6
X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente 18 a 21 de setembro de 2011 São João del-Rei - MG - Brasil ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1328 IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS COMPLETOS, A HORIZONTE FIXO, PARA UM PROTÓTIPO DE ROBÔ MÓVEL MULTIARTICULADO TRUCK-TRAILER-TRAILER, EM MOVIMENTOS À PROF. DR. EDSON DE PAULA FERREIRA 1 , VICTOR MARQUES MIRANDA 1 , CAROLINA DUARTE VILLELA 1 . 1. Departamento de Engenharia Elétrica Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Av. Fernando Ferrari, 514 29075-910 Vitória-ES, Brasil E-mails: [email protected], [email protected], [email protected] Abstract This article comprises a practical and original application of full neural predictors with fixed prediction horizon in backwards movements of a truck-trailer-trailer prototype of a multi-articulated mobile robot, in the configuration space. We use a new proposal based on static multilayer feedforward networks. This kind of predictor is useful for assisted operations or can be used as cores in simulators to analyze navigation strategies and for controllers synthesis and validation. The systematic and the presented tools are general, applied not only to the prototype and to the architecture of the current robot. The training data set is composed by real data acquired from measurements of a prototype and by data generated from singular condition model. The characteristics of the prototype and of the acquisition and processing data system are presented. It is shown the results of the procedures applied to the collected data and to a certain structure of predictor with different prediction horizons helping its training and validation processes. The results demonstrate good performance of the systematic and tools. Keywords Robotics, mobile robots, multi-articulated robots, static neural networks, neural predictors, singular models. Resumo Esse artigo aborda um caso prático original de implementação de preditores neurais completos a horizonte fixo, utilizando uma proposta nova, com redes feedforward multicamadas estáticas, para a descrição de movimentos à ré de um protótipo real truck-trailer-trailer de robô móvel multiarticulado, no espaço de configurações. Estes preditores são utilizados na operação assistida ou como núcleo em simuladores para analisar estratégias diversas de navegação e na síntese e validação de controladores. A sistemática utilizada e as ferramentas apresentadas são gerais, aplicáveis não somente ao protótipo e à arquitetura do robô multiarticulado em questão. A base de dados para treinamento é constituída de dados reais de movimentos do protótipo e daqueles gerados a partir de modelo original das singularidades. São apresentadas as características do protótipo e do sistema de aquisição e processamento de dados. São mostrados os resultados dos procedimentos aplicados sobre os dados coletados e sobre certa topologia e parametrização de preditor com horizontes de predição variados no auxílio ao treinamento e à validação. Os resultados evidenciam o bom desempenho da sistemática e das ferramentas utilizadas. Palavras-chave Robótica, robôs moveis, robôs multiarticulados, redes neurais estáticas, preditores neurais, modelo de singularidades. 1 Introdução A navegação robótica é um tema que tem motivado vários trabalhos acadêmicos (Ferreira 1999, 2004). Dentre os diferentes tipos de robôs móveis, os multiarticulados constituem o foco deste artigo. Um robô móvel multiarticulado (RMMA) é caracterizado por sua cadeia mecânica articulada. A arquitetura mais geral de um RMMA é constituída pelo primeiro elemento motorizado (truck-tractor), cuja direção é controlada pelas rodas dianteiras e a tração, pelas rodas dianteiras ou traseiras, acoplado a elementos passivos articulados (trailers), sem motorização ou controle local, com ligação (hitching) on-axle ou off- axle. Esse tipo de robô possui semelhanças, sobretudo em sua cadeia cinemática, com os veículos multiarticulados amplamente empregados no transporte de cargas em rodovias, portos, aeroportos e pátios de armazenamento. Na representação da cadeia cinemática de um RMMA, as variáveis de configuração correspondem aos ângulos, θ i , entre os sucessivos trailers da composição e a direção das rodas dianteiras é caracterizada pelo ângulo γ. A quantidade, n, dessas variáveis é usada para definir o grau de liberdade L do sistema (L=n+1, mantida a velocidade constante). A figura 1 mostra a cadeia do protótipo de RMMA, utilizado no presente trabalho, com 3 graus de liberdade e seus parâmetros geométricos (A i , B i ), evidenciando o ângulo de controle (γ) e o vetor de configuração (θ 1 ,θ 2 ). Figura 1. Cadeia cinemática do protótipo de RMMA Na abordagem do problema em questão, a complexidade maior do controle de manobras e navegação de RMMA‟s está ligada aos movimentos em marcha à ré. Nesta situação o sistema comporta- se como um pêndulo invertido múltiplo horizontal. Os ângulos entre os trailers (em um ou mais engates da composição) podem aumentar, para qualquer

IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1328

IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS COMPLETOS, A HORIZONTE FIXO, PARA UM

PROTÓTIPO DE ROBÔ MÓVEL MULTIARTICULADO TRUCK-TRAILER-TRAILER, EM

MOVIMENTOS À RÉ

PROF. DR. EDSON DE PAULA FERREIRA1, VICTOR MARQUES MIRANDA

1, CAROLINA DUARTE VILLELA

1.

1. Departamento de Engenharia Elétrica

Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Av. Fernando Ferrari, 514 — 29075-910 Vitória-ES, Brasil

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]

Abstract This article comprises a practical and original application of full neural predictors with fixed prediction horizon in

backwards movements of a truck-trailer-trailer prototype of a multi-articulated mobile robot, in the configuration space. We use a

new proposal based on static multilayer feedforward networks. This kind of predictor is useful for assisted operations or can be used as cores in simulators to analyze navigation strategies and for controller‟s synthesis and validation. The systematic and the

presented tools are general, applied not only to the prototype and to the architecture of the current robot. The training data set is

composed by real data acquired from measurements of a prototype and by data generated from singular condition model. The characteristics of the prototype and of the acquisition and processing data system are presented. It is shown the results of the

procedures applied to the collected data and to a certain structure of predictor with different prediction horizons helping its

training and validation processes. The results demonstrate good performance of the systematic and tools.

Keywords Robotics, mobile robots, multi-articulated robots, static neural networks, neural predictors, singular models.

Resumo Esse artigo aborda um caso prático original de implementação de preditores neurais completos a horizonte fixo,

utilizando uma proposta nova, com redes feedforward multicamadas estáticas, para a descrição de movimentos à ré de um protótipo real truck-trailer-trailer de robô móvel multiarticulado, no espaço de configurações. Estes preditores são utilizados na

operação assistida ou como núcleo em simuladores para analisar estratégias diversas de navegação e na síntese e validação de

controladores. A sistemática utilizada e as ferramentas apresentadas são gerais, aplicáveis não somente ao protótipo e à arquitetura do robô multiarticulado em questão. A base de dados para treinamento é constituída de dados reais de movimentos do

protótipo e daqueles gerados a partir de modelo original das singularidades. São apresentadas as características do protótipo e do

sistema de aquisição e processamento de dados. São mostrados os resultados dos procedimentos aplicados sobre os dados coletados e sobre certa topologia e parametrização de preditor com horizontes de predição variados no auxílio ao treinamento e à

validação. Os resultados evidenciam o bom desempenho da sistemática e das ferramentas utilizadas.

Palavras-chave Robótica, robôs moveis, robôs multiarticulados, redes neurais estáticas, preditores neurais, modelo de

singularidades.

1 Introdução

A navegação robótica é um tema que tem motivado

vários trabalhos acadêmicos (Ferreira 1999, 2004).

Dentre os diferentes tipos de robôs móveis, os

multiarticulados constituem o foco deste artigo. Um

robô móvel multiarticulado (RMMA) é caracterizado

por sua cadeia mecânica articulada. A arquitetura

mais geral de um RMMA é constituída pelo primeiro

elemento motorizado (truck-tractor), cuja direção é

controlada pelas rodas dianteiras e a tração, pelas

rodas dianteiras ou traseiras, acoplado a elementos

passivos articulados (trailers), sem motorização ou

controle local, com ligação (hitching) on-axle ou off-

axle. Esse tipo de robô possui semelhanças,

sobretudo em sua cadeia cinemática, com os veículos

multiarticulados amplamente empregados no

transporte de cargas em rodovias, portos, aeroportos

e pátios de armazenamento.

Na representação da cadeia cinemática de um

RMMA, as variáveis de configuração correspondem

aos ângulos, θi, entre os sucessivos trailers da

composição e a direção das rodas dianteiras é

caracterizada pelo ângulo γ. A quantidade, n, dessas

variáveis é usada para definir o grau de liberdade L

do sistema (L=n+1, mantida a velocidade constante).

A figura 1 mostra a cadeia do protótipo de RMMA,

utilizado no presente trabalho, com 3 graus de

liberdade e seus parâmetros geométricos (Ai, Bi),

evidenciando o ângulo de controle (γ) e o vetor de

configuração (θ1,θ2).

Figura 1. Cadeia cinemática do protótipo de RMMA

Na abordagem do problema em questão, a

complexidade maior do controle de manobras e

navegação de RMMA‟s está ligada aos movimentos

em marcha à ré. Nesta situação o sistema comporta-

se como um pêndulo invertido múltiplo horizontal.

Os ângulos entre os trailers (em um ou mais engates

da composição) podem aumentar, para qualquer

Page 2: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1329

valor do ângulo de direção. Essas situações

constituem exemplos de configurações críticas e,

uma vez atingidas, evoluem para o engavetamento ou

jackknife (dar um “L”, em linguagem coloquial) com

a continuidade do movimento para trás.

Visando maior generalidade das soluções, o

problema é formulado no espaço de configurações do

robô, deixando para um nível supervisório, de

coordenação de movimentos, a descrição das

trajetórias no espaço de tarefas do robô. O sistema

supervisório pode ser construído segundo a

abordagem de manobras assistidas. Nessa, o sistema

auxilia o usuário prevendo, por meio de simulações,

o movimento para trás. Isto permite ao usuário

visualizar qual será o comportamento dos ângulos

das articulações, caso a composição se movimente

para trás, a partir da configuração atual e de certa

orientação das rodas dianteiras do truck. Este sistema

tem a funcionalidade de um preditor (Ferreira, 2004).

Os preditores são necessários não só para operação

assistida, mas também para servir de núcleo em

simuladores na análise de estratégias de navegação e

na síntese e validação de controladores.

A figura 2 mostra uma aplicação real da

abordagem discutida.

Figura 2. Preditor instalado na cabina de um veículo articulado

A execução dos movimentos à ré, em manobras

ou navegação de RMMA‟s tem o modelo analítico,

em geral, obtido com muitas suposições

simplificadoras, ainda assim, este é não linear e

muito complexo (Ferreira, 2004). Este modelo impõe

sérias restrições ao uso de técnicas de síntese

tradicionais. Se deslizamentos, folgas, saturações,

elasticidades, ruídos e diversas outras perturbações

forem considerados no problema, constata-se que as

técnicas mais indicadas estão na inteligência

computacional, via aproximações numéricas, model

free, neurais (Ferreira, 1999; Kinjo, 2006;

Demcenko, 2008; Miranda, 2011) ou fuzzy (Ferreira

2002, 2004, 2010).

Ferreira (1999) modelou um protótipo real de

RMMA, via rede neural dinâmica, com pequena

restrição no ângulo de controle [-60°, +60°]. O

presente trabalho vem propor uma alternativa mais

simples, via rede estática, visando obter desempenho

similar e prover resultados mais conclusivos quanto à

generalidade. Sendo o robô um sistema dinâmico,

seria necessária, à priori, uma rede dinâmica

(recorrente) para representar o seu movimento, como

em Ferreira (1999). Contudo esta alternativa

demanda um maior esforço de implementação,

principalmente na aquisição de dados necessários ao

treinamento. Uma alternativa mais simples pode ser

alcançada por meio de redes estáticas feedforward e

consiste na representação do sistema entre dois

instantes de tempo, ou num horizonte fixo H,

múltiplo do tempo de amostragem T (H = hT),

considerando como entradas, no início do intervalo, o

ângulo de direção (γ), o vetor de configuração (θ) e

variações da configuração (δθ). Esta abordagem

representa um tipo de modelagem de um sistema

dinâmico, usando uma aproximação de horizonte

fixo H. O objetivo maior deste artigo é mostrar que

esta segunda abordagem, muito mais simples, é

viável. O preditor opera, baseado na informação

corrente da configuração, suas variações e do ângulo

de direção, gerando, num horizonte H finito de

tempo (horizonte de predição), as variações da

configuração. Essa abordagem pode ser adotada em

aproximações via lógica fuzzy ou via redes neurais.

Levar em conta, na entrada da rede neural,

variações de componentes da configuração inclui

implicitamente informação sobre a velocidade do

truck, por isso este mapeamento será denominado de

“completo”, contrapondo-se ao mapeamento

puramente geométrico entre configurações. Um

preditor completo é definido conforme o seguinte

mapeamento:

onde ,

e “N” é o

número de dados coletados em um movimento (ou o

tamanho de cada trajetória).

Em Ferreira (2010) foi proposta uma sistemática

para a descrição dos movimentos à ré de RMMA‟s

via preditores fuzzy a horizonte fixo de tempo, não

completos. Nele, fica evidente que a generalização

para preditores completos e com maior granularidade

leva rapidamente a uma “explosão” do número de

regras. Esse fato é o maior inconveniente para o uso

da abordagem fuzzy. Assim, para manter a precisão e

a generalidade, com o uso de modelos completos, a

alternativa mais interessante seria o uso da

abordagem neural, objeto deste trabalho.

Existem na literatura algumas propostas de

técnicas de modelagem e controle do movimento à ré

de robôs móveis. No entanto, grande parte da

tecnologia desenvolvida está voltada para carros de

passeio. Apenas um número reduzido de trabalhos

utiliza um protótipo de veículo multiarticulado real,

como o utilizado nesse trabalho. A abordagem

neural, em validações reais, é restrita a veículos não

articulados (Decemko, 2008), porém, em alguns

casos, se utilizam veículos articulados com somente

um trailer e validados somente em simulação (Kinjo,

2006), o que ilustra a originalidade da aplicação do

presente artigo.

Na seção 2, é feita a descrição do protótipo e

hardwares de aquisição de dados e de comunicação;

na seção 3, é apresentado o modelo analítico das

condições singulares de equilíbrio utilizados para a

geração dos dados das singularidades que irão ajudar

Page 3: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1330

a compor a massa de treinamento; na seção 4, é

descrita a sistemática de coleta de dados; na seção 5,

são mostrados os resultados do treinamento de redes

neurais estáticas como preditores com horizonte

finito; na seção 6 são mostrados os resultados da

validação dessas redes; e, por fim, na seção 7, são

apresentadas as conclusões do trabalho.

2 Descrição do Protótipo e hardwares de

aquisição de dados e de comunicação

Neste trabalho foi utilizado um protótipo de RMMA,

constituído por um elemento trator (veículo de

tração) e dois trailers, mostrado na figura 3.

Figura 3. Protótipo multiarticulado utilizado

Este automodelo mede no total 1,73 m, quando

alinhado, e foi produzido pela empresa Tamiya Co.

Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em

escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de

transferência de tração do tipo diferencial e a tração

traseira é feita por um motor DC. Acoplado ao

motor, existe uma caixa de redução, ou câmbio, que

possibilita a escolha de três marchas.

Todo o controle de velocidade, torque,

posicionamento da direção e sensoriamento de modo

geral é realizado por um circuito microcontrolado

embarcado, que também tem interface com um

módulo de rádio frequência para envio e recepção

das variáveis a serem controladas.

Foi utilizado o próprio Hyperterminal do sistema

operacional Windows para “interfacear” tanto a

geração de comandos e a aquisição de dados quanto a

comunicação do computador com o software

embarcado no protótipo.

O sistema embarcado é composto por um

microcontrolador Atmega32, que recebe os

comandos de velocidade linear e de direção do

computador e aplica sinais de PWM ao motor de

passo, da direção, e ao controlador de velocidade.

Além disso, o microcontrolador é capaz de ler os

valores dos potenciômetros acoplados aos engates do

protótipo e de enviá-los para o computador remoto

ou armazená-los localmente.

O sistema de comunicação protótipo -

computador é implementado com transceptores,

modelo TRF-2.4GHz, permitindo transferência de

dados a taxas entre 250 kbps e 1 Mbps.

O engate entre o truck e o primeiro trailer é

montado sobre o eixo traseiro (on-axle); já o engate

entre o primeiro trailer e o segundo está fora do eixo

traseiro (off-axle).

O sistema de odometria é composto de um

encoder óptico do tipo incremental, que possibilita a

determinação da distância percorrida e da velocidade

do veículo.

As variáveis de configuração são medidas por

sensores embarcados (potenciômetros de alta

precisão) instalados em cada engate do veículo. Estes

valores são inicialmente salvos localmente e então é

feito o download para o computador remoto através

do sistema de comunicação.

3 Modelos analíticos das condições singulares

O uso de modelo para as singularidades é necessário

porque as condições de giro são situações de

equilíbrio instável, o que torna impossível obter

dados suficientes de sistemas reais em malha aberta.

Quase a totalidade dos dados reais é representativa

somente em relação às transições entre giros, não

provendo nenhuma informação sobre alguma das

infinitas configurações de giro.

Neste trabalho, é apresentado um modelo para as

condições singulares de giro, restrito a três graus de

liberdade, tração traseira e engate truck-trailer on-

axle, obtido do modelo analítico original apresentado

em Miranda (2011).

Numa situação de giro, o ângulo de direção γ e

os de configuração θi devem permanecer constantes

durante o movimento. Dado o valor desejado do

último ângulo de configuração θ2, os sucessivos

ângulos de configuração e o ângulo da direção são

calculados, no sentido reverso da cadeia, pelas

equações abaixo. Assim, a partir da última

configuração θ2, calculamos sucessivamente:

A tabela 1 explicita os resultados para as

configurações de giro no sentido negativo de θ2g. Os

resultados no sentido positivo de θ2g são simétricos e,

portanto, não serão mostrados.

Tabela 1. Exemplos de configurações singulares

4 Coleta de dados

Na abordagem do problema, a primeira tarefa é a

coleta de dados sobre o protótipo. Foi estabelecida

uma estratégia para a obtenção de uma massa de

-54 -31.607107 19.719728

-48 -28.685078 17.789051

-42 -25.579842 15.778807

-36 -22.300820 13.692357

-30 -18.861011 11.534728

-24 -15.277561 9.312965

-18 -11.572044 7.036308

-12 -7.770356 4.716158

-6 -3.902177 2.365816

0 0.000000 0.000000

Page 4: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1331

dados representativa, a ser usada para o treinamento

e validação da rede. Uma base de dados apropriada

deve conter informações relevantes do sistema a ser

modelado, buscando varrer o universo de

configurações possíveis do RMMA, de modo

abrangente, permitindo à rede apreender a dinâmica

que se deseja modelar e generalizar o conhecimento.

Assim, o espaço de configuração foi discretizado

adequadamente, para cada variável, em valores

iniciais, dentro das restrições dos ângulos críticos. As

configurações iniciais foram obtidas pela

combinação das variáveis discretizadas. Neste

processo escolheu-se um mesmo sinal para todas as

variáveis de configuração, de modo a manter uma

convexidade. Para cada configuração inicial foi

associada uma discretização do domínio do ângulo

de direção, o que forneceu a combinação final de

condições iniciais {(γ, θ1, θ2)i} dos experimentos. O

número final de movimentos foi suficientemente

grande para ser representativo, sem tornar extenuante

a tarefa de coleta de dados.

A solução empregada consistiu em fracionar o

domínio de cada uma das variáveis (θ1 e θ2) em

cinco partições assumindo os valores {0,-1,-3,-7,-11}

e o do ângulo da direção (γ) nos seguintes valores {0,

±1, ±2, ±3, ±5, ±7, ±10, ±13, ±16, ±20}. Assim,

foram obtidas 475 condições iniciais

implementáveis.

O processo de coleta de dados, portanto,

transcorreu efetuando-se a gravação dos valores das

variáveis de configuração, amostrados a um tempo

fixo de 20 ms, ao longo do movimento, para o

veículo partindo de cada uma das condições iniciais,

até o mesmo atingir uma situação de jackknife.

Durante a presente etapa, não houve preocupação em

seguir ou observar uma trajetória específica para o

veículo; ao contrário, se fez imprescindível amostrar

os mais diversos comportamentos, dadas certas

condições iniciais da cadeia cinemática, a fim de

fornecer aos modelos neurais subsídios suficientes ao

aprendizado do comportamento do RMMA.

Como o sistema é simétrico, foram realizados

475 experimentos, com o veículo se movendo, a

partir de configurações convexas, no sentido horário

(negativo) de rotação de θ2, além do movimento

alinhado. O conjunto de dados dos 474 movimentos

simétricos aos realizados pôde ser obtido a partir

daqueles coletados, trocando-se os sinais de cada

ângulo.

Uma vez terminada a coleta, foi implementada a

etapa de pré-processamento, onde foram feitas

manipulações sobre os dados de modo a colocá-los

numa forma adequada ao treinamento dos preditores.

Inicialmente, os dados provenientes dos sensores

potenciômetros foram transformados em valores de

ângulos em graus, conforme fórmula mostrada em

Miranda (2011). Em seguida, foram considerados

somente os dados a partir de uma faixa de variação

de pelo menos um dos valores lidos dos

potenciômetros, antes da qual ocorre leitura das

configurações, sem que tenha ocorrido movimento

ou ocorre uma pequena variação angular antes do

veículo superar a inércia do movimento. Os valores

angulares das configurações foram restringidos aos

seus respectivos ângulos críticos; assim, foram

eliminadas configurações em que um dos ângulos foi

maior que o seu correspondente valor crítico. Por

fim, a fim de facilitar o correspondente problema de

controle, abordado em Miranda (2011), trechos que

se tornaram côncavos foram eliminados,

considerando apenas uma faixa pequena de

concavidade aceitável. Maiores detalhes dessa etapa

de pré-processamento são detalhados em Miranda

(2011).

5 Treinamento

Grande parte do trabalho nesse artigo foi

desenvolvido fazendo uso do ambiente MATLAB

e

seu toolbox de redes neurais, o nnet. O algoritmo de

aprendizado neural supervisionado utilizado foi o

Backpropagation e suas variações.

A tarefa de pré-processamento de dados permitiu

a geração de uma base de dados bruta contendo os

dados já formatados adequadamente, mas ainda

agrupados por movimento. Antes do treinamento,

foram extraídos dados correspondentes a cada

modelo com horizonte de predição característico H,

formando novas bases representativas a cada um.

Durante esse processo, os padrões entrada-saída

foram extraídos da massa bruta, relacionando dados

espaçados de H ms, de acordo com o mapeamento

definido anteriormente. Além disso, foram gerados

os dados simétricos aos até então obtidos; e a massa

de dados obtida foi unificada. Em seguida, foram

incorporadas as condições singulares de giro

calculadas analiticamente através do novo modelo da

seção 3. Cada massa de dados de um preditor foi

dividida, de modo a englobar uma parcela (90%)

para o seu treinamento e outra (10%) para a sua

validação. Por fim, foi feito um ambaralhamento

prévio das entradas dos preditores e estas foram

normalizadas.

Uma mesma topologia de rede feedforward foi

criada para cada preditor e o desempenho de cada um

foi analisado durante o treinamento e a validação. A

topologia e a parametrização testadas para cada rede

são mostradas abaixo:

- Número de camadas ocultas: 2 / Número de neurônios por

camada oculta: 7 e 11, respectivamente;

- Função de ativação por camada oculta: sigmoidal bipolar –

tansig / Função de ativação na camada de saída: linear –

purelin;

- Função de treinamento: traingdx / Função de aprendizado:

learngdm;

- Funções de pré-processamento: fixunknowns, mapminmax,

removeconstantrows / Funções de pós-processamento:

removeconstantrows, mapminmax;

- Função de performance: mse / Função de inicialização

aleatória dos pesos e biases da rede.

Nessa etapa, foi utilizado o modo batch de

treinamento supervisionado. O número adequado de

Page 5: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1332

épocas, em cada caso, foi estimado

experimentalmente. Com isso, foi possível efetuar o

treinamento, considerando o menor erro entre as

saídas obtidas e esperadas da rede dentro do limite de

épocas estabelecido. Para cada preditor de horizonte

diferente, o erro estabelecido para o seu treinamento

foi bem menor que a precisão em que os dados de

sua base foram gerados, tendo em vista que cada rede

convergia muito rapidamente ao se estipular um erro

de treinamento equivalente a essa precisão. Isso é

ilustrado na tabela 2. Como exemplo, para H de

20ms, a precisão era de aproximadamente 0.35° e o

erro adotado foi de 0.02°.

Verificou-se que à medida que se aumentava o

horizonte do preditor, era necessário estabelecer um

maior número de épocas ou um maior erro desejado

para que o treinamento convergisse adequadamente.

Tabela 2. Número de épocas e erro médio quadrático para cada

preditor

Horizonte

(ms)

N° Máx

Épocas

Épocas

Atingido

Goal

(mse)

Erro

(mse)

20 1000 516 0.02° 0.02°

40 1000 617 0.035° 0.035°

60 3000 2548 0.04° 0.04°

100 3500 2584 0.07° 0.07°

6 Validação

Inicialmente, verificou-se o quão bem os preditores

treinados responderam individualmente a cada novo

padrão entrada-saída extraídos da parcela da base de

dados destinada à validação. Durante essa etapa,

denominada Teste de Generalidade ou Validação

Ponto-a-Ponto, para todos os preditores, os erros

médios quadráticos (mse) foram muito próximos aos

correspondentes erros estabelecidos em seus

treinamentos. Como exemplo, para um preditor com

H de 40ms, o erro médio quadrático obtido (0.0347°)

foi aproximadamente igual ao estabelecido para o seu

treinamento (0.035°).

O passo seguinte consistiu em reconstruir

aproximações válidas de trajetórias diversificadas,

realizadas pelo veículo até o mesmo atingir jackknife,

com o ângulo γ mantido constante. Nesse caso,

foram analisadas as respostas de cada modelo a

entradas calculadas e fornecidas por ele mesmo em

um intervalo de tempo correspondente ao seu

horizonte de predição. Durante esse processo,

denominado Validação com Erro Cumulativo, foram

feitas algumas simulações utilizando horizontes de

predição iguais a 20ms, 40ms, 60ms e 100ms e seus

desempenhos foram comparados.

Nessa etapa, procura-se determinar o preditor

que obteve o melhor desempenho relativo. Assim, se

estabelece um horizonte de predição que definirá um

modelo neural para o RMMA e que,

conseqüentemente, servirá de base para a

implementação do controlador. Além disso, uma vez

definido um preditor que obteve um desempenho

relativo satisfatório, se procura obter um horizonte

válido que limita a atuação desse modelo em

simulações ao substituir a planta original (ou seja,

um limite até onde o erro absoluto entre a resposta

estimada por ele e a resposta real está dentro de um

limiar aceitável). O menor valor de tempo,

considerando todas as trajetórias, constitui o

horizonte de validade do preditor em simulações em

malha aberta. Esse representa o tempo máximo de

simulação com o referido preditor, em experimentos,

usando qualquer tipo de controlador, ou em operação

assistida.

Os resultados desse processo são apresentados

na figura 4.

Figura 4. Trajetórias reais e calculadas para a validação com erro

cumulativo de um preditor com horizonte de 40ms

O esquema da figura 5 ilustra o processo de

validação com erro cumulativo empregado. Tendo

por base todas as trajetórias testadas, o preditor que

demonstrou relativamente um melhor

comportamento, gerando menores rmse‟s, em geral,

foi o de horizonte igual a 40ms. Esse fato pode ser

Page 6: IMPLEMENTAÇÃO DE PREDITORES NEURAIS ...Ltd., baseado na réplica de um caminhão real, em escala 1/14. O truck é dotado de um sistema de transferência de tração do tipo diferencial

X SBAI – Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente18 a 21 de setembro de 2011São João del-Rei - MG - Brasil

ISSN: 2175-8905 - Vol. X 1333

melhor observado na figura 6 que evidencia todos os

rmse’s obtidos por cada preditor testado em cada

uma das trajetórias descritas.

Figura 5. Validação com erro cumulativo de um preditor neural de

horizonte H

A primeira coluna de cada tabela representa o

horizonte de predição e a primeira linha de cada

tabela, o número de cada trajetória. Dentro de cada

célula, a primeira linha corresponde aos erros

calculados nas trajetórias para o ângulo θ1, já a

segunda, se refere aos erros calculados nas trajetórias

para o ângulo θ2.

Configurações iniciais:

Trajetória 1: γ = 0°, θ1 = 0°, θ2 = 0° / Trajetória 2: γ = +1°, θ1 = -1°, θ2 = -1° /

Trajetória 3: γ = +2°, θ1 = -3°, θ2 = -7° / Trajetória 4: γ = +3°, θ1 = -1°, θ2 = -

11° / Trajetória 5: γ = +5°, θ1 = -1°, θ2 = -3° / Trajetória 6: γ = +7°, θ1 = -3°,

θ2 = 0° / Trajetória 7: γ = +7°, θ1 = -7°, θ2 = -1° / Trajetória 8: γ = +10°, θ1 = -

3°, θ2 = -7° / Trajetória 9: γ = +13°, θ1 = -7°, θ2 = -3° / Trajetória 10: γ =

+16°, θ1 = 0°, θ2 = -1° / Trajetória 11: γ = +20°, θ1 = -3°, θ2 = -11° /

Trajetória 12: γ = +20°, θ1 = -7°, θ2 = -1° / Trajetória 13: γ = -1°, θ1 = -1°, θ2

= 0° / Trajetória 14: γ = -1°, θ1 = -7°, θ2 = 0° / Trajetória 15: γ = -2°, θ1 = 0°,

θ2 = -3° / Trajetória 16: γ = -3°, θ1 = 0°, θ2 = -1° / Trajetória 17: γ = -3°, θ1 = -

7°, θ2 = -3° / Trajetória 18: γ = -5°, θ1 = -7°, θ2 = -1° / Trajetória 19: γ = -5°,

θ1 = -11°, θ2 = -11° / Trajetória 20: γ = -10°, θ1 = -1°, θ2 = -3° / Trajetória 21:

γ = -20°, θ1 = -11°, θ2 = -11°

Figura 6. Erros quadráticos médios (rmse)

7 Conclusões

Os preditores neurais, completos a horizontes fixos,

projetados apresentaram resultados satisfatórios,

confirmando, desta maneira, a eficiência da

sistemática estabelecida. As sistemáticas para a

determinação da melhor estrutura de preditor, para

um dado robô, bem como para o estabelecimento de

controladores neurais adequados, serão objetos de

trabalhos futuros. O novo modelo proposto para as

condições singulares foi validado em uma situação

real. A estratégia adotada para a coleta de dados foi

suficiente para garantir o aprendizado da rede

durante seu treinamento e sua posterior capacidade

de generalização.

No presente artigo, tem-se uma aplicação real

em um protótipo multiarticulado, com forte restrição

no ângulo de controle [-20°, +20°]. Observa-se que

essa restrição, à priori, pode simplificar a obtenção

de preditores, mas pode complicar muito a síntese de

controladores, pois aumenta as restrições de ângulos

ou configurações críticas. Esse fato também será

tema de trabalhos futuros. Cabe a esses, também, a

implementação dos preditores em um sistema

embarcado no próprio RMMA. De qualquer forma, o

problema é original e os resultados são inéditos, pois

a síntese de redes neurais estáticas na aproximação

de preditores completos, nas condições aqui

estabelecidas, ainda não foi abordada na literatura.

Referências Bibliográficas

Demcenko A., Tamosiunaite M., Vidugiriene A.,

Saudargiene A. (2008) „Vehicle‟s steering signal

predictions using neural networks‟, IEEE

Intelligent Vehicles Symposium.

Ferreira, E.P.; Lamego, M. M.; Widrow, B. (1999)

„Neurointerfaces for semi-autonomous object

moving systems‟, In: Proceedings of the 14th

World IFAC Congress. Beijing, China: Elsevier

Science Ltd, Oxford, UK. K, pp. 155-160.

Ferreira, E.P.; Kulitz H.; Silva, E. B.; Pinheiro, M.

(2002) „Modeling and simulating backward of

multiarticulated mobile robots or vehicles‟, Fifth

World Congress on Computational Mechanics,

Viena – Austria.

Ferreira, E. P.; Kulitz, H.R.; Silva, E. B.; Pinheiro,

M. (2004) „Modelling and Simulating

Movements of Multi-Articulated Mobile Robots

or Vehicles - Analytical and Fuzzy Approach‟.

Chapter of the book: Computational Mechanics

in Vehicle Systems Dynamics. Ed. Londres:

Taylor & Francis Group plc, v.40, pp. 51-70.

Ferreira, E. P.; Pandolfi, F.; Reinan, T. (2010).

Modelagem Fuzzy de Robôs Móveis Multi-

articulados em Manobras Complexas Com

Atraso: Uma Nova Sistemática Para a Descrição

de Movimentos e Controladores. XVIII

Congresso Brasileiro de Automática, Brasil.

Kinjo, H.; Maeshiro, M.; Uezato, E.; Yamamoto, T.

(2006) „Adaptive Genetic Algorithm Observer

and its Application to a Trailer Truck Control

System‟, International Joint Conference Digital.

Miranda, V. M., 2011. Ferramentas de auxílio ao

desenvolvimento de preditores e controladores

neurais, completos a horizonte fixo, de robôs

móveis multiarticulados. Dissertação (Mestrado)

defesa em 2011 – PPGEE-UFES, Vitória, ES.