12
IMPACTO DA COOPERAÇÃO NA GERAÇÃO DE INOVAÇÕES NA PRODUÇÃO DE ACEROLA Taina Camila Caracho (UNESP/Tupa) [email protected] Timóteo Ramos Queiroz (UNESP/Tupa) [email protected] Wagner Luiz Lourenzani (UNESP/Tupa) [email protected] O município de Junqueiropolis, localizado na região Nova Alta Paulista, apresenta como característica um número elevado de pequenas e médias propriedades, com predominância de mão-de-obra familiar tendo sua produção voltada a cultura da aceerola. O município possui a maior área de cultivo no Estado de São Paulo, além de se destacar como maior produtor do Estado com 176 ha de área cultivada distribuídas em 117 propriedades, levando assim o titulo de “capital da acerola”. Outro ponto importante é a presença da Associação Agrícola de Junqueiropolis e parcerias com instituições público/privado (Instituto Brasileiro de Frutas, IBRAF, agroindústrias) que estimula o trabalho cooperativo favorecendo a troca de informações e inovações/melhorias no processo produtivo capazes de gerar benefícios/vantagens competitivas e o desenvolvimento da região. Com o intuito de avaliar os impactos na inovação alavancados pela cooperação foram pesquisados dois grupos homogêneos de produtores associados e não-associados, detectando que aqueles que operam em conjunto possuem vantagens comparativas. Palavras-chaves: Acerola, cooperação, inovação, redes, vantagens competitivas. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

IMPACTO DA COOPERAÇÃO NA GERAÇÃO DE INOVAÇÕES … · O Brasil tem grande potencial para a produção de frutas, pois possui uma extensão territorial ampla e ... produtivas

  • Upload
    dokhanh

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

IMPACTO DA COOPERAÇÃO NA

GERAÇÃO DE INOVAÇÕES NA

PRODUÇÃO DE ACEROLA

Taina Camila Caracho (UNESP/Tupa)

[email protected]

Timóteo Ramos Queiroz (UNESP/Tupa)

[email protected]

Wagner Luiz Lourenzani (UNESP/Tupa)

[email protected]

O município de Junqueiropolis, localizado na região Nova Alta

Paulista, apresenta como característica um número elevado de

pequenas e médias propriedades, com predominância de mão-de-obra

familiar tendo sua produção voltada a cultura da aceerola. O

município possui a maior área de cultivo no Estado de São Paulo, além

de se destacar como maior produtor do Estado com 176 ha de área

cultivada distribuídas em 117 propriedades, levando assim o titulo de

“capital da acerola”. Outro ponto importante é a presença da

Associação Agrícola de Junqueiropolis e parcerias com instituições

público/privado (Instituto Brasileiro de Frutas, IBRAF, agroindústrias)

que estimula o trabalho cooperativo favorecendo a troca de

informações e inovações/melhorias no processo produtivo capazes de

gerar benefícios/vantagens competitivas e o desenvolvimento da

região. Com o intuito de avaliar os impactos na inovação alavancados

pela cooperação foram pesquisados dois grupos homogêneos de

produtores associados e não-associados, detectando que aqueles que

operam em conjunto possuem vantagens comparativas.

Palavras-chaves: Acerola, cooperação, inovação, redes, vantagens

competitivas.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

2

1. Introdução

A produção mundial de frutas alcançou um volume de aproximadamente 690,7 milhões de

toneladas no ano de 2005 (OLIVEIRA; MANICA, 2006).

Com base nos valores apresentados por Oliveira e Manica (2006), pode-se observar que, no

cenário mundial de produção de frutas, os principais países neste segmento são a China, a

Índia e o Brasil.

A China obteve uma produção estimada em 167 milhões de toneladas, cerca de 24% da

produção mundial, e a Índia com 57,9 milhões de toneladas, com aproximadamente 8% da

produção mundial, demonstrando uma grande concentração do volume produzido.

O Brasil alcançou a posição de terceiro maior produtor mundial de frutas com um volume

colhido de 41,2 milhões de toneladas, o que leva a 6% da produção mundial, destacando-se o

cultivo de laranja, banana, coco, abacaxi, mamão, castanha-de-caju, caju e castanha-do-brasil

(OLIVEIRA; MANICA, 2006). No ano seguinte, em 2006, este valor saltou para 41,9

milhões de toneladas, gerando um crescimento de, aproximadamente, 1,70% em relação à

quantidade produzida no ano passado (ASTN – Associação das Indústrias Processadoras de

Frutos Tropicais apud IBGE, 2008).

Embora o volume de produção frutícola seja elevado, o Brasil está na posição de 15º no

ranking dos maiores exportadores, cujo volume destinado ao mercado externo alcançou, em

2007, cerca de 918 mil toneladas (ADRIANO; LEONEL, 2009). Isto de deve ao fato do

consumo interno apresentar-se em crescimento e ser responsável por absorver parcela

expressiva da produção. Os principais compradores de frutas do Brasil são alguns países do

continente europeu que representam cerca de 70% do volume exportado, com destaque para a

Holanda, pois é o país que recebe a maior parte do volume de frutas, desempenhando assim o

papel de pólo distribuidor para os demais países do continente europeu (ASTN apud IBGE,

2008). A produção também é destinada a América do Norte, América do Sul e Oriente Médio

(SILVA, 2006), e há possibilidade do Brasil adentrar ao mercado asiático, uma vez que o

consumo nestes países emergentes cresce expressiva e rapidamente, como a China que, apesar

de possuir um grande volume de produção de frutas, necessitará importar frutas futuramente

(ASTN apud IBGE, 2008).

O Brasil tem grande potencial para a produção de frutas, pois possui uma extensão territorial

ampla e bem diversificada, com diversos tipos de solo e clima. Estas características favorecem

a produção agrícola e, no caso da produção frutícola, não é diferente, fazendo com que o

Brasil possa produzir diversas variedades de frutas como frutas tropicais, subtropicais e

temperadas (SILVA, 2006).

Outro fator positivo é o bom desempenho em pesquisas agropecuárias no desenvolvimento de

tecnologias de produção adequadas aos diversos meios ambientes (SILVA, 2006),

direcionando a produção agrícola para um desenvolvimento da qualidade das frutas e da

forma de produção em si.

Outra característica que demonstra a importância da produção de frutas no Brasil é a área

cultivada que gira em torno de 2,3 milhões de hectares (SILVA, 2006 apud IBGE, 2005),

sendo este setor responsável por empregar cerca de 5,5 milhões de pessoas (SILVA, 2006

apud IBRAF, 2005). A principal mão-de-obra empregada é a familiar, no entanto, também se

utiliza o sistema de meeiros, onde o dono da terra cede esta a um terceiro que a utiliza para

3

plantar e posteriormente os lucros são divididos. Esta característica da força de trabalho está

relacionada ao fato de que 80% da produção de fruticultura nacional ser proveniente de

pequenas propriedades com até 35 ha (SILVA, 2006 apud MARTIN, 2006).

Dentre as regiões brasileiras produtoras destacam-se a região sudeste que é responsável por

55% da produção de frutas de todo o Brasil. Este fato está relacionado devido à tradição das

famílias produtoras e da proximidade dos grandes centros de consumo sendo o estado de São

Paulo o principal produtor, com 45% da produção. Logo em seguida vem a região nordeste

com uma produção estimada em 27% do total, devido principalmente ao grande incentivo

criado para este tipo de produção nas margens do rio São Francisco. Em terceiro lugar, vem a

região norte com 6% (SILVA, 2006 apud ANUÁRIO).

A produção frutícola na região da Nova Alta Paulista, analisada neste estudo, se caracteriza

pela possibilidade de desenvolvimento regional, uma vez que a cultura de frutas se concentra

em pequenas propriedades com mão-de-obra familiar.

Direcionando ao foco deste estudo, que é a produção da acerola na Região da Nova Alta

Paulista, com destaque ao município de Junqueirópolis; vale destacar alguns pontos

econômicos importantes para esta cultura.

O Brasil apresenta condições ideais para o cultivo da acerola, sendo que umas das grandes

vantagens do cultivo é o elevado numero de safras/ano sendo geralmente de 4/ano podendo

chegar a 7/ano, quando do cultivo irrigado.

De acordo com os autores Adriano e Leonel (2009) apud CATI (2009), o Estado de São Paulo

possui uma área de aproximadamente 598 ha voltada para o cultivo da acerola, sendo

distribuídos entre 338 propriedades rurais.

O município de Junqueirópolis é considerado a “capital da acerola” uma vez que possui a

maior área de cultivo no Estado de São Paulo, além de se destacar como maior produtor do

Estado com 176 ha plantado com a cultura disseminada em 117 propriedades.

Em 1990, iniciaram-se os primeiros cultivos da aceroleira no município. Esta fruta encontrou,

na região, condições adequadas para seu cultivo e comercialização, servindo como boa e

importante opção para a diversificação agrícola no município e também ao fato de possibilitar

a capitalização dos produtores rurais (KONRAD, 2002). Na safra de 2001/2002, o município

de Junqueirópolis alcançou uma produção estimada em cerca de 2.400 toneladas, levando

desta forma a conquista da posição de grande produtor brasileiro de acerola. Esta realidade

torna a frutífera uma importante cultura para a agricultura da região (KONRAD, 2002). A

acerola é comercializada na forma de polpa congelada e fruto in natura.

Com os avanços nos estudos e, consequentemente, no campo, busca-se a formação de

pomares com produção acima de 100kg/planta/ano. Hoje, a produtividade media nacional é de

40kg/planta/ano.

1.1 Justificativa

O município de Junqueirópolis, na Região Nova Alta Paulista, apresenta como característica,

no segmento do agronegócio, pequenas e médias propriedades com predominância de mão de

obra familiar cuja produção agrícola é voltada ao setor frutícola, como a acerola. Outro

relevante fato é que a região é considerada uma das regiões mais carentes do estado.

Aproximadamente 12 municípios da região enquadram-se entre os 100 municípios com

4

menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado.

E, a partir da análise do panorama geral sobre a produção frutícola, mais especificamente

sobre a produção de acerola no município de Junqueirópolis, na Região Nova Alta Paulista, o

estudo é voltado aos possíveis resultados positivos que podem ser alcançados a partir da

Associação/Cooperação por meio de um Arranjo Produtivo Local (APL).

2. Objetivos

Conforme afirma os autores Cervo e Bervian (2002), o objetivo é um modo racional e

sistêmico que oferece resposta aos problemas em questão. Além do fato de os objetivos, de

acordo com os autores, serem divididos em: Objetivos Gerais e Específicos.

Seguindo orientações metodológicas, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar as

características gerais de um Arranjo Produtivo Local visando compreender se o trabalho

associativo e cooperativo é capaz de gerar melhorias e inovações na produção fruticultura na

região em questão.

Como objetivo específico é importante analisar a relação existente entre os produtores e

também suas ligações com as associações agrícolas, as agroindústrias, os agentes envolvidos

na distribuição de frutas e as instituições públicas (municípios, Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral – CATI; Associação dos Municípios da Nova Alta Paulista – AMNAP;

Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio – APTA; entre outras, considerados

agentes-chave nas articulações entre produtores) visando à cooperação entre os mesmos e

desenvolvendo, desta forma, vantagens competitivas como um poder de negociação com os

grandes agentes que formam a cadeia. Isto, porque o trabalho coletivo traz maior eficácia em

atingir os resultados e eficiência na maneira pela qual se busca alcançar os mesmos, se

comparado ao individual.

3. Metodologia

Com o objetivo de desenvolver o estudo sobre o Arranjo Produtivo Local analisando suas

características, suas especificidades e as vantagens competitivas que podem ser

desenvolvidas, realizou-se uma pesquisa, com foco na produção de acerola no município de

Junqueirópolis, cujas etapas podem ser visualizadas na figura abaixo.

5

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 1 – Seqüência metodológica aplicada neste trabalho

4. Arcabouço teórico sobre arranjo produtivo local (APL)

De acordo com as autoras Tomaél e Marteleto (2006), a informação é um elemento que, em

qualquer estrutura social, tem a capacidade de unificar/integrar os espaços nas redes entre os

agentes que a compõe.

Nestas redes existem canais centrais de comunicação que são formados por atores que

ocupam posições estratégicas recebendo informações dos diversos canais existentes,

adquirindo conhecimento e desenvolvendo estratégias.

Devido a proximidade entre os atores, os fluxos de informação são intensificados, pois o

conhecimento é constantemente compartilhado entre as pessoas participantes da rede

(TOMAÉL, MARTELETO 2006 apud DIXON, 2000). Por exemplo, em aglomerações

produtivas este fluxo é facilitado devido à proximidade entre os produtores que, por

conseguinte, irá contribuir para o spillovers de conhecimento (AMATO; GARCIA, 2003).

O fato de ocorrer uma constante troca de conhecimento favorece aos agentes a redução de

incertezas quanto ao mercado em que atua, criando, desta forma, uma confiança entre os

membros deste grupo. Esta relação de confiança estimula um comportamento cooperativo que

pode gerar como resultado vantagens competitivas a partir desta sinergia de esforços.

Além da característica da proximidade quanto a distribuição geográfica, é válido destacar

outros elementos que constituem as redes. São eles: regras sociais, tradições e costumes.

Estes elementos são responsáveis pela constituição de instituições informais que influenciam

o comportamento dos agentes e o potencial competitivo de uma atividade específica. A

estruturação destas instituições, se bem desenvolvida, pode auxiliar no spillovers de

conhecimento e inovação, ajudando no desenvolvimento competitivo dos produtores

aglomerados (AMATO, GARCIA, 2003).

Pesquisa Bibliográfica bibliografia

Análise Documental

Conceituação do Tema

Levantamento de bibliografias publicadas sobre APL, produção de frutas e, em especial, da produção de acerola.

Etapa Procedimento

Estudo e análise sobre referencial teórico utilizado

Abordagem e caracterização sobre as estruturas dos APLs de frutas

Análise de Discussão dos

dados

Interpretação e discussão dos dados levantados

Conclusão do artigo Considerações finais acerca dos dados interpretados para análises

Pesquisa de campo Coleta de dados com agentes-chave.

6

A partir da formação de redes e sua consolidação, pode-se dar início a formação de Arranjos

produtivos Locais (APLs).

Os APLs constituem um tipo particular de cluster, composto por pequenas e médias empresas,

que estão focadas em uma profissão ou em um negócio. Os agentes envolvidos possuem,

entre si, relações formais e informais sejam elas, cooperativo e/ou competitivo. Outra

característica deste tipo de produção, é que as atividades desempenhadas apresentam certa

semelhança e podem ser complementares (CAPAROLI; VOLKER, 2004).

A partir da linha de conceituação de APL, pode-se trabalhar sobre o termo clusters. Os

clusters são empresas centralizadas geograficamente, sendo similares, inter-relacionadas e/ou

complementares, que atuam em uma mesma cadeia de produção. Estas aglomerações

garantem o desenvolvimento de vantagens em suas atividades por meio do compartilhamento

da infra-estrutura e do mercado (CAPAROLI; VOLKER, 2004).

Porter (1998) propõe uma conceituação semelhante sobre clusters. Define clusters como

concentrações geográficas de companhias inter-relacionadas e instituições da área em

particular, incluindo, por exemplo, fornecedores de inputs especializados, tais como

componentes, máquinas, serviços e fornecedores de infra-estrutura especializada. Os clusters

estendem-se a jusante para canais e clientes, como também aos fabricantes de produtos

complementares de empresas e nas indústrias conexas por competências, tecnologias ou

insumos comuns.

Outra importante visão sobre APL é de Verdi et. al. (2005) afirmando que os APLs são

aglomerações espaciais compostos de agentes políticos, econômicos e sociais cujo foco está

em atividades econômicas específicas interdependentes. Destaca também a necessidade de

firmar parcerias a fim de conseguir investimentos e especializá-los visando uma integração

econômica e social de âmbito local e ganho de competitividade, envolvendo atores de âmbito

público e privado.

A interação dos elementos que compõe as conceituações abordadas pode ser visualizada no

Quadro 1.

Terminologia

utilizada

Referência

bibliográfica Características Critérios de Análise

Presença de

Cooperação

Redes Sociais Tomaél,

Marteleto

(2006)

Aglomerações/Redes

informações

Homogêneo Sim

Arranjo

Produtivo Local

Verdi et al.

(2005)

Aglomerações

espaciais/atividades

interdependentes

Homogêneo Sim

Sistemas Locais

de Produção

Amato Neto,

Garcia (2006)

Aglomerações

produtivas/empresas

Homogêneo Sim

Arranjo

Produtivo Local

Caparoli,

Volker (2004)

Cluster/conjunto de

produtores pequenos ou

médios

Homogêneo/Heterogê

neo, pois existe

atividade similar e

pode haver atividade

complementar

Sim

Cluster Porter (1998) Concentração geográfica

de instituições inter-

relacionadas

Homogêneo/Heterogê

neo, pois existe

atividade similar e

pode haver atividade

complementar

Sim

Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 1 – Conceituações acerca de aglomerações produtivas

7

5. Análise e discussões dos dados levantados

Neste capítulo serão apresentadas as análises dos dados coletados por meio da pesquisa

empírica, confrontando com o arcabouço teórico presente no capítulo anterior.

5.1 Produção de frutas em Junqueirópolis

Pode-se observar na tabela 1, com base nos dados pesquisados, que o município de

Junqueirópolis está voltado a fruticultura com destaque para o cultivo da acerola.

A relevância da frutífera no município se deve ao fato de a cultura da acerola ocupar uma área

de aproximadamente 176 hectares, além de possuir a maior concentração de Unidades

Produção Agrícola (UPAS) com a produção de acerola, comparando-se as demais frutas

cultivadas no município.

Este conjunto de características revela a importância econômica da cultura para a Região da

Nova Alta Paulista no setor frutícola. Outro aspecto relevante, é que o cultivo da aceroleira

não exige uma utilização extensa de terras. Por exemplo, a acerola apresenta uma proporção

de uso de terra de 1,51% e a manga de 4,62%, do total de áreas utilizadas, respectivamente.

Frutas Área Total (ha) N° UPAs Proporção de uso terra

Acerola 176,8 117 1,51%

Manga 60,1 13 4,62%

Côco-da-baía 47,3 17 2,78%

Banana 34,9 5 6,98%

Uva fina 18,1 13 1,39%

Melancia 15,3 2 7,65%

Outras 34,5 32 1,07%

Total 387,0 199 26,00%

Fonte: CATI/Lupa (2008).

Tabela 1 – Produção de frutas no município de Junqueirópolis

Outra característica importante é que a cultura da acerola se concentra em pequenas

propriedades com a utilização de mão-de-obra familiar. Esta realidade pode ser concretamente

confirmada a partir dos dados demonstrados na tabela 2. As UPAs totalizam 1197 unidades

apresentando como característica a forte concentração de propriedades cujo tamanho está

entre 2 e 50 hectares, ou seja, são propriedades de pequeno e médio portes.

Estrutura Fundiária

Extrato (mínimo e máximo

em hectares) N. UPAs % Área (ha.) %

0 ├ 1 20 1,67% 12,4 0,02%

8

1,1 ├ 2 20 1,67% 27,3 0,05%

2,1 ├ 5 147 12,28% 595,8 1,14%

5,1 ├ 10 241 20,13% 1819,7 3,48%

10,1 ├ 20 309 25,81% 4282,8 8,19%

20,1 ├ 50 281 23,48% 8705,2 16,65%

50,1 ├ 100 83 6,93% 5926,3 11,33%

100,1 ├ 200 46 3,84% 6275,1 12,00%

200,1 ├ 500 37 3,09% 10720,1 20,50%

500,1 ├ 1.000 8 0,67% 5260,7 10,06%

1.000,1 ├ 2.000 4 0,33% 6010,8 11,50%

2.000,1 ├ 5.000 1 0,08% 2647,4 5,06%

Total 1197 100,00% 52283,6 100,00%

Fonte: CATI/Lupa (2008).

Tabela 2 – Extensão das propriedades produtoras de acerola

5.2 Processos de inovação na produção de acerola

Com base nos dados coletados por meio das visitas a campo, pode-se destacar as vantagens

dos produtores associados à Associação Agrícola de Junqueirópolis frente aos produtores não

associados.

A partir da amostra de produtores entrevistados, 15 produtores associados e 14 não

associados, detectou-se que aproximadamente 67% dos produtores associados que praticam a

cooperação entre si desenvolveram ou desenvolvem estratégias de inovação em sua produção

de acerola. Dentre as inovações apontadas pelos entrevistados, pode-se destacar incrementos

em relação aos processos produtivos (formas de manejo da cultura e adequações às exigências

para certificação), inovações de produtos (fruta congelada e/ou resfriada, além de novas

variedades da fruta e modificações nas embalagens). A configuração da amostra e as

proporções de inovações podem ser visualizadas na tabela 3.

Em relação a inovações gerenciais que envolvem controles básicos em planilhas, anotações do

uso de defensivos, cerca de 46% dos produtores associados afirmaram que começaram a

realizar anotações em cadernetas e outros nas planilhas oferecidas pelo GLOBALGAP,

calculando a quantidade de insumos utilizada ou a quantidade produzida de acerola.

Tais processos inovativos foram realizados visando melhoria da fruta a fim de atender as

exigências do mercado que, por conseguinte, acarretaria na conquista da certificação

GLOBALGAP como forma de agregar valor ao produto e ter o acesso facilitado ao mercado

consumidor entre os grandes agentes da cadeia.

Em relação aos produtores não associados, apenas 43%, aproximadamente, conseguiram

realizar mudanças no processo produtivo, porém sem atingir as exigências necessárias para

conseguir a certificação.

Produtor Associado Produtor não Associado

Realiza inovação 10 (66,67%) 6 (42,86%)

Não realiza inovação 5 (33,33%) 8 (57,14%)

Total 15 (100%) 14 (100%)

Fonte: Elaborado pelos autores.

9

Tabela 3- Relação entre o perfil da amostra dos produtores pesquisados e o mapeamento do volume de inovações

5.3 Fatores Competitivos entre os Produtores Associados e Não Associados

A produção de acerola no município de Junqueirópolis pode ser dividida em dois grupos:

entre os produtores associados à Associação Agrícola de Junqueirópolis e os produtores não

associados.

Entre estes dois grupos de produtores existem alguns fatores de competitividade em diferentes

níveis de desenvolvimento. Além da relevante diferença em relação ao grau de cooperação e

inovação, os produtores associados também apresentam vantagens em outros fatores, tais

como certificação, confiabilidade, preço de venda do produto e parcerias com instituições

público/privado; em comparação aos produtores não associados.

Em relação ao selo de certificação GLOBALGAP, os produtores associados possuem ou estão

em fase de aprovação. Este selo traz aos agentes da cadeia a garantia de que os processos de

produção da acerola (produção, transporte, armazenagem) seguem as regras de segurança

alimentar, conservando as características da fruta. Por meio deste selo, houve uma agregação

de valor a acerola que possibilitou aos produtores praticar um preço de venda superior ao

praticado pelos produtores que não possuem a certificação.

Outro importante fator competitivo é a confiabilidade. Os consumidores têm a garantia de

entrega da fruta, pois, mesmo que ocorram alguns imprevistos naturais na produção (baixo

volume de produção, amadurecimento precoce), os produtores em conjunto conseguem

entregar o volume de produção pré-determinado no prazo estipulado, uma vez que possuem

câmaras frias que armazenam as frutas durante a safra, conservando suas características até o

momento da entrega do produto.

10

Fatores de Competitividade Produtores

Associados

Produtores

não Associados

Certificação + –

Confiabilidade + =

Cooperação + –

Preço de venda do produto = –

Qualidade + =

Inovação + =

Legenda: (+) Alto padrão; (=) Intermediário; (–) Baixo padrão

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 2- Fatores de Competitividades entre Produtores Associados e não Associados

5.4 Análise SWOT

No interior de uma rede existem diversos fatores internos e externos que influenciam e

moldam sua formação. A partir desta interação há uma caracterização desta rede por meio das

relações entre os agentes podendo ser positivos ou não, como é o exemplo da relação entre a

associação com os produtores. A partir do estudo realizado sobre as formações de redes e

sobre a associação de Junqueirópolis, é válido fazer uma análise destes pontos para se

identificar os fatores internos e externos que de uma forma ou de outra interferem nos agentes

que formam uma cadeia produtiva. Para isto, foi realizada uma análise SWOT.

Ambiente Interno Ambiente Externo

Pontos fortes

Sistema de integração social e

profissional

Cooperação/Solidariedade

Especialização produtiva

Desenvolvimento sócio-profissional

Inovações Gestão/Produção

Adoção de hábitos saudáveis

Troca e disseminação de

informações

Garantia de Qualidade

Certificação (GLOBALGAP)

Apoio de instituições

Público/Privada

Oportunidades

Pontos fracos

Baixo investimento em pesquisa

Dependência de Indústrias de apóio

que formam o APL

Baixo acesso a

informação/informática

Filhos ligados a outras atividades

Distância do mercado

consumidor

Negociações de

comercialização com grandes

agentes da cadeia Ameaças

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 2 – Análise sobre os fatores positivos e negativos dos ambientes internos e externos de uma rede

11

Os pontos fortes apontados no Quadro 2 podem ser potencializados quando os agentes estão

inseridos em uma rede, como o caso dos produtores associados à Associação Agrícola de

Junqueirópolis, pois desenvolvem estratégias voltadas a produção que são capazes de gerar

vantagens competitivas para concorrer no mercado, evidenciando seus pontos fortes, tanto

como reduzindo ou até mesmo corrigindo suas fraquezas.

Por exemplo, a formação de um sistema de integração social e profissional, a cooperação

entre os agentes, o desenvolvimento sócio-profissional, as adequações na produção de acerola

e na gestão dos insumos são os resultados positivos que podem ser atingidos com esta união.

Fato este pode ser comprovado pelo preço de venda cobrado pelos produtores associados ser

superior ao preço cobrado pelos não associados. Pois a acerola produzida pelos associados

tem a garantia de qualidade exigida pelo mercado, uma vez que possuem a certificação

GLOBALGAP ou estão em fase de aprovação, como mencionado anteriormente neste

capítulo. Outro importante resultado a ser exemplificado é a parceria entre IBRAF,

Associação Agrícola de Junqueirópolis e a Kibon. O IBRAF fez uma campanha afirmando

que os picolés da Kibon tinham como matéria-prima frutas frescas e sem conservantes. A

partir desta parceria, o IBRAF negociou com a Kibon e conseguiu colocar na embalagem dos

picolés a identificação da Associação.

Do mesmo modo, a operação conjunta frente às fraquezas, como o baixo nível de educação

dos produtores, a dificuldade de acessar informações e utilizar ferramentas da informática

podem ser atenuadas. Em especial, por meio da disseminação da importância de se utilizar

tais ferramentas e do aprendizado coletivo.

Outro aspecto a ser considerado é que os obstáculos de mercado enfrentados por estes agentes

podem ser mais facilmente superados por meio de uma rede formada entre os mesmos, pois

terão maior poder de negociação com os elos da cadeia e dividirão os e custos e os riscos

entre si.

6. Conclusão

A partir dos levantamentos trabalhados com produtores de acerola no município de

Junqueirópolis, pode-se detectar a relevância das ações de cooperação para a indução das

inovações em processos, produtos e gerenciais.

As ações praticadas em conjunto por produtores são muito influenciadas por agentes-chave

como a Associação Agrícola de Junqueirópolis. Tal entidade propicia um grande mecanismo

de trocas de informações, que facilitam a redução de assimetrias e redução de incertezas.

Estas ações de trocas levam também a melhores condições de acesso a inovações, bem como

de experimentos coletivos, como foi a certificação GLOBALGAP.

Em contraponto, produtores não associados que atuam de forma mais segmentada não gozam

dos mesmos benefícios e facilidades de incremento dos processos, produtos e melhorias

gerenciais.

Tais resultados apontam para necessidades de pesquisas de maior escala que tornem possíveis

comparações em conjuntos maiores de agentes e correlações com as inovações.

12

Referências

ADRIANO, E.; LEONEL, S. Acerola: Características e Perspectivas para a Cultura. Botucatu, nov 2009.

Disponível em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/ mostra_conteudo.asp?conteudo=20492>. Acesso em:

24 abr. 2010.

AMATO NETO, J.; GARCIA, R. Sistemas Locais de Produção: em busca de um referencial teórico, 2006.

Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ ENEGEP2003_TR0704_1556.pdf>. Acesso em: 25 ago.

2008.

ASTN – Associação das Indústrias Processadoras de Frutos Tropicais. Países da União Européia

recepcionam cerca de 70% das exportações de frutas brasileiras, com aceitação crescente de diversos mercados.

Associação das Indústrias Processadoras de Frutos Tropicais (ASTN). Disponível em:

<http://iaracaju.infonet.com.br/astn/europa.htm>. Acesso em: 03 out. 2008.

CAPAROLI, R.; VOLKER, P. et al (Org.). Metodologia de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais:

projeto PROMOS/SEBRAE/BID (versão 2.0). Brasília: SEBRAE, 2004.

CATI/Lupa. LUPA - Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária

do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_servicos/lupa/lupa.shtml. Acesso em:

19 set. 2008.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.. Metodologia científica. 5ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.

KONRAD, M. Efeito de sistemas de irrigação localizada sobre a produção e qualidade da acerola (Malpighia

spp) na Região da Nova Alta Paulista. Ilha Solteira: UNESP/FEIS, 2002.

KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006.

OLIVEIRA Jr. M. E.; MANICA I. Principais países e quantidades de frutas produzidas em 2005. Disponível

em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/ mostra_conteudo.asp?conteudo=14442>. Acesso em: 24 abr. 2010.

SILVA, P. R.; OJIMA, A. L. R. O.; VERDI, A. R.; FRANCISCO, V. L. S.. A importância do Pólo Frutícola

Bandeirante no agronegócio paulista. In: XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia

Rural, 2006. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/5/437.pdf>. Acesso em: 03 out. 2008.

TOMAÉL, M. I.; MARTELETO, R. M. Redes Sociais: posições dos autores no fluxo da informação. Revista

Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis, 1ºsem.2006. UFSC. Disponível em:

<http://www.encontros-bibli.ufsc.br/bibesp/esp_03/6_GT3_tomael.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2008.

VERDI, A. R.; et.al. Arranjo Produtivo Local: identificação das possibilidades da viticultura na região de

Campinas. São Paulo, jul/dez 2005. Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/asp6-2-05.pdf>.

Acesso em: 28 jul. 2008.