Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
IDOSO BRASILEIRO: UM RETRATO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO
ALIMENTAR E CONDIÇÕES DE SAÚDE ASSOCIADO AOS FATORES
SOCIODEMOGRÁFICOS, NO PERÍODO DE 2008 A 2012*
LILLIAN KARIELLY DE ARAÚJO GOMES1,
MARIA CÉLIA DE CARVALHO FORMIGA2,
PAULO CESAR FORMIGA RAMOS3,
MARIA DE JESUS XAVIER AGUIRRE4
Palavras-Chave: Envelhecimento humano. Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Consumo
alimentar. Fatores nutricionais. Fatores sociodemográficos.
*Trabalho apresentado durante o VII Congresso de la Asociación Latinoamericana de Población e o XX
Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu, 17 a 22 de Outubro de 2016. 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Demografia/UFRN. 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Demografia/UFRN. 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Demografia/UFRN. 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Demografia/UFRN.
IDOSO BRASILEIRO: UM RETRATO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO
ALIMENTAR E CONDIÇÕES DE SAÚDE ASSOCIADO AOS FATORES
SOCIODEMOGRÁFICOS, NO PERÍODO DE 2008 A 2012
O envelhecimento populacional e o consequente aumento na expectativa de vida no Brasil
tem levado ao desenvolvimento de Doenças Crônicas e degenerativas que, certamente, estão
associadas tanto aos aspectos nutricionais quanto ao meio sociodemográfico no qual o
indivíduo se insere. Sabendo das particularidades regionais que acompanham os hábitos
alimentares, é importante identificar de que forma a relação de consumo se estabelece com os
aspectos de saúde desse grupo e seus condicionantes sociodemográficos, nas diferentes
regiões. Dessa forma, se constitui como objetivo geral deste trabalho, analisar os fatores
nutricionais e sociodemográficos que podem estar relacionados com o estado de saúde dos
idosos brasileiros, em anos recentes. As fontes dos dados foram: Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF-2008-2009), Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de
Políticas do Idoso (SISAP - Fundação Oswaldo Cruz), 2009 e 2012 e o Censo Demográfico
2010. Utilizando a unidade federativa (UF) como unidade de análise, realizou-se uma análise
descritiva e aplicou-se o teste U de Mann-Whitney, com significância de 5%. Os resultados
preliminares apontam que o consumo alimentar melhora com o avançar da idade
(comparando-se adultos e idosos). Foi possível observar que o consumo alimentar tem
melhorado com o avançar da idade, porém, ainda apresentam grande consumo de carboidratos
(associado aos alimentos típicos da região – mandioca e seus subprodutos, farinha de milho e
batata doce), notou-se também consumo de proteínas acima da necessidade diária. Aliada à
questão do consumo, observou-se que a região Nordeste apresenta taxas de internação de
idosos para tratamento de morbidades (TITM) como AVC, Diabetes Mellitus e Hipertensão
que se encontram entre as três maiores do país. Associações estatisticamente significantes
foram observadas entre as TITM e indicadores sociodemográficos. Conclusões iniciais
permitem inferir que, apesar de se constatar uma melhora na ingestão dietética com o passar
da idade, os hábitos pregressos do idoso interferem no seu estado de saúde atual. Bem como,
destaca-se também a associação proporcional entre condição socioeconômica e condições de
acesso à qualidade alimentar e de saúde entre os idosos da região Nordeste.
Palavras-Chave: Envelhecimento humano. Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Consumo
alimentar. Fatores nutricionais. Fatores sociodemográficos.
IDOSO BRASILEIRO: UM RETRATO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO
ALIMENTAR E CONDIÇÕES DE SAÚDE ASSOCIADO AOS FATORES
SOCIODEMOGRÁFICOS, NO PERÍODO DE 2008 A 2012
INTRODUÇÃO
A situação demográfica atual tem demonstrado o quão significativo e constante vem
sendo o crescimento da população idosa mundial. No Brasil, o número de idosos (≥60 anos de
idade) passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002. Tal
fenômeno, que outrora fazia parte da realidade de países desenvolvidos, só tem se
intensificado em países em desenvolvimento. Esta realidade se deve, entre outros fatores, às
mudanças no perfil social da população, à inserção da mulher no mercado de trabalho,
acarretando em postergação da maternidade, à melhoria do acesso aos sistemas de saúde e ao
aumento da expectativa de vida da população, especialmente na faixa idoso tardio (≥75 anos)
(LIMA-COSTA; VERAS, 2003).
Contudo, apesar de, numericamente, tais dados apresentarem aspecto positivo, é
importante ressaltar que o aumento da expectativa de vida não vem sendo acompanhado por
proporcional qualidade de vida desta população (BRITO et al., 2013). Isso por que, nessa
idade, ocorre uma série de mudanças de maneira mais acentuada, dentre elas as fisiológicas,
psicológicas, comportamentais e sociais.
Vários aspectos corroboram para a importância do debate acerca do envelhecimento e
seu processo de amplo crescimento, principalmente por se tratar de um avanço que, tanto no
Brasil quanto em outros países em desenvolvimento, ocorreu de maneira rápida e
desvinculada à criação de políticas sociais favoráveis, o que, consequentemente, vem
acarretando em menor qualidade de vida entre os idosos, os quais têm apresentado cada vez
maior número de doenças crônicas e limitações funcionais (NOGUEIRA et al., 2008).
As doenças crônicas têm se apresentado cada vez mais cedo entre os jovens, se
instalando ainda em maior proporção entre os idosos e são responsáveis, muitas vezes, pela
diminuição da qualidade de vida dos mesmos, piorando sua condição geral de saúde
(FONSECA; PAÚL, 2008). Estudos como o de Alves et al. (2007) demonstraram que o
desenvolvimento de doenças crônicas, tais como, a hipertensão, o sobrepeso, obesidade e
diabetes mellitus pode estar associado a uma diminuição da capacidade funcional do
indivíduo, uma vez que tais ocorrências atuam sob o organismo e suas funções, delimitando-
as; demandam a utilização de medicamentos; interferem na rotina do idoso; em casos de
agravamento podem requerer internação, gerando assim uma sequência de consequências
negativas para a realização das atividades diárias, bem como para o próprio sistema de saúde.
Vale ressaltar ainda que o surgimento dessas doenças pode estar associado a uma série
de fatores, desde genéticos, aos hábitos de vida praticados no decorrer dos anos, que incluem
falta de atividade física e escolhas alimentares, as quais também estão condicionadas a fatores
econômicos, culturais, religiosos e sociais (SAMPAIO, 2004). Todos esses fatores associados
e ligados a aspectos sócio-comportamentais podem influenciar no estado de bem estar do
idoso.
Sob o ponto de vista dos hábitos cotidianos o consumo alimentar e o sedentarismo
apresentam uma forte associação, enquanto fatores de risco, com o surgimento de doenças de
caráter crônico, principalmente com estas que compõem o grupo das doenças endócrinas
nutricionais e metabólicas. Dentre elas, as doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão,
as quais afetam de maneira mais intensa o grupo que mais cresce na população, os idosos
(NASCIMENTO et al., 2011).
As alterações no perfil demográfico da população trazem à tona questões que
preocupam os sistemas públicos de governo. As condições de saúde de uma população que só
tende a aumentar influenciam na sua capacidade produtiva e na sua expectativa de vida, bem
como nos resultados que esta população ainda pode proporcionar à sociedade. Nesse sentido,
se nota a importância de se compreender os fatores que interferem na melhor ou pior
qualidade de vida da população idosa, como os fatores nutricionais e sociodemográficos
relacionados, uma vez que é essencial agir no presente, a fim de evitar que a longo prazo essa
população seja fonte de gastos para o sistema previdenciário e de saúde (FERNANDES;
SOARES, 2012). Dessa forma, se constitui como objetivo geral deste trabalho, analisar os
fatores nutricionais e sua relação com os aspectos sociodemográficos, destacando a sua
relação com o estado de saúde dos idosos brasileiros, em anos recentes.
METODOLOGIA
ANÁLISE DOS ASPECTOS NUTRICIONAIS
Foi realizada análise descritiva e exploratória dos dados de consumo alimentar
(alimentos e bebidas consumidos) dos indivíduos idosos de ambos os sexos, fornecidos pela
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF/IBGE), referente ao biênio 2008-2009, tomando-se a
Unidade Federativa (UF) como unidade de análise. Foi utilizada esta fonte, neste período, a
fim de obter dados de consumo alimentar mais recentes.
ANÁLISE DOS FATORES DE MORBI-MORTALIDADE DO IDOSO
Outra fonte de dados foi o Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de
Políticas do Idoso (SISAP - Fundação Oswaldo Cruz) para análise dos fatores de
morbimortalidade relacionados ao consumo alimentar de indivíduos idosos, de ambos os
sexos, entre os anos de 2009 e 2012, anos em que se apresentam os dados de
morbimortalidade do respectivo sistema de indicadores.
ANÁLISE SOCIODEMOGRÁFICA
Foram analisadas informações do Censo Demográfico de 2010, a fim de confrontar
dados referentes ao grau de escolaridade e renda média per capita, de ano recente próximo ao
período de análise das demais variáveis.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Realizou-se análise descritiva dos dados, comparando as informações de consumo
alimentar e taxa de internações de idosos para tratamento de morbidades (TITM) com
aspectos sociodemográficos. Aplicou-se o teste U de Mann-Whitney, com significância de
5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da análise dos dados de consumo alimentar e morbidade (fatores
reconhecidamente interferentes do estado geral de saúde do indivíduo), de idosos brasileiros
puderam-se observar algumas particularidades. De um modo geral, a qualidade do consumo
alimentar tem melhorado no decorrer dos anos, assim como, entre as próprias fases da vida,
ou seja, há um maior consumo de alimentos saudáveis quando comparado às idades adulto e
jovem.
Entre as regiões, os idosos do norte e nordeste apresentaram alto consumo de
alimentos de maior densidade energética (carboidratos), bem como de produtos proteicos.
Tais ocorrências podem estar associadas às características alimentares das regiões. Já nas
regiões sul e sudeste o consumo de fontes de carboidratos e proteínas, apresentado pela POF
(2008-2009), se apresentava próximo à média nacional de cerca de 230g e 70g,
respectivamente. No grupo dos lipídios se observou uma média de consumo semelhante entre
as regiões e entre estas e a média nacional – 49g. Os Gráficos 01 e 02 demonstram a média de
consumo da população idosa do sexo masculino e feminino, respectivamente, em todas as
regiões do Brasil, no período de 2008- 2009.
0
50
100
150
200
250
300
Proteínas Carboidratos Lipídios totais
Co
nsu
mo
em
g
Gráfico 01. Média de consumo (g) de idosos do sexo masculino,
entre as regiões brasileiras,no período de 2008-2009
NE
N
SE
S
CO
BRASIL
Já o Gráfico 03 indica o consumo médio (mg) de alimentos fontes de colesterol entre
os diferentes grupos etários, de ambos os sexos, no período de 2008-2009. É possível
observar que o maior consumo se dá entre as mulheres (Gráfico 03. B), principalmente
residentes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, destacando-se àquelas pertencentes à
faixa de 15-59 anos de idade. Entre os homens (Gráfico 03. A) o consumo se demonstra mais
homogêneo, porém com destaque também elevado para as regiões Norte e Nordeste.
O Gráfico 04 aponta o consumo médio de ácidos graxos (g) entre os grupos etários,
entre as regiões e entre os sexos. Nesse caso é possível observar que o maior consumo de
0
50
100
150
200
250
300
Proteínas Carboidratos Lipídios totais
Co
nsu
mo
em
g
Gráfico 02. Média de consumo (g) de idosos do sexo feminino,
entre as regiões brasileiras,no período de 2008-2009
NE
N
SE
S
CO
BRASIL
0 50 100 150 200 250 300 350 400
10-13 anos
14-18 anos
19-59 anos
60 anos e mais
10-13 anos
14-18 anos
19-59 anos
60 anos e mais
Consumo em mg
Gráfico 03. Consumo de colesterol (mg) entre os grupos
etários dos sexos masculino (A) e feminino (B), por regiões do
país, no período de 2008-2009
CO
S
SE
NE
N
(A)
(B)
ácidos graxos se encontra entre a população masculina, sendo a maior concentração entre 14-
59 anos. Apesar do consumo de componentes do grupo dos lipídios ser menor entre os idosos,
o elevado consumo de carboidratos pode representar riscos no que se refere à ocorrência de
doenças que compõem o grupo das doenças cardiovasculares. Além disso, se observa que as
regiões apresentam maior homogeneidade quanto ao consumo de ácidos graxos.
Ao analisar informações referentes ao estado de saúde pode-se dizer que há uma
elevada taxa de casos de internações para tratamento de doenças que de caráter crônico. A
esse fato pode-se associar que o consumo alimentar durante a fase jovem da vida é importante
fator influente para a ocorrência ou não de doenças durante a velhice.
No que concerne ao estado de saúde do idoso brasileiro, é possível destacar a região
nordeste, a qual apresentou, no período de 2009-2012, taxas de internação de idosos para
tratamento de morbidades (TITM) como AVC, Diabetes Mellitus e Hipertensão que se
encontram entre as três maiores do país (BRASIL, 2015). Mais um aspecto que reflete o
hábito alimentar pregresso, bem como o estado de saúde e qualidade vida durante a fase
jovem, é marcado ainda por alto consumo de gorduras e açúcares, produtos industrializados,
entre outros.
O Gráfico 05, por exemplo, indica o comportamento das taxas de internação de idosos
para tratamento (TIIT) de AVC nos estados do Nordeste, no período de 2009-2012. Nesse
caso se observa que o comportamento das internações para tratamento dessa doença se
modificou em alguns estados, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, por exemplo,
0
20
40
60
80
100
120
10-13
anos
14-18
anos
19-59
anos
60 anos
e mais
10-13
anos
14-18
anos
19-59
anos
60 anos
e mais
Co
nsu
mo
em
g
Gráfico 04. Consumo de ácidos graxos (g) entre os grupos etários
dos sexos masculino (A) e feminino (B), por regiões do país, no
período de 2008-2009
CO
S
SE
NE
N
(A) (B)
diminuíram suas taxas de internação entre os dois anos. Enquanto Pernambuco e Bahia
apresentaram elevação das taxas.
Já os Gráficos 06 e 07 que seguem indicam o comportamento das internações que
apresentaram como causa doenças isquêmicas do coração e infarto agudo do miocárdio,
respectivamente. Nesse caso o perfil de internações se eleva entre os anos de 20009 e 2012 no
que se refere às doenças isquêmicas, com exceção apenas para o estado da Paraíba. Do
mesmo modo, também houve elevação das internações por infarto agudo do miocárdio, com
exceção também da Paraíba. Caberia, nestes casos, uma pesquisa mais aprofundada a fim de
observar as particularidades do estado de Paraíba do ponto de vista da saúde nutricional e
geral dos idosos, a fim de compreender o porquê desse padrão de internações diferenciado.
- 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Gráfico 05. TIIT de AVC nos estados do Nordeste
brasileiro, 2009-2012.
2009
2012
0
10
20
30
40
50
60
70
Gráfico 06. TII por doenças isquêmicas do coração nos
estados do Nordeste brasileiro, 2009-2012.
2009
2012
Destaca-se ainda que do ponto de vista das análises sociodemográficas, foram
encontradas associações estatisticamente significantes entre as TITM e indicadores
sociodemográficos - renda média per capita, grau de escolaridade.
Tais análises refletem a importância de abordagem do tema, uma vez que o processo
de transição demográfica afeta todos os aspectos sociais e culturais de uma população. Este
fenômeno que ocorre uma única vez em cada país e de maneira sincrônica com o processo de
desenvolvimento tecnológico-urbano-industrial, se inicia a partir da queda das taxas de
mortalidade e com o tempo, prossegue com a queda das taxas de natalidade. Inicialmente tem-
se uma aceleração do crescimento vegetativo da população, com seguinte desaceleração desse
crescimento e, por fim, estabilização ou mais decréscimo. Algumas explicações sugerem que
a melhoria do padrão de vida da população, em detrimento do aumento das forças produtivas
ou da melhora dos sistemas públicos de saúde, tem importante papel na redução da
mortalidade. A transição desse processo de mortalidade associada à transição epidemiológica,
bem como à própria queda da natalidade, tem se constituído enquanto elementos basilares do
processo civilizatório (ALVES, 2014).
Diante disso, a transição da estrutura etária, consequência da transição demográfica,
faz com que também ocorram mudanças nos processos sociais, uma vez que a pirâmide etária
tem deixado de ser predominantemente jovem, para iniciar um processo progressivo de
envelhecimento. Estudos apontam que entre 1950-2100 as mudanças podem ser altamente
significativas, tanto no tocante à idade quanto ao sexo. Estruturas etárias de 1950 e 1980
0
5
10
15
20
25
Gráfico 07. TII por infarto agudo do miocárdio nos estados
do Nordeste brasileiro, 2009-2012.
2009
2012
apresentavam bases largas com alta prevalência de crianças nas idades iniciais e o topo da
pirâmide estreito indicando reduzido número de idosos. Em 1950 existiam, no Brasil, 9
milhões de crianças entre 0 e 4 anos de idade, representando 16,6% da população total,
enquanto os idosos somavam 2,6 milhões, representando 4,8% da população. Em 1980, 17
milhões de crianças na mesma faixa etária, representando 14% da população, com 7,7 milhões
de idosos, representando 6,3% da população. Em 2000 esses números diminuíram para 10% e
8,1%, crianças e idosos, respectivamente. Seguindo essa tendência as projeções indicam, para
o ano de 2030, uma população de 6% e 18,7%, de crianças e idosos, respectivamente;
chegando em 2100, aos números de 4,6% de crianças contra 38,4%. Ou seja, ao término do
século XXI, cerca de 4 em cada 10 brasileiros será idoso (WONG e CARVALHO, 2005;
ALVES e CAVENAGHI, 2012).
Dessa forma, diante de tamanha discussão e considerando o crescimento significativo
da população idosa, alguns aspectos requerem maior destaque. A população idosa, em
especial, apresenta características bastante singulares, que tem se modificado dentro da
relação espaço-tempo. Seu contexto existencial varia de região para região e mesmo entre os
estados de uma mesma região, como foi possível observar em alguns resultados apresentados,
fato que demanda maior atenção no sentido de pesquisas que atrelem tais particularidades
constantemente influenciadas pelo comportamento demográfico (BERCOVICH, 1993). Nesse
grupo populacional os níveis de mortalidade aumentam cada vez mais com o passar da idade,
sendo essencial a preocupação em reduzir essas taxas e ampliar a qualidade dos anos vividos.
(BELFORT; OLIVEIRA, 2001; SESSO; GAWRYSZEWSKI; MARCOPITO, 2010).
Por isso, tratar de questões relacionadas ao hábito alimentar e o comportamento social,
associados às modificações demográficas é uma questão necessária quando se observa as
projeções frente às mudanças na estrutura demográfica e social da população, que, mais do
que nunca, demandará ações do sistema público a fim de propor assistência adequada às
particularidades de cada grupo populacional, de maneira particular dos idosos.
CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos, é possível concluir que, apesar de se constatar uma
melhoria na ingestão dietética com o passar da idade, os hábitos pregressos do idoso
interferem no seu estado de saúde atual. Além disso, fica claro a diversidade existente entre as
diferentes regiões no tocante aos aspectos alimentares e, consequentemente, seu perfil de
saúde.
Nesse contexto, os indivíduos idosos da região Nordeste apresentam um grau de
internação para tratamento de morbidades ainda elevado e que deve ser considerado pelo
poder público, uma vez que os gastos para tais tratamentos despendem muitos recursos
financeiros para o sistema de saúde e, considerando que a pirâmide etária cada vez mais
aponta um alargamento do seu ápice, indicando aumento considerável da população idosa, se
faz realmente importante que haja uma articulação no sentido de promover campanhas
constantes de saúde para os adultos e jovens de hoje, os quais representarão a massa
populacional idosa daqui há alguns anos.
A partir disso, é essencial destacar a importância da discussão acerca dos hábitos
alimentares, do papel do debate em Nutrição, bem como da reflexão acerca das influências
que as atitudes alimentares exercem sobre a condição de saúde dos indivíduos, de maneira
mais específica, sobre o grupo que mais tende a crescer e demandar assistência social e de
saúde. Destaca-se ainda, a relevância do debate e confronto entre dados, como os aqui
trabalhados, e informações referentes ao contexto social e econômico no qual o indivíduo se
insere, uma vez, a relação existente entre ambos é essencial para explicar e demonstrar
relações condicionantes e condicionadas que podem existir entre os contextos, que, na sua
essência, são interligados.
REFERÊNCIAS
ALVES, J. E. D.; CAVENAGHI, S. Transições urbanas e da fecundidade e mudanças dos
arranjos familiares no Brasil. Cadernos de Estudos Sociais, v. 27, n. 2, Recife, 2012
ALVES, J. E. D. Transição Demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento.
Revista Portal de Divulgação, n. 40, ano. IV, mar./abr./mai., 2014.
BELFORT, R.; OLIVEIRA, J. E. P. Mortalidade por Diabetes mellitus e Outras Causas no
Município do Rio de Janeiro – Diferenças por Sexo e Idade. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia e Metabologia, v. 45, n. 5, p. 460-466, out., 2001.
BERCOVICH, A. M. Características regionais da população idosa no Brasil. Revista
Brasileira de Estudos Populacionais, Campinas, v. 10, n.1/2, p. 125-143, 1993.
BRASIL. Censo Demográfico 2010. Banco de dados Agregados, SIDRA, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: <
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=3986> Acesso em: março de 2016.
BRASIL, Ministério da Saúde, Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de
Políticas do Idoso – SISAP, Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: <
http://www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/index.php> Acesso em: setembro de 2015.
BRASIL, Ministério da Saúde, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, Análise de Consumo Alimentar Pessoal no
Brasil, Rio de Janeiro, 2011.
BRITO, M. C. C.; FREITAS, C. A. S. L.; MESQUITA, K. O.; LIMA, G. K. Envelhecimento
Populacional e os Desafios para a Saúde Pública: Análise da Produção Científica. Revista
Kairós Gerontologia, São Paulo, v.16, n.3, p.161-178, 2013.
FERNANDES, M. T. O.; SOARES, S. M. O desenvolvimento de políticas públicas de
atenção ao idoso no Brasil. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46, n. 6, São
Paulo, dez., 2012.
FONSECA, A. M.; PAÚL, C. Saúde e qualidade de vida ao envelhecer: perdas, ganhos e um
paradoxo. Geriatria e Gerontologia, v.2, n.1, p.32-7, 2008.
LIMA-COSTA, M. F.; VERAS, R. Saúde pública e envelhecimento. Cadernos de Saúde
pública, Rio de Janeiro, v.19, n.3, p. 700-701, mai./jun., 2003.
NASCIMENTO, C. M.; RIBEIRO, A. Q.; SANT'ANA, L. F. R.; OLIVEIRA, R. M. S.;
FRANCESCHINI, S. C. C.; PRIORE, S. E. Estado nutricional e condições de saúde da
população idosa brasileira: revisão da literatura. Revista Médica de Minas Gerais, v. 21, n.
2, Viçosa, Minas Gerais, 2011.
NOGUEIRA, S. L.; GERALDO, J. M.; MACHADO, J. C.; RIBEIRO, R. C. L. Distribuição
espacial e crescimento da população idosa nas capitais brasileiras de 1980 a 2006: um estudo
ecológico. Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, v.25, n.1, p.195-198,
jan./jun., 2008.
SESSO, R.; GAWRYSZEWSKI, V. P.; MARCOPITO, L. F. Mortalidade por Diabetes
mellitus no estado de São Paulo com ênfase nos anos de 2005-2007. Boletim Epidemiológico
Paulista, São Paulo, v. 7, n. 73, p.11-20, 2010.
WONG, L., CARVALHO, J. A. M. Demographic bonuses and challenges of the age
structural transition in Brazil. Paper presented at the XXV IUSSP General Population
Conference. Tours, France, 18-23 de julho de 2005.