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O trabalho ora apresentado visa a discutir a temática do alcance dasimunidades tributárias nos caso dos chamados impostos indiretos. É discutida aimunidade tributária, valendo-se da doutrina pátria para sua conceituação, seguidade uma classificação das imunidades. Após, encontra-se a discussão dos impostosindiretos. É de extrema relevancia o assunto, não somente pela questão de cunhoeconômico, uma vez que sua incidência ou não pode gerar uma volumosa diferençafinanceira, tanto para os contribuintes que pagam os devidos impostos, quanto paraa Fazenda, que deixaria de auferir essa renda de diversos contribuintes que seenquadrariam em tal situação, bem como pelo cunho doutrinário.Palavras-chaves: Imunidade tributária, impostos indiretos, hipótese deincidência.
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Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO/TURMA 20
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NOS IMPOSTOS INDIRETOS
ALYSSON CASTRO DE BRITO
SÃO PAULO /SP 2014
Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO/TURMA 20
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NOS IMPOSTOS INDIRETOS
ALYSSON CASTRO DE BRITO
Artigo científico apresentado ao Curso de Especialização em Direito Tributário, como requisitos parcial à obtenção do grau de especialista em Direito Tributário.
SÃO PAULO /SP 2014
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IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NOS IMPOSTOS INDIRETOS
Alysson Castro de Brito
Curso de Pós-Graduação em Direito Tributário
EAD
Polo Bela Cintra, São Paulo - SP
RESUMO
O trabalho ora apresentado visa a discutir a temática do alcance das
imunidades tributárias no caso dos chamados impostos indiretos. É discutida a
imunidade tributária, valendo-se da doutrina pátria para sua conceituação, seguida
de uma classificação das imunidades. Após, encontra-se a discussão dos impostos
indiretos. É de extrema relevância o assunto, não somente pela questão de cunho
econômico, uma vez que sua incidência ou não pode gerar uma volumosa diferença
financeira, tanto para os contribuintes, que pagam os devidos impostos, quanto para
a Fazenda, que deixaria de auferir essa renda de diversos contribuintes que se
enquadrariam em tal situação, bem como pelo cunho doutrinário.
Palavras-chave: Imunidade tributária, impostos indiretos, hipótese de
incidência.
ABSTRACT
The work presented here aims to address the issue of the reach of
Constitutional tax immunities in case of so-called "indirect taxes". Tax exemption is
discussed, drawing on homeland doctrine to its conceptualization, followed by a
classification into categories of immunity. After that, follows a discussion of indirect
taxes. This subject is of utmost relevance, not only for the sake of economic impact,
since its incidence or not, may generate a massive financial difference, not only for
taxpayers who should pay the taxes due, but also and for the Treasury would no
longer earn this income from taxpayers who would fit in such a situation of immunity,
but also for the scholar discussion on the matter.
Key words: Tax immunity, indirect taxes, tax incidence
2
INTRODUÇÃO
O direito tributário brasileiro é fortemente pautado por princípios e normas de
índole constitucional. Reduzido é o número de questões tributárias em que não é
citado partes do texto contitucional, tamanho é o tratamento dado pela Carta Magna
ao tema.
A Constituição não institui os impostos, mas autoriza a mesma através da
atribuição de competências. E não somente isto, vários princípios são explicitamente
listados, regendo essa competência e restringindo-a. Nessa toada, temos também
as imunidades, sob diversas formas, como a imunidade recíproca, imunidade dos
templos religioso, imunidade objetiva em função do objeto, etc.
Apesar da onipresença do tema, há discussão sobre sua melhor
conceituação, apresentando-se, de forma simplória, a imunidade como delimitação
da competência tributária [Sabbag, 2013], em que não há unanimidade. Apesar da
vasta discussão sobre o tema, ainda existem pontos em abertos, como a questão
dos impostos indiretos e a imunidade tributária.
No caso dos impostos indiretos, exurge a questão, que não é pacífica, de que
se deve ou não entender que a imunidade deste contribuinte de fato deva ou não ter
relevância, para que a exação seja ou não aplicada ao fato gerador ocorrido.
Para analisar essa questão, inicia-se uma discussão sobre a imunidade
tributária. Em seguida, adentra-se à questão dos impostos indiretos, sua
classificação e sujeitos envolvidos. De posse desta breve apresentação dos
elementos principais do tema, é então enfrentada a questão da aplicação ou não da
imunidade, do ponto de visto doutrinário, legal e também, como não poderia deixar
de ser, jurisprudencial. Ao fim, há uma conclusão que busca apenas agregar as
idéias principais, que de modo algum tem a pretenção de delinear a solução ideal e
final a este intrincado tema.
1. IMUNIDADES
Em breves palavras, competência tributária, segundo Sabbag [Sabbag:2014]
é "a aptidão jurídica para criar, in abstrato, tributos, descrevendo, legislativamente,
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suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos, suas
bases de cálculo e suas aliquotas".
Essa noção, mesmo que simples, é necessária a discussão das imunidades
tributárias.
Para iniciar as discussões sobre a incidências do tributos indiretos nos casos
de imunidade, trataremos primeiramente da questão da imunidade. Aqui não será
debatida a clássica questão da diferenciação entre imunidade, isenção e não
incidência, que apesar de importante não é pertinente ao escopo da questão.
1.1. DEFINIÇÕES
Ensina Pedro Lenza, [Lenza, 2013] que a doutrina tem se debruçado sobre a
distinção entre regras e princípios, sendo que ambas são espécies de normas.
Citando Barroso, Lenza coloca em sua obra sobre regras [Barroso, 2003. apud
Lenza, 2013]:
São relatos descritivos de condutas a partir dos quais, mediante subsunção, havendo enquadramento do fato à previsão abstrata, chegando à conclusão. Diante do conflito entre regras, apenas uma prevalece dentro da ideia do tudo ou nada. A 'regra ' somente deixará de incidir sobre a hipótese de fato que contempla se for invalidada, se houver outra mais específica ou se não estiver em vigor.
Sobre princípios, continua o autor:
A previsão dos relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se determinar a conduta correta, já que cada caso concreto deverá ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre os eventuais princípios em choque(colisão). Assim, a aplicação dos princípios 'não será no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas por outras normas ou por situações de fato.
Podemos então traçar uma comparação: no caso das regras há um binômio:
ou se satisfaz integralmente a regra ou nãoa. São portanto determinações do que é
fático e jurídico. São mandamentos de definição. Não há distinção de grau. Ao
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revés, os princípios são mandamentos de otimização, podendo ser satisfeito em
diversos graus.
Princípios, segundo Celso Antônio Bandera de Mello é [Mello, 2007]:
Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposicão fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por efinir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.
Avançando a discussão agora sobre imunidade, para Hugo de Brito conceitua
imunidade como:
O obstáculo decorrente de regra da Constituição à incidência de regra jurídica. O que é imune não pode ser tributado. A imunidade impede que a lei defina como hipótese de incidência tributária aquilo que é imune. É limitação da competência tributária.
Segundo Paulo de Barros Carvalho [Carvalho:2012] a imunidade não é uma
limitação constitucional do poder de tributar, pois não existe cronologia que justifique
a outorga de prerrogativa de inovação ou criação da ordem jurídica. Para Carvalho,
a "regra que imuniza é uma das múltiplas formas de demarcação da competência".
Nessa toada, a norma imunizadora tem como destinatário o legislador
ordinário, que deve dentro das condições de contorno formar as regras de atribuição
que foram atribuidas as pessoas políticas. Assim, não vem a imunidade em sentido
contrário a competência, limitando-la ou suprimindo-la.
Assevera o autor, que a imunidade não é exclusão ou supressão do poder de
tributar. Novamente, o argumento é que não existem dois momentos cronológicos
subsequentes, sendo o primeiro de entrega do poder, e o posterior de criação de
excludentes. Na verdade a competência tributária é "resultado da conjunção de
normas constitucionais, entre elas, as de imunidade tributária".
A imunidade também não seria uma não incidência constitucionalmente
qualificada, como é amplamente encontrado em textos sobre o tema. A assertiva,
como posta, conduz ao pensamento de que a norma constitucional não possa
incidir, o que distoa da realidade.
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A imunidade não é aplicável somente aos tributos não vinculados, ou seja,
impostos. Segundo Paulo de Barros Carvalho. Apesar de o texto constitucional, no
seu art. 150, VI explicitamente fazer referencia aos impostos.
Da mesma forma, outra assertiva refutada pelo autor é a de que a imunidade
seria sempre ampla e indivisível, não comportando fracionamentos. Diz Carvalho
que afirmar isto é "discorrer sem compromisso". A ciência do direito não comporta
frases irrestritivas como está.
1.2. CLASSIFICAÇÃO
Podemos categorizar as imunidades, de forma bastante próxima a forma
como são elencadas no texto constitucional.
São elas:
- Imunidade recíproca
- Imunidade dos templos
- Imunidade dos partidos políticos, das entidades sindicais e das instituições
de educação ou de assistência social, sem fins lucrativos.
- Imunidade objetiva
Existem outras possíveis classificações, sendo úteis conforme o objetivo.
Para o tema em debate, esta é suficiente.
2. IMPOSTOS INDIRETOS
Não é objetiva, muito menos positivada, a definição de impostos indireitos. É
claro, existe posicionamento diverso na doutrina. Por exemplo, em um artigo, Hugo
de Brito Machado Segundo diz que:
Sucede que a 'repercusão econômica', pretendendo descrever fenômeno estreitamente econômico, não pode interferir na análise dos fatos e das normas jurídicas, afastando-se, desse modo, o princípio da realidade econômica na interpretação da norma e dos fatos jurídicos tributários.
Segundo Mauro Luís Rocha Lopes [Lopes, 2014], de maneira muito direta:
"tributos que comportam, por sua natureza, transferência do encargo financeiro são
os denominados tributos indiretos."
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Lembra Sabbag [Sabbag:2013] que tal diferenciação entre impostos diretos e
indiretos não é pacífica, por falta de fundamento científico, sendo até considerada
por alguns irrelevante ou puramente econômico. Imposto direto seria aquele tributo
cujo ônus recairia exclusivamente sobre o próprio sujeito passivo da obrigação
tributária, tendo na mesma pessoa o contribuinte de fato e de direito. Por outro lado,
o imposto indireto, seria aquele no qual há uma transferência do ônus, havendo o
fenômeno da repercussão, havendo deslocamento desse encargo do devedor
principal para terceiro. Desse modo, haveriam dois contribuintes: o de fato (de facto)
e o de direito (de jure).
Ainda segundo Lopes, não existem critérios objetivos para identificar com
exatidão quando um tributo é ou não indireto. Esse fenômeno é conhecido como
repercussão tributária, ou translação. Esse repasse do ônus, segundo boa parte da
doutrina, e da jurisprudência, não tem valor jurídico, assim a ciência jurídica não lhe
atribui valor. Assim, o contribuinte de fato na verdade não estaria no polo passivo da
relação tributária.
Ainda suportando esse argumento, pode-se dizer que o empresário repassa
na realidade todos os seus custos aos produtos, incluindo imposto de renda,
contribuições, e outros impostos. Nem por isso, esses demais impostos são
considerados indiretos. Continua Lopes falando que, não se poderia em cada caso,
dependendo dos fatos considerar ou não aquele ou esse tributo como indireto,
havendo ou não a repercussão tributária.
2.1.SUJEITOS DA RELAÇÃO PROCESSUAL
De maneira simular aos demais tributos, temos os polos passivo e ativo. No
polo ativo temos o Estado, também chamado de Fisco, Tesouro, Erário, Fazenda
Pública, seja ela municipal, distrital, estadual ou federal. Porém, no polo passivo
podemos considerar dois sujeitos.
A doutrina denomina-os de contribuinte de fato e contribuinte de direito.
Segundo Lopes [Lopes:2014]:
'contribunte de direito' tem a faculdade de repassar ou transferir o ônus econômico da tributação a um terceiro, que passa, com a medida, a ser chamado
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de 'contribuinte de fato' porque suporta, ao final, a carga fiscal.
Hugo de Brito [Machado:2006] doutrina que “sujeito passivo (ou contribuinte)
é aquele que tem relação de fato com o fato tributável, que é na verdade uma forma
de manifestação de sua capacidade contributiva”. E sujeito passivo indireto:"é
aquele que, sem ter relação direta de fato com o fato tributável, está, por força da lei,
obrigado a o pagamento do tributo".
Esse vínculo entre ambos, pode se dar por transferência ou substituição.
Transferência seria quando existe legalmente o sujeito passivo direto, mas a lei
atribuiu a outro o dever de pagar o tributo. Substituição ocorre quando o legislador
atribui desde logo a outrem relacionado ao fato, embora o fato seja indicador da
capacidade contributiva de outro.
O substituto legal pode ou não transferir ao contribuinte de fato o ônus do
tributo. Essa transferência não é proibida, mas não há um direito, assim que
depende das condições econômicas. Entretanto, lembrando do princípio da
capacidade contributiva adotado pela Carta Magna, especialmente quando o
contribuinte de fato não tenha a efetiva capacidade, seria necessária a outorga do
direito ao reembolso.
3.. DAS IMUNIDADES NOS IMPOSTOS INDIRETOS
Grande tem sido a discussão, existente há décadas, concernente à
possibilidade de a imunidade alcançar também os chamados "impostos indiretos".
Cuida-se do fenômeno da repercussão ou translação econômica do tributo, segundo
o qual em determinados impostos o contribuinte de jure não é aquele que absorve o
impacto da imposição tributária, pois o repassa ao contribuinte de facto.
A classificação dos impostos em diretos e indiretos é considerada, por muitos,
irrelevante para o Direito, sob o argumento de que está sedimentada num fenômeno
puramente econômico.
Alguns, porém, abraçam o entendimento de que a repercussão econômica do
tributo, como mecanismo vinculado à capacidade contributiva, tem relevância
jurídica.
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A jurisprudência, apesar de pacificada no STF, não é unânime sobre o
assunto, por exemplo em ação declaratória favorável a imunidade em impostos
indiretos no Tribunal Regional Federal da 3ª Região:
TRIBUTÁRIO - AÇÃO DECLARATÓRIA - IMUNIDADE RECÍPROCA - IPI - PESSOA POLÍTICA NA CONDIÇÃO DE CONTRIBUINTE DE FATO - EXISTÊNCIA.
[Processo: AC 1648 SP 2007.61.05.001648-5. Julgamento em 24/06/2010. Terceira Turma]
O STF, admitiu recurso reconhendo a repercussão geral do tema no RE
608.872 MG:
3.1.DO DISTEMA DE REGRAS E PRINCÍPIOS
Ensina Pedro Lenza [Lenza:2013] que a doutrina vem dando atenção a
distinção entre regras e princípios. Esse assunto também é debatido por Sabbag em
sua tese de doutoramento [Sabbag:2013] como um dos argumentos para que a
imunidade tributária recíproca tenha validade com relação aos impostos indiretos.
Para o tema em questão, parte-se do princípio que existe o gênero norma
jurídica, do qual regras e princípios são espécies, não havendo qualquer hierarquia
entre eles. Ambos estão em nível constitucional, igualmente contemplados pela
Carta Magna.
Dessa forma, o sistema de regras e princípios compõe o sistema normativo
aberto. Um sistema não pode conter apenas regras ou apenas princípios. Princípios
são flexíveis e tenderiam a criar um sistema por demais flexível. Igualmente se daria
com sistema de puras regras, criando um sistema rígido. Cada espécie normativa
tem sua função.
Os princípios possuem um alto grau de abstração, isso se dá porque são
vagos, indeterminados, com comando genérico. Tem papel alto papel hierárquico e
de extrema importância e se aproximam da ideia de justiçam não tendo uma forma
ou aplicação em cima de um fato típico. Estão na base do sistema de regras, tem
uma função, 'normogenética fundamentante' [Lenza:2013]. Não determinam uma
conduta correta, devendo cada caso concreto sere analisado e devidamente pesado
em relação aos eventuais princípios em choque, chamado de colisão de princípios.
Assim, nos casos de colisão há aplicação de técnicas de ponderação para balancear
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os princípios, sejam eles valorativos ou finalísticos. Seriam mandamentos de
otimização.
Por outro lado, regras tem uma aplicação mais formalista, de forma rígida.
Tem uma abstração relativamente reduzida, sendo susceptíveis de aplicação direta.
Pode-se dizer que regras são normas vinculantes com um conteúdo meramente
funcional.
Isso acontece, porque regras se aproximam mais de relatos descritivos de
condutas. Através de subsunção , devendo haver um enquadramento muito próximo
do fato à previsão abstrata, chega-se a uma conclusão de forma unívoca, não
havendo mais de uma possibilidade, uma espécie de dicotomia entre o sim e o não,
aplica-se ou não a regra, um "tudo ou nada". Aplica-se a regra, caso não exista outra
mais específica. Não há um alto grau de ponderação ou balancemaneto. Segundo
Lenza, "deve-se fazer aquelo que ela [a regra] exige;nem mais , nem menos".
Há portanto uma distinção qualitativa entre regras e princípios, e não uma
distinção de grau. Sobre regras, tratamos de distinção de validade, não de
importância ou peso. São mandamentos de definição, e não de otimização, como
acontece no caso dos princípios.
3.2. REGRAS DE CONDUTA E REGRAS DE ESTRUTURA
Semelhantemente ao exposto na obra de Lenza, Carvalho afirma que
O sistema jurídico positivo é formado, consoante já vimos, de regras de conduta e de regras de estrutura. As últimas, também denominadas normas de produção, de formação ou de transformação de outras normas, assumem extraordinária importância para a configuração do direito posto, e entre elas é que vamos encontrar os preceitos de imunidade.
As imunidades encontram-se no conjunto das sobrenormas, metaproposições
prescritivas que colaboram para definir a área de competência das pessoas políticas
titulares das mesmas no tocante aos limites materiais e formais de sua atividade
legislativa. Nesta toada, define imunidade Carvalho como:
A classe finita e imediamente determinável de normas jurídicas, contidas no texto da Constituição da República, e que estabelecem, de modo expresso, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para expedir regras
10
instituidoras" de tributos que alcancem situações especíificas e suficientemente caracterizadas.
3.3. INTERPRETAÇÃO ECONÔMICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
Segundo Hugo de Brito Machado [Machado:2006] a denominada
interpretação econômica, de influencia alemã, os efeitos econômicos do tributo
devem ser considerados pelo intérprete da norma. É patente que o tributo tem
efeitos na realidade econômica. E essa natureza, segundo Hugo de Brito, faz parte
integrante do próprio conteúdo da vontade da norma, apontando para seu fim.
Cita Hugo de Brito, o princípio da capacidade econômica, que é princípio
prevalente no Direito Tributário, devendo orientar o intérprete e o legislador da
norma.
Assim como em outros ramos do direito, interepretasse um fato jurídico
dependendo do objetivo em vista, por exemplo um contrato de compra e venda com
finalidades e efeitos que as partes buscam no ramo civil, assim também deve ser no
direito tributário. Deve o intérprete analisar a a mesma compra e venda como um
simples fato, sem se preocupar com contratos e etc. Deve se atentar ao fato gerador
e ao tributo aplicável ao negócio jurídico.
Ao fim, chama a atenção Hugo de Brito a denominada norma antielisão,
fazendo uma referência a Lei Complementar n. 104/2001 então 'recentemente
aprovada pelo Congresso Nacional'. Segundo autor, estaria autorizada a
interpretação econômica no sistema jurídico.
Ensina Hugo de Brito que a imunidade para ser efetiva, deve ser abrangente
[Machado:2006]. Nenhum tributo deveria ficar fora de seu alcance.
Ensina Regina Helena Costa [Costa:2001], sintetizando o pensamento de
Baleeiro sobre o tema, que o ente público somente se benefiaria da imunidade se
suportasse o ônus do tributo. Assim, no caso de ser contribuinte de direito, mas
repassasse os custos dos mesmo, não deveria fazer jus a imunidade. Baleeiro já
demonstrava a relevância da interpretação econômica. Este pensamento é
endoçado por Geraldo Ataliba, que preconiza a adoção de uma interpretação
substancial para normas imunizantes, podendo, em alguns casos, opor a realidade
econômica a jurídica.
Assim, há relevância, pois o tributo incide diretamente na renda e patrimônio
do ente imune, nesse sentido há jurisprudência:
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TRIBUTÁRIO. IMPORTAÇÃO. SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO E CARIDADE. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. REQUISITOS. II E IPI - INEXIGÊNCIA.
[Processo: REOMS 17696 RS 2006.71.08.017696-9. Relatora: VÂNIA HACK DE ALMEIDA. Julgamento: 11/03/2008. Órgão Julgador: SEGUNDATURMA. Publicação: D.E. 23/04/2008]
Sabbag discorre sobre a interpretação de cunho substancial em sua tese de
doutoramento [Sabbag:2013]: Explica Sabbag que está se atribuindo relevância
júrídica à realidade econômica, a contraponto da interpretação formal, conhecida
também como restritiva ou limitada, que considera apenas a relação jurídica-
tributária de modo completamente formal, desconsiderando no polo passivo o
contribuinte de fato.
Paulo de Barros [Carvalho:2012] ensina que o ônus financeiro não se
confunde, em termos jurídicos, com o tributo em si.
A Súmula 591/STF segue esse raciocínio. Não havendo ressalvas, aplica-se a
referida súmula também ao ICMS.
3.4. FEDERALISMO
Outro argumento forte ao favor da imunidade dos impostos indiretos é o
princípio do federalismo, pedra angular da Replública Brasileira. Porém, este teria
validade apenas no caso de o contribuinte de fato ser um dos entes políticos.
A cobrança de tributos entre entes políticos criaria uma possibilidade de
supordinação entre os entes. Isso seria uma violação do princípio do federalismo,
pois predjudicaria a independência entre estados, União, municípios e Distrito
Federal. Essa imunidade, conhecida com imunidade tributária recíproca.
A Jurisprudência não tem sido favorável a imunidade tributária mesmo nesses
casos:
IMUNIDADE FISCAL RECIPROCA. NÃO TEM APLICAÇÃO NA COBRANÇA DO IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS. O CONTRIBUINTE DE IURE E O INDUSTRIAL OU PRODUTOR. NÃO E POSSIVEL OPOR A FORMA JURÍDICA A REALIDADE ECONÔMICA PARA EXCLUIR UMA OBRIGAÇÃO FISCAL PRECISAMENTE DEFINIDA NA LEI. O CONTRIBUINTE DE FATO E ESTRANHO A
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RELAÇÃO TRIBUTARIA E NÃO PODE ALEGAR A SEU FAVOR, A IMUNIDADE RECIPROCA. (STF, 2 T., RE 68741/SP, rel. Min. Bilac Pinto. DJU 23/10/1970).
3.4. CAPACIDADE CONTRIBUTIVA
Outro argumento forte ao favor da imunidade dos impostos indiretos é o
princípio da capacidade contributiva. Sabbag chama de antógica a imunidade que
decorreria de princípios outros que não a explicita imunidade do art. 150 da CF.
Constante da Carta Magna, no seu art. 145, §1º, o Princípio da Capacidade
Contributiva, é o princípio jurídico que orienta a instituição de tributos impondo a
observância da capacdiade do contribuinte de recolher ao Erário.
Os entes imunizados pela Constituição, não o foram de forma leviana.
Tratam-se de entidades que tentem a não possuir de vastos recursos para
perseguição de seus objetivos. A exemplo as entidades de assistência social, os
sindicatos, pequenas igrejas.
É claro que existem sim alguns entes que revelam uma grande capacidade
contributiva, como mega igrejas ou sindicatos grandes e fortes, mas de maneira
geral está não é a realidade.
3.5. TAXAS E CONTRIBUIÇÕES
Outra grande discussão da doutrina é sobre o alcance da imunidade, se
abarcaria essa tambem as taxas e impostos. Temos então duas correntes, a
restritiva e a ampliativa.
A corrente restritiva tem forte posicionamento positivista, uma vez que, de
forma explícita a Constituição fala em impostos e não em tributos, gênero do qual o
imposto é uma das espécies, ao lado das taxas, contribuições de melhoria, e
dependendo da classificação adotada, contribuições e empréstimos compulsórios.
A segunda corrente, ampliativa, entende que a imunidade abarca todos os
tributos, uma vez que deve-se buscar o sentido teleológico da norma.
Posicionamento de Hugo de Brito Machado e também José Luiz Soares de Mero,
que em sua obra diz que:
Assim, é proibida a atuação do legislador ordinário na instituição de determinados tributos, tendo em vista as precisas materialidades e pessoas
13
participantes das relações jurídicas, ressaltando-se que a imunidade não se restringe exclusivamente aos impostos (como se poderia supor da redação contida no art. 150, VI), mas também abrange as taxas (art. 5º, XXXIV,LXXIV, LXXVI e LXXVII) e as contribuições sociais (arts. 149, §2º, II, 195,§7º, e 85 do ADCT).
Há julgamento em sentido diverso.No RE n° 253.394/SP, a Suprema Corte
interpretou de forma restritiva a abrangência da imunidade, exemplo do art. 150, VI,
b, da Constituição Federal, cuja interpretação literal não autorizaria a extensão do
benefício às taxas e contribuições. Também nesse sentido, jurisprudência do STF no
RE nº 613.287/RS-AgR:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA “A”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. IMUNIDADE RECÍPROCA. TAXAS. INEXISTÊNCIA. TAXA DE COLETA DE LIXO DOMICILIAR. SERVIÇOS ESPECÍFICOS E DIVISÍVEIS. CONSTITUCIONALIDADE. ELEMENTOS DA BASE DE CÁLCULO PRÓPRIA DE IMPOSTOS. SÚMULA VINCULANTE N. 29 DO STF. IPTU. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE. ARTIGO 145, II E § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
A fim de se chegar a uma possível posicionamento sobre o tema, foi tratada a
questão da imunidade, suas características e contornos, bem como classificação de
maneira como positivada no art. 150 da Constituição Federal de 1988.
Após, foi apresentada a questão dos impostos indiretos, colocando lado a
lado a figura do contribuinte de fato e do contribuinde de direito. O primeiro o que
suporta o ônus econômico, o segundo o que participada na realidade da relação
jurídica com o ente político e exercutaria o fato gerador do tributo.
Foram expostos fatos que embasam a discussão, como interpretação
econômica, teleológica, bem como a questão de norma de estrutura e de conduta.
Buscando o real objetivo do constituinte, pode-se até mesmo dizer que a imunidade
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abarca todas as espécies tributárias, não somente os impostos, como quer a
corrente restritiva, com base na literalidade do texto constitucional.
A questão do alcande da imunidade em relação aos impostos indiretos é
antiga, tendo no STF sido defendida por Baleeiro e atacada pelo Ministro Bilac Pinto,
sustentando que considerações econômicas são insignificantes para o direito.
Foi constatado que a jurisprudência favorece um posicionamento mais
positivista, em que não há imunidade nos impostos ditos indiretos mesmo que, na
realidade, quem arque com os custos do pagamento sejam entes que possuem
imunidade tributária.
Porém, foram também apresentados razões e fundamentos a favor de que tal
imunidade seja aplicada. Seriam eles: o alcançe de forma mais abrangete da
vontade do constituinte, bem como da não ocorrência de inconstitucionalidade, uma
vez que imunidades são regras de criação de outras regras, e, havendo violação,
incorremos em inconstitucionalidade, tese que infelizmente tem sido refutada pelo
STF.
O que se espera é mais uma vez trazer ao centro do palco tal discussão,
dado sua importância e desarmonia na adoção de diferentes interpretações na
doutrina e dos tribunais superiores.
BIBLIOGRAFIA
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