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A mudança de paradigma na ciência e suas implicações. Um quadro de referência para compreender a revisão de pressupostos em curso na ciência, desencadeada pelos próprios desenvolvimentos desta, a partir da segunda metade do século XX. MP Go – Programa Parceria Cidadã - out 2008 Maria José Esteves de Vasconcellos Implicações do Pensamento sistêmico em diversos contextos de prática

Implicações do Pensamento sistêmico em diversos …€¦ · A mudança de paradigma na ciência e suas implicações. Um quadro de referência para compreender a revisão de pressupostos

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A mudança de paradigma na ciência e suas implicações.

Um quadro de referência para compreender a revisão de pressupostos em curso na ciência, desencadeada pelos próprios desenvolvimentos desta, a partir da segunda metade do século XX.

MP Go – Programa Parceria Cidadã - out 2008

Maria José Esteves de Vasconcellos

Implicações do Pensamento sistêmico em diversos contextos de prática

Pensamento SistêmicoPensamento Sistêmico

paradigma da ciência contemporânea emergente

epistemologia da ciência novo-paradigmática

Equivalência dos termosEquivalência dos termos

“epistemologia” ≅ “paradigma” ≅ “visão de mundo”

compromissos dos cientistas com

“crenças e valores”

compartilhados interdisciplinarmente

Prática científica / Aplicação da ciência

Teoria científica

Epistemologia - pressupostos epistemológicos

TradicionalmenteTradicionalmente

A ciência tradicional (liderada pela Física) A ciência tradicional (liderada pela Física) baseada em seus três pressupostos:baseada em seus três pressupostos:

I – fragmenta o sistema e usa a lógica clássica (simplicidade) II – para conhecer as regras do funcionamento (estabilidade)

III – de como o sistema é na realidade (objetividade)

A ciência tradicionalA ciência tradicional

simplifica o objeto

para conhecê-lo

tal como ele é

““paradigma da ciência tradicionalparadigma da ciência tradicional” ”

simplicidade: análise relações causais lineares

estabilidade: determinismo - previsibilidade reversibilidade - controlabilidade

objetividade: subjetividade entre parênteses uni-versum

A ciência valida A ciência valida conhecimentos e explicaçõesconhecimentos e explicações

“A ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa cultura ocidental e, portanto, em nossas explicações e compreensão dos fenômenos...”

Humberto Maturana - A ontologia da realidade, 1997

Cientistas e leigos Cientistas e leigos

“Quando o homem comum (o homem da rua) começou a acreditar inteiramente na ciência e a adotar seus pressupostos,

o cientista (o homem do laboratório) começou a perder a fé nesses pressupostos”.

Bertrand Russell, “The Scientific Outlook”, apud Jeremy Rifkin, 1981

Essa ciência teve sucesso, mas ...Essa ciência teve sucesso, mas ...

“Quando eu era jovem, os físicos não tinham dúvida de que as leis da física nos dão informação real sobre os movimentos dos corpos e os tipos de entidades que aparecem nas equações físicas.”

Bertrand Russell, “The Scientific Outlook”, apud Jeremy Rifkin, 1981

Há uma revolução científica em cursoHá uma revolução científica em curso

“ ... das revoluções científicas (...) ocorridas no

decorrer dos últimos cem anos, ...

até hoje,

somente poucos tomaram plena consciência

de toda sua extensão”

Ernst von Glasersfeld - Adeus à objetividade, 1991

A própria Física questionou os A própria Física questionou os pressupostos da ciência tradicional pressupostos da ciência tradicional questão lógica - Niels Bohr contradição onda/corpúsculo

questão da desordem – Boltzman agitação desordenada das moléculas

questão da objetividade - Heisenberg princípio da incerteza

Desenvolvimentos em diversas Desenvolvimentos em diversas disciplinas questionam os pressupostos disciplinas questionam os pressupostos

Illya Prigogine – químico russo

Von Foerster – físico / ciberneticista austríaco

Maturana e Varela – biólogos chilenos

Henri Atlan – bio-físico francês

Edgar Morin – sociólogo francês

ComplexidadeComplexidade, um tema interdisciplinar, um tema interdisciplinar

1984 - Cérisy - França - Colóquio Internacional “As teorias da complexidade”

Complexidade deixou de ser: invocação de dificuldade de compreensão / realização ou

justificativa para insuficiência de explicações e teorias Complexidade passou a ser: uma questão a abordar, um objeto de pesquisa

Henri Atlan - “L’intuition du complexe et ses theorisations”, 1984

““Auto-organização”, um tema Auto-organização”, um tema interdisciplinarinterdisciplinar1983 – França - Cerisy - Colóquio Internacional

L’auto-organization. De la physique au politique.

instabilidade – caos – irreversibilidade – seta do tempo – física de processos - sistemas que funcionam longe do equilíbrio – flutuação – saltos qualitativos do sistema - ordem a partir da flutuação – determinismo histórico

Biologia do Conhecer, um tema Biologia do Conhecer, um tema interdisciplinarinterdisciplinar

1997 – Belo Horizonte – Simpósio Internacional Autopoiese: biologia, cognição, linguagem e sociedade

teoria científica do observador

““paradigma da ciência contemporânea emergente” paradigma da ciência contemporânea emergente”

complexidade: contextualização causalidade recursiva

instabilidade: indeterminação - imprevisibilidade irreversibilidade - incontrolabilidade

intersubjetividade: objetividade entre parênteses pluri-versa

Quadro de referência para as mudançasQuadro de referência para as mudanças

ciência tradicional

simplicidade análise

relações causais lineares

estabilidadedeterminismo - previsibilidade

reversibilidade - controlabilidade

objetividadesubjetividade entre parênteses

uni-versum

ciência contemporânea emergente

complexidadecontextualização

causalidade recursiva

instabilidade indeterminação - imprevisibilidade

irreversibilidade - incontrolabilidade

intersubjetividadeobjetividade entre parênteses

pluri-versa

Maria José Esteves de Vasconcellos

* Participação na Mesa Redonda “Pensamento sistêmico: terapia familiar e outras aplicações”, promovida por ABTD / EquipSIS, Belo Horizonte, 20-02-95.

P e n s a m e n t o S i s t ê m i c o c o m o “Novo Paradigma da Ciência” *

Pensando sistemicamente:Pensando sistemicamente:(1o. exercício) (1o. exercício)

Amplio o foco (Proíbo-me de manter o foco no indivíduo)

Focalizo as relações Identifico regras de relação: contextualizo Trabalho com o “sistema constituído em torno do problema”

Pensando sistemicamente:Pensando sistemicamente:(2o. exercício)(2o. exercício)

Descrevo com o verbo estar (Proíbo-me de usar o verbo ser)

O que está acontecendo agora? Como cada um está participando? Como eu posso mudar na relação com ele?

Pensando sistemicamentePensando sistemicamente (3o. exercício) (3o. exercício)

Legitimo a verdade do outro(Proíbo-me de responder começando com um “não”)

Reconheço, genuinamente, a verdade do outro Focalizo minha relação com o outro Pergunto-me pela minha participação na situação Co-construo a “verdade” com o outro

O cientista novo-paradigmáticoO cientista novo-paradigmático

vendo sistemas de sistemas

contextualiza o fenômeno e focaliza as interações recursivas

portanto, é um cientista que adotou o pensamento sistêmico

acreditando que tudo está em processo de tornar-se

trabalha com a mudança e admite que não controla

adotando o caminho da objetividade entre parênteses

reconhece-se parte do sistema e atua na perspectiva da co-construção

TrêsTrês dimensões num único dimensões num único novo novo paradigmaparadigma

Paradigma da complexidade

sistemas amplos, redes, ecossistemas, causalidade circular, recursividade

Paradigma da instabilidade

imprevisibilidade, desordem, evolução, incontrolabilidade, saltos qualitativos

Novo Paradigma

da Ciência inclusão do observador, auto-

referência, signifi-cação da experiência na conversação, co-construção

Paradigma da intersubjetividade

Recursividade entre as três Recursividade entre as três dimensõesdimensões

ciência

tradicional

complexidade

Instabilidade

intersubjetividade

ciência novo-paradigmática

observador/linguagem/sociedade observador/linguagem/sociedade

“Entre o observador, a linguagem e a sociedade se estabelece uma conexão não-trivial, ou seja, uma relação triádica fechada, em que não se pode dizer quem foi primeiro e quem foi último e em que se necessita dos três para se ter cada um dos três.”

Heinz von Foerster - “Cibernética de la cibernética” (1974)

complexidade / instabilidade / intersubjetividadecomplexidade / instabilidade / intersubjetividade

“Entre as três dimensões do ‘novo paradigma’ - os pressupostos da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade - se estabelece uma conexão não-trivial, ou

seja, uma relação triádica fechada, na qual se necessita das três para se ter cada uma das três.”

Esteves de Vasconcellos - “Setting constructivist/social constructionist proposals in the context of the new-paradigmatic science”, 1997 (parafraseando Heinz von Foerster)

Três congressos interdisciplinaresTrês congressos interdisciplinares

1984 - Cérisy- França - Colóquio Internacional “As teorias da complexidade” complexidade

1983 - Cérisy - França - Colóquio Internacional “A auto-organização: da física

à política” instabilidade

1997 - Belo Horizonte - Simpósio Internacional “Autopoiese: biologia, cognição,

linguagem e sociedade” intersubjetividade

(objetividade entre parênteses)

Pensamento sistêmico novo-paradigmático. Pensamento sistêmico novo-paradigmático. Novo-paradigmático, por quê?Novo-paradigmático, por quê?

Visão sistêmica de 1a Ordem: pensamento contextual (complexidade do sistema) pensamento processual (instabilidade/autonomia do sistema)

Visão sistêmica de 2a Ordem: pensamento relacional (construção intersubjetiva do sistema)

A Biologia evidenciouA Biologia evidenciou

nossa constituição biológica de seres vivos fechados estruturalmente

inexistência de um mundo objetivo

nossa constituição de seres vivos dotados de linguagem

constituímos o mundo na linguagem

O que vivenciei aqui, evidenciaO que vivenciei aqui, evidencia: :

É IMPOSSÍVEL A OBJETIVIDADE

1 – Não tenho como distinguir, na minha experiência, uma “percepção” de uma “alucinação”

2 – A “realidade” emerge na conversação

Em experimentos de laboratórioEm experimentos de laboratório, , a Biologia do Conhecer evidencia:a Biologia do Conhecer evidencia:

É IMPOSSÍVEL A OBJETIVIDADE

1 – Nossa constituição biológica nos impede de falar de um mundo objetivo

2 – Nossa constituição de seres vivos humanos, dotados de linguagem, nos permite co- construir nosso conhecimento do mundo

Nenhum observador pode falar de umaNenhum observador pode falar de uma realidade objetiva realidade objetiva NÃO EXISTE A REALIDADE INDEPENDENTE DE UM OBSERVADOR

“Tudo é dito por um observador” (Maturana - biólogo)

“a outro observador” (von Foerster - ciberneticista)

Com a visão sistêmica, reconheço que:Com a visão sistêmica, reconheço que:

Não existe realidade independente do observador

ninguém tem acesso privilegiado à realidade Não existe verdade objetiva ninguém é autoridade para falar da verdade

Não há como validar minha percepção / ação ninguém pode garantir que está certo

Uma implicação fundamentalUma implicação fundamental

“Reconhecer o outro como legítimo outro no meu espaço de convivência”

(Maturana)

legitimando as diferenças sem reduzí-las sem eliminá-las

Implicações da “Biologia do Conhecer”, Implicações da “Biologia do Conhecer”, de Maturanade Maturana

inexistência de realidade independente do observador: percepção = ilusão = alucinação Não ao realismo do universo

determinismo estrutural Não à interação instrutiva

impossível acesso privilegiado à realidade: tudo ocorre na experiência Não à verdade/autoridade

“objetividade entre parênteses” Não à objetividade

co-construção da realidade Não ao solipsismo

no espaço consensual da intersubjetividade:

a linguagem instala a “realidade”

(TUDO EMERGE NA LINGUAGEM)

Dois caminhos explicativos Dois caminhos explicativos

caminho explicativo caminho explicativoda da

objetividade objetividade entre parênteses

A realidade Muitas realidades O uni- versum Multi-versa A verdade Muitas verdades

De uma epistemologia filosófica para uma De uma epistemologia filosófica para uma epistemologia científicaepistemologia científica

Ciência tradicional

epistemologia filosófica (filosofia da ciência)

epistemologia para a ciência (para atuar cientificamente)

Ciência contemporânea

epistemologia científica (ciência da ciência)

epistemologia para a vida(para ver e agir no mundo)

ContemporaneamenteContemporaneamente

Teoriacientífica

Práticacientífica

Epistemologiacientífica

Epistemologia que implica distinções Epistemologia que implica distinções do cientista nas três dimensõesdo cientista nas três dimensões

É o cientista que pensa ou distingue a complexidade

É o cientista que pensa ou distingue a auto-

organização / a autonomia dos sistemas

É o cientista que se pensa ou se distingue como

parte do sistema com que trabalha

Epistemologia integra a estrutura do Epistemologia integra a estrutura do profissionalprofissional

Uma teoria, eu aplico

Minha epistemologia, me implica

O cientista novo-paradigmáticoO cientista novo-paradigmático

vendo sistemas de sistemas

contextualiza o fenômeno e focaliza as interações recursivas

portanto, é um cientista que adotou o pensamento sistêmico

acreditando que tudo está em processo de tornar-se

trabalha com a mudança e admite que não controla

adotando o caminho da objetividade entre parênteses

reconhece-se parte do sistema e atua na perspectiva da co-construção

Da disjunção à conjunção Da disjunção à conjunção

ou isto,

ou aquilo

e isto, e aquilo

tanto isto, quanto aquilo

pensamento integrador

Articulação Articulação ciência tradicional / ciência tradicional / ciência contemporânea emergenteciência contemporânea emergente

ciência

tradicional

cientista novo-

paradigmático teorias

e técnicas

complexidade instabilidade intersubjetividade

Como as disciplinas científicas têm Como as disciplinas científicas têm lidado com essa mudança de paradigma?lidado com essa mudança de paradigma?

Ciências físicas Ciências biológicas não têm se mostrado sensíveis às

evidências da inexistência de qualquer realidade independente de um observador

Ciências humanas hard sciences estão referendando o que

já pensávamos e fazíamos

Interessante na visão de mundo de uma sociedade é que os indivíduos não têm consciência de como ela afeta o modo de perceberem e fazerem as coisas.

Somos tão presos no nosso paradigma que qualquer outro modo de ver, pensar ou fazer parece fatalmente inaceitável.

Jeremy Rifkin - “Entropy. A new world view”

Visão de mundo / Paradigma

Mudando paradigmasMudando paradigmas Nossas visões do mundo, e de nós mesmos,

fazem com que tenhamos “pontos cegos”, que não vejamos que não vemos. Só quando alguma interação nos tira do óbvio

e nos permitimos refletir,

nos damos conta da quantidade de relações que tomávamos como garantidas.

Maturana e Varela - “A árvore do conhecimento”

Como estamos levando essa nova Como estamos levando essa nova visão para nossas práticas?visão para nossas práticas? Com discurso (interação instrutiva)?

Com nossa atuação (que se mostra como implicação de nossa nova visão)?

As sociedades modernas são construídas As sociedades modernas são construídas sobre a ciênciasobre a ciência

“A idéia de conhecimento científico se impôs e parece que as sociedades modernas aceitaram as riquezas e os poderes que a ciência lhes oferecia e parecem ter se encantado com a perspectiva de um desenvolvimento prodigioso da humanidade”.

Jacques Monod. O acaso e a necessidade. Ensaio sobre a filosofia natural da biologia moderna, 1970

Ligue os nove pontos, com apenas quatro segmentos Ligue os nove pontos, com apenas quatro segmentos de reta, sem tirar o lápis do papelde reta, sem tirar o lápis do papel

Ligue os nove pontos, com apenas quatro segmentos de reta, sem tirar o lápis do papel

Quebrando o Quebrando o paradigma de provérbiosparadigma de provérbios

Cão que ladra (não morde) incomoda o vizinho ajuda a prevenir afasta as visitas

Quem fala demais (dá bom dia a cavalo) distrai a platéia incomoda o vizinho afasta as visitas

Quem não arrisca (não petisca) perde oportunidades

Quando um não quer ( dois não brigam) não há casamento Quem vai na frente (bebe água limpa) guia o pelotão ajuda a prevenir

Quebrando o Quebrando o paradigma de provérbiosparadigma de provérbios

A questão dos paradigmasA questão dos paradigmas Paradigma: conjunto de regras e regulamentos “efeito paradigma”: filtra / seleciona os dados, determina forma de fazer paradigmas acompanham nossas práticas: recortam em detalhes a informação “paralisia de paradigma”: doença fatal de certeza, impede ver oportunidades mudança de paradigma, questão de escolha: exige coragem (cor agire) e fé (antídoto do medo)

Joel A Baker - “A questão dos paradigmas” - Siamar

PARA MAIS INFORMAÇÕES...

A Questão dos ParadigmasA Questão dos Paradigmas

Vemos o mundo através de nossos paradigmas

Paradigmas nos limitam:

“paralisia de paradigma” “doença fatal de certeza”

Paradigmas nos facilitam:recortam em detalhes a informaçãofocalizam nossa atenção

Paradigmas contraditórios Paradigmas contraditórios

O trabalho dividido fica mais leve. Panela onde muitos metem a colher não dá bom caldo.

Um homem prudente vale por dois. Quem não arrisca, não petisca.

Como nasce um paradigma?Como nasce um paradigma?

Os cientistas e os macacos

Como nasce um paradigmaComo nasce um paradigma

Se fosse possível perguntar a algum deles por que batiam em quem tentasse subir a escada, a resposta certamente seria:

“Não sei ... as coisas sempre foram assim por aqui ...”

“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” (Albert Einstein)

Interessante na visão de mundo de uma sociedade é

que os indivíduos não têm consciência de como ela afeta o modo de perceberem e fazerem as coisas.

Nossa visão de mundo é tão internalizada, que permanece não questionada.

Somos tão presos no nosso paradigma que qualquer outro modo de ver, pensar ou fazer parece fatalmente inaceitável.

Jeremy Rifkin - “Entropy. A new world view”

Visão de mundo / Paradigma

A ciência também tem paradigmasA ciência também tem paradigmas

O paradigma da ciência é constituído de

crenças e valores (visão de mundo), critérios de cientificidade, pressupostos epistemológicos, ( não demonstráveis cientificamente ),

em que os cientistas fundamentam seu trabalho

CientificidadeCientificidade A maior parte dos cientistas ainda não fez a grande

descoberta científica: “a ciência não é totalmente científica”.

A cientificidade é a parte emersa de um iceberg profundo

de não cientificidade, constituído pelos pressupostos ou postulados.

O postulado do determinismo universal, o princípio da causalidade, são indemonstráveis, necessários à demonstração.”

Edgar Morin - “O problema epistemológico da complexidade”

Maria José Esteves de Vasconcellos

* Participação na Mesa Redonda “Pensamento sistêmico: terapia familiar e outras aplicações”, promovida por ABTD / EquipSIS, Belo Horizonte, 20-02-95.

P e n s a m e n t o S i s t ê m i c o c o m o “Novo Paradigma da Ciência” *

Pensamento SistêmicoPensamento Sistêmico

paradigma da ciência contemporânea emergente

epistemologia da ciência novo-paradigmática

Dois sentidos do termo Dois sentidos do termo paradigmaparadigma na ciência na ciência

Thomas Kuhn, “A estrutura das revoluções científicas” 1962/1970; “La función del dogma ...” 1963; “Segundos pensamientos ...” 1971

PARA MAIS INFORMAÇÕES...

Teoria (''Matriz disciplinar'')

Regras e padrõesda prática

Intradisciplinar(Intratemático)

Paradigma(''Exemplares'')

Crenças e valores

subjacentes à prática

Interdisciplinar

Dois sentidos do termo Dois sentidos do termo epistemologiaepistemologia na ciência na ciência

PARA MAIS INFORMAÇÕES...Pakman - “Una actualización epistemológica de las terapias sistémicas”

Reflexões para responder às perguntas sobre

o conhecer (epistemológicas)

e às perguntas sobre o ser (ontológicas)

Respostas obtidas das reflexões sobre

o ser e o conhecer

Premissas implícitasque configuram avisão de mundo

que “todo mundo tem”

No âmbito da epistemologia No âmbito da epistemologia

PARA MAIS INFORMAÇÕES...Pakman - “Una actualización epistemológica de las terapias sistémicas”

perguntas sobre

o conhecer

como conhecemos o mundo?

(epistemologia)

perguntas sobre o ser

o que éo mundo?

(ontologia)

ParadigmaParadigma

Fritjov Capra - “O ponto de mutação”

Totalidade de pensamentos, percepções, valores que formam uma determinada visão da realidade, que é a base do modo como uma sociedade se organiza.

A comunidade científica se organiza com base em seu paradigma de ciênciaparadigma de ciência - sua visão / concepção de atividade científica.

Momentos marcantes no desenvolvimentoMomentos marcantes no desenvolvimento do pensamento científico do pensamento científico

”h ard sciences”(e xpl ic ação)

mito

NO VOPAR ADIGM ADA CIÊNC IA

” soft sci enc es"(com preen são)

G récia/M il etoT HA L ESA N A X ÍN A D R OA N A X ÍM E NE S

entre sec. V III e V I a.C .

G r écia/AtenasSÓ C R AT ESPL AT ÃOA R IS TÓ T E L E Sse c. V e IV a.C.

Fran çaD ESC A RT E Ssec. X V II e X V III d .C .

Fr an çaC O M T Esec. X IX

S A L T OQ U A LITA TI V OS A LT O

Q U A LITA T IV O

Ida de M édia

d .C .

X

Europa e Américas2ª met séc XX

Personagens historicamente influentes na constituição doPersonagens historicamente influentes na constituição do “Paradigma da Ciência Tradicional” “Paradigma da Ciência Tradicional”

SÉCULO XVII SÉC XVIII SÉC XIX

Rifkin (1980) Bacon Descartes Newton

Capra (1992) Galileu Descartes Newton

Domingues (1992) Galileu Descartes Comte

ParadigmaNewtoniano

Paradigma Cartesiano

Como concebemos a complexidade?Como concebemos a complexidade?

complexus - tecido em conjunto, constituintes heterogêneos inseparavelmente associados /integrados

(impossível simplificar) sistema complexo - enorme quantidade de

interações,desordenadas, emaranhadas, de caráter não linear, não calculáveis - sistemas esquisitos, instáveis

(impossível prever e controlar)

percepção do complexo - observador distingue relações - pode-se perceber ou não a complexidade

(impossível objetivar) Portanto: dimensão “una e múltipla”

Saltos qualitativos nos pontos de bifurcaçãoSaltos qualitativos nos pontos de bifurcação

λ λ c

solução única

soluções múltiplas

x x

xo

ko kc ko kc

pontos críticos

Sistemas de complexidade organizadaSistemas de complexidade organizada(funcionam longe do equilíbrio)(funcionam longe do equilíbrio)

sistemas dissipativos químicos sistemas empresariais sistemas subatômicos sistemas imunológicos sistemas meteorológicos sistemas ecológicos sistemas familiares

Invariâncias organizacionais Invariâncias organizacionais

Sistemas de complexidade organizada (suborgânicos, orgânicos e supraorgânicos)

compartilham invariâncias organizacionais: são “todos” (wholes) com propriedades irredutíveismantêm-se a si próprios num ambiente em mudança criam-se a si próprios (auto-organizam-se) em resposta ao ambiente em mudança coordenam interfaces na “hierarquia” da natureza

Erwin Laszlo - “The systems view of the world. The natural philosophy of the new developments in the science”, 1972

Ilusão / alucinação x percepção? Ilusão / alucinação x percepção?

Biologia do ConhecerBiologia do Conhecer

Experimento das cores

Experimentando as pós-imagensExperimentando as pós-imagens

Biologia do ConhecerBiologia do Conhecer

Experimento com a salamandra

Biologia do ConhecerBiologia do Conhecer

Experimentos em laboratório

as cores

a salamandra

a pós-imagem

Distinguindo uma convergência Distinguindo uma convergência

domínio lingüístico do cientista novo-paradigmático

“reconhecer o outro como legítimo outro no meu espaço de convivência”

AMOR

domínio lingüístico do

cristão

“amar ao outro como a mim mesmo” AMOR

Em busca da naturalização da epistemologiaEm busca da naturalização da epistemologia

Warren Mc Culloch, neurofisiólogo e neuropsiquiatra, empenhava-se em assentar as bases para uma epistemologia experimental. Essa faria da epistemologia uma empresa científica, para além de um ramo da especulação filosófica. De tal empresa se ocupavam tambémJean Piaget, na área da gênese do conhecimento e Konrad Lorenz, na área da etologia.

Pakman – “Las semillas de la cibernética” 1991, p. 19)

Teoria ou epistemologia sistêmica? *Teoria ou epistemologia sistêmica? *

Maria José Esteves de Vasconcellos

* Participação na Mesa Redonda “Dialogando sobre Teorias”, no II Congresso Brasileiro de Terapia Familiar, em Gramado, RS, de 1 a 3 de agosto de 1996.

Que palavras adjetivamos com Que palavras adjetivamos com sistêmico/sistêmicasistêmico/sistêmica??

paradigma sistêmico .................... epistemologia sistêmica ......................... ” ......................... ” ......................... ” ......................... ” ......................... ” .........................

Epistemologia Teoria PráticaEpistemologia Teoria Prática

epistemologia paradigma visão pensamento quadro de referência perspectiva concepção pressuposto percepção postura

teoria modelo movimento linha abordagem enfoque conhecimento ciência

prática trabalho atuação intervenção efeito método técnica atendimento terapia prescrição equipe formação

Prática científica / Aplicação da ciência

Teoria científica

Epistemologia - pressupostos epistemológicos

TradicionalmenteTradicionalmente

ContemporaneamenteContemporaneamente

Teoriacientífica

Práticacientífica

Epistemologiacientífica

Que idéias associamos a Que idéias associamos a sistemasistema??

conjunto interdependência padrões de relação integração holístico interação circular processo interrelação

ecossistema funcionamento dinâmico intercâmbio organização todo/parte estrutura hierarquia movimento ..................

SistemaSistema

Sistema: conjunto de elementos com as relações entre os elementos e entre seus atributos, em que- os elementos são os componentes ou partes do sistema- os atributos são as propriedades dos elementos- as relações são o que dá coesão ao sistema todo

(Hall e Fagen)

O conceito de sistema se refere aos modos em que acontecem as relações ou conexões entre os elementos e as relações entre as relações

(Wilden)

Da pirâmide à redeDa pirâmide à rede

Um quadro de referência para as Um quadro de referência para as teorias sistêmicas teorias sistêmicas

Teoria Cibernética

Cibernética da Cibernética

Construtivismo e Si-Cibernética

Vertente dasmáquinas

(mecanicista)

Teoria Geral dos Sistemas

Teoria da Autopoiese

Biologia do Conhecer

Teoria Geral dos Sistemas Autônomos

Vertente dosseres vivos

(organicista)

Para

digm

a

Trad

icio

nal

Nov

o

Par

adig

ma

Da cibernética à complexidadeDa cibernética à complexidade

Cibernética - contribuição fundamental para a constituição do Pensamento sistêmico novo- paradigmático

Termostato Termostato

Características da máquina auto-reguladoraCaracterísticas da máquina auto-reguladora

- órgãos sensoriais - para variações do ambiente - para variações do desempenho – monitores

- órgãos motores, análogos aos dos seres vivos - esquema de retroação da informação - capacidade de ajustar conduta futura - órgãos decisórios centrais: o que fazer a seguir

Cibernética: retroalimentaçãoCibernética: retroalimentação

Negativa (redução do desvio)

desvio

Cibernética: retroalimentaçãoCibernética: retroalimentação

Positiva (amplificação do desvio)

desvio

Cibernética Cibernética (kybernetiké)(kybernetiké)

arte/ciência de pilotar ou governar vertente mecanicista da Ciência dos Sistemas “teoria da comunicação e do controle na máquina

e no animal” - auto-regulação: ser vivo máquina sociedade - autômatos cibernéticos - programa como intermediário entre input / outuput - comando interno - ciberneta - piloto (kybernetes), como intermediário vivo nas decisões

Cibernética Cibernética (kybernetiké) (kybernetiké) (cont.)(cont.)

foco na retroalimentação (feed-back) negativa: correção dos desvios

organiza a ação do sistema, maximiza eficiência, garante obtenção da meta

interdisciplinar: funcionamento do sistema, relações (comunicação / informações) entre elementos, independente de sua natureza

Cibernética no contexto da ciênciaCibernética no contexto da ciência

Avançou em alguns aspectos: foco nas relações sistemas sub-determinados sistema depende do foco do observador

Porém, ateve-se à ciência tradicional: simplificação e causalidade linear retroalimentação negativa e auto-regulação concepção do piloto fora do sistema

Cibernética no contexto da ciência Cibernética no contexto da ciência (cont.)(cont.)

Portanto:

comunicação subordinada ao comando práticas

tecnocêntricas, tecnomórficas, tecnocráticas “ciência do controle organizacional”

Si-cibernética: articulação dos Si-cibernética: articulação dos desenvolvimentos da Cibernéticadesenvolvimentos da Cibernética

Si-cibernética Si-cibernética Cibernética da cibernética - cibernética de 2a. ordem Cibernética da cibernética - cibernética de 2a. ordem

aborda a complexidade organizada dos sistemas naturais, pensa a causalidade recursiva

reconhece a instabilidade, a retro-alimentação positiva e a autonomia dos sistemas naturais

assume as conseqüências da inserção do ciberneta (“si-ciberneta”) no sistema

Si-cibernética Si-cibernética cibernética novo-paradigmáticacibernética novo-paradigmática

arte-ciência de pilotar em conjunto práticas de co-construção de soluções na

conversação ciência da comunicação organizacional ultrapassa a cibernética, resgatando-a articula

aparentes opostos proporciona liberdade, remete à ética

Interessante na visão de mundo de uma sociedade é que os indivíduos não têm consciência de como ela afeta o modo de perceberem e fazerem as coisas.

Somos tão presos no nosso paradigma que qualquer outro modo de ver, pensar ou fazer parece fatalmente inaceitável.

Jeremy Rifkin - “Entropy. A new world view”

Visão de mundo / Paradigma

Mudando paradigmasMudando paradigmas Nossas visões do mundo, e de nós mesmos,

fazem com que tenhamos “pontos cegos”, que não vejamos que não vemos. Só quando alguma interação nos tira do óbvio

e nos permitimos refletir,

nos damos conta da quantidade de relações que tomávamos como garantidas.

Maturana e Varela - “A árvore do conhecimento”