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1. O impacto do funcionalismo estrutural' 2. A contribuição sistêmica; 3. Trabalhos estruturalistas recentes: 4. Influências da psicologia social' 5. Alternativas à teoria e à pesquisa organizacionais. Carlos Osmar Bertero* * Professor do Departamento de Administração Geral e Relações Industriais da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, EAESP/FGV, coordenador do Curso de Mestrado em Administração da EAESP/FGV. R. Adm. Emp.. Rio de Janeiro, Não é estranha à literatura administrativa e organi- zacional a critica de que teorias de administração ou de organização podem ser vistas como ideologias. O tra- balho pioneiro de Reinhard Bendíx,' que por razões in- te1egíveis não encontrou grande acolhida nos Estados Unidos, bem como o de Mauricio Tragtenbergf cons- tituem excelentes exemplos de análise de algumas teorias administrativas, em busca de seus conteúdos ideolôgicos, O que não recebeu ainda a devida atenção foi o pr6prio quadro teórico onde a teoria da organização vem se fundamentando. Embora os últimos anos te- nham sido marcados por acerbas criticas à sociologia acadêmica norte-americana, e especialmente ao fun- cionalismo estrutural em sua versão parsoiiiãDa:"crlHcas 1squãiSmuitos cientistas sociais que se ocupam de or- ganizações têm aderido, é fato inegável que a teoria or- ganizacional tem pautado o seu desenvolvimento ao lon- go de um quadro de referência funcionalista. ,. \. . '. Se admitirmos que os principais corpos doutrinários 1' t em sociologia são o funcionalismo e o marxismo, é clara i j~, / a falta de influência marxista no desenvolvimento i :/ teôrico, bem como de determinação dos interesses de I pesquisa. . Sobre o desinteresse do marxismo pela teoria das or- ganizações, ele faz-se claro a partir do tratamento do problema contido nos trabalhos do pr6prio Marx e pos- teriormente em Lenin. Desde o inicio, para o marxismo, a teoria das organizações estava identificada com bu- rocracia e portanto, conseqüentemente, com sua carga reacionária. Na verdade, as referências de Marx à burocracia são encontradas na sua obra Crítica às lições de filosofia do direito de G. W. F. Hegel, onde a grande preocupação é apontar o. comprometimento do pensamento politico e jurídico hegeliano com o Estado prussiano, bem como o caráter instrumental do Estado sob controle da classe dominante. Marx opõe o que ele entende ser o particularismo da , burocracia! a sua natureza pretensamente mediadora, enquanto iqstrumento do universal, em oposição ao par- ticUlarismo'~~ahs!!?daS v~ias unidades. que in- tegram a soc1eaa e CIV11, maneira como surgia a bu- rocracia no contexto da sociedade global, vista de um prisma hegeliano. Para Marx a burocracia integra a estrutura de do- minação do Estado como conjunto de instrumentos de que a classe dominante lança mão a fim de manter o privilégio e o sistema de acumulação capitalista. A análise de Marx sobre o problema encaminha-se para a análise do burocrata ou do funcionário, e o que é cri- ticado por Marx é o que se chamaria posteriormente de "ritualismo" e de "liturgia" do fu.ncionário,~ ~e -< - tU(} manifestam no pedantismo, no sistema de ~ LIA deferência e respeito, no culto dos simbolos de status e na formalização do relacionamento entre o funcionário e os demais membros da sociedade. :t;: parte do ritualismo um conjunto de atitudes que buscam conferir importân- cia às tarefas burocrâtícas.t Todas estas manifestações revelam a ambigüidade profunda do burocrata, que é proletário, uma vez que constitui grupo sem posses, e vê- se levado a ser parte na implementação de um sistema 15(6) : 27.37, nov.ldez.1975 influências sociológicas em teoria organizacional

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1. O impacto do funcionalismoestrutural'

2. A contribuição sistêmica;3. Trabalhos estruturalistas recentes:

4. Influências da psicologia social'5. Alternativas à teoria e

à pesquisa organizacionais.

Carlos Osmar Bertero*

*Professor do Departamento deAdministração Geral e Relações

Industriais da Escola de Administraçãode Empresas de São Paulo da

Fundação Getulio Vargas, EAESP/FGV,coordenador do Curso de Mestrado

em Administração da EAESP/FGV.

R. Adm. Emp.. Rio de Janeiro,

Não é estranha à literatura administrativa e organi-zacional a critica de que teorias de administração ou deorganização podem ser vistas como ideologias. O tra-balho pioneiro de Reinhard Bendíx,' que por razões in-te1egíveis não encontrou grande acolhida nos EstadosUnidos, bem como o de Mauricio Tragtenbergf cons-tituem excelentes exemplos de análise de algumasteorias administrativas, em busca de seus conteúdosideolôgicos,

O que não recebeu ainda a devida atenção foi opr6prio quadro teórico onde a teoria da organizaçãovem se fundamentando. Embora os últimos anos te-nham sido marcados por acerbas criticas à sociologiaacadêmica norte-americana, e especialmente ao fun-cionalismo estrutural em sua versão parsoiiiãDa:"crlHcas1squãiSmuitos cientistas sociais que se ocupam de or-ganizações têm aderido, é fato inegável que a teoria or-ganizacional tem pautado o seu desenvolvimento ao lon-go de um quadro de referência funcionalista. ,. \. . '.

Se admitirmos que os principais corpos doutrinários 1 ' tem sociologia são o funcionalismo e o marxismo, é clara i j~, /

a falta de influência marxista no desenvolvimento i :/teôrico, bem como de determinação dos interesses de Ipesquisa. .

Sobre o desinteresse do marxismo pela teoria das or-ganizações, ele faz-se claro a partir do tratamento doproblema contido nos trabalhos do pr6prio Marx e pos-teriormente em Lenin. Desde o inicio, para o marxismo,a teoria das organizações estava identificada com bu-rocracia e portanto, conseqüentemente, com sua cargareacionária.

Na verdade, as referências de Marx à burocracia sãoencontradas na sua obra Crítica às lições de filosofia dodireito de G. W. F. Hegel, onde a grande preocupação éapontar o. comprometimento do pensamento politico ejurídico hegeliano com o Estado prussiano, bem como ocaráter instrumental do Estado sob controle da classedominante.

Marx opõe o que ele entende ser o particularismo da ,burocracia! a sua natureza pretensamente mediadora,enquanto iqstrumento do universal, em oposição ao par-ticUlarismo'~~ahs!!?daS v~ias unidades. que in-tegram a soc1eaa e CIV11,maneira como surgia a bu-rocracia no contexto da sociedade global, vista de umprisma hegeliano.

Para Marx a burocracia integra a estrutura de do-minação do Estado como conjunto de instrumentos deque a classe dominante lança mão a fim de manter oprivilégio e o sistema de acumulação capitalista. Aanálise de Marx sobre o problema encaminha-se para aanálise do burocrata ou do funcionário, e o que é cri-ticado por Marx é o que se chamaria posteriormente de"ritualismo" e de "liturgia" do fu.ncionário,~ ~e -< - tU(}manifestam no pedantismo, no sistema de ~ LIAdeferência e respeito, no culto dos simbolos de status ena formalização do relacionamento entre o funcionário eos demais membros da sociedade. :t;: parte do ritualismoum conjunto de atitudes que buscam conferir importân-cia às tarefas burocrâtícas.t Todas estas manifestaçõesrevelam a ambigüidade profunda do burocrata, que éproletário, uma vez que constitui grupo sem posses, e vê-se levado a ser parte na implementação de um sistema

15(6) : 27.37, nov.ldez.1975

influências sociológicas em teoria organizacional

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Portanto, o quadro de influência que norteou a for-mação de interesses teóricos, bem como da temática depesquisa estiveram sempre calcados no quadro dofuncionalismo estrutural.

'7 A própria ori)!em sociol~ica da teoria .das organi-zações está em Max Weber e em Durkheim. );:clássica a

P importância do paradigma burocrático weberiano, mamenos lembrada, embora muito influente, é a visão dsociedade como organismo que se djferencia em etapassucessivas, tendo papel instrumental nesta diferenciaçãoo mecanismo de divis~do trabalho, fundamento da

Embora os países socialistas em sua evolução tenham diferenciação sócIo-ocupacional das sociedades. Emdescumprido as previsões de Lenin, não deixa de ser ver- consonância com a visão durkeimiana da sociedade, adade que o pensamento marxista ainda conserva <!!8anização [email protected]ürgecomo à maneira de organizarprofunda aversão pelo fenômeno da burocratização. a interação humana, a fim de adequá-la e compatibilizá-Além das razões históricas aqui apontadas, a saber, que la com a divisão do trabalho vigente. Fraseando-se destaa burocracia surgiu como parte do processo de con- I maneira, não resta dúvida de que a famosa e recente ,solidação do Estado nacional burgu.ês, outro dado .im- questão da variável tecnológica como determinante ou Iportante é que a organização associou-se, na tradição condicionante da estrutura perde boa parte de suamarxista, à burocratização e, conseqüentemente, à novidade e passa a fazer parte do universo das preo-imobilidade, permanência, rigidez e manutenção do eupações de um dos "pais fundadores" ~ pensamentqstatus quo. sociológic~. I T--P ()r- . Fot~-P Tu,....o/.!

1)w'~-17 COA.V. 4~ 6

de dominação que beneficia a uma classe, a qual ele cer-tamente não pertence.

Visto por este prisma, o burocrata representa "falsaautoridade", o que o leva à necessidade de desenvolveruma "falsa consciência", tarefa em que é bastanteauxiliado pela cultura. Hegel orgulhosamente compraz-se em apontar várias características do corpo de fun-cionários, que servem para capacitá-los ao exercício dastarefas administrativas, e coroando suas afirmações,Hegel declara que cultura é o apanágio dos funcioná-rios, bem como da classe média prussiana. 5

);:conhecida a reserva e a cautela com que Lenin con-siderava a burocracia. Sem dúvida, era um remanescen-te do Estado capitalista burguês, que a ditadura doproletariado herdara mas da qual deveria desvencilhar-se rapidamente pois que era incompatível com a so-ciedade comunista. A burocratização, sob regime so-cialista, deve ser evitada e para isto conclamava-se àdevida vigilância. Lenin julgava que a burocracia eraparte integrante do Estado burguês e a sua sobrevivên-cia fazia-se por causa da especificidade das tarefasburocráticas. Isto reduziu-se ao fato de que o burocrataseria necessário enquanto as tarefas próprias da ad-ministração do Estado (ainda existente na ditadura doproletariado) fossem suficientemente complexas. Oburocrata e a burocracia estavam fadados ao desapa-recimento pela queda inevitável da complexidade dotrabalho administrativo por força do processo da divisão

'crescente do trabalho. );: interessante notar aqui aaplicação, à análise do trabalho administrativo, dosmesmos princípios utilizados para explicar a simpli-ficação crescente do trabalho industrial. Na verdade, oelemento ausente do quadro é a mudança tecnológica.Dada a constância da tecnologia, e, conseqüentementeafastada a possibilidade de mudança ou inovação tec-nológica, o processo é cada vez mais controlável e sim-plificável pelas divisões sucessivas das operações neces-sárias à realização da tarefa, de tal modo que a com-plexidade da operação inicial e global é gradativamentesubstituída por grande número de operações simples ede fácil execução.

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O mesmo princípio aplicar-se-ia ao trabalho adminis-trativo, a tal ponto que a simplificação crescente dastarefas burocráticas dispensariam a existência de umcorpo de funcionários, uma vez que no entender dopróprio Lenin, qualquer cidadão, desde que alfabeti-zado, poderia ser funcionário público.

Revista de Administração de Empresas

1. O IMPACTO DO FUNCIONALISMOESTRUTURAL

Como os cientistas sociais de orientação marxista seausentavam do campo da teoria da organização, estaacabou recebendo indiscutivelmente influências profun-das de outra correntf}de pensamento que se iniciou comWeber e Durkheim ~e encontrou sua mais importantesistematização em meados de nosso século na obra deTalcott Parsons.

Boa parte da crítica contra Parsons surgiu paradoxal-mente, não de círculos marxistas, mas de cientistassociais norte-americanos, claramente não-marxistas, etodos bem formados e treinados como sociólogos fun-cionalistas. Tal descrição aplica-se ao falecido C. WrightMills, que foi indiscutivelmente pioneiro, bem como aAlvin Gouldner e I. Horowitz. Gouldner, famoso porsuas contribuições à sociologia acadêmica norte-americana, em seu livro Patterns of industrial bureau-crac:y6e nos seus artigos onde tipifica Cosmopolitans andlocals,' bem como em suas contribuições ao estudo defenômeno tão do agrado da ciência comportamentaltradicional norte-americana, como a liderança. a

O foco da crítica contra o funcionalismo estruturalera sua fixação no que passou a ser pejorativamentedesignado de "sistema", ou seja na ordem estabelecida,no quadro institucionalizado e no processo social de es-tabilidade, controle e equilíbrio.

Em suas críticas mais exaustivas e detidas do par-sonismo figuram o próprio Gouldnert e o importantetexto de Walter Buckley.P

O que importa enfatizar em função do nosso interesseé que, de maneira clara ou implicitamente, os cientistassociais que se dedicaram, e ainda se dedicam ao campodas organizações, foram quase todos norte-americanos,predominantemente funcionalistas e que se formaramacademicamente num período em que Talcott Parsons eGeorge C. Homans eram as influências não só predo-minantes, mas praticamente únicas no meio sociológicoe psicossociológico dos Estados Unidos.

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Em fins da década de 50, Parsons escreveu sobre or-ganizações formais, em artigos originariamente pu-blicados na Administrative Science Quarterly e pos-teriormente em seu livro Structure and process inmodem societies. A importâÍiCta do texto em questãopara os desenvolvimentos mais recentes da teoria das or-ganizações ainda não foi suficientemente analisada. Deinício, a própria conceituação de or,ganizacão forma~ talqual apresentada por Parsons, é a que ainda se encontraem praticamente todas 'as teorias empíricas, de orien-

itação estruturalista, ou seja, "... o primado da orien-tação à consecução de um objetivo específico utilizadocomo a característica básica de uma organização que adistingue de outros tipos de sistemas sociaís.ê! As or-ganizações para Parsons são decorrência do processo deaumento da complexidade das tarefas que devem serdesempenhadas no interior do sistema social, o que lhepermite afirmar ser "a existência de organizações, comoaqui conceituadas, a conseqüência da divisão do tra-b~ na sociedade". 12

~.~% que é mais importante, as organizações formais\Gy~~~_i~temaparsoniano surgem por força da evolução do

processo de divisão do trabalho, a fim de cumprir ta-refas socialmente estabelecidas e legitimadas. ~-ráter tele·ol6gicode que se revestem as organizações for-mais no universo de Talcott Parsons. As funções desem-penhadas pelas organizações são de molde a manter efazer operar o sistema social. Portanto, não deve causarestranheza que o estudo de organizações formais, talcomo se desenvolveu, venha a ser um capítulo noaprofundamento e desdobramento da organizaçãosocial no funcionalismo estrutural. ~ perfeitamente in-teligível e compatível com a coerência lógica do fun-cionalismo que as organizações formais sejam anali-sadas como subsistemas, cujos produtos ioutputs) sejaminsumos do sistema social em sua globalidade. Portanto,as organizações formais integram-se harmonicamenteno sistema ao mesmo tempo mecânico e biológico queconstitui o universo social parsoniano. E o perfeitoacoplamento entre organizações formais e o sistemasocial se verifica não só ao nível da identidade de va-lores, uma vez que "o sistema de valores (do sistemasocial) legitima o objetivo da organização"13 mas ma-nifesta-se na própria tuonomia omanjzacionaJ propos-ta, onde o caráter teleológico das organizações comoéõii'tribuidoras de insumos para a consecução do sistemasocial é evidenciado. Na verdade, organizações formaissão voltadas para: a) produção de bens econômicos; b) o

\r)." atingimento de objetivos válidos e a geração e alocaçãotr do poder da sociedade; c) a integração da sociedade,pela coordenação e pela mínimização e/ou eliminaçãode conflitos; d) a manutenção de padrões e valores dasociedade, caso de organizações voltadas à consecuçãode atividades culturais, expressivas e educacionais.P

À medida que uma sociedade se diferencia, neces-sitará de meios cada vez mais complexos para mobilizarrecursos necessários a sua própria manutenção. Nestesentido, Parsons vê como um dos objetivos da organi-zação a mobilização de recursos fluidos como terra,trabalho, capital e organização.P devendo este últimorecurso ser entendido como o empresarialismo de tiposchumpeteriano.

E sobre o caráter geral do funcionalismo de Parsons \como sistema preocupado com o equilíbrio e com a or-dem, não é inoportuno lembrar que ele se coloca no cen-tro da .tradição das ciências sociais. De fato, não apenasa sociologia, mas a economia surgiu preocupada commodelos em equilíbrio e não com a mudança. Apreocupação com a problemática do desenvolvimentoeconômico surge apenas na segunda metade de nossoséculo, enquanto os grandes sistemas clássicos volta-vam-se à explicação dos mecanismos de equilíbrio emcambiantes composições de vendedores e compradoresno mercado. O mesmo fenômeno se passou com, a so-ciologia que se preocupou fundamentalmente com oequilíbrio social, expresso em itens como estratificaçãosoçfal, persistência de modos de vida, manutenção devalores, processo de socialização. Os modelos de Paret--to e de Durkheim servem, sob este aspecto, ao mesmopropósito, um utilizando a analogia da mecânica, ooutro, a biologia.

Se formos verificar a visão da sociedade encontradaem Max Weber, que foi outra influência próxima eprofunda sobre o pensamento de Parsons, constata-remos que a sociedade caminha num processo crescentede racionalização, com a superação gradativa da ir-racionalidade, que é sempre vista como pré-racional e,onde está implícito o grande modelo da sociedadeeuropéia, a partir do Renascimento, Que gradativamentedeverA estender-se a outras sociedades. As previsões de OMaX Weber sobre a expansão da função burocrática dedominação, independentemente do sistema econômicovigente, expressa a confiança weberiana no triunfo darazão como elemento plasmador das sociedades.--Todavia, o processo de racionalização, que pode setvisto como a maneira weberiana de acomodar a mudan-ça social em seu sistema de pensamento, não se faz ()revolucionariamente. O trauma revolucionário, com sua '(natureza abrupta, é eliminado em favor de uma con- Pquista gradativa e relativamente pacífica das sociedadesao império da razão.

Com tais mestres e com os quadros teóricos esb~çados, não deve causar admiração que a teoria orga-nizacional tenha se fixado mais em aspectos do fun-cionamento e da operação das organizações, bem comoda cooperação e nos resultados da atividade organi-zacional do que em conflito, mudança, tensões e nascontradições da sociedade que encontram expressão anível da organização formal.

As variáveis organizacionais como se desenvolveraao longo de sucessivos estudos indicam que a teoria dasorganizações vem sendo a seara de cientistas do esta-blishment, e isto é verdade tanto nos países do chamadoocidente, como nos do bloco socialista.

Os soviéticos que vêm estudando organizações ofazem dentro dos moldes desenvolvidos pelos funcio-nalistas e teóricos de organização, em sua grandemaioria, norte-americanos.

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2. A CONTRIBUIÇÃO SIST~ICA

Uma das manifestações críticas mais completas contra opensamento sociológico ocidental, abrangendo umperíodo de aproximadamente um século, foi o livro deWalter Buckley. O seu intuito de rever cuidadosamente

Teoria orga1lizacio1lal

--_ .. _._. ,

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os fundamentos da teoria sociol6gica o levam a rever osfundadores como Durkheim, Paretto, Albion, Simmelentre outros, e a deter-se meticulosamente em Homans e

arsons. Sumariamente, o funcionalismo estrutural éteoricamente insuficiente porque limita o que denominade "sistema social" ao que é institucionalizado; colocatensões e aberrações num plano puramente residual ecomo disfunções do sistema. Em adição está inçado deantropomorfismo, na medida em que "procura" oequilíbrio, tem "problemas" e "imperativos" de con-trole, bem como "necessidades" sistêmicas, para citar.apenas alguns exemplos. Mas, certamente, a grandedificuldade do funcionalismo enfatizada por W. Buckleyé a de lidar com a "mudança social", tratando-a resi-dualmente.P A mesma fixação no equilíbrio e a dificul-dade com a mudança são observadas por Gouldner aoafirmar que "a busca de ordem social expressa um im-pulso para consertar e unir as coisas a partir de ummodelo exterior, senão, mesmo acima das coisas. Buscara ordem é buscar ou preferir estruturas: (o grifo é nosso),a estrutura da ação social e não o processo." 17

A alternativa sistêmica, advogada por W. Buckley,viria certamente pôr termo à inadequação do funcio-nalismo para tratar a mudança, o conflito e as tensões. Eisto é perfeitamente claro não só a Buckley, mas a outrospartidários da abordagem sistêmica, na medida em queos sistemas aumentam a sua complexidade deixam deser fechados para se tomarem abertos, ou seja, inte-(ragirem permanentemente com outros sistemas e com o!meio-ambiente. "O fato de um sistema ser aberto sig-, nifica não apenas que ele se empenha em intercâmbioscom o meio, mas também que este intercâmbio é umfator essencial, que lhe sustenta a viabilidade, a ca-pacidade reprodutiva, ou continuidade, e a capacidadede mudar' (o grifo é nosso.)11

Os sistemas abertos, além de intercâmbio com o meio-ambiente, teriam outras características como abertura,encadeamento de informações das partes e do meio, cir-cuito de realimentação e direcionamento para objeti-VOS.11 E estes atributos permitiriam explicar não apenasa ordem, o equilíbrio e a permanência, bem como astensões, o conflito e a mudança. O universo abrangidopelo funcionalismo estrutural seria o da morfostase("refere-se aos processos das trocas entre o sistema com-plexo e o meio, que tendem a preservar ou manter a for-ça, organização ou o estado de um sistema"), e o universoque o funcionalismo deixou de fora, sem capacidade ex-plicativa, seria o da morfogênese (" ... que se refere aosprocessos que tendem a elaborar ou mudar a força, a es-trutura ou o estado de um sistema"). 20

O grande instrumento que os sistemas abertos dis-põem, quer para fins morfostáticos, quer morfogênicos,é a realimentação ifeedback) que irá permitir à abor-dagem sistêmica a explicação da mudança.

A homeostase é um estado essencialmente harmônicoe equilibrado, que resulta de um "equilíbrio dinâmico"de trocas entre o sistema e seu meio-ambiente. Mas oque deve ser ressaltado na explicação sistêmica damudança é o seu caráter adaptativo iadaptative change)que é apresentado como a tendência natural dos sis-temas sociais reagirem à mudança, ou seja, adaptando-se.

Revista de .Administração de Empresas

O sucesso que a abordagem sistêmica encontrou emcertos meios sociológicos, bem como o entusiasmo emque foi abraçada por muitos estudiosos de organizações,levam-nos a determo-nos um pouco na sua análise, e es-pecialmente na verificação das diferenças porventuraexistentes entre o funcionalismo estrutural e a teoria dossistemas.

A teoria dos sistemas, apesar de apresentar-se comodotada de caráter inovador e até mesmo de contestação \do funcionalismo de Parsons, não chega a afastar-se douniverso de discurso do funcionalismo. Se Parsons, na 'elaboração de sua teoria, foi claramente influenciadopelos modelos científicos da biologia e da mecânica, nãopode haver dúvida de que a abordagem sistêmica car-rega parcialmente as mesmas marcas, em adição aosempréstimos que fez à cibernética e à ciência da com-putação. O "sistema social" continua sendo visto comoanálogo ao organismo vivo, e da mesma forma que o servivo diferencia-se, e aumenta sua diferenciação e com-plexidade ao longo da escala biológica, indo do pro-tozoário unicelular ao primata e ao homo sapiens; damesma maneira, os sistemas são hierarquizáveis numaescala de complexidade, cabendo ao sistema social com-plexidade elevada e a atribuição da abertura. Como oorganismo vive, se mantém, se desenvolve e se modificaem interação com o meio-ambiente, o mesmo se passacom o sistema social. E quando se trata de analisar ossistemas sociais, lança-se mão dos mesmos procedimen-tos utilizados nas ciências biol6gicas, ou seja" decompõe-se o todo em partes, o que significa dividir o sistema nosvários subsistemas que o compõem.

O que acabamos de indicar mostra que a abordagemsistêmica pode ser considerada mais como aprimora-mento do funcionalismo, na medida em que incorporamecanismos explicativos da mudança, com que o par-sonismo tivera dificuldades de lidar, do que como umacontestação ou distanciamento do pensamento fun-cionalista. Afinal, continuamos a nos defrontar com umsistema social em "equilíbrio", adaptado ao meio-am-biente e realizando mudanças adaptativas para melhorresponder às modificações que ocorrem no meio-am-biente.

A popularização de abordagem sistêmica em teoria daorganização foi tão rápida quanto efêmera. Teve papeldestacado no processo o manual escrito por Daniel Katze Robert L. Kahn. A psicologia social das organizações,publicado em meados da década de 60, e sem nenhumdesrespeito, pode ser visto como uma boa revisão daliteratura, onde apenas três capítulos iniciais são de-dicados à introdução do jargão sístêmico, Encerrado oterceiro capítulo, toma-se difícil encontrar algo novo nomanual.

Se adotarmos como critério para medição da impor-tância de uma teoria o seu impacto no direcionamentodos interesses de pesquisa e o seu sucesso em converter-se num paradigma, concluiremos pela pequena impor-tância da abordagem sistêmica em teoria organiza-cional, a não ser como linguajar bem sucedido entre ad-ministradores. Tal sucesso é explicado em boa medida,pela facilidade de entendimento que apresenta aosexecutivos, explicável, sem dúvida, pela analogia comcomputação e processamento de dados.

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A pesquisa estimulada pela abordagem sist~mica res-tringe-se ao estudo das relações entre a organ~ção e o

. meio-ambiente, muito mais do que ao entendimento defenômenos internos das organizações onde continuapredominando o paradigma funcionalista. Fruto de ins-piração sistêmica é o trabalho onde Paul Lawrence e JayLorsch, segundo a mais clássica tradição sociológica,lidam com as variáveis Diferenciação e integração, a fimde explicar a interação de empresas localizadas em trêsindústrias diversas com o meio-ambiente, bem como arepercussão que tais mecanismos e necessidades ad~p-'tativas exercem sobre a estrutura e o modo de funcio-namento das organizações.ê! Outros trabalhos relevan-tes são as pesquisas de Jeffrey Pfeffer usando B~rds oftrustees de hospitais, bem como Boards of directors(conselhos de administração) de sociedades anônimasnorte-americanas como instrumentos de enlace (linkage)entre as organizações e seus respectivos ambientes.P

O trabalho de Terrebery,23 apesar de versar tópico in-teressante, que é a natureza de vários meios-an.'bient~,permaneceu em fase de estabele~imento de ~Ipo~ogta.Sobre os outros tópicos da realidade organizacional,podemos constatar o impacto praticamente nulo que aabordagem sistêmica teve sobre a estimulação de novosinteresses de pesquisa.

A abordagem sistêmica, quando colocada no contextoevolutivo das ciências sociais surge bem próxima do fun-cionalismo e certamente distante do marxismo e doradicalismo sociológico que floresceu nos EstadosUnidos a partir de meados da década de 60. A cri~caque David Silverman dirige à abo,rd~gem é bastante Sl~-nificativa e encerra um tom de lastima por ver a teonados siste~as autolímitar-se e reduzir seu potencialanalítico ao adotar implicitamente as fronteiras do fun-cionalismo. A propósito lembra Silverman, que "a abor-dagem sístêmíca ao pressupor que as organizações exis-tem como instrumentos para atingimento de estadosvalorativos futuros, limitou-se desnecessariamente, aominimizar as preocupações com status e poder (o grifo énosso) admitindo que os objetivos e ações são ampla-mente condicionados pelos problemas da organização epelas expectativas de papéis como definidos pela es-trutura formal. 2'

O que a abordagem sistêmica toma sem questi~nar dofuncionalismo é a versão oficial e formal da organização,como constitutiva da realidade total das organizações eadota indiscriminadamente a teleologia funcionalista. Aorganização visa o atingimento de estados valorativos"futuros" na medida em que os objetivos organiza-cionais são dados pela sociedade global ou pelo sistemado qual a organização é subsistema.

E o fato de os sistêmicos adotarem o oficial-formalpelo real os leva à análise organizacional em termos depapéis (cargos) que são oficialmente estabelecidos ". Aminimização dos problemas de status e de poder sig-nifica a mesma miopia funcionalista para o tratamento

I de tensões, conflitos e quebras de equilíbrio, A reali-; mentação (feedback) é o instrumento tomado à ciber-

nética para explicar mudanças adaptativas, enriquecen-do indiscutivelmente a teoria funcionalista de mudança

I que é realmente precária. Sob este aspecto, a abordagemsistêmíca inovou em área onde o próprio Parsons per-plexamente reconhece a impotência de sua própria

doutrina. Em 1951, Talcott Parsons escrevia " ... ser uma Iinferência necessária ... que uma teoria geral dos proces-sos de mudança dos sistemas sociais não é possivel nestado atual do conhecimento. A razão é simplesmente,porque tal teoria implicaria num conhecimento com-Ipleto das leis do processo do sistema e não possuimos es-te conhecimento" .25

Mas o fascinio de Parsons com a estabilidade e oequilibrio o levam a minimizar esta eventual teoria damudança no contexto de seu sistema de pensamentouma vez que "a teoria da mudança na estrutura dos sis-temas sociais deve ser conseqüentemente uma teoria damudança de seus processos particulares no interior dossistemas e não do processo global de mudança dos sis-temas como sistemas". 2.

A abordagem sistêmica desenvolveu aparatos con-ceituais para lidar com a mudança gradual, mas nãocom processos bruscos de tipo revolucionário de mudan-ça. Isto porque é suficiente à abordagem sistêmiea oanálogo biológico de que a mudança está implicitamen-te contida no sistema e que a evolução do sistema será aexplicitação não traumatizante do seu próprio dinamis-mo.

3. TRABALHOS ESTRUTURALISTAS RECENTES

A colocação da teoria organizacional no contexto dodesdobramento das teorias sociológicas explicam bas-tante os rumos da teoria, os interesses da pesquisa e asaplicações que se têm feito das "descobertas" cienti-ficas. Se atentarmos para as duas vertentes da teoria or-ganizacional, podemos verificar uma de influência e em-basamento na sociologia e outra lastreada na psicologia,e mais especificamente na psicologia social.

\

A grande influência, que inclusive está na própriaorigem do embasamento sociológico, é o modelo tipicoideal da burocracia weberiana. Embora não caiba aquiuma análise de assunto tão rico, complexo e de imensasrepercussões, algumas observações sobre o caráter con-servador, e pelo menos no entender de Max Weber, aneutralidade da burocracia, são importantes destacar.

O modelo burocrático inseriu-se no contexto da es-tabilidade social. Ele foi concebido como modo ex-plicativo para legitimar uma força de dominação e nãodeixa de conter certo caráter prescritivo. A desejabi-lidade da burocracia se baseia em sua eficiência, ra-pidez, uniformidade, minimização de atritos, estabi-lidade e racionalidade. A burocracia é um elemento as-segurador da ordem e da permanência, em oposição àdominação baseada no carisma. Historicamente arotinização do carisma é um processo de burocratização.Apesar de todas as criticas que lhe foram dirigidas, es-pecialmente p.Jos teóricos de organização que conferemimportância decisiva à fundamentação empirica, omodelo weberiano contém todas as variáveis que, a par-tir da década de 60, passaram a ser pesquisadas pelosestruturalistas. Sob este aspecto, os trabalhos de Hall,Haas e Johnson." bem como as pesquisas de grupo deAston21 foram concebidas pelo menos com a intenção derefutar empiricamente o modelo weberiano.

Embora os resultados de ambos os grupos de autorestenham concluido pela negação do modelo de Weber,não refutaram, mas pelo contrário, utilizaram as va-

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riáveis de hierarquização, rotinização, formalização, etc.que haviam sido originariamente propostas pelo próprioMax Weber.

o que foi afirmado é que as várias características daburocracia weberiana não ocorrem simultaneamente, eque cada característica pode ser vista ao longo de umaescala, podendo haver maior ou menor formalização,dependendo da organização.

Os trabalhos gerados pelas teorias de embasamentosociológico fixaram-se claramente nos estudos de es-trutura ou de formato organizacional, tentando estatis-ticamente relacionar as várias características das or-ganizações. Exemplos recentes e importantes dos resul-tados deste tipo de abordagem, também chamada de"análise comparativa de organizações", são os trabalhos

Ide Peter Blau e de seus associados e díscípulos.s! O im-portante é que a metodologia abandonou o método docaso, que marcou época no início da disciplina, e tra-balha com um número suficientemente elevado de or-

I ganizações que permita a aplicação da análise estatís-I tica. A fim de substanciar o nosso ponto de vista, ou..seja, de como as variáveis desenvolvidas 'para analisarcomparativamente organizações. foram informadas porum universo teórico funcionalista, detenhamo-nos sobre

Ios trabalhos referidos.

O quadro 1 lista 30 variáveis extraídas dos estudosque estão certamente, entre os mais expressivos, pu-blicados nos últimos anos, e que podem ser consideradoscomo analisando comparativamente organizações. Ostrabalhos de Hall, Haas e Johnson contêm dados sobre75 organizações, de W. Heydebrand de cerca de 7 000hospitais, o de Blau e Schoenherr mais de. 400 repar-tições do governo federal norte-americano, de Blausobre universidades, engloba informações sobre 115 es-tabelecimentos norte-americanos de ensino superior e osdados do grupo de Aston fazem uso de 48 a 54 orga-nizações.

32As 30 variáveis foram, senão todas, pelo menos na

maioria, as utilizadas em vários estudos, e sua presençaou ausência em cada estudo ou grupo de estudos estãoindicadas no quadro 1.

~ Os estudos em questão são enfatizadores da estruturae subsidiariamente de processos ou de funcionamentodas organizações, em consonância com o quadro teóricode sociologia norte-americana em que foram gerados.No anexo 1, as 30 variáveis estão divididas em trêsgrupos, ou seja, aquelas relativas à estrutura, ao proces-so ou funcionamento organizacional, e um terceiro, cons-tituído de variáveis comuns a processo e.estrutura. Osestudos em questão e a orientação da vertente socio-lógica da teoria das organizações manifestam clarapreferência pelas variáveis estruturais, que somam 13,vindo em segundo lugar aquelas pertinentes tanto a es- ,trutura como a processo, em número 11, e apenas seisrelativas exclusivamente a processo.

Revista de Administração de Empresas

Quadro 1Variáveis e estudos organizacionais escolhidos

" Hierarquia de autoridadeDivisão do trabalho - es-pecialização

Regras e regulamentosProcedimentosImpessoalidadeDiferenciação hierárquica ouvertical 6

Dispersão espacial: localização 7Formalização (ênfase nautilização da comunicaçãoescrita) 8

Autonomia organizacionalComplexidade da estrutura detarefas

Diferenciação horizontalTamanhoComplexidade tecnológicaProfissionalizaçãoBurocratizaçãoEficâcia organizacionalPadronizaçãoAdaptação ao meio-ambiente- tlexidade 18

Formato organizacional 19Descentralização - delegação 20Centralização 21Propriedade e controle' 22

~ Origem e história 23Tecnologia 24Recursos organizacionais 25Interdependência - auto-nomia - dependência 26

Lucratividade 27Produtividade 28~oral 29Posição de mercado 30

2345

x X X 3

X X X X X 51X X 2X X 2X 1

X X X 3X X 2

X X X 3X X 2

X X X X 4X X X X 4X X 2X X 2

X X X X X X XX X X 3

X X 2

X X X X 4X X 2X X X 3X X X 3

X 1X 1

X X X 3X 1

X X 2X 1X 1X 1X 1

9

1011121314151617

Al Hall, Richard H. The coneept ofbureaucracy: an empirical ••••• ment. A.",ni<tl"Jofmu.tof Sociology. v. 69. n. 1. July 1963.

B) Hall. R. H.•Haas. V. E.&JohnlOn. N. Y. O'llanizational m. eompl•• ity anelformalization. A.••••rieo" SociolO/li<tlIRoviow.v. 32. n. 6. Doc. 1967.

Cl Heyd.bralid. Wolf. H<NIpital""'-racy. N••• York. Dunelle N. Publishen. 1973.Dl Blau. Peter &Schoenherr. R. Tu,,""'''' •.•qf ""P"iZlltioJu. New Yotl<.Buie BooI<s.1971.E) Blau, Peter, Th. o'l/dlliZlltio" of o<tld••••ie work. New YOI'k.John Wlley & Sons. 1973.F) Dois artigOllomadOl dentre os trabalhos do gtUpo de Aston: A conceptua1ocheme for

organizational analysls. A.d_"" Scimco a••••rt.rly. v. 8. Doc. 1963•• Dimensionsof organizatioaal structUte. A.dmi"imwti"" Sei••••• Qurt.riy. v. 13. Jun. 1968.

A presença das variáveis classificadas em termos deestrutura, de processo ou comuns em cada um dos seis

1estudos ou grupos de estudos consta do quadro 3. Apreocupação com estruturas evidencia-se em todos ostrabalhos, e o carâter subsidiário do processo é tambémevidente, mormente nos trabalhos B e E, onde não é en-contrada nenhuma variável que lide exclusivamente comprocesso, encontrando-se todavia em ambos variáveiscomuns. Das trinta variáveis utilizadas nos seis estudosou grupo de estudos, é importante notar que o grupo deAston é o que foi capaz de elaborar e analisar dadosusando o mais elevado número de variáveis, ou seja, 21,dentre 30. O segundo lugar é ocupado pelo trabalho deP- Blau e Schoenherr (The structure of organizations),com 13 variáveis, seguindo-se em ordem decrescente, ode Heydebrand sobre burocracia em hospitais, com 10

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Anexo 1

A) Variáveis estruturais1. Hierarquia de autoridade. ~2. Divisão de trabalho - especialização. ~6. Diferenciação hierárquica ou vertical. ".7. Dispersão espacial - localização.8. Formalização. ,. ?

10. Complexidade da estrutura de tarefas.;" .11. Diferenciação horizontal.12. Tamanho. ?13. Complexidade tecnológica. f- .15. Burocr~tiza5ãon17. Padronízaçáo.Y19. Formato organizacional.23. Origem e história. ,

B) Variáveis de processo (funcionamento)5. Impessoalidade.

16. Eficácia organizacional.27. Lucratividade.28. Produtividade.29. Moral.30. Posição de mercado.

C) Variáveis comuns (estrutura e processo)3. Regras e regulamentos.4. Procedimentos.9. Autonomia organizacional.

14. Profissionalização. )(18. Adaptação ao meio-ambiente - flexibilidade.20. Descentralização.21. Centralização.22. Propriedade e controle.24. Tecnologia.25. Recursos organizacionais.26. Dependência - autonomia - interdependência.

Quadro 2

Variáveis e sua classificação

Variáveis estruturais - (13) - 1,2,6,7,8,10.11,12.13,15, 17,19,23.

Variáveis de processo- (6) - 5, 16, 27. 28, 29, 30.Variáveis comuns - (11) - 3, 4, 9, 14, 18,20, 21, 22, 24, 25, 26.

variáveis, o trabalho de Blau sobre universidades, e emúltimo lugar, com sete variáveis cada um, os trabalhosde Hall sobre burocracia, e de HaU, Haas e Johnsonsobre tamanho, formalização e complexidade orga-nizacional.

Outra observação a ser extraída do quadro 3 é que onúmero de variáveis estruturais é superior à soma dasvariáveis comuns e de processo em todos os casos, à ex-ceção de F, onde o grupo de Aston usou para nove

,

variáveiS exclusivamente estruturais, cinco de processo esete comuns. O fato é evidenciador da posição teóricados autores que repetidamente insistem na estruturacomo fator fundamental das organizações e responsávelinclusive pelos processos e métodos de funcionamentoorganizacional. A variável tecnológica, pareceu-nosmais adequadamente classificável como sendo do tipocomum.

A freqüência com que as variáveis são tratadas é tam-bém significativa, uma vez que burocratização é tratadaem seis grupos de estudos. divisão do trabalho ou es-pecialização em cinco, diferenciação horizontal, ta-manho e flexibilidade (adaptação ao meio-ambiente) emquatro, a hierarquia de autoridade, diferenciação ver-tical ou horizontal, formalização, eficácia organiza-cional, descentralização (delegação), centralização e t~c-nologia em três. As variáveis portanto, comuns no maiornúmero de estudos aqui contidas são puramente es-truturais (burocratização, especialização, tamanho,diferenciação horizontal, hierarquia de autoridade,diferenciação vertical, formalização) num total de sete;comuns (flexibilidade, descentralização, centralização,tecnologia) em número de quatro, e puramente deprocesso apenas eficácia organizacional.

Quadro 3Variáveis classificadas e distribuição para cada grupo deestudos

Grupos Estruturais Processo Comuns Total

A 4 1 2 7B 5 O 2 7C 5 1 4 10D 9 1 3 13E 5 O 4 9F 9 5 7 21

~t b -' -,..c:,~-,,,----_/

-'

~(),Desta forma evidencia-se a influência de preocupação

com equilíbrio, estrutura e, subsidiariamente, fun-cionamento nos estudos mais importantes até o momen-to desenvolvidos pelas teorias de organizações que têm-se atido a uma abordagem sociológica.

4. INFLUtNCIAS DA PSICOLOGIA SOCIAL

A segunda vertente na qual se tem baseado o desenvol-vimento dos estudos organizacionais é a que vem fazen-do uso da psicologia e, dentre os ramos daquela ciênciao clínico e a psicologia social. O fato de a psicologia 33social ter passado a ocupar-se de organizações é ex-plicável em função do próprio desenvolvimento dapsicologia. No mundo acadêmico norte-americano asduas abordagens são em boa medida paralelas, atendo-

se inclusive às respectivas linhas depart,am,entais, com a~,.'" .decorrente localização dos estudiosos nos departamen-tos, seja de sociologia, seja de psicologia. ,

Embora não tencionemos deter-nos na análise evo ~ Ilutiva da abordagem psicológica, alguns pontos dese- hjaríamos ressaltar: a) seu caráter prescritivo ou nor- .'mativo; b) seu comprometimento com a consecução dos Iobjetivos organizacionais, como definidos pelos ocupan- . fites de posições de comando nas organizações; c) tentar -ivalidar cien~ifi~aptente,a moral. do traba~o: ~) buscar t. ,adaptar os indivíduos as· organizações, minimizando e Ieliminando conflitos e tensões. ~

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o caráter prescritivo ou normativo é mais evidente nodesenvolvimento conhecido como "relações humanas".O prescritivismo de George Elton Mayo é conhecido masnão se tem dedicado a devida atenção ao que ocorre,com obras de maior peso cientifico, como a de Rensis

I.

Likert, onde desde o inicio fica clara a busca da one bestway, aparentemente abandonada no passado da escolaclássica. Em seu longo e respeitável trabalho que se ex-pressou em dois textos, Ntiw pattems of management eThe human organization,30 está presente a preocupaçãode buscar eficácia e produtividade, e em consonânciacom o desenvolvimento teórico do grupo, tais finalidadesseriam obtidas com estilo administrativo adequado, queconduzisse ao envolvimento de todos os membros da or-ganização. Isto explica a recomendação de que se aban-donem os métodos usuais apoiados no uso autocráticoda autoridade e se adotem preferentemente estilos deconsulta ampla e de participação. Sem todavia com-prometer o formato piramidal das organizações e ahierarquia de autoridade, minimizam-se as brechas entreníveis hierárquicos e a maior participação conduz àcolegialização do processo decísôrío."

Tais recomendações são cientificamente elaboradaspor Likert, passando inclusive pelo criv~_!!1!dor doe!J1j>Jrismo,decisivo para a ciência de tipo comporta-mental, e convergem para a busca de administradores eorganizações altamente eficientes e produtivas, onde asinconveniências dos conflitos e das tensões, todas elascondenáveis porque também geradoras de ineficiência ebaixa produtividade, estarão afastadas.

Os autores que vêm desenvolvendo a abordagempsicossociológica exatamente por centrarem-se emvariáveis comportamentais, quer a nível do individuo,

1quer a do grupo, dispensam pouca ou nenhuma atençãoa variáveis estruturais e a problemas de objetivos or-

. ganizacionais.I

1 Para tal abordagem, li estrutura fognJJ.1da organi-zação, bem como seus objêtivos, éonstltuem um dado eum ponto de referência que não merecem discussão.

'Conseqüentemente, o tão decantado fenômeno daalienação, indiferença ou falta de participação dosmembros da organização nunca foi tratado, como pos-sivelmente ligado a objetivos ou estruturas. O que ateoria psicossociolôgica tem enfatizado é o tratamentode variáveis comportamentais, com a expectativa de queestas operariam, caso fosse necessário, as modificaçõesestruturais e de objetivos.

Outro traço importante dos autores em questão é oseu comprometimento com os valores vigentes na so-ciedade norte-americana, a que chamaria de "moral detrabalho", explicável certamente em função do puri-tanismo que marcou a formação dos valores de parte in-fluente da sociedade norte-americana. Os autores maisrepresentativos desta tendência seriam Maslow, Argyrise McGregor. Os três autores, ao abordarem o problema

i do conflito virtual ou aberto entre individuo e organi-I. zação, acabam por valorizar positivamente o trabalho,t como instrumento não sô de minimização de conflitos,mas como propiciador de sjgnificado a toda atividade

I humana. Tal afirmação é Particularmente verdadeira daTeoria Y de Douglas MacGregor que insiste no caráternão punitivo do trabalho e' numa "natureza humana"sequiosa de participar, criar e trabalhar. A persona-

Revista de Administração de Empresas

. lidade adulta, amadurecida e equilibrada de Argyris

)buscará igualmente no trabalho independente, criativo einovador o meio mais acertado e preferido de adequar-seà organização. A personalidade humana apresentadapor Argyris é eminentemente ativa e encontra no tra-balho um meio privilegiado de expressão. O trabalho de

\Maslow, tão influente entre cientistas comportamentaisInorte-americanos, hierarquiza necessidades humanas, eIo trabalho aparece como meio de satisfazer as referidasnecessidades desde as puramente biológicas, até as de

I auto-realização.Finalmente, desde as manifestações pioneiras de G.

Elton Mayo, até as mais recentes de desenvolvimento or-ganizacional e T. Groups, a ênfase tem sido dada na

\adaptação, cooperação e integração, minimizando a im-portância de conflitos e tensões. Quando identificadossão sempre vistos como disfuncionalidades temporáriase nunca essenciais, ou simplesmente como indicadoresde dificuldades que, com toda certeza encontrarãosolução, compatível com os objetivos da estrutura da or-ganização. De qualquer maneira, a vertente psicos-sociológica, ou simplesmente psicológica da teoria e docomp..o.rtamento. organizacionais, nã~ transce~~al-mente ~imetros do funcionalisliii),(Ieíxando delado questões êmbaraçosas" como a de lidar com o podere a discriminação no interior das organizações, e absor-vendo como dotados de objetividade científica, valorespróprios da classe média de um certo grupo de países,orno é o caso do trabalho, da motivação humana e do

:1 elacionamento entre indivíduos - organização, servin-o-se da mediação do trabalho. Tal posição é que tem

permitido que se critiquem as posições acadêmicas deeus autores, como não sendo mais do quea elaboração

de racionalizações que justifiquem a manipulação de in-divíduos em função de objetivos que lhe são, de fato,alheios. Fica igualmente manifesto que o universo de in-dagações que a vertente sociolôgíca se propôs até o

{

momento, não é confrontada nem mesmo questionadapelas contribuições oriundas da psicologia. As duasabordagens até o momento têm sido complementares notratamento de uma realidade organizacional harmônica,

J estável, legitima e que se pretende objetiva.

S. ALTERNATIVAS À TEORIA E À PESQUISAORGANIZACIONAIS

Face ao que foi exposto, tanto em relação ao embasa-mento sociológico da teoria organizacional, bem como,depois de verificar as principais linhas das contribuiçõesvindas da psicologia social, caberia indagar que alter-nativas se apresentam ao desenvolvimento da disciplina.

Não há dúvida de que t6picos adicionais ao desenvol-vimento da disciplina poderiam ser tomados do próprioquadro funcionalista e de outros do marxismo comovisão alternativa. A possibilidade de se obterem con-tribuições alternativas a partir do funcionalismo, fun-damenta-se na pr6pria possibilidade de o funcionalismoPoder ser tomado como esquema de análise socialdotado de ambigüidade. Isto porque no seu esforço portransformar-se em doutrina dotada de objetividadecientífica, o funcionalismo indiscutivelmente atinge tonsde neutralidade que permitem seja usado para analisarfenômenos diferentes daqueles que constituem o seu

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Em terceiro lugar, o conflito tem sido minimizado emPrimeiramente cumpnna destacar que uma das sua importância, ignorado ou interpretado como parte

razões que podem ser apresentadas para que se estudem de uma sindrome de mudança social. Se o conflito or-

)organizações é o fato de constituírem microcosmos ganizacional for aceito como, em principio, irredutível,sociais. Desta maneira as organizações repetiriam em porque integrante da própria sociedade, e se for enten-escala menor e de forma muito mais acessível ao pes- dido como manifestações de interesses, valores, posiçõesquisador as caracteristicas da sociedade global, tornan- de classe e de poder que são antagônicos, certamente odo-se uma espécie de laborat6rio para o estudo da tema será muito mais fecundo do que tem sido até osociedade. momento. Tal visão de conflito permitiria a formulação

Esta visão é extraída da própria análise funcionalista de concepções e o direcionamento de pesquisas capazesque ao apresentar a sociedade como constituída de de integrar o universo de discurso marxista, com suaatores que desempenham papéis, transfere à organi- visão conflitiva da sociedade.zação as mesmas características. A organização contém Não há dúvida de que a literatura existente tem apon-papéis mais precisos e menos ambígüos do que os exis- tado mais a convergência fundamental de grupos etentes na sociedade global, e os "conjuntos de papéis" (J níveis em organizações, do que a oposição. Tal posição éirolesets) nas organizações são menos complexos. Da I claramente gratuita e nada impede, que, pelo menos amesma maneira que uma sociedade tem finalidades, as ' nível de hipóteses a serem verificadas, acrescentemos oorganizações são inclusive freqüentemente definidas '1 conflito essencial entre grupos no interior de organi-como grupamentos voltados à consecução de deter- zações, como manifestação do conflito de classes daminados objetivos, com a vantagem de que os objetivos sociedade envolvente.s~~~is são às vezes implicito~, ?u dotados, de ~ai~r am- Em quarto lugar, o estudo de objetivos organiza- !,blgulda~e, enquanto, ~ objetivos organ~clonalS são cionais poderia ser enriquecido pela consideração de.necessaríamente explícitos e menos ambíguos, ,grupos, setores e associações que venham intervir na

I O fato de ser um microcosmo social fará com que en-] reformulação dos objetivos. A literatura sobre objetivoscontremos na organização os grandes vetores de força'" organizacionais os tem tomado como fatos -, ou seja,valores e polarizações que caracterizam a sociedade en-] Ios objetivos são legítimos na medida em que expre.ssamvolvente. Se o desenvolvimento da teoria em algumas[ a sociedade global e suas necessidades de ação. A partirciências foi feito através do laboratório, a visão da oro! daí existe alguma literatura onde se busca o entendi-,ganização como microcosmo social poderia muito bem! mento do processo decisório em sua mecânica, da qual épermitir que a organização fosse o laboratôrio da so-: exemplo principal o trabalho de Herbert Simon, Jamesciedade. I G. March e Richard Cyert. Embora o trabalho do

"grupo de Carnegie" seja de grande importância paraque se entenda o comportamento formal do tomador dedecisões, ele detém-se ao nível do formalismo puro. Osmodos e mecanismos do ator são abstratamente aborda-dos, mas os motivos, valores, impulsos, crenças e in-teresses do decisor permanecem fora do formalismo dogrupo. Desta maneira, a contribuição é bastante li-mitada; Se entendemos que organizações têm objetivosIem função das quais recursos humanos, financeiros, tec-nol6gicos e de poder são mobilizados, é perfeitamente Ilicito pensar que grupos sociais tenham interesses em seapoderar destes recursos. O processo decis6rio orga-nizacional, no aspecto de decisão sobre os objetivos or-ganizacionais, enriquecer-se-á sobremaneira se ana-lisado a partir desta visão ampliada. Sob este ponto devista, organizações podem ser vistas como instrumentosde ação a fim de implementar decisões que refletem osinteresses de certos setores da sociedade, e que venhamprivilegiar objetivos de grupos, que podem ser até ,es-tranhos à organização.

Em quinto lugar, organizações podem ser vistas comolocal privilegiado ao estudo de valores, na medida em

corpo de doutrina. O fato não é incomum e o melhor .exemplo clássico seria o da dialética hegeliana que enl)mãos de outros pensadores, e notadamente Marx,'acabou por ser utilizada para gerar doutrina absolu- r.

tamente estranha ao hegelianismo clássico. 'As sugestões que a seguir faremos objetivam, de um

lado, indicar rumos alternativos à teoria e à pesquisa or-ganizacional, e também indicar a sociólogos e outroscientistas sociais o potencial contido nas organizaçõespara um entendimento mais adequado da sociedadeglobal.

, , ~J~'J!m segundo lugar as organizações podem ser objetos,\ ~~.~_;-pr.wilegi~~ospara o .estudo da estratificação social.. O)\ ':" ~sunto ja fOI sugendo de certa forma por A. Stin-

/ chcombe+, ao propor que o sistema de estratificaçãoI social em sociedades industriais avançadas, onde or-, ganizações formais são encontradas com maior freqüên-

cia, seja visto não em função de classes e grupos, mas emfunção das posições ocupadas por indivíduos e em or-ganizações. Tal esforço pressupõe que todas, ou pelomenos a maioria substancial dos membros de umasociedade, tenham filiação organizacional. Além domais, o argumento de que estratificação social é funçãode posição organizacional e não de outros fatores es-tratificadores, como renda e patrimônio, mais comumen-te utilizados, não deixa de constituir função viciada depensamento. Na verdade, se continuarmos a levar emconsideração o fato de que sociedades se estruturampredominantemente em função do nível de renda e domontante de bens dos seus membros, é plausível afirmarque os detentores de maior renda e patrimônio acabaminevitavelmente por ter acesso aos meios de ascensão or-ganizacional, tais como educação formal, poder acio-

nário e mecanismos de influência e pressão. Os que pos-suem pequeno montante de renda, bens, educação,ações e possibilidades de influenciar ou exercer pressãoocuparão os níveis mais baixos das organizações.

Se levarmos em consideração o quadro esboçado,veremos que o estudo das organizações, no que diz res-peito a estrutura sócio-ocupacional, e da mobilidade as-cendente ou descendente, pode trazer muitas contri-buições ao entendimento dos mesmos fenômenos eprocessos na sociedade global.

Teoria organizacional

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" 'j." I que estes são representados por atores que ocupam" , . posições no interior de organizações. A literatura exis-

I O).. I tente sobre organizações tem, de maneira geral, adotado. i o pressuposto de que valores são convergentes e de que), os membros da organização partilham os mesmos

'\ (r . valores. Tal foi o caso dos clássicos, hoje tantas vezesI criticados, que estendiam a todos os membros da or-

i ganização os valores do chamado homo economicus.Mas se tal concepção foi criticada por imediatista e in-gênua, outras têm sido poupadas, embora cometam osmesmos deslizes e ingenuidade, imputando precipi-

,5" tadamente valores a número indevido de atores.iJ~/r Acredito que tal crítica seria perfeitamente cabível ao:/,; I' trabalho de Chris Argyris que baseia a oposição indi-

/ > . viduo-organização numa concepção da personalidade. humana, adulta madura e equilibrada, que representali muitos dos valores vigentes entre a classe média dasociedade norte-americana. Ou talvez, nem mesmo isso,mas simplesmente expressa a auto-imagem idealizadadaquele grupo que prefere ver-se aspirando à auto-nomia, às condições em que possa expressar sua cria-tividade, independência, etc.

As concepções de C. Argyris que tanta influência vêmexercendo na formulação de certos tópicos da teoria e docomportamento organizacionais, especialmente sobre ainterface indivíduo-organização, acaba por pressuporque todos os membros da organização partilham de seusvalores sobre o que deverá ser o adulto humano, bemcomo os objetivos que confira a sua vida e ações.

O mesmo viés está presente nos trabalhos de DouglasMcGregor33 e de Rensis Likert,34 especialmente naadoção de uma visão positiva do "valor trabalho", comoocorre com McGregor.

Tais distorções resultam do fato de que se tem esten-dido a todo o universo organizacional valores dos gruposque ocupam a cúpula das organizações e que tradi-cionalmente estabelecem seus objetivos. Relativamentepouco tem sido desenvolvido em termos de pesquisapara aferir motivação e levantar os valores daqueles queocupam posições hierarquicamente inferiores e que sãoa grande maioria dos membros das organizações. Nãohá dúvida de que o entendimento dos valores dosocupantes de posições hegemônicas é importante à com-preensão de organizações, mas certamente enrique-

i ceremos o conhecimento se forem dedicados a mesmaI atenção e os mesmos esforços para o conhecimento dej valores, crenças, e pressupostos, bem como de visão do

36 ,.~mundo, dos ocupantesde posições inferiores. Será que. '!,. os valores da cúpula repetir-se-iam nas bases? Se tal não

I ocorrer, isto permitiria que outras indagações fossem1feitas sobre o funcionamento das organizações.

, !~J Finalmente, outro aspecto importante das ~rgani-

~

~ zações é o que poderia ser chamado de ~titucional. 9J , termo é conhecido e foi recentemente ~r

. 1 Charles Perrow. 351 ,,4. ~

,~y O precursor da análise institucional aplicada a oro.ganizações teria sido Selznick, não só em seu trabalhoobre a TVA, mas especialmente em seu posterior ensaioobre liderança. 36O que fica claro em Se1znické que en-

tre grupos, associações, organizações e instituições háum contínuo crescente de estabilidade e permanênci ,obtida pela incorporação de valores,' partilhados pornúmero amplo de indivíduos, que desta maneira passam

Revista de Administração de Empresas

a encontrar nas instituições ponto de sustentação eelemento que confere sentido e direcionamento a suasações. Nesse universo, as organizações bem sucedidasseriam exatamente aquelas que lograssem institucio-nalizar-se.

Além do aspecto ressaltado por Selznick, e maisrecentemente por Perrow, a análise organizacionalbeneficiar-se-ia ao incorporar análise institucional comoelemento adicional ao entendimento da interface or-ganização-meio-ambiente que até o momento tem-serestringido ao modelo sistêmico de realimentação (feed-backi.

Desta maneira, a análise institucional permitiria es-clarecer as vinculações entre organizações e sociedadesenvolventes, bem como setores específicos de sociedade,e as maneiras pelas quais se processam as trocas entreorganização e sociedade.

O modelo sistêmico com a ênfase na mudança adap-tativa iadaptive change), como mecanismo exclusivo detroca entre organização e sociedade, é claramente li- I

mitado. A cooptação foi outro mecanismo, no casodesenvolvido por Selznick, mas o conflito, a confron-tação e a coalização são outros mecanismos de troca atéo momento ignorados pela análise organizacional.

Esperamos que a análise das duas grandes vertentesalimentadoras do desenvolvimento da teoria e do com-portamento organizacional, a saber, a sociologia e apsicologia social, bem como as críticas feitas e as alter-nativas que indicarmos sirvam para auxiliar na aberturade novas áreas à pesquisa e à reflexão teórica. •

1 Bendix Reinhard, Work and authority Industry New York, JohnWiley and Sons. 1956.

2 Tragtenberg, Mauricio. Burocracia e ideologia. São Paulo. Atica,1975.

3 Marx. Karl. Critica dafilosofia do direito de G. W.F. Hegel. Lisboa.Editorial Presença. s,e, p. 70-1

4 Mouzelis, Nicos. Organization and bureaucracy: an analysis ofmodem theories Chicago. Aldine Publishing Company. 1969. p. 10.

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6 Gouldner, Alvin. Pattems of industrial bureaucracy. New York, TheFree Press, 1954.

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8 Gouldner, Alvin. Studies in leadership. New York, Harper and RowPublishers, 1950.

9 Gouldner, Alvin. The coming criais of westem sociology. New York,Basic Books, 1970. -

10 Buck1ey.Walter. A sociologia e a moderna teoria dos sistemas. SãoPaulo. Editora Cultrix, 197

11 Parsons, Ta\cott. Structure and process in modem soeieties. Newk, The Free Press, 1960. p. 17

12 Parsons. op. cito p. 18.

Page 11: iem praticamente todas 'as teorias empíricas, de orien- · 2020. 1. 19. · sitará de meios cada vez mais complexos para mobilizar recursos necessários a sua própria manutenção

13 Parsons. op. cito p, 41

14 Parsons, op. cito 45-6.

15 Parsons, op. cito p. 22-3.

16 Buckley, Walter. op. cito p. 52-4.

17 Gouldner, Alvin. op. cito p. 251.

18 Buckley, Walter. op. cito p, 81.

19 Buckley . op, cito p. 92.

20 Buckley. op. cito p. 92-3.

21 Veia Lorch, Jay. & Lawrence, P.R., A empresa e o meio-ambiente.Petr6polis, Editora Vozes, 1973.

22 Pfeffer, Jeffrey. Size and composition of boards of directors: Theorganization and its environment. Administrative Science Quarterly,V. 17, p. 218-28. June 1972; e Size composition and function of hospitalboard of directors: a study of organization - environment Iinkage.Administrative Science Quarterly, V. 18. p. 349-64, Sept. 1973.

23 Terrebery, Shirley. The evolution of organizational environments.Administrative Science Quarter/y. V. 12, p, 590-613. Mar. 1968.

24 David Silverman. The theory of organizations: a sociological framework, New York, Basic Books, 1971. p. 40-1.

York, The Free Press,

26 Parsons. op. cit. p. 486.

27 Veja Hall,R. H., Hass, J. E., & Johnson, H. 1., Organizationa1 size,complexity and formalization. American Sociological Review, v. 32,n. 6, Dec. 1967; Hall, R. H. The concept ofbureaucracy: an empiricalassessment. AmericanJoumal ofSociology. V. 69, n. 1. July. 1963.

28 Veja Pugh, D. S. et alii. The context of organizational structures.Administrative Science Quarterly. V. 14. Marc. 1969; Pugh, D. S. etalii. Dimensions of organizationaJ structure. Administrative ScienceQuarterly, V. 13, June 1968.

29 As obras principais incluiriam: Blau, Peter. & Schoenherr R. Thestructure of organizations. New York, Basic Books, 1971; Blau. Peter,The organization of academic work. New York, John Wiley and Sons,1973; Heydebrand, Wolf. Hospital bureaucracy. New York, Dunnellen,1973; Blau, Peter. The hierarchy of authority in organizations.American Journal ofSociology. v. 73, n. 4, Jan. 1968.

30 Veja Likert, Rensis. New patterns ofmanagement. New York, Mc-Graw-Hill, 1961, do quaJ há tradução em português com o tituloNovos padrões de administração, São Paulo, Livraria Editora Pio-neira, 1971; e The human organization, New York, McGraw-HiII,1967.

31 Likert, Rensis. Novos padrões de administração. São Paulo, Li-..y;:aÁrEditefa .1'U)'1l!.e1.tll,--CLLL- _

32 Stinchcombe, Arthur. Social structure and organization. In March,. James G. ed. Handbook of organizations, Chicago, Rand McNaJly,

5.

34 Rensis Likert em seus dois livros, New pattems of management(1961) e The human organization (1967).

35 Perrow, Charles. Complex organizations. Glenview, Illinois, Scottand Foresmari, 1972.

36 Selznick, P. Leadership in administration. New York, Harper,1957.

ao organizar uma antologiasobre liberdade de expressãoNicholas Capaldireuniu autoresque jamais se cumprimentariam

Capaldi achaque ninguém pode ser imparcialsem permitir a liberdade de explorar,sistematizar e diVUlgarcada opinião.para ele, sem liberdade de expressãonão pode haver discussão racionalsobre ela própriaou seja lá o que for.

da liberdade de expressãode Nicholas Capaldireúne textos deHitler,Marcuse,RobespierreRobert Welchfundador da John Birch SocietyStuartMiIlentre outros.

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