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 III Congresso Internacional Cotidiano – diálogos sobre diálogos [agosto 2010]  IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA EDUCAÇÃO  João Henrique Bordin1 RESUMO Este artigo tem a intenção de fazer uma reflexão sobre a situação da educação em nossa sociedade, que está em descompasso com os avanços tecnológicos. Aborda os temas “família” e “escola”, que têm a responsabilidade de preparar o indivíduo para a vida social. Analisa os reflexos do sistema educacional atual no meio familiar e escolar, constatando a precariedade dos ensinamentos obtidos pela comunidade. Iniciando a discussão, apresenta “o respeito pelo outro” como forma de resgatar a disciplina e a autoridade do professor  – ambas consideradas como parte integrante do processo educacional. O “respeito pelo outro” é demonstrado como uma maneira de valorizar o indivíduo frente a si mesmo e a toda a sociedade. A disciplina, a princípio, é apresentada como uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento intelectual e físico da criança; passando a seguir a ser vista como forma de levar o aluno a construir seu caráter e a formar sua personalidade com um posicionamento responsável, consciente e íntegro diante de si e do outro. Para viabilizar tal processo, há a necessidade da revisão da autoridade do professor, que num primeiro momento deve ser um modelo para o aluno e a seguir por ele superado. A disciplina e a autoridade do professor mostram-se necessárias ao bom andamento de todo o ensino, com as quais será viável o alcance da formação omnilateral. Com a exposição do que seria a educação ideal, ou omnilateral, o trabalho finaliza apontando a precisão de formar a consciência coletiva, com a convicção de que a liberdade só é verdadeiramente um fato se acompanhada da disciplina e que a escola torna isso possível se a educação for amparada pela autoridade do professor. Palavras-chave: Educação, disciplina, autoridade, omnilateral. INTRODUÇÃO “Educação”, segundo o dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira é o "processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual ou moral do ser humano,” (Aurélio, 1999) visando à sua melhor i ntegração individual e social. Complementando podemos entender a educação como o modo de formar a personalidade da criança e do ser humano em geral, bem como sua conduta no meio social, tendo sua iniciação no interior da família e sua continuidade na escola. Analisando essas duas instituições, família e escola, que formam a base da sociedade, percebemos o quanto são contraditórias no trato dos temas que estão em pauta na mente das crianças, jovens e adolescentes. A mídia - TV, rádio, internet, jornais, revistas e todos os meios de comunicação social - apresenta diariamente milhões de informações que precisam ser digeridas de forma a esclarecer e enriquecer o crescimento pessoal de cada um. No entanto, o que se constata é que nem a família e nem a escola sabem oferecer uma posição correta ou adequada a toda essa situação, pois não estão capacitadas e nunca foram preparadas para indicar alguma solução. Os pais, não sabendo lidar com os problemas dos filhos, vêm pedir ajuda à escola, que também não sabe oferecer um posicionamento adequado. A escola, por sua vez, quando um aluno está com dificuldades na aprendizagem, convoca a família para que procure auxílio. É a família repassando à escola a educação que lhe cabe e a escola empurrando à família o ensino que lhe compete. Temos, por um lado, um sistema educacional desatualizado para a atual geração e sem perspectivas para as futuras sociedades. De outro lado, temos uma população que só pensa no 1 Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas, Técnico em Artes Gráficas e futuro mestrando em  Educação na Universidade Federal de Pelotas, E-mail: [email protected]

Importância da Diciplina da Educação

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III Congresso Internacional Cotidiano – diálogos sobre diálogos [agosto 2010]   1 

IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA EDUCAÇÃO João Henrique Bordin1

RESUMOEste artigo tem a intenção de fazer uma reflexão sobre a situação da educação em nossa sociedade, que estáem descompasso com os avanços tecnológicos. Aborda os temas “família” e “escola”, que têm aresponsabilidade de preparar o indivíduo para a vida social. Analisa os reflexos do sistema educacional atualno meio familiar e escolar, constatando a precariedade dos ensinamentos obtidos pela comunidade. Iniciandoa discussão, apresenta “o respeito pelo outro” como forma de resgatar a disciplina e a autoridade do

professor  – ambas consideradas como parte integrante do processo educacional. O “respeito pelo outro” é

demonstrado como uma maneira de valorizar o indivíduo frente a si mesmo e a toda a sociedade. A disciplina,a princípio, é apresentada como uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento intelectual e físico da criança;passando a seguir a ser vista como forma de levar o aluno a construir seu caráter e a formar suapersonalidade com um posicionamento responsável, consciente e íntegro diante de si e do outro. Para

viabilizar tal processo, há a necessidade da revisão da autoridade do professor, que num primeiro momentodeve ser um modelo para o aluno e a seguir por ele superado. A disciplina e a autoridade do professormostram-se necessárias ao bom andamento de todo o ensino, com as quais será viável o alcance daformação omnilateral. Com a exposição do que seria a educação ideal, ou omnilateral, o trabalho finalizaapontando a precisão de formar a consciência coletiva, com a convicção de que a liberdade só éverdadeiramente um fato se acompanhada da disciplina e que a escola torna isso possível se a educação foramparada pela autoridade do professor.

Palavras-chave: Educação, disciplina, autoridade, omnilateral.

INTRODUÇÃO

“Educação”, segundo o dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda

Ferreira é o "processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual ou moral do serhumano,” (Aurélio, 1999) visando à sua melhor integração individual e social. Complementandopodemos entender a educação como o modo de formar a personalidade da criança e do ser humanoem geral, bem como sua conduta no meio social, tendo sua iniciação no interior da família e suacontinuidade na escola. Analisando essas duas instituições, família e escola, que formam a base dasociedade, percebemos o quanto são contraditórias no trato dos temas que estão em pauta na mentedas crianças, jovens e adolescentes. A mídia - TV, rádio, internet, jornais, revistas e todos os meiosde comunicação social - apresenta diariamente milhões de informações que precisam ser digeridas

de forma a esclarecer e enriquecer o crescimento pessoal de cada um. No entanto, o que se constataé que nem a família e nem a escola sabem oferecer uma posição correta ou adequada a toda essasituação, pois não estão capacitadas e nunca foram preparadas para indicar alguma solução. Os pais,não sabendo lidar com os problemas dos filhos, vêm pedir ajuda à escola, que também não sabeoferecer um posicionamento adequado. A escola, por sua vez, quando um aluno está comdificuldades na aprendizagem, convoca a família para que procure auxílio. É a família repassando àescola a educação que lhe cabe e a escola empurrando à família o ensino que lhe compete.

Temos, por um lado, um sistema educacional desatualizado para a atual geração e semperspectivas para as futuras sociedades. De outro lado, temos uma população que só pensa no

1 Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas, Técnico em Artes Gráficas e futuro mestrando em

 Educação na Universidade Federal de Pelotas, E-mail: [email protected]

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presente e o prazer que dele pode usufruir sem a mínima preocupação em planejar seu futuro. Eainda temos uma escola com professores despreparados e uma família com pais que não sabem oque fazer. Este último ponto, a „escola e a família‟, é o ponto central deste estudo. Entendo que as

duas instituições, apoiadas por uma disciplina formadora do caráter e da personalidade responsável,levam o indivíduo a valorização do „eu‟ e a construir uma relação de „respeito ao outro‟. A

sincronia do „eu‟, o „respeito‟ e o „outro‟ possibilita atingir o objetivo que a humanidade sempreprocurou, ou seja, a igualdade social.

O “respeito pelo outro” é o ponto de partida na tentativa de solucionar o problema que

apresento no presente artigo, já que, no meu modo de ver, a disciplina na educação, tanto em sala deaula como além dela, na família e na comunidade em geral, pode ajudar a superar o atual sistema dedesigualdades sociais, no qual o sentido de existência e liberdade só existe atrelado ao consumismo.Penso que a solução não está apenas sob a responsabilidade de uma instituição ou de algunsindivíduos iluminados - estes têm o dever do envolvimento ativo na sua execução, mas, eespecialmente a “escola e a família”, em sintonia, podem deflagrar o ponto inicial da superação

desse dilema social.

O REAL DA EDUCAÇÃO

Num primeiro olhar na situação das escolas constata-se a falta de interesse tanto por partedos alunos como dos professores. Os alunos estão dispersos, vivem em outro mundo, e o professorpor sua vez está noutro bem diferente, ou seja, a realidade de ambos não é a mesma. O mundo doaluno gira em torno da tecnologia que avança dia a dia e nesse ínterim a TV e toda a mídia criam ailusão de que tudo é fácil, basta apertar um botão, como no videogame ou no controle remoto. Omundo do professor ainda é muito antigo - com giz e apagador  –  e não desperta a atenção doestudante. O professor não consegue o domínio da classe.

Por outro lado, a família não tem colaborado. Os filhos vão para a escola sem limites e se oprofessor tenta impor alguma ordem os pais lhe tiram a razão. É aluno rebelde e professor que nãosabe o que fazer, pois a punição não é permitida pela direção, Estado e pais. Na escola também serefletem as impunidades sociais e com isso o jovem não vê perspectivas do por que e para queestudar. A impunidade, na sociedade em geral, soa como um “pode fazer o que quiser que nada vai

te acontecer”. Em tal contexto o professor se desmotiva, não planeja direito suas aulas e, devido ao

despreparo, postura e método inadequados à realidade atual, não encontra motivos para engendrarmudanças. É claro que sempre há os que se importam.

No decorrer dos últimos trinta anos aconteceram muitas investidas na tentativa de salvarum sistema que só se preocupa com a transmissão de conhecimentos, que com certeza são muitoimportantes, mas a educação perdeu no que tange à formação do caráter e da personalidade docidadão. Desencadeou-se um grande avanço em nível tecnológico e científico e o corpo docente,com sua didática pedagógica, não conseguiu acompanhar a evolução. Nos últimos tempos, oesforço educacional girou, e gira ainda, em torno de manter todas as crianças na escola e evitar quesejam repetentes, mediante a perda do „incentivo‟ e visando a tirar o país do analfabetismo, para

diante do mundo mostrar que aqui todos sabem ler e escrever - uma medida que tem seu valor, apartir do momento que assegura vagas para todos. Esquece, porém, que analfabeto não é aquele que

não sabe ler, mas o que não lê ou não quer ler. O esforço de manter a criança estudando, e

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simplesmente favorecer sua galga série após série, não exige muito da escola e nem é um trabalhoárduo, quando pouco se exige do aluno e quase nada de formação do professor.

Neste início do século XXI, devido a essa forma, as crianças vão à escola com umcomportamento perturbado, proveniente da sociedade e do interior das famílias, sendo que estas,devido à falha na educação que receberam, não souberam ou não tiveram como iniciar o processo

educacional dentro do lar. As crianças vão à escola não para se educarem, mas porque lá tem outrosamiguinhos para fazer estripulia. As crianças vão à escola não para aprender, mas para bater noscolegas e mostrar que podem mais, pela força. As crianças não vão à escola para se prepararem parao futuro, mas para se rebelarem e provarem que são “demais”. As crianças não vão à escola paraouvirem o professor, mas para escutar a turma gritando “bate, xinga, soqueia”... As crianças não

vão à escola porque querem, porque não é a escola que querem. Não vão à escola porque gostam,porque não é da escola que gostam. Ainda há os que vão à escola por causa da merenda, se bem queestes, na maioria das vezes, são esforçados e não criam problemas. Portanto, na escola as criançasnão encontram o meio adequado para redirecionar sua maneira de ser e estar na sociedade, tendo

por objetivo a convivência harmoniosa, pois saem de uma família desestruturada e encontram-nadespreparada.

A DISCIPLINA COMO SOLUÇÃO

A iniciativa para reverter a atual situação da educação não é apenas da escola e nem estásomente na família. A solução tem seu início na sintonia entre as duas. No meu modo de ver, paraestabelecer uma educação que responda aos anseios dos alunos, pais e professores é necessário aimplantação da disciplina na sala de aula com total apoio da família, pois juntos precisam encontrara maneira de sua aplicação. A família precisa devolver ao professor a autoridade que lhe foisubtraída e que hoje o impossibilitado de impor limites, pois se o fizer pode ser processado. Nãoque a família tenha tirado a autoridade do professor, mas ela tem o poder de devolvê-la, a partir domomento que houver o diálogo entre pais e professores para encontrarem a forma de todosrespeitarem as normas estabelecidas. Os limites, assumidos coletivamente, advêm de uma disciplinaformadora do caráter mediante o aluno assumir suas responsabilidades, e só a sintonia entre escola efamília possibilitará o alcance desse objetivo, pois a escola com professores sem autoridadedesautoriza a família e gera o desaparecimento do “respeito pelo outro”.  

Etimologicamente a palavra “disciplina” se assemelha a discípulo, que quer dizer “aquele

que segue”, e deriva do termo pupilo, do latim, que significa instruir, educar treinar, dando ideia de

modelagem total de caráter. Também é um dos nomes que se pode dar a qualquer área deconhecimento estudada e ministrada em um ambiente escolar ou acadêmico. A escola precisa deregras e normas para um bom funcionamento e para possibilitar a perspectiva de construir juntosessas mesmas regras, possibilitando a perfeita interação entre os diferentes elementos que nelaatuam com a finalidade do convívio social. As regras determinam os limites necessários para atingira disciplina. A disciplina é um hábito interno que facilita a cada pessoa o cumprimento de suasobrigações, é um autodomínio, é a capacidade de utilizar a liberdade pessoal, isto é, a possibilidadede atuar livremente, superando os condicionamentos internos e externos que se apresentam na vidacotidiana. A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes

de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros desse gruposocial. A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas estabelecidas para orientar o seu

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funcionamento e a convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, asnormas deixam de ser vistas apenas como prescrições castradoras, e passam a ser compreendidascomo condição necessária ao convívio social. (Wikipédia)

Para abordar o tema da disciplina faz-se necessário investigar as causas que fazem comque o aluno seja indisciplinado. Não basta, e nem é objetivo do presente estudo, aplicar punições ou

impor limites através da coação. A disciplina requerida é a que leve o aluno a um posicionamentoresponsável, consciente e íntegro diante de si e do outro  –  o colega, o professor, sua família e acomunidade  –  para formar sua personalidade baseada no convívio social com direitos e deveresiguais para todos. No dizer de Antón Semiónovich Makárenko (1888-1939) “(...) pedir el máximo a

cada persona, pero también hacerle objeto del mayor respeto posible”. (Makárenko, Moscú/URSS,

p.10) Assim Makárenko organiza a escola como coletividade tendo em vista a felicidade da criançae a expressão de seus sentimentos, sempre com rigidez e disciplina formadora do caráter e dapersonalidade. Exigir de cada um o máximo possível, respeitando suas limitações e seussentimentos, sem que estes se sobressaiam ao coletivo. A disciplina transforma a personalidade do

indivíduo, tornando-o um adulto mais responsável e apto a enfrentar tudo o que vai contra osprincípios da boa convivência em sociedade.A exigência do cumprimento do dever sempre deve vir acompanhada do „respeito pelo

outro‟, condição para ser atendido em seus direitos. Na maioria dos casos a indisciplina tem ligação

com o descontentamento que o indivíduo tem de si próprio e do outro, desaparecendo o respeito e avalorização do “eu” e de tudo o que é de domínio público. As origens do descontentamento nem

sempre estão na escola. Algumas vezes vêm da própria família, outras da comunidade onde vive e,ainda, podem decorrer da desigualdade social que a criança percebe em nível mais amplo na suacidade, no seu País e no mundo. Diante disso a escola precisa estar apta para detectar a origemdesses descontentamentos e encaminhar sua solução. A escola e a família precisam estarconvencidas, e por isso em sintonia, de que a disciplina “(...) en la coletividad es la defesa completa,

la seguridad plena de su derecho, de las vias y possibilidades que precisamente existen para cadaindivíduo”. (Makárenko, Moscú/URSS, p.53) As regras da disciplina são essenciais para odesenvolvimento da estrutura mental das crianças, dos jovens e dos adolescentes, e isso passa poruma revisão da autoridade do professor na sala de aula. Assim a disciplina, com suas regras,aplicada ao indivíduo enquanto aluno na vida adulta, se torna o modo de vida social de valorizaçãopessoal e respeito ao outro.

NECESSIDADE DE REGRAS

A disciplina, o ser discípulo, exige a imposição de limites, não como um impedimento àação do aluno, mas como uma preparação para a verdadeira liberdade e valorização de sua ação.Tomemos o exemplo da poda. O pessegueiro, a macieira, a parreira e muitas outras árvoresfrutíferas, se deixadas crescer conforme a natureza permite, produzem poucos frutos, de baixaqualidade e com pouco sabor. O agricultor sabe que se quiser colher bons e saborosos frutos precisapraticar a poda em seu pomar. Ao cortar certos galhos infrutíferos possibilita uma maior colheitanaqueles que produzem. A poda, a princípio dolorosa, impede o desenvolvimento exacerbado daplanta e direciona-a para um crescimento adequado à produção de frutos, que acompanhada de uma

boa adubação e cuidados especiais deixa a árvore esparramar livremente seus galhos. Assim é adisciplina formadora da personalidade responsável, limita a ação do comportamento inadequado

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para tornar o indivíduo consciente e integro na relação consigo mesmo e com o outro. Disciplinado,podemos dizer que o ser discípulo é aquele que pacificamente se sujeita às normas estabelecidas,aos cortes necessários em sua conduta para um maior e melhor crescimento. Indisciplinado é o quese rebela, não se submete, questiona, cria rupturas e não permite deixar de lado hábitos imprópriospara a interação grupal, é o não discípulo. Na ótica do convívio social, familiar e bom

funcionamento da escola, a indisciplina é vista como um desrespeito aos acordos já estabelecidos. Adisciplina “(...) ensalza a la coletividad”. (Makárenko, Moscu/URSS, p.60) Tal prestígio social só é

alcançado mediante uma cumplicidade recíproca entre individual e coletivo que garante o êxito doprocesso de uma educação disciplinar. Portanto, os limites não são apenas para o próprio bem e simpara o perfeito equilíbrio entre os deveres e direitos do eu e do outro.

A autoridade do professor precisa ser considerada como fator decisivo na viabilização doprocesso disciplinar e educativo dentro da sala de aula. A autoridade deve ser entendida não comoum autoritarismo em que o professor manda e o aluno obedece calado em sua classe, mas como umposicionamento firme e decidido no qual o aluno, num primeiro momento, se espelhe e

posteriormente o supere. A escola, que não pode ser concebida sem professores e muito menos semsua autoridade, nos remete ao dizer de Theodor Wiesengrund Ludwig Adorno (1903-1969) “(...) o

  professor precisa ter clareza quanto a que sua tarefa principal consiste em se tornar supérfluo”.

(Adorno, 1995, p.177) Este posicionamento faz com que o aluno sinta o apoio da autoridade e aomesmo tempo a necessidade de se emancipar, ou seja, pensar com a própria cabeça ou alcançar suaautonomia.

Para fazer da disciplina um aspecto essencial do processo educacional faz-se necessário,além da pedagogia, o uso da psicologia, sociologia, antropologia e demais campos do conhecimentohumano. Isso garante que os limites aplicados, na sintonia entre a escola e a família, levem oindivíduo a sua formação plena e à construção de seu caráter e personalidade voltadas para o bem

comum. Como aspecto essencial do processo educacional a disciplina tem dupla função na sala deaula e fora dela. De um lado, limita responsavelmente o aluno, dando-lhe mais liberdade em suacondição discente. De outro, devolve a autoridade do professor, transformando-o de simplestransmissor de conhecimentos em educador.

Ao se estabelecer a disciplina na sala de aula como um processo educativo em sintoniacom a família e com a restauração da autoridade do professor, acredito ser possível dar início àsolução do dilema social, no qual Marx afirmava que “por um lado, é necessário modificar ascondições sociais para criar um novo sistema de ensino; por outro, falta um sistema de ensino novo

 para poder modificar as condições sociais” (Marx, 2006, p.107). Sabemos, no entanto, que nem as

condições sociais e nem o sistema de ensino em separado podem apresentar uma solução. Sendoassim, podemos afirmar a convicção de que tudo se encontra em permanente conexão material euniversal. A educação precisa manter esta conexão social concretizada na sintonia entre escola efamília, para amparada pela disciplina se tornar uma ferramenta de aglutinação social. Tem seuinício na sintonia entre família e escola e se expande pelos demais níveis da sociedade,possibilitando a emancipação o homem em sua omnilateralidade, formando a consciência de que ahistória é um constante movimento, tornando possível a superação do capital. A “(...) emancipação

 precisa ser acompanhada por certa firmeza e unidade do eu”. (Adorno, 1995, p.180) Só é possível

alcançar a „firmeza e unidade do eu‟ mediante a revisão da autoridade do professor e com uma

disciplina formadora da personalidade. O professor precisa ser mestre e o aluno discípulo. Overdadeiro mestre almeja ser superado pelo seu discípulo. Essa superação se torna possível comuma formação omnilateral.

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EDUCAÇÃO IDEAL

Historicamente houve a separação entre o que é dos deuses e o que é terreno. Depois dosurgimento da concepção cristã do homem e da sociedade, esses foram mantidos em uma noção demundo cindido. O indivíduo ficou bifurcado entre o humano e o divino e ainda permanece emnossos dias. Essa concepção ajudou a formar a base do sistema de divisão do trabalho e suaorganização social. Através da religião foi fácil, mesmo que não explicitamente, justificar que unsdeviam mandar e outros trabalhar. A educação, nesse sistema, atendia à ideologia dominante,determinando o que cabia a cada classe social. Na tentativa de manter a integridade da pessoa, Marxe Engels esclarecem que “por educação entendemos três coisas: 1) Educação intelectual. 2)

Educação corporal, tal como a que se consegue com os exercícios da ginástica e militar. 3)Educação tecnológica, que recolhe os princípios gerais e de caráter científico de todo o processo deprodução e, ao mesmo tempo, inicia as crianças e os adolescentes no manejo de ferramentaselementares dos diversos ramos industriais”. (Marx e Engels. 2006, p.68) Esse é o ensino

politécnico, anunciado por Marx e Engels, na tentativa de atender às necessidades populares

daquela época. Atualmente almeja-se o ensino omnilateral por desenvolver uma educaçãoabrangente, ou seja, em todos os sentidos e proveniente de todos os lados. A educação omnilateral éa possibilidade do homem chegar ao desenvolvimento da totalidade de suas capacidades e usufruir,espiritual e materialmente, de toda a produção social, conceber-se como sujeito da história, comdireitos e deveres e uma consciência crítica na relação com o mundo.

A disciplina na escola, acompanhada da autoridade do professor, em sintonia com afamília, torna possível uma educação que envolva a totalidade intelectual, física, corpórea e sensívelcom a finalidade da emancipação do homem. Não se trata apenas de transmitir conhecimentosdentro da sala de aula, mas de um processo educativo de ligação e interação das diversas partes

sociais, em especial entre família e escola, foco deste estudo. A disciplina deve fazer parte doprocesso de uma educação, como no dizer de Célestin Freinet (1896-1966), “(...) centrada na

criança enquanto membro da comunidade”. (Freinet, 1996, p.9) Assim é verdadeira a afirmativa deque a formação do aluno sempre tem um fim social. Esta recíproca colaboração, entre escola efamília, envolve o princípio de uma teoria educacional marxista que comporta um ensinoomnilateral que leve o indivíduo multifacetado à humanização, tendo no horizonte a totalidade. Oensino pode ser aplicado na reformulação do sistema educacional, tendo em vista amenizar asdesigualdades sociais e tornar o capitalismo mais humano, pois se preocupa com a cultura do povo.É uma educação altamente revolucionária, pois “(...) a cultura é um dos fatores que pode impedir a

escola de pender para as classes dominantes (...)” (Snyders, 1981, p103). Mas para que suaconcretização se torne possível é necessária a união entre a escola e a família, numa recíprocacolaboração. A escola deve ser transformada no lugar de encontro entre pais, alunos e mestres, coma finalidade de construir um processo educativo que desenvolva o indivíduo na sala de aulareciprocamente com o desenvolvimento em seu lar.

O lar é o primeiro mundo que a criança conhece, o lugar onde seus sentidos principiam odescobrimento da vida. O lar apresenta as primeiras contradições e definições à criança. No lar acriança conhece e sente o que é o amor, o carinho, a amizade, o respeito e também pode presenciara existência do ódio. No lar a criança aprende a dividir, a compartilhar. No lar a criança percebe quenão estamos sós, que vivemos em sociedade e que o outro, além de sua família, também pertence aum lar, diferente, mas um lar. No lar a criança inicia a construção de sua personalidade. No lar o

  jovem tem acompanhamento e apoio em suas decisões, recebe e aceita críticas que o ajudam a

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melhor compreender o que pretende para sua vida. No lar o indivíduo tem apoio nas fomentações demudanças sociais e ajuda no planejamento das táticas para sua concretização.

A sala de aula, por sua vez, é um universo onde circulam os conhecimentos básicos e asgrandes teorias do saber humano. A sala de aula é um conglomerado de contradições e definições. Élá que se dá a continuidade da formação da personalidade do indivíduo. É lá que a criança conhece

e descobre os diversos rumos que sua vida pode tomar. É lá que o jovem define o seu futuroprofissional. É lá que o homem proclama sua liberdade desencadeando a libertação do outro. A salade aula é o lugar onde se fomenta a mudança social e se planejam táticas para sua superação. Tantona escola como no lar a disciplina é imprescindível, pois sem ela o indivíduo cresce sem limites,sem a valorização do “eu” e sem o respeito pelo outro.

Para que o aluno, cidadão com múltiplas relações socioeconômicas, possa realizar o que aescola, a família e ele próprio se propuseram é necessário uma constante renovação em todo oprocesso educativo. Antônio Gramsci (1891-1937) dizia que “(...) todo homem, fora de sua

profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um filósofo, um artista, um

homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de condutamoral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, parasuscitar novas maneiras de pensar”. (Gramsci, 2006, p.53) Portanto, as opiniões, os

questionamentos, os incentivos devem sempre estar em pauta na união de pais, alunos e professores,e isso não é possível sem uma disciplina formadora da personalidade responsável e de umaconsciência íntegra diante de si e do outro. Tal união é a base de uma nova sociedade, o terrenofértil para engendrar as tarefas, no dizer de Georges Snyders (1917-...), com um “(...) sentido

 progressista (...)” (Snyders, 1981, p103), que possibilitam a mudança do atual sistema e o ponto de

partida para desencadear uma educação revolucionária. A mesma tem em seu bojo uma pedagogiainclusiva e extensiva, assegurando aos pais que estarão colocando seus filhos numa escola por elesreivindicada, “(...) realmente aberta a todos; a sensibilidade às injustiças da escola agudizá -se

 paralelamente com a convicção de que é possível uma outra sociedade”. (Snyders, 1981, p104) A

Pedagogia é inclusiva porque objetiva a participação social, pais, alunos e professores, naelaboração de seu método e conteúdo a ser transmitido. Extensiva, pois almeja não só a formaçãodo aluno na sala de aula, mas também dos demais membros da família, haja vista haver uma grandedisparidade entre o que os pais sabem e o que na sala de aula se propõe a ensinar.

PALAVRAS FINAIS

A disciplina, o ser discípulo, viabiliza a concretização da concepção de uma educaçãoomnilateral e é a possibilidade que o homem tem de implantar a nova sociedade “(...) onde cada

indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera deatividade exclusiva, é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje umacoisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois darefeição, e tudo isto a meu bel prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador oucrítico”. (Marx e Engels, 2006, p.25) A educação não faz a revolução, mas com certeza nenhuma

revolução acontece sem ela. Nesse sentido, o primeiro passo para garantir uma mudança social éfazer com que todo o povo esteja bem preparado intelectualmente, emocional e fisicamente. Que

tenha em seu bojo uma cultura de emancipação, que seja consciente dos percalços que virão e tenhasabedoria e entendimento para posicionar-se na nova maneira de conceber o mundo.

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O cidadão forjado por uma disciplina de responsabilidade social, da consciência de seusatos, da integridade de caráter e da formação da personalidade n o „respeito ao outro‟ garante que a

busca pela igualdade social não será em vão. A disciplina deve ajudar o homem a, em qualquercircunstância, adotar o comportamento mais adequado ao convívio social. Na escola o aluno deveser incentivado a adotar essa postura, na sala de aula e fora dela. É preciso sempre ter em mente que

a educação deve ser uma ferramenta de união entre escola e a comunidade, pois não é possíveleducar crianças com diferentes posições diante da realidade existente. Urge a necessidade de formara consciência coletiva, com a convicção de que a liberdade só é verdadeiramente um fato seacompanhada da disciplina e que a escola torna isso viável se a educação for amparada pelaautoridade do professor. A educação, vista deste ângulo, não é uma forma mágica de transformaçãodo mundo, mas é um instrumento que auxilia a própria sociedade a mudar.

"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda".(Paulo Freire)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Disciplina