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Incineração de resíduos urbanos Vincent Di Chirico © 1996 Schweizerische Rückversicherungs-Gesellschaft TM , Zürich Tradução autorizada pelo titular do © em 2013 Tradução em português: Paula Mantovanini / Gandolla Mauro Atualização dos dados: Gandolla Mauro (2013)

Incineração de resíduos urbanos · 2015-10-13 · de caráter introdutivo, é centrada na história da eliminação de resíduos através dos séculos e na evolução da produção

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Incineração de resíduos urbanos Vincent Di Chirico

© 1996 Schweizerische Rückversicherungs-GesellschaftTM, Zürich Tradução autorizada pelo titular do © em 2013 Tradução em português: Paula Mantovanini / Gandolla MauroAtualização dos dados: Gandolla Mauro (2013)

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Apresentação José Fernando T. Jucá

Atualmente o problema dos resíduos não é

mais limitado apenas a um aumento de sua

geração. Entrou em jogo outro fator essencial,

que é a mudança da composição do lixo. Isso

reflete sobre nosso estilo de vida, que mudou

notavelmente nesses últimos anos. Se por uma

lado desenvolvemos tecnologias para

aproveitamento dos materiais e da energia

existente nos resíduos, por outro, o amplo uso

de embalagens de materiais sintéticos ou

compostos colocam sérios problemas de

eliminação, enquanto esses materiais não

podem ser reciclados e, se queimados, liberam

inúmeros gases tóxicos. Portanto, os resíduos

da incineração devem ser tratados antes de ser

confinados nos aterros sanitários, sem riscos

para o meio ambiente.

No Brasil o tratamento térmico dos resíduos

sólidos urbanos tem sido motivo de vários

debates e discussões muito controversas. A

falta de experiência em projetos, construção e

operação destas unidades de tratamento,

aliadas a falta de conhecimento sobre o

assunto, tem conduzido a polêmicas sem fim,

envolvendo questões políticas, técnicas,

econômicas e jurídicas. A estes problemas se

somam a falta de recursos humanos

especializados, tanto no meio técnico, como

nas prefeituras municipais, a necessidade de

uma legislação mais adequada, além do

despreparo dos órgãos ambientais, que na sua

grande maioria, não possuem equipamentos e

técnicos suficientes para realizar uma

fiscalização adequada de controle das

emissões.

Esta publicação preenche uma importante

lacuna, que é a falta de conhecimento sobre o

assunto, atendendo aos anseios da sociedade,

incluindo os técnicos que trabalham na área,

os estudantes de pós-graduação e os

pesquisadores no assunto, pois aborda com

simplicidade e profundidade todos os aspectos

relativos a gestão e ao tratamento térmico dos

resíduos sólidos. Sente-se que o autor foi

extremamente generoso, transmitindo de

forma direta sua grande experiência, baseada

em estudos e pesquisas sobre o assunto, além

da vivencia de ter operado por vários anos a

principal unidade de tratamento térmico de

resíduos da Suíça.

A publicação contêm três partes: a primeira é

centrada na história da incineração, na

evolução da geração e da natureza dos

resíduos sólidos. Nesta parte o autor nos

apresenta as finalidades de uma gestão

moderna de resíduos, onde se coloca o

contexto funcional de uma instalação de

tratamento térmico no manejo dos resíduos,

onde a valorização dos resíduos mediante a

triagem e reciclagem são prioritários em

relação a sua eliminação direta. A segunda

parte foca principalmente os aspectos técnicos

ligados ao projeto de uma instalação de

tratamento térmico, com a descrição dos

métodos e tecnologias já experimentados. A

terceira parte desenvolve aspectos da

segurança aos riscos tecnológicos ligados à

construção e à operação de uma unidade de

tratamento. A descrição das diversas etapas de

construção e da posta em funcionamento

dessas instalações é um ponto alto desta parte

sendo merecedor de uma cuidadosa leitura.

Com certeza, esta é uma leitura de aplicação

prática, com forte embasamento teórico e

muito relevante para os profissionais que

queiram projetar, instalar, operar, fiscalizar

estes tipos de unidades de tratamento de

resíduos sólidos.

Prof. José Fernando T. Jucá Coordenador do Grupo de Resíduos Sólidos

da Universidade Federal de Pernambuco

Recife, setembro 2013

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ECONS
Rettangolo
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Sumário

1 Introdução .................................................................................................................... 5

2 O descarte de resíduos através dos séculos ................................................................. 7

3 A gestão dos resíduos nos países industrializados .................................................... 15

3.1 Objetivos de uma moderna gestão dos resíduos ................................................. 15

3.2 Gestão integrada dos resíduos............................................................................. 16

3.3 Produção de resíduos .......................................................................................... 18

3.4 Natureza e composição dos resíduos .................................................................. 20

4 Aspectos técnicos relativos à projetação de uma implantação de eliminação de

resíduos .............................................................................................................................. 24

4.1 Funcionamento de uma implantação de eliminação de resíduos ........................ 24

4.2 Tratamento térmico dos resíduos ........................................................................ 25

4.3 Etapas fundamentais na concepção de uma implantação de eliminação de

resíduos .......................................................................................................................... 28

4.4 Principais processos disponíveis para incineração de resíduos .......................... 32

4.4.1 Forno a grelha de combustão ....................................................................... 33

4.4.2 Forno de leito fluidizado ............................................................................. 35

4.4.3 Forno rotativo .............................................................................................. 37

4.4.4 Forno pirolítico ............................................................................................ 39

4.5 Depuração da fumaça.......................................................................................... 41

4.5.1 Formação de substâncias poluidoras nos gases de combustão .................... 41

4.5.2 Concentrações de poluidores nas fumaças não depuradas .......................... 41

4.5.3 Normas de controle das emissões ................................................................ 41

4.5.4 Principais processos de depuração da fumaça ............................................. 44

4.5.5 Redução de NOx (desnitrificação) ............................................................... 48

4.5.6 Dioxinas e furanos ....................................................................................... 49

4.5.7 Expectativas da depuração da fumaça ......................................................... 50

4.6 Tratamento dos resíduos da incineração e da depuração da fumaça .................. 51

4.6.1 Escórias........................................................................................................ 52

4.6.2 Cinzas volantes e poeiras............................................................................. 52

4.6.3 Resíduos sólidos extraídos da água de lavagem da fumaça ........................ 53

5 Descrição de uma implantação de eliminação de resíduos urbanos .......................... 55

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5.1 Estrutura de uma implantação de eliminação de resíduos tradicional ................ 55

5.2 Descrição dos principais equipamentos .............................................................. 56

5.2.1 Registro e estocagem dos resíduos .............................................................. 56

5.2.2 Forno de incineração ................................................................................... 57

5.2.3 Caldeira e equipamentos térmicos ............................................................... 61

5.2.4 Sistema de depuração da fumaça ................................................................. 62

6 Os custos .................................................................................................................... 65

6.1 A indústria ambiental .......................................................................................... 65

6.2 Custos da incineração de resíduos ...................................................................... 66

7 Perigos potenciais e tipos de acidentes ...................................................................... 69

7.1 Perigos na fase de construção, montagem e operação ........................................ 69

7.2 Perigos ligados ao processo ................................................................................ 72

7.2.1 Emprego e manipulação de produtos sólidos .............................................. 72

7.2.2 Substâncias e ambientes corrosivos............................................................. 72

7.2.3 Altas pressões .............................................................................................. 74

7.2.4 Máquinas de rotação .................................................................................... 74

7.2.5 Incêndio e explosão ..................................................................................... 75

7.3 Tipos de danos .................................................................................................... 76

8 Asseguração dos riscos tecnológicos ligados à construção e ao funcionamento de

uma implantação de eliminação de resíduos ..................................................................... 79

8.1 Principais coberturas de seguro de riscos tecnológicos ...................................... 79

8.2 Etapas importantes na construção de uma implantação de incineração de

resíduos .......................................................................................................................... 79

8.2.1 Obras civis ................................................................................................... 80

8.2.2 Montagem dos equipamentos ...................................................................... 82

8.2.3 Startup dos equipamentos ............................................................................ 82

8.2.4 Funcionamento industrial ............................................................................ 85

8.3 Observações sobre riscos empresariais ............................................................... 85

8.4 Recomendações úteis para a assinatura contratual ............................................. 87

8.5 Cláusula especial................................................................................................. 90

9 Glossário .................................................................................................................... 91

10 Bibliografia ................................................................................................................ 93

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Como indicado na capa, o presente texto deriva da Publicação do SwissRe de 1995. A qualidade

técnica da publicação, utilizada também para ensino acadêmico, induziu a realização de uma

versão portuguesa brasileira, atualizada em 2012.

A tradução e atualização foram autorizados pela SwissRe, sob total responsabilidade do

requerente eng. Mauro Gandolla (ECONOS AS – Bioggio-Swizzera), que para a tradução em

português utilizou a colaboração técnica de eng. Paula Mantovanini.

Contatos:

Mauro Gandolla: [email protected]

Paula Mantovanini: [email protected]

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1 Introdução

Desde o começo da industrialização as

condições de vida da nossa sociedade foram

melhorando até nos assegurar, nesse final de

século, um nível de prosperidade sem

precedentes. Entre os maiores inconvenientes

do desenvolvimento econômico sem dúvida se

encontram os diversos danos ambientais, que

estão levando a uma alarmante degradação.

No passado a industrialização e o

desenvolvimento tinham objetivos

completamente opostos à proteção do meio

ambiente. Hoje, porém, a sociedade de

consumo, fundada em um grande uso

energético, se rendeu conta de que os nossos

recursos naturais não são nem inacabáveis

nem inalteráveis. Analogamente, a indústria

está começando a se expandir, levando em

consideração o meio ambiente, com o objetivo

de usar racionalmente a energia e conter os

efeitos nocivos.

Obviamente é impossível retornar a um estado

selvagem, mas mudando de comportamento

podemos sempre esperar concluir um passo

importante para a proteção do nosso ambiente.

A preservação ambiental é atualmente uma

componente imprescindível da nossa

sociedade, um princípio fundamental que

qualquer um de nós deve assimilar ao próprio

comportamento e ao próprio estilo de vida.

Entretanto, a estrada que nos conduzirá a um

novo desenvolvimento econômico sustentável

é longa e tortuosa. O conceito de ecologia não

deve implicar a desaceleração do crescimento

econômico e da atividade industrial, mas deve

preferivelmente estimular a procura de um

emprego mais racional dos recursos

energéticos e das matérias disponíveis.

Se se quer preservar o meio ambiente para as

gerações futuras não basta evitar a poluição e

a produção de resíduos focando apenas em

uma sensibilização do problema em nível

individual e na aplicação cotidiana de regras

elementares. A maior parte dos problemas

ligados à preservação ambiental somente

poderá ser resolvido fazendo-se apelo a

tecnologias avançadas, de elevado

desempenho e custos sustentáveis.

As implantações de incineração eram

consideradas, muitas vezes com razão, fontes

de poluição de grandes impactos. Mas, desde

que foram feitas normas que vinculam a

preservação ambiental, a concepção dessas

instalações evoluiu notavelmente e hoje em

dia viraram um meio de prevenção, pois

permitem que nos livremos das montanhas de

lixo que produzimos cotidianamente.

Os termos “implantação de incineração”,

“implantação de recuperação e reciclagem de

resíduos”, hoje amplamente utilizados,

refletem as modernas ambições dessa

tecnologia no âmbito dos programas de gestão

integrada de resíduos.

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O objetivo da publicação é ilustrar em linhas

gerais os vários problemas ligados à gestão e

ao tratamento térmico dos resíduos nos países

industrializados, sem descrever de modo

excessivamente detalhado aspectos ambientais

e riscos, as tecnologias disponíveis e as várias

componentes de uma instalação de eliminação

de resíduos. Propositadamente evitamos

inserir fórmulas ou modelos matemáticos com

o objetivo de facilitar a leitura.

A publicação contêm três partes. A primeira,

de caráter introdutivo, é centrada na história

da eliminação de resíduos através dos séculos

e na evolução da produção e da natureza dos

resíduos. Também vêm ilustradas as

finalidades da gestão moderna de resíduos e a

nova função das instalações de incineração de

lixo na nossa sociedade.

A segunda parte foca principalmente nos

aspectos técnicos ligados à projetação de uma

instalação de incineração de lixo, com uma

sucinta descrição dos métodos e tecnologias já

experimentados. Mesmo o leitor que quer

saber mais sobre os componentes de uma

instalação e sua operação encontrará

informações interessantes.

A terceira parte desenvolve os aspectos da

asseguração dos riscos tecnológicos ligados à

construção e à operação de uma instalação de

incineração de resíduos. A descrição das

diversas etapas de construção e de colocação

em funcionamento dessas instalações, bem

como dos potenciais perigos relacionados, se

foca particularmente nos responsáveis pelas

decisões, com análise dos riscos e das tarifas

nesse setor de atividade.

Agradecemos profundamente as sociedades

que gentilmente colocaram a nossa disposição

suas publicações especializadas e material

fotográfico.

Para a realização do documento original

realizado em 1995 agradecemos as empresas

Von Roll Umwelttechnik AG de Zurique,

Widmer & Ernst Umwelttechnik de Zurique e

Deutsche Babcock de Krefeld. Um sincero

agradecimento a todos que contribuíram, com

seu trabalho e sua colaboração, para a

realização desse trabalho.

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2 O descarte de resíduos através dos séculos

Os Antigos

De escavações arqueológicas efetuadas nos

povoados da bacia Mediterrânea e do vale do

Indo resulta que muitas cidades dispunham de

um sistema de escoamento de águas residuais.

Assim, em Creta os resíduos sólidos eram

descartados em fossas destinadas a esse fim,

que eram esvaziadas conforme a necessidade.

No Egito e na Grécia os dejetos eram

colocados em jarros de argila,

presumidamente para usá-los como

fertilizantes.

Já os Romanos canalizavam água limpa por

grandes distâncias, até a cidade, e

sucessivamente descartavam a água residual

com tubulações que escoavam na Cloaca

Máxima, canal principal construído no

percurso de um rio, último receptor das águas.

Enquanto os prédios e edifícios públicos,

dotados de latrinas, eram ligados à rede de

esgoto, nas habitações privadas os resíduos e

excrementos eram recolhidos em jarros de

argila, que os escravos esvaziavam nos canais

de esgoto.

Com a queda do império romano seguida das

invasões dos povos Germânicos, os sistemas

de esgoto se deterioraram progressivamente.

Os canais não eram mais limpos e se

obstruíram, o esgoto começou a escorrer pelas

ruas, difundindo cheiros horríveis. A

consequência inevitável dessa situação foi

uma epidemia de peste.

Idade Média: poder e impotência

Durante a Idade Média, os senhores feudais se

desfaziam dos restos de comida e outros

resíduos simplesmente despejando-os nas

encostas das colinas. Por isso os fossos das

fortalezas são preciosos sítios arqueológicos.

Imagine o cheiro!

O mesmo ocorria nas cidades, onde os

resíduos eram jogados diretamente na rua.

Esta situação desagradável é descrita em um

relatório sobre Paris no século XI: ruas sem

pavimentação, cheias de buracos, sujas,

constantemente cobertas de excrementos e

imundícias, sem sistema de escoamento das

águas negras que se estagnavam e se

misturavam com a sujeira das estradas.

Basta pensar na história do rei da França,

Filippo II Augusto, que observava da janela os

veículos sobrecarregados passando diante do

palácio; a carga esmagava os excrementos das

ruas devido seu peso, e o odor que se difundia

era tão desagradável que o rei desmaiou.

Ficou tão chocado que cobriu as ruas e as

áreas entorno do palácio com pedrisco.

É esse o exemplo de como uma autoridade, no

caso o rei da França, conseguiu melhorar as

condições higiênicas da época. Infelizmente

foi apenas uma exceção.

Séculos XIV e XV

Pela primeira vez uma ordem do reitor de

Paris obrigou os habitantes a levar a sujeira a

lugares pré-estabelecidos. Em muitas cidades

as autoridades intensificaram os esforços e

cobriram as ruas com pedriscos e

pavimentação. Apesar das numerosas ameaças

de punição, a situação permaneceu

praticamente igual; em Paris, em Nuremberga

e também na Basiléia, os cidadãos se

recusavam a descartar seus resíduos de

maneira ordenada.

Mas então ocorre outro episódio que não

poderia ser mais significativo. Em 1840 o

imperador Federico III decide atravessar a

cidade de Tuttlingen, apesar das advertências

mostrarem que as estradas eram praticamente

inutilizáveis. O seu cavalo teve que atravessar

as ruas imerso na imundícia até os flancos.

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8

Três anos depois o imperador estava em uma

situação ainda pior: na entrada da cidade de

Reutlingen o cavalo cai e vem literalmente

engolido pela montanha de dejetos junto com

seu cavaleiro!

Epidemias e melhoras passageiras

Foi na época da peste que apareceram

produtos como a água de Colônia; achava-se

que era útil esfregá-lo na pele para imunizar-

se contra a doença. Apesar de se saber que a

peste estava estritamente ligada às condições

higiênicas, se pensava que a erupção cutânea

fosse causada pelo mau odor, uma dentre as

várias especulações da época.

As epidemias funcionaram sempre como

trampolim de impulso para novas medidas

higiênicas, mas infelizmente cada vez

medidas e decretos tinham vida breve e a

doença e seus estragos caíam rapidamente no

esquecimento.

Século XVI

Em Paris começa uma medida de “caça às

imundícias”. Durante o reinado de Luís XII

foi instituído um serviço de remoção de

dejetos, financiado pelos contribuintes.

Sucessivamente Francisco I introduz o hábito

de recolher os resíduos em grandes cestos

(pais das nossas latas de lixo); desse modo o

lixo não era mais abandonado na rua

esperando que as carretas viessem retirá-lo.

Mesmo assim, a longo prazo todos esses

esforços se revelaram pouco efetivos. As

pessoas continuavam a esvaziar os vasos de

noite pela rua, embora gritassem a quem

passava “cuidado com a água”.

Nesse mesmo período na Holanda o descarte

dos resíduos era feito de maneira impecável.

Em Antuérpia, por exemplo, cada cidadão

devia limpar o seu próprio “pedaço da rua” e

levar o lixo às portas da cidade. Em

Amsterdam eram colocados à disposição da

população recipientes especiais para o

recolhimento dos resíduos, para serem

esvaziados fora da cidade.

Séculos XVIII e XIX

Paris

A limpeza das ruas vira obrigatória por lei em

toda França, o que permite estabelecer

itinerários e calendários regulares de

recolhimento. Em 1773 uma ordem da polícia

estabelece que as fossas deviam ser

desinfetadas e desodorizadas com ácido

clorídrico, e em seguida com cloro.

No século XIX o conde de Rambuteau

construiu as primeiras ruas abauladas, para

evitar que os córregos atravessassem a rua e

para agilizar o escoamento das águas e

dejetos. Também construiu em Paris as

primeiras tubulações de esgoto de cimento.

Em 1853 Haussmann, prefeito de Sena,

construiu um sistema de circulação de três

redes:

Uma para os homens

Uma para a circulação dos meios de

transporte

1

Durante as grandes

epidemias de peste que

golpearam a Europa, os

médicos usavam uma

máscara com um grande

nariz, cheio de

especiarias perfumadas.

Foi feita uma primeira

ligação entre as

condições higiênicas e

doenças, mas as formas

de contaminação dessas

doenças permaneciam

um mistério.

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Uma destinada ao fornecimento hídrico e

escoamento dos resíduos

Em 1883 Eugène Poubelle, sucessor de

Haussmann no cargo de prefeito de Sena,

estabeleceu uma ordem que obrigava os

proprietários de casas a fornecer a seus

inquilinos caixas para o recolhimento dos

dejetos. Visionário, Poubelle impôs a

diferenciação do lixo: uma caixa era reservada

aos materiais perecíveis, outra aos papeis e

panos e uma terceira ao vidro.

Berlim

No início do século XVLL as ruas de Berlim

eram conhecidas como as mais sujas da

Europa. E como ninguém jamais se dava ao

trabalho de limpá-las, viraram o quintal

predileto de porcos e outros animais

domésticos.

Em 1677 os principais eleitores promulgaram

um decreto segundo o qual os chiqueiros

deviam ser instalados fora da cidade. Mas até

a revolução de 1848 não foi feita nenhuma

mudança daquela situação deplorável.

A partir dessa época, a responsabilidade pela

limpeza das ruas é da administração da cidade

e de um serviço de limpeza independente.

Vienna

Em 1782 a cidade instituiu um serviço de

limpeza regular das ruas. Para isso, algumas

prostitutas eram obrigadas, depois de um

rápido processo, a limpar as ruas. As

desfortunadas tinham os cabelos cortados e

recebiam uma vassoura, para que

executassem, sob vigilância, o pesado

trabalho.

Foram obrigadas a isso até 1864, quando as

autoridades municipais começaram a se

ocupar da organização da limpeza das ruas,

operação que exigia 500 dependentes.

Berna

A cidade optou pela mesma solução de Viena.

Alguns presos eram divididos em equipes

responsáveis pela limpeza das ruas. Seis

veículos eram puxados por mulheres, 22

lixeiros recolhiam o lixo, enquanto outros

presos carregavam o veiculo.

Inglaterra

Após uma pesquisa feita para a Comissão

Real sobre as condições higiênicas nas

diversas cidades do Reino, o governo impôs

aos órgãos administrativos das cidades a

construção de sistemas de canalização de água

e a incentivar a eliminação dos resíduos

sólidos. Nasce assim o “Water Closet”

(W.C.): os dejetos sólidos eram depositados

em sacos e descartados nos serviços de

recolhimento de lixo da cidade e

sucessivamente transportados aos aterros. A

incineração do lixo foi utilizada pela primeira

vez na Inglaterra. As primeiras instalações das

quais se tenha conhecimento, dotadas de uma

câmara de combustão à parte para a

incineração, datam de 1876.

Na época dos

primeiros serviços

regulares de limpeza

urbana nas cidades

europeias, a

degradante tarefa de

limpar as ruas era

confiada a prostitutas

e presos.

2

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10

Século XX

Suíça

Por volta de 1930 o País dispunha de um

serviço de recolhimento de lixo diário. Nos

locais menores o lixo era descartado somente

em caso de necessidade. No processo o lixo

recolhido era depositado em terrenos não

cultivados, situados nas proximidades dos

centros urbanos. O lixo orgânico se

decompunha em húmus, destinado a um uso

agrícola.

A primeira implantação sueca de uma

incineradora surgiu em Zurique e entrou em

funcionamento em 10 de maio de 1904. Era a

quarta em todo o continente europeu. Em

1914 a cidade de Davos também recebe uma

incineradora.

A procura pelo contentor adequado

Em todos os lugares começou a procura pelo

recipiente certo para a contenção dos resíduos

que tivesse as seguintes características:

solidez, resistência, impermeabilidade. O

contentor devia ainda possuir uma tampa

ajustável, de mecanismo simples e custos

reduzidos.

Quem encontrou a solução foi J. Ochsner, que

concluiu e lançou a homônima lata de lixo. A

tampa deslizante permitia o recolhimento do

lixo sem levantar muita poeira. Em 1904

Ochsner inventou também um meio de

recolhimento acoplável com o dispositivo da

lata. Esse sistema permaneceu sem variações

até os anos setenta.

França

A lei de 15 de julho de 1975 sobre a

eliminação de resíduos sancionou o principio

“quem polui paga” e atribuiu aos municípios a

responsabilidade de eliminar os resíduos

domésticos. No ano seguinte a lei de 19 de

julho de 1976 confiou à administração a tarefa

de vigiar as implantações de incineração, com

o objetivo de reduzir o volume do lixo e

organizar o transporte e a reciclagem.

Carros de coleta do lixo

urbano com caixotes

deslocáveis, usados no

serviço de limpeza

urbana de Zurique entre

1920 e 1930.

Antes que se difundisse

o uso do latão metálico

coberto, o lixo era

acumulado em

recipientes diversos.

3

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11

As instalações de eliminação de resíduos,

como as instalações de compostagem, aqueles

de incineração e descarga de lixo urbano,

caiam em uma categoria à parte, e eram

sujeitos a normas especiais. Em virtude dessa

classificação se aplicam todas as normas e

procedimentos contidos em artigos de lei e

relativos à instalação, à potencialização, ao

exercício, às modificações e ao fechamento

dessas implantações. Uma das últimas leis

aprovadas nesse âmbito prevê que até 2002

serão fechadas todas as descargas para os

resíduos não tratados.

4

A incineração do lixo da origem até hoje

Os primeiros fornos

Os primeiros fornos incineradores, que

apareceram no fim do século XVIII, eram de

simples concepção e apresentavam vários

inconvenientes de ordem tecnológica e

ecológica. Até os anos vinte o carregamento

do forno e a extração das cinzas eram feitos

manualmente, e assim os trabalhadores das

fornalhas eram expostos às chamas, à poeira,

aos odores e à fumaça com elevada

concentração de fuligem.

As tecnologias progrediram junto com a

industrialização e tais inconvenientes foram

gradualmente eliminados mediante o emprego

de mecanismos adequados que realizavam boa

parte do trabalho manual. As primeiras

grelhas mecânicas de combustão apareceram

entre 1920 e 1930. O precursor nesse campo

foi o alemão Joseph Martin, inventor do

sistema com grelha mecânica a

contracorrente, patenteada em 30 de janeiro

de 1926. Desde então, o carregamento do

forno, seu atiçamento, e mesmo a circulação

do lixo e a extração das cinzas foram sendo

progressivamente mecanizados e

automatizados.

Apesar de tendencialmente os fornos

incineradores fossem associados aos fornos de

carvão das centrais térmicas, seus designs

possuíam problemas diferentes. Diferente do

carvão, combustível de características

relativamente estáveis, a composição e o

poder calorifico do lixo variam e evoluem

continuamente em função do tipo de vida da

população. Por causa das elevadas

concentrações de resíduos inertes no lixo – até

os anos setenta as cinzas dos fornos a lenha e

a carvão das habitações constituíam uma

fração elevada do lixo urbano – por muito

tempo os construtores de fornos tiveram que

afrontar problemas de sustentação da reação

de combustão do lixo devido ao pequeno

poder caloríficos dos mesmos. Os fornos eram

de concepção simples sob o ponto de vista

tecnológico, mas sofisticados no que se refere

à circulação do lixo. O seu funcionamento era

condicionado pela variação da composição e

do poder calorifico dos resíduos, por isso uma

implantação que funcionava perfeitamente em

uma cidade, em outra poderia revelar-se inútil.

As caldeiras não eram completamente

confiáveis graças à circulação muito

energética que era imposta aos resíduos no

forno, com a consequente produção de poeira

em grande quantidade e velocidade excessiva

da fumaça. Como resultado, os tubos das

caldeiras se deterioravam rapidamente graças

à abrasão. Esse problema, ainda atual, se junta

com aquele da corrosão dos tubos das

caldeiras, imputável à sensível variação na

composição dos resíduos gerados a partir dos

anos cinquenta. Com efeito, as embalagens de

plástico e outros materiais compostos, que

constituem uma fração sempre mais elevada

do lixo, produzem ácido durante a combustão.

Recentemente

numerosos municípios

suíços adotaram o

mesmo sistema para

financiar o

recolhimento e descarte

final do lixo urbano.

Incentiva-se a pré-

seleção dos materiais

recicláveis como o

papel e o vidro,

impondo um elevado

imposto sobre o lixo.

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12

Implantação de

incineração de

Zurique,

Josephstrarre, de

1906. Na falta de uma

fossa de coleta, os

resíduos eram

acumulados a céu

aberto. Com o advento

da mecanização, o

excedente de mão-de-

obra, até então

necessária para esse

tipo de trabalho,

reduziu-se

progressivamente.

5

Atual implantação de

incineração de

Zurique,

Josephstrarre.

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13

Desenvolvimentos recentes

Na gênese das instalações de incineração do

lixo urbano podem ser individuados quatro

períodos.

Primeira geração: 1950-1965

O principal, se não o único objetivo dessas

implantações era a combustão dos resíduos. A

recuperação do calor era efetuada muito

raramente e o tratamento da fumaça era

praticamente nulo. Em geral os gases de

combustão eram simplesmente lançados em

uma torre de resfriamento, colocada sobre a

câmara de combustão, e emitidos na

atmosfera. Para ilustrar, a concentração de

poeira na fumaça na saída da chaminé era em

torno de 1000 mg/Nm³, enquanto hoje as

tecnologias modernas permitem a redução

desse valor para 3 mg/Nm³.

Sempre nesse período a empresa suíça Von

Roll, que virou uma líder no setor, construiu

as implantações de Lausana (1959), Berna

(1954) e de Bruxelas (1957), das quais alguns

dos fornos ainda estão em funcionamento.

Segunda geração: 1965-1975

As características das tecnologias dessa

geração são:

Um primeiro passo em matéria de

proteção ambiental mediante a instalação

de filtros de poeira (ciclones ou

eletrofiltros) que permitem a redução da

emissão de poeira na atmosfera,

diminuindo a concentração da fumaça em

cerca de 100 mg/Nm³;

Um maior interesse na recuperação do

calor. Nesse período, os primeiros

construtores de caldais devem afrontar os

numerosos problemas técnicos: a

abrasão, a corrosão, e as incrustações nas

superfícies de troca térmica. A

valorização dos resíduos sob forma de

vapor ou de água quente começou a ser

considerada uma ideia economicamente

realizável a partir de 1890 na Inglaterra e

nos Estados Unidos, mas em 1980 grande

parte das instalações de incineração em

funcionamento ainda não possuíam

caldeiras de recuperação.

A construção de uma unidade de maior

capacidade e o aparecimento de novos

construtores de fornos, entre eles a

empresa Deutsche Babcock com a sua

grelha de rotativa.

Terceira geração: 1975-1990

Procura-se melhorar o rendimento energético

e a redução do impacto ambiental das

implantações:

A população se aproxima das

problemáticas ambientais e exige a

instalação de implantações de tratamento

da fumaça que permitem a redução das

emissões de gás ácido. Nascem assim as

primeiras implantações de tratamento da

fumaça, capaz não apenas de captar a

poeira, mas também de neutralizar os

ácidos (HCI, SO2, HF) e de reduzir a

concentração de metais pesados na

fumaça. São realizados esforços com

finalidade de conter a carga poluidora

dos resíduos sólidos e das emissões

líquidas das implantações;

A notável potencialização dos fornos-

caldeiras permite otimizar o rendimento

energético e garante a combustão

completa dos materiais orgânicos.

Numerosos problemas operativos das

implantações são resolvidos. O seu

funcionamento é quase completamente

centralizado e automatizado;

As implantações de incineração tornam-

se centrais de tratamento dos resíduos

baseada na recuperação de energia com

cogeração.

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14

Quarta geração: de 1990 até nossos dias

Graças à pressão de movimentos ecológicos,

as implantações de incineração de resíduos

agora tendem à poluição “zero”. Os sistemas

de purificação da fumaça não se limitam mais

a apenas reduzir o teor de poeira e de ácidos,

mas também têm como objetivo abater outros

poluidores, entre os quais óxidos de

nitrogênio, dioxinas e furanos. Desde que

foram finalizadas sofisticadas tecnologias e

alocados grandes recursos financeiros, a

concentração de poluidores na fumaça das

chaminés atingiu, pelo menos em alguns

casos, valores no limite da detecção analítica.

Atualmente as instalações incluem também

complexos aparelhos para o tratamento dos

resíduos da incineração e da purificação da

fumaça. O objetivo no fundo é obter resíduos

inertes que podem ser reciclados ou eliminar

em aterros sem que representem uma ameaça

de longo prazo para o ambiente.

Com o aumento dos

vínculos ambientais,

as implantações

incineradoras viraram

centros de eliminação

de resíduos dotados

de sofisticados

equipamentos.

6

Descrição de uma usina incineradora

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15

3 A gestão dos resíduos nos países industrializados

3.1 Objetivos de uma moderna gestão

dos resíduos

Nos últimos anos a eliminação de resíduos

virou motivo de preocupação para todos os

agentes econômicos. Tal fenômeno é

provocado pelo crescimento quantitativo da

produção de lixo, devido ao aumento do

consumo, e pela poluição ambiental que

deriva disso.

Os países industrializados de alta densidade

demográfica desenvolveram consciência de

um sério conflito de interesses: de um lado

tem a necessidade de incrementar a produção

dos bens de consumo, de outro a de eliminar

os resíduos minimizando os efeitos negativos

para o meio ambiente.

A produção de lixo é uma inevitável

consequência da atividade humana industrial.

A única coisa que podemos e devemos fazer é

administrá-la de maneira aceitável,

procurando limitá-la o máximo possível e

desfazer-se de resíduos “inevitáveis” segundo

critérios de compatibilidade com o meio

ambiente.

Desde que o problema foi plenamente aceito,

a contenção dos danos ambientais virou um

dos objetivos prioritários dos países

industrializados.

É evidente que uma gestão moderna dos

resíduos mira essencialmente a redução da

poluição ambiental, mas para atingir tal

objetivo é oportuno procurar colocar em vigor

as seguintes estratégias:

Reduzir a formação de resíduos na fonte,

desfrutando ao máximo os processos

produtivos e os hábitos dos

consumidores,

Reduzir a quantidade e a toxidade da

poluição emitida durante a produção dos

bens de consumo,

Organizar e limitar o transporte de

resíduos,

Procurar meios de informação para o

público,

Reduzir o volume de lixo,

potencializando a valorização dos

resíduos (reciclagem dos materiais

reutilizáveis e uso da energia contida nos

dejetos),

Reduzir a poluição adotando modalidade

de tratamento dos resíduos compatíveis

com o meio ambiente,

Suprimir os aterros incontroláveis e

limitar as autorizações para a eliminação

dos resíduos nos aterros.

Sem dúvida não se

pode evitar a

produção de lixo,

mas uma maior

consciência coletiva

do problema

permitiria a redução

do seu volume.

A gestão dos resíduos nos países industrializados

7

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16

3.2 Gestão integrada dos resíduos

O princípio da gestão integrada dos resíduos,

atualmente conhecido em diversas áreas

geográficas, consiste em evitar a produção de

resíduos, valorizá-los, tratá-los e armazená-

los.

Obviamente o objetivo prioritário é aquele de

evitar produzir, principalmente se não é

necessário. Veja-se, por exemplo, as

embalagens dos tubos de pasta de dente,

aquela caixinha de papelão completamente

inútil: algumas cadeias de distribuição as

renunciaram com ótimos resultados, e ainda

economizaram dezenas de toneladas de

papelão para embalagem ao ano, sem registrar

quedas na venda do produto em questão.

O segundo objetivo consiste em valorizar os

resíduos mediante a triagem e a reciclagem.

Em alguns países, o vidro e o papel, por

exemplo, atingiram uma taxa de reciclagem

muito elevada. Decretos e portarias na matéria

de gestão e tratamento do lixo tendem cada

vez mais a impor coleta seletiva e reciclagem

das frações recicláveis dos resíduos sólidos

urbanos e outros resíduos semelhantes (papel,

vidro, metais, materiais orgânicos, etc.).

Todavia, não basta reduzir a produção do lixo

e aumentar a quantidade reciclada para

resolver o problema. Também as implantações

de incineração do lixo e seu armazenamento

são essenciais, para não falar inevitáveis. Em

virtude das normas em vigor em diversos

países, os sistemas de eliminação de resíduos

devem transformar o lixo citado acima em

materiais recicláveis ou então em resíduos

inertes que devem ser destinados a local de

armazenamento definitivo.

A fração não reciclável do lixo urbano e dos

resíduos semelhantes, e mesmo os descartes

de materiais não recicláveis provenientes de

demolições, construções, escavações e lodos

de depuração não exploráveis, devem ser

incinerados. Por sua volta, os resíduos da

incineração devem ser tratados antes de ser

confinados nos aterros seguros, sem riscos

para o meio ambiente. Finalmente, a

eliminação em aterros controlados, técnica

complementar e inevitável, é reservada para a

estocagem definitiva dos resíduos da

reciclagem e do tratamento.

1. Retenção na fonte de produção

de resíduos

2. Triagem e

reciclagem

3. Valorização e

tratamento

4. Alojamento em

aterro

Coleta seletiva

Produção e consumo

Resíduos urbanos Descartes de demolições Lodos de depuração Resíduos especiais Resíduos vários

Reciclagem

Incineração Outros sistemas de tratamento

Descarte

Coleta seletiva Triagem Desidratação

Secagem

Princípios

fundamentais da

gestão integrada dos

resíduos

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17

Por exemplo, a lei francesa sobre a eliminação

de resíduos prevê que a partir de 1º de julho

de 2002 as implantações de estocagem de

resíduos serão autorizadas a receber

exclusivamente resíduos. A lei supracitada

define “resíduo” como um descarte que não

pode mais ser tratado com as condições

técnicas e ambientais existentes, mediante a

extração da fração valorizável ou a redução da

sua carga poluente ou sua toxidade.

Considerações sobre a triagem dos resíduos

sólidos urbanos

A triagem de lixo, efetuada depois da coleta

de resíduos sólidos urbanos não tratados,

obtém resultados medíocres; materiais que

poderiam ser valorizados ou reciclados são

contaminados por materiais orgânicos.

Portanto, no futuro será necessário mirar para

a pré-seleção e para a coleta seletiva do lixo,

técnica que já se provou em numerosos países

como um instrumento essencial da política de

gestão global dos resíduos urbanos.

Existem três grandes opções para a coleta

seletiva e a triagem de resíduos: pré-seleção

(as famílias selecionam os resíduos, antes de

jogá-los fora, e os descartam em lixeiras

separadas), coleta porta a porta (como é feito,

por exemplo, na Suécia para o papel) e coleta

em centros apropriados (vidro, pilhas

descarregadas, metais, etc.). Obviamente,

nenhuma dessas soluções basta. Como

8

A triagem dos resíduos sólidos urbanos, feita

após a coleta, obtém resultados medíocres. Em

geral, os resíduos recicláveis são contaminados

por materiais orgânicos.

Andamento da taxa de reciclagem do vidro 1980-

1992 (Fonte: OCSE Indicatori ambientali)

Países Baixos

Suíça

Alemanha

Japão

Bélgica

Itália

França

Espanha

Reino Unido

Estados Unidos

Taxa de reciclagem do vidro (%) de 1980-1992 à direita e de 1998 – 2010 à esquerda

Alemanha

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18

demostram experimentos realizados em

diversos países, somente combinando as três

opções podem revelar-se eficazes na prática.

3.3 Produção de resíduos

Desde os anos Setenta a qualidade de vida em

países industrializados foi melhorando, até

resultar na dita sociedade de consumo ou

sociedade opulenta. Qualquer tipo de objeto

ou produto vira um resíduo porque é

considerado velho ou fora da moda, mesmo se

ainda está em perfeito estado ou custa pouco

consertá-lo. De alguns estudos descobriu-se

que quanto maior a cidade, maior é a

produção per capita de resíduos sólidos

urbanos. Porém mesmo outros fatores, como a

classe social, a região geográfica, a qualidade

de vida, etc. influenciam sobre a produção de

lixo urbano. O exemplo da Alemanha antes da

reunificação mostra que o volume de lixo

varia em função do nível de prosperidade: na

Alemanha Federal a produção média per

capita de resíduos chegava a cerca de 380 kg

por ano, enquanto na República Democrática

Alemã atingia 174 kg, ou seja, menos da

metade. Atualmente os países industrializados

produzem em média 450 kg de resíduos

urbanos per capita por ano.

Na França o Ministério do Meio Ambiente

estimou a quantidade de lixo para coleta e

eliminação em 540 milhões de toneladas por

ano, o que corresponde a uma produção per

capita de 10 t/ano.

Desta quantidade total, 30 milhões são

resíduos urbanos, 150 milhões resíduos

industriais e 400 milhões são resíduos gerados

ou reciclados no setor da agricultura e da

indústria agroalimentar. Entre os resíduos

domésticos, 700.000 toneladas provêm de

hospitais. Outros dois milhões de toneladas de

lixo industrial, considerados perigosos,

exigem técnicas de eliminação particulares.

Tais quantidades de resíduo não podem mais

ser simplesmente eliminadas em aterros. Em

primeiro lugar, os terrenos para destinar como

aterro são sempre mais raros, em segundo

lugar aterros constituem uma grave ameaça

para o meio ambiente a médio e longo prazo.

Basta pensar na poluição das águas

subterrâneas e na emissão de líquidos e gases,

que exigem processos de purificação que

duram várias décadas.

Tratamento de lixo

(kg) per Capita em

Determinados Países

(2007).

Fonte: Eurostat (EU)

e EPA(USA).

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19

9

Atualmente o problema dos resíduos não é

mais limitado apenas a um aumento de peso e

de volume. Entrou em jogo outro fator

essencial, que é a mudança da composição do

lixo. Isso reflete sobre nosso estilo de vida,

que mudou notavelmente nesses últimos anos.

Por exemplo, o amplo uso de embalagens de

materiais sintéticos ou compostos colocam

sérios problemas de eliminação, enquanto

esses materiais não podem ser reciclados e, se

queimados, liberam inúmeros gases tóxicos.

Gráfico comparando o

andamento dos resíduos

sólidos urbanos e da

população de Mônaco

de Baviera: a produção

de resíduos per capita

duplica se comparada

com 1970. Ela

corresponde, em média,

a 415 kg/ano. Desde

1960 o volume de

resíduos mais que

quintuplicou.

As latas de vidro

(vazias em estoque)

foram substituídas por

recipientes de todo

tipo, alguns facilmente

recicláveis.

No final de um evento

esportivo deixamos às

costas uma montanha

de lixo,

principalmente

embalagens.

10

Milhões

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20

3.4 Natureza e composição dos resíduos

Não é simples classificar o lixo por categorias,

enquanto a própria ideia de resíduo é

complexa. Além disso, cada país tem suas

próprias definições e normas referentes a isso.

A legislação geral define como resíduo

“qualquer substancia ou objeto da qual o

detentor se desfaça ou tenha a obrigação de

desfazer-se”.

Em geral o lixo é classificado em três

categorias: resíduos urbanos, resíduos tóxicos

e nocivos e resíduos industriais.

Nessa publicação adotamos a seguinte

classificação:

Resíduos comuns

Resíduos sólidos de origem doméstica, e

também resíduos hospitalares,

industriais, artesanais, assimilável aos

resíduos urbanos pela sua composição.

Resíduos coletados de serviços de

limpeza urbana (lixo jogado na rua,

lixeiras municipais, folhas secas, etc.)

Resíduos volumosos (mobiliário,

colchões, eletrodomésticos, etc.)

Descartes vegetais da cultivação de

jardins (folhas, ramos, etc.)

Resíduos provenientes de atividades

silvícolas e agrícolas (lenha, adubo

orgânico, estrume animal, etc.)

Resíduos inertes (resíduos cujas

características são quase estáveis no

tempo, como os materiais provenientes

de demolições no âmbito das

construções públicas)

Descartes de materiais provenientes de

demolições e materiais de enchimento

Resíduos de trabalhos industriais

sujeitados a um processo de inertização

adequado

Resíduos especiais (lixo com produtos

nocivos)

Lodos de depuração (apenas em alguns

casos)

Resíduos de atividades industriais e

artesanais (solventes, tintas, óleos

usados, baterias, produtos compostos,

farmacêuticos, etc.)

Resíduos vários (lixos tratados ou reciclados

mediante processos particulares)

Automóveis velhos

Pneus velhos

Carcaças de animais

Produtos de informática

Televisões, geladeiras, etc.

Outros resíduos coletados em lixeiras

diferenciadas (papel, vidro, alumínio,

têxtil, etc.)

Resíduos radioativos (lixos de baixa, média

ou elevada radioatividade).

As tabelas ao lado

mostram

indicativamente as

quantidades de

resíduos produzidos na

Suíça (fonte :

Departamento Federal

do Meio Ambiente,

dos Transportes, da

Energia e da

Comunicação DETE,

escritório federal do

meio ambiente,

divisão de Resíduos,

substâncias,

biotecnologia, Berna,

2011).

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21

Países de rendimento médio Países de rendimento baixo Países industrializados

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22

O problema das embalagens

As embalagens têm certa incidência sobre o

andamento da composição de resíduos sólidos

urbanos. Das estatísticas surgiu que nos

últimos trinta anos a quantidade de

embalagens jogadas na lixeira familiar

triplicou, enquanto globalmente, no mesmo

período, os resíduos sólidos urbanos

aumentaram em 60% seu peso.

Apenas na França a cada ano são jogados fora

80 bilhões de embalagens, garrafas vazias,

papelão, plástico... As embalagens, cuja

produção chega a mais de 6 milhões de

toneladas por ano, representam um terço do

lixo solido urbano produzido na França,

cobrem mais de 50% do seu volume e estão

dando muitas dificuldades aos entes

competentes. A introdução das normas que

responsabilizem os produtores de embalagens

e os obriguem a recuperá-las deverá contribuir

para melhorar a situação.

Quantidade anual per capita de embalagens

utilizadas:

Estados Unidos 250 kg

França 180 kg

Burundi 4 kg

(Fonte: ATOCHEM, congresso sobre embalagens 1990)

O problema dos lodos

Origem e qualidade dos lodos:

Uma directiva geral sobre o tratamento das

águas de esgoto indica expressamente que nos

próximos 10-15 anos os esgotos urbanos

deverão ser tratados em implantações de

tratamento e que nas áreas sensíveis se deverá

reduzir o nitrogênio e o fósforo contidos

neles. Em muitos países foram construídas

implantações de depuração, mas o tipo de

tratamento e o percentual da população que se

beneficia variam sensivelmente de um país

para o outro.

O tratamento das águas de esgoto produz

lodos com qualidade e quantidades variáveis

essencialmente em função do tipo de

tratamento utilizado e obviamente da

qualidade das águas a serem tratadas. Os

vários processos de tratamento podem

conduzir a diversos graus de purificação, o

que contribui para a determinação da

qualidade e da quantidade de lodo produzido.

Os processos de base comumente empregados

no tratamento das águas de esgoto são:

A simples sedimentação primaria

A depuração físico-química

O tratamento biológico

Esses tipos de tratamento produzem lodos

que, se não são tratados, fermentam

rapidamente. Nesse caso se dirá “lodo fresco”.

Para bloquear tal fenômeno é oportuno

“estabilizar” o lodo, que pode ser feito de três

modos: com a digestão aeróbica, a

estabilização por meio aeróbico e a

estabilização química. Os primeiros dois

métodos servem para eliminar uma parte das

matérias voláteis, enquanto o terceiro bloqueia

a fermentação aumentando o nível do pH.

Em países

industrializados as

embalagens constituem a

fração preponderante do

lixo urbano.

11

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23

Os lodos assim obtidos se apresentam em

forma liquida. É um subproduto do tratamento

do esgoto e é oportuno eliminá-lo com o

menor custo possível.

As possibilidades de eliminação do lodo são

múltiplas:

Aterros controlados

Uso agrícola direto ou compostagem

prévia

Incineração

Os aterros controlados são sempre mais raros

e, além disso, estão localizados em regiões

cada vez mais longes dos locais de produção.

Com demasiada frequência os lodos de

depuração são utilizados na agricultura como

fertilizantes. Os lodos apresentam um elevado

teor de nutrientes (fosforo e nitrogênio) que

podem causar uma forte poluição dos cursos

de água e dos lençóis freáticos (é a dita

eutrofização). Além disso, os lodos de

depuração contêm, geralmente, substâncias

contaminantes, que não são eliminadas nas

estações de tratamento e podem ter efeitos

negativos sobre os solos a longo prazo.

Tratam-se essencialmente de metais pesados

(zinco, cobre, chumbo, cádmio, mercúrio,

etc.), de organismos patogênicos e de

parasitas. Por isso o uso agrícola dos lodos de

depuração virou um problema ambiental que

não deve ser subestimado; vários países estão

começando a limitar, se não impedir

diretamente, seu emprego na agricultura.

A incineração é um método de eliminação de

lodos de depuração que se está afirmando

principalmente porque são sempre mais

numerosas as implantações de eliminação de

resíduos equipados para esse tipo de operação.

Qualquer que seja a destinação final dos lodos

é sempre oportuno reduzir seu volume, seja

para conter os custos de eliminação, seja, no

caso da incineração, para aumentar o poder

calorifico deles. Reduzir o volume dos lodos é

possível eliminando a quantidade percentual

de umidade.

Tal operação é efetuada por etapas e é sempre

necessário procurar obter o máximo de

rendimento possível de uma fase de

tratamento antes de passar para a sucessiva.

Fazendo assim é possível reduzir os custos de

investimento e de operação.

As primeiras fases tradicionalmente

empregadas são:

Engrossamento estático ou dinâmico de

lodos separados ou misturados,

Distribuição com meios mecânicos que

pode ser feita após o engrossamento, no

caso do tratamento de lodo fresco, ou

depois da estabilização biológica

aeróbica ou anaeróbica.

Para completar o processo, pode-se recorrer à

secagem por meio térmico, que produz lodos

nos quais a quantidade de material seco pode

chegar a superar 90%.

O emprego de lodos de

depuração na agricultura

é tão polêmico por causa

dos contaminantes que

podem conter. A

incineração desses lodos

requer tecnologias

particulares.

12

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24

4 Aspectos técnicos relativos à projetação de uma implantação de eliminação de resíduos

4.1 Funcionamento de uma implantação

de eliminação de resíduos

Depois de terem sido pesados, os veículos

descarregam o lixo na fossa de acúmulo da

implantação. Um guindaste munido de uma

garra assegura o carregamento contínuo do

forno. Os gases de combustão produzidos

durante a incineração dos resíduos na grelha

do forno circulam de uma extremidade a outra

de uma caldeira para a produção de vapor.

Em geral o vapor é utilizado para produzir

energia elétrica por meio de uma turbina. A

eletricidade gerada serve para cobrir as

necessidades da implantação, enquanto o

excedente é vendido para a rede de

distribuição pública. Se o local consente, e se

existe a infraestrutura apropriada, o vapor

pode ser empregado para fornecimento de

água quente destinada a aquecimento urbano

ou a processos industriais.

A fumaça resfriada na caldeira inicialmente é

sujeita a um processo de retirada de poeira e

sucessivamente é purificada em um complexo

sistema de tratamento. Finalmente, é liberada

na atmosfera por meio de um ventilador que a

aspira e a joga na chaminé.

Os vários resíduos da incineração do lixo e do

tratamento da fumaça são recolhidos

separadamente e são submetidos a tratamentos

adequados antes de serem reciclados ou

eliminados em aterros.

Aspectos técnicos relativos à projeção de uma implantação de eliminação de

resíduos

Torres de purificação

da fumaça proveniente

da incineração do lixo.

Para poder eliminar os

resíduos minimizando

efeitos negativos para

o meio ambiente, é

necessário recorrer a

tecnologias

sofisticadas.

Resíduos

Depósito e estocagem

de resíduos

Incineração

Recuperação

de calor

Produção de

eletricidade

Aquecimento urbano

Distribuição de

Água quente

Retirada de

poeira da fumaça

Depuração da fumaça Emis-

sões

Fumaça

depurada

Resíduos

finais

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25

4.2 Tratamento térmico dos resíduos

Incineração: componente imprescindível

para uma gestão de resíduos moderna e

respeitosa com o meio ambiente

A prática de incineração de resíduos apareceu

há mais de um século na Inglaterra como

resposta a uma situação insustentável que

caracterizava as grandes cidades. A

incineração devia garantir certo grau de

salubridade pública e prevenir epidemias.

Tal como todas as implantações técnicas, as

instalações de incineração foram

continuamente aperfeiçoadas com o passar do

tempo. Obviamente, é necessário reconhecer

que as exigências ambientais começaram a ser

levadas em conta por volta da metade dos

anos setenta, com o aparecimento das

primeiras seções de tratamento da fumaça. Na

verdade, por mais de um século engenheiros e

construtores direcionaram seus esforços para

melhorar o forno incinerador. As primeiras

instalações eram praticamente compostas de

um forno e uma chaminé e eram consideradas

pela população as verdadeiras monstras da

poluição.

Desde que a administração pública e a

população tomaram consciência do problema,

foram feitos notáveis progressos nesse campo,

de modo que hoje a incineração de resíduos é

parte integrante, bem como elemento chave,

de uma gestão de resíduos compatível com o

meio ambiente.

As implantações de ultima geração satisfazem

os requisitos mais severos em matéria de

preservação ambiental. As emissões de

substâncias poluidoras no estado sólido,

líquido, ou gasoso (ou seja, monóxido de

carbono, ácido clorídrico, dióxido de enxofre,

óxidos nítricos e hidrocarbonetos), são

reduzidos a quantidades mínimas,

definitivamente inferiores aos valores limites

considerados perigosos para o indivíduo e o

meio ambiente.

Até 1950 as instalações de incineração

eram praticamente compostas de um

forno e de uma chaminé. As modernas

implantações de eliminação atualmente

devem cumprir outras funções, além

daquela de reduzir o volume e o peso

dos resíduos mediante a incineração.

Implantação de incineração de 1950. Implantação de incineração de 1990.

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26

Para poder adequar-se aos novos vínculos

ambientais, as modernas instalações de

incineração de resíduos devem cumprir outras

funções, que ilustraremos em seguida.

Redução de resíduos em volume e em peso

A incineração foi concebida para reduzir a

quantidade de lixo.

Seu resultado é em primeiro lugar uma

drástica redução de volume: da incineração de

1 m³ de resíduos sólidos urbanos se obtém 0,1

m³ de resíduos sólidos. Já em peso, se passa

de 1.000 kg de resíduos para cerca de 300 kg

de resíduos sólidos. A redução do volume

através da incineração consente, entre outros,

a diminuição da necessidade pública de

terrenos para aterros.

Desinfecção

Todas as matérias orgânicas, bem como os

agentes patogênicos, são destruídas durante a

combustão a uma temperatura por volta de

900º C. Desse modo se evita todas as formas

de contaminação microbiológica, enquanto

bactérias e vírus são destruídos a 200º C.

Recuperação energética

Apesar da contribuição da incineração de

resíduos sólidos urbanos no balanço

energético dos países industrializados

corresponder a apenas 1% aproximadamente,

hoje é impensável incinerar resíduos sem

recuperar no processo a energia contida neles.

A recuperação energética pode assumir

diversas formas:

Produção de energia elétrica,

Fornecimento de água quente para o

aquecimento a distância de centros

habitados, hospitais, piscinas públicas,

etc.,

Emprego do vapor em processos

industriais,

Emprego combinado das opções acima.

Esse fator é determinante na escolha do local

de instalação de uma nova implantação de

incineração. Em geral, quando a avaliação do

impacto ambiental não consente de construir

uma instalação nas proximidades de um

usuário de água aquecida, a energia térmica é

utilizada exclusivamente para produzir

eletricidade.

A relação volumétrica é fortemente dependente

da condição inicial dos resíduos e da destinação

final (aterro).

Um fator muito importante para uma

urbanização sustentável é a relação entre a

massa de resíduos produzida e o volume de

aterro a ser reservado para garantir o serviço de

eliminação de resíduos.

Se considerarmos um incinerador como um

sistema de pré-tratamento do lixo a ser

depositado em aterro obtêm-se que:

1 t de resíduos sólidos urbanos em um

incinerador produz de 0,2 a 0,3 m³ de resíduos

da combustão que devem ser depositados em

aterros.

1t de resíduos sólidos urbanos descartados

diretamente ocupam um volume de aterro

sanitário de 0,8 a 1,2 m³.

Mauro Gandolla 3.12.2007

Redução de resíduos em peso e em

volume mediante a incineração.

Resíduos Escória, poeiras em

suspensão, sais

Resíduos Escória, poeiras em

suspensão, sais

1.000 kg de lixo são reduzidos a 300 kg de resíduos sólidos

1 m³ de lixo é reduzido a 0,1 m³ de resíduo sólido

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27

Para informação, o poder calorífico de uma

tonelada de resíduos sólidos urbanos equivale

a 200 kg de combustível, 250 kg de carvão, 30

toneladas de água quente ou 500 kWh de

energia elétrica. A energia recuperada no

curso da incineração pode cobrir de 4 a 6 % a

necessidade energética da população que

produz os resíduos.

Separação do fluxo de material

Se pensarmos nas recentes mudanças na

quantidade e na qualidade dos resíduos e no

reforço dos vínculos ambientais, não podemos

mais nos permitir de considerar a incineração

como um simples método de eliminação dos

resíduos mediante calor, tendo como escopo

secundário, sem dúvida positivo, a

recuperação da energia.

Para poder integrar a incineração da moderna

gestão dos resíduos, foi necessário focar, antes

de tudo, na transformação e na separação dos

materiais.

Com a incineração, compostos químicos

complexos como os polímeros ou tintas se

decompõem, ainda que parcialmente, em

elementos simples. Otimizando o processo de

combustão e escolhendo acuradamente os

tratamentos de depuração da fumaça, pode-se

reduzir ao mínimo a emissão de substâncias

poluidoras na chaminé: uma vez separados, os

fluxos de resíduos poderão ser sujeitados a

tratamentos adequados.

Além do gás tratado, o balanço de massa

compreende:

Os resíduos da incineração. A massa de

escória corresponde em média a 25% da

massa dos resíduos incinerados, e o seu

volume a cerca de 10% do volume dos

resíduos.

As poeiras, ditas cinzas volantes,

captadas na caldeira de remoção de

poeiras.

Os resíduos do tratamento da fumaça

(lodos desidratados, águas do processo,

resíduos da evaporação das águas do

processo).

Inertização dos resíduos para

armazenamento

A separação do fluxo de resíduos permite em

primeiro lugar de reciclar alguns materiais,

como as sucatas de ferro, as escórias e,

dependendo do processo adotado para o

tratamento da fumaça, o gesso, o HCl, ou sal

industrial.

Para poder eliminar em aterro, os resíduos

devem passar por uma série de tratamentos

preliminares:

As escórias podem ser utilizadas, antes do

tratamento adequado, como materiais de

enchimento na construção de estradas.

Incineração Recuperação

de calor

Removedor

de poeiras

Torres de

purificação

Resíduos

1.000 kg

Escórias

cerca 250 – 350 kg

Cinzas

cerca 5 – 15 kg

Poeiras

20 – 40 kg

Água +

5-15 kg de resíduos

Separação dos fluxos de

materiais em uma instalação de

eliminação de resíduos mediante

o sistema de depuração da

fumaça por via úmida.

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28

As cinzas volantes contêm cloretos, sulfatos e

metais pesados em concentrações

excessivamente elevadas. Hoje a técnica

oferece diversos métodos para tornar inertes

as cinzas volantes, tais como:

Tratamento da fumaça e/ou a

solidificação a base de cimento

Lixiviação

Vitrificação em forno elétrico

Inertização com betume

Os resíduos da purificação da fumaça (a

úmido) representam uma fração muito baixa

dos resíduos da incineração. Eles contêm

como poluidores metais pesados e são

classificados como resíduos tóxicos, portanto

devem ser eliminados em aterros controlados.

4.3 Etapas fundamentais na concepção

de uma implantação de eliminação de

resíduos

A concepção de uma implantação de eliminação

de resíduos urbanos baseia-se em numerosos

critérios, alguns dos quais geram diversas

dificuldades: o perímetro da zona de coleta

necessária para a implantação, a inserção no

local, o tipo de resíduos que entram, o

dimensionamento das instalações, a escolha dos

processos de incineração, de purificação da

fumaça e de tratamento dos resíduos, a

confiabilidade, a solidez, a otimização da

recuperação energética, a flexibilidade e a

adaptabilidade às normas e às tecnologias em

constante evolução, a facilidade de conduzir e

de manter, a concordância com as estimativas de

custo e de manutenção, etc.

0,34 t

0,05 t

0,03 t

Atmosfera

Fumaça 8,6 t

Incineração e

tratamentos

Ar 8 t

Escória

Cinzas volantes

Resíduos do

tratamento da fumaça

Resíduos 1t

Balanço de massa de uma

implantação de eliminação

de resíduos.

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29

Vínculos e deveres administrativos

A construção e a condução das instalações de

incineração de resíduos urbanos são sujeitas a

procedimentos de autorização próprios de

cada país ou de cada região geográfica. Tais

procedimentos possuem restrições jurídicas e

técnicas legais durante as várias fases de

concepção, construção, funcionamento, e

cessação da atividade.

Uma vez apresentado o pedido de autorização,

a administração pública procede com uma

investigação e pede o parecer de vários

órgãos. Usualmente os procedimentos são

muito complexos e variam sensivelmente de

um país ao outro. A descrição de tais

processos não é relevante para essa

publicação, portanto não será desenvolvida

nesse capitulo.

A legislação, em matéria de proteção

ambiental, estabelece que a construção de

uma implantação de eliminação de resíduos

deve ser precedida de um estudo de impacto

ambiental. A documentação a ser entregue

para obtenção da autorização deverá incluir

obrigatoriamente uma avaliação do impacto

ambiental com as seguintes finalidades:

Informar a autoridade administrativa

competente para aprovação do projeto;

Ilustrar os dados e os problemas

ambientais identificados durante a

elaboração do projeto, os quais deverão

ser levados em conta;

Prever, se for o caso, medidas destinadas

para eliminação, redução, ou

compensação dos efeitos nocivos para o

meio ambiente.

Escolha dos processos

Atualmente existe uma vasta gama de

processos bem estabelecidos, seja no campo

da incineração (fornos com grelhas, fornos de

múltiplos andares, fornos oscilantes, fornos de

leito fluidizado, etc.), seja no campo da

purificação dos fluidos (a seco, por via semi

seca, por via úmida, desnitrificação, etc.),

como também no campo do tratamento dos

resíduos (vitrificação, solidificação a base de

cimento, lavagem com ácido, etc.)

Os critérios-guia na escolha dos processos são

os seguintes:

A combustão deve ser conduzida da

melhor forma, para evitar uma extensão

da poluição e da nocividade (na Suíça,

por exemplo, as escórias não devem

conter mais de 3% de substâncias não

queimadas).

A fumaça deve ser tratada em função dos

valores limite para as emissões gasosas

permitidas pelas normas.

A recuperação da energia gerada na

combustão dos resíduos deve atingir

níveis suficientemente elevados para

cobrir a necessidade energética das

instalações.

Os resíduos dos diversos sistemas devem

ser recolhidos separadamente e depois

reciclados ou eliminados em aterro.

Tais critérios não parecem oferecer

dificuldades particulares. Entretanto, a

variedade de processos disponíveis, as

restrições econômicas locais, as obrigações

para com os gestores da implantação – que

esperam vínculos de uso e manutenção

razoáveis – as pressões favorecendo os novos

“processos prodígio”, a obrigação moral de

investir a longo prazo, mas com custos

sustentáveis, dão trabalho para quem deve

tomar a decisão final.

Atualmente estão em funcionamento dezenas

de implantações de eliminação de resíduos,

mas não existe um modelo único em matéria

de concepção. Somente colocando-se sob uma

ótica pragmática e fazendo uso da experiência

se poderá encontrar uma solução capaz de

oferecer um compromisso adequado entre os

vários modelos. Nesse propósito, e de modo a

introduzir o paragrafo seguinte, citaremos a

resolução adotada 7 maio de 1990 pelo

Conselho das União Europeia sobre a politica

Balanço de massa de uma

implantação de eliminação

de resíduos.

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30

sobre resíduos. Ela salienta que na escolha do

processo é absolutamente necessário

“contribuir para incrementar o mínimo

possível [...] o perigo e os riscos de poluição,

[...] recorrendo às tecnologias e aos métodos

mais apropriados para garantir um alto nível

de proteção ambiental e de saúde pública” e

“que não comportem custos excessivos”.

Escolha do investimento

Em alguns países o aspecto financeiro tem

uma importância relativa. Aquilo que conta é

que cada nova implantação consiga atingir o

objetivo “poluição zero” e, em geral, o

investimento necessário para a construção de

uma implantação de eliminação de resíduos de

média capacidade (150.000 t/ano) pode

facilmente exceder 500 milhões de ECU. Em

outros países, entretanto, na escolha dos

processos e das tecnologias ainda é

determinante o critério do emprego de

tecnologia que “não envolvam custos

excessivos”. Nesse caso o investimento não

superará os 100 milhões de ECU. Mais

informações sobre o assunto serão fornecidas

no capítulo 6.

Escolha da localização

Atualmente existem duas tendências bem

distintas na escolha da localização de uma

implantação de eliminação de resíduos. Na

primeira, a implantação deve ser localizada

longe dos centros urbanos e dos centros

habitados, preferivelmente sobre velhos

aterros ou, se possível, em zonas industriais e

pantanosas. Já a segunda tendência procura

ater-se o máximo possível à avaliação de

impacto ambiental. Nesse caso, com objetivo

de limitar a poluição causada pelo trânsito de

veículos de coleta de resíduos e outros meios

de transporte privados, se decidirá muito

provavelmente de construir a implantação de

eliminação de resíduos em proximidade com

os centros urbanos. Os fatores ambientais e

arquitetônicos serão de importância

fundamental, não somente para a inserção

ambiental das instalações, mas também

porque é necessário respeitar as restrições de

emissão, de barulho e de eliminação de

odores. Apesar de geralmente comportar

investimentos mais substanciais, essa

tendência oferece notáveis vantagens que

influem cada vez mais na escolha da

localização (diminuição dos custos de

transporte e da nocividade, maior inserção

ambiental, proximidade dos usuários de calor,

etc.)

Dimensionamento de uma implantação de

eliminação de resíduos

A capacidade de uma implantação de

eliminação de resíduos é avaliada com base na

sua potência térmica, ou seja, com base no

quantitativo de energia produzida durante a

incineração que a implantação consegue

absorver e transformar em vapor ou em água

quente por meio da caldeira.

Incidência do poder colorífico dos resíduos

sobre a capacidade de incineração

O poder calorifico médio dos resíduos é um

elemento-chave no dimensionamento de uma

implantação de eliminação. Na época do

boom de tais implantações, o poder calorífico

dos resíduos estava entre 6.000 e 10.500 MJ/t.

Na Suíça se calcula que o poder calorífico

(PCI), atual é de 11.500 MJ/t, e em 2000

chegará a 12.600 MJ/t.

O forte aumento dos materiais plásticos na

composição de bens de consumo (em

particular as embalagens) determinou um

sensível aumento do poder calorífico médio

dos resíduos nos últimos quinze anos. A pré-

seleção dos resíduos, a reciclagem mediante

compostagem dos materiais orgânicos, a

coleta diferenciada do vidro e dos metais

concorrem para aumentar o PCI médio dos

resíduos a serem incinerados; lembra-se que o

poder calorifico dos materiais sintéticos é

muito elevado, o dos resíduos orgânicos é

muito baixo e o do vidro é praticamente nulo.

A balança do valor energético (PCI) coincide

com aquela da produção de resíduos sólidos

Page 33: Incineração de resíduos urbanos · 2015-10-13 · de caráter introdutivo, é centrada na história da eliminação de resíduos através dos séculos e na evolução da produção

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urbanos, em outras palavras o valor energético

dos resíduos é mais elevado quanto maior é a

cidade. Nota-se também que o PCI é mais

elevado em cidades setentrionais que nas

meridionais. O motivo principal é que no

Norte se registra uma forte tendência de

consumo de alimentos e produtos

confeccionados, enquanto no Sul as pessoas

consomem prevalentemente produtos frescos

adquiridos no mercado ou cultivados nas

próprias hortas.

Coeficiente de carga

Apesar do dimensionamento de uma nova

implantação de eliminação de resíduos ter que

se submeter a numerosos parâmetros, entre os

quais aqueles descritos há pouco, é óbvio que

o superdimensionamento da capacidade de

tratamento pode conduzir a um resultado de

gestão pouco satisfatório: o custo anual da

dívida (juros e amortização do investimento) é

dividido em um volume muito baixo de

resíduos tratados. Dado que os custos de uma

implantação de eliminação de resíduos são

muito elevados, criar reservas de capacidade

muito grandes arrisca comprometer a

qualidade da operação.

Uma implantação não pode operar 24

horas/dia todo o ano, por causa de

desligamentos, programados ou causados por

falhas, necessários para efetuar inspeções e

reparos. Geralmente na fase de concepção se

assume um fator de disponibilidade de 85%.

Tal valor é puramente teórico e pressupõe que

uma linha de tratamento não possa

permanecer em funcionamento por mais de

7.500 horas por ano (8.760 h x 0,85).

Em via de regra, para evitar os problemas

ligados à corrosão e ao envelhecimento

precoce dos equipamentos, as implantações de

eliminação de resíduos ficam ativas 7

dias/semana. As instalações são usualmente

constituídas de diversas linhas de tratamento,

assim o funcionamento, apesar de reduzido, é

garantido durante todo o ano. A vida útil de

uma implantação de eliminação de resíduos é

de aproximadamente 20 anos.

No caso de falhas sérias e prolongadas

geralmente existem acordos que preveem

transportes transfronteiriços e que permitem

um emprego otimizado das reservas de

capacidade, com consequente aumento de

rendimento do capital investido na construção

das implantações de incineração de resíduos.

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32

Diagrama de combustão

O diagrama de combustão representa o campo

de funcionamento do forno. Sobre o eixo da

ordenadas (y) estão os valores da potência

térmica bruta do forno em MW, enquanto no

eixo das abscissas (x) é indicada a capacidade

térmica da massa expressa em t/h dos resíduos

incinerados.

O conjunto de retas representa os valores do

PCI dos resíduos a serem tratados. O ponto A

corresponde ao ponto de funcionamento

nominal das implantações. Os testes de

desempenho geralmente são efetuados nesse

ponto (qualidade da combustão, rendimento

térmico, depuração da fumaça, consumo, etc.).

É possível efetuar outros testes em um regime

de funcionamento mínimo para verificar a

qualidade da combustão com resíduos de

baixo PCI e em baixa velocidade. Todavia é

óbvio que o funcionamento das implantações

deve ser conforme as especificações técnicas,

dentro de cada diagrama de combustão. O

andamento do diagrama pode variar em

função da faixa do PCI dos resíduos, do tipo

de forno e do construtor.

4.4 Principais processos disponíveis para

incineração de resíduos

A incineração é um processo que consiste em

queimar os resíduos em fornos especiais,

conforme as características dos resíduos:

composição, granulometria, poder calorífico e

teor de água. A combustão deve ser conduzida

de maneira otimizada a fim de prevenir a

deterioração dos equipamentos e assegurar a

combustão completa dos materiais orgânicos.

Não existe uma solução única para incinerar

as montanhas de resíduos que produzimos

quotidianamente. Com efeito, temos à

disposição uma vasta gama de processo que

permitem o tratamento térmico de resíduos em

condições compatíveis com as exigências

ambientais.

O esquema abaixo oferece um relance dos

principais tipos de forno utilizados em função

da natureza dos resíduos a serem incinerados.

Obviamente existem diversos outros sistemas

à disposição, com fornos oscilantes, fornos de

múltiplos andares, pirólise, fornos a plasma,

etc. A descrição detalhada de tais tecnologias

não entra no escopo desta publicação, por isso

nos limitaremos a ilustrar os métodos mais

utilizados.

De qualquer modo, no final do capítulo o

leitor encontrará uma breve descrição da

pirólise, processo que oferece perspectivas

interessantes.

Potência térmica bruta (MW)

Capacidade térmica dos resíduos (t/h)

Diagrama de

combustão de um

forno de incineração

a grelha.

Resíduos urbanos e semelhantes

Forno a grelha

Forno de leito fluidizado

Resíduos industriais e resíduos

especiais (sólidos, líquidos,

pastosos), solos contaminados.

Forno rotativo

Lodos desidratados, óleos e

resíduos de processos

produtivos (materiais sintéticos,

madeira, etc.).

Forno de leito fluidizado

Forno rotativo

Principais sistemas

de combustão em

função do tipo de

resíduo.

Page 35: Incineração de resíduos urbanos · 2015-10-13 · de caráter introdutivo, é centrada na história da eliminação de resíduos através dos séculos e na evolução da produção

33

4.4.1 Forno a grelha de combustão

A incineração dos resíduos com forno a grelha

é o processo mais difuso e aquele que até hoje

deu melhores resultados. Ele se impôs, de

diversos anos, como método de tratamento

térmico de resíduos urbanos e de resíduos

similares, no estado sólido. Não serve,

entretanto, para o tratamento de resíduos

líquidos ou pastosos, já que uma fração

excessiva escorreria entre as frestas da grelha

sem ser incinerada.

Os sistemas a grelha se subdividem em dois

grupos, dependendo do principio utilizado:

Grelhas de alimentação contínua (por

exemplo, a grelha rotativa)

Grelhas de alimentação descontínua

(grelha de elementos móveis, grelha de

refluxo)

Grelha rotativa

O leito de resíduos em combustão encontra-se

sobre diversos tambores postos um atrás do

outro constituindo a grelha. O avanço e

atiçamento dos resíduos são obtidos seja por

gravidade que pelo movimento de rotação dos

tambores.

Grelha de elementos móveis

O movimento alternado das barras da grelha

assegura o avanço e o atiçamento dos

resíduos. Com a grelha de elementos móveis,

a inclinação do plano da grelha no sentido do

avanço dos resíduos não é mais necessária.

Grelha de refluxo

O avanço do combustível se obtém por

gravidade no plano inclinado da grelha. O

movimento das barras, em contracorrente com

os resíduos, determina o atiçamento.

Principais

categorias de

grelhas de

combustão.

Ar primário Escória

Grelha rotativa

Grelha de elementos móveis

Grelha de refluxo

Resíduos Gás de combustão

Ar primário Escória

Resíduos Gás de combustão

Ar primário Escória

Resíduos Gás de combustão

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34

Incineração com forno a

grelha. Seção

longitudinal de um forno-

caldeira.

1 Tremonha de carga

2 Alimentador

3 Câmara de combustão

4 Grelha de combustão

5 Caldeira de

recuperação

6 Extrator de escória

7 Evacuação das cinzas

debaixo da grelha

8 Evacuação das cinzas

volantes

9 Circuito de ar

primário de

combustão

10 Circuito de ar

secundário de

combustão

Ilustração de uma

grelha de combustão de

refluxo.

Resíduos

Fumaça

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35

Observação:

Desde que em 1876 apareceu a primeira

implantação de incineração de resíduos na

Inglaterra numerosas sociedades

desenvolveram e construíram diversos

modelos de grelhas, alguns dos quais não são

mais utilizados. Entre as grelhas atualmente

mais difusas na Europa, citamos a grelha a

rotativa (Babcock), a grelha de refluxo

(Martin) e a grelha de elementos móveis (Von

Roll). Outras sociedades construíram diversas

variantes dessas grelhas.

As diversas fases da incineração sobre a

grelha

A emissão de ar orientada sobre a grelha (ar

primário) permite o desenvolvimento em

sucessão das três fases da combustão:

secagem, desgaseificação, gasificação. Os

gases queimam completamente graças à

entrada de ar secundário na fornalha, colocada

a montante da grelha.

Os resíduos são empurrados de um

alimentador na zona primária da grelha, dita

zona de secagem, onde são dispersos e

secados pela passagem de ar comburente e

irradiação intensa das flamas e das paredes do

forno revestidas em materiais refratários.

Na segunda e terceira zonas da grelha

acontece a combustão propriamente dita,

mediante a insuflação de ar comburente

através da mesma. A última zona é destinada

ao final da combustão; o excesso de ar

assegura a combustão completa. Com a

incineração concluída, escórias e cinzas

residuais caem através de uma cavidade em

um canal de descarga.

4.4.2 Forno de leito fluidizado

A incineração a leito fluidizado constitui uma

alternativa à incineração tradicional. A

combustão dos materiais acontece em um

forno vertical no qual é colocado no fundo um

estrato de areia. A areia é levada ao estado

fluido pelo ar comburente injetado no fundo

do forno através de inúmeros bicos.

Em comparação com a incineração tradicional

sobre a grelha, essa tecnologia possui as

seguintes propriedades:

Graças à elevada inércia térmica do estrato de

areia em suspensão (800º C), é possível

incinerar resíduos com PCI muito variáveis e

muito baixos, sem modificar sensivelmente os

parâmetros operacionais. As propriedades do

estrato de areia, similares a aquelas de um

fluido, asseguram um bom rendimento da

troca térmica e uma transferência de materiais

satisfatória, que resulta em uma combustão

mais enérgica dos materiais e em um melhor

rendimento térmico da implantação.

Visto que as temperaturas são mais baixas,

forma-se em proporção menos óxido de

nitrogênio (NOx), o que permite a redução dos

custos de tratamento dos gases da combustão

injetando diretamente dolomita ou carbonato

de cálcio no leito fluidizado; tem-se como

consequência uma neutralização parcial das

substâncias poluidoras, que são o SOx e o

HCl.

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36

13

Dependendo do grau de fluidificação do

estrato de areia, se falará de:

Incineração de leito fluidizado

estacionário (denso)

Incineração de leito fluidizado circulante

Leito fluido veloz ou leito fluido

expansivo

Existem ainda soluções intermediárias, como

o “leito fluidizado turbo”, que combina as

vantagens dos leitos fluidizados lentos e

rápidos.

Comparando com a incineração com forno

tradicional de grelha de combustão, a

incineração com forno de leito fluidizado

apresenta dois grandes inconvenientes:

Por causa das dificuldades técnicas

ligadas à remoção do leito fluidizado de

resíduos de cortes (blocos de pedra,

pedaços de metal, etc.), os resíduos

devem ser cuidadosamente selecionados

e cortados antes de serem introduzidos no

forno.

Para que não haja nenhum risco de fusão

do leito de areia, é necessário manter a

temperatura da câmara de combustão por

volta de 800º C. Por esse motivo, os

fornos de leito fluidizado não encontram

utilização na incineração de resíduos

industriais em países nos quais a

temperatura de combustão desses

resíduos deve pelo menos chegar a

1200ºC.

A incineração a leito fluidizado é utilizada

principalmente na combustão de resíduos de

baixo PCI, ou que possam ser facilmente

cortados, como:

Resíduos derivados de processos

produtivos, como resíduos de materiais

plásticos, aglomerados de madeira, etc.

Lodos industriais ou provenientes de

implantações de tratamento

Fundo com bicos de

injeção de ar

comburente (e de

fluidificação) de um

forno de leito

fluidizado.

Forno de leito

fluidizado estacionário

1. Bicos de

fluidificação

2. Leito de areia

fluidizada

3. Câmara de

combustão

4. Parede refratária

5. Alimentação do

forno

6. Bicos de injeção

7. Queimador de

ascensão

Fumaça da caldeira

Resíduos sólidos

e pastosos

Ar de

combustão e

de

fluidificação

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37

Combustíveis obtidos de resíduos de

processos industriais, materiais

provenientes da crivação, pneus

Óleos usados, solventes

4.4.3 Forno rotativo

Os fornos rotativos são empregados

essencialmente na incineração de resíduos

industriais e especiais, no estado líquido,

pastoso ou sólido, bem como no tratamento

térmico de solos contaminados. Entretanto

não são utilizados na incineração dos resíduos

urbanos. Porém, como todos produzem

resíduos especiais (baterias, óleos usados,

remédios vencidos, tintas, etc.), achamos

interessante descrever sumariamente o método

de eliminação desses resíduos perigosos.

Um forno rotativo contém os seguintes

elementos:

Dispositivos de alimentação dos resíduos

Para resíduos no estado sólido, pastoso ou

líquido, bem como em barris.

Paredes frontais

A emissão de ar primário com sistema anelar

de uma parte alimenta o processo, e de outra

assegura o isolamento do forno, fechando a

câmara de combustão para o exterior. A

parede frontal é composta por um duto

deslocável de um circuito de resfriamento a

água.

Forno rotativo em

uma implantação

de incineração de

resíduos industriais

e especiais.

14

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38

Forno rotativo

O forno rotativo é constituído de um cilindro

de aço ligeiramente inclinado (de

aproximadamente três graus) revestido

internamente de tijolos refratários e provido

de um sistema de alimentação externo. O

avançamento dos materiais da incineração de

uma extremidade a outra do forno é obtido

combinando a leve pendência e o movimento

de rotação.

Câmara de pós-combustão

É o elemento revestido em tijolos refratários.

Especialmente concebido para garantir a

combustão completa dos gases, é mais estreita

no ponto ao qual é introduzido o ar

secundário. A emissão de ar deve acontecer a

uma elevada velocidade para favorecer uma

energética mistura dos gases.

A secagem, a desgaseificação, a gaseificação

e a combustão se desenvolvem

substancialmente no forno rotativo. Os gases

queimam na câmara de pós-combustão dotada

de queimadores auxiliares, que mantêm a

temperatura certa constante.

A incineração com forno rotativo se distingue

por:

Grande adaptabilidade aos tipos de

resíduos

Elevada temperatura de combustão

Extração de escórias secas ou fundentes

Tempo de permanência prolongado (4s)

dos gases de combustão a elevadas

temperaturas (1200ºC)

Forno rotativo com

sistemas de

alimentação de

resíduos e câmara de

pós-combustão

1. Alimentação por

guindaste

2. Alimentação dos

tambores

3. Circuito de ar

primário

4. Queimador auxiliar

5. Injeção de resíduos

pastosos

7. Circuito de ar

secundário

8. Câmara de

combustão

9. Avançamento do

forno

10. Câmara de pós-

combustão

11. Injeção de água de

processo

12. Extração das

escórias

Para a caldeira

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39

4.4.4 Forno pirolítico

A incineração dos resíduos urbanos em fornos

tradicionais a grelha, apesar de baseada em

uma tecnologia amplamente experimentada,

ainda não atingiu um desempenho ótimo. As

novas restrições impostas às implantações de

incineração de resíduos induziram os

construtores a explorar novos campos de

pesquisa. Não obstante os altíssimos níveis de

preservação ambiental, as modernas

implantações de eliminação de resíduos são

sempre centro de polêmicas por causa dos

resíduos tóxicos que produzem em quantidade

desmesurada e dos custos muito elevados.

O emprego da tecnologia da pirólise para o

tratamento dos resíduos é objeto de numerosas

pesquisas há mais de trinta anos. A pirólise

consiste em manter um produto (resíduos,

carvão, ...) em ambiente com baixo teor de

oxigênio, à uma temperatura entorno de

500ºC, e em transformá-lo em gás,

hidrocarbonetos e sólidos carbonizados. O gás

assim produzido não é queimado (graças à

ausência de chamas) e contem ainda certo

poder calorífico. A ideia inicial era recuperar

o máximo possível os materiais úteis e utilizar

a energia liberada dos gases da pirólise.

Numerosos processos baseados nesse

princípio foram desenvolvidos e testados em

implantações piloto. Não obstante, a pirólise

ainda não conseguiu se impor. Atualmente

estão em funcionamento apenas implantações

especiais construídas para determinados tipos

de resíduos (materiais plásticos, pneus,

componentes eletrônicos).

A pirólise não serve muito bem no tratamento

de resíduos heterogêneos como os urbanos.

Portanto, para assegurar condições operativas

mínimas, é necessário efetuar operações de

pré-tratamento como a triagem, a trituração,

ou a compactação.

Todavia, apesar das experiências negativas

feitas no passado e das incertezas que o

acompanham, o processo de pirólise não foi

abandonado. As vantagens que oferece são tão

interessantes que numerosas indústrias

decidiram aceitar o desafio. Para não

permanecer fora da competição, alguns

construtores de implantações de incineração

de resíduos tradicionais desenvolveram um

método que associa pirólise e combustão para

o tratamento da mistura de resíduos

heterogêneos. A vantagem dessas

implantações é que combinam tecnologias

convencionais conhecidas para a gaseificação

dos resíduos. Os gases da pirólise queimam

em uma câmara de pós-combustão. As

escórias são transformadas em massas vítreas

graças à elevada temperatura (>1200º C) e

acabam constituindo um produto inerte que

pode ser reciclado sem ser submetido a

nenhum tratamento suplementar.

Implantação de pirólise Thermoselect para

o tratamento dos resíduos urbanos

A principal inovação desse processo reside no

emprego de uma prensa de demolição que

comprime os resíduos não triados até que

atinjam um décimo do seu volume original,

antes de serem introduzidos no canal de

desgaseificação. Tal operação permite em

particular a subtração de grande parte do

oxigênio dos resíduos (lembra-se que a

gaseificação dos resíduos deve ser efetuada em

ausência de oxigênio).

A massa de resíduos, muito densa, é empurrada

de contínuo no canal de desgaseificação

aquecido, onde é secada a 600º C e onde a

matéria orgânica é carbonizada.

Sucessivamente, os resíduos desgaseificados

caem ao longo do canal em um reator de alta

temperatura, no interno do qual as cadeias

orgânicas se rompem a 2000ºC, quando se

decompõem em elementos simples. Os resíduos

da reação se acumulam no fundo do reator em

forma de produtos vítreos e de sucata. Para

poderem ser reciclados como materiais de

enchimento, por exemplo, tais resíduos devem

ser submetidos preventivamente a um

tratamento de desferrização.

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40

A emissão de oxigênio no reator dá origem a

um gás de síntese, composto de monóxido de

carbono, hidrogênio, vapor de água e de

dióxido de carbono. O gás sofre um brusco

resfriamento para 90º C graças a uma injeção

de água na saída do reator, o que impede a

formação de substâncias perigosas como as

dioxinas e os furanos. Na fase de tratamento

sucessiva, na qual é previsto o emprego

depuradores, as ligações de enxofre e outros

poluidores são captadas ou neutralizadas. A

energia contida no gás de síntese é usada para

produção de eletricidade e aquecimento do

canal de desgaseificação.

Em comparação com a incineração em um

forno tradicional, tal processo oferece as

seguintes vantagens:

Baixo volume de fumaça, com

concentrações de poluidores notadamente

inferiores

Redução ao mínimo da produção de

resíduos tóxicos a serem descartados em

aterros controlados ou submetidos a

tratamentos especiais

Estrutura da implantação mais compacta

e teoricamente menos custosa

Até agora ilustramos os méritos da pirólise, o

que não exclui os pontos fracos:

Segurança precária graças às elevadas

temperaturas, riscos de misturas de gás

explosivas, grandes solicitações às quais

são submetidos os materiais

Escarço rendimento térmico global

Incertezas sobre o rendimento e a

disponibilidade efetivos de uma

implantação em escala industrial

Custos de gestão e de manutenção

aleatórios (rápido desgaste dos materiais

refratários dos bicos dos queimadores,

etc.).

Implantação de

pirólise

“Thermoselect”:

1. Prensa

2. Canal de

desgaseificação

3. Reator

4. Quench

5. Depurador de ar

6. Resfriador/

secador

7. Filtro de carvão

ativo

8. Depuração da água

9. Evaporação

O esquema abaixo do sistema pirolítico Thermoselect (conhecido no Brasil como

Termoseletiva), que na Europa foi substancialmente abandonado após a experiência

acumulada em alguns anos de funcionamento com potência reduzida (entre 2000 e 2004) com

a implantação em escala real de Karlsruhe (Alemanha) alguns anos depois da publicação

desse texto.

Mauro Gandolla 5.11.2007

Resíduos

Resíduos inertes

Gases de síntese

depurados

Água depurada

Resíduos

tóxicos

Sais

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41

4.5 Depuração da fumaça

O maior inconveniente da incineração dos

resíduos é a produção de fumaça com alta

concentração de poeira e poluidores de todos

os tipos, ou seja, ácidos, óxidos de nitrogênio

e metais pesados, que são eliminados pelos

sistemas de depuração.

A natureza e quantidade de poluidores

contidos nos gases de combustão dependem

da composição dos resíduos, do sistema de

combustão e das condições de incineração.

A exigência de ter ar limpo não é uma

invenção recente, tampouco uma moda, mas é

uma necessidade elementar do homem e do

meio ambiente.

Por muitos anos a incineração foi considerada

uma das principais causas da poluição

atmosférica. Logo, não é de se admirar que a

construção de uma nova implantação de

eliminação de resíduos desperte hostilidade e

aversão por parte da população.

4.5.1 Formação de substâncias poluidoras

nos gases de combustão

A tabela abaixo oferece um resumo das

principais categorias de poluidores presentes

nos gases de combustão de resíduos urbanos e

de algumas substâncias de base das quais eles

provêm.

4.5.2 Concentrações de poluidores nas

fumaças não depuradas

Por causa da natureza heterogênea dos

resíduos urbanos, a composição do gás de

combustão e a sua concentração de poluidores

estão sujeitas a fortes variações. Portanto, a

purificação da fumaça de uma implantação de

eliminação de resíduos é decididamente mais

problemática do que as efetuadas nas centrais

térmicas a carvão ou a gás, por exemplo.

4.5.3 Normas de controle das emissões

Obviamente é impossível representar em uma

única tabela todos os valores limite de

emissões permitidas em cada país. A tabela

abaixo dá uma ideia aproximada dos

rendimentos que os modernos sistemas de

depuração das implantações de incineração de

resíduos europeias devem conseguir atingir. É

claro que tais valores não são absolutos e

tendem a variar em função das diversas

normas de preservação ambiental e progresso

tecnológico.

Três conceitos-chave

relativos à qualidade

do ar.

1. Emissão: lançamento na atmosfera de

substâncias poluidoras.

2. Transmissão: diluição, transporte e

transformação de substâncias poluidoras.

3. Imissão: concentração de substâncias poluidoras

danosas para o indivíduo e para o meio

ambiente.

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42

Formação de

substâncias

poluidoras nos

gases de

combustão dos

resíduos.

Concentrações

de poluidores na

fumaça não

depurada.

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43

Limites de emissão - médias diárias (mg/Nm³)

Valores de 1995

Valores atuais (2012)

LRV 91 CH

17.BlmSchv D

RV 89 NL

CEE 5)

CEE 6)

Itália D.Lgs. 133/2005

Alemanha CH EU 2000/76/CE

Poeiras

20 10 5 30 5

10 10 10 10

HCl

20 10 10 500 5

10 10 20 10

HF

2 1 1 2 1

1 1 1 1

SO₂

50 50 40 300 25

50 50 50 50

Noₓ

80 200 70 - -

200 100/2001)

80,0 200/4002)

Hg

0,1 0,05 0,05 0,2 (Hg+Cd) 0,05

0,1 0,0 0,1 0,1

Cd

0,1 0,05 0,05 0,1 0,05

0,1 - 0,1 0,1

Σ Metais pesados

1 0,5 1 1/5 0,05

0,5 0,5 0,5 0,5

CO

50 50 50 100 5

50 50 50 50

C total

20 10 50

10 10 20 10

Dioxina TE (ng)

0,1 0,1

0,1 0,1 0,1 0,1

Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos

0,0 - - -

Amoníaco (NH3)

- - 5 -

Cádmio + Tálio4)

(Cd+Tl))

- 0,5 - -

Chumbo e zinco (Pb+Zn)

- - 1 -

1) Potência térmica <50MW , 200 mg/Nm³ ; potência térmica >50 MW, 100 mg/Nm³ como média anual

2) Capacidade nominal > 6 t/h, 200 mg/Nm

3; capacidade nominal <= 6 t/h, 400 mg/Nm

3

3) Valores médios em intervalos de tempo de 6 a 8 horas

4) Valores médios em intervalos de tempo de 30 minutos a 8 horas

5) Implantação de incineração de resíduos

6) Implantação de incineração de resíduos industriais

Comparação entre os valores limite

de emissões permitidas em 1995 e em

2012 para a emissão da chaminé de

uma implantação de incineração de

resíduos.

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44

4.5.4 Principais processos de depuração da

fumaça

O tratamento da fumaça consiste em separar

fisicamente os materiais sólidos (poeiras,

cinzas volantes, sais) e quimicamente os

poluidores gasosos (HCl, SO2, HF, NOx e

alguns metais pesados). Hoje em dia se usam

essencialmente três tecnologias que

ilustraremos em seguida.

Processo a seco

O elemento neutralizante no estado seco, sob

forma de cal (Ca(OH)2) ou de calcário, é

pulverizado em contracorrente em um reator,

e provoca a transferência de material da fase

gasosa para a superfície das partículas sólidas.

Os poluidores (HCl, SO2 e HF), que desse

modo são absorvidos na superfície, se

transformam em outros materiais (sais de

cálcio), enquanto no seu interno as partículas

não são modificadas. Isso significa que a

perda de neutralizante é mais elevada quanto

maior for a partícula.

A retirada de pó da fumaça é sempre feita

depois da neutralização, de modo que possam

ser captados simultaneamente as poeiras e as

cinzas provenientes da combustão, os

produtos da reação e as partículas de cálcio

que não reagiram.

Um dos limites desse processo é a excessiva

quantidade de reagente necessária para

provocar a reação (a relação estequiométrica é

superior a dois), do qual mais da metade

acaba nos resíduos sem ter contribuído para a

neutralização da fumaça. Deve-se dizer,

porém, que o emprego assertivo de filtros de

mangas para a retirada da poeira permite

melhorar sensivelmente o rendimento

particularmente modesto do sistema a seco.

Na verdade, as poeiras e os reagentes juntam-

se aos tecidos do filtro e aumentam a duração

do contato com a fumaça a ser purificada.

A captação de metais pesados presentes na

fumaça em fase gasosa e como aerossol

representa ainda um problema, já que tais

elementos não podem ser neutralizados nem

com cálcio, nem com filtros. A instalação de

um permutador de calor na entrada do sistema

de tratamento da fumaça, com finalidade de

condensar certos metais pesados para o estado

gasoso, comporta de qualquer maneira riscos

de corrosão e de incrustação e não garante

resultados satisfatórios.

Esquema do tratamento

da fumaça por via seca.

1. Fumaça proveniente

da caldeira

2. Reator

3. Filtro

4. Ventilador

5. Chaminé

6. Transporte da

poeira

7. Tanque de resíduos

8. Cal reciclada

9. Cal

10. Ar comprimido

11. Silo para a cal

12. Injeção de cal

Fumaça

depurada

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45

Processo por via semi seca

Processo derivado do sistema a seco, consente

a neutralização dos poluidores ácidos contidos

na fumaça e assegura o resfriamento da

mesma (através da injeção de água),

contribuindo assim para a condensação dos

metais pesados em fase gasosa.

Consiste em pulverizar cal em solução (leite

de cal) com um vaporizador. Com a

evaporação da água e excesso, as partículas

que em um primeiro momento contribuem

para o esfriamento da fumaça, atingem o

limite de saturação do elemento neutralizante.

Em uma segunda fase acontece a verdadeira

transferência de materiais do estado gasoso ao

estado fluido. A água residual continuará a

evaporar até que não reste uma única partícula

completamente seca, carregada de materiais

poluidores. Os metais pesados se condensam

nas partículas de poeira e nos neutralizadores,

presentes na fumaça.

Todas as partículas sólidas são captadas em

um filtro de poeira, colocado à jusante do

reator. Esse sistema de depuração da fumaça

utiliza essencialmente filtros de mangas, cuja

vantagem, em comparação com os

eletrofiltros, é de potencializar o rendimento

global do sistema de purificação, colocando a

fumaça novamente em contato com o

elemento neutralizante ainda ativo, que se

deposita no tecido filtrante.

Como no sistema a seco, é muito difícil

descartar os resíduos filtrados, que são

classificados como resíduos tóxicos em

praticamente todos os lugares. Logo, é

necessário eliminá-los em um aterro

controlado para resíduos perigosos, ou então

submetê-los a tratamentos adequados e caros.

Graças aos diversos inconvenientes de ordem

técnica e principalmente por causa do

rendimento relativamente modesto atingido

com esses processos a seco e por via semi

seca, os sistemas de depuração de fumaça

baseados neles não são mais utilizados em

países como a Suíça ou a Alemanha, onde

vigoram normas de preservação ambiental

muito rígidas.

Esquema do tratamento

da fumaça por via semi

seca.

1. Fumaça proveniente

da caldeira

2. Reator

3. Filtro

4. Ventilador

5. Chaminé

6. Transporte da

poeira

7. Tanques de

resíduos

8. Silo para cal

reciclada

9. Silo para cal

10. Tanque para

preparação de leite

de cal

11. Injeção de cal

Água

Fumaça

depurada

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46

Processo por via úmida

O processo por via úmida consiste em reduzir

os poluidores na fumaça mediante uma

lavagem intensiva com água. É um sistema

que assegura o máximo rendimento de

depuração da fumaça, já que pode funcionar

mesmo sem o emprego de um reagente

químico.

A fim de evitar os problemas ligados às

incrustações nos equipamentos de lavagem,

deve-se retirar a poeira da fumaça na saída do

sistema forno-caldeira. Geralmente usa-se

eletrofiltros. Já os filtros de mangas são

menos utilizados, pois são mais sensíveis às

temperaturas da fumaça, ainda elevadas na

saída da caldeira. Ainda, nesse processo o

filtro não deve desempenhar nenhuma função

de neutralização.

Os sistemas de depuração da fumaça por via

úmida compreendem:

Uma primeira fase de condicionamento

chamada “quench” na qual a fumaça é

saturada por injeção de uma enorme

quantidade de água,

Uma torre de lavagem por enchimento,

ao interno da qual os poluidores gasosos

são distanciados da fumaça. Os metais

pesados, presentes em forma de aerossol,

são condensados e depois arrastados pela

água de lavagem.

As águas de processo da seção de tratamento

da fumaça contêm ácido clorídrico, metais

pesados, poeiras em suspensão e, quando os

óxidos de enxofre são neutralizados com a

soda cáustica, sulfato de sódio.

Segundo as normas relativas à preservação

ambiental das águas, tais efluentes não podem

ser descartados no meio ambiente. Dado sua

elevada acidez e concentração de metais

pesados, não podem mais ser tratados na rede

de esgotos de uma implantação de tratamento

urbana. Por esse motivo o pH da água deve

ser regulado antes que a mesma seja versada

no canal ou em um rio.

Parte da água de lavagem da fumaça é retirada

e conduzida para a seção de tratamento das

águas de processo da implantação de

incineração de resíduos. Os ácidos são

neutralizados pela adição de leite de cal até

que se forme gesso (CaSO4), cloreto de sódio

(NaCl) e certa quantidade de CaCl2.

Os metais pesados contidos nas águas de

processo são floculados e precipitados em

forma de lodos insolúveis na água. Os lodos

são finalmente separados em um filtro prensa.

Os resíduos filtrados da

depuração de fumaça por

via seca ou semi seca

geram sérios problemas de

eliminação.

15

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47

Quando um descarte de águas de processo não

é desejado ou não é autorizado, pode-se

renunciar ao sistema de tratamento das águas

de lavagem. Nesse caso se dirá de “processo

de depuração da fumaça por via úmida sem

efluentes”. A água de lavagem da fumaça é

levada à montante do sistema de depuração

para ser evaporada em um

exsicador/pulverizador, colocado entre a

caldeira e o filtro de poeiras. O calor sensível

da fumaça é usado para cristalizar os sais

contidos na água de lavagem. Tais sais são em

parte recuperados na base do exsicador e o

resto é captado durante a filtragem para

retirada de poeira da fumaça, que precede a

lavagem.

O tratamento por via úmida dos gases de

combustão oferece notáveis vantagens em

comparação com os outros processos:

Máxima eficiência de captação dos

poluidores (HCl, HF, SO2, metais

pesados)

Possibilidade de captação específica para

cada poluidor

Emissões residuais extremamente baixas

Consumo de produtos químicos quase

estequiométrico

Ínfima quantidade de resíduos

Graças às normativas mais rigorosas em

matéria de proteção do ar, os sistemas de

depuração da fumaça por via úmida estão

começando a se impor em muitos países.

Esquema de tratamento

da fumaça por via

úmida, com seção de

depuração das águas de

lavagem da fumaça.

1. Fumaça

proveniente da

caldeira

2. Filtro de poeiras

3. Quench

4. Torre de lavagem

5. Ventilador

6. Chaminé

7. Água

8. Soda cáustica

9. Água da 1ª etapa

10. Retirada de água de

processo

11. Neutralização

12. Reservatório de

decantação

13. Leito granular

14. Adensamento do

lodo

15. Filtro prensa

16. Resíduos tóxicos

Fumaça

tratada

Água

tratada

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48

4.5.5 Redução de NOx (desnitrificação)

Alguns países fixaram os valores limite de

emissão dos óxidos de nitrogênio, o que

significa que as implantações de eliminação

de resíduos deverão possuir sistemas de

desnitrificação dos gases de combustão

(redução do NOx). Tais medidas procuram

diminuir a até 80 mg de NOx/nm³ a

concentração de óxidos de nitrogênio na

fumaça que sai da chaminé.

Atualmente os processos mais utilizados nesse

campo são:

Método SNCR

(Selective Non-Catalytic Reduction)

Trata-se de uma redução térmica de NO

(óxido de nitrogênio) com NH3 (amoníaco).

Para reduzir a concentração de óxido de

nitrogênio nos gases de combustão, injeta-se

uma solução de amônia (NH3) no primeiro

trecho da caldeira. A redução dos óxidos de

nitrogênio (NOx) acontece em temperaturas

por volta de 900º C e libera N2 e H2O. O

amoníaco em excesso, transportado pela

fumaça, é recuperado em colunas de absorção.

O maior inconveniente desse processo deve-se

ao forte odor de amônia que se difunde nas

adjacências das instalações.

Processo SCR (Selective Catalytic

Reduction)

A redução dos óxidos de nitrogênio NO e NO2

contidos no gás de combustão, chamada de

Selective Catalytic Reduction, desencadeia,

quando junta-se ao gás, uma solução de

amônia (como agente redutor) e, quando tal

mistura é estimulada em um catalizador,

óxidos de nitrogênio e amoníaco reagem

produzindo vapor de água e nitrogênio.

Esquema do sistema

de redução dos NOx

através do processo

SNCR.

1. Injeção de solução

de amônia

2. Câmara de

combustão do

forno

3. Retirada de poeira

4. Torre de lavagem

da fumaça

5. Ventilador de

tiragem induzida

6. Tratamento das

águas de lavagem

da fumaça

7. Stripper

8. Condensador

9. Reservatório de

amônia

Vapor

Fumaça tratada

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49

Em geral, o catalizador é uma estrutura

catalítica completa, em forma de alvéolo, feita

em dióxido de titânio, que funciona como

material cerâmico de base. A estrutura é

impregnada de agentes catalíticos, que variam

dependendo do construtor. A temperatura de

funcionamento ótima do catalizador está entre

320º C e 350º C.

Por motivos econômicos, a fumaça que sai da

lavagem a cerca de 60º C é aquecida em duas

fases. Em uma primeira fase é levada a uma

temperatura entre 290-320ºC, em um

regenerador térmico em contra fluxo com a

fumaça muito quente que passou pela

desnitrificação. Na segunda fase um

queimador ou um trocador de calor provocam

um aumento de temperatura de 30º C.

4.5.6 Dioxinas e furanos

De alguns estudos surgiu que durante a

incineração formam-se compostos complexos,

em quantidade mínima, pela combinação de

hidrogênio, cloro e oxigênio. São os

chamados compostos organoclorados.

Existem centenas de combinações, mas as

mais famosas são as dioxinas e os furanos

(respectivamente PCDD e PCDF, ver pág 91).

São compostos que não existem na natureza e

que a princípio não são fabricados com

objetivos comerciais. Nas implantações de

eliminação de resíduos, são produtos da

combustão que se formam principalmente

pela recombinação de resíduos não queimados

de cinzas volantes, em uma faixa de

temperatura entre 250 e 400º C.

Atualmente apenas alguns países impõem

limites de emissão para a dioxina e os furanos

(na Alemanha a concentração não deve

superar 1ng/Nm³). A concentração de dioxina

nos gases de combustão dos resíduos é tão

baixa que os construtores têm dificuldade de

medi-la, já que é necessário filtrar milhares de

metros cúbicos de fumaça para captar uma

quantidade detectável de dioxina (a

concentração de dioxina e de furanos na

fumaça é da ordem de 0,1 ng/Nm³).

A concentração de tais poluidores na fumaça

geralmente é reduzida com filtros de mangas.

A absorção de dioxina e de furanos no filtro

de mangas se obtém injetando carvão ativado

na tubulação da fumaça, a montante do filtro:

as partículas de carvão ativado formam um

estrato filtrante no tecido do filtro e as

propriedades absorventes do mesmo fazem

com que uma parte das dioxinas e dos furanos

no estado gasoso seja captada e

sucessivamente descartada junto com a poeira.

Esquema do sistema de

redução dos NOx

através do processo

SCR.

1. Fumaça

proveniente do

sistema de lavagem

da fumaça

2. Aquecedor prévio

3. Queimador auxiliar

4. Injeção de

amoníaco

5. Reservatório do

amoníaco

6. Catalizador

7. Ventilador de

tiragem induzida

8. Chaminé

Ar

Fumaça

tratada

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50

O filtro de mangas é colocado na extremidade

dos sistemas de depuração de fumaça

tradicionais. A sua função é de reduzir todas

as emissões residuais (Hg, dioxina, metais

pesados, poeiras) até o limite da detecção

analítica.

Como alternativa ao filtro de mangas, pode-se

utilizar o absorvedor de leito fixo de carvão

ativado.

4.5.7 Expectativas da depuração da fumaça

Hoje as tecnologias à disposição permitem

captar todos os poluidores presentes na

fumaça produzida na combustão de resíduos

urbanos e reduzir sua concentração a valores

mínimos, no limite da detecção analítica. Por

isso alguns gestores chegam a dizer que a sua

implantação de eliminação de resíduos

purifica o ar da cidade.

Mas não é tudo. Já há alguns anos em

determinados países foi feita a proposta de

construir sistemas de depuração de fumaça

que permitam limitar a quantidade de resíduos

a serem descartados em aterros a poucas

gramas por tonelada de resíduo incinerado.

Desse modo, pode-se produzir ácido

clorídrico ou gesso de HCl e SO2 e, em uma

seção de evaporação dos efluentes da lavagem

de fumaça, recuperar metais pesados como o

zinco e o mercúrio, ou produzir sais

industriais. Todavia, os investimentos

suplementares necessários para obter tais

resultados são tão altos que rendem os

produtos recicláveis caros demais para serem

comercializados.

As mudanças mais substanciais nesse campo

provavelmente serão sobre os novos sistemas

de tratamento térmico de resíduos, como a

pirólise ou o forno de plasma.

Ar

comprimido

Para a câmara

de combustão

Fumaça

tratada

1. Fumaça proveniente do sistema

de lavagem

2. Injeção de carvão ativado

3. Filtro de mangas

4. Silo de poeiras

5. Silo de carvão ativado

Filtro absorvente de

mangas.

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51

4.6 Tratamento dos resíduos da

incineração e da depuração da

fumaça

As modernas implantações de incineração de

resíduos permitem a separação do fluxo de

materiais. A vantagem é que cada fluxo pode

ser tratado de modo apropriado e no final da

cadeia todos os poluidores estão concentrados

em um volume pequeno de resíduos.

Os resíduos produzidos nas diversas fases de

tratamento são:

As escórias, resíduos da combustão

recuperados na saída do forno.

As poeiras e as cinzas volantes,

transportadas pelos gases de combustão e

captadas pelo sistema de retirada de

poeiras e, em parte, debaixo da caldeira.

Os resíduos da depuração de fumaça, que

variam em função dos processos

utilizados.

Os sistemas de depuração de fumaça por via

seca ou semi-seca produzem um resíduo que

contém cinzas, sais solúveis, reagentes

químicos e metais pesados.

Nos sistemas de depuração por via úmida os

poluidores são capturados na água de

lavagem, que por sua vez é tratada e produz

um resíduo sólido com elevada concentração

de substâncias tóxicas.

Todos esses resíduos provenientes das

diversas fases de tratamento de resíduos

devem ser tratados para serem valorizados ou

destinados ao descarte definitivo, sem que

representem uma ameaça de longo prazo para

o meio ambiente.

No local da implantação de incineração de

resíduos, tais descartes devem ser estocados

separadamente e colocados em reservatórios

estanques, protegidos da chuva e do vento, e

dotados de um dispositivo de recolhimento da

água de percolação.

Resíduos

1000kg Incineração

Escórias

aprox. 250-350 kg

Recuperação

de calor

Cinzas

aprox. 5-15 kg

Retirada de

poeiras

Reator a

seco

Reator via

semi-seca

Purificador

(Scrubber

via úmida)

Retirada de

poeiras

Retirada de

poeiras

Poeira

aprox. 30 kg

Resíduos sólidos

aprox. 5-15 kg

Resíduos

aprox. 50-90 kg

Resíduos

aprox. 40-70 kg

Fumaça

depurada

Produção de resíduos nos

diversos sistemas de

depuração da fumaça.

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52

4.6.1 Escórias

As escórias recuperadas na saída do forno têm

o aspecto de um cascalho acinzentado

composto pelos materiais mais variados:

vidro, pedra, metais não ferrosos, sucata, sais,

materiais orgânicos não queimados (entre 2 e

5% do peso), bem como traços de metais

pesados.

No campo da incineração de resíduos, os

critérios de classificação de tais resíduos e as

normas relativas à sua valorização ou ao

confinamento em aterro são muito

discordantes. Por exemplo, em alguns países

as normas vigentes autorizam, em certos

casos, a valorização das escórias no âmbito

das obras públicas, com ou sem tratamento

prévio. Em outros casos, as escórias são

classificadas como resíduos industriais. Em

geral os requisitos básicos impostos pelas

normas consideram que as escórias sejam

recolhidas separadamente das cinzas volantes

e dos resíduos de depuração da fumaça.

Abaixo estão alguns exemplos de tratamento

e/ou de valorização das escórias:

Emprego direto como material de

enchimento para obras públicas sem

qualquer tratamento particular, desde que

sejam feitas algumas precauções de

proteção dos lençóis freáticos;

Retirada de ferro e sucessiva recuperação

como material de enchimento na

construção de estradas, sempre seguindo

as condições descritas acima. Outras

condições indispensáveis para a

valorização são o conhecimento profundo

das características das escórias e o

controle periódico (composição,

materiais não queimados, grau de

lixiviação,...);

Retirada de ferro do material e estocagem

provisória em aterro, de modo que as

escórias possam se estabilizar durante

alguns meses antes de serem recuperadas

como materiais de enchimento ou

eliminadas em aterros não controlados;

Crivação e retirada de ferro sumárias,

lixiviação (que volta a reduzir a

concentração de cloretos e sulfatos),

estocagem provisória em aterro, crivação

e retirada de ferro acuradas, e

sucessivamente emprego como material

de enchimento ou confinamento em

aterro;

Nenhuma possibilidade de recuperação.

As escórias são consideradas resíduos

especiais e, portanto, devem ser

estocadas em aterros controlados (local

completamente impermeabilizado,

protegido da águas da chuva e das águas

de lixiviação).

4.6.2 Cinzas volantes e poeiras

As cinzas volantes e as poeiras transportadas

pela fumaça e captadas pelo filtro de poeira

(eletrostático ou de mangas) contêm metais

pesados hidrossolúveis, até mesmo chumbo,

zinco, cobre e cádmio. Por esse motivo, em

muitos países as cinzas e as poeiras são

consideradas, com razão, resíduos industriais

tóxicos.

Cinzas e poeiras podem ser classificadas

como resíduos inertes depois de serem

submetidas a alguns tratamentos relativamente

simples, que ilustraremos em seguida.

Inertização com cimento ou betume

Esses processos utilizam cimento e aditivos

ou betume, material quimicamente inerte,

misturado aos resíduos e fundido em blocos.

Uma vez solidificados, os blocos são

confinados em aterros.

Lavagem ácida

Para esse processo utilizam-se águas ácidas

retiradas do sistema de depuração da fumaça.

Depois da lavagem de cinzas e poeiras, os

materiais em suspensão são separados em um

filtro-prensa ou em um filtro prensa de

correias. A água de lavagem, que contem

metais pesados e sais, é descartada na seção

de tratamento das águas de processo da

implantação de eliminação e resíduos.

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53

Sistema 3-R

Esse processo foi concebido no centro de

estudos nucleares de Karlsruhe. As cinzas

volantes são submetidas à lavagem ácida

descrita acima; a fração insolúvel das cinzas

volantes é introduzida no forno, e logo é ligada

às escórias. A água de lavagem é tratada em

uma seção de depuração das águas e painéis

com elevada concentração de metais pesados

são enviados a uma implantação de recuperação.

Vitrificação

As cinzas, as poeiras e os resíduos sólidos

extraídos da água de lavagem da fumaça são

aquecidos a alta temperatura em um forno

elétrico, até que atinjam a temperatura ideal.

A massa vitrificada inerte pode ser utilizada

como material de enchimento. Os gases, que

contêm principalmente metais pesados no

estado gasoso, são conduzidos à seção de

depuração da fumaça.

4.6.3 Resíduos sólidos extraídos da água de

lavagem da fumaça

Os lodos produzidos pelo sistema de

tratamento da água de lavagem da fumaça

contêm substancialmente gesso e compostos

metálicos pesados não hidrossolúveis

(hidróxidos ou sulfuretos).

Os lodos provenientes da lavagem das poeiras

e das cinzas volantes contêm silicatos (SiO2),

compostos de cálcio (CaSO4) e óxidos de

alumínio (Al2O3).

Para serem descartados em aterro sem

representar perigo para o meio ambiente, tais

resíduos tóxicos devem ser submetidos a um

tratamento relativamente simples que consiste

em adicionar cimento e reativos diversos aos

lodos e depois misturar tudo.

Uma vez solidificada e moldada em grandes

cubos de concreto, mistura pode ser confinada

em aterro.

Tratamento dos resíduos da

depuração de fumaça mediante

lavagem ácida.

1. Cinzas volantes provenientes

da caldeira e do filtro

2. Silo

3. Reator de separação

4. Filtro prensa de correias

5. Tratamento das águas de

lavagem

6. Filtro-prensa/secador

Água de lavagem da

fumaça

Água de

enxague

Cinzas lavadas

Aterro

Reciclagem do zinco

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54

16

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55

5 Descrição de uma implantação de eliminação de resíduos urbanos

A implantação de incineração de resíduos urbanos

que descreveremos a seguir é de uma concepção

moderna e baseada em uma tecnologia tradicional,

amplamente experimentada. Apesar dos esforços

feitos em 1990 para harmonizar a nível internacional

as normas sobre resíduos e de preservação

ambiental, ainda hoje não é possível descrever um

modelo padrão universal de implantação de

incineração de resíduos urbanos.

A construção e funcionamento das instalações são

disciplinados pelas normas que se aplicam às

implantações de incineração de resíduos domésticos,

dos resíduos provenientes de atividades comerciais e

industriais similares aos resíduos domésticos, e às

implantações de incineração de resíduos não

contaminados, produzidos em estruturas sanitárias e

similares.

A descrição que seguirá verte exclusivamente sobre

os principais elementos de uma implantação de

incineração de resíduos. Dada a multiplicidade dos

processos disponíveis e de fornecedores, não

consideramos oportuno descrever detalhadamente

todos os aparelhos.

5.1 Estrutura de uma implantação de

eliminação de resíduos tradicional

Os elementos que compõe uma implantação

tradicional de tratamento e incineração de

resíduos urbanos são os seguintes:

Entrada com balança e área de recebimento

dos resíduos

Zona de descarregamento e estocagem dos

resíduos a serem incinerados

Forno de incineração e aparelhos auxiliares

Aparelhos térmicos para a recuperação

energética

Seção de depuração e descarregamento da

fumaça

Aparelhos de tratamento de resíduos

Instrumentos elétricos, de comando e de

regularização

Aparelhos auxiliares

Edifício

Descrição de uma implantação de eliminação de resíduos urbanos

1. Zona de

descarregamento

2. Prensa-tesoura para

resíduos volumosos

3. Fossa de acúmulo

4. Garra do guindaste de

ponte rolante

5. Tremonha de

alimentação do forno

6. Câmara de

combustão

7. Tremonha sob

grelha metálica

8. Canal de escórias

9. Queimador de

ascensão

10. Ventilador de ar de

combustão

11. Câmara de pós-

combustão

12. Caldeira de

recuperação

13. Filtro de poeira

14. Trocador de calor

15. Injeção de água

(Quench)

16. Torre de lavagem

da fumaça

17. Filtro de mangas

18. Ventilador de

tiragem induzida

19. Chaminé

20. Reservatórios de

reagentes químicos

21. Sistemas de

depuração da água

Seção longitudinal de uma

moderna implantação de

eliminação de resíduos

urbanos.

O conceito de resíduo está em

contínua evolução. Em

particular, depende do grau de

desenvolvimento econômico do

país.

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56

5.2 Descrição dos principais

equipamentos

5.2.1 Registro e estocagem dos resíduos

Balança para caminhão

Os resíduos sólidos urbanos e outros resíduos

semelhantes são transportados até a

implantação por caminhões de coleta públicos

e privados. Antes de serem descarregados, são

pesados em uma balança para caminhão, na

entrada da implantação. O peso e o registro

funcionam automaticamente, com um cartão

para os caminhões do município. A cada

passagem é feita uma marca de registro e

peso.

Descarregamento e estocagem dos resíduos

Uma vez efetuado o registro, os caminhões

privados podem descarregar seus resíduos na

área de recebimento composta de fossa, bacias

e adequadas áreas de estocagem. Em geral os

resíduos selecionados são resíduos

biodegradáveis, objetos metálicos volumosos,

papel e papelão, materiais plásticos, vidro,

pilhas e baterias.

Depois do registro, os caminhões são levados

à área de descarga onde depositam seus

resíduos na fossa de acúmulo. Normalmente o

volume da fossa é concebido para conter uma

quantidade de resíduos tal que assegure o

funcionamento da implantação 7 dias/semana,

em condições nominais de marca contínua.

Por esse motivo as fossas de acúmulo têm

sempre um volume exorbitante: a implantação

pode aceitar um excedente de resíduos,

mesmo em longos fins de semana, ou em caso

de falhas ou de revisão dos equipamentos.

Em geral uma ou duas áreas suplementares,

não acessíveis aos caminhões de coleta, são

reservadas para acúmulo: os resíduos são

armazenados através de um guindaste, no

plano inclinado da fossa, no trecho em que ela

se estende com os muros divisórios, mas sem

portas de descarga.

Água

Sucata,

vidro,

papel

Água ácida

Água de lavagem

Fumaça

esfriada

Cinzas

volantes

Gás de

combustão

Resíduos da

incineração

Recepção

Pesagem

Estocagem

Compostagem

dos resíduos

biodegradávei

s

Reciclagem

Incineração

Tratamento

das escórias

Reciclagem

Depuração

da fumaça

Tratamento

da água

Reciclagem

Recuperaçã

o energética

Tratamento

das cinzas e

poeiras

Reciclagem

Retirada da

poeira da

fumaça

Estocagem

provisória

em aterro

Aterro

controlado

Escórias

Sucata

Ar Água Vapor

Poeiras

Resíduos sólidos

com elevada

concentração de

poluidores

Gesso ou HCl

Águas de lavagem

Reativos

Eletricidade

Fumaça

depurada

Água

depurada

Produção

de

eletricidade

Esquema básico das várias

fases de tratamento de uma

implantação de incineração

de resíduos.

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57

Para evitar a saída de poeiras e de exalações

mal cheirosas, a fossa de acúmulo é mantida

em ligeira depressão aspirando-se dela o ar

necessário para a combustão dos resíduos no

forno.

Uma vez descarregados na fossa, os resíduos

são represados pela garra do caminhão, que

funciona semi automaticamente.

Um guindaste rolante consta essencialmente

de duas vigas transversais, um carrinho móvel

que desliza sobre as vigas, e de uma garra. O

foguista carrega a garra e efetua manualmente

as operações de armazenamento. As

tremonhas de alimentação se enchem

automaticamente quando a garra pega sua

carga. As implantações de incineração de

resíduos são munidas de pelo menos dois

guindastes rolantes, dos quais o de reserva

permanece inativo em um deposito situado na

extremidade da fossa.

Os resíduos volumosos (portas de madeira,

camas, colchões, ...) são colocados em uma

tremonha especial, situada na zona de

descarga. Para fazer com que o carregamento

e avanço dos resíduos ao forno ocorram sem

contratempos, tais resíduos são primeiramente

moídos por um triturador colocado de modo

que possa ser alimentado pelo guindaste e que

permita a queda livre dos resíduos esmagados

na fossa principal.

5.2.2 Forno de incineração

O forno de incineração se compõe

essencialmente de um sistema de alimentação

de resíduos, de uma grelha de combustão, da

câmara de combustão, de um circuito de ar

comburente, de um sistema de evacuação das

escórias e de centrais de comando hidráulicas.

Alimentação do forno

Os resíduos descartados automaticamente na

tremonha de alimentação do forno caem por

gravidade em um canal de alimentação. O

canal deve ser continuamente alimentado por

resíduos para assegurar a continuidade entre a

câmara de combustão do forno e a fossa de

acúmulo.

Alimentador

A provisão de resíduos no forno é assegurada

por um alimentador animado por movimentos

cíclicos alternados e controlados, que desliza

em uma mesa horizontal colocada sobre o

fundo do canal de alimentação. A provisão de

resíduos é continua e é completamente

automatizada graças ao sistema de

regularização da potência de combustão. O

tempo do ciclo, o comprimento do percurso e

a velocidade de avanço hidráulico do

alimentador podem ser regulados em função

da qualidade do combustível (PCI dos

resíduos) e da potência térmica desejada

(produção de vapor).

17

Os resíduos

primeiramente são

misturados pela garra

do guindaste rolante e

sucessivamente são

colocados na

tremonha de

alimentação.

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58

Grelha de combustão

(grelha com elementos móveis Von Roll)

A grelha mecânica é o principal elemento do

forno. Cada grelha é composta por elementos

alternativamente fixos e móveis, animados por

um movimento alternado de translação de

baixa amplitude, por meio de macacos

hidráulicos que consentem o avanço dos

resíduos na grelha.

Antes de cair em forma de escória no canal

adequado situado na extremidade da grelha,

os resíduos são submetidos às fases sucessivas

de secagem (por contato com os gases de

combustão, por insuflação de ar quente sob a

grelha e por irradiação da câmara de

combustão), de desgaseificação e de

gaseificação (decomposição em matérias

voláteis, em grande parte queimáveis) e de

combustão.

Com objetivo de garantir a combustão

completa dos resíduos e dos gases produzidos

durante as fases do processo de incineração, é

necessário respeitar os seguintes parâmetros

de base:

É suficiente que os resíduos permaneçam

aproximadamente 45 min no forno

Temperatura de combustão adequada

(entre 850ºC e 1050ºC)

Turbulência na zona de pós-combustão

para influxo de ar secundário com

finalidade de garantir uma combustão

completa dos materiais não queimados

nos gases.

Enquanto a temperatura na câmara de

combustão é mantida entorno de 900º C, a

temperatura dos elementos da grelha de ferro

fundido refratário é da ordem de 200º C. Para

evitar os danos ligados à corrosão a alta

temperatura, tais seções são resfriadas pelo ar

comburente que flui de fora e protegidas da

irradiação na câmara de combustão pelo

extrato de resíduos sobre a grelha (leito de

resíduos).

Central hidráulica

Uma central hidráulica comanda os macacos

de avanço do alimentador e as filas móveis da

grelha de combustão. Mesmo uma

implantação de incineração sem um sistema

de controle automático da combustão pode

automatizar a velocidade do movimento

alternado da grelha e do alimentador

respeitando parâmetros simples, como a

temperatura de combustão e o carregamento

térmico do forno.

Parte interna de uma

câmara de combustão

de um forno de

incineração a grelha,

antes da fase

operativa do muro

refratário. Podem-se

notar as paredes da

caldeira e os bicos de

injeção de ar

secundário.

18

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59

Câmara de combustão

Como o nome diz, a câmara de combustão é a

parte do forno na qual acontece a combustão.

Encaixa-se na grelha e atinge uma altura que

corresponde à entrada da caldeira. É exposta a

elevadas temperaturas, a agressões químicas,

e também ao fenômeno da abrasão (causado

sobre sua parte inferior, pelos resíduos e

escórias, e sobre o queimador, pela fumaça

com partículas sólidas). Logo, a câmara deve

ser revestida por materiais refratários capazes

de resistir às elevadas temperaturas e à

abrasão. Geralmente a parte inferior é

realizada com colchoes refratários e a superior

com cimento refratário aplicado com o

método gunning.

Extração das escórias

Concluída a combustão, as escórias

incandescentes caem da extremidade da

grelha, através do poço para escórias, em um

canal metálico cheio de água e munido de um

transportador com correias inclinadas. As

correias deslizam lentamente de modo a

permitir a percolação das escórias. Tal canal

desempenha as seguintes funções:

Resfriar e avançar as escórias em direção

da fossa das escórias

Assegurar a continuidade da câmara de

combustão

Funcionar como válvula de segurança em

caso de sobrepressão da câmara de

combustão.

Nota a respeito do isolamento do forno:

A impermeabilização do forno é assegurada

pelas tremonhas sob a grelha metálica e pelos

poços de escórias imersos na água do extrator;

desse modo cria-se uma junta hidráulica e o

forno é colocado em depressão por meio do

ventilador de aspiração de fumaça. Já o

isolamento da tremonha de alimentação é

assegurado pela tampa constituída de

resíduos.

Queimadores auxiliares e de execução

Na Europa cada nova implantação de

incineração é dotada de um queimador

auxiliar. Segundo as normas europeias em

vigor, os queimadores devem ser acionados

durante as fases de partida e desligamento, de

modo que seja sempre mantida uma

temperatura mínima de 850º C quando os

resíduos estão na câmara de combustão. Os

queimadores entram automaticamente em

função quando, em fase de exercício, a

temperatura cai abaixo de 850º C.

A combustão dos

resíduos a

temperaturas de

aproximadamente

900º C submete os

equipamentos a

grandes agressões

químicas e

solicitações térmicas.

19

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60

Circuito do ar de combustão

O circuito do ar de combustão possiu duas

subdivisões:

O circuito de ar primário fornece o ar de

combustão necessário para a incineração

sobre a grelha e o ar de esfriamento dos

elementos da grelha (e, se necessário, das

paredes laterais do forno em correspondência

com a grelha).

O circuito de ar secundário assegura a queima

completa dos gases de combustão.

Circuito de ar primário

O ar primário é aspirado da fossa de acúmulo

para evitar a saída de odores ruins.

Sucessivamente é insuflado no forno através

as barras da grelha. Para facilitar a combustão

de resíduos de baixo PCI pode-se pré-aquecer

o ar comburente em um aquecedor de ar a

vapor e sucessivamente inflá-lo dentro do

forno.

Para evitar que as escórias em fusão (900º C)

grudem nas paredes laterais da câmara de

combustão, obstruindo o avanço dos resíduos

sobre a grelha, pode-se injetar parte do ar

comburente através de placas refratárias

perfuradas, colocadas sobre as paredes laterais

do forno.

Circuito de ar secundário

O ar secundário é insuflado a alta velocidade,

sobre o leito de resíduos, no trecho no qual o

queimador se restringe. O ar serve para

queimar totalmente os componentes volantes

que saem do queimador.

Tal sistema, incluído o queimador, deve ser

concebido de modo a permitir uma mistura

energética diretamente sobre o leito de

resíduos, consequentemente causando

decomposição rápida dos gases parcialmente

queimados, em particular o monóxido de

carbono (CO).

Desse modo impede-se a rarefacção da

atmosfera sobre a zona protegida pelo cimento

refratário, evitando os conhecidos problemas

de corrosão dos tubos das caldeiras no

queimador.

Os bicos de injeção são colocados na parte

anterior e posterior do forno e são

dimensionados de modo a assegurar a

penetração de ar na profundidade necessária e

uma mistura ótima de gás de combustão.

Forno-caldeira com grelha de

combustão:

Forno de incineração:

1. Câmara de combustão

2. Grelha de combustão

3. Canal de alimentação

4. Tremonha sob a grelha

Caldeira vertical de três vias:

5. Aquecedor

6. Evaporador

7. Economizador

8. Ebulição

9. Passagem da fumaça pelo

filtro

10. Tremonhas de cinzas

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61

5.2.3 Caldeira e equipamentos térmicos

Um gerador de vapor colocado sobre o forno

de recuperação da energia térmica contida nos

gases de combustão, resfriando os mesmos até

que atinjam 200º C.

Normalmente o gerador é concebido como

uma caldeira de circulação natural vertical de

três vias, ou então horizontal de duas vias. As

duas vias da caldeira são dotadas de dois

feixes de tubos evaporadores e aquecedores,

dependendo do dimensionamento. A parte

principal da caldeira é uma estrutura tubular

rígida autoportante, dentro de uma estrutura

de sustentação. As paredes da caldeira são

constituídas de tubos soldados e formam uma

membrana, um canal completamente

hermético. O sistema de evaporação, de

circulação natural, é formado pela caldeira de

ebulição de água, situada a montante do

sistema de evaporação, na qual acontece a

separação água-vapor através dos tubos que

protegem o corpo principal, os evaporadores e

as tubulações de junção.

Antes de ser introduzida para ebulição pelas

bombas de alimentação, a água

desmineralizada proveniente da reserva de

alimentação atravessa o economizador que

aumenta a temperatura a um valor

ligeiramente inferior a aquele da temperatura

de evaporação.

No economizador a água circula em

contracorrente com a fumaça.

O vapor é enviado aos aquecedores da

caldeira de ebulição e atinge a temperatura de

emprego adequada. Já a pressão do vapor se

mantém constante graças ao condensador a ar.

Esquema dos equipamentos

térmicos de uma implantação

de incineração de resíduos.

1. Reservatório de água de

alimentação

2. Bombas de alimentação da

caldeira

3. Caldeira

4. Economizador

5. Ebulição

6. Aquecedor

7. Válvula de regularização

da pressão do vapor

8. Condensador a ar

9. Reservatório do material

condensado

10. Bomba de extração do

material condensado

11. Turboalternadores

12. Permutador de calor

13. Circuito de água quente

14. Aquecedor de ar primário

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62

Em teoria os riscos de corrosão podem ser

eliminados escolhendo-se oportunamente os

materiais e cuidando da disposição e da

geometria dos elementos na caldeira. Esse

cuidado deve ser otimizado para a depuração

da fumaça, mediante uma série de testes de

fluxo realizados em modelos de laboratório.

A limpeza das superfícies de troca por

convenção é efetuada, com um dispositivo de

precursão mecânica das paredes laterais nas

caldeiras horizontais, e mediante insuflação de

ar comprimido ou vapor nas caldeiras

horizontais.

Normalmente, o vapor produzido é destinado

a alimentar um grupo de turboalternadores

para a produção de energia elétrica. Caso se

deseje utilizar parte da energia contida no

vapor para distribuição de água quente ou

para um processo industrial, podem ser

empregadas turbinas de condensação total ou

turbinas de contrapressão, em função da

necessidade e da configuração da

implantação.

5.2.4 Sistema de depuração da fumaça

Retirada de poeira dos gases de combustão

Depois da fase de esfriamento na caldeira, os

gases de combustão atravessam um filtro que

retira mais de 99% das cinzas volantes

contidas neles. Podem ser usados filtros de

mangas ou filtros eletrostáticos sem diferença

de resultados.

Filtro eletrostático

Os gases de combustão circulam no filtro

eletrostático atravessando um potente campo

elétrico de alta tensão, no qual as partículas de

poeira se carregam eletrostaticamente, se

depositam nas placas de captação e finalmente

caem na tremonha de coleta. A agitação

periódica das placas faz com que a poeira

presa no filtro desgrude. Normalmente nos

filtros eletrostáticos existem dois ou três

campos.

Tais filtros asseguram uma elevada eficiência

de captação de poeira, superior a 99%, mas

não são capazes de captar os poluidores

gasosos como o ácido clorídrico (HCl), o

ácido fluorídrico (HF), os óxidos de enxofre

(SO2), os óxidos de nitrogênio e os aerossóis.

Logo, tais substâncias devem ser retiradas na

seção de lavagem da fumaça, à jusante do

filtro.

Seção de lavagem da fumaça

(sistema Von Roll, ver também página 46).

O sistema de lavagem da fumaça consta de

um “quench” para o condicionamento prévio

da fumaça (esfriamento pela injeção de água)

e de uma torre de lavagem que possui de duas

a cinco etapas de tratamento, que permitem

retirar:

Poluidores gasosos tais como HCl, HF,

SO2

Poeira de granulometria fina e metais

pesados em forma de aerossol.

Em alguns dos países que constroem

implantações de incineração de resíduos, as

normas antipoluição preveem que a

implantação seja equipada com uma seção de

desnitrificação (com sistema SCR ou SCNR)

e também com um filtro de mangas ou de

carvão ativado, com objetivo de melhorar o

rendimento global da depuração da fumaça e

de captar dioxinas e furanos.

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Para prevenir a formação de uma coluna de

vapor de água na chaminé pode-se esquentar a

fumaça depurada em uma troca de calor.

O condicionamento prévio da fumaça

(Quench):

Uma vez retirada a poeira, os gases de

combustão atravessam um quench e são

esfriados por injeção de água até seu ponto de

saturação. Nessa primeira fase do tratamento

os poluidores como HCl e HF são em grande

parte absorvidos pela agua de lavagem.

Torre de lavagem de enchimento:

A primeira etapa da lavagem acontece no

reservatório de água do circuito de Quench.

A segunda etapa, na qual é aplicado um

estrado de materiais de enchimento, possui

várias funções: o condicionamento dos gases

para o estado sucessivo, graças à notável

extensão da superfície de contato dos anéis de

enchimento (anéis de polietileno) que

favorece a troca otimizada de matéria, a

absorção de poluidores como HCl e HF e, se

for o caso, a neutralização de SO2 com soda

cáustica (NOH) pulverizada. Dos aerossóis

alguns metais pesados e poeiras de fina

granulometria são capturados na zona

terminal da torre de lavagem, dotada de um

tubo de Venturi.

Entre uma etapa e outra da lavagem,

separadores impedem o transporte de gotas de

água pela fumaça.

A lavagem de fumaça a cascata provoca uma

concentração de poluidores na água de

lavagem da primeira etapa da torre. Parte

dessa água é retirada e enviada a uma seção

de tratamento das águas.

Tratamento das águas de lavagem

As principais fases de tratamento são a

neutralização, a precipitação, a floculação e a

decantação. A retirada de metais pesados da

água pode ser realizada mecanicamente,

mediante um filtro-prensa ou um filtro prensa

de cinto. Os painéis dos filtros são

considerados resíduos tóxicos e as águas

tratadas poderão ser descartadas na rede de

canalização mediante a prévia regularização

do pH.

20

Torre de lavagem de

fumaça de uma

implantação de

incineração de resíduos

com três linhas de

tratamento.

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65

6 Os custos

6.1 A indústria ambiental

Referindo-se ao estudo da Comunidade

Europeia, o mercado que terá a taxa de

crescimento anual mais elevada até o ano

2000 será o da indústria ambiental. Esse setor

interessa aproximadamente 20.000 empresas

que geram trabalho a mais de 600.000 pessoas

em toda Europa. Com uma taxa de

crescimento que se aproxima a 5% por ano, a

indústria ambiental ocupa o oitavo lugar na

classificação dos setores econômicos da

Comunidade.

A Alemanha é de longe o mercado mais

importante no setor de produtos e de serviços

para a proteção ambiental. Dos 47 bilhões de

ECU investido em 1990 nos países da CEE,

36% foi investido na Alemanha. Deve ser

mencionado que uma quota massiva dos

investimentos foi destinada ao setor hídrico,

ao tratamento das águas de esgoto e dos

resíduos.

Enquanto o setor privado emprega a maior

parte de tais investimentos na preservação

ambiental, perfeiçoando soluções voltadas à

melhora da qualidade das emissões de gás na

atmosfera, o setor público investe

principalmente em equipamentos e

implantações de tratamento das águas.

Um potencial de crescimento muito elevado

foi constatado nos países da Comunidade

Europeia, que até então tinham a tendência de

ignorar os problemas ambientais. Em setores

específicos como o de eliminação de resíduos,

o de descontaminação dos solos e o de

serviços (engenharia, consultoria ambiental)

se prevê um crescimento mais acentuado.

A incineração não basta mais para resolver o

problema da eliminação de resíduos. Os

resíduos da incineração devem por sua vez ser

submetidos a tratamentos adequados antes de

serem reciclados ou confinados em aterros.

Investimentos

no setor

ambiental (€)

feitos pelo

setor público,

industrial e de

produtos

especializados.

Investimentos no meio ambiente por setor econômico

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Até o final dos anos oitenta os investimentos

realizados no campo da preservação ambiental

provinham essencialmente do setor público e

eram sujeitos a normas e decretos. Desde

então o setor privado entendeu que era de seu

interesse estar a par das normas de

preservação ambiental e até mesmo antecipá-

las. Além disso, grupos industriais cada vez

mais numerosos se renderam conta que a

imagem de uma empresa respeitosa com o

meio ambiente pode favorecer notavelmente

as perspectivas de crescimento. Basta pensar

em quantos produtos para limpeza de casa

sem fosfato e biodegradáveis são publicitados

por dia.

Porém, essa nova estratégia de marketing

constringiu a sociedade a investir grandes

somas na pesquisa e no desenvolvimento.

Para as grandes multinacionais tais custos

podem absorver até 8% do faturamento anual,

razão pela qual foram aperfeiçoados novos

produtos e tecnologias para a proteção

ambiental, com ótimas perspectivas de

crescimento.

Uma das conclusões que podem ser obtidas

desse fenômeno é que, visto a importância do

R&D (pesquisa e desenvolvimento), as

pequenas empresas possuem poucas

possibilidades de crescer nesses novos

mercados. Atraídas por tais perspectivas,

pequenas empresas e estúdios profissionais de

engenharia lançaram-se em grande número na

elaboração e na projetação de novos processos

de incineração de resíduos ou de depuração de

fumaça. Mas por falta de fundos a serem

destinados, por exemplo, à construção de

implantações piloto, não conseguiram

comercializar os seus produtos.

6.2 Custos da incineração de resíduos

Hoje em dia deixar as implantações de

incineração de resíduos conforme as novas

normas de preservação ambiental

(principalmente do ar) significa ter que

investir grandes somas essencialmente na

construção das seções de depuração de

fumaça.

As despesas com os investimentos necessários

à construção de uma implantação de

incineração de resíduos urbanos superam em

muito a renda proveniente da venda do calor

fornecido pelos resíduos. A flexibilidade é um

elemento-chave na eliminação de resíduos. O

investimento dependerá fundamentalmente

dos seguintes fatores:

Exigências impostas pelas normas de

preservação ambiental no país

interessado.

A evolução das normas tem um impacto

direto na complexidade das

implantações;

Grau de separação do fluxo de materiais

desejado. Quando o objetivo é minimizar

a quantidade de escória produzida e

maximizar a quantidade de produtos

reciclados, o investimento é ainda mais

substancial;

Níveis de praticidade e confiabilidade

operacional desejados. A abundância de

equipamentos e a extrema praticidade de

uso dos instrumentos de controle e de

comando incidem negativamente no

custo final;

Medidas para a inserção ideal da

implantação no ambiente circundante.

Muitas vezes não se trata apenas de

cuidar do aspecto arquitetônico, mas

também de isolar acusticamente os locais

e impedir a saída de odores.

Dadas as tecnologias disponíveis atualmente e

as normas em vigor, é necessário prever em

média um investimento de 150 milhões de

ECU (excluso o preço do terreno) para a

construção de uma implantação de

incineração de resíduos com uma capacidade

de 100.000 toneladas por ano, logo com

competência para atender 200.000 habitantes.

Por motivos técnicos, construir somente uma

implantação de incineração de resíduos

grande é menos oneroso que construir

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diversas implantações pequenas. Nas zonas de

menor densidade populacional será necessária

uma cooperação entre cidades de

comunidades circundantes. Atualmente não é

mais tendência na Europa construir uma

implantação de incineração de resíduos para

cada cidade, mas sim para cada centro

regional, com capacidade de até 400.000

toneladas de resíduos por ano.

Atividade (% do custo total)

Obras civis 10-25

Forno-caldeira +

equipamentos térmicos 30-40

Depuração da fumaça 20-40

Tratamento dos resíduos 10-25

Instrumentos elétricos, de

controle e de comando 10-20

Os custos totais de operação e de manutenção

podem chegar a 150 ECU por tonelada de

resíduo tratado.

Internacionalmente está-se constatando que os

países com carência de terrenos a serem

destinados a aterros recorrem cada vez mais à

técnica da incineração. Enquanto na CEE

(Comunidade Econômica Europeia) em média

é incinerado 20% dos resíduos sólidos

urbanos, no Japão e na Suíça esse valor supera

os 70%.

Alguns países da Comunidade Europeia

impuseram há pouco tempo os valores limite

de emissões para as implantações de

incineração de resíduos. Das 535

implantações de incineração instaladas na

Europa, apenas 15% possuiu seções de

depuração de fumaça de elevado desempenho.

A maior parte dessas implantações dispõe

apenas de aparelhos de retirada de poeira e

cerca de 20% não possui seção de depuração.

A necessidade de modernizar as implantações

de incineração de resíduos, dotando-as de

seções de depuração de fumaça, exige um

volume de investimento que chega a vários

bilhões de ECU.

Alocação indicativa,

para os gastos

principais, dos

investimentos totais

(excluso o terreno)

necessários para a

construção de uma

implantação de

incineração de

resíduos.

Fonte: Eurostat, Estatísticas de resíduos

Tratamento de resíduos urbanos, por tipo e método de tratamento

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7 Perigos potenciais e tipos de acidentes

Consideradas por tanto tempo uma fonte de

poluição, porque constituídas apenas de um

forno e de uma chaminé, hoje as implantações

de incineração de resíduos são bem aceitas

pela população na maior parte dos países.

Mas, para atingir tal resultado, os construtores

tiveram que investir grandes somas na

pesquisa de novos processos e produtos

compatíveis com os requisitos cada vez mais

rígidos impostos pelas normas contra a

poluição.

O emprego de novas tecnologias relacionadas

a diversas disciplinas, como a química, a

termodinâmica e a ciência das construções,

levou a um constante agravamento do risco

para as seguradoras.

7.1 Perigos na fase de construção,

montagem e operação

Principais perigos durante a construção e a

montagem

Problemas durante o transporte e

acidentes durante a descarga in situ de

alguns elementos de grandes dimensões;

Elevada concentração de substâncias

inflamáveis no canteiro; as medidas anti-

incêndio frequentemente se revelam

insuficientes, e as vezes nem existem;

Insuficiência de medidas anticorrosivas e

de proteção contra as ocorrências naturais

dos materiais em estoque no canteiro e

armazenados em depósitos provisórios;

Catástrofes naturais, em particular

tempestades, em fase de montagem

durante a instalação dos reatores e de

suas estruturas de sustentação.

Principais perigos logo após a implantação

e durante o funcionamento

Carência de água na caldeira, devido

perdas, erro humano, ou erro no sistema

de comando

Explosão da caldeira

Incêndio na seção de depuração da

fumaça, com consequentes danos

causados pela fumaça ácida nas partes

restantes da implantação

Incêndio na fossa de acúmulo e na

tremonha de alimentação, nos condutos

de cabos, na sala de comandos e nos

transformadores

Rotura dos condutos de vapor e de outros

fluidos ácidos, que podem provocar

danos às pessoas

Saída de substâncias inflamáveis em fase

liquida ou gasosa e de fluidos de

processo como combustíveis, óleo

lubrificante e amoníaco proveniente da

instalação de desnitrificação.

Implantação de

incineração de resíduos

em La Rochelle

(França). Na fase de

montagem para ser

colocada em operação,

os equipamentos estão

mais expostos à ação

da chuva e do vento.

Interno de uma câmara

de pós-combustão de

um forno rotativo para

a incineração de

resíduos especiais. A

regularização de

sinistros relacionados

com a parede refratária

frequentemente

comporta dificuldades

para as seguradoras de

riscos tecnológicos.

23

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70

Implantação de

incineração de resíduos

no Sudoeste de

Finistère (França). As

operações de

montagem das

instalações têm inicio

muito antes do final das

obras civis.

Bombas das diversas

etapas de uma torre de

lavagem de fumaça. A

maior parte dos

equipamentos é um

material sintético

inflamável, o que

representa mais um

risco em caso de

incêndio.

24

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71

Incêndio, que é uma ameaça para o meio

ambiente e para as adjacências da

implantação, graças à agua contaminada

usada para extinção do fogo e à fumaça

carregada de poluidores;

Gelo, por exemplo, da caldeira, do

revestimento refratário, dos condutores

de água e do vapor (principalmente no

começo, quando as instalações ainda não

funcionam continuamente);

Erro de comando e/ou de manobra

devido à inexperiência dos funcionários;

Anomalias de funcionamento que se

prolongam por meses, até mesmo por

anos, devidas a incêndios ou a destruição

total de uma máquina importante.

Perigos ligados ao grau de complexidade

técnica de implantações protótipo

Erro de projeto ou de fabricação, defeito

de material (perigos acentuados pela

rápida evolução dos processos e das

tecnologias)

Erros de montagem de novas

implantações (devidos geralmente aos

breves prazos para a realização dos

trabalhos e ao limitado espaço à

disposição)

Dificuldade em estabelecer os limites

entre risco empresarial e risco segurável.

25

Perigos diversos

Fraude, sabotagem, greve, motins,

tumultos populares (em algumas zonas as

implantações de incineração de resíduos

ainda são mal vistos pela população)

Calamidades naturais (terremotos,

inundações, tempestades, etc.)

Acidentes de responsabilidade civil;

poluição, danos às pessoas, danos aos

materiais, danos patrimoniais

Notável atraso para colocar em

funcionamento industrial por causa de

um acidente ocorrido na última fase de

montagem ou durante os ensaios. No

caso de seguro ALOP, o dano pode

chegar a dezenas de milhões de ECU.

Implantação de

incineração de resíduos

em Frankfurt: a

construção de

complexos industriais

nos centros habitados

pode causar acidentes

de todos os tipos.

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7.2 Perigos ligados ao processo

7.2.1 Emprego e manipulação de produtos

sólidos

O tratamento e o emprego de materiais sólidos

durante os processos colocam dificuldades

técnicas, já que tais materiais podem provocar

abrasões e obstruções quando absorvem

umidade. Em forma de poeira podem causar

explosões. Nas implantações de incineração é

tratada e manipulada uma grande variedade de

materiais sólidos como cinzas, gesso, escórias,

lodos, carvão ativado, painéis de filtros-prensa

de elevada toxidade, etc.

7.2.2 Substâncias e ambientes corrosivos

A fumaça produzida durante a combustão de

resíduos contem substâncias ácidas em estado

gasoso como o HCl e o SO2: quando sua

temperatura atinge o ponto de condensação

desses ácidos (aproximadamente 150º C), eles

ficam altamente corrosivos. Isso significa que

todas as seções da implantação que entram em

contato com a fumaça na saída da caldeira

devem ser mantidas a uma temperatura

inferior a 150º C, ou então devem ser munidas

de um revestimento anticorrosivo. Nas

implantações dotadas de um sistema de

lavagem da fumaça a úmido acontece a reação

dos ácidos da fumaça com a água de lavagem,

por isso toda a seção de tratamento das águas

de lavagem é realizada exclusivamente com

materiais plásticos como o PE e o PP.

Corrosão devido a presença de gás de

combustão na fornalha

Durante a incineração de resíduos não é

sempre fácil assegurar uma combustão a

100ºC em toda a fornalha. Se o tempo de

permanência dos materiais orgânicos for

insuficiente, se insuficiente for a concentração

de oxigênio e se a temperatura exigida não

puder ser atingida, podem ser criadas zonas de

falta de oxigênio, com consequente formação

de monóxido de carbono.

A experiência ensina que uma atmosfera

pobre em oxigênio pode alterar as paredes dos

tubos da caldeira. O estrato de proteção não se

forma nos tubos, quando é atacado por gases

de combustão que contêm CO. Além da

presença de substâncias agressivas nos gases,

como cloretos, sulfatos, e sulfuretos,

começam processos de corrosão que destroem

os tubos de aço em um piscar de olhos.

Corrosão a elevada

temperatura

Corrosão por

umidade

Temperatura das paredes dos tubos (º C)

Ris

co d

e co

rro

são

Curva de corrosão dos

tubos da caldeira

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73

26

As grelhas de incineração das implantações de

incineração de resíduos são expostas a fortes

solicitações térmicas e químicas. Os materiais

plásticos, cuja taxa na composição dos

resíduos é crescente, representam para as

grelhas mais uma fonte de solicitação, tanto

térmica quanto mecânica. A elevada

concentração de materiais sintéticos nos

resíduos provoca aumentos localizados de

temperatura no interior do estrato de resíduos.

Consequentemente, o cobre, o chumbo e o

alumínio contidos em alguns tipos de resíduos

fundem e penetram nos canais de

resfriamento, onde se solidificam. O ar de

resfriamento não pode circular e as barras da

grelha sofrem danos pelo calor excessivo. O

estrato de resíduos na grelha influi de dois

modos na duração da vida útil da grelha de

combustão, protegendo-a da radiação e

servindo de blindagem para o ar de combustão

que assegura o esfriamento da grelha. Uma

condução ruim da instalação causa a formação

de furos no leito de resíduos, com a

consequente destruição localizada das barras

da grelha por corrosão a alta temperatura.

Corrosão devida aos gases de combustão ao

lado externo da fornalha

Os gases de combustão agressivos

provenientes da fornalha podem, no caso de

sobrepressão na seção de depuração de

fumaça, originar sérios danos de corrosão, se

escapam graças a fissuras ou a defeitos de

impermeabilização da fornalha. No ar aberto

tais gases se condensam esfriando e produzem

ácidos que agridem o meio ambiente.

Logo, os condutos de fumaça em sobrepressão

devem imperativamente ser soldados para que

sejam impermeáveis aos gases. Desse modo

evitam-se fugas de gás durante a incineração.

Corrosão na seção de depuração da fumaça

Os riscos de corrosão são vários e dependem

do método utilizado:

Seção de tratamento da fumaça baseada no

processo por via seca ou semi seca:

Nesses equipamentos os incidentes são

imputáveis no emprego da cal.

Reações químicas indesejáveis, problemas de

dosagem da cal e da cal reciclada, problemas

com os dispositivos de purga podem causar

danos como o superaquecimento das mangas

do filtro, a corrosão do sistema ou a fratura

mecânica dos parafusos sem fim e dos

dispositivos de purga da cal usada.

Corrosão ácida das

paredes externas de

uma chaminé. Tais

danos podem surgir

quando, graças a

problemas técnicos, o

sistema de depuração

de fumaça não

funciona perfeitamente.

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74

No caso do processo a seco, por exemplo, que

consiste em colocar a fumaça a ser depurada

em contato com cal apagada (Ca(HO)2) de

fina granulometria, tem-se a seguinte equação:

2 HCl + Ca (OH)2 > Ca Cl2 + 2 H2O

Em teoria uma molécula de cal se liga com

duas moléculas de ácido clorídrico e forma

uma molécula de cloreto de cálcio e de água.

O cloreto de cálcio formado dessa forma

absorve muita água (presente na fumaça e

produzida também pela reação) e, se a

temperatura da fumaça desce abaixo dos 90ºC,

pode ficar deliquescente e provocar

condensações. Tal fenômeno causa a

formação de colagens e compromete a

formação do produto reciclado,

principalmente durante os acionamentos, as

paradas e as desacelerações da instalação.

Seção de tratamento dos gases por via úmida:

Para evitar fenômenos de corrosão, as paredes

internas da torre de lavagem e as outras partes

da seção são revestidas de borracha ou de

ebonite. O revestimento de proteção é

frequentemente atravessado por vapor de água

com ácidos, o que leva à formação de

corrosões alveolares atrás do revestimento:

essas, por sua vez, causam formações de

bolhas e corrosão na profundidade da parede

do revestimento metálico. São várias as

causas da formação de bolhas: defeitos de

fabricação, diferenças de temperatura entre a

parede interna e a parede externa do reator,

influxos químicos, reparações efetuadas no

local em condições ruins.

Os danos imputáveis à corrosão também

podem ser verificados na zona dos gases

quentes, onde é impossível revestir as paredes

internas de borracha, ou então na zona da

fumaça depurada, na qual por sua vez não é

aplicado nenhum revestimento anticorrosivo.

Já se sabe que os gases produzidos na

combustão de resíduos, além do vapor de

água, contêm substâncias agressivas capazes

de se condensar, como o HCl e o SO2,

altamente corrosivos.

O ponto de orvalho dos gases está em um

intervalo que vai de 150º a 340º C. A

experiência mostrou que em certas misturas

de gás, mesmo a elevadas temperaturas, pode

acontecer que o ponto de orvalho seja inferior

ao limite normal e consequentemente que a

corrosão se estenda.

7.2.3 Altas pressões

Segundo as normas em vigor na maior parte

dos países industrializados, as implantações

de incineração podem receber a licença de

construção com a condição que seja efetuada

uma recuperação energética. Por esse motivo,

todas as novas implantações são dotadas de

uma caldeira de recuperação que funciona

principalmente com vapor superaquecido a

uma pressão entre 30 e 60 bar. Tais

implantações são consideradas verdadeiras

centrais térmicas de cogeração, cuja potência

total pode chegar a 300MW.

7.2.4 Máquinas de rotação

Nas implantações de incineração existe uma

grande quantidade de máquinas de rotação. As

mais importantes e mais delicadas são sem

dúvida os ventiladores de tiragem induzida e a

turbina a vapor. Não podem ser esquecidas as

bombas de alimentação da caldeira que,

apesar de pequenas dimensões, são essenciais

para o funcionamento da implantação.

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75

Os ventiladores de tiragem induzida

geralmente são colocados à jusante da seção

de tratamento da fumaça, já que é preferível

manter a seção em ligeira depressão para

evitar incidentes e fenômenos de corrosão

externa, no caso de fuga de gás de um conduto

ou da torre de lavagem. Logo, o ventilador

opera em atmosfera úmida porque os gases

que saem da torre de lavagem vêm saturados

de água. Todas as partes que entram em

contato com os gases são, consequentemente,

completamente revestidas de ebonite. O

dimensionamento e a construção desses

ventiladores exigem notável competência. A

aplicação do revestimento em ebonite impõe,

por exemplo, que a velocidade de rotação da

hélice seja limitada. Os sinistros mais

frequentes são: corrosão do caixilho de

sustentação e danos ao revestimento causados

por corpos estranhos transportados pela

fumaça, e destruição das pás provocada por

fortes vibrações (quando a seção de depuração

de fumaça dá resultados medíocres, formam-

se depósitos de poeira sobre o ventilador que

provocam vibrações).

7.2.5 Incêndio e explosão

A experiência nos ensina que incêndios e

explosões são de longe as principais causas de

acidentes nas implantações de incineração de

resíduos. Elencamos a seguir as mais

marcantes.

Incêndios na fossa de acúmulo

O estoque de resíduos na fossa constitui um

potencial perigo. Da cabine do carro-

guindaste pode-se manter sob controle a fossa

e individuar tempestivamente um incêndio

apenas se avista fumaça. Mas quando começa

um incêndio, em poucos minutos se difunde

uma fumaça espessa que só pode ser apagada

alagando-se a fossa. Tal solução não é

apreciada pelos gestores, já que causa a

paralisação da implantação por diversos dias.

Incêndios na tremonha de alimentação do

forno

É principalmente nas implantações de

pequenas dimensões que o incêndio pode

propagar-se mais facilmente da fornalha à

tremonha de alimentação do forno. Isso ocorre

sobretudo no começo da operação, quando o

canal de alimentação permanece meio vazio,

ou então durante as primeiras provas de carga,

se o alimentador não está funcionando

perfeitamente.

Incêndios na seção de lavagem dos gases de

combustão

No passado foram verificados numerosos

incêndios originados dos materiais plásticos,

revestimentos, materiais revestidos de

borracha e outros materiais facilmente

inflamáveis.

Recomenda-se a máxima atenção durante as

operações de montagem e de manutenção, já

que diversas seções de depuração de fumaça

baseadas no processo por via úmida são

revestidas internamente de materiais

inflamáveis. Em uma das etapas da torre de

lavagem são previstos enchimentos plásticos

que podem pegar fogo facilmente, por causa,

por exemplo, das cintilas da soldagem, de um

radiador, ou mesmo de uma iluminação

defeituosa no canteiro.

Explosões devidas à trituração dos resíduos

volumosos

Incêndios e explosões podem ser verificados

mesmo no decorrer da trituração dos resíduos

volumosos. Certos materiais contidos nos

resíduos, como as bombas de gás, os

atomizadores, etc., podem desencadear

explosões e incêndios na seção de trituração

dos resíduos volumosos ou na câmara de

combustão.

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76

7.3 Tipos de danos

Danos potenciais aos tubos da caldeira a

vapor nas implantações de incineração de

resíduos

Os gases de combustão transportam

particulados sólidos finíssimos em grande

quantidade. Os tubos dos pré-aquecedores,

dos aquecedores e dos evaporadores,

perpendiculares ao fluxo dos gases, são

sujeitos a uma erosão mais ou menos intensa

(comparável a um jateamento com areia fina).

A intensidade da agressão depende

essencialmente da natureza do particulado

sólido e da velocidade dos gases de

combustão.

Não raramente se revelam danos aos tubos de

uma caldeira a vapor em uma unidade de

tratamento dos resíduos. Durante uma fuga de

gases, um volume considerável de vapor de

água se difunde muito rapidamente na

caldeira, causando danos ao material refratário

na câmara de combustão.

O problema mais grave, nesse caso, é que

causa falha no resfriamento dos tubos da

câmara de combustão. Como o resfriamento

mediante a realimentação com água somente

pode ser efetuado em determinadas condições,

e a extinção da fornalha emprega de 15 a 30

minutos, os tubos são sujeitos a uma carga

térmica muito elevada. Na maior parte das

vezes, o superaquecimento provoca uma

deformação de notável dimensão nos tubos

não resfriados que constituem as paredes da

primeira via da caldeira.

De um dano ocorrido na caldeira de uma

implantação de incineração de resíduos pode-

se remontar a dinâmica dos danos (corrosão

dos tubos da câmara de combustão por causa

dos gases a alta temperatura, erosão dos tubos

do evaporador) e constatar suas consequências

desastrosas. Nesses casos não basta

simplesmente substituir os tubos danificados,

mas é necessário também arcar com as

despesas relativas à estocagem temporária, ao

transporte e à incineração dos resíduos sólidos

urbanos em outro local durante os reparos,

sem contar as perdas de lucros relativos à

venda de vapor, de água quente ou de

eletricidade.

Deterioração dos tubos dos aquecedores na

caldeira de recuperação de duas vias

(implantação de incineração de resíduos de

Berna)

Os tubos cuja parede é diretamente exposta

aos gases de combustão sofreram uma erosão

que os perfurou. Do exame metalográfico e da

análise das deposições formadas nos tubos,

descobriu-se que o desgaste era fruto de uma

corrosão ácida (corrosão devida ao ponto de

orvalho dos gases ácidos). A deterioração dos

tubos, e mais precisamente o considerável

desgaste das suas paredes, é decorrente da

interação de dois fenômenos de agressão, ou

seja, a corrosão causada pelo ácido sulfúrico,

e uma erosão que provocou o desgaste do

estrato superficial dos depósitos de corrosão,

de modo que a parede do tubo se encontrou

novamente exposta à ação corrosiva.

Muro refratário

(cimento aplicado com

o método gunning)

danificado nas paredes

da câmara de

combustão, formada

pelos tubos da caldeira.

27

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77

Um processo de corrosão desse tipo pode ser

verificado somente se a temperatura é inferior

ao ponto de orvalho do ácido sulfúrico.

Teoricamente, o ponto de orvalho dos gases

que contêm vapor de água e ácido sulfúrico

está entre 100º C (ponto de orvalho do vapor

de água) e 340º C (ponto de orvalho do ácido

sulfúrico puro). A quantidade relativamente

elevada de sulfatos presentes nos gases indica

uma forte concentração de ácidos e, nesse

caso, pode-se supor que a temperatura da

parede dos tubos esteja entre 250º e 300º C.

Temperaturas tão baixas não são usuais no

último pedaço da segunda via.

Na câmara de combustão os tubos sem

proteção sofrem oxidação e grande corrosão.

A espessura de suas paredes se reduz cerca de

1mm por mês. Por esse motivo, é necessário

controlar regularmente (a cada 3/6 meses) que

a matéria refratária se mantenha intacta,

medida de prevenção importante e eficaz.

Todavia, nem sempre é fácil individuar as

zonas danificadas, por causa das incrustações

causadas pelo depósito de fuligem e de

escórias incandescentes. Os danos constatados

devem ser prontamente reparados por

especialistas.

Muro refratário

(cimento aplicado com

método gunning)

danificado em paredes

da câmara de

combustão, formada

por tubos da caldeira.

Tubos corroídos por

feixes aquecedores de

uma caldeira. Os tubos

não protegidos do

muro refratário são

diretamente expostos à

ação corrosiva e

abrasiva dos gases de

combustão.

28

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8 Asseguração dos riscos tecnológicos ligados à construção e ao funcionamento de uma implantação de eliminação de resíduos

Nos últimos anos o problema da gestão e da

eliminação de resíduos com baixo impacto

ambiental transformou-se cada vez mais em

motivo de interesse para a população dos

países industrializados, e esse fenômeno sem

dúvida tem seus pontos positivos.

Nos capítulos precedentes tentamos

demonstrar que é possível, hoje em dia,

realizar eficazes sistemas de gestão e de

incineração de resíduos urbanos respeitando

plenamente o meio ambiente. Isso significa

que todas as partes envolvidas (entidades

públicas, famílias, forças industriais e

econômicas) devem estar prontas para dar a

sua contribuição.

Nesse contexto, a indústria de seguros sempre

se empenhou para dar seu apoio à sociedade,

mas principalmente a seus clientes industriais,

quando se tratava de cobrir e gerir riscos de

todos os tipos. Os projetos de construção de

novas implantações de incineração de

resíduos são extremamente complexos, já que

compreendem múltiplas disciplinas e têm

implicações econômicas e políticas relevantes.

Para poder satisfazer plenamente os requisitos

cada vez mais rígidos impostos pelas normas

de preservação ambiental, as empresas devem

enfrentar numerosos problemas.

As seguradoras, por sua vez, devem ser

capazes de acompanhar seus clientes no

desenvolvimento de novos produtos,

propondo condições de seguro ideais às suas

exigências, mas sempre no limite da

segurabilidade.

Nesse capitulo fornecemos a quem assina a

apólice diversas questões para a análise das

atividades ligadas à construção e ao

funcionamento de uma implantação de

eliminação de resíduos. Para mais

informações sobre seguros de riscos

tecnológicos recomendamos outras

publicações especializadas da Swiss

Reinsurance Company.

8.1 Principais coberturas de seguro de

riscos tecnológicos

As seguradoras de riscos tecnológicos mais

utilizadas no setor de instalações ambientais

podem ser subdivididas em duas categorias

bem distintas, ou seja:

Seguradoras de danos inerentes às fases

precedentes ao funcionamento das instalações.

Todos os riscos da construção das obras

civis (CAR)

Todos os riscos de montagem (EAR)

Advanced Loss Of Profit (ALOP)*

Máquinas, estruturas provisórias e

equipamentos de canteiro

Coberturas para danos em fase de

funcionamento.

Quebras de máquinas (QM)

Danos da interrupção do funcionamento,

causada por falhas de máquinas

Seguro de todos os riscos de informática

(EDPE)

Em alguns países é possível estipular

uma apólice Boiler Explosion, que na

Itália entra no departamento “Guasti

Macchine”

8.2 Etapas importantes na construção de

uma implantação de incineração de

resíduos

As várias fases da construção de uma

implantação de incineração de resíduos em

geral têm sido objeto de um contrato chave na

mão, estipulado entre o cliente, que

normalmente é representado por um grupo

interkantonale (na Suíça), por uma associação

intermunicipal, pelo administrador municipal

de uma cidade importante, etc. – em raros

casos trata-se de um investidor privado – e

Seguro de riscos tecnológicos ligados à construção e ao funcionamento de uma

implantação de incineração de resíduos

* a ser combinada com uma apólice CAR ou com uma EAR.

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80

uma empresa principal. Os trabalhos de

construção, de startup e de funcionamento

comportam riscos de natureza variada mais ou

menos importantes. As operações

mencionadas acima envolvem uma

pluralidade de categorias profissionais e

empresas, como:

Estúdios profissionais de engenharia

Arquitetos

Órgãos de controle

Empresas reunidas em um consórcio

Empresa principal que recorre a

subcontratados que, por sua vez, se

apoiam em outros subcontratados e a

fornecedores

É indispensável que os contratantes do seguro

(o comitente ou a empresa principal, o gestor

da implantação), disponham de uma cobertura

do seguro que satisfaça suas exigências

durante todas as fases de construção e de

funcionamento. O risco tecnológico é

frequentemente parte integrante de todo o

risco, mas isso não exclui que sejam

considerados também outros perigos, como os

incêndios, os eventos naturais e a

responsabilidade civil.

8.2.1 Obras civis

Movimentos de terra, infraestrutura

externa e obras de fundação

A implantação do canteiro e os movimentos

de terra começam depois que a ordem de

serviço foi feita por escrito ao diretor

encarregado dos trabalhos. Normalmente uma

nova implantação de incineração é construída

em periferia, em um terreno industrial pouco

valorizado (antigo aterro, zona pantanosa,

Seguro de riscos

tecnológicos

durante as fases de

construção e de

funcionamento de

uma implantação de

incineração de

resíduos.

Manutenção Testes

Seguro contra danos acontecidos antes do

funcionamento

- Todos os riscos de construção das obras

civis

- Todos os riscos de montagem

- Máquinas, estruturas temporárias e

equipamentos de canteiro

- ALOP

Ramos separados

-Transportes

- RC

Seguro contra danos durante a

operação

- Falhas de máquinas

- Danos da interrupção do

funcionamento, causada pela falha

de máquinas

- Todos os riscos de informática

- Explosão do boiler

Val

or

Duração em anos

1 ou 2

anos

Atividades

Ordem de serviço / Licença de construção

Obras civis

Montagem de equipamentos

Certificado de conclusão dos serviços

Startup / Testes

Colocação em funcionamento semi industrial

Verificações finais

Entrega provisória (com reservas)

Período de garantia

Entrega definitiva (sem reservas)

Obras e montagem

Montagem

Tes

tes

Manutenção

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81

etc.), o que torna necessário a compactação do

solo ou a colocação de fundações em estacas

cravadas por batimento ou por vibração, com

o objetivo de garantir uma perfeita

distribuição das cargas e uma boa estabilidade

da construção.

A fossa de acúmulo, cujo volume pode chegar

a 20.000 m³, normalmente é escavada abaixo

do nível do solo, onde não raramente

encontram-se lençóis freáticos. A

impermeabilização da fossa, operação que na

fase de construção não impõe grandes

dificuldades, pode revelar-se um problema no

caso da apólice Decenal Póstuma.

Típica desse tipo de construção é a tendência

cada vez mais difusa no mundo de impor a

impermeabilização do local, para evitar

problemas de poluição dos solos, dos rios e

das águas subterrâneas. Por esse motivo, as

redes de coleta de água das chuvas, de

resíduos e de águas de combate a incêndio

devem ser ligadas a um reservatório modelo

“Schweizerhalle”.

As implantações de incineração de resíduos

geram um tráfico intenso. Além das vias na

área interna da implantação (pistas, área de

estacionamento, rampa de acesso à zona de

descarga, zona de manobra para os

caminhões, etc.), é necessário construir ou

readaptar o sistema viário de acesso às

implantações de incineração.

O edifício

Podem ser individuadas duas tendências:

A primeira diz respeito às implantações de

incineração de resíduos construídas fora da

cidade. Nesse caso, o edifício é de simples

concepção e se reduz a um local forno-

caldeira, uma sala de comandos e alguns

locais administrativos e de uso comum

(escritórios, salas de reunião, armários,

oficinas, refeitório, etc.). As seções de

depuração de fumaça e de tratamento de

resíduos são deixadas a céu aberto. A obra é

realizada em concreto armado e estende-se em

um ou dois andares, enquanto o resto é em

estrutura metálica, com painéis de

revestimento.

A projetação de implantações de incineração

de resíduos em proximidade de centros

habitados é radicalmente diferente e seu custo

pode superar 25% do custo total da

implantação. Todos os equipamentos são

colocados dentro do edifício, que é uma

construção maciça impermeabilizada,

completamente realizada em concreto armado,

de modo que contenha odores e barulhos.

Geralmente, procura-se cuidar mais do

aspecto arquitetônico, para facilitar a inserção

adequada da implantação no bairro. Tais

vínculos influenciam de certa maneira o

andamento das atividades no canteiro, em

primeiro lugar porque os serviços de

construção são mais lentos, chegam a

coincidir com as operações de montagem dos

equipamentos, e em segundo lugar porque

podem surgir dificuldades durante a instalação

e a disposição de componentes de grandes

dimensões como a caldeira de ebulição e as

máquinas volumosas.

Esse modelo de projetação pode revelar-se

inadequado também em caso de dano grave, já

que complica ulteriormente o acesso de certos

aparelhos e sua desmontagem e remontagem,

com consequente aumento da duração de

reparos, e consequentemente do custo total do

sinistro. Outro aspecto negativo para uma

seguradora são as proporções catastróficas

que poderia assumir um incêndio iniciado

dentro do edifício: a fumaça poluidora e

corrosiva provocaria grandes danos a boa

parte dos equipamentos.

Normalmente as obras civis se prolongam até

a entrega provisória da implantação. Apesar

de grande parte das obras já ter acabado

quando se iniciam as operações de montagem

dos equipamentos, as obras de pintura,

instalação de caixilhos metálicos e a

construção da infraestrutura externa

prosseguem até o final dos trabalhos de

canteiro.

Muro refratário

(cimento aplicado com

o método gunning)

danificado nas paredes

da câmara de

combustão, formada

pelos tubos da caldeira.

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82

8.2.2 Montagem dos equipamentos

Quando as obras civis de uma implantação de

incineração de resíduos não impõe problemas

de natureza excepcional, é permitido começar

as operações de montagem dos equipamentos

por volta de doze meses após a abertura do

canteiro.

Em geral começa-se com a estrutura metálica

forno-caldeira no nível do solo. Uma vez

montada, a caldeira forma, junto com o forno,

um único elemento que é também o mais

pesado e volumoso de toda implantação (pode

facilmente chegar a 30 metros de altura). O

transporte ao local do forno-caldeira e de

outros equipamentos essenciais à implantação

(reatores, filtros, condensadores de ar, etc.) é

efetuado por pedaços em grandes comboios.

Analogamente, as operações de

movimentação (descarga, levantamento,

organização) exigem meios de levantamento

de grandes dimensões.

Com a finalidade de reduzir a área de

superfície da implantação e, portanto, os

custos, a seção de depuração de fumaça pode

não ser instalada na cota do solo, no trecho de

extensão da linha de incineração, mas em uma

plataforma do edifício. Essa escolha pode

comportar um leve agravamento do risco a ser

coberto. Todos os riscos de montagem, da

fase de montagem durante o startup, os

reatores, os filtros e as chaminés são mais

expostos às fortes intempéries.

A fase terminal de montagem, na qual são

feitas todas as obras finais (colocação de

tubos, cabos elétricos, isolamento, passarelas

metálicas, pintura, etc.) pode empregar várias

centenas de operários no local, o que conduz

sem dúvida a um agravamento do risco da

responsabilidade civil. De fato, nessa fase não

faltam os acidentes de trabalho.

8.2.3 Startup dos equipamentos

O período entre o fim das operações de

montagem dos equipamentos e o momento da

aceitação da implantação por parte do

comitente é de uma enorme importância para

as seguradoras de riscos tecnológicos. No

caso da apólice “todos os riscos de

montagem” (EAR), a exposição de capital é

máxima já que a construção acabou. As

consequências de um incêndio, por exemplo,

podem ser desastrosas. Além disso, é nesse

período que são efetuadas as primeiras provas

de carga das máquinas e que logicamente

pode surgir à tona grande parte dos erros de

projetação, de montagem, vícios dos

materiais, etc. Se foi estipulada uma cobertura

ALOP, essa fase é crucial, já que a data de

vencimento da apólice coincide com a data de

entrega provisória da implantação.

Às vezes, mesmo aos subscritores de maior

experiência resulta difícil extrapolar das

cláusulas contratuais a duração exata das

várias operações a serem feitas durante essa

delicada fase.

Consideramos interessante reportar grande

parte das definições do CCTP (prescrições de

construção francesas) relativas a essas

atividades. Obviamente, existirão diferenças

entre países, mas no conjunto a sequência de

operações é muito similar.

Certificado de conclusão dos trabalhos

O adjudicatário comunica por escrito ao

comitente e ao diretor de trabalhos a data que

considera que os trabalhos serão concluídos,

com pré-aviso de pelo menos um mês da data

comunicada, e indica a sua aproximação,

mediante programa de previsão da semana, e

quantitativos de resíduos que prevê poder

receber durante a finalização da implantação.

O diretor de trabalhos procede com uma

inspeção dos equipamentos, com a intenção

de garantir a boa execução dos trabalhos e a

conformidade com o projeto, em oito dias a

contar a partir da data indicada pelo

adjudicatário.

No final da inspeção, o diretor de trabalhos

redige imediatamente um certificado de

conclusão dos trabalhos, que assinará junto

com o adjudicatário. O certificado menciona,

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83

se for o caso, as omissões, as imperfeições, e

os defeitos de execução constatados, os quais

o adjudicatário deve arrumar rapidamente.

Regularização da implantação

Entre os 15 dias da finalização dos trabalhos,

o adjudicatário dá inicio a regularização da

implantação, com aviso prévio por escrito ao

diretor dos trabalhos.

Durante a fase de regularização, pela

duração máxima de 2 meses, o adjudicatário

pode paralisar a implantação ou colocá-la em

marcha em diferentes regimes, com a

finalidade de efetuar as oportunas

regularizações e garantir que funcionem

perfeitamente. Todos os equipamentos são

submetidos a uma série de testes

preliminares. A execução dos testes é

confiada ao adjudicatário, que cobre também

seus respectivos custos. Os ensaios consentem

apurar que o funcionamento de todos os

equipamentos mecânicos, elétricos,

eletrônicos, térmicos e hidráulicos esteja

segundo as regras da arte, conforme as

respectivas normas e com as condições de

operação indicadas no contrato.

Mesmo o controle da eficiência dos diversos

tratamentos (marcha em capacidade nominal

e mínima dos fornos, eficiência da depuração

da fumaça, qualidade as escórias, etc.) cabe

ao construtor. De qualquer forma, a

colocação em funcionamento da implantação

deve acontecer ao final dessa fase.

Startup da implantação

Com o termo “startup” entende-se o

funcionamento da implantação em condições

normais de exercício, com a provisão regular

de resíduos da parte do comitente.

O objetivo do startup não é verificar o

rendimento da implantação, que será medido

ao longo dos testes para a entrega, mas

constatar que o funcionamento da

implantação não tenha defeitos mecânicos,

térmicos ou elétricos, nem problemas durante

o funcionamento.

Quando o adjudicatário considera que a

implantação está adequada para a colocação

em funcionamento industrial para a qual foi

concebida, comunica por escrito o comitente

e o diretor dos trabalhos a data de início da

colocação em funcionamento industrial.

Em 15 dias da data indicada acima e, exceto

em caso de objeção válida, o diretor dos

trabalhos deve ordenar a colocação em

funcionamento industrial. Logo, o diretor

deverá redigir rapidamente uma acta, que

assinará junto com o adjudicatário. A data de

inicio da colocação em funcionamento

coincide com a data da assinatura da acta.

A marcha em escala industrial tem uma

duração de dois meses, sempre que incluso

um tempo de funcionamento mínimo dos

equipamentos ou o tratamento de uma

quantidade mínima de resíduos estabelecida

pelo CCTP.

O adjudicatário fornece ao diretor dos

trabalhos os manuais de uso e de

manutenção, os projetos da implantação, bem

como os parâmetros de regularização e de

segurança.

Gestão da implantação até a entrega

Até a entrega, o adjudicatário supervisiona a

gestão da implantação segundo as seguintes

modalidades:

Cada regularização, reparação e

modificação necessária competem ao

adjudicatário, que se responsabiliza

também pelos gastos;

A energia, os fluídos, bem como os

materiais de processo são fornecidos

gratuitamente pelo comitente em

quantidades limitadas, adequadas às

necessidades da implantação, como

estabelecido pelo balanço preventivo de

funcionamento.

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84

Todavia, o adjudicatário responsável

pelo funcionamento deve assumir os

custos a partir da data em que o contrato

de funcionamento entra em vigor;

O adjudicatário é responsável pelo

pagamento do salário de seus

funcionários.

Ensaios de entrega

Os ensaios de entrega são efetuados ao final

do funcionamento em escala industrial.

O objetivo dos ensaios é constatar as

capacidades nominais e mínimas de

tratamento, a qualidade do tratamento, os

consumos e o rendimento dos diversos

equipamentos nas condições de marcha

industrial.

Os ensaios exigem a incineração em regime

contínuo, por determinado número de horas,

de um quantitativo de resíduos previamente

pesados, que se aproxime o máximo possível

das toneladas correspondentes à capacidade

nominal e mínima. O tipo, o número de

ensaios a serem realizados e a respectiva

tabela de marcha são acordados entre o

adjudicatário e o comitente, levando em

consideração as possibilidades e as

necessidades do funcionamento. Durante os

testes, o adjudicatário e os trabalhadores

asseguram o funcionamento da implantação.

Caso o comitente peça a intervenção de um

órgão de controle dos testes, deve arcar com

as respectivas despesas.

O fornecimento, a sistematização e a remoção

dos dispositivos provisórios necessários para

a execução dos testes mencionados cabem ao

comitente ou ao órgão de controle designado

por ele.

O comitente fornece gratuitamente os fluídos

e os materiais de processo necessários à

execução dos ensaios, em quantidades

limitadas às necessidades para o

funcionamento da implantação durante a

duração dos testes.

Caso os resultados dos ensaios causem

controvérsias, a execução de uma nova série

de ensaios deverá ser confiada a um órgão

autorizado por via oficial e designado para

tal escopo. Os custos relativos a esses últimos

testes serão responsabilidade da parte que,

segundo os resultados finais, estava errada.

A sequência das várias etapas que precedem

a entrega dos trabalhos pode ser sintetizada

da seguinte maneira:

O adjudicatário notifica o comitente e o

diretor dos trabalhos a data indicativa

do final dos trabalhos.

O adjudicatário indica a data exata do

final dos trabalhos.

O diretor dos trabalhos emite o

certificado de finalização dos trabalhos

Inicia a fase de regularização.

Pedido de colocação em funcionamento

em escala industrial da implantação da

parte do adjudicatário.

O diretor dos trabalhos faz uma acta de

colocação em funcionamento em escala

industrial.

Data do fim dos trabalhos1.

Final da colocação em escala industrial

e início dos ensaios para a entrega. Ao

final dos ensaios o comitente toma a

posse da obra e formaliza a data do final

dos trabalhos1 em conselho do diretor

dos trabalhos.

Passagem de propriedade da

implantação do adjudicatário ao

comitente.

Ensaios complementares de entrega, sem

reservas.

O final dos trabalhos não implica que foram

realizadas todas as obras de finalização, em

particular a criação de infraestruturas

externas (rede viária, espaços verdes, muros,

etc.) e os trabalhos cuja execução deve

preferivelmente acontecer depois de certos

ensaios (pintura, isolamentos, etc.).

1 A aceitação das obras é formalizada na data de início da

colocação em funcionamento em escala industrial.

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85

8.2.4 Funcionamento industrial

Ao final dos testes para a entrega, se os

resultados estiverem conforme os parâmetros

estabelecidos, acontece a passagem de

propriedade. Ao comitente e ao gestor cabe a

responsabilidade da gestão da implantação de

incineração de resíduos. Os trabalhadores

puderam adquirir formação profissional e

familiaridade com os equipamentos durante os

dois meses de funcionamento em escala

industrial, sob a responsabilidade do diretor

dos trabalhos.

O primeiro ano de funcionamento industrial é

delicado; em primeiro lugar porque as

máquinas não foram muito usadas e

frequentemente apresentam defeitos de

assentamento que prejudicam o andamento da

implantação, e em segundo lugar porque o

gestor ainda não adquiriu domínio completo

dos equipamentos.

Nessa fase, que na verdade corresponde ao

período de garantia previsto pelo adjudicatário

e seus subcontratados, esses últimos se

encontram regularmente no local para

obedecer suas obrigações contratuais, ou seja,

remediar eventuais vícios e defeitos,

regularizar processos e máquinas e fazer

reparos.

Tais intervenções de terceiros, reiteradas no

decorrer do funcionamento industrial da

implantação, constituem um adicional risco de

acidente (incêndio, explosão, falha de

máquinas, danos a pessoas, etc.).

8.3 Observações sobre riscos

empresariais

O risco empresarial é um fenômeno aleatório,

não suscetível a estimativas matemáticas, já

que está ligado a perigos inerentes ao risco

comercial.

Um dos princípios do nosso sistema

econômico estabelece que todos que exercem

uma atividade econômica devem cumprir, no

limite de suas possibilidades, as obrigações

decorrentes da própria atividade.

Esse tipo de responsabilidade não deve nem

pode ser transferida à seguradora. Compete,

portanto, ao empreendedor adotar todas as

medidas apropriadas para evitar que

aconteçam acidentes, mesmo que gere gastos

suplementares. A tarefa da seguradora é

assumir responsabilidades, dentro de limites

bem definidos, por danos que se verificam

graças a eventos súbitos, imprevisíveis e

aleatórios, apesar de todas as precauções

tomadas.

O risco empresarial é influenciado por fatores

subjetivos, como o espirito competitivo, a

procura de novos mercados, o

desenvolvimento de novos produtos, a

experiência no setor e a propensão a assumir

riscos financeiros ligados à prática de uma

nova atividade.

No ramo dos riscos tecnológicos, a expressão

“risco empresarial” é frequentemente

associada com “não assegurável”. Realmente

é muito difícil traçar uma linha de demarcação

entre o risco empresarial puro e os riscos

asseguráveis. A função da seguradora de

riscos tecnológicos consiste em ter isento o

segurado das consequências econômicas de

um dano material provocado por um evento

súbito e imprevisto, por um determinado

período de tempo. A seguradora não tem

capacidade – porque não faz parte de suas

funções – de satisfazer o pedido do

empreendedor que quiser se proteger das

repercussões financeiras de garantias

contratuais relativas às suas atividades.

Contudo, no setor da infraestrutura ambiental,

tal tipo de pedido não deve ser excluído.

A evolução repentina do modo de pensar e de

normas contra a poluição desencadeou, no

decorrer de uma década, um desenvolvimento

tecnológico notável. Enquanto nos anos

oitenta em muitos países as implantações de

incineração eram compostas apenas de um

forno, um filtro e uma chaminé, hoje são

construídas implantações de incineração de

resíduos baseadas em diversos processos

altamente tecnológicos, que permitem atingir

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o nível de emissão “zero”. Além das centrais

de cogeração alimentadas de biogás, as

implantações de triagem e reciclagem de

resíduos, os fornos de pirólise e a plasma

deveriam consentir a redução ao mínimo do

impacto ambiental.

Os empreendedores tiveram que fazer grandes

esforços para manter-se a par dessa

desenfreada corrida tecnológica. Aceitaram

contratos com garantias de rendimento que

não eram certos de poder cumprir. O tempo

necessário para o desenvolvimento de novos

processos ou equipamentos foram

drasticamente reduzidos. Muitos produtos

foram efetivamente testados apenas no

momento da colocação para funcionamento

industrial, com todos os riscos e imprevistos

do acaso!

O endurecimento das normas de preservação

ambiental e o aumento da concorrência

induzem o empreendedor a assumir novos e

cada vez maiores riscos. As normas estão

evoluindo, o que complica ulteriormente o

papel de construtores e investidores, e o

frequente aparecimento no mercado de

tecnologias revolucionárias aumenta a pressão

nos investidores.

Nessas arriscadas iniciativas, a seguradora que

concede uma cobertura “clássica”, ou com

alguma extensão da garantia, inevitavelmente

deve enfrentar os mesmos problemas que seu

cliente, ou seja, aceitar cobrir os riscos de

caráter inovador.

Entre os vários seguros de riscos tecnológicos,

tem certo número de casos limite que colocam

a seguradora frente a seguinte interrogação:

“Quais riscos posso cobrir sem avançar o

limite no qual substituo o empreendedor?”

substancialmente o papel do empreendedor é

aquele de correr os riscos inerentes de cada

atividade industrial e comercial (pesquisa e

desenvolvimento de novos produtos,

produção, venda, etc.) para que o sucesso da

empresa seja garantido. Mas, se a seguradora

fosse constrangida a passar esse limite, não

deveria automaticamente participar dos lucros

obtidos da atividade do cliente?

Em um desses casos limite a seguradora

concede uma cobertura para as consequências

de um dano material causado por um erro de

projetação, de uma falha na execução dos

trabalhos ou de um defeito de material na

implantação protótipo. Às vezes, o limite é

ultrapassado quando a seguradora aceita

ressarcir os custos de restauração do

componente defeituoso.

As garantias contratuais assumidas pela

empresa principal no ato da assinatura do

contrato são típicos riscos empresariais que

não podem ser transferidos à seguradora.

Citamos alguns exemplos indicativos:

Garantias de desempenho, ou seja, a

capacidade produtiva, os rendimentos, os

consumos de energia elétrica e de

materiais de processo (água, reagentes

químicos, etc.), os parâmetros operativos

(pressão, temperatura, vazão, etc.), as

emissões sonoras, as emissões de

poluição, etc.;

Garantias de produto (granulometria, teor

de água, resistência à corrosão e ao calor,

poder isolante, aspecto, cor, toxidade,

etc.);

Garantias de disponibilidade, de

confiabilidade;

Respeito aos prazos para a finalização

dos trabalhos e a colocação em

funcionamento industrial;

Cada nova garantia indicada no contrato,

típica de um produto, uma obra ou uma

prestação.

Para se proteger das consequências do não

cumprimento das garantias mencionadas

acima, o comitente estabelece as penalidades

que podem chegar a 10% do valor total de

mercado. Superada essa quantia, o comitente

pode também recusar-se a receber a

implantação.

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87

8.4 Recomendações úteis para a

assinatura contratual

As modernas implantações de incineração de

resíduos são instalações cuja análise e

tarifação não são simples. De um ponto de

vista técnico, essas implantações podem ser

comparadas, em certos aspectos, às centrais

térmicas, e apresentam analogias com

unidades da indústria química e petroquímica.

Frequentemente, é difícil para as seguradoras

avaliar com suficiente exatidão os problemas

técnicos e os potenciais de sinistro ligados a

cada novo setor de atividade, elementos que

devem ser levados em consideração na

tarifação do risco e na formulação da

cobertura do seguro.

Consideramos que a assinatura de um contrato

dessa categoria de atividade deve basear-se

em uma estreita colaboração entre as

seguradoras e seus clientes. As indústrias

elaboram de contínuo novos sistemas e

processos de tratamento, que evoluem muito

mais rapidamente que os instrumentos de

tarifação à disposição das seguradoras. A esse

respeito deve-se mencionar que as taxas de

prêmio que aparecem nas tarifas se baseiam

em dados empíricos e consequentemente se

devem adaptar a parâmetros específicos. Nem

para a seguradora prudente é fácil avaliar

corretamente os riscos inerentes a essa

evolução tecnológica. Sem contar que a

concorrência desenfreada entre seguradoras

tente a prevalecer sobre a prudência

necessária à avaliação dos riscos.

Na análise de um novo setor de atividade

aconselhamos uma atenta consideração dos

seguintes aspectos:

O empreendedor tem bastante experiência no

setor? Quantas implantações de incineração

de resíduos desse tipo já realizou?

As mesmas perguntas são feitas aos projetistas

e aos construtores dos equipamentos mais

importantes (forno, caldeira, aparelhos de

tratamento da fumaça, catalizadores,

aparelhos de tratamento dos resíduos, etc.). Os

resíduos urbanos são combustíveis

heterogêneos, que comportam incontáveis

imprevistos na combustão e sucessivamente

na composição da fumaça. Para ser capaz de

gerir todas as dificuldades técnicas que

derivam disso (escolha dos materiais

adequados, dimensionamento dos

equipamentos, determinação dos sistemas de

controle e de comando, etc.) é necessário

possuir uma longa experiência. Uma bagagem

de conhecimentos teóricos aprofundados e a

experiência em um setor semelhante são

certamente fatores que não podem ser

subestimados, mas geralmente não bastam

para ter um bom domínio do setor já nas

primeiras construções.

Segundo um construtor de fama mundial, um

especialista do ramo deveria calcular um

período de tempo de pelo menos seis anos

entre a formulação de um novo produto e a

sua comercialização industrial.

A escolha dos fornecedores e dos

subcontratados incide notavelmente na

qualidade de um projeto. Mesmo aparelhos

como os filtros eletrostáticos, os filtros de

manga, os filtros de carvão ativado, os

catalizadores, as turbinas a vapor, os

ventiladores de tiragem induzida, etc. são

elementos-chave na cadeia do tratamento.

Um dano ou um defeito no funcionamento de

um desses componentes causará notáveis

atrasos na colocação em funcionamento da

implantação de incineração de resíduos.

Alguns resultados particulares podem ser

atingidos apenas por um pequeno número de

fornecedores. Citamos, particularmente, a

aplicação do lining no sistema de depuração

da fumaça por via úmida, ou também o muro

refratário e os dispositivos de transporte

pneumático dos resíduos de tratamento da

fumaça por via seca ou semi seca. O resultado

final de uma atividade pode ser afetado se o

trabalho for concedido em subcontratação a

pequenas empresas locais.

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88

É ainda necessário verificar o layout de alguns

equipamentos. Para exemplificar,

normalmente o catalizador é instalado ao final

da cadeia de tratamento de fumaça, para evitar

incrustações prematuras (lembramos que o

catalizador funciona a uma temperatura da

ordem de 350º C, por isso consome energia

para aquecer a fumaça). Do estoque de

experiências feitas no passado, desaconselha-

se a instalação de catalizador a montante do

sistema de depuração de fumaça, ou seja,

antes de seu esfriamento. No que diz respeito

ao processo, nota-se que outros equipamentos

podem ser instalados em locais não ideais por

motivos puramente econômicos. O ventilador

de tiragem induzida, por exemplo, é colocado

na zona quente, assim não tem necessidade de

ser protegido da corrosão por umidade: nesse

caso, o sistema de depuração de fumaça

funciona em sobrepressão e, de qualquer

maneira, existe o risco que o ventilador sofra

corrosão durante as paradas. Outro exemplo é

o do filtro de mangas, exposto a riscos de

destruição das mangas filtrantes, porque

colocado em uma zona excessivamente

quente, na saída da caldeira (a temperatura de

funcionamento situa-se entre 120º C e 220º C,

em função do tipo de tecido).

Obviamente, no passado foram feitas

numerosas experiências negativas por causa

desses problemas e todas eram relacionadas,

deve ser mencionado, à escolha de correr o

risco para reduzir o custo total da

implantação.

É importante acenar que isso aconteceu na

Alemanha, na Suíça, e na Suécia, onde a

construção de eficientes sistemas de

depuração de fumaça já tinha começado há

muitos anos. Seria um pecado se outros

países, nos quais essas tecnologias estão

começando a se impor, repetissem os mesmos

erros.

Com esse objetivo, pode ser interessante

recordar que entre os serviços propostos pelas

companhias de seguros, a prevenção de

sinistros é muito apreciada pelos clientes. Em

muitos casos, não é apenas a seguradora a se

beneficiar, mas principalmente o titular e o

gestor da implantação, já que as perdas

financeiras devidas a um dano material

raramente são cobertas e podem até mesmo

colocar em perigo a existência da empresa.

A lista dos riscos não será completa caso não

se faça referência ao aspecto da proteção

contra incêndios na fase construtiva. Caso se

baseie exclusivamente nos incêndios de maior

magnitude que atingiram as seções de

depuração de fumaça nesses últimos anos, o

valor necessário para cobrir tal setor (EAR)

deveria ser decididamente superior à

compensação de mercado. Dadas as atuais

dificuldades que devem ser enfrentadas para

obter uma compensação adequada ao risco, é

absolutamente necessário impor medidas de

prevenção contra incêndio às condições

particulares definidas por apólices de seguro

(veja a publicação “Fire protection on

building sites” da Swiss Reinsurance) e, como

complemento de tais condições, efetuar

regulares inspeções nos canteiros.

Além dos perigos técnicos mencionados

acima, é necessário considerar também a

influência da localização geográfica, em

termos de condições geológicas e

meteorológicas, em particular se o canteiro se

localiza:

Em uma zona sísmica

Em uma zona costeira

Em uma zona sujeita a tempestades,

tufões e furacões

Próximo a um rio ou a uma zona sujeita a

inundações

Em um terreno pobre (velho aterro,

barranco, pântano, etc.)

Um dos aspectos interessantes do seguro de

riscos tecnológicos ligados a esse setor é a

análise e a assinatura de apólices ALOP e de

“Danos da interrupção do funcionamento por

falhas de máquinas”. Estamos constatando um

interesse crescente da parte dos comitentes,

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encorajados por seus financiadores, a assinar

tais tipos de apólices de seguro.

No caso da construção de uma nova

implantação, o comitente tem a possibilidade

de assinar uma apólice ALOP combinada com

apólices CAR e EAR. Se a implantação de

incineração de resíduos já está em

funcionamento, a empresa pode se assegurar

contra as perdas financeiras resultantes de

uma parada da produção assinando uma

apólice de “Danos da interrupção do

funcionamento”, por um sinistro de falha

mecânica ou incêndio.

Normalmente, a soma assegurada (lucro bruto

anual) é constituída pelos dois elementos a

seguir:

Lucro de funcionamento da empresa

Custos fixos, entre os quais o aluguel, os

seguros, os juros do empréstimo, o

pagamento de operários e empregados.

No setor da infraestrutura ambiental, as

seguradoras de danos de interrupção do

funcionamento são têm várias dificuldades.

O primeiro problema é individuar as pessoas

a serem seguradas, que variam notavelmente

de um projeto a outro (no caso da ALOP

apenas o comitente pode ser assegurado, no

máximo também os financiadores).

Frequentemente é difícil conseguir

estabelecer com exatidão a perda efetiva de

lucro bruto, já que entre implantações de

incineração de resíduos de uma mesma zona

são estipulados acordos que autorizam uma

cidade a continuar a coleta de resíduos

mesmo no caso de sua implantação

apresentar uma falha séria e prolongada.

Nesse caso, as perdas serão limitadas aos

custos de transporte suplementar e ao cessar

de lucro.

Na fase montagem-testes o risco é

drasticamente mais elevado do que durante o

funcionamento, já que ainda não se tem uma

reserva de peças sobressalentes, os

dispositivos contra incêndio não estão

operativos e os trabalhadores ainda não têm

intimidade suficiente com os equipamentos.

Não raramente acontece que um dano

material, mesmo de pequenas dimensões,

cause um notável atraso na montagem ou

uma longa interrupção do funcionamento,

porque faz com que precise melhorar um

processo ou reparar uma máquina defeituosa.

Infelizmente, não se sabe todos os fatores que

determinam a duração da reparação e,

portanto, a quantidade de danos indiretos,

logo é difícil avaliar no momento da

estipulação do seguro.

O assinante de uma apólice ALOP ou “Danos

pela interrupção do funcionamento” deve se

dar conta que alguns limites de cobertura não

podem ser ignorados, e que o preço pedido,

que em certos casos pode parecer elevado,

reflete simplesmente os consideráveis valores

assumidos pela seguradora.

Para complementar esses poucos conselhos e

considerações, mostramos os resultados da

estatística de sinistros verificados nas

implantações de incineração de resíduos:

As seções de depuração de fumaça

apresentam a sinistralidade de longe mais

elevada;

Os sinistros de incêndio, dos quais alguns

provocaram catástrofes, foram cobertos

por apólices EAR, porque aconteceram

ao final da fase de montagem e de testes;

Muitos danos foram causados por erros

de projetação e defeitos de materiais;

No setor falhas mecânicas, os fornos-

caldeira e, em particular, os feixes

evaporadores das caldeiras apresentam a

taxa de sinistralidade mais elevada.

Mesmo nesse caso os danos são

geralmente imputáveis a problemas de

projetação (fluxo dos gases, abrasão,

corrosão);

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90

No setor ALOP não foram realizadas

atividades suficientes para que se possam

tirar conclusões.

8.5 Cláusula especial

Seguro de Todos os riscos de montagem:

cláusula especial relativa à construção das

implantações de incineração de resíduos.

Desde o início das operações de startup e

testes, danos aos catalizadores, ao muro

refratário, aos equipamentos revestidos de

polímeros ou à outros materiais como a

borracha, a ebonite, etc., são indenizados

apenas nos casos em que:

Existe um nexo de casualidade com um

sinistro coberto pela garantia EAR,

verificado por outras partes asseguradas;

Foram provocados por defeitos

mecânicos diretamente atribuíveis às

condições operativas permanentes das

instalações;

Foram geradas por um incêndio, um raio

ou uma explosão, com a condição que

tenham sido respeitadas todas as medidas

de prevenção de incêndios.

Nota:

Os catalizadores devem ser considerados

danificados quando:

Acontece uma alteração das condições

iniciais dos elementos catalíticos

As medições revelam uma queda de

eficiência

Os métodos de medição que permitem

levantar as ditas quedas de eficiência do

catalizador devem ser definidos na apólice,

antes que ela se torne eficaz.

O montante da indenização é calculado em

base ao valor efetivo do catalizador danificado

no momento do sinistro.

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9 Glossário

Elementos químicos

Símbolo Elementos Símbolo Elementos

As Arsênico

Mn Magnésio

C Carbônio

N Nitrogênio

Cd Cádmio

Na Sódio

Ca Cálcio

Ni Níquel

Cl Cloro

O Oxigênio

Cr Cromo

Pb Chumbo

Cu Cobre

S Enxofre

F Flúor

Sn Estanho

H Hidrogênio

V Vanádio

Hg Mercúrio

Zn Zinco

Produtos químicos

Fórmula química Denominação Científica Nome Comum

CaO Óxido de cálcio Cal viva

Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio Cal apagada

CaCl2 Cloreto de cálcio

CaCO3 Carbonato de cálcio Gesso

CO2 Dióxido de carbono Gás carbônico

CO Monóxido de carbono

HCl Cloreto de hidrogênio Ácido clorídrico

HF Ácido fluorídrico

H2O Água

NaCl Cloreto de sódio Sal de cozinha

NaOH Hidróxido de sódio Soda cáustica

NH3 Amoníaco

NOx Óxidos de nitrogênio (compostos)

PP Polipropileno

PE Polietileno

PVC Cloreto de polivinilo

PCDD Dibenzeno-p-dioxinas policloradas dioxinas

PCDF Dibenzofuranos policlorados furanos

SO2 Dióxido de enxofre

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Definições

Absorção Fenômeno pelo qual um sólido pode fixar em sua superfície moléculas

de gás ou de uma substância em solução ou em suspensão

Ar primário Ar insuflado sob a grelha para ajudar a combustão dos resíduos

Ar secundário Ar de “pós-combustão”, ou seja, ar necessário à combustão dos gases

não combustíveis e ao esfriamento inicial da fumaça

Ar terciário Ar utilizado para esfriar a fumaça antes que esta seja depurada, ou então

ar para o esfriamento das paredes laterais internas do forno

Ar de infiltração Ar que penetra em partes da implantação onde a impermeabilização é

defeituosa

Matais pesados Os mais comuns são Pb, Cr, Cu, Mn, Cd, Hg, Ni, As

Emissão Liberação de substâncias poluidoras

Imissão Concentração de substâncias poluidoras tóxicas para o indivíduo e para o

meio ambiente

Escórias Resíduos da combustão recuperados na saída do forno

PCI Poder Calorífico Inferior

Não queimado Materiais orgânicos que não participaram da combustão

Cinzas volantes Cinzas, fuligem e poeiras transportadas pela fumaça fora da câmara de

combustão

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93

10 Bibliografia

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De Silguy, Catherine: La saga des ordures du

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Luxemburgo 1994..

Schweitzer, Franz J.: Thermoselect-Verfahren

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Verlag für Energie- und Umwelttechnik

GmbH, Berlim.

Thomé-Kozmiensky, Karl J. (ed.): Handbuch

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EF-Verlag für Energie- und Umwelttechnik

GmbH, Berlim 1994.

“Waste and the Environment”, em: The

Economist, 29 de maio de 1993, pág. 5-24.

“Equipement des villes”, em: Le Moniteur, 20

de maio de 1994.

Publicações várias da sociedade especializada

em construção de instalações ambientais:

Von Roll Environment S.A., Zurique,

Widmer & Ernst Umwelttechnik, Zurique,

Deutsche Babcock, Krefeld.

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94

© 1997 Swiss Reinsurance Company, Zurique

Título As implantações de eliminação de resíduos urbanos

Autor Vincent Di Chirico, Deparamento Engineering

Realização Public Relations

Tradução Eng. Paula Mantovanini

Ilustrações Laurence Armand, Zurique

Impressão Marcel Kürzi AG, Einsiedeln

(4/97, 1500i)

Como indicado na capa, o presente texto deriva da Publicação do SwissRe de 1995. A qualidade

técnica da publicação, utilizada também para ensino acadêmico, induziu a realização de uma

versão portuguesa brasileira, atualizada em 2012.

A tradução e atualização foram autorizados pela SwissRe, sob total responsabilidade do

requerente eng. Mauro Gandolla (ECONOS AS – Bioggio-Swizzera), que para a tradução em

português utilizou a colaboração técnica de eng. Paula Mantovanini.

Contatos:

Mauro Gandolla: [email protected]

Paula Mantovanini: [email protected]

Fotografias

Foto da capa

Anéis de enchimento colocados em uma das etapas das torres de lavagem da

fumaça. A sua ampla superfície específica favorece o contato entre a fase líquida e

a gasosa, com a consequente melhora do rendimento da depuração da fumaça. Von

Roll Environment S.A., Zurique, Suíça.

Páginas 8 Coleção de arte gráfica de Mônaco

9 Museu suíço Basler Papiermühle, Basiléia, Suíça

10 Arquivos da AWZ (serviço de limpeza urbana da cidade de Zurique), Zurique,

Suíça

11 Il Blog di Montespertoli (http://vedo-sento-parlo.it/blog/?page_id=153)

12 Arquivos da AWZ, Zurique, Suíça,

ETH Bibliothek (http://www.e-

pics.ethz.ch/index/ETHBIB.Bildarchiv/ETHBIB.Bildarchiv_Com_FC24-8005-0170_24556.html)

14

TRIDEL – Lausanne

Para melhores informações: http://www.tridel.ch/exploitation/fonctionnement/eclate-usine.html

e http://www.tridel.ch/

15 Eng. Mauro Gandolla

17 Erol Gurian

19 Walter Schimitz

Len Sirman

22 Lukas Handschin

23 Peter Koehl

36 Von Roll Environment S.A., Zurique, Suíça

37 Widmer & Ernst, Zurique, Suíça

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95

46 Von Roll Environment S.A., Zurique, Suíça

54 Erol Gurian

57/58 Widmer & Ernst, Zurique, Suíça

59/63 Von Roll Environment S.A., Zurique, Suíca

64 Erol Gurian

68 Widmer & Ernst, Zurique, Suíça

69 Vicent Di Chirico

70 Vicent Di Chirico

Von Roll Environment S.A., Zurique, Suíça

71 Foto da implantação Lurgi/Stelljes, Frankfurt, Alemanha

73 ELVIA, Zurique, Suíça

76 Serviço de prevenção contra sinistros de máquinas da associação suíça de seguro

técnico, Zurique

77 Sulzer Innotec, Suíça

78 Erol Gurian