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Caros amigos Neste número do nosso in- formativo sobre a literatura mara- nhense, temos o estudo de Maria Alice Moraes sobre o teatro de Co- elho Neto, essa faceta menos co- nhecida da vasta produção do polí- grafo maranhense é analisada co- mo ênfase na peça O Patinho Tor- to, na qual o escritor trata de for- ma artística o polêmico assunto da homossexualidade. Susane Ribeiro faz uma lei- tura do livro Os primeiros raios do sol, do poeta e pesquisador Baial Ramos. A ensaísta observa como o autor retrata frames da sua terra natal em versos carregados não apenas de lirismo, mas também de preocupação com aspectos soci- ais do cotidiano do homem inte- riorano. É destacado também o livro Entre Viana e Viena, do ma- gistrado e escritor Lourival Sere- jo, autor de crônicas que mes- clam crítica social e memorialis- mo. Finalmente, reproduzi- mos um belo soneto de Inácio Xavier de Carvalho, um dos gran- des poetas que merecem um espaço maior em nossa historio- grafia literário. Até o número 12! EDITORIAL E-mail: [email protected] ilhavirtualpontocom MARÇO 2012 ANO 12 NÚMERO 11 Revista Plural www.geia.org.br

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Décimo primeiro número do informativo Ilhavirtualpontocom

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Caros amigos

Neste número do nosso in-

formativo sobre a literatura mara-

nhense, temos o estudo de Maria

Alice Moraes sobre o teatro de Co-

elho Neto, essa faceta menos co-

nhecida da vasta produção do polí-

grafo maranhense é analisada co-

mo ênfase na peça O Patinho Tor-

to, na qual o escritor trata de for-

ma artística o polêmico assunto da

homossexualidade.

Susane Ribeiro faz uma lei-

tura do livro Os primeiros raios do

sol, do poeta e pesquisador Baial

Ramos. A ensaísta observa como o

autor retrata frames da sua terra

natal em versos carregados não

apenas de lirismo, mas também de

preocupação com aspectos soci-

ais do cotidiano do homem inte-

riorano.

É destacado também o

livro Entre Viana e Viena, do ma-

gistrado e escritor Lourival Sere-

jo, autor de crônicas que mes-

clam crítica social e memorialis-

mo.

Finalmente, reproduzi-

mos um belo soneto de Inácio

Xavier de Carvalho, um dos gran-

des poetas que merecem um

espaço maior em nossa historio-

grafia literário.

Até o número 12!

EDITORIAL

E-mail: [email protected]

ilhavirtualpontocom MARÇO 2012 ANO 12 NÚMERO 11

Revista Plural www.geia.org.br

Por Susane Martins Ribeiro

Todo maranhense (e visitante

também) fica maravilhado ao visitar um

dos mais belos patrimônios naturais do

Brasil: os Lençóis Maranhenses. Situado

a duzentos e sessenta quilômetros da ci-

dade de São Luís, capital do Maranhão,

este Parque Nacional encanta por sua be-

leza, seus aspectos naturais, além de suas

magníficas paisagens, o frescor de suas

lagoas e, além de tudo isso, inspira vários

artistas, dentre eles, o escritor e poeta

Baial Ramos.

Baial Ramos é filho da cida-

de de Barreirinhas (cidade abrangida pe-

los Lençóis), nascido no dia 23 de maio

de 1955, juiz de

direito aposenta-

do e membro da

Academia Barrei-

rinhense de Le-

tras. Desde 2007,

dedica-se exclu-

sivamente à lite-

ratura, publican-

do obras como

História de Bar-

reirinhas, o ro-

mance Marcas

que Ficaram,

além de seus li-

vros de poesia

Terra e Os Pri-

meiros Raios do Sol.

Os Primeiros Raios do Sol é

um livro de caráter peculiar. Ao longo de

suas cento e seis páginas, essa obra mos-

tra, através de poemas, o perfil do ho-

mem pobre barreirinhense, que encontra

forças para sobreviver nesse paraíso iso-

lado que, diante de todas as dificuldades,

encontra conforto neste éden:

São os primeiros raios do sol

Substituindo a escuridão,

E no nascer do novo dia,

Aprendi compor poesias

Para alegrar meu coração

Poema Os Primeiros Raios do Sol

As poesias desta obra de

Baial Ramos transmitem amor, sofri-

mento, tristeza, ânsia, calma, mas sem

deixar de lado a magnitude que são os

Lençóis e, principalmente o Rio Pre-

guiças:

Mas ele não perece

Ao desaguar no mar.

Ao contrário,

Dá vida ao seres do oceano

Em sua total transfiguração.

Poema Identidade de Um Rio

Citado inúmeras vezes, em

vários poemas, o Rio pre-

guiças é, para o poeta, a

fonte de seus anseios, dese-

jos, sucessos e, lógico, a

saudade, e refere-se à cida-

de de Barreirinhas, banha-

da por esse belo rio, com

muito orgulho, assim como

Gonçalves Dias para sua

terra, em sua Canção do

Exílio:

Minha terra tem um Rio,

Que corre como a paz

Sua beleza é esplêndida

Igual, não existe jamais

Poema Rio Preguiças

Toda essa beleza despertou,

nos últimos dez anos, o interesse de

muitos empresários dos ramos turístico

e hoteleiro. Diante de todo esse interes-

se, vem a preocupação do poeta com

sua terra preciosa, com relação aos im-

pactos ambientais provocados pelo

crescimento turístico-hoteleiro em sua

terra:

Página 2 ILHAVIRTUALPONTOCOM L

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Hoje vem muita gente

De todo canto e lugar

Olhar o meu encanto

Que não canso de apreciar

Só peço a Deus

Que não venha pra cá

Essa tal de poluição.

Se vier toda assanhada

O que será, que será

Da futura geração?

Poema Morrarias, Dunas e Lençóis

Com uma linguagem simples e forte,

as poesias de Baial Ramos trazem também a du-

ra realidade da vida no interior. As dificuldades

vividas são mostradas em diversos versos, como

no Poema Nosso de Cada Dia:

Nascido no meu nordeste

Nos jardins de mandacaru

Das secas em frio

Dos retirantes afim... sem fim...

Frutos das injustiças sociais

Dos exploradores, dos corruptos e coisas e tais

Das leis sem costumes e nem princípios morais.

Uma sensação forte presente em vá-

rias linhas é a saudade. Sentimento difícil de ex-

pressar em diversas línguas (principalmente a

língua inglesa), é exposto em diversas faces, co-

mo falta do ser amado (feminino) que deixara,

Sobre saudade, nada sei dizer

Se soubesse, talvez diria assim:

É a lembrança que sinto de você

É a pena que sinto de mim

Poema Saudade I

e da infância vivida na terra natal:

Recordando minha infância

Vem-me na lembrança

Uma cena singular:

Eu sentado,

Um rio no meio

E a lua nascendo do lado de lá.

Poema Luar de Minha Vida

Cada página de Os Primeiros Raios Do

Sol mostra o retrato da vida pobre interiorana no

meio de um paraíso e declara, no meio de tanta

complexidade, o Viva a Vida!

Então,

Viva a Vida

A vida é do tamanho do tempo

Esqueça o pause.

E toque sua vida o tempo todo

E sinta a beleza de viver cada instante

Durante todo o tempo da vida.

Assim, Baial Ramos declara seu amor à

sua terra e ao seu povo, em versos apaixonantes e

realistas, mostrando que o céu tem seu lado inferno,

e faz tudo isso na sua melhor métrica, através de

poesia:

Assim faço dois versos

No final dessa leitura

Deste rimado dicionário

Maior que mil brochuras

Ferramenta essencial

No exercício da cultura.

Página 3 ANO 12 NÚMERO 11

Susane Martins Ribeiro Graduanda em Letras pela FAMA

Coorganizadora do projeto ILHAVIR-

TUALPONTOCOM

[email protected]

Por Maria Alice Moraes

Coelho Neto representa, nas suas qualidades e nos seus defeitos,

toda uma época de nossa História Literária. Num balanço impar-

cial, nem é ficcionista glorificado do primeiro quartel do século

XX, nem escritor abominado pela geração modernista, mas um

escritor de méritos inegáveis em que pese os altos e baixos de sua

obra com lugar definido em nossa História Literária. (Massaud

Moisés)

As artes cênicas começaram a ganhar força no Brasil a

partir do século a XIX e, mesmo sabendo que este gênero literário

está presente desde a colonização, é neste período que as casas de

ópera são substituídas por Teatros (PRADO, 1999, p. 267).

Em meados do século XIX, surge a Comédia nacional,

com peças curtas (uma ato) e concluídas com dramas mais longos,

chamados de entremez. Desta fase des-

taca-se Martins Pena que, embora ro-

mântico, é um comediógrafo que satiri-

zou atitudes exaltadas e declarações de

amor tonantes. Ainda desta fase, desta-

ca-se os Dramas Históricos Nacionais,

de Agrário de Menezes e Paulo de Ei-

ró.

Já na parte final do século XIX e início

do século XX, Coelho Neto, um dos

mais geniais e fecundos escritores da

literatura do Brasil e homem que, em

quase cinquenta anos de carreira literá-

rias e jornalísticas, nos deixou como

herança cerca de 130 obras que com-

provam por que ele foi um escritor fe-

cundo, com uma linguagem elaborada,

marcada pela riqueza vocabular, pela adjetivação constante e pelas

construções de imagens raras, uma vez que ele mesmo declara que

a palavra escrita vive do adjetivo, que é sua extensão, exercia forte

influencia social e intelectual, ao mesmo tempo em que divulgava,

em reuniões em seu famoso salão, batizado por Martins Fontes de

“A Santa Casa de Coelho Neto”, sua obra para todas as pessoas.

O polígrafo maranhense foi um dos poucos escritores

que conseguiu sobreviver de sua função de escritor. Ele tem uma

estreita relação com a sociedade em que vive e da qual retrata a

atmosfera.

Página 4 ILHAVIRTUALPONTOCOM

Sendo um dos alvos prediletos dos mo-

dernistas, o Príncipe dos Prosadores Brasileiros é

uma das personalidades que domina o cenário cul-

tural-literário brasileiro no período equivalente ao

final do século XIX e primeiro quartel do século

XX. Ele é, junto com Olavo Bilac, representante da

Literatura institucionalizada e impõe à literatura

brasileira o teor nobre e apurado de sua produção

literária.

No Brasil dessa época prevaleciam os

padrões de vida burguesa e a literatura era forte-

mente entusiasmada pela sociedade europeia e o

teatro também espelhava esses reflexos. O Rio de

Janeiro também vivia uma fase de modernização e

alguns intelectuais aderem a campanha “Rio civili-

ze-se”, no entanto outros superestimavam essa ci-

vilização e escreviam sobre uma realidade que não

existia.

Ele retirava dessa sociedade mais abas-

tada e fútil, Coelho Neto retira grande parte do re-

ferencial para o seu teatro e isso faz com que seus

personagens encarnem a defasagem social do meio

em que vivem (COSTA, 1975, p. 1).

Página 5 ANO 12 NÚMERO 11

A mulher, por exemplo, é presença

marcante quantitativa e qualitativamente em

seus enredos. Levando-se em conta que, nesta

época, a figura feminina ainda vivia para a sua

função de dona de casa, educada para ser mãe.

Contraposta a essa situação, a mulher na obra de

Coelho Neto acompanha a evolução do capitalis-

mo e sua possível liberdade através do trabalho.

Essa nova mulher pode ser encon-

trada, principalmente, nos dramas

“A Muralha” (1905) e “O dinheiro”,

onde o autor permite um tratamento

mais aprofundado do choque entre

as duas consciências: a da mulher –

objeto e da mulher sujeito de troca

(COSTA, 1975, p. 3).

A peça “Quebranto” (1908) é para os

críticos a mais perfeita dentre as obras teatrais de

Coelho Neto. Nele o autor pôs o amor contra-

posto ao dinheiro de uma forma como jamais

utilizara. Nessa peça, a contraposição parece ter

adquirido maior amplitude porque o cômico.

Aliás, o amor sempre foi tema muito oportuno. O amor maternal e paternal

que protege ao exagero, as relações extra – conjugais, tabus como virgindade, homos-

sexualidade, entre outros, que eram propostos de maneira triangular, provocando maior

possibilidade dramática, não interessando as intrigas amorosas que não se complicam.

Em “O Patinho Torto ou os mistérios do sexo”, de 1920, o polígrafo mara-

nhense apresenta Eufêmia, uma jovem que se sente como homem e nega-se a casar com

o noivo que sua mãe, viúva, e se padrinho lhe arrumaram.

Diante deste impasse padrinho e mãe propõe a Eufêmia

que case co Iracema, irmã do então ex – noivo.

Em um estudo feito por Costa, constata-se que em “O

patinho torto” há a relativização do tema do amor, de vez

que não importa a Eufêmia desposar ou Bibi ou Iracema.

É uma peça ousada, despojada do romantismo piegas no

que respeita ao tratamento formal do tema do amor, que

passa a plano secundário. Nela, são mais importantes os

preconceitos sexuais com relação à mulher mantidos pela

sociedade.

Em “O patinho torto” constata-se a relativização do tema

do amor, de vez que não importa a Eufêmia desposar ou

Bibi ou Iracema. É uma peça ousada, despojada do ro-

mantismo piegas no que respeita ao tratamento formal do

tema do amor, que passa a plano secundário. Nela, são

mais importantes os preconceitos sexuais com relação à

mulher mantidos pela sociedade. (COSTA, 1975, p. 9).

O teatro de Coelho Neto não é revolucionário, apenas

mantém os valores tradicionais. Ele não contestou a for-

ma do teatro, apenas deu continuidade à tradição históri-

ca, principalmente o drama e a comédia de costumes. Não se filiou a nenhuma das esté-

ticas literárias do seu tempo, mas realiza uma síntese continuadora dessas tendências.

Coelho Neto reflete de maneira formal e do ponto de vista do conteúdo um momento de

eclosão que precede o Modernismo Brasileiro.

REFERÊNCIA:

COSTA, Marta Morais da. Teatro de Coelho Netto: uma leitura conteudística. Curitiba:

Letras, 1975. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/letras/article/

viewArticle/19664. Data de Acesso: 25 Mar. 2011.

PRADO, Decio de Almeida. História concisa do teatro brasileiro (1570 – 1908). São

Paulo: Edusp, 1999.

Página 6 ILHAVIRTUALPONTOCOM

Maria Alice Moraes é graduada em Letras pela Faculdade Atenas Mara-

nhense na mesma instituição atualmente cursa pós graduação em Língua

Portuguesa e Literatura

Entre Viana e Viena é a mais recente publicação

de Lourival Serejo. Nesse livro, o escritor reúne cem

crônicas publicadas ao longo dos diversos anos de co-

laboração em jornais. Os temas são os mais variados,

sempre tratados com elegância estilística e com um

toque de humor, mas sem perder o foco da seriedade

do assunto abordado.

Cronista habilidoso, Serejo sabe tirar de assuntos

aparentemente banais assuntos para seus textos. Des-

sa forma, um simples passeio pelo Shopping, um li-

vro dado de presente ou até mesmo

uma relação de nomes incomuns po-

de servir de mote para uma crônica

que ora faz um mergulho nas remi-

niscências do autor, ora demonstra

seu aguçado olhar crítico sobre a rea-

lidade circundante.

Entre Viana e Viena é um livro

que convida o leitor a passear aleato-

riamente por suas páginas, sem com-

promisso de chegar ao fim, mas com

a certeza de que cada página, cada

crônica, cada linha e cada parágrafos

são únicos e merecem toda a aten-

ção.

Página 7 ANO 12 NÚMERO 11

LIVRO EM DESTAQUE

Site do Escritor: www.lourivalserejo.com.br

CANTINHO DA POESIA

O SINO DE SÃO PANTALEÃO

Em minha terra, o sino mais sentido,

o mais triste de todo o Maranhão,

é o grande sino, há muito erguido

da velha e secular São Pantaleão...

Todo enterro ali passa... E ele dorido,

vendo-os passar, soluça na amplidão...

E é tão forte e é tão fundo o seu gemido

que a todos espedaça o coração!

Eu avalio a mágoa desse dobre,

quando meu velho Pai, vida tão nobre,

diante da Igreja, em seu caixão passou...

O sino gemeu tanto, nesse dia,

que, eu de tão longe, ouvi, na alma vazia,

os dolorosos ais que ele dobrou!

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