metaispesados.

Cádmio, cobre, chumbo e mercúriose ligam à membrana celular,bloqueando o transporte celular. Osmetais podem precipitar biocompostosfosforados ou participarem dacatalisação dessas substâncias.

No afluente de Barueri, o zincoapresentou valores que comprometemos processos bioquímicos dedegradação de matéria carbonácea e osprocessos de nitrificação. Dado isolado,do mês de agosto de 2002, apresentouum valor de 1,17 mg/L no afluente e,

correspondentemente, uma eficiência de20% na remoção do nitrogênioamoniacal. Esses resultados, entretanto,não são conclusivos e dependem daavaliação de outros parâmetros. O cobretambém apresenta concentrações derisco, com valores bem próximos doslimites comprometedores (Tabela 6).

O efluente final da ETE Barueriapresenta concentrações para metais(níquel, manganês, chumbo, cobre,cromo total e ferro) abaixo dos limitesmáximos de lançamento. Embora aeficiência na remoção de alguns dessesmetais esteja acima de 70%, a presença

deles no efluente é preocupante porserem cumulativos ao longo da cadeiaalimentar.

Outro aspecto a requerer atençãosão as condições dos corpos d’águaque recebem esses efluentes os quais,segundo a Cetesb (2003), apresentamcondições elevadas desses metais.

A Tabela 7 mostra os valores obtidospara compostos orgânicos, presentes noafluente e efluente da ETE Barueri, noperíodo considerado.

A remoção ou a diminuição dasconcentrações dos compostos orgânicospresentes no efluente é importante pelo

Tabela 6 – Metais presentes no afluente e efluente da ETE Barueri

* Valores obtidos a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicosFonte: METCALF & EDDY, 1991

Tabela 7 – Mostra os valores obtidos para compostos orgânicos, para a ETE Barueri

* Valores obtidos a partir do relatório técnico fornecidos pela Sabesp, 2003* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicosFonte: METCALF & EDDY, 1991

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fato de, na presença de cloro, ocorrer acloração de alguns desses compostosencontrados na água, particularmente,substâncias húmicas, levando à formaçãodos trihalometanos.

A presença de estruturas fenólicasocorre naturalmente no meio ambiente,como resultado da decomposição devegetais no solo, no metabolismosecundário de plantas e aparecem comointermediários na formação de húmus(VILLAS BÔAS, 1999). O aumento nosníveis de fenol no ambiente é devido àsatividades industriais, principalmente,naqueles efluentes provenientes derefinarias, siderúrgicas e indústrias deprodutos químicos orgânicos (BASTOSet al,1997 apud VILLAS BÔAS, 1999).

A presença desse e de alguns outroscompostos no reator podecomprometer os processos bioquímicosenvolvidos na degradação de material.Villas Bôas (1999) demonstrou, em seutrabalho, que ocorre uma seleção dosmicrorganismos presentes no lodo doreator biológico, quando submetidos aambientes estressantes, necessitando deum certo tempo para que haja umareconfiguração da microfauna presentenesse lodo. Em ambientes restritivos,observamos uma diminuição dadiversidade desses microrganismos. Napresença de concentrações variáveis defenol, Villas-Bôas mostrou que, à medidaque a concentração aumenta, ocorreuma seleção em favor de alguns grupos,tais como as do grupo Sporosarcina,Klebsiella (por exemplo, a Klebsiellapneumoniae).

As vazões médias para esgoto brutoapresentadas pela ETE Barueri foi de6.105 L/s e estão dentro dos valores deprojeto. Assim, esse parâmetro não deveinterferir no desempenho do sistema. ATabela 8 mostra o IVL, a relaçãoalimento/microrganismos (F/M) e idadedo lodo (q), para o lodo retirado doreator.

Jordão (1998), em seu trabalho,discute o valor para o IVL que melhorrepresentaria uma boa sedimentalidadepara o lodo. Mostrou que em algumassituações nas quais o lodo apresentavaaltas concentrações e não sedimentava,o valor encontrado para o IVL estavaao redor de 130 mL/g. De acordo coma literatura clássica sobre operações deestações de tratamento, o autor cita oMOP-11 da WEF (1990), o qualsugere um valor acima de 200 mL/g,indicando um lodo de má qualidade.No entanto, Jordão (1998)demonstrou:

(i) a viscosidade e resistência do lodonão estão relacionadas aos valores deIVL;

(ii) a temperatura afeta a viscosidadeda amostra, alterando os resultados doteste;

(iii) os ensaios devem ser feitos emproveta padrão.

A utilização do índice volumétrico delodo diluído (Diluted Sludge VolumeIndex – IVLD) pode ser aplicado a lodoscom altas concentrações de sólidos ou

em estado de intumescimento (JORDÃO,1998). As relações entre o IVLD e IVLsão da ordem de 0,58 a 0,77. Assim,para lodos com IVL de 149 mL/g, oIVLD correspondente foi de 86 mL/g.

Desse modo, o método utilizado paramedição do índice volumétrico deve serescolhido com precaução para evitarfalsos resultados que possam levar aestratégias operacionais inadequadas.

Os dados fornecidos para o IVL daETE Barueri mostram valores superioresa 200 mL/g para os meses de agosto/2002 (251 mL/g), setembro/2002(288 mL/g), outubro/2002 (203 mL/g).Em média, o valor do IVL para a ETEBarueri foi de 198,8 mL/g, no períodoconsiderado. Esses resultados não sãosatisfatórios e indicam problemasoperacionais.

A Tabela 9 mostra as concentraçõesde coliformes presentes no esgoto brutoe efluente, para a ETE Barueri.

Não há dados para avaliar osmicrorganismos que compunham olodo do reator da ETE Barueri, para operíodo considerado.

Tabela 8 – Valores obtidos para os parâmetros IVL; F/M, idade do lodo q da ETE Barueri

Fonte: SABESP, 2003

Tabela 9 – Comparativa dos valores para coliformes na ETE Barueri

Fonte: SABESP, 2003

Revista Brasileira de Ciências Ambientais54

Condições operacionais da ETE de FrancaA temperatura média no local de

coleta das amostras foi de 23,5º C, e opH médio foi de 6,5. A DQOaflu da ETEde Franca atingiu o valor médio de728,6 mg/L entre os meses de agosto adezembro. O valor máximo ocorreu nomês de agosto e chegou a 959 mg/L.A DBOaflu apresentou um valor médio de362,0 mg/L e atingiu um valor máximono mês de agosto, chegando a454 mg/L. A relação DQO/DDBO para oafluente da ETE de Franca resultou em2,01, e, de acordo com a literatura,caracterizaria esgoto doméstico bruto(BRAILE e CAVALCANTI, 1979; VONSPERLING, 1996a).

O SSTaflu médio do afluente nosmeses de agosto a dezembro ficou em313 mg/L. O SSVaflu médio do afluentepara o mesmo período ficou em261,8 mg/L. Esses valores mostram que,em média, 83% do esgoto bruto quechega à ETE Franca é constituído por:41,6% de matéria orgânica biodegradável;42,2% de matéria orgânica inerte e 17%de matéria inorgânica.

A avaliação dos sólidos totais (SSTeflu)para o efluente mostrou valor médio de10,96 mg/L, para os meses de agosto adezembro.

O valor para os sólidos suspensosvoláteis (SSVeflu) do efluente mostrouvalor médio de 8,76 mg/L, no períodoconsiderado (agosto a dezembro de2002). O SSVeflu corresponde a 80%dos sólidos suspensos totais. Desses80%, 23% correspondem à fraçãobiodegradável, e o restante àfração inerte (77%). O SSVeflu

corresponde a 80% dos SSTeflu, restandocerca de 20% para a fração inorgânica.Assim, podemos caracterizar o efluentecomo tendo as seguintes frações: 20%de inorgânica; 18,4% de orgânicabiodegradável; e 61,6% de matériaorgânica não-biodegradável.

Para o afluente, o valor médio para onitrogênio total (NTKaflu) foi de 59,2 mg/L.Para o nitrogênio orgânico o valormédio, no mesmo período, foi de32 mg/L. Para o nitrogênio amoniacal, ovalor foi de 27 mg/L, valores obtidos noperíodo de agosto a dezembro de2002.

A presença de nitrogênio amoniacal,em condições aeróbias e pH<8, está naforma do íon amônio (NH4

+), e napresença de bactérias nitrificantes reduzo nitrogênio a nitrito (NO2-), e,posteriormente, a nitrato (NO3-), em umprocesso que consome oxigênio.

A Tabela 10 mostra os valoresmedidos para NTK, N-NH3 e N-org doafluente da ETE Franca.

Nitrogênio no efluente de Franca – osvalores médios para o efluente da ETEde Franca estão mostrados na Tabela 11.

A eficiência na remoção do nitrogênioamoniacal manteve-se ao redor de 58%,em média, para o período de agosto adezembro de 2002. Para o nitrogênioorgânico, esse valor ficou cerca de 66%e para o nitrogênio total esse valor foi de56%.

O valor médio para a DQOeflu doefluente da ETE de Franca para osmeses de agosto a dezembroapresentou o valor de 42,36 mg/L eatingiu valor máximo no mês desetembro com valor de 49 mg/L.

No mesmo período, o valor médiopara a DBOeflu foi de 9,9 mg/L e o valormáximo foi de 11,5 mg/L no mês deagosto. A relação DQO/DBO para oefluente da ETE apresentou valor 4,278.Observamos que a relação DQO/DBOdo efluente é cerca de duas vezesmaior que o valor obtido para o esgotobruto. Esse resultado está de acordocom o esperado, segundo Braile eCavalcanti (1979), uma vez que háuma diminuição da matéria orgânicabiodegradada, sem que haja diminuiçãosignificativa da matéria inerte. Esse valoré bastante satisfatório e sugere boascondições dos processos biológicos.Outros parâmetros podem serconsiderados para confirmação doobservado.

A DBO foi próximo de 23% da DQO,no mesmo período considerado.

Tabela 10 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do afluente da ETE Franca, (valores em mg/L)

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003

Tabela 11 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do efluente da ETE Franca

dezembro 2004 55

A Tabela12 mostra valores médiospara NKT, N-NH3 e N-org (valores emmg/L).

A Tabela 13 mostra valores paracoliformes totais e Escherichia coli (107

NMP/100 mL) no afluente geral.As concentrações para Escherichia coli

e coliformes totais, para os meses deagosto a dezembro de 2002,apresentaram como valores médios noafluente 2,25.107 NMP/100 mL e 14.107

NMP/100 mL, respectivamente. A Tabela14 mostra a concentração de coliformesno efluente da ETE Franca.

Os valores do IVL, idade do lodo (q)e relação F/M no lodo no reator da ETEFranca são mostrados na Tabela 15.

Análise comparativa entre as ETEs deBarueri e FrancaA comparação das vazões para as

ETEs de Barueri e Franca mostra que,em média, os valores para o períodocompreendido entre os meses deagosto e dezembro de 2002 foram de6.105 L/s e 308 L/s, respectivamente. AETE de Franca possui uma vazão cercade 20 vezes menor que a de Barueri. Ovalor para o SST de Franca é de 1,6 vezmaior que o valor presente na ETEBarueri e o SSV de Franca é ao redor de1,74 vez maior que o valor encontradona ETE Barueri.

A DQOaflu em Franca é 1,5 vez maiorque a de Barueri. Para a DBOaflu, o valorde Franca é de 1,4 vez maior que a deBarueri. A relação DQOaflu/DBOaflu para oesgoto bruto de Franca foi 2,01 e deBarueri foi 1,9. Para ambas, os valorespermaneceram dentro da faixacaracterística para esgotos domésticos.No efluente, esses valores ficaram em1,67 para Barueri e 4,278 para Franca.As Tabelas 16 e 17 resumem os valoresapresentados pelas duas ETES.

A Tabela 16 mostra os parâmetrosconsiderados para análise e osrespectivos valores.

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 12 – Valores médios para NKT, N-NH3 e N-org, para a ETE Franca, período considerado(valores em mg/L)

Tabela 14 – Valores para E. coli e coliformes no efluente final da ETE Franca

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 15 – IVL, idade do lodo para a ETE de Franca

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 16 – Comparação entre as ETEs Barueri e Franca*

* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003Fonte: SABESP, 2003

Tabela 13 – Valores para coliformes totais e Escherichia coli (107 NMP/100 mL) no afluente geral

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Revista Brasileira de Ciências Ambientais56

A ETE Barueri apresentou um valorDQO/DBO bastante anormal, já queindica um aumento de matéria orgânicabiodegradável no final do processo. Issopode ser um indício de problemasoperacionais, tais como ineficiência doprocesso bioquímico por causa deagentes contaminantes ou, muito maisprovável, perda de lodo no processo.Comparando os valores do SSV para oafluente e efluente da ETE Barueri,verificamos um aumento ao final doprocesso, quando o esperado seria adiminuição da fração biodegradável. Umaprovável solução seria aumentar arelação F/M, diminuindo a quantidadede lodo na linha de recirculação, deforma a garantir uma maior oferta dealimento a ser degradada pelosmicrorganismos. Contudo, devemosconsiderar que, nesse caso, sendo altasas concentrações de metais presentes nolodo do tanque de aeração, uma maioroferta de alimento significaria tambémuma maior atuação de compostostóxicos sobre a microfauna do lodo doreator, o que provocaria uma piora nascondições de funcionamento da ETE.

O valor obtido para o SST do efluentede Barueri é em torno de 2,4 vezesmaior que o valor verificado em Franca,embora o valor inicial do SST deFranca fosse maior que o de Barueri.Para o SSV, Franca obteve um valor 2,3vezes menor que o de Barueri.

Verificamos que, embora, o esgotobruto de Franca apresente umaquantidade de sólidos suspensos totaisbastante superior ao da ETE Barueri, osvalores apresentados no efluente deFranca são inferiores, sugerindo umamaior eficiência na remoção de sólidosna ETE Franca – devemos considerarque a relação entre os volumes deFranca e Barueri é cerca de 5%.Também para a DBO e DQO verificamosuma maior eficiência de remoção na ETEFranca.

O IVL apresentado pela ETE Baruerimostra um lodo com baixa capacidadede compactação. Dados da literaturamostram como possíveis causas oseguinte (JORDÃO, 1998):

(i) baixas concentrações de oxigêniodissolvido;

(ii) baixa carga de floco na entradado reator;

(iii) deficiência de nutrientes;(iv) óleos e graxas emulsionados.Para identificar a causa do IVL

elevado, seria necessária a observaçãode certas características, tais como:presença ou não de grumos de lodo nodecantador secundário, presença ounão de bolhas de gás envolvidas nofloco, baixa concentração de bactériasfilamentosas ou grande concentração debactérias filamentosas.

O afluente da ETE Barueriapresentou uma concentração de zinco,

cujo valor poderia estar comprometendoos processos de biodegradaçãocarbonácea e a nitrificação.

De maneira geral, o desempenho daETE Barueri se mostrou bastantecomprometido. Os dados analisadospara essa ETE não são suficientes parauma avaliação conclusiva, contudo, asinferências possibilitadas pela análisepodem auxiliar na adoção de medidascorretivas que visem à melhora dascondições operacioanais dessa ETE.

O MONITORAMENTO E AEFICIÊNCIA EM UMA ESTAÇÃODE TRATAMENTO DE ESGOTOSA função de uma ETE é tratar os

esgotos que possam causar impactosambientais nos corpos d’água os quaisirão receber esses efluentes. Muitoembora os processos de tratamentoofereçam alternativas diversas, umaspecto bastante preocupante é adificuldade em determinar ascaracterísticas do esgoto que estáchegando na estação de tratamento.Alguns aspectos são previstos noprojeto, porém, o processo deurbanização e industrialização nemsempre seguem o que foi projetado. Apoluição ambiental é, hoje, um dosgrandes desafios que o homem doséculo 21 terá de enfrentar. Não bastatão-somente ter a noção do que sejagestão ambiental, mas é preciso criarmecanismos de ação que possibilitemnão só a tomada de medidaspreventivas, dentro de uma concepção apriori dos problemas ambientais, masgarantir que a legislação seja cumprida.

O monitoramento de parâmetrosambientais é uma ferramenta poderosapara a gestão ambiental sob váriosaspectos:

Tabela 17 – Compara a composição das frações orgânicas e inorgânicas nas duas ETES*

* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003

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(i) possibilita localizar fontespoluidoras;

(ii) possibilita identificar fatores derisco;

(iii) possibilita a tomada de medidaspreventivas;

(iv) possibilita a tomada de medidascorretivas.

No que se refere à gestão dosrecursos hídricos, um dos problemasenfrentados é justamente a identificaçãode fontes poluidoras.

Entre os fatores que causam grandevariação nas características dos esgotosque chegam às ETEs para tratamento,podemos considerar os seguintes:temperatura, pressão, pluviosidade,aumento na concentração desubstâncias que, normalmente,aparecem no esgoto, presença desubstâncias não-usuais, presençaintermitente de certas substânciascausando variações abruptas em suasconcetrações, compostos tóxicos.

Esses fatores interferem grandementeno desempenho de uma ETE. Contudo,podem ser adotados procedimentoscujo objetivo seja identificar essasvariações nas características dedeterminados aspectos do esgoto, asquais possibilitem as adequaçõesoperacionais convenientes, para garantirum efluente de qualidade.

Monitoramento bem planejado,visando caracterizar o esgoto antes queele chegue à estação de tratamento,pode trazer os seguintes benefícios:

(i) ao conhecer a composição doafluente, é possível propor mudançasoperacionais antecipadamente;

(ii) identificação dos possíveispoluidores;

(iii) verificar o cumprimento dalegislação;

(iv) possibilita uma fiscalização ativa;(v) possibilidade de aplicar o princípio

poluidor-pagador, para minimizar oscustos com o tratamento do esgoto;

(vi) caso não seja possível localizar afonte poluidora, pode-se pensar emalternativas, como, por exemplo, gruposde empresas custeando uma ETEprojetada para tratamentos de lodos,com características mais específicas;

(vii) garantir o monitoramento amontante e a jusante da ETE;

(viii) promover estudos urbanísticos eeconômicos para definir estratégias;

(ix) promover pesquisas para aescolha de parâmetros que sejamsignificativos;

(x) promover um aumento naeficiência das ETEs.

A ETE Barueri recebe esgotos de umaregião da cidade de São Paulo bastanteproblemática, já que, além de esgotosdomésticos, há os industriais e, com eles,os chamados compostos xenobióticosos quais comprometem, grandemente, odesempenho nessa estação. Asmudanças necessárias para que estaETE possa aumentar sua eficência édificultada por vários motivos. Podemoscitar pelo menos dois principais. Por seruma estação de grande porte, mesmoas soluções operacionais imediatas,como, por exemplo, correção de pH oualcalinidade, exigem grandesquantidades de reagentes que, paraatuarem de forma adequada, exigemum sistema de mistura eficiente – o quenem sempre é possível. Comoobservado no relatório da Sabesp(2003), essa estação não foi projetadapara remover compostos nitrogenados.As soluções para amenizar esseproblema devem evitar alterações

estruturais de projeto ou, se forempropostas e factíveis, devem consideraros custos envolvidos. Um programa demonitoramento bem projetado poderiaser uma alternativa, por possibilitar aidentificação dos fatores que afetam aoperação. Esse programa poderiatambém auxiliar na identificação dosagentes causadores e suas fontes.

Os problemas decorrentes danecessidade de alterações operacionaispara a correção de parâmetros, taiscomo: pH, temperatura e outros, podemser minimizados com a adoção detratamentos específicos em estações depequeno porte.

No que se refere à ETE de Franca, osdados mostraram uma maior eficiênciano tratamento do esgoto recebido, cujascaracterísticas eram bastante ruins. Essefato reforça a idéia que estações depequeno porte possibilitam um controleoperacional mais eficiente.

Contudo, não dispomos de dados osquais possibilitem uma averiguação doscustos envolvidos para o funcionamentodas duas ETEs e a correlação com o tipode afluente recebido.

Os valores iniciais para os parâmetros,que caracterizam o esgoto recebidonessas ETES, mostram que as condiçõesiniciais de operação na ETE de Franca épior que as de Barueri, ou seja, o esgotorecebido pela ETE Franca apresentapiores condições do que o recebidopela ETE Barueri.

Os valores finais os quais caracterizamo efluente nas duas ETEs estãoapresentados na Tabela 18.

Tabela 18 – IVL, idade do lodo

Fonte: SABESP, 2003

Revista Brasileira de Ciências Ambientais58

A comparação entre os valotresobtidos para o IVL (F/M) e idade dolodo.

A remoção de nitrogênio amoniacalmostrou-se bastante comprometida nasduas ETEs. Como a idade do lodo noreator pode influenciar na remoção donitrogênio, talvez, para Franca, umaumento nesse parâmetro pudessetornar mais eficiente a remoção denitrogênio amoniacal. No caso deBarueri, talvez fosse recomendadodiminuir o lodo na linha de circulação,de tal forma a promover um aumentona relação F/M. Contudo, não podemosdeixar de considerar as altasconcentrações de metais presentes noafluente do tanque de aeração, o quecomprometeria todo o processobioquímico. Também, ineficiência naaeração pode estar dificultando oprocesso de nitrificação, como discutidoanteriormente.

CONCLUSÃOA partir das considerações

possibilitadas pela análise dos dadosfornecidos pela Sabesp, referentes àsestações de tratamento de esgotos deBarueri e de Franca, e considerando queum programa de monitoramento bemplanejado seja capaz de identificarproblemas em potencial, os quaispossam comprometer o funcionamentode uma ETE e, conseqüentemente,contribuir para a degradação ambiental,foi possível verificar os seguintes aspectos:

(i) é preciso escolher um conjunto deparâmetros que possam, de fato, trazerinformações úteis e eficazes na indicaçãode ações alternativas;

(ii) a análise de parâmetros quecaracterizem o afluente e efluente sãolimitados, no sentido de não trazeremnenhuma informação sobre os aspectosoperacionais da ETE em questão;

(iii) no entanto, esses parâmetrospermitem que se façam avaliações dosriscos em potencial e, quando analisadosconjuntamente aos parâmetrosoperacionais, auxiliam na orientação dasações corretivas dentro da ETE;

(iv) é preciso que os pontos demonitoramento se estendam por toda aregião abrangida pela ETE;

(v) a partir desses dados mais gerais,dois caminhos podem ser adotados:primeiro, promover ações que auxiliemna mudança das características doafluente, identificando as fontespoluidoras e orientando quanto àsalternativas possíveis de tratamento, ouquanto a processos de produçãomenos agressivos ao meio ambiente,possibilitando transferências de custosdo tratamento. Como segundo caminho,é possível utilizar os indicativos domonitoramento do afluente ou mesmoefluente, para sugerir medidaspreventivas de correções operacionaisdentro da ETE;

(vi) o conhecimento das condiçõessociais, econômicas, políticas, ambientaissão importantes para um planejamentode ações possíveis.

Assim, os parâmetros SST, SSV, DQO,DBO, presença de nitrogênio, fósforo,metais e compostos orgânicos,mostraram-se eficazes na identificação deafluentes problemáticos e, portanto,comprometedores dos processosbioquímicos envolvidos no tratamentopor lodos ativados. Quando essesparâmetros são analisados levando-seem consideração também os parâmetrosoperacionais no reator, tais comooxigênio dissolvido (OD), pH,temperatura, índice volumétrico (IVL),idade do lodo (q), relação alimento/microrganismo (F/M), constituição damicrofauna do lodo do reator, é possívelsugerir alterações em parâmetrosoperacionais, garantindo um efluente dequalidade.

O conceito de monitoramento deesgotos pode ser ampliado e não selimita apenas em verificar se os padrõeslegais estão sendo obedecidos. Mais doque isso, um efetivo monitoramentodeve atender às necessidades deresponder o que está sendo alterado, epor que essas modificações estãoacontecendo.

A adoção de uma postura a priori,no que se refere à utilização domonitoramento, constitui uma poderosaferramenta de orientação, já queidentifica as causas de grande parte dosproblemas enfrentados em uma estaçãode tratamento de esgotos. Esseconhecimento permite que sejamefetuadas não só as mudanças na rotinade operação da estação de tratamento,mas, principalmente, serve de suportepara a identificação das fontes delançamento e, eventualmente, atransferência do aumento nos custos detratamento, partindo da aplicação doprincípio poluidor-pagador.

Dessa forma, é crucial a elaboraçãode medidas corretivas ou de controle apartir da identificação dos fatores dadegradação ambiental.

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Website da Sabesp. Disponível em: <URL:http://www.sabesp.com.br> Acesso em: 9set. 2003.

Revista Brasileira de Ciências Ambientais60

Kátia Simões ParenteEngenheira química pela Faculdade de Engenharia

Industrial – FEI, especialista em engenharia desaneamento básico e mestre em saúde ambiental

pela Faculdade de Saúde Pública da [email protected]

RESUMOO tratamento de esgotos dos municípios de Santos e São Vicente até o final do século 19, adisposição dos efluentes domésticos era feita individualmente por cada residência, em sistemas defossas, ou apenas lançavam in natura nos córregos e rios da região. Com isso houve problemas desaúde da população e casos de óbito por doenças de veiculação hídrica.No início da década de 70 a qualidade das praias era imprópria para banho, apesar de a ligação dosesgotos ser encaminhada para o emissário da Praia Grande, mas este não dava mais conta de tratartodo o esgoto de Santos e São Vicente, levando à construção do emissário de José Menino.A construção desse emissário conduziu à melhoria da balneabilidade das praias e, portanto, umaprevenção de doenças pela falta de saneamento adequado. Dessa forma, este trabalho apresentadados de balneabilidade das praias de Santos e São Vicente no início da década de 70 e do ano de2003, possibilitando uma comparação a qual permite concluir que, atualmente, as condições sanitá-rias das praias estão próprias para banho em boa parte do tempo.

PALAVRAS-CHAVESaneamento, balneabilidade, saúde pública, meio ambiente.

ABSTRACTUntil the end of 19th century, the domestic sewage from Santos and São Vicente municipal districtswas treated individually, by each house, in cesspools or just discharged in natura in their localstreamlets and rivers. This caused health problems in the population and death cases caused byhydric propagation diseases.In the beginning of 1970 decade, the quality of the beaches was improper for bathing in spite ofsewages was going into the submarine outfalls of Praia Grande beach which was enable to treat allthe sewage that was coming from Santos and São Vicente; this forced the construction of a newsubmarine outfalls in Jose Menino beach.The construction of this outfalls improved the balneal feasibility of the beaches, therefore preventingdiseases by lack of adequate sanitation. This way, the data on balneal feasibility in Santos and SaoVicente beaches, in the period of 1970 to 2003, shows a comparison that draws us to the conclusionthat actually the sanitary conditions of the beaches are proper for bathing in most part of the time.

KEY WORDSSanitation, balneal feasibility, public health, environmental.

A QUESTÃO DABALNEABILIDADE NASPRAIAS: O CASO DOS

MUNICÍPIOS DESANTOS E SÃO VICENTE

SaneamentoAmbiental

dezembro 2004 61

INTRODUÇÃOA saúde pública é a ciência que

estuda as condições de saúde de umapopulação, seja mental, física ou saúdedo ambiente em que vive estapopulação. Dentro dessa ciência se incluio saneamento ambiental que trata,especificamente, da saúde do meioambiente.

O saneamento, segundo aOrganização Mundial da Saúde – OMS,é o controle de todos os fatores domeio físico do homem, os quais exercemou podem exercer efeitos nocivos sobreseu bem-estar físico, mental e social, istoé, sobre sua saúde (HELLER, 1995).

Um exemplo da importância dosaneamento a ser destacado, e muitocomum no Brasil, são as construçõesirregulares em locais de várzea dos riosa impedir a vazão da água, causandoinundações e afetando a população, oque ocorre desde o século 19 (LUCCI,1997).

As inundações e a falta de sistemas deesgotamento sanitário adequados criamo problema de contaminação das águascom dejetos lançados in natura. Ocontato humano com a águacontaminada resulta em doenças deveiculação hídrica, como cólera e febreamarela, assim como o acúmulo de águaem poças, devido à falta de drenagemurbana, facilitam o desenvolvimento deinsetos, como é o caso da dengue. Essasdoenças, entre outras, são conseqüênciasda falta de saneamento adequado.

A contaminação de corpos hídricoscom efluentes não-tratados se tornoucomum em todo o país, tratando-se dapoluição por efluentes industriais edomésticos, em função do aumento dasindústrias e também do crescimento dapopulação nas zonas urbanas,causando um desenvolvimentodescontrolado de centros urbanos semligações de esgoto regulares. Sendo

assim, o saneamento passou a ser umaliado para melhorar esses aspectos domeio ambiente (BARROS, 1995).

Com base na necessidade de mantera qualidade do meio ambiente foramdesenvolvidas instituições com o objetivode controlar a poluição ambiental erealizar obras de saneamento básico nascidades. No caso do estado de SãoPaulo, foi criada a Companhia deTecnologia e Saneamento Ambiental doEstado de São Paulo (Cetesb),responsável pelo controle emonitoramento da qualidade ambiental,abrangendo diversos fatores: poluiçãodo ar, solo e água. Já a Companhia deSaneamento Básico do Estado de SãoPaulo (Sabesp) é responsável pelaconstrução e manutenção das obras desaneamento como as Estações deTratamento de Água (ETAs) e Estaçõesde Tratamento de Efluentes (ETEs), paraesgotos domésticos.

No Brasil, especialmente as cidadeslitorâneas enfrentam problemas decontaminação do estuário, e,principalmente, de suas praias, pois osdejetos lançados nos rios desaguam nomar, provocando a contaminação daorla litorânea e das praias,conseqüentemente, interferindo naqualidade de vida da população local.

Sabe-se que em grande parte dosmunicípios litorâneos brasileiros apopulação vive do turismo e também dapesca e caça de animais de manguezal,como caranguejos, camarões e ostras.Com a água contaminada a caça dessesanimais é prejudicada, desfavorecendoas comunidades, cujo sustento provémda comercialização desses crustáceos emoluscos, além de prejudicar o turismolocal, pois praias poluídas não atraemturistas.

Devido à importância de estudar aqualidade da água para manter a saúdepública, este trabalho aborda uma regiãoafetada durante muitos anos com os

problemas causados por um sistema desaneamento que não satisfez porcompleto as necessidades dacomunidade.

A região da Baixada Santista no estadode São Paulo foi porta de entrada para oBrasil no século 16, quando se deu oinício da colonização brasileira pelosportugueses. Com o estabelecimento deimigrantes e a construção do Porto deSantos, a baía de Santos se tornou localde disposição de todos os tipos dedejetos, desde resíduos domésticos atéresíduos dos navios que ali aportavam(DEGASPARI, 2002).

O crescimento da população sem umsistema de saneamento adequado,principalmente na Ilha de São Vicente,provocou a degradação ambiental etrouxe epidemias que afetaram boaparte da população.

Houve, então, a implantação deprojetos com o objetivo de sanear aregião, impedindo que ocorressemnovos casos de doenças causadas pelafalta de higiene. O principal projeto,servindo de alavanca para o saneamentoambiental da Ilha de São Vicente, foi deSaturnino de Brito, concluído em 1914, edeu origem aos canais de drenagem dacidade de Santos, separando os esgotosda água pluvial. O município de SãoVicente levou alguns anos a mais parainiciar sua preocupação com as obras desaneamento, e ainda hoje boa parte dapopulação é desprovida de tratamentode esgotos domésticos (DEGASPARI,2002).

As obras de saneamento seriamsuficientes para o local se houvesse umapolítica habitacional, controlando aconstrução de moradias em locaisirregulares. O crescimento demográficodeveria ser acompanhado de fiscalização,evitando, assim, a construção de palafitasnos manguezais, casas nos morros e emlocais de difícil acesso para as tubulaçõesde esgotos. Sem esse controle, o

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lançamento de esgotos nos canaistornou-se freqüente, sendo direcionadospara o mar sem qualquer tratamento.

O histórico do saneamento emSantos e São Vicente foi marcado pormomentos edificantes, como a construçãodos canais de Santos e também doemissário, mas também por momentoscruciais, como as críticas condições emque se encontravam as praias dessesmunicípios na década de 70.

Durante os últimos 30 anos decrescimento da baixada santista, muitasatitudes foram tomadas para beneficiar apopulação, como a construção darodovia Anchieta e, posteriormente,da rodovia dos Imigrantes; o crescimentodo pólo industrial de Cubatão e tambémo controle ambiental sobre estasindústrias; aperfeiçoamento do Porto deSantos; jardinagem da orla marítimade Santos, e reconstrução dos quiosquesde praia em São Vicente, entre outrasobras não-relevantes para a abordagempresente.

Isso mostra o interesse na melhoriadas condições de vida da população erelata que é possível realizar projetospara o benefício da economia na região,sem prejudicar o ambiente ou a saúdeda população, por meio da melhoria daqualidade ambiental, favorecendo omovimento de turistas.

OBJETIVODevido à importância de manter as

praias litorâneas em condições de seremfreqüentadas por banhistas, estetrabalho tem como objetivo geral avaliaras condições sanitárias das praias dosmunicípios de Santos e São Vicente,segundo valores de balneabilidade, aolongo dos últimos 30 anos.

O objetivo específico desta pesquisa écomparar as condições sanitárias daspraias no início do monitoramento da

Cetesb, na década de 70, com suascondições atuais, possibilitando concluirse houve uma melhora nabalneabilidade dessas praias.

METODOLOGIAEsta pesquisa é considerada descritiva,

pois foi baseada em pesquisasbibliográficas, incluindo dados fornecidospela Companhia de Tecnologia eSaneamento Ambiental do Estado deSão Paulo (Cetesb).

Os dados de balneabilidade daspraias do litoral paulista são publicadosanualmente no Relatório deBalneabilidade, elaborado pela Cetesb.Os dados foram computados erelacionados em tabelas apresentadasao longo deste trabalho.

Foram contados, ao longo de cadaano estudado, os resultados com valoresabaixo do padrão previsto na ResoluçãoConama n. 20/86, de máximo 1.000NMP coliformes fecais/100 mL deamostra. Os valores que estiveremabaixo são considerados satisfatórios,isto é, de pouco risco de contaminaçãopor patógenos.

A quantidade de amostrassatisfatórias foi comparada com o totalde amostras recolhidas no mesmo ano;desta maneira é possível avaliar asituação das praias ao longo do ano.Essa contagem foi feita para o ano de1976, início do monitoramento daspraias, em seguida para os anos de1990 até 2002 e, finalmente, para o ano2003, representando a situação atualdas praias.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICASPara melhor entendimento dos

aspectos abordados neste trabalho éinteressante esclarecer o que se entende

por poluição e contaminação daságuas. Poluição é qualquer alteração dascaracterísticas físicas, químicas oubiológicas, podendo pôr em risco asaúde, a segurança e o bem-estar dapopulação, ou que comprometa a faunalocal e a utilização das águas para finsagrícolas, comerciais, industriais erecreativos. Contaminação é um casoparticular de poluição, provocado pelaintrodução de elementos emconcentrações nocivas à saúde humana,tais como organismos patogênicos,substâncias tóxicas e radioativas (GENDA,1988).

O comprometimento de águasdestinadas à recreação pode se dar pelacontaminação oriunda da presença deorganismos patogênicos, pois o contatocom a água é direto – pelo banho oude alguns esportes aquáticos, havendopossibilidade de ingestão do líquido, oqual aumenta o risco de doenças deveiculação hídrica, ou a intoxicação poroutros produtos, quando há casos depoluição por efluentes industriais.

O que define se as águas derecreação estão em condições favoráveisou não para contato humano é abalneabilidade, isto é, a qualidade daságuas de recreação de contato primário.Para haver uma avaliação dessa água énecessário o estabelecimento de critériosobjetivos. Tais critérios devem serbaseados em indicadores a seremmonitorados e seus valores devem serconfrontados com padrõespreestabelecidos, identificando se estãofavoráveis ou não ao contato humano.

É preciso entender que águas parafins recreacionais podem ser doces,salobras e salinas, e o contato humanopode ser primário ou secundário. Ocontato primário se dá por meio denatação, mergulho, esqui-aquático; ocontato secundário se dá por meio deatividades desportivas como a pesca e anavegação (CETESB, 2000).

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Há alguns fatores que influenciam nabalneabilidade das águas como, porexemplo, derrame acidental de petróleoou a ocorrência de maré vermelha,provocada por uma grande presença dealgas tóxicas na água. Entretanto,considerando que esses são fatoresesporádicos, a quantidade de esgotoslançada nas praias é um fator queinfluencia, constantemente, a qualidadedas águas de recreação, como é o casodas praias.

Sendo assim, o governo brasileiroestabeleceu, por intermédio da ResoluçãoConama n. 20, que a balneabilidade daságuas seja medida pela densidade decoliformes fecais, hoje conhecidas comobactérias termotolerantes.

Padrão de balneabilidade, segundo aResolução Conama n. 20/86Entre outras resoluções, o Conama

dispôs, em 18 de junho de 1986, aResolução n. 20, modificada emnovembro de 2000, sendo publicadacomo Resolução n. 274/00. Estaresolução descreve os métodos paracoleta e análise das amostras de águapara contato humano e define o padrãode balneabilidade de águas derecreação, devendo este ser seguidopara classificação de águas próprias ouimpróprias para banho.

O padrão de balneabilidade paraáguas salinas, definido pela ResoluçãoConama n. 20/86 e utilizado pela Cetesb,é medido em coliformes fecais pelatécnica de medição por tubos múltiplos,sendo a média máxima aceitável comoprópria de 1.000 NMP coliformes fecais/100 mL (NMP = número mais provável),até o ano de 1999, considerando umtotal de cinco amostras em um períodode tempo predeterminado. A partir de2000, com a revisão da resolução,passam a ser analisadas as bactériasEscherichia coli ou enterococos, cujo limiteé de 800 e. coli /100 mL (MMA, 2003).

No estado de São Paulo a coleta eanálise de amostras é feita pela Cetesb,seguindo os métodos descritos naResolução Conama n. 20/86. Sãoelaborados relatórios anuais com osresultados das análises para todas aspraias do litoral paulista, sendopublicado com o título de Relatório debalneabilidade das praias do litoralpaulista.

Além dessa publicação em relatórios,também são hasteadas bandeiras naspraias, especificando as condições debalneabilidade das águas.

A bandeira de cor verde significa águaprópria para banho, vermelha significaestado de alerta, água imprópria parabanho, isto é, pode ter algum risco decontaminação se houver contatohumano. Essas bandeiras representamum resumo das condições da praia emum período de um mês, nãosignificando que exatamente naquele diaem que a bandeira está vermelha aágua está contaminada, ou vice-versa.Isso ocorre devido ao período de 48horas necessário para se determinar oíndice de coliformes na água.

Além do fator de tempo depublicação dos resultados, também há

uma questão discutida atualmente emrelação ao grupo coliformes. Asbactérias coliformes estão presentesnos animais de sangue quente,indicando o contato de fezes humanascom a água, mas não indicam,necessariamente, a presença deorganismos patógenos na água,responsáveis pela transmissão dedoenças, estes não são analisados.

Em função disso, em outrosrelatórios elaborados por pesquisadoresda Cetesb, foi utilizada a Salmonella paraidentificar a presença de esgotos naágua. Em outros estudos efetuados poralunos de pós-graduação daUniversidade de São Paulo foi analisadaa presença de ovos de helmintos comoindicador de patógenos na água,demonstrando um resultado maisseguro em relação a organismostransmissores de doenças.

Pontos de monitoramento das praias deSantos e São VicenteO litoral paulista possui 122 pontos

de coleta de amostras, e as praias deSantos e São Vicente somam, atualmente,11 pontos, como representado naTabela 1 (CETESB, 2002).

Tabela 1 – Pontos de amostragem das praias de Santos e São Vicente

Fonte: CETESB, 2000

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emissário da Ponta de Itaipu, na PraiaGrande. Embora essa fosse consideradauma excelente obra da engenhariasanitária, com o crescimento urbano daregião e o aumento do número dehabitantes, não era mais um sistema detratamento de esgotos adequado.

O número de ligações clandestinashavia aumentado, e os canais de Santosrecebiam, constantemente, efluentes semtratamento, prejudicando a qualidadedas praias de Santos. Em São Vicente, aspraias mais fechadas, como dosMilionários e Gonzaguinha, obtinhamresultados com elevado número decoliformes, demonstrando a ineficiênciado sistema de disposição de efluentesutilizado.

As condições das praias dessesmunicípios são um reflexo da eficácia do

sistema de disposição de efluentes.Dessa forma é apresentada, a seguir, aavaliação dos resultados das amostrasde água no ano de 1976, quando foiconcluída a construção da rodovia dosImigrantes.

É importante ressaltar que, segundo opadrão adotado pela ResoluçãoConama n. 20/86, o número máximode coliformes fecais para se considerar apraia em condições satisfatórias é de1.000 NMP coli. fecais/100 mL de água.

As Tabelas 2 e 3 apresentam onúmero de amostras com resultadosacima de 1.000 NMP/10mL, amostrassatisfatórias, comparadas com o total dasanalisadas durante o ano para osmunicípios de São Vicente e Santos.

Como pode ser observado nasFiguras 1 e 2, o número de amostras

O acompanhamento da qualidadedessas praias é feito em caráterpreventivo. Se forem constatados índicesde coliformes fecais que indiquempresença de esgoto em suas águas emquantidades significativas, elas passam ater monitoramento semanal (CETESB,2000).

O SANEAMENTO DAS PRAIASDE SANTOS E SÃO VICENTE NADÉCADA DE 70O sistema de tratamento de esgoto

dos municípios de Santos e São Vicentena década de 70, era efetuado pordisposição oceânica por meio do

Figura 1 – Número de amostras satisfatórias em relação ao totalSão Vicente – 1976

Fonte: PARENTE, 2004

Figura 2 – Número de amostras satisfatórias em relação ao totalSantos – 1976

Fonte: PARENTE, 2004

Tabela 3 – Número de amostras satisfatórias em Santos – 1976

Fonte: PARENTE, 2004

Tabela 2 – Número de amostras satisfatórias em São Vicente – 1976

Fonte: PARENTE, 2004

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mar, onde encontram com a correntedo Atlântico Sul, afastando-se para leste(HIDROCONSULT, 1975).

Dessa forma, o lançamento doefluente entre essas duas correntes serialevado para alto mar e dispersaria-se,sendo depurado por ação dascaracterísticas químicas e biológicas domar. É importante destacar que antes deseu lançamento no emissário, o esgotoentra em uma Estação de Pré-Condicionamento – EPC, na qual passapor grades, caixas de areia e peneirasrotativas, retirando o material sólido.Também sofre uma pré e pós-cloraçãocomo ação bactericida.

Após a construção do emissário, ascondições das praias desses municípiosmelhoraram sensivelmente. A Tabela 4,elaborada por funcionários da Cetesb

com o objetivo de verificar a eficácia doemissário (MARTINS et al, 1981).

Como pode ser observado após aconstrução do emissário submarino, oresultado da colimetria sofreu umaqueda significativa, caindo para menosda metade em todos os pontos deamostragem, chegando a menos de 1/4em alguns casos, como na Praia dosMilionários, em São Vicente, e Ponta daPraia, em Santos, anteriormenteconhecidas como as mais críticas.

Mas com o decorrer dos anos, osmunicípios de Santos e São Vicentecresceram e houve um aumento daconstrução de moradias, sem oacompanhamento de uma políticahabitacional, pois foram construídascasas irregulares, o que leva aolançamento de esgotos em córregos ou

satisfatórias é muito pequeno emrelação ao total de amostras recolhidasem 1976. No município de São Vicenteas praias dos Milionários eGonzaguinha não chegam a 50%, e apraia de Itararé tem 57% das amostrassatisfatórias, entretanto, este também éconsiderado um resultado baixo, vistoque esta praia é muito freqüentada porturistas.

O município de Santos apresentaresultados críticos, pois todos os pontosde coleta apresentaram resultadosimpróprios para banho, principalmente aPonta da Praia, próxima ao canal doPorto de Santos. Esses resultados talvezsejam críticos por essas praias receberemgrande vazão de esgotos clandestinosoriginados dos canais de Santos, cujafunção é apenas receber águas pluviaise não esgoto doméstico.

PROJETOS PARA MELHORAR ASCONDIÇÕES SANITÁRIAS DOSMUNICÍPIOS DE SANTOS E SÃOVICENTEEm vista das condições em que se

encontravam as praias de Santos e SãoVicente, era necessário elaborar umnovo projeto para melhorar a situaçãodo saneamento básico em relação aotratamento de esgotos.

Em 1978 foi concluído o projeto doemissário submarino de José Menino,localizado na baía de Santos, próximoao Canal 1. Essa localização foi estimadacomo a mais adequada em virtude dascorrentes marítimas predominantes nabaía. A primeira, vinda do canal doPorto de Santos, e a segunda, do canalde São Vicente, também conhecidocomo Mar Pequeno. Essas duascorrentes são direcionadas para alto

Tabela 4 – Comparação dos resultados das amostras de água antes e após a construção do emissáriosubmarino de José Menino

n = número total de amostras analisadas* = antes da construção do emissário (1974 – 1976)** = após a construção do emissário (1979 – 1980)Fonte: MARTINS et al, 1981

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diretamente nos canais de Santos;conseqüentemente, as praias sãoafetadas (PARENTE, 2004).

Em meados da década de 80, maisprecisamente a partir de 1984, houvenovamente um aumento no número decoliformes fecais nas amostras analisadaspela Cetesb. Como forma de amenizar oproblema, em 1990 a Sabesp, com aprefeitura de Santos, tomaram a iniciativade fechar as comportas dos canais deSantos, evitando, assim, que o esgotolançado nos canais desaguasse naspraias.

Em paralelo, foram elaboradosprogramas para identificar as ligaçõesclandestinas e regularizar a situação,para que todos os esgotos fossemencaminhados para a EPC, e,posteriormente, para o emissáriosubmarino. O mesmo aconteceu emSão Vicente, onde alguns córregosreceptores de esgoto foram fechados esecos, evitando seu lançamento naspraias.

Com as comportas fechadas e aeliminação das ligações clandestinashouve uma melhora significativa naqualidade da água das praias. AsTabelas 5 e 6 apresentam os dados deamostras satisfatórias para cadamunicípio, nos anos entre 1990 e2002, para um total de 52 amostrasrecolhidas durante cada ano,lembrando que as amostras satisfatóriassão definidas como as de resultadosinferiores a 1.000 NMP/100 mL até2000, e a partir desse ano inferiores a800 NMP e.coli/100 mL, segundo aConama n. 274/00.

Os dados foram calculados pelosresultados publicados do laboratório daCetesb, nos Relatórios debalneabilidade das praias do litoralpaulista.

O município de Santos apresentoumelhoras significativas nos resultados debalneabilidade das praias, principalmente

n = ausência de resultadoFonte: PARENTE, 2004

Tabela 5 – Amostras satisfatórias, município de Santos – 1990 – 2002

Tabela 6 – Amostras satisfatórias do município de São Vicente – 1990 – 2002

n = ausência de resultadoFonte: PARENTE, 2004

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nas praias de Aparecida e Ponta daPraia, as quais apresentavam, no inícioda década de 90, resultados críticos.Essas praias estão próximas ao canal doPorto de Santos, uma de suas fontes depoluição.

Os resultados apresentarammelhoras, talvez em virtude de açõesdesenvolvidas pelo porto para diminuira contaminação do canal, além doprocedimento de manter as comportasdos canais fechadas, visto que o Canal7, na Ponta da Praia, não possuicomporta.

Segundo os dados do município deSão Vicente, houve um crescimento emmais de 40% no número de amostrassatisfatórias, exceto nas praias dosMilionários e Gonzaguinha, como podeser observado na Figura 3.

Essa situação pode ser atribuída aofato de essas praias não recebereminfluência dos canais de Santos, ou seja,mesmo os canais permanecendofechados, essas praias continuamrecebendo vazão de córregos poluídoscom esgoto doméstico. Além disso,recebem influência do canal do MarPequeno e também são localizadas emuma baía que não possui grandecirculação das marés quanto às outraspraias, o que dificulta a dispersão doesgoto lançado e, portanto, suadepuração.

AS CONDIÇÕES SANITÁRIAS DAILHA DE SÃO VICENTE NOINÍCIO DO SÉCULO 21A avaliação das condições atuais das

praias dos municípios de Santos e SãoVicente se faz necessária como forma decomparação com os anos anteriores,além de trazer informações sobre osresultados dos projetos realizados para

melhorar o sistema de saneamento e,conseqüentemente, a qualidade de vidada população.

A qualidade de vida no município deSantos é considerada pela população epor pesquisadores entre as melhores noestado de São Paulo. Esse dadotambém considera a qualidade daspraias, as quais melhoraram muito nos

Tabela 8 – Número de amostras satisfatórias para o município de São Vicente em 2003

Fonte: PARENTE, 2004

Figura 3 – Crescimento das amostras satisfatórias nas praias de Santos e São Vicente na década de 90

Fonte: PARENTE, 2004

últimos anos, e, no ano de 2003,apresentou resultados satisfatóriosdurante boa parte do ano, como podeser observado na Tabela 7.

O município de São Vicente tambémapresentou melhoras, entretanto aindahá algumas praias com resultadosimpróprios para banho, como pode serobservado na Tabela 8.

Tabela 7 – Número de amostras satisfatórias para o município de Santos em 2003

Fonte: PARENTE, 2004

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As Figuras 4 e 5 apresentam umacomparação entre o total de amostrasrecolhidas e o número de amostrassatisfatórias para cada praia dosmunicípios estudados no ano de 2003.

Como pode ser observado nosgráficos acima, o município de Santosconta com suas praias próprias parabanho em mais de 75% do ano, o queainda não pode ser considerado comoum resultado satisfatório, visto que aResolução Conama n. 274/00 especificaáguas de qualidade excelente, aquelas aapresentarem resultados próprios em80% ou mais das amostras.

Entretanto, houve uma melhorasignificativa e os resultados estão bempróximos do especificado na resolução,demonstrando um quadro evolutivo naqualidade das praias em relação àbalneabilidade, mas que não deve serconsiderado estável ou em crescimento,pois isso deve ser observado ainda nospróximos anos.

O município de São Vicenteapresenta qualidade excelente nospontos de coleta da Praia de Itararé,mas as praias dos Milionários e doGonzaguinha ainda apresentamresultados críticos, pois totalizaram 48%

e 50%, respectivamente, de amostrassatisfatórias ao longo do ano, o querepresenta ainda um estado calamitosoem relação à balneabilidade; essaspraias recebem influência do canal doMar Pequeno, onde estão as palafitas,um tipo de moradia que não possuiestrutura para instalação de tubulaçõesde esgoto ou água.

CONCLUSÕESSobre a qualidade das praias de

Santos e São Vicente, ao longo dosúltimos 30 anos, pode-se concluir queno ano de 1976, início domonitoramento das praias pela Cetesb, aqualidade da água era imprópria parabanho; no caso de Santos, todas aspraias possuíam ao redor de 90% dasamostras com resultados imprópriospara banho.

Com esses resultados conclui-se queo sistema de coleta e tratamento deesgotos por meio do emissário de Itaipu,na Praia Grande, não era mais suficientepara a população local, sua capacidadehavia sido ultrapassada e o número deligações clandestinas com saída para os

canais de Santos havia aumentadosignificativamente, poluindo as praias deSantos.

Essa situação levou à construção doemissário de José Menino, em Santos,concluído em 1978. Após a construçãodesse emissário submarino, houve umprogresso na qualidade da água daspraias, melhorando os resultados debalneabilidade das praias de Santos eSão Vicente.

Em meados da década de 80,especificamente após 1984, o númerode amostras satisfatórias por ano sofreuuma queda significativa, prejudicando asituação das praias nesse período. Aqueda pode ser atribuída aocrescimento populacional semfiscalização adequada, possibilitando aconstrução de moradias sem ligação deesgoto na rede pública.

Em 1990, com o procedimento demanter fechadas as comportas doscanais, com a eliminação das ligaçõesclandestinas e remoção das pessoasinstaladas nos mangues, percebeu-seuma melhora significativa nabalneabilidade das praias estudadas,resolvendo em parte o problema decontaminação das mesmas por esgotos

Figura 5 – Comparação entre o número de amostras recolhidas e as amostrassatisfatórias em Santos, em 2003

Fonte: PARENTE, 2004

Figura 4 – Comparação entre o número de amostras recolhidas e as amostrassatisfatórias em São Vicente, em 2003

Fonte: PARENTE, 2004

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domésticos. Ocorrendo que, emperíodos de chuvas fortes, as comportasdos canais devem ser abertas para evitarinundações; com as águas pluviais, oesgoto clandestino lançado nos canaiscorre para o mar.

A situação atual das praias apresentaresultados satisfatórios em comparaçãoaos anos anteriores para o município deSantos, pois o número de amostrassatisfatórias ao longo deste anoaumentou em comparação aos anosanteriores.

No município de São Vicente, a Praiade Itararé apresenta resultadossatisfatórios, o que não ocorre naspraias dos Milionários e Gonzaguinha.Segundo apresentado nos resultadosde balneabilidade dessas praias, pode-se concluir que nesse município aindahá algumas obras a serem realizadaspara melhorar suas condiçõessanitárias.

Como pode ser observado, há uminteresse por parte da prefeituramunicipal e também do estado de SãoPaulo em melhorar as condiçõessanitárias desses municípios. Tanto Santoscomo São Vicente são cidades turísticasque representam o início da colonizaçãodo Brasil, portanto, não devem serclassificadas como cidades poluídas, compraias sujas, sem condições de seremfreqüentadas por turistas.

As obras realizadas na Ilha de SãoVicente, na qual está a maior área dos

dois municípios, trouxeram benefíciospara os moradores e os turistas,entretanto, não devem ser estabilizadas,devem ser continuadas e elaboradauma política habitacional para que sejaremovida a população instalada nomangue, pois além de ser umacondição de vida inaceitável, também éuma das fontes de poluição das praiaslocais.

A remoção dessa população dosmangues, a identificação e eliminaçãodas ligações clandestinas de esgoto e omonitoramento constante da qualidadedos corpos d´água do estuário santistasão as principais ações a seremrealizadas para a conservação daqualidade de vida dos municípios deSantos e São Vicente.

BIBLIOGRAFIABARROS, R. T. V.; CHERNICHARO, C. A. L.;HELLER, L.; SPERLING, M. (Ed.) Manual desaneamento e proteção ambiental para osmunicípios, 1: O município e o meioambiente. Departamento de EngenhariaSanitária e Ambiental. Fundação Estadual doMeio Ambiente Belo Horizonte, 1995.

CETESB – Companhia de Tecnologia eEngenharia em Saneamento Ambiental.Relatório de balneabilidade das praiaspaulistas. São Paulo: Cetesb, 2000.

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DEGASPARI, F. Histórico do saneamentobásico de Santos – SP com ênfase parabalneabilidade das praias. 2001. Dissertação(Mestrado) – Universidade Monte Serrat,Santos, 2001.

HIDROCONSULT CONSULTORIA e ProjetosSA. Plano Diretor de esgotos da BaixadaSantista. São Paulo: Hidroconsult, Cons. eProjetos S/A., 1975.

LUCCI, E. A. O homem no espaço global. SãoPaulo: Saraiva, 1997.

MARTINS, M. T.; ALVES, M. N.; SANCHEZ, O.S.; AGUDO, E. G. Levantamento dascondições sanitárias de praias de Santos eSão Vicente, antes e após a construção doemissário submarino de esgotos. In: 11O

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PARENTE, K. S. As condições sanitárias dosmunicípios de Santos e São Vicente nasdécadas de 1970, 1980, 1990 e início doséculo XXI. 2004. Dissertação (Mestrado) –Faculdade de Saúde Pública, Universidade deSão Paulo, São Paulo, 2004.

PHILIPPI JR., A. (Org.) Saneamento do meio.1. ed. São Paulo: Fundacentro, 1988.

Revista Brasileira de Ciências Ambientais70

V FSM – FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. FSM 2005: GTSUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE

26 a 31 janeiro de 2005 – Porto Alegre/RShttp://www.forumsocialmundial.org.br

ENVIRONMENT 2005

Abu Dhabi International Exhibition CentreJanuary 30-February 2, 2005 – Abu Dhabi, United Arab Emirateshttp://www.environmental-center.com/

ENERGIA SCOTTISH & CONFERÊNCIA AMBIENTAL 2005

February 8, 2005 – Scotlandhttp://www.envirowise.gov.uk/

HELECO ’05 – EXHIBITION AND CONFERENCE CENTRE OF ATTICA,HELEXPO, ATHENS, GREECE

February 3-6, 2005 – Athens, Greecehttp://www.environmental-center.com

POWER-GEN RENEWABLE ENERGY

March 1-3, 2005 – Las Vegas Hilton, Las Vegas, Nevada, USAhttp://www.environmental-center.com

E-WORLD 2005

March 15-17, 2005 – Messehaus Ost, Norbertstraße, 45131 Essen,Germanyhttp://www.environmental-center.com

EFFICIENT 2005 - III CONFERENCIA INTERNACIONAL SOBRE USO YGESTIÓN

Marzo 14 -18, 2005 – Santiago – Chilehttp://www.efficient2005.com

URBAN RESEARCH SYMPOSIUM 2005

Third Urban Research Symposium on “Land Development, Urban Policyand Poverty Reduction”The World Bank – Institute of Applied Economic Research – IPEAApril 4-6, 2005 – Brasília, DF, Brazilhttp://www.worldbank.org/urban/symposium2005/concept_note.htm

ENVIROEXPO & CONFERENCE 2005

May 3-4, 2005 – Seaport World Trade Center, Boston ,Massachusetts, USAMichael Scheibach, Ph.D., Conference Director, Tel: 816-350-2049Email: [email protected]://www.environmental-center.com

LAND DEVELOPMENT EAST

May 4-6, 2005 – Marriott Waterfront Hotel, Baltimore, Marylandhttp://www.environmental-center.com

WORLD WATER & ENVIRONMENTAL RESOURCESCONGRESS 2005

May 15-20, 2005 – Anchorage Convention Center, Anchorage, AK,USAhttp://www.environmental-center.com

EECO 2005May 26-27, 2005 – Toronto, Canadahttp://www.environmental-center.com

WASTETECH 2005

May 31-June 3, 2005 – Moscow, Rússiahttp://www.environmental-center.com

WATERSHED MANAGEMENT 2005

July 19-22, 2005 – Williamsburg, Virginia, USAhttp://www.environmental-center.com

230 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA EAMBIENTAL

18 a 23 de setembro de 2005 – Campo Grande/MShttp://www.abes-dn.org.br/eventos/abes/23cbes/index.htm

LAND DEVELOPMENT WEST

November 2-4, 2005 – SunBurst Resort, Scottsdale, ArizonaMichael Scheibach, Ph.D., Conference Director, Tel: 816-350-2049Email: [email protected]://www.environmental-center.com

EventosAgenda 2005

dezembro 2004 71

2004

ICTR 2004Congresso Nacional deCiência e Tecnologia emResíduos e DesenvolvimentoSustentável

NISAM 2004Ciclo de Conferênciassobre Política eGestão Ambiental

O ICTR 2004 – Congresso Nacionalde Ciência e Tecnologia em Resíduos eDesenvolvimento Sustentável e oNISAM’2004 – Ciclo de Conferênciassobre Política e Gestão Ambientalocorreram na cidade de Florianópolisentre 17 a 20 de outubro de 2004.

A Comissão Organizadora recebeucerca de 1.000 trabalhos produzidospor mais de 3.000 autores e co-autoresde todo o Brasil, que colaboraram nadiscussão dos problemas nacionais einternacionais bem como nadisseminação do conhecimento científicoe tecnológico, promovendo a interaçãoentre pesquisadores, profissionais,empresários e representantes

governamentais. Desse total, 599trabalhos foram aceitos paraapresentação na forma de pôster e novetrabalhos receberam premiação aotérmino do evento.

O evento contou com a participaçãode 21 palestrantes do Brasil e doexterior, além da presença da prefeita deFlorianópolis, Angela Amin. Naoportunidade houve o lançamento daRevista Brasileira de Ciências Ambientaise dos livros da Coleção Estudos ePesquisas Ambientais Curso de gestãoambiental, Curso interdisciplinar dedireito ambiental, Educação ambiental esustentabilidade e Saneamento, Saúdee Ambiente.

EventosComunicados

Seção de apresentação de pôsteresFoto: Marcelo de Andrade Roméro

2004

Revista Brasileira de Ciências Ambientais72

Normas para publicação

1. A Revista Brasileira de Ciências Ambientais éuma publicação do ICTR e do NISAM, tem porobjetivo a divulgação de trabalhos na área.

2. O Conselho Editorial com o Conselho EditorialCientífico decidirão quais os artigos selecionados aserem publicados, considerando a qualidade, opotencial de inovação, a originalidade e apertinência do tema em face da linha editorial darevista.

3. Os artigos submetidos para apreciação darevista devem pertencer à área das ciênciasambientais.

4. Os originais deverão ser encaminhadosseguindo os seguintes padrões:

a) Apresentados em arquivos eletrônicos.

b) Utilizar o processador Word, sem formatação,determinando apenas a abertura dos parágrafos.

c) Os trabalhos deverão ter no máximo 20 (vinte)laudas, incluindo todos os componentes do texto edas ilustrações.

d) Utilizar laudas de 20 (vinte) linhas com 60(sessenta) caracteres e intervalos deespaçamentos inclusos.

e) Dos trabalhos apresentados devem constar: otítulo, o(s) nome(s) do(s) autor(es), sua(s)qualificação(ões) e instituição(s).

5. São obrigatórios o resumo, o resumem e oabstract, respectivamente nas línguas portuguesa,espanhola e inglesa, com no mínimo 500(quinhentos) e no máximo 700 (setecentos)caracteres cada um, intervalos de espaçamentosinclusos.

6. As notas e referências bibliográficas devem virapresentadas agrupadas no final do texto, edeverão ser referenciadas, assim como tambémas citações, de acordo com as normas da ABNT-NBR-6023.

7. As ilustrações deverão ser entregues em folhasseparadas com as devidas indicações de créditos elegendas e referenciadas no texto.

8. Os desenhos devem ser entregues em arte-final. Se apresentados em formatação/disquete,utilizar programas compatíveis (CAD, Corel Draw,Photoshop, PM6.5). As imagens podem ser embranco-e-preto ou em cores.

9. Após o recebimento, os originais serãocriteriosamente analisados pelo Conselho Editoriale pelo Conselho Editorial Científico e os trabalhosnão aceitos serão devolvidos.

Normas de publicación

1. La Revista Brasileira de Ciências Ambientais esuna publicación del ICTR y del NISAM, que tienepor objeto la divulgación de trabajos de la área.

2 El Consejo Editorial, con el Consejo EditorialCientífico; decidirán caules artículos seránaceptados para publicación, considerando lacualidad, el potencial de innovación, la originalidady la pertinencia del tema de acuerdo con la líneaeditorial.

3. Los artículos sometidos para evaluación de larevista deben pertenecer a la área de las cienciasambientales.

4. Los originales deberán ser enviados atendiendolas seguientes normas:

a) Presentados en archivo electrónico.

b) Utilizando el processador Word sin formatear,definiendo solamente el inicio de los párrafos.

c) Los trabajos deberán tener un máximo de 20(veinte) páginas incluyendo el texto y lasilustraciones.

d) Utizar página tendrá hasta 20 (veinte) líneascom hasta 60 (sesenta) caracteres incluso losespaciamientos.

e) Los trabajos deberán constar de: título,nombre(s) y apellido(s) del(de los) autor(es),su(s) título(s) profesional(es) y instituiciones.

5. Es obligatório presentar el resumen en losidiomas portugués, español y inglés, conteniendoun mínimo de 500 (quinientos) y un máximo de700 (setecientos) caracteres cada uno, incluyendolos espaciamientos.

6. Las notas y referencias bibliográficas seránpresentadas en el final del texto referenciadas yagrupadas, así como las citaciones textuales, deacuerdo con a las Normas de la ABNT – NBR-6023.

7. Las ilustraciones deberán ser enviadas en hojasseparadas indicando las leyendas y los créditos ydeberán ser referenciadas en el texto.

8. Los dibujos deberán ser presentados en arte-final. Se presentados en disquetes formateadosen programas compatibles (CAD, Corel Draw,Photoshop, PM6.5), en blanco y negro o encolores.

9. Después de la entrega de los originales, ellosserán analizados criteriosamente por lo ConsejoEditorial e por lo Consejo Editoial Cientifico y lostrabajos que no hayan sido aprobados serándevueltos a sus autores.

Publication norms

1. The Revista Brasileira de Ciências Ambientais isa review of the ICTR and the NISAM that has byobject to divulgate the works of the area.

2. The Editorial Council, with the Editorial ScientificCouncil, will decide about which articles will beaccepted for the publication, considering thequality, innovation, originality and the themepertinence to the editorial line.

3. The contributions presented to the publicationmust appertain to the environmental sciences.

4. The originals must be sended with the followingpatterns:

a) Presented by electronic files.

b) To use the Word program, whithout format,only defining the paragraphs beginning.

c) The works must have a maximum of 20(twenty) pages including the text and theillustrations.

d) Each page will have until 20 (twenty) linescomposed by until 60 (sixty) signs with thespacements included.

e) The works must present: the tittle, thename(s) of the author(s), their(s) professionalqualification(s) and institution(s).

5. It’s obbligatory the presentation of the abstractsin portuguese, english and spanish languages,containing a minimum of 500 (five hundred) anda maximum of 700 (seven hundred) signs each,with the spacements included.

6. The notes and bibliographic references will bepresented at the end of the text, referred andgrouped, also for the citations, according thenorms of the ABNT–NBR-6023.

7. The illustrations must be sended in separatedpapers containing the credit indications and theinscriptions must be referred in the text.

8. The draws must be sended in theirs originals orby floppy disks using compatibles programs (CAD,Corel Draw, Photoshop, PM6.5). The images maybe in black and white or in color.

9. After their presentation the originals will havethe critical analysis by the Editorial Council andEditorial Scientific Council. The works not approvedwill be devolved to theirs authors.

EDITOR

Marcelo de Andrade Roméro

CONSELHO EDITORIALPresidente

Marcelo de Andrade Roméro

Arlindo Philippi Jr.Celina Lopes Duarte

Eglé Novaes TeixeiraJorge Alberto Soares Tenório

Márcio J. Estefano de OliveiraMaria Cecília Focesi Pelicioni

Roberto Nunes Szente

DATA

Dezembro de 2004

TIRAGEM

2.000 exemplares

PROJETO E PRODUÇÃO GRÁFICA

Laboratório de Programação Gráfica daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Instituições Participantes

USP

UNICAMP

UNESP

UFSCAR

IPEN

IPT

RevistaBrasileira de

Ciências Ambientais

Adelaide Cássia Nardocci (FSP/USP)

Alaôr Caffé Alves (FD/USP)

Alcides Lopes Leão (Unesp/BOT)

Alexandre de Oliveira e Aguiar (NISAM/USP)

Angela M. Magosso Takayanagui (EERP/USP)

Antonio Carlos Rossin (FSP/USP)

Antonio Fernando Pinheiro Pedro (ABAA)

Antonio Herman Benjamín (IDPV)

Aracy Witt de Pinho Spínola (FSP/USP)

Aristides Almeida Rocha (FSP/USP)

Arlindo Philippi Jr. (FSP/USP)

Armando Borges de Castilhos Jr. (UFSC)

Attilio Brunacci (NISAM/USP)

Bastiaan Reydon (Unicamp)

Bruno Coraucci Filho (FEC/Unicamp)

Carlos Celso do Amaral e Silva (FSP/USP)

Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS)

Carlos Malzyner (SEMPLA)

Celina Lopes Duarte (Ipen)

Célio Bérman (IEE/USP)

Cíntia Philippi Salles (NISAM/USP)

Claudio Fernando Mahler (COPPE/UFRJ)

Cleverson V. Andreoli (UFPR)

Daniel Joseph Hogan (Unicamp)

Daniel Roberto Fink (MPSP)

Daniel Silva (UFSC)

Delsio Natal (FSP/USP)

Denise Crocce Romano Espinosa (EP/USP)

Dimas Floriani (UFPR)

Édis Milaré (NISAM/USP)

Edson A. Abdul Nour (FEC/Unicamp)

Edson Leite Ribeiro (PRODEMA/UFPB)

Eglé Novaes Teixeira (FEC/Unicamp)

Enrique Leff (PNUMA)

Eugênio Foresti (EESC/USP)

Fábio Luiz Teixeira Gonçalves (IAG/USP)

Fábio Nusdeo (FD/USP)

Fábio Taioli (IGc/USP)

Fabiola Zioni (FSP/USP)

Fernando Fernandes da Silva (NISAM/USP)

Francisco Radler (UFRJ)

Francisco Suetônio Bastos Mota (UFCE)

Gilberto Passos de Freitas (TJ/SP)

Gilda Collet Bruna (Mackenzie)

Guido Fernando Silva Soares (FD/USP)

Guilherme J. Purvin de Figueiredo (PGESP)

Helder Perdigão Gonçalves (INETI/Portugal)

Helena Ribeiro (FSP/USP)

Heliana Comin Vargas (FAU/USP)

Hilton Felício dos Santos (Consultor Ambiental)

Isak Kruglianskas (FEA/USP)

Ivete Senise (FD/USP)

Jair Lício Ferreira Santos (FMRP/USP)

João Antônio Galbiati (Unesp)

João Sergio Cordeiro (UFSCar)

João Vicente de Assunção (FSP/USP)

Jorge Alberto Soares Tenório (EP/USP)

Jorge Gil Saraiva (LNEC/Portugal)

Jorge Hajime Oseki (FAU/USP)

Jorge Hamada (Unesp)

José Carlos Derísio (Consultor Ambiental)

José Damásio de Aquino (FUNDACENTRO)

José de Ávila Aguiar Coimbra (NISAM/USP)

José Eduardo R. Rodrigues (Fundação Florestal)

José Fernando Thomé Jucá (UFPE)

José Luiz Negrão Mucci (FSP/USP)

José Maria Soares Barata (FSP/USP)

Leila da Costa Ferreira (Unicamp)

Léo Heller (UFMG)

Luis Enrique Sánchez (EP/USP)

Luiz Roberto Tomasi (FUNDESPA)

Luiz Sérgio Philippi (UFSC)

Marcel Bursztyn (UNB)

Marcelo de Andrade Roméro (FAU/USP)

Marcelo Pereira de Souza (EESC/USP)

Márcia Faria Westphal (FSP/USP)

Márcio Joaquim Estefano Oliveira (Unesp)

Marcos Reigota (UNISO)

Marcos Rodrigues (EP/USP)

Maria Cecília Focesi Pelicioni (FSP/USP)

Maria José Brollo (IG/SMA/SP)

Maria Olímpia Rezende (IQSC/USP)

Maria Regina Alves Cardoso (FSP/USP)

Mario Thadeu Leme de Barros (EP/USP)

Mary Dias Lobas de Castro (SVMA/PMSP)

Milo Ricardo Guazelli (ANVISA)

Mônica Porto (EP/USP)

Murilo Damato (SENAC)

Nemésio N. Batista Salvador (UFSCar)

Oswaldo Massambani (IAG/USP)

Paulo Affonso Leme Machado (UNIMEP)

Paulo Artaxo (IF/USP)

Paulo de Tarso Siqueira Abrão (NISAM/USP)

Paulo H. Nascimento Saldiva (FM/USP)

Paulo Renato Mesquita Pellegrino (FAU/USP)

Pedro Caetano Sanches Mancuso (FSP/USP)

Pedro Roberto Jacobi (PROCAM/USP)

Petra Sanchez Sanchez (Mackenzie)

Philip O. M. Gunn (FAU/USP)

Raul Machado Neto (ESALQ/USP)

Renata Ferraz de Toledo (NISAM/USP)

Ricardo Toledo Silva (FAU/USP)

Roberto Nunes Szente (IPT)

Roque Passos Pivelli (EP/USP)

Ruben Bresaola Jr. (FEC/Unicamp)

Ruth Sandoval Marcondes (FSP/USP)

Sabetai Calderoni (NAIPPE/USP)

Sebastião Roberto Soares (UFSC)

Sergio Eiger (FSP/USP)

Severino Soares Agra Filho (UFBA)

Sheila Walbe Ornstein (FAU/USP)

Solange Teles da Silva (NISAM/USP)

Tadeu Fabrício Malheiros (FSP/USP)

Umberto Cordani (IGc/USP)

Vahan Agopyan (EP/USP)

Vanderley Moacyr John (EP/USP)

Vera Lúcia Ramos Bononi (NISAM/USP)

Vicente Fernando Silveira (NISAM/USP)

Walter Lazzarini (NISAM/USP)

Wilson Edson Jorge (FAU/USP)

Witold Zmitrowicz (EP/USP)

Yara Maria Botti M. de Oliveira (Mackenzie)

NISAM/ ICTR

CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO

Instituto de Ciência e Tecnologia emResíduos e Desenvolvimento SustentávelPRESIDENTE

Arlindo Philippi Jr.VICE-PRESIDENTE

Jorge Alberto Soares Tenório

DIRETORIA EXECUTIVA

Sabetai Calderoni

DIRETORIA DE TECNOLOGIA E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

Gilda Collet BrunaDiretores Adjuntos

Márcio J. Estefano de OliveiraJoão Sérgio Cordeiro

DIRETORIA DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO

Angela Maria Magosso TakayanaguiDiretores Adjuntos

Edson A. Abdul NourJorge Hamada

DIRETORIA EDITORIAL

Marcelo de Andrade RoméroDiretores Adjuntos

Maria Cecília Focesi PelicioniRoberto Nunes Szente

DIRETORIA DE PESQUISA

Ruben Bresaola JuniorDiretores Adjuntos

João Antonio GalbiatiJorge Alberto Soares TenórioBernardo A. do Nascimento Teixeira

DIRETORIA DE EVENTOS

Leny Borghesan AlberghiniDiretores Adjuntos

Eglé Novaes TeixeiraCelina Lopes DuarteNemésio N. Batista Salvador

CONSELHO DE ORIENTAÇÃO

Alaôr Caffé AlvesAlcides Lopes LeãoCarlos Celso do Amaral e SilvaCelina Lopes DuarteEdson A. Abdul NourEglé Novaes TeixeiraGuilherme Ary PlonskiJorge HamadaLeny Borghesan AlberghiniMaria ZaninVahan AgopyanVanderley Moacyr John

CONSELHO FISCALTitulares

Mario Sérgio RodriguesNemésio N. Batista SalvadorPedro Caetano Sanches MancusoSuplentes

João Antonio GalbiatiLuis Enrique SánchezBruno Coraucci Filho

Núcleo de Informações emSaúde Ambiental

COORDENADOR CIENTÍFICO

Arlindo Philippi Jr.

VICE-COORDENADOR CIENTÍFICO

Pedro Caetano Sanches Mancuso

CONSELHO DELIBERATIVOPresidente

Arlindo Philippi Jr.Alaôr Caffé AlvesCarlos Celso do Amaral e SilvaGilda Collet BrunaJorge Alberto Soares TenórioMarcelo de Andrade RoméroMárcia Faria WestphalMaria Cecília Focesi PelicioniMaria Regina Alves CardosoPaulo Hilário Nascimento SaldivaPedro Caetano Sanches MancusoSergio Colacioppo

ICTRASSOCIE-SEBenefícios:Os sócios do ICTR participarão de uma rede entre os professores epesquisadores de todas as instituições públicas brasileiras de ensinoe de pesquisa, proporcionando a integração e atualização doconhecimento na área de resíduos e desenvolvimento sustentável.Poderão participar dos projetos organizados pelo instituto, assimcomo propor e coordenar projetos por meio do ICTR. Os sóciosreceberão, ainda, revista publicada pelo instituto e terão descontosespeciais em todos os eventos organizados por este.

Requisitos:Os sócios do ICTR devem ser professores, pesquisadores ou alunosde graduação ou pós-graduação das instituições públicas de ensinoe de pesquisa brasileiras, bem como pessoas jurídicas interessadas.

As categorias de sócios são:Sócios Fundadores – Os professores e pesquisadores com atuaçãona área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente edesenvolvimento sustentável, ligados às universidades públicas doestado de São Paulo – USP, Unesp, Unicamp, UFSCar, UNIFESP – etambém ao IPT e ao IPEN, que subscreverem a ata de fundação doICTR, a qual será mantida aberta pelo prazo de quatro meses acontar da data do competente ato de registro.

Sócios Regulares – Os professores e pesquisadores e alunos comatuação na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente edesenvolvimento sustentável, ligados às instituições públicas brasileirasde pesquisa e ensino superior, após o transcurso do prazomencionado no item anterior.

Sócios Beneméritos – Os que contribuírem com recursos, materiaisou humanos, para o desenvolvimento das atividades do instituto.

Sócios Honorários – Os que, por decisão conjunta dos órgãoscolegiados do instituto e por proposta, de iniciativa subscrita por aomenos dez sócios, merecerem este título em virtude de atuaçãodestacada na defesa dos ideais pelos quais o instituto propugna,consoante os objetivos estabelecidos.

Sócios Institucionais – As pessoas jurídicas que vierem a associar-se.

Formulários de inscrição em: www.ictr.org.br/associe.htm

RevistaBrasileira deCiências Ambientaisdezembro 2004 Nº 2 • www.fsp.usp.br/nisam • www.ictr.org.br