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Revista Eletrônica Casos em Engenharia de Produção 1 1 Implantação da Norma ISO 9002 em uma Empresa Têxtil Resumo O caso tratado se refere a implantação do Sistema de Qualidade ISO 9002 em uma empresa têxtil de porte médio. O trabalho relata as dificuldades que a empresa enfrentou, assim como as conseqüências, já que a implantação foi utilizada como estratégia de mercado. 1. A Empresa A Empresa A é uma empresa têxtil brasileira, de porte médio, com 50 anos de atividade no mercado. Esta localizada na região central do Estado de São Paulo, em uma cidade de 175 mil habitantes. Seu quadro de funcionários é constituído de, aproximadamente, 450 funcionários trabalhando direta e indiretamente na fabricação de toalhas felpudas e aveludadas de algodão para banho, rosto, piso e praia; roupões e quimonos felpudos e aveludados de algodão. O processo de produção da fábrica, desde a chegada da matéria-prima inicial (algodão) até a liberação do produto para o mercado consumidor são apresentadas no fluxograma a seguir:

Implantação da Norma ISO 9002 em uma Empresa Têxtilapi.ning.com/files/J29ovFW6VM3aRmHRkijy-s-NiWFcodCWG1t49... · As maiores dificuldades da empresa estavam relacionadas com a

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Implantação da Norma ISO 9002 em uma Empresa Têxtil

Resumo

O caso tratado se refere a implantação do Sistema de Qualidade ISO 9002 em

uma empresa têxtil de porte médio. O trabalho relata as dificuldades que a empresa

enfrentou, assim como as conseqüências, já que a implantação foi utilizada como

estratégia de mercado.

1. A Empresa

A Empresa A é uma empresa têxtil brasileira, de porte médio, com 50 anos

de atividade no mercado. Esta localizada na região central do Estado de São Paulo,

em uma cidade de 175 mil habitantes.

Seu quadro de funcionários é constituído de, aproximadamente, 450

funcionários trabalhando direta e indiretamente na fabricação de toalhas felpudas e

aveludadas de algodão para banho, rosto, piso e praia; roupões e quimonos felpudos

e aveludados de algodão.

O processo de produção da fábrica, desde a chegada da matéria-prima inicial

(algodão) até a liberação do produto para o mercado consumidor são apresentadas no

fluxograma a seguir:

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Figura 1: Fluxograma da Empresa

FIAÇÃO

TINTURARIA

PREPARAÇÃO

TECELAGEM

AVELUDAMENTO

ACABAMENTO

BORDADO

CONFECÇÃO

EMBALAGEM

EXPEDIÇÃO

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Fiação: responsável pela produção dos fios que depois de prontos vão para a

Tinturaria ou para a Preparação;

Tinturaria: é onde são realizados os tingimentos das toalhas (posteriormente

levadas para o Aveludamento) e dos fios (posteriormente levados para a Preparação);

Preparação: encarregado da limpeza dos fios e preparação destes em rolos que

seguem para a Tecelagem;

Tecelagem: teares de três gerações diferentes são responsáveis por

transformar os fios em toalhas que seguem para o Aveludamento;

Aveludamento: o setor é responsável por contagem das toalhas, metragem dos

tecidos, supervisão visual para detecção de defeitos, além do aveludamento

propriamente dito. As toalhas seguem para o corte lateral e os tecido vão para a

Confecção;

Acabamento: finalizam-se as toalhas em processos manuais e semi-

automáticos. Na subseção de dobramento e limpeza retira-se os excedentes de

costura e separa-se as toalhas conformes das não conformes. As conformes seguem

para Embalagem e as não conformes para a inspeção-recuperação onde se

classificam as toalhas em três categorias e daí para a Embalagem;

Bordado: setor onde as toalhas e roupões recebem o bordado; daqui as toalhas

seguem para a Embalagem e os roupões voltam para a Confecção;

Confecção: é onde se corta as peças e monta-se os roupões, ocorre ainda uma

triagem e, conforme o defeito, o roupão volta para a costura ou para a recuperação;

daqui seguem para a Embalagem e depois para a Expedição;

Embalagem: separa-se as toalhas por categoria e conforme o pedido, depois

de embaladas as toalhas seguem para a Expedição;

Expedição: setor onde as toalhas e roupões são identificados e enviados a

seus destinos.

As vendas são divididas em: 70% para o mercado interno e 30% para o

mercado externo. O gráfico a seguir, mostra a distribuição das porcentagens que

representam a venda de toalhas e roupões/quimonos em cada mercado.

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Gráfico 1: Representação de vendas de toalhas e roupões

A figura 2 apresenta o Organograma da empresa antes da implantação da ISO

9002. Nota-se através do mesmo a importância do Departamento da Qualidade, o

qual teve papel fundamental na implantação. É formado por: diretor, engenheiro da

qualidade e uma funcionária formada em Estatística. O departamento é responsável

pela garantia do Sistema da Qualidade além dos controles de qualidade da empresa.

68%

32%

75%

25%

0

20

40

60

80

100

mercado interno mercado externo

toalhas roupões

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Figura 2: Organograma da Empresa

2. Caso

A globalização da economia trouxe a necessidade das empresas estarem aptas

a produzir produtos e serviços com qualidade, de forma a satisfazerem a nova classe

de consumidores emergentes e a competirem com os produtos importados.

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Para se adequar a nova realidade, a alta administração de uma empresa deve

procurar métodos para poderem competir no mercado, visando melhorar a

produtividade, a qualidade e consequentemente sua lucratividade. Assim a

padronização dos processos de produção e o bem final se torna uma alternativa.

Tendo em vista tais objetivos um dos sócios da Empresa A analisou a

estrutura da empresa e sentiu necessidade de implantar um sistema da qualidade.

A primeira fase foi a de conscientizar a direção da empresa da importância da

implantação do sistema da qualidade e engajá-la no processo, para este propósito

houveram palestras e treinamento da alta direção em relação a ISO 9000. Nesta fase

também foi decidido que a norma mais adequada seria a ISO 9002.

Após a conscientização da alta administração escolheu-se o diretor do

Departamento de Qualidade da empresa para ser o gerente do projeto, sendo este

considerado o responsável pelo andamento da implantação e pela motivação dos

colaboradores para o engajamento no sistema.

O gerente do projeto optou por escolher uma empresa de consultoria para

apoiar o setor da qualidade na implantação da ISO 9002, a empresa de consultoria

preparou a Empresa A para a Certificação, através de intenso treinamento e várias

palestras para explicar como a Norma deveria ser seguida.

Para dar início a implantação fez-se o levantamento da situação da empresa

para se tomar conhecimento do desenvolvimento dos documentos operacionais

existentes, bem como para aumentar o grau de conhecimento dos processos.

Com o levantamento de dados partiu-se para a elaboração do Cronograma de

Trabalho, o qual determinava: o que, quem, quando e como fazer. O cronograma foi

importante para a implantação do sistema da qualidade pois facilitou a identificação

das tarefas a serem realizadas e a planejar com antecedência as que ainda não tinham

sido realizadas.

Em seguida iniciou-se o processo de conscientização de toda a empresa.

Nesta fase utilizou-se de treinamento intensivo para toda a fábrica, através de

palestras.

Simultaneamente ao processo de treinamento começou também a elaboração

do Manual da Qualidade. Este foi então o primeiro documento a ser elaborado na

implantação e nele estavam definidos as linhas mestras do sistema.

Após a elaboração do Manual da Qualidade começou a elaboração e

implementação dos demais documentos. A elaboração dos procedimentos foi o

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período mais longo da implantação e foi elaborado com os respectivos responsáveis

de cada departamento. Com o sistema da qualidade praticamente todo implantado

iniciou-se as auditorias internas da qualidade.

A auditoria foi um processo independente de verificação do sistema da

qualidade, realizado para comparar a fidelidade entre as atividades realizadas e o

padrão especificado pelo documento. As auditorias internas realizadas foram

essenciais para se verificar as falhas que o sistema possuía.

A empresa manteve um esquema formal de auditorias internas para verificar

se: as instruções documentadas estavam no lugar certo; estavam sendo seguidas; se

estavam adequadas.

Após todo o processo de implantação pediu-se ao órgão responsável, no caso

o BVQI, a auditoria de certificação sem a realização da pré-auditoria.

No final da auditoria de certificação, o BVQI apresentou 21 não-

conformidades à empresa, das quais 9 não-conformidades foram solucionadas ainda

durante a certificação, ficando assim 12 não-conformidades para o Follow-up*.

Após 30 dias um dos auditores que participaram da auditoria de certificação

voltou a empresa para verificar se as não-conformidades que ficaram pendentes na

auditoria tinham sido sanadas, após a verificação positiva a empresa obteve o

certificado da ISO 9002, em setembro de 1996.

3. A ISO 9000

A ISO 9000 é uma série de cinco normas internacionais sobre o

gerenciamento e a garantia da qualidade. Ela é basicamente composta pelas seguintes

normas:

- ISO 9000: Normas de Gestão da Qualidade e Garantia da Qualidade;

- ISO 9001: Sistemas da Qualidade - Modelo de Garantia em Produção, Projetos/

Desenvolvimento, Instalação e Assistência Técnica;

- ISO 9002: Sistemas da Qualidade - Modelo para Garantia da Qualidade em

Produção e Instalação;

- ISO 9003: Sistemas da Qualidade - Modelo para Garantia da Qualidade em

Inspeção e Ensaios Finais;

- ISO 9004: Gestão da Qualidade e Elementos do Sistema da Qualidade - Diretrizes.

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A ISO 9000 é uma fonte inicial de informação sobre as demais normas da

série 9000 e destina-se a estabelecer as diferenças entre os principais conceitos da

Qualidade e fornecer as diretrizes para a seleção e uso das normas ISO 9001, ISO

9002 ou ISO 9003.

A Norma ISO 9002 é usada por companhias para as quais a ênfase está na

produção e na instalação. Essa norma da qualidade pode ser utilizada por uma

empresa cujos produtos já foram comercializados, testados, melhorados e aprovados.

Desta forma, há a possibilidade da qualidade do produto ser alta. Assim a empresa

focaliza seus esforços para qualidade na conservação e no melhoramento dos

sistemas da qualidade existentes, em lugar de desenvolverem sistemas da qualidade

para um novo produto.

A ISO 9002 destina-se a contratos de interesses de garantia da Qualidade de

produção e instalação (ou vendas), possuindo dezenove requisitos.

As normas ISO 9000 visam, entre outras vantagens, dar garantia ao cliente de

que os requisitos contratuais firmados com o fornecedor são cumpridos. A ISO

estabelece Procedimentos da Qualidade, justamente com o objetivo de selecionar os

participantes de um mercado altamente competitivo.

Um processo de sistema da qualidade que se inicia pela implementação dos

requisitos mínimos das normas ISO 9000 faz com que ocorram, paralelamente,

diversos outros processos fundamentais à qualidade: criação de um novo conceito de

administração; mudança comportamental dos colaboradores e início de um processo

de potencialização dos funcionários; início de um processo de melhorias contínuas,

baseado na atuação dos grupos de melhoria internos, em acompanhamento e medição

de indicadores de desempenho nas reclamações. Pode se ainda ressaltar, o

treinamento e capacitação dos colaboradores e a abertura de canais de comunicação

com os fornecedores.

A ISO 9000 por ser uma norma aceita internacionalmente para acessar os

mercados, garanti produtos de qualidade e constrói a confiança entre parceiros

comerciais.

O plano de ação para implantação da norma ISO 9000 está definido em 12

etapas simples e sucintas, descritas abaixo:

• Conscientização da direção da empresa na importância de sua certificação.

• Avaliação do estágio atual da empresa para escolher a norma ISO 9000 mais

adequada.

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• Estabelecimento de uma política de qualidade.

• Definição das área de implantação.

• Normalização e controle de documento e registros de qualidade.

• Criação de uma estrutura para monitoramento (grupos de controle e grupos de

ação).

• Investimento em treinamento e motivação.

• Adoção de CEQ (Controle Estatístico da Qualidade).

• Elaboração do manual da qualidade e procedimentos para as áreas envolvidas.

• Implantação do Sistema da Qualidade.

• Criação de auditoria interna para avaliar e revisar periodicamente o plano de

ação.

• Contratação de uma empresa de certificação para a realização da auditoria final.

4. A Implantação

Como os setores da empresa possuíam uma grande autonomia e não se

interligavam, além dos funcionários participarem muito pouco para o enriquecimento

da empresa como organização, era nítido as perdas exageradas relacionados à

produção, pois o quadro de refugos representava 4,5 % da produção.

O processo produtivo não dispunha dos registros de todas as etapas da

produção, o que dificultava a descoberta das falhas no produto final.

As maiores dificuldades da empresa estavam relacionadas com a aferição das

máquinas utilizadas, sendo que na obtenção de felpudos a necessidade da

uniformização de medidas são de extrema importância.

As normas ISO 9000 surgem então como uma alternativa para a empresa,

pois as normas objetivam a padronização do sistema produtivo, estabelecem

Procedimentos da Qualidade, justamente com o objetivo de selecionar os

participantes de um mercado altamente competitivo.

Segundo Feigenbaun “é essencial que uma empresa tenha um sistema

definido e bem estruturado que identifique, documente, coordene e mantenha todas

as atividades-chave necessárias para garantir as indispensáveis ações na qualidade ao

longo de todas as operações relevantes da empresa” (FEIGENBAUM, 1991).

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A Empresa A passou por uma processo de modernização gradativa em termos

tecnológicos, facilitando e propiciando a implantação de um sistema da qualidade.

Inicialmente foi feito a Política da Qualidade e desenvolvido a atividade de

Descrição das Funções dos Cargos da Empresa e Descrição dos Requisitos Mínimos

das Funções, junto aos chefes dos setores para a implantação da ISO 9002.

No que diz respeito às Descrições dos Requisitos Mínimos das Funções,

também foram levantados dados junto aos chefes dos setores e do Departamento

Pessoal, para admissão de possíveis funcionários e corte de outros, a fim de obter

futuramente colaboradores mais adequados para a empresa.

Em paralelo a esse trabalho, foi feito um Levantamento de Necessidades de

Treinamento de Pessoal, com o objetivo de sanar aos poucos as necessidades de

aperfeiçoamento da mão-de-obra, sendo elaborado um cronograma de treinamento,

de modo a que cada funcionário realizasse os devidos cursos, habilitando-os a

desenvolverem adequadamente suas tarefas, melhorando assim, o seu desempenho

dentro da empresa.

Em virtude da grande quantidade de equipamentos presentes na empresa, nos

mais variados setores de produção, foi realizado um levantamento dos equipamentos

que influem no processo produtivo para eventual aferição/calibração por entidades

cadastradas ao INMETRO.

Foram elaboradas também as Folhas de Processo de cada operação produtiva,

cuja finalidade era documentar detalhadamente a produção, facilitando assim, a

identificação de possíveis falhas, bem como sua imediata ação corretiva e preventiva.

Essas folhas foram elaboradas com base em informações dos próprios funcionários

dos referidos cargos, sob a atenção dos encarregados dos setores.

Elaborou-se os procedimentos que determinaram "como, quem, quando e

onde" fazer cada atividade determinante para a Qualidade. Esses procedimentos

compõem o Manual de Procedimentos, sistematizando, desta forma, as ações em

todos os setores.

Adaptou-se Técnicas Estatísticas ao processo da empresa. Com elas foi

possível identificar aumentos de perda e retrabalho no processo produtivo, o que

tornou viável a aplicação de ações preventivas e ações corretivas.

O Curso de Auditoria Interna da Qualidade, realizada pela Consultoria

contratada pela empresa, foi outra atividade importante na implantação da ISO 9002,

pois permitiu que funcionários da própria empresa adquirissem conhecimentos

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específicos e preparação adequada para uma eventual participação em Auditorias

Internas. O curso teve a duração de aproximadamente quinze horas, no qual foram

apresentados tópicos teóricos sobre Auditoria e formação de auditores, seguido de

uma avaliação final para aprovação como possível auditor interno do Sistema da

Qualidade.

Mesmo com os métodos citados, durante o processo de certificação

encontrou-se dificuldades no entendimento dos funcionários, pois o trabalho

aumentava mas o salário não passava pela mesma transformação, causando uma

grande insatisfação na maioria dos setores.

A elaboração e definição do organograma da empresa, realizada pela

diretoria, teve uma demora inesperada, o que ocasionou o atraso de outras atividades

dependentes do organograma, como a descrição dos requisitos mínimos e das

funções de cargos.

A dificuldade de preenchimento e compreensão de documentos por parte dos

funcionários foi um problema constante na implantação. Como exemplo pode ser

citado o caso da falta de identificação de materiais no almoxarifado e o

preenchimento incorreto da folha de controle de processo da tinturaria.

O departamento da qualidade também encontrou dificuldades em relação a

sobrecarga de tarefas, devido ao fato de que praticamente todas as atividades

relacionadas a qualidade estavam centralizadas no setor, o que acabou

comprometendo o prazo de implantação.

A falta de integração dos departamentos da empresa também dificultou o

trabalho, pois era fundamental para a o sucesso da implantação o comprometimento

de todos funcionários e o esforço integrado dos setores.

Em virtude da grande quantidade de aparelhos presentes na empresa,

ocorreram casos de presença de calibradores e equipamentos de medição não

aferidos conforme o prazo estabelecido em procedimentos. Também averiguou-se a

presença de calibradores e equipamentos de medição com etiqueta de identificação

incorreta.

No início percebeu-se a dificuldade de alguns funcionários para manusear o

manual de procedimentos, assim como o descrédito na importância e resultados da

implantação da ISO 9002.

O departamento de compras apresentou dificuldades na elaboração dos

procedimentos: cadastro de fornecedores e especificação técnica de produtos, devido

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a alterações constantes de fornecedores e mudanças da linha de produtos utilizados

pela empresa.

A definição de ação corretiva, ação de disposição e ação preventiva foi de

difícil compreensão por uma parte dos funcionários, sendo preciso a realização de

palestras para o esclarecimento do assunto.

Para sanar a maioria dos problemas citados acima foram feitos treinamentos,

palestras e cursos com os funcionários da empresa, sendo esta a forma que mais

trouxe resultados.

5. A Mudança

Analisando a implantação da ISO 9002 notamos que esta provocou várias

mudanças na estrutura organizacional como no sistema de produção da empresa.

Entre as mudanças houve uma notória diminuição no quadro de refugos, pois

este passou de 4,5% para 2%, equiparando-se assim aos índices de seus concorrentes.

O layout da empresa foi mudado apenas em setores em que houve trocas das

máquinas utilizadas por outras mais modernas, principalmente as de costura.

O almoxarifado de insumos para produção sofreu uma reestruturação, pois,

com as especificações da Norma, o que não se utilizava deveria ser descartado. Nos

outros setores as mudanças se concentraram na melhor alocação de funcionários ou

modernização das máquinas.

A implantação da ISO 9002 na empresa foi melhor difundida no mercado

externo. O mercado Europeu, principalmente o Alemão passou a importar os

produtos da empresa.

Com a implantação, a produção da empresa aumentou, assim como a mão de

obra se tornou mais qualificada, devido aos cursos oferecidos aos funcionários. Mas

o aumento na produção não acarretou num aumento de funcionários, pelo contrário,

houve um enxugamento no quadro de funcionários da empresa, pois esta antes da

certificação possuía 600 funcionários, após houve uma redução para 450.

Os problemas relacionados a falta de integração dos setores e do

comprometimento dos funcionários, além das várias dificuldades citadas em relação

a preenchimento e elaboração dos documentos, foram solucionados em grande parte

pela realização de palestras e cursos.

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Observou-se que delegar atividades relacionadas a implantação para

outros departamentos gera um maior comprometimento dos funcionários e facilita a

integração dos setores.

Como a empresa foi pioneira no setor de felpudos, na implantação da ISO

9000, ela utiliza o fato como marketing para impulsionar suas vendas, tanto no Brasil

como no exterior (principalmente na Europa). Assim notou-se a necessidade de se

adicionar um Departamento de Marketing ao organograma da empresa.

A norma proporcionou melhoria constante na firma de modo a gerar

preocupações no tocante à manutenção dos equipamentos (calibragem e oficina) e da

própria burocracia interna (manuais da qualidade), além de exigir qualificação aos

funcionários (treinamento) e metodologia na execução dos processos de fabricação.

As mudanças ocorridas tendem a se manter pois o órgão certificador (BVQI)

audita a empresa semestralmente, assim há sempre uma inspeção periódica para se

manter as especificações determinadas pela Norma.

6. Conclusão

Durante a análise do caso apresentado, notou-se que a implantação de um

sistema da qualidade pode modificar a forma como uma empresa pode ser

organizada, e assim ajudá-la a aumentar sua participação no mercado.

No caso, as palestras e cursos são as melhores soluções encontradas para

solucionar os problemas ocasionados pela implantação de novos conceitos na sua

forma de administrar e gerenciar. A contratação da empresa de consultoria auxiliou e

facilitou o processo de implantação, ajudando a solucionar dúvidas do departamento

da qualidade (responsável pela implantação), a respeito de alguns requisitos da

norma ISO 9002.

Mesmo que uma mudança possa trazer aumento na produção e no lucro da

empresa, esta deve sempre se conscientizar das possíveis dificuldades a serem

enfrentadas, pois, a Empresa A após implantar a Norma ISO 9002, será sempre

exigida, pelo mercado a manter um nível da sua marca condizente com a certificação,

e no caso de se perder o certificado ( garantido por auditorias periódicas) a cobrança

do mercado aumentará e o consumidor se questionará sobre as causas desta perda,

comprometendo assim, o desempenho da firma.

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