15
1 Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, Capitão Andrade Minas Gerais Ozeias Junio Souza de Oliveira - Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG Campus Governador Valadares. [email protected] Professora Orientadora: Daniela Martins Cunha - Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG Campus Governador Valadares. [email protected] Resumo Com o crescimento da população há uma necessidade crescente do consumo de produtos bovinos, conseqüentemente haverá uma aumento nas atividades pecuárias e essas atividades geram impactos ambientais se praticadas de forma incorreta. O presente artigo tem como objetivo analisar os impactos ambientais causados pela pecuária no Córrego do Macuco, Capitão Andrade Minas Gerais. Para esses estudos foram realizadas pesquisas bibliográficas e visitas em campo. Foram observados impactos ambientais como desmatamento, terracetes e erosões. Concluiu-se que a pecuária causou impactos ambientais na região. Palavras chave: Terracetes, pisoteio, meio ambiente, erosão. Abstract With population growth there is a growing need in the consumption of beef products, therefore there will be an increase in livestock activities and these activities generate environmental impacts if practiced incorrectly. This article aims to analyze the environmental impacts caused by livestock in stream Macuco, Captain Andrade - Minas Gerais. For these studies literature searches and field visits were conducted. Environmental impacts such as deforestation, terracetes and erosions were observed. It was concluded that livestock caused environmental impacts in the region. Keywords: Terracetes, trampling , environment, erosion. 1. Introdução Segundo Lemos et al (2003) no ano de 1994, no estado de Minas Gerais, o número de pequenos e médios produtores de leite (com produção diária de até 50 litros e entre 51 e 200 litros respectivamente) era maior do que o de grandes

Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

1

Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária

na Bacia do Córrego do Macuco, Capitão Andrade – Minas

Gerais

Ozeias Junio Souza de Oliveira - Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto Federal de

Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG – Campus Governador Valadares.

[email protected]

Professora Orientadora: Daniela Martins Cunha - Instituto Federal de Educação,

Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG – Campus Governador Valadares.

[email protected]

Resumo

Com o crescimento da população há uma necessidade crescente do consumo de

produtos bovinos, conseqüentemente haverá uma aumento nas atividades pecuárias e essas

atividades geram impactos ambientais se praticadas de forma incorreta. O presente artigo tem

como objetivo analisar os impactos ambientais causados pela pecuária no Córrego do Macuco,

Capitão Andrade – Minas Gerais. Para esses estudos foram realizadas pesquisas bibliográficas

e visitas em campo. Foram observados impactos ambientais como desmatamento, terracetes e

erosões. Concluiu-se que a pecuária causou impactos ambientais na região.

Palavras chave: Terracetes, pisoteio, meio ambiente, erosão.

Abstract

With population growth there is a growing need in the consumption of beef products,

therefore there will be an increase in livestock activities and these activities generate

environmental impacts if practiced incorrectly. This article aims to analyze the environmental

impacts caused by livestock in stream Macuco, Captain Andrade - Minas Gerais. For these

studies literature searches and field visits were conducted. Environmental impacts such as

deforestation, terracetes and erosions were observed. It was concluded that livestock caused

environmental impacts in the region.

Keywords: Terracetes, trampling , environment, erosion.

1. Introdução

Segundo Lemos et al (2003) no ano de 1994, no estado de Minas Gerais, o

número de pequenos e médios produtores de leite (com produção diária de até 50

litros e entre 51 e 200 litros respectivamente) era maior do que o de grandes

Page 2: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

2

produtores (produção diária acima de 201 litros), não obstante a maior parte da

produção de leite ser proveniente dos médios e grandes produtores, conforme dados

da OCEMG (SEBRAE/FAEMG, 1996, pág. 13). Em se tratando do tamanho dos

estabelecimentos produtores de leite em termos de área (hectares), tem-se que as

mesorregiões do Norte, Jequitinhonha/Vale do Mucurí, Triângulo/Alto Paranaíba, Vale

do Rio Doce e Noroeste de Minas apresentam, em média, áreas bem superiores às

observadas nas demais mesorregiões, superando também a média mineira

(SEBRAE/FAEMG apud LEMOS et al,2003).

O uso do concentrado na alimentação das vacas em lactação,

em 1995, era prática generalizada; às vezes, esta era maior que a

recomendada, em razão da baixa produtividade. Isto aconteceu para

compensar a deficiência na alimentação volumosa. No período da seca,

houve maior freqüência de produtores que adotavam concentrados para

vacas em lactação do que nas águas; na seca, a quantidade e a

qualidade da alimentação volumosa eram mais deficientes (SEBRAE-

MG/FAEMG, 2006).

Esse concentrado é uma alimentação que supre as necessidades de vitaminas

para as vacas, na época da seca o uso desse concentrado se faz necessário visto que

os alimentos se tornam escassos nessa época.

Segundo dados do SEBRAE-MG/FAEMG (2006) no ano de 1995, o número de

produtores de até 50 litros/dia era de 54,69% do total de produtores de Minas Gerais e

em 2005, tal participação caiu para 44%. Em 1995, a produção dos produtores de até

50 litros/dia correspondia a 19,17% do total, já em 2005, a produção cai para 8,19%.

Logo se percebe que entre os anos de 1995 e 2005, os produtores de até 50 litros de

leite/dia diminuíram suas participações no número total de produtores e na produção

total. Em 1995, o número de produtores com mais de 500 litros/dia era de 1,84% do

total de produtores; em 2005, passa para 10,63%. Quanto à produção, a participação do

produtor de mais de 1.000 litros de leite/dia passa de 10,63% para 44,41%. A

participação dos grandes produtores aumentaram no número de produtores e na

produção diária entre 1995 e 2005.

Em 1872 o Brasil tinha uma população de cerca de 9.930.478

habitantes, já nas projeções de 2008 esse número atinge 186.136.962

habitantes (IBGE, 2007). Ao correlacionar dados disponíveis entre

população e rebanho bovino tem-se a seguinte situação: em 1991 a

razão entre cabeças de gado/habitante era de 1,04; em 2005 está

proporção atingiu à razão de 1,11 cabeças de gado/habitante, sendo

essa proporção 7,4% superior a anterior. Ressalta-se que nesta última

relação os dados do rebanho bovino eram de 2005, enquanto, que o de

população foi de 2008. (TOMAS, Edivaldo; DIAS, Wolliver, 2009).

Page 3: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

3

Logo se percebe que houve um aumento na quantidade de cabeças de gado

no Brasil, e a proporção gado/habitante aumentou. Já em 2012 o Brasil tinha uma

população de 199.242.462 habitantes. No Estado de Minas Gerais a média de

gado/habitante em 2012 foi maior que a média no Brasil em 2005. Em 2013 a

população era estimada em cerca de 20.593.356 habitantes, no ano de 2012 a

população de rebanho bovino era de 23.965.914 cabeças (IBGE,2012).

Correlacionando esses valores obtêm-se a razão de 1,16 cabeças de gado/habitante.

Ressalta-se que nessa relação os dados do rebanho bovino eram de 2012 e os dados

da população eram de 2013. Observa-se que no Estado de Minas Gerais o número de

cabeças de gado por habitante aumentou, assim como em todo Brasil. Ainda em 2012

no Estado de Minas Gerais o número de vacas ordenhadas foi de 5.674.293 cabeças,

produzindo 8.905.984 mil litros de leite.

Segundo Tomas e Dias (2009) o pastoreio resulta em efeitos de ordem direta e

indireta, além disso, afetam diferentes partes do sistema geomorfológico como: as

terras altas e as terras baixas. A ação dos bovinos não afeta somente os processos

geomorfológicos, mas englobam também processos hidrológicos e ecológicos entre

outros. Ou seja, pode-se dizer que tal ação influencia os processos ambientais(geo-

hidro-pedo-ecológicos). Classificam-se os impactos geomorfológicos em direto e

indireto, sendo os principais impactos diretos a compactação do solo, exposição do

topo do solo devido a retirada da cobertura vegetal, formação de terrascetes entre

outros.

O pisoteio do gado é um agente importante na compactação do solo. Essa

compactação gera outros efeitos importantes como a redução da infiltração, aumento

do escoamento superficial e aumento da erosão do solo. O pisoteio pode gerar

também trilhas em diversas áreas e sentidos do terreno, essas trilhas podem gerar

ravinas e voçorocas (TOMAS e DIAS, 2009).

Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou

energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a

saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas;

a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos

recursos ambientais (Resolução 01/1981 – CONAMA).

Terracetes são feições erosivas típicas de processos de rastejo geradas pelo

pisoteio do gado (SELBY, 1982). O pisoteio recorrente compacta faixas do terreno,

reduz a permeabilidade do solo e favorece o desenvolvimento de escoamento

superficial (PAISANI e OLIVEIRA, 2001 apud GIROLDO 2012)

Page 4: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

4

Erosão é o processo de desgaste e conseqüente modificação da superfície das

terras (rochas e solos), sendo influenciada por: água, vento, cobertura vegetal,

topografia e tipo de solo. A erosão pode ser geológica ou antrópica, a erosão antrópica

refere-se àquela oriunda da interferência do homem sobre o ambiente, intensificando a

ação da água da chuva e/ou vento sobre o solo (EMBRAPA SOLOS, 2008).

A erosão hídrica ocorre em três processos fundamentais: desagregação,

transporte e deposição das partículas do solo. A desagregação das partículas do solo

ocorre devido ao impacto das gotas de chuva sobre a superfície do solo sem cobertura

vegetal, provocando o selamento superficial dos primeiros centímetros do solo, a

redução da infiltração da água e o aumento do escorrimento superficial. O transporte

das partículas ocorre devido ao escoamento superficial da água que não infiltrou no

solo. Dependendo da intensidade de escorrimento o arraste do solo pode ocorrer

superficialmente no terreno (erosão laminar), em canais pouco a mediamente

profundos, abertos pela força da enxurrada (erosão em sulcos), ou através de grandes

sulcos, os quais concentram grande quantidade de água (erosão em voçorocas). A

deposição das partículas é o processo final da erosão e consiste no armazenamento

do solo em rios, lagos, represas, açudes, terraços (EMBRAPA SOLOS, 2008).

Os sulcos de erosão formam-se, onde surgem os filetes de água originados

pelos obstáculos do terreno. Os sulcos constituem-se em feições efêmeras e

descontínuas que podem desenvolver-se rapidamente durante um aguaceiro.

Normalmente, o escoamento concentrado aprofunda os sulcos, incrementando a

velocidade do fluxo, o qual passa a arrancar maior número de partículas, arrastando

as vertente abaixo (BIGARELLA, 2003 apud GIROLDO 2012)

As ravinas são formadas quando a velocidade do fluxo de água aumenta na

encosta, provavelmente para velocidades superiores a 30cm/s, tornando o fluxo

turbulento. O aumento do gradiente hidráulico pode ocorrer por uma série de

motivos: aumento da intensidade da chuva; aumento do gradiente da encosta; ou,

ainda, porque a capacidade de armazenamento de água, na superfície, é

excedida, e aí a incisão começa a acontecer no topo do solo (GUERRA, 1994 apud

GIROLDO 2012 ).

As voçorocas são características erosivas relativamente permanentes nas

encostas, possuindo paredes laterais íngremes e, em geral, fundo chato,

ocorrendo fluxo de água no seu interior durante os eventos chuvosos. Algumas

vezes, as voçorocas se aprofundam tanto que chegam a atingir o lençol freático. O

desmatamento, o uso agrícola da terra, o superpastoreio e as queimadas, quase

sempre, são responsáveis diretos pelo surgimento de voçorocas, associadas ao

Page 5: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

5

tipo de chuva e as propriedades do solo e podem ter origens variadas. Uma delas

refere-se ao alargamento de ravinas, que se formam em uma determinada

encosta. Essas voçorocas podem evoluir pela ação erosiva das águas, na

base e nas laterais das ravinas, fazendo aprofundar e ao mesmo tempo alargar

essas formas erosivas (GUERRA, 1994 apud GIROLDO 2012).

Os ajustes da taxa de lotação da pastagem, caso a caso, deve

ser compatível com a taxa de crescimento relativo da forrageira, para

não comprometer o equilíbrio do complexo clima-solo-planta-animal e a

persistência da pastagem. Desta forma, a pressão de pastejo ótima deve

ser atrelada aos períodos que limitam a produtividade (períodos de

estresse), para não comprometer a sobrevivência das plantas

(NASCIMENTO JÚNIOR et al, 1994 apud MIRANDA e MUNIZ, 2009).

Para se evitar maiores impactos ao meio ambiente deve observar a capacidade

do local em cada período, pois um mesmo local pode suportar diferentes quantidades

de gado ao longo do ano.

Em alguns casos os indicadores de estado de uma temática

passam a ser os indicadores de pressão de outro tema. Na seleção de

indicadores no tema de recursos hídricos, por exemplo, o assoreamento

e a inundação de áreas na planície aparecem como indicadores de

pressão, e o aumento das áreas inundadas na planície como

conseqüente indicador de estado. Já no tema de uso da terra, o aumento

das áreas inundadas na planície surge como indicador de pressão,

resultando como indicador de estado relativo à diminuição das áreas de

pastagem para a pecuária (ABDON, 2004).

Em grande parte da região do município de Capitão Andrade – Minas Gerais

atualmente predomina a pecuária leiteira. A agricultura era praticada no passado,

restando hoje pequenas e poucas plantações. As atividades pecuárias geram

impactos ambientais, alem disso o solo em algumas áreas historicamente estão

desgastados em virtude da agricultura que era praticada.Desta forma o artigo tem

como objetivo principal apresentar de forma descritiva os impactos ambientais

decorrentes da agropecuária no Córrego do Macuco no município de Capitão Andrade,

MG.

2. Materiais e métodos

2.1 Área de estudo

Capitão Andrade está situado no Leste do Estado de Minas Gerais, na região

do Vale do Rio Doce. Sua população é de aproximadamente 4925 habitantes, sua

Page 6: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

6

área territorial é de 279088 km² com densidade demográfica de 17,65 hab/km², (IBGE

- 2010). O Córrego do Macuco pertence ao município de Capitão Andrade e está

localizado a 6,0 km da cidade sentido Itanhomi com acesso pela rodovia estadual MG

766, seu bioma é a Mata Atlântica. A figura 1 mostra sua localização no município de

Capitão Andrade.

Figura 1 – Localização do Córrego do Macuco em Capitão Andrade - MG

2.2 Coleta de dados

No local os proprietários utilizam o alqueire mineiro como medida padrão, onde

um alqueire equivale a 4,84 hectares ou 48400 metros quadrados (220 x 220 metros).

Ou seja, no presente artigo adotamos essa mesma medida para fins de citação de

áreas.

Para elaboração desse artigo foram feitas pesquisas bibliográficas sobre a

pecuária, produção de leite e perfil dos produtores no Estado de Minas Gerais, e

possíveis impactos causados pelo uso do solo com a pecuária. Foram realizadas

pesquisas de campo e retiradas fotografias da região. Também foi aplicado um

questionário para 10 (dez) moradores do Córrego, sendo que, estes moradores foram

escolhidos aleatoriamente. Os moradores foram questionados sobre o tamanho da

propriedade, quantidade de gado, quantidade de leite produzido, se pratica agricultura,

Page 7: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

7

quais culturas são plantadas, modo de preparo da terra, área de pastagem, reserva

legal, animais silvestres vistos na região, erosões, nascentes e sobre assoreamento.

3. Resultados e discussões

A região é caracterizada por pequenos e médios proprietários, os tamanhos

das propriedades variam entre 0,5 (meio) e 18 (dezoito) alqueires. Sendo assim a

região é dividida em várias propriedades, isso pode gerar um impacto maior, pois são

vários proprietários cada um pensando de uma forma diferente.

Dos 10 (dez) moradores que responderam o questionário 9 (nove) possuem

gado, desses nove todos possuem gado leiteiro. Assim, se a região possui várias

propriedades e nestas é praticada a pecuária leiteira há por conseqüência, um

aumento geral das áreas de pastagem.

Dos 10 (dez) moradores que responderam o questionário 7 (sete) afirmaram

possuir área de reserva e 3 (três) afirmaram não possuir. Dos sete moradores que

possuem reserva cinco souberam informar os tipos de plantas existentes, sendo elas:

a aroeira, a canjiquinha, a arapoca, a peroba, o angico, o ipê amarelo e o ipê rosa, e

dois afirmaram que na reserva há varias outras plantas. Todos afirmaram já ter visto

vários animais silvestres na região, e afirmaram também que recentemente não tem

visto animais silvestres com tanta freqüência. Perguntados sobre a existência de

nascentes na propriedade 4 (quatro) responderam que há, e ainda que cuidam dela

cercando, realizando a limpeza e conservando a mata em sua volta.

Observou-se em campo que cada morador deixa a reserva legal em um local de

sua propriedade, e que não há uma continuidade ou uma ligação entre elas. Tal fato

pode prejudicar a fauna, pois a área de mata, na maioria das vezes, é muito pequena

e os animais têm pouco espaço para se abrigarem. Se todos os proprietários

entrassem em um acordo para deixarem a reserva ter uma continuidade, uma espécie

de corredor ecológico seria muito mais vantajoso, pois a fauna teria mais abrigo e

proteção, e também a proteção de espécies nativas seria mais eficiente. A figura 2

mostra pequenas áreas verdes em meio à pastagem.

Page 8: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

8

Figura 2 – Pequenas áreas verdes em meio a pastagem

A tabela 1 mostra a produção diária e o número de produtores que produzem

essa quantidade de leite em litros por dia. A tabela foi confeccionada com base nos

questionários aplicados aos moradores e considerando que nove dos dez que

responderam possuem gado leiteiro. Observando a tabela percebe-se que na região

predomina pequenos produtores, segundo informações dos moradores a produção no

geral esta nesse entorno, e dificilmente há produtor que produz acima de 150 litros por

dia. Durante a realização do trabalho foi verificada a menor produção que foi de 10

litros por dia e a maior produção diária que foi de 150 litros.

Tabela 1 – Distribuição dos produtores em relação a quantidade produzida no Córrego

do Macuco em 2013

Produção (litros/dia) Número de produtores

Até 20 1

De 20 até 50 3

De 50 até 80 2

De 80 até 100 1

De 100 até 150 0

Acima de 150 2

Total 9

Fonte: Visita de campo, aplicação dos questionários.

Outro fator que pode colaborar para a degradação ambiental no local é a falta

de instrução dos moradores, todos que responderam os questionários tem pouco

estudo, a escolaridade mais alta evidenciada foi 4° ano do ensino fundamental, e um

dos entrevistados não tem estudo formal.

A tabela 2 mostra a quantidade de gado contando vacas, bois e bezerros em

relação ao tamanho da propriedade, observando a tabela percebe-se que a

quantidade de gado por alqueire de terra varia entre 0 e 12,4 cabeças por alqueire.

Page 9: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

9

Tabela 2 – Número de cabeças de gado em relação ao tamanho da propriedade em

alqueires

Tamanho da propriedade

(em alqueires)

Número de cabeças de

gado

Quantidade de gado por

alqueire

0,5 0 0

2,5 17 6,8

5 62 12,4

5 31 6,2

5 29 5,8

8 41 5,1

10 25 2,5

10 117 11,7

13 44 3,4

18 38 2,1

Fonte: Pesquisa de campo, aplicação do questionário

Todos os moradores afirmaram que antigamente (aproximadamente 30 anos

atrás) havia muitas plantações na região e que na maioria das propriedades se

praticava a agricultura. Segundo eles as culturas mais plantadas eram: milho, feijão,

arroz, cana de açúcar, fumo e quiabo.

Atualmente a agricultura ainda é praticada, nove dos moradores que

responderam ao questionário afirmaram que praticam, e todos os que praticam não

vendem, ou seja, é praticada a agricultura de subsistência. A figura 3 mostra um

gráfico com as culturas plantadas e o número de moradores que praticam essa

cultura. Os nove proprietários que praticam a agricultura negaram que utilizam adubos

químicos, herbicidas ou inseticidas e afirmaram que preparam a terra a ser plantada

com aração. Eles não souberam informar com números o tamanho da área plantada,

mas foi observado em campo que as áreas plantadas são pequenas.

Todos os moradores afirmaram que a terra era mais produtiva, o que já

evidencia um impacto ambiental da agricultura na região, outro impacto que foi

observando em campo é o desmatamento. Muitas árvores foram derrubadas para abrir

espaço para o plantio segundo os moradores. O desmatamento trás outro impacto que

é a perda da biodiversidade. Percebeu-se em campo que as áreas que eram usadas

para plantar no passado não foram recuperadas, essas áreas apenas foram usadas

como pastagem.

Page 10: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

10

Figura 3 – Culturas plantadas

Fonte: Trabalho de campo, aplicação dos questionários

No local há muitas pastagens e poucas reservas, devido ao grande número de

moradores praticarem e pecuária leiteira. Pode-se perceber grandes pastos com

poucas arvores. A figura 4 mostra algumas áreas de pastagens sem cobertura vegetal,

o que pode causar erosões. Com a retirada da cobertura vegetal o solo fica

desprotegido, assim favorecendo o primeiro processo da erosão hídrica que é a

desagregação das partículas do solo. Essa desagregação acontece em decorrência do

impacto das gotas de chuva sobre a superfície do solo, e provoca a diminuição da

infiltração de água, com essa diminuição ocorre o aumento do escoamento superficial.

A falta de cobertura vegetal pode gerar também desconforto térmico para o gado,

sendo que há local para proteção contra o sol.

Figura 4 - Uma grande área de pastagem sem árvores

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Número de proprietarios queplantam

Page 11: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

11

É muito comum na região encontrar trilhos de gado que são denominados

terracetes como pode-se observar na figura 5. Esse é um impacto ambiental que

merece uma atenção. Estes são geradas pelo pisoteio do gado que compacta o solo e

mata as plantas, pois é um local onde o gado passa todos os dias gerando uma

grande pressão no solo. Nos locais de terracetes o solo fica totalmente sem cobertura

vegetal, ou seja, os pingos da água da chuva incidem diretamente no solo fazendo

com que as partículas do solo sejam desagregadas. O solo sendo compactado reduz a

infiltração e aumenta o escoamento superficial, ou seja, a água passara com maior

velocidade desagregando partículas do solo. Então esse impacto ambiental favorece o

primeiro estágio do processo erosivo que é a desagregação de partículas do solo, e o

segundo estágio que é o transporte das partículas.

Figura 5–Terracetes

De acordo com Scholefield& Hall (1986) uma vaca com

aproximadamente 530 kg caminhando em terreno plano pode

aplicar com a área basal dos cascos uma força de 250 kPa sobre

o topo do solo. Contudo,segundo Trimble & Mendel (1995, p.

235) essa força aplicada sobre a superfície pode ser muito

superior em terrenos declivosos, uma vez que, para subir

rampas o peso do animal acaba se concentrando nas patas

traseiras, resultando em mais força aplicada sobre a superfície

(pressão/área) (TOMAS e DIAS, 2009). No Córrego do Macuco

os efeitos do pisoteio do gado é agravado pelo fato de que o

terreno tem muita declividade, a figura 7 mostra como o terreno

apresenta muita declividade (TOMAS, Edivaldo; DIAS, Wolliver,

2009).

Page 12: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

12

No Córrego do Macuco os efeitos do pisoteio do gado é agravado pelo fato de

que o terreno tem muita declividade, a figura 6 mostra como o terreno apresenta muita

declividade.

Figura 6- Declividades do terreno

A erosão em sulcos é, às vezes, referida como erosão laminar;

este processo promove a remoção de finas camadas de solo, da

superfície do solo, uma após a outra, e a erosão não é claramente

evidenciada por simples inspeção visual. Na erosão em sulcos, os

mecanismos de impacto das gotas da chuva na superfície do solo e o

escoamento superficial são,conjuntamente, os responsáveis pelo

desprendimento e transporte de sedimentos (AMORIM, et al, 2000). O

processo de erosão entre sulcos é bastante afetado pelas condições da

superfície do solo, como existência de vegetação ou cobertura morta,

microtopografia e/ou rugosidade da superfície do solo e declividade da

superfície do solo (AMORIM, et al, 2000 apud LAFAYETTE, 2001).

É muito comum em todo o córrego encontrar erosões em sulcos (figura 7), e a

região tem os fatores citados acima que favorecem a formação de sulcos, esses

fatores são o a falta de cobertura vegetal e a declividade do solo.

Foi observado em campo também que a região possui ravinas, que é um

impacto agravado pela pecuária, pois as terracetes ajudam a gerar ravinas. As ravinas

resultam do aumento das dimensões do raio hidráulico e do perímetro molhado dos

sulcos de erosão pela ação contínua da ação cisalhante do escoamento. No entanto,

nas ravinas só ocorre escoamento superficial, o que as diferencia das voçorocas.

Page 13: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

13

Assim, o comportamento hidráulico do escoamento superficial das ravinas é o mesmo

dos sulcos de erosão. A figura 8 mostra algumas ravinas encontradas na região.

Figura 7 – Erosões em sulcos

Figura 8 - Ravinas

Todos os moradores afirmaram ainda que o córrego que passa pela região esta

assoreado em diversos pontos, e que as lagoas da região também, em sua maioria,

estão assoreadas. A deposição de partículas que é o processo final da erosão é

observada na região ao observar que há assoreamento na região.

4. Considerações finais

Este trabalho foi realizado com base em relatos de moradores e observações em

campo onde foram diagnosticados impactos ambientais causados em virtude da

pecuária leiteira e agricultura de subsistência na Bacia do Córrego do Macuco, Capitão

Andrade, MG. Ressalta-se que os resultados encontrados não encerram de forma

conclusiva a discussão sobre os impactos da agropecuária na região, visto que não

foram realizados experimentos em laboratório a confirmação do mesmo.

Page 14: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

14

A Bacia do Córrego do Macuco enfrenta um desafio em virtude da degradação

ambiental encontrada, porem percebe-se que os moradores têm consciência ambiental

apesar da baixa escolaridade, todos os que responderam o questionário afirmaram

acreditar que seja possível produzir e preservar os recursos naturais, isso pode ajudar

em uma futura recuperação da área degradada.

A prática da agricultura embora não seja praticada atualmente como no

passado, deixou seus impactos, os impactos causados hoje são pequenos pois as

áreas de cutivo são pequenas e o plantio é realizado na época de chuvas evitando usar

a água de poços, córregos ou lagoas, causando um gasto menor.

Percebe-se que a atividade pecuária causa impactos ao meio ambiente, e tem

causado impactos na região, o principal impacto observado é a erosão em virtude do

desmatamento para criação de pastos e do pisoteio do gado.

É necessário realizar uma recuperação da área degradada na região, visto que

esses impactos podem aumentar com o passar do tempo. Uma proposta para iniciar

uma recuperação seria recompor a cobertura vegetal com espécies nativas, a criação

de corredores ecológicos com a área de reserva legal e a implantação de agroflorestas

nas áreas de pastagem.

5. Referências bibliográficas

ABDON, Myrian. Os impactos ambientais no meio físico - erosão e assoreamento na Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, MS, em decorrência da pecuária, São Carlos - SP, Universidade de São Paulo, 2004, 297 p. Disponível em: http://www.dsr.inpe.br/site_bhrt/download/Tese.pdf

LEMOS, Mauro, et al. Tecnologia, especialização regional e produtividade: um estudo da pecuária leiteria do estado de Minas Gerais, Revista de economia e sociologia rural vol. 41 N°3, 2003. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/diamantina2002/textos/D25.PDF SEBRAE-MG/FAEMG. Diagnóstico da Pecuária Leiteira do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte – Minas Gerais: SEBRAE-MG, 2006, 158 p. MIRANDA, Maria; MUNIZ Francisca. Impacto do gado bovino sobre os ecossistemas do Parque Estadual do Mirador – PEM, São Luis – Maranhão, 2009, 12p. Disponível em: http://ppg.revistas.uema.br/index.php/PESQUISA_EM_FOCO/article/viewFile/154/221 TOMAS, Edivaldo; DIAS Wolliver. Bioerosão – evolução do rebanho bovino brasileiro e implicações nos processos geomorfológicos, Revista brasileira de geomorfologia vol.10 N° 2, 2009, 9p. Disponível em: http://www.lsie.unb.br/rbg/index.php/rbg/article/view/125/119

Page 15: Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na ... · Impacto ambiental decorrente da atividade agropecuária na Bacia do Córrego do Macuco, ... gado/habitante em 2012

15

LAFAYETTE, Kalinny; et al. Resistência à erosão em ravinas, em latossolo argiloarenoso, Revista Bras. Ci. Solo, 2011. GAGGERO, Marcelo. Alterações das propriedades físicas e mecânicas do solo sob sistemas de preparo e pastejo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Agronomia, 1998. GIROLDO, Larissa. Bacias hidrográficas do Rios Jagueri e Jacareí, formas erosivas associadas ao uso da terra. Universidade de São Paulo, 2012 MACEDO, Manuel. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. Revista Brasileira de Zootecnia, 2009.