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IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DO E-GOV
EM ÓRGÃOS PÚBLICOS: UM ESTUDO
DE CASO EM UMA UNIVERSIDADE
PÚBLICA BRASILEIRA
Eduardo Fonseca Victoria (Ufpel)
Rafael Mello Oliveira (Ufpel)
Alisson Eduardo Maehler (Ufpel)
A internet modificou a relação entre pessoas, empresas e governos.
Assim, entidades públicas e privadas passaram a direcionar atenções à
interação por meio eletrônico. Com isso, o surgimento de práticas de
governo eletrônico (E-Gov) caracteerizou o processo de utilização de
tecnologias de informação como portal de relacionamento entre setor
público e privado. Este trabalho visa identificar os benefícios e
desvantagens, do ponto de vista econômico e organizacional, da
utilização do pregão eletrônico como forma de E-Gov, através da
análise do caso de uma universidade pública brasileira. A pesquisa
ocorreu em duas etapas, sendo a primeira envolvendo entrevistas com
os responsáveis pelo setor de licitações da universidade e a segunda
através da pesquisa documental dos dados contidos nas atas de
compras feitas pela universidade através da utilização do portal
Comprasnet, sítio oficial de compras do governo federal. Foram
constatadas vantagens em utilizar o meio eletrônico de licitação,
como: melhoria na estrutura tecnológica da instituição, agilidade nos
processos e maior transparência. A redução de gastos em aquisições
de bens e serviços com o uso do pregão eletrônico foi bastante
acentuada no período analisado. Por outro lado, foram identificados
problemas quanto à assistência técnica para produtos adquiridos pela
universidade, bem como desestímulo às empresas da região, que
perderam mercado para concorrentes de outras regiões do país.
Palavras-chaves: Governo-eletrônico; compras; setor público.
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
O crescimento da utilização de tecnologias de informação (TI) por empresas e pessoas
físicas, impulsionou um avanço significativo da rede mundial de computadores (World Wide
Web), bem como a geração de novas tecnologias e facilidades com vista à conectividade das
pessoas e melhoria de processos antes morosos.
Acompanhando a necessidade de informatização, atualmente bastante visível no
mercado, os órgãos públicos passaram a utilizar as TI para composição de seus bancos de
dados, aumentar a agilidade em processos internos e, atualmente, para prestação de serviços e
execução de processos por meio eletrônico. O chamado governo eletrônico reflete um novo
modelo de relacionamento entre governo, cidadãos e fornecedores, no contexto da economia
digital.
A implementação de sistemas de informação com utilização da internet em governos
data de antes da década de 90, no início da popularização da rede mundial de computadores.
No Brasil, o marco inicial do governo eletrônico pode ser atribuído à criação do grupo de
trabalho interministerial, através do decreto presidencial de 3 de abril de 2000, embora desde
1992 já houvesse iniciativas nesse sentido. Desde então, o governo brasileiro vem
implementando um conjunto de projetos e iniciativas de E-Gov a fim de assimilar novas
concepções, tecnologias e práticas de gestão (MEDEIROS e GUIMARÃES, 2006).
Inúmeros órgãos e empresas do governo já utilizam a TI para serviços e consultas via
Web. É o caso dos Correios, que oferece ao usuário a consulta de localização de encomendas
em tempo real; da Polícia Federal, que atende apenas por agendamento e pré-cadastro, ambos
feitos exclusivamente via internet e mais inúmeros outros órgãos públicos, como as
universidades, que realizam várias atividades administrativas, além da compra de bens e
contratação de serviços, através do sistema de governo eletrônico.
Especificamente no caso da aquisição de bens e serviços, o emprego de TI em
processos por parte dos governos brasileiros começou com a lei nº 10.520, de 17 de julho de
2002 (BRASIL, 2002), que regulamenta a modalidade de compra por pregão e habilita a
implementação de pregão eletrônico. Mais tarde, através do decreto 5.504 de agosto de 2005,
fica deflagrada a preferência por pregão na forma eletrônica, para aquisições e contratações de
bens e serviços comuns no âmbito da administração pública (BRASIL, 2005).
O pregão eletrônico no Brasil ocorre através do portal de compras públicas do
Governo Federal (portal Comprasnet), e funciona como um leilão reversoi no qual a disputa
ocorre com o envio sucessivo de lances decrescentes pela internet. Dados divulgados
diariamente neste site revelam economia na ordem de 8,2 bilhões de reais desde o começo da
utilização do pregão eletrônico, no ano de 2003. No ano de 2007 o uso desta modalidade de
compra gerou uma economia de R$ 3,2 bilhões ao Governo Federal (BRASIL, 2008).
Dado a importância do tema apresentado, os objetivos deste trabalho compreendem
identificar e apresentar o impacto da utilização do E-Gov em órgãos públicos brasileiros, mais
especificamente em uma universidade pública, ressaltando os aspectos financeiros e
estruturais, bem como as vantagens e desvantagens da implementação do sistema de pregão
eletrônico em uma universidade. Para tanto, este artigo encontra-se estruturado da seguinte
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forma: na seção 2 encontra-se a revisão de literatura; na seção 3 descrevem-se os aspectos
metodológicos; na seção 4 são apresentados e discutidos os resultados e por fim, na seção 5
são traçadas as conclusões.
2. Revisão da literatura
A evolução tecnológica e as facilidades geradas com o uso de computadores e das
tecnologias desenvolvidas para estes equipamentos impulsionaram investimentos de empresas
privadas e governos de todo o mundo, inclusive do Brasil.
Para melhor abordar a temática do governo eletrônico, mais especificamente o pregão
eletrônico, dividiu-se a revisão bibliográfica, como segue.
2.1. Tecnologia da informação no mundo e no Brasil
Desde o início do desenvolvimento da TI os governos já protagonizavam estudos
sobre esta ferramenta. Equipamentos de informática passaram a ser utilizados para
armazenamento de dados e formulação de cálculos por governos interessados em agilizar seus
processos. Nas empresas, a aplicação era mais voltada para cálculos de folha de pagamento e
para contabilidade (DIAS e REINHARD, 2005).
Na década de 70, quando entravam em operação as primeiras conexões internacionais
e aquilo que viria a ser chamado de internet, também estava sendo criado o primeiro modelo
de microcomputador. As empresas já haviam adaptado sua estrutura para implementar
sistemas mais aprimorados de informática. No Brasil, na mesma época, a Empresa Brasileira
de Telecomunicações (EMBRATEL), recebia a determinação, pelo Decreto n.° 301, de abril
de 1975, de prover a instalação e explorar uma rede nacional de transmissão de dados.
De fato, o estopim para o incremento no investimento pelas empresas e governos em
tecnologias de informação foi a percepção da irreversível popularização dos
microcomputadores e da internet iniciados nos anos 80. A partir daí, muitas empresas
passaram a investir em bancos de dados aprimorados, que gerassem possibilidades de
vantagem competitiva. No Brasil, os bancos iniciaram o processo de informatização dos
procedimentos internos e oferta de serviços eletrônicos para seus clientes (GUROVITZ,
1997).
Percebe-se a evolução tecnológica pelo exemplo da Estônia, país europeu que em 1991
não tinha nenhum computador pessoal e que em 2001 aparecia entre os 20 países mais
informatizados e conectados do mundo (HOLMES, 2001). O número de hosts - computadores
ou redes de computadores que hospedam sites da internet (MARTINELI, 2001) - em todo o
mundo, era de 213 em agosto de 1988 e, em janeiro de 2008 já eram mais de 540 milhões,
segundo a Network Wizard (2008), especializada em pesquisas sobre dados estatísticos da
internet.
Quando se constata o volume de acessos diários a todo este conteúdo, fica clara a
necessidade das empresas e dos governos direcionarem os canais de relacionamento para a
plataforma da internet visando atingir o maior número possível de pessoas. Conforme os
objetivos deste trabalho, o foco será dado ao governo eletrônico, cujos conceitos são
apresentados a seguir.
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2.2. Governo Eletrônico
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) que realiza
estudos sobre as práticas governamentais, define o termo Governo Eletrônico, ou E-Gov como
a utilização da tecnologia da informação, principalmente a internet, como ferramenta de
alavancagem a um governo melhor (OECD, 2003).
O forte relacionamento criado pelo setor privado com os cidadãos, por meio
eletrônico, levou os governos a investir em modernização de equipamentos e criação de sites e
portais de internet para atender às demandas dos cidadãos e aumentar a visibilidade do
governo (PASCALE, 2005).
No Brasil, a implementação do E-Gov, segundo a definição anterior, tem início no ano
de 1994, quando é instituído pelo governo federal o Sistema de Administração dos Recursos
de Informação e Informática, que tinha como função realizar o planejamento, coordenação e
operação dos recursos de informação e de informática para o governo. No entanto, o Sistema
Integrado de Comercio Exterior (SISCOMEX) já operava desde 1992, o que leva a considerar
este como sendo um dos primeiros serviços de governo eletrônico brasileiro (PERSEGONA e
ALVES, 2004).
Segundo Pascale (2005) e Parreiras et al. (2004), as ações do governo brasileiro para
promoção de governo eletrônico iniciaram oficialmente em 1995, com a criação do Plano
Diretor da Reforma do Estado, posteriormente reforçadas pelo Plano Plurianual 2000-2003, o
Avança Brasil. A partir de então foi criado o Grupo de Trabalho em Tecnologia da
Informação (GTTI), no ano 2000. Este grupo, composto por integrantes de vários ministérios,
ficou encarregado de examinar e propor diretrizes e normas que regulassem as novas formas
de interação eletrônica (PASCALE, 2005).
Pouco tempo após a criação do GTTI e posterior estabelecimento do Comitê
Executivo do Governo Eletrônico (CEGE) muitos órgãos do governo brasileiro já
disponibilizavam inúmeros serviços através de sites e portais de internet. Pascale (2005),
afirma que o trabalho desenvolvido pelo GTTI resultou no Modelo Conceitual do Governo
Eletrônico Brasileiro, enfatizando abordagens mundialmente conhecidas como:
G2C (Government to Citizen) - Relacionamento do Governo com os Cidadãos
– Trata-se das interações entre governo e cidadãos direcionadas à prestação de
serviços, oferta de informações, realizadas utilizando a internet;
G2B (Government to Business) - Relacionamento do Governo com o Setor
Privado – Diz respeito às interações de caráter transacional realizadas entre
governo e empresas no intuito de disponibilizar eletronicamente, serviços que
possibilitam estabelecimento, funcionamento e encerramento de atividades
empresariais;
G2G (Government to Government) - Relacionamento do Governo com outros
entes e órgãos do Governo – Compreende as interações entre as várias esferas
dos governos federal, estaduais e municipais, e internamente em cada um dos
órgãos nas suas subdivisões. Acontece quando há, entre os envolvidos,
compartilhamento de dados e troca eletrônica informações;
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G2E (Government to Employee) - Relacionamento do Governo com o Servidor
Público – São as interações entre governo e servidores públicos envolvendo
prestação de informações, treinamento, promoção da gestão do conhecimento e
comunicação.
Por iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi também elaborado o
programa Sociedade da Informação (Socinfo/MCT). Este programa tinha como uma das
principais linhas de ação, o apoio à implementação do comércio eletrônico e a oferta de novas
formas de trabalho, por meio do uso intensivo de tecnologias da informação (PASCALE,
2005). Em se tratando de comércio eletrônico, uma das preocupações do governo foi
desenvolver uma metodologia de trabalho que proporcionasse a democratização do acesso das
empresas às licitações, surgindo assim o modelo de pregão eletrônico apresentado a seguir.
2.3. Pregão Eletrônico
Menezes et al. (2007) afirmam que exemplos bem sucedidos de utilização da internet
para negociações de bens e serviços, em especial o alto volume de negócios (US$ 24 bilhões)
alcançados em 2003 pelo site eBay, impulsionaram a criação de mecanismos para funcionar
no formato de um leilão reverso, para aquisições de empresas (B2B) e para compras públicas
(B2G). Assim, o pregão eletrônico, que ocorre através do portal de compras públicas do
Governo Federal, funciona como um leilão reverso no qual a disputa ocorre com o envio
sucessivo de lances decrescentes pela internet.
No Brasil, em órgãos públicos de âmbito federal, a utilização da modalidade eletrônica
de leilões reversos teve inicio com a regulamentação desta prática, por meio do decreto n°
5.450, de 31 de maio de 2005 (BRASIL, 2005). A partir daí, a criação do portal Comprasnet
possibilitou a implantação do sistema de pregão eletrônico em inúmeros órgãos da
administração federal.
Uma das inovações considerada vantajosa por Vasconcelos (2005), foi a inversão das
fases de habilitação e de análise de propostas, quando passou-se a ter a checagem de
documentos apenas do fornecedor que apresenta a melhor proposta, e não mais dos
documentos de todos os participantes do processo, como ocorria anteriormente.
Freitas (2006) defende que esta modalidade apresenta três fatores interessantes à sua
utilização em detrimento de outros métodos licitatórios. São eles: a maior transparência e
diminuição de fraudes; a agilidade do processo e a redução dos gastos. O primeiro fator se
explicaria pelo fato de, com a utilização desse sistema, qualquer pessoa que possua um
computador conectado à internet pode acessar informações sobre as fases da licitação. O
segundo fator apontado, agilidade, seria possível pela desburocratização e pela ausência da
necessidade de deslocamento de representante do fornecedor, exigido na licitação presencial.
Tais aspectos seriam responsáveis pela redução em até três meses do prazo de conclusão de
um processo de compra, em comparação a processos de licitação comuns. Quanto à redução
de gastos, é facilmente perceptível, haja vista o aumento no número de empresas
concorrentes, sendo que todas necessitam oferecer o melhor preço para serem habilitadas.
Menezes et al. (2007) explica que o leilão reverso, nos moldes utilizados para compras
públicas atualmente, tem por critério avaliar os fornecedores pelo menor preço. Por este
motivo, afirma Freitas (2006), a utilização do sistema em São Paulo representou economia de
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R$ 1,7 bilhões, em um ano e meio. Por seu turno, o Governo Federal percebeu redução de
31,5% nos gastos previstos após implementação do sistema. Este tipo de avaliação, de
economia e redução nos gastos, bem como a questão da análise das vantagens e desvantagens
da utilização do pregão eletrônico em uma instituição federal são, como apresentado
anteriormente, objetivos deste trabalho. Para conseguir satisfazer esses objetivos são
apresentados os aspectos metodológicos a seguir.
3. Aspectos metodológicos
A pesquisa aqui apresentada se caracteriza por ser de natureza exploratória, dado que
tem como objetivo principal compreender a situação problema, bem como identificar cursos
relevantes de ação sob uma visão geral (MALHOTRA, 2006), analisar aspectos financeiros e
estruturais, bem como as vantagens e desvantagens da implementação do sistema de pregão
eletrônico.
Como o objetivo do trabalho é identificar e apresentar o impacto da utilização do E-
Gov em órgãos públicos brasileiros, mais especificamente em uma universidade pública
brasileira, optou-se por realizar um estudo de caso. Yin (2001) o define como sendo uma
investigação empírica que pesquisa um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na
vida real, quando os limites entre fenômeno e contexto não são claramente evidentes e no qual
fontes múltiplas de evidência são utilizadas. Assim, tal metodologia contribuiu para a
compreensão dos fenômenos individuais e organizacionais relacionados à temática aqui
trabalhada.
A universidade analisada foi escolhida como estudo de caso tendo em vista seu
renome no cenário nacional, a implementação de ferramentas de E-Gov ter se dado há mais de
dois anos e por se encontrar mais próxima dos pesquisadores. É uma universidade pública, de
médio porte, e está localizada na região sul do Brasil. Possui em torno de 10 mil alunos,
divididos em cursos de graduação, pós-graduação (lato e strictu senso) e cursos seqüenciais.
Possui também cerca de 1.100 funcionários e 900 docentes, entre efetivos e temporários. Em
fase de modernização, tem investido fortemente em tecnologia e gestão, especialmente nas
áreas administrativas da universidade, como é o caso do setor de compras.
Na análise do caso em questão, vários dados foram coletados com o intuito de melhor
responder aos problemas formulados. Nesse sentido, dados quantitativos, obtidos por meio de
pesquisa documental, foram coletados, armazenados e analisados. A abordagem quantitativa,
segundo Richardson (1999), pode ser empregada tanto em modalidades de coleta de
informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas. Esse método
garante ao pesquisador maior confiabilidade dos dados, já que os mesmos são “exatos”,
evitando distorções de análise e permitindo uma margem de segurança quanto ao resultado da
pesquisa.
A pesquisa documental teve grande importância, já que envolveu consulta às atas de
compras da universidade analisada. As atas foram obtidas pelo site de acesso público
www.comprasnet.gov.br, ligado ao Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. Este
site, como já foi colocado, concentra as informações de compras e licitações de todos os entes
da administração pública federal, sendo uma ferramenta oficial de gestão de compras no
Brasil.
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Figura 1: Site do sistema Comprasnet e interface de acesso às atas de compras.
Fonte: Brasil (2008).
A coleta dos dados foi realizada entre os meses de março a julho de 2007. Os dados
pesquisados nas atas referem-se ao período de 23 de agosto de 2005 a 11 de julho de 2007, ou
seja, cerca de dois anos. Foram coletados dados quanto ao valor orçado de cada item
comprado e seu valor pago efetivamente, nome do fornecedor, data, quantidades, tipo de
unidade (frasco, comprimido, ampola entre outros), a fim de se analisar a economia
proporcionada. Vale ressaltar que a compra só pode ser efetuada se o valor pago é igual ou
menor que o valor orçado, como determina a Lei das Licitações.
A Figura 2 a seguir detalha o procedimento para que seja encontrada a unidade
administrativa desejada. Pode se localizar a mesma pelo nome (campo lista de órgãos) ou pelo
código UASG (campo à esquerda, unidade de compra).
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Figura 2: Busca por atas de compras por instituição
Fonte: Brasil (2008).
Na Figura 2, por uma questão de confidencialidade em relação ao nome da instituição
pesquisada, optou-se por não colocar o código UASG (unidade de compra) e nem mesmo o
nome. Selecionando-se “ok” na tela apresentada, uma nova tela irá aparecer, com todas as atas
disponíveis no período buscado. Podem ser realizados filtros na busca, por data, modalidade
de pregão, órgão buscado, unidade de federação entre outros. A interface é bastante amigável
e facilita até mesmo para o cidadão comum que pode não possuir maiores conhecimentos em
informática.
Paralelo à coleta de dados das atas pesquisadas, foram realizadas entrevistas em duas
oportunidades, sendo a primeira em abril de 2007 e a segunda em abril de 2008. As
entrevistas tiveram por objetivo verificar se houve mudanças na percepção dos pregoeiros,
bem como atualizar alguns dados verificados anteriormente, visando a renovação das
informações obtidas e uma possível complementação dos mesmos. As entrevistas foram
realizadas com o pregoeiro oficial da universidade pesquisada, bem como com dois
assistentes de compras, todos funcionários efetivos da universidade. A mesma se deu por
meio de um questionário semi-estruturado, com perguntas abertas, baseado na literatura
pesquisada.
A seguir, são apresentados os resultados da pesquisa realizada, bem como sua análise.
4. Resultados e análise
A universidade estudada implementou o pregão eletrônico em julho de 2005, porém
este só entrou em funcionamento em agosto do mesmo ano. Do início da utilização até agosto
de 2007, foram economizados R$ 3.609.794,00, enquanto o valor previsto para aquisição de
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bens e serviços no período em questão era de R$ 10.935.654,00, tendo sido desembolsados
R$ 7.325.859,00. Isto representa uma economia de 33%.
Nas atas de compras analisadas, que são de domínio público, as informações
disponíveis são bastante completas e detalhadas, permitindo tanto ao pesquisador quanto ao
cidadão, além do órgão público, possuir uma clara noção dos valores orçados e pagos. Há
informações sobre fornecedores, valores, quantidades compradas, datas e horários bem como
uma transcrição do diálogo entre o pregoeiro e fornecedores.
Durante o período analisado foram adquiridos 5.633 itens. Destes 11,20% (631 itens)
não apresentaram economia, isto é, o valor negociado foi igual ao valor estimado, enquanto
88,80% (5.002 itens) obtiveram economia, tendo sido negociados a um valor abaixo do
estimado. A Figura 3 a seguir apresenta os resultados que foram encontrados com relação aos
percentuais de economia utilizando a modalidade de pregão eletrônico.
Figura 3: Percentual de economia dos itens adquiridos pela universidade analisada
Conforme evidencia a Figura 3, dentre os itens comprados na situação “economia”,
19,80% (1.120 itens) foram adquiridos pela metade ou menos da metade do preço estimado. A
maioria dos itens que obtiveram economia, isto é, 68,90% (3.882 itens) apresentaram uma
redução de até 50% dos preços inicialmente propostos, o que pode ser considerado um valor
substancial. Por outro lado, apenas 11,20% (631 itens) não obtiveram economia.
Como item, entende-se no caso analisado uma séria de insumos utilizados na
universidade. Os mesmos compreendem uma gama de produtos que passa por materiais
hospitalares, utilizados no hospital-escola da universidade; medicamentos e produtos
veterinários, bem como rações e equipamentos para o hospital veterinário; material de
escritório, para as atividades acadêmicas e administrativas; material de consumo, como
produtos de limpeza; máquinas e equipamentos, que incluem desde microscópios a tratores
utilizados na fazenda-escola, entre outros.
Não apareceram distinções significativas de economia por tipo de insumo. Ou seja, os
percentuais encontrados são médias e incluem a soma de todos os itens adquiridos no período
Percentuais de economia utilizando
pregão eletrônico
Economia
nula
11%
Até 50% de
economia
69%
Mais de
50% de
economia
20%
Economia nula
Até 50% de
economia
Mais de 50% de
economia
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analisado. Contudo, há que se perceber uma busca por redução de custos em todas as
compras, quer sejam itens de grande ou reduzido valor. Como será mostrado adiante,
fornecedores locais, habituados a realizarem operações com a universidade, foram perdendo
mercado para concorrentes de outras regiões. Há, neste sentido, uma pressão significativa
sobre o empresário, para que o mesmo reduza seus custos e consequentemente o preço de
venda, afetando muitas vezes a qualidade do item vendido aos órgãos públicos.
Os pregoeiros entrevistados identificaram uma melhoria significativa na estrutura
tecnológica do setor de compras da universidade. Segundo eles, para a implementação do
sistema de pregão eletrônico, foram adquiridos computadores novos, instalada uma rede de
acesso à internet de banda larga e a sala destinada a estes funcionários foi adaptada para
funcionar com as novas características advindas da aplicação da TI nos processos de aquisição
de bens. Após pouco mais de um ano, novamente houve um upgrade nos equipamentos de
informática e a conectividade à internet foi melhorada e estabilizada.
Outra vantagem apontada é com relação à duração dos processos de compra, que,
antes do início da utilização da modalidade de pregão eletrônico, afirmam os funcionários,
necessitavam de trinta a quarenta dias para serem concluídos. Agora duram, em média, vinte e
cinco dias.
Além disso, por não serem encaminhadas previamente todas as propostas para análise,
e isto só pode ser feito depois de realizado o pregão e determinado o primeiro colocado (único
que envia documentação), o tempo despendido com a análise (manual) de um volume
considerável de documentos em papel, teve uma redução acentuada. Isso contribuiu também
com a redução do alto índice de arquivamento de documentos em papel.
A facilidade de utilização do sistema informatizado é tida por todos como um fator
preponderante para a agilidade dos processos. Além do que, os entrevistados dizem ter notado
uma enorme economia gerada pelo novo procedimento e acreditam ter havido maior volume
de compras, impulsionadas por esta disponibilidade extra de recursos oriundos de tal
economia (embora, como mencionado, tal economia seja advinda de uma piora da qualidade).
Outra vantagem é a transparência deste modelo de compras públicas, apontada pelos
pregoeiros em dois momentos. Eles notam uma clareza nos processos, inicialmente pelo fato
de o funcionário responsável pelo pregão não conseguir visualizar quais empresas participam
da licitação até que esta esteja finalizada. Algo que, na visão deles, coíbe práticas ilegais e
exime o operador de qualquer suspeita de irregularidades. Outro fator citado é a
disponibilidade e facilidade de acesso, por qualquer cidadão, aos resultados das contratações,
através das atas disponibilizadas livremente no portal Comprasnet.
Para os entrevistados, a divulgação das licitações no site da universidade e no portal
Comprasnet e os procedimentos informatizados possibilitaram um aumento na abrangência
dos processos de aquisição da instituição. Isto, segundo eles, teria ocasionado a participação
de um maior número de empresas de outras regiões do país, o que contribuiu para a economia
com a redução dos preços.
Contudo, os pregoeiros notaram uma desvantagem logo nos primeiros pregões. Os
fornecedores locais teriam perdido espaço nas contratações por não conseguir oferecer
melhores preços do que empresas de outras regiões. Não obstante, identificaram uma
dificuldade maior com relação à assistência técnica local para alguns produtos adquiridos, o
que exigiu que fosse incluída esta exigência nos processos licitatórios posteriores.
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As vantagens identificadas pelos entrevistados para os fornecedores foram: a
diminuição dos gastos com emissão e remessa de documentos, proporcionados pela inversão
de fases; a possibilidade de vender sem sair de “casa”, dado que para toda licitação é enviado
um e-mail para todos fornecedores cadastrados por linha de fornecimento, informando sobre
novos processos; a redução do tempo de espera pelo resultado da operação de compra e a
redução de gastos com pessoal, pois o processo do pregão permite que a empresa tenha menos
representantes comerciais.
Para a universidade, os benefícios encontrados são: tempo ganho pela agilidade do
processo; economia, dado aos menores custos e a maior quantidade de ofertas, que pelo
aumento na competição reduzem o preço dos produtos comprados; a redução da burocracia e
de documentos; o fato de não haver contato direto com fornecedores e a transparência, pois
todos os cidadãos podem acompanhar on-line os processos, ficando claro o que se compra,
quem vende e quanto se paga pelos produtos.
5. Conclusões
Após analisar os resultados, percebeu-se que as afirmações de Freitas (2006) e
Vasconcelos (2005), quanto às vantagens da utilização da modalidade eletrônica de pregão, se
confirmam no caso analisado. Verificou-se maior transparência e diminuição de fraudes;
aumento na agilidade do processo; a redução dos gastos e redução do tempo total do processo
e acúmulo de documentos, com a inversão das fases de habilitação e de análise de propostas.
Além destes aspectos apontados pelos autores, a universidade como um todo se favoreceu da
melhoria na infra-estrutura tecnológica impulsionada pela utilização do novo sistema. Novas
capacitações foram utilizadas e novas competências criadas.
A maior democratização das informações e dos processos públicos foi também
verificada no caso analisado, visto que mais empresas participaram dos processos licitatórios,
o que também gerou um aumento na competitividade entre os participantes levando mais uma
vez a se perceber a redução dos preços cobrados pelos produtos. Há que se ressaltar
novamente a necessidade de preparo, por parte dos fornecedores, em atender a demanda
pública, focando em redução de custos e melhoria tecnológica.
A agilidade do processo foi constatada pela redução de tempo total das compras,
obtendo ganhos de até quinze dias com relação aos outros tipos de licitação. A substituição de
alguns documentos, antes impressos, por arquivos digitais, proporcionou diminuição da
necessidade de espaço físico para fins de arquivo, bem como ajudou na redução do tempo
demandado em análise e dos custos das operações. Os documentos digitais ficam
armazenados no site do Comprasnet, sendo localizados pelo nome da instituição a que
pertencem, podendo ser baixados a qualquer momento e por qualquer pessoa, facilitando o
acesso e permitindo maior mobilidade ao servidor público.
Os valores economizados foram expressivos, conforme mostrado na Figura 2,
verificando que a utilização de práticas de E-Gov, como o pregão eletrônico, além de
vantajosas no sentido de democratizar o acesso a informações de governo, sendo assim
interessantes aos cidadãos, se mostram eficientes também como ferramenta de redução de
gastos em compras públicas, olhando assim para o bem público.
Concluindo, esse trabalho atendeu os objetivos propostos, mostrando os impactos
financeiros e estruturais, bem como as vantagens e desvantagens da implementação do
sistema de pregão eletrônico em uma universidade pública federal. No entanto, outros
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trabalhos que caracterizem a utilização do E-Gov no setor público são necessários para que se
consiga ter um aparato científico mais consistente de pesquisas no segmento e que possam
servir, futuramente, para os tomadores de decisão agirem em prol do bem comum.
Por exemplo, sugerem-se estudos que analisem o impacto para as empresas locais, dos
processos de compra por meio de pregão eletrônico, uma vez que o escopo de compras passa
a considerar todo o país. Especialmente o caso de empresas com menores economias de
escala, que parecem ser mais afetadas, necessitam ser melhor estudadas. Além disso, pode-se
investigar qual categoria de itens possui maiores percentuais de descontos, o que
especificamente não foi o objetivo deste trabalho. Ressalta-se a necessidade de criação de
mecanismos de mensuração de desempenho e qualidade dos insumos adquiridos, pois
observou-se no meio acadêmico um certo descontentamento com itens que não possuem boa
qualidade, devido ao foco excessivo na questão preço, determinado inclusive pela Lei das
Licitações Públicas (Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que trata do pregão eletrônico ).
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