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Quando fala-se de Idade Média, quase todas as pessoas lembram-se logo da inquisição, das muitas mortes, das guerras "santas", de todos os inoscentes que pararam na fogueira em nome de algum deus. Entretanto, o período medieval, é imensamente maior que isso. É belo, é incrível, é cultural... O termo "Idade das Trevas" foi cunhado na época do Renascimento e a Idade Média acabou se tornando o "período negro" da história, pois, além de tudo, ela ficava, indiscutivelmente, entre a beleza e grandeza da Antiguidade e o avanço e progresso do Iluminismo. Porém, foi no medievo que se desenvolveu boa parte da cultura da história da humanidade. A Idade Média foi palco de grandes festas populares, que serviam para "nivelar" a população, pois durante essas festas, a alienação e as diferenças hierárquicas desapareciam completamente, a saber, pelo emprego das máscaras que eram usadas para permutar essas diferenças sociais. Dentre as festas populares medievais, destacam-se o carnaval e a festa dos tolos. O carnaval era a principal festa popular medieval. Ele durava quase três meses e era a época em que as pessoas podiam fazer tudo o que queriam. O Carnaval era Como uma

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Quando fala-se de Idade Média, quase todas as pessoas lembram-se logo da inquisição, das muitas mortes, das guerras "santas", de todos os inoscentes que pararam na fogueira em nome de algum deus. Entretanto, o período medieval, é imensamente maior que isso. É belo, é incrível, é cultural...

O termo "Idade das Trevas" foi cunhado na época do Renascimento e a Idade Média acabou se tornando o "período negro" da história, pois, além de tudo, ela ficava, indiscutivelmente, entre a beleza e grandeza da Antiguidade e o avanço e progresso do Iluminismo.

Porém, foi no medievo que se desenvolveu boa parte da cultura da história da humanidade. A Idade Média foi palco de grandes festas populares, que serviam para "nivelar" a população, pois durante essas festas, a alienação e as diferenças hierárquicas desapareciam completamente, a saber, pelo emprego das máscaras que eram usadas para permutar essas diferenças sociais.

Dentre as festas populares medievais, destacam-se o carnaval e a festa dos tolos. O carnaval era a principal festa popular medieval. Ele durava quase três meses e era a época em que as pessoas podiam fazer tudo o que queriam. O Carnaval era Como uma “Libertação”

para as pessoas.

Já a festa dos tolos tinha uma característica interessante, que eram os Chicaneiros e Bufões. Os

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Chicaneiros eram alvos de injúrias e grosserias. Durante essa festa, o vocabulário vulgar era permitido, então além de injuriar uns aos outros, as pessoas direcionavam as maiores grosserias aos Chicaneiros. Já os Bufões, eram pessoas elegidas para vestir-se com trajes reais, rir e serem alvos de espancamentos (que também eram permitidos na festa). Com o passar do tempo essa festa foi proibida.

Além de tudo isso, existia também a famosa Praça Pública

que era o lugar que sediava as festas e comemorações medievais. A praça era como uma segunda vida paras as pessoas, pois eles não era espectadores das festas, eles as viviam. (Como em Olinda, por

exemplo).

Um rito muito comum na praça pública era a rega com urina e excrementos. Isso era muito vivenciado na festa dos tolos. As pessoas não se salpicavam com lama, mas com urina e fezes, pois isso tinha uma relação com o nascimento e a fecundidade. Além disso, os excrementos provocavam bem-estar, pois vinham do baixo corporal.

Por fim, temos que concordar que a Idade Média, realmente teve um lado negro, por causa da religião, pois além de tudo, a razão era usada a serviço da fé religiosa, mas o período medieval não foi apenas isso, não foi só alienação religiosa. O medievo foi um período de reconstrução cultural, que, como vimos, repercute até a atualidade.

Dessa forma, é totalmente errôneo atribuir à Idade Média o conceito de Idade das Trevas.

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As luzes de que não falam

Tendo explicado brevemente em que consiste a Idade Média, gostaria agora de apontar quatro características dessa longa época que não se coadunam com a imagem de uma Idade das Trevas.

Interesse pelo saber: No ano de 1277 morria um homem em um acidente causado pelo desabamento de um balcão para estudos e observações científicas que havia feito em sua residência: essa residência era o palácio papal de Viterbo e esse homem era Pedro Hispano, João XXI, o único papa português da História. O conhecimento era valorizado por grande parte dos homens da Idade Média, especialmente pelos clérigos, que julgavam a instrução dos demais como uma de suas funções. Desde a Antiguidade Tardia os mosteiros foram centros de preservação do conhecimento antigo dos gregos e romanos. Mas esses mosteiros não somente preservavam e copiavam as obras antigas, como também refletiam sobre elas e teciam comentários sobre as mesmas.  Já entre os séculos VI e VII, o Livro das Etimologias fora escrito pelo bispo Isidoro de Sevilha, buscando compilar todo o conhecimento de seu tempo. No século XII, o cônego Hugo da Abadia de São Víctor, na França, escrevia em uma de suas obras exortando seus alunos a buscarem o estudo, sem desprezar nenhuma forma de conhecimento. Com o surgimento das universidades, a troca de informações e escritos e o debate de idéias, frequentemente acalorado, se intensificou. Esse interesse pelo saber traduziu-se também no âmbito prático: os estudos jurídicos em Direito Romano e Canônico produziram códigos de leis e o século XIV, famoso pela tenebrosa Peste Negra, nos legou dois artefatos de atual utilidade: o relógio mecânico e os óculos.

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Imagem: Catedral de Chartres, em Paris (França), construída em 1145

Amor à Beleza: A Idade Média teve vários estilos artísticos e amou a beleza como reflexo da ordem e da bondade divinas. Lembravam-se os homens do medievo de Santo Agostinho ao dizer que Deus tudo havia feito com número, peso e medida. A Criação era vista como uma construção ordenada, fruto da inteligência divina. A Criação também era vista como uma bela polifonia, onde todas as criaturas cantavam, em suas distintas vozes, a Glória de Deus. Um dos homens mais austeros da Igreja, o monge Bernardo de Claraval, escreveu em um sermão o mais encantador elogio da beleza do corpo humano. A beleza das igrejas românicas e góticas ainda hoje nos impressiona pela monumentalidade e doce harmonia da unidade de suas formas. Mesmo em suas épocas de maior dificuldade, o período medieval produziu obras artísticas de incrível sensibilidade e beleza.

Dinamismo: Dinamismo é uma palavra que, a meu ver, define a essência da Idade Média. A começar pelas cortes itinerantes de seus monarcas que tardaram a se fixar em capitais. Na política, nas artes, no meio erudito predominam as transformações. Quando

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no século XII o abade Suger decide fazer uma reforma para ampliar sua abadia de St-Dennis, na França, gera uma arquitetura completamente nova, visando expressar em suas linhas e em sua obsessão pela entrada de luz no edifício a Teologia da Luz, fruto da redescoberta dos tratados de influência neoplatônica do Pseudo-Dionísio Areopagita. Pela mesma época, a sobreposição de vozes em cima da tradicional melodia do cantochão gregoriano abria o caminho para a polifonia na música. Se pensarmos em ambientes bastante heterogêneos como os reinos da Península Ibérica ou as cidades italianas, esse dinamismo torna-se ainda mais notável. Entretanto, o dinamismo mais característico foi o das universidades: o homem de saber medieval era um cidadão da Cristandade, deslocando-se frequentemente em busca do conhecimento e dos mestres famosos.

Incorfomismo: Em muitos livros didáticos vemos aquela visão herdada pelo marxismo de que o homem medieval era conformado com os males e injustiças que sofreria por resignar-se à vontade da Providência Divina. Não é apenas uma notação estulta de Providência e aceitação da vontade divina, como também um desconhecimento de alguns fatos e elementos da Idade Média. Os tão propagados abusos do clero recebiam na época críticas de homens da Igreja mais ácidas do que de muitos reformadores protestantes, como as críticas escritas no século XI pelo cardeal e monge beneditino Pedro Damião. A jovem Catarina de Siena criticava os vícios da Cúria Pontifícia e a relutância de Gregório XI em retornar à Roma na frente do próprio papa e seu Colégio Cardinalício. A consciência de que a moral e a ética deveriam ser também vividas no âmbito da política era algo bastante conhecido dos homens de saber medievais. Uma farta literatura de Espelhos de Príncipes, tratados moralizantes destinados aos monarcas, floresceu ao longo de toda a Idade Média. Os vícios dos homens, especialmente os de poder, eram apontados por eclesiásticos e explorados como argumento pelos movimentos heréticos. As danças da morte, a qual o povo igualmente tinha acesso, escarnecia dos pecados dos homens de todas as condições que esqueciam-se frequentemente de que a morte um dia lhes pediria contas.

A “Idade da Luz”?

A medievalista Régine Pernoud, desejosa de desmistificar a Idade Média enquanto um período tenebroso, chamou-a de “Idade da Luz”. Naturalmente, a historiadora não era ingênua para achar que o medievo fora perfeito e nem mesmo o papa Leão XIII nutria tal suposição quando indiretamente referiu-se ao período medieval como “um tempo em que a filosofia do Evangelho governava as nações”.

É importante que, ao refutarmos o mito da Idade das Trevas, não cultivemos uma mentalidade arqueologista e romântica como a dos criadores da arte neogótica, que viam na Idade Média a perfeição cristã, tratando tudo o que a antecedera como mera preparação e tudo o que a sucedera, lamentável decadência. A Idade Média foi um período com qualidades e defeitos como os demais. O que a diferencia de outros tempos é uma maior influência que os valores cristãos exerceram sobre o âmbito social e institucional, tendo isso contribuído para muitas melhorias, embora não fosse possível, naturalmente, erradicar todos os males nesse campo onde joio e trigo se misturam até que chegue a colheita.

É bom sempre termos diante de nossas consciências que a melhor época que há é aquela na qual estamos inseridos, pois foi aquela na qual Deus nos colocou e aquela na qual

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temos a capacidade de trabalhar por mudanças e melhorias. Essas melhorias não nascem de grandes ações, mas sim de nossa conduta diária, que pode fazer a diferença.

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CITAÇÕES:

renomado historiador medievalista Jacques Le Goff, a Idade Média foi

“... uma época que não foi de trevas nem imune ao progresso; ao contrário, foi uma época fértil de invenções vitais e importantes ...” (Jacques Le Goff)

historiador Hilário Franco Junior:

“(...) o período entre os séculos IV e XVI é tradicionalmente conhecido por Idade das Trevas, Idade da Fé ou, com mais freqüência, Idade Média. Todos eles rótulos pejorativos, que escondem a importância daquela época na qual surgiram os traços essenciais da civilização ocidental. Nesta, mesmo países surgidos depois daquela fase histórica –caso do Brasil- têm muito mais de medieval do que à primeira vista possa parecer. Olhar para a Idade Média é estabelecer contato com coisas que nos são ao mesmo tempo familiares e estranhas, é resgatar uma infância longínqua que tendemos a negar mas da qual somos produto. De fato, para o homem do Ocidente atual compreender em profundidade a Idade Média é um exercício imprescindível de autoconhecimento (...)”. (Hilário Franco Junior)

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Idade Média Idade da Luz

A idade das trevas não foram de trevas mas foram IDADE DE FÉ.Os protestantes têm a falsa noção em geral que do oitavo para o décimo quinto século, os séculos foram as eras de ignorância, opressão, superstição e tudo isso. Pensava-seque as pessoas daquela época eram analfabetas, imorais, selvagens e em luta direta com bárbaros.Tudo isso foi atribuído ao julgo de Roma que mantinha as pessoas na ignorância. A luz da reforma brilhou essa escuridão e deu a luz da liberdade àos europeus. Não.A era das trevas foram eras cheia de luz em comparação com os 400 anos que o protestantismo trouxe ao mundo, que foi deformado ao invés de reformado.Dois séculos agora os escritores podem chamar o nosso vigésimo primeiro século de século da injustiça, miséria, amor livre, debocheira, banditismo, embriaguez, desonestidade, imoralidade, incredulidade, etc., comparado com a era das trevas, que pode-se chamar era sagrada.A era das trevas construíram as magníficas catedrais e abadias cuja arquitetura não foi rivalizada por qualquer gênio arquitetônico do vigésimo primeiro século de progresso e alta educação.Veja o terrível contraste entre as pinturas de nosso século e os da idade das trevas.Nossas universidades produzem filosofia como de pensadores como são Tomás de Aquino e são Boaventura, Alberto Magno, Scotus e Bacon?Tem esta idade um sistema escolástico que é melhor que a dos escolásticos, cujo método de aprendizagem e pensar está agora sendo imitado em nossas universidades depois de anos de se desviar da verdadeira educação?Uma idade que produziu sociólogos como Francisco Xavier, Francisco de Assis, Ignácio de Loyola e outros não pôde ser intelectualmente escura e estericamente bíblica. O ensino prático que as pessoas dessa chamada Era das Trevas receberam dos padres e monges na igreja e escola era de um valor moral e intelectual muito maiores que nossa mocidade está tendo hoje.

O medievalistas tiveram o conhecimento de Deus em suas almas e por isso o estudioso protestante, dr. Maitland, elogia tanto a Era das Trevas. Seu livro sobre a Era das Trevas mostra que foi a idade média uma era fechada aos protestantes. Seus estudos imparciais mostram os tesouros dessa época. Na pág. 469 de seu livro “Dark Ages” (Era das Trevas) ele escreve: “O fato é. . . os escritos da Era das Trevas são, se eu posso usar a expressão, feitos das Escrituras”.Outro historiador protestante diz, “a noção que a leitura da Bíblia era vista com desagrado pelas autoridades eclesiásticas daquela idade é bastante infundada”. Prova é bastante abundante que a Igreja fez amplo uso da Bíblia instruindo as pessoas antes da Reforma.A Missa é quase feita toda da Escritura e em toda Missa era comum ler uma parte das Escrituras e explicá-la às pessoas. Pedia-se às pessoas que se mantivessem em respeito enquanto o Evangelho era lido a elas.Os sermões da idade média eram mais cheios de citações bíblicas que os púlpitos de hoje. O Ofício Divino ou o breviário ditos cada dia pelos padres eram feitos da Bíblia.O rosário era outra Bíblia nas mãos das pessoas pois esta religiosa devoção ensinou aos católicos a meditar nos mistérios bíblicos. Os fundamentos do NT eram meditados enquanto o rosário era rezado.

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Antes de vir a Bíblia impressa, a Igreja ensinava as pessoas com peças de Paixão e Milagre.Se a Igreja manteve a Bíblia das pessoas, como se explica o alto conhecimento das Escrituras por Chaucer, Dante, Shakespeare e outros autores cristãos? Como se explica a declaração de Ruskin que as paredes de são Marcos em Veneza eram a Bíblia do homem pobre? Como Michelangelo, Murillo, Rafael e outros escultores católicos e artistas poderiam retratar na tela e em pedra cenas bíblicas se a Igreja mantivesse a Bíblia das pessoas?